Querela das Investiduras (nomeações dos No século XIII (13), a Europa apresentava bispos) que questionava qual a autoridade uma grande diversidade política, pois nela que devia superintender às eleições de coexistiam o Sacro Império Romano- bispos e abades. Só houve consenso Germânico e o Império Bizantino, os aquando da assinatura da Concordata de reinos cristãos da Europa ocidental, os Worms entre Henrique V e o papa Calisto senhorios e as comunas, entidades II, em setembro de 1122, que reconheceu ao políticas distintas, onde o poder era imperador o direito de investir bispos com a exercido de forma diferente. Apesar de nos autoridade temporal. séculos V a XI ter ocorrido uma divisão de poderes nos reinos, os reis foram reforçando progressivamente o seu poder O dinamismo do mundo rural nos séculos face aos senhores. XII e XIII Nos séculos XII e XIII, lançaram-se as A comunidade camponesa era a base da bases dos reinados e dos Estados modernos, sociedade medieval. A maioria da acompanhando o processo de recuperação população rural tinha como principal económica que criou condições para a ocupação o trabalho da terra. A propriedade afirmação de novas formas de exercício do era constituída por senhorios da nobreza e poder. Foi o tempo do renascimento de do clero, que davam proteção e amparo novos reinos cristãos, do mundo rural dos moral aos seus dependentes. As aldeias senhores e dos camponeses, do ressurgir desenvolveram-se, geralmente, nas orlas das cidades e das comunas, do comércio e das florestas, em espaços não cultivados da burguesia, e ainda da manutenção do que tiveram de ser arroteados e preparados sonho da unidade política e religiosa da para o cultivo. Os campos experimentaram cristandade, em torno de um império e do uma reanimação, em consequência tanto de papado, sonho este que se desvaneceu com melhorias climáticas como de novas o advento de novas condições económicas, condições de produção agrícola. sociais e políticas. A progressiva introdução do uso de ferro nos instrumentos, permitiu resolver o solo Os impérios de um modo mais profundo e preparar melhor a terra. O pousio foi sendo O ocidente cristão viveu, desde o século substituído pelo afolhamento trienal com IX e X, sob o ideal da reconstrução do rotação de culturas numa prática que deu Império Romano- Cristão fomentado pelo maior rendimento e produtividade ao solo. Império de Carlos Magno e pelos Porém, a aplicação da força dos animais á imperadores do Sacro Império Romano- charrua, através das novas técnicas de Germânico. O imperador do Sacro Império, atrelagem (coelheira), permitiu tirar mais Frederico II, na primeira metade do século partido da tração animal e da sua força de XIII, rivalizava com o papa numa tensão trabalho. constante de afirmação entre o poder espiritual e temporal. Esta rivalidade teve Os moinhos de vento e de água também se consequências profundas não só a níveis expandiram, possibilitando maior políticos, mas também religiosos. Mas o rendimento na moagem dos cereais e no uso da força motriz da água e do vento. economia agrária do nível de subsistência A cultura de cereais era dominante, mas anterior e contribuindo para a dinamização também se cultivavam plantas do comércio e da economia monetária. complementares como a vinha e o pastel trocas regionais e afirmação das grandes para a pintura dos tecidos. A floresta ou os rotas do comércio externo terrenos baldios próximos tornaram-se inessenciais para os aldeões e para os O século XIII (13) correspondeu a um senhores, que tinham na caça, na recolha de período de expansão demográfica que teve frutos e de madeiras. Apesar destes consequências no desenvolvimento das progressos, a produção de alimentos no cidades. De facto, verificou-se tanto o ocidente medieval era muito limitada, em surgimento de novas cidades, como a variedade e qualidade. expansão dos núcleos urbanos mais antigos que beneficiaram: o aumento da produção agrícola e da criação de Expansão Agrária excedentes, que puderam ser ali comercializados. Assistiu-se assim à No século XIII, houve uma melhoria das substituição progressiva da economia condições agrícolas bem como á agrária de subsistência por uma economia transformação da paisagem rural, que urbana e monetária. As cidades foram possibilitou o desenvolvimento económico também desenvolvidas, graças ao e o ressurgimento urbano. fortalecimento do poder régio que via no A generalização dos inventos técnicos, dinamismo urbano um contributo para o como o moinho, o sistema de tração de enfraquecimento do poder senhorial. animais, a utensilagem em ferro e o novo Principais polos do dinamismo comercial sistema trienal de rotação de culturas, permitiu que o rendimento da terra - Mediterrâneo aumentasse a partir do século XIII. Assim, No Mediterrâneo destacavam-se as as grandes pastagens para o gado tomaram cidades de Veneza, Génova, Pisa e conta da paisagem rural inglesa, graças á Amalfi. Estas cidades faziam intercâmbio procura crescente da lã para a indústria com a Síria, Bizâncio, Egito e com as rotas têxtil, na França e na Itália. que vinham do Oriente através do mar As transformações ocorridas na Vermelho e do mar de Oman. Chegavam a agricultura permitiram a ocupação de Europa os produtos vindos da Ásia, o novas terras de forma mais organizada e alúmen (Produto de origem mineral) e sistemática. Esta expansão de terras metais, couros, peles, cereais, vinho e sal. cultivadas implicou a ocupação de áreas Às cidades italianas juntaram-se Marselha mias vastas e a exploração mais intensiva, e Barcelona, impondo-se o Mediterrâneo proporcionando mais produtividade e como um polo onde se concentrava a maior melhor produção e responsável pela parte da atividade marítima. transformação de paisagem rural, contribuindo para a generalização dos campos abertos, mais no norte e centro da - Champagne Europa. Entre as cidades do Mediterrâneo italiano No século XIII, a terra deixou de uma e os mares do norte da Europa, estabeleceu- fonte de riqueza exclusiva dos se um eixo de circulação terrestre que, proprietários, na medida em que os desde a Lombardia e a Toscânia, passando excedentes agrícolas passaram a ser pelo baixo Reno através da região de escoados para o mercado, permitindo Champagne, originou importantes feiras, às aumentar os rendimentos e retirando a quais acorriam mercadores de toda a Europa em ligação com os mercados da produtos como a lã, sal, vinho, arroz, Flandres. As feiras de Champagne (P.43) açafrão, frutos secos, etc. articularam várias regiões de comércio itinerante e nelas transacionavam se mercadorias, mas por grosso. Assim, marcadores de lugares variados concentravam-se nesta região dinamizando o comércio Internacional, sobretudo em torno de Lagny, Bar-sur-Aube, Provis e Troyes. Flamengos e italianos, e também -Novos meios de pagamento marcadores portugueses e de outras regiões Criaram-se instrumentos de crédito e de ibéricas, estavam entre os comerciantes que débito que facilitaram e estimularam o frequentam as feiras. Couros, peles e metais comércio medieval. Surgiram os notários eram trazidos do norte da Europa, enquanto que tinham como função redigir contratos açúcar, arroz, frutos secos, vinhos e de transações, os banqueiros e as letras de corantes vinham do sul da Europa. feira e de câmbio, que criaram uma estrutura financeira mais eficaz, capaz de responder às exigências das intensas trocas -Hansa comerciais e da economia monetária A Liga Hanseática composta por cerca de (p.44). Monopólio: direito exclusivo a… 100 cidades, independentes politicamente e de fazer o comércio no mar báltico e no mar detentoras de exército e marinha próprios. do norte. Da Liga Hanseática destacaram-se as cidades de Lubeck e de Hamburgo. As relações comerciais ligavam a zona norte da A fragilidade do equilíbrio demográfico Europa, no arco que abrangia cidades como O crescimento demográfico atingiu o seu Londres, Bruges, Hamburgo, Lubeck e auge. Pôs-se em causa o frágil equilíbrio Novgorod. Transacionavam os cereais da entre a oferta e a procura, possibilidade de Prússia e da Polónia, o alcatrão e peixe recursos cada vez menor. A partir do século salgado, as peles, a cera e o mel da Rússia, XIV (14), a depressão atingiu ocidente pelas madeiras, ou ainda a lã inglesa, os medieval pondo fim a expansão económica tecidos flamengos, as especiarias do anterior. Oriente, o vinho e sal do Mediterrâneo. - A Fome Os recursos disponíveis e os salários não - Flandres conseguiram acompanhar o ritmo de A cidade de Bruges viu no comércio uma crescimento populacional. As condições fonte de riqueza concedendo privilégios, naturais também contribuíram para agravar não só aos seus habitantes, como também a crise. O arrefecimento do clima provocou aos mercadores italianos, espanhóis, uma sucessão de maus anos agrícolas que portugueses, ingleses e hanseáticos que ali provocaram fomes periódicas e persistentes. afluíam e que acabaram por ser Parte da Alemanha, Inglaterra, Países determinantes na dinamização do comércio Baixos, norte da França e Península Ibérica do resto da Europa. Uma vez que Bruges foram zonas profundamente afetadas, o que não era autossuficiente do ponto de vista provocou um declínio da população. agrícola, organizou uma política fiscal e Houve um aumento do preço dos cereais e a aduaneira atrativa para os mercadores. escassez de gado, assim, a subalimentação Nessa cidade negociavam se vários crónica facilitou a generalização de doenças, maioritariamente da peste. Afonso III conquistou o Algarve em 1249, aproveitando uma conjuntura de - A peste (1347-48) enfraquecimento dos muçulmanos que A peste negra veio do Oriente e devastou ocupavam o território. A Reconquista cristã grande parte da população europeia, já que terminou em Portugal. Estava se espalhou de uma forma rápida. Estima-se reconquistado o território. Afonso III teve que tenham morrido entre 1/3 e ¼ da alguns problemas de soberania sobre população europeia, gerando um recuo algumas zonas na fronteira, entre o Algarve demográfico. O rápido deflagrar da peste e o Reino de Leão e Castela. A igreja fez com que suspeitassem de: judeus, intervém na resolução do conflito. O acordo heréticos e bruxas, que eram alvos fáceis, de Badajoz de 1267 levou a acertos nas assim sendo perseguidos. fronteiras com cedências mútuas entre Castela e Portugal. D. Dinis completou o processo de definição de fronteiras com a -A guerra (1337-1453) assinatura do tratado de Alcanises. D. Henrique continuou a Reconquista, A Guerra dos Cem Anos criou um promoveu o povoamento, o ambiente de confronto generalizado em desenvolvimento de centros urbanos e do várias zonas da Europa. Os impostos comércio. Mostrou-se um homem ativo no aumentaram e os Campos de cultivo foram plano militar e político lançando os arrasados, devastando zonas agrícolas alicerces do futuro Reino. inteiras. A instabilidade social acentuou-se, despoletando revoltas de camponeses pois, País urbano e concelho afetados pela operação senhorial, como O desenvolvimento interno do reino de pelas más condições de vida, pretendiam Portugal já podia assumir-se como uma obter leis reguladoras. Os conflitos e a prioridade para os Monarcas. A violência social espalharam-se um pouco Reconquista e a definição de fronteiras do por toda a Europa. Em França, houve uma reino de Portugal foram acompanhadas pela revolta de camponeses em 1358, devido ao defesa e fixação de novos povoadores descontentamento motivado pela guerra. cristãos nas terras conquistadas, apesar de Em Inglaterra, em 1381, ouve uma revolta terem permanecido cristãos moçárabes e popular devido aos elevados impostos muçulmanos que conviviam entre si. cobrados pela Coroa com o objetivo de financiar as campanhas militares. Também, as cidades eclodiram revoltas, ligadas ao A multiplicação de vilas e cidades mal-estar social, como em Paris (1358), nas concelhias cidades da flandres e Londres (1381), nas cidades italianas em Florença (1378). As Os nobres e o clero não eram os únicos revoltas foram reprimidas, deixando alguns detentores de terras, pois muitos vilãos, efeitos duradouros na legislação produzida homens livres e não privilegiados de na época, permitindo maior liberdade aos Nascimento possuíam propriedades. camponeses. Ao longo dos séculos XII (12) e XIII (13) Formação do reino de Portugal (p.54) foram concebidas várias cortas de farol assistindo se a proliferação de conselhos. É no quadro da península ibérica que Estas cartas contemplavam diversos aspetos Portugal se afirmou no processo da da vida das comunidades como por Reconquista cristã contra o domínio exemplo: direitos e liberdades dos muçulmano que durou vários séculos, desde moradores; a posse de bens; os impostos e Afonso Henriques a D. Afonso III. as multas a pagar. Com a atribuição desta corte nascia um conselho o atribuía se direitos consagrados pela carta de foral. maior autonomia é uma comunidade já eram eles que possuíam propriedades, anteriormente estabelecida. As desempenhavam profissão e pagavam os características dos conselhos variam impostos estabelecidos. A vida concelhia consoante a sua localização geográfica, implicava a integridade dos bens dos seus assim estabeleceu-se a diferença entre os habitantes, o respeito pelas liberdades concelhos rurais, situados especialmente individuais e a solidariedade vicinal, isto é, nas zonas a norte do Rio Douro, e os entre vizinhos. Caso existissem conflitos concelhos urbanos, localizados sobretudo seriam julgados por juízes próprios. no sul do país. Os conselhos eram vistos pelos seus Os concelhos rurais estavam associados a habitantes com um espaço fechado, face aos regulação dos interesses económicos de um concelhos vizinhos, o que conduziu a número limitado de povoadores e rivalidades, pois cada um deles procurava dispunham de um menor grau de assegurar legalmente os seus interesses. autonomia. Os concelhos urbanos abrangiam comunidades mais amplas e detinham maior amplitude deliberativa nas O espaço concelhio e os seus símbolos competências que lhes eram atribuídas nas respetivas cartas de foral. Os concelhos, rurais ou urbanos, eram compostos por duas zonas distintas: a vila A carta de foral era o documento que ou cidade, sede do concelho, e o termo ou consagrava várias normas: alfoz. permitia aos povoadores Enquanto a vila o cidade se afirmava governarem se a si próprios de como o centro político-administrativo, o acordo com as disposições termo era composto pelos povoados estabelecidas; dispersos, pelas terras de cultivo e baldios, regulava a administração do e estava na sua dependência, ou seja, concelho; encontrava-se subordinado à vila ou cidade Estabelecia os direitos e de veiros (sede). A subsistência dos conselhos estava dos moradores; dependente da complementaridade entre as determinava as relações sociais; duas zonas, apesar dos vizinhos que viviam Assegurava o direito à propriedade; na sede serem mais ricos e poderosos, a sua Estipulava as cargas fiscais a pagar subsistência lícia era garantida pelo termo, a quem concedera o foral; cujos habitantes tinham piores condições Protegia os moradores contra os económicas, administrativas e judiciais. O abusos dos senhores. Pelourinho era o símbolo da autonomia judicial relembrava a todos a necessidade O foral reconhecia é uma comunidade de de manter a paz, a ordem e a segurança. homens livres a capacidade de exercerem o poder local. Permitir-lhes, assim, organizar A bandeira que se destinava a identificar o conselho, estabelecer as suas normas e a comunidade concelhia, e o selo que escolher os seus magistrados dos costumes validava a documentação produzida pelos e das posturas municipais (conjunto de órgãos do conselho, eram também símbolos regras das câmaras municipais que obrigam do concelho. ao cumprimento de certos deveres de ordem pública) aprovadas pelos órgãos de poder concelhio. O exercício comunitário dos poderes concelhios Aos habitantes dos concelhos, dava-se o nome de vizinhos. Estes gozavam dos Este poder era da responsabilidade dos vizinhos, mas só alguns é que o assumiam ocupando os cargos concelhios. Eram os foram alargadas e repartidas entre eles. mais ricos que detinham o exercício do Surgiram os procuradores do concelho poder e participavam na assembleia, estes que defendiam os direitos concelhios e eram os homens-bons. Competia-lhes o representavam-nos no exterior, os conselho ao alcaide (juiz), também tesoureiros e escrivães que cuidavam das designado alvazi, nos julgamentos, a finanças, do registo dos autos redação das posturas e dos foros concelhios administrativos e das decisões das reuniões e é decisão em questões de ordem e o número de almotacés aumentou. económica e administrativa. Entre os oficiais régios presentes nos A assembleia concelhia realizava-se nos concelhos destacavam-se: espaços públicos e ao ar livre para que todos pudessem tomar parte e assim os meirinhos mores enviados para conhecerem as suas decisões. A partir do corrigir irregularidades judiciária; século XIV (14) esta assembleia passou a os corregedores a quem cabia realizar-se na câmara, impossibilitando o solucionar os conflitos existentes a controlo por parte da população. nível local e com o poder central; os juízes de fora que aplicavam a O exercício da governação pelos justiça de acordo com as normas magistrados fazias com base nos régias. instrumentos reguladores da vida concelhia. Todos estes oficiais régios estavam associados ao reforço do poder real, num Os concelhos completos ou perfeitos processo que se desenvolveu sobretudo a partir do século XIII (13). distinguiam se por terem vários magistrados, para além do alcaide. O elenco dos magistrados concelhios era constituído por: O rei e o poder concelhio
Vereadores- responsáveis pelo Os concelhos constituíram-se como um
controlo dos bens do conselho, meio de povoamento e defesa do território pela verificação e reparação dos durante o período de Reconquista, mas caminhos, Fontes e pontes; deviam também como aliados do rei. reformou as posturas antigas e Se a Aliança entre as comunidades assinar as cortas para nelas se concelhias defendia, por um lado, os puder colocar o selo do conselho; homens livres dos abusos exercidos pelos Almotacés- cabiam lhes regular os senhores, por outro, proporcionava ao rei preços de compra e venda dos uma vasta área de influência e uma fonte produtos, definir o abastecimento de rendimentos. Através da nomeação de do concelho, fiscalizando o funcionários régios e do pagamento de desenrolar do comércio, bem como impostos à coroa, os concelhos regulamentar o exercício dos contribuíram para o reforço do exercício do mesteres; poder real. Algoz- responsável pela execução das sentenças; O rei estabelecia os deveres a que a Mordomo- encarregue de população dos concelhos estava obrigada arrecadar os impostos destinados perante a coroa. Em troca da sua fidelidade ao rei, de cobrar multas e de ao monarca, recebiam uma autonomia executar penhoras. jurídica, limitada é certo, mas que era preferível á arbitrariedade senhorial. O número de magistrados, no século XIII (13), aumentou e as suas competências Os jugueiros eram aqueles que possuíam propriedade, casa ou terras, e que vivem ou tinham de solicitar, ao proprietário da do seu trabalho no comércio e no Terra, um jugo de bois e daí decorria o seu artesanato. estatuto de dependente pagando o imposto Na cidade medieval a atividade da jogada. Os solarengos trabalhavam as artesanal, desempenhada pelos mesteirais terras de outrem a quem deviam assegurava a produção de alimentos, obediência. vestuário, de utensílios de uso diário, Nos concelhos do sul, a maior parte dos assim, garantindo as necessidades dependentes era composta pelos mancebos cotidianas. O artesanato era um dos (que se empregavam sobretudo durante as fatores do desenvolvimento dos centros épocas mais intensas da lavoura) e os urbanos, onde os artífices, obreiros o mouros (destituídos de personalidade mestres, oficiais e aprendizes, jurídica). desenvolviam os seus ofícios na loja oficina ou tenda. Alguns dos fatores que contribuíram para a crescente importância das cidades Nas cidades litorais, o desenvolvimento foram: do artesanato, do comércio e das fainas marítimas conduziram ao aumento dos o crescimento demográfico dos almocreves que asseguravam a circulação séculos XI (11) e XII (12) interna e serviam de elo com o comércio proporcionando por melhorias nas local ou de grosso trato. Nelas viviam condições de vida; também pescadores e marinheiros a concessão de cartas de foral que praticando atividades como a pesca e a incentivaram os povoadores a salinicultura. fixarem-se em determinadas regiões; Nos séculos XII (12) e XIII (13) os a afirmação como centros mesteres já surgem arruados e associados religiosos, destacando-se as sedes em confrarias. As ruas desenvolvem-se episcopais; mediante um traço irregular, e a sua organização é estabelecida de acordo com O desenvolvimento urbano foi também a prática dos diferentes mesteres. indissociável de instrumentos jurídicos que fizeram as cidades lugares de A muralha liberdade, daí de muitas leis vigentes nas Estas fechavam a cidade ao interior, mais cidades fossem distintas das existentes nas nelas também se abriam portas que zonas rurais. permitiam aos comerciantes, aos viajantes, A cidade medieval era constituída por um aos moradores entrar ou sair, conforme as conjunto de homens livres que beneficio regras estabelecidas e a hora do dia. vão de privilégios especiais que os Era um fator de defesa contra as diferenciavam dos outros habitantes do epidemias e os estranhos, e as suas portas mundo rural e senhorial. O funcionamento abriam se para celebrar festivamente as económico, social e administrativo da entradas de reis e senhores que visitavam a cidade era regulado. cidade por motivos diversos. Entre os vizinhos da cidade conselho A muralha era um traço comum nas existia uma e hierarquia entre os cidades da península ibérica sobre tudo cavaleiros-vilãos e os peões. Os primeiros nas que se situavam entre o Rio Douro e o são os mais ricos e constituem uma elite Rio Tejo. que controlava o governo da cidade (homens-bons). Os peões contam-se entre a maioria dos habitantes que não têm O termo ou alfoz Abrangia uns posso mais ou menos ordens religiosas ou de particulares, que amplo no qual se exercia o poder e os prestavam assistência na pobreza e na direitos do conselho. Por vezes, muito orfandade, na doença e na marginalidade. extenso e garantia a subsistência do espaço Locais de ensino- Escolas e urbano, abastecendo a cidade de cereais, universidades. azeite, vinho, pão, carne e legumes, para além dos curtumes, dos tecidos, dos Bairros das minorias étnico-religiosas- objetos de uso quotidiano, cuja venda com as mourarias ou aljamas e as judiarias o uso mais frequente tem moeda, se fazia apartadas demais comunidades. no mercado fixo ou na feira periódica.
A estrutura do espaço urbano
A MOURARIA É a ausência de uma organização planificada, embora houvesse hierarquia Destacavam-se a mesquita, para o culto de importância entre ruas e locais. religioso, o açougue, e escola, a cadeia e o cemitério. Os mouros dedicavam se Destacam-se alguns locais marcantes em praticamente á agricultura ou há alguns todas as cidades: mesteres, e estavam obrigados ao pagamento de pesados tributos à Coroa. os bairros da cidade organizados Existiam nelas, uma divisão por mesteres, grupos étnicos- socioeconómica assente nas posses dos religiosos e socioeconómicos; indivíduos. As comunidades moras a igreja paroquial ou Sé ocupava situavam se sobretudo no sul do país. um lugar de destaque no espaço urbano; as ruas da cidade estabeleciam a A judiaria ligação entre os núcleos intramuros da cidade e os núcleos Os judeus praticavam o seu culto nas junto das portas da cidade, por sinagogas e exerciam profissões ligadas ao onde se saía e entrava. comércio, a atividades financeiras, há alguns mesteres e a medicina. Foram Edifícios e equipamentos urbanos durante muito tempo, protegidos pelos Os edifícios mais importantes das reis, nobre e Igreja, por fazerem a cidades são a Sé, o castelo e o mosteiro. cobrança de impostos régios e de rendas. Os reis outorgaram-lhes, por isso, cartas Equipamentos fundamentais açougue de privilégios. Contudo também foram (talho-carne), a fonte ou o poço, o alvo de um velado sentimento antijudaico. hospital, os paços do concelho, o Os judeus também pagavam impostos, tais pelourinho e a cadeia. como a capitação e a dízima sobre as As casas citadinas podiam ser com produções e prestavam serviço militar. andares e alpendres, ocupadas no andar térreo pela tenda, loja ou oficina. As trocas comerciais tinham um lugar no rossio, onde os regatões e regateiras anunciavam os pregões para venderem os seus produtos. Locais de assistência- hospitais, gafarias, albergarias e mercearias, destinadas a gente nobre empobrecida, das