Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Anatomia de Uma Revolução - António Barreto
Anatomia de Uma Revolução - António Barreto
Sobre a obra:
Sobre nós:
eLivros .love
Converted by ePubtoPDF
Ficha Técnica
Título: Anatomia de Uma Revolução – A Reforma Agrária em Portugal 1974-1976
Autor: António Barreto
Capa: Rui Garrido
Fotografia da capa: © Direitos reservados
Revisão: Rita Almeida Simões
ISBN: 9789722063111
Publicações Dom Quixote uma editora do grupo Leya
Rua Cidade de Córdova, n.º 2
2610-038 Alfragide – Portugal
Tel. (+351) 21 427 22 00
Fax. (+351) 21 427 22 01
© 2017, António Barreto e Publicações Dom Quixote
Todos os direitos reservados de acordo com a legislação em vigor
www.dquixote.leya.com www.leya.pt
ANATOMIA DE UMA
REVOLUÇÃO
A REFORMA AGRÁRIA EM PORTUGAL
1974-1976
PREFÁCIO
Portugal Europa
1900-1911 – 212,5
1911-1920 – 352,7
1920-1930 – 17,5
1930-1940 + 64,6
1940-1950 – 128,7
1950-1960 – 680,9
1960-1970 – 1355,8
1900 5,0 65
1910 5,5 59
1920 5,6 —
1930 6,4 55
1940 7,2 52
1950 7,9 51
1960 8,3 47
1970 8,1 32
1920 68
1930 66
1940 56
1950 45
1960 32
1970 27
As taxas relativas aos meados do século são impensáveis
na Europa, na mesma época. São parecidas com as da
Inglaterra do século XVIII22. Todavia, apesar de elevados,
estes índices mostram, na sua evolução, uma mudança.
Também na administração se assiste a uma certa
transformação. O planeamento faz os seus primeiros
passos, no meio de lutas políticas internas ao regime e
contra notórios obstáculos culturais. Os Planos de Fomento
são elaborados e o «industrialismo» está na moda.
Durante os anos 60 são elaborados ou inicia-se a
realização de quase todos os grandes projectos de que
hoje se fala, ou que ainda hoje estão em construção: auto-
estradas, regadio, celulose, portos, estaleiros navais,
siderurgia, energia hidroeléctrica, petroquímica, etc. Estas
obras são parcialmente financiadas pelas receitas que,
nesta época, mais crescem: os rendimentos do turismo e
as remessas dos emigrantes. A ambos se ficará a dever o
equilíbrio ou o excedente da balança de pagamentos
durante vários anos.
Entretanto, o mundo rural não vive os anos fastos da
indústria e das grandes cidades. Centenas de milhares de
camponeses e de assalariados tiveram de deixar a
agricultura, sem que isso represente uma verdadeira
melhoria da produtividade. A sua partida forçada não é
aliás o resultado de um pujante processo de modernização
da agricultura. Desde o fim da guerra, com efeito, o
crescimento do sector é mais lento do que os outros, até
que a estagnação se impõe23.
Taxas de crescimento anuais
(em percentagem)
1860 86 92
1913 45 66
1950 37 65
1975 38 59
9 Para este período e até aos anos 1910-1912, ver em particular Vasco Pulido
Valente, O Poder e o Povo, Lisboa, 1975.
22 Cario Cippola, Litteracy and Development in the West, Londres, 1969; Maria
Filomena Mónica, Educação e Sociedade no Portugal de Salazar, Lisboa, 1978; e
E. C. Caldas, op. cit.
25 Jaime Reis, op. cit., e Paul Bairoch, «Europe’s Gross National Product 1800-
1975», in Journal of European Economic History (1976), vol. 5.
1875 1956-1963
1915-1919 217
1920-1924 295
1925-1929 280
1930-1934 507
1935-1939 438
1940-1944 381
1945-1949 386
1953 16,1
1958 15,3
1963 17,3
1968 18,4
1973 18,3
1971 98 118
1972 98 131
1969 35
1970 34
1971 37
1972 43
1973 46
1974 61
Número de Produção
estabelecimentos (milhares de contos)
Sector «moderno»:
Celulose 6 2779
Açúcar 4 1417
Contraplacados 15 869
Sector «tradicional»:
(Valores de 1973)
Número de Produção
estabelecimentos (milhares de contos)
628
Menos de 4 ha 77,5 742 517 14,9
630
170 1 685
De 4 a 50 ha 21,2 33,9
941 866
2 545
Mais de 50 ha 9 233 1,3 51,2
773
Norte e Centro-Norte:
Sul e Centro-Sul:
34 M. V. Cabral, Portugal […], op. cit., e José Pacheco Pereira, Conflitos Sociais
nos Campos do Sul de Portugal, Lisboa, 1983.
36 Idem, ibidem.
38 René Dumont, Révolution dans les campagnes chinoises, Paris, 1966; OCDE,
L’agriculture dans les pays d’Europe méditerranéenne, Paris, 1968; e World
Bank, Portugal. Agricultural Sector Survey, Washington, 1977.
43 Idem, ibidem.
A REGIÃO
Beja 14 82
Évora 10 68
Portalegre 22 68
Setúbal 12 58
1920-1924 8,7
1920-1950 9,2
1952-1956 8,1
1964-1966 7,6
1970-1972 10,2
Estes valores traduzem mudança e acréscimos de
produtividade. Mas é difícil considerar que se trata de reais
progressos. Num período tão longo e tendo em conta a
evolução geral da agricultura e das técnicas, os aumentos
ficam aquém das possibilidades e são insuficientes para
satisfazer as necessidades nacionais, dos agricultores, das
empresas ou dos assalariados. E se é certo que as
condições naturais da região não são as mais favoráveis
para a cultura do trigo, também é verdade que aquelas
baixas produtividades revelam uma utilização reduzida das
sementes melhoradas, dos adubos e outros agro-químicos.
Uma certa estagnação, ou uma evolução excessivamente
lenta, parece ter sido a característica marcante. Não se
efectuou a necessária reconversão agrária. As causas são
diversas: o clima desfavorável, a pobreza de recursos e de
meios de investimento, as estruturas sociais e agrárias, o
sistema político, a ausência de conhecimentos técnicos e
de investigação, a deficiente formação do empresário e
dos técnicos e as políticas agrícolas e económicas. É na
conjunção destes factores que se devem encontrar as
causas da situação social e económica que se vivia no
Alentejo de 1974.
O sistema tinha, obviamente, os seus privilegiados. À
cabeça, a grande propriedade, o «latifúndio» da linguagem
corrente, directamente ligado à agricultura extensiva e
gerador da proletarização. Associando métodos
tradicionais e contributos tecnológicos modernos, a grande
exploração alentejana tinha iniciado, desde os anos 50, um
processo de mudança, no qual avulta a mecanização. Esta
era uma realidade na província desde os fins do século XIX,
mas limitada às empresas de vanguarda. Em meados do
século actual, este tipo de modernização generalizou-se,
ou, antes, acelerou o ritmo. Entre 1950 e 1974, o número
de tractores passou de 2600 a mais de 16 000. Já a
utilização de adubos, de pesticidas e de herbicidas ficou
muito aquém das médias europeias.
Esta evolução tecnológica recente inscreveu-se no
quadro de um crescimento económico geral, tanto nacional
como europeu. O crescimento nacional conheceu mesmo,
durante os anos 60, taxas da ordem dos 5% a 7% (e 9% a
10% para a indústria), superiores às dos países vizinhos.
Mesmo sem dinâmica própria de desenvolvimento, a
agricultura foi arrastada, só conhecendo todavia taxas
anuais da ordem dos 0,5% a 0,9%.
A mudança na agricultura alentejana foi real, mas
efectuou-se sem pôr em causa as estruturas sociais e
agrárias, nem os sistemas de produção. Por causa da
mecanização, muitos trabalhadores abandonaram os
campos e boa parte deles dirigiu-se para o estrangeiro. A
industrialização, a construção e as obras públicas
contribuíram para o êxodo rural, de modo que se assistiu
mesmo a um declínio da população. Por outro lado, os
regadios e algumas novas culturas, como o tomate,
aumentaram os períodos de ocupação da força de
trabalho. Deste conjunto de factores resultou um aumento
de salários rurais como a região nunca tinha conhecido
antes.
Nas vésperas da revolução, o Alentejo não gozava
certamente de uma situação de prosperidade e
desenvolvimento. Mas o desemprego e a miséria
tradicionais tinham-se consideravelmente esbatido. As
carências de mão-de-obra nos períodos de ponta eram já
uma realidade e constituíam o principal problema dos
empresários. Nesta situação, os salários aumentaram mais
do que qualquer outro factor de produção. O período que
vai de 1965 a 1974 é certamente aquele que, na história
moderna do Alentejo, mais benefícios trouxe aos
trabalhadores alentejanos.
Mantinham-se todavia as estruturas sociais, fundiárias e
empresariais. A distribuição da propriedade continuava a
ser a principal fonte de clivagem social. Portugal, e muito
particularmente o Alentejo, registava a mais forte
concentração de terra de toda a Europa mediterrânica63.
Em 1960-1970, o panorama da distribuição desequilibrada
da terra era o seguinte (em percentagem):
Portugal Alentejo
Explorações agrícolas
Número Superfície Número Superfície
Beja 117 29
Évora 138 64
Portalegre 95 43
Setúbal 47 41
55 Nem sempre é possível dispor de estatísticas para a ZIRA, dado que esta não
corresponde a uma divisão administrativa. Segundo os dados disponíveis,
referir-me-ei à ZIRA, ao Alentejo ou aos distritos que deles fazem parte.
OS ACONTECIMENTOS
CAPÍTULO IV
A REVOLUÇÃO POLÍTICA
E A SITUAÇÃO SOCIAL
REFORMA E REVOLUÇÃO
NOS CAMPOS DO SUL
1 2 3 4
Janeiro Janeiro
Abril a Agosto a
a Julho a Julho
Dezembro Dezembro
de de
de 1974 de 1975
1975 1976
Demissões, nomeações e
substituições em vereações e 350 121 — —
freguesias da ZIRA
Nomeações de comissões
liquidatárias de federações e de
4 77 18 —
grémios da lavoura do Ribatejo, do
Alentejo e do Algarve
Arrendamentos compulsivos — 18 2 —
1 2 3 4
Janeiro Janeiro
Abril a Agosto a
a Julho a Julho
Dezembro Dezembro
de de
de 1974 de 1975
1975 1976
Número de proprietários
— — 311 398
expropriados
Superfícies expropriadas
— — 344 302
(em milhares de hectares)
Agosto 169,2
Setembro 153,7
Outubro 411,6
Novembro 231,6
Dezembro 43,3
A consolidação e a contestação:
Janeiro a Julho de 1976
Superfície Percentagem
Total 1183,3
Octávio
Ramalho Eanes Otelo S. Carvalho Pinheiro de Azevedo
Pato
Portugal 62 16 14 8
Beja 34 32 7 25
Évora 36 34 9 19
Portalegre 55 16 13 14
Setúbal 30 42 10 19
A OCUPAÇÃO INSTITUCIONAL
A estratégia
As câmaras e as freguesias
Maio 18 —
Junho 16 —
Julho 24 17
Agosto 19 9
1974
Setembro 1 20
Outubro 7 37
Novembro 7 28
Dezembro 2 145
Janeiro 2 39
Fevereiro 4 33
Março 4 29
1975
Abril 2 3
Maio 3 1
Junho 1 —
As Casas do Povo
Os grémios da lavoura
[…]
[…]
Grândola 18,5
Crato 2,9
Os serviços oficiais
Um balanço
82 Há alguns meses que o golpe «andava no ar», desde que tinham surgido os
problemas militares. Mas não se poderá dizer que era previsível. Aliás, depois do
estranho golpe falhado das Caldas, a 16 de Março de 1974, previsões e
esperanças eram bem menores. É possível que os dirigentes comunistas
tenham estado informados sobre os preparativos militares do golpe. Alguns
autores dão informações nesse sentido, como Otelo Saraiva de Carvalho,
Alvorada em Abril, Lisboa, 1977, e A. Rodrigues, C. Borga e M. Cardoso, O
Movimento dos Capitães — 229 Dias para Derrubar o Fascismo, Lisboa, 1974.
De qualquer modo, o facto de estar informado de preparativos clandestinos, que
aliás podiam falhar, como tantas outras vezes no passado, não permitia ao
partido preparar os seus militantes.
85 O Sorraia, 22/6/1974.
95 São, por exemplo, os casos de Castro Verde, Avis e Moura. Diário do Alentejo,
21/5/1974 e 29/5/1974.
109 Foi o que aconteceu. Depois da dissolução definitiva, a maioria dos grémios
deu nascimento a cooperativas de serviços e de comercialização.
122 Ver, no Capítulo VIII, a secção «Os primeiros problemas agrários». Ver ainda
Maria José Nogueira Pinto, O Direito da Terra, Lisboa, 1983.
126 Uma cópia deste longo memorando está depositada nos arquivos do
Gabinete de Estudos Rurais. O documento é assinado, a título individual, por
Dinis Miranda, António Gervásio, Joaquim Diogo Velês e Amílcar Lázaro Leão: na
verdade, são membros do comité central do partido e os principais responsáveis
pelas questões agrárias. O memorando, além de uma introdução geral,
compreende quatro capítulos: «A importante questão das indemnizações»; «A
condução das expropriações dos latifúndios e a instalação das novas unidades
de produção»; «A questão vital do controlo das colheitas e dos meios de
produção»; e «A importância da reforma agrária para o desenvolvimento do
País». O documento tem data de 12 de Junho de 1975.
127 A inspiração que está na origem destes conselhos pode bem ir buscar-se à
experiência chilena. Um documento redigido por Jacques Chonchol, ministro da
Agricultura da Unidad Popular e do presidente Salvador Allende (1971), e cujo
título era «As oito condições fundamentais para uma reforma agrária na
América Latina», foi distribuído em 1975 aos funcionários dos centros regionais
alentejanos e dos serviços centrais em Lisboa. Pode aí ler-se, nomeadamente:
«A fórmula operacional mais adequada seria a seguinte: concentração das
principais funções complementares sob responsabilidade única, um só
organismo, e sua descentralização regional, na base dos chefes locais ou dos
conselhos, que deveriam ter muita autonomia e poder, a fim de agir na procura
de soluções para os milhares de problemas específicos.»
133 Cf. Álvaro Cunhal, Rumo […], op. cit., assim como o seu Relatório de
Actividades do Comité Central ao VI Congresso do Partido Comunista Português,
Edições do PCP (clandestinas), 1965.
CAPÍTULO VII
A ACTIVIDADE POLÍTICA
As eleições
PS PPD CDS PC
Total 34,9 24,4 16,0 14,4
134 Cf. António Barreto e Maria Paula Vidal, Os Partidos Políticos e a Reforma
Agrária, Gabinete de Estudos Rurais, Lisboa, 1980.
135 Existiam outros pequenos grupos, antes de 1974, mas não prosseguiram
actividades com os mesmos nomes ou dirigentes.
136 Até o Partido Popular Monárquico «se integra no MDP e apoia sem reservas
o Programa do Movimento das Forças Armadas», in O Sorraia, 22/6/1974.
139 Por exemplo em Beja, Moura, Alter do Chão, Évora e Serpa. Cf. Diário do
Alentejo de 7/5/1974 a 30/5/1974.
141 Montemor, Évora, Santarém, Elvas, Portalegre e Setúbal. Cf. Teresa Almada,
Diário da Reforma Agrária, Lisboa, 1984.
142 Estes 126 estão assim distribuídos: Beja, 23; Castelo Branco, 2; Évora, 32;
Faro, 7; Lisboa, 4 (somente em zonas rurais); Portalegre, 15; Santarém, 10;
Setúbal, 33 (incluindo as sedes urbanas). Acrescentaram-se as sedes distritais.
Fontes: O Militante, Avante! e Diário do Alentejo.
143 Beja, 30; Castelo Branco, 10; Évora, 9; Lisboa, 9; Portalegre, 10; Santarém,
11; Setúbal, 29 (incluindo as sedes urbanas). Cf. as fontes da nota anterior.
149 Beja, Coruche e Alcácer do Sal, em Julho; Serpa, Castro Verde e Ourique, em
Agosto; Montemor, em Setembro; Castelo de Vide e Grândola, em Outubro;
Évora, Montemor e Beja, em Novembro; etc. Cf. Diário do Alentejo, O Sorraia,
Jornal de Alcácer e Diário do Sul.
160 Ver uma longa lista de atentados in T. Almada, Diário […], op cit.
162 Cf. A. Cunhal, Rumo […], op. cit., e Relatório […], op. cit.; PCP, Programa do
Partido Comunista Português, Edições Avante, Lisboa, 1974; e sobretudo José
Pacheco Pereira, Conflitos Sociais nos Campos do Sul de Portugal, Lisboa, 1983.
167 Entre os artigos da Constituição que têm uma influência geral sobre a
orientação da reforma agrária, podem citar-se: um dos objectivos do Estado é o
de «assegurar a transição para o socialismo mediante a criação das condições
do exercício democrático do poder pelas classes trabalhadoras» (artigo 2.º);
uma das tarefas fundamentais do Estado consiste na «socialização dos meios de
produção» (artigo 9.º). Segundo o artigo 10.º, «o desenvolvimento do processo
revolucionário implica, no plano económico, a apropriação colectiva dos
principais meios de produção». Os fundamentos da organização social e
económica estão resumidos no artigo 80.º: «A organização económico-social da
República Portuguesa assenta no desenvolvimento das relações de produção
socialistas, mediante a apropriação colectiva dos meios de produção e solos,
bem como dos recursos naturais, e no exercício do poder democrático das
classes trabalhadoras.»
170 Todos os dados eleitorais são extraídos de Maria João Costa Macedo,
Resultados das Eleições na ZIRA, Lisboa, 1980.
172 Este cálculo só pode ser feito para os distritos inteiramente integrados na
ZIRA.
173 A composição da Assembleia foi a seguinte: PS, 116 mandatos; PPD, 81; PC,
30; CDS, 16; MDP, 5; UDP, 1.
185 Cf. A. Cunhal, Rumo […], op. cit., particularmente os Capítulos 8 e 9, assim
como a p. 101.
187 Cf. J. P. Pereira, Conflitos […], op cit., assim como certas publicações
clandestinas do PC: O Camponês, de 1947 a 1965; O Que É a Reforma Agrária?,
1955; Por Uma Agricultura Florescente! Por Uma Vida Desafogada nos Campos!,
1954; e A. Cunhal, Unidade, Garantia da Vitória, 1947.
189 Cf. o memorando dos dirigentes comunistas. São previstos três tipos de
explorações agrícolas. As cooperativas seriam formadas por camponeses que já
fossem proprietários mas que ainda não estivessem convencidos da
superioridade dos sistemas colectivos; as explorações colectivas nas terras
expropriadas e que correspondem às unidades colectivas efectivamente criadas;
e, finalmente, as herdades de Estado, destinadas às melhores empresas e aos
«trabalhadores de vanguarda». São os modelos em vigor na União Soviética e
nas democracias populares.
192 Um pouco mais de 500 UCP empregavam nesta altura entre 50 000 e 70
000 trabalhadores permanentes e eventuais. Em 1982, o número de UCP era de
cerca de 250, explorando uma superfície de mais ou menos 500 000 ha e
empregando 10 000 assalariados permanentes e talvez outros tantos eventuais.
DA REFORMA À REVOLUÇÃO
198 Ver, no Capítulo VI, a secção «Os prémios da lavoura»; assim como Manuel
Lucena, Instituições […], op. cit.
205 A equipa responsável era composta pelo ministro de Estado (major Melo
Antunes) e pelos ministros Emílio Rui Vilar e José Silva Lopes e secretário de
Estado Vítor Constâncio. O programa é aprovado pelo MFA a 4 de Janeiro e pelo
Governo a 5 de Fevereiro.
209 São várias, espalhadas por todo o País, num total de cerca de 10 000 ha.
Tinham em geral bons recursos, mas a sua gestão era medíocre.
215 Alvito, Cuba, Ferreira, Aljustrel, Beja, Vidigueira, Moura, Serpa, Mértola e
Castro Verde.
217 Benavente.
218 Cf. M. J. Nogueira Pinto, O Direito […], op. cit.; do mesmo autor, O Processo
de Contratação Colectiva Rural e o Emprego Compulsivo, 1974/76: Elementos
para o Seu Estudo Jurídico, GER, Lisboa, 1981; Margarida Moura, Contribuição
para a História da Contratação Colectiva, do Trabalho Rural na ZIRA, 1974/76,
GER, Lisboa, 1981; e António Barreto, «Classe e Estado: os sindicatos de
trabalhadores rurais e a reforma agrária, 1974/76», in Análise Social, Lisboa, n.º
80, 1984.
225 Alguns dos muitos nomes utilizados são: «comissão paritária», «comissão
de verificação», «comissão de colocação», «comissão concelhia» e «comissão
local de agricultores».
A CONQUISTA DA TERRA
As ocupações
A preparação não faltou. Entre Setembro de 1974 e
Março de 1975 foi intensa a actividade no terreno:
sindicalistas, militares, militantes, funcionários e técnicos
dão o seu contributo. Gente da cidade, ao serviço do
Estado ou do partido, ou dos dois, colabora também. Em
milhares de reuniões nocturnas, nas aldeias e nos montes,
preparam-se planos e trabalham-se as consciências. Numa
actividade que lembra os tempos da clandestinidade,
grupos de duas a cinco pessoas vão de aldeia em aldeia,
de herdade em herdade, ao encontro dos trabalhadores.
Anunciam-se os contratos colectivos, sublinham-se as
regalias obtidas e discutem-se os direitos dos
trabalhadores. Faz-se o inventário dos problemas locais,
mas também o das herdades e das máquinas. Mede-se a
adesão e o entusiasmo dos trabalhadores, mas avalia-se
também o estado das culturas e o grau de utilização das
terras.
As primeiras ocupações não definem exactamente o
modelo do que vai seguir. Com efeito, algumas fazem-se
em herdades que já pertencem ao Estado. Outras são o
fruto da colaboração entre assalariados e pequenos
agricultores, o que não voltará a acontecer dois meses
depois.
Os proprietários «ocupados» entendem que se tratou
sempre de «gente de fora», dos serviços públicos e das
forças armadas246. Esta opinião só reflecte uma pequena
parte da verdade. Nas ocupações há gente de fora (da
administração, do exército e de outros sectores de
actividade, até das universidades), mas também gente de
dentro: trabalhadores permanentes e sobretudo
temporários e desempregados. A dinâmica da ocupação é
geral, estende-se a toda a região, pouco depende dos
méritos ou das culpas de um empresário individual.
Para esta dinâmica contribuem as pressões exercidas
pelos militares, sindicatos, militantes comunistas e
esquerdistas, no plano tanto local como nacional. É uma
autêntica vaga que pode tomar a forma de influência e de
arrastamento. Mas também de contágio ou de intimidação.
Por exemplo, um membro do comité central do PC, Dinis
Miranda, num comício de Montoito, a 7 de Setembro de
1975, «ameaçou os trabalhadores, no caso de eles não
ocuparem as herdades, de trazer homens de Montemor
que o fariam»247. Na sequência desta reunião, dez herdades
são ocupadas na localidade248. Outro responsável do PC,
Joaquim Diogo Velês, parece ter agido do mesmo modo nos
concelhos de Alter do Chão, Avis e Ponte de Sor249. Outro
exemplo, em Cabeção, distrito de Évora, onde «12 grandes
e médias herdades são ocupadas por trabalhadores e por
forças militares da Escola Prática de Artilharia de Vendas
Novas»250.
Quando começaram as ocupações? Em Novembro de
1974, um conflito está na origem da primeira exploração
colectiva de uma herdade por trabalhadores. Mas não se
pode ainda dizer que se trata de uma verdadeira
ocupação. Com efeito, o «Mouchão do Inglês», em
Alpiarça, é propriedade do Estado: uma parte da herdade
foi entregue aos técnicos e aos trabalhadores.
A primeira ocupação será a da herdade do «Outeiro» ou
«Herdade do Zé da Palma», no concelho de Beja. É a única
que se verificou ainda em 1974. Com uma superfície de
775 ha, teria apenas 200 ha cultivados251. O proprietário
recusou dois trabalhadores colocados pelo sindicato e
pretende despedir outros 12. Os trabalhadores ocupam
parte das terras e apelam para o Governo. Este, a 25 de
Janeiro de 1975, declara a intervenção do Estado e nomeia
uma comissão administrativa. Imediatamente são
admitidos 34 trabalhadores permanentes e 20 eventuais252.
A 8 de Janeiro, em Évora, a herdade do «Pombal» é
temporariamente ocupada (a 3 de Fevereiro sê-lo-á
definitivamente) por alugadores de máquinas. Ainda em
Janeiro, a 27, é tomada a herdade dos «Alpendres», em
Beja.
O ritmo aumenta muito lentamente. Até ao fim de
Janeiro, menos de um milhar de hectares são ocupados.
Em Fevereiro, mais 7343 ha, particularmente as seguintes
herdades: «Defesa», em Évora; «Picote», em Montemor;
«Sousa da Sé», «Almendras», «Raimunda», «Botaréus»,
«Aldeia de Cima», todas em Évora; «Quinta da Ferraria»,
em Alcoentre; os restos do «Mouchão do Inglês», em
Alpiarça; e outras nos distritos de Beja, Portalegre e
Lisboa253.
Até Janeiro de 1976, serão ocupados 1 182 924 ha. Esta
superfície pertence a cerca de 4000 herdades, na posse de
aproximadamente 1000 famílias254.
Ocupações: distribuição mensal
(superfícies em hectares)
1975:
Janeiro 907
7
Fevereiro
343
5
Março
233
10
Abril
353
8
Maio
226 Mais 28 698 ha nos distritos de Lisboa, Santarém e Setúbal,
30 mas cujas datas exactas de ocupação não são conhecidas.
Junho
933
64
Julho
303
169
Agosto
236
153
Setembro
643
230
Outubro
222
Novembro 230
222
37
Dezembro
000
1976:
17
Janeiro
635
Números
Períodos de Hectares Percentagem
meses
Total 1 182
21 100
924
As primeiras ocupações, apenas 1%, verificam-se depois
da aprovação do «Programa de política social e
económica», no qual são consagrados os princípios da
reforma agrária e da eventual expropriação. A seguir ao 11
de Março, criado o Conselho da Revolução e formado o
novo Governo, bem mais à esquerda, é aprovado um
programa de reforma agrária, que toma a forma do
Decreto-Lei n.º 203-C/75. Aí estão previstas as
expropriações, mas ainda não os mecanismos adequados.
Os resultados são todavia visíveis: 12% das ocupações.
Após a aprovação das leis de expropriação e de
nacionalização, que incluem a definição dos limites de
propriedade, as ocupações multiplicam-se (27% em dois
meses), mesmo se ainda não estão legalmente definidos
os critérios de avaliação e os processos de exploração.
As ocupações levantam problemas aos trabalhadores.
Como subsistir imediatamente? Quem paga os salários e
fornece o fundo de maneio? Os sistemas de agricultura
alentejanos não criam entradas regulares e constantes de
fundos. Conforme as herdades e as suas produções, há
momentos privilegiados para recebimento pelas colheitas:
os cereais, a cortiça e, quando os há, o azeite, o tomate e
as oleaginosas; além do gado, do vinho, da madeira e do
carvão, sendo estes bem mais raros. Para as herdades
ocupadas, as grandes fontes de receitas são os cereais e a
cortiça. Alguns, que ocuparam as herdades antes das
colheitas, obtiveram ainda a liquidez necessária para
prosseguir os cultivos. Outros, tendo ocupado depois,
conseguiram ainda que o Instituto dos Cereais pagasse a
eles e não aos antigos proprietários. Mas a maior parte
corre o risco de não ter rendimentos, o que quer dizer não
pagar salários nem suportar os encargos dos trabalhos de
Outono e de Inverno, em especial alqueives e sementeiras.
Esta situação pode ter constituído um dissuasor de
ocupações, já em Setembro.
No fim desse mês, o quinto Governo é demitido. O seu
sucessor, de maioria socialista, inclui Lopes Cardoso na
Agricultura, um partidário da reforma agrária. Com ele,
dois secretários de Estado socialistas e um comunista. No
dia 27, os Ministérios da Agricultura e das Finanças fazem
publicar o Decreto-Lei n.º 541-B/75, que permite que o
crédito agrícola de emergência (CAE) seja utilizado para o
pagamento de salários das UCP e das herdades ocupadas.
Foi um autêntico detonador. Imediatamente as ocupações
se multiplicam a um ritmo até então desconhecido: cerca
de 420 000 ha em Outubro e 230 000 ha em Novembro.
Fins de Novembro: o MFA radical e os esquerdistas são
vencidos. O PC também e corre o risco de perder o seu
lugar no Governo, mas é «salvo» pelos militares
moderados e pelos socialistas. Os comunistas ficam na
defensiva. Os militares radicais são progressivamente
substituídos, tanto nos comandos nacionais como nas
unidades, incluindo alentejanas. Tudo isso demora um
certo tempo. As ocupações decrescem rapidamente: 5%
em dois meses. Cessam inteiramente quando os partidos
do Governo (PS, PPD e PC) e o MFA assinam o acordo sobre
a reforma agrária. Ainda há, todavia, centenas de
herdades que ultrapassam os limites estabelecidos na lei e
que não foram ocupadas. Paradoxalmente, a maior
herdade do País, «Rio Frio», com perto de 15 000 ha, não é
ocupada. Algumas das maiores e mais modernas empresas
agro-industriais, como a «Alorna», «Caia-Sagrep» e
«Sugal», não são tocadas. Mas as relações de força estão
mudadas. O PC prepara-se para uma longa e agressiva
defesa das suas conquistas territoriais e económicas,
protegidas agora por uma muito legal «zona de
intervenção». A direita começa a sua ofensiva. Os
socialistas, pela sua parte, vão tentar conservar e mudar
ao mesmo tempo, tarefa árdua, por vezes impossível.
Do ponto de vista regional, as ocupações distribuem-se
do seguinte modo:
Distribuição distrital das superfícies ocupadas
e sua parte nas superfícies cultivadas de cada distrito (a)
Superfícies
Percentagem da superfície
Distritos ocupadas Percentagem
cultivada do distrito (b)
(em hectares)
Castelo
10 877 0,9 3,7
Branco
As nacionalizações
As expropriações
1975:
Outubro — — —
1976:
Setembro — — —
Outubro 1 589 73 22
Beja 8 069
Évora 17 103
Lisboa 158
Portalegre 8 598
Santarém 2 510
Setúbal 3 387
Total 40 052
Trabalhadores Hectares
Distrito
por UCP por trabalhador
A produção agrícola
Média Média
1974 1975 1976 1977
1960-1963 1970-1973
Aveia 64 69 78 97 103 46
Cevada 38 45 57 69 99 29
Média Média
1974 1975 1976 1977
1960-1963 1970-1973
Cevada 87 68 68 74 116 49
1974 12,13
1975 12,54
1976 13,41
Em relação
Em relação à média da década de 1966-1975
a 1974-1975
Beja 27 13
Évora 83 41
Portalegre 24 11
Setúbal 28 14
Trigo:
Arroz:
Produção nacional 77 56 59
Zona de intervenção 72 49 57
Aveia:
Cevada:
O desígnio e a estratégia
246 Cf. Margarida Moura, Terra Ocupada, Gabinete de Estudos Rurais, Lisboa,
1981.
268 Ibidem.
275 Algumas imprecisões são motivadas pelas variações dos próprios dados
oficiais. O cadastro, além de atrasado e mal organizado, é uma autêntica
floresta de subterfúgios e de anacronismos, incluindo partilhas adiadas por
décadas, partilhas e doações inter vivos para fugir aos impostos, sucessões e
heranças não registadas, vendas simuladas, etc.
276 Barrancos, 88%: Ferreira, 93%; Arraiolos, 95%; Évora, 89%; Mora, 93%;
Montemor, 91%; Viana, 88%; Portel, 94%; Redondo, 95%; Avis, 92%; Alter do
Chão, 90%; Ponte de Sor, 88%; Chamusca, 92%; Coruche, 88%; Alcácer do Sal,
96%.
277 Almodôvar, 63%; Castro Verde, 71%; Mértola, 60%; Castelo Branco, 68%;
Vila Velha de Ródão, 60%; Marvão, 60%.
279 Ver a nota 45 do Capítulo VI. Quando o documento foi entregue, estavam
ocupados menos de 30 000 ha.
280 Desde 1976 que este número não parou de diminuir. São muitas as causas:
falência ou dissolução; divisão em várias empresas; devolução voluntária das
terras aos antigos proprietários; fusão de várias; mudança de nome; entrega
compulsiva das terras aos proprietários. Algumas eram mesmo fictícias,
servindo apenas para ter acesso ao crédito. Os dados utilizados aqui são os que
se obtiveram com as investigações do Gabinete de Estudos Rurais, para o que
foi possível consultar praticamente todas as fontes oficiais que interessavam.
287 Ver, por exemplo: Eugénio Rosa, Portugal. Dois Anos de Revolução na
Economia, Lisboa, 1976; Miguel Urbano Rodrigues, in O Diário, 5/4/1976; Dinis
Miranda, in O Século, 24/10/1975; obra colectiva, A Reforma Agrária Acusa,
Lisboa, 1980; Partido Comunista, O Livro Negro do MAP, Lisboa, 1977; assim
como os documentos das seis «conferências da reforma agrária» que o PC, as
UCP e os sindicatos organizam anualmente no Alentejo.
288 Ver, por exemplo: José Hipólito Raposo, Dos Princípios à Chamada Reforma
Agrária, Lisboa, 1977; A. Vacas de Carvalho, O Fracasso de Um Processo: a
Reforma Agrária no Alentejo, Lisboa, 1978; João Garin, Reforma Agrária: Seara
de Ódio, Lisboa, 1978; M. Silveira da Costa, «A César o que é de César», in
Jornal do Agricultor, Lisboa, 21/5/1980; e Mariano Feio, «Reforma agrária:
balanço provisório dos aspectos económicos», in Expresso, 20/1/1979.
290 Uma vez mais, é forçoso referir a insuficiência e a má qualidade dos dados,
que nos impedirão, talvez para sempre, de ter um conhecimento rigoroso destes
problemas. Não é possível, por exemplo, determinar a parte com que cada
sector, privado e colectivo, contribuiu para a produção total em 1976. Para 1977
já se consegue saber que o sector colectivo entregou na EPAC 71 000 t,
enquanto o sector privado da zona de intervenção remeteu 97 000 t. Dois anos
mais tarde, em 1979, o sector colectivo e as empresas privadas entregavam,
respectivamente, 67 000 t e 115 000 t. Note-se, todavia, que, em 1978 e 1979,
com as devoluções e as entregas de reservas, o sector colectivo perdeu
vastíssimas áreas.
291 Este ano agrícola está fora dos limites cronológicos deste trabalho. Fica feita
a referência, não só porque ajuda a compreender a situação, mas também
porque os alqueives foram feitos desde 1975-1976.
292 Um mau ano para cereais, por excesso de chuvas e de calor, pode ser um
ano bom ou mesmo excelente para o arroz, cuja sementeira se faz na
Primavera.
293 J. J. Carvalho Ribeiro, Inquérito […], op. cit., e A. Barreto, Memória […], op.
cit.
300 Os limites são de 50 000 pontos. O «ponto» foi uma unidade de medida de
cálculo do rendimento e da dimensão da terra segundo as capacidades.
302 Uma das mais pertinentes críticas a estes aspectos foi feita pelo Prof.
Henrique de Barros. Afirmou nomeadamente que «não se devia contar de modo
nenhum, tendo em vista o cálculo do rendimento fundiário, as benfeitorias de
curta duração (digamos, inferiores à esperança média de vida humana), tais
como plantações de árvores de fruto e de vinha; nem as benfeitorias de longa
duração quando são efectuadas pelo actual proprietário», «Lei controversa e
controvertida», in É Indispensável Consolidar a Reforma Agrária, Lisboa, 1977.
303 Foram muitas as discussões sobre este limite. Não houve conclusões
unânimes, mas ninguém pretende que esta dimensão permite o
enriquecimento. O Prof. Henrique de Barros também se exprimiu sobre o
assunto: «Poder-se-á considerar como latifundiário, ou como um senhor da terra
mais ou menos feudal, ou ainda como um impiedoso explorador do trabalho de
outrem, um agricultor autónomo que, além da remuneração do seu trabalho e
dos seus familiares e do juro do capital de exploração próprio, pode guardar
para si uma soma de algumas dezenas de milhares de escudos, no fim de um
ano agrícola, depois de ter vencido múltiplas vicissitudes? […] Foram abrangidos
pela lei numerosos médios agricultores autónomos, dos quais alguns eram
apenas empresários familiares que nada tinham de um latifundiário, cuja
sobrevivência não contribuía para a injustiça social e cuja preservação como
empresários era não só justificável sob todos os pontos de vista, mas também
socialmente útil», ibidem.
A INTERVENÇÃO DO ESTADO
A legislação
Milhares de Milhares de
Percentagem Percentagem
contos contos
306 Cf. Maria José Nogueira Pinto, O Direito da Terra, Lisboa, 1983.
307 Cf. Maria José Nogueira Pinto, O Direito da Terra, Lisboa, 1983.
316 Ver, no Capítulo VI, a secção «Os conselhos regionais da reforma agrária».
319 Foi a unidade de cálculo criada pelo Ministério. Entra-se em linha de conta
com a dimensão, a qualidade dos solos e das águas, a localização, as
capacidades produtivas e os rendimentos, para os quais contribuem também as
benfeitorias e as plantações. Em sequeiro, os 50 000 pontos podem representar,
segundo as condições específicas, entre 150 ha e 700 ha de terra. Em regadio,
os limites oscilam entre 25 ha e 35 ha.
329 O programa foi desenvolvido em duas publicações do PC: Rumo […], op.
cit., e Relatório […], op. cit.
332 A mais célebre tinha por nome «Soldados Unidos Vencerão», SUV.
344 Diário do Sul, 15/3/1975. Semanas depois, todos serão libertos sem
acusação formal.
351 A este propósito, ver: Manuel Lucena, Revolução […], op. cit.: Inês
Mansinho, «O crédito agrícola de emergência. Balanço de uma inovação»,
Análise Social, n.º 63, 1983, Lisboa; e Inês Mansinho, O Crédito Agrícola de
Emergência no Alto e Baixo Alentejo, Gabinete de Estudos Rurais, Lisboa, 1981.
357 Segundo Barros Mouro (A Reforma Agrária, Coimbra, 1976), as UCP tinham
recebido, até 31/12/1975, cerca de 64% do CAE. Segundo o Ministério da
Agricultura, no fim de 1976, a repartição era a seguinte: unidades colectivas,
71,3%; explorações privadas, 28,7%.
364 Cf. a sua entrevista à agência AP, Associated Press, em Junho de 1976.
CAPÍTULO XI
ASPIRAÇÕES E PODER
NA REFORMA AGRÁRIA
A terra e o colectivismo
Patrícios e servos
A difícil reforma
367 A evolução dos salários agrícolas nesses anos foi a seguinte. Salário
nominal: 1973 = 100; 1974 = 172; 1975 = 197. Salário real: 1973 = 100; 1974
= = 106; 1975 = 112. Cf. A Economia Portuguesa em Números, Banco de
Fomento Nacional, Lisboa, 1984. Todavia, os aumentos salariais no Alentejo
foram bem mais significativos, até 30% mais elevados, segundo os dados do
Instituto Nacional de Estatística.
392 Ibidem.
395 Diário do Alentejo, 2/4/1975 e 14/4/1975, assim como as «Actas», op. cit.
396 Cf. a documentação das ligas in arquivos do GER e nos arquivos da Liga de
Évora.
404 A história da Liga de Évora é contada in A. Barreto, Terra […], op. cit.
408 Por exemplo, em Aljustrel, Alvito, Cuba, Serpa, Évora e Chamusca, entre
Julho e Outubro de 1974.
409 Por exemplo, em Beja, Castro Verde, Benavente, Crato e Sousel, entre Julho
e Outubro de 1974.
410 Entre outros, faziam parte: Raul Miguel Rosado Fernandes, José Manuel
Casqueiro, Francisco Lino e A. Gonçalves Ferreira, futuros fundadores e
dirigentes da CAP.
414 Recorte de Uma Luta, edição da CAP, Lisboa, 1978; José M. Burguete, O
Caso Rio Maior, Lisboa, 1978; entrevista de José M. Burguete in Diário de
Notícias, 12/4/1976.
415 Paradela de Abreu, Do 25 de Abril […], op. cit.; J. M. Burguete, O Caso […],
op. cit.; assim como múltiplas declarações da hierarquia católica, como por
exemplo a moção aprovada pelo clero da arquidiocese de Évora, aquando da
assembleia geral do ano pastoral, Évora, Janeiro de 1976.
420 Pode citar-se, nesta última situação, a «Quinta da Alorna», uma das maiores
empresas agrícolas do País, situada no Ribatejo, dentro da zona de intervenção.
Os proprietários, empresários modernos que administram directamente,
tomaram medidas imediatamente após o 25 de Abril. A opinião dos
trabalhadores não permite dúvidas: «Agora, dir-se-ia o paraíso», afirma A.
Trocata, assalariada na «Alorna» há mais de 30 anos. «Antes, ganhávamos 64$
por dia e agora 125$ […]. Antes, éramos obrigados a andar sempre com as
crianças atrás. À noite, nem podíamos ficar direitos, por causa do reumatismo.
Agora, os carros vêm-nos buscar e levar a nossas casas todos os dias», in A
Capital, 16/1/1975. Apesar da sua localização e das suas dimensões, a «Quinta
da Alorna» nunca foi ocupada.
421 Toda a literatura comunista e sindical é disso reflexo. Ver também a carta da
Liga de Évora, dirigida ao Sindicato do mesmo distrito, onde a mesma posição é
assumida, in arquivos da Liga e arquivos do GER, carta de 30/12/1974.
423 Ibidem.
442 Em fins de 1983, um pouco mais de metade das terras ocupadas tinham
sido devolvidas aos seus antigos proprietários a título de reservas. Quase 100
000 ha tinham também sido retirados às UCP e distribuídos a agricultores
individuais, ou a candidatos a agricultores. Só se conhece com relativa
exactidão a situação em quatro distritos, o que de qualquer maneira é
representativo, pois constitui cerca de quatro quintos das superfícies
abrangidas. No conjunto, cerca de 23% das terras da região pertencem agora ao
Estado, das quais 19% estão nas mãos das UCP e 4% nas de agricultores
individuais, 26% foram devolvidos aos proprietários a título de reservas e 51%
não foram afectados pela reforma agrária. Estas informações foram obtidas
junto da Comissão de Coordenação da Região do Alentejo e da Direcção de
Crédito Agrícola do Banco Pinto & Sotto Mayor.
CONCLUSÕES
Diários
A Capital (Lisboa).
A Luta (Lisboa).
O Diário (Lisboa).
Diário do Alentejo (Beja)
Diário da Assembleia Constituinte.
Diário da Assembleia da República.
Diário do Governo.
Diário de Lisboa.
Diário de Notícias.
Diário Popular.
Diário da República.
Diário do Sul (Évora).
Jornal do Comércio (Lisboa).
Jornal Novo (Lisboa).
O Comércio do Porto (Porto).
O Primeiro de Janeiro (Porto).
O Século (Lisboa).
Semanários e outros
Análise Social (Lisboa).
Avante! (Lisboa).
Boletim da Liga dos Amigos de Abrantes (Abrantes).
Boletim do Ministério da Justiça (Lisboa).
Boletim do Ministério do Trabalho (Lisboa).
Boletim do Movimento das Forças Armadas (Lisboa).
Jornal do Agricultor (Lisboa).
Jornal de Alcácer (Alcácer do Sal).
Jornal do Sul (Setúbal).
O Camponês (clandestino).
O Distrito de Setúbal (Setúbal).
O Expresso (Lisboa).
O Militante (Lisboa).
O Povo Livre (Lisboa).
O Sorraia (Coruche).
Portugal Socialista (Lisboa).
BIBLIOGRAFIA