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Análise das políticas públicas para formação continuada no Brasil, na última década

Análise das políticas públicas para formação


continuada no Brasil, na última década

Bernardete A. Gatti
Fundação Carlos Chagas

Introdução via internet etc.), grupos de sensibilização profissio-


nal, enfim, tudo que possa oferecer ocasião de infor-
Nos últimos dez anos, cresceu geometricamente mação, reflexão, discussão e trocas que favoreçam o
o número de iniciativas colocadas sob o grande guar- aprimoramento profissional, em qualquer de seus ân-
da-chuva do termo “educação continuada”. As dis- gulos, em qualquer situação. Uma vastidão de possi-
cussões sobre o conceito de educação continuada nos bilidades dentro do rótulo de educação continuada.
estudos educacionais não ajudam a precisar o concei-
to, e talvez isso não seja mesmo importante, aberto O que se encontra
que fica ao curso da história. Apenas sinalizamos que,
nesses estudos, ora se restringe o significado da ex- À parte as discussões conceituais, no âmbito das
pressão aos limites de cursos estruturados e formali- ações dirigidas e qualificadas explicitamente para esse
zados oferecidos após a graduação, ou após ingresso tipo de formação, vê-se que, sob esse rótulo, se abri-
no exercício do magistério, ora ele é tomado de modo gam desde cursos de extensão de natureza bem diver-
amplo e genérico, como compreendendo qualquer tipo sificada até cursos de formação que outorgam diplo-
de atividade que venha a contribuir para o desempe- mas profissionais, seja em nível médio, seja em nível
nho profissional – horas de trabalho coletivo na esco- superior. Muitos desses cursos se associam a proces-
la, reuniões pedagógicas, trocas cotidianas com os sos de educação a distância, que vão do formato to-
pares, participação na gestão escolar, congressos, se- talmente virtual, via internet, até o semipresencial com
minários, cursos de diversas naturezas e formatos, ofe- materiais impressos.
recidos pelas Secretarias de Educação ou outras ins- Torna-se difícil obter um número exato das ini-
tituições para pessoal em exercício nos sistemas de ciativas colocadas nessa rubrica, porque provêm de
ensino, relações profissionais virtuais, processos di- inúmeros setores dentro do sistema público, estadual,
versos a distância (vídeo ou teleconferências, cursos municipal ou federal (tanto dos setores propriamente

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da gestão educacional como de outros setores, por ou ampliação de conhecimentos. Isso responde a uma
exemplo, saúde, cultura, trânsito etc.), como de esco- situação particular nossa, pela precariedade em que
las e de organizações de natureza diversa – de organi- se encontram os cursos de formação de professores
zações não-governamentais, fundações, instituições e em nível de graduação. Assim, problemas concretos
consultorias privadas, com durações previstas desde das redes inspiraram iniciativas chamadas de edu-
meio período de um dia até dois, três ou quatro anos. cação continuada, especialmente na área pública,
O que se pode constatar é que essas atividades, pela constatação, por vários meios (pesquisas, con-
pelo Brasil, são inúmeras, mas muito abundantes so- cursos públicos, avaliações), de que os cursos de
bretudo no Sul/Sudeste. Um universo extremamente formação básica dos professores não vinham (e não
heterogêneo, numa forma de atuação formativa que, vêm) propiciando adequada base para sua atuação
em sua maioria, não exige credenciamento ou reco- profissional. Muitas das iniciativas públicas de for-
nhecimento, pois são realizadas no âmbito da exten- mação continuada no setor educacional adquiriram,
são ou da pós-graduação lato sensu. então, a feição de programas compensatórios e não
O surgimento de tantos tipos de formação não é propriamente de atualização e aprofundamento em
gratuito. Tem base histórica em condições emergen- avanços do conhecimento, sendo realizados com a
tes na sociedade contemporânea, nos desafios colo- finalidade de suprir aspectos da má-formação ante-
cados aos currículos e ao ensino, nos desafios postos rior, alterando o propósito inicial dessa educação –
aos sistemas pelo acolhimento cada vez maior de posto nas discussões internacionais –, que seria o
crianças e jovens, nas dificuldades do dia-a-dia nos aprimoramento de profissionais nos avanços, reno-
sistemas de ensino, anunciadas e enfrentadas por vações e inovações de suas áreas, dando sustenta-
gestores e professores e constatadas e analisadas por ção à sua criatividade pessoal e à de grupos profis-
pesquisas. Criaram-se o discurso da atualização e o sionais, em função dos rearranjos nas produções
discurso da necessidade de renovação. científicas, técnicas e culturais.
Nos últimos anos do século XX, tornou-se forte, Podemos exemplificar com dois programas de
nos mais variados setores profissionais e nos setores educação continuada implementados na segunda me-
universitários, especialmente em países desenvolvi- tade dos anos de 1990, que se apresentaram com des-
dos, a questão da imperiosidade de formação conti- taque na literatura educacional, inclusive por serem
nuada como um requisito para o trabalho, a idéia da considerados inovadores: o Programa de Capacitação
atualização constante, em função das mudanças nos de Professores (PROCAP), desenvolvido no estado
conhecimentos e nas tecnologias e das mudanças no de Minas Gerais pela Secretaria Estadual de Educa-
mundo do trabalho. Ou seja, a educação continuada ção, tendo como foco professores de 1ª a 4ª séries das
foi colocada como aprofundamento e avanço nas for- redes estadual e municipais (Minas Gerais, 1996); e
mações dos profissionais. Incorporou-se essa neces- o Programa de Educação Continuada (PEC), da Se-
sidade também aos setores profissionais da educação, cretaria de Educação do Estado de São Paulo para
o que exigiu o desenvolvimento de políticas nacio- todo o ensino fundamental.
nais ou regionais em resposta a problemas caracterís- O PROCAP tinha como pretensão capacitar mais
ticos de nosso sistema educacional. de oitenta mil docentes do primeiro ciclo nos conteú-
No Brasil, assistimos à assimilação dessa posi- dos de português, matemática, ciências, geografia,
ção, porém concretamente ampliou-se o entendimen- história e reflexões sobre a prática pedagógica. A
to sobre a educação continuada, com esta abrangen- modalidade escolhida foi a distância, com os profes-
do muitas iniciativas que, na verdade, são de sores na própria escola, com horário dentro do calen-
suprimento a uma formação precária pré-serviço e dário escolar. A proposta era centralizada e tinha uni-
nem sempre são propriamente de aprofundamento dade curricular.

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O PEC (1996-1998), visando ao desenvolvimento Duarte nota também que as capacitações mais
profissional dos educadores, foi descentralizado re- bem-sucedidas em São Paulo foram as resultantes de
gionalmente, tendo atingido dirigentes regionais e processos de negociação cuidadosa entre as institui-
técnicos, diretores, coordenadores pedagógicos e pro- ções e as diretorias regionais de ensino e que envol-
fessores do ensino fundamental (1ª a 8ª séries), em veram mais atores no processo (diretores, professo-
sistema presencial. As ações do projeto foram desen- res, técnicos). Conclui que o pequeno envolvimento
volvidas com base em necessidades colocadas pela da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo,
rede em 19 pólos, por universidades e agências pela descentralização quase total do programa, preju-
capacitadoras, cada uma responsável por um ou mais dicou, em certa medida, o desenvolvimento das
pólos regionais (Universidade de São Paulo – USP, capacitações, e que, em Minas Gerais, os cursos pon-
Universidade Estadual Paulista – UNESP, Universi- tuais padronizados e definidos em instância central
dade Estadual de Campinas – UNICAMP, Pontifícia nem sempre refletiram as necessidades dos professo-
Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, Uni- res. Além disso, destaca como pontos positivos do
versidade de Mogi das Cruzes – UMC, Instituto Pau- PEC a tentativa de atendimento de necessidades lo-
lo Freire, Universidade de Taubaté, Universidade Fe- cais, a inserção do professor como sujeito ativo no
deral de São Carlos – UFSCAR, Centro de Estudos e processo de capacitação e a utilização da metodolo-
Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitá- gia da ação-reflexão nas capacitações. Os pontos po-
ria – CENPEC, Cooperativa Técnico-Educacional, Es- sitivos do PROCAP apontados foram: o compromis-
cola da Vila). Houve grande diversidade entre as ini- so das agências central e locais com a capacitação, o
ciativas implementadas regionalmente, tendo atingido agendamento no calendário escolar de cada escola e
mais de noventa mil atores da rede escolar. a criação de incentivo para o professor participar.
Ambas as propostas foram financiadas pelo Ban-
co Mundial. Há um interessante estudo, feito por Outras modalidades incluídas
Vanda C. Duarte (2004), comparando os dois pro- como educação continuada
gramas. Segundo o trabalho, a avaliação externa do
programa mineiro foi menos detalhada e abrangente Também nas políticas implementadas essa de-
do que a paulista. A maior homogeneidade do pro- nominação passou a cobrir, entre nós, cursos espe-
grama em Minas Gerais trouxe menos questionamen- ciais de formação em nível médio ou superior para
tos por parte dos participantes. Em São Paulo, os docentes atuantes nas redes municipais ou estaduais
questionamentos foram de várias naturezas, diferen- de educação básica que não tinham essas titulações,
tes entre as regiões. As explicações que a autora aven- na idéia de que essa formação seria continuada por
ta para isso são ser realizada “em serviço”. Seria uma formação com-
plementar dos professores em exercício propiciando-
[...] o fato de que programas mais padronizados e centrali- lhes a titulação adequada a seu cargo, que deveria ser
zados geralmente implicam pouco questionamento por parte dada nos cursos regulares mas que lhe é oferecida
dos treinandos, que estão habituados a apresentar uma pos- como um complemento de sua formação, uma vez
tura passiva diante da capacitação; segundo, programas não que já está trabalhando na rede. São projetos elabora-
padronizados podem gerar satisfação e insatisfação, depen- dos sob a coordenação do poder público, dentro de
dendo de como e por quem são ministrados; terceiro, pro- especificações bem definidas. Citemos alguns desses
gramas abertos que mobilizem postura mais ativa e crítica projetos, com grande volume de participantes.
diante da capacitação podem resultar em avaliações com o O Programa de Formação de Professores em
mesmo perfil; quarto, falhas no processo de avaliação, que Exercício (Proformação), desenvolvido sob os auspí-
não captou as dificuldades/insatisfações. (p. 162) cios do Ministério da Educação (MEC) com o objeti-

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vo de oferecer diploma de ensino médio a professo- país. Só para registrar, em Santa Catarina, Pernam-
res leigos; organizado em módulos, com multimeios buco e Tocantins, participaram do programa todos os
e currículo organizado em eixos articuladores, aten- diretores em exercício, além de professores convida-
deu até 2006 em torno de cinqüenta mil docentes nas dos. O número de atendidos pelo Progestão no país,
regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste; o PEC-For- até 2006, era de 128.764 gestores, conforme dados
mação Universitária, da Secretaria de Educação do do sistema de monitoramento do CONSED. O pro-
Estado de São Paulo, desenvolvido em convênio com grama Circuito Gestão – Formação Continuada de
a USP, UNESP e PUC-SP; esse programa, embora Gestores de Educação, implementado no estado de
com plataforma comum, assumiu características di- São Paulo pela Secretaria Estadual de Educação, tam-
ferentes na oferta de cada instituição, com conteú- bém desde 2001, atingiu todos os diretores de escolas
dos, dinâmica e materiais próprios. Na rede estadual, estaduais (São Paulo, Secretaria de Estado da Educa-
titularam-se aproximadamente oito mil professores. ção, 2001).
Esse mesmo programa foi oferecido a municípios, com Observamos ainda projetos de intervenção em
algumas adaptações e melhorias (PEC-Municípios), conjuntos de escolas, apoiados por poderes públicos
e, como desdobramento, na UNESP, deu origem ao municipais ou estaduais, com o objetivo de promover
Programa Pedagogia Cidadã. Está atendendo basica- aceleração de estudos, melhorar processos de alfabe-
mente municípios do estado de São Paulo que neces- tização de crianças, melhorar o ensino de língua por-
sitam prover o pessoal em exercício na educação in- tuguesa e matemática ou outras disciplinas e melho-
fantil com titulação em nível superior, tendo atingido rar gestão que implicam capacitação de educadores,
em torno de cinco mil professores. Todos os cursos realizando processos de formação continuada em ser-
citados são considerados especiais, com autorização viço. Por exemplo, do MEC: Um Salto para o Futuro;
em tempo delimitado. Parâmetros em Ação – Programa de Desenvolvimen-
Outra iniciativa que pode ser colocada nessa to Profissional Continuado, implementado em parce-
mesma direção é o Projeto Veredas – Formação Su- ria com várias universidades e a União Nacional dos
perior de Professores, desenvolvido em parceria do Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), em
governo de Minas Gerais com várias universidades e diversos estados e municípios; o Programa Praler, de
instituições de ensino superior daquele estado, visan- apoio à leitura e à escrita, para professores de 1ª a 4ª
do titular em quatro anos os professores dos anos ini- séries do ensino fundamental; Programa de Gestão
ciais do ensino fundamental das redes públicas do da Aprendizagem Escolar – Gestar, do Fundescola;
estado, utilizando tecnologias variadas, caracterizan- do Instituto Ayrton Senna: Projetos Acelera Brasil,
do-se como formação em serviço. Define-se como um Se liga e Gestão; Projeto Informática da Microsoft/
curso de educação a distância com momentos pre- PUC-SP; o Programa Intel – Educação para o futuro;
senciais. Em 2001, o universo potencial estava esti- o Formando Gestores, da Fundação Lemann; o proje-
mado em cerca de 30 mil docentes (Minas Gerais, to Poronga, da Fundação Roberto Marinho; os proje-
2001). tos de leitura e escrita, formação na escola para o en-
Também tomaram impulso nas políticas de go- sino de língua portuguesa; e o Entre na Roda, do
vernos propostas de aprimoramento de gestores. O CENPEC, entre tantos e tantos outros que fica difícil
Programa de Capacitação a Distância para Gestores nomear.
Escolares (Progestão), desenvolvido pelo Conselho
Nacional de Secretários Estaduais de Educação Multiplicação de oferta e qualidade
(CONSED) em parceria com os estados, vem sendo
implementado desde 2001 e já foi desenvolvido, com Com a multiplicação da oferta de propostas de
maior ou menor amplitude, em todos os estados do educação continuada, apareceram preocupações quan-

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to à “criteriosidade”, validade e eficácia desses cur- tados brasileiros e na maioria das cidades metropoli-
sos, nas discussões da área educacional em geral, nas tanas, desenvolvidas por seus quadros ou, como acon-
falas de gestores públicos da educação, em institui- tece na maioria das vezes, por consultorias contrata-
ções da sociedade civil financiadoras de iniciativas das. Ao lado dessas iniciativas há um grande número
dessa natureza e nas discussões e iniciativas dos le- de empresas que oferecem essa modalidade formati-
gisladores. Essa preocupação apresentou-se, por va em cursos livres diretamente aos docentes, sobre
exemplo, em alguns administradores públicos, que em os quais não se têm dados suficientes.
seu campo de atuação implementaram, ou encontra- De algumas das mais amplas iniciativas públi-
ram em implementação, programas de educação con- cas, dispomos de avaliações externas que mostram
tinuada para professores ou outros segmentos escola- que, apesar dos problemas encontrados, há resulta-
res. Alguns desses administradores já vinham tomando dos interessantes revelados por análise de desempe-
medidas para tentar garantir certa qualidade a esses nho, por resposta a questionários, por entrevistas e
programas na seara pública, com estabelecimento de por estudos de caso realizados. De modo geral, no-
critérios, em editais e resoluções executivas, para as tam-se melhores avaliações sobre as ações de educa-
instituições que se responsabilizariam pelos trabalhos, ção continuada desenvolvidas sob os auspícios dos
investindo nas mais credenciadas, com financiamen- poderes públicos quando se trata de programas de-
to de avaliações externas para acompanhamento das senvolvidos em regiões com carências educacionais
ações formativas nessa modalidade ou estruturando mais fortes, e encontram-se posturas menos entusias-
essas iniciativas com seus próprios quadros. Assim, madas em regiões mais desenvolvidas socioeconômi-
encontramos universidades bem qualificadas e insti- ca e educacionalmente.
tuições com tradição de qualidade envolvidas nesses Em todas as avaliações observa-se valorização
projetos em associação com o MEC e com Secreta- para essas iniciativas públicas por parte dos cursistas,
rias de Educação estaduais ou municipais, como a destacando-se aspectos como a oferta gratuita, o ma-
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a Uni- terial impresso, vídeos ou livros doados e avaliados
versidade de Ijuí (UNIJUÍ), Universidade Federal do como bons; tem-se como fator positivo o papel dos
Rio Grande do Norte (UFRN), a Universidade Fede- tutores, a oportunidade de contato por videoconferên-
ral de Mato Grosso (UFMT), a Universidade Federal cias com especialistas de grandes universidades, a
de Pernambuco (UFPE), a USP, a UNICAMP, a oportunidade de trocas com os pares nos momentos
UNESP, a Fundação Getúlio Vargas, a Fundação João presenciais. Aparece como constante nas avaliações
Pinheiro, entre tantas outras. o dado de que, em outras condições, o docente não
Há avaliações externas desenvolvidas sobre es- teria oportunidade de fazer essa formação e que se
sas iniciativas públicas realizadas, por exemplo, pela sentiu motivado ao longo dos programas. Isso pode
Fundação Carlos Chagas, pela Fundação Cesgranrio ser sustentado pela baixíssima evasão existente nes-
e por trabalhos com olhar avaliativo desenvolvidos sas iniciativas públicas.
em universidades como a UFMG, a USP, a Universi- Os pontos críticos trazidos dizem respeito, em
dade Federal do Ceará (UFC), a Universidade Fede- sua maior parte, a aspectos infra-estruturais (condi-
ral do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade ções físicas dos pólos de encontro, falhas no apoio
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a Universi- alimentar e locomoção, não recebimento do material
dade Federal de Santa Maria (UFSM) e a Universida- em dia etc.); em alguns casos, aparecem problemas
de Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). com tutores ou professores. Despontam, também, di-
No levantamento de fontes e dados, pudemos ficuldades na leitura de textos e a consideração de
verificar iniciativas próprias dos poderes públicos para que foi difícil para os alunos-professores articular teo-
formação continuada de professores em todos os es- ria e prática, embora, pelos questionários e escalas

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aplicados e consultados por nós, apareçam respostas Olhando para a trajetória dessa
que mostram que eles reconhecem práticas pedagó- formação nos últimos anos
gicas que julgam poder melhorar a aprendizagem dos
alunos. Poucos participantes avaliam de modo muito Na última década, a preocupação com a forma-
ou totalmente negativo os diversos programas estu- ção de professores entrou na pauta mundial pela con-
dados. junção de dois movimentos: de um lado, pelas pres-
Em duas das avaliações encontramos o emprego sões do mundo do trabalho, que se vem estruturando
de simulações situacionais para analisar mudanças em em novas condições, num modelo informatizado e
posturas docentes, com aplicação no início e ao final com o valor adquirido pelo conhecimento, de outro,
do programa: na avaliação do Programa de Educação com a constatação, pelos sistemas de governo, da ex-
Continuada – Formação Universitária, do estado de tensão assumida pelos precários desempenhos esco-
São Paulo, e na avaliação do Programa de Educação lares de grandes parcelas da população. Uma contra-
Continuada para Professores de Municípios, imple- dição e um impasse. Políticas públicas e ações
mentado em municípios do mesmo estado. Essas si- políticas movimentam-se, então, na direção de refor-
mulações permitiam aos participantes escolhas varia- mas curriculares e de mudanças na formação dos do-
das de condutas ante situações-problema, apresentadas centes, dos formadores das novas gerações.
on-line. Nos dois casos verificaram-se mudanças Documentos internacionais diversos enfatizam
posturais nas escolhas, uma parte com posturas tran- essa necessidade e essa direção. Dentre eles, destaca-
sacionais trazidas pela formação, outra parte eviden- mos três documentos do Banco Mundial (1995, 1999,
2002), em que essa questão é tratada como priorida-
ciando escolhas em novas direções, com poucos man-
de, e neles a educação continuada é enfatizada em
tendo posturas tidas como mais “tradicionais”
seu papel renovador; o documento do Programa de
(Fundação Carlos Chagas, 2003, 2005, 2007).
Promoção das Reformas Educativas na América La-
Não se dispõe, ainda, de avaliações de seguimen-
tina (PREAL, 2004); e, como marcos amplos, a De-
to posterior aos programas públicos implementados:
claração mundial sobre a educação superior no sé-
ou seja, o que se consolidou em novas práticas no chão
culo XXI: visão e ação e o texto Marco referencial de
das escolas. Há um estudo de Géglio (2006) que pro-
ação prioritária para a mudança e o desenvolvimen-
curou verificar, após dois anos do término de proces-
to do ensino superior (UNESCO, 1998); a Declara-
so de educação continuada, qual a percepção que os
ção de princípios da Cúpula das Américas (2001); e
professores possuíam a respeito dos cursos que fize-
os documentos do Fórum Mundial de Educação
ram e de sua mudança de prática em sala de aula. Tra-
(Dacar, 2000). Em todos esses documentos, menos
balhando com a narrativa dos professores, verificou
ou mais claramente, está presente a idéia de preparar
um discurso contraditório em alguns, quando partem
os professores para formar as novas gerações para a
da afirmação de que não aprenderam nada e, na se-
“nova” economia mundial e de que a escola e os pro-
qüência, relatam várias aprendizagens adquiridas, seja fessores não estão preparados para isso.
como novidade, seja como “rememoração” de coisas Chega-se, dessa maneira, à ênfase nas compe-
esquecidas. Também no estudo desse autor, foi possí- tências a serem desenvolvidas tanto em professores
vel verificar que, em maior ou menor medida, todos como nos alunos. Em última instância, pode-se infe-
evidenciam em suas narrativas alguma mudança de rir que ser competente é condição para ser competiti-
prática relacionada ao programa freqüentado; mesmo vo, social e economicamente, em consonância com o
aqueles professores que negaram em seus relatos ha- ideário hegemônico das últimas duas décadas. Essa
ver aplicado conhecimentos adquiridos mostraram in- parece ser a questão de fundo. As ações políticas em
dícios claros de alguma mudança, não assumida ra- educação continuada (em educação em geral) instau-
cionalmente mas relatada ao falar de suas práticas. raram-se nos últimos anos com essa perspectiva.

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Análise das políticas públicas para formação continuada no Brasil, na última década

A equação proposta quando se coloca a questão ção “competência XY induzida = sucesso profissio-
como foi anteriormente delineada é simples: melho- nal”. Para não dizer da dificuldade em “isolar” uma
rando a economia, melhoram as condições de vida e competência e das dificuldades em definir o constructo
pode-se ser mais feliz. A educação ajuda a melhorar a “competência”, dificuldade bem mostrada na biblio-
economia, pela qualificação das pessoas para a socie- grafia especializada.
dade do conhecimento e do consumo. Cabe pergun- Olhando toda essa forma de discurso, e sua gran-
tar: essa equação é mesmo verdadeira? É suficiente de pregnância, e os caminhos históricos do discurso
para uma civilização mais compreensiva, cooperati- educacional entre nós, que pela crítica extremada re-
va, democrática? Por que não se discute a educação jeitou e passou a policiar o emprego de certos termos,
como fator de aprimoramento dos humanos para um o uso das palavras competência e/ou habilidade con-
mundo mais ético? Claro que não estamos descartan- tornou a dificuldade, em certos círculos, de falar em
do a necessidade de uma formação educacional sóli- domínio de técnicas para o trabalho docente e forma-
da para todos em prol de vagos culturalismos ou mo- ção em tecnologias, que ficou descartada sob o rótulo
dismos emergentes, mas estamos perguntando se, na de tecnicismo, o qual adquiriu ideologicamente sen-
ordem dos valores, apenas os materiais e econômicos tido pejorativo, sem considerar que uma técnica pode
devem prevalecer nas perspectivas educacionais. ser usada em contexto e ambiência não necessaria-
Onde ficam as preocupações com a formação huma- mente “tecnicista”, com conotação necessariamente
na para uma vida realmente melhor para os humanos reducionista, podendo, ao contrário, compor-se em um
enquanto seres relacionais e não apenas como homo conjunto com intencionalidade transformadora.
faber, como homem produtivo? Entre educadores brasileiros, é difícil falar em
A discussão das competências a serem propicia- técnica; bem mais fácil é falar em competência. As-
das por currículos escolares passa por muitas verten- sim, a idéia do imprescindível desenvolvimento de
tes, umas enfatizando o cognitivo, outras incorporan- competências – cujo enunciado tem sido ambíguo e
do aspectos relacionais humanos e afetivos, com pouco questionado – é apropriado e utilizado por
posições colocadas contra a abordagem que quer tor- amplos setores educacionais e por todas as gestões da
nar excessivamente operacionais aspectos do desen- educação em suas políticas nos últimos anos. O que
volvimento e formação humanos que não são tão ope- se quer dizer e esperar com isso não fica claro, uma
racionais assim. Porém, nas colocações sobre vez que a expressão é empregada em uma polissemia
competências, prevalece o discurso cognitivista, e este impressionante.
passa a ser o ponto mais forte nos processos das ações Feitas essas considerações, vale percorrer o cami-
políticas implementadas e em implementação, em par- nho da legislação, a partir de 1996, a qual reflete os
ticular no Brasil. Colocam-se como metas, como ele- aspectos contextuais em que se amplia a representação
mentos para acrescentar na formação básica ou con- da necessidade de processos de educação continuada,
tinuada de professores e alunos, competências e como nos referimos no início deste texto. As legisla-
habilidades enunciadas como se fossem ingredientes ções, fruto de negociações sociais e políticas, abrem
rotulados, “habilidade tal...”, “competência tal...”, que espaço para as iniciativas de educação continuada, ao
estão disponíveis, empacotadas e colocadas em uma mesmo tempo em que também as delimitam.
prateleira para pronto uso. É como se estivesse numa
cozinha e dissesse: “põe mais sal no molho, põe mais A legislação impulsionou
manteiga no purê...”. A crítica aqui é conceitual, é
das práticas históricas e das concepções de ser huma- A partir de meados da última década do século
no, como também vem do aporte de investigações passado é que a expansão da oferta de programas ou
científicas que nos fazem ter dúvidas quanto à equa- cursos de educação continuada se deu exponencial-

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mente. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- conjunção desses fatores, observa-se uma escalada
cional (LDBEN, lei n. 9.394/96) veio provocar espe- enorme na oferta de programas de “educação conti-
cialmente os poderes públicos quanto a essa forma- nuada” – como vimos, das mais variadas naturezas e
ção. A lei reflete um período de debates sobre a questão formatos.
da importância da formação continuada e trata dela Muitas das iniciativas nessa direção surgiram
em vários de seus artigos. O artigo 67, que estipula como cursos de especialização, levantando em varia-
que os sistemas de ensino deverão promover a valori- dos setores de trabalho a questão da distinção entre
zação dos profissionais da educação, traz em seu inciso os cursos de especialização genéricos e os cursos de
II o aperfeiçoamento profissional continuado como especialização que poderiam legitimar exercício es-
uma obrigação dos poderes públicos, inclusive pro- pecializado profissional em áreas específicas de atua-
pondo o licenciamento periódico remunerado para ção (especialidades profissionais).
esse fim. Mais adiante, em seu artigo 80, está que “o A especialização em área profissional foi objeto
Poder Público incentivará o desenvolvimento e a vei- do parecer Centro de Ensino Superior (CES) n. 908/
culação de programas de ensino a distância, em todos 98, do Conselho Nacional de Educação (CNE), que
os níveis e modalidades de ensino, e de educação deixa claras as condições em que os certificados emi-
continuada” (grifo nosso). E, nas disposições transi- tidos poderão ter validade. O proposto nesse parecer
tórias, no artigo 87, §3º, inciso III, fica explicitado o é de caráter geral e poderia aplicar-se a vários setores
dever de cada município de “realizar programas de especializados na área educacional, podendo ordenar
capacitação para todos os professores em exercício, aspectos do exercício de funções na educação como
utilizando também, para isto, os recursos da educa- “especialidade profissional”. Todavia, a área não tem
ção a distância”. No que diz respeito à educação pro- atentado para ele, talvez pela dificuldade de repre-
fissional de modo geral, a lei coloca a educação con- sentar a docência e atividades associadas como pro-
tinuada como uma das estratégias para a formação fissão, como setor do mundo do trabalho, de fato. Tudo
para o trabalho (art. 40). que é relativo à formação profissional ou definido
Com os debates realizados em torno das novas como “para áreas profissionais” é ignorado pelos edu-
disposições dessa lei, com os esforços dirigidos para cadores e gestores em educação, como se a educação
sua implementação nos três níveis da administração não fosse propriamente uma “área profissional”, ou
da educação no país, e com a ampliação das respon- não comportasse subáreas especializadas. Por essa
sabilidades dos municípios em relação à educação razão, temos, no campo da educação, formações em
escolar, houve, por iniciativas de gestões estaduais especialização que não habilitam para funções espe-
ou municipais, por pressões das redes e sindicatos, cializadas, ficando apenas a graduação como
pelas propostas de instituições ou pelo tipo de recur- delimitadora para esse exercício, sem maiores apro-
sos alocados ao setor educacional e sua regulamenta- fundamentos. Os cursos de especialização em áreas
ção – especialmente, à época, o Fundo de Manuten- específicas de trabalho são objeto de uma regulamen-
ção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de tação exigente, desconhecida de modo geral pelos
Valorização do Magistério (FUNDEF) –, um incre- setores profissionais da educação. Assim, as normati-
mento forte em processos chamados de educação con- zações exaradas para essa modalidade são deixadas
tinuada. A lei que instituiu o FUNDEF deu, pela pri- de lado pelos gestores educacionais. Os cursos de es-
meira vez na história educacional do país, respaldo pecialização em educação não especializam com
legal para o financiamento sistemático de cursos de certificação profissional, como ocorre em outras áreas
formação de professores em serviço, prevendo recur- do trabalho, e, embora contribuam para aprofunda-
sos financeiros para a habilitação de professores não mentos formativos, do ponto de vista do exercício
titulados que exerçam funções nas redes públicas. Na profissional apenas entram como “pontuação” em

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Análise das políticas públicas para formação continuada no Brasil, na última década

carreiras ligadas ao ensino. É esse tipo de curso, sem cas educacionais dos últimos anos, justificada até
exigências especiais até aqui, que prolifera como pro- como uma forma mais rápida de prover formação,
posta de educação continuada. pois, pelas tecnologias disponíveis, pode-se flexibili-
Seguindo o caminho das normatizações, nos des- zar os tempos formativos e os alunos teriam condi-
dobramentos da LDBEN, em 2003 o MEC, por meio ções, quando se trata de trabalhadores, de, em algu-
da portaria ministerial n. 1.403, instituiu o Sistema mas modalidades de oferta, estudar nas horas de que
Nacional de Certificação e Formação Continuada de dispõem, não precisando ter horários fixos, o que per-
Professores da Educação Básica. O artigo 1º prevê, mitiria compatibilização com diversos tipos de jorna-
em seu inciso II, “programas de incentivo e apoio à das de trabalho. A educação a distância ou a mista
formação continuada de professores, implementados (presencial/a distância) tem sido o caminho mais es-
em regime de colaboração com os entes federados”, e, colhido para a educação continuada de professores
em seu inciso III, a criação de uma rede nacional de pelas políticas públicas, tanto em nível federal como
centros de pesquisa e desenvolvimento da educação estadual e municipal.
que teria por objetivo “desenvolver tecnologia educa- Logo após a promulgação da LDBEN, algumas
cional e ampliar a oferta de cursos e outros meios de regulamentações foram exaradas sobre as condições
formação de professores”. Essa portaria foi seguida de oferecimento dos cursos a distância, abrindo a pos-
por um documento do MEC com o título Sistema na- sibilidade de oferta de cursos especiais para comple-
cional de formação continuada e certificação de pro- mentar a formação de professores em nível médio, ou
fessores – toda criança aprendendo (Brasil, 2003), no seja, formação dirigida a professores leigos, e, para
qual várias ações são propostas para valorização do complementar também, em nível superior, a forma-
magistério e melhor qualificação de sua formação, en- ção de professores que só possuem o nível médio e
fatizando o exame nacional periódico de professores, estejam em exercício nos sistemas de ensino.
com oferecimento de formação continuada. Porém, Para tanto, uma legislação específica foi elabo-
tendo a portaria 1.403/03 deixado claro que o ponto rada, em nível federal e em alguns estados, como Mato
de partida seria um exame nacional de certificação de Grosso, São Paulo e Minas Gerais. Esperava-se com
professores, os debates centraram-se nessa questão. esses processos de formação especiais atingir em
Houve posições fortes contra essa proposta – veja, por menor tempo um número significativo de docentes já
exemplo, o documento Formar ou certificar? Muitas em exercício nas redes. Calculava-se que, com os
questões para reflexão, do Fórum Nacional em Defe- cursos superiores regulares existentes, o tempo para
sa da Escola Pública (2003). Com a subseqüente mu- complementar a formação dos professores já em exer-
dança de ministro, as questões levantadas pela porta- cício, em nível médio ou superior, demandaria várias
ria e as propostas do documento foram postas em décadas, o que era verdade pelo volume de docentes
segundo plano, com outros aspectos sendo enfatiza- nessas condições.
dos pela nova orientação na política do MEC. Essa Vários documentos colocam que os sistemas
discussão foi transferida em parte para a Secretaria de públicos de ensino não poderiam esperar tanto tempo
Educação a Distância, na qual propostas para diversos para alcançar melhor qualificação de seu corpo do-
tipos de formação, inclusive a continuada de docen- cente. Além disso, como iniciativa de administrações
tes, passaram a ser tratadas no âmbito de uma possível públicas, esses programas especiais foram ofertados
rede nacional de formação a distância, composta por gratuitamente aos professores, com tempo limitado
variadas instituições, numa tentativa de, sobretudo, para sua execução. Estima-se que, com as diversas
articular iniciativas já existentes. iniciativas especiais implementadas, mais de cem mil
É preciso considerar que a educação a distância professores tenham sido titulados nesses programas,
passou a ser um caminho muito valorizado nas políti- seja em nível médio, seja em nível superior, num pe-

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Bernardete A. Gatti

ríodo próximo a quatro anos. Esse tipo de formação Essa resolução abre novo espaço para as políticas de
ainda é oferecida, mas o ritmo de oferta desses pro- educação continuada nessa modalidade, cujos efeitos
gramas especiais públicos diminuiu nos sistemas, uma dependerão de sua incorporação pelas diferentes ins-
vez que muitos dos seus professores já foram titula- tituições, porque coloca algumas balizas para o ofere-
dos e os novos ingressantes já devem trazer essa for- cimento desses cursos sem, no entanto, diminuir a fle-
mação básica quando de seu ingresso. xibilidade quanto a sua oferta e seu funcionamento.
No entanto, ampliou-se a formação a distância Destacamos, entre outros, seis pontos abordados nes-
em cursos de formação de professores (não como edu- sa resolução: 1. as instituições de ensino superior já
cação continuada) – normal superior, pedagogia e li- credenciadas podem oferecê-los sem necessidade de
cenciaturas diversas –, sobretudo pela oferta por ins- autorização; 2. outras instituições poderão ser
tituições privadas, aí sim, de formação em regime credenciadas nos termos da resolução; 3. os cursos fi-
consoante à legislação geral que se veio estruturando cam sujeitos à avaliação dos órgãos governamentais
no que concerne à oferta a distância de cursos supe- quando do recredenciamento da instituição; 4. para o
riores de graduação. Recentemente houve reformula- Censo do Ensino Superior, os dados desses cursos de-
ções normativas, revogando normas anteriores, que verão ser informados sempre que solicitados; 5. meta-
de certa forma aprimoram as condições de avaliação de dos docentes nesses cursos deve ter título de mes-
para credenciamento de instituições que queiram ofe- tre ou doutor, obtidos em programas stricto sensu
recer cursos a distância, inclusive os de educação con- devidamente credenciados pela Coordenação de Aper-
tinuada. Como legislação recente, seus efeitos só po- feiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)/
derão ser avaliados daqui a alguns anos. Trata-se da MEC; 6. os cursos de pós-graduação lato sensu a dis-
portaria MEC n. 4.361, de 2004; do decreto n. 5.773, tância só podem ser oferecidos por instituições
de 9 de maio de 2006; e das portarias MEC n. 1 e n. 2, credenciadas para esse fim específico pela União. Com
ambas de 10 de janeiro de 2007. A portaria MEC n. 2/ isso, estamos adentrando em um período de uma nova
07, em particular, define procedimentos específicos norma política para a formação pós-graduada lato
de regulação e avaliação da educação superior a dis- sensu, em que talvez se possa vir a mapear e conhecer
tância. A emergência de novas regulações, com maior melhor o que é oferecido sob essa rubrica, permitindo
precisão, decorre da expansão desse tipo de curso, estudos sobre seu significado formativo. Essa nova
tanto em nível de graduação como de pós-graduação, resolução do CNE sinaliza preocupação com a quali-
o que mostrou aos poderes públicos, por movimenta- dade dos cursos de formação continuada que se apre-
ções de educadores, a necessidade de análise quanto sentam na rubrica de pós-graduação lato sensu, mos-
a essa expansão e de tomada de decisão para seu acom- trando nova orientação em política pública nos
panhamento e avaliação. aspectos formativos para as diversas áreas objeto
Dentre as preocupações constatadas na área edu- desses cursos, o que inclui a educação.
cacional como um todo, quanto aos processos de edu- Aspecto que merece nossa atenção é a preocu-
cação continuada oferecidos, preocupação apropriada pação com os formadores que atuam nesses cursos.
pelos poderes públicos, encontra-se o fato de que, na Essa preocupação já havia aparecido nas primeiras
última década, se assistiu ao crescimento do número iniciativas públicas na segunda metade dos anos de
de cursos de especialização de natureza genérica, que 1990 quanto aos critérios de escolha de instituições
se acham sob a denominação pós-graduação lato sensu, formadoras por parte de governos, como apontamos
presenciais ou a distância. Com a intensa expansão anteriormente.
desses cursos e a preocupação com o modo como são Em relação a essa preocupação, lembramos tam-
oferecidos e por quais instituições, o CNE editou re- bém, a citada regulamentação para a pós-graduação
centemente (8 de junho de 2007) a resolução n. 1/07. lato sensu, em que se exige que metade dos docentes

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Análise das políticas públicas para formação continuada no Brasil, na última década

nesse tipo de curso tenha mestrado ou doutorado re- co, através de seus diversos órgãos, colocando um
conhecidos. Essa norma já existia para as instituições olhar mais atento quanto às condições qualitativas de
regidas pelo Conselho Estadual de Educação de São oferta, com orientações mais claras na direção da
Paulo. Com a norma federal, caso ela venha a ser cum- melhor qualificação desses processos formativos, na
prida pelas instituições, pode haver mudança no per- melhor qualificação dos formadores, e na sinalização
fil de realização da formação nessa modalidade. de sua avaliação quando do recredenciamento insti-
Vê-se que a questão do formador passa a ser olha- tucional.
da com mais cuidado, por exemplo, ao ler a portaria
n. 81 da Secretaria de Educação a Distância do MEC, Finalizando
de 8 de dezembro de 2006. Ela refere-se à qualifica-
ção dos formadores para o Proformação, existente A penetração, nos vários setores, das orientações,
desde 1997. Embora o que essa portaria estipula se normatizações e legislações dos últimos anos certa-
dirija a esse programa, ao ser implementada consoli- mente ainda levará algum tempo, mais ainda pela
da um caminho que pode ser seguido em outros pro- grandeza de nosso território, pelo volume das inicia-
jetos e que pode orientar a avaliação, pelos órgãos tivas e pelos interesses em jogo nesse campo.
públicos, de propostas para educação continuada a Após dez anos da promulgação da LDBEN, ob-
distância, no que concerne à qualificação dos forma- servamos a preocupação do legislador com aspectos
dores. Essa portaria regulamenta as disposições ge- básicos relativos a alguns dos meios formativos mais
rais do Programa de Formação Continuada para Su- utilizados em propostas de educação continuada e suas
pervisores de Curso, Professores Formadores e metodologias, como as relativas à educação a distân-
Tutores do Proformação. Prevê formação continuada cia e aos cursos de especialização, enquanto pós-gra-
para os colaboradores que atuam no Serviço de Apoio duação lato sensu. Isso é fruto, evidentemente, tanto
à Aprendizagem do Proformação em conteúdos e do percurso histórico nestes últimos dez anos das prá-
métodos, em subsídios teórico-metodológicos para a ticas nesse campo como das discussões encaminha-
implementação de curso a distância, com o propósito das na própria área de educação em função do que e
de aprimorar a prática pedagógica e aumentar o nível como se vêm realizando propostas de educação con-
de conhecimento dos docentes que atuam no progra- tinuada, discussões feitas em especial pelos pesqui-
ma; em suma, como consta da referida portaria, para sadores que têm acompanhado com seus estudos al-
“valorizar o magistério pela profissionalização da gumas das iniciativas nessa modalidade e que têm
função docente e melhoria da qualidade de ensino” tentado compreender o emaranhado de propostas exis-
(grifo nosso). Define-se, então, um programa e mo- tentes, públicas e privadas. Os legisladores, provoca-
dalidades dessa formação dos formadores que devem dos pela realidade, e as reflexões sobre ela começa-
atuar no programa. Sem dúvida, o poder público fe- ram a constituir um novo arcabouço que orientará as
deral dá exemplo importante ao voltar sua atenção iniciativas de educação continuada nesses dois eixos:
para a melhor qualificação dos formadores atuantes o da especialização, como pós-graduação lato sensu,
nesse programa de educação continuada, propondo e o dos processos formativos a distância.
para estes, também, uma formação mais específica. Quanto ao aspecto legislativo e normativo das
Os estudos avaliativos mostrando a importância dos ações políticas relativas a processos de educação con-
docentes e dos tutores nesses programas encontraram tinuada, na última década, inicialmente temos a
eco nessa portaria e em outras normatizações que co- LDBEN dando respaldo e redistribuindo as respon-
meçam a aparecer. sabilidades quanto a essa formação; depois, as inicia-
Parece que estamos iniciando um novo passo na tivas sucessivas com programas dessa natureza na
questão da formação continuada, com o poder públi- esfera pública, com regulamentações assegurando

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Bernardete A. Gatti

aspectos mínimos de qualidade, em que foram reali- maneira geral, dá para supor que se carrearam mais
zadas avaliações internas e externas. E, finalmente, recursos públicos nessa direção do que para a forma-
observa-se a emergência de uma regulamentação mais ção de professores em cursos regulares de graduação
clara e específica relativa a projetos de cursos de es- (licenciaturas) nas instituições públicas.
pecialização e formação a distância, aparecendo ain- A pergunta que se coloca é: não seria melhor in-
da sinalizadores de preocupação quanto aos forma- vestir mais orçamento público para a ampliação de
dores participantes dessas iniciativas de educação vagas em instituições públicas para formar licencia-
continuada. Esse é um dos aspectos que, cremos, de- dos e investir na qualificação desses cursos, em ter-
verá ter futuros desdobramentos normativos, pois o mos de projeto, de docentes, de infra-estrutura, dei-
suporte e o acompanhamento de cursistas em progra- xando para a educação continuada realmente os
mas de formação continuada (presenciais ou a dis- aperfeiçoamentos ou especializações? Parece-nos que
tância) começam a despontar como um problema que melhorar substantivamente, com insumos adequados
merece atenção especial. e inovações, a formação básica dos professores para
A legislação não nasce do nada, como inspira- todos os níveis e modalidades seria uma política mais
ção ou insight momentâneo, por desejo deste ou da- condizente para a melhor qualificação dos trabalha-
quele; é resultante de um processo histórico em que dores nas redes de ensino, e para propiciar aos alunos
ações se desenvolvem e criam impasses e questiona- dessas redes os conhecimentos importantes para sua
mentos pela forma como são praticadas, o que pode realização pessoal e no trabalho e sua contribuição
gerar movimentos de vários segmentos sociais, mo- para uma coletividade mais integrada.
vimentos que são levados aos órgãos reguladores, que
se podem mostrar mais ou menos atentos ou interes- Referências bibliográficas
sados nas questões levantadas, e que, em situação de
negociação em contexto político, procuram criar ba- BANCO MUNDIAL. Priorités et stratégies pour l’education: un
lizas onde elas não existiam ou reformular orienta- étude de la Banque Mondiale. Washington: Banco Mundial, 1995.
ções quando estas parecem não mais atender às con- . Education sector strategy. Washington: Banco Mun-
dições de qualidade pensadas para as atividades dial, 1999.
desenvolvidas. . Brasil justo, competitivo, sustentável. Brasília: Banco
Uma década é pouco tempo, em termos históri- Mundial, 2002.
cos. Nesse período ensaiaram-se processos diversos BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Ensino Funda-
para a formação continuada de professores, avalia- mental. Programa de desenvolvimento profissional continuado:
ram-se algumas das iniciativas, discutiram-se teori- parâmetros em ação. Brasília: UNESCO/Fundação Vitor Civita.
camente questões de intencionalidades, fundamentos Ofício de professor na América Latina. Brasília, 2002. p. 137-
e princípios, mas esse caminhar é recente. Entretan- 146.
to, já oferece questões das quais os poderes e os BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação a Dis-
gestores públicos em todos os níveis terão de ocupar- tância. Proformação: avaliação externa. Brasília: MEC, 2003.
se em seu papel regulador e avaliador, como respon- BRASIL. Lei 9394/96, de 20/12/96. Lei de Diretrizes e Bases da
sável pela qualidade da educação no país. Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, n. 248, 23
Por fim, ponto importantíssimo que trazemos dez. 1996.
para a continuidade dos debates é a questão dos fi- BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CES n. 908/
nanciamentos públicos destinados à educação conti- 98. Especialização em área profissional, 1998.
nuada nas três esferas de poder. Para analisar esse BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução n. 01/07.
aspecto, necessitaríamos de outros tipos de dados: os Estabelece normas para o funcionamento de cursos de pós-gradua-
financeiros e os das realizações orçamentárias. De ção lato sensu, em modalidade de especialização, de 8 jun. 2007.

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Análise das políticas públicas para formação continuada no Brasil, na última década

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Revista Brasileira de Educação v. 13 n. 37 jan./abr. 2008 69

7-172_artigos.P65 69 10/4/2008, 17:21


Bernardete A. Gatti

BERNARDETE A. GATTI, doutora em psicologia pela dernos de Pesquisa, v. 35, p. 595-608, 2006); “A formação de

Universidade de Paris VII, é coordenadora do Departamento de professores: seus desafios, a pesquisa e seus contornos sociais”

Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas. Publicou: (Revista Educação e Filosofia, v. 17, p. 241-252, 2005). Coorde-

Formação de professores e carreira: problemas e movimentos de na a série Pesquisa em Educação, com dezesseis livros publicados

renovação (Campinas: Autores Associados, 2003, 4ª reimpressão); pela editora LiberLivro. Pesquisa em andamento: “Avaliação do

A construção da pesquisa em educação no Brasil (Brasília: Programa de Formação de Gestores em Educação (Progestão)”.

LiberLivro, 2007); “A pesquisa na pós-graduação e seus impactos E-mail: gatti@fcc.org.br

na educação” (Educação e Linguagem, v. 9, p. 16-36, 2006); “Pes-


Recebido em setembro de 2007
quisa, educação e pós-modernidade: confrontos e dilemas” (Ca-
Aprovado em novembro de 2007

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Resumos/Abstracts/Resumens

la represión del deseo sexual entre Palavras-chave: educação continuada;


padre e hijo y la proyección de la política educacional; legislação educa-
diferencia sexual para los “Otros”. cional; formação de professores; edu-
Las razones para la reconstrucción de cação a distância
esa escena sobre la raza en Occidente Analysis of public policies for in-
son curriculares. Ella tiene como service teacher training in Brazil, on
objetivo, que los profesores puedan the last decade
entender las formas continuas y This article discusses the way in which
mutantes del racismo blanco. processes of continuing in-service or
Palabras claves: currículo; raza; distance education have been
sexualidad; gay studies implemented in the context of
educational policies developed by the
Union, states and municipalities in the
last decade in Brazil. It presents the
multiplicity of initiatives developed
employing different methodologies and
offering diverse kinds of training, with
a focus on teachers in different levels
and teaching specialties. It situates the
question in the international context by
means of an analysis of documents
produced by different international
organisations. It discusses the role of
Brazilian legislation, the impulse
which favoured initiatives of
Bernardete A. Gatti continuing education in Brazil, the
Análise das políticas públicas para problems which emerged and the
formação continuada no Brasil, na emerging new legislation.
última década Key words: continuing education;
Esse artigo discute a forma como pro- educational policy; educational
cessos de educação continuada, presen- legislation; training of teachers;
ciais ou a distância, têm sido imple- distance education
mentados no contexto das políticas Análisis de las políticas públicas
educacionais da União, de estados e para la formación continua en
municípios, na última década. Mostra a Brasil, en la última década
multiplicidade de iniciativas desenvol- Este artículo discute la forma como
vidas em diferentes modalidades meto- procesos de educación continua,
dológicas, visando variados tipos de presenciales o a distancia, han sido
formação, com foco em professores de implementados en el contexto de las
diversos níveis de ensino e suas espe- políticas educacionales de la Unión, de
cialidades. Coloca a questão no contex- los estados y municipios, en la última
to internacional pela exposição de vá- década. Muestra la multiplicidad de
rios documentos de organismos iniciativas desarrolladas en diferentes
internacionais. Discute o papel da le- modalidades metodológicas,
gislação brasileira, o impulso que pro- intentando variados tipos de
piciou às iniciativas de educação conti- formación, con foco en profesores de
nuada no Brasil, os problemas que diversos niveles de enseñanza y sus
emergiram e as novas legislações especialidades. Coloca la cuestión en
emergentes. el contexto internacional a través de la

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Resumos/Abstracts/Resumens

exposición de varios documentos de


organismos internacionales. Discute el
papel de la legislación brasileña, el
impulso que propició a las iniciativas
de educación continua en Brasil, los
problemas que emergieron y las nuevas
legislaciones emergentes.
Palabras claves: educación continua;
política de la educación; legislación de
la educación; formación de profesores;
educación a distancia

186 Revista Brasileira de Educação v. 13 n. 37 jan./abr. 2008

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