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FRAGMENTOS DO ENCANTO

Livro de poesias, contos e crônicas

Octávio Amaral Machado


LIVRO DA POESIA

No universo das letras, encontramos uma vasta


diversificação de escritos e leitores. Por este motivo, tomei a decisão de exemplificar
algumas dessas naturezas, a fim de que possamos conhecê-las através da poesia e não de
um tratado de difícil digestão.

Tipos de escritos e leitores

Há escritores...

Charlatões: adúlteros da real natureza;

Curiosos: sementes desta ciência;

Eruditos: torcendo os compridos narizes;

Natos: não se deixam levar por diretrizes.

Há leitores...

Preguiçosos: ligeiramente se dissolvem;

Externos: que nada absorvem;

Românticos: da leitura, uma lágrima;

Trovadores: d´algum verso, uma rima.

01/02/2016
A história de Salvação

Tudo por Ele foi feito

Criado com muito amor

Para que eu tirasse proveito

e o chamasse de senhor

Bendito ventre que me gerou

com o dom da Vossa Vida

para a luz Deus me criou

minh´alma para ele escolhida

Criou os mares e a terra

para ali muitos viverem

na paz e sem guerra

num banquete comerem

Criou as águias dos céus

até a mínima criatura

a abelha que faz o mel

para adoçar minha amargura


Criou tudo o que é belo

espelhando-se no seu Ser

este era seu único anelo

até o pecado aparecer

Oh! Destruição que por nós surgiu

e como deuses nos vestimos

e do Éden Deus nos baniu

que falta d´Ele sentimos

Estávamos à morte destinados

convivíamos com a tristeza

nossos corações dilacerados

confusa nossa natureza

Mas eis que do céu desceu

um menino com frio e fome

quem há de ser esse judeu?

não sabíamos seu nome


Entre animais estava

coberto por um fino linho

Ele ainda não falava

mas não estava sozinho

Uma jovem o amamentava

com o leite de seus peitos

E o menino um homem zelava

Quem há de ser estes sujeitos?

Eram seus pais José e Maria

destinados à uma importante missão

não sabiam o que os esperariam

Deus trouxe ao mundo a salvação!

''Chama-se Jesus'' - sua mãe dizia

''Assim com o Anjo me revelou''

Oh! Provei ditosa alegria

Deus ali muito me amou


Fui-me contente pelo caminho

rendendo graças ao Criador

cantava -já não estou sozinho

encarnou-se nosso Redentor!

Outros isso não queriam ouvir

Oh! cruel Tristeza desmedida

não posso por eles decidir

entre a morte e a vida

As feridas do pecado cá estão

abrem-se e escorrem o odor

em todos homens -sem exceção

Mas Cristo veio para limpar esta dor

Banir dos corações a escuridão

ensinar-nos a beleza do amor

da podre lama nos alcança a mão

Jesus Cristo é o nosso Senhor!

18/12/2017
Flor

Extremoso primor inato

Rósea criação divina

Foste-me doído parto

Da íntima cruel rotina!

Se me tenho da vida farto

Atento à pena peregrina

Acerca do teu descarto

Rodopia doce bailarina!

12/01/2017

Soneto a São José.

Oh, São José! Ouvi minha prece

Dos céus desata os seus favores

Pois tua pureza ao lírio se parece

Fazei de minh´alma estas flores

O teu rogo ao Criador merece

Dizei-lhe que não busco amores

Busco o Amor que resplandece

Diante do mundo cheio de dores


Por graça mostrai-me a Redenção!

Consumida em Jesus crucificado

No qual faço adorável menção!

Que a toda hora sofreu calado

Para atenuar o meu coração

Que na aliança foi selado!

19/03/2017

A Salvação

Se me causa tal pavor

Ver o mar dilacerado

Tanto mais será o horror

D´uma alma em pecado

Veja o mais perfeito amor

Pelo mundo desprezado

É o nosso redentor

Verbo de Deus encarnado

Não tenhais a alma escura

É a vã conquista do mundo

Aguardando a sepultura

Veja algo mais profundo

Logo ali à sua altura

Tornai o coração fecundo!

11/07/2017
Misterioso amor

Já vai o homem sedento

Outrora doente d´amor

Possuindo em outrem alento

Esquece seu Criador

Busca em tronos assentos

Dispara sempre da dor

Não suporta o sofrimento

E a Cruz lhe causa pavor

Retorna o homem calado

Trilhando seu desalento

-O amor não fora encontrado-

E cantando seu lamento

Mal sabe que é amado

De um amor ciumento

01/07/2017
A Ismaelita

Germinando ao limiar

O astro rei do Oriente

Ouço tua voz sussurrar

Ao meu coração latente

Que me quereis desvendar

Com teus olhos impacientes

-Tal à imensa luz solar-

A Minh ‘alma inocente

Donde vens? És peregrina

Nesta terra americana

Tua pátria é a Palestina!

E a salutar fé romana

Que tua raça abomina

Incrimina a muçulmana

Mas não soframos este fado

Amemo-nos no sofrer

Pois no amor não há pecado

Há fidedigno viver
Havemos grau de parentesco

Em Abraão o patriarca

Tal qual um sonho dantesco

Estamos em mesma barca

E estes finos arabescos

-Decerto de um monarca-

Cobrindo teu corpo fresco

E envolvendo a tua alparca

Hão de um dia cobrir-me

E me ofertarás um beijo

Que não será um crime

Mas do teu amor lampejo

14/06/2016
Doce cantar

Quero o meu amor cantar

Na soleira do teu coração

Para os teus puros lábios beijar

Em profunda comoção

Já não posso sustentar

Esta horrenda solidão

Que faz a alma desvairar

E sofrer esta paixão

Teu sorriso enaltece o meu canto

Ao Deus que criou-te tão bela

Como filho de Adão me encanto

Por serdes a filha da mãe Eva

Oh, suspiro! Não venha o pranto

Desviar o que nos afivela

Possuo-te em coração Santo

Porque sois doce donzela!

16/09/2017
Louro amor

Os teus cachos dourados

D´um extremo e fino esplendor

Tornam os meus olhos cerrados

À luz de vosso amor

E narram os teus lábios calados

Ocultando ao confessor

E ferindo os meus ouvidos

Que me tens profundo amor

E esta afeição saudosa

Que aos teus olhos atormenta

Traz a lágrima virtuosa

Nesta espera que me aumenta

(data desconhecida)
Perpétua Escola. (Uma pequena homenagem ao Colégio C. Alberto Ribas)

Sois o alento à mente sedenta

Em ti procuramos o saber

Que à flor dos lábios apresenta

Bravamente desta Fonte beber

O estandarte do amanhã ostenta

Com raio luminoso do alvorecer

D'um novo tempo que orienta

O progresso da nação ascender

Com sagacidade de serpe

Repreende a cruel descrença

Tornando-a ao pó facilmente

O punhal na destra jamais emudeça

Arrebatando a ignorância vivamente

Sem que jamais se adormeça

01/10/2016.
Causa justa.

Sois o sopro alarmado; sou o mar exilado. Donde vens? Desconheço a sua origem.
Não há oscilação em minhas águas que não venha deste sopro. As naus do meu coração
tornem-se cativos à minha agitação. Os pássaros ousam aventurar-se no nosso trato: com
mar há sopro, com sopro amar.

17/11/2015.

Juramento

Do cálido horizonte
a nativa Guarani
buscou a ponte
donde deseja ruir

Avistou a fumaça
brotar na estância
doutro lado a taça:
homem de constância

Buscou-a para si

ao vê-la sob o sol


e tendo-a, fê-la conceber
embaixo dum lençol

Apaixonando-se ele de branca, profundo


a nativa foi-se, e levou consigo
sua cria. E jurou evaporar do mundo

(data desconhecida)
Ressurreição

Ante a aurora a pedra removeis

aos raios fulminantes d´amor

porque a derrota da morte vereis

suscitar na Ressurreição de N.Senhor

Alegrai-vos povo Santo, sede reis

porque Cristo assim o foi na dor

justificados com a cruz sereis

revesti o velho homem com pudor''

15/08/2016

Pecado

Há luzeiros, de variados tamanhos, vagando sob cada fenda de minha alma. São
pequenos pigmentos, pingos escarlates habitando um vasto mar de ideias. Há um porto
neste mar, e tu estás a espreitar monstros aquáticos e as pequenas ilhas onde descansas.
Nestas ilhas, a orla -conforme a terra- é altamente venenosa. Para dois passos, terás de
voltar um para não te armadilhar. Há pássaros de pios diatônicos, de várias espécies que
irão confundir-te, o meio é percorrer os carrilhões estridentes e afastá-los. Há nativos
desnudos, com cores vivazes e tristonhas, eles irão orientar-te até sua aldeia, oferecendo
um néctar para que não vejas a fome e a desgraça. Depois de um tempo, ela cessará e tu
terás o direito de adentrar o monte das delícias.

A gula e a luxúria serão tuas companheiras, elas mostrarão todos os que seguem
seus caminhos; estão todos flagelados, cinzas de crise existencial e não mais vivem nada
os agradam, os exageros esgotaram-se. Porquanto, das nuvens sairá o poder, ele domina
a ilha e todos os seus.
Oferecer-te-á a um terço de sua terra e assim tu desviarás a gula e a luxúria de seu
caminho. Finalmente, terás de aplainar a montanha rochosa e retirar-lhe fluídos suntuosos
à favor do desértico percurso que seguirás, e desse fluído beberás, enfim ao precipício da
morte...

10/03/2015.

Amo-te (acróstico)

Trágico! Em demasia me tens aos teus braços


Emudecido sob teu olhar pueril...

Arrebatado, oh amada! Êxtases celestes transpassam-me como chamas.


sempre estarás...

Mortal reflexo! Cá dentro estás, talvez sempre, Amo-te, enfim. Ornamentas O fel da
vida, trazes a ela o que estive a procurar.

Morte e vida

Desabei!...Vi-me paramentado no grave e funesto dia de minha morte e confesso


ter suspeitado que o caixão de carvalho me apertavam os pés. Que importa? Ao verme
uma carne bem nutrida! Oh, destino cruel e santo. Tua essência sempre fora uma incógnita
para os que creem estarem vivendo à tua espera... E as flores ao peito? Pobres flores!
Arrancaram-lhes a vida para pôr lhes sobre um amontoado de nervos e músculos que
perderam o viço e logo será a peste tremenda. Se há morte, houve vida? Ou, melhor: Se
há vida, há morte? Nasce-se primeiro, logo, suponho que lhes falo do paraíso ou das
profundezas do tártaro, não reconheço estes novos braços, tão extensos que mal
compreendo a piada, se é que a vida tem sua anedota, eis a coroação dela: A morte é o
princípio, o nascimento, o fim. ''

09/05/2015.
Eclipse

Durante o ócio, observei a lua e escrevi.

-Sinal de queda? -questionou-me certa vez um poeta.

-Aos poucos a lua tornar-se-á absorvida por força terrestre ou será a terra pressionada a
abrigar-lhe na atmosfera?

Ele, por sua vez, pensando, retrucou:

-Deveras, os casos estão corretíssimos!

Os dois homens fitaram o esplendor da rainha noturna por segundos. O primeiro


quebrando o silêncio não compreendeu o quão piegas era aquela comparação. E açoitando
suas ideias, seu companheiro bradou a intrepidez, professando:

-Tomemos à luz da parábola. Um jovem temendo que seu amor ruísse e também sua fama
entre os do vilarejo no qual pertencia, armou uma pequena conspiração. Enquanto
aprontava seu casamento, enamorou-se doutra, que lhe chamava a despojar sua flama de
amor, em modo insensato, talvez. Naturalmente, serviu de queda conquanto era agradável
saborear o desconhecido. Seu irmão, por alguns vinténs no dia do desponsório, tomou-se
noivo e a assembleia atônita, nada injuriou-o. O sacerdote concedeu o sacramento, e a
noiva antes prometida à seu grande amor, aos prantos de desprezo e arrependimento.
Enquanto o nosso personagem vivaz, nem ligou, partiu, andou por lugares mui remotos
com aquela namorada, por livre ímpeto de rubor.

O poeta, estudando o caso, respondeu:

-E afinal que há de moral?

-Senhor, não compreende? -Disse-lhe. Quando o amor se deixa levar, na natureza do


prazo, não há queda, há mistério a ser descoberto e isso é essencial. Por conseguinte, bom
amor. Ao contrário, a repulsa de possuir a amada sem temperança, fará com que se perca.
A lua é, por sinal, o primeiro caso, absorvida à sombra misteriosa da terra.

27/09/2015
Rascunho

Amada! Dedico-te esta piegas canção

Nas tristes linhas d´um velho rascunho

Gravado à tinta do meu coração

Como de meu amor testemunho

Quando atentei à véspera teu olhar

E os teus dispersos lábios ardentes

Buscavam-me ansiosos ao luar

Tomei-os por meus eternamente

11/07/2017

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