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Meditações em Catástrofes
ou
Sonhei que Parei um Trem com
meu Soutien
Andrew Knoll
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Meditações em Catástrofes ou Sonhei que Parei um Trem com meu Soutien
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Meditações em Catástrofes ou Sonhei que Parei um Trem com meu Soutien
(Audiência canta trecho de ‘La Marseillaise’ lendo a letra impressa. As páginas estão sobre
os assentos)
(Abertura ‘I Dream of Jeannie’ - Jeanie é um Gênio):
LOC: Era uma vez, num lugar mítico chamado Cabo Kennedy, um astronauta de nome
Tony Nelson. Foi lançado em uma missão espacial. O míssil subiu, porém algo aconteceu, e
ele teve que retornar à Terra. O capitão Nelson chegou numa ilha onde encontrou a garrafa.
E não era uma garrafa qualquer, pois dentro dela havia um lindo gênio que tinha o poder de
realizar seus desejos.
Diferente! Divertido! Surpreendente! Um programa verdadeiramente genial! A garota deste
programa é um sonho, é um espetáculo! É muito viva! Jeannie é um Gênio! Estrelando
Barbara Eden, um provocante gênio das mil e uma noites. E Larry Hagman como seu amo e
senhor.
O capitão Nelson ficou tão grato que deu liberdade à Jeannie. Só que ela não queria ser
livre. Você deve compreender se já ficou preso numa garrafa por dois mil anos. Ela queria
divertir-se. E queria divertir-se com o capitão Nelson. Por isso acompanhou-o até Cocoa
Beach, uma cidade mítica de um mítico estado chamado Flórida. E aqui nesta casa a garota
da garrafa...
(Sobe trilha)
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Meditações em Catástrofes ou Sonhei que Parei um Trem com meu Soutien
Boa noite
Muito obrigado por este convite
(Tempo, como se ouvisse uma pergunta que não nos é permitido ouvir)
Muitíssimo menos do que eu deveria ser frente a todos que durante este tempo me
confiaram suas prerrogativas de amizade, tempo, confiança...
‘I confess!’
Tenho sido covarde!
Acho mesmo que não me encontro no local de direito ou que deveria ‘civilmente’ me
encontrar. Tenho sido verdadeiramente muitíssimo menos do que deveria
A ética, dizem, é se mostrar sempre ‘One hundred percent’. Mostrar-se ao outro ‘por inteiro’.
Íntegro... Transparente, a fim de oferecer sempre a chance de decidir...
‘Nestas horas o silêncio vale ouro’
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Noite com pesadelo e o acordar transpirando. Chuveiro frio e eu aqui novo em folha. Café
expresso forte puro. Outro. E outro lindo dia pagando pau pra todo tipo de gente escrota!
Uma máxima que tem sido parte constante do dia-a-dia do acordar publicitário!
Clientes!
Rua e pensamentos giram com todos os sons, cores, cheiros, reais e imaginários como um
alucinado carrossel entrando e saindo em nós enquanto caminhamos
E no turbilhão... um reflexo de sol que faz cegar
No meio da rua, o som estridente de pneus freando e rasgando o asfalto. É o fim. Black-out.
Então sinto o impacto mas é de algo me abraçando e arremessando para a calçada em
velocidade atordoante. Abro os olhos devagar... Estou... Intacto? O sol ainda contra, e
começo a ver... É uma jovem mulher. Sua roupa colada ao corpo, ela é forte, decote, capa,
botas e... óculos. De seus olhos saem uma cor intensa púrpura. Ela sorri. Pergunta: ‘Está
tudo bem?’ Digo que sim. ‘Oki-doki’, ela diz. Ela me ajuda a ficar de pé e a multidão começa
a se juntar em volta. Fotos e flashes. ‘Obrigado’, eu digo. Ela sorri. 'Posso fazer uma foto?'
Retiro minha KODAK - Você Merece Uma Kodak -, nos abraçamos e...
(Sobe luz fria no teatro. Rápida votação com a audiência para decidir a continuação da cena
entre dois caminhos: Um tom com ‘Mais Aventura’ ou um tom com ‘Menos Aventura’
Após a votação, independente do resultado, continua:)
Ela sorri
De repente, o chão some. Sob nossos pés, um alçapão se abriu, e ambos estamos caindo
na repentina escuridão. Caindo, caindo, caindo. Um solavanco... E estamos suspensos no
ar, nossos corpos colados frente a frente, amarrados com os braços pra trás. “Santo Deus,
como está quente aqui. E como ela está quente”. E desmaiada, apoiada com a cabeça em
meu ombro. E esse perfme... CHANEL N.5? Então o surdo estalar de grandes mandíbulas.
Imensos alligators albinos exibem-se esfomeados poucos metros abaixo, quase tocando
nossos pés. Começamos a transpirar e a corda já não vai aguentar. Está se desfazendo em
fios. Eu tento acordá-la, chamo, sopro em seu rosto. Nada. Ok, pelo jeito, serei eu agora a
ter de nos salvar. Mas como? Minha caneta no bolso. O anel no meu dedo. O prendedor de
minha gravata. O TRIDENT de Canela. Droga, esqueci o TRIDENT de Canela. Mas então,
de onde este cheiro? Ela está acordada. E sorri.
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Sinto seu hálito TRIDENT de Canela. Meu coração se acelera - Deus, não posso ter uma
ereção!
Demoro, mas entendo. Viro a cabeça para o lado direito, abro a boca, fecho os olhos, e
começo a avançar para beijá-la
Ela retrai-se para trás, escapando do meu gesto que se tornou pa-té-ti-co. Só consigo
pensar “Que bom que não têm ninguém do escritório olhando”.
- Não seu idiota! Meus óculos. Tira eles. Usa a boca
- Ma mas.. como assim?
- “Aff”, ela se impacienta... Câmara lenta. Ela fecha os olhos. Com um movimento de
cabeça, atira os óculos para o ar. Seus cabelos são ainda mais incríveis com este
movimento. Aponta a cabeça para cima, na direção da corda a que estamos presos. Ela
abre os olhos. E deles, um feixe púrpura incandescente corta a corda nos libertando.
Caímos. Na queda, ela apanha os óculos no ar - mesmo de olhos fechados, ela é realmente
excelente! - põe novamente os óculos. agarra meu punho e saímos dali para o alto... e
avante...subindo... subindo o túnel escuro em direção à luz... E alcançamos a superfície.
Subimos até a atmosfera. Agora tudo é... ouço nossas respirações. Posso ver a cidade lá
embaixo, o sol e o mar no horizonte. Ela sorri. Penso novamente em abrir a boca, virar a
cabeça de lado e fechar os olhos... Mas não. Descemos. Estou no solo
- Hey. Isto foi super incrível!
Sua mão toca meu peito. ‘Mais cuidado, campeão’.
A multidão começa a se juntar em volta. Fotos e flashes. ‘Obrigado’, eu digo. Ela sorri.
'Posso fazer uma foto?' Retiro minha câmera PENTAX K1000 - A Melhor Câmera Que Você
Jamais Viu -, nos abraçamos e...
Sou todos os espaços em saltos múltiplos na cidade que nunca dorme e ruge e fere ainda
por um tempo indefinido
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A questão é quando o cliente sabe. Sabe que é essencial. Sabe que é a cereja do Bolo, a
prata da casa. Aí ele abusa. Abusa, deita e rola. Afrouxa a gravata, chega atrasado na
reunião, ou nem vêm. Sugere festas, quer se divertir. Quer presentes, bebidas, prostitutas
pagas em dólares. E a gente Faz. Faz tudo. Tudo mesmo. Tudo pra que depois o
faturamento compense. Se o cliente é ético, eu me encaixo. Se ele é canalha... Também me
encaixo! Posso bajulá-lo, posso levá-lo pra jantar, oferecer meu carro, oferecer a casa, a
esposa, a conta e os cambau! ‘It’s just business’! pagar o jantar, os drinks, as apostas, subir
as apostas, dobrar as apostas! Quem ele é? Quem eu sou?
My life... It’s just a trial, and a Prove!... And Prove! and Prove!, and Prove and Prove and
bombs and míssiles and bombs and napalms everyday! Everyday! Everyday!
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SEPIA YELLOW
O apartamento fica no centro abafado de ... É noite e a cidade vibra. Agulha no disco e tudo
toma outro tom
Na sala ele senta à frente do cavalete e observa a modelo nua mais adiante. Vai retomar a
pintura. Pincel na tinta, Trompetes irrompem. Inicia a fazer a boca. Solo de bateria. Molha o
pincel no vermelho preparado a óleo. Leva o pincel com tinta ao ar. No estouro dos pratos e
tímpano... Um estrondo na cozinha: O cano d’água da pia estoura. Ele levanta-se
bruscamente e tropeça. O pincel voa no ar... Ele no ar...
Suspensos
A água suspensa parada no ar
Respingos de tinta no ar
Suspenso
BRANCO PÉROLA
LSD. Da primeira vez não senti nada. Eles queriam que eu tomasse, sabe? Alguns dormem!
Eu não durmo! Não consigo. Mais energia. Você têm de dançar. Não se consegue dormir.
Não se dorme nunca. Uma felicidade eufórica. Diretamente proporcional à sua ‘bad’.
O êxtase te deixa mais tenso, vontade de tocar em tudo, aliviar a tensão.
Quando começa a derreter na língua, as pessoas nunca estão sempre iguais.
Não foram completamente terminadas. São todas rascunhos e borrões.
Sempre mudando, simbiose em trânsito... Como a linha do trompete demarcando a frase,
falando, conversando, mudando de órbita, adensando, sussurrando, beijando, acariciando,
te dando uma bofetada que te faz sentir como se tivesse tomado 20 garrafas de whiskey de
uma só vez com alguém te acariciando com a língua. O trompete é língua passeando suave
na pele. Deslizando sobre a percussão marcando o ritmo, cozinhando, controlando o pulso.
E que acelera, quebra, pausa, retoma, rebate, como o eterno desenrolar de forças cósmicas
ali, nos pratos, no tímpano, nos ton-tons, no chimbau. Ali, ecos do big ben se pode ouvir nas
caixas reverberando as paredes e o corpo inteiro vibrando e úmido como as pedras on the
rocks. Outro whiskey, enquanto os metais são outras tantas línguas agora em você por fora
e por dentro, seus dedos dos pés sentem de imediato e não é possível mais nenhum
controle, suas pernas sabem, pois o todo é o continuum do som que se propaga e é cada
célula porque agora tudo tudo é jazz, a gota de suor descendo em seu pescoço é jazz, seu
canto de olho apertando com a boca bem aberta é jazz, o universo todo é jazz, e o jazz é o
máximo pra esquecer tudo!
Compasso final
PRATA
Água
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Tempo
Ela ataca implacável e rápida, quase some com o movimento, um borrão. Crava seus
dentes em minha perna... e segue impune seu curso, cortando o rio de prata e raios de sol
de setembro vindo deste recorte de montanha parte dele na sombra como uma imensa
parede recortando o sol como uma pintura-metáfora para tudo o que virá... E virá
VERDE MUSGO
No restaurante a dama na mesa ao lado, acompanhada, flerta toda vez que seu marido vira
pra chamar o garçom. Levanta-se para ir ao banheiro. Ao passar por mim, morde o lábio.
Não irei atrás, conheço o filme. Um mês depois a vejo entrar num Pub pra tomar um café.
Williamstown, leste de NY. Banco vazio a sei lado, me convido a acompanhá-la - “Este lugar
está ocupado?” - Na rua nossos lábios se encontram e a convido para entrar. “Vou em casa
tomar um banho e já volto. Me espera?” Ela diz. Ela se encanta com minha coleção de vinis.
Tiramos nossas roupas, ela projeta os quadris pra frente tocando de leve minha boca. Bem
de leve no início. Bem de leve. Ela sobre ele, em cópula e em silêncio troca olhares com o
voyeur, sob a luz fria dos prédios da rua
Ela interrompe a cópula por instantes... Ela acha que ouviu alguma coisa...
Um grito de desespero quase inaudível se pode ouvir ao longe... bem longe
Ela aperta os olhos... suas mãos agarram o lençol... seus olhos se molham com lágrimas...
e ela continua
E trepamos por três noites como se fossem os últimos dias de vida no planeta
SEPIA YELLOW
No ateliê, após 1 hora em que a observo e trabalho no quadro, ela sai da posição. Está
cada vez mais difícil fazer com que se mantenha quieta
‘Tenho tentado não fugir de minhas emoções’ - ela diz
Ontem se cansou e tentou atirar tudo em tudo
Parece um bicho arisco aprisionado. Diz que não se mover é ir contra a pulso do universo,
mas que também não consegue ir embora. Este eterno vai e vêm de forças incontroláveis.
‘Quando tinha 7 anos - ela diz - estava com minha mãe visitando o escritório do pai, com
minha roupa da ‘Jeannie-é-um-Gênio’ que havia ganhado no aniversário. Correndo,
derrubei um de seus troféus. Minha mãe me bateu. Queria fugir gritando. Saí correndo e
entrei no elevador. Na rua as luzes todas da cidade se apagaram. Fiquei perdida até que vi
na vitrine de um supermercado a boneca Jeannie. Entrei. Peguei uma caixa e sentei no
chão com ela, lá no fundo. Conversamos. Ela me entendia e dizia que todas nós
poderíamos um dia nos casar com o ‘Capitão Nelson’. Ia ser apaixonante, fabuloso, um
sonho! Ele esfregaria a garrafa, e a gente surge, exatamente como acontece na tv... Até
que um homem surgiu. Era ele, o Capitão Nelson. Ele me pegou pela mão e disse que iria
me levar pra casa’
Disse também que queria que eu soubesse que no dia que veio para cá algo nela mudou e
que tem sido um imenso privilégio não só ter estado a meu lado mas ter sido honrada com
ela sendo a ‘única’. Fiquei sem palavras. ‘Oki-doki’, ela diz, e se acalma. Digo a ela que
preciso terminar de pintar a boca. Pego o pincel, ela retorna. Aumento a música, ela despe-
se e retorna à posição. Tinta. Trompetes
.
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GREY
19h e o metrô é abarrotado. Corpos cansados ao final do dia se avolumam mais e se
adensam em todos os espaços. Então a cidade inteira se apaga. É um Black-out. Há certo
pânico no início. Passa-se para as reclamações, depois as conversas se amenam, alguns
desistem da posição em pé e decidem sair do vagão, caminhar nos túneis e seguir a pé
mesmo no escuro. Uma mulher grita. Um homem sai correndo. Há esperma em seu
pescoço. Querem linchá-lo. Outros saem em seu encalço. Eu também alcanço a rua. Vejo
Dante escrevendo outros círculos. Pode ver? Há latões e roupas em fogo, vidros se
estilhaçam junto às luzes de polícia. Brancos, negros, latinos e chinas assustados e
agressivos. No parque, um grupo dança ao som de ‘freak-out’, alguns já semi despidos.
Desvio de uma horda enfurecida entrando no supermercado arrombado. No fundo,
encolhida entre caixas de brinquedos e Herschey’s, uma criança ali perdida de sua mãe. Me
aproximo. Seus olhos enormes olham através de mim. ‘Você é o Capitão Nelson?
Estávamos te esperando...’ Pego sua mão e vamos pela rua até encontrar sua mãe em
prantos mais adiante. A criança me abraça e quer me dar sua boneca. A mãe grita comigo e
somem na multidão. É uma selva. Uma pedra me acerta o olho direito. Entro na briga. Bato
e apanho. Cambaleante, chego em casa após 1 hora não sei como, minha camisa agora um
Pollock com o sangue e suor. Gelo. Sofá. E o zumbido contínuo. Não é jazz. É setembro
Tempo
SEPIA YELLOW
Forte clarão
Pancadas na porta... É ela, a garota com superpoderes, a 'garota da capa'
Disse que, antes de ir, gostaria de ser modelo em um quadro
Convido a entrar
BRANCO PÉROLA
No hospital, não quero que me encostem... Não quero que me olhem. Não sentir cheiro de
nada. Então me mostram a cobra que me picou quando criança, mas não quero olhar.
Reúno forças pra sentar na cama. Cabeça pesada e transito entre o sono, este passado
borrado, um futuro de areia e os dias recentes. Vultos passam em queda do lado de fora da
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minha janela. Um, depois outro. Lá embaixo as pancadas. São pessoas. Se atiram da torre
ao lado antes do segundo avião chegar. Ainda assim acho que pude ouvir dinamites. Não
quero ninguém por perto. Mais que isso. Quero o tempo passando e correndo longe fora
daqui
18h
Vento e eletricidade no ar
A sala de pintura vazia, repleta de espessa camada de pó cobrindo tudo, o papel de parede
desfeito, a água da pia parada no ar, um homem suspenso no ar em desequilíbrio, pincel
suspenso e tintas. No quadro, a mulher sendo pintada segura uma foto. A boca ainda por
fazer. A modelo suspensa segura a foto
Na foto, a sala vazia, repleta de espessa camada de pó cobrindo tudo, o papel de parede
desfeito, a água da pia parada no ar, o homem suspenso como que em desequilíbrio, pincel
suspenso e tintas no ar. No quadro, a mulher segura uma foto. A boca ainda por fazer. A
modelo suspensa segurando a foto
Na foto, sala vazia. Pó. Papel de parede desfeito, água parada no ar, homem suspenso em
desequilíbrio, pincel suspenso e tintas no ar
No quadro, a mulher segura uma foto
A boca ainda por fazer
Em pé em frente à parede janela do escritório bebo e vejo outros prédios de Vidro. É noite,
e as luzes tornam tudo ecos da sala de casa. É natal. Fachadas inteiras refletem as outras
todas em frente e ao longo de toda a avenida
Uma jovem mulher de capa e botas passa voando frente à minha janela e acena e pisca
para mim. Some na noite
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TIPICAMENTE BONITA
A câmera se move lentamente flutuando entre os flocos de neve avançando sobre o parque
em direção a esta esta janela e a atravessa sala adentro. Flutua até uma mesa onde há um
objeto redondo de vidro, apoiado sobre uma base. Dentro da esfera de vidro uma
pequenina cidade reluzente, rica em detalhes... e flocos de neve artificial se agitam criando
uma atmosfera noturna, tipicamente fria, tipicamente bonita, tipicamente kitsch e natalina
(Tempo)
O vencido
O vencido, o executado
O derrotado
O sujeito parado ali na chuva, molhado da cabeça aos pés à alma olhando ir embora o carro
do ano que acabou de passar e lhe dar um banho de realidade sórdida
O que 'tomou o fora' após se encher de coragem pra 'fazer o pedido' - pensava ele poder ter
chance de ter a primeira dança, oferecer fatia de bolo, copo de whiskey, vender em pedaços
a gravata
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O que não conseguiu abre aspas poder de compra fecha aspas, nem com esforço, dores
nas costas e pouco sono
O que não conseguiu abre aspas poder de compra fecha aspas e teve de deixar o filho/
Ou a filha
Sim ou a filha. Teve de deixar o filho ou a filha chorando clamando abraço, pra ir procurar
trabalho subalterno
O que perdeu a fala, corpo tremendo em queda escada abaixo depois de tanta e tanta e
tanta resignação
O que os amigos se afastaram, pois ele já não era mais digno de nota. Aquele que inspirou
VICTOR HUGO a desenhar VALJEAN, FANTINE, COSETTE
STENDHAL a desenhar o jovem JIULIEN SOREL estudando com afinco e suor enquanto
seu pai e irmãos o dificultavam
HUCK FINN dormindo em seu barril era Nietzsche desenhando seu pastor dançando após
cuspir a cabeça da serpente, triunfal em eterno retorno
E que retorna também já tão exausto, perdendo tempo com o que lhe sobra de seu quinhão
de subjetividade
Jesus criança brincando e sendo interrompido pra deixar passar a guarda do Império, de
botas e elmos brilhantes em expansão
O que queimou tudo de FITZGERALD, CAPOTE, e outros ternos caríssimos. Pois enquanto
a cidade ergue suas taças cintilantes com 'diamantes do tamanho do Ritz' sôfregos de
hedonismo democraticamente autorizado a sangue frio - pode ouvir o tilintar?/
- em suas ricas sacadas admirando a vista de luzes internas de apartamentos dos predios
vizinhos que lhe tapam a paisagem - uma réstia de céu estrelado neste inverno cristalino -
glamour para uns, fatal para outros. Pode ver?/
Pode ver?
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Nada mais?
Bentinho que amaste Capitulando pra si mesmo o que faria se a visse de novo! / Hei-la-ho!
Artista soterrado a cada dia, cavando um palmo a mais a cada linha grafada de poesia! - é
faca que escreve a carne!/
Você que sonha com as manhãs de sua infância insular, estes é que interessam!
Interessam! Porque não é apenas a fome que está rugindo. Não é apenas fome! É 'Outra'
fome! Estes quero ouvir. Os que estão à sombra dos novos novíssimos empreendimentos.
Porque de 'consagrados'... a cidade já está repleta
Sendo completamente franco, um dos principais pontos que levava a uma cultura tão tóxica
é o próprio ‘BV’.
Pensa na mentira que é isso. Você cria toda uma estrutura que começa com uma mentira.
Uma mentira em que você têm de criar uma coisa que não vai resolver um problema. Pra
colocar na rua, pra ganhar dinheiro de um outro jeito… E aí as marcas não querem pagar a
estrutura da agência pelo trabalho… Aí as pessoas não recebem… elas não recebendo,
elas têm de, enfim… elas têm de entrar em concorrência. Existem muitas concorrências que
as agências precisam entrar pra se sustentar. Só que, no caso de concorrência, as marcas
não estando pagando as pessoas para trabalhar, então as PESSOAS - sim, porque
estamos falando de PESSOAS e não MÁQUINAS - estando trabalhando O DOBRO, sem
RECEBER o dobro, e aí elas ficam VIRANDO NOITE APÓS NOITE… enfim, tá tudo errado.
E aí o que me atraiu aqui nesta empresa, além desta questão do próprio BV, e da não
dependência de mídia, e da consequência disso que é a gente PODER CRIAR QUALQUER
COISA têm o ponto importante que estou querendo implementar aqui que é o Homem
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Office - que é bem atrativo, não têm como não olhar pra isso porque você começa a
entender que você pode mexer no seu horário ao longo do dia, você pode ficar um tempo
na sua casa, tem um modelo aí interessante surgindo…
- É FLORAL?
- Não, é FLUOXETINA. Toda vez que eu 'tô entendiado eu tomo umas gotas…
Então, continuando
Têm uma questão também de modelo não hierárquico, se trata de um modelo mais
horizontal na prática, têm uma diferença de ego que acho que toda agência deveria ser
assim… porque como a minha área é a maior área dentro da empresa, têm pessoas que
são da redação, pessoas da direção de arte, de ‘data’, de ‘planejamento’, e essas pessoas
se ajudam porque são expertises totalmente diferentes… Então têm uma questão de ego
também que é muito diferente… Isso aqui na nossa empresa não existe
E o principal pra mim é o que nosso presidente vêm implementando nesta agência desde
quando ele a fundou que é a ‘cultura do não’
Então a agência diz muitos ‘nãos’ e eu nunca vi outra empresa de grande porte fazendo
isso… Somos pioneiros neste quesito
Quando, por exemplo, marcas pedem que a gente entre em concorrência de projeto, a
gente aqui diz ’não’… a gente têm um email formal pra dizer esse grande ‘NÃO’, e eu posso
garantir que todos da nossa equipe, todos sem exceção, desde o mais reles estagiário até o
diretor de arte têm uma abertura de verdade pra dizer ‘não’ pra qualquer coisa que a gente
se sinta mal em fazer… mesmo que tenha dinheiro envolvido (tosse, pigarro disfarça)
Jornalista: - Ok, sr. Acho que já temos o suficiente. Agora uma foto
FLASH
Visto meu colã reluzente e a roupa de trabalho por cima. Outro dia na vida de uma garota
com superpoderes que precisa ganhar a vida como qualquer um. Quase saio voando mas
lembro que estou agora à paisana. Prendo os cabelos no coque alto, pego as chaves e saio
como civil. O metrô, passo a catraca e o vagão, como sempre, lotado de meninas indo para
a escola
Meio do caminho, meliantes levantam e dão voz de assalto. Dois homens fortemente
armados. Querem reféns. Usam palavras deselegantes, xingam e gritam com todos,
ameaçam com coronhadas. Temo pela vida de todas e a adrenalina sobre gelando o
cérebro por trás da nuca. Eles ordenam que todas se levantem e fiquem de pé para descer,
mãos para cima à vista. E acontece o que eu mais temia: Antes que todas saiam, eles
tomam uma refém. Começam declaradamente a molestá-la. Tentam beijar seu rosto, tocá-la
onde não se deve. Ela se esquiva, grita e chora. Sua saia se rasga
Então, o black-out
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Já próximo à saída, ela olha para mim em súplica, nossos olhares se cruzam. E eu quase
posso ouvir o que ela não diz com os lábios
Súbito, num impulso, faço o tempo ficar lento. Soco um, chuto o outra, sinto o cano gelado
da arma em minha nuca. Giro rápido, desvio a arma com a esquerda, golpe no pescoço,
joelho no estômago, ele se contrai. Desvio a arma com a mão esquerda. Golpe no pescoço.
Joelho no estômago, gancho no rosto. Ele voa. O outro, boca aberta, está petrificado. Estalo
os dedos. Ele corre para fora do veículo
FLASH
Câmeras ROLLEI FLEX 35, LEIKA MP2, POLLAROIDS SX-70 são acionadas
(Falando calmamente)
Digo a ela: Calma, garota...
(À audiência)
Fechem os olhos...
Isso...
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Você se vê de fora...
Estamos em Curitiba em uma Praça na região central, ao lado do Passeio Público. Há duas
enormes estátuas que representam uma Mulher e um Homem Nus. E um imenso monolito
entre eles
Vencendo a gravidade
Você está ali, na Praça, como em um exercício contínuo, de pé, tento girar....e flutuar. Girar
sobre o próprio eixo, perna direita dobrada, apoiado sobre o pé esquerdo, a girar. A questão
aqui é que, apartir de determinado momento, no esforço continuado, você começa aos
poucos a vencer a gravidade. E então, a flutuar. Sempre no giro, consegue se manter
elevado. Sabe que, se parar a intenção do esforço, vai cair repentinamente. Então você não
para a intenção de girar, e flutuar, cada vez mais alto...
Agora você retorna lentamente ao chão...
... portando Bandeiras cantando palavras de ordem já se distanciando pela Inácio Lustosa
acima, indo firmes em direção ao Bigorrilho.
Estes são os últimos momentos da monarquia absolutista do Champagnat
Você apenas não consegue mais caminhar. O sangue ali no chão te impede, como uma
marca eterna fazendo sempre com que você se lembre, e que agora também está marcada
em você
O sussurro agora é grito de centenas em marcha que vai subindo já a Padre Anchieta. E
como cantam!
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(“La Marseillaise”):
‘Pode ouvir?’
Marchons, marchons
Qu’ung sang impur
‘Pode ouvir?’
Abreuve nos sillons...
Abreuve nos sillons...
ÀS CIDADES TROVEJANTES
Do Portal do Passeio, dizem que, toda quinta 23h55, se atravessar pelo Portal, chega-se
diretamente naquela rua estreita que fica na parte de trás da Catedral. E vice-versa. Dalton
fora o primeiro a testar. Economiza tempo de caminhada. Nas terças, a chegada é na parte
de dentro da catedral, mais especificamente na Torre do Sino. É possível solicitar ao
corcunda pra te deixar soar as badaladas da meia-noite enquanto ele pode se sentar e tocar
- o grande órgão de tubos da igreja. Uma de suas maiores paixões. Se não interrompê-lo,
ele irá tocar noite adentro, fazendo-se ouvir à distância, transformando a capela em uma
grande caixa amplificadora. Ele toca, e todos na Pça. Tiradentes são de repentes tomados
pela música e começam a se mover tomados por seus acordes irresistíveis, gemendo,
suando, em um transe cada vez mais intenso. E já gargalham, se tocando e tendo ereções,
e prolongam suas vozes em uníssono. Os sinos de outras igrejas também podem ser
ouvidos, desde a Santa Casa até a dos Passarinhos. O MON subitamente abre seu olho
polifemo, e dele um feixe de luz triunfal ilumina os céus - um chamado e um convite à
aproximação
Na porta do Paço da Liberdade, os dois colossos de estátuas que sustentam suas colunas
se desprendem e dançam, apaixonando as prostitutas na Riachuelo que se acumulam à
sua volta, admirando seus corpos de mármore. ‘Vêm benzinho... vêm comigo... vâmo?’;
alguma arrisca em adoração. E eles vão. Claro, não são palhaços!
A estátua da lavadeira negra desce a lata de sua cabeça, já tão cansada pelos anos de
imobilidade, põe-na de lado e dança feroz e sensualmente entre as flores do mercado. Na
nave, o corcunda tange com vigor as teclas do poderoso órgão de tubos, e a imensa massa
dançante da Praça se expande como uma onda avançando sobre a Marechal Floriano, indo
em direção à Ferrovila. Galpões de ferro funcionando madrugada adentro, onde ciclopes de
ferro forjam as novas armas da insurreição, iluminados na escuridão pelo vermelho vivo do
ferro líquido na forja. De lá partia a primeira marcha, passando pela Pça dos pelados. Do
outro lado, os Leões do Palacete rugem e saltam vindo em direção ao Passeio
E o imenso Touro Negro do Curitiba Trade Center escapa bufando em fúria, rebentando
paredes e as calçadas de granito do Batel. Cansado, desce a Vicente Machado, vindo se
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Do chão, vinha uma vibração retumbante. As pedras que compunham os motivos naturais
do Paranismo pareciam mover os desenhos do Petit Pavet. Das bocas de lobo e tampas
dos bueiros, o vapor aspergia o odor de feromônios, repletos de som e fúria
Nos subterrâneos se dava o mesmo. Nas galerias os trabalhadores largavam as picaretas e
os vagonetes de carvão e punham-se a dançar uns com os outros
Já não bombeavam mais o fluxo de água para os chafarizes, nem davam mais corda ao
Relógio das Flores. A cascata do Parque Tanguá subitamente cessou de cair
O cavalo babão ficou um tanto mais digno, porém não menos feio
Os carvoeiros - estes que vinham do CIC, e cidades conurbadas - enfim sorriam. E tudo o
que se via na escuridão eram seus dentes muito brancos e a grandes órbita de seus olhos
melancólicos, lembranças de quando viam a luz do sol em sua infância.
Alguns deles estavam encurtando suas camisas, amarrando com um nó, e lavando o suor
dos rostos. E então era possível perceber que se tratavam de mulheres, algumas ainda
adolescentes, muito pálidas e de corpos muito fortes pela exaustão do trabalho - este o de
escavar e carregar o carvão que alimenta caldeiras que aquecem a água que serve os
bairros nobres de Curitiba no inverno
E eram tantos. E tantas. Se quisessem poderiam tomar toda a cidade, passando eles a
viver nas coberturas com vistas para a Serra do Mar, nas mansões com piscinas e quadras
de esportes. Bastava que alguém lhes tirasse os grilhões. Com palavras engatilhadas e
armadas com afeto. Quantos carvoeiros são necessários para que o burguês possa tomar
seu Montepullciano na Praça da Espanha? Seu Café na Livraria descolada? Para que o
psiquiatra possa custear sua filha em NY?
A cidade sabe e clama enquanto dança em frenesi. No lago do Barigüi, a imensa e negra
serpente de Nietzsche, de olhos amarelos e bocarra aberta destilando veneno, chicoteia
seu corpo no ar, e torna a mergulhar causando o primeiro tsunami no Ecoville, fazendo vir
abaixo a torre com apartamentos de 10 milhões de reais do Palazzo Lumini. Mas o onda
ainda não têm força pra alcançar o topo do Bigorrilho.
Novo acorde, agora com sétima e nona. Outra onda que avança Padre Anchieta acima.
Na Capela Santa Maria instrumentos se unem à Ode Triunfal. E no Guairão, vozes
poderosas do Coral e Orquestra respondem oitavando os acordes do corcunda na Catedral.
No tubos, Mi Menor. Nas vozes, Mi menor com sétima aumentada. Mais forte. Outra vez.
Fortíssimo! E a fachada de vidro do Guairão se faz em milhões de cacos, deixando o ar
entrar.
Então podemos ver, ali no hall do primeiro andar, dançando sobre o tapete vermelho, a
Polaquinha trans dançando nua com o Vampiro de Curitiba. E chama para o beijo qualquer
um que se aproxime. A três. Ela beija. Ele crava os dentes.
Na Santos Andrade, todas as estátuas também ganharam a rua, e o rosto de Lala
Schneider gargalha, canta, mostra a língua, se transfigura, bebe, se desprende e gira, gira,
gira em torno de seu próprio eixo, se elevando no ar cada vez mais alto, assustando o piloto
da Gol que já anunciava da cabine o pouso em S.J. dos Pinhais. Atenção senhores
passageiros, o tempo em Curitiba é est... AH MEU DEUS!!!
A cidade enraivecida, sedenta de justiça grita ‘não não não não não’ infinitamente
altissonante, fazendo-se ouvir daqui a NY. A estátua da Liberdade doada pelos franceses
se comove de indignação, arranca a própria coroa, retira fora sua bata. E pisando firme pela
primeira vez em Manhattan, fazendo rachar as paredes dos teatros, dos cafés, do aps,
riscando os discos, quebrando as camas, rachando trilhos de trens, derrubando aviões
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Meditações em Catástrofes ou Sonhei que Parei um Trem com meu Soutien
Ela enche seus pulmões do fôlego da liberdade e grita forte ‘No! L’audace! No! L’audace!
No! L’audace! L’audace!
(Indica à audiência para acompanhar em coro uníssono de ‘No! L’audace!’ em intensidade
crescente até o ápice final)
(Tempo)
Chvisco na imagem
“Timoneiro... levante!
Se não consegues me ouvir, com os trovões e estrondos, tome meu braço! Chega de
medo!
Levante!
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Meditações em Catástrofes ou Sonhei que Parei um Trem com meu Soutien
Seja grato. Seja grato. Estrondos de ondas e tormenta é perfeitorquestra de dois mil
tambores ribombando a trilha deste arrasto calamar. Vai chorar! Vai rir depois!
Só-mos céu, tempestade e timão. Ainda que se demore dez anos! Iríeis! Iríada!
Acima, no centro-calmo tufão, aquele pequeno recorte de céu - pode ver? - estrelas nos dão
seu acenos gentis. Elas Alfa. Eu Centauro. O albatroz ali sabe o quão pequeno somos, mas
espera ver também do que somos feitos. E deseja ver-nos ao raiar do dia, para lhe dar
companhia, história e confirmação.
Timoneiro, homem, l’audace!
Que a tempestade e os mares se amem. Renovados estarão na manhã!
Encore est toujours de l’udace!
L’evant!”
Nada
‘Marchons, marchons!
Qu’ung sang impur...”
Pode ouvir?
As pessoas em marcha, todas com suas Heinekens, bebendo, sorrindo e erguendo garrafas
ao ar em comemoração
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Meditações em Catástrofes ou Sonhei que Parei um Trem com meu Soutien
UM - Você respira
(Estalar de dedos)
Acorde final, fim das badaladas. A cidade silencia. A imagem ficou pensativa...
(Tempo)
Vestir casaco, gorros, luvas, cachecol. Sair... e caminhar. A cidade torna-se novamente fria
e as estátuas imóveis em seus lugares. Menos as da Santos Andrade.
Menos o estômago vazio dos que têm fome, apressados em dormir e não morrer na
madrugada. Estes tantos que são necessários a oferecer suas vidas... miseráveis e
bonitas... para se fabricar um maldito publicitário
Este é o momento em que entra a trilha sonora triste e bonita. Eu caminho para fora dos
limites, até alcançar os eucaliptos. E é onde me encontro agora, defronte para este imenso
pinheiro que sempre retorna em meus sonhos. Nós dois imóveis, frente a frente, banhados
à luz da lua
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Meditações em Catástrofes ou Sonhei que Parei um Trem com meu Soutien
E apenas ficamos assim, sabendo que tudo isso sempre foi, é e será completamente uma
coisa só, todo o tempo... Todo o tempo
FIM
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