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Deslizamentos que matam: veja se você e a sua

família correm perigo

Por Pedro Jacobi

A corrida imobiliária desenfreada e os novos assentamentos urbanos


estão, cada vez mais, colocando o homem e a natureza em risco.

À medida que construímos em locais de encostas íngremes, em


terrenos de grande instabilidade, nos flancos das grandes elevações,
nas proximidades da planície aluvial de rios ou nas áreas de influência
de córregos e drenagens estaremos correndo o risco de perder os
nossos investimentos e as nossas vidas.

Estas são áreas onde os deslizamentos de terra se sucedem ao longo


dos anos.

A cada ano, invariavelmente, as notícias se repetem. Sempre nas


épocas das chuvas os escorregamentos em áreas urbanas com forte
declividade são responsáveis por inúmeras tragédias como a que
vimos ocorrer em Angra dos Reis e na Ilha Grande, na virada do ano
de 2009.

A grande ironia é que todos esses dramas e suas danosas


consequências são, quase sempre, totalmente previsíveis e, muitas
vezes, evitáveis.

O nosso objetivo, neste artigo, não é discutir as soluções, contenções,


muros de arrimo, terraços, estudos preventivos, mapeamentos das
áreas de risco, implementação de leis e soluções que funcionem mas
sim o de informar se você, a sua família ou o seu prédio estão em
perigo por estarem em uma área de risco de escorregamento.

Abaixo discutirei os principais pontos que deverão ser utilizados em


uma avaliação de risco preliminar com ênfase em desmoronamentos
e deslizamentos. Saiba avaliar o perigo que você e sua família estão
correndo.
Veja, com cuidado a lista abaixo e identifique o seu nível de risco. Se
ele for alto não hesite em contactar a defesa civil e geólogos ou
engenheiros especializados no assunto. Se estiver chovendo forte, em
áreas de elevado risco, o melhor a fazer é simplesmente abandonar a
sua residência até que
um especialista tenha visitado a área e que um laudo sobre a
segurança do imóvel tenha sido elaborado.

Esta é uma decisão difícil, mas se usada de uma forma consciente e


racional deverá salvar vidas preciosas. A sua vida vale muito: não a
desperdice.

Responda as seguintes perguntas e entenda o seu risco:

1. O seu imóvel está situado em terreno de alta declividade? Este é


o ponto fundamental que deve ser avaliado. A declividade e a
instabilidade potencial da encosta. Se você tiver dúvidas quanto
a este ponto procure a opinião de especialista. Se as
inclinações da encosta onde você mora forem muito acentuadas
pode existir o perigo de deslizamentos. O risco aumenta a
medida que as próximas perguntas sejam verdadeiras.
2. Existe algum córrego ou, vale descendo a encosta, nas
proximidades? 3. Já houve escorregamentos recentes na região,
em áreas similares a sua?
4. Existem rochas roladas, matacões ou blocos que possam indicar
um transporte por gravidade? Esses blocos acumulados,
geralmente sem uniformidade, no fundo das encostas, podem
estar indicando que houveram deslizamentos no passado.
5. Existe algum corte efetuado no solo que possa aumentar o
ângulo natural da declividade? Cortes verticais em solos
instáveis irão aumentar, drasticamente, o risco de
desmoronamentos.
6. Existem áreas com lajedos com grande declividade, sem ou com
pouca cobertura de solos, acima da sua residência ou na região?
É comum em montanhas como as da região do Rio de Janeiro,
vermos lajedos nus com grande declividade. Possivelmente eles
foram expostos após grandes deslizamentos. Veja a foto do
desastre da Ilha Grande onde, após o deslizamento, foi exposto
um grande lajedo. Nas partes superiores existem outros lajedos
mais antigos, parcialmente cobertos por vegetação mais
recente, que mostravam claramente a periculosidade da
encosta onde ocorreu o desastre.
7. É possível notar que em certas áreas da encosta existe uma
vegetação mais nova, diferente da vegetação mais antiga
circundante? Em caso de deslizamentos antigos a vegetação
nova irá demarcar, com boa precisão a área afetada.
8. Existem, nas encostas próximas a sua casa, um bom número de
árvores que estejam inclinadas em direção morro abaixo? As
árvores devem estar em sua grande maioria verticalizadas. Se
uma área
apresenta suas árvores com inclinação anômala isso pode
significar um deslizamento incipiente ou antigos movimentos de
terra.

Pontos que podem atenuar o risco:

1. A área já foi avaliada por geólogos especializados em


geo-engenharia que confirmaram a inexistência de risco de
deslizamento?
2. Existe um estudo de risco da sua área feito pela Prefeitura ou
órgão competente demonstrando o baixo risco de
desmoronamentos e deslizamentos?
3. Existem obras de contenção específicas acima e abaixo de seu
imóvel? 4. Existem obras para evitar a infiltração da água nos solos
acima e abaixo de seu imóvel?
5. Existem sistemas de controle de águas superficiais?
6. Existem árvores com raízes profundas nas proximidades que
possam dar maior estabilidade ao solo?

Se as suas respostas indicarem que a área onde mora é de alto risco


fale com um especialista imediatamente. Se as chuvas estiverem
intensas evite permanecer no local enquanto a área não for liberada
por especialistas.

Observe com atenção, informe as autoridades e salve vidas:

Nas próximas fotos iremos mostrar que é possível identificar com


bastante precisão o risco de deslizamentos de uma dada região.
Vista do deslizamento da Ilha Grande onde existia a Pousada
Sankay, mostrando a formação do lajedo exposto pelo
deslizamento. A área era de alto risco por estar situada em
encosta muito íngreme onde vários deslizamentos já haviam
ocorrido no passado. Na parte superior da foto é possível ver os
lajedos expostos antigos, cobertos por vegetação rasteira, mais
recente que mostram claramente a existência de antigos
deslizamentos. A área era, visivelmente perigosa. Trabalhos de
contenção deveriam ter sido feitos para evitar a tragédia que
acabou ocorrendo. Na foto é possível ver onde irão ocorrer os
próximos deslizamentos que, poderão ocorrer em muito breve, já
que uma boa parte do solo que sustentava a encosta não mais
existe.
Veja os blocos rolados que despencaram com o deslizamento de
Sankay. Essa mesma situação é visível em muitas encostas onde
houveram antigos deslizamentos e deve servir como um sinal
evidente de que a área é insegura.

Na foto da Pousada Sankay em Angra, antes do desastre, é possível ver grande


quantidade possivelmente foram deslocados e transportados em deslizamentos
antigos. Muitos desses podem ter ocorrido a décadas ou mesmo a centenas de
anos. Estes blocos atestam que a rdeslizamentos e, como tal, deveriam haver
trabalhos de contenção de encostas que poderievitado esta perda de vidas e de
patrimônio.
Vista de satélite (Google Earth) da Ilha Grande na região da Pousada Sankay onde
ocorreu os lajedos expostos após antigos deslizamentos. Na encosta acima da
Pousada Sankay é vide antigos deslizamentos que estavam confirmando o alto
risco de acidentes em toda a enabaixo. Todas estas encostas de alta declividade,
abaixo desses lajedos, são de altíssimo risc
terra e devem ser estudadas por especialistas imediatamente. Não há como
evitar: trabalencostas deverão ser feitos ou mais vidas irão se
perder nas próximas chu

Foto de satélite da comunidade do Abrão na Ilha Grande mostrando o perigo


potencial de durbanas. Na foto são visíveis os antigos deslizamentos. Trata-se de
uma bomba-relógio ququalquer momento. É preciso que as autoridades iniciem
estudos rápidos e eficientes para
O fato é que os sinais de perigo são bastante aparentes e, a maioria
das pessoas, pode identificá-los se observarem, com cuidado, a
região onde moram.

Use os pontos listados acima e avalie o seu risco.

Os deslizamentos em encostas íngremes sempre existirão. Não há


como evitar. O que podemos evitar é a morte de mais pessoas.

Retirado de: www.geologo.com.br

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