Você está na página 1de 1

Peixoto, José Luís (2000); Morreste-me; Temas e Debates

O livro Morreste-me, lançado no ano 2000, marca a estreia de José Luís Peixoto na escrita,
momentos antes de lhe ser entregue o Prémio Literário José Saramago, nesse mesmo ano,
pelo romance Nenhum Olhar.

Há livros que nos preenchem vazios que nos fazem pensar, crescer. Poderia nomear alguns,
vários, mas este, acho mais ambicioso em partilhar.

O Morreste-me tem um título forte. Pensaremos duas vezes antes de folheá-lo. Afinal quem
gosta de lidar com a morte? É disso, sem dúvida, do que se trata. Sabêmo-lo. Mais fácil deixar
na estante.

Mas este título tem carácter! Não se trata apenas de algo que morre. Este alguém parece-nos
perto. Lêmo-lo: Morreste-me.

Para quem aos 16 anos, no auge da ruptura com a inocência, desafiando as barreiras daquilo a
que se permite ler, não seria coisa difícil. A capa da primeira edição nada acrescenta. O livro é
fino e de rápida leitura. O escritor, um outro puto, mas mais crescido, saído do Alentejo
profundo - um metaleiro que ouve Moonspell e fala da morte. Tudo a ver.

Mas quem quer saber do escritor? Que livro é este? O escritor é o escritor do livro. A
linguagem própria é inocente e dócil, nada a ver com as tatuagens e os picos na sobrancelha.
Modismos da contemporaneidade.

O Zé Luís é um puto que perdeu o pai. O Zé Luís chora o pai e fala-lhe. Chora amor e fala-lhe.
Copio-lhe as repetições.

Eu que na altura ainda tinha o meu tocou-me profundamente e chorei com ele.

“Pai. Quero que saibas, cresce uma luz fina sobre mim que sou sombra, luz fina a recortar-me
de mim, ténue, sombra apenas. Não te posso esconder, depois de ti, ainda há tudo isto, toda
esta sombra e o silêncio e a luz fina que agora és.”

Download em PDF

Você também pode gostar