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SOBRE O SERTÃO E AS CORES: UMA APROXIMAÇÃO COM A OBRA “OS BRUTOS”,

DE JOSÉ BEZERRA GOMES (1938)

Prentice Geovanni da Silva Costa - graduando


Orientador: Prof. Helder Alexandre Medeiros de Macedo - UFRN

Analisa como o literato José Bezerra Gomes utilizou de cores na construção de uma
narrativa sobre os sertões no romance “Os Brutos” (1938).

Partiu de estudo anterior em que o autor deste trabalho discutiu ideias sobre os sertões por
meio da escrita de Gomes na referida obra;

da percepção de analisar a presença dos sertões na literatura ficcional com um viés


pautado na História das Sensibilidades;

da possibilidade de estudar a temática com o olhar voltado para a História das Cores em
função dos estudos de Michel Pastoureau;

de uma revisão historiográfica em trabalhos anteriores produzidos sobre o Seridó, de


autoria de Helder Macedo, Alcineia Santos e Muirakytan Macedo, os quais não tiveram foco
no estudo do cromatismo, mas acabaram por discutir questões relacionadas às cores nas
vestimentas da vida e morte no cotidiano sertanejo nos períodos colonial e imperial.

Metodologicamente o estudo partiu de três frentes:

1) releitura do romance, com um mapeamento de cores primárias, secundárias e


matizes conforme instruído pelos estudos de Pastoureau;
2) escolha do branco e vermelho, em função de uma maior recorrência no texto do
autor, para análise e comparação com a historicidade dessas cores a partir dos
enunciados de Pastoureau e Eva Heller;
3) elaboração de uma reflexão sobre o uso dessas cores por parte de Gomes em seu
contexto social.

Análise e interpretação: O branco na obra "Os Brutos" remete à pureza de Sigismundo,


protagonista, para com a mãe de mesmo nome da cor; ao quanto essa cor pode ser a
fortuna para alguns - seu Tota, comerciante local, que se beneficia do algodão na folha para
realizar seus negócios - como também, a desgraça para outros - seu Duda, morto por sua
mesquinhez na guarda pelo Ouro Branco; e, de maneira geral, ao cenário econômico da
época, em que a cotonicultura regia os destinos das vidas nos sertões. Evoca a lealdade
das mulheres, a exemplo de Rica, prostituta, que, mesmo no Aterro (prostíbulo),
diferentemente das outras mulheres do lugar, usava roupas brancas. Sobre o vermelho, o
texto do romance traz elementos ligados ao mundo material (sangue) e ao dos sentimentos
(raiva, ódio, amor, relações de poder e de domínio no campo das relações afetivas). Na
narrativa de Gomes, o protagonista-narrador, Sigismundo, lembra de Rica pela cor
encarnada, ao aduzir à paixão e ao amor. É possível aduzir que o uso do vermelho se
traduz, a partir da construção do personagem Tio Lívio, à medida em que o mesmo
manifesta, em seus olhos, a raiva por ter ciúmes de Rica e a loucura por tê-la matado. O
episódio da morte de Rica, nesse contexto, traz fortes imagens do encontro entre o branco -
representado pela roupa costumeira - e o vermelho - o sangue que brotou do peito ao ser
apunhalada pelo Tio Lívio.

As análises preliminares feitas a partir da releitura de “Os Brutos”, com base nos aportes
teórico-metodológicos de Pastoureau e Heller, sugerem que o campo da História das Cores
nos sertões é profícuo para futuras investigações.

Palavras-chave: Cores. Sertão. Os Brutos.

Introdução

O debate entre História e Literatura não vem de hoje,

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