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Pássaro d’água
Recebido em 18-02-2019
Modificado em 21-03-2019
Aceito para publicação em 24-04-2019
Você já sentiu em algum momento que não está vivendo sua vida da forma como
gostaria? Que há alguma coisa faltando ou te incomodando? Acho que todo mundo
responderia “SIIIIIIIIIM”. Mas não estou falando sobre coisas que o dinheiro pode comprar,
como viagens, sexo e status. Me refiro às escolhas do dia a dia, como o que estudar, quando e
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com quem ir ao cinema, com quais parentes se relacionar. De toda forma, penso que qualquer
pessoa responderia “SIM” para essa pergunta, com exceção, talvez, dos monges... Enfim, eu
era apenas um cara de 18 anos, gay não assumido, universitário solitário, vivendo às margens
da família e com muita, muita vontade de encontrar o amor, para não falar outra coisa.
As pessoas sempre me falavam como meus pais eram joviais, bonitos e divertidos. E
eles o eram, de fato. Ao lado deles eu parecia um patinho feio. Até mesmo minha irmã,
Kauany, herdara o cabelo negro muito liso, a pele avermelhada, os olhos amendoados e os
lábios bem desenhados de minha mãe, Edmara. Meu pai, Celso, era alto e forte e, bem, eu não
era tão alto e nem tão forte quanto ele. No entanto não era a aparência de qualquer um deles
que me deixava irritado e inseguro, mas a desenvoltura, a elegância e a capacidade para
representar espontaneidade. Meus pais eram muito bons na arte de lidar com as pessoas,
exceto, é claro, quando a pessoa em questão era eu.
Naquela noite estávamos em um clube, comemorando a chegada do ano novo. O lugar
estava decorado com flores brancas e amarelas, cortinas, lâmpadas e balões prateados em
forma de estrela. Havia uma banda tocando qualquer música do Skank e algumas pessoas
deixavam as mesas para ir à pista de dança, enquanto outras andavam de um lado a outro
conversando, ou seja, lá do que se pode chamar toda aquela animada demonstração de afeto.
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derivações 4.0 Internacional: https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR
Simbiótica, Vitória, v.7, n.2 (jan.-jun./2020) ISSN 2316-1620
O clube era bastante grande. Havia um jardim decorado e iluminado, com passarelas
que levavam aos outros espaços; havia o gramado; a área das piscinas recreativas, ocupadas
por alguns banhistas, em entorno das quais foram colocadas mesas; havia o salão, com o palco
e a pista de dança, preparada como uma verdadeira boate para a ocasião; havia a parte
descoberta, porém com piso, que era onde estávamos; havia o bar, no canto do salão; e a área
com as quadras e com a piscina olímpica, que naquela noite não fazia parte da festa. Minha
família era associada a esse clube, então eu havia crescido frequentando aquele lugar,
seguindo meu pai de um lado a outro, porque ele havia decidido que deveríamos praticar
algum esporte juntos.
Meu pai exibia seu sorriso cordial enquanto cumprimentava algumas pessoas que
passavam por nós. Dividíamos a mesa com um amigo de meu pai, Valdece, e sua família
tradicional, que consistia na esposa e três filhos, dois dos quais eram crianças insuportáveis
que deveriam estar dormindo. Minha mãe conversava alegremente com Salete, a esposa, e
minha irmã interagia com a outra menina adolescente, Isadora. As crianças, cujos nomes não
vou citar porque isso não importa, brigavam por alguma coisa. Eu trocava mensagens de texto
com um amigo que, infelizmente, estava a quilômetros de distância. O barulho me 264
incomodava, o calor me castigava, a música me entediava, a agitação me irritava. Meu amigo
virtual, Victor, estava em uma boate e demorava para responder. Suspirei desanimado.
A virada do ano sempre me deixava nervoso. Eu sentia o tempo passar e as cobranças
se tornarem mais pesadas. Uma nostalgia apavorante surgiu dos meus primórdios e me fez
sentir saudade da infância, uma infância que não fora assim tão maravilhosa. Meus pais,
aparentemente descontraídos, eram muito exigentes quando a questão era a preparação para o
futuro. Por isso eu me empenhara para ingressar na universidade, por isso me empenhava para
ter boas notas, por isso passava os finais de semana com a cara nos livros, por isso não tinha
amigos, por isso não tinha vida. Por isso eu não tinha namorado.
Olhei para meu pai. Ele e o amigo estavam em pé, apertando a mão de um homem
mais velho que eles, que lhes dava tapinhas no ombro. Meu pai então nos apresentou a ele,
que nos desejou feliz ano novo. Era alguém do trabalho. Vários de seus colegas estavam ali
com suas famílias. O clube estava lotado. Adultos, adolescentes, crianças. Reconheci vários
associados. A algumas mesas à direita estavam Salvador e Mário, um casal com o qual meu
pai e eu tentáramos aprender a jogar tênis, mas nos descobríramos inaptos. Observei os dois
com seus amigos, rindo e fazendo brindes, e fui surpreendido por eles. Mário me reconheceu,
se levantou e se aproximou, sorrindo. Salvador fez o mesmo.
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– Feliz ano novo, marionetes! – disse Salvador, se referindo a mim e ao meu pai. Era
assim que ele nos chamava quando corríamos desesperados de um lado a outro tentando usar
a raquete. Ele era um homem bonito, da Colômbia, na casa dos 50.
Meu pai, pego de surpresa, se levantou para apertar as mãos dos dois homens. Fiz o
mesmo. Salvador e Mário eram pessoas agradáveis e seus sorrisos eram honestos. Pensei nas
barreiras que haviam precisado enfrentar para permanecerem juntos. Valdece, um tanto
constrangido, também os cumprimentou. As mulheres foram apresentadas e cumprimentaram
com beijos no rosto. Todos trocaram felicitações. Salvador fez cafunés nos dois meninos (que
se comportaram de forma bem grosseira, por sinal). Prestei atenção ao modo como as coisas
se desenrolavam na presença do casal, porque sabia mais ou menos o que aconteceria quando
os homens se afastassem. E, como eu previra...
– De onde você conhece esses cabras? – Valdece perguntou.
– Daqui do clube – meu pai respondeu, sério, mas um pouco vacilante. – Kaique e eu
tivemos algumas aulas de tênis com eles, mas percebemos que isso não é para nós.
– E o que foi que vocês perceberam que não é para vocês? O tênis ou o quê? – o
homem provocou, rindo, como se fosse uma brincadeira. 265
– O tênis é um esporte muito diferente, a gente prefere o futebol, né, Kaique?
Movimentei a cabeça em sinal positivo, mas, apesar de que às vezes eu jogava por
insistência de meu pai, não gostava de futebol.
– Simpáticos, eles – comentou Salete. – O que eles fazem? São cabeleireiros?
“Claro! Porque toda bicha tem que ser cabeleireira”, pensei.
– Um é advogado e o outro é jornalista – respondeu meu pai.
Valdece deixou escapar um risinho contido.
– Jornalista, tinha que ser.
– Por quê? – perguntei, numa rara ocasião em que abri a boca.
O homem me olhou por alguns segundos e decidiu não estender o assunto.
– Ah, por nada. É só que geralmente esse povo tem talento para a mídia mesmo.
Minha mãe, belíssima, maquiada como se fosse uma miss Venezuela aos 40 anos,
resolveu contribuir com a discussão.
– O Celso já tinha me falado deles, mas eu não conhecia eles. O latino é da Colômbia.
Kauany, que também observava a tudo muito atenta, soltou uma gargalhada e disse:
– Mas qual latino, mãe? Nós todos somos latinos. O Brasil faz parte da América
Latina. Vocês são demais!
– Eu sei disso, é só modo de dizer – respondeu minha mãe, envergonhada.
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***
O vocalista da banda finalizou a canção e foi substituído por uma cantora, que disse
algumas frases para “animar a galera” (odeio essa expressão). A mulher começou a cantar a
música Into you, de Ariana Grande, e minha irmã e a outra menina enlouqueceram.
– Vamos dançar, Kaique! – minha irmã me convidou, se agarrando a meu braço.
– Não, depois eu vou.
Kauany não insistiu e se levantou, me chamando de chato. Isadora a acompanhou, sem
antes me lançar um olhar que, para minha surpresa, pareceu ser uma tentativa de sedução.
Escondi a surpresa e a vontade de rir. As duas desapareceram na neblina de gelo seco. Meus
pais estavam distraídos e eu, de saco cheio, mas a música era contagiante e fiquei admirado
com a voz da cantora. Eu deveria conferir? Não havia ninguém olhando para mim. Me
levantei e me aproximei aos poucos da pista, tomada por adolescentes. Me desviei das
pessoas. Kauany e Isadora dançavam próximas ao palco. As luzes eram azuis, vermelhas e
violetas.
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Ele olhou da taça para mim e imaginei que estava se questionando se eu era a melhor
pessoa para fazer aquilo.
– Tá – respondeu, por fim, me entregando o objeto.
Então tirou um pano de um dos bolsos do avental, se abaixou e juntou os cacos de
vidro.
– Você pode me esperar alguns segundos aqui? Vou jogar esses cacos num lugar
apropriado lá na cozinha. Essa não foi a primeira taça quebrada do dia.
Ele disse isso muito rápido e me deixou sozinho no meio da multidão. O vocalista
estava de volta e cantava There’s nothing holdin’ me back, de Shawn Mendes, e comecei a
pensar em Isadora. O que ela teria imaginado? Será que havia percebido o que eu estava
olhando? Procurei pela mesa de meus pais. Havia pessoas que eu não conhecia sentadas com
eles e uma das crianças chorava. Não desejei voltar para lá.
Senti o impulso de pegar meu celular para contar ao Victor sobre o esbarrão, mas
minhas mãos estavam ocupadas pela bandeja. O espumante acenava para mim com suas
borbulhas. Eu não costumava beber, mas de repente desejei ter 1 centímetro para mergulhar
em uma daquelas taças e morrer afogado. Um cara e uma moça passaram e me perguntaram 268
se podiam se servir. Respondi que sim. Ambos eram muito bonitos e me desejaram feliz ano
novo. O rapaz estava cheiroso e, quando saiu, notei que tinha ombros largos e um bumbum
bem interessante.
– Pronto, agora ninguém vai se machucar – disse o garçom, me fazendo voltar à
realidade.
Ele estava parado à minha frente, sorrindo, com os braços estendidos. Entreguei a
bandeja a ele com alguma dificuldade.
– Desculpa pelo desastre – eu disse, sem jeito.
– De boa. A gente fica mesmo meio atrapalhado depois de algumas.
– O quê? Ah, não! Não tô bebendo.
Ele pareceu incrédulo.
– Sério? Não vai curtir o open bar? O ingresso foi caro, não?
Dei de ombros.
– A gente é sócio do clube, então só custou a metade do preço. E foi meu pai que
pagou, então...
– Ah, você tá aqui com a família?
– Sim.
– E foi sua família que fez você sair correndo daquele jeito?
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– Não ainda, mas qualquer dia eles vão me fazer correr mais rápido que o Bolt.
Ele riu.
– Mas você não vai mesmo aceitar uma taça de espumante? Hoje é noite de festa –
perguntou.
Declinei da oferta.
– Não, valeu! Acho que se eu ficar bêbado, vou acabar me tornando inconveniente.
Ele sorriu e disse:
– Acho que conheço você.
Fui pego de surpresa. Eu só saía de casa para ir à universidade, portanto duvidei que
ele de fato me conhecia. “Oh, espera aí! Ele está interessado em mim? Por quê?”, me
perguntei, depois de me dar conta de que talvez aquele rapaz estivesse tentando alguma coisa.
– Sério? Acho que não, hein! – respondi.
– Você não é calouro de medicina?
Uhm! Então de fato ele já havia me visto?
– Sim, eu costumava ser, mas consegui vencer o primeiro ano e agora sou um
veterano. 269
– Parabéns, veterano.
Fiquei sem graça e perguntei:
– Já conversamos antes?
– Ah, não! Eu só te vi de longe, nos corredores.
– E o que você achou? Ou melhor, o que eu tava fazendo?
– Uhm... Você tava andando, carregando alguns livros...
Oh, my god! Então alguém havia prestado atenção em mim?
Ele olhou ao redor e de repente ficou um pouco nervoso.
– Bem, tenho que ir. É meu primeiro dia aqui, não posso ficar parado.
O rapaz de repente se agitou e começou a sair, mas agi pelo impulso de saber mais
sobre ele e o chamei:
– Espera!
Ele parou e ficou me olhando.
– O quê?
“O que devo dizer?!”, perguntei a mim mesmo.
– É que eu... Hã... Vou aceitar o espumante.
Me aproximei hesitante e peguei uma taça.
– Meu nome é Kaique. E o seu?
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Ele sorriu, cheio de si. Comecei a achá-lo muito fofo e a pensar que ele deveria ser
uma gracinha pelado.
– Sou o Heitor.
– Uhm... Feliz ano novo, Heitor.
– Feliz ano novo, Kaique.
Olhei para o chão, depois rapidamente para ele e então para o lado. Victor saberia o
que dizer em uma hora dessas.
– Quer dizer que você também tá na universidade?
– Sim, tô indo pro terceiro ano de Biologia.
– Legal! A gente se vê por lá? – perguntei, enfrentando o nervosismo.
Eu só queria conversar um pouco mais com ele. Não era sempre que eu interagia dessa
maneira com um cara. Ele fez uma expressão de “estou seduzindo você” e disse:
– Sim, com certeza. Mas pode ser que a gente se esbarre antes disso, quem sabe?
***
270
Eu pensava em Heitor. Tentava me recordar de seu rosto nos corredores da
universidade, mas não conseguia me lembrar. Era o preço por ser muito distraído. Eu havia
visitado o bar algumas vezes e estava em meu terceiro drinque. Abandonara o espumante e
tomava uma bebida vermelha um pouco doce. Kauany e Isadora, muito suadas, respiravam
ofegantes do outro lado da mesa. Eu sabia que as duas haviam bebido escondido. Elas
cochichavam e riam o tempo todo. Meu pai observava Kauany com reprovação e às vezes me
lançava olhares inquisidores. Tínhamos 17 e 18 anos e, apesar de nossos pais não serem
contrários a bebidas (não diretamente, pelo menos), costumavam dizer que uma vida regrada e
com limites evita muitos problemas.
Eu estava com o pensamento longe quando uma voz recém-conhecida fez com que eu
me arrumasse na cadeira.
– Boa noite. Vim trazer suas garrafas de espumante.
Heitor estava parado do outro lado da mesa, segurando sua bandeja. De acordo com os
ingressos que compráramos, tínhamos direito a algumas garrafas de espumante. Sorri para ele
e fui retribuído. Meu pai lhe disse alguma coisa, que não ouvi direito. Heitor tinha
sobrancelhas grossas e olhos castanho-avermelhados. Seu cabelo, muito escuro e espesso, fora
penteado de lado, numa tentativa falha de deixá-lo arrumado. Ele ficava bonito com o avental
branco que estava usando.
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Senti vontade de falar com ele, dizer qualquer coisa boba, fazer um comentário
aleatório, mas a presença de meus pais inibiu minha coragem. Era como um campo de força
que me imobilizava, mesmo que meu coração estivesse batendo muito rápido. Heitor deixou
as garrafas dentro de um balde com gelo sobre as mesas e saiu. Ao passar por mim, no
entanto, lançou uma piscadinha. Como eu não conseguia piscar com um olho só (sim, nunca
pude fazer isso), apenas mantive meus olhos nos seus e, quando ele estava o mais próximo
possível, o chamei baixinho.
– Heitor?
Ele se curvou para me ouvir melhor. Ficou tão perto que pude sentir seu perfume.
– Oi, não falei que iríamos nos ver em breve?
Sorri para ele, mas em seguida percebi que meu pai me observava, então lhe perguntei:
– Você pode me trazer alguma coisa pra beber?
– Claro. O que você quer?
Eu não entendia nada de bebidas.
– Me traga a sua favorita.
Diante de minha resposta, ele mordeu os lábios e saiu. Imediatamente finalizei a 271
bebida que estava tomando em dois grandes goles.
Minha mãe, que comandava a conversa geral, desviou o foco e falou, quase
docemente.
– Hoje o Kaique tá animado.
Todos olharam para mim.
Foi incrível como, apenas com essa afirmação, ela conseguiu deixar subentendido que
não somente estava me observando beber como também antecipava que a bebida não me faria
bem, uma vez que eu não estava acostumado a me embriagar e não era naturalmente uma
pessoa animada.
Tentei sorrir, não consegui.
– Pois é – eu disse. – Tô tomando esta bebida fraca por causa do calor.
– Não vai exagerar – ela aconselhou, então voltou a falar sobre seu trabalho como
veterinária.
Meu celular vibrou.
– Kaique, vamos dançar. Por favor! Sei que você quer. Sei que dentro de você existe
uma bailarina louca pra desabrochar – me convidou Kauany.
Levantei os olhos do celular, ainda indignado com a forma como Victor havia me
dispensado, e comecei a concentrar a raiva em minha irmã quando percebi o que ela estava
falando. Segundos depois, no entanto, senti muito medo. Olhei para meu pai, me certificando
de que ele não ouvira aquela cretina dizer que tenho uma bailarina louca dentro de mim. Ele
estava entretido com a conversa. Respirei profundamente, procurando permanecer calmo.
– Você sabe que eu não gosto de dançar – falei.
– Não sei de nada disso. Isadora e eu vimos você na pista de dança, obcecado pelos
passos que os dançarinos estavam apresentando. Ou você vai falar que não?
– Eu estava olhando para a cantora. Gostei dela.
– Então vamos dançar, por favor!
– Que interesse é esse em me levar pra dançar?
– Você vai vir?
Olhei para a última mensagem de Victor: “Migo, um bj.... tô indo dançar”. Tomei
coragem. 273
– Tá. Mas você pode esperar só um pouco? Eu pedi uma bebida.
– Uhm, tá recebendo atendimento exclusivo, é?
– Fala baixo, Kauany!
Não demorou muito e Heitor retornou com um drinque.
– O que é isso? – perguntei.
– É piña colada.
Experimentei a bebida. Tinha gosto de coco e de abacaxi.
– Que gostoso!
– Que bom que gostou. Fiquei com medo de que fosse alérgico a abacaxi.
– Não sou. Hã, escuta, você não quer ir dançar? – perguntei baixinho.
– Eu adoraria, mas... Tô trabalhando, lembra? – ele respondeu, apontado para o
avental. – A gente se fala depois, tudo bem?
– Certo.
Então mais uma vez ele se retirou.
– E agora, podemos ir? – perguntou Kauany.
Confirmei com a cabeça e me levantei, segurando a pinã colada.
– Aonde vocês vão? – perguntou Valdece.
– Vamos dançar – Isadora respondeu.
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– Estejam aqui para a contagem regressiva, não falta muito para a meia-noite – minha
mãe interpôs.
– Não vamos demorar – Kauany disse, finalizando com um beijinho irritante.
Comecei a caminhar em direção à pista antes que eu me arrependesse e, no caminho,
procurei por Heitor discretamente. De repente um garçom surgiu à minha frente, mas era um
homem mais velho. Balancei a cabeça, decepcionado, dizendo a mim mesmo para deixar de
ser tão iludido.
Kauany e Isadora riram animadas e pegaram duas taças de espumante da bandeja do
garçom, que, bravo, perguntou se elas tinham idade para beber. Elas tomaram tudo de uma
vez e devolveram as taças vazias para o homem. Fingi que não vi nada, porque o mundo
começava a girar e não eu queria me preocupar com aquilo. Abri caminho entre as pessoas e
achei que tinha ouvido alguém reclamar e dizer que eu era mal-educado. Estávamos mais ou
menos no centro da pista. A banda tocava New rules, da Dua Lipa. Fechei os olhos e ouvi a
voz da cantora.
– Como é o nome dessa banda? – perguntei às meninas.
– O quê?! 274
Elas me responderam alguma coisa, mas apenas vi suas bocas se mexerem e não ouvi
nada além da música, pois o som estava muito alto. Dei de ombros. Minha irmã começou a
tirar selfies e ficava me puxando, para me enquadrar nas fotografias. Estávamos dançando
muito próximos. Tentei não me importar com minha forma desengonçada de me balançar.
Entrava música e saía música e eu só conseguia pensar no que eu faria se pudesse
levar Heitor para um cantinho escuro. Como eu pudera nunca o ter notado na universidade?
Algumas pessoas costumavam dizer que eu era muito arredio, e outras que era metido a besta.
A verdade era que o mundo me parecia uma grande bagunça e eu estava sempre sendo
atropelado por alguma coisa.
Finalizei a bebida e rapidamente o copo vazio se tornou um incômodo, então saí da
pista de dança para deixá-lo em algum lugar. Quando eu estava voltando, alguém, por trás de
mim, me disse junto ao ouvido.
– Você dança muito bonitinho.
Heitor sorriu, mas antes que eu pudesse lhe dizer qualquer coisa, outro garçom parou
ao lado dele e lhe falou algo. Ele apenas balançou a cabeça, me olhou como se pedisse
desculpa e acompanhou o outro cara para algum lugar.
Voltei para junto de minha irmã e a amiga. Elas conversavam com um cara que
aparentemente as conhecia. Fui apresentado a ele e tentei decifrar seus lábios se movendo
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para entender seu nome: Diogo ou Diego. Ele tentou falar comigo, mas fiz sinal de que não
estava conseguindo escutar o que me dizia. Ele sorriu e apontou para seu copo vazio, então
compreendi que estava me chamando para pegar mais bebida. Acenei que sim. Kauany e
Isadora continuaram dançando enquanto Diogo/Diego e eu nos encaminhamos para o bar.
– O que você vai querer? – ele me perguntou.
– Não sei.
– O que você tá tomando?
– Esqueci. Alguma coisa com cola.
Ele riu.
– Por que não pede um dry martini? Ou um bloody mary?
– Um o quê?
– Um blood mary.
Soltei uma gargalhada.
– Por que você tá rindo? – ele perguntou.
– Isso é engraçado.
– O que é engraçado? 275
Dei uma olhada em Diego/Diogo. Era um rapaz mais ou menos da minha idade,
magro, olhos castanhos grandes e cabelos castanhos curtos. Bonito. Devia ser um ficante
recorrente de minha irmã ou de Isadora. Ou das duas.
– Ah, nada. Só me lembrei da rainha Maria Sangrenta da Inglaterra – respondi,
percebendo em seguida que isso poderia ter soado um pouco bizarro.
O cara preferiu ignorar essa parte da conversa.
– Então você é irmão da Kauany?
– Sim.
Nesse momento estávamos encostados ao balcão e o barman me perguntou o que eu
iria querer.
– Ei, Diogo, como é o nome daquela primeira bebida que você falou?
– Diogo?! Meu nome é Johnny!
Comecei a rir.
– Ele quer um dry martini – Johnny disse ao barman. – Vou querer o mesmo.
O rapaz me olhou e não consegui decifrar suas expressões.
– Que foi? – perguntei.
– Você é muito bonito.
Imaginei que eu não tinha ouvido direito. Fiquei em silêncio.
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Ele continuou.
– Uhm... Desculpa, só foi um elogio. A Kauany me falou de você, disse que você é
legal, mas muito reservado.
Um alarme soou em minha cabeça. “Então minha irmã tá falando sobre mim para as
pessoas? Linguaruda! Não sabe ficar na dela? Mas o que isso significa? Será que ela contou a
mais alguém?”, disparei a pensar. Eu não sabia o que dizer a Johnny, estava muito nervoso.
Na pista de dança, a banda desenterrava Don’t stop the music, da Rihanna.
O barman colocou as bebidas sobre o balcão. Era um copo bonito e reconheci o
drinque de fotos vistas na internet. Tentei beber de uma só vez, mas não consegui.
– Vai com calma, gato – Johnny me recomendou, mas isso apenas me deixou mais
nervoso e virei o copo.
– Preciso ir ao banheiro – falei.
– Você tá bem?
– Sim. Já encontro vocês na pista.
Saí apressado, precisava jogar um pouco de água no rosto. Depois tomar um ar na
parte externa do clube, mas de repente me choquei com alguém em alta velocidade. A bebida 276
caiu por cima de mim e do garçom que ousara cruzar meu caminho. De um segundo para
outro eu estava com a camiseta branca e um pedaço do short molhados com algo com cheiro
de limão. Heitor também estava ensopado, mas sua sorte fora que a maior parte da bebida
caíra sobre o avental.
– Você tá bem? – ele perguntou.
– Sim. Desculpa, desculpa, desculpa. Sou um desastre!
– Você se machucou?
– Não, e você?
Olhei para a bandeja. Incrivelmente apenas um copo havia caído e se quebrado. Os
outros estavam deitados, mas ilesos. Heitor se abaixou, colocou a bandeja no chão e jogou os
cacos em cima do objeto.
– Vou levar isso para a cozinha – disse. – Me espera no banheiro, tenho uma toalha.
Tentei dizer que não precisava, mas ele desapareceu abruptamente assim como tinha
chegado. Eram muitas informações recebidas em pouco tempo para processar. Caminhei
devagar até o banheiro. Havia apenas dois homens lá dentro. Fui até a pia e lavei meu rosto.
Olhei para o espelho e me encarei. Meus olhos também eram amendoados como os de minha
mãe e minha boca também tinha um formato bonito. Fui até um mictório e mandei ver. Não
havia percebido que eu precisava disso também. Quando retornei à pia, encontrei Heitor me
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esperando com uma toalha e uma garrafinha de água nas mãos. Ele estava sem o avental.
Estávamos sozinhos.
– Fiz você ser demitido em seu primeiro dia? – perguntei.
Ele balançou a cabeça negativamente e me entregou a toalha. Enxuguei meu rosto e a
devolvi. Ele colocou a garrafa sobre a pia e começou a abrir os botões de sua camisa. Levei
alguns segundos para entender que ele queria expô-la ao secador de mãos. Eu não sabia para
onde olhar. Fiz o que me foi possível, mas não pude deixar de fixar minha visão em seu tórax
e abdômen. Ele não era um cara malhado, tinha um corpo comum, e inclusive um pouco
peludo. E naquele momento descobri que gosto de peludinhos.
Um homem entrou, foi até o mictório e saiu sem lavar as mãos.
– Porco – eu disse.
– O quê?
– Nada.
Ele usou a toalha para secar o peito e fiquei com raiva da ordem em que as coisas
haviam acontecido naquele banheiro nos últimos minutos. Teria sido muito mais interessante
se ele tivesse esfregado a toalha no corpo antes de eu a colocar em meu rosto. 277
– Não vai secar a camiseta? – ele perguntou.
– Uhm...
Na verdade, eu precisava mesmo fazer isso, pois estava bastante molhado. Com muita
vergonha, tirei a camiseta e me encaminhei até outro secador. Pelo espelho, percebi que
Heitor me observava. Ele terminou o que estava fazendo e se vestiu novamente. Jogou a
toalha para mim. Eu a agarrei apenas com uma mão e tentei me secar, mas percebi que estava
mais grudento que molhado.
– Tô todo grudento, droga – eu disse, sorrindo.
Heitor terminou de abotoar a camiseta, foi até a pia e molhou as mãos.
– Onde tá grudento? – perguntou.
Apontei para meu abdômen e em seguida para meu tórax.
– Aqui e aqui.
Sem o menor constrangimento, ele me tocou com as mãos molhadas nos lugares
indicados. Estremeci ao sentir o contato de sua mão fria com minha pele quente. Ele molhou
novamente as mãos e repetiu o procedimento. Meu corpo reagiu àquela experiência, mas
fiquei nervoso com o perigo de alguém nos flagrar. E se meu pai entrasse lá?
Logo eu estava seco e vestido novamente.
– Você me parece um pouco tonto – falou Heitor.
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– Não, tô de boa.
– Ah, tá. Claro que sim. E eu achando que você era um cara sério.
– Mas eu sou um cara sério. Muito sério.
Ele riu.
– E por que motivo decidiu que queria encher a cara?
Heitor me encarou, preocupado, esperando uma resposta. Mas ao mesmo tempo
pareceu estar se divertindo com tudo aquilo.
– Não tô bêbado – foi o que respondi.
De fato, eu já não me sentia tão alterado quanto antes de lavar o rosto.
– Vou fingir que acredito. Olha, eu conheço um lugar bem tranquilo onde a gente pode
se sentar por alguns minutos para tomar essa água – ele disse, pegando a garrafinha. – Vamos
dar um tempo lá?
– Mas você não tem que trabalhar?
– Tô no intervalo. E posso demorar um pouco mais, pedi pra um colega segurar as
pontas pra mim, mas vou ficar devendo essa pra ele.
– Uhm... Então tudo bem. 278
Deixamos o banheiro e escapamos do salão.
– Que horas são? – perguntei.
– Não sei, tô sem relógio.
Uma lufada de vento me tomou no momento em que coloquei os pés para o lado de
fora. Para onde Heitor me levaria?
***
Estávamos no jardim, decorado com luzes douradas e prateadas. Heitor levava a toalha
dobrada e a garrafa de água. Caminhávamos próximos e quietos. Foi indescritível sentir a
música e o barulho da festa se tornarem mais e mais distantes e o som de nossos passos e
nossa respiração cada vez mais audíveis. Eu havia passado as últimas horas desejando viver
aquele momento, mas quando ele chegou, eu não soube como me comportar. Parecia que eu
tinha duas bolsas com chumbo amarradas nas pernas.
– Você por acaso não é um psicopata que assassina rapazes sérios nas noites de
réveillon, é? – perguntei a Heitor, para quebrar o gelo.
– Não, mas quase isso. Você errou apenas alguns detalhes.
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Comecei a ficar nervoso. Olhei para baixo e vi minha perna muito próxima da perna
dele. Então ele se mexeu para abrir a garrafa e a entregou a mim.
Agradeci e tomei uma golada. A água fresca me trouxe uma sensação de existência.
Eu era uma estátua muito antiga na chuva selvagem. Olhei para Heitor e ele olhou para mim.
Sorrimos um para o outro. Tomei outra golada e devolvi a garrafa. Quando ele a levou à boca,
observei o movimento de seu pescoço, o corpo se saciando, o corpo garantindo mais vida,
garantindo mais. Uma gota escapou de seus lábios e deslizou até a gola da camisa.
– Você tava muito certo quando disse que a gente ia se encontrar antes da volta às
aulas – eu disse a ele, tentando continuar a conversa.
– Senti que aconteceria.
– Então... Hã, me fala mais sobre você.
– Não sei o que falar. Bem, sou estudante de Biologia e faço esses bicos para garantir
o dinheiro da quitinete.
– E do que você gosta?
– Como assim, do que eu gosto? Gosto de muitas coisas.
– Fala uma. 280
– Gosto de animais. Tenho um cachorro chamado Samir, mas ele mora com meu
irmão.
– Samir?
– Sim. O nome de um professor de História que eu tive no Ensino Médio. Bem, é uma
longa história, mas foi dele que eu ganhei o cachorro. E quando ele me perguntou que nome
eu daria ao filhote eu disse que seria Samir, de zoeira, e acabou ficando. E você, tem algum
animal?
– Eu gostaria muito, mas meus pais são muito chatos.
– Sério? Que droga! Mas se pudesse, que animal seria?
– Um gato, eu acho. Eles são quietos e não dão trabalho.
– Então você gosta de bichanos?
– Não só de bichanos.
– Ah, é? E de que mais você gosta?
– De outro animal peludinho.
Heitor sorriu. Ele estava muito perto de mim, mas de repente se afastou.
– Você tá bem bêbado mesmo, né?
– Não estou. De verdade. É sério, não se preocupa. Me dá mais um pouco da sua água.
Ele me passou a garrafa. Bebi um pouco e continuei a conversa.
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Eu não soube o que responder. Desejava apenas viver meus dias, fazer minhas coisas.
Poder sair com minha família sem ouvir qualquer comentário discriminatório. Poder me
relacionar com o cara pelo qual eu me apaixonasse e não ser atacado por meus pais.
– Sabe, vou me formar, ter minha profissão e então vou ter minha casa e ser mais
independente.
Heitor balançou a cabeça, concordando.
– Este é um caminho. Mas, e até lá?
Ficamos em silêncio por alguns segundos. Me senti em xeque-mate e decidi mudar de
assunto.
– Me fala sobre você – pedi. – Sua família aceita de boa o fato de você ser... gay? Bi?
– Gay. Bem, não tenho um relacionamento muito íntimo com meu pai. Fui criado por
minha vó. Quando contei pra ela, ou melhor, quando contaram, teve muito choro e
reclamação, mas então ela foi se acostumando e com o tempo voltamos a nos entender.
– Que ótimo! E o seu irmão, sua mãe?
– Minha mãe morreu quando eu era criança, então, bem, nem imagino como teria sido.
– Poxa, sinto muito. 283
– E o meu irmão descobriu quando a gente era adolescente. Ele é três anos mais velho
que eu. Tinha alguns meninos que ficavam no meu pé na escola e um dia meu irmão se meteu
numa briga pra me defender. A partir de então ele se tornou meu confidente.
Sorri.
– Foi mais ou menos assim que aconteceu comigo e com Kauany.
– Ela me pareceu bem louquinha.
– E você ainda nem conheceu o demônio.
Rimos.
Heitor se inclinou em minha direção.
– Tenho mais uma pergunta. Qual vai ser a primeira coisa que você vai fazer no ano
novo?
– Você tá falando sobre coisas banais do dia a dia ou o quê?
– Não, algo que seja especial.
Eu tinha a resposta na ponta da língua, mas fui interrompido pelo som de pessoas que
se aproximavam, rindo. Fiquei apreensivo e fiz figas com as mãos, dizendo baixinho “não
venham aqui, não venham aqui”. Não queria que ninguém estragasse aquele momento. Mas
então me lembrei de meus pais, no salão, talvez me procurando. Me lembrei de Kauany,
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Não respondi. Havia decidido que era mais prático mostrar a ele. Então tirei meu
shorts e a cueca. Heitor me olhou de cima a baixo.
– Não pula nessa piscina!
Mas era tarde demais. Eu tinha 1 centímetro e mergulhava completamente nu em uma
taça de espumante. Submergi por alguns segundos e fiz questão de soltar borbulhas pela boca.
Eu era um pássaro e voava. Um pássaro d’água. Não muito depois senti mãos que me
agarraram. Me permiti ser levado para a superfície. Heitor me arrastou até a borda, onde
ficamos um ao lado do outro.
– Nunca mais faça isso, seu louco!
– Eu tô bem, não se preocupa. Esta piscina é minha velha conhecida. Há anos faço
aulas de natação aqui.
Heitor estava pálido por causa do susto.
– Seu menino danado!
Olhei para ele e falei:
– Não acredito que você mergulhou com suas roupas.
– Claro, eu tinha que salvar você. 285
– Meu herói!
Heitor estava lindo. Seu cabelo, pesado por causa da água, caía sobre seu rosto. Sua
barba, cheia de gotinhas, brilhava como se estivesse adornada com diamantes.
– E agora, o que a gente vai fazer com essa roupa molhada? – perguntei.
– Uhm... Vou precisar da sua ajuda. Minha mochila, com as roupas que eu tava usando
quando cheguei aqui no fim da tarde, tá em um armário no vestiário dos funcionários. Pode
pegar pra mim?
– Pego, mas com uma condição.
Ele me olhou com certo temor. Percebi que minha ideia de pular na piscina havia
expandido a imagem que ele tinha sobre mim. E isso foi delicioso.
– Que condição?
– Você vai ter que ficar peladinho, do jeito que eu tô.
Ele sorriu um sorriso safado e saiu da piscina. A água escorreu de seu corpo e fez uma
poça no chão. Aos seus pés, o observei tirar a camisa, botão por botão. Ele me revelou seu
corpo, seus detalhes. Depois disso tirou os sapatos. Em seguida, abriu o botão da calça e
puxou o zíper. Sua cueca boxer era branca. E ele a retirou e a deixou de lado.
Então pulou novamente na água e se aproximou de mim.
– Você é muito lindo – eu disse a ele.
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