Você está na página 1de 19

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

FACULDADE DE DIREITO
SOCIOLOGIA I

Daniel Giunto Serpa


Diego Ferreira da Silva
Gabriel Uehara Vilela de Oliveira
Jordana Ferreira Vieira de Souza
Octávio Augusto Silva
Rangel de Almeida Matos Júnior

CASA AMARELA: um estudo de caso sobre o poder artístico na integração e


na influência do desenvolvimento do indivíduo como parte de uma coletividade.
RESUMO: O presente trabalho propõe-se a estudar a influência social que o projeto cultural
Casa Amarela impacta na vida dos jovens do Morro da Providência no Rio de Janeiro, através
da arte e da cultura, influenciando assim toda a comunidade ao redor e a produção cultural do
local como um todo.

Palavras-chave: Casa Amarela; Morro da Providência; Projeto Social; Produção Artística

Introdução:

Desde os tempos antigos, datado da Grécia antiga, antes da construção das pirâmides
do vale do Gizé, se discute o que é arte e seu impacto no mundo e nas pessoas, como um todo.
Escultores do helenismo grego, pintores do renascimento italiano, e mais recentemente,
dançarinas russas do ballet de Bolshoi. Todos estes artistas já se fizeram ou ainda farão essa
fatídica pergunta, o que é arte? Ou até, transformando esta questão em uma melhor pergunta:
por que arte? Queremos saber o porquê da arte nos tocar de tantas formas, e de tantas
diferentes formas, em indivíduos diferentes, como é possível a simples expressão e
compreensão do mundo através dos olhos do outro nos conectar como civilização através da
cultura.
Para além de todas estas indagações, neste artigo eu e meus colegas iremos mais
longe, nosso estudo aqui contempla a arte e, principalmente, em como ela muda o mundo.
Como a arte é usada como ferramenta para alcançar igualdade social e acesso à cultura.
Artistas que fazem do mundo um lugar melhor, através desta antiga forma de expressão,
trazendo a cultura em lugares que normalmente não se chega por meios comuns.
Neste artigo apresentaremos o projeto Casa Amarela, criado pelos artistas Jean Réne
(também conhecido como JR) e Maurício Hora, uma iniciativa que através da arte e da
cultura, muda a vida de inúmeros jovens da periferia. A Casa Amarela é um espaço cultural,
que foi fundado no ano de 2009, no Morro da Providência, na cidade do Rio de Janeiro. O
projeto tem como foco, não só a introdução no campo da arte e da cultura, mas todo um apoio
social, carecido pela população do morro, negligenciada pelas autoridades da cidade do Rio
de Janeiro, problema que populações de comunidades conhecem bem, tendo este empecilho
como uma constante no quotidiano.
O projeto impacta positivamente inúmeros jovens do Morro da Providência, jovens
que antes tinham pouco contato com a cultura, agora vêem neste projeto, uma oportunidade
para aprenderem algo novo, tanto como para seu próprio lazer, mas também tendo a
oportunidade de adquirir também uma profissão, alcançando assim uma nova perspectiva.

O que é a Casa Amarela Providência?

A Casa Amarela é um Centro Educacional localizada no Morro da Providência, Zona


Central da cidade do Rio de Janeiro, o projeto visa a integração da comunidade a sociedade e
na colaboração do desenvolvimento humano e territorial a partir da arte, apoio social,
educação e cultura buscando uma queda no impacto social mediante a realidade das
comunidades cariocas com o descaso governamental do estado. O artista francês JR,
juntamente ao fotógrafo brasileiro Maurício Hora fundaram o projeto em 2009.

O projeto no quesito de integração e desenvolvimento do indivíduo na


sociedade.

O projeto funciona juntamente com a colaboração de educadores, moradores, artistas,


ativistas e produtores locais ou de outras localidades. Essa integração ocorre no espaço Casa
Amarela promovendo encontros artísticos e culturais, cursos profissionalizantes, fomento da
educação e do desenvolvimento de conhecimentos e saberes para o aprimoramento do
indivíduo e como consequência a valorização do território e cultura local.
É de suma importância entender como um projeto desse nível interfere diretamente na vida
das pessoas da comunidade. A partir do momento em que há um fator resultante e focado na
integralização dessas pessoas ao mundo como um todo intervém totalmente no rumo daquela
vida.
Para Gonçalves e Nercolini (2018, p. 35): "Toda e qualquer produção artístico-cultural
é engendrada dentro de uma cultura, nas conexões estabelecidas entre as diversas
manifestações artísticas, nestes ambientes “entreculturais” vivenciados pelos sujeitos
contemporâneos."
O projeto constitui ideais fortíssimos em relação ao desenvolvimento humano, em que
você tem o ensino e a valorização da arte e cultura, que ensina os valores da vida e da
valorização da vida e dos caminhos que a arte proporciona e como é ser uma pessoa
culturalmente ativa em uma sociedade é um ponto positivo, entender e saber usufruir do
mundo e suas possibilidades, aprender a apreciar um lugar, uma cultura local, um estilo de
música, arte ou dança. E parte para o ponto da oferta de cursos profissionalizantes, momento
em que ocorre uma integração profissional ao mundo e ao mercado de trabalho daquelas
pessoas, mostrar e entender o que há de melhor naquilo e como seguir um caminho
profissional, entendendo as demandas e uma financeiramente ativa e equilibrada. A
continuidade dos conhecimentos e saberes, os fundamentos da vida, e como esses tópicos
interem diretamente no julgamento e no discernimento das pessoas em relação ao uso e a
inclusão de si a um lugar e a uma cultura. Com isso se estabelece a criação de um vínculo
entre a comunidade ao mundo, mostrar que todos fazem parte e que o acesso é para todos,
acesso aos museus, galerias de arte, cinemas, praças e locais públicos, universidades e
empresas.

O propósito:

Incentivar a educação, artística, cultural e social para influenciar no desenvolvimento


de crianças, jovens e adultos.

A visão:

Promoção e criação da ambientalização socioeducativa e comunicativa com os meios


sustentáveis e territoriais do Morro da Providência, assim tornando-se um centro educacional
artístico de cunho social referência no movimento social das comunidades.

O valores:

A valorização cultural e tradicional do lugar e a garantia de uma harmonia e respeito


às diversidades, juntamente com comprometimento da educação étnico-raciais.

A arte pode mudar o mundo?

A arte como mudança do estado do ser sempre teve um papel fundamental desde a sua
existência. O meio artístico é uma das únicas ferramentas capaz de desbloquear sensações e
visões de cunho a explorar nossa existência, nosso papel na sociedade e até a expressar
mundos e sociedades utópicas. Somos capazes de vivenciar a experiência de utopias,
devaneios, modelos de sociedade, lugares inexistentes graças a arte e quando falamos em arte,
temos: artes plásticas, artes visuais, cinema, música, teatro, dança, performance, artesanato e
fotografia. Todas essas são ferramentas que criam a vivência e experiência capaz de nos
mostrar ideias e aflorar sensações e sentimentos nas pessoas. A arte ajuda na formação de
modelos, influência na formação e na tomada de decisão de indivíduos, a tornar alcançável o
inalcançável, ela é capaz de mostrar lugares e caminhos que pode-se seguir, funciona como
um abridor de portas.
Quando se concretiza isso e torna a arte em algo aplicável a uma sociedade é trazer um
ar de esperança e a prática de aflorar a criatividade nas pessoas. Pessoas criativas são pessoas
de maior valor para uma sociedade, elas são capazes de encontrar e criar soluções tão práticas
e funcionais, é um investimento social com um caráter riquíssimo e capaz de trazer um
retorno imensurável para uma comunidade, por exemplo.

Para Marco Aurélio (2000, p. 67):


"As culturas locais recriam-se sob o signo da globalização, de tal forma que também
se apropriam das novas possibilidades, alcançando visibilidade por meio dos meios
de comunicação e criando a possibilidade de intercâmbios, o que acarreta uma
permanente possibilidade de recriação. O desenrolar mais evidente é a possibilidade
de grupos ou até mesmo comunidades espacialmente separados poderem se reunir
via identificações culturais - o rock, o rap, o reggae, o punk, são alguns exemplos
deste novo cenário."

Portanto, a arte detém a capacidade de mudar o mundo. A arte enriquece a sociedade,


ela explora não só a criatividade do indivíduo, mas tem forte influência na questão do
desenvolvimento do ser, no seu discernimento em fruto da sua existência e no seu papel como
ser humano participativo de uma comunidade.

A compreensão de origem dos idealizadores é também a compreensão do


projeto

Em busca de compreensão da fundação vê se necessário a contextualização de cenário


de vivência dos idealizadores deste projeto. Sendo esses Maurício Hora e Jr.
Maurício Hora foi tema do livro Morro da favela, ganhador do prêmio Troféu HQ
Mix, escrito por André Diniz e publicado no Brasil em 2011. Nesta novela gráfica tem-se
retratar as memórias de Maurício, não só manifesta as memórias, mas também denota o morro
da Providência. Por meio deste é possível compreender o processo que levou Maurício a se
tornar um dos idealizadores da Casa Amarela, mas não só, como também compreender o
contexto sócio político do mesmo. Nascido e criado no Morro da Providência, Maurício teve
uma infância turbulenta, sendo seu pai o primeiro a instituir uma boca de fumo na
Providência. Maurício foi criado pelos avós até seus 6 anos e não frequentou a
escola-primária, passando a maior parte de seu tempo em casa. Sua história tem como ponto
determinante o seu encontro com uma Pentax, onde começa seu trabalho como fotógrafo:

Tudo era interessante para fotografar no começo. Aí eu fui entender que não era só a
fotografia em si, era a qualidade da fotografia, era o assunto que eu estava
fotografando, diversos elementos para gerar uma imagem. Esse foi um aprendizado
longo (depoimento de Maurício Hora transformado em quadrinho. DINIZ, 2011,
sem página).

Hora se destaca por ser um precursor na retratação afetiva da favela, retratando sempre
a busca pelo local de paz do local onde nasceu. Por sua criação e vivência no local, Maurício
busca sempre retratar de forma quase afetuosa os locais onde cresceu, mas trazendo consigo
sempre o tom crítico e político, conseguindo efetivamente fugir do local comum constante
retratado do Morro. Foi o primeiro a retratar a favela a noite, Maurício solicitou autorização
dos agentes dominantes locais para conseguir realizar tal foto, oque faz com regularidade para
possibilitar seus projetos.
“Isso me deu uma noção e uma capacidade de discutir o território. Agora, me frustra
porque, no fim, vale o que o tráfico determina. Por causa do descaso das
administrações, é ele que tem força. O tráfico consegue transformar e fazer ações, às
vezes sem pensar, e a comunidade aceita, e até gosta. E eu, que estou ali, não
consigo fazer nada. Já aprendi que não posso brigar contra isso.”

Em 2005 Maurício foi um dos constituintes na criação do projeto Favelité, projeto este
que levava as favelas do rio para os metros parisienses. é por meio deste projeto que Jean
Réné conhece o trabalho de Maurício e foi até o Rio de Janeiro conhecê-lo.

Jean Réné, popularmente conhecido pelo pseudônimo JR, se trata de um fotógrafo,


que utiliza-se também de artes plásticas. Propositalmente não é possível localizar muitas
informações a parte da vida pessoal de JR. Internacionalmente conhecido e denominado como
ativista JR busca sempre o tom político em suas obras, reconhecido também por seus projetos
sociais espalhados pelo mundo. Seu trabalho se destaca por utilizar-se do meio urbano porém
fugindo do grafite, em contra-mão utiliza-se de fotografias em preto e branco aplicadas como
Lambe (técnica que utiliza habitualmente dá impressão de cartazes, sendo colados em muros e
paredes urbanas), a utilização desta técnica é tida como distinta por se tratar de um método
efêmero, pois pode ser facilmente danificada, porém também é distinto por se tratar de um
método acessível de criação.

Com sua vinda ao Morro da Providência em 2009, JR buscava um local para sediar
seu projeto “Women are Heroes”. JR realizou sua primeira intervenção artística no Rio de
Janeiro instalando a fotografia da avó de um menino, que havia 3 semanas antes sido
capturado pela polícia e levado a uma facção inimiga, onde foi morto. Esta obra estampava a
escadaria que divide o Morro da Providência do asfalto, território de constantes investidas da
polícia. Ao ver o rosto desta senhora estampa o reconhecimento gera como comoção popular
da comunidade, assim gerando compreensão do papel da arte na sociedade.

Assim nasce neste local uma abertura social de implementação de projetos artísticos e
sociais. Procurando mudar a forma como se vê o mundo através da arte e esperando tornar
visíveis aqueles que muitas vezes são esquecidos ou vivem à margem da sociedade juntam-se
Maurício Hora e JR para a fundação da Casa Amarela. Maurício trazendo consigo a bagagem
não só artística ativista mas também seu conhecimento e origem, Maurício cresceu como
artista periférico, atualmente entitula-se como fotógrafo favelado, lutando pela ressignificação
do termo favelado, e buscando não só traduzir ao mundo sua vivência mas também em
constante busca por trazer ao Morro da Providência novos paradigmas. JR traz consigo seu
ativismo político e social, nascendo assim dessa parceria a Casa Amarela.

O Método pedagógico aplicado na Casa Amarela e seu sucesso

Os métodos de ensino aplicados na fundação levam em consideração: o


desenvolvimento cognitivo da criança e do adolescente, a formação social como indivíduo e
principalmente, a inclusão e o acesso a aulas de alfabetização, artes e música, esportes e
dança.
Atualmente, a equipe é composta por 14 instrutores, sendo uma vaga ocupada por um
estagiário do projeto¹. Os educadores trazem para a casa uma ampla quantidade de oficinas,
que vão de dança hip-hop, até aulas de violino. Isso demonstra a preocupação da fundação em
oferecer conteúdo diversificado e que contempla diferentes gostos pessoais.
As oficinas oferecidas na casa são ministradas para quatro grupos de alunos, sendo
estes:
Kekerê (3-7 anos), Erês (8-13 anos), Somodé (14-21 anos) e Adultos. Os nomes dos
grupos pertencem à linguagem Yorubá, de matriz africana. O objetivo é trazer o
reconhecimento e valor aos diferentes grupos étnico-raciais na história e na cultura brasileira,
sobretudo no território que vivem, Morro da Providência , parte integrante da "Pequena
África”.
Além das aulas ministradas para crianças e adolescentes, o projeto valoriza a
importância da arte-educação também para os adultos, de maneira a inseri-los em contextos
que não teriam acesso se não fosse pelo projeto. No site é possível encontrar relatos de
diversos ex-alunos, que se encontram com ocupações profissionais graças ao projeto.

“Para que as décadas futuras sejam mais promissoras à arte-educação, é necessário


primeiro romper com o preconceito de que arte-educação significa arte para criança
e adolescente. Arte/educação é epistemologia da arte e portanto, é a investigação dos
modos como se aprende arte na educação infantil, no ensino fundamental e médio e
no ensino superior".

O projeto também é responsável pela formação de coletivos, unindo os alunos para


além da fundação. A formação de coletivos é essencial para a socialização do indivíduo, na
troca de experiências e aperfeiçoamento pessoal e para criação do senso de comunidade, um
dos pilares da Casa Amarela. Os coletivos e a Casa Amarela cumprem um papel fundamental
para que o acesso à cultura chegue à periferia, e que não é feito por mais nenhum órgão ou
entidade governamental. Apesar de na Constituição de 1988 conter o seguinte artigo:

“Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e
acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão
das manifestações culturais. ”
Apresentação de dança do coletivo Quilombo da Provi, formado com o resultado
das práticas aplicadas nas aulas de dança afro.

Os esforços realizados pela equipe da Casa Amarela cumprem um papel magnífico


que une a arte-educação com a formação do indivíduo, proporcionando aos viventes novos
horizontes e contato com novas realidades.
Por exemplo, o projeto de extensão “Orquestra Luna”, das educadoras Glaucia Maciel
e Juliane Souza, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que levou as crianças da turma
Erê para dar um passeio na universidade UNIRIO, onde as crianças tiveram contato com o
campus, com aulas ministradas por professores e se encantaram com o mundo de
possibilidades oferecido pela universidade.
Além desse contato muito importante com o meio acadêmico, os viventes
apresentaram-se em uma orquestra no Theatro Municipal em outubro.
A Casa Amarela, foi fundada com intuito de ajudar pessoas carentes da comunidade,
fazendo com que as mesmas tenho esperanças de crescer, mesmo morando dentro da
comunidade. Hoje, a casa ajuda centenas de jovens e crianças, com atividades didáticas, e
exercícios! O local atua, com faixa etária de idades, sendo assim, para cada idade, uma
modalidade de exercícios diferentes.

KEKERÊ:

Originado de nome Yoruba, a palavra tem o significado de pequeno, dessa forma, tudo
que está pequeno, tende a crescer. O grupo, que acolhe as crianças de 3 á 7 anos, tem esse
nome, para que as mesmas, já conheçam desde bem pequenas, os grupos étnico-raciais e a
cultura brasileira, além, de entender sobre a história do local que estão, o morro da
providência.

“O grupo Kekerê simboliza nosso trabalho com crianças pequenas na Casa Amarela,
que é o início e o fundamento do processo educativo na instituição. Acreditamos que
a educação infantil é um solo fértil, pela possibilidade de contribuir na continuidade
das aprendizagens da criança em sua trajetória na Casa Amarela e ao longo da vida.”

De acordo com a citação, esse grupo atua na vida da criança, já que nessa idade, as
coisas da mais práticas e construtivas, pois eles ainda não tem uma noção muito grande do
que acontece. Então, o grupo Kekerê, ensina tudo que é possível para a criança, como etnias,
religiões, deficiências, gêneros, culturas, para que essa idade, consiga entender a importância
de diferenciar e valorizar esses grupos, sem nenhuma discriminação e consciência.
O mesmo grupo atua com outras áreas, como alfabetização, dança afro é brincadeiras.
Pelo ponto de vista da Casa Amarela, tudo que puder ensinar para a criança, é de extrema
importância e essencial para a formação dela, por isso, na área de alfabetização, os pequenos,
são totalmente auxiliados, com atividades educativas, mas, que não obriguem tanto os
menores, a se sentirem pressionados com algo que não consigam fazer. A ferramenta
educativa, atua juntamente com práticas didáticas, de brincadeiras, em busca de uma forma
mais gradativa é fácil deles entenderem. Os atuantes do grupo, mostram que quando se é
menor, as coisas que mais se aprendem, são em formas de jogos, desenhos e principalmente
brincadeiras diversas, por isso, não pode deixar de entrar, no meio da construção do Kekerê.
Na dança afro, a compreensão simbólica nas reuniões, são os temas mais importantes,
com o principal estudo em OXUM. As músicas africanas, são sempre o ponto certo, com o
ambiente totalmente preparado para lidar e apoiar essas crianças, na aprendizagem desse
tema, que as levam ao fascínio, com a imagem de OXUM. As mesmas, aprendem os termos
de ioruba, que são presentes em toda a mitologia e ecologia dos orixás, os termos do tipo
abebé e a função dos orixás e as demais palavras. Os instrumentos também se tornam algo
simbólico, e diários, já que simbolizam a energia, e em como esses pequenos vão aprender a
controlá-la, trabalhá-la e apropriar essa energia.
ERÊS:

O grupo dos Erês, também com origem Iorubá, tem o significado de brincar, fala sobre
a espírito infantil, mas, o mesmo nome, também contém significado, em Tupi-Guarani, com
qualificar e quantificar as emoções. O grupo acolhe crianças e pré adolescentes, de 8 ate 13
anos. A atividade principal, é o entendimento dos mesmos, com a valorização das culturais e
etnias raciais, e o combate com a desigualdade.
Os pequenos, aprendem nesse grupo, a ter autoestima com sua origem, e desde cedo a
compreenderem melhor a história de cultura africana, e afro-brasileira, assim entendendo, que
isso que estão lendo, contém no dia a dia, e na busca de acabar e superar o racismo. Os
recursos utilizados, são textos e imagens que tendem mostrar a construção histórica dos
ancestrais, tendo informações sobre a vida deles, e consequentemente, melhorando a
comunicação, atenção, iniciativa, e a noção de pertencimento e identidade racial.
A música no grupo, se tornou um instrumento marcante, contando com violinos,
violoncelo, e teoria da música. E para aqueles que se interessam nessa área, a Orquestra Luna,
fará uma apresentação no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com os viventes tendo
espaços adequados, no seu direito.
O ICAB, é um desdobramento da dança afro que estimula a memória, construindo
percursos e dando fortalecimento para identidade, da dança afro na vida da criança. Esse
projeto, é constituído por mestres da cultura, viventes culturais e profissionais de dança, que
estão lá, colaborando com isso, e mostrando a vivência deles, para os pequenos que estão
aprendendo agora.
As aulas práticas do grupo, são de esportes diversos, tendo aula de skate, boxe e até
mesmo inglês. Os materiais, são todos disponibilizados pela Casa Amarela, que em agosto de
2022, construiu sua primeira pista de skate, no alto do morro da Providência. Já a aula de
Boxe, tem como intuito desenvolver o emocional, físico e cognitivo das crianças. Além de
auxiliar na disciplina, equilíbrio, respeito e coletividade. Nas aulas de inglês, as crianças
tendem a ter interesse, pela língua estrangeira, opções boas de trabalho na vida adulta e as
possibilidades de saírem do pais, sem contar, com as aulas interativas que os fazem conhecer
uma nova perspectiva do mundo.
SOMODÉ:

O nome em ioruba Somodé , significa juventude, dialogando com nossa prática


voltada para o ensino das relações etnico-raciais. Somodé é o grupo da juventude, que
consiste em refletir com os jovens, que nascem e vivem na favela, e também sobre as
importâncias dessa idade, que sentem mais necessidades em conversas e diálogos de pessoas
que os entendem. O grupo, cria uma construção é uma visão afrofuturista, no afrofuturo.
Nessa fase, o entendimento da cidadania é fundamental, da parte de conhecer,
respeitar e valorizar o diferencial.
O ÍPÁDÈ, é uma reunião, ou encontro, que um grupo de mulheres negras se uniram
para fundir aconchego e carinho, nessa atual visão do país. Foi então, que o cine afro foi
criado, com objetivo de formar reflexões cuja, são relacionadas a cultura e população negra.
Os filmes mostrados, são escolhidos com mensagens e intuitos motivadores para aquele dia de
reunião, para ao final, conter debates e perspectivas diferentes de cada um. Os temas dos
filmes, contém educação, sociedade, sexualidade, política, cultura, e abordando outras coisas,
para fazê-los compreenderem um pouco mais.
O empreendedorismo também está no meio do grupo, visando o estudo para conseguir
entender mais o mercado de trabalho e o salário. O tema no grupo se torna bem atuante nas
reuniões, pois muitos estão entrando nos primeiros empregos, e querendo saber o que fazer
com o salário é como ter qualificação e competência para ter uma boa atuação no mercado.
Além das aulas básicas em informática, com o pacote Office, aprendendo usar a base do
computador.
A aula de Educação em Saúde, aborda os temas principais da idade, que acabam
descobrindo e se envolvendo em situações difíceis de lidar, algumas delas é o alcoolismo,
gravidez na adolescência, drogas, e etc. As aulas com os temas abordados, colocam as
questões de saúde da idade, crendo que a educação pode mudar e colaborar para a diminuição
desses ocorridos. Entretanto, as aulas também falam sobre possíveis doenças na adolescência,
o conhecimento do próprio corpo e o desenvolvimento do diálogo em questões raciais.

No topo do Morro da Previdência desde 2009: a Casa Amarela na rede e


sua forma de comunicação

O projeto se iniciou em 2009, e por conta disso, já se demonstrou completamente


inserido nas mídias digitais até os dias de hoje. A presença na rede facilita que o projeto
ganhe mais destaque dentro do mercado, de forma que empresas interessadas em apoiar
financeiramente conseguem entrar em contato fácil e rapidamente pelo site
(http://www.canartchangetheworld.net/casaamarela/contact-us).
Além do site, as redes sociais em que a Casa Amarela atua, ajudam os interessados a
participarem das suas atividades. No instagram e Facebook, a equipe mantém seus seguidores
atualizados sobre os eventos, aulas e atividades que acontecem no dia-a-dia dentro do espaço.
Essa forma de comunicação é extremamente efetiva principalmente com os jovens, que são
usuários assíduos de redes sociais.
A Casa Amarela é integrante do “Can Art Change the World”, um projeto que
mantém-se consistente em sua abordagem arte-educacional ao redor do mundo todo.
O papel das ONGs e as representações sociais das periferias

A cultura popular brasileira difundiu-se através de diversas formas de expressões


sociais e culturais, do futebol ao samba, das artes a tecnologia, porém pouco se discute sobre
o papel das comunidades brasileira e sua efervescência cultural, mas é preciso lembrar que a
falta de acesso a meios de formação e integração social da população periférica gerou por
anos, e até hoje, uma dissidência da juventude aos meios mais básicos de sobrevivência
humano e desenvolvimento cultural, a marginalização das periferias criou uma cultura de
exclusão das povos mais pobres, dificultando o acesso a meios culturais e educativos. É nesse
ponto que organizações não governamentais e projetos sociais, criados por pessoas que
entendem e pensam a transformação da sociedade através da cultura, tornaram-se referência
na assistência da população mais vulnerável, diversas instituições como A Casa Amarela
construíram através dos anos uma ponte para as comunidades.
Antes mesmo dessa iniciativa ser criada no morro da providência outros projetos
surgiram em outras comunidades e difundiram-se para o Brasil e até no mundo, a mais
notável e difundida nesse sentido, com atuação em todos os estados brasileiro e em diversos
países da américa latina, a CUFA (central única das favelas) atua em comunidades brasileiras
a mais de 20 anos.
Fundado por rappers brasileiros, Nega Gizza e MV Bill, juntos ao produtor, Celso
Athayde construíram e fomentaram ao longo dos anos, mecanismos de integração e
capacitação das favelas e dos povos periféricos fomentando um mercado de trabalho,
possibilitando acesso à cultura, ao esporte e lazer como uma forma de capacitação e
desenvolvimento humana e sobretudo uma identidade e representação fidedigna do pova das
favelas e periferias pelo Brasil.
A representatividade por si só em contextos complexos e altamente marginalizado
torna´se um potente elemento de partida para a transformação de um povo, o poder de
enxergar caminhos viáveis possíveis de serem trilhados possibilitam uma transformação para
além da imaginação humana e é dessa forma que diversos trabalhos de organizações como A
Casa Amarela movimentam a cultura e a autoestima de nas periferias, o diálogo com outros
indivíduos que orienta e compartilham experiências didáticas e acessíveis ao publica, sem m
qualquer custo monetário, possibilitam a construção de novas maneiras de pensar o futuro das
periferias através do talento da população que ali habita, para Marcello N. Jesus:
“A hipótese defendida nesta monografia, quando se fala em produção cultural
periférica, é este vínculo entre o fazer e fruir cultural com os laços de vivência do
cotidiano entrecruzados com as complexas relações da vida, envolvendo o território,
lugar e a sua cultura, ou, como disse Santos (1987), um modelo cívico-territorial [de
civilização territorial]”

Esses dois trabalhos, somado a outras feitos por diversas ONGS produzem e um efeito
moral e social de importância política cultural fundamental e eficaz na população brasileira, o
apoia a juventude tem sido uma forma de prosperar um ambiente que produziu e ainda produz
uma grande parte da identidade cultural no país, buscar recursos e externos e aplicá los nas
pessoas aqui ali vivem, com o intuito subsistência cultural, podendo ampliar horizontes e
fomentar uma gama de recursos para própria comunidade.
A CUFA por meio de seus trabalhos com a música, com a dança e o fono na cultura de
rua como: o rap, o hip hop, o basquete e o futebol de várzea, proporcionou e revelou diversos
talentos que hoje ocupam um papel de referência na sociedade, artistas que hoje podem viver
e construir discussões importante ao desenvolvimento social, esse papel e essas possibilidades
têm impactos profundos na representatividade real das favelas no mundo moderno.

“Durante as conversas é muito evidente que o fator sobrevivência sempre pesa mais,
resistir, antes de tudo, é sobreviver na Sevirologia como já dizia o mestre Soró.
Garantindo a sobrevivência, o ato de resistir implica em destruir alguma coisa para
construir outra coisa.” (CABRAL, 1974, p. 11).

Assim como na CUFA na Casa Amarela da providência um dos objetivos é buscar


com que as pessoas que por ali passaram voltem como mediador e exemplos de como
construir esses caminhos tão importante na vida das pessoas, através de residências artísticas
ou oficinas e palestras nas organizações vem construindo um lugar de mediações e
capacitação das pessoas ao seu redor. O artista JR como fundador da Casa Amarela em em
paralelo a sua renomada carreira internacional no meio da arte, solidifica a atuação da ong em
meios institucionais das artes, por meio desse caminha que ele vem trilhando diferentes
pessoas têm buscado compartilhar suas vivência com as pessoas que são a assistidas pelo
espaço, mas para além disso ainda imergir na cultura dos lugar como Rio de Janeiro.
A troca oferecida por esse espaços oferecem a ambas as partes uma conectividade
importantíssima, tanto para a experiência e o dia a dia vividos na comunidades brasileiras
como para o diálogo dos povos periféricos com individuas de diversos lugares do mundo e de
culturas diferentes, dessa forma as possibilidade e conhecimento para propor uma nova
maneira e soluções para esse espaços tão conturbados e riquíssimo em cultura de massa.

Considerações finais:

Venho nesta consideração parabenizar todos os envolvidos no projeto, e exaltar o seu


trabalho para que ele continue de pé, ajudando tanta gente. Parabenizo o povo que reside no
Morro da Providência, homens, mulheres e jovens que lutam todos os dias, não só para
sobreviver, mas também para viver, uma vida plena e justa, em meio a tanta desigualdade e
descaso. Parabenizo, também aos criadores, JR e Maurício Hora, que desde 2009 continuam o
seu trabalho inspirando a juventude a fazer mais, e a fazer mais por todos. O projeto em si é
um exemplo de como muito pode ser feito com tão pouco, um exemplo de que quando
queremos, podemos sim fazer com que a cultura chegue a todos, em todos os lugares.
Podemos trazer um pouco mais de igualdade e oportunidades a quem é negado, dia após dia
pela sociedade, pelas autoridades.
Aqui volto a pergunta que fiz na introdução, e depois deste estudo de caso,
conhecendo melhor o projeto da Casa Amarela, seus autores, o Morro da Providência e os
tantos jovens que ele contempla, posso afirmar que a arte pode ser democrática e
transformadora, um combustível infinito quando semeada e incentivada. A arte e a cultura
podem dar oportunidade àqueles que não a tem, como uma luz no fim do túnel, uma centelha
de esperança numa sociedade tão caótica como vivemos hoje. A arte é o meio transformador e
a cultura edifica o pensamento erudito, como filosofia e como aprendizado. E por fim, a
pergunta: a arte pode mudar o mundo? Sim, uma pessoa de cada vez.

Referências:

Arte Fora do Museu. Casa Amarela, 2020. Disponível em:


<https://arteforadomuseu.com.br/casa-amarela/>

BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. Editora Perspectiva SA, 2020.
BEIRIGO, Nicollas. Meio fotógrafo, meio artista plástico, JR é o ativista urbano que você
precisa conhecer, GQ. 2019. Disponível em:
<https://gq.globo.com/Cultura/noticia/2019/03/meio-fotografo-meio-artista-plastico-jr-e-o-ati
vista-urbano-que-voce-precisa-conhecer.html>

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 31.ed. São


Paulo: Saraiva, 2003. p. 134.

CABRAL, Amílcar. Análise de alguns tipos de resistência. Lisboa: Seara Nova: 1974.

Casa Amarela. Can Art Change The World, 2022. Nossos Grupos. Disponível em:
<www.canartchangetheworld.net>

CORRÊA, Arielle Jorge. Dona Eustáquia e Floribella em a Aventura na Casa Amarela:


um projeto gráfico editorial infantil. BS thesis. Universidade Tecnológica Federal do
Paraná, 2021.

DE MATTOS, Mára Beatriz Pucci. Projeto Casa Amarela: uma experiência de educação
inclusiva e trabalho social. Saber & Educar, n. 19, p. 86-95, 2014.

Educadores, Website Casa Amarela. Disponível em:


<http://www.canartchangetheworld.net/educadores>

FELIPPSEN, Cosme. Casa amarela põe os artistas no mundo da lua, Diário do Porto,
2019. Disponível em:
<https://diariodoporto.com.br/casa-amarela-poe-os-artistas-no-mundo-da-lua/>

GONÇALVES, R. A; NERCOLINI, M. J. A cultura urbana periférica: silenciamentos e


táticas. Revista Soletras, 2018. Disponível em:
<https://www.google.com/url?sa=D&q=http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/soletras/a
rticle/viewFile/34425/26598&ust=1669929600000000&usg=AOvVaw3e5yJtkf4Aqz2Cb-MX
opxY&hl=en>
HORA, Maurício. Espaço Cultural Casa Amarela. Disponível em:
<https://mauriciohora.wordpress.com/espaco-cultural-casa-amarela/>

JESUS, Marcello N. Produção Cultural Periférica: Percepções e perspectivas.


Monografias Brasil Escola Uol. 2019.

PORFÍRIO, Francisco. “Organização não governamental (ONG)”; Brasil Escola

TELLA, Marco Aurélio Paz. Atitude, arte, cultura e autoconhecimento: o rap como voz
da periferia. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 2000. Disponível em:
<https://tede.pucsp.br/bitstream/handle/18440/1/Marco%20Aurelio%20Paz%20Tella.pdf>

Você também pode gostar