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vol.

22
Edição de Outubro Rosa ref.Setembro

JORNAL MENTE ATIVA

@jornalmenteativa @coletivomao
vol. 22
Edição de Outubro Rosa ref.Setembro

Editorial
Somos um coletivo de mulheres. Escrevemos para expressar nossos sentimentos
mais profundos. Cada uma com a sua razão para escrever, mas todas unidas por
um elo comum: dar voz ao que consideramos importante.

Neste mês de outubro, evidenciamos o racismo enraizado na nossa sociedade e


os altos índices de suicídio entre a população jovem e negra. Se faz urgente
falar sobre saúde mental. Procurar ajuda é fundamental.

E nada melhor do que a poesia, que nos atravessa e instiga, para falar de temas
profundos: a arte que cura, como se tornar inteira numa sociedade que nos
dilacera, como equilibrar a lucidez e a rebelião. A poesia que acomoda e
equilibra nosso ser.

Temos uma ótima indicação de filme com a temática Queer e suas


possibilidades de relação. Também é possível aprender sobre o poder da
comunicação.

Desejamos que o jornal Mente Ativa chegue até você e te faça pensar, refletir,
repensar.

“O meu texto é um lugar onde as mulheres se sentem em casa” a escritora


Conceição Evaristo.

Boa leitura! Joseane Canova.

Jornal Mente Ativa


Edição de Outubro vol. 22
ref.Setembro

Isabete Fagundes Almeida, de Porto Alegre -RS. Formação superior em


pedagogia na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS) e pós graduada em Neuropsicopedagogia. Poetisa, coordenadora
do grupo Haja Luz – Acervo Cultural Afrodescendente, promotora em
saúde da população. Autora do livro: Passeio Poético, editora Agbara
edições 2020 e Abrindo o Baú, editora INDE, 2021.

Pedaços de mim

Sentada na frente do médico com o laudo na mão e os olhos cheios de


lágrimas, Marta estava desesperada.
_ porque eu dr.? Meu Deus! Porque eu?
_Vamos fazer todos os procedimentos necessários, mas a cirurgia conservadora
com a retirada de uma parte do órgão afetado é inevitável. Conclui o médico.
Chegou em casa aos prantos e desabafou com seu marido que ficou em
silêncio, sem reação, sem um abraço.
Começou ali a travar uma árdua luta solitária contra a doença que lhe tiraria
uma parte do corpo, afastou-a do trabalho e tirava suas energias. Mas seu
maior desafio não seria só a quimioterapia e a radioterapia e sim conviver com
julgamentos e preconceitos das pessoas que convivia ou encontrava pelo
caminho.
A queda dos cabelos, as marcas de cor vermelha delimitadas na pele para os
procedimentos, assustavam as pessoas que temiam pegar a doença. Aos poucos
foi deixando de visitar os parentes pois separavam os pratos e talheres que ela
usava até o lado do sofá que sentava era esterilizado.
Rodeada de toda essa ignorância sobre a doença quando o médico marcou a
cirurgia, muitos foram contra, acreditavam que operar seria a sua morte. Diante
da contrariedade dos familiares decidiu ir escondida para o hospital.
Depois do pós cirúrgico seu marido continuava indiferente e dizia que não
iria faltar o serviço para acompanhá-la nas consultas. E para piorar apareceu
outra doença, o Lúpus Eritematoso sistêmico, uma doença autoimune em que
as células do sistema imunológico atacam as estruturas saudáveis. Isto lhe
causava dores intensas. Não suportando mais a situação seu marido falou
_ Estou partindo, quero viver e não ficar dentro de uma casa vegetando até
você morrer, e foi embora.

@isabete.fagundes @jornalmenteativa @coletivomao

Jornal Mente Ativa


Edição de Outubro vol. 22
ref.Setembro

Isabete Fagundes Almeida, de Porto Alegre -RS. Formação superior em


pedagogia na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS) e pós graduada em Neuropsicopedagogia. Poetisa, coordenadora
do grupo Haja Luz – Acervo Cultural Afrodescendente, promotora em
saúde da população. Autora do livro: Passeio Poético, editora Agbara
edições 2020 e Abrindo o Baú, editora INDE, 2021.

A depressão tomou conta dos seus dias. Restaram muitas consultas com
psicólogos e psiquiatras e com a ajuda de poucos amigos começou a reagir.
Começou a pesquisar e estudar tudo sobre a doença para enfrentá-la e como
estava afastada do emprego fez um curso de técnico em enfermagem. Quando
retornou ao mercado de trabalho, vitoriosa por vencer um câncer de mama,
tornou-se também voluntária para conscientizar as pessoas da importância do
autocuidado, da prevenção e dos preconceitos que ainda as pessoas têm com
os doentes. A caminhada de superação de Marta e de tantas outras mulheres
vitoriosas é um exemplo de coragem, força e determinação em viver.
Um toque pode mudar sua vida! O diagnóstico precoce do câncer de mama
aumenta as possibilidades de cura.

@isabete.fagundes @jornalmenteativa @coletivomao

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Edição de Outubro vol. 22
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Joseane Canova - Educadora Física de Formação. Mestre Reiki,


Leitora de Registros Akáshicos. Escritora, Mediadora de
Leitura. Dois livros infantis publicados: A Menina Colorida e
O Menino Vulcão.

Eu sou feita
De todos meus fracassos
Tropeços
Erros
De todos os nãos que já recebi
De todas as portas que se fecharam
De tudo que eu pensei querer e desisti
Eu sou feita de todas metamorfoses que já
me transformaram
De todas mortes e renascimentos que já
enfrentei
Eu sou feita de amor
Sangue
Suor
E lágrimas
Eu sou feita das minhas conquistas e derrotas
Sem tudo isso eu jamais teria me tornado tudo
que sou
E para ser completa preciso aceitar e integrar
cada uma das minhas infinitas partes.

@joseanecanova @jornalmenteativa @coletivomao

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Edição de Outubro vol. 22
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Maria Silva,
Assistente social, reikiana, pós graduação Gestão em Serviço
Social e Projetos Social. Pós em andamento: História da
Cultura Afro-brasileira

“Eu prometo ser fiel à minha essência. Me amar, me respeitar, todos os dias da minha vida!“

Nos dias atuais, onde a sociedade impõe um padrão que a ser seguido,
direciona regras: quem terá mais privilégios, será mais aceito, será o ideal de
pessoa, estará acima das demais. As pessoas que não têm as características físicas,
não têm o mesmo poder aquisitivo, não atendem a mesma escala da normalidade
“instituída”, consequentemente são as mais discriminadas. Esta escala, que foi
muito bem construída desde o início das civilizações, devido a isto, estabeleceu os
padrões de sujeito, normal, ideal e superior a todos os outros. E esta dinâmica vem
sendo seguida pelo coletivo e toda a estrutura da sociedade.
Manter-se fiel ao propósito de ter amor-próprio, não se abater com normas
impostas, não é uma tarefa fácil. É um trabalho para fazermos continuamente.
Num país onde o racismo, o machismo, a intolerância religiosa, a invisibilidade das
pessoas com deficiência, entre outras situações de preconceitos, só fazem
aumentar as formas de opressões.
Permanecer imune é um desafio frente a tantos apelos de estabelecer quem
são os melhores. Esta visão foi estruturalmente constituída e permanece praticada
em todo o planeta Terra. É preciso muita força pessoal e coletiva, e não poupar
reforços, nos unirmos entre os iguais, os diferentes, estes com pensamentos que
busquem agregar e fortalecer as nossas lutas por igualdade de direitos.
Logo, lutar por esta causa, é preciso entender que não existe ninguém
superior a ninguém.

@laicirchagas @jornalmenteativa @coletivomao

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@jornalmenteativa
Edição de Outubro vol. 22
ref.Setembro

Simone Mello
poeta, formada em sociologia, profissão protética.
Integrante de coletivos e atuante nos movimentos sociais.

Lucidez

Quisera eu olhar
o mar, os rios, o lago
no afago das palavra
recitar poesia
cantar melodias
banhar-me na saudade

Quisera eu confessar meus erros


minha verdade
na minha melhor idade
ouvir o silêncio
escutar minha voz

Quisera eu em minha lucidez


provocar rebelião, gritar
agitar o coração

Quisera eu debater os fatos


Sem observar, o mundo
Sem observar meus atos

Quisera eu despertar pra vida


Na chegada ou na despedida
Escrever meus versos

Quisera eu.

@simonemello248 @simonemello @coletivomao

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@jornalmenteativa
Edição de Outubro vol. 22
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Luciana Tibúrcio
Poeta, Escritora e
Advogada Previdenciária

FIQUE
Sinta mais um pôr do sol Fique
a encharcar o céu
de arroxeados tons A vida baila à sua volta
em sopros amarelados
Ou então seu nascer de luzes renovadoras
pincelando pontos de luz
na escura densidade do nada Sinta

Fique Inunda sua alma


um infinito amor
Renasça e descubra no qual mergulhas
há sempre um novo dia
a te galantear sedutor Sorva-o em gotas
com as promessas do porvir sirva-o sem freios
tome-o em goles
Sinta esbanje-se
abunde-se
O desabrochar da flor do sorrir cure-se
que descortina das sombras viva-o
como a certeza do amanhã
Fique
Só por mais um dia sinta
suporte a infinita dor viva
que inunda sua alma diariamente
repetidamente
Colecione “só mais um dia” eternamente...
um após o outro
sem enumerar
Preencha com pigmentos
os fragmentos do que foi
cole com o que será
construa um o que será
Fique
Há ao seu lado
mãos sedentas
a enlaçarem as suas
Desanuvie seus olhos
os fitam profundo
os que te amparam
neste desesperançar
@lucianatiburcio @lucianatiburcio.oficial @coletivomao

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Edição de Outubro vol. 22
ref.Setembro

Mariana, sou professora de artes e assino as artes visuais como


Mariana Pimentas e textos como Mariana Delphino. Contadora de
histórias. Arteterapeuta e Mestra de Reiki. Monitora do Odisséia
Academy.
A Vertente

Nossas cores foram muitas vezes silenciadas;


Retidas pelo tempo de viver a vida útil.
Ao abrir a vertente saem aos borbotões...
Uma fala, a outra também
Cada uma no seu tom.
Enquanto uma traz luminosidade,
a outra fala de obscuridade,
da sombra,
do vão.
Da negação do direito puro e simples de expressar emoção,
mesmo sem garantias monetárias.
Na busca da liberdade de dizer sim ou não.
E afirmar a arte como profissão!
Dada a oportunidade ao trabalho realizado,
Uma conta da alegria
Já a outra convida ao perdão.
Uma expressa esperança e a outra compaixão.
Uma trilha linha extensa e contínua...
Outra vai pontuando, trasejando, sincopando a emoção.
As emoções se divertem, se convertem, se revestem do colorido
presente;
Que nasce do ventre do inconsciente coletivo e pessoal
Ganhando a consciência, tornam-se a consistência e fluência dos
sentimentos.
Fluem, transbordam, transformam, renovam e iluminam o viver.
A arte tem a humilde missão de ajudar a ver e sentir a vida.

@mariana_pimentas @jornalmenteativa @coletivomao

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@jornalmenteativa
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Mara Lenise Chagas da Silva - Psicóloga Clínica- Funcionária Pública


Municipal- Promotora de Saúde da População Negra do PMPA - Prefeitura
Municipal de Porto Alegre.
Idealizadora do Coletivo de Mulheres Pretas Negaativas
Idealizadora do Jornal Mente Ativa
Percursionista Grupo Afoxé às Yabás.

Saúde mental: É preciso falar, para desmistificar


Por muito tempo a saúde mental foi considerada um tabu.


E atualmente apesar dos estudos científicos, existem muitos preconceitos e
estigmas em torno da saúde mental, associados ao desequilíbrio ou à loucura.
Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 400 milhões de
pessoas no mundo são acometidas por doenças mentais ou transtornos
mentais. Desse modo verifica-se a amplitude e a importância em tratarmos
sobre esse tema.

Cuidar da saúde mental deveria ser tão importante quanto cuidar a saúde
física, pois as doenças físicas podem estar diretamente relacionadas ao
adoecimento psíquico. Transtornos mentais tais como depressão, ansiedade
entre outros são fatores de riscos que podem levar ao comportamento suicida.

O mês de setembro, caracterizado pela campanha Setembro Amarelo, traz


essa pauta a fim de conscientizar a população sobre a importância do cuidado
com a saúde mental e a prevenção ao suicídio.

Combater os preconceitos e estigmas relacionados a saúde mental é de suma


importância. Sendo assim possibilita a melhor compreensão das pessoas sobre
o tema, sobre si mesmas e estimulando-as a procurar ajuda de um
profissional quando percebem que é necessário. Além disso contribui para que
se estabeleça escuta e acolhimento sem julgamentos, bem como incentivo na
busca de tratamentos adequados, com isto evita-se agravamentos de
problemas de saúde mental e situações mais extremas como suicídio.
Logo, falar sobre saúde mental é a melhor solução.

@mara_lenise @maralenisechagas @coletivomao

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Edição de Outubro ref.Setembro

Waline Rosa Fornari,


Uma eterna aprendiz da Vida.
Bancária, designer gráfica do Jornal Mente Ativa entre
outros, mestra em reike e terapeuta apométrico(a).

A Rosa que ecoa em mim

sim eu sei...
porque nós somos a espiritualidade aqui, não há divisão isso é ilusão.

Há coisas que precisamos passar em nosso íntimo


Pois só lá encontramos as respostas.

Eu tenho que parar e escrever.

Preguiça!
Prefiro ouvir e me deliciar com cada pétala de canção que ecoa em meu coração.

Minha essência parece incógnita


mas ela é somente poesia
uma filosofia que poucos ainda conseguem ler
e assim poderem sentir.

Sei que aqui


podemos ser
e não somente ler.

Por isso me permito escrever.

Há pessoas e pessoas
mas poucas nos dão a liberdade de ser quem somos

o mundo julga os sábios como tolos


por se permitirem se abrir
para aquilo que não compreendem
mas sentem.

Me permiti postar
o que aqui fiz sem pensar.
Sentir é o combustível da alma

@waline.fornari @jornalmenteativa @coletivomao

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@jornalmenteativa
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Elisabete Floriano.
Poeta, escritora.

A FLOR

A flor solitária
A flor do amor
A flor da liberdade
A flor da paz

Carrega no seu coração


A flor da amizade

Há uma flor no seu jardim


É uma rosa branca ou amarela

Ou mesmo uma flor de jasmim

Toda a flor tem seu perfume


Tem sua cor

Há uma flor bela


Nem grande nem pequena
É uma flor singela

Que vejo da minha janela .

@margarida.versos @bethflor2011 @coletivomao

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Lê sisa
Agitadora cultural
Coletivo Mão
Arquivo Punk Rock do sul
Não vão abduzir ninguém

Eu tenho uns 70 anos aqui em cima dessa Terra?


Hoje era meu abraço de 30 anos que cuidaria a carência dela

Imagina mais 70
Aqui não tem medidor de carinho
Quem mediu perdeu tempo

não é nenhuma vida fora do comum que a curaria, era só


alguém comum com poder de afeto

meu abraço a acolheria e eles não ganham nem metade do


prazer que ela insiste em dar a alguém.

Se retire
Se reinvente
Remende o furo
Mas não entregue pouco
Sinta saudade de deixar doer de amor
Erre
Mas não a murche
Se é para caber no mundo dela só entre de cabeça erguida
Pronto
Lesisa0 @jornalmenteativa @coletivomao

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Rosemar Silva Niara


Produção e Multimídia IFRS
ssrosemar.wixsite.com/silva

Dica de Filme
ANNE+
Direção e roteiro: ValerieBisscheroux e
Hana Van vleit, Filme Holandês sobre a
temática LGBTQIAP+ de 2021.

Anne+ é uma película que nos convida ao mundo Queer e suas


possibilidades de relações.
A trama se desenvolve quando a protagonista se vê pressionada a
finalizar seu livro para mudar com a namorada para Montreal. Suas
dúvidas existenciais se potencializam com a mudança da namorada e
com a proposta do relacionamento poliamoroso.
Essas questões provocam um bloqueio em sua escrita. As lembranças
de vivências com os amigos em Amsterdã aumentam suas dúvidas do
que ela realmente quer. Ao conhecer Lou, uma Drag não-binária, que
tem muita clareza no que diz respeito as relações afetivas e existenciais,
provoca Anne a pensar o que ela busca para si e todas as perdas que ela
terá com essa mudança: o núcleo consolidado de amigos queer, a cidade
que lhe traz tantas lembranças de descobertas, além de se sentir
incomodada com o seu atual relacionamento.
No momento que sua namorada retorna para uma breve visita, os
sentimentos de Anne já estão mudados e ela consegue romper com o
silêncio, expondo o quanto essa relação lhe provoca desconforto e que
não quer mudar de cidade.
Esse desabafo deixa a protagonista em crise e ela vai se refugiar na
casa do pai, um homem que tem dificuldade de falar de sentimentos
desde a separação. Situação que é rompida com a chegada de Anne e
após uma breve discussão. Nesse momento conseguimos entender um
pouco mais sobre a personalidade da personagem e sua dificuldade de
comunicação, com a namorada e o bloqueio com a escrita – que tem por
proposta sua biografia.
O clímax do enredo – a crise existencial de Anne - abre a porta para
a fluidez da comunicação, e quando a fala se faz presente seu entorno e
interno começam a fazer sentindo.
Não darei spoiler do final - faço a provocação para assistirem ao filme e
tirarem suas conclusões.
Finalizo ressaltando a beleza, leveza e fraternidade do mundo queer
tirando esse universo da marginalidade.
@ssrosemar @jornalmenteativa @coletivomao

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