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Guilherme de Matos Saldanha

Licenciado em Ciências de Engenharia Mecânica

Avaliação da Resistência à Fadiga de


Limas de Endodontia Sujeitas a Flexão
Rotativa e da sua Integridade Estrutural
com Recurso à Utilização de
Termografia e de Correntes Induzidas

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em


Engenharia Mecânica

Orientador: Rui Fernando dos Santos Pereira Martins,


Professor Doutor, FCT-UNL/DEMI
Co-orientador: Telmo Jorge Gomes dos Santos,
Professor Doutor, FCT-UNL/DEMI

Júri:
Presidente: Doutor João Manuel Vicente Fradinho, Professor Auxiliar FCT/UNL
Arguentes: Doutor Miguel Araújo Machado, Professor Auxiliar FCT/UNL
Doutor José Manuel Cardoso Xavier, Professor Auxiliar FCT/UNL
Doutor Rui Fernando dos Santos Pereira Martins, Professor Auxiliar
Vogal:
FCT/UNL

Setembro 2019
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Avaliação da resistência à fadiga de limas de endodontia sujeitas a flexão rotativa e da
sua integridade estrutural com recurso à utilização de termografia e de correntes
induzidas

Copyright © 2019 Guilherme de Matos Saldanha

Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa

A Faculdade de Ciências e Tecnologia e a Universidade Nova de Lisboa têm o direito,


perpétuo e sem limites geográficos, de arquivar e publicar esta dissertação através de
exemplares impressos reproduzidos em papel ou de forma digital, ou por qualquer outro
meio conhecido ou que venha a ser inventado, e de a divulgar através de repositórios
científicos e de admitir a sua cópia e distribuição com objetivos educacionais ou de
investigação, não comerciais, desde que seja dado crédito ao autor e editor.

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Agradecimentos

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao meu orientador, Professor Doutor Rui


Fernando Martins, e ao meu co-orientador, Professor Doutor Telmo Jorge Gomes dos
Santos, pelo acompanhamento dado ao longo de todo este trabalho, pelo
esclarecimento de todas as dúvidas e pela transmissão de todos os valiosos
conhecimentos que permitiram a realização deste trabalho.
Um enorme agradecimento à minha família pelo apoio durante todo o meu
percurso académico, em particular aos meus pais e irmã, que fizeram de mim a pessoa
que sou hoje, e que me deram sempre todo o apoio e condições para chegar até aqui.
À Ana pela compreensão, carinho e apoio em todos os momentos desta longa
caminhada.
Um especial obrigado aos meus colegas de laboratório Patrick Inácio, Miguel
Machado e Francisco Mendonça pelo companheirismo, constante disponibilidade e
ajuda indispensável.
Aos meus amigos e colegas de faculdade pelas experiências, conhecimentos e
ajuda ao longo deste percurso.

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Resumo
O propósito deste estudo é comparar a resistência mecânica à fadiga, por flexão
rotativa, de limas endodônticas de diferentes gerações, fabricadas em Níquel-Titânio
(NiTi). Adicionalmente pretende-se averiguar a possibilidade de utilização de Ensaios
Não Destrutivos (END), através dos métodos de correntes induzidas (CI) e termografia,
na deteção de fissuras de fadiga, responsáveis por grande parte das fraturas das limas
em ambiente clínico.
Os instrumentos foram colocados em rotação numa montagem experimental,
projetada para simular um canal radicular com um raio de curvatura igual a 4.7 mm
aplicado ao longo de um ângulo de 45°. Foram testadas seis limas rotativas HyFlex™
EDM (Coltene, Suíça), de dois tamanhos diferentes, e comparadas com os resultados
obtidos para duas limas HyFlex™ CM de tamanho 20/.04. Foram ainda avaliadas as suas
superfícies de fratura com auxílio de um microscópio eletrónico Leica DMI 5000 M.
Para a aplicação dos END, introduziu-se um defeito artificial na região apical de uma
lima HyFlex CM. Seguidamente, foram produzidas e validadas experimentalmente dez
sondas de CI, especificamente concebidas para a sua inspeção. Foram ainda realizadas
simulações numéricas, replicando-se os parâmetros e as condições das duas sondas que
revelaram melhor capacidade de detetabilidade. Por fim, fez-se uma inspeção
termográfica ao instrumento defeituoso, utilizando-se uma câmara Fluke Ti 400.
Os resultados experimentais mostraram que a geração de instrumentos mais
recente (EDM), fabricados através do processo de eletroerosão, são bastante mais
resistêntes à fratura por fadiga quando comparados com as limas CM (Control Memory).
Em relação aos END, as metodologias desenvolvidas para a inspeção das limas
através das CI revelaram-se incapazes de detetar a região defeituosa, em grande
medida devido à sua conicidade. As simulações numéricas corroboraram os resultados
experimentais. Por outro lado, conseguiu-se detetar o defeito através da termografia,
embora com alguma dificuldade devido às suas reduzidas dimensões.

Palavras Chave: Limas Endodônticas, Fadiga Mecânica, Ensaios Não Destrutivos (END),
Correntes Induzidas (CI), Termografia.

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Abstract
The purpose of this study is to compare the fatigue resistance to rotational
bending of endodontic files of different generations, made of nickel-titanium (NiTi).
Additionally, it is intended to investigate the possibility of using Non-Destructive Tests
(NDT), mainly eddy currents (EC) and thermography, in the detection of fatigue
microcracks, responsible for most of the fractures of the files in clinical environment.
The instruments were placed in rotation in an experimental setup designed to
simulate a root canal with a radius of curvature of 4.7 mm applied over an angle of 45 °.
Six HyFlex ™ EDM rotary files (Coltene, Switzerland) of two different sizes were tested,
and compared with the results obtained for two HyFlex ™ CM files of size 20 / .04. Their
fracture surfaces were also analysed using a Leica DMI 5000 M electronic microscope.
For NDT application, an artificial defect was introduced in the apical region of a
HyFlex CM file. Subsequently, ten EC probes, specifically designed for their inspection,
were produced and validated experimentally. Numerical simulations were carried out,
replicating the parameters and conditions of the two probes that showed better
detectability. Finally, a thermographic inspection of the defective instrument was
performed using a Fluke Ti 400 thermographic camera.
Experimental results showed that the newer generation of instruments (EDM)
manufactured by the electroerosion process are much more resistant to fatigue fracture
when compared to CM files.
With respect to NDT, the methodologies developed for the inspection of files
through ECs proved unable to detect the faulty region, largely due to their taper and the
electromagnetic properties of NiTi alloys. In addition, numerical simulations
corroborated the experimental results. On the other hand, the defect introduced in the
endodontic file could be detected by thermography, although with some difficulty due
to its small size.

Key Words: Endodontic Files, Mechanical Fatigue, Non-Destructive Testing (NDT), Eddy
Currents (EC), Thermography.

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Índice

Agradecimentos.................................................................................................................v
Resumo ............................................................................................................................ vii
Abstract ............................................................................................................................ ix
Índice de Figuras .............................................................................................................. xv
Índice de Tabelas ............................................................................................................ xxi
Nomenclatura ............................................................................................................... xxiii
1. Introdução ................................................................................................................ 1
1.1 Estado de Arte e Motivação ............................................................................. 1
1.2 Objetivos ........................................................................................................... 2
1.3 Estrutura da Dissertação .................................................................................. 2
2. Revisão Bibliográfica ................................................................................................. 5
2.1 Introdução ........................................................................................................ 5
2.2 Endodontia ....................................................................................................... 5
2.3 Instrumentos Endodônticos ............................................................................. 6
2.3.1 Enquadramento Histórico .......................................................................... 6
2.3.2 Ligas de Níquel – Titânio............................................................................. 7
2.3.3 Instrumentos de Níquel – Titânio ............................................................. 10
2.3.4 Caracterização Dimensional dos Instrumentos Endodônticos ................. 12
2.3.5 Fratura de Instrumentos Endodônticos ................................................... 13
2.3.6 Esterilização .............................................................................................. 14
2.3.7 Diferentes Tipos de Instrumentos Endodônticos de Ni-Ti ....................... 15
2.4 Fadiga Mecânica ............................................................................................. 18
2.4.1 Ensaios à fadiga de instrumentos endodônticos de NiTi ......................... 18
2.4.1.1 1.º Caso de estudo ............................................................................ 19
2.4.1.2 2.º Caso de estudo ............................................................................ 22
2.5 Ensaios Não Destrutivos ................................................................................. 24
2.5.1 Termografia por Infravermelhos .............................................................. 24
2.5.1.1 Introdução ......................................................................................... 24
2.5.1.2 Enquadramento Histórico ................................................................. 25
2.5.1.3 Câmara Termográfica ........................................................................ 26
2.5.1.4 Termografia por Infravermelhos como END ..................................... 27

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a) Termografia Ativa por Excitação Ótica ................................................. 29
b) Termografia Ativa por Correntes Induzidas (ECT) ................................ 31
c) Termografia Ativa por Ultra-sons (UST)................................................ 32
2.5.2 Correntes Induzidas .................................................................................. 33
2.5.2.1 Introdução ......................................................................................... 33
2.5.2.2 Enquadramento Histórico ................................................................. 33
2.5.2.3 Fundamentos das CI como END ........................................................ 34
2.5.2.4 Limitações das Correntes Induzidas como END ................................ 36
2.5.2.5 Tipos de Sondas ................................................................................. 38
a) Configuração ......................................................................................... 38
b) Modo de Funcionamento ..................................................................... 39
c) Modo de Operação ............................................................................... 39
d) Modo de Ligação ................................................................................... 41
2.5.2.6 Estado-de-Arte das Técnicas de CI como END .................................. 42
3. Metodologias e Procedimentos Experimentais ..................................................... 45
3.1 Introdução ...................................................................................................... 45
3.2 Ensaios de Fadiga por Flexão Rotativa ........................................................... 46
3.2.1 Caracterização Dimensional dos Instrumentos Ensaiados ....................... 46
3.2.2 Montagem Experimental .......................................................................... 47
3.2.3 Procedimento Experimental ..................................................................... 49
3.3 Ensaios de Correntes Induzidas ...................................................................... 51
3.3.1 Desafios na Implementação do Método das Correntes Induzidas .......... 51
3.3.2 Caracterização dos Instrumentos de Estudo ............................................ 52
3.3.3 Conceção das Bobinas de Dupla Função .................................................. 53
3.3.4 Conceção das Sondas de Correntes Induzidas ......................................... 54
3.3.5 Montagem Experimental .......................................................................... 56
3.3.6 Simulação Numérica ................................................................................. 58
3.4 Ensaios de Termografia .................................................................................. 61
3.4.1 Seleção de Equipamento .......................................................................... 61
3.4.2 Montagem Experimental .......................................................................... 63
4. Validação Experimental e Numérica das Sondas de Correntes Induzidas ............. 67
4.1 Introdução ...................................................................................................... 67
4.2 Validação Experimental .................................................................................. 67

xii
4.2.1 Resultados dos Ensaios Utilizando as Sondas Absolutas.......................... 69
4.2.2 Discussão dos Resultados ......................................................................... 73
4.2.3 Resultados dos Ensaios Utilizando as Sondas Diferenciais ...................... 74
4.2.4 Discussão dos Resultados ......................................................................... 77
4.3 Validação Numérica ........................................................................................ 78
5. Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais ..................................... 83
5.1 Introdução ...................................................................................................... 83
5.2 Ensaios de Fadiga por Flexão Rotativa ........................................................... 84
5.2.1 Resultados dos Ensaios ............................................................................. 84
5.2.1 Análise da Superfície de Fratura ............................................................... 86
5.2.2 Discussão dos Resultados ......................................................................... 88
5.3 Ensaios de Correntes Induzidas ...................................................................... 90
5.3.1 Resultados para Sondas Absolutas ........................................................... 90
5.3.2 Resultados para Sondas Diferenciais ........................................................ 93
5.3.3 Discussão dos Resultados ......................................................................... 96
5.4 Ensaios de Termografia .................................................................................. 99
5.4.1 Resultados dos ensaios............................................................................. 99
5.4.2 Discussão dos Resultados ....................................................................... 101
6. Conclusões e Desenvolvimentos Futuros ............................................................. 103
6.1 Introdução .................................................................................................... 103
6.2 Conclusões .................................................................................................... 104
6.2.1 Ensaios de Fadiga por Flexão Rotativa ................................................... 104
6.2.2 Ensaios Não Destrutivos ......................................................................... 105
6.3 Propostas para Desenvolvimentos Futuros.................................................. 106
Referências Bibliográficas ............................................................................................. 107

xiii
xiv
Índice de Figuras

Figura 2.1 – Etapas de um tratamento endodôntico: (a) Diagnóstico, (b) Extração da


polpa e preparação do sistema de canais radiculares, (c) Irrigação e obturação dos
canais, (d) Aplicação de uma coroa protetora artificial. .................................................. 5
Figura 2.2 - Representação esquemática da transformação martensitica e efeito da
memória de forma. ........................................................................................................... 8
Figura 2.3 - Transformação de fase induzida por temperatura de uma liga de NiTi
convencional. .................................................................................................................... 8
Figura 2.4 - Curva tensão/extensão: aço inoxidável e níquel-titânio superelástico. ..... 10
Figura 2.5 - Trasnformação martensítica induzida por tensão. ..................................... 11
Figura 2.6 - Instrumento endodôntico normalizado segundo a norma ISO................... 12
Figura 2.7 – Ilustração do efeito regenerador da esterilização por autoclave no rearranjo
das espiras da lima HyFlex CM. ...................................................................................... 14
Figura 2.8 – (a) Acabamento superficial da lima HyFlex EDM tamanho 25/.08. (b) Detalhe
da sua superfÍcie com maior amplificação (5000X). ...................................................... 17
Figura 2.9 - (a) Acabamento superficial da lima HyFlex CM tamanho 25/.04. (b) Detalhe
da sua superfície com maior amplificação (600X).......................................................... 17
Figura 2.10 – Montagem exprerimental utilizada nos testes de fadiga rotativa planar. 19
Figura 2.11 – (a) Montagem experimental utilizada nos testes de fadiga rotativa não
planar; ............................................................................................................................. 21
Figura 2.12 - Montagem experimental utilizada nos testes de fadiga cíclica. ............... 23
Figura 2.13 - Representação da montagem experimental usada por Frederick Hersche
aquando da sua descoberta da radiação IV. .................................................................. 25
Figura 2.14 – Esquematização dos principais componentes de uma câmara termográfica.
........................................................................................................................................ 26
Figura 2.15 - Transmitância espetral da atmosfera........................................................ 27
Figura 2.16 - Exemplo do contraste térmico criado por uma fissura num cordão de
soldadura. ....................................................................................................................... 28
Figura 2.17 - Diagrama esquemático da TA por excitação ótica. ................................... 29
Figura 2.18 - (a) Planificação da placa de fibra de carbono a inspecionar (dimensões em
mm); ............................................................................................................................... 30
Figura 2.19 – Termogramas obtidos em t = 5s para: (a) Pulsed Thermography (PT); (b)
Long Pulse Thermography (LPT); (c) Step Heating Thermography (SHT). ...................... 31
Figura 2.20 - Representação esquemática de um END por correntes induzidas. .......... 34
Figura 2.21 - Plano de impedância característico de materiais magnéticos e não
magnéticos. .................................................................................................................... 35
Figura 2.22 - Variação da profundidade de penetração das CI em função da frequência
de ensaio para um alúminio AA1100. ............................................................................ 36

xv
Figura 2.23 - Representação do efeito lift-off e da intensidade e localização das CI
produzidas por uma bobina (vista de corte). ................................................................. 37
Figura 2.24 – Exemplo de uma sonda envolvente para inspeçaõ de tubos e barras. .... 38
Figura 2.25 – (a) Exemplo de uma sonda interior para inspeção de peças tubulares, (b)
Exemplo de uma sonda superficial comercial. ............................................................... 38
Figura 2.26 – (a) Sonda de dupla função; (b) Sonda do tipo reflexão. .......................... 39
Figura 2.27 - (a) Sonda absoluta evolvente de dupla função não equilibrada; (b) Sinal
caracterisitco de um sonda absoluta.............................................................................. 39
Figura 2.28 - Sonda absoluta evolvente de dupla função equilibrada ........................... 40
Figura 2.29 - (a) Sonda diferencial envolvente de dupla função; (b) Sinal caracterisitco de
um sonda diferencial. ..................................................................................................... 40
Figura 2.30 - Ligação de absoulta de uma sonda absoluta utilizando um circuito RL. .. 41
Figura 2.31 - (a) Ligação bridge não equilibrada, (b) Ligação bridge equilibrada. ......... 41
Figura 2.32 - (a) Esquematização do sistema de CI utilizado; (b) Fissuras no objeto de
teste. ............................................................................................................................... 42
Figura 2.33 - Resultados dos ensaios obtidos nas diferentes fissuras. .......................... 43
Figura 3.1 - Sistema de limas rotativas HyFlex EDM de três tamanhos diferentes. ...... 46
Figura 3.2 – Caracterização dimensional e variação da secção transversal dos
instrumentos: (a) Hyflex EDM OneFile 25/~; (b) Hyflex EDM Glidepath 10/.05. ........... 47
Figura 3.3 - Rendering da montagem experimental. ..................................................... 47
Figura 3.4 - Montagem experimental: (1, 2) - Braçadeiras de fixação do micromotor; (3)
- Micromotor; (4) - Instumento endodôntico; (5,6) - Esturutras que simulão o canal
radicular; (7) - Estrutura de Suporte; (8) - Grampo de fixação; (9) – Placa de teflon; ... 48
Figura 3.5 - Sistema de controlo WaveOne. ................................................................... 48
Figura 3.6 - Perpendicularidade entre a aresta da peça de encosto, representada pelo
segmento de reta AB, e o eixo do instrumento. ............................................................ 50
Figura 3.7 - Marca cuja extremidade superior indica uma distância de 5 mm até ao centro
da curvatura do canal. .................................................................................................... 50
Figura 3.8 – Caracterização dimensional e geométrica da lima rotativa HyFlex CM 20/.04;
Imagem da secção transversal retirada de [59]. ............................................................ 52
Figura 3.9 - Defeito artificial introduzido num instrumento HyFlex CM a 5 mm da ponta.
........................................................................................................................................ 53
Figura 3.10 - Concepção das bobinas: (a) Enrolamentos da bobina unidos ao redor de
um arme envolto em fita teflon, (b) Vista de cima da bobina resultante, (c) Vista lateral
da mesma. ...................................................................................................................... 54
Figura 3.11 - (a) Sonda absoluta equilibrada, (b) Sonda diferencial. ............................. 54
Figura 3.12 - Montagem experimental para os END. (1) Bloco de fixação dos
Instrumentos; (2) Sonda de CI; (3) Mesa XY; (4) Placa de aquisição de dados DAQ - 5080;
(5) Nortec; (6) Software dedicado. ................................................................................. 56

xvi
Figura 3.13 - Montagem experimental: (1) Sonda absoluta; (2) Bloco de suporte; (3)
Instrumento de teste; (4) Instrumento de referência; (5) Parafusos de imobilização dos
instrumentos. ................................................................................................................. 56
Figura 3.14 – Interface gráfica do programa de controlo do sistema de CI: (1) Dispositivos
de comunicação; (2) Definição do posicionamento da sonda; (3) Definição dos
parâmetros do varrimento; (4) Zona de controlo do ensaio; (5) Notas relevantes e
definição de gravação de dados; (6) Representação gráfica da parte real e imaginária da
impedância elétrica da sonda......................................................................................... 57
Figura 3.15 - Modelo utilizado na simulação dos ensaios de CI. .................................... 58
Figura 3.16 - Comparação da geometria e dimensões entre a fissura real e simulada. 59
Figura 3.17 - Especificação das propriedades físicas do nitinol no ANSYS Maxwell. ..... 59
Figura 3.18 - Malha utilizada nas simulações numéricas. .............................................. 60
Figura 3.19 - Campo magnético vetorial obtido para uma sonda com N = 30 e f = 5 MHz.
........................................................................................................................................ 60
Figura 3.20 - Intensidade das correntes induzidas sobre o defeito, obtidas para uma
sonda com 30 espiras e f = 5 MHz. ................................................................................. 60
Figura 3.21 - Câmara termográficas testadas. (a) Fluke Ti 400; (b) IRS 336................... 61
Figura 3.22 - Comparação dos valores da distância mínima de focagem obtidos
laboratorialmente........................................................................................................... 62
Figura 3.23 - Interface gráfica do programa de edição de imagens térmicas. (1) Escala de
cores; (2) Definição dos marcadores da imagem; (3) Definições de emissividade; (4)
Termograma e escala de temperaturas; (5) Informações do termograma. .................. 62
Figura 4.1 - Descrição visual da localização e das dimensões dos defeitos introduzidos
num arame de Niti com 0.6 mm de diâmetro. ............................................................... 68
Figura 4.2 - Representação esquemática dos parâmetros de varrimento utilizados nos
ensaios experimentais do arame de NiTi (imagem não está à escala). ......................... 69
Figura 4.3 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SA10 para f = 4, 4.5 e 5
MHz................................................................................................................................. 70
Figura 4.4 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SA20 para f = 3, 3.5 e 4
MHz................................................................................................................................. 71
Figura 4.5 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SA25 para f = 3, 4 e 5
MHz................................................................................................................................. 71
Figura 4.6 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SA30 para f = 3, 4 e 5
MHz................................................................................................................................. 72
Figura 4.7 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SA40 para f = 4.5, 5 e 5.5
MHz................................................................................................................................. 72
Figura 4.8 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SD10 para f = 7.5, 8 e
8.5 MHz. .......................................................................................................................... 74
Figura 4.9 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SD15 para f = 7.5, 8 e
8.5 MHz. .......................................................................................................................... 75

xvii
Figura 4.10 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SD20 para f = 6.5, 7 e
7.5 MHz. .......................................................................................................................... 75
Figura 4.11 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SD30 para f = 7, 7.5 e
8 MHz. ............................................................................................................................. 76
Figura 4.12 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SD10 para f = 7.5, 8 e
8.5 MHz. .......................................................................................................................... 76
Figura 4.13 - Comparação entre os defeitos reais e aproximados na simulação. ......... 78
Figura 4.14 - Modelo tridimensional utilizado na simulação. ........................................ 78
Figura 4.15 - Comparação dos gráficos de impedância de todas as sondas absolutas, para
as frequências com as quais se obtiveram melhores resultados. .................................. 79
Figura 4.16 - Comparação dos gráficos de impedância de todas as sondas diferenciais,
para as frequências com as quais se obtiveram melhores resultados........................... 79
Figura 4.17 - Gráfico de impedância obtido na simulação numérica obtida para uma
bobina com 30 espiras, 2 mm de comprimento e excitada com uma f = 5 MHz. .......... 80
Figura 4.18 - Gráfico de impedância obtido através da simulação numérica de uma
bobina com 15 espiras, 2.1 mm de comprimento e excitada com uma f = 8 MHz. ....... 81
Figura 5.1 - Fragmentos dos instrumentos EDM OneFile. ............................................. 85
Figura 5.2 - Superfície de fratura da lima OneFile_2. (a) Vista de cima; (b) Vista lateral
(face A); (c) Vista lateral (face B). ................................................................................... 86
Figura 5.3 - Superfície de fratura da lima Glidepath_1. (a) Vista de cima; (b) Vista lateral
(face A); (c) Vista lateral (face B). ................................................................................... 87
Figura 5.4 - Representação esquemática dos parâmetros de varrimento utilizados nos
ensaios experimentais na lima endodôntica defeituosa (imagem não está à escala). .. 90
Figura 5.5 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SA10 para f = 3, 4 e 5
MHz................................................................................................................................. 91
Figura 5.6 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SA20 para f = 3, 4 e 5
MHz................................................................................................................................. 91
Figura 5.7 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SA30 para f = 3, 4 e 5
MHz................................................................................................................................. 92
Figura 5.8 - Gráfico de impedância obtido na simulação numérica obtida para uma
bobina com 30 espiras, 2 mm de comprimento e excitada com uma f = 5 MHz. .......... 93
Figura 5.9 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SD15 para f = 6, 7 e 8
MHz................................................................................................................................. 94
Figura 5.10 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SD30 para f = 6, 7 e 8
MHz................................................................................................................................. 94
Figura 5.11 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SD40 para f = 6, 7 e 8
MHz................................................................................................................................. 95
Figura 5.12 - Gráfico de impedância obtido na simulação numérica obtida para uma
bobina com 30 espiras, 3 mm de comprimento e excitada com uma f = 8 MHz. ......... 95
Figura 5.13 - Intensidade das correntes induzidas na secção inicial do instrumento.... 96

xviii
Figura 5.14 - Intensidade das correntes induzidas na secção defeituosa do instrumento.
........................................................................................................................................ 96
Figura 5.15 - Intensidade das correntes induzidas na ponta do instrumento. .............. 97
Figura 5.16 - Intensidade das correntes induzidas na secção defeituosa do arame de NiTi.
........................................................................................................................................ 98
Figura 5.17 - Evolução térmica da zona defeituosa ao longo do tempo de ensaio. ...... 99
Figura 5.18 - Termogramas obtidos na fase de aquecimento. (a) Lima defeituosa. (b)
Lima de referência. ....................................................................................................... 100
Figura 5.19 - Termogramas obtidos na fase de equilíbrio térmico. (a) Lima defeituosa. (b)
Lima de referência. ....................................................................................................... 100
Figura 5.20 - Termogramas obtidos na fase de aquecimento. (a) Lima defeituosa. (b)
Lima de referência. ....................................................................................................... 101
Figura 5.21 – Duas fissuras resultantes de um ensaio de fadiga cíclia numa lima
endodôntica HyFlex 35/.04. ......................................................................................... 102

xix
xx
Índice de Tabelas

Tabela 2.1 - Propriedade físicas e mecânicas da liga NiTi. ............................................... 9


Tabela 2.2 – Temperaturas de transformação e respetivas energias associadas, obtidas
das curvas DSC para os diferentes instrumentos. .......................................................... 16
Tabela 2.3 – Valor médio do número de ciclos até à fratura (NCF). .............................. 16
Tabela 2.4 – Valores do NCF médio registados nos testes de resistência à fadiga de 64
limas endodônticas quando sujeitas a flexão rotativa sob curvatura planar. ............... 19
Tabela 2.5 - Valores do NCF registados nos testes de resistência à fadiga de 64 limas
endodônticas quando sujeitas a flexão rotativa sob curvatura multiplanar. ................ 21
Tabela 2.6 – Valores médios do NCF registados para os diferentes grupos de
instrumentos. ................................................................................................................. 23
Tabela 3.1 - Desafios na aplicação das correntes induzidas como END nos instrumentos
endodônticos. ................................................................................................................. 51
Tabela 3.2 - Caracterização dimensional das bobinas de cada uma das sondas. .......... 55
Tabela 3.3 - Especificações das câmara termográficas fluke Ti 400 e IRS 336. .............. 61
Tabela 4.1 – Sumário dos parâmetros dos ensaios experimentais para as sondas
absolutas......................................................................................................................... 69
Tabela 4.2 - Sumário dos parâmetros dos ensaios experimentais para as sondas
diferenciais. .................................................................................................................... 74
Tabela 5.1 - Resultados experimentais da resistência mecânica à fadiga para os 3 grupos
de instrumentos. ............................................................................................................ 84
Tabela 5.2 - Comprimento do fragmento de cada instrumento. .................................. 85
Tabela 5.3 - Parâmetros utilizados nos ensaios experimentais nos quais se utilizaram as
sondas absolutas. ........................................................................................................... 90
Tabela 5.4 - Parâmetros utilizados nos ensaios experimentais nos quais se utilizaram as
sondas diferenciais. ........................................................................................................ 93

xxi
xxii
Nomenclatura

Nomenclatura Grega
𝛿 Profundidade de penetração das correntes induzidas [m]
∆𝑡 Intervalo de tempo [s]
𝜇 Permeabilidade magnética [H. m−1 ]
𝜎 Condutividade elétrica [S.m−1 ] ou [% IACS]
𝜔 Velocidade de rotação [rpm]

Nomenclatura Latina
𝐴𝑓 Austenite Finish
𝐴𝑠 Austenite Start
D1 Diâmetro na ponta do instrumento
D16 Diâmetro no final da zona ativa do instrumento
𝑓 Frequência [Hz]
𝐻𝑝 Campo Magnético Primário
𝐻𝑠 Campo Magnético Secundário
𝐼𝑚 (𝑍⃗) Parte imaginária do vetor impedância elétrica [Ω]
𝐼𝑥 Densidade de correntes induzidas [A. m2 ]
𝑀𝑓 Martensite Finish
𝑀𝑠 Martensite Start
𝑁𝑖 Número de Ciclos até à Iniciação da Fratura
𝑁𝑝 Número de Ciclos até à Propagação Completa da Fratura
R Resistência elétrica [Ω]
𝑅𝑒 (𝑍⃗) Parte real do vetor impedância elétrica [Ω]
𝑅𝑓 R-phase Finish
𝑅𝑠 R-phase Start
𝑥 Distância [m]
𝑋𝐶 Reatância capacitiva [Ω]
𝑋𝐿 Reatância indutiva [Ω]
𝑍⃗ Vetor de impedância elétrica [Ω]
%wt Weight Percent

xxiii
Siglas e Acrónimos

ANSI American National Standards Institute


CI Correntes Induzidas
CM Control Memory
DAQ Data Aquisition
DEMI Departamento de Engenharia Mecânica e Industrial
DP Desvio Padrão
EC Eddy Current
ECT Eddy Current Thermography
EDM Electric Discharge Machining
EMF Efeito de Memória de Forma
END Ensaios Não Destrutivos
FCT Faculdade de Ciências e Tecnologia
FMT Frequency Modulated Thermography
FPA Focal Plane Array
IACS International Annealed Copper Stamdard
IV Infravermelho
LIT Lock-in Thermograhy
LPT Long Pulsed Thermography
ISO International Organization for Standardization
LWIR Long Wavelenght Infrared
MEF Método dos Elementos Finitos
MWIR Mid Wavelenght Infrared
NCF Número de Ciclos até à Fratura
Ni Níquel
NI National Instruments
NiTi Níquel-Titânio
NITINOL Nickel Titanium Naval Ordnance Laboratory
PLA Poliácido Lático
PT Pulsed Thermography
RTTR Reverse Transformation Temperature Range
SHT Step Heating Thermography
TA Termografia Ativa
Ti Titânio

xxiv
TP Termografia Passiva
TTR Transformation Temperature Range
UNL Universidade Nova de Lisboa
UST Ultra Sound Thermography

xxv
Capítulo 1 - Introdução

1. Introdução
1.1 Estado de Arte e Motivação
Em caso de infeção do tecido vivo existente nos canais radiculares dos dentes,
pode ser necessário proceder à sua remoção [1]. As limas de endodontia que se
pretende estudar são responsáveis por esse processo e, atendendo às geometrias
altamente variáveis dos canais, é necessário que sejam o mais flexíveis e resistentes
possível. É precisamente neste sentido que as inovações tecnológicas na
instrumentação endodôntica têm evoluído.
Inicialmente, os instrumentos eram fabricados a partir da torção de arames de
aço-carbono. No entanto, com a descoberta de novos processos de maquinação e de
novos materiais, aqueles materiais foram substituídos por ligas de aço inoxidável e, mais
tarde, por ligas de Níquel-Titânio (NiTi) [2]. Estas ligas revelaram-se muito mais flexíveis
e resistentes do que as anteriores, adaptando-se mais facilmente a canais com
curvaturas acentuadas e de difícil acesso.
A principal característica das ligas de NiTi é a capacidade de reorganização da sua
microestrutura cristalográfica, em resposta a estímulos térmicos e/ou mecânicos,
fenómeno que lhes confere os efeitos de memória de forma (EMF) e de
superelasticidade (SE), respetivamente [3]. Graças a estas propriedades, a introdução
deste tipo de materiais na instrumentação endodôntica ganhou grande atração e
popularidade entre os odontologistas.
No entanto, as inovações tecnológicas não se ficaram pela procura de novos
materiais. Começaram, conjuntamente, a desenvolver-se novos métodos de
manipulação das temperaturas de transição da estrutura cristalina das ligas através de
tratamentos térmicos, com o objetivo de se tirar o máximo de partido das suas
propriedades [4]. Nesta dissertação serão estudadas as limas HyFlex CM, fabricadas a
partir de um arame de NiTi, previamente sujeito a uma série tratamentos térmicos com
vista a maximizar a sua flexibilidade à temperatura corporal. Adicionalmente, estudar-
se-á a última geração de limas introduzidas no mercado, as limas HyFlex EDM, que, para
além dos tratamentos térmicos a que foram submetidas, são maquinadas através do
processo de eletroerosão.
O propósito de todos estes avanços é tornar os instrumentos mais resistentes à
fratura mecânica, quer por fadiga, quer por torção. Ainda assim, apesar de pouco
provável, a fratura continua a ser uma realidade nos tratamentos clínicos. No caso do
fenómeno de fadiga mecânica em particular, a fratura acontece através da nucleação e
propagação de uma fissura com a aplicação de ciclos de tensão repetidos e inferiores à
tensão de cedência do material. Este tipo de fenómenos é extremamente problemático
caso aconteça durante um tratamento, dada a dificuldade que há em se conseguir retirar
a ponta fraturada do instrumento [5].
A motivação subjacente a este trabalho deriva da vontade em se encontrar um
método de deteção atempada destas fissuras que, eventualmente, levariam à rotura das
limas. Nesse sentido, ir-se-á avaliar a possibilidade de deteção destas fissuras utilizando

1
Capítulo 1 - Introdução

um conjunto de Ensaios Não Destrutivos (END), nomeadamente, as correntes induzidas


(CI) e a termografia.
No método das CI, a deteção de descontinuidades é possível através de medição
das variações da impedância de uma sonda, constituída por uma ou mais bobinas,
causadas pela alteração forçada do percurso normal das correntes induzidas devido à
presença de um defeito. No caso da termografia, utilizando uma câmara termográfica,
é possível detetarem-se os contrastes térmicos criados por regiões defeituosas, seja
pelas suas diferentes emissividades, seja, ainda, pelas variações no fluxo térmico criadas
por estas secções. Deste modo, em ambiente laboratorial, procurar-se-á adaptar e
aplicar estes métodos à deteção de microfissuras de fadiga em instrumentos
endodônticos.

1.2 Objetivos
Esta dissertação tem como objetivo a realização de um estudo comparativo da
resistência mecânica à fadiga entre as limas rotativas de Níquel-Titânio, HyFlex™ EDM
(Coltene, Suíça), de dois tamanhos diferentes, e as limas HyFlex™ CM (Coltene, Suíça)
de tamanho 20/.04. Para o efeito, serão testadas numa montagem experimental,
projetada para simular um canal radicular com um ângulo e um raio de curvatura
conhecidos.
Adicionalmente, ir-se-á investigar a possibilidade da utilização de Ensaios Não
Destrutivos na deteção de fissuras de fadiga em limas rotativas HyFlex™ CM,
nomeadamente através dos métodos da termografia e das correntes induzidas,
utilizando-se, no caso deste último, sondas especificamente concebidas para o
propósito.
Começar-se-á pela avaliação da capacidade de os dois métodos detetarem defeitos
artificialmente introduzidos e de grandes dimensões. Caso essa possibilidade seja
atestada, proceder-se-á à montagem experimental utilizada na avaliação da resistência
à fadiga por flexão rotativa para se produzirem fissuras de fadiga, recorrendo-se,
posteriormente, aos métodos enunciados para a averiguação da detetabilidade deste
tipo de fissuras.

1.3 Estrutura da Dissertação


A presente dissertação encontra-se organizada em 6 capítulos, nos quais se
abordam todos os aspetos considerados relevantes para o cumprimento dos objetivos
propostos.
No primeiro capítulo procede-se a uma breve introdução do trabalho a ser
desenvolvido. O capítulo começa pela apresentação dos objetivos que se pretendem
atingir e termina com a explicação da motivação subjacente à dissertação.

2
Capítulo 1 - Introdução

O segundo capítulo é reservado à fundamentação teórica e revisão do estado de


arte neste domínio. Analisam-se os princípios físicos e os estudos científicos
considerados mais relevantes quer no campo da mecânica da fadiga cíclica aplicada às
limas rotativas de endodontia, quer no campo dos END por correntes induzidas e por
termografia.
No terceiro capítulo são apresentadas as metodologias laboratoriais utilizadas.
Uma vez que foram empregues três processos de estudo distintos, optou-se por dividir
este capítulo em três partes: em §3.2 descrevem-se as técnicas e ferramentas usadas na
avaliação da resistência à fadiga das limas endodônticas; em §3.3 é explicado o processo
de conceção das sondas de correntes induzidas e a metodologia utilizada na simulação
numérica dos ensaios, bem como as estratégias e a montagem laboratorial utilizada na
inspeção dos instrumentos; finalmente, em §3.4 procede-se a uma análise dos
equipamentos e metodologias utilizados nos ensaios de termografia.
O capítulo 4 é reservado à validação experimental das sondas de correntes
induzidas. Essa validação é realizada em arames de NiTi, nos quais foram introduzidos
defeitos dimensionalmente semelhantes aos que se introduziram nas limas.
Adicionalmente, são apresentados os resultados de simulações numéricas realizadas
neste arame, com o objetivo de se verificar qual a semelhança entre os resultados
numéricos e experimentais.
No capítulo 5 são apresentados e discutidos os resultados dos ensaios
laboratoriais. Mais uma vez este capítulo é dividido em três partes. Em primeiro lugar,
apresentam-se os resultados dos ensaios experimentais de fadiga realizados nos
instrumentos HyFlex EDM, realizando-se, de seguida, uma análise da superfície de
fratura dos vários instrumentos com o objetivo de se compreender os mecanismos que
levaram à sua rotura. Em §5.3, são apresentados os resultados das inspeções pelo
método das correntes induzidas, para as várias sondas, bem como os resultados das
simulações numéricas realizadas. O capítulo termina com a apresentação e discussão
dos resultados dos ensaios de termografia.
Finalmente, no capítulo 6, são apresentadas as principais conclusões e as
sugestões para desenvolvimentos futuros.

3
Capítulo 1 - Introdução

4
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2. Revisão Bibliográfica
2.1 Introdução
Este capítulo tem como objetivo apresentar os conceitos teóricos e o estado-de-
arte relativo aos temas que serão discutidos e desenvolvidos na elaboração da presente
dissertação, sendo, para isso, dividido em duas partes.
Em primeiro lugar, abordam-se todos os tópicos considerados relevantes no
estudo dos instrumentos endodônticos, desde a sua caracterização física e dimensional,
até aos mais recentes estudos realizados acerca da sua resistência à fadiga cíclica.
Adicionalmente, é feita uma análise aos ensaios não destrutivos realizados pelos
métodos da termografia e correntes induzidas, apresentando-se os princípios teóricos
em que assentam, bem como os estudos científicos considerados mais relevantes para
o desenvolvimento do presente caso de estudo.

2.2 Endodontia
A endodontia é a especialidade da odontologia responsável pelo estudo e
tratamento do tecido mole localizado no interior do dente, a polpa. Em casos de lesões
ou patologias, de modo a prevenir a extração do dente, pode ser necessário removê-la
através de um procedimento designado de tratamento endodôntico. Neste
procedimento, depois de aberta uma cavidade de acesso à camada polpar no topo do
dente, são utilizados instrumentos endodônticos, genericamente designados por limas,
para extrair a polpa e alargar os canais radiculares, procurando sempre manter a forma
original do canal. Depois de limpos e desinfetados os canais radiculares são preenchidos
com um material inerte obturador. Na figura 2.1 apresenta-se uma representação
simplificada do procedimento descrito.

(a) (b) (c) (d)


Figura 2.1 – Etapas de um tratamento endodôntico: (a) Diagnóstico, (b) Extração da polpa e
preparação do sistema de canais radiculares, (c) Irrigação e obturação dos canais, (d) Aplicação de uma
coroa protetora artificial [74].

5
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.3 Instrumentos Endodônticos


Para o sucesso do tratamento endodôntico é indispensável uma perfeita
limpeza, modelagem e desinfeção do canal radicular de forma a que se obtenha um
formato cónico afunilado, semelhante ao seu formato original, viabilizando, dessa
forma, as condições para que o sistema de canais radiculares seja irrigado e obturado
hermeticamente [6]. Contudo, este processo pode revelar-se bastante desafiante já que
os canais para além de serem extremamente finos, apresentam geometrias altamente
variáveis podendo ter curvaturas bastantes acentuadas. Exige-se, deste modo, aos
instrumentos endodônticos que consigam superar estas dificuldades e, na medida do
possível, que se adaptem à morfologia do dente, de forma a que o procedimento se
consiga fazer de forma eficiente e sem complicações.
Ao longo dos anos têm-se verificado grandes avanços no campo da endodontia,
em grande medida graças às contínuas inovações tecnológicas na instrumentação
utilizada. A descoberta e o desenvolvimento de novos materiais em particular, tem
desempenhado um papel essencial na melhoria deste campo da medicina dentária.

2.3.1 Enquadramento Histórico

A História da instrumentação endodôntica começa em 1838 com a conceção da


primeira lima endodôntica, por Edwin Maynard, a partir do recorte da superfície da mola
de um relógio, permitindo, através da sua utilização manual, a remoção da polpa e de
detritos do interior dos dentes [2]. Nos anos posteriores foi-se refinando e
homogeneizando os designs e métodos de fabricação das limas, e no início do século XX
começaram a ser produzidas em série, pela empresa Kerr Manufacturing Co. Estas eram
fabricadas em aço carbono, através da torção da haste, e foram denominadas limas do
tipo K.
Contudo, cada fabricante tinha os seus próprios padrões de fabrico,
principalmente no que dizia respeito ao tamanho e geometria dos instrumentos, pelo
que em 1958, durante a Segunda Conferência Internacional de Endodontia, foi
apresentada uma proposta para a normalização dimensional da produção dos
instrumentos endodônticos [7]. Estes deveriam apresentar uma conicidade de 2% e um
comprimento fixo. Além disso, eram incluídas na proposta fórmulas com base no
sistema métrico para o aumento incremental do diâmetro de ponta de um instrumento
para o outro, bem como um código de cores que facilitaria a sua seleção [8]. Esta
proposta, depois de revista, foi aceite, e colocada em vigor em 1965.
Durante vários anos o design das limas endodônticas não sofreu grandes
alterações; no entanto, com o acumular de estudos e graças ao avanço tecnológico
foram introduzidas várias modificações nos projetos de fabrico. Para além da conicidade
inicial de 2%, apareceram no mercado instrumentos com conicidades até 12%, e,
adicionalmente, começaram a ser comercializados vários outros designs para além do
tradicional estilo K [8]. Outra importante alteração foi a substituição de ligas de aço
carbono por ligas de aço inoxidável na sua produção. O elevado teor de crómio que
estava presente nas ligas de aço inoxidável conferiam-lhe uma elevada resistência à
corrosão, característica esta que, tendo em conta o meio húmido onde os instrumentos

6
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

vão operar, não pode ser menosprezada. Além disso, as ligas de aço carbono, regra
geral, apresentam maior concentração de carbono, o que as torna mais frágeis quando
comparadas com as ligas de aço inoxidável.
Apesar de representarem uma melhoria significativa, os instrumentos fabricados
em aço inoxidável eram bastante rígidos e pouco flexíveis, podendo provocar
complicações durantes os tratamentos, tais como perfurações, desvios, transportes
apicais ou até mesmo fratura do material, principalmente quando era necessário
preparar canais radiculares com curvaturas acentuadas. Qualquer um destes
inconvenientes levava à alteração da morfologia original dos canais radiculares, o que
correspondia a uma violação de um dos princípios básicos do procedimento
endodôntico [9].
Para além da introdução de novos designs e métodos de utilização, o problema da
excessiva rigidez dos instrumentos conseguiu-se resolver com a substituição de ligas de
aço inoxidável por ligas de níquel–titânio (NiTi) na fabricação das limas endodônticas.
As propriedades destas ligas conferem aos instrumentos maior flexibilidade, permitindo
que se adaptarem mais facilmente à anatomia dos canais [10].

2.3.2 Ligas de Níquel – Titânio

As ligas de níquel –titânio foram inicialmente desenvolvidas por William J. Buehler,


um metalurgista estadunidense que, no início da década de 60, procurava novos
materiais metálicos que pudessem ser aplicados na indústria aeroespacial. Chamou a
esta nova liga de NITINOL, um acrónimo para os elementos que a compõem: Ni para
nickel, Ti para titanium e NOL para Naval Ordinance Laboratory, local onde os estudos
foram conduzidos [11].
Na sua composição equiatómica, o nitinol é constituído por aproximadamente
55% de níquel e 45% de titânio, em percentagem de peso atómico, sendo que esta liga
tem a particularidade de apresentar três estruturas cristalográficas distintas para o
estado sólido: a estrutura martensítica, monoclínica, ou B19’, estável a baixas
temperaturas e com baixa resistência à deformação; a estrutura austenítica, cúbica de
faces centradas (CFC), ou estrutura B2, estável a altas temperaturas e bastante
resistente à deformação, e uma terceira fase de estrutura ortorrômbica, intermédia
entre a martensítica e austenítica, denominada de fase-R [12]. O nitinol têm a
capacidade inerente de transitar de uma fase para outra, o que causa mudanças únicas
e significativas nas propriedades mecânicas da liga, sendo responsável por duas
importantes características: o efeito de memória de forma (EMF) e a superelasticidade
(SE) [12]. Este fenómeno de transformação da estrutura cristalina é um processo não
difusivo que pode ser induzido por variações de tensão e de temperatura.
O termo efeito de memória de forma refere-se à capacidade de um material,
depois de deformado, recuperar a sua forma original. Este efeito é caracterizado por
uma transformação martensítica termoelástica, reversível e acompanhada de histerese
[13]. Deste modo, no caso de se arrefecer um material em fase austenítica abaixo de
uma certa temperatura de transição TTR (transformation temperature range), ocorrerá
um rearranjo atómico no qual o material passa a ser constituído inteiramente de
martensite (figura 2.2).

7
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

Figura 2.2 - Representação esquemática da transformação martensitica e efeito da memória de forma [14].

Cristalograficamente, a transformação martensítica é um processo que ocorre por


deslocamento e acomodação dos planos atómicos. O resultado é uma reorganização
atómica estável a que se dá o nome de twinned martensite. Esta nova estrutura não
apresenta modificações macroscópicas visíveis; no entanto as propriedades mecânicas
são alteradas com a modificação da estrutura cristalina. A martensite resultante é mais
dúctil, razão pela qual consegue ser facilmente deformada por aplicação de uma força
externa, num processo designado de detwinning. Esta estrutura martensítica
(detwinned martensite) consegue sofrer elevada deformação sem fratura [14].
Por fim, ao se aquecer o material acima de uma temperatura RTTR (reverse
transformation temperature range), promove-se uma transformação inversa,
martensite em austenite, levando a que o material readquira a sua forma original. Todas
estas transformações são completamente reversíveis e são acompanhadas por um
efeito de histerese. Este efeito está representado na figura 2.3. As temperaturas nas
quais se inicia e finaliza a transformação da fase austenítica para a martensítica são
referidas como 𝑀𝑠 (Martensite start) e 𝑀𝑓 (Martensite finish) respetivamente, e 𝐴𝑠
(Austenite start) e 𝐴𝑓 (Austenite finish) para as temperaturas de início e fim do processo
inverso.

Figura 2.3 - Transformação de fase induzida por variação de temperatura de uma liga de NiTi
convencional [75].

8
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

A transformação martensítica também pode ser induzida pela aplicação de uma


tensão. Na maioria dos metais quando uma carga externa ultrapassa um certo valor
ocorre um deslizamento de planos, o que implica uma deformação plástica permanente.
No entanto, nas ligas de NiTi este deslizamento é substituído por uma transformação da
estrutura cristalina austenítica em martensítica, a temperaturas mais altas que a
temperatura de transição [15]. Em proporção equiatómica, o nitinol consegue recuperar
até 8% da deformação que lhe é aplicada sem a necessidade de ser aquecido [16]. Esta
deformação é recuperável porque, ao se retirar a tensão aplicada, a martensite torna-
se instável a altas temperaturas obrigando a uma reversão para o estado austenítico
original. É graças a este fenómeno que as ligas com efeito de memória de forma também
se dizem superelásticas.
Para além destas características invulgares, as ligas de NiTi também são bastantes
resistentes à corrosão e biocompatíveis, não apresentando qualquer nível de toxicidade
para o organismo humano. Todos estes motivos levam a que, desde a sua descoberta,
tenham vindo a ser aplicadas nas mais variadas áreas da biomedicina, como é o caso da
odontologia. Na tabela 2.1 apresentam-se diversas propriedades físicas das ligas de NiTi.

Tabela 2.1 - Propriedade físicas e mecânicas da liga NiTi [17].

Valor
Propriedades Símbolo Unidades
Martensite Austenite
Ponto de fusão - °C 1250
3
Massa volúmica 𝜌𝐷 g/cm 6.5
Resistividade elétrica 𝜌𝑅 μΩ. cm 76 - 80 82 - 100
Suscetibilidade magnética 𝜒 μemu. g 2.5 3.8
Capacidade calorífica c J/kg.K 400 400
Condutividade térmica k W/m. K 8.6 - 10 18
−1 −6
11 × 10−6
Coeficiente de expansão térmica 𝛼 m/m.K 6.6 × 10
Tensão de rotura 𝜎𝑈𝑇𝑆 MPa 895 895
Tensão de cedência 𝜎𝑦 MPa 70 - 140 195 - 690
Módulo de Young E GPa 28 - 41 70 - 83
Coeficiente de Poisson 𝜈 - 0.33
Deformação recuperável - % ≈ 8.5
Histerese - °C 15 a 25
Resistência à corrosão - - Excelente
Biocompatibilidade - - Excelente

9
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.3.3 Instrumentos de Níquel – Titânio

O primeiro estudo que atestou as potenciais vantagens da utilização de ligas de


NiTi na instrumentação endodôntica foi apresentado em 1988 por Walia et al [9]. Nele,
constatou-se que as limas de nitinol possuíam duas a três vezes maior flexibilidade
elástica à flexão e maior resistência à fratura por torção quando comparadas com as
limas de aço inoxidável de iguais dimensões [9]. Poucos anos depois da publicação deste
estudo, os instrumentos de nitinol começaram a ser comercializados, e desde então,
tem-se vindo a verificar um aumento generalizado na utilização deste tipo de ligas na
indústria. De acordo com um representante da indústria dos EUA, em 1996 menos de 1
milhão de instrumentos mecanizados de NiTi foram vendidos no país. Passados 10 anos,
em 2006, as vendas de limas de NiTi chegaram aos 13,4 milhões [11].
A instrumentação endodôntica geralmente apresenta uma percentagem de
titânio a rondar 55%, motivo pelo qual são algumas vezes referidos como 55-Nitinol; no
entanto, atualmente é possível encontrar instrumentos com percentagens mais baixas.
Como foi referido, a grande vantagem destes instrumentos em relação aos de aço
inoxidável é sua elevada flexibilidade. De facto, diversos estudos comprovaram que a
superelasticidade das ligas de NiTi permite que os instrumentos recuperem de uma
deformação de até 8%, enquanto que os instrumentos de aço inoxidável apenas
permitem uma recuperação de 1% (figura 2.4) [15], motivo que torna este tipo de
instrumentos ideal para atuar em canais radiculares com curvaturas acentuadas.

Figura 2.4 - Curva tensão/extensão: aço inoxidável e níquel-titânio superelástico [15].

A grande vantagem dos instrumentos de NiTi está na restruturação


cristalográfica de que este material é capaz. Durante um procedimento endodôntico
caso a deformação sofrida pelo instrumento, devido à anatomia do canal radicular, leve
a um aumento excessivo da tensão aplicada no material, irá desencadear-se uma
transformação martensítica, ativando assim o seu efeito de superelasticidade. Na figura
2.5 representa-se este efeito. A tensão começa por produzir uma deformação elástica
na estrutura austenítica do material. Caso esta tensão seja suficientemente elevada,
origina-se a transformação de fase, onde a energia de deformação é absorvida na
nucleação e crescimento da martensite, pelo que a tensão permanecerá constante até

10
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

que toda a estrutura do material transite de fase. A partir deste ponto um aumento de
tensão resulta na deformação elástica clássica da martensite. Nesta fase, toda a
deformação introduzida no instrumento é recuperável mediante a retirada dos
carregamentos aplicados. No entanto, se a anatomia do canal continuar a introduzir
tensões na lima irão ocorrer planos de escorregamento na martensite, gerando
deformações permanentes e eventual rotura [18].
Deste modo, para se tirar partido ao máximo da superelasticidade da liga são
necessárias tensões limitadas. Isso é conseguido utilizando uma velocidade de rotação
constante e moderada, e aplicando uma ligeira pressão no instrumento. Isto faz com
que ele opere na região horizontal da curva tensão/extensão, onde a transformação
martensítica não está completa, não se verificando deformação plástica e permitindo-
lhe uma maior versatilidade estrutural [10].

Figura 2.5 - Trasnformação martensítica induzida por tensão [10].

As propriedades mecânicas das ligas de NiTi, associadas a um design apropriado


das lâminas de corte, também veio possibilitar a utilização de motores para acionar um
movimento rotativo contínuo das limas. Estes instrumentos rotativos trouxeram
algumas vantagens, como a redução da duração do procedimento, o que por sua vez
aumenta o grau de conforto do paciente, uma maior homogeneidade na preparação do
canal, e uma maior segurança e facilidade de utilização [19].
No entanto, na preparação de canais radiculares retos, instrumentos manuais de
aço inoxidável são muitas vezes preferidos pelos profissionais da área, uma vez que
apresentam maior eficiência de corte, permitem um maior controlo da operação, e são
mais baratos [20].

11
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.3.4 Caracterização Dimensional dos Instrumentos Endodônticos

Atualmente, os instrumentos endodônticos apresentam muitas configurações,


mas estão agrupados, convencionalmente, de acordo com as normas ISO (International
Organization for Standardization) e ANSI (American National Standards Institute). Estas
normas impõem que todas as limas tenham uma superfície de corte com um
comprimento de 16 mm (comprimento ativo). No que toca ao comprimento total do
instrumento (comprimento nominal), o mais usual é utilizarem-se limas com 25 mm; no
entanto, este valor pode variar. Outras dimensões comuns são 21, 28 e 31 mm [10].
É necessário que todos os instrumentos apresentem um certo valor de conicidade,
isto é, o comprimento da ponta (D1) deve ser inferior ao comprimento da parte final da
superfície de corte (D16). Este valor pode ser igual a 2%, 4%, 6%, 8% ou 12%. Assim, para
uma conicidade de 2%, por cada milímetro do eixo, o diâmetro aumenta 0,02 mm; deste
modo na parte final da superfície de corte (D16) o diâmetro é 0,32 mm mais largo que
a ponta (D1) (figura 2.6). Além disso, as limas devem ter incrementos do diâmetro da
ponta, D1, pré-estabelecidos, começando em 0,06 mm e aumentando até 1,40 mm,
sendo que a cada incremento dimensional deve corresponder uma cor identificativa no
cabo [6].

Figura 2.6 - Instrumento endodôntico normalizado segundo a norma ISO [10].

Os instrumentos são assim identificados dimensionalmente pelo valor da sua


conicidade, em percentagem, e pelo seu diâmetro de ponta (D1), em centésimas de
milímetro. Tem-se, portanto, que para uma lima do tipo 80/.02 corresponde uma
conicidade de 2% e um diâmetro de ponta igual a 0,8 mm. Cabe ao endodontista a
escolha do instrumento adequado para cada situação, dependo esta da morfologia do
dente a ser tratado.

12
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.3.5 Fratura de Instrumentos Endodônticos

É inegável que a introdução dos instrumentos de NiTi constituiu um grande


avanço na qualidade dos procedimentos endodônticos prestados. No entanto, apesar
de todas as suas vantagens, a possibilidade de fratura durante o tratamento continua a
ser uma realidade, e, dado que as limas podem não apresentar sinais visíveis de
deformação plástica, a sua ocorrência pode ser inesperada. Adicionalmente, existem
inúmeros fatores que podem contribuir para a fratura dos instrumentos, mas as causas
mais comuns estão relacionadas com o seu uso incorreto ou excessivo.
Muitos estudos têm sido feitos sobre esta matéria, e todos eles são unânimes
em apontar a torção e a fadiga cíclica do material como os principais causadores de
fratura nas limas de NiTi. A fratura por torção ocorre quando o movimento rotacional
de uma das secções do instrumento, geralmente a ponta, é bloqueado pela parede do
canal enquanto que o seu eixo continua em rotação. Nesta situação, o limite elástico do
material é ultrapassado e o material começa a deformar plasticamente. O instrumento
irá partir se o carregamento for suficientemente elevado [19].
A fratura por fadiga cíclica ocorre quando os instrumentos, em rotação, são
sujeitos a ciclos alternados de tensão/ compressão quando fletidos na região de máxima
curvatura do canal [20]. Nesta situação, microfissuras começam por aparecer no ponto
de máxima tensão induzida, numa zona de concentração de tensões, geralmente em
locais com presença de defeitos superficiais/embebidos ou de entalhes. Com os
repetidos ciclos de carregamento, a fissura começa a crescer e a propagar-se até originar
uma falha catastrófica que leva à inevitável fratura do instrumento [21].
Várias investigações foram conduzidas com o intuito de averiguar qual a causa
mais comum de fratura; contudo, foram obtidos resultados contraditórios. Num estudo
realizado por Cheun et al. [22], foram analisados 27 instrumentos de NiTi da série
ProTaper S1, fraturados depois de utilização clínica. Após análise fratográfica de todos
eles, concluiu-se que apenas dois (7,4%) quebraram por torção enquanto que os
restantes 25 (92,6%) quebraram por flexão rotativa. Proporções semelhantes foram
obtidas por Parashos et al [23]. Já B. Sattappan et al [19] atribui 55,7% das fraturas de
limas de Ni-Ti, da série Quantec 2000, à fratura por torção e 44,3% à fratura por fadiga
cíclica por flexão.
Esta divergência de resultados não tem uma explicação única. É possível que o
modo de fratura esteja relacionado com a marca do instrumento, já que existem
variações nos tipos de secção transversal e nas composições químicas das ligas de
diferentes marcas; além disso, os processos de fabrico e os tipos de tratamentos
térmicos dados também variam com o fabricante. Outro fator a ter em conta é o modo
como os equipamentos são utilizados. De uma maneira geral, a fratura por torção está
associada à aplicação de pressão excessiva na lima por parte do operador, enquanto que
pouca pressão pode induzir maiores ciclos de tensão/compressão no material
acelerando o processo de fadiga. O tipo de fratura também está associado com as
dimensões do instrumento. Com o aumento do diâmetro de ponta e a conicidade a falha
por torção tende a ser menos comum enquanto que se verifica o contrário para a falha
por flexão. Os ciclos de esterilização e de utilização também são fatores a ter em conta.

13
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.3.6 Esterilização

Por motivos económicos, os instrumentos endodônticos são geralmente


reutilizados apesar do seu curto tempo de vida, pelo que é necessário esterilizá-los no
final de cada tratamento de modo a que não ocorram propagações de doenças
infeciosas entre pacientes. Este processo de esterilização é efetuado recorrendo a um
aparelho denominado autoclave. Existem várias formas de esterilização por autoclave,
mas nos mais usuais os instrumentos são sujeitos a vapor húmido a elevadas
temperaturas, entre 120°C e 135°C, durante cerca de 15 a 30 minutos.
Para compreender o efeito da esterilização por autoclave na resistência à fadiga
cíclica da instrumentação de Ni-Ti têm sido efetuados várias investigações, algumas com
resultados contraditórios. Num estudo feito por Abu-Melha [24] observou-se uma
redução de cerca de 25% do número de ciclos necessários à fratura após a realização de
3 ciclos de esterilização por autoclave (121°C, 15psi durante 15 minutos). Já Viana et al.
[25] verificou o contrário, depois de cinco ciclos a resistência à fadiga sofreu um
aumento significativo. Hilfer et al [26] mostrou que os processos de esterilização não
afetaram significativamente 3 dos 4 grupos de instrumentos testados (GTX 20/.04, GTX
20/.06 e Twisted File 25/.04) mas o mesmo não se verificou para o último grupo (Twisted
File 25/.06), onde se verificou uma redução da resistência à fadiga, sendo importante
salientar que os instrumentos da série Twisted File sofreram tratamentos térmicos.
Plotino et al [27] obteve resultados diferentes, os instrumentos K3, Mtwo e Vortex,
fabricados da mesma composição de Ni-Ti (M-wire) não sofreram alterações
significativas nas suas propriedades mecânicas depois de 10 ciclos de esterilização por
autoclave, contudo, para os instrumentos tratados termicamente K3 FX, a vida à fadiga
cíclica foi aumentada de 651±149 para 762±199 milhares de ciclos.
Nas limas endodônticas HyFlex CM e EDM, a esterilização por autoclave é,
inclusivamente, recomendada pelos fabricantes, uma vez que, com a utilização
prolongada deste tipo de instrumentos, é possível que as suas espiras desdobrem,
processo este que é reversível com a sua esterilização, desde que esse desdobramento
não aconteça em direções opostas. Na figura 2.7 apresenta-se uma fotografia da
imagem que acompanha o folheto informativo das limas HyFlex CM, ilustrativa desta
recomendação

Figura 2.7 – Ilustração do efeito regenerador da esterilização


por autoclave no rearranjo das espiras da lima HyFlex CM.

14
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.3.7 Diferentes Tipos de Instrumentos Endodônticos de Ni-Ti

Geralmente as ligas de nitinol convencionais apresentam uma estrutura


austenítica à temperatura corporal, exibindo assim uma curva tensão/extensão
semelhante à da figura 2.5. É por essa razão que os instrumentos fabricados a partir
deste tipo de ligas se dizem superelásticos (SE). No entanto, têm sido utilizados diversos
métodos para se melhorarem as propriedades mecânicas dos instrumentos. Um desses
métodos consiste em aplicar tratamentos térmicos às ligas, no sentido de alterarem as
temperaturas de transição, 𝐴𝑠 , 𝐴𝑓 , 𝑀𝑠 , 𝑀𝑓 , 𝑅𝑠 e 𝑅𝑓 [28]. O objetivo é obterem-se
arames de nitinol (posteriormente maquinados em limas) onde a temperatura de
transição 𝐴𝑓 é mais elevada do que nos arames convencionais, de maneira a que à
temperatura corporal existam diferentes percentagens de martensite, austenite e fase-
R, oferecendo aos instrumentos maior resistência à fratura, quer por fadiga cíclica quer
por torção [18]. Dependendo do tipo de tratamento térmico aplicado aos arames, antes
ou depois da sua manufatura, conseguiram-se obter três tipos de arames: M, R e CM.
Nos arames M, ou M-Wire, são utilizados tratamentos térmicos que visam a
estabilização da estrutura cristalina na sua fase martensítica, mais flexível, a
temperaturas corporais [18]. Já os arames fase-R, ou R-Phase, são obtidos pelo
aquecimento e arrefecimento de um arame de nitinol convencional na sua fase
austenítica, de forma a transformá-la na fase-R. Esta estrutura atómica apresenta menor
módulo de rigidez, pelo que é possível torcê-la o suficiente para se obterem espirais de
corte. Uma vez obtido o formato desejado, voltam a ser aplicados tratamentos térmicos
para que esta nova forma se mantenha no seu estado austenítico original, que resulta
da retirada das tensões de torção. Adicionalmente a torção e os ciclos térmicos
aplicados eliminam grande parte dos defeitos superficiais aplicados durante a produção
da liga, dificultando a iniciação e propagação de fissura e aumentado assim a sua
resistência à fadiga cíclica [29]. Os arames CM, ou CM Wire, têm geralmente um menor
conteúdo de níquel (52% em peso atómico) e são submetidos a processos
termomecânicos especiais com objetivo de retirar o efeito de controlo de memória e
aumentar a temperatura 𝐴𝑓 para, aproximadamente, 50°C, de modo a estabilizar a
martensite à temperatura corporal, o que permite manter a sua enorme flexibilidade.
Clinicamente, este processo permite que os instrumentos sejam dobrados, a
temperaturas ambientes, antes de serem introduzidos nos canais, superando assim uma
grande limitação dos instrumentos de Ni-Ti convencionais, que não são capazes de ser
previamente formatados para se adaptarem às mudanças de direção dos canais [18].
Num estudo realizado por Shen et al [30] procurou-se identificar as temperaturas
de transição de diversos instrumentos endodônticos, recorrendo-se ao método de
varrimento diferencial de calorimetria (DSC). Foram analisados os instrumentos ProFile
(PF) e Typhoon (TYP), ambos produzidos a partir de ligas de nitinol convencionais,
ProFile Vortex (Vortex), Twisted Files (TF) e Typhoon™ CM (TYP CM), fabricados a partir
de arames M, R e CM, respetivamente. Obtiveram-se os seguintes resultados:

15
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

Tabela 2.2 – Temperaturas de transformação e respetivas energias associadas, obtidas das


curvas DSC para os diferentes instrumentos [Adaptado de 30].
Arrefecimento Aquecimento
𝑀𝑠 (°𝐶) 𝑀𝑓 (°𝐶) ∆𝐻 (𝐽⁄𝑔) 𝐴𝑠 (°𝐶) 𝐴𝑓 (°𝐶) ∆𝐻 (𝐽⁄𝑔)
PF 16.92 -5.86 -3.4 -17.52 16.98 4.3
TYP 16.2 -12.32 -12.32 -21.79 16.22 3.9
Vortex 50.75 17.03 -5.6 -7.76 50.4 5.7
TF 15.22 9.54 -3.4 -8.06 17.62 10.7
TYP CM 26.27 -27.26 -21.2 24.44 55.09 19.9

Verifica-se, tal como esperado, que às temperaturas bocais os instrumentos


fabricados a partir dos arames M e CM (Vortex e TYP CM) apresentam uma estrutura
cristalina martensítica, que se sabe ser bastante mais flexível que a austenítica, uma vez
que, como anteriormente referido, a sua estrutura twinned consegue absorver elevados
graus de deformação no regime elástico. Todos os restantes instrumentos apresentam
uma temperatura 𝐴𝑓 muito inferior, indicando que a temperaturas corporais
apresentam uma composição austenítica, e, portanto, um comportamento
superelástico.
Recentemente A. M. Elnaghy [31] avaliou a resistência à fadiga cíclica de um
conjunto de instrumentos fabricados de diferentes tipos de ligas, todos com as mesmas
dimensões, nomeadamente o ProTaper Next (M-Wire), o Twisted File (R-Phase), o
HyFlex CM (CM Wire) e finalmente o ProTaper (NiTi convencional). Na tabela 2.3
apresentam-se os valores do número de ciclos médio até à fratura que se obtiveram.
Constata-se que, de facto, os tratamentos termomecânicos aplicados aos arames
conferem uma maior resistência aos instrumentos, já que o ProTaper foi o que
demostrou ser menos resistente à fadiga. Dentro dos restantes instrumentos, verifica-
se que os Twisted Files, foram aqueles que apresentaram maior NCF, com alguma
distância, o que, segundo o autor, pode ser atribuído ao facto de, durante o processo de
manufatura, se eliminarem grande parte dos defeitos superficiais, o que resulta numa
diminuição da velocidade de iniciação e propagação de fissuras.

Tabela 2.3 – Valor médio do número de ciclos até à fratura (NCF) (adaptado de [31]].
ProTaper Next Twisted File HyFlex CM ProTaper
Valor médio
495.25 ± 46.43 834.58 ± 112.95 466.08 ± 42.99 405.75 ± 59.89
NCF ± DP

As inovações no campo da instrumentação endodôntica não se ficaram pela


introdução de novas técnicas de tratamentos térmicos e superficiais, também se
procuraram novos processos de fabricação que aprimorassem as suas propriedades
mecânicas. Nesta dissertação serão estudadas as limas HyFlex EDM (Coltene, Suiça), que
são fabricadas a partir do método de eletroerosão, do inglês eletric discharge machining
(EDM). Neste processo procede-se à remoção de material através de sucessivas
descargas elétricas entre um elétrodo (ânodo) e o arame de nitinol a ser maquinado
(cátodo), ambos submersos numa solução dielétrica. Quando o elétrodo é percorrido
por uma corrente contínua forma-se uma corrente elétrica entre o ânodo e o cátodo, e,

16
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

caso a diferença de potencial seja suficientemente elevada, irão originar-se faíscas entre
os dois que derretem e evaporam porções da superfície do material [32]. O resultado é
uma superfície endurecida, caracterizada pela presença de picadas bastante irregulares,
tal como ilustrado na figura 2.8. Esta imagem foi obtida de uma análise microscópica da
superfície de uma lima HyFlex EDM, e foi retirada de um estudo realizado por C. Pirani
et al. [33], onde também se analisou a superfície de uma lima HyFlex CM, apresentada
na figura 2.9. Nesta lima é possível observar uma superfície bastante mais uniforme,
marcada pela presença de rugosidade resultante do processo de maquinação. Segundo
Pedulla et al. [34] os instrumentos fabricados a partir da tecnologia EDM apresentam o
dobro da resistência à fadiga de limas fabricadas a partir da tecnologia M – Wire.

Figura 2.8 – (a) Acabamento superficial da lima HyFlex EDM tamanho 25/.08. (b) Detalhe da sua
superfÍcie com maior amplificação (5000X) [33].

Figura 2.9 - (a) Acabamento superficial da lima HyFlex CM tamanho 25/.04. (b) Detalhe da sua
superfície com maior amplificação (600X) [33].

17
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.4 Fadiga Mecânica


A fadiga é o enfraquecimento progressivo do material causado pela aplicação de
ciclos repetidos de tensões muito inferiores à tensão de cedência para qual o material
está dimensionado. Este enfraquecimento é causado pelo aparecimento e propagação
de uma ou mais fissuras até um tamanho crítico, a partir do qual o carregamento
adicional do material causa a sua rotura. É estimado que a fadiga mecânica contribua
para aproximadamente 90% de todas as falhas dos mecanismos em serviço.
O processo de rotura por fadiga pode ser dividido em três fases: iniciação da
fissura, que geralmente ocorre em locais de concentrações de tensão gerados por
imperfeições microscópias existentes no material; propagação da fissura, cuja
velocidade depende do tipo e módulo do carregamento aplicado, do material, da tensão
média, das condições ambientais, entre outras; e rotura catastrófica do material, que
acontece quando o material deixa de conseguir suportar a tensão que lhe é induzida.
Deste modo, o fenómeno de fadiga só ocorre se o carregamento aplicado variar no
tempo.
A American Society for Testing and Materials (ASTM) define a vida à fadiga, 𝑁𝐶𝐹,
como o número de ciclos de tensão, de um determinado tipo, que um material consegue
aguentar antes de fraturar. Este valor pode ser obtido somando o número de ciclos até
se iniciar a fratura, 𝑁𝑖 , e o número de ciclos de propagação, 𝑁𝑝 .

𝑁𝐶𝐹 = 𝑁𝑖 + 𝑁𝑝 (2.1)

No caso dos instrumentos endodônticos, a vida à fadiga é quantificada através da


multiplicação da velocidade de rotação, 𝜔 [rpm], pelo intervalo de tempo entre o início
do ensaio e a sua fratura, ∆𝑡 [min].

2.4.1 Ensaios à fadiga de instrumentos endodônticos de NiTi

Como referido no subcapítulo 2.2.6, uma das principais causas de fratura dos
instrumentos endodônticos é o fenómeno de fadiga por flexão rotativa, causada pela
sua utilização em canais radiculares curvos. O movimento rotativo dos instrumentos
associado à sua flexão faz com que as tensões aplicadas no material variem bastante,
pelo que, existe sempre o risco de fratura se não forem tomadas as devidas precauções.
No entanto, uma vez que a anatomia dos canais não é controlável, é necessário que
sejam os instrumentos a adaptarem-se a ela. É, por isso, necessário compreender ao
máximo o fenómeno de fadiga e sua relação com os tratamentos endodônticos e com
os instrumentos utilizados. Nesse sentido têm sido feitos inúmeros estudos, alguns deles
serão explorados neste capítulo.

18
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.4.1.1 1.º Caso de estudo

Num estudo realizado por R. F. Martins et al. [35], foi avaliada a resistência à fadiga
de limas endodônticas sujeitas a curvaturas planares e não-planares induzidas pelos
canais radiculares. Para o efeito, 64 limas HyFlex CM™ com quatro tamanhos diferentes:
0.04/20, 0.06/20, 0.04/35 e 0.06/35 foram sujeitas a testes de flexão rotativa a duas
velocidades diferentes: 250 rpm e 500 rpm.
Nos testes de fadiga para canais com curvatura planar foi usada a montagem
experimental da apresentada na figura 2.10, projetada para simular a anatomia de um
canal radicular com curvatura severa, com raio constante, e planar, igual a 4,7 mm,
aplicado ao longo de um ângulo de 45°. A distância entre a ponta de cada instrumento
e o ponto médio do arco de curvatura era, aproximadamente, 3 mm.

Figura 2.10 – Montagem exprerimental utilizada nos testes de fadiga rotativa planar [35].

Para cada velocidade de rotação foi calculado o número de ciclos total até à
fratura (NCF), multiplicando-se o tempo até essa fratura pela velocidade de rotação
imposta. Além disso, para cada tipo de instrumento e velocidade de rotação foram
testados oito instrumentos, num total de 64 testes. O tempo médio até à fratura e
correspondente número médio de ciclos obtidos são apresentados na tabela 2.4.

Tabela 2.4 – Valores do NCF médio registados nos testes de resistência à fadiga de 64 limas
endodônticas quando sujeitas a flexão rotativa sob curvatura planar (adaptado de [35]).
Instrumento Velocidade de Tempo médio Desvio Padrão NCF médio (DP)
rotação (rpm) até fratura (s) DP (s) (1 ciclo = 1 rotação)
20/.04 500 184.88 73.88 1,540.63 (± 615.7)
250 793.00 152.42 3,304.17 (± 635.1)
20/.06 500 381.75 77.44 3,181.25 (± 645.3)
250 1004.25 167.71 4,184.38 (± 698.8)
35/.04 500 89.63 10.07 746.88 (± 83.9)
250 248.13 37.09 1033.85 (± 154.5)
35/.06 500 102.75 8.43 856.25 (± 70.3)
250 236.13 39.68 938.85 (± 165.3)

19
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

Verifica-se que todos os instrumentos testados a 250 rpm revelaram sempre


valores mais elevados de NCF do que os testados a 500 rpm. Os autores concluíram que
esta tendência estará relacionada com a dissipação de energia de deformação elástica,
em cada ciclo de compressão/descompressão (histerese), e também devido ao atrito
verificado entre o instrumento e as paredes do canal in vitro, sendo que o efeito é
agravado com o aumento dos ciclos de carga aplicada. Deste modo, é previsível que a
temperatura da lima endodôntica aumente durante a flexão, o que, associado ao atrito
desenvolvido entre a lima endodôntica e o canal, contribuirá para diminuir o NCF. Dos
dados obtidos também se verifica que os instrumentos com menores diâmetros de
ponta apresentaram sempre maior NCF, independentemente da conicidade e
velocidade de rotação aplicada.
Estes resultados indicam que a resistência à fadiga aumenta com a redução do
diâmetro de ponta e com a redução da velocidade de rotação.
Depois de realizados os testes de flexão rotativa, os autores procuraram
compreender os processos de fratura nas limas; para isso analisaram as superfícies
fraturadas dos diferentes instrumentos testados. Observou-se que todos os
instrumentos fraturaram devido à propagação de fissuras de fadiga, e, na fase final,
devido à plastificação do material nas áreas não fissuradas, a qual não foi capaz de
suportar as tensões induzidas. Além disso, verificou-se que as fissuras nuclearam e
propagaram-se sempre a partir de riscos de maquinagem introduzidos durante a
fabricação dos instrumentos e ao longo de uma direção perpendicular ao eixo
longitudinal da lima (modo I), revelando a importância dos bons acabamentos
superficiais no aumento da sua resistência à fadiga. Conjuntamente, constatou-se que a
fratura ocorreu quase sempre na mesma região para todas as limas, numa faixa de
distância compreendida entre 2 e 2,5 mm medidos a partir da sua ponta.
Contudo, é frequente os canais radiculares apresentarem curvaturas não-
planares, muitas vezes severas, resultando na diminuição drástica do tempo médio até
à fratura dos instrumentos. Deste modo, para estudar o efeito de curvaturas não
planares na resistência à fadiga em canais com curvaturas não planares foi reproduzido
um primeiro molar inferior em aço inoxidável (AISI 316 L) através do processo de fusão
seletiva a laser. De todos os dentes, o primeiro molar inferior é o que é mais
habitualmente é submetido a tratamentos endodônticos, podendo apresentar
curvaturas severas e não planares. Nesta simulação, ilustrada na figura 2.11 (b), o canal
foi projetado para apresentar uma curvatura primária no plano frontal, com 8 mm de
raio, e uma curvatura dupla no plano lateral composta por uma curvatura secundária na
parte superior, com raio igual a 11 mm, e uma curvatura terciaria na parte apical
(inferior) do canal com 2,8 mm. Nesta simulação foram testadas 11 limas HyFlex CM ref.
0.04/20, a uma velocidade de rotação constante e igual a 500 rpm.

20
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

(a) (b)
Figura 2.11 – (a) Montagem experimental utilizada nos testes de fadiga rotativa não planar;
(b) Raios de curvatura não planares aplicados na simulação do primeiro molar inferior [35].

Para além da flexão rotativa presente em todos os testes, alguns dos instrumentos
endodônticos a operar no canal do primeiro molar inferior foram sujeitos a movimentos
axiais ao longo de uma distância de 3 mm, a uma velocidade de 3 mm/s, de modo a
replicar o movimento relativo entre o dente e o instrumento endodôntico, como é
frequente acontecer durante os procedimentos endodônticos. Este movimento foi
conseguido através do acoplamento do dente a um guia linear Drylin® conectado a um
motor de passo, tal como é possível observar na figura 2.11 (a). O sistema mecânico foi
assim projetado para permitir ao instrumento descrever movimentos axial e rotacional
independentes um do outro.
Deste modo, os 11 instrumentos HyFlex CM ref. 0.04/20 foram divididos em 2
grupos. Um grupo A, onde duas limas foram submetidas a exclusivamente movimento
rotacional, e um grupo B, onde os restantes instrumentos foram sujeitos a movimento
rotacional e axial. Na tabela 2.5 apresentam-se os resultados experimentais obtidos.

Tabela 2.5 - Valores do NCF registados nos testes de resistência à fadiga de 64 limas
endodônticas quando sujeitas a flexão rotativa sob curvatura multiplanar (adaptado de [35]).
Grupo Região onde se Tempo médio até NCF médio ± DP Comprimento médio da ponta
verificou a fratura fratura ± DP (s) (ciclos) da lima fraturada ± DP (mm)
A Apical 119 ± 12 991.6 ± 100 4.90 ± 0.6
B Apical 194.1 ± 53.9 1617.5 ± 449 4.13 ± 0.33

Como pode ser observado, os instrumentos que foram submetidos


exclusivamente a movimento rotacional (grupo A) apresentaram menor tempo médio
até à fratura (119 s) e um maior comprimento médio da ponta da lima fraturada
(4,90mm), comparativamente aos instrumentos do grupo B (194,1 s e 4,13mm
respetivamente). Estes resultados indicam que existe benefício em aplicar movimento
axial, a velocidade constante, durante os procedimentos endodônticos, já que, segundo
os autores, este movimento faz com que as tensões sejam distribuídas por uma maior
área, resultando num aumento da resistência à fadiga.

21
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

Em todos os instrumentos, de ambos os grupos, a fratura aconteceu na curvatura


secundária do canal e não na terciária, de menor raio, como seria expectável, indicando
que é na secundária que existe maior acumulação de tensões. Adicionalmente, foram
estimadas as tensões introduzidas nos instrumentos através do método dos elementos
finitos não linear, que corroboraram os dados obtidos experimentalmente. Obteve-se
que os valores de tensão são máximos na região secundária da zona apical do dente,
com 212 MPa, aos quais correspondiam valores de extensão aproximadamente 0.030
mm/mm.
Comparando os resultados obtidos para a resistência à fadiga da lima HyFlex CM
ref. 0.04/20 a curvaturas planares e não planares de canais radiculares in vitro, quando
sujeita a 500 rpm, é possível constatar que existe uma redução de 35.6% (de 184.88 para
119 segundos, respetivamente) no tempo médio até à fratura quando o canal simulado
passa de planar para não-planar. Não obstante, o tempo mínimo até à fratura registado
foi quase igual para as duas simulações (111 e 107 segundos), para as dimensões de
limas ensaiadas, pelo que, os autores recomendam que este deve ser o tempo utilizado
como referência para os tratamentos endodônticos, de modo a evitar a fratura da lima
– Hyflex CM 20/.04 - dentro do canal do dente com curvatura severa. Recomendam
também que se utilizem movimentos axiais, para trás e para frente, nos procedimentos,
já que se verificou um aumento da vida à fadiga em 63% nos valores do tempo médio à
fratura (de 119 para 194.1 segundos).

2.4.1.2 2.º Caso de estudo

Num outro estudo realizado por F. Pereira et al. [36], procurou-se caracterizar a
resistência à fadiga cíclica do sistema ProTaper Gold e compará-la com a resistência à
fadiga do sistema ProTaper Universal.
O ProTaper Universal (PTU) é um sistema de instrumentos rotativos de NiTi,
amplamente utilizado na indústria endodôntica, que apresenta um design de conicidade
progressiva ao longo do comprimento das lâminas de corte, uma secção transversal
triangular convexa e pontas não cortantes [37]. Já o ProTaper Gold (PTG) é um sistema
mais recente, em tudo igual ao seu antecessor, expeto no processo de fabrico. Na
manufatura destes instrumentos são utilizados tratamentos termomecânicos que
otimizam a microestrutura da liga Ni-Ti, produzindo a liga designada de M-Wire. Tal
como referido no capítulo 2.2.8, os instrumentos fabricados a partir desta liga
apresentam uma maior flexibilidade e resistência ao desgaste quando comparados com
instrumentos similares produzidos a partir da tradicional liga de nitinol superelástica,
propriedades que são conferidas pela sua estrutura martensítica estável a temperaturas
corporais.
Deste modo, neste estudo procurou-se perceber se, de facto, a resistência à
fadiga do sistema PTG é superior à do sistema PTU. Para o efeito foi utilizada a mesma
montagem experimental utilizada no estudo de Martins et al. [35], onde havia sido
concebido um sistema mecânico projetado para recriar um canal radicular com uma
curvatura com raio igual a 4,7 mm e um ângulo igual a 45° (figura 2.12).

22
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

Nesta simulação foram testadas 48 limas de dois tamanhos, F2 e F3, à


temperatura ambiente (≈20°C), divididas em quatro grupos de 12 (PTG F2= 12), (PTG
F3= 12), (PTU F2= 12), (PTU F3= 12). Todos os instrumentos foram testados a uma
velocidade de rotacional de 300 rpm e a um binário igual 4 N.cm, como recomendado
pelos fabricantes. Foi registado o tempo até ocorrer fratura de todos os instrumentos e,
de seguida, calculou-se o número de ciclos até à fratura (NCF)

Figura 2.12 - Montagem experimental utilizada nos testes de fadiga cíclica [36].

Obtiveram-se os seguintes resultados:

Tabela 2.6 – Valores médios do NCF registados para os diferentes grupos de instrumentos
[Adaptado de 36].
Grupo Tipo de lima Valor médio de NCF ± DP
1 PTG F2 549.1 ± 115.1
2 PTU F2 283.5 ± 33.9
3 PTG F3 294.5 ± 88.0
4 PTU F3 158.5 ± 37.57

Da análise dos resultados é possível verificar que, para instrumentos de mesmas


dimensões, os grupos de limas ProTaper Gold apresentaram sempre um número médio
de ciclos até à fratura superior aos grupos de limas ProTaper Universal, o que corrobora
aquilo que é previsto pelos fabricantes. De facto, as ligas de nitinol M-Wire conferem
uma resistência à fadiga superior ao sistema de instrumentos PTG, quando comparadas
com o sistema de instrumentos PTU, fabricados com as ligas tradicionais. Segundo os
autores do estudo, a razão para este aumento da resistência à fadiga cíclica pode dever-
se ao facto de existir maior proporção de martensite no material, que se sabe ser mais
flexível que a austenite presente nas ligas de nitinol convencionais.
Outra conclusão que foi possível retirar deste estudo, é o facto de se verificar
que para o mesmo sistema de instrumentos, aqueles que apresentam maior resistência
à fadiga são sempre os de menores dimensões, algo que comprova aquilo que se
verificou no estudo [35].

23
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.5 Ensaios Não Destrutivos


Os ensaios não destrutivos (END) consistem num conjunto de metodologias de
avaliação e análise dos mais variados materiais e componentes, sem que neles se
causem danos, variações de propriedades ou alterações do funcionamento. Este tipo de
testes constitui uma importante ferramenta no aumento indiretamente da vida útil de
diversos componentes mecânicos por permitir a sua inspeção de modo não invasivo.
Como mencionado, grande parte das fraturas dos instrumentos endodônticos
devem-se à propagação por fadiga de fissuras em defeitos em pré-existentes. Deste
modo, a utilização de ensaios não destrutivos na sua deteção prematura pode revelar-
se um método simples e eficiente na prevenção da fratura por fadiga cíclica durante a
realização de tratamentos clínicos. Existem diversos métodos não invasivos de deteção
de fissuras e outros defeitos, sendo que a termografia por infravermelhos e as correntes
induzidas têm vindo a revelar-se dois dos mais eficazes, razão pela qual será explorada
a possibilidade da sua utilização na deteção de fissuras em instrumentos endodônticos.

2.5.1 Termografia por Infravermelhos

2.5.1.1 Introdução

A termografia por infravermelhos aplicada aos END consiste na medição e


interpretação do campo de temperaturas existentes na superfície do objeto de teste. É
uma técnica que permite mapear um corpo com base nos seus gradientes de
temperatura, registando-os como uma imagem, denominada de termograma.
A radiação infravermelha cobre apenas uma pequena porção do espectro
eletromagnético, compreendendo comprimentos de onda entre 0,74 μm e 100 μm, e é
emitida por todos os corpos com temperaturas acima do zero absoluto, sendo que a
quantidade de radiação emitida aumenta com a temperatura. A bibliografia refere-se
muitas vezes à radiação IV como “radiação térmica”. Esta designação deve-se ao facto
de este tipo de radiação ser aquela que é mais facilmente absorvida pela maioria dos
corpos, sendo, por isso, a principal responsável pelo aumento da energia cinética das
moléculas constituintes desses compostos, o que, por sua vez se manifesta através do
aumento da sua temperatura. É importante notar que este fenómeno só é possível
graças às características das ondas IV. Por um lado, apresentam um comprimento de
onda relativamente reduzido, o que faz com que penetrem facilmente os objetos. Por
outro lado, os fotões que as constituem transportam uma quantidade energia suficiente
para aumentar o efeito de ressonância da maioria das moléculas sem causar a sua
ionização. Outros tipos de radiação ou são demasiado energéticos ou não o são
suficientemente.

24
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.5.1.2 Enquadramento Histórico

Até 1800 a existência da radiação infravermelha (IV) era completamente


desconhecida da comunidade científica. Foi só nesse ano que Frederick Hersche, quando
media as temperaturas das diferentes cores que compõem o espetro solar, verificou que
a temperatura mais alta se encontrava imediatamente a seguir à porção correspondente
à cor vermelha. Hersche constatou que esta “nova” radiação invisível, posteriormente
batizada de infravermelha, obedecia às mais simples leis da ótica: era refletida,
refratada, absorvida e transmitida da mesma forma que a radiação visível. No entanto,
nos anos subsequentes à sua descoberta poucos progressos foram feitos na
compreensão desta radiação, devido à falta de instrumentação capaz de a detetar
eficazmente [38].

Figura 2.13 - Representação da montagem experimental usada por Frederick Hersche aquando
da sua descoberta da radiação IV [38].

Tudo mudou em 1821 quando Thomas Seeback descobriu o efeito termoelétrico,


ao verificar que uma pequena corrente elétrica fluía num circuito fechado entre dois
condutores metálicos quando as suas junções eram mantidas a diferentes temperaturas
[38]. Esta descoberta abriu caminho à invenção de sensores de temperatura baseados
no efeito termoelétrico, designados de termopares, que se revelaram muitíssimo mais
sensíveis do que os termómetros disponíveis, permitindo medir eficazmente radiações
infravermelhas e tornando-se os precursores das modernas câmaras termográficas que
hoje em dia são utilizadas.
Na segunda metade do século XIX, foram feitos grandes progressos na área da
radiologia com as descobertas das leis da radiação por Kirchhoff, Stefan Boltzmann,
Wien e Planck. Com o virar do século, vários países aperceberam-se das potenciais
aplicações militares que as tecnologias de leitura de radiações infravermelhas poderiam
significar, pelo que foram efetuados grandes investimentos nesse campo. Em 1929, o
físico húngaro Kálmán Tihanyi inventou finalmente a primeira câmara eletrónica
sensível à radiação infravermelha para defesa antiaérea na Grã-Bretanha. Porém, foi só
na década de 60 que se disponibilizaram os primeiros dispositivos termográficos para
aplicações não militares [38]. Deste então esta tecnologia tem sido utilizada nos mais
diversos campos, desde a engenharia civil até à aviação.

25
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.5.1.3 Câmara Termográfica

Do ponto de vista do seu funcionamento, as câmaras termográficas não são mais


do que transdutores de radiação IV, da mesma maneira que as câmaras de vídeo digitais
são transdutores de radiação visível. Na figura 2.14 apresenta-se um esquema
simplificado dos principais componentes de uma câmara termográfica.

Figura 2.14 – Esquematização dos principais componentes de uma câmara termográfica [76].

Quando em funcionamento, as lentes da câmara começam por concentrar a


radiação IV num sensor. Existem diversos tipos de sensores consoante a tecnologia em
que se baseiam; no entanto, as câmaras mais comuns, incluindo a que irá ser utilizada
nos trabalhos que estão na base desta dissertação, utilizam um sensor do tipo FPA (Focal
Plane Array). Estes sensores possuem detetores de radiação posicionados no formato
de uma matriz bidimensional que detetam fotões com determinados comprimentos de
onda e convertem-nos em sinais elétricos, fornecendo uma tensão elétrica proporcional
à radiação detetada em cada pixel. Esta variação de voltagem é interpretada por um
processador de sinal que envia a informação a um software de leitura que, por sua vez,
constrói uma imagem do objeto que emitiu inicialmente a radiação. Quando o sinal
detetado pela câmara é fraco são aplicadas técnicas de processamento de dados na
informação possibilitando leituras de temperatura mais facilitadas para o utilizador [39].
Contudo, e uma vez que nem toda a radiação recebida é proveniente do objeto
em análise, a radiação oriunda de outras fontes, como objetos vizinhos ou a atmosfera,
tem de ser removida na sua conversão em temperatura. A este processo dá-se o nome
de compensação [39].
Um fator que é importante ter em conta é a influência da atmosfera na absorção
de faixas da radiação IV que alcançam a câmara termográfica. As áreas do espectro
eletromagnético que são absorvidas por gases atmosféricos como o vapor de água,
dióxido de carbono e ozono, são conhecidas como bandas de absorção. Na figura 2.15
as bandas de absorção são representadas com um valor baixo de transmissividade ao
qual está associada uma zona específica de comprimentos de onda.

26
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

Figura 2.15 - Transmitância espetral da atmosfera [34].

Em contraste com as bandas de absorção, existem áreas do espectro


eletromagnético para as quais a atmosfera é transparente (zonas com pouca ou
nenhuma absorção de radiação). Esses intervalos são denominados de “janelas”
atmosféricas e, como é possível verificar-se na figura 2.15, situam-se entre os 2 e 5 μm
(MWIR - mid-wavelength infrared) e entre os 7,5 e 13,5 μm (LWIR - long-wavelength
infrared). Tipicamente as câmaras termográficas operam nestes intervalos, sendo que
as mais comuns, LW (long-wavelenght), fazem leituras exclusivamente na segunda
janela atmosférica sendo por esse motivo mais versáteis já que nessa faixa praticamente
não se verifica o fenómeno de atenuação atmosférica [39].

2.5.1.4 Termografia por Infravermelhos como END

A termografia por infravermelhos é uma técnica amplamente utilizada como END,


existindo uma miríade de aplicações possíveis nos mais diversos campos da engenharia.
Comparativamente com outros métodos de END, a termografia é um método bastante
atrativo, já que permite uma inspeção rápida, sem contacto, e oferece uma imagem em
tempo real de relativa facilidade de interpretação, permitindo a deteção, nos mais
diversos tipos de materiais, de diversos tipos de defeitos, como porosidades, defeitos
de impacto, fissuras térmicas ou de fadiga, corrosão, vazios, deslocamentos ou
delaminações [40].
O princípio por detrás desta técnica baseia-se na hipótese de que a zona
defeituosa de um objeto terá um comportamento térmico diferente do de uma zona
livre de descontinuidades. Os defeitos, para além de apresentarem uma emissividade
diferente (no caso dos superficiais), afetam o fluxo térmico no material, aquecendo-o
ou arrefecendo-o a velocidades diferentes consoante a sua presença. O resultado é um
contraste térmico na superfície do objeto, que resulta na variação da emissão de
radiação detetada pela câmara termográfica. Este fenómeno é retratado na figura 2.16
onde se consegue identificar uma fissura num cordão de soldadura através da diferença
de temperaturas.

27
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

Figura 2.16 - Exemplo do contraste térmico criado por uma fissura num cordão de soldadura [77].

Existem diversas abordagens possíveis na utilização da termografia como END,


no entanto, é usual fazer-se a distinção entre termografia passiva e ativa. Na sua
vertente passiva, a radiação emitida por um corpo é medida sem a utilização de uma
fonte de calor externa, pelo que é necessário que o material se encontre naturalmente
a diferentes temperaturas. Esta técnica é, por esse motivo, muito utilizada em
operações de controlo de qualidade e de monitorização.
A termografia ativa (TA) é a mais comum em END. Nesta técnica os materiais de
teste são sujeitos a uma fonte externa de energia, de modo a criar os necessários
contrastes térmicos entre as zonas defeituosas e aquelas que se encontram em bom
estado. Esta técnica é bastante relevante já que permite obter informações acerca da
resposta térmica de um objeto ao longo do tempo através da variação dos parâmetros
de excitação [41].

A TA pode ser categorizada de diversas formas; no entanto, geralmente é


classificada de acordo com o tipo de fonte térmica utilizada e de acordo com o método
como essa estimulação é realizada. No que respeita ao método, podem diferenciar-se
as seguintes alternativas:

• Step Heating Thermography (SHT) e Long Pulse Thermography (LPT) – estes são
os métodos mais convencionais. A amostra é aquecida por um longo período,
observando-se a evolução temporal dos seus gradientes de temperatura na fase de
aquecimento, no caso de LPT, ou na fase de arrefecimento, para SHT. As zonas
defeituosas serão aquecidas ou arrefecidas a diferentes velocidades, aparecendo nos
termogramas como zonas mais quentes ou mais frias [41];

• Pulsed Thermography (PT) – são aplicados pulsos de estimulação térmica de


grande intensidade e de curta duração, tipicamente inferiores a um segundo. O calor
gerado por cada pulso propaga-se por condução em todo o material, sendo que a
presença de descontinuidades reduz a taxa de arrefecimento comparativamente com
uma região não defeituosa [42];

28
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

• Lock-in Thermography (LIT) – nesta técnica é utilizada uma câmara termográfica


sincronizada com uma fonte de excitação. Esta fonte gera ondas térmicas periódicas,
com uma determinada frequência, que penetram a superfície do material e se propagam
no seu interior, sendo refletidas nas diferentes barreiras térmicas existentes, como é o
caso de descontinuidades. As ondas térmicas refletidas interferem com as de entrada
criando alterações na sua amplitude a ângulo de fase. O ângulo de fase entre o sinal de
referência e sinal de saída é medido em cada pixel para se obter uma imagem onde são
identificáveis as diferenças entre regiões defeituosas e em bom estado. A LIT embora
seja uma técnica muito sensível a defeitos internos pode ser bastante lenta, uma vez
que para cada profundidade a ser inspecionada é necessária uma frequência de
excitação diferente. Além disso, cada um destes ensaios requer diferentes ciclos de
excitação até se atingir um estado estável [39];

• Frequency Modulated Thermography (FMT) – O princípio de funcionamento


desta vertente da termografia é semelhante à LIT. A grande diferença reside no facto de
que na FMT é utilizado um sinal de excitação de frequência variável, permitindo a
deteção de defeitos a várias profundidades no material de teste [42].

a) Termografia Ativa por Excitação Ótica


Existem inúmeras formas de estimular termicamente os materiais a ensaiar. A
mais comum consiste na utilização de fontes de excitação óticas, com recurso a radiação
externa para aquecer o material. Nestas fontes incluem-se lâmpadas,
aquecedores/secadores e sistemas de laser. Estas técnicas são rápidas, livres de
contacto e relativamente baratas, permitindo, quando combinadas com ferramentas
avançadas de processamento de sinais, a deteção de vários tipos de defeitos nos mais
diversos materiais, sendo utilizada sobretudo em materiais compósitos. Contudo, a
termografia oticamente estimulada possui a desvantagem de não ser muito sensível na
deteção de defeitos internos, especialmente em metais, bem como na deteção de
microfissuras [41]. Na figura 2.17 apresenta-se uma esquematização de uma montagem
experimental típica de TA por excitação ótica.

Figura 2.17 - Diagrama esquemático da TA por excitação ótica [41].

29
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

A escolha do método de excitação é de grande importância, sobretudo quando se


pretendem detetar defeitos de reduzidas dimensões ou defeitos interiores, uma vez que
para este tipo de defeitos é conveniente maximizar-se a sensibilidade de inspeção.
Existem diversos fatores que é necessário ter em conta na escolha do método, desde o
tipo de material às dimensões e à posição do defeito. Têm-se realizado vários estudos
no sentido de averiguar e comparar a eficácia de deteção de defeitos entre os diversos
métodos de estimulação térmica. S. Pickering e D. Almon [43] compararam os resultados
obtidos para a LPT e LIT na inspeção de uma placa de fibra de carbono contendo vários
furos de fundo plano com diâmetros entre os 4 e os 12 mm, e a profundidades entre os
0.25 e os 3.5 mm. Verificou-se que a LPT apresenta uma relação sinal-ruído (S/R)
superior para defeitos mais próximos da superfície quando comparada com a LIT; no
entanto, para defeitos mais profundos, ambos apresentaram resultados semelhantes.
Na figura 2.18 apresentam-se as dimensões da amostra de teste bem como os
termogramas obtidos 6 segundos após excitação no caso da LPT, e, no caso da LIT, para
uma frequência de excitação igual a 0.09Hz.

(a) (c)

(b)

Figura 2.18 - (a) Planificação da placa de fibra de carbono a inspecionar (dimensões em mm);
(b) Termograma da LPT (6s após excitação); (c) Termograma da LIT (excitação a 0.09Hz)
[Adaptado de 43].

30
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

Num outro estudo realizado por Z. Wang et al. [44], a LPT revelou-se igualmente
mais eficaz na deteção de defeitos quer em compósitos de fibra de carbono, quer em
compósitos de fibra de vidro, desta vez quando comparada com a PT e com SHT. Da
mesma maneira que no trabalho realizado por S. Pickering e D. Almon [43], neste estudo
foram realizados furos de fundo plano de vários diâmetros e a várias profundidades,
sendo que, tal como era expectável, os de maiores dimensões e mais próximos da
superfície foram detetados mais facilmente. Na figura 2.19, apresentam-se os
resultados obtidos para os três métodos, sem qualquer tipo de processamento de
imagem, cinco segundos após a excitação térmica ter sido iniciada no caso da LPT e da
PT e finalizada no caso da SHT.

(a) (b)

(c)

Figura 2.19 – Termogramas obtidos em t = 5s para: (a) Pulsed Thermography (PT); (b) Long Pulse
Thermography (LPT); (c) Step Heating Thermography (SHT) [Adaptado de 44].

b) Termografia Ativa por Correntes Induzidas (ECT)

Em materiais condutores ou semicondutores elétricos é muito comum estimular-


se termicamente o objeto a inspecionar recorrendo-se a correntes induzidas. Estas são
geradas por um campo magnético que, por sua vez, é produzido por uma bobina quando
é atravessada por uma corrente alternada. Na presença de descontinuidades, o percurso
normal das correntes induzidas é perturbado, originando zonas com diferentes
densidades de correntes, resultando em áreas mais quentes devido ao efeito de Joule.
Este método tem a vantagem de ser sensível a uma grande variedade de defeitos
superficiais e subsuperficiais. No entanto, esta técnica está limitada a defeitos planares
e requer que o aquecimento do material seja o mais uniforme possível [41]. Em
alternativa às correntes induzidas, os materiais condutores elétricos também podem ser
aquecidos pelo efeito de Joule, aplicando-se-lhes uma corrente elétrica.

31
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

Este método provou ser extremamente sensível a defeitos de reduzidas


dimensões, tal como demonstrado num estudo realizado por B. Weekes et al. [45].
Através deste estudo verificou-se que é possível a deteção de microfissuras de fadiga
com comprimentos de até 0.60 mm para ligas de aço ferríticas e 0.78 mm para ligas de
titânio 6246. Já M. Noethen et al. [46] conseguiu detetar diversas fissuras superficiais
artificiais com profundidades entre 0.1 mm e 3 mm em ligas de aço ferríticas e
austeníticas. Nos ensaios de termografia ativa onde se pretendem detetar defeitos
através de contrastes térmicos, como é o caso dos ensaios em que se utilizam correntes
induzidas, pode ser necessário homogeneizar a emissividade do material. A estratégia
mais comum é aquela que foi usada por B. Weekes et al. [45], na qual se pintaram os
objetos a ensaiar com uma camada de tinta preta. Esta estratégia é vantajosa não só
porque homogeneíza a emissividade como a maximiza. Já M. Noethen et al. [46] utilizou
um método menos convencional, que consistiu em cobrir as amostras com uma fina
película de água destilada.

c) Termografia Ativa por Ultra-sons (UST)

Em contraste com a termografia “clássica” onde se fornece energia ao sistema por


meios de excitação ótica ou eletromagnética, na UST o material é estimulado através de
vibrações mecânicas, geradas por ultra-sons. Estas vibrações levam a um aumento da
temperatura nas regiões fissuradas através da fricção entre as suas faces. Este método
é muito sensível a microfissuras e é pouco afetado pelo aquecimento não uniforme do
material. No entanto, possui a desvantagem de requerer geradores de alta potência e
dispendiosos, além dos resultados obtidos por este tipo de inspeção não serem
repetíveis [42]. Uma outra vantagem da UST consiste na sua capacidade de deteção de
fissuras fechadas, dificilmente detetáveis com outros métodos de termografia, tal como
reportado por X. Guo e V. Vavilov [47]. De facto, neste estudo a UST provou ser um
método muito eficaz na deteção deste tipo de fissuras em ligas de alumínio. Os autores
deste estudo concluíram que isso se deve, sobretudo, ao movimento vibratório somado
ao facto de as interfaces das fissuras estarem bastante próximas, levar a um elevado
contraste térmico entre as zonas fissuras e em bom estado, e a uma relação S/R
particularmente alta, especialmente nos primeiros segundos de excitação.

32
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.5.2 Correntes Induzidas

2.5.2.1 Introdução

De entre todos os END, o método das correntes induzidas, CI, é um dos mais
utilizados na deteção e diagnóstico de descontinuidades em materiais. Este método
baseia-se nos princípios da indução eletromagnética para avaliar a integridade
estrutural de um vasto leque de materiais condutores, ferromagnéticos ou não,
permitindo localizar e caracterizar fissuras, ou outro tipo de defeitos, de maneira rápida
e sem a necessidade de contacto com a peça de teste.

2.5.2.2 Enquadramento Histórico

O estudo das correntes induzidas começou, em grande medida, graças à


descoberta da indução eletromagnética pelo cientista Inglês Michael Faraday, em 1831.
Nessa altura Hans Ørsted já havia demonstrado que correntes elétricas produzem
campos magnéticos, o que levou muitos cientistas a perguntarem-se se o contrário
também seria possível. Faraday verificou que de facto campos magnéticos conseguem
induzir correntes elétricas, mas apenas sob certas circunstâncias: quando existe
variação do fluxo magnético nas imediações de um material condutor, o que pode
acontecer quando o condutor é atravessado por um campo magnético variável, ou
quando se move o condutor no interior de um campo magnético não uniforme. Nestas
situações, uma corrente elétrica induzida fluirá nesse material caso exista um caminho
fechado por onde ela possa circular. Este fenómeno ficou conhecido como lei da indução
de Faraday [48].
Contudo, só alguns anos mais tarde, em 1851, é que o fenómeno das correntes
induzidas foi descoberto pelo físico Léon Foucault, aquando da sua demonstração de
que são geradas correntes num disco de cobre quando este é colocado num campo
magnético criado por dois ímanes. Em 1879 este conhecimento foi posto em prática por
outro cientista, David Hughes [48, 49]. Este observou que uma bobina, percorrida por
uma corrente elétrica alternada, quando em contacto com um material de diferente
condutividade e permeabilidade magnética, sofre uma variação das suas propriedades,
nomeadamente uma alteração da sua impedância elétrica. Estavam descobertos os
princípios físicos em que se baseiam os END por CI.
As primeiras aplicações das CI como método de END surgiram durante a 2ª
Guerra Mundial, altura em que apareceram os primeiros sistemas portáteis para
ensaios, que eram utilizados sobretudo na deteção de defeitos e fissuras de fadiga em
equipamentos de aeronáutica. Nos anos seguintes registou-se uma generalização da
aplicação das CI em diversas áreas, particularmente nas indústrias nuclear, petroquímica
e aeronáutica [50].

33
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.5.2.3 Fundamentos das CI como END

Na sua vertente convencional, no método de END por CI, utiliza-se uma sonda,
constituída por uma bobina em espiral helicoidal para se detetarem descontinuidades
na peça a ensaiar. Ao fazer-se percorrer a bobina por uma corrente elétrica alternada
cria-se um campo magnético primário variável, 𝐻𝑝 , à sua volta. Tal como conjeturado
por Faraday e observado por Foucault, este campo magnético ao ser colocado nas
imediações de um material condutor, induz nele uma força eletromotriz que leva ao
aparecimento de correntes elétricas contínuas e circulares na peça, a que se dá o nome
de correntes induzidas ou, na nomenclatura inglesa, eddy currents. Por sua vez, estas
correntes criam um campo magnético secundário, 𝐻𝑠 .
Segundo a lei de Lenz, correntes induzidas produzem campos magnéticos que se
opõem à variação do fluxo magnético que originou essas correntes. Deste modo, o
campo magnético secundário produzido pelas correntes irá opor-se ao primário,
atenuando-o. É possível observar-se este efeito de atenuação através da variação da
impedância elétrica da bobina, 𝑍⃗. O processo descrito é representado na figura 2.20.

Figura 2.20 - Representação esquemática de um END por correntes induzidas [53].

A eventual existência de defeitos na peça perturba a trajetória normal das


correntes induzidas, causando uma alteração na intensidade de 𝐻𝑠 . Esta alteração é
sentida pela bobina, manifestando-se através da variação da sua impedância elétrica,
por aumento da resistência e variação da reatância. Quanto maior o defeito, maior a sua
influência na trajetória das correntes induzidas. Este método está assim limitado a
materiais condutores elétricos, como é o caso das ligas de níquel-titânio.

A impedância elétrica, 𝑍⃗, é uma medida da oposição total que um circuito sente à
passagem de uma corrente alternada. É medida em ohms e é dada por um número
complexo cuja parte real corresponde à resistência, 𝑅, e o número imaginário às
reatâncias, tanto indutiva, 𝑋𝐿 , como capacitiva, 𝑋𝐶 , sendo este último desprezável em

34
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

circuitos de correntes induzidas. Desta maneira, na sua forma polar a impedância é dada
pela expressão:
𝑍 = |𝑍|. 𝑒 𝑗𝜙 (2.14)

Em que o módulo da impedância e a fase é dado pelas equações 2.15 e 2.16


respetivamente.
|𝑍| = √𝑅 2 + 𝑋𝐿2 (2.15)
𝑋𝐿
𝜙 = 𝑎𝑟𝑐𝑡𝑔 ( ) (2.16)
𝑅

Uma forma útil de se apresentar a variação da impedância durante um END por


CI é através de planos de impedância. Tal como demonstrado na figura 2.21, o sinal da
impedância pode evoluir de diversas maneiras consoante a permeabilidade magnética
do material de teste.

Figura 2.21 - Plano de impedância característico de materiais magnéticos e não magnéticos [47].

Quando uma bobina de impedância 𝑍0 , excitada por uma corrente alternada, é


colocada na proximidade de um material condutor não-ferromagnético, como é o caso
das ligas de nitinol, a oposição dos campos magnéticos primários e secundários causa
uma diminuição da componente imaginária da impedância. Por outro lado, a
componente real, correspondente à resistência, irá aumentar uma vez que as correntes
que são induzidas no material dissipam parte da energia que é fornecida pela bobina.
Caso exista um defeito no material, a passagem das CI é obstruída aumentando a sua
zona de passagem, o que significa uma redução do campo magnético secundário,
levando, por sua vez, a uma diminuição da resistência e aumento da reatância.
No caso de o ensaio ser feito em materiais magnéticos, como o aço, a impedância
elétrica irá variar de forma diferente. Tal como no nitinol, ao aproximar-se a sonda do
material a resistência na bobina aumenta, no entanto, o mesmo não se verifica para a
reatância. A permeabilidade magnética de um material ferromagnético faz com que o
campo magnético da bobina aumente de intensidade, ofuscando completamente o
campo magnético produzido pelas correntes induzidas e fazendo com que a reatância
indutiva aumente.

35
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.5.2.4 Limitações das Correntes Induzidas como END

Uma das maiores limitações na utilização do método das correntes induzidas


consiste no facto de elas não se distribuírem uniformemente ao longo da espessura do
material. A oposição que o campo magnético produzido pelas CI exerce sobre o campo
magnético produzido pela bobina faz com que aquelas percam intensidade com a
profundidade, de forma exponencial, tal como se pode observar na figura 2.22, razão
pela qual este método apenas permite a deteção de defeitos superficiais ou perto da
superfície. A este fenómeno dá-se o nome de “efeito de pele”.

Figura 2.22 - Variação da profundidade de penetração das CI em função da frequência de ensaio


para um alúminio AA1100 [47].

É possível calcular-se a densidade das correntes, Ix [A. m−2], a uma profundidade,


𝑥 (m), utilizando a expressão 2.17, em que I0 , corresponde à densidade das correntes
à superfície, 𝑓 [s−1 ] à frequência de excitação, μ [H. m−1 ], à permeabilidade magnética
do material e σ [S⁄m] à sua condutividade elétrica.

𝐼𝑥 = 𝐼0 . 𝑒 −𝑥√𝜋.𝑓.𝜇.𝜎 (2.17)

Convencionou-se que a profundidade máxima de penetração das CI, 𝛿 [𝑚],


corresponde ao valor para o qual a densidade da corrente Ix é 𝑒 −1 (37%) da densidade
das correntes à superfície, I0 . Deste modo, a equação 2.17 pode ser reorganizada de
modo a permitir o cálculo do valor da profundidade máxima de penetração.
1
𝛿(𝑓,𝜇,𝜎) = (2.18)
√𝜋. 𝑓. 𝜇. 𝜎

Para além da incapacidade de deteção de descontinuidades a grandes


profundidades, outra condicionante do método das correntes induzidas é o efeito “Lift-

36
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

off”. Este efeito ocorre quando, durante um ensaio, se verificam variações de posição
da sonda em relação ao material. Esta variação de posição causa alterações na
impedância elétrica medida, podendo, inclusive, mascarar o sinal de defeitos [51]. Na
figura 2.23 ilustra-se o fenómeno de lift-off.

Figura 2.23 - Representação do efeito lift-off e da intensidade e localização das CI produzidas por
uma bobina (vista de corte) [47].

Outra distorção comum durante um ensaio verifica-se quando se aproxima a


sonda das extremidades da peça a ensaiar, fenómeno a que se dá o nome de “efeito de
bordo”. A distorção da impedância causada por este fenómeno pode ser semelhante à
que se verifica num defeito, pelo que este método não é adequado para inspeção de
zonas de material muito perto dos limites da peça [51].
Além disso, as correntes induzidas tendem a orientar-se paralelamente ao
campo magnético que lhes deu origem. Desta forma defeitos que estão alinhados com
as correntes serão mais difíceis de detetar [51].
Pode dizer-se que outra desvantagem do método das correntes induzidas é que,
ao contrário de outros ensaios não destrutivos, como é o caso da termografia, este não
fornece informação direta e quantitativa acerca dos defeitos, pelo que avaliar as
dimensões de um defeito detetado pode ser bastante difícil. Neste sentido, têm sido
desenvolvidos modelos computacionais e simulações numéricas que permitem obter,
até certo grau, a secção transversal de um defeito identificado pelo sinal de um teste de
CI [52].

37
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.5.2.5 Tipos de Sondas

a) Configuração (Sondas para inspeção de componentes cilíndricos/tubulares)


A configuração da sonda está intimamente relacionada com a forma como a
bobina ou bobinas cobrem a área de interesse. Deste ponto de vista, podem ser
classificadas em sondas superficiais, interiores ou envolventes.
Nas sondas envolventes, como a representada na figura 2.24, a bobina preenche
a peça de teste em toda a sua circunferência, e percorre a sua superfície externa ao
longo do seu comprimento, razão pela qual são utilizadas, sobretudo, para avaliar a
superfície de barras e tubos. São sensíveis a descontinuidades paralelas ao seu eixo uma
vez que as correntes descrevem circunferências radiais no sentido oposto ao da corrente
que percorre a bobina.

Figura 2.24 – Exemplo de uma sonda envolvente para inspeçaõ de tubos e barras.

As sondas interiores são semelhantes às envolventes, sendo, no entanto,


adaptadas para a avaliação da superfície interior de tubos, tal como representado na
figura 2.25 (a). Por sua vez, as sondas superficiais, como a da figura 2.25 (b), são
constituídas por bobinas cujo eixo é perpendicular à superfície da peça de teste, sendo
por isso usadas sobretudo para inspecionar superfícies planas.

(a) (b)

Figura 2.25 – (a) Exemplo de uma sonda interior para inspeção de peças tubulares, (b) Exemplo
de uma sonda superficial comercial.

38
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

b) Modo de Funcionamento
Relativamente ao modo de funcionamento as sondas, estas podem ser de dupla
função ou do tipo reflexão. No primeiro caso, representado na figura 2.26 (a), a bobina,
ou bobinas, constituintes da sonda têm a dupla função de gerar o campo magnético
primário e detetar o campo magnético secundário.
O mesmo não se verifica nas sondas do tipo reflexão. Neste tipo de sondas o
campo magnético primário é produzido por uma primeira bobina, enquanto uma
segunda bobina deteta o campo magnético secundário, produzido pelas correntes
induzidas, tal como o representado na figura 2.26 (b). A vantagem deste tipo de sondas
é que cada bobina pode ser especificamente projetada para a sua função. A impedância
da primeira bobina pode ser ajustada para produzir um campo magnético primário
uniforme através do ajuste de parâmetros como o diâmetro e o número de espiras,
enquanto as bobinas secundárias podem ser dimensionadas de acordo com os defeitos
de modo a que se possa detetar mais facilmente o campo magnético secundário [53].

(a) (b)

Figura 2.26 – (a) Sonda de dupla função; (b) Sonda do tipo reflexão [53].

c) Tipo de Output do Sinal


No que respeita ao tipo de output, as sondas são usualmente classificadas em
sondas absolutas ou diferenciais. As sondas absolutas são as mais simples, sendo
constituídas por uma única bobina em contacto com a peça a ensaiar (figura 2.27 (a)).
Neste tipo de sondas o sinal obtido é o correspondente às variações absolutas da
voltagem do circuito (figura 2.27 (b)).

(a)
(b)

Figura 2.27 - (a) Sonda de output absoluto evolvente de dupla função não equilibrada; (b) Sinal
caracterisitco de um sonda absoluta [53].

39
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

É muito frequente equilibrarem-se as sondas absolutas recorrendo-se a uma


bobina de referência, afastada da primeira, tal como é ilustrado na figura 2.28. Nesta
situação, a voltagem lida é a diferença entre as duas, pelo que, na ausência de defeito,
o sinal obtido pela sonda é nulo. Neste tipo de configuração, é necessário que os valores
da indutância de ambas as bobinas sejam suficientemente próximos, de modo a permitir
uma boa calibração da sonda.

Figura 2.28 - Sonda absoluta evolvente de dupla função equilibrada [53]

No caso das sondas diferenciais utilizam-se duas bobinas em série, conectadas


em sentidos opostos uma da outra, tal como é ilustrado na figura 2.29 (a). O facto de
estarem ligadas em série faz com que estejam a inspecionar zonas adjacentes do
material, sendo que o sinal lido corresponde à diferença de voltagem entre as duas.
Deste modo, na ausência de defeitos a diferença de voltagem entre as duas é zero, e
apenas se altera quando uma delas se encontra na proximidade de um defeito (figura
2.29 (b)). Geralmente o sistema diferencial apresenta uma relação sinal/ruído melhor
do que o absoluto, e é mais sensível a defeitos de pequenas dimensões uma vez que
uma secção do material está a ser comparada com a seguinte. Contudo, em
descontinuidades longas e uniformes, as sondas diferenciais podem indicar apenas o
seu início e fim, enquanto que o sistema absoluto indicaria o comprimento total do
defeito.

(a) (b)

Figura 2.29 - (a) Sonda diferencial envolvente de dupla função; (b) Sinal caracterisitco de um
sonda diferencial [53].

40
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

d) Modo de Ligação
O método mais simples de se fornecer energia a uma sonda é através de uma
ligação absoluta utilizando um circuito RL, de modo a ler-se o valor da voltagem 𝑉𝐴 ,
como é ilustrado na figura 2.30. Este tipo de ligação apenas é possível para sondas
absolutas, uma vez que o valor adquirido corresponde ao valor absoluto, em cada
instante, da voltagem do circuito.

Figura 2.30 - Ligação de absoulta de uma sonda absoluta utilizando um circuito RL [53].

No entanto, o tipo de ligação mais utilizado é uma ligação do tipo bridge, que pode
ou não ser equilibrado com uma bobina de referência, dependendo do tipo de sonda.
Nesta configuração, as bobinas estão localizadas numa "ponte" elétrica. O instrumento
equilibra a ponte e qualquer mudança no equilíbrio, causada pela presença de uma
descontinuidade, é apresentada como uma variação do sinal [54].
Para sondas absolutas não equilibradas a ligação é feita adicionando uma
resistência em série com a bobina numa ramificação, e, na outra, uma rede de
impedâncias de equilíbrio, tal como é ilustrado na figura 2.31 (a). A diferença de
voltagem é medida entre as duas ramificações. No caso de sondas absolutas
equilibradas e de sondas diferenciais, tal como foi referido, a voltagem lida corresponde
à diferença da voltagem entre as duas bobinas, pelo que numa ligação do tipo bridge,
ambas as bobinas são ligadas em série com uma resistência e em paralelo uma com a
outra, como o ilustra a figura 2.31 (b) [53].

(a) (b)

Figura 2.31 - (a) Ligação bridge não equilibrada, (b) Ligação bridge equilibrada [53].

41
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

2.5.2.6 Estado-de-Arte das Técnicas de CI como END

O método das correntes induzidas é um dos mais utilizados no campo dos ensaios
não destrutivos, permitindo a deteção de uma grande variedade de defeitos. É um
método bastante versátil, com elevado grau de sensibilidade, e que permite inspeções
rápidas e fiáveis [55]. É por estes motivos que é muito utilizado nos setores de controlo
de qualidade, e justifica alguns dos investimentos que têm sido feitos no
desenvolvimento de sistemas de inspeções automáticas em linhas de montagem
industrial. Um exemplo é o modelo desenvolvido por K. Fukuoka [56], que concebeu um
sistema, constituído por uma sonda diferencial envolvente, com o objetivo detetar as
fissuras características do processo de trefilagem, em hastes de aço.
Uma das maiores dificuldades dos ensaios de CI está relacionado com o ruído
causado pelas variações de permeabilidade magnética no objeto de teste, fenómeno
que é particularmente indesejável quando se pretendem detetar microfissuras [56].
Uma forma de diminuir o ruído é através da magnetização do objeto de teste, o que
apenas é possível em materiais ferromagnéticos, como é o caso do aço. Esta estratégia
leva a um desejável aumento da permeabilidade magnética, o que, por sua vez, permite
uma maior penetração das correntes induzidas. Com base neste fenómeno, o autor do
estudo incluiu no sistema um magnetizador concebido para formar um circuito fechado
com a peça e a caixa. Este sistema encontra-se representado na figura 2.32 (a). Na haste
de aço foram feitas três fissuras com profundidades iguais a 50, 70 e 100 µm. Na figura
2.32 (b), apresenta-se a sua localização e dimensões.

Figura 2.32 - (a) Esquematização do sistema de CI utilizado; (b) Fissuras no objeto de teste [56].

O magnetizador é alimentado por uma corrente contínua (DC), e depois de alguns


ensaios preliminares, estabeleceu-se que a intensidade ótima dessa corrente de
excitação era igual a 1.3 A.

42
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

Nestas condições obtiveram-se os seguintes resultados:

Figura 2.33 - Resultados dos ensaios obtidos nas diferentes fissuras [56].

Os sinais diferenciais obtidos, e apresentados, revelam que o sistema de CI


desenvolvido é capaz de detetar facilmente fissuras com 70 e 100 µm. O sinal relativo à
fissura com profundidade de 50 µm, embora permita a sua identificação, apresenta uma
relação S/R bastante baixa, pelo que se pode estabelecer os 70 µm, como o limite de
deteção deste sistema.
Este estudo prova que o método das CI é sensível a defeitos com profundidades
bastante reduzidas. No entanto, para se obter a sensibilidade necessária para os detetar
foi necessário utilizar um magnetizador, e, além disso, as fissuras avaliadas eram
totalmente longitudinais, o que facilita a sua deteção, uma vez que as sondas
envolventes, geralmente, são mais sensíveis a defeitos com esse tipo de disposição
geométrica.
Vários outros estudos têm sido conduzidos com o objetivo de se atestar a
possibilidade de deteção de fissuras de fadiga nos mais diversos materiais. Em [57] N.
Yusa et al. consegui obter resultados, com elevado grau de confiança, reveladores da
existência de fissuras de fadiga, com 1.5 mm de largura, no interior de cordões de
soldadura de inconel. Por sua vez, M. Bohacova [58] consegui detetar pequenas fissuras
com 0.6 mm de profundidade e 3 mm de comprimento em componentes aeronáuticos
produzidos em alumínio.

43
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica

44
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

3. Metodologias e Procedimentos
Experimentais
3.1 Introdução
Neste capítulo procede-se a uma descrição pormenorizada da metodologia
adotada e dos procedimentos laboratoriais utilizados com o intuito de atingir os
objetivos predefinidos. À semelhança do segundo capítulo, optou-se por também se
dividir este em três partes:
Em primeiro lugar apresenta-se a caracterização dimensional dos objetos de
ensaio, seguido da montagem e os procedimentos experimentais utilizados na
determinação da resistência à fadiga por flexão rotativa dos instrumentos endodônticos.
No segundo subcapítulo, identificam-se os procedimentos utilizados de forma a
tornar possível a realização de ensaios de correntes induzidos nos instrumentos
endodônticos, desde a conceção das sondas e os parâmetros que nelas se variaram, até
à montagem experimental utilizada. Abordam-se ainda as estratégias desenvolvidas
para a corroboração dos resultados experimentais através de simulações numéricas.
O terceiro e último subcapítulo é reservado à descrição dos procedimentos e
montagem experimental utilizada na realização dos ensaios de termografia.

45
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

3.2 Ensaios de Fadiga por Flexão Rotativa


3.2.1 Caracterização Dimensional dos Instrumentos Ensaiados

O sistema de limas HyFlex EDM tradicional, e que foi alvo de estudo nesta
dissertação, é composto por instrumentos de três tamanhos diferentes, cada um deles
desenhado para desempenhar uma função específica durante o tratamento
endodôntico. Este conjunto é constituído pelas limas rotativas OneFile 25/~, Glidepath
10/.05 e Orifice Opener 25/.12, apresentadas na figura 3.1.

Figura 3.1 - Sistema de limas rotativas HyFlex EDM de três tamanhos diferentes [59].

A função das limas Orifice Opener 25/.12, é criar acesso aos canais radiculares,
operando, desse modo, somente nas regiões centrais e coronais dos canais, tal como
ilustrado na figura 3.1. Tendo em conta essa função, apresentam um comprimento ativo
menor e uma conicidade maior comparativamente às restantes. Considerando as suas
dimensões, optou-se por não se estudar a sua resistência mecânica à fadiga, uma vez
que teria de se adaptar a montagem experimental, atendendo a que esta está projetada
para introduzir uma curvatura na região apical dos instrumentos. Além disso, dado que
a sua função não é modelar nem limpar os canais radiculares, não se prevê que este tipo
de limas esteja sujeito ao mesmo nível de tensões induzidas que as outras.
Tal como sugestionado pelo nome, a função das limas Glidepath é de limpar, ou
por outras palavras, remover os tecidos dos canais, não sendo o seu objetivo modelá-
los, ao contrário das limas OneFile. Por esta razão são mais finas que as outras duas,
apresentando um diâmetro de ponta igual e a 0.1 mm e uma conicidade igual a 5%.
As limas OneFile apresentam maiores dimensões que as anteriores, dada a sua
referida função de modelar e alargar os canais radiculares. A notação “ ~ “ indica uma
conicidade com uma variação não linear. Esta variação é consequência direta de uma
das características que define as limas HyFlex EDM. A sua secção transversal apresenta
uma geometria variável: no topo é praticamente triangular; é trapezoidal na secção
intermédia; e junto à ponta é retangular [60]. O seu comprimento de ponta é 0.25 mm.
Na imagem 3.2 é ilustrada a sua caracterização dimensional dos dois instrumentos que
foram sujeitos aos ensaios de fadiga por flexão rotativa.

46
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

(a)
16 mm

D16 = 1 D1 = 0.25

(b)
16 mm

D16 = 0.81 D1 = 0.10

Figura 3.2 – Caracterização dimensional e variação da secção transversal dos instrumentos: (a) Hyflex EDM
OneFile 25/~; (b) Hyflex EDM Glidepath 10/.05. Imagens das secções transversais retiradas de [59].

3.2.2 Montagem Experimental

É conveniente que os ensaios experimentais para a avaliação da resistência


mecânica à fadiga dos instrumentos endodônticos sejam realizados em condições em
que haja um elevado grau de adversidade, de modo a que os resultados obtidos
apresentem, por si só, um certo fator de segurança. Com esse intuito, utilizou-se a
montagem experimental projetada por A. Fernandes [61] e utilizada nos estudos
analisados em 2.4.1 (R. F. Martins et al. [35] e F. Pereira et al. [36]). Esta montagem,
apresentada na figura 3.3, foi projetada para simular a anatomia de um canal radicular
com uma curvatura severa, com raio constante e igual a 4,7 mm, aplicado ao longo de
um ângulo de 45°.

Figura 3.3 - Rendering da montagem experimental [61].

47
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

Tal como se encontra representado na figura 3.4, a montagem experimental é


constituída por 5 componentes principais: o micromotor que aciona os instrumentos
endodônticos (3); as braçadeiras que o fixam à estrutura (1, 2); a peça de encosto e a
anilha de contacto que simulam o canal (5, 6); o suporte estrutural do sistema (7). Toda
a montagem é colocada sobre uma placa de teflon (9), que o impede de escorregar, e
fixada por um grampo na sua extremidade (8).

1 2 3
4
5 7
8

Figura 3.4 - Montagem experimental: (1, 2) - Braçadeiras de fixação do micromotor; (3) - Micromotor;
(4) - Instumento endodôntico; (5,6) - Esturutras que simulão o canal radicular; (7) - Estrutura de Suporte; (8) -
Grampo de fixação; (9) – Placa de teflon;

O movimento rotativo dos instrumentos endodônticos foi garantido pela


utilização de um sistema de controlo WaveOne™ (figura 3.5). Este equipamento é
utilizado para programar tanto a velocidade de rotação como o binário aplicado aos
instrumentos. Os parâmetros selecionados são aplicados por um micromotor que, por
sua vez, é acionado por um pedal manual.

Figura 3.5 - Sistema de controlo WaveOne.

48
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

3.2.3 Procedimento Experimental

Para que se pudessem obter resultados comparáveis começou-se por definir uma
metodologia experimental semelhante à utilizada por A. Fernandes em [61], listada a
seguir e de acordo com a qual todos os instrumentos foram testados:
1. Programar o equipamento de controlo WaveOne com a velocidade de
rotação e o binário máximo indicado pelo fabricante para o instrumento em
questão;
2. Garantir a fixação do micromotor nas braçadeiras;
3. Instalar o instrumento endodôntico no micromotor, rodando-o até ser
atingida a posição de encaixe;
4. Garantir a perpendicularidade entre a aresta da estrutura, representada
̅̅̅̅ na figura 3.6, com o eixo do instrumento, de modo
pelo segmento de reta 𝐴𝐵
a garantir um contacto uniforme deste com a peça de encosto;
5. Assegurar que, na zona de curvatura, o instrumento está fletido de
maneira a que uma das suas faces esteja em contacto com a anilha de
contacto, enquanto a outra esteja em contacto com a peça de encosto;
6. Garantir que a ponta do instrumento se encontra a uma distância igual a
5 mm do centro da curvatura do canal. Para facilitar este passo fez-se uma
pequena marca na montagem, na extremidade da qual se deve encontrar
posicionada a ponta do instrumento, tal como é representado na figura 3.7;
7. Verificar que o instrumento consegue rodar sem qualquer tipo de
obstrução;
8. Iniciar o ensaio, acionando o pedal do micromotor e cronometrar o
tempo até à fratura;
9. Retirar o instrumento do micromotor;
10. Repetir o procedimento listado para todos os instrumentos.

49
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

Figura 3.6 - Perpendicularidade entre a aresta da peça de encosto, representada pelo


segmento de reta AB, e o eixo do instrumento.

Figura 3.7 - Marca cuja extremidade superior indica uma distância de 5 mm até ao centro da
curvatura do canal.

50
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

3.3 Ensaios de Correntes Induzidas


3.3.1 Desafios na Implementação do Método das Correntes Induzidas

Na prática, existem alguns desafios que é necessário ter em consideração aquando


da aplicação das correntes induzidas como método de inspeção dos instrumentos
endodônticos. Estes obstáculos estão relacionados com suas as características,
nomeadamente dimensões e geometria, bem como com as propriedades
eletromagnéticas do nitinol. Na tabela 3.1 apresentam-se algumas das características
dos instrumentos bem como os desafios que elas colocam à aplicação das CI como END.

Tabela 3.1 - Desafios na aplicação das correntes induzidas como END nos instrumentos endodônticos.
Características Desafios

Em toda a extensão da zona ativa, o diâmetro dos instrumentos


Diâmetro estudados é inferior ao milímetro, o que implica que as bobinas
das sondas apresentem dimensões igualmente reduzidas.

Tendo em conta as reduzidas dimensões dos instrumentos,


Dimensionais compreende-se que os defeitos de fadiga que se pretende detetar
serão ainda mais reduzidos, como se verá mais à frente. Além
disso, é esperado que os defeitos apresentem uma direção
Tipos de defeitos
aproximadamente transversal, uma vez que, nos ensaios de
fadiga, os instrumentos serão fletidos nessa direção. Como pode
ser visto no subcapítulo 2.5.2.5, as sondas envolventes são menos
sensíveis a estes tipos de defeitos.

Os instrumentos apresentam um diâmetro variável, o que implica


Conicidade uma redução da intensidade das correntes induzidas com o
avanço da sonda em direção à ponta do instrumento.
Geométricas
As espiras presentes em toda a superfície ativa do instrumento
Superfície não
originam uma variação do volume de material percorrido pelas
uniforme
correntes em cada segmento.

A baixa condutividade elétrica do NiTi, cerca de 2,20% IACS,


Baixa condutividade
obriga a uma utilização de frequências de excitação altas para
elétrica
contrariar o efeito de pele, tal como foi referido em §2.5.2.4.

Físicas O NiTi é um material não ferromagnético pelo que apresenta uma


permeabilidade magnética bastante baixa, próxima da do ar.
Material não Atendendo a que os defeitos são essencialmente vazios, a
ferromagnético diferença da permeabilidade magnética entre o material e o
defeito será muito reduzida, logo, a variação no campo magnético
será igualmente reduzida [62].

51
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

3.3.2 Caracterização dos Instrumentos de Estudo

Antes de apresentar o projeto das sondas de CI apresenta-se uma caracterização


dimensional dos instrumentos endodônticos HyFlex CM 20/.04, utilizados como objeto
de estudo nos END. Como foi referido no sub-capítulo 2.3.4, a denominação 20/.04
indica que o instrumento em questão apresenta uma conicidade de 4% e um diâmetro
de ponta igual a 0.2 mm, sendo, portanto, esse diâmetro igual a 0.84 mm no início da
zona ativa, representado na figura 3.8 como “D16”, atendendo ao comprimento total
de 16 mm desta secção da lima. Medições, com auxílio de um paquímetro, revelaram
que na sua região mais larga, o diâmetro é igual a 1 mm. A secção transversal deste tipo
de limas é quadrangular em toda a sua extensão [58].

16 mm

D = 1 mm D16 = 0.84 D1 = 0.25

Figura 3.8 – Caracterização dimensional e geométrica da lima rotativa HyFlex CM 20/.04; Imagem
da secção transversal retirada de [59].

Estudos anteriores [35, 61] revelaram que os defeitos de fadiga comuns nos
instrumentos endodônticos apresentam dimensões na ordem das dezenas, ou até
mesmo unidades, de mícrons, não sendo, portanto, fácil recriá-los artificialmente. Desta
forma, a única maneira de os replicar é através da montagem experimental utilizada
para os ensaios de fadiga descrita no sub-capítulo anterior. No entanto, esse processo
implicaria que, recorrendo ao método da termografia, se conseguissem detetar as
fissuras atempadamente, de forma a que a sua propagação não levasse à fratura dos
instrumentos, o que, como se apresentará mais adiante, não se revelou possível. Deste
modo, e atendendo a que as limitações de recursos inviabiliza a realização das fissuras
de fadiga pelo método de tentativa e erro, optou-se por se começar por averiguar a
capacidade das sondas detetarem defeitos de maiores dimensões.
Deste modo, introduziu-se, artificialmente, uma fissura bastante severa (0.4 ×
0.35 × 0.1 mm) num instrumento HyFlex CM. Esta fenda foi inserida a 5 mm da ponta,
na região apical (último terço) da lima, uma vez que esta é a região mais propensa à
fratura, e é, para além disso, a zona por onde os instrumentos seriam fletidos durante
os ensaios de fadiga. Na figura 3.9 apresentam-se as imagens do defeito introduzidos,
obtidos por meio de um microscópio ótico, Olympus TH3, com uma câmara DP21.

52
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

5 mm

500 μm 500 μm
(a)
(b)

Figura 3.9 - Defeito artificial introduzido num instrumento HyFlex CM a 5 mm da ponta.


(a) Vista de cima, (b) Vista lateral.

3.3.3 Conceção das Bobinas de Dupla Função

Para a inspeção dos instrumentos endodônticos é necessário que a sonda faça um


varrimento em todo o seu comprimento. Ora, tendo em conta a sua estrutura cónica, a
sonda que melhor se adequa a este tipo de ensaios é a envolvente de dupla função.
Neste tipo de sondas utilizam-se bobinas cilíndricas, sendo que, de modo a maximizar a
intensidade do campo magnético na superfície do material, é necessário que os
enrolamentos estejam o mais próximo possível deste. Assim sendo, e atendendo a que
a zona onde o diâmetro dos instrumentos é maior tem 1 mm, optou-se por se
conceberem bobinas com um diâmetro interior igual a 1.5 mm.

Um obstáculo que se manifesta na conceção de sondas em que se pretende


utilizar bobinas com dimensões tão reduzidas, está relacionado com a dificuldade em
incorporar no chassis da sonda uma superfície ao redor da qual se possa fazer os
enrolamentos, uma vez que esta superfície teria de apresentar uma espessura com
menos de meio milímetro. Por este motivo optou-se por se fazer os enrolamentos num
arame com o diâmetro pretendido, fixando-se, de seguida, as espiras umas às outras
utilizando cianoacrilato, conhecido comercialmente por supercola 3, tal como é
ilustrado na figura 3.10 (a). O objetivo deste processo seria conseguir que a bobina
mantivesse o seu formato original depois retirado o arame. Para que isso fosse possível,
sem que as espiras também se fixassem ao arame, foi necessário cobri-lo com uma fina
camada de fita teflon, uma vez que o cianoacrilato não adere a este material. Na figura
3.7 apresenta-se o processo descrito, bem como as bobinas que daí resultaram.

53
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

(a) (b) (c)


Figura 3.10 - Concepção das bobinas: (a) Enrolamentos da bobina unidos ao redor de um arme envolto
em fita teflon, (b) Vista de cima da bobina resultante, (c) Vista lateral da mesma.

3.3.4 Conceção das Sondas de Correntes Induzidas

Na realização das sondas de correntes induzidas procurou-se fazer variar dois


parâmetros: o tipo de sonda e o número de espiras.

No que respeita ao tipo de sondas, conceberam-se sondas absolutas e diferencias,


representadas na figura 3.11 (a) e (b) respetivamente. Utilizou-se em ambas uma ligação
do tipo bridge, sendo que as sondas absolutas foram equilibradas com uma bobina de
referência.

(a) (b)
Figura 3.11 - (a) Sonda absoluta equilibrada, (b) Sonda diferencial.

O chassis das sondas foi modelado utilizando o programa Solidworks, e produzido


por uma impressora 3D (Ultimaker) em polímero PLA (Poliácido Láctico). As bobinas
foram coladas na zona inferior da sonda, em orifícios criados para esse efeito. Além
disso, como se pode observar na figura 3.11, realizaram-se dois furos passantes na parte
superior da estrutura da sonda, de modo a permitir a sua fixação a um perfil estrutural
bosch, em alumínio 20×20.

54
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

O outro parâmetro que se procurou estudar foi a influência do número de espiras


na deteção de defeitos; em particular, tentou-se encontrar o número de espiras para o
qual os resultados dos END por CI apresentam uma melhor relação sinal-ruído.
Desta forma, para cada um dos dois tipos de sondas foram concebidas quatro
bobinas com um número de espiras progressivamente crescente, de 10 até 40. Foi ainda
produzida uma bobina extra, com um número de espiras intermédio entre as duas que
apresentaram melhores resultados: 25 no caso das sondas absolutas e 15 no caso das
diferenciais. As dimensões e o número de espiras de cada sonda são apresentados na
tabela 3.2.

Tabela 3.2 - Caracterização dimensional das bobinas de cada uma das sondas.
Número de Comprimento Diâmetro
Tipo de Sonda Designação Abreviatura
espiras (N) (mm) Interior (mm)
Sonda #1 A10 10 1.5
Sonda #2 A20 20 1.8
Absoluta Sonda #3 A25 25 2.0 1,5
Sonda #4 A30 30 2.0
Sonda #5 A40 40 2.3
Sonda #6 D10 10 1.6
Sonda #7 D15 15 2.1
Diferencial Sonda #8 D20 20 2.4 1,5
Sonda #9 D30 30 3.0
Sonda #10 D40 40 3.8

É importante realçar que, no caso das sondas absolutas, houve a preocupação de


manter o comprimento das bobinas o mais curto e constante possível, procurando
aumentar-se a espessura do enrolamento em vez do seu comprimento, razão pela qual
todos os enrolamentos apresentam um comprimento perto dos 2 mm. No caso das
sondas diferenciais, apesar de se ter tentado manter o comprimento tão curto quanto
possível, o facto de os enrolamentos estarem posicionados frente a frente, fez com que
fosse difícil manter um comprimento constante, pelo que este aumentou gradualmente
com o incremento do número de espiras. Para os enrolamentos de ambas as sondas
utilizou-se fio de cobre com uma espessura igual a 150 μm.

55
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

3.3.5 Montagem Experimental

Para a realização dos END por CI utilizou-se a montagem apresentada nas figuras
3.12 e 3.13.

6
3

5
E
2 4
1 B

Figura 3.12 - Montagem experimental para os END. (1) Bloco de fixação dos Instrumentos; (2) Sonda de CI;
(3) Mesa XY; (4) Placa de aquisição de dados DAQ - 5080; (5) Nortec; (6) Software dedicado.
~

4
5
1

3
2

Figura 3.13 - Montagem experimental: (1) Sonda absoluta; (2) Bloco de suporte; (3) Instrumento
de teste; (4) Instrumento de referência; (5) Parafusos de imobilização dos instrumentos.

56
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

Como se pode observar na figura 3.12, as sondas foram acopladas a um perfil


bosh, que, por sua vez foi aparafusado à estrutura da mesa XY. Este equipamento,
previamente desenvolvido no laboratório NOVA END, permite a locomoção
automatizada das sondas, mitigando assim o indesejado efeito de lift-off durante o
varrimento.
Para o suporte e fixação dos instrumentos foi criado um suporte (figura 3.13 (2)),
que, à semelhança dos chassis das sondas, foi projetado em solidworks e impresso em
PLA. Na sua face superior foram adicionados dois parafusos de imobilização (figura 3.13
(5)), de modo a impedir o movimento dos instrumentos durante e entre ensaios, e ainda
dois parafusos para o fixar à mesa XY.
A leitura da impedância das sondas foi efetuada pelo dispositivo Nortec 500D da
Olympus (figura 3.12 (5)). Este é um equipamento comercial desenvolvido para a
realização de END por correntes induzidas, que funciona como gerador de correntes
alternadas e permite leituras em tempo real das impedâncias elétricas das sondas [63].
Este dispositivo é capaz de operar numa gama de frequências entre os 50 Hz e os 12MHz,
e permite ganhos entre 0 e 90 dB, com incrementos de 0.1 dB. Para além disso,
possibilita a variação do plano de impedâncias desde 0° até 360°, com incrementos de
1°.
Os dados adquiridos pelo Nortec foram depois transferidos, através de uma placa
de aquisição de dados DAQ-5080 (figura 3.10(4)), para um programa desenvolvido no
software LabView, cuja interface é apresentada na figura 3.14. Este programa permite
visualizar em tempo real as componentes reais e imaginárias da impedância da sonda e
ainda armazenar esses dados. Além disso, interage com a mesa XY permitindo o
posicionamento da sonda e a definição dos parâmetros de varrimento.

4 6

Figura 3.14 – Interface gráfica do programa de controlo do sistema de CI: (1) Dispositivos de comunicação; (2) Definição do
posicionamento da sonda; (3) Definição dos parâmetros do varrimento; (4) Zona de controlo do ensaio; (5) Notas relevantes
e definição de gravação de dados; (6) Representação gráfica da parte real e imaginária da impedância elétrica da sonda.

57
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

3.3.6 Simulação Numérica

Paralelamente aos ensaios experimentais de CI, foram realizadas simulações


numéricas através do método dos elementos finitos (MEF), com o objetivo de se
poderem comparar os resultados obtidos pelas duas abordagens. Para esse efeito,
recorreu-se ao programa ANSYS Maxwell [64].
Para este estudo comparativo começou-se por se criar um modelo tridimensional
do instrumento HyFlex CM 20/.04, com o mesmo defeito que havia sido imposto
experimentalmente. Para as simulações foi também necessário criar um modelo para as
bobinas cilíndricas. Para facilitar o processo da criação da malha, optou-se pela
aproximação das suas superfícies cilíndricas, exterior e interior, a um poliedro com 50
lados, mantendo-se, no entanto, o mesmo diâmetro de 1.5 mm.
Adicionalmente, dados os recursos computacionais necessários para a realização
de cada simulação, foi decidido que apenas se simularia o varrimento correspondente à
sonda, absoluta e diferencial, que apresentasse melhor capacidade de deteção
experimental de defeitos. Deste modo, os parâmetros que foram introduzidos no
programa relativos ao comprimento da bobina, número de espiras e frequência de
excitação, corresponderam aos mesmos verificados nas sondas onde se obtiveram
melhores resultados laboratoriais.
Na figura 3.15 representa-se o modelo tridimensional do conjunto do instrumento
e bobina que se utilizou na simulação numérica, e na figura 3.16 apresenta-se uma
comparação entre o defeito real e o defeito simulado.

Figura 3.15 - Modelo utilizado na simulação dos ensaios de CI.

58
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

Figura 3.16 - Comparação da geometria e dimensões entre a fissura real e simulada.

Para a construção do gráfico da evolução da impedância com a posição da bobina,


é necessário que o programa realize tantas simulações quanto o número de pontos do
gráfico. Tal como para os ensaios laboratoriais, foi definido que a impedância seria
obtida a cada 0.25 mm, pelo que o varrimento linear completo do instrumento requereu
um total de 64 simulações individuais, às quais se adicionaram mais 20, correspondentes
à inspeção de 5 mm adicionais depois da ponta da limas, de forma a se obter-se a
variação da impedância resultante da transição do material para o ar.
O modelo do material introduzido no programa de análise numérica foi o de uma
liga NiTi com memória de forma, para a qual se consideraram as propriedades que são
apresentados na figura 3.17, baseadas nas informações da tabela 2.1 [17].

Figura 3.17 - Especificação das propriedades físicas do nitinol no ANSYS Maxwell.

A malha de elementos finitos do modelo é constituída por elementos em forma


de tetraedro. No entanto, esta é gerada automaticamente, pelo que o tamanho de cada
elemento é adaptado automaticamente à geometria do modelo. Definiu-se, no entanto,
que o número máximo de elementos de malha seria de 300 000 para o instrumento e
75 000 para a bobina. Na figura 3.18 apresenta-se a malha resultante para o
instrumento.

59
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

Figura 3.18 - Malha utilizada nas simulações numéricas.

A título de exemplo, nas figuras 3.19 e 3.20 são apresentadas imagens do campo
magnético vetorial e da intensidade das correntes induzidas na região defeituosa
obtidas para uma sonda com 30 espiras e sujeita a uma frequência de 5 MHz.

Figura 3.19 - Campo magnético vetorial obtido para uma sonda com N = 30 e f = 5 MHz.

Figura 3.20 - Intensidade das correntes induzidas sobre o defeito, obtidas para uma sonda com
30 espiras e f = 5 MHz.

60
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

3.4 Ensaios de Termografia


3.4.1 Seleção de Equipamento

O maior desafio que se coloca na inspeção dos instrumentos endodônticos através


do método da termografia está, mais uma vez, realacionado com as suas caracteristicas
dimensionais. As suas reduzidas dimensões e, por extensão, as dimensões dos defeitos
de fadiga associados, tornam díficil a sua deteção logo à partida. Idealmente, deveria
ser utilizada uma câmara termográfica com capacidade de ampliação da imagem para
que este obstáculo pudesse ser ultrapassado; no entanto, tal equipamento não se
encontrava disponível em laboratório.
Ainda assim, começou-se por testar duas câmaras termográficas, com o objetivo
de averiguar qual delas permitiria uma maior aproximação ao instrumento em análise,
mantendo uma boa qualidade de imagem. As câmaras testadas foram a Fluke Ti 400 e a
IRS 336, ilustradas na figura 3.21. Na tabela 3.4 apresentam-se as especificações de cada
uma delas.

(a) (b)

Figura 3.21 - Câmara termográficas testadas. (a) Fluke Ti 400; (b) IRS 336.

Tabela 3.3 - Especificações das câmara termográficas fluke Ti 400 [65] e IRS 336 [66].
Fluke Ti 400 IRS 336
Faixa de medição de temperatura -20 a 1200 °C -20 a 400 °C
Tipo de sensor FPA (Focal Plane Array) FPA
Diferença de temperatura equivalente ao ruído 50 mK 30 mK
Espectro de medição 7.5 – 14 μm 7.5 – 13 μm
Precisão ±2°C ±2°C
Resolução espacial (iFOV) 2.62 mRad *
Distância mínima de focagem 15 cm 20 cm
* Dados não encontrados.

61
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

Os ensaios preliminares mostraram que a câmara que permitia obter os


termogramas de melhor qualidade e com maior aproximação ao instrumento era a Fluke
Ti 400, o que corrobora aquilo que é especificado pelos fabricantes, nomeadamente no
campo da distância mínima focal. No entanto este valor, ao contrário do que as
especificações sugerem, não se verificou nos 15 cm mas sim nos 8 cm, pelo que foi esta
a distância que foi considerada para os ensaios. Na figura 3.22 apresentam-se os
termogramas obtidos para a distância mínima focal encontrada laboratorialmemte,
utilizando-se uma régua metálica como amostra.

(a) (b)
Figura 3.22 - Comparação dos valores da distância mínima de focagem obtidos laboratorialmente.
(a) Fluke Ti 400, termograma obtido a 8 cm da amostra; (c) IRS 336, termograma obtido a 20 cm da amostra.

No que respeita ao tratamento dos dados obtidos, utilizou-se o software


SmartView. Este programa permite, entre outras coisas, visualizar e editar os
termogramas frame a frame, selecionar a escala de cores mais adequada, encontrar os
píxeis onde se verifica a maior e menor temperatura e guardar as alterações efetuadas
em ficheiro de imagem ou vídeo. A interface gráfica deste programa computacional é
ilustrada na figura 3.23.

1
4

5
Figura 3.23 - Interface gráfica do programa de edição de imagens térmicas. (1) Escala de cores; (2)
Definição dos marcadores da imagem; (3) Definições de emissividade; (4) Termograma e escala de
temperaturas; (5) Informações do termograma.

62
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

3.4.2 Montagem Experimental

Antes de verifcar a capacidade de deteção de defeitos de fadiga, à semelhança do


que foi feito para os END por CI, começou-se por averiguar se seria possível detetar
defeitos de maiores dimensões. Para esta finalidade, foi utilizado como objeto de teste
o instrumento HyFlex CM, descrito no sub-capítulo 3.3.2, no qual havia sido introduzido
um defeito artificial de 0.4 mm de comprimento e 0.1 mm de profundidade.
Previamente à realização dos ensaios, o instrumento foi pintado de preto,
utilizando uma tinta de spray, de forma a maximizar a sua emissividade.
Na realização dos ensaios experimentais utilizou-se a montagem experimental
representada na figura 3.25. Como se pode observar da figura, e atendendo a que o NiTi
é um material condutor, optou-se por excitar termicamente o instrumento através de
uma corrente elétrica gerada por um fonte de tensão, representada na figura 3.18 com
o número 5.

1
2

Figura 3.24 - Montagem experimental: (1) Câmara termográfica; (2,3) Isolantes de ruído térmico;
(4) Instrumento de teste; (5) Fonte de excitação.

63
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

Os cabos da fonte de tensão foram conectados diretamente ao instrumento,


utilizando-se, para o efeito, grampos elétricos. Uma vez que esta conexão foi realizada
diretamente no material, foi necessário ter o cuidado de não se cobrir o defeito com o
grampo inferior. Além disso, de forma a maximizar o volume de material inspecionado,
este grampo foi conectado, em todos os ensaios, de modo a cobrir não mais do 1 mm
do instrumento, tal como se pode observar na figura 3.25.
Para isolar o ruído térmico criado pelos grampos e pelo ambiente, utilizaram-se
placas de cartão, pelo facto de apresentarem baixos valores de condutividade térmica.
A placa de cartão identificada com o número 2 na imagem 3.24 foi projetada de modo
a criar uma espécie de janela de ensaio, observável na figura 3.25, onde seria possível
inspecionar os instrumentos imedaitamente a partir das pontas dos grampos. Na figura
3.26 apresenta-se um termograma, obtido à temperatura ambiente, do instrumento
endodôntico inspecionado, onde é visível a janela de ensaio criada pela placa de cartão.

Janela de Ensaio
24 mm
15 mm

Defeito
4
1

Figura 3.25 - Janela de ensaio criada pela placa de cartão


(imagem não está à escala).
64
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

Figura 3.26 - Termograma da lima endodôntica inspecionada, obtido à


temperatura ambiente.

65
Capítulo 3 – Metodologias e Procedimentos Experimentais

66
Capítulo 4 – Validação Experimental e Numérica das Sondas de Correntes Induzidas

4. Validação Experimental e Numérica


das Sondas de Correntes Induzidas

4.1 Introdução
Este capítulo é dedicado, exclusivamente, às metodologias desenvolvidas no
âmbito dos ensaios não destrutivos através do método das correntes induzidas, que
foram realizadas paralelamente aos ensaios nos instrumentos endodônticos, com o
intuito de os validar e corroborar.
Em primeiro lugar apresentam-se os processos utilizados na validação das sondas
concebidas para os ensaios e, de seguida, faz-se uma exposição e explicação das
ferramentas e processos utilizados na simulação numérica dos ensaios laboratoriais
realizados.

4.2 Validação Experimental


Os ensaios preliminares não se revelaram capazes de detetar o defeito
introduzido no instrumento HyFlex CM, apresentado no capítulo 3.3.2. Assim, tentou-se
encontrar-se um método de validação das sondas, que permitisse compreender se estas
teriam sido corretamente projetadas e concebidas.
Procurou-se que a validação experimental fosse realizada num objeto tão
semelhante aos instrumentos endodônticos quanto possível, de forma a que se
conseguisse não apenas atestar o bom funcionamento das sondas, mas também para
que se pudessem extrapolar algumas conclusões válidas na comparação dos ensaios
realizados para os dois objetos. Com este intuito optou-se pela utilização de um arame
de NiTi. Atendendo a que o material através do qual tanto o instrumento como o arame
foram produzidos é aproximadamente o mesmo, aquilo que varia é, sobretudo, a
geometria dos dois, já que a do arame é mais homogénea, pelo facto de não apresentar
nem conicidade nem espiras. Outro parâmetro que se variou necessariamente foi o seu
diâmetro. Na região do instrumento onde se introduziu a fissura artificial, a 5 mm da
ponta, o seu diâmetro é igual a 0.4 mm. O arame de NiTi com as dimensões mais
próximas que se conseguiu obter apresentava um diâmetro de 0.6 mm.

Neste arame de nitinol foram introduzidos defeitos artificiais em duas regiões


distintas, tal como apresentado na figura 4.1.

67
Capítulo 4 – Validação Experimental e Numérica das Sondas de Correntes Induzidas

• Numa primeira região, a 15 mm da ponta, realizou-se uma série de


entalhes transversais, espalhados por uma região com 1 mm de comprimento,
com profundidades bastante reduzidas, cerca de 40 μm para a mais profunda. O
objetivo pretendido com esta região defeituosa era simular um defeito
suficientemente comprido para ser considerado um defeito longitudinal, que seria
mais facilmente detetado pelas sondas, de modo a servir como um ponto de
partida na sua validação.

• Numa segunda região, e de maneira semelhante ao instrumento


endodôntico discutido, introduziu-se uma fissura transversal a 5.5 mm da ponta
do arame. Este defeito apresentava uma profundidade aproximadamente igual a
100 μm e uma largura de 0.2 mm. Procurou-se que este defeito fosse menos
severo do que aquele que foi introduzida no instrumento, de modo a perceber-se
se o facto de não ter sido detetada nos ensaios preliminares poderia ou não estar
relacionado com as suas dimensões.

500 μm 500 μm

15 mm

5.5 mm

500 μm 500 μm

Figura 4.1 - Descrição visual da localização e das dimensões dos defeitos introduzidos num
arame de Niti com 0.6 mm de diâmetro.

68
Capítulo 4 – Validação Experimental e Numérica das Sondas de Correntes Induzidas

Para além da validação experimental das sondas, procurou-se ainda encontrar,


para cada sonda, a gama de frequências ótima, que permitisse a deteção de defeitos
com uma boa relação sinal/ruído. Por essa razão, a frequência de excitação foi um dos
parâmetros que se variou nos ensaios, tendo-se começado com a frequência mínima
que permitiu a deteção dos defeitos, e terminando, com incrementos progressivos de
0.5 MHz, na frequência máxima capaz de permitir idêntica deteção.
Para todas as sondas foram utilizados os mesmos parâmetros de varrimento,
esquematizados na figura 4.2. As sondas iniciaram o varrimento a 22 mm da ponta do
arame e terminaram depois de percorridos 5 mm de vazio, de maneira a obter-se um
sinal claro do efeito de bordo e da variação da impedância entre o arame e o ar.

𝑣⃗
i f
1° Defeito 2° Defeito

5.5 mm 5 mm
15 mm

27 mm

Figura 4.2 - Representação esquemática dos parâmetros de varrimento utilizados nos ensaios
experimentais do arame de NiTi (imagem não está à escala).

4.2.1 Resultados dos Ensaios Utilizando as Sondas Absolutas

Todas as sondas foram testadas de acordo com os mesmos parâmetros,


apresentados na tabela 4.1.

Tabela 4.1 – Sumário dos parâmetros dos ensaios experimentais para as sondas absolutas.
Número de espiras 10, 20, 25, 30 e 40
Tipo de defeito Descritos na figura 4.1
Parâmetros Variáveis
1 – 7 MHz
Frequência de excitação
(incrementos de 0.5 MHz)
Ganho 70 dB
Comprimento de varrimento 27 mm
Frequência de aquisição de dados
Parâmetros Fixos A cada 0.25 mm
(𝑋𝑆𝐶𝐴𝑁 )
Número total de pontos obtidos 109
Velocidade de varrimento 1.2 mm/s

69
Capítulo 4 – Validação Experimental e Numérica das Sondas de Correntes Induzidas

Apesar de se terem realizado ensaios para diversas frequências de excitação, nos


gráficos que a seguir se apresentam estão representadas, para cada sonda, apenas as
três frequências para as quais se obtiveram melhores resultados no que respeita à
relação sinal/ruído.
É também importante referir que apenas se apresenta a componente real da
impedância. Isto foi devido ao facto de, no pós-processamento dos resultados se ter
variado o ângulo da impedância, de modo a que a componente imaginária
permanecesse constante. Desta forma, toda a informação gráfica é representada num
só eixo, neste caso o real.
Nas figuras 4.3 a 4.7 apresentam-se os resultados obtidos para as sondas SA10,
SA20, SA25, SA30 e SA40 respetivamente. Para cada gráfico apresenta-se também uma
representação à escala das bobinas utilizadas em cada sonda.

1 mm 0.25 mm

N = 10

1.5

4 MHz
SA10
1.3
4.5 MHz

1.1 5 MHz

0.9
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

0.7

0.5

0.3

0.1

-0.1
𝑋 [mm]

Figura 4.3 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SA10 para f = 4, 4.5 e 5 MHz.

70
Capítulo 4 – Validação Experimental e Numérica das Sondas de Correntes Induzidas

1 mm 0.25 mm

N = 20

2
SA20
1.8 3 MHz

1.6 3.5 MHz

1.4 4 MHz

1.2
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

0.8

0.6

0.4

0.2

-0.2
𝑋 [mm]

Figura 4.4 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SA20 para f = 3, 3.5 e 4 MHz.

1 mm 0.25 mm

N = 25

2.5

3 MHz SA25
4 MHz
2

5 MHz

1.5
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

0.5

𝑋 [mm]
-0.5

Figura 4.5 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SA25 para f = 3, 4 e 5 MHz.
71
Capítulo 4 – Validação Experimental e Numérica das Sondas de Correntes Induzidas

1 mm 0.25 mm

N = 30

3 MHz
SA30
2.5
4 MHz

5 MHz
2

1.5
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

0.5

𝑋 [𝑚𝑚]
-0.5

Figura 4.6 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SA30 para f = 3, 4 e 5 MHz.

1 mm 0.25 mm

N = 40

0.8

4.5 MHz
SA40
5 MHz
0.6
5.5 MHz

0.4
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

0.2

𝑋 [mm]
-0.2

Figura 4.7 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SA40 para f = 4.5, 5 e 5.5 MHz.
72
Capítulo 4 – Validação Experimental e Numérica das Sondas de Correntes Induzidas

4.2.2 Discussão dos Resultados

Desde logo, observa-se que todas as sondas permitiram detetar os dois defeitos
através de uma variação absoluta do sinal da impedância, tal como pretendido, o que
permite concluir que todas elas foram corretamente concebidas. Verificou-se também
que, para todas as sondas, as frequências que permitiram uma melhor deteção dos
defeitos se situam numa faixa entre os 3 e os 5 MHz, valores relativamente altos, o que
já era esperado dada a baixa condutividade elétrica do NiTi e a superficialidade dos
defeitos.
Além disso, verificou-se que a sonda que permitiu detetar mais facilmente os
defeitos foi a de 30 espiras (figura 4.6), facto comprovado, quer pela amplitude dos picos
de impedância, quer pelo baixo nível de ruído apresentado. Em sentido inverso, a sonda
SA40 (figura 4.7) foi a que apresentou maiores perturbações devido ao ruído, o que
poderá estar relacionado com a pequena variação de amplitude do sinal de impedância
nos defeitos. Por sua vez, a sonda SA25 (figura 4.5), que havia sido concebida para se
verificar se o número ótimo de enrolamentos se encontrava entre os 30 e os 20,
apresentou uma relação sinal/ruído pior do que as outras duas, facto que não era
esperado. Efetivamente, para esta sonda, só para uma frequência igual a 4 MHz é que
ambos os defeitos foram claramente detetáveis.
Em todas as sondas foi possível assinalar distintamente a saída do arame devido
à grande perturbação do sinal causada pelo efeito de bordo. Esta perturbação
apresentou sempre uma ordem de grandeza superior às irregularidades causadas pelos
defeitos, razão pela qual em algumas das sondas, nomeadamente a SA25 e a SA40, não
se conseguiu incluir na escala do gráfico.
Nas sondas SA10, SA20 e SA25 (figuras 4.3 a 4.5) conseguiu-se ainda observar o
efeito lift-off para algumas frequências, que neste caso particular é caracterizado por
um afastamento do sinal em relação ao eixo. Este efeito deve-se, sobretudo, à
dificuldade em se manterem os arames completamente centrados nas bobinas durante
todo o varrimento, bastando, por vezes, apenas um desvio de poucas centésimas de
milímetro do arame teste ou do arame de referência para se descentralizar o sinal.
Da análise da largura dos picos de impedância foi, também, possível estabelecer
uma relação de proporcionalidade direta entre esta e os comprimentos dos defeitos e
das bobinas. Como se esperava, em todos os gráficos o primeiro pico é sempre mais
largo do que o segundo e à medida que se acrescentam espiras às bobinas ambos vão
ficando igualmente mais largos. Esta relação de proporcionalidade não se verificou para
a profundidade dos defeitos, uma vez que o pico com maior amplitude nem sempre foi
o que correspondeu à fissura mais profunda.

73
Capítulo 4 – Validação Experimental e Numérica das Sondas de Correntes Induzidas

4.2.3 Resultados dos Ensaios Utilizando as Sondas Diferenciais

Para os ensaios das sondas diferenciais utilizaram-se os parâmetros listados na


tabela 4.2.

Tabela 4.2 - Sumário dos parâmetros dos ensaios experimentais para as sondas diferenciais.
Número de espiras 10, 15, 20, 30 e 40
Tipo de defeito Descritos na figura 4.1
Parâmetros Variáveis
2 – 9 MHz
Frequência de excitação
(incrementos de 0.5 MHz)
Ganho 70 dB
Comprimento de varrimento 27 mm
Frequência de adquisição de dados
Parâmetros Fixos A cada 0.25 mm
(𝑋𝑆𝐶𝐴𝑁 )
Número total de pontos obtidos 108
Velocidade de varrimento 1.2 mm/s

À semelhança dos resultados das sondas absolutas, nas sondas diferenciais


também se apresenta a componente real da gama de frequências para as quais se
obtiveram melhores resultados. Mais uma vez, são representadas as bobinas diferencias
de cada sonda. Assim, nas figuras 4.8 a 4.12 apresentam-se os resultados obtidos para
as sondas SD10, SD15, SD20, SD30 e SD40 respetivamente.

1 mm 0.25 mm

N = 10 + 10

4
7.5 MHz SD10

3 8 MHz

8.5 MHz
2

1
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

𝑋 [mm]
0

-1

-2

-3
Figura 4.8 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SD10 para f = 7.5, 8 e 8.5 MHz.
74
Capítulo 4 – Validação Experimental e Numérica das Sondas de Correntes Induzidas

1 mm 0.25 mm

N = 15 + 15

7
7.5 MHz SD15
8 MHz
5
8.5 MHz

1 𝑋 [mm]
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

-1

-3

-5

-7

Figura 4.9 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SD15 para f = 7.5, 8 e 8.5 MHz.

1 mm 0.25 mm

N = 20 + 20

6
6.5 MHz SD20
7 MHz
4
7.5 MHz

𝑋 [mm]
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

-2

-4

-6

Figura 4.10 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SD20 para f = 6.5, 7 e 7.5 MHz.

75
Capítulo 4 – Validação Experimental e Numérica das Sondas de Correntes Induzidas

1 mm 0.25 mm

N = 30 + 30

4
7 MHz SD30
7.5 MHz
3
8 MHz

2
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

𝑋 [mm]
0

-1

-2

-3

Figura 4.11 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SD30 para f = 7, 7.5 e 8 MHz.

1 mm 0.25 mm

N = 40 + 40

9
7.5 MHz SD40
7 8 MHz

8.5 MHz

3
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

1 𝑋 [mm]

-1

-3

-5

-7

Figura 4.12 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SD10 para f = 7.5, 8 e 8.5 MHz.

76
Capítulo 4 – Validação Experimental e Numérica das Sondas de Correntes Induzidas

4.2.4 Discussão dos Resultados

Mais uma vez, todas as sondas permitiram detetar os defeitos com elevado grau
de clareza, apresentando, inclusive, boas relações sinal/ruído, excetuando a primeira,
SD10 (figura 4.8), cujo sinal foi ligeiramente mais contaminado pelo ruído. A gama de
frequências ótima, apresentada nos gráficos, situou-se entre os 7 e os 8.5 MHz, embora
a partir dos 3 MHz quase todas permitiram detetar ambos os defeitos.
Apesar de nas sondas SD30 e SD40 (figuras 4.7 e 4.8) se verificar uma grande
amplitude de picos associada a uma excelente relação sinal/ruído, o facto de o
comprimento total das bobinas ser elevado (3.0 e 3.8 mm respetivamente), faz com que
a largura dos picos também o seja, e, uma vez que o 2° defeito se encontra muito perto
da ponta do arame, leva a que o final do sinal do último pico seja imediatamente
distorcido pelo efeito de bordo. É, portanto, vantajoso que o comprimento das bobinas
em série seja tão curto quanto possível. Esta foi a razão pela qual a sonda extra que se
construiu apresentasse apenas 15 espiras (figura 4.9), perfazendo um comprimento
total de apenas 2.1 mm.
O efeito lift-off foi observado sobretudo nas sondas SD20 e SD40, através de um
afastamento progressivo do sinal do ponto equilíbrio. O efeito de bordo esteve também
presente em todos os ensaios, sendo evidente na variação súbita do sinal de impedância
junto à ponta do arame, o qual, depois de um salto considerável, estabilizava. A causa
desta estabilização súbita da impedância é devida à saturação do sinal. Na verdade, para
o ganho estabelecido, a transição do material para o ar causa uma variação tão elevada
da impedância que resulta na sua saturação. Optou-se, no entanto, por não se reduzir o
ganho, uma vez que o objetivo principal destes ensaios preliminares era a validação das
sondas através da deteção dos defeitos, sendo que, com o ganho estabelecido, igual a
70 dB, a perturbação do sinal causada pelos defeitos revelou-se facilmente observável.
Comparando os resultados obtidos para os dois tipos de sondas, absoluta e
diferencial, verifica-se aquilo que já se esperava: as sondas diferencias apresentam
melhor capacidade de deteção, constatável quer na amplitude dos picos
correspondentes a cada defeito, quer na relação sinal/ruído. Isto acontece pois, na
utilização de sondas diferenciais, estão a ser inspecionadas e subtraídas secções
adjacentes do material e, além disso, o facto de as espiras estarem enroladas em
sentidos opostos leva a uma grande variação do sinal na transição das bobinas numa
zona defeituosa.

77
Capítulo 4 – Validação Experimental e Numérica das Sondas de Correntes Induzidas

4.3 Validação Numérica


Tal como foi feito para os instrumentos endodônticos, os resultados
experimentais realizados no arame de NiTi foram simulados numericamente pelo MEF.
Com essa finalidade, foi criado um modelo tridimensional do arame, onde se incluiu uma
aproximação dos defeitos inspecionados experimentalmente (figura 4.13). As
propriedades físicas inseridas no programa foram as mesmas apresentadas no sub-
capítulo 3.3.6.

500 μm 500 μm

Figura 4.13 - Comparação entre os defeitos reais e aproximados na simulação.

Os parâmetros da simulação da inspeção foram exatamente os mesmos


utilizados laboratorialmente, onde se realizou um varrimento sobre 22 mm de material
e se terminou a uma distância de 5 mm da ponta, com uma aquisição dos valores da
impedância a cada 0.25 mm. Na figura 4.14 apresenta-se a o modelo tridimensional
utilizado na simulação, no qual a bobina se encontra na posição inicial de inspeção.

Figura 4.14 - Modelo tridimensional utilizado na simulação.

78
Capítulo 4 – Validação Experimental e Numérica das Sondas de Correntes Induzidas

Relativamente aos parâmetros dimensionais e de excitação da bobina, foram


replicados na simulação numérica aqueles que apresentaram os melhores resultados
experimentais, quer para a sonda diferencial, quer para a sonda absoluta. Para facilitar
a explicação da escolha desses parâmetros apresentam-se, nos gráficos das figuras 4.15
e 4.16, a comparação entre os sinais que se obtiveram com as frequências de excitação
que produziram melhores resultados paras as sondas absolutas e diferenciais
respetivamente.

1° Defeito 2° Defeito
3.5
SA10 - 5 MHz

3 SA20 - 4 MHz

SA25 - 4 MHz
2.5
SA30 - 5 MHz

SA40 - 4.5 MHz


2
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

1.5

0.5

-0.5
𝑋 [mm]

Figura 4.15 - Comparação dos gráficos de impedância de todas as sondas absolutas, para as frequências
com as quais se obtiveram melhores resultados.

1° Defeito 2° Defeito

7
SD10 - 8 MHz

SD15 - 8 MHz

5 SD20 - 7 MHz

SD30 - 7 MHz

SD40 - 8 MHz
3
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

1
𝑋 [mm]

-1

-3

-5

Figura 4.16 - Comparação dos gráficos de impedância de todas as sondas diferenciais, para as frequências
com as quais se obtiveram melhores resultados.

79
Capítulo 4 – Validação Experimental e Numérica das Sondas de Correntes Induzidas

Da análise gráfica da comparação dos resultados experimentais das várias sondas


absolutas, facilmente se verifica que foi com a sonda com 30 espiras (SA30), a uma
frequência de 5 MHz, que se conseguiram os melhores resultados no que se refere à
amplitude de pico e à relação sinal/ruído. Assim, foram estes os parâmetros utilizados
na simulação. Também se modelou a bobina da simulação numérica com o mesmo
comprimento das da SA30, ou seja, com 2 mm.
Na figura 4.17 são apresentados os resultados obtidos através da simulação
numérica em comparação com os que foram obtidos experimentalmente.

N = 30
1° Defeito 2° Defeito
4

Simulação Numérica
3.5
Ensaio Experimental

2.5

2
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

1.5

0.5

-0.5
𝑋 [mm]

Figura 4.17 - Gráfico de impedância obtido na simulação numérica obtida para uma bobina com 30 espiras,
Como se pode 2 mm de comprimento e excitada com uma f = 5 MHz.
observar

80
Capítulo 4 – Validação Experimental e Numérica das Sondas de Correntes Induzidas

Para a simulação das sondas diferenciais foi mais difícil selecionar os parâmetros
ideais das bobinas, uma vez que, tal como é observável na figura 4.16, todas as sondas
apresentaram boa capacidade de deteção dos defeitos em estudo. Optou-se, no
entanto, por simular a sonda SD15, uma vez que esta se revelou ser muito sensível,
pouco afetada pelo ruído e com um comprimento de bobinas bastante curto (2.1 mm).
Os resultados numéricos obtidos para esta sonda são apresentados na figura 4.18.

N = 15 + 15
1° Defeito 2° Defeito
6
Simulação Numérica

Ensaio Experimental
4

𝑋 [mm]
0
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

-2

-4

-6

Figura 4.18 - Gráfico de impedância obtido através da simulação numérica de uma bobina com
15 espiras, 2.1 mm de comprimento e excitada com uma f = 8 MHz.

Da análise gráfica, constata-se que na simulação numérica os dois defeitos foram


detetados tanto pelas sondas absolutas como pelas diferenciais, embora o sinal tenha
sido bastante contaminado pelo ruído em ambos os casos. Contrariamente ao que se
verificou experimentalmente, na simulação da sonda absoluta, os picos referentes aos
dois defeitos revelaram-se mais pronunciados do que aqueles que os que se verificaram
na simulação da sonda diferencial. De facto, nesta última, a amplitude do ruído é
bastante próxima da amplitude dos picos relativos aos defeitos, embora, por ser um
sinal diferencial e, desse modo, composto por um pico positivo imediatamente seguido
de um negativo, se consigam diferenciar.
Estes resultados numéricos revelaram-se aproximadamente iguais aos que se
obtiveram laboratorialmente, permitindo, dessa forma, validar e corroborar os
procedimentos laboratoriais utilizados.

81
Capítulo 4 – Validação Experimental e Numérica das Sondas de Correntes Induzidas

82
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

5. Apresentação e Discussão dos


Resultados Experimentais

5.1 Introdução
Neste capítulo são apresentados os resultados experimentais dos ensaios de
fadiga por flexão rotativa realizados nas limas rotativas HyFlex EDM, de dois tamanhos
diferentes, bem com dos ensaios não destrutivos por termografia e correntes induzidas
realizados nas limas HyFlex CM 20/.04, utilizando as condições laboratoriais descritas no
capítulo 3. Adicionalmente é apresentada uma discussão pormenorizada dos resultados
de cada um desses ensaios.
À semelhança dos capítulos anteriores, começa-se pela apresentação dos
resultados dos ensaios de fadiga, assim como com a análise fratográfica das superfícies
de fratura daí resultantes.
De seguida apresentam-se e discutem-se os resultados dos ensaios não
destrutivos, começando pelos ensaios de correntes induzidas e das respetivas
simulações numéricas, terminando o capítulo com os resultados dos ensaios de
termografia.

83
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

5.2 Ensaios de Fadiga por Flexão Rotativa


5.2.1 Resultados dos Ensaios

Como referido no sub-capítulo 3.2, fez-se um estudo experimental da resistência


mecânica à fadiga cíclica das limas rotativas HyFlex EDM Glidepath 10/.05 e HyFlex EDM
OneFile 25/~, com o objetivo de se compararem os resultados obtidos com aqueles que
foram verificados para as limas HyFlex CM 20/.04. Estas últimas foram avaliadas num
estudo realizado por P. Santos et al. [67], no qual se utilizaram as mesmas condições de
teste que aquelas que foram utilizadas neste estudo, nomeadamente, no que diz
respeito ao raio e ângulo de curvatura, igual 4,7 mm e 45° respetivamente.
Deste modo, os instrumentos endodônticos foram divididos em 3 grupos, tendo
sido testados à temperatura ambiente (≈20°C), de acordo com os valores máximos
estabelecidos pelos fabricantes no que concerne à velocidade de rotação e ao binário
aplicado pelo micromotor.
• Grupo A – 3 limas EDM Glidepath 10/.05, testadas a uma velocidade de
rotação igual a 300 rpm. O binário aplicado foi de 1.8 N.cm;
• Grupo B – 3 limas EDM OneFile 25/~, testadas a 400 rpm e 2.5 N.cm;
• Grupo C – composto pelas 2 limas CM 20/.04, estudadas por P. Santos et
al. em [67], tendo sido sujeitas a 500 rpm e 2.5 N.cm.

Na tabela 5.1 são apresentadas as durações dos ensaios de cada instrumento, o


número de ciclos à fadiga e as respetivas médias e desvios padrões, DP. O grupo C,
apesar de não ter sido testado nesta dissertação, é apresentado para efeitos
comparativos. O número de ciclos à fadiga foi calculado, multiplicando a duração de
ensaio, em minutos, pela velocidade de rotação imposta aos instrumentos, em rpm.
Quanto maior for o número de ciclos mais resistente à fadiga é o instrumento.

Tabela 5.1 - Resultados experimentais da resistência mecânica à fadiga para os 3 grupos de instrumentos.
Duração
𝜔 Binário Designação do Duração do NCF Médio
Grupo NCF média do
[rpm] [N.cm] Instrumento ensaio [s] ± DP
ensaio ± DP [S]
EDM Glidepath_1 207,0 1035
A 300 1.8 EDM Glidepath_2 258,6 1293 281,4 ± 88 1407 ± 440
EDM Glidepath_3 378,6 1893
EDM OneFile_1 427,2 2848
B 400 2.5 EDM OneFile_2 694,2 4628 556 ± 133,7 3707 ± 891
EDM OneFile_3 546,6 3644
CM_1 432,5 3600
C* 500 2.5 407 ± 36.1 3388 ± 300
CM_2 381,5 3175

* Dados retirados de [67]


84
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

Verificou-se que o grupo para o qual a duração média de ensaio foi maior
correspondeu ao grupo B, composto pelas limas OneFile, seguido pelos grupos C e A,
respetivamente. No entanto, para alguns casos pontuais esta tendência não se verificou,
por exemplo, a duração do ensaio do instrumento EDM OneFile_1 (427,2 s) foi inferior
à do instrumento CM_1 (432,5 s) e a duração da lima CM_2 (281,5 s) foi
aproximadamente igual à da lima EDM Glidepath_1 (378,6 s).
O valor médio dos vários NCF seguiu esta tendência, tendo-se revelado superior
para o grupo B, seguido pelo grupo C e, finalmente, a alguma distância dos restantes,
pelo grupo A. Através de uma análise individual dos valores do NCF para os vários
instrumentos, constata-se que os que apresentaram um menor valor foram, mais uma
vez com alguma distância, os do grupo A. O instrumento a que correspondeu o maior
NCF foi o EDM OneFile_2, enquanto que os EDM OneFile_1 e _3 e CM_1 e _2
apresentaram valores no mesmo intervalo (2800 – 3600)

Na tabela 5.2 são apresentadas as dimensões dos fragmentos resultantes dos


ensaios experimentais de cada instrumento e, a título de exemplo, na figura 5.1 são
ilustrado os fragmentos dos instrumentos EDM OneFile.

Tabela 5.2 - Comprimento do fragmento de cada instrumento.


Comprimento da
Designação do
Grupo ponta fraturada
Instrumento
[mm]
EDM Glidepath_1 4.6
A EDM Glidepath_2 4.2
EDM Glidepath_3 4.3
EDM OneFile_1 6.2
B EDM OneFile_2 4.5
EDM OneFile_3 5.6

Figura 5.1 - Fragmentos dos instrumentos EDM OneFile.

85
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

5.2.1 Análise da Superfície de Fratura

A análise fratográfica é uma técnica bastante utilizada na avaliação dos


mecanismos de fratura. Com um microscópio eletrónico Leica DMI 5000 M e um
microscópio ótico Olympus TH3, analisou-se a superfície de fratura das limas testadas,
com o objetivo de se identificar a origem e a direção da propagação da fissura que levou
à sua rotura. Verificou-se que todas as limas fraturaram devido à propagação de fissuras
de fadiga, segundo processos semelhantes, pelo que, em seguida, apresentam-se
apenas as secções transversais e laterais das superfícies de fratura da lima OneFile_2
(figura 5.2) e da lima Glidepath_1 (figura 5.3), que se considerou serem as que melhor
ilustram o processo de fratura de entre todas de cada grupo.

a) OneFile_2

(b)

A A

500 μm

(c)

B
200 μm
(a) B

500 μm

Figura 5.2 - Superfície de fratura da lima OneFile_2. (a) Vista de cima; (b) Vista lateral (face A); (c) Vista lateral (face B).

86
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

b) Glidepath_1
(b)

500 μm

B
A (c)

B
200 μm

(a)
500 μm

Figura 5.3 - Superfície de fratura da lima Glidepath_1. (a) Vista de cima; (b) Vista lateral (face A); (c) Vista lateral (face B).

Neste estudo, em todas as limas registaram-se padrões indicativos de uma rotura


causada pela propagação de uma fissura de fadiga, tal como era esperado. Da análise
das superficies de fratura conseguiram observar-se duas regiões distintas,
correspondentes à nucleação e propagação da fratura e, finalmente, à fratura
catastrófica.
A nucleação das fissuras, registou-se ao longo de uma direção perpendicular ao
eixo longitudinal do instrumento e verificou-se sempre numa aresta de corte, tanto nas
limas OneFile como nas Glidepath, o que é natural, tendo em conta que é onde existe
uma maior concentração de tensões durante um ensaio. Com a aplicação de ciclos de
carga sucessivos ocorreu a propagação da fissura, de forma lenta, gradual e
maioritariamente em Modo I, perceptível pela existência de uma região relativamente
uniforme adjacente ao local de nucleação da fissura [33] e observável, no caso da figura
5.2 (a), pela presença de estrias de fadiga desde a periferia do instrumento até ao
centro da secção. A propagação ocorreu numa secção transversal praticamente planar,
o que revela a reduzida influência das cargas de torção [68]. As áreas sulcadas e pouco
uniformes na região oposta ao local de nucleação e propagção da fissura indicam que
uma sobrecarga causou uma rápida propagação da fenda durante o estágio final da
fratura, correspondente ao estágio da fratura dútil [69].

87
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

5.2.2 Discussão dos Resultados

Em primeiro lugar, a análise dos dados obtidos permitiu concluir que os


instrumentos HyFlex EDM Glidepath apresentam uma resistência mecânica à fadiga
bastante inferior aos outros dois tipos de instrumentos (98% menor que os OneFile e
44% menor que os CM. O facto de a sua função ser apenas de limpeza e remoção de
tecido leva a que não estejam sujeitos à mesma intensidade de esforços que os OneFile
e CM, cuja função é alargar e enformar os canais radiculares. Deste modo, é provável
que o arame de NiTi, através do qual se produziram as limas Glidepath não tenha sofrido
os mesmos tratamentos térmicos utilizados nos arames com os quais se fabricaram as
limas OneFile e CM.
Comparando-se o NCF dos instrumentos HyFlex EDM e HyFlex CM, verificou-se
que os primeiros apresentam uma resistência à fadiga cíclica 9% superior
comparativamente aos CM. Alguns estudos [33, 34, 70] referem que os instrumentos
HyFlex EDM e HyFlex CM são produzidos a partir do mesmo arame de nitinol, o que
significaria que as variações do comportamento mecânico entre os dois estariam apenas
relacionadas com o processo de fabrico a que cada um foi submetido e o consequente
acabamento superficial. No entanto, num estudo realizado por Iacono et al [71]
verificaram-se diferenças estruturais entre os dois instrumentos, que podem ajudar a
explicar as diferenças na resistência à fadiga de ambos. Através da técnica DSC,
verificou-se que, para as limas CM, a temperatura a que a austenite se começa a formar
(𝐴𝑠 ) é aproximadamente 23°C, apresentando uma estrutura completamente austenítica
(𝐴𝑓 ) quando a temperatura atinge os 35°C. Já Shen et al. [72] obteve valores semelhante
para 𝐴𝑠 (21°C), no entanto notou que 𝐴𝑓 se situava nos 50°C. No caso das limas EDM
verificou-se que 𝐴𝑠 se situa nos 43°C e 𝐴𝑓 nos 54°C. Quer isto dizer que à temperatura
ambiente e corporal as limas CM são constituídas por uma mistura de martensite e
austenite, enquanto que as limas EDM são constituídas por martensite. Adicionalmente,
uma análise cristalográfica por raios X revelou que nas limas EDM, durante a fase
martensítica, para além da martensite, existem grandes quantidades de fase-R [71], pelo
que é provável que durante o processo de produção das limas se tenham realizado
tratamentos térmicos, com o objetivo de induzir a formação desta estrutura
cristalográfica.
A fase-R é usual em arames de NiTi sujeitos a tratamentos termomecânicos e,
como analisado em §2.3.7, a sua estrutura ortorrômbica apresenta menor módulo de
elasticidade, pelo que a sua presença às temperaturas corporais, embora diminua a
quantidade de deformação recuperável quando comparado com as ligas martensíticas-
austeníticas convencionais [30], confere aos instrumentos uma grande resistência à
fadiga mecânica [31, 73].
Estas desigualdades estruturais explicam as diferenças nas propriedades e no
comportamento mecânico das ligas de nitinol, que estão na base dos dois instrumentos.
No entanto, os resultados obtidos para as temperaturas de transição encontrados por
Iacono et al [71] e Shen et al. [72], nas quais se baseiam as hipóteses apresentadas,
estão em desacordo com vários outros estudos que referem que os arames de NiTi
utilizados na fabricação das limas CM foram sujeitos a tratamentos térmicos com o

88
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

objetivo de estabilizar a martensite à temperatura corporal e, adicionalmente, que as


limas EDM são maquinadas a partir desse mesmo arame. Deste modo, é igualmente
necessário analisar o potencial impacto que o processo de maquinação desempenha nas
diferenças verificadas para o NCF.
O acabamento superficial está muito relacionado com o processo de iniciação de
fissura, e sabe-se que uma maior rugosidade superficial pode tornar o material mais
suscetível à fratura, atuando como pontos de acumulação de tensões [33]. Como é
possível observar nas figuras 5.2 a 5.4, e com maior amplificação na figura 2.8, a
superfície das limas EDM é marcada pela presença de picadas irregulares, o que à
partida seria contraprodutivo quando se pretende aumentar a sua resistência à fadiga.
No entanto, esta ausência de simetrias pode ser vantajosa quando existe uma aplicação
de cargas multidirecional, como acontece durante um procedimento endodôntico.
Comparativamente, o processo de maquinação dos instrumentos CM levou a um
acabamento superficial bastante mais regular, mas com presença de estrias transversais
verificadas ao longo de toda a superfície lateral da lima e observáveis na figura 2.9. Tal
como verificado por R. F. Martins et al. [35] e G. Loios et al. [68], estas estrias de
maquinação representam pontos de acumulação de tensões e, por extensão, de
iniciação das fissuras, tendo-se verificado, inclusivamente, que a fratura deste tipo de
limas ocorre sempre ao longo do plano de uma destes riscos de maquinação. É, desta
forma, plausível que estas diferenças no acabamento superficial sejam responsáveis
pelas variações verificadas para o NCF entre os instrumentos CM e EDM.
Do estudo laboratorial realizado é igualmente necessário realçar o elevado desvio
padrão do NCF médio, verificado para o grupo B (880), causado pela grande variação
dos NCF dos vários instrumentos deste grupo. Este valor é agravado pelo baixo número
de amostras, pelo que teria sido vantajoso ensaiar um número maior de limas, de forma
a conseguir obter-se um valor mais exato do NCF médio dos instrumentos HyFlex
OneFile.
Da análise à tabela 5.2, foi possível verificar que todos os instrumentos
fraturaram na secção de máxima flexão, correspondente à região apical do canal
radicular, considerada como crítica, à exceção da lima EDM OneFile_1, que fraturou um
pouco mais acima (a 6.2 mm da ponta), na transição com a região coronal.
Adicionalmente, foi para este instrumento que, de entre o grupo, se verificou um menor
NCF, uma vez que a extensão induzida é diretamente proporcional ao diâmetro
equivalente da superfície de fratura. Desta forma, é possível que este instrumento não
estivesse bem colocado na montagem, o que indicaria que, a acontecer, o NCF para os
instrumentos EDM OneFile é maior do que aquele que se obteve.

89
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

5.3 Ensaios de Correntes Induzidas


Depois de validadas as sondas, realizaram-se os ensaios experimentais no
instrumento HyFlex CM 20/.04, no qual se havia introduzido o defeito artificial descrito
no sub-capítulo 3.3.2. No entanto, optou-se por utilizar apenas as três sondas com as
quais se conseguiu uma melhor deteção dos defeitos no arame de NiTi. No caso das
sondas absolutas, testaram-se as sondas SA10, SA20 e SA30, e, no caso das diferenciais,
as sondas SD15, SD30 e SD40.
Em todas foram utilizados os mesmos parâmetros de varrimento, esquematizados
na figura 5.4. Fez-se um varrimento de toda a zona ativa do instrumento, num total de
16 mm, e ainda dos 5 mm imediatamente a seguir à sua ponta, da mesma maneira que
o que foi feito nos ensaios do arame de NiTi.

i 𝑣⃗ f
Defeito

5 mm 5 mm

21 mm

Figura 5.4 - Representação esquemática dos parâmetros de varrimento utilizados nos ensaios
experimentais na lima endodôntica defeituosa (imagem não está à escala).

5.3.1 Resultados para Sondas Absolutas

Na tabela 5.3 apresentam-se os parâmetros que se variaram e os que se fixaram


na realização dos ensaios, e nas figuras 5.5 a 5.7 os gráficos das 3 sondas absolutas
testadas. É importante realçar que se fizeram ensaios para todas as frequências de
excitação apresentadas na tabela 5.3, sendo que, no entanto, nos gráficos apenas se
apresentam as frequências, de número inteiro, da gama ótima encontrada na validação
das sondas. Verificou-se que esta gama ótima de frequências se encontrava entre os 3
e os 5 MHz, pelo que nos gráficos se comparam os sinais obtidos para os 3, 4 e 5 MHz.
Mais uma vez apresenta-se apenas a componente real da impedância.

Tabela 5.3 - Parâmetros utilizados nos ensaios experimentais nos quais se utilizaram as sondas absolutas.
Número de espiras 10, 20 e 30
Parâmetros Variáveis 1 – 7 MHz
Frequência de excitação
(incrementos de 0.5 MHz)
Tipo de defeito Descrito na figura 3.9
Ganho 60 dB
Comprimento de varrimento 21 mm
Parâmetros Fixos Frequência de adquisição de dados
A cada 0.25 mm
(𝑋𝑆𝐶𝐴𝑁 )
Número total de pontos obtidos 64
Velocidade de varrimento 1.2 mm/s

90
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

N = 10

𝑋 [mm]
0

-0.5

-1

-1.5
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

-2

-2.5
3 MHz

-3 4 MHz

5 MHz
-3.5

Figura 5.5 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SA10 para f = 3, 4 e 5 MHz.

N = 20

𝑋 [mm]
0

-0.5

-1

-1.5
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

-2

-2.5

-3 3 MHz

4 MHz
-3.5
5 MHz
-4

Figura 5.6 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SA20 para f = 3, 4 e 5 MHz.

91
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

N = 30

𝑋 [mm]
0

-0.5

-1

-1.5

-2
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

-2.5

-3

-3.5

3 MHz
-4
4 MHz
-4.5
5 MHz

-5

Figura 5.7 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SA30 para f = 3, 4 e 5 MHz.

Não se verificou nenhuma variação significativa no sinal da impedância na região


do defeito em nenhuma das sondas utilizadas e para nenhuma frequência de excitação.
Observou-se um decaimento progressivo da impedância à medida que a sonda foi
percorrendo o comprimento da lima. Este decaimento aumentou de intensidade com o
aumento da frequência de excitação. Adicionalmente, não se verificou nenhuma
variação do sinal na transição do material para o ar.
Dos resultados obtidos foi possível observar que a sonda SA30 foi a que
apresentou melhor relação sinal\ruído, à semelhança do que se tinha constatado na
validação experimental. Deste modo, optou-se por reproduzir esta sonda na simulação
numérica. A frequência que se utilizou na simulação foi 5 MHz, correspondente à
frequência com a qual se obtiveram melhores resultados na inspeção do arame e onde
se verificou uma variação mais acentuada do valor da impedância na inspeção da lima
endodôntica.
O gráfico da simulação numérica é apresentado na figura 5.8.

92
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

N = 30
Defeito

𝑋 [mm]
0

-0.5

-1 Ensaio Experimental

-1.5 Simulação Numérica


Re (𝑍⃗ ) [Ω]

-2

-2.5

-3

-3.5

-4

-4.5

-5

Figura 5.8 - Gráfico de impedância obtido na simulação numérica obtida para uma bobina com 30 espiras, 2
mm de comprimento e excitada com uma f = 5 MHz.

O gráfico obtido numericamente revelou-se muito semelhante ao obtido


experimentalmente, validando, deste modo, o que foi feito laboratorialmente.

5.3.2 Resultados para Sondas Diferenciais

Os parâmetros utilizados nos ensaios de correntes induzidas com as sondas


diferenciais encontram-se resumidos na tabela 5.4. Testaram-se as sondas SD15, SD30
e SD40, uma vez que foi com estas que se conseguiram melhores resultados na validação
experimental. Tal como foi feito na apresentação dos resultados para as sondas
absolutas, nas figuras 5.9 a 5.11 apresentam-se os gráficos das impedâncias obtidos com
a gama de frequências considerada ótima.

Tabela 5.4 - Parâmetros utilizados nos ensaios experimentais nos quais se utilizaram as sondas diferenciais.
Número de espiras 15, 30 e 40
Parâmetros Variáveis 1 – 9 MHz
Frequência de excitação
(incrementos de 0.5 MHz)
Tipo de defeito Descrito na figura 3.9
Ganho 60 dB
Comprimento de varrimento 21 mm
Parâmetros Fixos Frequência de adquisição de dados
A cada 0.25 mm
(𝑋𝑆𝐶𝐴𝑁 )
Número total de pontos obtidos 64
Velocidade de varrimento 1.2 mm/s

93
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

N = 15 + 15

𝑋 [mm]

-1

-2
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

-3

-4

6 MHz
-5
7 MHz

8 MHz
-6
Figura 5.9 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SD15 para f = 6, 7 e 8 MHz.

N = 30 + 30

𝑋 [mm]
0

-0.5

-1

-1.5

-2
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

-2.5

-3

-3.5

6 MHz
-4

7 MHz
-4.5
8 MHz
-5

Figura 5.10 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SD30 para f = 6, 7 e 8 MHz.

94
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

N = 40 + 40

𝑋 [mm]

-0.5

-1

-1.5

-2
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

-2.5

-3

-3.5

-4 6 MHz

7 MHz
-4.5
8 MHz
-5

Figura 5.11 - Variação da Impedância elétrica registada na sonda SD40 para f = 6, 7 e 8 MHz.

Da mesma forma do que aconteceu com os resultados obtidos com as sondas


absolutas, também com as sondas diferenciais não se conseguiu detetar o defeito para
nenhuma das frequências ensaiadas, tendo sido possível observar o mesmo padrão de
decaimento da intensidade das correntes induzidas. Na verificação numérica dos
resultados optou-se por simular a sonda SD30, impondo-lhe uma frequência igual a 8
MHz. Os resultados obtidos apresentam-se na figura 5.12.

N = 30 + 30
Defeito

𝑋 [mm]
0

-1 Ensaio Experimental

Simulação Numérica

-2
Re (𝑍⃗ ) [Ω]

-3

-4

-5
Figura 5.12 - Gráfico de impedância obtido na simulação numérica obtida para uma bobina com
30 espiras, 3 mm de comprimento e excitada com uma f = 8 MHz.

95
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

5.3.3 Discussão dos Resultados

Em todos os ensaios experimentais, quer para as sondas diferenciais, quer para as


sondas absolutas, observou-se o mesmo padrão de sinal. O valor da impedância da
sonda diminui com a distância inspecionada de forma aproximadamente exponencial,
estabilizando quase sempre no último terço do instrumento. A explicação reside na
conicidade da lima endodôntica. Com a diminuição da quantidade de material também
diminui a intensidade das correntes que são induzidas. Adicionalmente, verificou-se que
taxa de decaimento destas aumenta com a frequência de excitação.
Não se observou nenhuma variação da impedância significativa na região de
transição do material para o ar. Esta ausência de efeito de bordo implica que a
impedância da sonda não é afetada pelo material na ponta do instrumento. Com o
objetivo de explorar este fenómeno, através da simulação numérica, procurou-se apurar
a intensidade das correntes induzidas em três regiões distintas: no início da zona ativa
do instrumento, na secção defeituosa e na ponta. Os resultados são apresentados nas
figuras 5.13 a 5.15.

Figura 5.13 - Intensidade das correntes induzidas na secção inicial do instrumento.

Figura 5.14 - Intensidade das correntes induzidas na secção defeituosa do instrumento.

96
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

Figura 5.15 - Intensidade das correntes induzidas na ponta do instrumento.

Como se esperava, verificou-se uma diminuição muito significativa na intensidade


máxima das correntes induzidas desde a secção inicial da lima até à sua ponta, de 1.08
× 106 a 1.26 × 104 A/m2 . Esta queda abrupta de intensidade manifesta-se no sinal de
impedância da sonda. Com a diminuição das correntes induzidas diminui também o
campo magnético secundário por elas gerado, e, consequentemente, a oposição feita à
passagem de corrente alternada na bobina da sonda.
O valor da impedância tende a estabilizar no último terço do instrumento, apesar
da intensidade das correntes induzidas continuar a decrescer intensamente, o que
significa que a partir de uma certa espessura de material situada nesta região a sonda
perde a capacidade de detetar reduções adicionais no campo magnético secundário.
O defeito não foi detetado em nenhum ensaio. Este encontrava-se a 5 mm da
ponta na secção onde se verificou a estabilização do sinal de impedância, sendo por isso,
natural a sua indetetabilidade. No entanto, em algumas sondas, nomeadamente as SD15
e SD30, para algumas frequências, na região defeituosa o sinal ainda não é constante e,
ainda assim, o defeito não foi detetado. É razoável assumir que, apesar de não se poder
considerar a impedância nula nessa secção, a intensidade das correntes induzidas (já)
fosse demasiado baixa para que a sua variação pudesse ser sentida pela bobina. De
facto, analisando a intensidade das correntes induzidas no arame de NiTi utilizado na
validação das sondas (figura 5.16), no qual se conseguiu detetar os defeitos, verifica-se
que o valor máximo na região defeituosa é duas ordens de grandeza superior ao valor
máximo registado na secção defeituosa da lima (2.44× 107 A/m2 na primeira e 1.69
× 105 A/m2 na segunda), pelo que é provável que seja esse o motivo que explica a razão
para que o defeito não tivesse sido detetado por essas sondas.

97
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

Figura 5.16 - Intensidade das correntes induzidas na secção defeituosa do arame de NiTi.

Um fenómeno que é importante analisar é a irregularidade superficial do material


causada pelas espiras. É difícil dizer até que ponto é que o sinal de impedância é afetado
pela sua presença e, caso o seja, qual o efeito que tem no sentido de “camuflar” os
defeitos de fadiga. Sabe-se, no entanto, que as correntes induzidas tendem a descrever
um percurso circular ao longo de uma secção transversal e, uma vez que a lima HyFlex
CM apresenta uma secção quadrada, isso implica que, a não ser que a frequência
imposta seja suficientemente elevada, as correntes induzidas “ignoram” as arestas de
corte. No entanto, é nestas arestas que existe uma maior acumulação de tensões, tanto
durante um ensaio de fadiga cíclica como durante num procedimento endodôntico, pelo
que é nessas superfícies que os defeitos de fadiga irão, preferencialmente, surgir. Este
fenómeno reduz ainda mais a aplicabilidade das correntes induzidas como método de
deteção de fissuras de fadiga.
Contudo, dadas as elevadas dimensões do defeito artificial introduzido no
instrumento em análise e as elevadas frequências imprimidas na sonda, admite-se que
este não seja o principal motivo que impediu a sua deteção. Esta hipótese é corroborada
pelo facto de se ter verificado que o sinal da impedância nas simulações numéricas ter
sido muito pouco afetado pelo ruído, ao contrário do que se verificou nas simulações
realizadas no arame, mesmo tendo em conta que as variações sucessivas da orientação
da secção transversal da lima o tornam bastante vulnerável a este efeito, o que significa
que o ritmo de diminuição da intensidade da impedância causada pela conicidade da
lima tem um impacto muito superior na variação da impedância da sonda quando
comparado com o potencial impacto das espiras.

98
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

5.4 Ensaios de Termografia


5.4.1 Resultados dos ensaios

Foi inspecionada a mesma lima endodôntica Hyflex CM 20/.04 estudada nos


ensaios de correntes induzidas, tendo-se comparado os termogramas obtidos para este
instrumento com os que se obtiveram para uma outra lima de referência. Foram ambas
pintadas com tinta de spray de cor preta, pelo que se considerou-se que a sua
emissividade seria igual a 0.96.
Como previamente referido, nos ensaios de termografia utilizou-se o efeito de
Joule como fonte de estimulação térmica. Foi aplicado um pulso de corrente elétrica de
forma contínua durante um intervalo de tempo de cerca de 20 segundos, tendo-se
observado a evolução temporal dos gradientes de temperatura quer na fase de
aquecimento, quer na fase de arrefecimento. Por outras palavras, utilizaram-se os
métodos SHT (Step Heating Thermography) e LPT (Long Pulse Thermography),
analisados no sub-capítulo 2.5.1.
Procurou-se que a corrente aplicada no instrumento tivesse uma intensidade
suficiente para elevar a temperatura do instrumento até cerca de 60°C, de modo a
serem criados elevados contrastes térmicos na fase de aquecimento e arrefecimento.
Na figura 5.17 apresenta-se o gráfico da evolução da temperatura em função do
tempo na região defeituosa do instrumento.

65

60

55

50
Temperatura [°C]

45

40

35

30

25

Tempo [s]

Figura 5.17 - Evolução térmica da zona defeituosa ao longo do tempo de ensaio.

99
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

Os pontos assinalados no gráfico correspondem aos três frames em que se


analisaram os respetivos termogramas: o primeiro, na fase de aquecimento; o segundo
na fase de estabilização da temperatura máxima e o terceiro na fase de arrefecimento.
Nas figuras 5.18 a 5.20 apresentam-se os termogramas obtidos para estes três
instantes, comparando-se, cada um deles, com os termogramas relativos ao
instrumento de referência, adquiridos nos mesmos instantes dos primeiros.

a) Fase de Aquecimento

Referência

Defeito

10 mm 1010
10 mm
mmmm
(a) (b)
~
Figura 5.18 - Termogramas obtidos na fase de aquecimento. (a) Lima defeituosa. (b) Lima de referência.

b) Fase de Equilíbrio Térmico

Referência

Defeito
10 mm
10 mm 1010mm
mm
(a) (b)

Figura 5.19 - Termogramas obtidos na fase de equilíbrio térmico. (a) Lima defeituosa. (b) Lima de referência.

100
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

c) Fase de Arrefecimento

Referência

Defeito

10 mm 10 mm
10 mm
(a) (b)

Figura 5.20 - Termogramas obtidos na fase de aquecimento. (a) Lima defeituosa. (b) Lima de referência.

5.4.2 Discussão dos Resultados

Em todas as fases do ensaio, especialmente na de aquecimento, verificou-se que


as temperaturas mais elevadas se registaram no último terço da zona ativa da lima. Este
fenómeno deve-se ao facto de o diâmetro nesta região ser mais reduzido do que em
outras secções, pelo que a quantidade de material por onde o calor pode escoar por
condução é comparativamente inferior.
É importante notar que a intensidade da corrente elétrica imposta aos
instrumentos induz uma transformação austenítica no material durante a fase de
aquecimento, uma vez que, tal como foi observado por Iacono et al. [71], para as limas
HyFlex CM, as temperaturas de transformação 𝐴𝑠 e 𝐴𝑓 , são iguais a 23°C e 35°C
respetivamente, enquanto que 𝑀𝑠 se situa nos 24°C. Sabe-se que a condutividade
térmica da martensite é cerca de metade da austenite [43]. No entanto, dada a baixa
temperatura a que a transformação termina e a intensidade da corrente aplicada,
qualquer influência nas distribuições térmicas durante a fase de aquecimento é
instantaneamente ofuscada, pelo que se pode assumir que a ocorrência desta
transformação é irrelevante na análise dos resultados experimentais.
Observou-se que na região inferior da lima de referência, junto à ponta, a
distribuição de temperaturas é um pouco diferente da que se registou na lima
defeituosa. Registou-se uma região de máxima temperatura mais ampla na referência,
efeito visível sobretudo na fase de aquecimento. Este efeito deveu-se a uma acumulação
de tinta nessa região, algo que só foi percetível durante a comparação dos termogramas,

101
Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados Experimentais

pelo que não foi possível ser corrigido. Ainda assim, tendo em conta que se verificou na
lima de referência e numa região abaixo da secção defeituosa, é possível assumir que
este facto não influenciou os resultados nem as conclusões deles depreendidas.
Da análise dos termogramas obtidos conseguiu-se identificar, na região onde se
verificaram temperaturas mais elevadas, uma pequena secção onde as temperaturas se
revelaram comparativamente mais baixas. Esta secção é coincidente com a região onde
se encontra a fissura, pelo que é razoável assumir que esta discrepância térmica é devida
ao defeito e não, por exemplo, à presença de uma espira. Este contraste térmico, apesar
de bastante subtil, é mais evidente na fase de equilíbrio térmico.
Apesar de se ter conseguido identificar a fissura, o facto de a sua deteção se basear
em contrastes térmicos extremamente ténues indica que dificilmente se detetariam
defeitos de menores dimensões. Tal como se pode observar na figura 5.21, as fissuras
de fadiga geralmente apresentam dimensões centenas de vezes inferiores à fissura
analisada, pelo que se pode inferir que a sua deteção seria impossível com as
metodologias e equipamentos utilizados no presente estudo.

Figura 5.21 – Duas fissuras resultantes de um ensaio de fadiga cíclia numa lima
endodôntica HyFlex 35/.04 (adaptado de [61]).

102
Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros

6. Conclusões e Desenvolvimentos
Futuros
6.1 Introdução
Neste capítulo são apresentadas as conclusões retiradas deste trabalho e referidas
algumas sugestões para desenvolvimentos futuros. Todas as conclusões consideradas
relevantes foram apresentadas e analisadas na discussão dos resultados de cada um dos
ensaios, no capítulo 5, pelo que neste capítulo se procede apenas a um levantamento e
consolidação das conclusões mais importantes que decorrem do trabalho realizado.

103
Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros

6.2 Conclusões
6.2.1 Ensaios de Fadiga por Flexão Rotativa

Foi realizado um estudo comparativo da resistência mecânica à fadiga de três


limas HyFlex EDM Glidepath 10/.05 e três OneFile 25/~, que, por sua vez, foi confrontado
tendo-se comparado com os resultados obtidos para duas limas HyFlex CM 20/.04, num
estudo realizado por P. Santos et al. [67]. Em todos os ensaios as limas foram fletidas
num canal com um raio de curvatura igual a 4,7 mm e um ângulo de 45°. Dos resultados
obtidos foi possível retirar as seguintes conclusões:
• As limas Glidepath, apesar do seu tamanho mais reduzido, revelaram-se como as
menos resistentes, estando tal facto relacionado com a natureza da sua função (extrair
tecido vido e preparar os canais para a utilização da lima OneFile) não requerer um
arame tão resistente e flexível quanto aquele de que as outras limas são maquinadas.
Tanto quanto se sabe não existem estudos que analisem as propriedades estruturais
deste tipo de limas, pelo que a informação existente é bastante escassa, o que faz com
que as conclusões aqui apresentadas sejam meramente especulativas;
• Por outro lado, as limas EDM OneFile revelaram-se mais resistentes que as limas
CM, apesar de os resultados obtidos haverem sido desvirtuados pelo elevado DP
verificado, o qual se deve, por sua vez, ao baixo número de instrumentos testados.
Foram consideradas duas explicações possíveis para a superior resistência à fadiga das
limas OneFile:
o A primeira explicação está relacionada com as diferenças estruturais
encontradas por Iacono et al [71] e Shen et al. [72] (embora em desacordo com o
que é descrito por vários outros estudos [33, 34, 70]), que verificaram que à
temperatura corporal as limas OneFile são constituídas por grandes quantidades de
martensite e fase-R, sendo esta última que, por apresentar menor módulo de
elasticidade, confere aos instrumentos maior resistência à fadiga quando
comparada com as ligas martensíticas-austeníticas convencionais presentes nas
limas CM;
o A segunda, e mais consensual explicação, tem a ver com os processos de
maquinação a que cada tipo de instrumento foi sujeito. O acabamento superficial
produzido pelo processo de eltroerosão é vantajoso quando existe uma aplicação
de tensões multidirecional, uma vez que não existe um plano preferencial de
acumulação de tensões. Por outro lado, as estrias de maquinação existentes nas
limas CM atuam como zonas de acumulação de tensões, por onde os instrumentos
fraturam preferencialmente.
• A análise de fratura das limas revelou evidências das etapas típicas da rotura por
fadiga: em primeiro lugar, a nucleação da fissura, que neste caso se verificou sempre
numa das arestas de corte; de seguida, a sua propagação lenta, marcada pela superfície
suave e uniforme na região adjacente ao seu local de iniciação; por fim, a rotura
catastrófica, observável pela rotura multiplanar da região oposta.

104
Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros

6.2.2 Ensaios Não Destrutivos

Utilizando os métodos da termografia e das correntes induzidas procurou-se


detetar um defeito artificial, de grandes dimensões, introduzido numa lima HyFlex CM.
• As sondas de CI, absolutas e diferenciais, concebidas no âmbito deste trabalho já
se haviam demonstrado capazes de detetar, num arame de NiTi, defeitos de dimensões
semelhantes àquele que foi introduzido no instrumento endodôntico. No entanto,
utilizando os mesmos parâmetros, não se conseguiu detetar a fenda neste último.
Foram adiantados dois fenómenos que explicam esta indetetabilidade:
o Constatou-se, através da simulação numérica, que a intensidade das CI
diminuiu abruptamente desde o início da lima até à sua ponta, manifestando-se no
sinal da impedância da sonda. Verificou-se, para quase todas as sondas, que, na
secção fissurada, o sinal de impedância pouco ou nada variou, apesar da
intensidade das CI continuar em queda, o que significa que, nessa região, a sonda
seria incapaz de detetar variações adicionais na sua intensidade;
o As CI tendem a descrever um percurso circular ao longo de uma secção
transversal. No entanto, as limas CM apresentam uma secção transversal quadrada,
sendo que é nas arestas dessa secção que se dá a nucleação das fissuras, tendo sido,
também, nessa região que foi introduziu o defeito, embora este se prolongue em
direção ao centro da secção. Apesar de não ser o fator crucial que impediu a
deteção do defeito, é um fator adicional que a dificulta.
• Das simulações numéricas realizadas obtiveram-se gráficos de impedância
semelhantes aos que se obtiveram experimentalmente. Deste modo, esta estratégia
revelou-se muito útil na corroboração dos resultados obtidos, tanto na validação das
sondas, como nos ensaios no instrumento;
• Conseguiu-se detetar a fissura através da inspeção termográfica, embora o
contraste térmico por ela criado fosse muito ténue e a resolução da câmara inferior à
necessária para a inspeção de um defeito de tão reduzidas dimensões.

Em suma, as metodologias utilizadas no presente estudo revelaram-se infrutíferas


na deteção de um defeito bastante grande quando comparado com os defeitos de fadiga
que tipicamente se desenvolvem durante um procedimento clínico. Por esse motivo,
considerou-se que não seria necessário passar-se à deteção de defeitos de fadiga
comuns, que seriam introduzidos com auxílio da montagem experimental utilizada nos
ensaios de fadiga.

105
Capítulo 6 – Conclusões e Desenvolvimentos Futuros

6.3 Propostas para Desenvolvimentos Futuros

A metodologia desenvolvida neste estudo no que diz respeito à utilização de END


na deteção de defeitos em limas de endodontia representou uma abordagem preliminar
e inovadora na procura de um método alternativo para evitar a sua fratura em ambiente
clínico. No entanto, atendendo às dimensões e à geometria dos instrumentos, foi
possível constatar que será extremamente difícil seguir esta linha de desenvolvimentos
e encontrar aplicabilidades para vários métodos de END no campo da endodontia. Por
este motivo, considera-se que os avanços no combate à fratura prematura dos
instrumentos endodônticos deverão passar, sobretudo, pela inovação nas várias etapas
e tecnologias de fabrico, e não tanto pela deteção atempada das fissuras que originam
a sua fratura.
Por outro lado, o estudo comparativo da resistência mecânica de várias gerações
e marcas de instrumentos, como o que foi efetuado neste trabalho, permite perceber
qual o caminho tecnológico a seguir. Deste modo, considera-se que seria vantajoso
ensaiar-se um maior número de instrumentos de modo a ter-se uma perceção mais clara
das diferenças entre as duas gerações aqui analisadas. Adicionalmente, seria
interessante fazer-se uma análise estrutural das limas EDM OneFile de modo a poder
compará-la com os poucos estudos já feitos a esse respeito. Uma análise estrutural das
limas Glidepth seria ainda mais interessante dada a pouca informação existente a seu
respeito. Outro desenvolvimento significativo seria a análise da superfície de fratura das
limas EDM, recorrendo a um microscópio de varrimento, de modo a conseguir-se
analisar com grande detalhe o estágio da nucleação da fissura, com o intuito de se
compreender o impacto que o processo de eletroerosão desempenha na eliminação de
zonas preferências de acumulação de tensões.

106
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