Você está na página 1de 71

TEXTOS

TABITA BRASIL
REVISÃO
ANGELA SILVA DE LIMA
CAPA, ILUSTRAÇÃO E PROJETO GRÁFICO

DEBORAH CÉLIA XAVIER


VETORES DA CAPA
FREEPIK

Todos os direitos da obra reservados a autora e a editora.


www.editoraabelhas.com
@editoraabelhas
Dedicado a Adriel, meu amor que não soltou a minha mão em nenhum
momento.
A luta contra a depressão é sobre fazer
um pouquinho todo dia, não parar e, se parar,
recomeçar quantas vezes for preciso.
Querida pessoa, fico feliz em saber que você está lendo essa carta!
Há mais de 10 anos luto contra um inimigo “invisível” chamado Depressão. Meu objetivo é dizer que você não
está só, quero poder ser um afago em meio a dor.
Te escrevo essa carta do ponto de vista de alguém que também sofre, que entende, que assim como você, está
passando por um momento difícil, minha intenção é validar seus sentimentos, dizer que você não está só, que o que
você está sentindo é real, é válido, é importante.
Sinta-se abraçado enquanto lê essas palavras, que você sinta meu carinho e empatia por tudo o que você vem
passando.
Apresentação

Aos 30 anos comecei a sonhar com a carreira de escritora, já tenho alguns livros escritos: outra carta, um
romance, um conto em homenagem a minha falecida avó e um outro livro de não ficção, mas, por questões de baixa
autoestima e síndrome do impostor, ainda não consegui publicar. Aliás, essa carta é o primeiro trabalho profissional
e tem sido um processo intenso de luta contra os meus medos.
Dizem que a forma mais eficaz de superar o medo é o encarando, o medo de publicar me paralisou por muito
tempo.
Começar minha carreira de escritora escrevendo uma carta a uma pessoa com depressão é uma forma
significativa de enfrentar o medo, porque enquanto escrevo sobre esse assunto no intuito de ajudar, também sou
ajudada. Saber que minhas palavras poderão fazer sentido na vida de alguém me dá coragem de expor meus
sentimentos, porque sei que se eu conseguir tocar alguém já vai ter valido a pena.
Eu também, na minha humilde utopia, sonho com o dia em que as pessoas falarão sobre suas emoções sem
nenhum medo, sonho com o dia em que será normal falar sobre sentimentos, emoções, frustrações e medos.
Sonho com o dia em que seremos mais livres para desabafar, conversar sobre nossas angústias, receber e dar
acolhimento ao nosso próximo de maneira empática e solidária.
Eu te convido a voltar a pensar em seus sonhos, imaginar formas de trazer significado aos desejos do seu
coração.
Uma dica: se o seu sonho puder ajudar alguém de alguma forma, já é meio caminho andado para sua
concretização, porque boa parte de nossa cura está em ajudar outras pessoas a serem curadas. Nunca é tarde para
ressignificar e realizar os nossos sonhos.
Olha eu daqui me arriscando…
Sumário

Apresentação

PARTE I
A Carta
Sinta-Se Abraçado
Os Estágios
- Tabita, Você Precisa Se Tratar
Carta A Minha Psicóloga

PARTE II
A importância da validação emocional
Com quantos anosestamos prontos?
As feridas que ninguém vê
Sofrimento do corpoou da alma
Dia das mães

PARTE III
O novo normal
Autocompaixão
Autossabotagem
Desabafo
Baixa autoestima e isolamento
A arte como ferramenta
Escapismo
A fuga da realidade
Contentamento
Letargiatexto/desabafo escrito pela autora em um dia difícil.
Com que roupa?
Família
Tia-avó
*Oração de uma pessoaem depressão*

PARTE IV
O caminho para a cura
Porque uma árvore de ipê?
Minhas pétalas
Caminhos
Setembro

PARTE V
A cura
Um pouco por alguém
Útil para os outros
Útil para você
*Madrugada de15 de junho de 2020*
O valor das pequenas conquistas
Perdão
Te perdoei
Final
A cura para a depressão
Ressignificar
Votos para alguém em depressão
Agradecimentos
Sobre a autora
A CARTA

Ainda consigo lembrar do dia em que olhei pela janela e vi que estava anoitecendo. Eu devia ter uns seis, sete
anos no máximo, era verão no Rio de Janeiro e mais uma vez eu estava sentindo uma coisa muito ruim.
Era uma infância pobre de recursos financeiros e as crianças da rua formavam uma verdadeira grande família.
Havia uma espécie de acordo entre as mães do bairro do Éden, muitas delas entregavam seus filhos aos cuidados da
Tia Cláudia, que sabia alfabetizar, ensinar as coisas da vida e, de quebra, ainda educava afetivamente seus filhos do
coração.
Dona Cláudia é minha mãe, ela dava aula de reforço escolar às crianças vizinhas desde os seus 15 anos de idade.
Minha casa sempre foi cheia de crianças que, em algum momento, foram alunas de minha mãe e acabavam se
agregando a nossa família. Até hoje é estranho pensar que algumas pessoas de minha vida não têm laços sanguíneos
comigo, porque fomos criados juntos no nosso quintal e pelas ruas da Bacia do Éden. (Nome da comunidade onde
fui criada)
Nesse dia específico em que vi o anoitecer pela janela, nosso quintal estava cheio de crianças correndo. Me
recordo de que era uma brincadeira bem competitiva entre Téo, Victor, “Macarrão”, “Buiú”, Allana, Jessé, Ellen,
Talita e Talitinha (esses são alguns de meus irmãos e primos, de sangue ou não).
De dentro de casa eu ouvia os gritos animados das crianças no quintal, mas… eu estava sozinha, longe de todos e
sentindo a coisa ruim.
Tenho a impressão de que quase consigo voltar no tempo e ver aquela menina tão nova, se privando de se divertir
com as outras crianças, eu ainda consigo lembrar exatamente o que ela sentia: dor… solidão… desânimo e uma
pitada de falta de esperança de que a coisa ruim fosse embora do seu peito.
Eu não tinha para quem contar, na verdade, eu nem sabia o que era, mas eu percebi nesse dia que tinha alguma
coisa errada comigo.
O comportamento de me privar de viver coisas boas me acompanhou durante a adolescência e a fase adulta. Mas
calma. Eu só entendi que me comportava dessa maneira porque eu não me achava merecedora de ser feliz, e só
descobri isso após muito tempo de terapia, não foi um processo rápido e fácil, mas sem dúvidas valeu a pena
entender como minhas emoções funcionam pra eu conseguir dar nome a coisa ruim que eu sentia.
O que eu não conseguia explicar tem nome, e se chama Depressão.
Muito prazer, eu me chamo Tabita Brasil, estou em depressão e tudo o que eu queria ler em um livro tentarei
escrever aqui, nesta carta para você.
SINTA-SE ABRAÇADO

Venho por meio desta, carinhosamente, conversar com você que em algum momento da vida se encontrou com a
dor.
A dor da alma, a angústia existencial. Quero dizer primeiramente para você que a depressão é uma condição
humana que TODAS AS PESSOAS estão suscetíveis a viver! Todos nós estamos sujeitos a encontrar com a dor em
algum momento da vida.
Essa doença não é frescura, não é preguiça ou falta de Deus. Não é fraqueza e tão pouco acontece de maneira
igual para todo mundo. Cada pessoa é única e às vezes a maneira como dói em mim é diferente da maneira como dói
em você e nos outros.
E tá tudo bem ter sintomas diferentes dos meus, ou em intensidades dissemelhantes, pois a psiquê humana é
minuciosamente individual e só você sabe o quanto tem sido difícil e desgastante esse processo.
Eu respeito sua dor.
O mais importante nessa carta é eu dizer a você que a depressão é uma doença que tem tratamento, e que tem
CURA. Existem bons profissionais que podem nos ajudar a passar por esse momento e, por mais difícil que seja, eu
tenho certeza de que um dia vai ficar tudo bem comigo e com você.
Nós vamos sair dessa! Digo sair porque a depressão não é uma vida. Ela é um instante, um momento.
Você NÃO é a depressão, e tenho certeza de que sairá dessa fase difícil.
Essa carta também é direcionada a pessoas que não têm depressão, mas que estão lidando com um amigo ou
familiar deprimido, e que desejam conhecer mais a fundo esse adoecimento das emoções para poder ajudar mais
especificamente quem se ama.
Não tenho nenhuma formação na área da saúde emocional, essa carta é escrita do ponto de vista de quem sofre,
de uma mulher que sentiu na própria pele a angústia que é deprimir.
Gostaria de ressaltar rigorosamente que uma pessoa em depressão precisa de suporte médico. É também
indiscutível a importância do acompanhamento com especialistas, como psicólogos e outros profissionais da saúde
competentes quanto às emoções.
A busca por bons profissionais da área é o primeiro e mais valioso passo para a cura.
Às vezes penso que uma das maiores dificuldades para a pessoa em depressão talvez seja exatamente o fato de
que não temos muito conhecimento sobre o assunto. Antes de eu ter um diagnóstico, eu passava muito mal e não
conseguia explicar com palavras o que estava sentindo. Era difícil dizer, por exemplo, ao meu namorado, o porquê
que eu chorava copiosamente “sem motivos”.
Eu não conseguia, por exemplo, me manter muito tempo em convívio social e era extremamente difícil descrever
isso ao meu chefe. Como eu explicaria as minhas amigas que eu não conseguia responder as mensagens que elas me
mandavam?
Não aguentava mais sentir aquilo e quando eu conseguia falar sobre o assunto, as pessoas não entendiam quão
profundos eram a dor e o desgaste.
É por isso que estou aqui, para dizer que eu entendo a sua dor. O que você sente é real, você não está inventando
ou querendo chamar atenção. Você não precisa e não deve passar por isso sozinho.
Desejo que você sinta-se abraçado por essas palavras, e repito que tem tratamento e tem CURA para essa
angústia.
OS ESTÁGIOS

A Geografia chama de depressão quando o relevo de um lugar é mais baixo do que as outras superfícies a sua
volta; assim podemos comparar a chegada da depressão na vida de uma pessoa. Nem sempre teremos todos os
sintomas, mas, de maneira geral, podemos encontrar sentimentos como:

Apatia
Tristeza recorrente
Não ter esperança de que coisas boas podem vir
Baixa autoestima
Sentimento de culpa
Perda de energia e vitalidade para as atividades corriqueiras
Cansaço frequente
Perda de interesse em atividades que antes gostava de realizar
É possível também identificar sintomas físicos como:
Insônia ou dormir em excesso
Perda ou ganho de peso
Tensão na nuca e nos ombros
Dores

Esses são alguns sintomas gerais, mas eu gosto de comparar esse processo com os estágios do luto.
No meu caso havia primeiramente a ignorância de não conhecer os sintomas, por vezes fui chamada de
preguiçosa e desleixada. Eu não sabia que isso era sintoma de uma doença, e nem que um psicólogo poderia me
ajudar.
Quando aceitei e fui à terapia, entrei em um processo longo de aceitação.
Dizem que o primeiro estágio de um luto é a negação, depois vem a raiva, a barganha, a tristeza, até chegar na
aceitação. Foi difícil aceitar e entender que eu não conseguiria sair daquele quadro sozinha, sentia raiva do psicólogo
e até mesmo de mim por estar naquele estado.
Depois disso, comecei o tratamento de fato, com uma outra profissional com o qual eu tive mais identificação, e
experimentei altos e baixos que vou contando para você ao longo dessa carta.
Eu não sei em qual estágio você está, mas quero te dizer que a doença não se cura da noite para o dia, leva um
tempo e dá trabalho, mas vale muito a pena colher os frutos da superação.
- TABITA, VOCÊ PRECISA SE TRATAR

Eu devia ter uns 18 anos quando me falaram pela primeira vez que eu precisava ir ao psicólogo, e isso foi um
choque, pois no lugar onde me criei a gente não tinha acesso a psicólogos. No meu bairro, quando alguém tinha um
problema, a solução era única: arrumar um trabalho ou lavar uma pia de louça que tudo se “resolveria”.
Psicólogo para nós era coisa de rico e, além disso, se tinha a ideia de que quem precisava de ajuda era fraco. Na
nossa ignorância, só um perdedor ou um rico poderia se dar ao luxo de suspender a vida por alguns instantes para
conversar com um psicólogo. Mas às vezes penso que a depressão pode vir exatamente nesse sentido de suspender a
maneira como estamos vivendo.
Atualmente estamos tão acelerados com tantas demandas da vida moderna que esquecemos da necessidade de
cuidar dos nossos sentimentos e da nossa humanidade.
Talvez, num primeiro momento, é possível que a depressão tenha esse papel de fazer a gente parar a correria
insana e lembrar que somos seres humanos dotados de emoções, afeições e sensibilidades, e que não adianta ignorar
essas nuances emocionais que se perdem em meio às obrigações do cotidiano.
Evitar falar sobre isso não resolve o problema, só adia o inevitável encontro com nossas sombras.
Parar de fazer as coisas dos outros, para os outros. Parar de viver para o trabalho, ou seja lá o que for, e entender
que para cuidar de alguém, primeiro a gente tem que estar bem, e infelizmente a gente só aprende isso da pior
maneira. É preciso vir uma doença para nos paralisar, até aprendermos a cuidar da única pessoa que estará com a
gente até o final da vida: nós mesmos.
O primeiro passo para a cura talvez seja superar a negação, pelo menos para mim foi assim. Aceitar que eu
precisava parar, que eu estava doente, que eu precisava enfrentar aquelas emoções, pedir ajuda profissional e
enfrentar meus dragões internos, começar a entender e dar nomes às coisas que eu sentia e que me paralisavam.
Essa fase foi desafiadora. Alguém me dizer que eu precisava de um psicólogo ou um psiquiatra me soava como
ofensa, mas hoje eu sou uma entusiasta da terapia e, sempre que posso, falo dos benefícios de parar um pouco para
cuidar de nossas emoções, independente se há uma doença ou não. Cuidar da mente é tão ou mais importante do que
cuidar do corpo, porém, em casos de depressão, a terapia é fundamental.
Gostaria de chamar sua atenção para o momento da escolha dos profissionais que irão te acompanhar nessa
jornada. Existem em todas as profissões o bom e o mau profissional; além disso, existe aquele que a gente sente
mais afinidade, mais segurança e conforto. O tratamento para depressão precisa ser feito com aquele profissional
com quem você se sente seguro.
Existem diferentes tipos de abordagens psicológicas e é muito interessante porque, assim como cada paciente é
único, com suas características e individualidades, o terapeuta também tem suas distintas peculiaridades. Então não
tenha receio de consultar um outro profissional, ou de trocar de terapeuta caso sinta essa necessidade.
Eu mesma já passei por diferentes especialistas e me identifiquei mais com um ou com outro, até encontrar
minha psicóloga querida, que é minha companhia permanente nessa jornada em busca da cura.
Laura é um presente da vida para mim, mas vamos falar dela mais à frente, agora gostaria de contar a você sobre
um bom médico.
Fiz análise por um tempo, quando minha psicóloga identificou que eu precisava passar por um psiquiatra para a
possibilidade de uma medicação que me ajudaria a atravessar os momentos difíceis com mais conforto. Se ir ao
psicólogo já era um desafio, imagine quando eu ouvi que precisava de um psiquiatra!
Entrei em negação, foi difícil, passei por alguns médicos com os quais não me identifiquei, mas (aqui está o
segredo) nunca me cansei, até encontrar um médico que realmente tivesse a sensibilidade de ouvir meus sintomas,
fazer perguntas nas quais ele realmente estivesse interessado na resposta, e respeitasse também as minhas opiniões
sobre o tratamento. Saiba que bons profissionais podem salvar a sua vida!
Tive a felicidade de encontrar a Laura, minha psicóloga e aqui vai uma carta que nunca chegou às mãos dela,
mas senti no coração de transcrever para te incentivar a nunca desistir de procurar bons profissionais nessa jornada.
CARTA A MINHA PSICÓLOGA

No jardim da vida, por diversas vezes cogitei cortar o mal pela raiz. Graças a Deus, o sol reapareceu todos os dias
pelas manhãs e, ao seu tempo, as estações me davam o que eu precisava.
O verão escaldante fez com que minhas pétalas queimassem ardentemente, e foi difícil sentir cada chama
destruindo as poucas flores que havia em mim.
O outono chegou sem piedade, para secar e jogar ao chão as poucas folhas que ainda restavam em meu tronco.
O inverno veio trazendo o frio, medo e solidão.
Ver o meu quintal vazio, apático e sem forças para lutar indicava que estava chegando o fim.
Na terra que já estava seca, você depositou uma semente, na primeira consulta acreditou no que eu dizia,
legitimou minhas emoções e as regou com compreensão nesse terreno quase morto do meu coração.
Com a chegada da primavera, voltei a dar discretas flores, você teve participação nisso.
Sua empatia e generosidade fizeram toda a diferença.
Logo o verão retornou, e, depois dele, as outras estações refizeram o processo de tratamento do solo. Foi muito
difícil, muito mesmo. Às vezes a gente pensa que já não tem mais como sofrer e é surpreendido por dores maiores, o
fim parece inevitável.
Os ventos, quando são maus, nos decepam, mas é inacreditável como sempre existe um furacão mais forte que
pode nos arrancar pela raiz. Sinto que, por alguns instantes, minhas raízes foram arrancadas. Ventou muito forte,
ficou só um pedacinho quase invisível de mim.
Novamente a primavera chegou para tentar florear meu canteiro.
O trabalho era duro:
Aduba a terra, joga mais semente, rega, espera, vem chuva, vem sol, as semanas passaram e um novo brotinho
apareceu.
Esperança!
Às vezes tenho a sensação que as outras estações são mais intensas do que a primavera. No verão faz calor
demais, no outono tudo fica letárgico, o inverno é rigoroso, mas a primavera é lenta, chega aos pouquinhos, demora
a se instalar. Sinto que quando finalmente estou brotando, a boa estação acaba e o ciclo recomeça. Mas, sabe…
percebi que cada primavera meu jardim fica um tantinho mais bonito.
As flores discretas do ano retrasado foram substituídas por flores um pouco mais firmes, com as cores mais
vibrantes. No ano passado, o jardim ainda tinha uma aparência desfalcada, qualquer um que o admirasse perceberia
que estava em reconstrução.
Hoje ainda há uns bons ajustes a serem feitos, mas já dá pra ver certa… beleza!
Mais do que isso, a certeza de que, por mais difíceis que sejam as próximas estações, a primavera vai voltar, e
pouco a pouco o jardim ganhará forma até se tornar deslumbrante e lindo, e florido para, depois - no próximo
inverno - ser destroçado novamente e reconstruído mais uma vez, porque as estações são cíclicas, mas a planta vai
ficando mais forte, mais resistente, a cada ano que passa. Ela sabe que na dificuldade pode contar com o jardineiro.
Você é a primavera, Laura!
Você é a flor e a jardineira, e essa carta é um agradecimento.
Obrigada por conduzir com tanta sensibilidade o meu projeto de jardinagem. Desejo profundamente que a vida
lhe recompense o amor depositado neste trabalho.
Quanto a mim, bom… humildemente sonho com o dia em que vou conseguir plantar sementes e regar outros
jardins. É o meu sonho e, quando eu realizar, saiba que você é co-participante das flores que minha história irá
semear nos jardins de outras vidas, porque é isso que você faz:
Você salva vidas!
Gratidão.
A IMPORTÂNCIA DA
VALIDAÇÃO EMOCIONAL

Essa carta tem também o objetivo de trazer a você a Validação Emocional, reconhecer o que outra pessoa está
sentindo.
Às vezes nossos pensamentos ficam confusos e, por vezes, não sabemos dar nome ao que estamos sentindo.
Nesses momentos de dúvidas, é bom ter alguém que valide, que torne legítima nossa dor, e essa carta é uma maneira
empática de dizer que sua dor é real, seus sentimentos são legítimos e precisam ser respeitados. Nada melhor do que
se cercar de pessoas que compreendem e respeitam o que você sente, sem querer diminuir seus sentimentos.
Respeito é tudo o que nós precisamos.
Primeiro nosso próprio respeito, em reconhecer que precisamos de ajuda, e, em seguida, o respeito dos
profissionais que trabalham com a gente, nossa família e amigos.
A depressão não vai durar para sempre, mas, enquanto ela ainda estiver dentro de nós, precisamos de cuidados,
aceitação e amabilidade.
Receber esse respeito tem resultado impressionante, porque ele tem o poder de diminuir um pouco a inquietude
que estamos sentindo e trazer conforto em meio a tantos incômodos.
A pessoa que compartilha a vida conosco pode até não entender a nossa dor, mas ela respeita, acata e valida
nossas emoções.
A depressão não escolhe raça, gênero, status social e nem idade.
Quero te contar um pouco sobre isso…
COM QUANTOS ANOS
ESTAMOS PRONTOS?

Fecho os olhos e me vejo no dia do meu aniversário de 20 anos!


Todo dia sete de janeiro deveria ser um dia feliz pelo fato de eu estar comemorando mais uma primavera, porém,
em 2010 não foi assim.
Eu estava no trabalho e minha diretora, ao me dar os parabéns pelo aniversário, percebeu que eu estava um pouco
para baixo. Ela falava sobre as maravilhas dos vinte anos e da saudade que ela tinha dessa idade, ainda tenho a
imagem nítida dela sorrindo, me falando para animar porque aquela era a melhor idade da vida.
Eu não consegui disfarçar a tristeza, e minha chefe, sem cerimônias, me mandou “parar de palhaçada”.
Esse dia me marcou bastante!
Antes, na adolescência, por volta dos 12, 13 anos tive a tolice de planejar minha vida como se eu pudesse
controlar os acontecimentos dos anos seguintes.
Planejei minuciosamente que:

Aos 18 eu entraria na faculdade dos sonhos,


Por volta dos 20 conheceria o amor da minha vida,
Aos 22 me formaria na universidade,
Aos 23 casaria,
Com 24 terminaria minha pós graduação,
Aos 25 teria o primeiro filho.

Depois viriam o mestrado, o doutorado, mais uma criança, o sucesso profissional, as crianças cresceriam, se
casariam, me dariam netos e eu curtiria a aposentadoria viajando pelo mundo com meu marido.
É interessante a inocência com que eu enxergava o futuro, sem levar em consideração os percalços, contratempos
e as muitas voltas que a vida pode dar ao longo do percurso. Tentar controlar os acontecimentos de nossa existência
só traz ansiedade, frustração e coopera também para a depressão.
Infelizmente, fui taxativa em acreditar que eu conseguiria cumprir todas as etapas. O fato é que, para mim, a vida
já estava traçada e (nos meus sonhos) eu seria muito feliz seguindo rigorosamente todos esses passos.
Acreditei tanto nisso que aos 20 anos me vi em depressão, não fazia mais sentido continuar fazendo aniversário
já que minha vida havia “saído dos trilhos” e, em meu pensamento rígido, não existiam possibilidades de eu ser feliz
fora do que eu havia planejado.
Eu era severa comigo, e essa inflexibilidade me trouxe muito sofrimento nos anos seguintes.
A cobrança por seguir o roteiro perfeito para minha vida trouxe a frustração e, até hoje, às vezes, me sinto no
caminho errado por não estar cumprindo o script que estabeleci quando eu achava que tinha o controle dos
acontecimentos na minha vida. Mas vamos voltar a falar do nosso assunto principal dessa carta para você.
AS FERIDAS QUE NINGUÉM VÊ

SENTINDO NA PELE
Eu tenho depressão diagnosticada há mais de dez anos. Queria dizer a você que sei de verdade o quanto pode ser
difícil essa caminhada rumo à cura. Eu sei o que é ver sua energia ir embora e não ter ânimo pra realizar nenhuma
tarefa.
Eu sei o que é ter crise de choro em momentos inapropriados, eu sei o que é ter uma crise depressiva e não
conseguir explicar às pessoas exatamente o que está sentindo. Sei o quanto pode ser desanimadora a sensação de
quando a gente desabafa com alguém e essa pessoa (por mais que tenha boa intenção) não consegue compreender o
que sentimos.
Infelizmente, ainda existem aqueles velhos pensamentos de que a pessoa consegue sair desse estado de desânimo
profundo só com força de vontade, ou de que estamos com preguiça, frescura ou até mesmo “falta de Deus”.
É difícil não encontrar compreensão, e sei bem como algumas palavras de “ânimo”, ao invés de nos ajudarem,
funcionam como um soco no estômago.

PALAVRAS DOCES QUE AMARGAM


“Todo mundo tem problemas!”
Esse é o exemplo de frases que desestimulam conversar sobre o assunto. Nós sabemos que todo mundo tem
problemas, mas dizer isso para uma pessoa em depressão não alivia a dor.
Vamos conversar mais sobre isso…
Recentemente ouvi uma expressão que achei interessante: Positividade Tóxica.
Me chamou a atenção, pois como a positividade pode ser ruim?
Me aprofundei no assunto e percebi que muitos de nós (que temos depressão) lidamos com essa situação.
Na boa intenção de ajudar, muitas pessoas que convivem conosco acabam por dizer frases prontas, que às vezes
podem magoar bastante quem já está sofrendo. Essas frases são realmente positivas e, num contexto fora da doença,
podem até animar, levantar o humor de quem está num dia ruim. Não é o caso de quem lida com a depressão!
Algumas frases, por mais bem intencionadas, podem causar profundo incômodo para quem as escuta num
momento de crise depressiva.
Vamos dar alguns exemplos de Positividade Tóxica e falar um pouco sobre eles:
— DEPRESSÃO É FRESCURA.
A depressão é uma enfermidade “invisível”; escrevo entre aspas porque o diagnóstico da depressão não aparece
em exames de imagem ou exames de sangue, nem em outra comprovação palpável. Por não ter essa comprovação
física, muitas pessoas têm dificuldade de entender que a doença realmente existe, mas ela é real, e, infelizmente,
cada vez mais comum entre os seres humanos. Depressão não é frescura, é uma doença séria, a qual o paciente
precisa receber o tratamento médico e terapêutico, além de amor, validação e respeito.
Se você está passando por essa enfermidade e ninguém a sua volta o compreende, eu estou aqui, com todo meu
amor, olhando nos seus olhos e dizendo que o que você sente é real, que você não está sozinho, e que vai ficar tudo
bem! Sinta-se abraçado por mim, sinta suas emoções sendo validadas. Procure ajuda psicológica e tenho certeza que
vamos superar essa doença juntos.
— VOCÊ PRECISA REAGIR.
Levante a mão quem nunca ouviu essa frase num momento de melancolia. A pessoa que está em depressão SABE
que precisa reagir, ela não precisa que alguém lhe diga isso. O que ela precisa é de energia, ânimo e, por vezes, esse
ânimo precisa ser incentivado pelo uso de medicamentos específicos que só um médico pode prescrever. Se
pudéssemos, responderíamos a essa frase: - Eu sei que preciso reagir, já tentei inúmeras vezes, mas eu percebi que
não consigo mais sozinha. Por favor, me ajude, me compreenda. Se fosse fácil, eu já teria feito.
— VOCÊ TEM QUE SER FORTE.
Há quem ainda pense que depressão é sinal de fraqueza, talvez por ignorância, ou por nunca ter tido um quadro
depressivo.
Dizem os mais sábios que, na verdade, passar pela depressão é exatamente um sinal de força, é a prova viva de
que a pessoa luta e vence diariamente a angústia e continua o tratamento a caminho da cura.
(Gosto de pensar na depressão como um caminho. Se eu pudesse dar um sinônimo para a palavra seria: percurso!
A depressão é o intervalo entre o diagnóstico e a cura, é a trilha da superação. O período depressivo é o espaço entre
a antiga vida e a Nova Vida! Todas as pessoas que trilham essa jornada chegam ao final infinitamente melhores do
que entraram. Saem mais fortes, mais confiantes, mais sensíveis, empáticos... Acredito fortemente que se tornam
pessoas aptas a ajudar outras a saírem desse estado.)
— VOCÊ PRECISA APRENDER A CONTROLAR SEUS SENTIMENTOS.
Voltando a falar sobre frases que funcionam como Positividade Tóxica em casos de depressão, essa talvez seja
uma das mais duras de ouvir.
Se você já escutou essa frase quero dizer que sinto muito que tenha passado por isso, é preciso ter uma boa dose
de autocontrole para não dar uma resposta mal educada a esse tipo de comentário. Se as pessoas soubessem o quanto
nos controlamos, o quanto lutamos, jamais falariam algo do tipo. A verdade é que, mesmo em meio a nossa
angústia, precisamos relevar comentários ignorantes porque, na maioria das vezes, a intenção é boa; porém, sempre
que for possível, a gente precisa explicar para as pessoas que não é tão simples. Se fosse, já teríamos aprendido a
controlar nossas emoções.
— DEPRESSÃO É FALTA DE DEUS
Definitivamente a depressão NÃO é falta de Deus! Assim como a osteoporose não é falta de Deus, a
hipertensão não é falta de Deus etc.
Se uma pessoa tem alguma doença nos ossos, ela procura o ortopedista. Se tem alguma doença no coração,
procura o cardiologista. Se há um problema em sua psique, ela precisa procurar um psicólogo, um psiquiatra, o
neurologista etc. A ajuda espiritual (para quem se sente confortável com ela) é bem-vinda no tratamento de todas as
doenças, mas nunca podemos abandonar o tratamento médico, porque uma coisa completa a outra. Para quem tem
fé, o acompanhamento espiritual é um excelente apoio, mas precisa caminhar junto ao acompanhamento terapêutico.
Um completa o outro.
Acredito que a depressão é uma doença que tem muitas facetas, ela pode ser a soma de questões biológicas,
sociais, comportamentais, hereditárias etc. Não é possível padronizar um tratamento porque cada pessoa tem seus
motivos e seu tempo de resposta à terapia.
SOFRIMENTO DO CORPO
OU DA ALMA

Estou cada dia mais convencida de que a depressão (embora também se manifeste no corpo) é uma doença da
alma, da psique humana e, apesar de eu não professar nenhuma religião, a cada dia acredito mais que a vida não
acaba quando o coração para de bater.
Eu respeito quem pensa diferente, e por vezes também flerto com o ateísmo, mas pessoalmente não consigo
acreditar que quando se morre, acaba-se tudo.
O que acontece no pós morte eu não sei, mas é difícil pensar que tudo se acaba com o finamento do corpo.
A dor da depressão dói na alma, no espírito, pelo menos eu sinto assim. Todo setembro fazemos campanha a
favor da vida e eu realmente acredito que ‘’dar um fim’’ ao corpo não resolve a dor da depressão, porque eu hoje
considero que existe uma consciência para além do corpo físico. Seguindo esse raciocínio, afirmo que matar o corpo
não aliviaria a dor da alma, pois a vida, de alguma maneira, me parece que continua.
DIA DAS MÃES
Texto escrito pela autora no Dia das Mães, após a homenagem escolar de
sua filha.

Houve uma época em que eu me sentia tão inútil, que pensava não haver diferença se eu estivesse ou não por
aqui, nessa vida.
Conversei sobre isso com minha psicóloga, e ela me disse que um dia, no futuro, a Maria Flor iria pra escola e
faria uma apresentação de Dia das Mães, e que naquele dia não haveria NINGUÉM que pudesse substituir minha
presença ali na plateia.
Desde então, todas as vezes que me sentia inútil, eu lembrava de que um dia minha filha procuraria meu rosto
enquanto estivesse se apresentando na escola.
Isso me ajudou a encontrar sentido nessa existência.
Hoje esse dia aconteceu, eu estive lá, e ela me procurou e ficou cantando, olhando para mim.
Eu não consigo tirar meus projetos do papel, tenho muitos sonhos e poucas possibilidades de realizá-los. Estou
inapta ao trabalho e só Deus sabe se um dia terei competência para tal.
Estou perdendo as batalhas contra a obesidade, enquanto a fibromialgia me impede de realizar tarefas simples do
cotidiano.
Tenho consciência de que não sou muito produtiva, na mesma medida que sei que estou fazendo o meu máximo.
Tomo cinco medicamentos diferentes para conseguir levantar da cama, mas hoje....
Hoje eu estava lá, no lugar que somente eu poderia ocupar.
A mãe da minha filha compareceu! A Maria Flor cantou olhando para a mãe dela, e eu estou muito feliz!
É isso....
O NOVO NORMAL

Escrevo essa carta entre maio e agosto de 2021, já faz mais de um ano que estamos vivendo a pandemia da
Covid-19, e oscilando entre períodos de isolamento e flexibilização social. Todas as pessoas estão tentando se
adaptar a essa nova realidade, e acredito que poucos estão lidando realmente bem com isso.
O Novo Normal é ter insegurança!
Insegurança pode ser um gatilho para desencadear períodos de tristeza recorrente.
Quem já tinha depressão antes da pandemia está enfrentando um desafio enorme para lidar com esse sentimento
global; quem nunca teve a doença talvez tenha experimentado alguns de seus sintomas, pois vivemos dias de
incertezas na saúde, na política e na economia. O mundo declarou guerra contra um vírus que até mesmo a
comunidade científica do MUNDO ainda não conhece bem.
Não foi fácil, a quarentena trouxe para nós momentos de silêncio, introspecção, convivência ininterrupta com as
pessoas com quem moramos e uma mudança de rotina nunca antes vivida em nossa geração.
Os períodos de isolamento colaboram para o quadro depressivo; o silêncio de nossos quartos e o calor de nossas
camas foram as companhias por longos períodos. Muitas pessoas que lidam com questões emocionais tiveram
dificuldades em retomar as atividades presenciais porque, trancado dentro do quarto, a gente tem a falsa sensação de
conforto social, ali a gente não decepciona ninguém, não incomoda ninguém, mas também não vive a vida real.
AUTOCOMPAIXÃO

Uma das coisas que também sei que preciso muito fazer é desenvolver o autoamor. Tenho certa prontidão para
amar as outras pessoas, é comum eu sentir compaixão pelas feridas dos outros. A empatia é um traço forte em minha
personalidade desde a infância. Lembro que, quando eu era criança, às vezes minha mãe chorava no quarto, e eu não
conseguia brincar ou me divertir sabendo que minha mãe estava triste. Quando percebia que ela não estava bem, eu
ficava ao seu lado e provavelmente sentia a dor que ela estava sentindo.
Lembro de ter sido uma criança sensível.
Acontece que a gente cresce, se torna adulto e vai engessando as emoções. Em algum momento, entre a infância
e a vida adulta, me tornei uma pessoa dura, radical e inflexível. Na verdade, acho que foi um reflexo do que a vida
me trazia naquele período difícil para todos, que é o amadurecimento.
Os nascidos nos anos 90 sofreram dores diferentes das gerações dos nossos pais, e certamente diferentes das que
nossos filhos sofrerão. Toda geração é assim, talvez por isso a gente tenha tanta dificuldade em compreender nossos
pais, posteriormente nossos filhos.
São desafios diferentes de cada geração, e a gente precisa aprender a respeitar isso. Mas vamos voltar ao início da
minha vida adulta.
Quando falamos sobre empatia, é preciso aprender a separar o que é sentir a dor do outro e sofrer a dor do outro.
A empatia é saudável quando a gente usa esse sentimento para ajudar, e não para nos prejudicar acumulando em nós
as dores das outras pessoas.
A intenção da empatia madura é subtrair a dor, e não multiplicar.
O choque que tive com a vida real, ao me tornar adulta e perceber que a existência não era um conto de fadas, e
que eu não iria ficar rica ou trabalhar em algo que eu amava aos 20 anos, me endureceu para o mundo.
Eu precisava trabalhar duro para garantir meu sustento e contribuir para o sustento da minha família, e, por ver
meus sonhos podados, me tornei uma pessoa insensível.
Passei a acreditar que sonhos eram coisas de adolescentes ou de pessoas que tinham boa condição financeira.
Qualquer sentimento contrário à dura realidade, eu julgava vitimismo e fraqueza das outras pessoas, perdi a
sensibilidade para notar a dor do outro (ou de pelo menos tentar entender o que a outra pessoa estava passando).
Foi um período amargo, tive um relacionamento amoroso para onde levei toda aquela dureza e inflexibilidade,
nem preciso dizer que o relacionamento acabou mal... Deve ser muito difícil conviver com uma pessoa radical.
Minha mãe dizia que quando eu não era 8, eu era 80. E é verdade, me tornei aquela pessoa irredutível.
Eu me tornei o tipo de pessoa que dizia que pau é pau, pedra é pedra, e não havia espaço para uma segunda
análise dos fatos.
Minhas opiniões se tornaram inalteráveis; enquanto mantinha essa postura, eu afundava meus relacionamentos,
me envolvia em conflitos e cada vez mais me isolava.
O autoconhecimento através da terapia foi um divisor de águas.

Precisei desconstruir essa rigidez.


Precisei desconstruir os conceitos tão duramente estabelecidos por mim.
Reencontrei-me com a palavra empatia, que antes era um sentimento sem nome para mim.
Passei a gradativamente aprender a voltar a sentir empatia pelas pessoas.
Me reconectei com a sensibilidade.
Comecei a tentar entender a dor de outras pessoas que tinham visões de mundo diferentes da minha.
Aprendi e venho aprendendo a ter compaixão novamente pelas pessoas.

O maior desafio agora é desenvolver compaixão COMIGO.


AUTOSSABOTAGEM

Um assunto sensível que gostaria de falar com você nesse momento é sobre a autossabotagem. O quanto é
importante buscarmos autoconhecimento, porque, quando começamos a nos conhecer de verdade, aprendemos a
identificar nossos mecanismos de boicote.
Veja bem, tenho muitos sonhos, um deles é que meus livros sejam publicados, meu anseio é ser lida pelas
pessoas. Sinto forte desígnio de ser uma comunicadora, só de imaginar alguém lendo um livro meu, me encho de
gratidão e isso traz sentido a minha vida.
É como se valesse a pena ter vivido.
Esse sonho que contei é lindo, só tem um pequeno obstáculo: a autossabotagem.
Tenho três obras escritas: um conto, um livro sobre desenvolvimento pessoal e um romance escrito nos dias de
quarentena da Covid-19. Anseio pelo dia de publicá-los, mas, de alguma maneira, EU NÃO CONSIGO FAZER
ISSO.
Enquanto escrevo esta carta para você, estou com esses três projetos engavetados. Já sonhei com cada
lançamento, com cada etapa, um deles já tem até a capa pronta, mas eu simplesmente não consigo reeditar o meu
trabalho.
Voltar aos livros que escrevi me faz encontrar uma outra Tabita, é como relembrar outra versão minha, que
naquele momento passava por determinadas coisas que não quero reviver. Por outro lado, não voltar ao meu trabalho
causa uma frustração sufocante que me acompanha todo santo dia, e não há uma noite que eu coloque a cabeça no
travesseiro, em que eu não lembre dos meus três projetos que estão literalmente arquivados.
Quantas pessoas já poderiam ter lido? Quantas críticas ou elogios eu poderia ter recebido? Quantos corações eu
poderia ter tocado? Quantas vezes os leitores tocariam meu coração com seus feedbacks?
Eu não tenho a resposta para nenhuma dessas perguntas porque eu não publiquei, e tenho uma sensação
paralisante todas as vezes que penso no momento de reeditar.
Segue um trecho de um momento de crise depressiva da autora, e de como ela se sentiu após a crise passar:
DESABAFO
Segue um trecho de um momento de crise depressiva da autora, e de
como ela se sentiu após a crise passar:

A depressão é uma doença difícil de explicar. Nesse momento estou em crise, pedi ajuda por mensagem, mas não
consigo responder as pessoas que estão oferecendo ajuda.
Pedi socorro, mas não quero que ninguém venha.
Eu até quero que venha, mas não quero que me veja nessa situação deplorável, sem banho, deitada na cama
olhando para a parede
A crise de ansiedade veio, eu desabafei com um monte de pessoas, e, agora que a crise passou e a apatia voltou,
não tenho ânimo para responder às pessoas que estão preocupadas comigo
É por isso que a gente se afasta.
Imagine oferecer ajuda a uma pessoa e ela nem responder...
Parece desinteresse, a pessoa cansa de tentar ajudar, ou pelo menos a gente sente que a pessoa vai cansar
Acabei de passar por um momento de crise de ansiedade profunda, mandei mensagem para alguns familiares,
pedi ajuda, eles chegaram e eu não tive ânimo de recebê-los em minha casa. Permaneci deitada, de costas, me
sentindo muito mal por tê-los deslocado de longe para me ver.
O pior é que, quando a crise passa, vem a vergonha de mostrar o rosto, de dizer que está bem.
A vergonha, o medo do julgamento.
É estranho ter dito tantas coisas para as pessoas e depois demonstrar que estou bem. Como vou encontrar com as
pessoas na rua, no shopping? Fico com medo que elas pensem que eu estava fingindo tudo aquilo que escrevi em
meio à crise depressiva. Como posso dizer a alguém que estou mal, a ponto de quase morrer, e no dia seguinte estar
de pé?
Tenho medo de sair na rua e encontrar alguém para quem eu disse que não aguentava mais, tenho medo de que
essa pessoa me julgue e se afaste, achando que eu estava mentindo ou exagerando. Mas, por outro lado, sei que não
sair de casa vai me deixar pior.
Nos momentos de grande angústia, como tive hoje, dá uma sensação de que não existe mais solução, mas são
exatamente nesses momentos que preciso usar minha racionalidade e lembrar que é uma crise, um momento ruim, e
que nem tudo está perdido, que para tudo tem uma saída.
Tudo tem um jeito.
Aceitar ajuda sem autoculpa é difícil, porém necessário. Amanhã o sol vai nascer novamente e estarei grata pela
oportunidade de vê-lo, e assim serão todos os dias de minha vida.
BAIXA AUTOESTIMA E ISOLAMENTO

Eu tenho baixa autoestima, infelizmente esse é um dos sintomas frequentes para quem tem depressão, e minha
cabeça inconscientemente diz que não mereço ser feliz. É difícil lutar contra o inconsciente, mas nesse trecho da
carta gostaria de repassar uma dica boa que recebi.
Segue:
Temos o poder de dialogar com nossa mente e desconstruir aos poucos esses pensamentos de baixa autoestima,
questionando-os.
Sim, questionar nossos pensamentos.
Uma psicanalista certa vez me ensinou a olhar para minha vida como se eu estivesse do lado de fora de mim.
Analisar meu problema de maneira neutra, como se eu estivesse analisando o problema de uma outra pessoa e, nesse
momento “fora de mim”, começar a visualizar soluções para o problema dessa pessoa neutra que, no caso, sou eu.
Lembro que ela falava para “puxar a cadeira”, sentar do lado de fora e olhar para mim, analisar e sugerir a mim
mesma possíveis soluções para a angústia.
Esse comportamento não é habitual para nós, mas podemos fazer algumas reflexões para nós mesmos.
Por exemplo:
Por que eu me sinto feia?
Por que quando olho no espelho procuro defeitos em mim?
Eu tenho o hábito de procurar defeitos nas outras pessoas, ou procuro ver o lado bom de cada um?
Por que não acredito que mereço realizar meus sonhos?
Por que burlo e saboto minha felicidade?
Houve algum momento em minha infância que me fez sentir inferior às outras pessoas?
Eu sou de fato inferior às outras pessoas?
Considero alguém inferior a mim?
Se eu não trataria alguém como inferior, porque eu ME permito acreditar que tenho menos merecimento?
Essa tática de fazer autoperguntas tem me ajudado muito no processo de depressão e ansiedade, aliás, esse livro é
a primeira etapa de uma série, e estou cada dia mais convencida de que o próximo livro da sequência será uma
“Carta a Pessoa com Ansiedade”. Meu desejo é que essa segunda carta também chegue até você, e que funcione
como um alento em meio a essa imprecisão que a vida atual se tornou.
O isolamento infelizmente também é um sintoma da depressão. A depressão não é uma doença com sintomas
constantes, pois as emoções variam, e é possível experimentar períodos de altos e baixos.
Um dos primeiros sinais que me fazem perceber que estou caminhando para um período de baixa é quando
começo a me isolar das pessoas à minha volta. O autoisolamento pode começar devagar, mas, se não ficarmos
atentos, pode se transformar num gigantesco inimigo.
Às vezes nos sentimos um incômodo para os outros, e por isso nos isolamos. A verdade é que uma pessoa isolada
não magoa ninguém, não incomoda ninguém, mas também não consegue fazer ninguém sorrir, não consegue viver
algo de bom.
É importante lembrar que todos nós temos coisas boas a oferecer, e isolados não vamos conseguir dar isso às
pessoas. E também é no convívio social que a gente consegue alcançar a cura, nunca será no isolamento que um
depressivo irá se curar, mas sim na comunhão com seus parceiros sociais. É claro que existe uma espécie de “solidão
saudável”, e que a gente precisa aprender a ser feliz em nossa própria companhia. Não é desse tipo de isolamento
que estou falando, é aquele isolamento que a gente foge da vida real.
Sei o quanto é difícil, mas lutar contra o isolamento é uma das coisas mais importantes nos momentos de crise
depressiva.
Seguem algumas dicas importantes para os períodos de luta contra o isolamento causado pela depressão:

Cerque- se de pessoas que te amam, que te respeite. Não fique em ambientes tóxicos, em lugares onde
você não se sente bem-vindo. Você não merece isso. Você merece a companhia de quem te respeita.
Compreenda que você está passando por uma enfermidade para a qual já existe tratamento e cura.

Às vezes eu penso que a parte mais difícil de ter depressão é o fato de que não aceitamos a dor que estamos
sentindo. Pelo menos comigo é assim, quando estou desmotivada e deixo de cumprir meus compromissos, além de
lidar com a dor natural da doença, sinto um profundo descontentamento interior. É um sentimento parecido com
culpa, que se mistura com cobrança, o que piora mais ainda o estado de angústia. Eu pensava que um dia
magicamente ficaria curada dessa chaga, mas tenho percebido que é um processo, que acontece gradativamente em
terapia, e em contínuo autoconhecimento.
Espero, de coração, em breve escrever essa Carta Volume 2, e compartilhar com meus queridos leitores fórmulas
para se libertarem dessas prisões. Por hora, essa carta é para dizer que sei como você se sente, você não está sozinho
nessa luta. Estamos juntos e vamos vencer.
Este é o propósito de escrever a série Árvore de Ipê.

A depressão não acontece igual para todas as pessoas.

Cada um tem seu processo, uns se isolam no quarto, em cima da cama, outros enterram a vida no trabalho. Há
também aqueles que não conseguem parar as atividades e vivem de festa em festa, não podem parar em casa um
minuto, senão desabam. Vivem lotando a agenda, até mesmo inconscientemente, de compromissos, porque não têm
a tranquilidade para parar um final de semana e curtir um entardecer no sofá de casa, conversando com quem mora.

Faça algum mimo pra você.


A comida que você gosta, um banho longo na temperatura que é mais agradável pra você. Conheça o
conceito higgie e torne seu espaço o mais aconchegante possível.
Faça uma limpa nas suas redes sociais, deixe de seguir perfis que falem sobre assuntos ruins ou que te
incomodem.
Comece a seguir páginas que trazem notícias boas, catiorros e bebês fofinhos.
Volte a pintar, fazer poesia, dançar, escrever, volte a cantar ou a colocar para fora de maneira artística os
seus sentimentos. (Esse livro inclusive é uma forma minha de lidar com a dor). É prazeroso transformar
em arte nosso sofrimento e ainda ajudar outras pessoas a superarem suas dores porque, no final, é esse o
sentido de tudo.

Enquanto seres humanos, somos uma grande família aqui na Terra, e nossa melhor ocupação é melhorar a vida
de outras pessoas.
Tornar o outro feliz é um dos caminhos para encontrar o sentido da vida.
USE SUA ARTE, SEU TRABALHO, PARA FAZER ALGUÉM FELIZ.
Nós vamos conversar sobre isso no final dessa carta porque, na minha opinião, é o assunto mais legal de todos.
Mas agora quero falar sobre um assunto importante: a fuga da realidade.
A ARTE COMO FERRAMENTA

A arte tem o poder de transformar em beleza até mesmo os momentos mais difíceis, poetas e compositores
afirmam criar seus melhores trabalhos em momentos de angústia.
Não é minha intenção romantizar o sofrimento, mas é verdade que em tempos de aflição ficamos mais sensíveis,
introspectivos e de alguma maneira mais próximos à Fonte Criadora.
A arte para mim tem um aspecto quase espiritual, sabe?! Quando a gente consegue mergulhar em um trabalho
por prazer, por revolta ou por algum outro sentimento profundo, é através da arte que nos libertamos e encontramos
com nossa essência.
Eu acredito que todas as pessoas têm inclinação para, pelo menos, um tipo de arte.
De um modo geral, todo tipo de arte será positiva para nós nesse processo de cura, e gostaria de fazer um convite
mais que especial a você, meu querido leitor. Gostaria que você pensasse agora em algum sonho antigo que você
tenha tido, resgate em suas memórias algum desejo não realizado e tenha a coragem de fazer alguma arte pela
primeira vez. Eu te incentivo e te desafio a experimentar algo totalmente novo, que você começará a aprender do
zero, e tenho certeza de que esse desafio trará um excelente resultado.
Agora é a hora de, independente da sua idade, buscar alguma aventura, algo que você faça pela primeira vez.
Entrar num curso de guitarra, aprender a cuidar de plantas, fazer aulas de dança de salão, planejar o destino dos seus
sonhos, escrever um livro, fazer aula de marcenaria, aprender um esporte novo, ou qualquer outra atividade, o mais
aleatória e excêntrica possível.
Depois compartilhe com seus amigos e familiares o quanto foi desafiador e divertido aprender uma coisa nova, e
incentive-os também a viver a tão deliciosa experiência de fazer algo novo pela primeira vez.
ESCAPISMO

Você já ouviu falar em escapismo? Essa palavra é nova para mim, embora o conceito seja um velho e
inconveniente companheiro.
Contei a vocês que tive uma infância muito pobre, e às vezes a gente não tinha o que comer; então eu, na minha
fantasia de criança, imaginava que minha família morava numa casa linda, e todos estavam sentados à mesa com
deliciosas guloseimas e alimentos fartos. Lembro de imaginar longos cafés da manhã com a mesa cheia de pães,
bolos, sucos e eu podia escolher tudo que eu quisesse comer.
Isso alimentava minha mente de uma forma tão intensa, que eu esquecia que não tinha café da manhã na vida real
e ficava horas deitada na cama imaginando uma vida mais confortável para nossa família.
Nós não tínhamos acesso a bens culturais por conta da pobreza e porque morávamos longe de todo tipo de lazer,
então eu me imaginava passeando com meus pais e meus irmãos. Em minha mente íamos a praias, parques de
diversões, bibliotecas, museus etc.
Eu desenvolvi uma habilidade tão intensa de imaginação, que eu chegava a sentir de verdade a emoção de
“mergulhar no mar” ou “descer uma montanha-russa”, tudo isso sem que meu corpo saísse da cama.
Eu fechava os meus olhos e criava uma realidade alternativa, e preferia viver nela do que enfrentar a vida real.
Isso se chama escapismo.
A FUGA DA REALIDADE

Hoje sou adulta e percebo o quanto esse hábito pode ter contribuído para eu desenvolver depressão. Usar a
fantasia para fugir da realidade pode ser um hábito comum entre as crianças, o problema é que ele continuou me
acompanhando na adolescência e na fase adulta também.
Óbvio que com a maturidade a gente aprende a não mergulhar na fantasia, mas vez ou outra volto a ser criança
no sentido de dar asas à imaginação para fugir da nossa dura realidade.
Estamos vivendo dias difíceis, quando percebo, já estou deitada por horas lembrando de coisas do passado, e
depois me dou conta de que fiquei boa parte do meu dia imaginando futuros possíveis, minha mente cria diversas
situações e cenas que na realidade nunca irão acontecer. Me dói porque às vezes passo a maior parte do meu dia
isolada, alimentando, pensando e sentindo coisas criadas pela minha mente.
Enquanto isso, a realidade fica parada.
As coisas vão acontecendo ao meu redor e passo pela realidade meio que alheia, alienada.
É tão triste quando, no auge de uma crise depressiva, dou asas às imaginações de fuga e tenho somente lapsos do
momento presente real.
Nos períodos mais críticos da depressão, eu permitia que meus pensamentos me tirassem da realidade e, mesmo
adulta, eu viajava para tão longe a ponto de infelizmente perder um pouco do contato com a vida real e não saber
nem que dia do mês eu estava, quantos anos eu tinha, entre outros aspectos da realidade.
A dor era tão grande que era impossível senti-la, e a única forma de anestesiar era deitar na cama e “desligar” da
vida real para conseguir sobreviver.
Embora esse seja um artifício que “ajuda” nos momentos difíceis, a fuga definitivamente não é o melhor
caminho. Por maior que seja a angústia, enfrentá-la é o melhor remédio. Eu fugia para “dentro da minha cabeça”,
mas vou deixar aqui alguns exemplos de fuga da realidade que a princípio são inocentes, mas podem gerar danos se
não observados:
Excessos de compras
Uso demasiado das redes sociais
Resolver o problema dos outros enquanto acumula os seus (eu sou mestre nisso, porém não me orgulho).
Trabalho em excesso
Bebidas alcoólicas frequentes
Nessa caminhada em busca da superação da depressão encontramos muitos desafios, e um deles é viver o
presente.
O momento presente.
Desejo de coração que você consiga viver esse momento tão precioso que é o AGORA.
CONTENTAMENTO

Há alguns anos uma mensagem veio ao meu pensamento. Essa mensagem dizia que eu precisava estar contente
com o que tenho no momento.
Essa mensagem ainda ecoa em mim e sigo tentando me contentar com a realidade da minha vida, seja ela qual
for.
É uma busca constante em não me perder nos devaneios que me fazem fugir da realidade, mas sim aceitar que a
vida real é essa, aqui e agora, e que, se é pra viver, que seja da melhor maneira possível.
Viver a vida possível, ser a pessoa possível, fazer o que se quer, com o que se tem. Não é se acomodar e viver na
zona de conforto. Que venham novas histórias!
LETARGIA
Texto/Desabafo escrito pela autora em um dia difícil.

A depressão nem sempre é tristeza profunda, às vezes ela pode se manifestar em um grandíssimo formato de
nada. Ausência de atenção, falta de ânimo, isolamento físico ou emocional...
As coisas cotidianas seguem acontecendo à minha volta, mas há uma sensação de que tudo acontece de longe e
em câmera lenta.
Mesmo que eu esteja num ambiente movimentado, a sensação é de estar alheia, e isso incomoda.
Fico presa em pensamentos que me afastam da realidade, e nos poucos segundos que consigo me concentrar no
agora, vejo a vida passando como um borrão(...). As crianças continuam crescendo, os adultos envelhecendo, a vida
acontecendo, enquanto eu me escondo numa realidade esquisita dentro da minha cabeça.
Quando estou assim, percebo que as pessoas interagem comigo, mas demoro alguns instantes para sintonizar no
momento presente, e depois concentro mais algum tempo para tentar decodificar o que elas estão dizendo.
Letargia.
Parece que estou suspensa, nas nuvens, mas não no sentido bom. Fico pelas alturas na perspectiva de quem voa
para fora da realidade.
Os anos tomando remédios estabilizadores de humor podem justificar essa sensação de nevoeiro, acho que, pra
não surtar, o cérebro desativa algumas funções e tudo fica disperso.
Até mesmo chorar é difícil.
O humor fica tão “estabilizado”, que as emoções passam como um vento me lembrando de que eu deveria estar
fazendo alguma coisa que não consigo recordar bem o que é.
Deveria cuidar da minha filha, da minha casa, da minha vida, dos meus sonhos, do meu livro, mas eu estou aqui
na cama, na mesma posição que estava quando acordei e passei o dia.
Nesses intervalos de lucidez, me pego torcendo para amanhã ser um dia melhor, e sei que será.
Sempre é!
A depressão tem tratamento e tem cura, mas até a cura chegar existem dias assim, com altos e baixos. Hoje é um
dia baixo, vou orar, amanhã vou trabalhar e quando menos perceber estarei de volta à vida.
Por hoje tenho letargia, muito sono e uma grande sensação de “coisa nenhuma”.
Amanhã acordo uma leoa!
Deus está comigo, o tratamento está em progresso, a terapia segue em evolução e não vou esquecer que esse é só
um momento ruim de uma vida real que uma hora vai encontrar o sentido de tudo isso.
Desejo que você consiga falar sobre seus sentimentos, que encontre maneiras de cuidar da sua saúde mental.
Sonho com o dia em que falar sobre emoções não seja mais um tabu, que a gente possa mostrar as fragilidades e ser
respeitada como humanos em evolução.
Que é o que todos nós somos.
COM QUE ROUPA?

Passeando pelas redes sociais, encontrei um meme onde uma mulher dizia que as coisas andavam ruins há tanto
tempo para ela, que quando desse certo ela não teria nem roupa pra usar nesse dia.
Querido leitor, nessa parte da carta gostaria de falar sobre uma coisa muito importante.
Você já se preparou para o dia em que você estará livre da depressão?
Que roupa vestiremos quando tudo estiver bem? A depressão é uma doença difícil, e o ser humano tem a
capacidade de se adaptar aos mais diferentes cenários. Os sintomas causam muito incômodo, mas é importante a
gente estar atento para não permitir que o sofrimento se torne uma “zona de conforto”.
Fiquei meses deitada na cama com a luz do quarto apagada, isso é ruim, mas acabei me acostumando. Era
estranho quando raramente eu saia para uma consulta e via as pessoas vivendo suas vidas com a naturalidade que já
não me era mais familiar.
Lembro de ver um homem andando tranquilamente pela rua, me causou estranheza, e naquele momento me dei
conta de que a vida ainda existia fora do meu quarto escuro.
As pessoas na rua conversavam, iam e voltavam de seus trabalhos, viviam uma rotina que um dia já foi minha,
mas eu já havia esquecido. Foi um choque perceber que o mundo continuava o mesmo enquanto eu estava dentro do
meu quarto escuro.
Eu, que estava fechada, eu, que abandonei a rotina. Eu não tinha forças, precisava de ajuda, mas foi interessante
ver que a vida continuava acontecendo, independente de eu estar prostrada. Não digo que tenha sido fácil, é muito
desafiador voltar a andar na rua, a trabalhar, a usar o transporte público. Precisei de muito tempo, e confesso que às
vezes ainda preciso respirar fundo para conseguir me levantar para mais um dia de trabalho. Esta carta mesmo, que
escrevo para você, representa o início de uma nova profissão, ou um sonho que poderia tranquilamente ser escrito
em poucos dias; porém devo confessar que vivo intervalos mais longos do que eu gostaria entre um parágrafo e
outro. Tenho levado meses para seguir escrevendo com constância, pois é uma luta interna muito grande assumir o
compromisso com a minha realização.
Iniciei a escrita desta carta em maio, já estamos em agosto e ainda não consegui terminar, ora por me achar
incapaz de passar alguma coisa boa para alguém, ora por estar desanimada demais, ora por prostração.
Ainda estou no caminho para a cura, não é simples, e infelizmente não acontece da noite para o dia. Minha
psicóloga diz que às vezes é preciso fazer um GRANDE ESFORÇO para alcançar um objetivo que antes da
depressão seria comum realizar.
Às vezes escrevo três folhas para você que está lendo nesse momento, e no dia seguinte mais duas folhas, e aí
volto a lutar contra os pensamentos intrusos causados pela baixa autoestima, e quando percebo já passaram semanas
em que eu não consegui escrever nem um parágrafo desse projeto que é importante pra mim. E desejo que esteja
sendo uma boa aventura para você.
É importante para mim que essa carta chegue em suas mãos, eu preciso me sentir útil de alguma forma, preciso
saber que consegui me comunicar com outra pessoa que está passando pelo mesmo que eu. Preciso finalizar esse
sonho após ter deixado tantos outros pela metade. É importante que essa carta seja feita até o final e publicada, mas
a autossabotagem está me consumindo.
Talvez você se identifique comigo.
Como pode o meu corpo não obedecer a minha própria vontade?
Como pode o dia passar tão rápido e eu não conseguir fazer nem um pouquinho do que me propus a fazer?
Eu sei que estou no caminho da cura, mas confesso que é difícil passar por essa fase do “conforto”, é desafiador
demais cortar esse laço com a prostração, com a protelação.
Não sei se lembro de como eu era antes da depressão, só sei que eu tinha energia e fazia as coisas do dia a dia.
Que roupa eu vou usar quando eu vencer essa fase e voltar a ter ânimo para viver?
Por vezes perco algumas batalhas e a cama me vence, e quando dou por mim já estou há dias funcionando no
botão automático, indo trabalhar e voltando para a cama, e depois voltar ao trabalho e voltar para a cama, sem
conseguir terminar de escrever a carta.
Eu tenho um compromisso nesse livro de ser franca, não vender uma ideia romântica de cura, e reconhecer aqui
para você mais uma vez que não é fácil. Eu não estaria totalmente confortável em escrever uma carta a você sem
deixar registrado o quão difícil é essa peleja contra a depressão, mas, observe, a cama por diversas vezes me venceu,
eu perdi algumas batalhas, mas VENCI a guerra! Prova disso é que neste momento você está lendo esse trabalho,
conhecendo minha história. Se essa carta chegou até você, é sinal de que, com muita dificuldade, eu consegui, e
assim como venci essa guerra interna para conseguir escrever e publicar esse livro, tenho fé de que vencerei todas as
outras que virão, e você também vai vencer, porque a depressão não é o nosso futuro!
Nosso futuro é vitória, é superação, é conquista. Tenho certeza de que acontecerá o mesmo com você. Não
desista dos seus projetos, mesmo que eles demorem mais tempo do que o programado para sair do papel, insista nos
seus sonhos, insista em viver uma vida de harmonia e paz. Se você ainda não iniciou o tratamento, te peço, por
favor, procure ajuda, agende uma sessão de terapia, marque uma consulta com o médico, se prescritos, tome os
remédios, busque o autoconhecimento através da análise ou de outras abordagens da psicologia. Nós, depressivos,
podemos até nos abater, podemos estacionar algumas vezes, protelar, mas NUNCA PARAR!
Quero que eu e você comecemos a nos preparar para vivermos uma vida sem a depressão. Eu não sei quanto
tempo vai demorar, mas esse dia vai chegar e eu espero que tenhamos roupas lindas para usar para o resto das nossas
vidas, quando voltaremos a sorrir por dentro e por fora, quando a depressão se tornar uma história de superação que
você vai contar para as pessoas, que nosso guarda-roupa emocional esteja repleto de lindas vestes para usarmos
quando tudo ficar bem.
Às vezes a gente arrasta antigos problemas e tem medo de se aventurar no novo por medo de viver os novos
desafios do recém-hábito adquirido.
Que não tenhamos medo de novos problemas, pois até mesmo eles (os problemas novos) são importantes, porque
a gente cresce quando aprende a lidar com novas adversidades.
Proponho um brinde aos dias em que viveremos pela primeira vez novas experiências, novas inquietudes e
também os novos problemas.
Basta!
Chega de problemas antigos!
FAMÍLIA

Sou uma entusiasta da família reunida e de manter os amigos por perto o máximo possível. Eu penso que nós
crescemos como seres humanos e nos curamos no contato com pessoas que amamos e que nos amam, porém desejo
fazer algumas considerações importantes sobre família.
Quando falo de família aqui, escrevo num conceito aberto; família, na minha opinião, é um conjunto de pessoas
que se amam e se respeitam, isso vai para além dos laços sanguíneos.
Penso em, no futuro, escrever uma carta como essa a Pessoas que Sofreram com Familiares Tóxicos, por ora
quero dizer a você, que tem depressão, que aprenda a identificar comportamentos tóxicos das pessoas que convivem
com você e perceber o quanto isso ajuda a piorar nosso quadro depressivo. É importante saber que você merece
conviver com pessoas que te aceitam como você é, pessoas com quem você se sente confortável em conviver. Essas
pessoas são a sua família.
Se você não nasceu em uma família feliz, desejo que você ressignifique, e a partir de você nasça uma família
feliz.
Família são LAÇOS DE AMOR. Família pode ser você e seus amigos, você e um cônjuge, você e um filho ou
filhos, você e um parente, você e seus pets e as mais variadas formas de se formar uma família. Que você e essas
pessoas sejam unidas pelo amor e respeito mútuos. Desejo que você more em um lugar saudável e tranquilo, que sua
casa seja um refúgio de paz e, se não for, desejo que você encontre forças para sair desse lugar tóxico e viva em um
lar de paz, porque é isso que você merece.
Forme uma família com uma pessoa que queira formar uma família com você.
Nesse caminho para identificar padrões tóxicos em nossas casas e famílias, é muito importante fazer terapia para
identificar também em si mesmo quais comportamentos você reproduz. Eu acredito que todo ser humano está
tentando ser sua melhor versão, mas existem algumas coisas que a gente só descobre durante o processo de análise.
Por isso é muito importante que todas as pessoas façam terapia, porque conhecer-se é, talvez, o passo mais
importante para o crescimento pessoal e, consequentemente, a cura para a depressão.
TIA-AVÓ

Eu tenho uma tia-avó que já é bem velhinha, ela tem muitos anos de sabedoria, risadas e experiências. Nos
encontros de família, ela gosta de orar e sempre termina a oração com uma frase que ecoa na minha mente vez ou
outra. Ela ora assim: “Deus, peço que realize todos os meus desejos que forem da sua vontade, e os que não forem,
que o Senhor traga paz para meu coração.”
Essa oração mexe muito comigo, eu adoraria que algumas coisas fossem diferentes, mas a vida nem sempre é
como a gente gostaria, e, para essas coisas que não posso mudar, assim como minha tia, peço que eu encontre a paz
no meu coração diante das adversidades da vida.
Transcrevi para esta carta uma oração que escrevi num momento de muita angústia, desejo que você se sinta
representado nestas palavras:
*ORAÇÃO DE UMA PESSOA
EM DEPRESSÃO*

Deus, em sua infinita bondade, peço que me ajude a curar da depressão


Peço que os remédios façam o efeito esperado em meu cérebro
Peço que em cada sessão de terapia Jesus esteja comigo, curando meu coração
Quero ser curada, mas acho que inconscientemente acredito que não mereço, porque me sinto culpada por alguma
coisa que na verdade nem sei o que é
Me ajude Deus, a acreditar que mereço ter minha saúde emocional restaurada
Me ajude a ME perdoar, eu sempre quis me relacionar bem com as pessoas ao meu redor, e em terapia descobri que
não tenho um bom relacionamento COMIGO.
Não quero tratar mal a pessoa que sou
Me ajude a me amar, a me perceber como alguém que merece viver bem, em paz e feliz
Me ajude a cuidar bem de mim.
Como poderia eu querer amar os outros se não amo a mim mesma? Como poderia fazer o bem aos outros se faço
mal a mim mesma?
Por que eu acredito no poder da recuperação dos outros e não me dou a chance de me recuperar?
Por que tenho empatia com os outros se não tenho comigo mesma?
Só quem já morreu sabe o quanto é pesado continuar vivo.
Só quem já teve de sobreviver, mesmo estando morto, sabe o quanto é desesperador não sentir o ar entrando nos
pulmões.
Deus, por muitas vezes vi meu peito subir e descer no movimento respirar e inspirar, mas eu não conseguia sentir o
ar entrando e saindo do meu corpo.
Deus, me ajude a sentir o ar, me ajude a voltar a ver o brilho do sol, quero sentir a brisa suave tocando novamente o
meu rosto. Me ajude a me conectar com esse mundo que vivo.
Me traga de volta à vida.
Que amanhã eu acorde melhor que hoje.
Por favor,
Amém.
O caminho para a cura

A cura para a depressão é um caminho, é enquanto ando na estrada e olho para trás que percebo o quanto cresci,
é quando consigo comemorar minhas pequenas conquistas, mesmo que a única coisa que eu tenha feito no dia tenha
sido tomar banho e sorrir para alguém.
Eu viro um pouquinho a chave para a cura quando tento perdoar alguém, quando perdoo a mim mesma por erros,
quando não me cobro tanto.
A estrela da cura aponta pra mim todas as vezes que eu me esforço pra falar com alguém, sempre que cumpro um
dia de trabalho ou de estudos. As nuances do brilho da cura me alcançam todas as vezes que digo eu te amo, todas as
vezes que digo eu ME amo.
Sempre que me faço sorrir.
Aliás, querido leitor, você tem o costume de SE fazer sorrir?
Quantas vezes nessa semana você abriu um sorriso? Quantas vezes você se deu um presente, um mimo?
O caminho para a cura da depressão não é uma estrada reta, existem morros e planícies, curvas acentuadas e
possíveis engarrafamentos, por esse motivo é extremamente importante permanecer no tratamento, na terapia,
porque conhecer e prosseguir conhecendo a nós mesmos nos ajuda a identificarmos esses percalços da estrada de
maneira mais realista.
Eu torço de todo meu coração que você encontre compreensão nos dias difíceis, que você SE compreenda, se
respeite, não se maltrate. Me emociono em sentir o desejo que você olhe para dentro de si com olhos de amor e
profunda compaixão e se abrace, se cuide. Que você consiga perceber quão gigante e necessária é sua existência.
Enquanto escrevo essas palavras, estou em lágrimas e com um profundo desejo que nessa caminhada você
encontre bons profissionais para te ajudar.
Você é importante, sua vida é importante, existem pessoas que se inspiram em você. Você conseguiu viver os
seus piores e melhores dias até aqui, e vai continuar com essa mesma força, vivendo e caminhando para dias
melhores, porque eles VIRÃO! TENHO CERTEZA!
PORQUE UMA ÁRVORE DE IPÊ?

Eu gosto muito do significado que a Árvore de Ipê traduz. Toda primavera ando pelas ruas à procura de ipês.
Além de lindos, são profundas analogias com a vida de uma pessoa em depressão.
Você sabia que o ipê é considerado uma árvore nobre, madeira de lei (de alta qualidade) e valiosa por inúmeros
motivos, mas principalmente pela capacidade de sobreviver em tempos severos? O tronco de um ipê suporta do
clima mais gélido às altas temperaturas do verão.
Eu considero a depressão uma doença rude, não é romântica ou poética como algumas pessoas fazem parecer.
Uma pessoa em depressão pode estar vivendo os dias mais severos de sua vida, e é por isso que gosto de pensar em
nós como a madeira de lei.
Engana-se quem pensa que a imponente Árvore de Ipê é sempre resistente; no período de seca ela passa por um
processo que os botânicos chamam de estresse, quando ela perde todas as folhas e vitalidade que lhe são peculiares.
É um momento tão difícil para a Árvore, que ela acredita que está morrendo, e é nesse momento de quase morte que
o Ipê une todas as sua forças para dar o que pensa serem suas últimas flores, e com elas lançar suas sementes ao
vento, na esperança de que a partir daqueles sofridos grãos, outras árvores poderão nascer.
Interessante pensar que o momento mais difícil dessa árvore é quando ela fica mais bonita!
Só quem já esteve diante de um Ipê Florido sabe a exuberância de suas cores, não há mais nenhuma folha verde,
não existe mais nada além de galhos e pétalas lindas, que se desgrudam umas das outras com a ação do vento e
dançam no ar até cair ao chão, deixando um tapete de sementes e beleza em volta da Árvore.
Quem poderia imaginar que é exatamente nesse momento lindo que ela está morrendo?
Quem, ao contemplar um Ipê no seu auge da florada, pode imaginar que aquela Árvore acredita estar em seus
últimos suspiros?
Ao final do processo de extremo estresse, a Árvore volta ao seu ciclo natural, se revigora e segue forte, preparada
para as futuras estações.
Assim somos nós, nos momentos de maior angústia, da dor indescritível, da tristeza e da falta de energia que a
depressão traz. É nesse momento de extremo estresse que conseguimos unir todas as nossas forças para florescer e
dar frutos e sementes lindas que vão gerar novas árvores e mais beleza para o mundo.
Inclusive, a escrita dessa carta é uma tentativa minha de florescer. É nesse momento de severidade quando eu
coloco todas as minhas energias para extrair de dentro de mim o maior número de flores possíveis, para que as
sementes germinem e que delas saiam novas árvores de Ipê.
No final desse processo, contrariando todas as expectativas, eu sei que, com a ajuda, voltarei ao meu ciclo natural
e passarei pelas próximas estações da vida forte e semeando mais flores.
O mesmo vai acontecer com você!
Eu tenho certeza absoluta de que a força que há dentro de você se unirá e dela sairão flores lindas que dançarão
com o vento e produzirão novas sementes, novas árvores, novos frutos, e a vida seguirá seu ciclo renovando a sua
energia e trazendo os novos e bons tempos que você em breve viverá.
O que de bom podemos gerar desses momentos difíceis em que estamos vivendo?
Como você pode florescer?
Existe uma força dentro de você que é capaz de transformar esse momento severo em Flor, em resistência, em...
Esperança!
Eu sei que não é fácil e nem sempre poético, mas gostaria de deixar essa pergunta ecoando em seu coração: como
você pode florescer nesse tempo de severidade? Como você pode gerar esperança no coração das pessoas? Quem
poderá admirar a beleza da sua resistência em insistir em continuar lutando, gerando outras sementes para as novas
gerações?
MINHAS PÉTALAS

A escrita é uma grande aliada para mim, é nela que tento colocar minhas pétalas de Ipê, e rogo a tudo que existe
de Sagrado para que a semente escrita neste livro possa brotar esperança no seu coração, para que você também
floresça e juntos continuemos essa corrente de fé, amor e cura.
Repito, eu acredito fortemente que o segredo da felicidade é fazer o outro feliz, ter ações que visem o bem estar
geral de um grupo ou da sociedade como um todo.
Junte todas as suas forças, meu querido leitor, e floresça, para que outras pessoas fiquem felizes ao ver suas flores
e que essa felicidade retorne para você 100 vezes mais.
CAMINHOS

Gostaria de passar rapidamente algumas coisas que têm me ajudado neste caminho:

ROTINA ANTIDEPRESSIVA
Mudar rotinas é difícil, mas às vezes a gente entra num ciclo vicioso que atrapalha o caminho para a cura. Ter
uma rotina antidepressiva certamente faz toda a diferença nesta jornada.
Tudo o que eu falar a respeito de rotina contra a depressão, quero que você tenha em mente que é para fazer bem
para sua saúde emocional, e não para ser mais uma lista de itens para você cobrar de si mesmo. São ideias de
atitudes para o cotidiano que te ajudarão a superar esse momento; nem sempre você vai conseguir, nem sempre vai
dar conta, e essa rotina não é obrigatória, pois cada um sabe o que é melhor para si, mas acredito que os próximos
tópicos podem ajudar.
ATIVIDADE FÍSICA:
A depressão é uma doença que se alimenta dela mesmo. Ter depressão é ser convidada diariamente a parar o
corpo, o problema é que quanto mais parado, mais se tem o aumento da condição depressiva. Para um deprimido,
movimentar o corpo, dependendo do estágio da doença, exige um esforço quase sobre humano, mesmo para
pequenas atividades. Ainda que seja uma atividade rápida, é importante procurar fazer todos os dias um pouquinho.
Tente alongar seu corpo, que seja por poucos minutos. Enquanto escrevo essas palavras, imagino você já lá no
futuro, curado, animado, praticando atividades físicas, correndo maratonas; mas, para que essa minha visão se
concretize amanhã, você precisa começar a treinar hoje. Se alongue um pouquinho, vá devagar, e não importa
quanto tempo você vá continuar tentando, o importante é não parar de treinar nunca. E quando parar, recomeçar
quantas vezes for preciso.
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL:
A gente sabe que precisa evitar industrializados, açúcares, carboidratos etc, mas eu também sei que é difícil ter
tempo para cozinhar saudável quando se tem uma vida corrida. Eu venho tentando ter a melhor alimentação
possível, não sou nenhum exemplo de nutrição, a gente faz o que pode, mas é inegável que a alimentação está
diretamente ligada a uma boa qualidade de vida, a desenvolver energia e vontade de viver. Como você pode
desenvolver uma alimentação melhor possível?
BOAS HORAS DE SONO:
Faça o possível para dormir as horas necessárias, evite o uso de telas pelo menos uma hora antes de dormir. Eu
sei que é muito difícil, eu mesma ainda não consegui desenvolver este hábito, mas sei que isso é o ideal para garantir
uma boa noite de sono, além de chás específicos e comidas leves durante a noite.
Eu acho importante, também, a gente fazer do nosso quarto um lugar aconchegante; existem muitas inspirações
na internet, acho que esse cômodo precisa ser um templo sagrado de descanso, com luz amena (eu adoro usar os
piscas de Natal durante todo ano no quarto), almofadas na cama, e roupas confortáveis são verdadeiros alentos para
a alma.
FAZER COISAS PRAZEROSAS
Pelo menos uma vez por dia, faça intencionalmente algo que te trará prazer. Seja tomar alguns minutos de sol,
escutar sua música favorita, um banho na temperatura mais agradável ao seu corpo ou alguma outra atividade que te
traga uma sensação de aconchego. Aliás, vou deixar algumas perguntas retóricas aqui: o que você tem feito de bom
para você mesmo? O que você pode fazer?
DESAFIO:
Pense em três tipos de mimos para se dar ainda esse ano. Um fácil, que pode ser feito hoje mesmo, um
relativamente difícil, que vai exigir algum tipo de esforço da sua parte com a única intenção de te fazer feliz, e um
mimo super, hiper, mega mimo que te deixaria muito feliz.
Invista tempo e energia pensando nesses mimos e, dentro da realidade possível, realize-os para você. Ah! Faça
com capricho porque você merece o melhor.
TERAPIA:
Eu sou suspeita para falar sobre esse assunto,na minha opinião a terapia poderia ser um contrato vitalício,
deveríamos ir à terapia desde crianças e continuar até quando estivéssemos velhinhos, porque conhecer e prosseguir
se conhecendo é a chave, o segredo para o sucesso emocional. Mesmo que você tenha que passar por profissionais
diferentes para encontrar uma abordagem que se identifique mais. O importante é sempre cuidar da saúde mental
como se fosse a coisa mais importante dessa vida, porque de fato ela é.
A sua versão do futuro vai te agradecer por ter começado em algum momento da vida.
RELACIONAMENTOS SAUDÁVEIS
No caminho para a cura, sem dúvidas passamos pelo processo de aprender a desenvolver e cultivar
relacionamentos saudáveis.
É possível que, no processo de terapia e autoconhecimento, você gradualmente se afaste de pessoas que não te
fazem bem, não tenha medo de deixá-las ir, abra a porta do seu coração e só deixe ficar em sua vida pessoas com as
quais você possa ter relacionamentos leves.
Desejo que nesse caminho que estamos percorrendo você se cerque de relacionamentos leves, simples, calmos,
seguros e que tragam paz.
Isso vale para relacionamentos amorosos; também eu acreditava que o amor romântico deveria ser cheio de
grandes emoções, altos e baixos e viradas cinematográficas, mas a maturidade nos leva a valorizar aquele famoso
Amor Tranquilo.
Hoje vivo um amor tranquilo e queria usar esse espaço da carta pra contar pra vocês algumas coisas que deram
certo pra mim, na tentativa de construir bons relacionamentos.
Meu desejo é que essas atitudes que tomei, e que me levaram a águas tranquilas, possam ajudar você também a
viver com mais tranquilidade.
NÃO CAIA NA ARAPUCA DA OFENSA
Não sei como foi o ambiente em sua casa quando você era criança, mas acho que temos uma tendência a repetir
os comportamentos de quem nos criou. A armadilha da ofensa foi algo que precisei desconstruir, porque era natural
para mim que um casal trocasse farpas mais duras um com o outro. O problema dessa troca é que as ofensas são
irremediavelmente armadilhas onde todos os envolvidos perdem a razão, e a tendência é que a cada nova discussão
as ofensas aumentem. A pessoa que tem depressão (e também todas as outras pessoas do mundo) precisam viver em
ambientes de paz, principalmente dentro de casa.
Fazer por onde viver numa casa de paz é expulsar dali toda palavra de ofensa. Cultivar palavras amáveis com as
pessoas que moram com você, tratá-las com carinho, da mesma forma ou até melhor de como tratamos as pessoas de
fora.
Infelizmente, muitas pessoas têm o hábito de serem agradáveis com aqueles com quem convivem pouco e não
prestam atenção na forma como tratam quem convive diariamente.
No que depender de você, seja agradável, procure fazer essas pessoas felizes, procure cultivar bons pensamentos
sobre elas. Atritos e desentendimentos são normais, mas desejo que você consiga resolvê-los com conversa, boas
doses de perdão, aceitação e amor pelos que dividem a vida com você. Isso funciona também para colegas de
trabalho e outras pessoas de sua convivência.
ATENÇÃO: Esses movimentos não se aplicam em caso de relações abusivas. Caso você identifique que pode
estar em uma relação abusiva, converse com seu terapeuta, ele pode te ajudar nisso; caso identifique
comportamentos abusivos em você, converse também com seu terapeuta para te ajudar a melhorar nesses pontos.
Voltemos a falar sobre relacionamentos leves, onde gritos e ofensas são inadmissíveis. É possível que quando
criança você possa ter convivido com adultos que se relacionavam mal e, por ter sido criado nesse ambiente, tenha
construído inconscientemente a ideia de que é normal estar num relacionamento onde as pessoas gritam e ofendem
as outras.
Gostaria de fazer um convite a você, pelo nosso bem e pelo bem de todos que convivem conosco. Em
relacionamentos, sejam eles amorosos, de amizade, de trabalho ou qualquer outro tipo de convivência, por favor:
Desconstrua a ideia de que quem ama briga. As divergências existem sim, quem ama diverge, discute, mas se
respeita.
Muitas pessoas têm uma visão distorcida de relacionamentos e acham que é normal existirem explosões de raiva
ou crises de ciúmes. Não é normal viver dessa forma, isso pode te levar a problemas sérios e agravar a depressão.
Procure ajuda
Se acostume a viver em paz, viver bem, longe do caos. O caos não precisa ser nosso companheiro.
Troque o caos pela paz.
Não existe relacionamento perfeito, mas existe amor tranquilo. Escolha sempre por aquilo que traz paz ao seu
coração.
Se afaste de amigos e parentes tóxicos, esteja aberto para analisar as suas próprias atitudes tóxicas, porque
também não somos perfeitos e precisamos sempre melhorar, evoluir. Conhecer nossa toxicidade nos ajuda a ter
relacionamentos melhores ao longo da vida.
Lembre-se de que sua paz é muito valiosa, conquistá-la é um desafio contínuo, então não esqueça que ela custa
caro. Não perca sua paz por nada e nem ninguém. Lute por ela, só você pode fazer isso por você.
DESABAFE
Uma das maneiras mais significativas de tratar a depressão, sem dúvidas, é falar sobre o que está sentindo. Esse
parece ser um conselho clichê, mas na prática é difícil falar sobre nossas dores. No entanto, precisamos colocar para
fora o que nos angustia o coração.
Minha psicóloga diz que enquanto falamos nos ouvimos, e esse é um exercício poderoso para a cura das emoções.
Falar é traduzir em palavras o que se pensa e se sente. Escutar de si próprio o que se passa na mente pode parecer
nada familiar no início, mas, à medida que falamos e ouvimos nossos sonhos, medos, traumas etc, temos a noção
exata do tamanho deles.
É importante desabafar, verbalizar, porque enquanto você escuta o que está dizendo, percebe que, de repente, um
problema não é tão grande quanto parecia. É muito possível que, apenas pelo fato de se ouvir falando sobre seu
problema, você mesmo elabore uma forma de solucioná-lo.
Todas as vezes que você sentir o coração apertado, fale sobre isso, não se cale, não se isole, por mais difícil que
seja, fale sobre suas aflições.
Não tenha vergonha de falar sobre o que está sentindo, todas as suas emoções são importantes, tudo o que passa
por sua cabeça é digno de ser dito e legitimado, porque somos feitos de sentimentos e precisamos entender mais
profundamente o que estamos sentindo.
Desde crianças, infelizmente somos ensinados a calar os sentimentos, a engolir o choro. Não somos criados
culturalmente a valorizar as emoções, e sim a calar. O caminho para a cura é exatamente o oposto. Falar e chorar
podem ser atitudes libertadoras. Desconstrua a ideia de que precisa guardar as emoções e de que sofrer em silêncio é
sinal de força, essas são construções sociais que precisam ser desfeitas. Forte mesmo é quem consegue falar sobre o
que lhe aflige.
O ideal talvez seja fazer terapia uma vez por semana e lá abrir o coração sem reservas, sem pudores, falar o
máximo que conseguir; também é bom ter amigos com quem possamos desabafar.
Acredite, você precisa falar, se escutar porque assim irá organizar os pensamentos, aliviar a alma e conhecer
melhor você mesmo.O autoconhecimento é o segredo para a saúde emocional de sucesso.
Segue um exercício interessante:
Escreva em um papel tudo o que você está sentindo, depois leia em voz alta.
Você vai perceber o quanto é interessante ouvir nossas próprias palavras.
ESCUTE
Chegamos em um ponto da carta que talvez esse seja meu Calcanhar de Aquiles: eu gosto de escutar as pessoas,
mas é quase que imediata a atitude de tentar resolver o para a pessoa que está desabafando comigo e quando percebo
já dei conselhos não solicitados e sei que isso é uma das coisas mais frustrantes.
Na maioria das vezes as pessoas só precisam ser escutadas, elas não querem receber conselhos não solicitados, eu
mesma não gosto quando acontece comigo. Desenvolver o dom da escuta, ouvir as pessoas que estão à nossa volta.
Escutar atentamente, oferecer uma escuta empática, que é aquela que ouve sem opinar, sem dar conselhos (a menos
que sejam pedidos), escutar sem julgar, sem interromper; é maravilhoso poder acolher com os ouvidos.
Mantenha por perto pessoas que são verdadeiros portos seguros prontos a ouvir. Seja um porto seguro para as
pessoas, uma das sensações mais gostosas do mundo é quando a gente consegue falar de nossos sentimentos e
perceber que estamos sendo ouvidos com carinho. Também quando percebemos que alguém desabafou conosco e se
sentiu mais aliviado por ter encontrado quem estivesse disposto a ouvi-lo. Muito boa é essa sensação de saber que
ajudamos alguém a se sentir mais leve.
SETEMBRO

Estamos no mês de setembro de 2021, comecei a escrever essa carta em maio. Faz quatro meses que alterno entre
conseguir inspiração pra escrever, e depois fico um tempo sem conseguir pegar nesse projeto. Infelizmente a carta
ficou arquivada junto a outros projetos não terminados em minha conta de e-mail.
Com os arquivos estão tantas frustrações…
Tenho dificuldade em conseguir começar a realizar um sonho, mas o MAIS difícil mesmo é conseguir terminar
um projeto.
Eis aí um desafio para quem tem o humor depressivo: caminhar até o final de seus sonhos.
Meu compromisso com você sempre foi de não romantizar a depressão, e assumo que vivi dias de muita
prostração enquanto esta carta estava arquivada.
Começar um projeto é difícil, mas continuar é o desafio da minha vida. Hoje eu estava me cobrando sobre
terminar de escrever essa carta e publicar, pela enésima vez prometi a mim mesma que “amanhã” vou dar uma
guinada na minha vida, e que vou concluir este projeto de uma vez por todas, mas minha consciência me disse que a
vida não é feita de grandes guinadas, mas sim de pequenos e leves passos. Juntei todas as poucas forças que eu
tinha, sentei na cama e estou escrevendo mais um pouquinho, um singelo e difícil pequeno avanço, e fico
imaginando essa carta um dia chegando em suas mãos.
Se você está lendo essas palavras hoje é porque a teoria de: fazer um pouquinho todo dia, não parar e, se parar,
recomeçar quantas vezes for preciso, está certa!
Se você está lendo é porque eu venci este projeto, e se eu venci você pode também.
Se eu consegui publicar essa carta, me sinto no dever de te motivar a realizar os seus sonhos, mesmo que demore
mais tempo do que o planejado.
Faça agora um pouquinho pelo seu sonho, não espere grandes guinadas, não espere uma mudança revolucionária
para colocar em prática o que te faz pensar num futuro melhor.
Comece com o que você tem hoje e vá fazendo um pouquinho sempre que conseguir. Não importa quantos
projetos você já deixou pela metade. Escolha um e faça alguma coisinha por ele todas as vezes que conseguir.
Você vai ver que uma hora termina, e quando chegar na realização do seu sonho, comemore!
Só você sabe o quanto é difícil, então se dê um projeto realizado de presente. Mesmo que leve mais tempo do que
você imaginava.
A CURA

A carta que escrevo para você está chegando ao fim, e agora começa a parte mais legal que quero te contar… a
cura!
Como já conversamos acima, a cura não chega anunciada por grandes alardes. Eu recebo a cura em doses
homeopáticas, pequenas, porém constantes.
Recebo a cura quando encontro forças para sair de casa e ir à terapia, mesmo que eu esteja mal vestida, mesmo
que eu não tenha conseguido tomar banho, mesmo que o metrô esteja lotado, ou que eu ache que perdi mais um dia
de terapia falando dos mesmos assuntos e sendo um fardo para minha psicóloga.
A verdade é que toda consulta é uma nova oportunidade, mesmo que o assunto seja o repetido; na décima vez
que você fala de um trauma, o faz de uma forma diferente, enxerga de outro ângulo, escuta novamente a sua fala, e
suas emoções vão sendo tratadas, à medida que isso é feito com um profissional qualificado. Você não é um peso
para as pessoas, seu terapeuta não espera que você sente-se ali e conte só as flores do caminho, ninguém vai ao
psicólogo contar sobre a magnífica vida que tem. Todos nós temos conflitos e os profissionais estão preparados para
ouvi-lo.
UM POUCO POR ALGUÉM

Assim como todos os seres humanos, às vezes me pego refletindo sobre a vida e tentando encontrar sentido nessa
nossa existência.
Qual seria a razão essencial para estarmos aqui? Qual seria o segredo para a felicidade?
Tenho a sensação de que não existe nada mais valioso na Terra do que se sentir útil para alguém.
A depressão tem uma faceta perigosa quando começamos a ter pensamentos de inutilidade, às vezes ela nos faz
acreditar que somos um peso para as pessoas à nossa volta. Lembro de chorar muito com essa sensação de ser um
peso, de ser inútil.
Queria dizer que lutei e não foi fácil, continuo sofrendo, mas busco a sensação de ser útil a alguém. Todo mundo
tem alguma coisa que pode oferecer para fazer alguém feliz.
Dizem que o segredo para a felicidade é exatamente fazer alguém feliz, essa carta que escrevo para você é uma
dessas minhas iniciativas para fazer algo de bom para alguém. Se eu souber que uma pessoa em depressão leu essa
carta e se sentiu minimamente acolhida, tenho certeza de que vou me sentir cumprindo minha missão no mundo.
Não espere ter muito para ajudar alguém, não espere chegar nas circunstâncias perfeitas para executar aquele
plano humanitário que você já sonhou. Comece com o que tem, com o que você pode hoje. É impressionante as
estradas que podemos percorrer começando com os primeiros e pequenos passos.
Se você puder fazer um pouquinho por dia, por semana, por mês, no final de um ano você fará um “poucão” para
muita gente, e essa energia do bem volta pra você em prazer de viver, em sentido para seus dias. É maravilhoso fazer
o bem para alguém.
Envolva- se com alguma instituição de caridade, você certamente é uma pessoa sensível e consegue entender o
sofrimento do outro. Existem pessoas nesse momento que precisam de você para ajudá-las.
É ajudando alguém que a gente se ajuda. Mesmo que seja um pouco, mesmo que pareça pequeno.
Faça a sua parte.
Perceba como o seu trabalho pode ajudar alguém e foque nesse sentido, e se você tiver o desejo de começar um
projeto social, junte-se a alguém próximo e simplesmente comecem com o que tem, e sigam fazendo o bem.
Essas três palavras são o segredo para um projeto voluntário: Iniciar, Constância e Recomeçar.
Comece e continue, e se parar, recomece quantas vezes for preciso.
Queria deixar algumas perguntas retóricas para você refletir durante essa semana:

O que você pode fazer de bom para alguém que você conhece?
O que você pode fazer de bom para as pessoas que moram com você?
Como você pode fazer seus colegas de trabalho se sentirem melhor ao longo do dia?
O que você pode fazer por alguma pessoa que você conheça que esteja precisando de ajuda?

A pergunta mais importante:

O que você pode fazer para que VOCÊ se sinta mais feliz hoje?
ÚTIL PARA OS OUTROS

Seguindo essa máxima de que para ser feliz o segredo é fazer outra pessoa feliz, podemos pensar em quantas
maneiras possíveis podemos ser úteis aos outros de várias formas simples no nosso cotidiano:

Faça um elogio sincero.


Dê um abraço apertado.
Escute atentamente o que as pessoas têm a dizer.
Ofereça um sorriso.
Apoie o trabalho de um amigo, seja consumindo ou compartilhando o seu trabalho nas redes sociais.
Segure a porta do elevador.
Deixe uma gorjeta.
Mande bilhetes para quem você ama.
Ajude alguma instituição.
Ajude na distribuição de cestas básicas.
Participe de uma campanha de agasalhos e cobertores no frio.
Filie-se a grupos que fazem visitas a abrigos e asilos.
Se você tiver alguma religião, procure se informar sobre grupos de apoio espiritual.
Brinque com as crianças da sua família.
Leve um bolo de aniversário para alguém.
Faça uma ligação para um parente distante.
Diga “eu te amo” com palavras e atitudes.
Incentive a leitura, um livro tem o poder de curar, de transportar o leitor a lugares mágicos, seja um
incentivador dos que te cercam, converse sobre livros, indique livros que possam ajudar outras pessoas.

Esses são só alguns exemplos do quanto podemos ser úteis. Fazer alguns pequenos gestos ajuda a gerar bons
sentimentos para quem faz e para quem recebe.
ÚTIL PARA VOCÊ

Coisas que você pode fazer de autocuidado:

Tenha momentos ociosos para a mente devanear e se restabelecer.


Descanse sem culpa.
Desmarque compromissos estressantes.
Tome um banho longo na temperatura que te deixa mais confortável.
Faça brigadeiro de colher.
Prepare uma mesa posta em dia comum.
Planeje seriamente uma viagem para o destino dos seus sonhos.
Diga eu te amo olhando no espelho.
Corte laços com pessoas que te fazem mal.
Construa dentro da sua casa um lar feliz e confortável. Se você é maior de idade, é responsável por viver
em um ambiente de paz. Se você ama e mora com alguém que tira a sua paz, seria interessante continuar
amando essa pessoa, mas morando longe dela e fazendo de sua casa um templo de bem estar possível,
dentro de suas condições.

Uma das coisas mais úteis que você pode fazer por você é compreender que somos seres sociais, e que sozinhos
não conseguimos nada. A importância da participação de outras pessoas no tratamento da depressão é decisiva para
a cura.
Peça ajuda!
*MADRUGADA DE
15 DE JUNHO DE 2020*

(Texto postado por mim nas redes sociais, nesse dia eu estava em profunda depressão e escrevi para encontrar
esperança.)
Quero dar um boa noite especial pra você que está pedindo a Deus, aos céus, ao universo por forças pra enfrentar
mais uma noite. Você que precisa pedir forças pra enfrentar mais um dia, mais uma hora, mais um pouco.
Quero desejar uma boa noite pra você que ressuscita todos os dias, você que pede por renovação e força. Você,
que sente que precisa de uma dose diária de ânimo para poder prosseguir. Você que antes de abrir os olhos pede
força pra viver tudo o que tem de viver no dia.
Quero desejar a você uma excelente noite, e que suas forças sejam renovadas, sua alma vivificada, seu espírito
seja tocado pelo amor, que você consiga deitar hoje sentindo paz no coração, que você sinta alegria por estar
vivendo o dia de hoje.
Quero, de coração, que você consiga viver o dia de hoje, apagar o passado e não ficar prisioneiro do futuro.
Nessa luta para sobreviver, que você vença todos os dias, e que a graça e o amor abundem em seu coração. Boa
noite, meus amores, que essa seja mais uma noite feliz, das muitas que vocês ainda vão viver.
O VALOR DAS PEQUENAS CONQUISTAS

Hoje é dia 25 de outubro de 2021, uma segunda-feira. Faz tantos dias que parei de escrever meus outros livros
para escrever esta carta a uma pessoa em depressão... Os motivos que me fizeram parar de escrevê-los foram os
mesmos que me fazem insistentemente parar de escrever este.
Baixa autoestima, desânimo, cansaço, procrastinação, síndrome do impostor e uma sensação muito ruim de
ansiedade toda vez que pego no texto para escrever.
Escrevi uma parte da carta e às vezes fico meses sem tocar nas palavras. Minha psicóloga diz que sou eu
burlando meus sonhos. Meu sonho é publicar, mas como publicar se não escrevi o que está no meu coração?
Quando eu era pequena, uma pessoa da minha família disse que eu “não daria para nada de bom” devido ao lugar
onde fui criada. De alguma forma eu internalizei isso, e como essa pessoa tinha autoridade sobre mim, acatei como
certo, e inconscientemente, toda vez que estou prestes a realizar um sonho, sinto uma angústia como se eu estivesse
errada, como se estivesse indo contra o destino prescrito para mim.
Pode parecer bobeira, mas tudo o que a gente escuta durante a infância fica guardado em nossa mente. Eu tenho o
desejo de realizar grandes feitos, mas como eu poderia fazer isso se alguém disse que eu “não daria para nada de
bom”?
Sabe, é difícil conquistar alguma coisa, parece errado comemorar vitórias. Minha psicóloga me convida a
comemorar as pequenas conquistas para eu ir me acostumando a aceitar o fato de que eu mereço vencer, mas é TÃO
difícil considerar boa alguma coisa feita por mim. Principalmente nesse momento da vida, em que praticamente não
tenho feito nada além de dormir e acordar, e esperar dar a noite para dormir e acordar novamente. Porém, para que
fique registrado, de uma vez por todas eu gostaria de compartilhar com você aqui que hoje eu CONSEGUI levantar
da cama e buscar minha filha na creche, e consegui escrever esse trecho da carta para você.
Eu sei, pode parecer pouco, mas para quem está em baixa na depressão, fazer essas pequenas coisas dispõe de um
esforço enorme e, pelo meu próprio bem, estou registrando aqui essa pequena grande conquista, para que ela seja
comemorada todas as vezes que alguém ler essa carta junto comigo.
Esse convite estendo a você, querido leitor!
Comemore as pequenas grandes conquistas do seu dia, afinal, para cada dia de luta temos um dia de vitória!
PERDÃO

(Carta sobre o perdão a uma pessoa que me magoou)


Essa semana consegui fazer uma coisa que venho adiando há muitos anos. Sempre soube que precisava perdoar
uma pessoa. A mágoa que sentia por essa pessoa certamente colaborou para a proliferação de diversas doenças
psicossomáticas no meu corpo.
Essa coisa de perdoar é muito diferente de tudo que já vivi. O perdão é abstrato, é subjetivo, não tem como provar
em exames se o perdão já aconteceu por completo, não tem como detectar os níveis de perdão que foram
concedidos.
TE PERDOEI

Eu vivia esperando a oportunidade perfeita, a situação perfeita, a Tabita perfeita para conseguir perdoar, mas,
como sabemos, a perfeição está longe da existência humana, e é tolice esperar a condição perfeita para fazer o que se
tem que fazer.
Já vinha pensando mais seriamente no assunto há um tempo, deve ter acontecido na quarta ou na quinta-feira,
não foi nada muito sobrenatural, eu olhei para algum lugar e pensei: “Eu te perdoo!”
Perdoo as vezes que você falou o que não devia, as vezes que você gritou o que não devia.
Perdoo as vezes que você fez as pessoas que eu mais amo sofrer.
Eu perdoo as suas mentiras, não sei se você achava que eu acreditava, na verdade nem sei se isso importa para
você. Pra mim foi importante e me magoou, mas hoje eu te perdoo.
Amanhã eu vou repetir esse mantra: eu perdoo você, e depois de amanhã provavelmente terei de repetir, porque
vou lembrar, e todas as vezes que eu lembrar, vou perdoar, e sempre que eu estiver viva e lembrar do quanto já fui
magoada por você, vou lembrar a mim mesma que já te perdoei, e no momento exato em que eu sentir tristeza pelo
que você fez, eu vou dizer que te perdoo, e vou repetir isso quantas vezes for preciso, até o último dia da minha vida.
E mesmo quando eu não viver mais aqui na Terra, se houver algum tipo de consciência após a morte, eu vou lembrar
que te perdoei, e novamente vou perdoar, porque essa é a minha escolha. Minha decisão.
Não importa mais o que aconteceu, eu não vou impedir as lembranças de virem a minha mente, sei que ainda vou
falar muito de você na terapia, sei que ainda tem feridas escondidas, e eu eu vou esmiuçar cada uma delas e perdoar,
e quando perdoar, vou perdoar de novo, e de novo.
Não espere conviver comigo, não espere meus sorrisos, não espere que eu fique ao seu lado, nem que eu estenda
a mão quando você precisar. Eu não vou fazer isso. Talvez eu faça, mas hoje eu não quero, não quero ver seu rosto e
nem estar no mesmo ambiente que você. Não quero rir de suas piadas e nem acariciar o seu ego inflamado, aliás, eu
já perdoei também a sua necessidade de se sentir superior às outras pessoas. Isso é um problema seu, não é mais
problema meu.
Está perdoado, mas te quero longe pelo bem da minha sanidade mental. Não pense que o meu perdão te dá o
direito de tentar me diminuir novamente, meu perdão não te dá o direito de me fazer calar de novo. O perdão ME
liberta para eu viver a minha vida independente do que você fez comigo.
O perdão me torna livre da mágoa, é por isso que digo e repito que todas as vezes que doer em mim, vou lembrar
que te perdoei, todas as vezes que sentir uma raiz de amargura, vou lembrar que o mal que você fez a mim é seu, não
meu.
O mal que você me causou é um pouco do desequilíbrio que há em você, o mal que respingou em mim flui da
inumanidade que habita dentro de você, e a partir de hoje e para sempre, os respingos dessas águas não mais me
ferirão. Eu me recuso a carregar o peso de ter experimentado dessas águas tão sujas e fétidas.
Eu também ME perdoo por ter carregado esse peso todos esses anos, meu Deus, eu tenho 31 anos e carreguei um
peso que não era meu.
Eu tenho medo de daqui a um tempo achar que não te perdoei o suficiente, mas alguma coisa me diz que cada dia
que passar eu vou te perdoar mais. Não importa onde eu esteja, não importa quanto tempo passe, cada dia vou
perdoar mais um pouquinho e lembrar que a maldade é sua, está dentro de você, e não tem mais nada seu comigo.
No lugar das feridas que me causou estão nascendo asas de liberdade, e cada dia elas crescem mais e mais um
pouco, e para sempre estarei livre do peso e da escravidão de odiar você.
FINAL

QUERIDO LEITOR, se você está vivendo a depressão, eu sei que é difícil de identificar, mas garanto que mesmo
não parecendo nesse momento, a vida de alguma forma é bonita. Tenho certeza de que um dia você vai conseguir
ver novamente que o azul do céu tem um brilho que traz paz para a alma.
Tenho certeza de que você voltará a sentir o vento batendo em seu rosto e sentir a pele aquecendo com o calor do
sol. E no momento que isso acontecer, você se sentirá vivo e feliz por viver essas sensações. Você vai voltar a
perceber o quanto é bom estar aqui, o quanto é bom sentir a vida e a paz entrando com o oxigênio em nossas narinas
e preenchendo nosso peito de esperança, porque isso é viver.
Quando a gente está em depressão, é difícil perceber essas coisas simples e preciosas da vida, mas vale a pena
continuar essa jornada para experimentar a cura.
Você é importante para o mundo, eu gosto de pensar nas palavras irmandade e fraternidade, o que nos explica
que cada um de nós faz parte do todo, que um ser humano precisa do outro, e mesmo que o soberbo não perceba a
necessidade que tem do humilde, ou o de baixa autoestima não perceba a utilidade que tem para o mundo, ainda
assim estamos ligados uns aos outros.
Cada ser humano é único em suas potencialidades, na sua singularidade, na partícula divina que existe na sua
existência.
Há cores que somente você conseguirá pintar nessa existência, e poesias que só existem dentro de você.
Sua essência, a originalidade que só existe dentro de você é capaz de tocar profundamente outro ser humano, de
levar alívio aos corações angustiados.
Sua arte pode levar beleza ao espírito das outras pessoas, e quando nós conseguimos iluminar alguém, a luz volta
para nós e preenche nosso espírito.
Imagine alguém sensível contemplando um quadro pintado por você, percorrendo as palavras de uma poesia
escrita por suas mãos ou ouvindo uma canção sua.
Imagine as mãos de crianças em situação de vulnerabilidade recebendo amor de você, em forma de um açucarado
chocolate no dia da Páscoa, e agradecendo com os olhos a visita e o presente.
Vislumbre a alegria de você dar um brinquedo no Dia das Crianças para aquelas que não tiveram o direito de
brincar.
Imagine o sorriso de uma mãe ao receber um alimento de suas mãos, a felicidade que você pode levar a uma casa
oferecendo algo de bom para os que ali moram.
Enquanto caminhamos em direção à cura da depressão, podemos colocar flores neste caminho. A estrada para a
cura não precisa ser feia, sem cor. Podemos cultivar lindos jardins que florescerão na nossa primavera, plantar
pomares que ao seu tempo darão frutos, e poderemos desfrutar deles.
Quando você planta uma árvore na sua estrada, está fertilizando também o caminho de outras pessoas. Plantar
árvores tem a ver com motivos para continuar, pois todo ano haverá colheita, produção de bons frutos, de belas
flores!
Fazer da nossa jornada um jardim rega a esperança de ciclos melhores, e eu acredito fortemente que esta
esperança se colhe principalmente quando plantamos amor no coração das pessoas.
Não se maltrate, não se cobre tanto, respeite seu tempo, cuide de você, valorize seus sentimentos, dê importância
a tudo o que se passa em seu coração.
Você é importante, suas ideias são importantes, seus sonhos são valiosos e existem para serem realizados.
Nunca é tarde para realizar um sonho, para fazer o curso que você sempre sonhou, para recomeçar, para pedir
perdão, nunca é tarde para perdoar. Sempre há tempo de dizer “eu te amo”, se já não pode mandar flores para
alguém que não está, aqui mande para alguém que ainda está.
Se entregue a novas paixões, sempre há algo para se fazer pela primeira vez.
Quando eu imaginava a cura para meu quadro de depressão, eu idealizava que um dia eu acordaria no corpo
ideal, dentro dos padrões de beleza, com muito dinheiro no bolso e numa linda casa, vivendo com minha família
toda prosperidade, amor, viagens e acesso a bens culturais, sociais e toda sorte de privilégios que uma pobre
sonhadora pode imaginar.
Cheguei a conclusão de que a cura para a depressão não é uma virada de chave, não é um start ou um grande dia
extraordinário em que o brilho das estrelas irá refletir em minha cabeça declarando o final a doença para todo
sempre, amém!
Talvez eu até acredite em milagres, mas a gente foi ensinado que os milagres acontecem de uma hora para outra,
após um estrondoso trovão que faz tudo ir para seu devido lugar num passe de mágica. A realidade da vida é que
somos um processo, somos um contínuo experimentando os gostos e dissabores dessa caminhada terrena.
Eu sonho com o dia em que as pessoas poderão falar tranquilamente sobre suas angústias sem serem julgadas,
sonho com o dia em que poderão chorar em público sem ter que pedir desculpas ou se envergonhar por deixar
transparecer fisicamente o que há de mais belo em nosso corpo, que é a humanidade que habita dentro de nós.
Sonho com o dia em que desabafar alguma angústia não seja tabu e nem visto, de maneira nenhuma, como
fraqueza.
O dia em que ir à terapia se torne algo natural e possível para todas as classes sociais.
Estamos vivendo uma epidemia de doenças psicológicas, e já está na hora de, enquanto sociedade, encararmos
isso com mais seriedade e naturalidade, porque a depressão é uma doença que faz parte do espectro humano, assim
como outras enfermidades físicas, mas infelizmente ainda há muito tabu.
A CURA PARA A DEPRESSÃO

Termino essa carta a você afirmando que sou curada da depressão todos os dias.
Recebo a cura quando, mesmo contrariada, saio do casulo do isolamento que a depressão nos convida a viver. Só
quem já recebeu esse convite da depressão entende o quanto é difícil sair de casa às vezes, e a gente vai se
aconchegando cada vez mais dentro do nosso mundinho, nossa cama fica cada dia mais confortável, e vencer isso é
um processo difícil porque, na maioria das vezes, a gente não percebe que entrou em isolamento. Sair e encontrar
um amigo ou fazer um passeio pode ser um desafio enorme, e todas as vezes que eu consigo sair de casa para ver
alguém, eu tô recebendo a cura para a depressão.
Eu recebo a cura quando tomo o remédio prescrito pelo psiquiatra.
Eu recebo a cura quando, contrariando todo o desânimo, eu tomo banho.
Eu me livro da depressão todas as vezes que peço ajuda.
Eu me livro da depressão quando tenho um novo sonho, um novo objetivo.
Eu me livro da depressão quando faço o dia de alguém melhor.
Recebo a cura para a depressão quando cuido de mim, quando valorizo meus sentimentos.
Eu me livro da depressão quando levanto mais um dia da cama pra viver a vida real.
Recebo a cura todas as vezes que consigo sair da minha cabeça e vivo o momento presente, mesmo que isso nem
sempre seja fácil.
Sou curada quando respeito meu corpo, meu tempo, não me comparo com as outras pessoas. Eu sei que não é
fácil e nem sempre a gente consegue, mas todas as vezes que conseguimos mudar um pouquinho nossos
pensamentos intrusos, recebemos uma porção da cura.
Me livro da depressão todas as vezes que me cerco de uma rede de apoio, de pessoas empáticas, respeitosas, com
quem posso dividir alegrias e tristezas.
Recebo a cura todas as vezes que ponho ponto final em relações tóxicas, sejam elas românticas, de amizade ou de
qualquer outra natureza.
Recebo a cura todos os dias em que tenho recaídas e aceito com tranquilidade que aquele dia não é bom, e que tá
tudo bem não ter um dia bom, tá tudo bem chorar e ficar na cama mais um pouquinho, desde que eu tenha em mente
que aquele é um momento de fragilidade, e não mais meu estilo de vida. Sei que no dia seguinte estarei melhor, e na
próxima vez que eu tiver uma recaída, vou chorar, sofrer um pouco e depois me reerguer, afinal de contas, aprendi
com a Fênix como se vive nesse mundo em chamas.
Recebo a cura quando digo a mim mesma que fases boas da vida passam assim como a fase ruim vai passar.
Num dia eu posso estar acamada por depressão, mas é um dia ruim, um momento ruim. A vida não é feita só desses
momentos, essa fase vai passar e um dia eu vou contar para alguém em depressão que eu também sofri, lutei, me
tratei e me curei, e serei a esperança de alguém.
RESSIGNIFICAR

Este livro foi uma forma de eu dar significado ao meu sofrimento. Saber que alguém vai ler estas palavras que
escrevi hoje, sonhar que este livro poderá ajudar o meu leitor me dá sentindo a esse momento de sofrimento interno.
Saber que alguém vai conhecer esta capa com um Ipê Amarelo, uma árvore tão significativa…
Este trabalho tem muito amor envolvido em cada linha, sentimentos, e desejo, de coração, que esse livro ajude
alguém a perceber que a depressão é uma doença sim, mas é uma doença que tem tratamento, que tem CURA, e que
nós estamos no caminho para receber a cura plena, e tenho certeza de que ela vai chegar.
Às vezes eu p enso que o dia oficial da cura total será num momento em que eu estiver tão comprometida em me
respeitar, tão intensamente trabalhando em prol do meu bem e no bem de outras pessoas, tão envolvida com a vida e
vivendo o momento presente, que de repente vou me dar conta de que a dor simplesmente passou, a angústia foi
embora e o Amor venceu. Porque eu sei que é assim no final, o Amor vence, o Amor sempre vence.
Sinta-se amado por mim, sinta-se abraçado e acolhido, sinta-se compreendido, eu, com essa carta, valido sua dor,
ela é real, tão real quanto a cura que sei que um dia chegará para você e também para mim.
Existe uma característica peculiar a todas as pessoas que lutam contra o transtorno depressivo, que é a força. Não
é qualquer um que consegue viver os dias terríveis que já vivemos e continuar firme.
A força que temos dentro de nós que lidamos com esse transtorno é indescritível, e por mais que as pessoas à
nossa volta não percebam, a gente precisa valorizar essa persistência.
Somos teimosos, com orgulho!
Levantar da cama quando todas as nossas células imploram para continuar deitada, falar com as pessoas quando
todo nosso sistema emocional implora pelo isolamento, sair de casa pra enfrentar o mundo mesmo quando seu corpo
não tem energia. Isso é incrível!
Isso é louvável e eu quero, nesse momento, dar os parabéns a mim e a você por todas as vezes que a gente
conseguiu fazer o mínimo possível. O que para outras pessoas é normal, pra gente é um desafio enorme, e mesmo
que ninguém valorize isso, estou escrevendo essa carta pra dizer que você merece todo reconhecimento do mundo
por conseguir fazer o impossível todos os dias.
Eu também quero pedir que você valorize suas conquistas. Se você conseguiu tomar banho, parabéns, que
conquista incrível! Quantos e quantos dias eu não consegui, e quando consigo cuidar de mim, procuro valorizar isso.
É pra comemorar de verdade!
Meus parabéns por todas as vezes que você luta contra pensamentos ruins e escolhe intencionalmente
pensamentos bons para o futuro, e todas as vezes que se esforça para lembrar as coisas boas do passado.
Se você consegue trabalhar, meus parabéns! Eu sei o quanto é difícil ir ao trabalho todos os dias, eu sinto muito
que as coisas ainda estejam assim. Tenho certeza de que com o tratamento e a ajuda você vai conseguir encontrar
ânimo para sair de casa todos os dias e ressignificar seu trabalho, porque trabalhar é dar dignidade à pessoa humana.
Eu não sei como será o futuro, não sei o que vai acontecer, só sei que a gente precisa continuar caminhando,
desenhando e redesenhando novas histórias, novas possibilidades, novos problemas, novas esperanças a cada
amanhecer.
Um abraço fraterno!
TABITA BRASIL
VOTOS PARA ALGUÉM
EM DEPRESSÃO
(Poesia escrita pela autora)

Desejo que hoje seja um bom dia para você que está passando por um momento difícil
Desejo que até a hora de dormir você sinta algum alívio na alma
Sonho que você tenha esperança de que dias melhores virão
Sonho que você encontre motivos para sorrir
Tomara que você fique bem
Tomara que você encontre forças
Que você receba alegria
Que você consiga fazer da sua dor a semente de uma linda árvore
Queira o universo que ventos bons soprem na sua direção
Força, amor e paz no seu coração e, se puder, mentalize o mesmo para mim.
Antes de viver todas as experiências que contei nessa carta, eu não sabia que a depressão poderia ser uma coisa tão
séria a ponto de paralisar uma vida!
Às vezes tenho a sensação de que cheguei em um nível abaixo do fundo do poço. Eu fui sugada, enterrada de
maneira que só o meu nariz ficava para fora, para eu conseguir somente respirar.
Tinha dias que nem isso.
Foi e é muito difícil, mas estou aqui para dizer que ultimamente estou vivendo uma deliciosa fase em que parece
que, lentamente, estou... melhorando!!!
Isso mesmo.
Querido leitor, estou chorando enquanto escrevo essas últimas palavras. Eu juro por Deus que há muitos anos não
lembrava mais como era estar minimamente bem.
Estou em dia com os tratamentos, demorei MUITO para conseguir acertar a medicação, porque o médico trocava a
receita, alterava a dose, os horários, mas infelizmente os remédios não faziam efeito.
Dizem que felicidade não se grita alto, mas eu estou te entregando essa carta para dizer que, depois de muito tempo,
estou conseguindo ver uma luz pequena lá no fim do túnel. Ainda estou no fundo do poço, mas já não estou mais
soterrada! Começo a sentir o meu corpo lentamente se movimentando e batendo a poeira que me enterrou, para mais
adiante eu conseguir me sentar e depois me levantar, e depois começar a subir o poço e voltar à superfície.
Meu Deus, eu não tinha esperança mais de melhoras porque fiz todos os tratamentos que eu pude e só piorava.
Aceitei que não tinha mais jeito para mim e que seria assim até a morte me buscar, mas... eu ESTOU
MELHORANDO DE VERDADE!!!
É a primeira vez que escrevo isso e sei que alguém precisa ler hoje, que uma paciente em depressão finalmente está
começando a sentir os primeiros sinais de cura, depois de tantos anos de escuridão. Eu nem sei como que Deus está
me dando essa chance de retomar a vida, e se você (por algum motivo) está sem esperança, lembre-se de mim.
Se eu estou conseguindo acreditar que existe um futuro bom, você também pode!
Esse não é um livro motivacional vazio, essa é a história da MINHA VIDA, e eu estou tão cheia de esperança que
acredito que, se está tendo jeito para mim, também terá para você!
É isso, escrevi essa carta para você em momentos diferentes, foram muitas lágrimas em cada página, alguns sorrisos,
crises de ansiedade e mais um milhão de sentimentos.
Se você leu até aqui, quero te agradecer. Dizem que a maior propaganda de um livro é o “boca a boca”, parece que
as pessoas se animam mais em ler algo se ouviram alguém próximo dizer que foi bom, e por isso gostaria de pedir
sua ajuda para fazer com que essa carta chegue nas mãos de mais pessoas. Por favor, fale sobre essa carta para seus
amigos e familiares, vamos aumentar essa corrente de esperança. E é isso aí.
Mais uma vez obrigada pela confiança, me sinto lisonjeada em saber que esta carta chegou em suas mãos.
Agradecimentos
As minhas seguidoras/amigas das redes sociais, porque elas são fiéis escudeiras e estão comigo na alegria e na
tristeza.
Aos meus pais, irmãos, cunhados, sogros, sobrinhos, primos, tias, tios, com quem tenho momentos maravilhosos.
A todos os amigos e amigas, de perto e de longe, em especial para Noemi, Carla, Pamela e Letícia.
A minha filha Maria Flor, que é a verdadeira Árvore de Ipê, ao meu enteado Gabriel, que foi o melhor presente, e ao
meu Diel, que é o cara mais sensacional que conheço no mundo.
SOBRE A AUTORA

Tabita Brasil é uma Pessoa Altamente Sensível (PAS) que viu sua vida paralisar por conta de um inimigo
“invisivel”, a Depressão. Inicia a carreira de escritora com a intenção de ajudar pessoas que passam pelo mesmo
processo que ela.
Com esse livro Tabita rompe com seus medos e inseguranças, dando início ao ousado Projeto Árvore de Ipê.
Siga: @escritora.tabitabrasil
Contents
1. Apresentação
2. A CARTA
3. SINTA-SE ABRAÇADO
4. OS ESTÁGIOS
5. - TABITA, VOCÊ PRECISA SE TRATAR
6. CARTA A MINHA PSICÓLOGA
7. A IMPORTÂNCIA DA VALIDAÇÃO EMOCIONAL
8. COM QUANTOS ANOSESTAMOS PRONTOS?
9. AS FERIDAS QUE NINGUÉM VÊ
10. SOFRIMENTO DO CORPOOU DA ALMA
11. DIA DAS MÃESTexto escrito pela autora no Dia das Mães, após a homenagem escolar de sua
filha.
12. O NOVO NORMAL
13. AUTOCOMPAIXÃO
14. AUTOSSABOTAGEM
15. DESABAFOSegue um trecho de um momento de crise depressiva da autora, e de como ela se
sentiu após a crise passar:
16. BAIXA AUTOESTIMA E ISOLAMENTO
17. A ARTE COMO FERRAMENTA
18. ESCAPISMO
19. A FUGA DA REALIDADE
20. CONTENTAMENTO
21. LETARGIATexto/Desabafo escrito pela autora em um dia difícil.
22. COM QUE ROUPA?
23. FAMÍLIA
24. TIA-AVÓ
25. *ORAÇÃO DE UMA PESSOAEM DEPRESSÃO*
26. O caminho para a cura
27. PORQUE UMA ÁRVORE DE IPÊ?
28. MINHAS PÉTALAS
29. CAMINHOS
30. SETEMBRO
31. A CURA
32. UM POUCO POR ALGUÉM
33. ÚTIL PARA OS OUTROS
34. ÚTIL PARA VOCÊ
35. *MADRUGADA DE15 DE JUNHO DE 2020*
36. O VALOR DAS PEQUENAS CONQUISTAS
37. PERDÃO
38. TE PERDOEI
39. FINAL
40. A CURA PARA A DEPRESSÃO
41. RESSIGNIFICAR
42. VOTOS PARA ALGUÉM EM DEPRESSÃO(Poesia escrita pela autora)
43. Agradecimentos
44. sOBRE A AUTORA

Landmarks
1. Cover
2. Table of Contents

Você também pode gostar