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A R T E E N A T U R E Z A
KA’A
ARTE E NATUREZA
BIOGRAFIAS 91
BIBLIOGRAFIA SELECIONADA 102
VERSIÓN EN ESPAÑOL 105
CRÉDITOS DE IMAGENS 164
CRÉDITOS DE EQUIPE 166
Iniciei minha vida artística no final dos anos em outros territórios e outras culturas, sentia a
1960, início dos 1970, participando de muitos movi- necessidade de um maior convívio entre os nossos
mentos, preocupado por sentir que não era suficiente artistas, diante da falta de espaços de convivência,
produzir um trabalho, que era necessário pensar na de trocas e de realização de experiências.
sua relação com o contexto social. Por questões pes- Minha identificação com a preservação do
soais, me envolvi com o meio artístico uruguaio, terra de meio ambiente talvez venha de minha formação como
meus familiares. Percebi ali que havia uma lacuna na arquiteto, ou de minha vivência infantojuvenil na região
formação universitária em Porto Alegre, onde a tônica da Campanha, em intensa interação com as forças vi-
da cena artística era modernista e mais individualista, tais da natureza. A relação arte e natureza para mim é
centrada na produção de objetos. Sentia necessidade um termo genérico, que se refere a uma gama de proje-
de trabalhar com grupos, discussões, comunicação e tos que ajudam a melhorar nossa relação com o mun-
trocas entre pares. Minha formação se fazia voltada do natural. Podem ser demonstrativos/denunciadores
para as experiências que vivia em Montevidéu. Tive ali de problemas ambientais ou ativistas na restauração
grandes mestres, como Américo Spósito e Miguel Ángel do meio ambiente. Práticas artísticas como a land art,
Pareja, que romperam com minha pretensão de ser ar- o slow fashion, o codesign, a bioarte e outras podem
tista, fornecendo as bases de uma nova reflexão, numa ser consideradas como parte desse processo cultural
perspectiva mais ampla da arte. Decidi seguir o curso maior que vemos hoje se alastrando pelo mundo. Talvez
de arquitetura, para pensar os espaços e a nossa sejam uma reação à ação devastadora que o ser huma-
inserção dentro deles. no vem impondo ao planeta Terra por muitos anos.
Desde aquela época, sentia a necessidade de Inserido nestes processos, vi uma oportuni-
um lugar alternativo, onde os artistas pudessem com- dade de realizar meu antigo desejo de partilhar um
partilhar experiências de forma mais horizontal, como espaço de experiência com outros artistas quando
vivenciara no Uruguai. Estava lançada a semente de um comprei uma terra na zona rural de Porto Alegre, mais
desejo. especificamente no Cantagalo, e comecei ali a desen-
Desejo que sempre esteve presente em mim, volver o projeto de um Instituto de arte e natureza.
mesmo quando minha vida profissional me levou Neste projeto, contei com a parceria de amigos também
por diversos países do mundo. Vendo o que ocorria identificados com este desejo. Assim, em 2015, foi
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questão, pois a zona rural de Porto Alegre é uma candidaturas de artistas latino-americanos, o que não
conquista arduamente defendida pelos moradores des- ocorreu, criando um gap em nosso orçamento de pas-
sa região e pelo sindicato rural do qual Irineu Garcia é sagens. Afinal, planejamento e realidade às vezes
membro da diretoria. Preponderantemente constituída diferem muito.
por pequenos e médios produtores rurais e com duas Convidando para o júri de seleção críticos de
reservas indígenas em seu espaço, essa comunidade diferentes países, todos eles de alguma forma ligados
está sendo constantemente ameaçada pela expansão a experiências de residências e de práticas de Arte
imobiliária, que almeja terrenos para urbanização e as- e Natureza. Participaram do processo de avaliação:
sim pressiona a Câmara de Vereadores para extinguir Luísa Especial (Portugal), Jacques Leenhardt (França),
sua condição especial e incorporá-la ao espaço urbano Richard Le Quellec (Suíça), Maria Isabel Rueda (Colôm-
da cidade. A residência foi pensada, também, como uma bia), Ane Armendariz (Espanha) e os brasileiros Bruna
forma de valorização dessa condição e de reforço para Fetter, Michele Sommer, Irineu Garcia, Denis Rodriguez
a continuidade de sua existência. Nesse sentido, foram e eu mesma. Todos tiveram acesso à totalidade dos
planejadas atividades de conexão com o contexto local, portfólios enviados e selecionaram cada um deles
prevendo visitas dos artistas residentes a diferentes dez artistas que consideraram mais qualificados para
espaços e instituições da comunidade e a divulgação a proposta da residência, dando a eles uma nota de
desta condição de zona rural em todos os possíveis mo- 0 a 10. Foi feita a tabulação destas notas, chegando
mentos de visibilidade do evento. ao nome dos quatro finalistas, que participaram da
Em contraponto a essa conexão local do proje- residência. Importante destacar que, visando uma in-
to, foi articulada sua inserção internacional, todo o pro- tegração local/internacional, no projeto foi previsto que
cesso realizou-se online, em português e inglês. Houve uma vaga seria destinada a um artista do Rio Grande
uma ampla divulgação das inscrições no site do Institu- do Sul. Ao final da avaliação os artistas selecionados
to e inúmeras redes sociais e o resultado nos surpreen- foram: Rumen Dimitrov, da Bulgária, Carlos Monleón,
deu, recebemos quase 300 inscrições de da Espanha, Miriam Simun, dos Estados Unidos, e
diferentes regiões do mundo, superando, em muito, Laura Cattani (Ío), do Brasil.
nossas expectativas e dando um enorme trabalho para Partindo das origens do projeto que coloquei
nossos jurados. Houve aqui um equívoco de nossa par- no início deste texto, pensamos em uma residência que
te, pois prevíamos preponderantemente o envio de não exigisse dos artistas um projeto a ser executado,
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dando ênfase em suas experiências anteriores realiza- elaborou um vídeo sobre a performance, que se
das e na possibilidade de experimentarem o território encontra disponível no site do Instituto, e Simões
do Instituto como um deflagrador de reflexões e de en- realizou uma entrevista que fará parte do desenvolvi-
riquecimento de seus processos artísticos. O objetivo mento de sua atual pesquisa.
da proposta se concentrou nas trocas entre eles, deles No intento de colocar os artistas residentes
com os convidados visitantes e deles com a comuni- em contato com o contexto local, foi prevista a
dade local, artística e em geral. realização de algumas visitas, como, por exemplo,
Para estimular as reflexões com os artistas ao Parque Ecológico de Itapuã, a uma olaria, a um haras,
residentes e com a comunidade artística local propuse- a uma reserva indígena e a um centro holístico. Todos
mos no projeto a participação de artistas e críticos esses espaços fazem parte do entorno do Instituto, e de
visitantes, cada um deles passando em torno de uma alguma forma dialogam com o mesmo. As visitas, por
semana na residência, em intenso convívio e, em alguns um lado, propiciaram aos artistas uma maior inserção
casos, realizando eventos abertos ao público. Como no meio local, e, por outro, oportunizaram à comuni-
artistas visitantes tivemos Ayrson Heráclito e dade vicinal conhecer melhor o Instituto e a experiência
Leonardo Remor. Heráclito, além do convívio com os de uma residência internacional de artes visuais. Além
artistas, executou uma performance desenvolvida em das visitas ao entorno do Instituto, os artistas fizeram
dois dias, que denominou Comida Sagrada, quando também um reconhecimento do Centro Histórico de
apresentou ao público os princípios de relação com a Porto Alegre, visitando a Usina do Gasômetro, o Museu
natureza nas religiões afro-brasileiras e em como seu de Arte do Rio Grande do Sul e a Casa de Cultura Mario
trabalho artístico dialoga com esses princípios. Além Quintana, onde se encontra o Museu de Arte Contem-
desta apresentação acompanhada de slides, elaborou porânea. O contato dos artistas com essas instituições
com a ajuda de todos os participantes uma série de foi também uma forma de valorização da cultura da
comidas de Orixás, que foram sendo comentadas por cidade. Essas interações fizeram parte de um pensar
ele e depois degustadas por todos. Como desdobra- dialógico presente no projeto da residência desde sua
mentos de sua presença no Instituto Yvy Maraey, os origem até seus últimos momentos.
pesquisadores de arte afro-brasileira Celia Antonacci Dentro do projeto, ainda, estiveram previstas
de Florianópolis e Igor Simões de Porto Alegre desen- atividades abertas à comunidade em geral e artística
volveram algumas atividades com ele. Antonacci mais especificamente, em que destacamos a mesa de
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abertura, realizada na Associação Cultural Vila Flores, Arte e Natureza, que subsidiou algumas das reflexões
quando foi apresentada a proposta da residência e realizadas ao longo deste frutífero mês de convivências.
o trabalho anterior de cada um dos artistas. Com os Cumpre destacar na realização de todo este
visitantes, tivemos os já comentados dois dias de Co- conjunto de atividades, as parcerias com que o even-
mida Sagrada, duas palestras no Instituto Yvy Maraey, to contou, como foi o caso do Associação Cultural Vila
uma com Maria Isabel Rueda, coordenada por Cristina Flores e o Goethe Institut, que cedendo seus espaços
Ribas e; a outra com Michelle Sommer; além de uma para as mesas de abertura e encerramento da residên-
visita guiada no espaço do Instituto, coordenada pelo cia oportunizaram também aos artistas conhecer
agrônomo ambientalista Paulo Backes, vice-presidente melhor as instituições artísticas de Porto Alegre.
do Instituto. Aconteceu ainda a mesa de encerramento, O Instituto Cultural Cervantes foi outro parceiro, pois
no auditório do Goethe Institut, na qual comentamos o desde a apresentação de nosso projeto seu diretor
desenvolvimento da residência e cada um dos artistas acompanhou as nossas atividades e está oferecendo
apresentou suas reflexões, experiências e trabalhos a tradução para espanhol do texto desta publicação.
realizados. Como fechamento das atividades ocorreu o O Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da
Open Studio, uma atividade desenvolvida durante todo UFRGS esteve conosco na figura de professores e ex-
um dia, na sede do Instituto Yvy Maraey, quando o públi- alunos que participaram da residência em diferentes
co teve a oportunidade de conversar com os artistas e momentos de seu desenvolvimento. Os autores do pro-
ver os projetos desenvolvidos por cada um deles. jeto foram um professor e um aluno do Programa, dois
Finalizando esta apresentação relato, gos- críticos visitantes são doutores ali formados, assim
taria de salientar que todas as atividades da residên- como o artista residente local foi um duo constituído
cia foram acompanhadas por fotógrafos e cineastas, por dois doutores também ali formados e, ainda neste
que documentaram o passo a passo do projeto. Essa momento final, assume a publicação deste relato sob
documentação se encontra disponível no site do Insti- a forma de e-book. Embora toda essa inserção no
tuto http://www.institutoyvymaraey.org.br/ e serve de ambiente cultural da cidade não tenha sido totalmente
subsídio para esta publicação, que conta com textos prevista no projeto, ela estava nos objetivos a serem
e entrevistas dos artistas e críticos que estiveram en- alcançados. Somente podemos nos regozijar de
volvidos nesse ambicioso projeto. Acompanha esse ma- que eles tenham sido além de nossas expectativas.
terial, um farto levantamento bibliográfico sobre o tema A muitos teremos que agradecer por tudo de
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bom que ocorreu, e esperamos lembrá-los todos nos
nossos agradecimentos. O mais importante, no entan-
to, é destacar que este projeto não teria saído do papel
sem o financiamento do Fundo de Apoio à Cultura (FAC)
do governo do estado do RS e o apoio do programa
COINCIDÊNCIA da fundação suíça Pro Helvetia, que
ofereceram os recursos para a sua efetivação.
Finalizando esta apresentação, gostaria de co-
mentar que um projeto é sempre uma utopia, e que toda
experiência coletiva encerra as contradições de seus
participantes, de maneira que os resultados alcança-
dos podem atender ou não às expectativas de cada um.
No entanto, este tipo de vivência é fundamental para o
exercício das práticas de arte que envolvem a natureza,
para que aprimoremos nossa condição sensível.
Por isso, sempre vale a pena.
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“Ahora, la lengua flota a la deriva dispersa uma visão de natureza completamente estetizada que
en tonos locales, en desinencias dispersas, adquiriu o encanto profundo e íntimo de uma antiga len-
en significados inagotables, en fragmentos: da, mas uma lenda na qual acreditamos, como já afir-
no se dice el sentido de una vez ni para mava o sociólogo Gabriel Tarde2, há mais de cem anos.
siempre – en ningún lugar. Al contrario, todo E assim seguimos... principalmente quando nos move-
habla es fragmento de un discurso inacabado, mos pela cronologia hegemônica da história da arte dos
aplazamiento del sentido siempre abierto últimos quinhentos anos, partindo da representação
a interminables reutilizaciones.” da natureza no Renascimento, nos assombrando com o
José Luis Brea sublime da pintura romântica e aplaudindo a potência
da operação humana sobre a paisagem nas ações da
Land Art.
Existe uma história em curso na qual somos Este pensamento no campo da Arte segue
figurantes e outra que protagonizamos e onde somos apenas os reflexos de um autêntico estado de exceção
aniquiladores. A primeira é a do planeta Terra, uma es- ontológico que se funda na separação entre natureza
fera ígnea vagando no universo infinito... e a segunda é o e história.
acidente cósmico que gerou a vida na Terra, produzindo A esse enredo devemos adicionar ainda o
a atmosfera, o clima, o meio ambiente e, portanto, todos excepcionalismo humano3. Déborah Danowski e
os viventes. Dentre eles, nós, os principais agentes de Eduardo Viveiros de Castro apresentam como tradução
mudança do planeta, deslocando o mundo do período militante deste paradigma a imagem prometeica do
relativamente estável do Holoceno para uma nova era homem como conquistador da natureza: o homem
geológica, esse novo mundo de mudanças climáticas e como aquele ser que, emergindo do desamparo animal
de extinção em massa denominado Antropoceno. originário, se perdeu do mundo apenas para retornar
Existe ainda outra história em curso que colo- a ele melhor, como seu senhor.
ca cultura e natureza como campos opostos e homogê- Por outro lado, as culturas ameríndias jamais
neos. Nessa história as ideias e os desdobramentos se apartaram da natureza. Nunca a perderam, mesmo
das discussões sobre a paisagem têm distanciado os diante das pressões, expulsões, violências e genocídio
artistas, os agentes da arte e a própria humanidade da praticado pelos colonizadores, lembrando que esse
percepção de nossa integridade com o globo. Portanto, contexto de guerra e extermínio ainda não acabou e
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derrubada do eucalipto performada pelo residente Maria Isabel Rueda: Un pájaro estrelló violenta-
Rumen Dimitrov, material com que ele produziu duas mente esta mañana en mi casa contra la puerta de
instalações apresentadas ao final da residência. vidrio que me permite ver el hermoso jardín en el que
A morte do eucalipto gerou um super mal-estar entre vivo, mientras tomaba mi café en el desayuno.
os residentes, principalmente entre os dois vindos Estaba admirando la humilde belleza del amanecer.
do hemisfério norte, que no jantar da noite da queda Y un pájaro murió. No detectó el límite, transparente,
da árvore usaram palavras fortes como assas- engañoso.
sinato, descaso e incoerência dos coordenadores Lo enterré al lado de la mata de coca que
do programa por permitirem tal ato. Laura Cattani está creciendo de forma extremadamente lenta en el
do duo Ío fotografou o tronco caído instantes depois mismo jardín que me deleitaba esta mañana mien-
da derrubada. Nessas imagens, o miolo do vegetal tras tomaba café.
assemelhava-se a uma artéria aberta de cor ver- Justo al lado está enterrado Norman, mi
melha intensa. A argumentação dos artistas es- adorado gato. Murió hace dos años de sida felino al
candalizados gravitou em torno de uma espécie de igual que mi mejor amigo Wil, que no está enterrado
radical denúncia ecológica, de um dano irreparável en mi jardín.
ao meio ambiente e, portanto, inaceitável em uma Me deleito pensando que algún día mas-
residência que pretendia discutir as sensíveis e am- caré las hojas de coca que me regalará el árbol y ab-
bivalentes relações do campo Arte e Natureza. Não sorberé un poquito de mi gato y del pájaro muerto.
houve menção à metafísica vegetal presente no pen- Quién domina nuestros límites cuando nos
samento de Coccia, nem a nossa evidente demanda son invisibles? Quién los custodia? Dónde empieza la
por nutrição, a qual nos faz matar e dominar todas planta y termina el humano y comienza lo muerto y
as espécies de plantas e árvores, nem o fato de as termina lo vivo?
árvores fazerem parte da nossa cultura, em termos Todo está inescrupulosamente interconec-
arquitetônicos, de paisagismo, ligadas ao mobiliário tado. Somos el pájaro, el vidrio, la muerte, el café, la
etc. Gostaria de ouvir os teus comentários sobre esse hoja de coca, el gato, la tierra y la mujer que mira el
breve impasse ocorrido logo no início da residência. hermoso amanecer.
Toda ética que aplicamos hacia nosotros
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mismos debe contemplar el vuelo de los demás. No aquecimento global. Lemos então o texto On Heat12,
podemos pasar a través y salir ilesos. no qual Denise nos convida a pensar como as mu-
Un humano derribó un antiguo eucalipto y danças climáticas correspondem a extensiva e inten-
diseñó una gran silla. Qué humano ocupará seme- siva exploração dos recursos, das matérias-primas
jante puesto? Háblame un poco cómo imaginas el aos meios de produção, incluindo nesta perspectiva
humano por venir…se habló de eso en la residencia? a energia interna dos escravos africanos e das ter-
Eramos los residentes y los invitados mismos una ras indígenas, que agora existem na forma de capital
apuesta. En que sentido? global. Depois de uma sessão de autoprática, vis-
lumbrei – e entendi – o aquecimento global como um
Leonardo Remor: El humano por venir? O outro por processo de autocura do planeta.
vir é um mundo. Um mundo sem a nossa presença. A escritura pode ser essa ferramenta que
Um novo mundo após nossa lenta autoextinção. É torna conscientes nossas experiências, ampliando
justo que depois de extinguirmos tantas outras es- o nosso entendimento sobre o que vivemos. Que tal
pécies animais, vegetais, minerais… sejamos extin- usarmos este espaço, estas linhas, para – além de
tos. Autoextermínio como cura do planeta. compartilhar – promover a cura de algumas das ex-
A cadeira do Rumen vai estar vazia e não periências vividas durante a residência?
existirá ninguém capaz de reconhecer essa forma. A
cadeira ainda é o eucalipto. E seguirá – como tudo Denis Rodriguez: Ainda sobre a cadeira, eu diria
e todos – num processo contínuo de transformação. que muitos outros ainda ocuparão esse lugar, Ma-
Da madeira ao fogo, das cinzas à terra. Felizmente ria Isabel. Desses, poucos sobreviverão à longa vida
tudo se decompõe. Alimento para as vidas por vir. do eucalipto-cadeira. O ecocídio praticado clama à
Recentemente participei do segundo Sen- urgência do ativismo, das afirmações éticas sobre
sing Salon11, com Valentina Desideri e Denise Ferrei- um mundo no qual pensamentos próximos frequen-
ra da Silva, um programa que fez uso do Reiki como temente ocupam posições adversariais. O ativismo
técnica para expansão das possibilidades de práti- praticado na mesa de jantar, na mesa do bar ou nas
cas artísticas. Em certo momento, foi decidido pelo restritas bolhas algorítmicas das redes sociais ra-
grupo canalizar as energias vitais do Reiki para o ramente alcança os verdadeiros adversários que
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seguem esmagando conquistas e direitos e prati- sobre um mesmo fenômeno.
cando o ecocídio em escala massiva, como o avil- E o que gera mais conversa é o consenso ou
tante, triste e verdadeiro crime denominado o “dia do o dissenso? Com quem aprendo mais? Com os que
fogo”13, praticado há menos de dois meses no norte são mais próximos e com os quais compartilho das
do Brasil. No entanto, não estou defendendo que não mesmas ideias? Ou com os que são diferentes e me
valha a pena militar pela vida de uma única árvore, apresentam novas possibilidades? Organizar uma
mas me interrogando se a interrupção dessa vida residência é conviver com o diferente e muitas vezes
foi capaz de contribuir de alguma forma para a ex- surpreender-se com as distintas reações diante de
pansão do pensamento e da criação artística. Essa uma mesma situação compartilhada. Pode ser do-
me parece a reflexão central... O que fica também loroso e te deixar vulnerável, já que não há fórmula
evidente é a transparência da subjetividade de cada mágica e talvez seja através do fracasso que venha a
artista nas obras na natureza ou com a natureza, já aprendizagem. Essa situação um tanto quanto limí-
que eles aportam suas crenças e experiências na trofe de se ter que residir em apostas e, como apos-
hora de influir e de se relacionar com ela. tas, perceber que o longo esforço de juntar essas
Sobre os residentes e convidados serem pessoas talvez não tenha valido a pena. Ou será que
uma aposta e em que sentido, claro que sim, e, mes- valeu? Esse frágil equilíbrio de se colocar desejos em
mo se eu não quisesse, seria. A união de pessoas em ação, o pensado/planejado em feito... e, de repente,
um mesmo lugar por um curto período de tempo é perceber-se atropelado pelos próprios sonhos, numa
sempre uma aposta. Juntar amigos em uma mesma espécie de concretização caótica do idealizado, ou
festa é outra aposta. Viajar com um grupo de pes- simplesmente no fluxo da vida. Ver-se impotente e
soas é aposta também. A todo tempo lidamos com frustrado no momento em que idealmente seria o
os limites visíveis e invisíveis das pessoas, com os regozijo. Ao mesmo tempo em que algo novo sempre
limites conhecidos e desconhecidos, que serão reve- se cria nesses encontros, pois por pior que eles se-
lados ao longo da trajetória comum. Gosto muito das jam, por mais nefastas que tenham sido as experiên-
estratégias que fomentam a circulação de uma va- cias, elas inseriram um novo dado na consciência de
riedade de narrativas, de pontos de vista que con- cada um. Propiciar encontros e novas parcerias é o
lidam a compreensão da multiplicidade de verdades lado ultrapositivo das apostas. O negativo, é perce-
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ber que esse outro em que se aposta, e que quere- foi revelado tu carregastes por algum tempo e por
mos conhecer, chega com juízos prontos, insensível quanto? Como tu te colocas diante da magia e clariv-
às diferenças culturais, sociais e estruturais, enfim, idência? E de saber se a receita da bruxa curou a tua
diferenças modeladas pelas trajetórias, memórias enxaqueca. E por fim, Maria Isabel, hoje residindo
e emoções que cada um carrega. Além da identifi- aqui em Madri, percebo como o nosso dia a dia na
cação, acredito também em pactos de convivência América do Sul é permeado pelas ideias de energia
coletiva. boa e energia ruim, como gravitamos nessas polari-
Na esteira disso que acabei de te contar, dades e como estamos sujeitos e nos sujeitamos a
palavras que de certa forma respondem também à elas. Ou não? Queremos te escutar.
proposta de autocura do Leo, gostaria de seguir in-
sistindo nesse ponto da unicidade da interpretação Maria Isabel Rueda: Podemos entonces empezar a
da experiência diante do mesmo fenômeno, e trazer hablar de un antropocentrismo invertido14 donde po-
à conversa nossa visita coletiva ao Templo da Ma- dríamos permitirnos incluir también el reino de lo so-
gia, um desvio que produziu consequências terríveis brenatural, ya que podría decirse que este también
em quase todos os visitantes. Gostaria de usar a tua pertenece a una epistemología no antropocéntrica.
linda imagem de limites invisíveis para falar dessa En un mundo que actualmente enfrenta los efectos
visita. Naquele dia, biografias ocultas dos residentes irreversibles de la destrucción humana de los recur-
e visitantes foram reveladas. Talvez Leo e eu tenha- sos naturales, un enfoque hacia “todas” las dimen-
mos sido os mais prejudicados com a confirmação siones descartadas por el pensamiento occidental
da previsão do roubo e das perdas materiais, além hegemónico de biopolíticas capitalistas, donde lo
do trauma reiterado, já que somos alvo frequente de que prima es la producción y la acumulación, resulta
ações violentas no Brasil. Ao mesmo tempo em que, acertadamente pertinente tomar en consideración la
no nosso trabalho de artista, esse lado subjetivo, participación activa de estos otros reinos.
intuitivo, mágico, essa conexão com o não racional Como respuesta a tu pregunta….
é essencial e enriquecedora. Gostaria de saber as Si! La receta de la vidente ha resultado una
tuas impressões, percepções e insights sobre esse solución efectiva a mis migrañas.
dia. Gostaria de saber se de alguma forma o que ali
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Denis Rodriguez: ¿De verdad? ¡¡Que maravilla!! resante pues me aburre un poco saber lo que puede
Pero no hablastes de tus impresiones, percepciones pasar, sin embargo escuché atenta a la vidente y
y puntos de vista sobre ese dia fatídico. Estoy curioso seguí sus recomendaciones para mejorar mis mi-
y sigo me preguntando si de alguna manera lo que grañas con la grata sorpresa que me han funcionado.
se reveló allí llevaste por algún tiempo y por cuánto. Gran parte de mi carrera como artista y mis
¿Cuáles son tus relaciones con las prácticas mági- intereses como curadora están relacionados a una
cas y la clarividencia? És interesada en el campo de búsqueda personal de intentar comunicarme con
la magia? Y finalmente, María Isabel, ahora que vivo otras dimensiones, intentando relacionarme a otro
aquí en Madrid, me doy cuenta de cómo nuestra vida nivel con el mundo animal, vegetal y mineral. En el
diaria en Sudamérica está impregnada de las ideas camino me he relacionado con muchos artistas y
de buena y mala energía, cómo gravitamos hacia es- he recuperado su trabajo y sus visiones escribien-
tas polaridades y cómo somos sujetos y nos somete- do parte de la historia oculta del arte colombiana
mos a eso. a partir de entrevistas y diálogos con artistas que
comparten mi visión como Norman Mejía y Álvaro
Maria Isabel Rueda: Bueno... la visita al templo, a Barrios por citar algunos, donde establezco fuertes
diferencia del resto del grupo, me resultó bastante conexiones entre el arte conceptual en Colombia y el
interesante y de una gran belleza estética. espiritismo. He cuestionado el género del retrato y el
El templo del amor con los cuarzos rosa en las pare- autoretrato a partir de la mimesis de mi cuerpo con
des donde nos recibió la vidente me pareció bellísi- el entorno natural, a través de las pinturas murales
mo, alucinante, me sentí en el set de una película de de la ruina del castillo de Norman Mejía un artista
Almodóvar. muy reconocido en la escena de los años ochenta en
Desde niña he tenido contacto con otras Colombia, que decidió aislarse de la sociedad y del
dimensiones y en esta etapa de mi vida encuentro mundo del arte en su casa en Barranquilla.
fascinante la comunicación con el mundo mineral, Mi trabajo se ha situado dentro del imagi-
así que para mí estar ahí con todos esos cuarzos fue nario del gótico tropical, desde donde he redefinido
fabuloso. y ampliado el género, que en un comienzo solo se
La lectura del futuro no me resulta tan inte- asociaba a grupo de Cali con quienes mantuve una
O MUNDO DOS SERES: UM TRIÁLOGO SOBRE VIDÊNCIA, ENERGIA POSITIVA E O DIREITO À VIDA DAS PLANTAS 48
estrecha relación (Luis Ospina y Carlos Mayolo). An- Me gustaría saber en su caso personal que
dres Caicedo se suicidó muy joven, así que no llegué considera que hace a una persona vidente.
a conocerlo, pero devoré sus libros cuando fui ado-
lescente. Denis Rodriguez: De fato, o templo do amor é um
He abierto agujeros de gusano conceptuales delírio lisérgico, aliás, todo o Templo da Magia.
y conectado dimensiones en el espacio tiempo en Talvez, por não se tratar de um lugar sectário, ele
mis curadurías, así suene un poco a ciencia ficción seja esse pastiche ecumênico, uma grande colagem
(la cual me interesa muchísimo, acabo de editar una de religiões e culturas.
publicación con La Usurpadora y Jose Sanín titulada Até a adolescência estudei em um colégio
infinito incorporado). católico, mas o espiritismo e as práticas místicas
En una de las últimas muestras que he cura- sempre estiveram presentes na minha casa. Tarot,
do con La Usurpadora: Universos Desdoblados, tuve leitura de borra de café, I Ching, o “jogo do copo”, os
la oportunidad de incluir el trabajo de una de las ar- livros do Kardec, como também uma imensa estante
tistas invitadas a la residencia: Miriam Simun, con com literatura Seicho-no-iê, aquela seita religio-
quien comparto muchísimos intereses y con cuya sa-filosófica que enfatiza a gratidão e o pensamento
obra he conectado a nivel conceptual y espiritual positivo, será que existe Seicho-no-iê na Colômbia?
gracias a nuestras charlas en el Instituto. Essa religião foi trazida ao Brasil pelos japoneses, e
Así que voy incorporando en mi pensamiento São Paulo até os anos 1950 foi a cidade da América
a las ideas y personas con quien me voy relacionando que mais recebeu imigrantes oriundos do Japão.
y aprendiendo en el camino. Desde de criança observo a busca espiritual
Respecto a la energía positiva y negativa. de minha mãe, que experimentou distintas crenças
Pienso que el separarnos de la unidad generó la dua- e hoje vive seus próprios dogmas, mas segue adep-
lidad que tanto nos atormenta, pero que precisa- ta do pensamento Seicho-no-iê. Ela já foi católica,
mente nos hace humanos, y que en su contraste es espírita, umbandista, evangélica, budista... talvez
la fuente de toda creación. Así que esta polaridad, eu esteja esquecendo de alguma outra experiência
pienso, es mucho más interesante si empezamos a espiritual que ela tenha passado. Nessas andanças
observarla como un simple testigo. conheci muitas pessoas dedicadas à vida espiritual,
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muitas diziam-se escolhidas, mas poucas capazes ter muito cuidado ao revelá-las.
de acolher, cuidar, iluminar essa nossa busca de sen- E sobre o que torna alguém vidente? O que
tido para esse sentimento recorrente de impotência, me tornou vidente? E o que me afastou desse cami-
de escassez de recursos, às vezes de saúde e mes- nho? Nunca pensei muito sobre isso… Talvez o fato
mo de linguagem diante dos absurdos, das ofensas, de eu não gostar da autoridade que os gurus religio-
dos infortúnios e da violência cotidiana. Cruzei com sos normalmente têm, isso pode ter me afastado
muita gente falsa e aproveitadora nessa jornada. Na desse caminho. Tenho pavor do patriarcado rotulado
adolescência me deparei pela primeira vez com a como líder espiritual. E abomino dogmas e verdades
clarividência, pois tive uma amiga portuguesa, Dulci- universais. Sobre a mestre Tala do Templo da Magia,
mara Martins Leal, que era sensível e que conseguia um enigma... mas adivinhar que alguém vai ser as-
antever fatos. Nessa época éramos muito próximos e saltado no Brasil eu não chamaria de clarividência,
compartilhávamos muitas das experiências místicas diria apenas redistribuição da violência cotidiana e
que aconteciam na minha casa. Com o passar do tem- ancestral.
po, fui aprendendo a me conectar com as pessoas. E
comecei a ler mais intuitivamente a borra do café, o Leonardo Remor: Me senti bastante desconfortável e
I Ching e a ter insights durante o “jogo do copo”. Até incomodado na visita ao tal Templo da Magia. Desde
que comecei a ter sonhos premonitórios, visualizan- pequeno sou muito atraído por esse universo ocul-
do eventos que se confirmariam ao longo dos dias. to. Minha avó – além de cozinheira de mão cheia –
Em uma noite sonhei que um ente querido se despe- também benze de míngua. Aprendi com ela a curar
dia de mim e me passava instruções de como deveria com as mãos apenas com o nome da pessoa e nada
agir após a sua morte. Na manhã seguinte, não escu- mais. Pra quem não sabe, a míngua vem quando es-
tei o som do alarme. E quando levantei, encontrei um tamos jururus, pra baixo. É um desânimo que pode te
bilhete deixado na mesa do café da manhã que me fazer parar de comer e até mesmo secar uma planta.
informava sobre a morte desse parente que eu tinha Pro dicionário, míngua é “a falta do que é essencial”.
acabado de encontrar no sonho. Foi um choque, eu E indispensável é cuidar, restaurar, manter nosso
tinha 14 anos. Desde então sou bastante suscetível a ânimo.
previsões e por isso penso que quem as pratica deve Por outro lado, a iconografia mística das lo-
O MUNDO DOS SERES: UM TRIÁLOGO SOBRE VIDÊNCIA, ENERGIA POSITIVA E O DIREITO À VIDA DAS PLANTAS 51
jas esotéricas me afasta... Não me reconheço nessas uma ofensa. Esse trabalho se paga com afeto, com
imagens e objetos. Uma representação desinteres- um presente de coração, com as flores que crescem
sante... E ali, naquele complexo de templos a tantos espontâneas no teu quintal. Juntos assim sustentar
deuses, vi essa estética reproduzida. Para mim, um e manter a vida. Compartilhar, somar, multipli-
verdadeiro parque temático religioso, erguido em car. Acredito na magia de plantar a mandioca, que do
plástico e concreto. Tantos ícones, tantos símbolos... seu tronco fazemos muitas mudas, e de cada muda
Uma grande simplificação e redução de tantas cul- nascem muitas raízes que alimentam toda a família.
turas, cheias de suas particularidades e origens. “Te- Acredito no poder da escuta do próprio corpo, no res-
mos não sei quantos templos... Recebemos não sei peito ao tempo da respiração.
quem, famoso jogador de futebol...” Não acredito na
magia como resolução instantânea dos problemas – 10 COCCIA, Emmanuele. Mente e Matéria ou A
ou diagnóstico. Para mim, essas práticas são de au- Vida das Plantas. <http://www.revistalanda.
toconhecimento e compartilhamento. ufsc.br/PDFs/ed2/Emanuele%20Coccia.pdf>.
Nada mais tedioso do que esse ser supe-
rior com poderes de ver o futuro: você vai viajar, você 11 The Sensing Salon expande as ideias da arte
vai ser assaltado, você vai morrer... Eu desacredito por intermédio das artes da cura, caracteriza-se
e entro num templo desses com os dois pés atrás. por um estúdio para o exercício das práticas de
Quando vejo esse lugar todo feito de quartzo rosa, cura. O ato de cura, como a arte, é prática. É algo
não posso deixar de pensar na mineração, na ex- que se faz e que promove restauração, bem-es-
ploração intensiva dos recursos, no lucro e dinheiro tar. O trabalho colaborativo do The Sensing Sa-
a qualquer preço... Para mim essas pedras estão no lon explora a cura como uma forma de arte, uma
lugar errado. O lugar delas é lá embaixo da terra. Meu prática do sentir e do fazer sentido que também
templo é na cachoeira, é embaixo de uma árvore. inclui estudos, pensamento crítico e experi-
Eu acredito na magia ancestral de nossas mentações que permitem alcançar níveis mais
avós. Na benzedeira com a casa sempre cheia. Aco- profuntos da existência.
lhedora na sua humildade, te tira a míngua e ainda
te oferece de comer. E se ofereceres dinheiro, será
O MUNDO DOS SERES: UM TRIÁLOGO SOBRE VIDÊNCIA, ENERGIA POSITIVA E O DIREITO À VIDA DAS PLANTAS 52
12 FERREIRA DA SILVA, Denise. On Heat. <https://
canadianart.ca/features/on-heat/>.
O MUNDO DOS SERES: UM TRIÁLOGO SOBRE VIDÊNCIA, ENERGIA POSITIVA E O DIREITO À VIDA DAS PLANTAS 53
ZONA VERDE ÍO 54
Michelle Sommer: De Eadweard Muybridge, passan- tos possuem junções óbvias, em outros são engana-
do por Jean Cocteau e Béla Tarr, o cavalo é um ele- doramente conexos (talvez misturados a estilhaços
mento vivo que assume protagonismo em narrativas de outra origem) ou, ainda, estão irremediavelmente
imagéticas. Conta a história dos pensadores ociden- perdidos. Com o tempo, às vezes, nos afeiçoamos a
tais que Nietzsche chorou e calou-se – por dez anos este aspecto precário, às marcas (como o apreço que
até sua morte – ao deparar-se com um cavalo que temos por certas cicatrizes), a um todo que se sabe
se negava a andar, exausto, e enfrentava, imóvel, os faltante e, em sua incompletude, convoca a nossa
maus-tratos do seu dono. imaginação para existir. Este texto acompanha o pro-
No contexto da residência, em um espaço cesso de reconstituição do pensamento poético que
rural de relativo isolamento – da cidade, da conecti- originou três trabalhos, que circunvagam a materia-
vidade demandante da web – quais foram os impul- lidade enganadoramente simples de pedras e ossos,
sos – se novos e outros – que não eram usuais nos desenvolvidos em fevereiro de 2019, na Residência
trabalhos da dupla para as explorações poéticas Artística Ka’a, apresentado de forma episódica e
oriundas do entorno material e psíquico nesse es- fragmentária (em uma tentativa paródica de repro-
paço e tempo específicos? duzir a lógica do pensamento). As obras servem de
Entre ossadas de animais e pedras, em sua índice para refletir sobre a poiética artística, certa
natureza-morta e o encontro com animais, especifi- dicotomia entre o arco de tempo dos ciclos e o pre-
camente o cavalo, em sua natureza-viva; quais foram sente epidérmico, e os vários cenários inerentes (e
os enfrentamentos encontrados para a proposição e muitas vezes submersos) às suas decisões.
realização de trabalhos, inclusive sobre a potência Não é incomum, na zona rural gaúcha, que
do que resta somente como projeto para desdobra- perto das casas uma espécie de minúscula capela
mentos futuros e não foi realizado? resguarde o santo ou a santa de devoção familiar.
Protegidas das intempéries, as estátuas parecem
Ío: O pensamento poético raramente é um rio – um não estar prestando um serviço de ordem metafísi-
todo fluindo de forma coesa em direção ao seu desti- ca, mas sim atentas e curiosas a um mundo perecív-
no –, mas algo mais próximo de um vaso quebrado que el que as cerca. No dia a dia da Residência Ka’a, em
buscamos remontar. Em alguns casos, os fragmen- nossas deambulações, circundávamos a casa prin-
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cipal e víamos, nas reentrâncias de uma parede paredes recobertas de ossos e crânios, ocupa o es-
lateral, ossos como fêmures de cavalos, arcadas de pectro do macabro, é relevante lembrar que a vida
vacas, cabeças de cães, arranjados como peças de campeira do sul da América tem nos ossos de ani-
um tabuleiro pastoril ou enfileirados como uma pro- mais ressecados pelo campo um elemento contínuo
cissão. de sua sintaxe, o branco calcáreo do osso pontuan-
Esses ossos evocam, sobretudo, um altar – do as distâncias no campo. Há, nas proximidades da
mas que, em vez do distanciamento reverente, con- Residência Ka’a, um terreno da Prefeitura Municipal
vidam ao toque, à prática da osteomancia. Oriunda de de Porto Alegre transformado em santuário, para
uma tradição difusa – babilônios, árabes e chineses onde são levados os cavalos resgatados de situações
a praticavam –, a osteomancia permite adivinhações de maus-tratos (e onde, no devido tempo, morrem).
por meio da observação dos ossos de certos animais, Esse processo é visto com tanta naturalidade que
com frequência domesticados. Em um pensamento em certa ocasião, quando Laura17 mencionou seu
mágico, é coerente o entendimento, originário na An- fascínio com esses ossos a um funcionário da pro-
tiguidade, de que os animais próximos da lida, e que priedade vizinha que trabalha com a doma de cava-
com frequência serviam como proteção, resguar- los, este prontamente foi cavalgando em direção ao
dem por alguma razão misteriosa a manifestação campo e voltou com um grande saco contendo mais
do futuro em seu interior. No Rio Grande do Sul, esta uma ossada, oriunda de um animal morto de velhice,
tradição parece sofrer uma pseudomorfose15 através do qual ele sabia inclusive o nome.
do Jogo do Osso, que, tal qual os dados, baseia-se Em um pensamento que era comum aos
nos desígnios da deusa Fortuna. No conto Jogo de egípcios e aos sumérios, estes ossos, menos do que
Osso, de João Simões Lopes Neto, uma aposta tem um signo de morte, nos indicam um ciclo (COHN,
como prêmio uma mulher ou um ruano (cavalo cujo 1993, p. 15-83), como se a mortalidade do ser in-
corpo apresenta pelo branco ou esbranquiçado, com sistisse em afrontar a imortalidade do pampa (cla-
manchas escuras) e torna o osso instrumento de ro que, em nosso distópico 2019, acreditar na imor-
predição e arauto do destino16. talidade de um ecossistema é um ato de fé). Então,
Se, para nossa sensibilidade contem- quando manipulamos a agradável textura de um fê-
porânea, a Capela dos Ossos de Évora, com suas mur equino, o osso parece nos convidar a uma con-
ZONA VERDE ÍO 56
tração entre o fim e o início de um ciclo. erguemos nosso raio x contra a luz, ineluta-
Em fevereiro, de 2017, Laura caiu de um ca- velmente pensamos na destinação da vida e, em
valo e fraturou o ombro em cinco partes. Como é da certa dimensão genealógica, subjazem em nosso
natureza dos acidentes, o “se” é uma partícula tão inconsciente estético as caveiras feitas de mosai-
fundamental quanto irrelevante. Fundamental por cos em Pompeia; a procissão da Dança Macabra e o
trazer a consciência de que pequenas variações nos Vanitas serpenteiam na ponta de nossos dedos.
acontecimentos teriam consequências muito distin- Esta série de pensamentos e pequenos
tas, irrelevante porque esta percepção é incapaz de fragmentos, de um todo que sabemos ser muito mais
alterar a realidade – mas é, no entanto, fundante na complexo, é índice da noosfera na qual estava imer-
ficção. Em um macio e verdejante campo, Laura cai sa nossa vivência ao longo da residência e na qual
com precisão sobre uma pedra encoberta. A recuper- nasceram algumas obras. O título destas só emer-
ação é um processo lento, doloroso e impregnado de giu meses após sua concepção. Nomear uma obra é
angústia (será necessária uma cirurgia? Pinos uni- parte importante, para a Ío, do ritual de iniciação que
ficarão a fratura? Os movimentos serão recupe- marca a passagem do trabalho do mundo das ideias
rados?), e sempre muito difícil de ser evocado. Em ao da arte.
sua enfadonha repetição, cada dia não traz resulta- A associação do nome com a própria
dos substanciais em relação ao outro – é como se a existência do ser é um conceito que aparece re-
memória tivesse um especial apreço por desvanecer iteradamente em diversas culturas e crenças. Na
a monotonia deste processo, compactando-o em maioria dos ritos iniciáticos, o iniciado recebe
poucos eventos esquemáticos. um novo nome, distinção e reconhecimento com
Mas, em outra instância, estes eventos se o qual passa a ter um pertencimento grupal. [...]
tornam símbolos. Mesmo existindo há mais de um Para a Ío, também, nomes são uma espécie de
século, nosso fascínio pelos raios x ainda não se sopro que anima as coisas da realidade para o
encerrou. Pelo contrário, parece se renovar com o mundo da arte. Portanto, nossos trabalhos são
acréscimo de novas tecnologias, como a ressonância sempre bipartidos, no que entendemos como
magnética, na qual é possível um sofisticado acúmu- duas manifestações da mesma entidade: uma
lo de perspectivas de um osso estilhaçado. Quando no espaço-tempo (a aparência que possuem), a
ZONA VERDE ÍO 57
58
outra na semântica da linguagem (o nome que re- A antítese é explícita, pois raízes são funda-
cebem). Por sua relevância, a nominação de um mento e instrumento da sobrevivência das árvores.
trabalho é ato cuidadosamente sopesado, e mui- Ao replicarmos sua identidade, fundindo-a com os-
tas vezes a sua escolha passa por um longo pro- sos metálicos, há um deslocamento em direção da
cesso, cujo resultado irá determinar os rumos do ironia, “[...] mostrar como algo não corresponde a
próprio trabalho. (CATTANI, 2018, p. 116-117) seu próprio conceito sem, com isso, ser obrigado a
fornecer uma determinação conceitual normati-
As obras receberam uma numeração va” (SAFATLE, 2015). Mircea Eliade, em O sagrado
cronológica e um subtítulo entre parentes. Nº 1 (Ad e o profano: a essência das religiões, nos aponta
instar)18 e Nº 2 (Idem per idem)19 e, uma obra que ve- que a morte é comumente associada a uma dupla
remos posteriormente, Nº 3 (Ad hoc). Os títulos são a natureza, de passagem (ponto final) ou renovação
apropriação, talvez paródica, de um universo jurídico (recomeço) (ELIADE, 2010, p. 159-160). Essa visão é
instável que vem permeando nossa vivência e con- corroborada por Edgar Morin, que afirma que
tamina o processo artístico.
Nº 1 é um projeto de escultura que nasce da Nas consciências arcaicas, onde as experiências
observação das raízes de algumas árvores da região elementares do mundo são as das metamorfoses,
que nós, pela introjeção de conceitos da história da dos desaparecimentos e reaparecimentos, das
arte, vemos como barrocas. Essa escultura instala- transmutações, toda morte anuncia um nasci-
tiva é composta por uma combinação entre fêmur mento, todo nascimento procede de uma morte,
e tíbia equinos, levemente alongados e retorcidos, toda mudança é análoga a uma morte-renasci-
em metal (ainda indefinido) que adentra a terra e mento [...]. (MORIN, 1997, p. 109)
se desloca serpenteando subterraneamente, even-
tualmente vindo à tona, entre cinco a sete vezes, por Nº 1 estrutura sua poética nas tensões do
dezenas de metros em meio à vegetação (Figura 2). A jogo entre as pulsões de Eros e Thanatos. O cavalo é
um espectador, Nº 1 se apresenta como uma espe- símbolo ancestral de potência e velocidade, um si-
culação, em que o acesso ao que é visível contribui lencioso e fiel companheiro na solidão do ser huma-
para a projetividade do todo. no, e associado a certa idealização de uma natureza
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não corrompida pelos males da civilização. Diversas lutiva – tanto sua adaptação natural quanto a ma-
mitologias e as tradições, como do oeste estaduni- nipulação de criadores. Lembramos do episódio
dense, do sul da América20, das estepes da Mongólia, narrado por Fernand Léger, no qual Duchamp, fasci-
dentre tantos outros exemplos, são impregnadas nado com a concisão, elegância e eficiência de uma
deste imaginário em que a ontologia do humano se hélice, pergunta a Brancusi, em tom provocativo, se
funde ao cavalo, como metonímia da natureza. este conseguiria fazer algo melhor (LÉGER, p. 140).
A mais devastadora força beligerante da O osso equino evoca um pensamento análogo (um
história humana foram os mongóis. Oito séculos de- reflexo tautológico ocorre em paralelo, pois pensam-
pois e, principalmente, os horrores do holocausto na os intuitivamente nas qualidades escultóricas das
segunda Guerra Mundial nos trazem certo olvida- peças não figurativas de Henry Moore, em grande
mento das inconcebíveis crueldades por eles pra- parte inspiradas em ossos encontrados na praia).
ticadas. Dois elementos tornaram este misterioso Por fim, relacionando-se com as referências,
povo da estepe algo similar a deidades da destruição: podemos pensar em dois trabalhos que ajudaram a
o arco composto, um bem guardado segredo militar articular o pensamento poiético de Nº 1. O primei-
da construção, que permitia ao arco um alcance su- ro é Earth Vertical Kilometer, realizado por Walter
perior a qualquer outro; e o uso simbiótico do cavalo de Maria para a Documenta de Kassel de 1977 que,
(WHITE, 2013, p. 147). Estes guerreiros, que, segundo como é sabido, se constitui de um bastão metálico
se conta, eram capazes até mesmo de dormir sobre de um quilômetro, enterrado em posição vertical,
seus cavalos em movimento, souberam usar a mobi- em direção ao centro da Terra. Da superfície, se vê
lidade e a resiliência destes animais para atacar e uma ínfima parte do todo (restando-nos projetá-lo
subjugar com excepcional agilidade vastos ter- com a imaginação). Há nesta obra a sinalização do
ritórios. insondável e da vertigem, um metal sólido indo em
Manipular o fêmur de um cavalo é uma direção ao metal fundido do núcleo da Terra, ainda
experiência fascinante, pois se percebe quase resguardando mistérios, e em nossa tradição sem-
de imediato a concisão da peça, a capacidade pre vinculado à ideia da morte e das penitências hu-
de suportar o estresse mecânico e sua elegância, manas, o inferno de fogo e lava.
supõe-se o conjunto de modificações na linha evo- A segunda obra é Les Bijoux de Madame de
ZONA VERDE ÍO 60
Sade, de Tunga, composta por três fêmures alonga- força (PASTOUREAU, 2015, p. 43). De certa forma, a
dos e circulares entrelaçados, cujas extremidades se escrita permite dar vida a fantasmas, é quase como
conectam na forma de um Toro. Conceito importante uma espécie de assombração que faz com que mor-
para a obra de Tunga e do qual nos apropriamos em tos há milênios sejam revividos através da leitura.
nosso pensamento poético, o Toro não é uma for- A obra Nº 2 é consequente das ponderações
ma, mas um espaço de percurso não linear, em que da poiética do trabalho anterior, uma espécie de bi-
zonas não contíguas se aproximam ou se tocam. A furcação, pois, se em Nº 1 há um deslocamento do
discussão que ele evoca não é sobre topologia, mas osso ao símbolo, em Nº 2 este movimento se expli-
sobre a capacidade metafórica de pensar um longo cita em favor da linguagem. Certas crenças ani-
osso que, com certa volúpia, mergulha na terra, mistas preponderantes da Antiguidade – mas que
unindo o ensimesmamento da morte, a ponderação seguem vivas no pensamento supersticioso con-
de ordem metafísica, a pletora da natureza como temporâneo – atribuem às coisas ou lugares espe-
uma força concreta. cíficos um animus, um sopro de vida. Aos artistas
Reduzindo a imagem do cavalo a alguns os- que se sensibilizam com uma linha de pensamento
sos, com a intenção de se alinhavar o campo com de tradição alquímica – como, por exemplo, na arte
esta trama – e cônscios da dupla natureza inerente à Povera – é natural pensar que os materiais têm uma
simbologia da morte –, passamos a operar na carga simbólica própria, pois percebem ou intuem
ordem de uma escrita polissêmica e aberta a res- nas coisas uma espécie de vida, não que elas sejam
significações que é natural da denotação, mas animadas por um Genius, mas pela linguagem e sua
também uma espécie de paródia da escrita (como hermenêutica. Assim, buscam sublimar este pen-
se, ao traçar linhas de ossos, uma escrita secreta samento constituindo uma gramática própria, com
estivesse sendo agenciada). Pensando em uma ge- valores relativos à transmutação, leveza, condutivi-
nealogia arcaica, lembramos que a criação da let- dade etc.
ra “A” pelos fenícios tem sua origem na imagem es- Na Residência Ka’a há uma cadela chamada
tilizada da cabeça de um touro (ao inverter a letra, Mel, que fica boa parte do tempo isolada dos demais
os cornos se tornam explícitos) provavelmente em por conta de seus constantes ataques às galinhas
referência a um deus taurino, símbolo de energia e que passeiam soltas pela fazenda. Sua coleira é pre-
ZONA VERDE ÍO 61
sa a uma guia que, por sua vez, se conecta por meio malmente muito esguia:
de uma argola a um cabo de arame que se estende 1. Um cabo de aço esticado entre duas ár-
por dezenas de metros, de um moirão a um telhado vores, em um trecho de 33 metros onde a égua
de metal. Quando Mel se move, o atrito da argola gera poderia correr;
um som que é amplificado pelas telhas de metal. Esta 2. Uma égua presa ao cabo por uma argola
situação evocava referências potentes como Sísifo, metálica conectada ao arreio;
pela repetição de um acontecimento, uma ideia de 3. Um cone de metal para amplificar o som,
aprisionamento a um movimento constante; e o telé- inspirado na tradição ruidista de Russolo, preso em
grafo, dispositivo hoje negligenciado pelo esplendor uma das extremidades do cabo;
da internet, mas que mudou a configuração do mun- 4. Uma série de interrupções no cabo, feitas
do no século XIX. Inferimos que seria fascinante se com um material que abafasse o atrito da argola.
um animal fosse detentor de uma mensagem clara e Este quarto item constituía o essencial do
específica, mas qual? Como? trabalho: optamos por utilizar o código Morse para
Nos pareceu auspicioso que o cavalo se que as interrupções fossem comunicantes. No códi-
constituísse como um fio condutor que unificasse os go Morse, as letras mais simples são S (...) e O (---),
trabalhos. Um belo cavalo de uma fazenda das cer- fator determinante para seu uso no chamamento de
canias que com frequência circulava pela Residência socorro S.O.S (uma convenção que, contrariamente
Ka’a despertou nossa atenção. Seu vigor, postura e às lendas que se criaram em seu entorno, não sig-
elegância foram fatores importantes na sua escolha, nifica nada). Esta percepção nos permitiu formar a
mas um detalhe de sua pelagem foi fundamental: seu palavra “osso”, que não só utilizava as letras preten-
rosto era parcialmente encoberto por uma mancha didas, como era um palíndromo: isso permitia que a
branca que evocava um crânio equino. Descobrimos égua emitisse a palavra, através da interrupção do
então que se tratava de uma égua, chamada Nevada som, ao correr em qualquer dos sentidos.
Kan, e que ela tinha heterocromia (um olho castanho, O gado e os cavalos são comumente trata-
o outro azul-claro). dos pelos humanos, quando não como commodities,
A soma destes fatores, e as reflexões oriun- como animais de tração (a moagem e o arado são
das de Nº 1, conduziram que a obra Nº 2 se torna for- exemplos de sua força em trabalhos específicos) e,
ZONA VERDE ÍO 62
63
dentro deste uso, Nº 2 foi engendrado como um me- alter ego que aglutina Munir Klamt e Laura
canismo de linguagem, no qual a potência do movi- Cattani. Quando mencionados em separado,
mento do cavalo (com sua face de caveira) se torna estes serão referidos na terceira pessoa.
dispositivo de uma única e tautológica mensagem:
osso. Ideia de essência, de morte, de permanência 18 “À semelhança de”.
através da linguagem. A mensagem mantém-se viva
enquanto o movimento através do cabo for continua- 19 “O mesmo pelo mesmo” (palíndromo).
do – ou retomado em um futuro – e houver alguém
que possa reconhecê-lo como uma palavra signifi- 20 Vemos no prólogo de Jorge Luis Borges para
cante. o livro O gaúcho, de José Luiz Lanuza, um relato
dessa relação:
15 Para Panofsky, o termo se aplica quando al- (...) um explorador de imensas terras virgens ou
gumas figuras renascentistas eram revestidas de filões de ouro; as guerras o levaram muito
de aspectos clássicos, apesar de não terem es- longe e ele deu estoicamente sua vida, em es-
tado presentes nos seus protótipos clássicos, tranhas regiões do continente, por abstrações
embora pressagiadas na literatura clássica. que talvez não tenha podido entender – a liber-
“Devido ao seus antecedentes medievais, a arte dade, a pátria –, por uma divisa e um chefe.
do Renascimento, em muitos casos, foi capaz de Nas tréguas do risco alimentava o ócio; suas
traduzir em imagens o que a arte clássica teria preferências eram a guitarra que temperava
parecido inexprimível.” PANOFSKY, Erwin. Estu- com lentidão (...), as cavalhadas, a roda de mate
dos de iconologia: temas humanísticos na arte junto ao fogo de lenha e as trapaças feitas de
do Renascimento. Lisboa: Estampa, 1986, p. 70. tempo. (BORGES, 1985, p. 73)
16 LOPES NETO, João Simões. Contos gauches- Ane Rodríguez Armendariz: Pelo que tive a chance
cos. 9. ed. Porto Alegre: Globo, 1976. de ver em seu trabalho, diria que há uma presença
marcante de elementos relacionados aos fluidos e
17 Este texto está escrito na perspectiva da Ío, ao corpo, mas também a mecanismos afiados cria-
dos pelo homem que muitas vezes são uma ameaça.
ZONA VERDE ÍO 64
O uso das cores que vocês fazem, com destaque para tos filmes de horror: o medo de sentir medo (assim
o preto, o branco e o vermelho, também nos leva a como, em outras situações, o metaprazer de sentir
pensar nos órgãos do corpo, no sangue e no amor. Ter desejo). Alguns predadores têm como sua principal
a chance de passar um mês em uma residência rural qualidade não a velocidade, a potência dos múscu-
significa que você precisa se confrontar com novas los ou a ferocidade, mas sim uma quase mítica quali-
fontes de criação, como luz natural, sons, outros re- dade de espreitar. Os trabalhos da Ío com frequência
cursos naturais, cores diferentes e, além de tudo, um trazem uma qualidade de ruína (uma estrutura com
ambiente que te afasta do teu universo artístico. Es- alguma função que há muito tempo se perdeu), ou da
tou interessada em saber um pouco mais sobre como armadilha engatilhada, um artefato de pura espera.
essa experiência fez (e se de fato fez) com que você Talvez esta atmosfera de violência latente
mudasse a forma como aborda sua prática. migre para as nossas escolhas cromáticas. O bran-
co e o preto são, ao mesmo tempo, antíteses de um
Ío: Temos veemente interesse pelo corpo, mas não o espectro, cores simples e prementes (quase como
corpo real, e sim um corpo fantasmático, que sempre sinalizações) e, em uma esfera mais íntima, con-
se inclina ao símbolo. Os trabalhos não pretendem trações do dia e da noite (refletindo um pensamen-
se referir a experiências biográficas, mas a experiên- to dialético no qual o mal e o bem, vida e morte não
cias atávicas e coletivas (o desejo, o medo da morte, são valores absolutos, mas algo próximo a deidades
a vertigem do tempo etc.), onde o ser é um arauto da antropomorfizadas e, assim, sujeitas a personali-
espécie, à espera, preso ao tempo. Nesta perspec- dades ambíguas). Nos agrada a redução aos míni-
tiva, em alguns trabalhos nos atrai a sugestão ou mos fatores reconhecíveis de um objeto ou situação
a previsão da violência através de seus índices: as (menos vinculada à sofisticação fenomenológica do
presas, os dentes, as doenças e os mecanismos, que minimalismo, mas sim apontando para o engenho
constituem mais a espera do ato do que os aconteci- infantil das analogias: uma vassoura torna-se um
mentos em si – a tensão antes da batalha, momento cavalo, dois dedos esticados formam uma arma etc.),
em que todas as variáveis são possíveis. É latente em uma síntese que ainda assim mantenha a potência.
nosso pensamento poético o temor da dor, ou o sen- O vermelho é um jorro que emana do centro deste
timento mais abstrato que sentimos ao assistir cer- drama. Como se, indiferente ao contexto do trabalho,
ZONA VERDE ÍO 65
outra narrativa fosse sussurrada. continuaria, contornando o obstáculo.
Nº 3 (Ad hoc), um trabalho também desen- Em seguida, sem objetivo definido, nos en-
volvido durante a Residência Artística Ka’a, exem- tregamos ao prazer de empunhar pedras, ponderar
plifica algumas questões que surgiram a respeito sobre seu peso e superfície, e jogá-las no campo,
das relações com o corpo, a ameaça, e seu proces- testando seu alcance. Em certo momento, definimos
so de desenvolvimento nos ajuda a refletir sobre os um alvo (um tronco cortado) que tentávamos acer-
parâmetros decisórios desse universo poético. Em tar. Quase todos os arremessos falhavam e caíam
Nº 3 buscamos contrair diversos aspectos de nossa ao solo. Esta atividade autotélica, que une perícia,
poética a partir do manancial de estímulos que nos força e certo grau de sorte para os neófitos, foi o dis-
cercava. Como um exercício autoimposto, nos detive- parador de uma reflexão mais profunda sobre ges-
mos em elementos muito simples e corriqueiros, e, to, significado, corpo e armas. Mas, antes, devemos
através de poucas alterações, almejamos transfor- nos entregar a certa digressão para contextualizar a
mar radicalmente sua dimensão significante. gênese do trabalho.
Um exemplo, preliminar, foram os experi- Vivemos em uma sociedade cujos princípios
mentos com ninhos: a partir da observação dos nin- morais estão fortemente ancorados no Cristianis-
hos de pássaros da região, elaboramos outros, com mo, e isso nos afeta independentemente das cren-
estrutura semelhante, mas compostos por materiais ças individuais. Nos princípios desta religião, o papel
diversos que nos cercavam, tais como estopa, serr- da mulher é acessório, como fica evidente em seus
agem, agulhas de pinheiros e cabelos humanos. Es- mandamentos, quando a mulher é elencada como
tes experimentos, porém, ainda não consideramos um bem a não ser cobiçado, junto da casa, do gado,
resolvidos como obras. No caso que analisaremos, dos servos, ou “outras coisas que lhe pertençam”
pedras foram as escolhas axiais. Primeiro, ponde- (Êxodo: 20). No Novo Testamento o papel da Virgem
ramos posicionar pesadas pedras sobre árvores, em Maria é inexpressivo. Para nós, que já vivenciamos
um ponto de instabilidade em que os galhos ou o sua liturgia e festas populares – o 2 de fevereiro, dia
próprio tronco fossem vergados em direção do chão. de Nossa Senhora dos Navegantes, é uma das datas
Como no infortúnio de Atlas, elas levariam essa festivas mais importantes de Porto Alegre –, é estra-
penitência, e a partir deste ponto seu crescimento nho perceber que o seu protagonismo discursivo se
ZONA VERDE ÍO 66
dá através de poucas falas: do escopo deste texto, mas podemos adiantar que é
Ao Anjo: uma apropriação sincrética, sobrevida de deidades
Como se fará isso se não conheço homem? ancestrais ao advento do cristianismo – potência
(Lucas 1:34). criadora vinculada à força geratriz da natureza – que
Eis aqui a escrava do Senhor. (Lucas 1:38) se mantém aninhada na disposição de fé a Maria.
Faça-se em mim segundo a sua vontade. Essa relação foi evidenciada durante a
(Lucas 1:38) residência com uma visita ao complexo de san-
tuários místicos da Mestre Tala, situado na mesma
A Deus (uma prece): região. Ali, diversos templos e capelas das mais di-
A minha alma glorifica o Senhor etc. versas crenças e denominações convergem para um
(Lucas 1:46-55) culto sincrético a Nossa Senhora, representada por
imagens de Iemanjá, Ísis, Themis, dentre outras dei-
A Jesus: dades. Refletindo sobre o papel dessa figura femi-
Filho, por que agistes assim conosco? Eis que nina em nossa cultura, ao mesmo tempo glorificada
teu pai e eu te buscávamos aflitos. (Lucas 2:48) e desprezada (lembrando que vivemos em um país
Eles não têm mais vinho. (João 2:3) onde o feminicídio é epidêmico), e pensando sobre
uma passagem bíblica de concisão dramática ímpar
Aos homens: na qual Jesus condena a prática do apedrejamento
Fazei tudo que Ele vos disser. (João 2:5) (punição lenta, dolorosa e desfigurante imposta às
mulheres adúlteras) e faz evolar o furor da turba; e
no significado, na lastimosa atualidade, de um lin-
É paradoxal o fato de que, no processo de chamento, elaboramos o projeto para Nº 3, com al-
difusão do Cristianismo, a mãe de Jesus tornou-se gumas possíveis variações:
uma protagonista muito importante, sendo adora- 1. Sete pedras de aproximadamente 12 cm
da com especial louvor na América Latina Católica de diâmetro, com superfície lisa e agradável ao tato,
(embora não em suas subdivisões evangélicas, que dispostas em linha reta. Em cada pedra, está gra-
são mais ortodoxas na hermenêutica da Bíblia). As vada uma das frases proferidas por Maria na Bíblia;
razões da permanência de um mito feminino fogem 2. Sete pedras grandes e brutas dispostas
ZONA VERDE ÍO 67
em círculo, com uma superfície lapidada, voltada para
dentro, e gravada com as sete frases – configuração
que evoca rituais de fertilidade pré-históricos;
3. Sete pedras variando de 15 a 25 cm, cada
uma com uma frase gravada, dispostas pelo campo
e podendo ser jogadas pelos espectadores em novas
configurações.
De forma irônica, ponderamos em Nº 3 sobre
a possibilidade de unificar duas setas distintas de
significado e de trajeto. De um lado, o discurso como
construção (os enunciados de Maria e a difusão de
seu culto), e de outro, o apedrejamento, a dissolução
do corpo. De certa forma, estas frases escritas na ro-
cha e emulando a solidez dos mandamentos caçoam
do meio como mensagem mcluhaniana e remetem às
consequências hodiernas da proliferação do discurso
religioso disjuntivo.
Assim, como forma de questionar esta pulsão
fanática pelo apedrejamento (em uma proposital
aglutinação de antíteses), a concepção final do tra-
balho teria a seguinte configuração: em um espaço
expositivo as sete pedras da versão um ficariam de-
positadas no chão, com certa proximidade entre si, a
uma distância de cinco a sete metros de uma parede
branca. Os espectadores podem assumir a postura
que lhes aprouver: olhar as pedras, manipulá-las ou,
imaginando um corpo fantasma, atirá-las contra a
parede, deformando-a.
ZONA VERDE ÍO 68
69
ZONA VERDE CARLOS MONLEÓN 70
Bruna Fetter: Desde nosso primeiro encontro con- vasos, fornos e memória artificial, trabalhando com
versamos sobre como processos metabólicos dos materiais como argila, vidro, têxteis ou dispositivos
mais variados tipos te inspiram e estão presentes de armazenamento e processamento de dados. Há
em diversos de teus trabalhos. Gostaria que comen- dois anos, desenvolvo um projeto no qual modelo for-
tasses sobre teu encontro com os minifornos durante nos de argila no formato das entranhas de diferentes
a residência e como o uso do calor funciona como um espécies vivas, principalmente ruminantes – vacas,
elemento fundamental/catalisador desses processos ovelhas e cabras – que possuem intrincados circui-
metabólicos no teu trabalho poético. tos de estômagos com várias câmaras. Os minigamas
podem ser conectados entre si e, portanto, podem se
Carlos Monléon: Tive muita sorte de encontrar os transformar em fornos de cerâmica modulares, sen-
minigamas – fornos de cerâmica portáteis japone- do assim a solução perfeita para criar o circuito de
ses – durante minha residência em Ka’a, pois eles se fornos que eu tenho imaginado. Nesse metabolismo,
encaixam perfeitamente em muitos dos meus proje- é a argila que é processada, digerida, literalmente
tos. Eles vieram até mim através do Tomo, um oleiro através do fogo e da combustão.
japonês local, amigo de nosso anfitrião Irineu. Como Durante minha residência em Ka’a, concen-
você menciona, eu tenho trabalhado com diferentes trei-me no uso da argila, já que estava prontamente
ideias e modelos de metabolismo, através de dife- disponível em uma fábrica de tijolos vizinha, com a
rentes processos de realização de esculturas e com qual tivemos a chance de trabalhar. Isso foi incrível,
o uso de diversos materiais. A comparação entre pois a própria fábrica era um organismo de proces-
digestão e combustão, embora não seja totalmente samento da argila, já que extraía seus recursos da
precisa, é muito difundida em vários imaginários do terra, moldava a argila em diferentes unidades e a
“corpo” e no entendimento da fisiologia e das funções colocava em combustão com lascas de madeira de
corporais em diferentes tradições médicas, como a eucaliptos locais. Sob esse modelo, o tijolo se tor-
Medicina Tradicional Chinesa. Utilizei comparações nou a célula ou a unidade desse metabolismo. Uma
ou associações semelhantes entre processos ma- unidade que é distribuída e remontada. Alguns dos
teriais e biológicos em meu trabalho, traçando a edifícios do Instituto construídos pelo Irineu são feitos
relação entre diversas funções corporais – ingestão, com esses tijolos. Comecei a trabalhar com os tijolos
digestão e cognição – e artefatos tecnológicos como frescos que os operários da fábrica nos deram, usan-
BIOGRAFIAS 91
em História Social na Universidade de São Pau- poráneo en sus relaciones sistémicas, su investi-
lo (1990), com Estágio Sênior nas Universidades gación actual tiene énfasis en las articulaciones
de Paris I, Sorbonne, e Universidade Politécnica de esta producción con Internet. Autor y editor
de Valencia. O foco de seu trabalho é a arte con- de la revista Porto Arte (1992-2013). Entre sus
temporânea em suas relações sistêmicas, e sua libros más recientes destacamos: As Novas Re-
pesquisa atual tem ênfase nas articulações des- gras do Jogo: o Sistema da Arte no Brasil (2014) e
ta produção com a internet. Autora e editora da Web arte e Poéticas do Território (2011), mantuvo
Revista Porto Arte (1992-2013). Entre seus livros durante tres años una columna semanal sobre
mais recentes destacamos: Arte Contemporânea artes visuales en el periódico en línea Sul 21. di-
no Brasil (2019) As novas regras do jogo: o Siste- rector del Centro Cultural Brasileño en Venezue-
ma da Arte no Brasil (2014) e Web arte e poéticas la, Caracas (2003). Implementó y fue coordinado-
do território (2011). Manteve durante três anos ra del Programa de Posgrado en Artes Visuales
uma coluna semanal sobre artes visuais no jor- en UFRGS (1992-95). Curadora de la Pinacoteca
nal on-line Sul 21. Foi diretora do Centro Cultural Barão de Santo Ângelo (1998-2000) y curadora de
Brasileiro na Venezuela, Caracas. Implementou e la sección de web art de la Bienal Internacional
foi coordenadora do Programa de Pós-Graduação de Curitiba (2013).
em Artes Visuais da UFRGS. Curadora da Pinaco-
teca Barão de Santo Ângelo e da seção de Web art DIMITROV, Rumen (Bulgária)
da Bienal Internacional de Curitiba (2013). ES in- PT ligado às práticas da Land Art no leste euro-
vestigadora y profesora titular en el Instituto de peu, suas obras são esculturas em grande escala,
Artes de la Universidad Federal de Rio Grande do ao ar livre, feitas de materiais naturais robustos,
Sul (UFRGS). Es la actual Presidenta de la Aso- exibindo um estilo rústico e de acabamento natu-
ciación Internacional de Críticos de Arte (AICA), ral. Mestre em Artes pela Universidade Metodista
de la que también es miembro del Consejo. Doc- da Bulgária e membro da União dos Artistas Búl-
tora en Historia Social en la Universidad de São garos. Em 1999, ele fundou a Duppini Art Group
Paulo (1990), Senior Intern en las Universidades Association. E desde 2011, como presidente da
de París I, Sorbona y Universidad Politécnica de Associação, vem organizando o Simpósio Inter-
Valencia. El foco de su trabajo es el arte contem- nacional de Arte e Natureza, intitulado Art-Na-
BIOGRAFIAS 92
ture Gabrovtsi. Participa regularmente de simpó- FETTER, Bruna (Brasil)
sios, projetos, residências e eventos ligados à PT professora e pesquisadora do Instituto de
nomenclatura land art e conta com quinze ex- Artes da UFRGS, doutora em História, Teoria e
posições individuais, além de vários prêmios, Crítica de Arte (PPGAV/UFRGS). Foi pesquisado-
entre os quais destacamos: em 2009 – Prêmio ra visitante na New York University (2014/2015),
de Escultura do Allianz Bank; 2011, Prêmio de Se- possibilitado por bolsa Fulbright. Curadora de
leção Especial do Sea Art Festival, parte da Bienal diversas mostras, entre 2006 e 2007 coordenou
de Bussan na Coréia do Sul; e em 2012, recebeu a equipe de produção executiva da 6ª Bienal do
a cidadania honorária da cidade de Icheon, na Mercosul. É membro da Associação Nacional de
Coréia do Sul. ES las obras de Rumen Dimitrov Pesquisadores em Artes Plásticas, da Associação
son esculturas al aire libre a gran escala hechas Brasileira de Críticos de Arte e da Associação In-
de materiales naturales resistentes que exhiben ternacional de Críticos de Arte. Coautora do liv-
un estilo rústico y un acabado natural. Tiene una ro As Novas Regras do Jogo: o Sistema da Arte
maestría en Artes de la Universidad Metodista no Brasil (Editora Zouk, 2014), colaborou nas
de Bulgaria y miembro de la Unión de Artistas publicações Artes Visuais – Ensaios Brasileiros
Búlgaros. En 1999, fundó la Asociación Duppi- Contemporâneos (orgs.: Fernando Cocchiarale,
ni Art Group. Desde 2011, como presidente de la André Severo e Marília Panitz, Funarte, 2017),
Asociación, ha estado organizando el Simposio Práticas Contemporâneas do Mover-se (org.: Mi-
Internacional sobre Arte y Naturaleza, titulado chelle Sommer, Circuito, 2015) e A Palavra Está
Art-Nature Gabrovtsi. Participa regularmente en com Elas: Diálogos sobre a Inserção da Mulher
simposios, proyectos, residencias y eventos rela- nas Artes Visuais (org.: Lilian Maus, Panorama
cionados con la nomenclatura de land art y tiene Crítico, 2014). ES profesora e investigadora en el
quince exposiciones individuales, así como varios Instituto de Arte de UFRGS, Doctorado en Histo-
premios, entre ellos: 2009 - Allianz Bank Sculp- ria, Teoría y Crítica de Arte (PPGAV / UFRGS). Fue
ture Award; 2011, Sea Art Festival Special Selec- investigadora visitante en la New York Universi-
tion Award, parte de la Bienal de Bussan en Corea ty (2014/2015), habilitada por la beca Fulbright.
del Sur; y en 2012, recibió la ciudadanía honoraria Curadora de varias exposiciones, entre 2006 y
de la ciudad de Icheon, Corea del Sur. 2007 coordinó el equipo de producción ejecuti-
BIOGRAFIAS 93
va de la 6ª Bienal del Mercosur. Es miembro de tina, China, Alemania, Estonia, Estados Unidos,
la Asociación Nacional de Investigadores de Bel- Francia, India, Italia, México, Uruguay, entre otros.
las Artes, la Asociación Brasileña de Críticos de Su foco de trabajo artístico está relacionado con
Arte y la Asociación Internacional de Críticos de las prácticas contemporáneas en la naturaleza,
Arte. Coautora del libro As Novas Regras do Jogo: así como con acciones que involucran desechos
Sistema da Arte no Brasil (Editora Zouk, 2014), y reciclaje.
colaboró en las publicaciones Artes Visuais – En-
saios Brasileiros Contemporâneos (org. Fernando HERÁCLITO, Ayrson (Brasil)
Cocchiarale, André Severo y Marília Panitz, FU- PT Ogã Sojatin de um Humpame de Jeje Mahino,
NARTE, 2017), Práticas Contemporâneas do Mov- subúrbio de Salvador, professor adjunto da UFRB
er-se (org. Michelle Sommer, Circuito, 2015) y A na cidade de Cachoeira/BA, artista visual e cura-
Palavra está com Elas: Diálogos sobre a Inserção dor. Doutor em Comunicação e Semiótica pela
da Mulher nas Artes Visuais (org. Lilian Maus, PUC São Paulo e Mestre em Artes Visuais pela
Panorama Crítico, 2014). UFBA. Suas obras de instalações, performances,
fotografias e audiovisuais lidam com elementos
GARCIA, Irineu (Brasil) da cultura afro-brasileira e suas conexões entre a
PT idealizador do Instituto Yvy Maraey e atual África e a sua diáspora na América. Participou da
presidente da organização. É artista e arquiteto, Trienal de Luanda em Angola, 2010, Bienal de Fo-
com participação em eventos de arte, simpósios tografia de Bamako no Mali, 2015, e da 57ª Bienal
e exposições na Argentina, China, Alemanha, Es- de Veneza na Itália, 2017. Possui obras em acer-
tônia, EUA, França, Índia, Itália, México, Uruguai, vos dos museus: Der Weltkulturen em Frankfurt,
entre outros. Seu foco de trabalho artístico está Museu de Arte do Rio, Museu de Arte Moderna
relacionado às práticas contemporâneas na na- da Bahia, Videobrasil e Coleção Itaú. Foi um dos
tureza, como também com ações que envolvem curadores-chefe da 3ª Bienal da Bahia, curador
resíduos e reciclagem. ES fundador del Instituto convidado do núcleo “Rotas e Transes: Áfricas,
Yvy Maraey y actual presidenta de la organización. Jamaica e Bahia” no projeto Histórias Afro-Atlân-
Es artista y arquitecto, con participación en even- ticas no MASP e recebeu o prêmio de Residência
tos artísticos, simposios y exposiciones en Argen- Artística em Dakar do Sesc_Videobrasil e da Raw
BIOGRAFIAS 94
Material Company, no Senegal. ES Sojatin Ogã de de reflexões abarcando áreas como astronomia,
un Humpame de Jeje Mahino suburbio de Salva- biologia e mitologia. Sua poética oscila entre Eros
dor, profesor adjunto en la UFRB en Cachoeira/ e Thanatos, e as obras tomam forma por meio de
BA, artista visual y curador. Doctor en Comuni- desenhos, fotografias, vídeos e instalações com
cación y Semiótica por la PUC São Paulo y Máster materiais simbólicos como sal, alumínio, borra-
en Artes Visuales por la UFBA. Sus instalaciones, cha e chocolate. Realizou exposições e projetos
performances, fotografías y audiovisuales abor- multimídia em diversas cidades do Brasil, bem
dan elementos de la cultura afrobrasileña y sus como Uruguai, Argentina e França. Sua produção
conexiones entre África y su diáspora en América. foi premiada com o Prêmio Especial do Júri no IX
Asistió a la Trienal de Luanda en Angola, 2010, la Prêmio Açorianos de Artes Plásticas; Melhor Ex-
Bienal de Fotografía de Bamako en Malí, 2015 y posição no 2º Prêmio IEAVi; Prêmio Destaque em
la 57ª Bienal de Venecia en Italia en 2017. Tiene Mídias Tecnológicas do III Prêmio Açorianos de
obras en colecciones de museos: Der Weltkul- Artes Plásticas. Menção Honrosa nos 1º e 4º Prê-
turen en Frankfurt, Museo de Arte de Río, Museo mios IEAVI e oito indicações ao Prêmio Açorianos,
de Arte Moderna da Bahia, Videobrasil e Coleção e indicação ao Prêmio do Júri por sua trajetória
Itaú. Fue uno de los curadores de la 3ª Bienal artística. Sua obra está nas coleções do Museu
de Bahía, curador invitado del núcleo “Rutas y de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul,
Transes: África, Jamaica y Bahía” en el proyecto Fundação Vera Chaves Barcellos, Coleção Casa
Histórias Afro-Atlanticas en el MASP y recibió el Niemeyer e Museu de Arte do Rio de Janeiro. ES
Premio de residencia de artistas Sesc_Videobra- es un dúo de artistas formado por Laura Cattani
sil y el de Raw Material Company en Dakar, y Munir Klamt, doctorados en poética visual en la
Senegal. UFRGS. Desde su creación en 2003, Ío ha estado
realizando trabajos y exposiciones que nacen de
ÍO (Brasil) reflexiones que cubren áreas como astronomía,
PT é o duo de artistas formado por Laura CATTANI biología y mitología. Su poética oscila entre than-
e Munir KLAMT, doutores em Poéticas Visuais atos y eros, y las obras toman forma por medio
pela UFRGS. Desde sua criação em 2003, a dupla de dibujos, fotografías, videos e instalaciones con
Ío tem realizado obras e exposições que nascem materiales simbólicos como sal, aluminio, caucho
BIOGRAFIAS 95
y chocolate. Han realizado exposiciones y proyec- to plazo. Le Quellec fue miembro de la Unión de
tos multimedia en varias ciudades de Brasil, así Espacios Culturales Autoorganizados (UECA) de
como en Uruguay, Argentina y Francia. 2007 a 2011 y miembro del Committee of Artists
and Cultural Developers (RAAC). (RAAC). Es fun-
LE QUELLEC, Richard (França/Suíça) dador y coorganizador de la Bienal de Espacios
PT artista visual e gestor cultural formado pela Independientes de Ginebra y fundador de la co-
Universidade de Arte e Design de Genebra. Des- operativa cultural Ressources Urbaines. Con sede
de 2007, é motivado pela influência de práticas en Ginebra, Suiza, es el gerente de proyectos de
culturais no desenvolvimento social e político da la The Embassy of Foreign Artists (EoFA), donde
cidade. Consequentemente, seus envolvimentos los artistas residen, trabajan, realizan investiga-
geraram espaços de projetos e eventos de longo ciones y comparten ideas.
e curto prazos. Le Quellec foi membro da União
dos Espaços Culturais Auto-organizados (UECA) MONLEÓN, Carlos (Espanha)
de 2007 a 2011 e membro do Committee of Art- PT trabalha com uma variedade de processos e
ists and Cultural Developers (RAAC). É fundador materiais, vivos e não vivos, que resultam em es-
e coorganizador da Bienal de Espaços Independ- culturas e obras participativas. Trabalhos que en-
entes de Genebra e fundador da cooperativa cul- volvem diferentes níveis de percepção e consciên-
tural Ressources Urbaines. Com sede em Gene- cia corporal, do microbiológico à articulação de
bra, na Suíça, ele é o gerente de projetos da The corpos performativos e sociais. O artista dedica
Embassy of Foreign Artists (EoFA), local onde ar- especial atenção aos processos digestivos, e, ao
tistas residem, trabalham, conduzem pesquisas combinar mecanismos evolutivos de diferentes
e compartilham ideias. ES artista visual y gestor espécies, Monléon cria novos metabolismos,
cultural graduado de la Universidad de Arte y tanto híbridos quanto cibernéticos. Carlos de-
Diseño de Ginebra. Desde 2007, está motivado senvolveu projetos em espaços como Autoitalia,
por la influencia de las prácticas culturales en Seventeen Gallery e Diaspore Project Space, em
el desarrollo social y político de la ciudad. Con- Londres; Cráter Invertido, México; Hangar, Lisboa;
secuentemente, su participación ha generado como também em instituições como Studio-X, Is-
espacios de proyectos y eventos a largo y cor- tambul; HIAP, Helsinki; Matadero, CA2M e La Casa
BIOGRAFIAS 96
Encendida, Madri. Monléon é mestre em Artes Cultural, Porto Alegre, 2015); e Longe Daqui (Ga-
Visuais pelo Royal College de Londres. ES trabaja leria dos Arcos da Usina do Gasômetro, Porto Ale-
con una variedad de procesos y materiales, vivos gre, 2012). Entre mostras coletivas internacionais
y no-vivos, que resultan en esculturas y obras destacamos: Open Spaces, com curadoria de Dan
participativas. Trabajos que involucran diferentes Cameron (Kansas City, EUA, 2018); WaterScapes,
niveles de percepción y conciencia corporal, des- curadoria de Jesse Firestone (BOX Contempo-
de lo microbiológico hasta la articulación de rary, Miami, EUA, 2016); e Gogó da Emma (Galeria
cuerpos performativos y sociales. El artista pres- Emma Thomas, NY, 2016). Artista convidado do
ta especial atención a los procesos digestivos y programa Encontros na Ilha, 9ª Bienal do Mer-
al combinar mecanismos evolutivos de diferentes cosul, curadoria de Sofía Hernández Chong Cuy
especies, Monleón crea un nuevo metabolis- (Porto Alegre, BR, 2013). Participou das residên-
mo híbrido y cibernético. Carlos ha desarrollado cias artísticas: CAR (Centro de Acercamiento a lo
proyectos en espacios como Autoitalia, Seven- Rural), Madri, 2019; Nomad Air, Oslo, 2019; Cripta
teen Gallery y Diaspore Project Space en Londres; 747, Turim, 2018; OMI International Arts Center,
Cráter invertido, México; Hangar, Lisboa; así como NY, EUA, 2016; Comunitária, Lincoln, ARG, 2016,
en instituciones como Studio -X, Estambul; HIAP, Pivô Pesquisa, São Paulo, 2016. Foi também
Helsinki; Matadero, CA2M y La Casa Encendida, gestor e curador do espaço independente Gale-
Madrid. Monleón tiene una maestría en artes vis- ria Península, em Porto Alegre de 2014 a 2017.
uales del Royal College de Londres. ES Mediante el uso de diferentes medios (cine,
instalación, performance, fotografía), investiga el
REMOR, Leonardo (Brasil) espacio de la naturaleza en la lógica del desarrol-
PT através do uso de diferentes mídias – filme, lo de la ciudad y el hombre. Realizó exposiciones
instalação, performance, fotografia – investiga o individuales Aprendendo com o Barro (Centro
espaço da natureza na lógica do desenvolvimen- Cultural de São Paulo, 2018-19); O Vento Dissi-
to da cidade e do homem. Realizou as exposições pa as Lembranças de Uma Realidade Anterior
individuais: Aprendendo com o Barro (Centro Cul- (Santander Cultural, Porto Alegre, 2015); y Longe
tural São Paulo, 2019-18); O Vento Dissipa as Lem- Daqui (Galeria dos Arcos da Usina do Gasômetro,
branças de Uma Realidade Anterior (Santander Porto Alegre, 2012). Entre las muestras colectivas
BIOGRAFIAS 97
internacionales destacamos: Open Spaces, com territórios e situações distantes de suas próprias,
curadoria de Dan Cameron (Kansas City, EUA, e em conjunto com Leonardo Remor, o duo Rodri-
2018); WaterScapes, curadoria de Jesse Firestone guezRemor realiza ações e diálogos que resultam
(BOX Contemporary, Miami, EUA, 2016); y Gogó da em filmes, fotos e instalações que problematizam
Emma (Galeria Emma Thomas, NY, 2016). Artista as oposições de conceitos como: arte e produto,
invitado del programa Encontros na Ilha, 9ª Bie- natureza e cultura, história e memória, educação
nal del Mercosur, curadoria de Sofía Hernández e tradição. Dentre as exposições recentes, desta-
Chong Cuy (Porto Alegre, BR, 2013). Participó en camos as individuais: Aprendendo com o Barro,
las residencias artísticas: CAR (Centro de Acer- Centro Cultural São Paulo, São Paulo, 2019-2018;
camiento a lo Rural), Madrid, 2019; Nomad Air, Pariwat Jenipapo, Fotoativa, Belém do Pará, 2017-
Oslo, 2019; Cripta 747, Turín, 2018; OMI Interna- 2016 e Água Viva, Galeria Península, Porto Alegre,
tional Arts Center, NY, EE. UU., 2016; Communi- 2015. E dentre as coletivas: 2018, Open Spaces,
ty, Lincoln, ARG, 2016, Pivô Pesquisa, São Paulo, curadoria Dan Cameron, Kansas City; 2018, Con-
2016. También fue gerente y curador del espacio tinuum, curadoria Henrique Menezes, Fundação
independiente Galeria Península, en Porto Ale- Iberê Camargo, Porto Alegre; 2017, The Fountain
gre, de 2014 a 2017. that Crossed the Line, KCAI Crossroads Gallery,
Kansas City. Em 2019 participou das residências
RODRIGUEZ, Denis (Brasil) artísticas: CAR (Centro de Acercamiento a lo Ru-
PT artista visual, curador e produtor cultural. Mes- ral, Campo Adentro), Madri e NOMAD AIR, Oslo.
tre em História, Teoria e Crítica de Arte pela Univer- É autor e organizador dos livros: Não Sou Daqui,
sidade Federal do Rio Grande do Sul e bacharel em Nem Sou de Lá. Gestão, Curadoria e Residência
Direito pela Universidade de São Paulo. Foi gestor Artística em Rede; PPPP – Programa Público de
e coordenador do programa de residências do es- Performance Península; Corpo Presente, entre
paço independente Galeria Península, Porto Ale- outros. ES artista visual, curador y productor
gre. Em 2018, foi curador visitante do programa El cultural. Máster en Historia, Teoría y Crítica de
Ranchito do Matadero, Madri. E em 2017, artista Arte por la Universidad Federal de Rio Grande
visitante do KCAI, Kansas City Art Institute, em do Sul y Licenciado en Derecho por la Universi-
Kansas City. A partir de imersões em contextos, dad de São Paulo. Fue gerente y coordinador del
BIOGRAFIAS 98
programa de residencias del espacio indepen- ca em Rede; PPPP – Programa Público de Perfor-
diente Galería Península, Porto Alegre. En 2018, mance Península; Corpo Presente; entre otros.
fue curador visitante del programa El Ranchito de
Matadero, Madrid. Y en 2017, artista visitante en RUEDA, Maria Isabel (Colômbia)
el KCAI, Kansas City Art Institute, en Kansas City. PT atualmente gerencia e trabalha como curado-
A partir de inmersiones en contextos, territorios ra artística no La Usurpadora, em Puerto Colom-
y situaciones distantes de ellos mismos, y en bia. Ela também é editora da revista independen-
conjunto con Leonardo Remor, el dúo Rodriguez- te Tropical Goth. Rueda é bacharel e mestre pela
Remor realiza acciones y diálogos cuyo resultado Universidade Nacional da Colômbia e lecionou na
son películas, fotos y instalaciones, que prob- Universidade Nacional e na Universidade Jorge
lematizan las oposiciones de conceptos como el Tadeo Lozano, em Bogotá, e na Faculdade La Salle,
arte y el producto, naturaleza y cultura, historia em Barranquilla. Foi cocuradora de espaços inde-
y memoria, educación y tradición. Exposiciones pendentes como El Bodegón e La Residencia, em
individuales: Aprendendo com o Barro, Centro Bogotá. Ao longo de mais de vinte anos de carreira
Cultural São Paulo, São Paulo, 2019-2018; Pari- artística, Rueda criou um corpo singular de tra-
wat Jenipapo, Fotoativa, Belém do Pará, 2017- balhos que entrelaça o Gótico com o Tropical. ES
2016 y Água Viva, Galería Península, Porto Alegre, actualmente administra y trabaja como curadora
2015. Entre sus exposiciones colectivas recientes artística en La Usurpadora en Puerto Colombia.
destacan: 2018, Open Spaces, curaduría de Dan También es editora de la revista independiente
Cameron, Kansas City; 2018, Continuum, cura- Tropical Goth. Rueda tiene una licenciatura y una
duría Henrique Menezes, Fundación Iberê Cama- maestría de la Universidad Nacional de Colom-
rgo, Porto Alegre; 2017, The Fountain that Crossed bia y ha enseñado en la Universidad Nacional y la
the Line, KCAI Crossroads Gallery, Kansas City. En Universidad Jorge Tadeo Lozano en Bogotá y en el
2019 participó en las residencias artísticas: CAR Colegio La Salle en Barranquilla. Fue Co-curado-
(Centro de Acercamiento a lo Rural, Campo Aden- ra de espacios independientes como El Bodegón
tro, Inland), Madrid y NOMAD AIR, Oslo. Es autor y La Residencia en Bogotá. Durante más de veinte
y organizador de los libros: Não Sou Daqui, Nem años de carrera artística, Rueda ha creado un cu-
Sou de Lá. Gestão, Curadoria e Residência Artísti- erpo de trabajo único que entrelaza lo Gótico con
BIOGRAFIAS 99
lo Tropical. en el New Museum (Nueva York), el Himalayas
Museum (Shanghai), DeutscheBank Kunsthalle
SIMUN, Miriam (Estados Unidos) (Berlín), The Contemporary (Baltimore), Ronald
PT artista interdisciplinar cuja obra está situada Feldman Fine Arts (Nueva York), Museum of Fine
na intersecção entre ecologia, tecnologia e corpo. Arts (Split), Museum of Arts and Design (Nue-
Ela trabalha em vários formatos, incluindo desen- va York), Robert Rauschenberg Gallery (Nueva
ho, escrita, performance, instalação, perfumes, York), Bemis Center for Contemporary Art (Oma-
vídeo e escultura. O trabalho de Simun foi apre- ha) y Beall Center for Art + Technology (Irvine).
sentado no New Museum (Nova York), no Himala- Fue galardonada por Creative Capital, las Fun-
yas Museum (Xangai), DeutscheBank Kunsthalle daciones Robert Rauschenberg y Joan Mitchell, y
(Berlim), The Contemporary (Baltimore), Ronald también fue la primera residente internacional de
Feldman Belas Artes (Nova York), Museu de Belas la Carpinterías de São Lázaro de la Fundación Gul-
Artes (Split), Museu de Artes e Design (Nova York), benkian en Lisboa en 2019. En 2018, fue residente
Galeria Robert Rauschenberg (Nova York), Centro en el Headlands Center y en 2016, residente del
Bemis de Arte Contemporânea (Omaha) e o Cen- OMI International Arts Center de Nueva York.
tro Beall de Arte + Tecnologia (Irvine). Foi premia-
da pela Creative Capital, pelas Fundações Robert SOMMER, Michelle (Brasil)
Rauschenberg e Joan Mitchell, como também foi a PT curadora, pesquisadora e pós-doutoranda
primeira residente internacional das Carpintarias em Linguagens Visuais na Escola de Belas Ar-
de São Lázaro, da Fundação Gulbenkian de Lisboa, tes da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
em 2019. Em 2018, foi residente no Headlands Doutora em História, Teoria e Crítica de Arte pela
Center e em 2016, residente no OMI Internation- Universidade Federal do Rio Grande do Sul com
al Arts Center de Nova York. ES artista interdis- estágio doutoral junto à University of the Arts
ciplinar cuyo trabajo se sitúa en la intersección London/Central Saint Martins na área de estu-
entre ecología, tecnología y cuerpo. Ella trabaja dos expositivos. É mestre em Planejamento Ur-
en una variedad de formatos, incluyendo dibu- bano e Regional, além de arquiteta e urbanista.
jo, escritura, performance, instalación, perfumes, Em 2017 foi cocuradora da exposição Mário Pe-
video y escultura. El trabajo de Simun se presentó drosa: de la Naturaleza Afectiva de la Forma, no
BIOGRAFIAS 100
Museu Reina Sofia, em Madri, que obteve o prê-
mio destaque pela curadoria da exposição pela
ABCA – Associação Brasileira de Crítica de Arte
em 2018. É autora de diversos livros e contribui
regularmente para publicações nacionais e inter-
nacionais e projetos de artes visuais em formatos
diversos. ES curadora, investigadora y estudiante
postdoctoral en Lenguajes Visuales en la Escuela
de Bellas Artes de la Universidad Federal de Río
de Janeiro. Doctorado en Historia, Teoría y Crítica
de Arte en la Universidad Federal de Rio Grande
do Sul con una pasantía doctoral en la University
of the Arts London /Central Saint Martins/ en el
área de estudios expositivos. Tiene una maestría
en Planificación Urbana y Regional y es arqui-
tecto y urbanista. En 2017 fue co-comisaria de
la exposición ‘Mário Pedrosa: de la Naturaleza
Afectiva de la Forma’ en el Museo Reina Sofía de
Madrid, que ganó el premio de comisariado de
la exposición de ABCA - Asociación Brasileña de
Crítica de Arte en 2018. Autora de varios libros,
colabora regularmente en publicaciones nacion-
ales e internacionales y proyectos de artes vis-
uales en diversos formatos.
BIOGRAFIAS 101
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RESIDENCIA RURAL: ARTE Y NATURALEZA DESDE DIFERENTES PERSPECTIVAS MARIA AMELIA BULHÕES 108
se pensó desde este eje. El segundo fue que de- ciones de diferentes regiones del mundo, superando
beríamos considerar el entorno rural de la ubicación con creces nuestras expectativas y dando a nuestros
del Instituto. Esta fue una cuestión importante, ya jueces un enorme trabajo. Hubo una equivocación
que el área rural de Porto Alegre es una conquista aquí por nuestra parte, ya que habíamos previsto
arduamente defendida por los residentes de esta principalmente que nos enviarían solicitudes artis-
región y el sindicato rural del que Irineu García es tas latinoamericanos, lo que no ocurrió, abriendo una
miembro de la dirección. Compuesta predominante- brecha en nuestro presupuesto de pasajes. Después
mente por pequeños y medianos agricultores y con de todo, planificación y realidad a veces difieren mu-
dos reservas indígenas en su espacio, esta comunidad cho.
se ve constantemente amenazada por la expansión de Invitamos para el jurado de selección a críti-
bienes raíces, que acapara terrenos para urbanización cos de diferentes países, todos ellos, de algún modo,
y, por lo tanto, presiona al Ayuntamiento para extinguir vinculados a experiencias de residencia y prácticas
su condición especial e incorporarla al espacio urbano de arte y naturaleza. Participaron en el proceso de
de la ciudad. La residencia también se pensó como una selección: Luísa Especial (Portugal), Jacques Leen-
forma de valorización de esta condición y de refuerzo hardt (Francia), Richard Le Quellec (Suiza), Maria Isabel
para la continuidad de su existencia. En este senti- Rueda (Colombia), Ane Armendariz (España) y los bra-
do, se planificaron actividades para conectar con el sileños Bruna Fetter, Michele Sommer, Irineu Garcia,
contexto local, proporcionando visitas de artistas Deniz Rodriguez y yo misma. Todos tuvimos acceso a
residentes a diferentes espacios e instituciones de todos los portafolios recibidos y cada uno de nosotros
la comunidad y la divulgación de la condición de zona seleccionó a diez artistas que considerábamos más
rural en todos los momentos posibles de visibilidad calificados para la propuesta de residencia, dán-
del evento. doles una puntuación de 0 a 10. Se hizo una tabu-
En contrapunto a esta conexión local del lación de estas notas, alcanzamos al nombre de los
proyecto, se articuló su inserción internacional, todo cuatro finalistas que participaron en la residencia.
el proceso tuvo lugar en línea, en portugués e inglés. Es importante destacar que, con el objetivo de una
Hubo una amplia difusión de las inscripciones en el integración local / internacional, en el proyecto se
sitio web del Instituto y numerosas redes sociales y el preveía que una vacante se destinaría a un artista
resultado nos sorprendió, recibimos casi 300 inscrip- de Rio Grande do Sul. Al final de la evaluación, los
RESIDENCIA RURAL: ARTE Y NATURALEZA DESDE DIFERENTES PERSPECTIVAS MARIA AMELIA BULHÕES 109
artistas seleccionados fueron: Rumen Dimitrov, de preparó con la ayuda de todos los participantes una
Bulgaria, Carlos Monleón, de España, Miriam Simun, serie de comidas de Orixás, que fueron comentadas
de Estados Unidos, y Laura Cattani (Ío), de Brasil. por él y luego probadas por todos. Como resultado
A partir de los orígenes del proyecto que in- de su presencia en el Instituto Yvy Maraey, los inves-
diqué al comienzo de este texto, pensamos en una tigadores de arte afrobrasileño Celia Antonacci de
residencia que no exigiese a los artistas que realizaran Florianópolis e Igor Simões de Porto Alegre desarrol-
un proyecto, poniendo el énfasis en sus experiencias laron algunas actividades con él. Antonacci produjo
realizadas previas y en la posibilidad de experimen- un video sobre la performance, que está disponible
tar el territorio del Instituto como un desencadenante en la web del Instituto, y Simões realizó una entre-
de reflexiones y de enriquecimiento de sus procesos vista que formará parte del desarrollo de su investi-
artísticos. El objetivo de la propuesta se centró en los gación actual.
intercambios entre ellos, de ellos con los visitantes Con intención de poner a los artistas resi-
invitados y de ellos con la comunidad local, artística dentes en contacto con el contexto local, se planifica-
y general. ron algunas visitas, como a el Parque Ecológico Itapuã,
Para estimular las reflexiones con los artistas una alfarería y cerámica, una granja de caballos, una
residentes y con la comunidad artística local, propusi- reserva indígena y un centro holístico. Todos estos es-
mos en el proyecto la participación de artistas y críti- pacios son parte del entorno del Instituto, y de algu-
cos visitantes, cada uno de ellos pasando alrededor de na manera dialogan con el mismo. Las visitas, por un
una semana en la residencia, en contacto intenso y, en lado, dieron a los artistas una mayor inserción en el
algunos casos, realizando eventos abiertos al públi- medio local y, por otro, proporcionaron a la comuni-
co. Como artistas visitantes tuvimos a Ayrson Herá- dad vecinal un mejor conocimiento del Instituto y la
clito y Leonardo Remor. Heráclito, además de convivir experiencia de una residencia internacional de artes
con los artistas, realizó un taller desarrollado en dos visuales. Además de las visitas al entorno del Insti-
días, llamada Comida Sagrada , cuando presentó al tuto, los artistas también hicieron el reconocimien-
público los principios de relación con la naturaleza to del Centro Histórico de Porto Alegre, visitando la
en las religiones afrobrasileñas y cómo su traba- Usina del Gasómetro, el Museo de Arte de Rio Grande
jo artístico dialoga con estos principios. Además do Sul y la Casa de Cultura Mario Quintana, donde
de esta presentación acompañada de diapositivas, se encuentra el Museo de Arte Contemporáneo. El
RESIDENCIA RURAL: ARTE Y NATURALEZA DESDE DIFERENTES PERSPECTIVAS MARIA AMELIA BULHÕES 110
contacto de los artistas con estas instituciones tam- me gustaría señalar que todas las actividades de la
bién fue una forma de valorar la cultura de la ciudad. residencia fueron seguidas por fotógrafos y cineas-
Estas interacciones fueron parte de un pensamiento tas, quienes documentaron el proyecto paso a paso.
dialógico presente en el proyecto de residencia des- Esta documentación está disponible en el sitio web
de su origen hasta sus últimos momentos. del Instituto. http://www.institutoyvymaraey.org.br/
Dentro del proyecto, también se planifica- y sirve como un complementa a esta publicación,
ron actividades abiertas a la comunidad en general que cuenta con textos y entrevistas con los artistas
y a la artística más específicamente, entre las cuales y críticos que participaron en este ambicioso proyec-
destacamos la Mesa de apertura, realizada en el Cen- to. Acompañando a este material, un gran reperto-
tro Cultural Vila Flores, donde se presentó la propues- rio bibliográfico sobre el tema arte y naturaleza, que
ta de residencia y el trabajo previo de cada uno de los apoyó algunas de las reflexiones realizadas durante
artistas. Con los visitantes, tuvimos los dos días co- este fructífero mes de convivencia.
mentados de Comida Sagrada, dos conferencia en Cabe mencionar en la realización de todo
el Instituto Yvy Maraey una con María Isabel Rueda, este conjunto de actividades, las asociaciones con
coordinada por Cristina Ribas, y otra con Michelle las que contó el evento, como fue el caso del Centro
Sommer. Además una visita guiada en el espacio del Cultural Vila Flores y el Goethe Institut, que cedieron
Instituto, coordinada por el agrónomo ambiental- sus espacios para las sesiones de apertura y clau-
ista Paulo Backes, vicepresidente del Instituto. La sura de la residencia y dieron a los artistas la opor-
mesa de clausura se llevó a cabo en el auditorio del tunidad de conocer mejor las instituciones artísti-
Goethe Institut, en el que comentamos el desarrollo cas de Porto Alegre. El Instituto Cervantes fue otro de
de la residencia y cada uno de los artistas presentó nuestros asociados, ya que, desde la presentación de
sus reflexiones, experiencias y trabajos realizados. nuestro proyecto, su director ha acompañado nuestras
El cierre de las actividades fue el Open Studio, una actividades y nos ofreció la traducción al español del
actividad desarrollada durante todo un día en la texto de esta publicación. El Programa de Posgrado
sede del Instituto Yvy Maraey, cuando el público tuvo de UFRGS en Artes Visuales estuvo con nosotros en
la oportunidad de hablar con los artistas y ver los la figura de sus profesores y ex alumnos que par-
proyectos desarrollados por cada uno de ellos. ticiparon en la residencia en diferentes momentos
Concluyendo el relato de esta presentación, de su desarrollo. Los autores del proyecto fueron
RESIDENCIA RURAL: ARTE Y NATURALEZA DESDE DIFERENTES PERSPECTIVAS MARIA AMELIA BULHÕES 111
un profesor y un alumno del Programa, dos críticos mejorar nuestra condición sensible. Por eso, siempre
visitantes son doctores allí formados, al igual que el vale la pena.
artista residente local era un dúo formado por dos
doctores también formados allí y, además en este 1 RUPP, Bettina. Residências em arte contem-
momento final, asume la publicación de este relato porânea: espaço, tempo e interlocução. 394 f.
en formato de libro electrónico e-book. Si bien toda (tésis) Programa de Pós-graduación en Artes
esta inserción en el entorno cultural de la ciudad no Visuais. Porto Alegre: UFRGS, 2017
estaba totalmente prevista en el proyecto, sí lo era
en los objetivos a alcanzar. Solo podemos alegrarnos
de que hayan superado nuestras expectativas.
Tenemos que agradecer a mucha gente por
todo lo bueno que ha sucedido, y esperamos record-
arlos a todos en nuestro agradecimiento. Sin embargo,
lo más importante es que se debe tener en cuenta
que este proyecto no habría salido de papel sin la
financiación del Fondo de Apoyo Cultural (FAC) del
gobierno estatal de RGS y el apoyo del programa de
Coincidencia de la fundación suiza Pro Helvetia, que
nos ofreció los recursos para su realización.
Concluyendo esta presentación, me gustaría
comentar que un proyecto es siempre una utopía, y
que toda experiencia colectiva contiene las con-
tradicciones de sus participantes, de modo que los
resultados logrados pueden o no cumplir con sus ex-
pectativas. Sin embargo, este tipo de experiencia es
fundamental para el ejercicio de prácticas artísticas
que involucran a la naturaleza, para que podamos
RESIDENCIA RURAL: ARTE Y NATURALEZA DESDE DIFERENTES PERSPECTIVAS MARIA AMELIA BULHÕES 112
“Ahora, la lengua flota a la deriva rollos de las discusiones sobre el paisaje han distan-
dispersa en tonos locales, ciado a los artistas, a los agentes del arte y a la huma-
en desinencias dispersas, nidad misma de la percepción de nuestra integridad
en significados inagotables, con el mundo. Por lo tanto, una visión completamente
en fragmentos: no se dice el sentido estetizada de la naturaleza que ha adquirido el encan-
de una vez ni para siempre – en ningún lugar. to profundo e íntimo de una leyenda antigua, pero una
Al contrario, todo habla es fragmento de leyenda en la que creemos, como ha dicho el sociólo-
un discurso inacabado, aplazamiento del sentido go Gabriel Tarde2, hace más de cien años. Y así con-
siempreabierto a interminables reutilizaciones.” tinuamos... especialmente a medida que avanzamos
José Luis Brea a través de la cronología hegemónica de la historia
del arte en los últimos quinientos años, comenzando
por la representación de la naturaleza en el Renaci-
Hay una historia en la que somos extras y miento, asombrándonos con lo sublime de la pintura
otra que protagonizamos y somos aniquiladores. La romántica y aplaudiendo la potencia de la actuación
primera es la del planeta Tierra, una esfera ígnea humana sobre el paisaje en las acciones del Land
errante en el universo infinito ... y la segunda es la Art.
del accidente cósmico que generó la vida en la Tierra, Este pensamiento en el campo del arte
produciendo la atmósfera, el clima, el medio ambi- apenas sigue el reflejo de un auténtico estado de
ente y, por lo tanto, todos los seres vivos. Entre el- excepción ontológica basado en la separación entre
los, nosotros, que nos hemos convertido en dueños naturaleza e historia.
y principales agentes del cambio del el planeta, al- A esta trama también debemos agregar el
terando el mundo del período relativamente estable excepcionalismo humano3. Deborah Danowski y Eduar-
del Holoceno a una nueva era geológica, este nue- do Viveiros de Castro presentan como una traducción
vo mundo de cambio climático y extinción masiva militante de este paradigma la imagen prometeica
llamado Antropoceno. del hombre como conquistador de la naturaleza: el
Hay otra historia más en curso que coloca hombre como ese ser que, emergiendo del desampa-
la cultura y la naturaleza como campos opuestos y ro del animal original, se apartó del mundo sólo para
homogéneos. En esta historia, las ideas y los desar- regresar a él, como su dueño.
PROYECTOS NECESARIOS
Una residencia requiere algo más de un es-
tudio y tiempo para su ejecución. Requiere de recur-
sos materiales e inmateriales; de espacio, herrami-
entas, pero también del acompañamiento y de la
capacidad de responder a unas necesidades logísti-
cas de cada artista. Esta primera edición de la res-
EL MUNDO DE LOS SERES: UNA CONVERSACIÓN SOBRE VIDENCIA, ENERGÍA POSITIVA Y EL DERECHO A LA VIDA DE LAS PLANTAS 132
Coccia para introducir el episodio de la tala del eu- Maria Isabel Rueda: Un pájaro estrelló violenta-
calipto realizada por el residente Rumen Dimitrov, mente esta mañana en mi casa contra la puerta de
material con el que produjo las dos instalaciones vidrio que me permite ver el hermoso jardín en el que
presentadas al final de la residencia. La muerte del vivo, mientras tomaba mi café en el desayuno. Esta-
eucalipto generó un gran malestar entre los resi- ba admirando la humilde belleza del amanecer. Y un
dentes, especialmente entre los dos provenientes pájaro murió. No detectó el límite, transparente, en-
del hemisferio norte, que durante la cena de la no- gañoso.
che de la caída del árbol usaron palabras fuertes Lo enterré al lado de la mata de coca que
como asesinato, negligencia e inconsistencia de los está creciendo de forma extremadamente lenta en el
coordinadores del programa por permitir tal acto. mismo jardín que me deleitaba esta mañana mien-
Laura Cattani, del dúo Ío, fotografió el tronco caído tras tomaba café.
momentos después de la tala. En estas imágenes, la Justo al lado está enterrado Norman, mi
médula vegetal se parecía a una arteria abierta de adorado gato. Murió hace dos años de sida felino al
un color rojo intenso. La argumentación de los artis- igual que mi mejor amigo Wil, que no está enterrado
tas escandalizados gravitó en torno a una especie de en mi jardín.
denuncia ecológica radical, de un daño irreparable al Me deleito pensando que algún día mas-
medio ambiente y, por lo tanto, inaceptable en una caré las hojas de coca que me regalará el árbol y ab-
residencia que pretendía discutir las ambivalentes sorberé un poquito de mi gato y del pájaro muerto.
y sensibles relaciones en el ámbito de Arte y Natu- ¿Quién domina nuestros límites cuando nos
raleza. No se hizo mención a la metafísica vegetal son invisibles? ¿Quién los custodia?
presente en el pensamiento de Coccia, ni a nuestra ¿Dónde empieza la planta y termina el hu-
evidente demanda de nutrición, que nos hace matar mano y comienza lo muerto y termina lo vivo?
y dominar todas las especies de plantas y árboles, Todo está inescrupulosamente interconec-
ni el hecho de que los árboles son parte de nuestra tado. Somos el pájaro, el vidrio, la muerte, el café, la
cultura, en términos arquitectónicos, de paisajismo, hoja de coca, el gato, la tierra y la mujer que mira el
de mobiliario, etc. Me gustaría escuchar tus comen- hermoso amanecer.
tarios sobre este breve enfrentamiento que ocurrió Toda ética que aplicamos hacia nosotros
al comienzo de la residencia. mismos debe contemplar el vuelo de los demás. No
EL MUNDO DE LOS SERES: UNA CONVERSACIÓN SOBRE VIDENCIA, ENERGÍA POSITIVA Y EL DERECHO A LA VIDA DE LAS PLANTAS 133
podemos pasar a través y salir ilesos. En un momento dado, el grupo decidió canal-
Mi pregunta: izar las energías vitales del Reiki hacia el calentam-
Un humano derribó un antiguo eucalipto y iento global. Luego leemos el texto On Heat12, en el
diseñó una gran silla. ¿Qué humano ocupará seme- que Denise nos invita a pensar en cómo los cambios
jante puesto? Háblame un poco cómo imaginas el climáticos corresponden a la explotación extensiva e
humano por venir… ¿se habló de eso en la residen- intensiva de los recursos, desde las materias primas
cia? ¿Éramos los residentes y los invitados mismos hasta los medios de producción, incluida en esta
una apuesta? ¿En qué sentido? perspectiva la energía interna de los esclavos africa-
nos y de las tierras indígenas, que existen ahora en
Leonardo Remor: ¿El humano por venir? El otro por forma de capital global.
venir es un mundo. Un mundo sin nuestra presencia. Después de una sesión de auto práctica, vis-
Un mundo nuevo después de nuestra lenta auto-ex- lumbré, y entendí, el calentamiento global como un
tinción. Es justo que después de haber extinguido proceso de auto-curación del planeta.
tantas otras especies animales, vegetales, mine- La escritura puede ser esa herramienta que
rales... nos extingamos. El auto-exterminio como haga conscientes nuestras experiencias, ampliando
una cura del planeta. nuestra comprensión acerca de lo que vivimos. ¿Qué
La silla de Rumen estará vacía y no habrá tal usar este espacio, estas líneas, para además de
nadie capaz de reconocer esta forma. La silla todavía compartir, promover la curación de algunas de las
es el eucalipto. Y seguirá – como todo y todos – en un experiencias vividas durante la residencia?
proceso continuo de transformación. De la madera
al fuego, de las cenizas a la tierra. Afortunadamente, Denis Rodríguez: Todavía sobre la silla, añadiría que
todo se descompone. Alimento para las vidas por ve- muchos otros seguirán ocupando este lugar, María
nir. Isabel. De ellos, pocos sobrevivirán a la larga vida de
Recientemente participe en el segundo la silla de eucalipto. El ecocidio practicado exige la
Sensing Salon11, con Valentina Desideri y Denise Fer- urgencia del activismo, de las afirmaciones éticas
reira da Silva, un programa que utilizo el Reiki como sobre un mundo en el que los pensamientos cerca-
una técnica para la expansión de las posibilidades nos a menudo ocupan posiciones adversas. El acti-
de las prácticas artísticas. vismo practicado en la mesa del comedor, en la mesa
EL MUNDO DE LOS SERES: UNA CONVERSACIÓN SOBRE VIDENCIA, ENERGÍA POSITIVA Y EL DERECHO A LA VIDA DE LAS PLANTAS 134
del bar o en las estrechas burbujas algorítmicas de la circulación de una variedad de narraciones, de
las redes sociales rara vez alcanza a los verdaderos puntos de vista, que consolidan la comprensión de la
adversarios que continúan aplastando logros y dere- multiplicidad de verdades sobre un mismo fenómeno.
chos, y practican el ecocidio a una escala masiva, ¿Y qué genera más conversación el consen-
como el degradante, triste y verdadero crimen de- so o la disidencia? ¿Con quién aprendo más? ¿Con
nominado “Día del fuego”13, practicado hace menos las personas más cercanas a mí con quienes com-
de dos meses en el norte de Brasil. Sin embargo, no parto las mismas ideas? ¿O con aquellos que son
estoy argumentando que no valga la pena militar diferentes y me presentan nuevas posibilidades?
por la vida de un único árbol, pero me pregunto si la Organizar una residencia es vivir con lo diferente
interrupción de esta vida pudo contribuir de alguna y, a menudo, sorprenderse por las diferentes re-
forma a la expansión del pensamiento y la creación acciones ante una misma situación compartida.
artística. Esto me parece la reflexión central ... Lo que Puede ser doloroso y dejarte vulnerable, ya que no
también es evidente es la transparencia de la subje- existe una fórmula mágica y quizás sea a través del
tividad de cada artista en las obras en la naturaleza fracaso que se llegue al aprendizaje. Esta situación
o con la naturaleza, ya que aportan sus creencias y un tanto límite de tener que residir en el juego y, como
experiencias en el momento de influir y de relacio- apuesta, percibir que el gran esfuerzo de reunir a es-
narse con ella. tas personas puede no haber valido la pena. ¿O quizá
Sobre si los residentes e invitados fueron sí valió la pena? Este frágil equilibrio de poner en
una apuesta y en qué sentido, por supuesto, inclu- práctica los deseos en acción, lo pensado/planea-
so aunque yo no lo quisiera, lo sería. Reunir a per- do ... en hechos y, de repente, verse atropellado por
sonas en un mismo lugar durante un corto periodo los propios sueños, en una especie de concreción
de tiempo siempre es una apuesta. Juntar amigos caótica de lo idealizado, o simplemente en el flu-
en una fiesta es otra apuesta. Viajar con un grupo jo de la vida. Sentirse impotente y frustrado en un
de personas también es una apuesta. En todo mo- momento que idealmente debiera ser de regocijo. Al
mento lidiamos con los límites visibles e invisibles de mismo tiempo algo nuevo siempre se crea en estos
las personas, con los límites conocidos y desconoci- encuentros, por malos que sean, no importa cuán ne-
dos, que serán revelados a lo largo de la trayectoria fastas hayan sido las experiencias, han insertado un
común. Me encantan las estrategias que fomentan nuevo dato en la conciencia de cada uno. Propiciar
EL MUNDO DE LOS SERES: UNA CONVERSACIÓN SOBRE VIDENCIA, ENERGÍA POSITIVA Y EL DERECHO A LA VIDA DE LAS PLANTAS 135
encuentros y nuevas asociaciones es el lado ultra lo no racional es esencial y enriquecedora. ¿Le gus-
positivo de las apuestas. Lo negativo es darse cuen- taría conocer sus impresiones, percepciones y pun-
ta de que este otro por quién estamos apostando, y tos de vista sobre ese día? Me pregunto si, de algu-
a quien queremos conocer, viene con juicios hechos na manera, cargaste por algún tiempo y por cuánto,
de antemano, insensible a las diferencias culturales, con lo que allí se reveló, llevaste. ¿Cómo te sitúas a ti
sociales y estructurales, en resumen, a las diferen- mismo ante la magia y la clarividencia? ¿Qué pasa si
cias formadas por las trayectorias, recuerdos y emo- la receta de la bruja cura tu migraña? Y finalmente,
ciones con las que cada uno carga. Además de en la María Isabel, residiendo hoy aquí en Madrid, percibo
identificación, también creo en los pactos de con- cuánto nuestra vida diaria en América del Sur está
vivencia colectiva. impregnada de las ideas de buena energía y mala
A raíz de lo que acabo de contarte, palabras energía, cómo gravitamos hacia estas polaridades
que, de alguna manera, responden también a la pro- y cómo estamos sujetos y nos sujetamos a ellas. ¿O
puesta de Leo de auto-curación, me gustaría contin- no? Queremos escucharte…
uar insistiendo en ese punto de la diversidad en la
interpretación de la experiencia frente a un mismo Maria Isabel Rueda: Podemos entonces empezar a
fenómeno, y traer a la conversación nuestra visita hablar de un antropocentrismo invertido14 donde po-
colectiva al Templo de la Magia un desvío que pro- dríamos permitirnos incluir también, el reino de lo
dujo terribles consecuencias para casi todos los sobrenatural, ya que podría decirse que este también
visitantes. Me gustaría usar tu hermosa imagen pertenece a una epistemología no antropocéntrica.
de los límites invisibles para hablar sobre esta En un mundo que actualmente enfrenta los
visita. Aquel día, se revelaron biografías ocultas de efectos irreversibles de la destrucción humana de
residentes y visitantes. Tal vez Leo y yo hayamos sido los recursos naturales, un enfoque hacia “todas” las
los más perjudicados con la confirmación de la pre- dimensiones descartadas por el pensamiento occi-
dicción del robo y la pérdida de materiales, así como dental hegemónico de biopolíticas capitalistas, don-
de la reiteración del trauma, ya que en Brasil somos de lo que prima es la producción y la acumulación,
blanco frecuente de acciones violentas. Al mismo resulta acertadamente pertinente tomar en consid-
tiempo en que, en nuestro trabajo de artista, este eración la participación activa de estos otros reinos.
lado subjetivo, intuitivo y mágico, esa conexión con Como respuesta a tu pregunta….
EL MUNDO DE LOS SERES: UNA CONVERSACIÓN SOBRE VIDENCIA, ENERGÍA POSITIVA Y EL DERECHO A LA VIDA DE LAS PLANTAS 136
¡Si! la receta de la vidente ha resultado una Gran parte de mi carrera como artista y mis
solución efectiva a mis migrañas. intereses como curadora están relacionados a una
búsqueda personal de intentar comunicarme con
Denis Rodriguez: ¿De verdad? ¡¡Qué maravilla!! otras dimensiones, intentando relacionarme a otro
Pero ¿no hablaste de tus impresiones, per- nivel con el mundo animal, vegetal y mineral. En el
cepciones y puntos de vista sobre ese día fatídico? camino me he relacionado con muchos artistas y
Estoy curioso y sigo preguntándome si de alguna he recuperado su trabajo y sus visiones escribien-
manera lo que se reveló allí lo llevaste por algún do parte de la historia oculta del Arte Colombiano
tiempo y ¿Por cuánto? ¿Cuáles son tus relaciones a partir de entrevistas y diálogos con artistas que
con las prácticas mágicas y la clarividencia? ¿Estás comparten mi visión como Norman Mejía y Álvaro
interesada en el campo de la magia? Barrios por citar algunos, donde establezco fuertes
conexiones entre el arte conceptual en Colombia y el
Maria Isabel Rueda: Bueno... la visita al templo a espiritismo. He cuestionado el género del retrato y el
diferencia del resto del grupo me resultó bastante autorretrato a partir de la mímesis de mi cuerpo con
interesante y de una gran belleza estética. el entorno natural, a través de las pinturas murales
La sala del amor con los cuarzos rosa en de la ruina del castillo de Norman Mejía, un artista
las paredes donde nos recibió la vidente me pare- muy reconocido en la escena de los años ochenta en
ció bellísima, alucinante, me sentí en el set de una Colombia, que decidió aislarse de la sociedad y del
película de Almodóvar. Desde niña he tenido contac- mundo del arte en su casa en Barranquilla.
to con otras dimensiones y en esta etapa de mi vida Mi trabajo se ha situado dentro del imagi-
encuentro fascinante la comunicación con el mundo nario del gótico tropical, desde donde he redefinido
mineral, así que para mí estar ahí con todos esos y ampliado el género, que en un comienzo solo se
cuarzos fue fabuloso. La lectura del futuro no me re- asociaba a grupo de Cali con quienes mantuve una
sulta tan interesante pues me aburre un poco saber estrecha relación (Luis Ospina y Carlos Mayolo), An-
lo que puede pasar, sin embargo, escuché atenta a la dres Caicedo se suicidó muy joven, así que no llegué
vidente y seguí sus recomendaciones para mejorar a conocerlo, pero devoré sus libros cuando fui ado-
mis migrañas con la grata sorpresa que me han fun- lescente.
cionado. He abierto agujeros de gusano conceptuales
EL MUNDO DE LOS SERES: UNA CONVERSACIÓN SOBRE VIDENCIA, ENERGÍA POSITIVA Y EL DERECHO A LA VIDA DE LAS PLANTAS 137
y conectado dimensiones en el espacio tiempo en sea ese pastiche ecuménico, un gran collage de reli-
mis curadurías, así suene un poco a ciencia ficción giones y culturas.
(la cual me interesa muchísimo, acabo de editar una Hasta la adolescencia estudié en una es-
publicación con La Usurpadora y Jose Sanín titulada cuela católica, pero el espiritismo y las prácticas
infinito incorporado). místicas siempre estuvieron presentes en mi casa.
En una de las últimas muestras que he cura- Tarot, lectura de los posos del café, I Ching, el ‘juego
do con La Usurpadora: Universos Desdoblados, tuve del vaso’, los libros de Kardec, así como una enorme
la oportunidad de incluir el trabajo de una de las ar- estantería con literatura de Seicho-no-ié, Esa secta
tistas invitadas a la residencia: Miriam Simun, con religioso-filosófica que enfatiza la gratitud y el pen-
quien comparto muchísimos intereses y con cuya samiento positivo, ¿Hay Seicho-no-iê en Colombia?
obra he conectado a nivel conceptual y espiritual Esta religión fue traída a Brasil por los japoneses y
gracias a nuestras charlas en el instituto. Sao Paulo hasta la década de 1950 fue la ciudad de
Así que voy incorporando en mi pensamiento a las América que recibió más inmigrantes oriundos de
ideas y personas con quien me voy relacionando y Japón.
aprendiendo en el camino. Desde niño, he observado la búsqueda es-
Respecto a la energía positiva y negativa pi- piritual de mi madre, que experimentó diferentes
enso que el separarnos de la unidad generó la duali- creencias y hoy vive sus propios dogmas, pero sigue
dad que tanto nos atormenta, pero que precisamente el pensamiento de Seicho-no-iê. Alguna vez fue
nos hace humanos, y que en su contraste es la fuente católica, espiritista, umbanda, evangélica, budista
de toda creación. Así que esta polaridad pienso es ...quizá estoy olvidando alguna otra experiencia es-
mucho más interesante si empezamos a observarla piritual por la que ella ha pasado. En esas andan-
como un simple testigo. zas conocí muchas personas dedicadas a la vida
Me gustaría saber en su caso personal qué espiritual, muchas decían que habían sido elegidos,
considera que hace a una persona vidente. pero pocas fueron capaces de acoger, cuidar, ilu-
minar nuestra búsqueda de significado a este sen-
Denis Rodríguez: De hecho, el templo del amor es un timiento recurrente de impotencia, de falta de recur-
delirio lisérgico, o más bien todo el Templo de la Ma- sos, a veces de salud e incluso de lenguaje. delante
gia. Tal vez porque no tratarse de un lugar sectario, de lo absurdo, de los delitos, de las desgracias y de
EL MUNDO DE LOS SERES: UNA CONVERSACIÓN SOBRE VIDENCIA, ENERGÍA POSITIVA Y EL DERECHO A LA VIDA DE LAS PLANTAS 138
la violencia cotidiana. Me encontré con mucha gente Me asusta el patriarcado titulado como liderazgo
falsa y aprovechada en ese viaje. En mi adolescen- espiritual. Y abomino de dogmas y verdades uni-
cia me encontré por primera vez con la clarividen- versales. Acerca del maestro Tala del Templo de la
cia, tuve una amiga portuguesa, Dulcimara Martins Magia, un enigma… pero adivinar que alguien será
Leal, que era sensible y podía anticipar hechos. En robado en Brasil, yo no lo llamaría clarividencia, solo
esa época estábamos muy unidos y compartíamos diría una redistribución de la violencia cotidiana y
muchas de las experiencias místicas que ocurrían en ancestral.
mi casa. Con el tiempo, aprendí a conectarme con la
gente. Y comencé a leer los posos del café, el I Ching Leonardo Remor: Me sentí bastante incómodo en
de manera más intuitiva y teniendo intuiciones du- la visita al Templo de la Magia. Desde pequeño me
rante el ‘juego del vaso’. Hasta que comencé a ten- siento muy atraído por ese universo oculto. Mi abue-
er sueños premonitorios, visualizando eventos que la, además de excelente cocinera, también sana el
se confirmarían a lo largo de los días. Una noche decaimiento (benze de míngua). Aprendí con ella a
soñé que un ser querido se despedía de mí y me curar con las manos, para quien no sabe, el decaim-
daba instrucciones sobre qué hacer después de su iento llega cuando estamos deprimidos (jururu). Es
muerte. A la mañana siguiente no escuché el soni- un desánimo que puede hacer que dejes de comer y
do del despertador. Y cuando me levanté, encontré hasta secar una planta. Según el diccionario, la min-
una nota en la mesa del desayuno que me informaba gua es “la falta de lo esencial”. Se hace indispensable
de la muerte de este pariente que acababa de encon- cuidar, restaurar y mantener nuestro ánimo.
trar en el sueño. Fue un shock, tenía 13 años. Desde Por otro lado, la iconografía mística de las
entonces soy muy susceptible a las predicciones, por tiendas esotéricas me aleja de ellas… No me reco-
lo que creo que quienes las practican deben tener nozco en esas imágenes y objetos. Una representa-
mucho cuidado al revelarlas. ción carente de interés… Y allí en aquel complejo de
¿Qué es lo que hace a uno vidente? ¿Qué templos a tantos dioses, vi esa estética reproducida.
me hizo vidente? ¿Y qué me apartó de este camino? Para mí, un auténtico parque temático religioso, le-
Nunca pensé mucho en ello ... tal vez el hecho de que vantado con plástico y cemento. Tantos iconos, tan-
no me gusta la autoridad que suelen tener los gurús tos símbolos… Una gran simplificación y reducción
religiosos puede haberme apartado de ese camino. de tantas culturas, llenas de sus particularidades y
EL MUNDO DE LOS SERES: UNA CONVERSACIÓN SOBRE VIDENCIA, ENERGÍA POSITIVA Y EL DERECHO A LA VIDA DE LAS PLANTAS 139
orígenes. “Tenemos, no sé cuántos templos… Recibi-
mos a no sé quién, famoso jugador de fútbol…” No
acepto la magia como solución instantánea de los 10 COCCIA, Emmanuele. Mente e matéria ou
problemas – o diagnóstico. Para mí esas prácticas a vida das plantas. <http://www.revistalanda.
son de autoconocimiento y de compartir. ufsc.br/PDFs/ed2/Emanuele%20Coccia.pdf>.
Nada más tedioso que ese ser superior con
poderes de ver el futuro: usted va a viajar, usted va a 11 The Sensing Salon expande las ideas del arte
ser atracado, usted va a morir… Desconfío y entro en a través de las artes de la curación, caracteriza-
un templo de esos con todas las prevenciones. Cuan- das por un taller para la práctica de prácticas
do veo ese lugar hecho todo de cuarzo rosa, no puedo curativas. El acto de curación, como el arte, es
dejar de pensar en la minería, en la explotación in- práctico. Es algo que se hace y que promueve
tensiva de los recursos, en el dinero y el beneficio a la restauración, el bienestar. El trabajo colabo-
cualquier precio… Para mí, las piedras están en un rativo de The Sensing Salon explora la curación
lugar equivocado. Su sitio es debajo de la tierra. Mi como una forma de arte, una práctica de sentir y
templo está en la cascada, debajo de un árbol. dar sentido que también incluye estudios, pen-
Creo en la magia ancestral de nuestras samiento crítico y experimentación que alcan-
abuelas. La sanadora con la casa siempre llena. zan niveles más profundos de existencia.
Acogedora en su humildad, te quita el decaimiento
y además te ofrece para comer. Y si ofreces dinero 12 FERREIRA DA SILVA, Denise. On Heat. <https://
será una ofensa. Ese trabajo se paga con cariño, con canadianart.ca/features/on-heat/>.
un regalo de corazón, con las flores que crecen es-
pontáneas en tu patio. Juntos sostienen y mantienen 13 En agosto de 2019, los agricultores en el es-
la vida. Compartir, sumar, multiplicar. Creo en la ma- tado de Pará, en la Amazonía, coordinaron, a
gia de plantar yuca, que de su tronco sacamos mu- través de grupos de WhatsApp, una gran quema
chas mudas, y de cada muda crecen muchas raíces en el estado que se llamó “día del fuego”. La fis-
que alimentan a toda la familia. Creo en el poder de calía de Pará el 8 de agosto de 2019, había pre-
escuchar el propio cuerpo, en el respeto al tiempo de sentado en Ibama una carta en la que advertía
la respiración. sobre las quemaduras planificadas en Pará,
EL MUNDO DE LOS SERES: UNA CONVERSACIÓN SOBRE VIDENCIA, ENERGÍA POSITIVA Y EL DERECHO A LA VIDA DE LAS PLANTAS 140
advirtiendo que la manifestación de los agricul-
tores, si se llevara a cabo, causaría graves viola-
ciones ambientales que podrían, incluso salirse
de control y evitar la identificación de autoría
individual. Los actos previstos en la denuncia
fueron consumados y, a partir del 10 de agosto,
Brasil y el mundo vieron arder a gran escala par-
te de la selva amazónica de Pará, incendios que
el 11 de agosto fueron observados y registrados
por satélites de la NASA. Fontes: <https://www1.
folha.uol.com.br/ambiente/2019/10/fazendei-
ros-e-empresarios-organizaram-dia-do-fo-
go-apontam-investigacoes.shtm>;
< h t t p s : // w w w . n a t g e o . p t / m e i o - a m b i -
e n te / 2 0 1 9 / 0 8 /a m a zo n i a - a rd e - c o m o - n u n -
ca-culpa-e-da-desflorestacao>.
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Michelle Sommer: Desde Edward Muybridge hasta gañosa (tal vez mezclados con fragmentos de otra
Jean Cocteau y Béla Tarr, el caballo es un elemento fuente) o incluso irremediablemente perdidos. Con el
vivo que ocupa un lugar central en las narraciones tiempo, a veces nos apegamos a este aspecto pre-
imaginarias. Cuenta la historia de los pensadores oc- cario, a las marcas (como el aprecio que tenemos por
cidentales que Nietzsche lloró y guardó silencio, du- ciertas cicatrices), a un todo que se sabe que falta
rante diez años hasta su muerte, cuando se encontró y, en su estado incompleto, convoca nuestra imagi-
con un caballo que se negó a caminar, agotado, que nación a la existencia. Este texto sigue el proceso de
soportaba inmóvil los maltratos de su dueño. reconstitución del pensamiento poético que originó
En el contexto de la residencia, en un espa- tres trabajos, que circundan la materialidad aparen-
cio rural de relativo aislamiento de la ciudad, de la temente simple de piedras y huesos, desarrollados
exigente conectividad de la web - ¿cuáles fueron los en febrero de 2019, en la residencia de artistas Kaá,
impulsos - si fueron nuevos u otros- que no eran ha- presentada de manera episódica y fragmentaria (en
bituales en el trabajo del dúo para las exploraciones un intento paródico de reproducir la lógica del pen-
poéticas provenientes del entorno material y psíqui- samiento). Las obras sirven de índice para reflexionar
co, en este espacio y tiempo específicos? sobre la poiética artística, una cierta dicotomía entre
Entre huesos de animales y piedras en su el arco de tiempo de los ciclos y el presente epidér-
naturaleza muerta y el encuentro con animales, mico actual, y los diversos escenarios inherentes (y a
específicamente el caballo, en su naturaleza viva; menudo sumergidos) en sus decisiones.
¿Cuáles fueron los desafíos encontrados en la pro- No es infrecuente en la zona rural Gaucha
posición y realización de los trabajos, e incluso la que haya, cerca de las casas, una especie de capilla
potencia de lo que quedó solamente como proyecto minúscula que custodia al santo o santa de devoción
para futuros desarrollos y no llegó a realizarse? familiar. Protegidas de la intemperie, las estatu-
as parecen no estar prestando un servicio de orden
Io: El pensamiento poético rara vez es un río, un todo metafísico, sino más bien atentas y curiosas a un
que fluye coherentemente hacia su destino, sino algo mundo perecedero que las rodea. En la vida cotidi-
más cercano a una vasija rota que queremos repa- ana de la residencia Kaá, en nuestras andanzas, re-
rar. En algunos casos, los fragmentos tienen uniones corríamos la casa principal y veíamos, en los huecos
obvias, en otros están conectados de manera en- de una pared lateral, huesos como fémures de ca-
16 LOPES NETO, João Simões. Contos gauches- Ane Rodríguez Armendariz: Por lo que he tenido la
cos. 9ª ed., Porto Alegre: Globo, 1976. oportunidad de ver en su trabajo, diría que hay una
marcada presencia de elementos relacionados con
17 Este texto está escrito desde la perspectiva los fluidos y el cuerpo, pero también hay mecanis-
de Ío, el alter ego que reúne a Munir Klamt y Lau- mos agudos hechos por el hombre que a menudo
ra Cattani. Cuando se mencionan por separado, son una amenaza. El uso de los colores que haces,
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