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ISBN: 85-904333-8-2
Edison Carneiro
Sumário
Introdução..................................6 O senhor luta conosco..........41
A águia e o cordeiro................6Conduta....................................43
A guerra do homem contra o Não apenas iniciar, sobretudo
homem....................................6 prosseguir.............................43
O alimento da tropa................7 O caminho estreito da honra....
Os samaritanos de maria.......7 44
uma voz do século III..............7 Não sejamos promíscuos.....45
Luz e sombra..........................8 Não sejamos orgulhosos......45
Referência histórica..................9 Sejamos pacíficos................47
O Império Romano.................9 Renúncia...............................48
O choque................................9 Exortação ao perdão............48
O Cristianismo Primitivo.......11 Humildade no sofrimento.....51
Biografia de Cipriano............15 Consciência e sofrimento.....51
Solidariedade e Afeto.............19 Clemência e acomodação....52
Ausência e dever..................19Oração......................................54
Prudência e afeição..............20 Visão de Jesus.....................54
Pura afeição..........................21 Naturalidade do intercâmbio
Saudade e caridade.............22 espiritual................................55
Amparo mútuo......................23 Perseverança na oração......56
Decisão conjunta..................24 Visão dos dois jovens...........57
Alegria...................................25 Súplica..................................58
Não ocultar as mensagens do Personagens............................59
alto........................................26 Mapalico................................59
Fortaleza na Dor......................28 Aurélio...................................60
As crianças e o rei Celerino.................................62
Nabucodonosor....................28 Celerino e Aurélio.................64
Coragem na dor....................29 Numídio.................................65
Fortaleza espiritual...............31As Minas da Numídia..............67
Lírios e rosas........................32 Início de novas perseguições...
Olhar para o céu...................34 67
Mudanças.............................35 Origem da correspondência. 68
Jesus........................................38 Carta de Cipriano..................69
Repreensão..........................38 Resposta do primeiro grupo de
Os sofrimentos do mundo....39 mártires.................................76
O senhor será seu guia........40 Resposta do segundo grupo
São Cipriano, um cristão africano 3
de mártires............................79 Despedidas...........................84
Resposta do terceiro grupo de O julgamento dos homens e a
mártires.................................80 libertação pelo Senhor..........86
Últimas Cartas.........................82A resposta................................89
Preparo para a luta...............82 Prece de Encerramento........91
Edison Carneiro
Dedicatória
À Mãe África
Dedicamos este trabalho aos filhos espirituais da África e também
a todos os seguidores de Jesus, que tem uma eterna dívida de gra-
tidão com os primeiros cristãos africanos, que, regando com seu
sangue as sementes do Evangelho, deram tão grande testemunho,
especialmente de inabalável fé e sublimado amor.
Edison
Março de 2005
Edison Carneiro
Introdução
A águia e o cordeiro
Movidos pela fé, pondo toda a esperança na vida futura, marcha-
ram como exército do Senhor.
Estranhos ao século, desprezados pelo mundo, marginalizados
pelo poder, constituíam mescla incompreensível para a época.
Todas as idades: crianças, adolescentes, homens maduros, matro-
nas, anciãos, ...
Todas as classes sociais: escravos, plebeus, patrícios, ...
Todas as condições econômicas.
A tropa do Cristo, recrutada nos caminhos e encruzilhadas da vida,
testemunhou a existência de um carpinteiro numa província distan-
te do império, afirmando ser este carpinteiro a Luz do Mundo e o
Caminho para Deus.
A Águia Romana abriu guerra aos soldados de Cordeiro, ela po-
rém não dispunha mais nem de virtude, nem de sabedoria, nem de
grandeza; havia perdido as asas que a fizeram voar tão alto no di-
reito de Numa Pompílio, na eloquência de Cícero, no gênio de Júlio
César; rastejava no chão da corrupção e da decadência, movendo
apenas o bico e as garras da rapina.
E a Águia investiu contra o Cordeiro, escolhendo a carnificina como
tática para destruir a nova fé e a nova moral que surgiam.
Os cristãos escolheram as armas da mente livre, do escudo da fé,
da prática da caridade e do amor aos inimigos.
Esta foi a batalha dos três primeiros séculos.
A guerra do homem contra o homem
Transcorrida esta batalha, outras se travaram na Terra, pois a his-
tória do homem é a história da guerra do homem contra o próprio
homem.
O cristianismo vem avançando nestes vinte séculos, enfrentando
os vícios do homem: a violência, a ambição, o comodismo.
São Cipriano, um cristão africano 7
O homem lutando contra si mesmo, vai sofrendo derrotas, obtendo
vitórias, alastrando a guerra, mas o resultado do combate parece
incerto.
A Luz da Fé mostra entretanto que a vitória pertencerá a Jesus.
Cada homem vencerá a si mesmo e reinando no seu mundo interi-
or construirá dentro de si um reino de amor, sabedoria e justiça.
Quando todos os homens tiverem estabelecido este império, tere-
mos uma nova sociedade, mas até que isto aconteça ...
À luta irmãos!
O alimento da tropa
A tropa do Cristo precisa ser alimentada, não com dinheiro, poder
ou prestígio.
O exército cristão precisa ser alimentado com a palavra que vem
da boca do Deus Vivo, enriquecida de exemplos, temperada com
testemunhos.
Os samaritanos de maria
Nós, Samaritanos de Maria, somos trabalhadores menores, que há
vinte séculos pomos na cruz nossa esperança.
Servimos ao cordeiro nos umbrais 1 e na crosta, lutando pela aquisi-
ção das virtudes da misericórdia, da compaixão e da humildade;
colocando-nos sob a proteção de Maria, Mãe de Jesus.
Seguimos os ensinamentos da Parábola, do Samaritano vendo o
mundo como uma estrada onde todos passam, muitos caem, rou-
bam e ferem a si mesmos; viajantes também, sujeitos aos mesmos
tropeços, temos o dever do socorro que não pergunta, auxilia e
passa.
uma voz do século III
Nós, Samaritanos de Maria, trazemos nossa singela contribuição
aos cristãos do século 20, fazendo ressoar novamente a voz de um
cristão africano do terceiro século.
1
Umbrais : regiões purgatoriais do mundo espiritual
Edison Carneiro
Referência histórica
O Império Romano.
O Império Romano dominava o mundo conhecido cerca de 200
anos após a morte de Jesus; seus domínios estendiam-se pela
Europa, parte da Ásia e todo o norte da África
A língua falada em todas essas regiões, era o Latim, a língua dos
romanos. O Império, para fins administrativos, era dividido em
províncias, cada província era governada por um cidadão roma-
no, o procônsul, nomeado pelo imperador. Os povos dominados
pagavam pesados impostos que eram carreados para Roma; a
dominação romana apoiava-se no poder dos exércitos romanos.
Os romanos eram em geral bastante brutais; muitas cidades pos-
suíam estádios, chamados de circos, por sua forma circular; nes-
ses estádios a principal diversão era assistir a morte de seres hu-
manos; havia espetáculos onde pessoas eram queimadas vivas,
devoradas por animais selvagens, digladiavam-se até a morte
etc; pode-se dizer que a perversão sexual do sadismo (sentir pra-
zer vendo o sofrimento dos outros) era generalizada.
O Império era altamente escravagista; utilizavam-se escravos
para serviços domésticos até a educação dos jovens, da movi-
mentação de barcos a remo até a fabricação de sandálias; a es-
cravidão romana não era na baseada na cor da pele, qualquer
um poderia ser declarado escravo.
Os cidadãos romanos em geral consideravam-se superiores aos
povos dominados, cultivavam um orgulho e uma arrogância des-
mesurada.
Dissemos “romanos em geral”, “na sua maioria” porque evidente-
mente havia patrícios romanos bondosos, humildes, íntegros,
como por exemplo, Cneio Lucius, no entanto, infelizmente, eram
minoria.
O choque
Após a morte de Jesus os apóstolos e seus sucessores foram
disseminando o evangelho; ao redor do Evangelho multiplicaram-
Edison Carneiro
2
Ave Cristo – Emmnuel, Francisco Cândido Xavier: Federação Espírita Brasileira
Edison Carneiro
4
Ave Cristo – Emmanuel, Francisco Cândido Xavier: Federação Espírita
Brasileira
Edison Carneiro
Biografia de Cipriano
Dispõe-se de informações escassas sobre Cipriano, o autor das
cartas que servem de base a este trabalho; isso se deve a três
fatores:
● Os fatos terem ocorrido há mais de 17 séculos;
● O cristianismo era um movimento clandestino e que procu-
rava ocultar-se, dadas as perseguições;
● Com o surgimento de desfigurações do Evangelho que
acompanharam a instalação do Catolicismo Romano, mui-
tos documentos foram destruídos e adulterados para justifi-
car o poder temporal do “Igreja de Roma”.
Embora essas limitações coligimos as seguintes informações
Cipriano nasceu na província da África na cidade de Cartago por
volta do ano 200. A província romana da África era onde é hoje
aproximadamente a Tunísia, no norte do continente Africano,
Cartago coincide geograficamente com a capital atual da Tunísia,
que é Tunis.
Nada sabemos de sua vida pessoal, se foi casado, se teve filhos
carnais, irmãos etc.
Aos 40 anos, como declarou posteriormente a Donato, sentia-se
Edison Carneiro
assim:
"Eu estava mergulhado nas trevas, numa profunda noite, balan-
çando sobre o mar agitado do mundo, errante ao sabor da aven -
tura, incerto de minha vida, estranho à verdade e à luz".
Através de um assíduo relacionamento com um “cristão experi-
mentado”, Caecilianus, ele aderiu ao Evangelho; Cipriano a partir
desse momento passou a considerar Caecillianus “pai de sua
nova vida”, e não mais como um “amigo de sua idade”; concomi-
tantemente leu as obras de Tertuliano, destacado escritor cristão,
seu conterrâneo, bem como outros textos ligados ao cristianismo,
especialmente os evangelhos e textos do velho testamento.
A sua conversão o fez passar do “erro profano ao conhecimento
da verdadeira divindade” como ele mesmo declarou.
Distribuiu a maior parte seus bens aos pobres, como recomenda-
va Jesus.
Com a morte de Donato, “protetor” do “grupo cristão” de Cartago,
o “povo fiel” pediu-lhe que assumisse o posto. Cipriano recusou-
se a assumir achando-se indigno. Os cristãos, no entanto invadi-
ram sua casa pedindo-lhe que aceitasse. Finalmente Cipriano
cedeu e tornou-se “protetor” do “grupo cristão” de Cartago; nesta
época tinha 47/48 anos de idade.
O “grupo cristão” de Cartago era um dos mais importantes não
somente do continente Africano, que continha as províncias vizi-
nhas Numídia e Mauritânia, mas também do mundo cristão, ten-
do surgido ali grandes vultos do cristianismo primitivo, como Ter-
tuliano, Orígenes e Agostinho.
Em poucos anos Cipriano se tornaria “pai” não só dos “grupos
cristãos” do continente africano, 150 talvez, mas também de gru-
pos da Europa e Oriente; suas cartas e orientações eram copia-
das e seguidas em todo o mundo cristão.
Pôncio, contemporâneo de Cipriano, assim o retratou:
"Que bondade ele mostrava, mas também que vigilância.
Que caridade e que firmeza.
Sua fisionomia tinha tal reflexo de santidade e de graça, que não
se podia olhá-lo sem ficar preso de admiração.
São Cipriano, um cristão africano 17
Seu ar era sério as vezes, e atencioso, mas sua seriedade não
possuía nada de moroso, nem a sua amabilidade nada de indis-
creto.
Cipriano era sobretudo uma mistura de qualidades contrárias."
Décio, novo imperador romano, assumindo o poder em 250, re-
solveu abrir uma terrível perseguição contra os cristãos.
Em Cartago foi determinado que toda pessoa suspeita de ser
cristã, deveria ser convocada nominalmente. O convocado deve-
ria se apresentar diante do templo de Júpiter, caso não se apre-
sentasse seria arrastado até lá, sacrificar um animal ao Deus
Romano, fazer um brinde escarnecendo de Jesus e finalmente
comer a carne do animal sacrificado; receberia então um certifi-
cado que o inocentava perante a lei.
Muitos cristãos denunciados submeteram-se à ordenação roma-
na, o que muito entristeceu a Cipriano; alguns heroicamente tor-
naram-se “cristãos confessos”, ao recusarem e foram conduzidos
à prisão
Alguns romanos queriam sobretudo a Cipriano, já chamado “o
pai da seita sacrílega” e alguns mesmo pleiteavam: “Cipriano aos
leões”.
Cipriano, todavia, pedindo a inspiração do alto e acatando con -
selhos de amigos, fugiu de Cartago, por saber que sua própria
segurança era vital para a sobrevivência do "grupo cristão"; dado
o seu não comparecimento, a justiça romana confiscou os seus
bens remanescentes e o declarou proscrito.
Nos 15 meses que passou exilado, Cipriano escreveu cartas de
alento e orientação aos cristãos de Cartago e de outras provín -
cias do império. São deste período, 39 das 81 cartas que trocou
com seus colegas de função, mártires, “cristãos experimentados”
e “servidores” de diversos “grupos cristãos”. Teve sempre um es-
pecial carinho pelos “cristãos confessos” que estavam nas pri-
sões padecendo toda sorte de sofrimentos.
Cessada a perseguição, Cipriano voltou a Cartago, tinha nessa
época cerca de 52 anos.
Ao lado de Tertuliano e Agostinho, Cipriano é considerado um
Edison Carneiro
Solidariedade e Afeto
O cristão deverá ser solidário e afetuoso; Jesus por diversas ocasiões nos reco-
mendou a mansidão e brandura, exemplificando seu carinho nos grandes lances
e nas pequenas coisas do dia; Cipriano reforça essa atitude lembrando aos seus
companheiros a necessidade de fazer o bem e cultivarmos as afeições nos tre-
chos das cartas a seguir.
Ausência e dever5
Texto de Cipriano
Visto que as circunstâncias não me permitem re encontrá-los, peço
com piedade e fé que cumpram suas funções e as minhas tam-
bém, de maneira que nada falhe, nem do ponto de vista da discipli -
na, nem do zelo.
Quanto ao socorro a fornecer, tanto aos que estão na prisão por te-
rem gloriosamente confessado o Senhor, quanto aos fieis que per-
manecem na pobreza e na necessidade, eu peço que velem para
que nada lhes falte
Todo o dinheiro que se tem juntado foi repartido entre os membros
do "grupo cristão", para coisas assim, para que houvesse um maior
número de pessoas em condições de prover as necessidades que
surgissem.
Comentário do Organizador
Hoje em dia, para muitos, a atividade profissional ocupa posição
central na vida. Ao ganha pão são destinados os horários mais
nobres do dia e as melhores energias.
O cristão primitivo também enfrentava rudes trabalhos para so-
breviver, mas dava aos deveres espirituais a primazia na sua
vida.
A ausência nos trabalhos espirituais era tratada com grande cau-
tela, para que nada viesse perturbar as atividades da caridade,
tanto moral, quanto material, preocupação maior do cristão, que
tem como a primeiro objetivo a prática do amor a Deus e ao
próximo.
O dever igualmente nasce do amor e da compaixão, do cuidado
que nos inspiram os necessitados de toda sorte e não de regras
5
Trecho da carta 5
Edison Carneiro
6
Trecho da carta 6
São Cipriano, um cristão africano 21
inveja e o ciúme, para efetivamente ter no nosso coração aque-
les que nos compartilham a atividade espiritual.
Porém, que essa afeição seja prudente sem manifestações exa-
geradas que ponham em risco a pureza dos sentimentos, ou ve-
nham perturbar aqueles que não participam da comunidade, ge-
rando ciúmes indevidos ou disputas pelo tempo dos familiares.
Pura afeição7
Texto de Cipriano
Eu vos envio minha saudação, irmãos muito queridos, suspirando
de outro lado por desfrutar pessoalmente da sua presença, se as
circunstâncias me permitirem ir re-encontrá-los.
O que poderia, com efeito, me ser mais desejável e agradável que
estar no meio de vocês, em seus braços, apertando suas mãos tão
puras e inocentes, que tem guardado a fidelidade ao Senhor, des-
prezando um culto sacrílego?
Que alegria poderia ser maior que beijar esses lábios que tem, glo-
riosamente confessado o Senhor?
Que olhar esses olhos que desprezando o século, tem o mérito de
ver a Deus?
Mas, posto que essa felicidade não é possível, eu envio a vocês
essa carta que vocês verão, e a entenderão como eu estando pre-
sente, para felicitar a todos vocês reunidos e incentivá-los a serem
valentes e firmes em preservar a sua confissão gloriosa, e marchar
com uma religiosa coragem pelo caminho dos favores divinos onde
vocês iniciaram para receber a corôa.
Comentário do Organizador
O amor entre amigos gera a afeição o carinho. Estar na presença
de quem amamos é fator de alegria. De coração puro sonha-se
com o aperto de mão, com o abraço, com o beijo fraterno.
Esse amor entranhado, essa afinidade, que força não terá no
apoio ao aperfeiçoamento moral e no intercâmbio espiritual?
Aprendamos a cultivar a força do sentimento, do coração, saben-
7
Trecho da carta 6
Edison Carneiro
8
Trecho da Carta 6
São Cipriano, um cristão africano 23
com a minha amiga, seu esposo e filhos entenderiam do mesmo
modo? Se minha presença traz perturbação, devo perguntar-me:
É caridoso estar lá?
Neste caso Cipriano preocupa-se, pois é um proscrito, está fora-
gido; se as autoridades o encontram no meio de outros cristãos,
poderão arrastar a todos a prisão; ao invés de satisfazer a sau-
dade, estará, talvez, levando-os à prisão e a morte.
O mesmo se repete quando temos de nos afastar de pessoas
queridas, ou incentivá-las a partir, tendo em vista objetivos maio-
res e pagando o preço da saudade.
Mas mesmo a distância podemos demonstrar o nosso amor e to-
mar providências para levar algum benefício aos que estão dis-
tantes; ao enviar dinheiro para que os companheiros façam a ca-
ridade Cipriano beneficia tanto aos necessitados de recursos
quanto aos companheiros de ideal que tem a oportunidade de
praticar o bem.
Amparo mútuo9
Texto de Cipriano
Fortifiquemo-nos pelas exortações mútuas e façamos mais e mais
progresso na vida cristã, para que, quando Aquele em quem nós vi-
vemos nos tenha dado a paz na sua misericórdia, regressemos ao
nosso "grupo cristão" renovados, quase transformados em outros
homens.
Todos, tanto nossos irmãos, quanto os gentios, nos perceberão
emendados e corrigidos, e após terem admirado a valentia de nos-
sa conduta, admirarão agora a bela firmeza de nossos costumes.
Se bem que os “responsáveis” tenham recebido de mim instruções
detalhadas outrora, quando vocês estavam na prisão, e de novo re-
centemente, para fornecerem tudo o que for necessário ao seu
vestuário e alimentação; mesmo assim, eu tomei dos pequenos
bens que tenho comigo, 250 sestércios, que envio agora a vocês
(há pouco enviei outros 250)
Vitor, que de leitor foi feito servidor, e que está comigo, envia tam -
9
Trecho da carta 13
Edison Carneiro
Alegria11
Texto de Cipriano
Já anteriormente, mui fortes e caríssimos irmãos, escrevi para exaltar sua fé e sua cora-
gem.
Novamente minha carta tem por objetivo principal vir alegremente celebrar, ainda e sem
cessar, seu nome glorioso.
O que poderia me parecer maior ou melhor do que ver a glória de vocês, "cristãos
confessos", iluminar o exército do Cristo?
Todos os irmãos devem se rejubilar, mas na alegria comum a glória do "protetor" do "gru-
po cristão" é bem maior.
A glória do preposto de um "grupo cristão" advém da glória do seu "grupo cristão".
Na mesma medida que choramos sobre aqueles que a tempestade inimiga fez tombar,
estamos felizes por vocês, a quem o mal não pode vencer.
Comentário do Organizador
A alegria da vitória espiritual, da vitória da serenidade, da resig-
nação, do perdão, da confiança em Deus e na sua justiça, enfim
na vitória do amor, é maior que os sofrimentos. Como tão bem
coloca A. Kardec
“A ideia clara e precisa que se faça da vida futura proporciona
inabalável fé no porvir, fé que acarreta enormes consequências
sobre a moralização dos homens, porque muda completamente o
ponto de vista sob o qual encaram eles a vida terrena. Para
quem se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é inde-
11
Trecho da carta 13
Edison Carneiro
12
Evangelho Segundo o Espiritismo - FEB
13
Trecho da carta 11
14
A previsão realmente se cumpriu, alguns meses após a perseguição de Décio
“esfriaria” e os cristãos de Cartago puderam gozar por cerca de 6 anos uma
relativa paz, que seria quebrada pela próxima perseguição sob o novo imperador
Valeriano que ocorreria no ano 258
São Cipriano, um cristão africano 27
Esconder as advertências com que o Senhor se digna favorecer-
nos, é conduta de quem não deseja que seus irmãos sejam adverti-
dos e instruídos.
Comentário do Organizador
Nosso Senhor disse: “Ide e pregai”. A nós cabe divulgar o Evan -
gelho do Senhor; se através de algum canal mediúnico chega até
nós, apesar de nossas limitações, a mensagem do Plano Maior,
não as guardemos apenas para nós, de forma egoísta; anali-
semo-la com a razão e com o concurso de outros médiuns sérios
e a entreguemos aos seus destinatários.
Edison Carneiro
Fortaleza na Dor
Nas rudes provações é mais necessário ainda sermos fortes; se a fraqueza é um
risco nas situações favoráveis da vida, na luta é certeza de fracasso.
Os textos seguintes são um incentivo para termos coragem e determinação nas
situações difíceis.
15
Trecho da carta 6
São Cipriano, um cristão africano 29
essas crianças, que tiveram os plenos méritos de Deus.
Prontos para tudo, como todos nós devemos estar, eles disseram
ao rei:
- Rei Nabucodonosor, não precisamos responder sobre este assun-
to. O Deus que nós servimos é bastante poderoso para nos tirar da
fornalha ardente, e Ele nos livrará de vossas mãos. Mas mesmo
que assim não seja, nós não serviremos vossos deuses e não ado-
raremos a estátua que fizestes elevar.
Eles sabiam por sua fé que podiam livrar-se do suplício presente;
mas eles não queriam alardear e prevalecer-se, portanto disseram:
-Mas, mesmo que assim não seja ...
Sua confissão não perdeu nenhum mérito por faltar o testemunho
dos sofrimentos.
Acrescentaram que tudo era possível a Deus, mas que sua segu-
rança não se fundava sobre a esperança de uma libertação atual,
mas sobre o pensamento da libertação e da segurança da eterna
glória.
Permanecendo fiéis, nós também, direcionamos dia e noite todo o
coração a Deus.
Já desprezando o presente, cogitamos do futuro, dos frutos do rei-
no eterno, dos abraços e beijos do Senhor, aos olhos de Deus.
Comentário do organizador
A lição que Cipriano tira desse episódio, lembrando as crianças
cristãs de Cartago que assumindo ser cristãs, foram levadas a
prisão, é: mesmo que Deus não atenda nossos pedidos, e nos
submeta à provações, devemos confiar Nele, porque a justiça
será feita e de futuro seremos recompensados, no mundo espiri-
tual ou em outras vidas. Nossa fé deve se apoiar no infinito poder
e justiça de Deus e não no atendimento de nossos pedidos, que
muitas vezes são insensatos.
Coragem na dor16
Texto de Cipriano
Vocês não fraquejaram com medo dos tormentos, mas, provocados
16
Trecho da Carta 10
Edison Carneiro
17
Trecho da Carta 10
Edison Carneiro
Está escrito no Livro dos salmos, onde o Espírito Santo nos fala
exortando:
"É preciosa a Deus a morte de seus justos."
Preciosa a morte
Que adquire a imortalidade
Ao preço do sangue,
Que recebe a corôa da consumação da virtude.
Comentário do Organizador
A maioria dos nossos desvios não se deve a intenções perver-
sas, mas da fraqueza face as provações que a vida nos oferece.
A grande batalha é travada na nossa mente; o pensamento que
comanda as ações; não mais as feridas produzidas pelo carrasco
romano, mas muita vez pelo nosso cônjuge ou por aquele que
consideramos amigo.
Velhas feridas morais que acreditávamos cicatrizadas novamente
se reabrem; todavia é necessário a prosseguir apoiados na fé e
defendendo nossa fortaleza interior.
No passado, nossos crimes atearam o fogo infernal, que muita
vez nos queima por dentro, hoje necessitamos apagá-lo com a
ajuda das lágrimas;
O amor divino observa com imenso amor a nossa futura morte
carnal, ou melhor dizendo, 'o nosso próximo nascimento no mun-
do espiritual'.
Lírios e rosas18
Texto de Cipriano
Se antes do dia do combate a divina indulgência restabelecer a
18
Trecho da carta 10
São Cipriano, um cristão africano 33
paz, mantenham a vontade integra e a consciência gloriosa; que
ninguém se entristeça, achando-se inferior aos que calcaram aos
pés o século e foram ao Senhor por um caminho glorioso.
O Senhor perscruta os nossos rins e o nosso coração; penetra nos
recônditos misteriosos e vê o que está oculto.
Para merecer a corôa é suficiente ter Ele próprio por testemunha: é
Ele que deve nos julgar.
Dessa maneira, caríssimos irmãos, um e outro caminho são subli-
mes e luminosos.
Um, seguro de ir ao Senhor apressando a consumação da vitória.
O outro, aceitar após uma passagem gloriosa, florescer em honra
do "grupo cristão".
Bem aventurado nosso "grupo cristão", ao qual a divina considera-
ção ilumina, ao qual o sangue glorioso de nossos mártires ilustra.
No principio era branca pela caridade dos irmãos, agora é tornada
vermelha pelo sangue dos mártires.
Nem lírios, nem rosas, faltam às suas flores.
Diante do desafio, que cada um mantenha a mais ampla dignidade
destes dois honrosos estados.
Que cada um receba as corôas, ou brancas por suas boas obras,
ou vermelhas por seus sofrimentos.
Nos acampamentos de Deus, a paz e a luta têm suas próprias flo-
res, com as quais os soldados do Cristo podem coroar-se de glória.
Comentários do Organizador
Há dois caminhos igualmente floridos e luminosos para subirmos
a escada da evolução, ou em outras palavras a escada para o
reino dos céus. O primeiro é a rude provação aceita com resigna-
ção e fé, sem queixas, revolta ou murmuração; o segundo con-
siste nas boas obras, beneficiando moralmente e espiritualmente
os nossos irmãos.
Mesmo o sofrimento resignado e sereno beneficia a muitos; Allan
Kardec cita um menino que morreu após anos de sofrimento de
uma dolorosa moléstia. Chegando ao outro lado da vida ficou
Edison Carneiro
Comentário do Organizador
O mundo se modifica, civilizações e costumes passam; assim
acabaram-se o “mundo romano”, o “mundo medieval” e também
a dita “civilização ocidental” vai chegando ao fim; o termo de
cada um desses ciclos, ou seja “ o fim de cada um desses mun-
dos é visto com temor.
É comum que esses términos de civilizações, com a consequen-
te mudança dos costumes e maneiras de pensar que abrigaram
traga dores e transtornos.
São Cipriano, um cristão africano 37
Nessas lutas, embora o destaque de certos vultos encarnados, o
grande combate é com as forças das trevas representadas pelos
nossos irmãos desencarnados que aderem ao mal.
Lembremo-nos entretanto que Jesus está no governo espiritual
do planeta, nas suas mão estão os fios da história, e essa é a re-
alidade permanente.
Preparemo-nos portanto para as lutas que as mudanças impõem,
esperançosos e confiantes no Amor de Deus, e de Jesus por
nós.
Edison Carneiro
Jesus
Jesus é a fonte de nossa vida, de nossa verdade, de nosso caminho. É nele que
encontramos o objetivo, o meio e a certeza para nossa existência.
Nos textos a seguir Cipriano expõe alguns ângulos de sua visão da presença de
Jesus nas nossas vidas
Repreensão22
Texto de Cipriano
Deus ama aquele a quem repreende.
Se Deus repreende alguém é para corrigi-lo.
Se Deus corrige alguém é para salvá-lo.
Nosso Pai nos corrige e nos protege, com a condição de sermos fi-
éis, e que no meio das tribulações e das perseguições nós nos
mantenhamos firmemente ligados ao Seu Cristo. Está escrito:
"O que nos separará do amor ao Cristo?
A tribulação?
A angustia?
A fome?
A nudez?
O perigo?
O combate?
Nada pode separar do Cristo aqueles que creem nele, nada pode
arrancar de seu corpo, do seu sangue, aqueles que a Ele estão
unidos."
Texto do Organizador
Por vezes Deus nos repreende; não repreende com palavras,
mas com os próprios movimentos da vida, e os fatos da vida
expõem nossos desacertos; entendamos esses momentos quan-
do a própria vida diz: Não!
A severidade de Deus a se manifestar em negativas é, na verda-
de, manifestação da bondade divina que está nos auxiliando a
dar um basta nos nossos desacertos.
Não é o Pai Amoroso que se afasta, pois nenhuma circunstância
22
Trecho da Carta 11
São Cipriano, um cristão africano 39
pode nos afastar de Deus, a não ser nossa própria decisão de
negá-Lo.
Os sofrimentos do mundo23
Texto de Cipriano
Como vocês sabem, a ordem estabelecida desde o inicio do mun-
do, é que a justiça sofra neste mundo em luta contra o século.
No começo o justo Abel é morto e abre caminho a todos os justos,
profetas e apóstolos.
O Senhor também deixou a todos um exemplo pessoal, ensinando
que não se sobe a seu reino, sem seguir a rota que Ele mesmo se-
guiu.
"Aquele que ama sua vida neste mundo, a perderá; aquele que odeia sua vida neste
mundo, a conservará na vida eterna."
"Não temam os que matam os corpos, mas que não podem matar a alma verdadeira.
Temei antes aquele que pode fazer perecer a alma e o corpo, jogando-os no inferno."
Paulo também nos exorta a que aspiremos alcançar o que o Se-
nhor nos prometeu, imitando o Senhor em todas as coisas:
"Somos os filhos de Deus, se somos os seus filhos, somos seus herdeiros e co-herdei-
ros do Cristo tanto para sofrermos com Ele, quanto para engrandecermo-nos com Ele."
O apóstolo Paulo estabeleceu uma comparação entre o tempo pre-
sente e a futura claridade, dizendo:
"Os sofrimentos deste tempo não são comparáveis à claridade que será revelada em
nós."
O pensar nessa glória luminosa deve fazer-nos suportar todas as
provas e perseguições, porque por mais numerosas que sejam as
provas dos justos, não impedirão que sejam libertados os que con-
fiam em Deus.
Comentário do organizador
As leis humanas e a justiça humana em geral são falhas; aparen-
temente o mal triunfa com frequência; iniciativas ruins como a
guerra e o tráfico aparentemente prosperam, enquanto causas
nobres como a solidariedade e a liberdade parecem avançar len-
tamente.
Porém temos armas poderosas para enfrentar esse estado de
23
Trecho da Carta 6
Edison Carneiro
Texto de Cipriano
O Senhor será seu guia e seu protetor; Ele disse:
"Eis que estou convosco ate a consumação do mundo."
Oh, bem-aventurada prisão
Que iluminou a alma de todos!
Oh, bem-aventurada prisão
Que envia aos céus os homens de Deus!
Está escrito:
"A morte dos justos é preciosa aos olhos de Deus."
"Uma alma aflita é um sacrifício oferecido a Deus."
"Deus não despreza de maneira alguma um coração humilhado e despedaçado."
Saibam que:
A confissão do nome do Senhor
nos leva a partilhar a sua glória;
Conduta
Como nos conduzir? Que atitude tomar? A moral não é algo teórico, é regra a
aplicarmos em todas as circunstâncias de nossa vida. Nos trechos de cartas a
seguir Cipriano nos oferece algumas regras de conduta extremamente afinadas
com o pensamento cristão.
É preciso ter cuidado para que este começo seja seguido de pro-
gresso, e tão honroso inicio tenha consumação.
É pouco ter sabido adquirir alguma coisa: é mais importante saber
conservar o que se adquiriu.
Não é um resultado obtido que salva imediatamente o homem, mas
o sucesso final.
O Senhor nos diz com a autoridade de seu ensinamento:
"Eis que és tornado são, não caias mais, para que não te aconteça algo ruim."
Guardem isto, tomando a mesma mensagem para aquele que o
confessou:
Eis que és tornado "cristão confesso", não caias mais, para que
não te aconteça algo ruim.
Salomão, Saul e muitos outros quando não souberam manter-se
nos caminhos do Senhor, não puderam conservar a graça que lhes
tinha sido dada.
Como se afastaram dos ensinamentos do Senhor, a graça do Se-
nhor afastou-se deles.
Comentário do Organizador
26
Trecho da carta 13
Edison Carneiro
30
Trecho da carta 13
Edison Carneiro
Renúncia31
Texto de Cipriano
Nós renunciamos ao século no momento de nosso: batismo,
mas ...
É agora que renunciamos verdadeiramente;
É agora, na provação;
É agora, abandonando tudo aquilo a que pertencíamos.
Pela fé e até pelo temor
Somos seguidores do Senhor,
por Ele ficando,
por Ele vivendo.
Comentário do Organizador
Na vida surgem alternativas, a estrada se bifurca, e dois cami-
nhos nos apresentam; a escolha se impõe, optar por um é ne -
cessariamente abandonar o outro. A alma se angustia, gostaria
de trilhar ambos, mas isto é impossível. Assim acontece quando
nos é dado escolher entre servir a Deus e a Mamon; optar pelo
testemunho doloroso ou pela mentira prazerosa. Neste momento
a renúncia é a chave; renuncia pacífica, serena, esperançosa no
futuro e na justiça de Deus.
A verdadeira renúncia ensinada por Jesus quando disse “Aquele
que quiser vir após mim, renuncie a si mesmo” será testemunha -
da, não em atitudes exteriores, mas na hora da provação.
Bem aventurados os que renunciaram ao conforto e ficaram com
Jesus porque ficaram com a mais sublime criatura com que Deus
presenteou nossos espíritos.
Exortação ao perdão32
Texto de Cipriano
Nós , na medida em que nos é dado ver e julgar, nós vemos o exte-
rior de cada um; quanto a sondar o coração, e a penetrar na alma,
nós não podemos. Isto julga Aquele que examina as coisas ocultas
31
Trecho da carta 13
32
Trecho da carta 57
São Cipriano, um cristão africano 49
e que as conhece. Ele deverá em breve vir e julgar os segredos e
os mistérios do coração.
Os maldosos não devem fazer mal aos bons, mas, mais importante
que isso, é os bons auxiliarem aos maldosos.
Recusando aceitar de volta nossos irmãos 33, mostramos muito mais
o rigor de uma crueldade humana, do que a bondade que vem da
paternidade divina.
Para que as ovelhas a nós confiadas não nos sejam arrancadas
pelo Senhor, tomamos certas resoluções sob a inspiração do Es-
pírito Santo.
Após as advertências feitas a nós pelo Senhor, através de repeti -
das e muito claras visões, em razão do ataque do inimigo que nos
foi anunciado e mostrado como eminente, nós decidimos:
Tornar a juntar os soldados do Cristo;
Examinar cada caso em particular;
Dar bem depressa a paz aos caídos em combate;
Fornecer armas aos que vão combater.
Comentário do Organizador
Novas perseguições e as lutas dai decorrentes se aproximam e
são reveladas em frequentes visões; O “grupo cristão” deverá
estar coeso para enfrentar esse novos combates. Quanto àque-
les que negaram a Deus, devem ter seus casos examinados um
a um: os que abandonaram o cristianismo e voltaram às suas
crenças anteriores; os que resolveram introduzir modificações
nos ensinos do Cristo tentando compatibiliza-los com os erros ro-
manos; e finalmente os que negaram ou cometeram atos conde-
náveis e se arrependeram, e estão dispostos a continuar a luta
pelo aperfeiçoamento após suas quedas morais.
Esses últimos devem ser aceitos novamente no seio do “grupo
cristão”, os demais fizeram suas escolhas e devem ser respeita-
dos.
Mas como saber se os arrependidos o estão de fato? Acolher os
que foram maus segundo o nosso julgamento exterior envolve o
risco de permitir que eles façam novamente o mal aos bons, mas
mais importante que isso é auxiliar os maldosos.
São Cipriano, um cristão africano 51
Humildade no sofrimento34
Texto de Cipriano
Está escrito:
"Não louveis ninguém antes da morte."
"Sejais fiéis até a morte e eu vos darei a corôa da vida."
"Aquele que perseverar até o fim, será salvo."
Imitem o Senhor, que quando chegou sua paixão, não se mostrou
mais orgulhoso, porém mais humilde.
É então que Ele lava os pés dos discípulos dizendo:
"Se eu vos lavei os pés, eu que sou vosso Mestre e Senhor, vós deveis lavar os pés uns
dos outros. Eu vos dou o exemplo para que aquilo que eu faço por vós, façais pelos ou-
tros."
Imitem o apóstolo Paulo, que após suportar diversas vezes a pri-
são, após os flagelos, após as feras, após mesmo o terceiro céu e
o paraíso, não mostrou nenhuma arrogância. Dizia ele:
"Eu não tenho comido gratuitamente o pão de ninguém, mas tenho trabalhado e estou
fatigado, penando dia e noite para não ser um fardo para nenhum de vós."
Comentário do Organizador
Por vezes face ao sofrimento suportado, nos enchemos de vaida-
de e orgulho, atribuindo a nós mesmos a vitória sobre a dor. O
sofrimento que tinha como objetivo purificar-nos, pela resignação
e humildade, transforma-se por nossa invigilância em motivo de
orgulho e arrogância. Busquemos sempre a humildade, tanto
quando o caminho nos sorri em flores perfumadas, como tam-
bém quando os espinhos ferem nosso rosto e as pedras fazem
sangrar nossos pés.
Consciência e sofrimento35
Texto de Cipriano
Nosso Senhor fez a vontade de seu Pai,
Nós não fazemos a vontade de Deus:
Amantes do patrimônio e do lucro;
Sectários do orgulho;
Vazios;
34
Trecho da carta 14
35
Trecho da carta 11
Edison Carneiro
Rivais;
Discordantes;
Negligenciando a fé e a simplicidade;
Renunciando ao século em palavras e não em atos;
Complacentes conosco mesmos;
Severos com os outros.
Eis porque recebemos os golpes que merecemos.
Está escrito:
"O servidor que conhece a vontade do seu Senhor e não a obedece receberá muitos
golpes."
Nós sofremos por nossas faltas e segundo os nossos méritos.
Comentários do Organizador
Confiemos sempre na justiça do Senhor; se sofremos é porque
merecemos, se não cometemos nesta vida erros que justifiquem
as provações, os teremos cometido em outras.
E por confiarmos nessa mesma justiça procuremos hoje, modifi-
carmo-nos para melhor, confiantes na alegria e na paz que nos
aguardarão no futuro.
Clemência e acomodação36
Texto de Cipriano
Pensando na bondade e na clemência do Cristo, nós não devemos
ser severos, nem duros, nem desumanos, quando se trata de enco-
rajar nossos irmãos, mas sobretudo:
Sofrer com os que sofrem.
Chorar com os que choram.
Reergue-los tanto quanto nos seja possível.
Prestar-lhes os recursos e as consolações de nossa afeição.
36
Trecho da carta 55
São Cipriano, um cristão africano 53
quejaram no testemunho, negando a Deus por temor dos sofri-
mentos.
Sermos solidários, afetuosos, sem contudo compactuar com
seus erros
Edison Carneiro
Oração
Vigiar e orar para não cairmos em tentação; a prece é o tônico que nos fortalece
sempre: nas horas difíceis para termos resignação e paciência; nas horas praze-
rosas para não nos enredarmos na ociosidade e no vício. Algumas preces e con-
selhos face a oração é que Cipriano nos oferece nos textos a seguir.
Visão de Jesus37
Texto de Cipriano
Vocês sabem que o Senhor houve por bem manifestar-se a nós, e
disse-nos no curso de uma aparição:
“Pedi e recebereis”.
O aviso foi dado ao povo presente para pedir por pessoas determi-
nadas.
Mas se na prece houver palavras e intenções que não se combi-
nam, isto desagrada muito ao que disse:
Pedi e recebereis.
Pois o povo cristão não tem harmonia e não se encontra entre os
irmãos o consenso, a simplicidade, a união dos corações.
Está escrito:
"Deus fez habitar em sua casa os que se entendem"
Nos Atos dos Apóstolos lemos:
"A multidão não tinha mais que uma só alma, um só coração."
E o Senhor instruiu de sua própria boca:
"-O mandamento que eu vos deixo é de amar-vos uns aos outros."
Se todos os irmãos se entendessem de acordo com os ensinamen-
tos de paz que o Senhor nos tem dado, há muito tempo que já terí-
amos obtido da divina bondade aquilo que pedimos e não teríamos
sido tão longamente sacudidos no meio da provas que colocam em
perigo nossa salvação e nossa fé.
Comentário do Organizador
A força de uma reunião de cristãos está na harmonia de seus
pensamentos; se há harmonia de pensamentos e sentimentos,
conjugação de esforços no bem, mútua afeição, isso criará um
“clima espiritual” extremamente propício para que os benfeitores
37
Trecho da Carta 11
São Cipriano, um cristão africano 55
espirituais, valendo-se dos recursos mediúnicos unidos a prece
sincera, produzam maravilhas.
Porém se o ambiente mental é confrontado por pensamentos e
sentimentos contraditórios, não teremos uma reunião de mentes
e corações, mas simplesmente um lugar onde várias pessoas es-
tão, isoladas espiritualmente uma das outras.
Não basta nos reunirmos para orar, é pré-requisito que esteja-
mos reconciliados e harmonizados num fraternal elo de amor.
Naturalidade do intercâmbio espiritual38
Comentário do Organizador
O intercâmbio mediúnico a expressar-se em visões, sonhos, cu-
ras e mensagens transmitidas pela palavra ou escrita, ainda é,
muita vez, objeto de zombaria.
Pupiano escreveu uma carta fazendo inúmeras acusações a Ci-
priano, entre as quais, valer-se de sonhos e visões nas orienta-
ções dadas ao grupo cristão de Cartago.
Na carta 66 Cipriano defende-se das acusações, inclusive da-
quela onde é acusado de acreditar em sonhos e visões.
Texto de Cipriano
Eu sei muito bem que alguns acham os sonhos ridículos e as vi-
sões absurdas, mas são precisamente estes que preferem crer
contra os “protetores”que crer nos “protetores”.
De outro lado não há nada de estranho nisso, pois os irmãos de
José39 não disseram dele?
"Ai de nosso sonhador! vamos matá-lo ..."
E o sonhador viu mais tarde seu sonho realizado, e seus assassi-
nos, seus vendilhões, confundidos e obrigados a crerem nos pró-
prios fatos, após terem se recusado a crer em suas palavras.
38
Trecho da Carta 66
39
Cipriano refere-se a José filho de Israel, que tinha sonhos e os revelava a seus
irmãos, e os seus sonhos mostravam que seria maior que seus irmãos, que o
invejavam. Em virtude disso planejaram matá-lo, mas optaram por um crime
menor e o venderam como escravo; porém José depois de um série de
peripécias alcançou altos cargos no Egito e seus irmãos foram obrigados a
curvar-se perante ele e aceitar o seu auxílio.
Edison Carneiro
Quanto ao que você fez seja nas perseguições, seja na paz, seria
loucura minha querer julgá-lo nesta altura, pois é você que estabe-
leceu-se como meu juiz.
Assim eu lhes respondo, com a consciência que tenho de minha
Inocência e a confiança que tenho em Deus e em nosso Senhor:
Vocês têm a minha carta, eu tenho a sua, no dia do julgamento, no
tribunal de Deus, se lerá uma e outra.
Perseverança na oração40
Texto de Cipriano
“Oremos insistentes e assíduos, chorando ao suplicar.”
Esta censura, caríssimos irmãos, nos foi feita há pouco, numa vi-
são, quando dormitávamos na prece não orando vigilantes.
Nós sacudimos, quebramos os liames do sono e oramos insisten-
tes e vigilantes, segundo o apóstolo Paulo:
"Perseverai na prece, vigiando nela"
Os apóstolos não cessavam de orar dia e noite e o próprio Senhor,
mestre de nossa educação e nosso exemplo, orava frequente e vi-
gilante, como lemos no Evangelho:
"Saía para orar no monte, e pernoitava orando a Deus."
E quando orava, orava principalmente por nós pois Ele mesmo não
estava caído, mas carregava nossas quedas.
Na verdade era por nós que Ele suplicava, tanto que lemos em ou-
tro lugar:
"E o Senhor disse a Pedro:
-Eis que satanás vai sacudir-te como o trigo, mas eu tenho orado para que a tua fé não
desfaleça."
É por nós e por nossos delitos que Ele trabalha, vigia e suplica.
Tanto mais nós devemos perseverar nas preces e súplicas.
Comentário do Organizador
Nesse mundo de expiação e provas a oração é um hábito muito
necessário.
Nem longas preces, nem preces repetitivas; não é o muito falar
que nos aproxima de Deus, mas estarmos constantemente liga-
40
Trecho da Carta 11
São Cipriano, um cristão africano 57
dos ao Senhor pelo nosso coração.
Mesmo nas mais comuns obrigações domésticas, sociais ou pro-
fissionais, agirmos conscientes que estamos na presença de
Deus. Estando reunidos em atividade espiritual, notadamente
mediúnica, a atitude da oração se impõe sobremaneira.
Visão dos dois jovens41
Texto de Cipriano
Foi visto um pai de família sentado, tendo à direita um jovem.
Este jovem está sentado com a mão no queixo, um ar aflito, ansio-
so, triste e descontente.
Um outro jovem está à esquerda, tem uma rede na mão, pronta
para lançar e prender as pessoas à sua volta.
Como o vidente perguntasse a si mesmo o que aquilo queria dizer,
foi respondido o seguinte:
-O jovem da esquerda se regozija porque se apresenta o momento
de obter do pai de família a permissão de seviciar o jovem da direi-
ta.
Isto aconteceu bem antes da tempestade devastadora e agora ve-
mos o seu cumprimento.
Enquanto nós desprezamos as ordens do Senhor e não observa-
mos as prescrições salutares da lei, o inimigo obtém o direito de jo-
gar a sua rede e enredar aqueles que estão menos armados e pre-
parados para repelir seus ataques.
Comentário do Organizador
Os benfeitores espirituais frequentemente se comunicam através
de quadros simbólicos. Só teremos a proteção de Deus para não
cairmos em tentações e desequilíbrios se estivermos unidos a
ele pela vigilância, oração e prática do bem.
Jesus afirmava:
“Vigiai e orai para não cairdes em tentação”.
41
Trecho da Cata 11
Edison Carneiro
Súplica42
Comentário do Organizador
Eis uma prece fervorosa, em meio aos sofrimento; prece de es-
perança e humilde confiança no Senhor.
Texto de Cipriano
Com simplicidade e unanimidade;
Com gemidos e lágrimas;
Como os que choram entre ruínas;
Como os que ficam a tremer;
Como fiéis que temem sucumbir;
Como uns poucos que resistem,
Em meio da multidão dos que fraquejam;
Nós não cessamos de pedir e esperar do Senhor:
Que amadureça a volta da paz;
Que o socorro venha;
Que nossas trevas e perigos se dissipem;
Que se produzam as transformações
Anunciadas pelo Senhor:
A restauração do "grupo cristão";
A segurança de nossa salvação;
A luz após as trevas;
A amena mansidão
Após as tempestades turbilhões
Pedimos a Ele que na sua piedosa afeição paternal venha em nos-
so auxilio, com sua divina majestade e habitual grandeza, para que:
As blasfêmias orgulhosas dos perseguidores sejam confundidas.
A fé estável e forte dos perseverantes seja glorificada.
42
Trecho da Carta 11
São Cipriano, um cristão africano 59
Personagens
Exemplos de fidelidade a Jesus, coragem na fé não faltaram naquele tempo; Ci-
priano retratou alguns através de sua escrita; que eles nos inspirem a sermos
melhores.
Mapalico43
Texto de Cipriano
O presente prélio nos deu uma prova.
A palavra plena do Espírito Santo saiu dos lábios de um mártir
quando o bem-aventurado Mapalico, no meio de seus tormentos
cruciantes disse ao procônsul:
-Verás amanhã um combate.
Esta promessa, que testemunha a virtude de sua fé, foi cumprida
por Deus.
Um combate celeste, e o servo de Deus foi coroado no combate
prometido.
É a prova do combate anunciada pelo bem-aventurado apóstolo
Paulo:
“Nós devemos correr e obter a corôa da glória. "
Não sabeis que no percurso de um estádio todos correm, mas só um recebe as palmas?
Correi de maneira a obtê-las!
Eu travei o bom combate, percorri o caminho, conservei a fé.
Resta receber a corôa da justiça que o Senhor guardou para mim, a qual o justo juiz me
dará naquele dia. Não somente a mim, mas a todos que amaram a sua vinda.
É este o combate
Predito pelos profetas,
Dado por Deus,
Sustentado por seus apóstolos,
Que Mapalico em seu nome
E em nome de seus irmãos,
Prometeu ao ao procônsul.
43
Trecho da Carta 10
Edison Carneiro
Aurélio44
Texto de Cipriano
Aurélio:
Nosso irmão;
Adolescente ilustre
Já provado perante o Senhor;
Caro a Deus;
Novo em anos ;
Idoso na virtude e na fé;
Pequeno pela idade;
Grande pela honra.
Aurélio:
Duas vezes lutou;
Duas vezes confessou;
Duas vezes sua confissão foi gloriosa vitória.
Aurélio:
Vencido pelo curso dos fatos;
44
Trecho da carta 38
São Cipriano, um cristão africano 61
Exilado
Entregou-se a um forte combate;
Triunfou no prélio das paixões.
Aurélio:
Era pouco para ele o exílio;
Mereceu a inscrição no fórum;
Sua virtude brilhou mais;
Venceu magistrados e o procônsul;
Superou os tormentos após o exílio.
Aurélio:
Não sei que predicados destacar mais:
Feridas gloriosas;
Costumes discretos;
Virtude honrada e insigne;
Louvável e admirável pudor.
Aurélio:
Tão excelso pela dignidade;
Tão submisso pela humildade;
Foi posto a começar pelo dever de “leitor” 45
Aurélio:
Já mostrou o presságio da paz
Ao fazer sua primeira leitura
No momento do Senhor.
Comentário do Organizador
45
O leitor tinha a tarefa de ler as escrituras para os outros membros do grupo
cristão.
Edison Carneiro
Estendido ao sol,
46
Trecho da carta 39
São Cipriano, um cristão africano 63
Oprimido pela dor,
Ele era mais forte
Que o sofrimento.
Por terra,
Ele era mais alto
Que os que estavam de pé.
Preso,
Ele era maior
Que os que o prenderam.
Julgado,
Ele era mais nobre
Que os que o julgaram.
descanso no Senhor.
O Deus único está sempre presente; apendamos a ter nossa li-
berdade, nossa alegria e nosso alimento nesta presença.
A onipresença Divina é fonte de força e fé a nos sustentar nas
nossas fraquezas.
Será sempre o exemplo que dará força às nossas palavras, que
força terá nossa palavra se a nossa boca diz algo a favor do bem
e nossas mãos a simbolizar nossos atos desdizem o que prega-
mos?
Celerino e Aurélio47
Texto de Cipriano
Era preciso aproximar Celerino de Aurélio, com quem se liga por
uma honra divina e por todos os elos da virtude.
São parecidos, assemelhados; da mesma forma que sua glória é
grande, sua humildade é profunda; Tanto a bem-aventurança divi-
na os leva para a frente, quanto seu amor tranquilo, sua simplicida-
de os leva a apequenar-se.
Seus atos virtuosos, suas disposições interiores, são igualmente
um exemplo para todos; São bons tanto para o combate quanto
para a paz; Dignos de elogios, na luta, pela firmeza, na paz, pela
modéstia.
Eis os servidores que o Senhor ama, os "cristãos confessos" que o
glorificam. Sua vida e suas ações fazem proclamar sua glória a to-
dos, sendo uma lição, um ensinamento para os outros.
O Cristo quis que ficassem longo tempo no "grupo cristão", reti-
rando-os da morte por uma espécie de ressurreição, para que os ir-
mãos não vendo nada mais sublime do ponto de vista da honra,
nem nada mais submisso do ponto de vista da humildade, juntem-
se a eles seguindo seus passos.
Comentário do Organizador
Os espíritos afins se buscam na multidão; unindo-se constituem
as famílias espirituais; Exemplares na coragem e desassombro e
também no amor tranquilo, simples e humildes.
47
Trecho da carta 39
São Cipriano, um cristão africano 65
Que lançando a sua luz de um ponto tão recuado no tempo, pos-
sam iluminar o nosso dia a dia, é a nossa prece.
Numídio48
Texto de Cipriano
Nós fomos advertidos e encarregados pela Divina Bondade de ins-
crever Numídio no número dos "cristãos experimentados" do "gru-
po cristão" de Cartago.
Numídio exortava uma falange gloriosa de mártires, que partiam
antes dele, mortos a pedradas e queimados.
Enquanto sua fiel esposa era cremada, ou antes preservada com
os outros, ele a fitava com doçura.
Ele mesmo foi meio queimado, apedrejado e deixado como morto.
Mais tarde quando sua filha procurava piedosamente o cadáver de
seu pai, o encontrou respirando com dificuldade.
Retirado do meio de outras vitimas, reconduzido à rua, Numídio fi-
cou com pesar à retaguarda dos companheiros que enviara ao céu
antes de si.
Cumprindo o que nos foi indicado, recebemos com alegria o pre-
sente que Deus nos deu, esperando da misericórdia divina um mai -
or número de benefícios desse tipo, para que devolvendo o vigor
ao seu "grupo cristão", Deus faça florir honrosamente em nosso
convívio, os doces e os humildes.
Comentário do Organizador
Todas as pessoas que nos cercam, na verdade, são presentes
de Deus; amigos que nos incentivam no bem; inimigos que de-
nunciam nossos erros afastando-nos do mal e nos temperando
nas provações.
Porém, há alguns em que a misericórdia de Deus fica clara e ex-
plicita, criaturas que nos conduzem e que representam para nós
a providência divina; Numídio foi afastado dos seres que mais
amava ao vê-los partir para o plano espiritual; mas, ficando ainda
para mais algumas provações, ficou, enriquecendo o grupo cris-
48
Trecho da Carta 40
Edison Carneiro
As Minas da Numídia
Início de novas perseguições
Ao assumir o poder o imperador romano, Valeriano, abriu uma
nova perseguição aos cristãos.
O procônsul da província da África, Paternus, convocou Cipriano,
que atendeu a convocação.
No interrogatório Paternus tratou Cipriano até com brandura, da-
das as circunstâncias, e aplicou a pena mínima.
O que o teria levado a isso? Simpatia pela causa? Simpatia por
Cipriano? Senso de justiça?Temor de revoltas? Temor de sortilé-
gios de que eram acusados os cristãos. Desconhecemos a ra-
zão.
Um documento histórico trouxe até nossos dias o interrogatório
que foi mais ou menos nesses termos:
Paternus:
- Os santíssimos imperadores Valeriano e Galiano dignaram-se a
escrever-me uma carta, onde eles prescrevem que aqueles que
não reconhecerem a religião romana deverão fazer uma profis-
são de fé; eu iniciei, consequentemente, um inquérito sobre sua
pessoa, o que você responde:
Cipriano:
- Eu sou cristão e “protetor” de um “grupo cristão”; eu desconhe-
ço outro deuses além do Deus único e verdadeiro que fez o céu,
a terra e o mar e tudo o que eles encerram. É a esse Deus que
nós cristãos, servimos. É a Ele que nós oramos, dia e noite, por
nós, por todos os homens e pela salvação dos mesmos impera-
dores.
Paternus:
- Você persevera nessa disposição?
Cipriano:
- As boas disposições entre aqueles que conhecem Deus não
devem ser mudadas.
Edison Carneiro
Paternus:
- Sendo assim, você poderá, segundo a ordem de Valeriano e
Galiano ser exilado para Curubis?
Cipriano:
- Eu irei.
Paternus:
- Não é somente sobre o assunto dos “protetores”, mas também
sobre os “cristão experimentados” que os imperadores se digna-
ram a escrever-me. Eu desejo então saber de você, quais são os
“cristão experimentados” dessa cidade.
Cipriano:
- As sua leis tem, sabiamente e utilmente, estabelecido que não
se devia existir delatores; os “cristãos experimentados” não po-
dem então ser descobertos por uma delação minha; eles encon-
tram-se no meio da sua população.
- Paternus
Por mim é aqui e agora que eu interrogo.
- Cipriano
A disciplina proíbe que se apresentem espontaneamente, e isso
o desagrada. É você mesmo que os procurando os achará.
Paternus:
- Eu os encontrarei. Eles não se permitem fazer reuniões e ir aos
cemitérios. Se algum deles não observar essa proibição tão salu-
tar, ele encontrará a pena capital.
Cipriano:
- Faça o que lhe ordenaram.
Cipriano partiu então para Curubis, um vilarejo, de ares muito
agradáveis, situado a algumas léguas de Cartago;
Origem da correspondência
Estando no seu exílio, sem poder deixar o vilarejo de Curubis, Ci-
priano empregou seu tempo em corresponder-se com os cristãos
São Cipriano, um cristão africano 69
condenados a trabalhos forçados nas minas da Numídia, além
de escrever algumas outras obras.
Essas minas ficavam no norte da África, a algumas centenas de
quilômetros de Cartago.
A correspondência constou de quatro cartas: inicialmente Cipria-
no enviou uma carta circular, com algum dinheiro, aos prisionei-
ros, serviram de mensageiros Ereniano, Lucano, Máximo e
Amâncio.
Os cristãos conseguiram fazer chegar as mãos de Cipriano, três
cartas em resposta enviadas por três grupos de prisioneiros (Car-
tas 77 a 79).
Que percalços não terão enfrentado Ereniano, Lucano, Máximo e
Amâncio para fazer chegar aos cristãos condenados a carta de
Cipriano?
Que dificuldades não terão enfrentado os cristãos condenados
para escrever e fazer chegar as mãos de Cipriano sua resposta
de gratidão?
Deus provê!
Carta de Cipriano49
Comentário do Organizador
Nesta carta endereçada aos prisioneiros condenados a trabalhos
forçados Cipriano, por diversas formas, afirma o pensamento que
o importante é estar com Jesus no nosso coração.
Tendo jesus no coração os maiores sofrimentos serão suporta-
dos com serenidade e até com alegria.
Texto de Cipriano
De Cipriano
A Nemesiano, Felício, Lúcio, um outro Felício, Liteus, Polia-
no, Vítor, Jáder, Dativo, seus colegas de episcopado.
Do mesmo modo aos seus colegas e "cristãos experimenta-
dos", aos servidores e aos outros irmãos que estão nas mi-
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Integra da Carta 76
Edison Carneiro
A inocência na simplicidade,
A paz na caridade,
São Cipriano, um cristão africano 71
A modéstia na humildade,
O zelo no serviço.
Além do mais, porque nada falha nos seus exemplos, nesta hora
mesma em que suas bocas confessam o Cristo e na qual seus cor-
pos sofrem por Ele, vocês incitam as almas de nossos irmãos aos
divinos martírios e lhes mostram o caminho da virtude: assim, en-
quanto o rebanho segue seus pastores e imita o que vê fazerem os
seus prepostos, ele prepara-se a fim de, com méritos semelhantes,
receber a mesma corôa.
Antes de estarem nas minas, vocês foram cruelmente bastona-
dos50, foi aí que vocês inauguraram sua confissão: isto não é coisa
que se deplore.
lho do ouro.
Para homens consagrados a Deus, e que afirmam sua fé com reli-
giosa virtude, esses grilhões, essas cadeias, não são amarras, mas
ornamentos; eles não desonram os pés que prendem, mas os ilu-
minam e coroam.
Os membros fatigados
Estendem -se sobre o chão duro...
Mas isto não é uma punição
Quando nos estendemos com o Cristo.
Faltam os banhos,
Falta a limpeza do corpo,
A carne guarda a sua sujeira exterior...
Mas o espírito é purificado interiormente.
São Cipriano, um cristão africano 73
vontade de Deus, aquilo que é bom, que é perfeito, aquilo que Lhe agrada.
Eis o que é sobretudo capaz de agradar a Deus.
Eis o que confere a nossas obras uma eficácia maior na obtenção
da indulgência divina.
Eis o que permite à nossa fé e à nossa devoção oferecer a Deus o
digno tributo do nosso reconhecimento por benefícios tão grandes
e salutares.
É isto que diz o Espírito Santo ao Senhor nos Salmos:
"Que entregarei, por todos os bens com que Ele me tem cumulado?
Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor!
A morte dos justos é preciosa diante de Deus 51.
Quem não tomaria alegremente, de bom coração, o 'cálice da sal-
vação'?
Quem não aproveitaria com alegria e prazer uma ocasião de 'entre-
gar' a seu Mestre um pouco daquilo que Ele tem feito por nós?
Quem não receberia com coragem e bravura a morte preciosa di-
ante de Deus, na qual se compraza aos olhos Daquele que no mo-
mento em que se luta por Seu nome, olha do alto, aplaude os que
aceitam a luta, ajuda-os no combate, corôa-os após a vitória,recu-
perando-os com uma bondade, com uma ternura de Pai, por aquilo
que lhes deu para fazer, e honrando aquilo que Ele mesmo realizou
em nós?
Que seja pois por Ele que devamos vencer e alcançar, sobre o ad-
versário vencido, a palma dos maiores combates!
o Senhor proclama em seu Evangelho:
Quando eles vos entregarem, não estejais em cuidado pela maneira pela qual respon-
dereis, ou as coisas que direis O que tereis ,de responder vos será inspirado na hora,
pois não sois vós que falais, mas o Espírito do vosso Pai que fala em vós.
E ainda:
Ponde em vosso espírito, não mais pensar de antemão naquilo que direis para vos de-
fender. Eu vos darei uma linguagem e uma sabedoria às quais vossos adversários não
saberão resistir.
Palavras que devem inspirar grande confiança aos crentes, e que
mostram ao mesmo tempo a extrema gravidade da falta que come-
51
SaImo 15, 12, 13 e 15
São Cipriano, um cristão africano 75
tem aqueles que são infiéis, não acreditando Naquele que promete
seu socorro aos que o confessam.
Estes sentimentos, oh valorosos e fidelíssimos soldados do Cristo,
vocês têm feito penetrar nas almas de nossos irmãos, colocando
em atos, aquilo que vocês ensinaram anteriormente em palavras.
Vocês serão grandes no Reino dos céus, porque o Senhor fez esta
promessa:
Aquele que tem agido e ensinado conforme o Evangelho será o maior no Reino dos
céus
Enfim, uma porção considerável de fiéis, seguindo o seu exemplo,
tem confessado como vocês, e como vocês tem sido coroada, uni-
da a vocês pelo elo da mais terna caridade, unida inseparavelmen-
te a seus prepostos, apesar da prisão e das minas.
Deste contingente são as virgens: elas têm rendido 100 por um
após 60 por um, e conquistaram por dois títulos a corôa celeste.
As crianças52 mesmo, têm mostrado uma virtude acima de sua ida-
de, e não têm esperado completar o número de anos para fazer
uma confissão gloriosa; assim sendo a Sua bem aventurada tropa
de mártires é adornada de todos os sexos e idades.
Conscientes da sua vitória, neste momento, caríssimos irmãos, to-
dos adquirimos com vocês:
O seu vigor;
A elevação de suas almas;
A sua alegria;
O seu triunfante regozijo
De não ter mais que esperar
A recompensa prometida por Deus;
A sua tranquilidade
Para o dia do julgamento,
Ficando nas minas num corpo acorrentado
Mas com uma alma soberana;
O seu conhecimento
52
Os jovens e até as crianças recebiam das autoridades romanas a pena de
trabalhos forçados perpétuos, por declarem-se cristãos.
Edison Carneiro
53
As condições dos campos de trabalhos eram tão ruins que a maioria dos
prisioneiros morria em poucos meses, raros suportavam alguns anos.
54
Íntegra da carta 77
São Cipriano, um cristão africano 77
Texto dos Mártires
A Cipriano
De seus irmãos: Nemesiano, Felício e Vítor.
Saudações eternas no Senhor:
55
Íntegra da Carta 78
Edison Carneiro
Últimas Cartas
No capítulo que ora se inicia coletamos as últimas cartas de Cipriano, alguns tex-
tos que falam de seu julgamento e morte, bem como texto de Domingos Lacordai-
re que nos dá uma perspectiva histórica do cristão.
Após um ano aproximadamente do exílio de Cipriano em Curu-
bis, novo procônsul assumiu a província da África, Gallerius
Máximo, no lugar de Paternus.
Concomitantemente o Imperador Valeriano encaminhou mensa-
gem ao senado determinando que “protetores”, “cristão experi-
mentados” e “servidores”, enfim que todos os que tivessem parti-
cipação ativa nos “grupos cristão” deveriam ser mortos.
O procônsul estando em Utique, cidade localizada perto de Car-
tago, convoca Cipriano.
Cipriano recusa apresentar-se em Utique, fugindo de Curubis e
refugiando-se em local seguro, preferindo que seu martírio se dê
em Cartago, onde alcançaria maior repercussão
Desta vez, ao contrário do que havia decidido em 252 na perse-
guição de Décio, quando sua orientação era essencial para a
continuidade do movimento, Cipriano considera que deva subir
ao martírio para dar testemunho,
Deste esconderijo escreve sua última carta (carta 81) despe-
dindo-se dos irmãos e dando suas últimas instruções.
Preparo para a luta57
Comentário do Organizador
Do exílio Cipriano envia um mensageiro a Roma para ter mais in-
formações sobre a perseguição que está sendo desencadeada
pelo Imperador Valeriano.
Na luta espiritual que se avizinha, a mente deve estar preparada
fixando-se no bem e na imortalidade.
Texto de Cipriano
De Cipriano
A Sucessus, seu irmão
57
'Íntegra da carta 80
São Cipriano, um cristão africano 83
Saudações:
Não escrevi mais cedo, caríssimo irmão, porque todos os encarre-
gados das igrejas, por força da luta sustentada, foram obrigados a
permanecer aqui, mantendo-se alertas na generosidade de seu co-
ração, para a conquista da corôa celeste.
Eis que regressou agora aquele que eu enviei a Roma para saber
ao certo o conteúdo do re-escrito referente a nós, e nos relatar a
verdade.
Circulam, de fato, muitos rumores incertos e contraditórios.
Eis o que é certo:
Valeriano em um re-escrito ao Senado ordenou que:
● Os “protetores”, "cristãos experimentados" e “servidores” sejam
executados no campo;
● Os senadores, pessoas de qualidade, cavalheiros romanos, se-
jam privados de sua dignidade e de seus bens. E se continua-
rem, apesar disso, a se dizerem cristãos sejam mortos;
● As matronas sejam despojadas de seus bens e enviadas ao exí-
lio;
● Os cesarianos58 que anteriormente confessaram o Cristo ou que
o confessem agora tenham seus bens confiscados e sejam leva-
dos a ferros aos domínios das possessões de César.
● Em seu re-escrito o imperador juntou uma cópia da carta que es-
creveu a nosso respeito aos governadores das províncias.
Esperamos ver esta carta chegar, dia após dia, de cabeça erguida,
firmes na fé, prontos a sofrer, esperando da bondade misericordio-
sa do Senhor a corôa da vida eterna.
Vocês devem saber que Sixto foi executado em um cemitério no
dia 6 de agosto e, com ele, quatro diáconos.
Os prefeitos em Roma estendem dia a dia a perseguição, execu-
tando os acusados e confiscando seus bens.
Peço a vocês que levem estas notícias ao conhecimento de nossos
outros colegas, para que, em toda parte, as exortações possam
58
Partidário de César
Edison Carneiro
lar, pois será neste momento que o Senhor falará em nós, pedindo
muito mais uma confissão de fé do que declarações.
Quanto ao que convém fazer ainda, antes que o procônsul me sen-
tencie por eu confessar o nome de Deus, decidiremos no momento
certo, segundo a inspiração do Senhor.
Que o Senhor Jesus, caríssimos irmãos, permita que vocês perma-
neçam sãos e salvos no seu "grupo cristão", e que Ele digne-se a
conservar a todos.
O julgamento dos homens e a libertação
pelo Senhor
Sabendo que o procônsul havia voltado a Cartago, Cipriano re-
torna a cidade.
A 13 de setembro, dois oficiais e alguns soldados prenderam-no,
conduzindo-o num carro ao Campo VI, onde o procônsul compa-
receu pessoalmente, porém protelando o assunto para o dia se-
guinte.
Cipriano passou a noite na casa de um dos oficiais.
Alguns cristãos da cidade acorreram ao local e passaram a noite
diante da porta.
No dia seguinte foi conduzido ao Átrio Sauciolo, introduzido
numa sala de audiências.
Estava coberto de suor. Um soldado ex-cristão lhe ofereceu uma
roupa seca, com a intenção de guardar as do mártir como relí-
quia.
Cipriano recusou, dizendo-lhe:
- Quer cuidar-se de males que sem dúvida desaparecerão antes
do fim do dia.
A audiência com o procônsul foi rápida:
Gallerius:
-Você está bem, Tácio Cipriano?
Cipriano:
-Sim, estou.
São Cipriano, um cristão africano 87
Galerius:
- É você o “pai” da seita sacrílega?
Cipriano
- Eu sou.
Galerius
- Os santíssimos imperadores ordenam a você que sacrifique aos
deuses.
Cipriano:
- Eu não o farei.
Galerius:
- Reflita!
Cipriano:
- Faça o que está prescrito. Em coisa assim tão justa não há o
que refletir.
A seguir o procônsul Galério Máximo pronunciou a sentença nes-
tes termos:
- Há longo tempo que você vive em sacrilégio. Você corrompeu
muitos do povo para a sua conspiração criminosa, e se fez inimi-
go dos deuses e da religião de Roma. Os piedosos e santíssimos
imperadores Valeriano e Galiano, Augustos e o muito nobre Cé-
sar Valeriano não puderam reconduzi-lo à religião romana. Es-
tando convicto de ser o autor e fautor, em primeiro grau, de gran-
des crimes, você servirá de exemplo àqueles que se tem associ-
ado às suas faltas: o seu sangue ensinará aos outros a respeita-
rem as leis63.
E assinando a sentença escrita numa tabuinha:
- Tácio Cipriano é condenado a perecer pelo gládio.
Cipriano disse apenas:
- Deus seja bendito.
Após o julgamento, alguns gritaram:
63
Realmente Cipriano serviu de exemplo, e o seu sangue ensinou a muitos
respeitarem as leis de Deus.
Edison Carneiro
A resposta
Texto do Organizador
Domingos Lacordaire, é destacado pregador cristão, encarnado
na França no século 19 e um dos espíritos que colaboraram na
redação do Evangelho Segundo o Espiritismo codificado por Al-
lan Kardec. O texto a seguir é parte de uma conferência pronun-
ciada em Tours na França transcrito a seguir por fornecer uma
interessante definição da presença cristã na história.
Texto de Domingos Lacordaire
Eu me pergunto se a virtude existe sobre a terra, se o coração hu-
mano é capaz de:
Uma prudência que abrace os interesses da humanidade;
Uma justiça que dê a cada um o que lhe é devido na ordem dos
bens sensíveis e dos bens da alma;
Uma temperança que sujeite o corpo à lei do espírito;
Uma força que chegue a dar, a sua vida pelo direito e pela verda-
de.
Eu me pergunto se há homens que procurem Deus como o fim de
sua existência passageira, como o princípio certo de sua felicidade
e perfeição
Eu me pergunto acima de tudo se há homens que amem Deus,
não digo como nós amamos os homens, mas como nós amamos
as mais vis criaturas: um cavalo, um cachorro, o ar, a água, a luz e
o calor.
Eu me pergunto estas coisas, a mim primeiro, a vocês a seguir, e
eu espero a minha resposta e a sua com um terror que deve decidir
a minha vida.
Eu escuto bocas audaciosas dizerem-me que a virtude é apenas
uma palavra.
Eu escuto de um lado a outro da história o protesto dos céticos, o
sarcasmo dos egoístas, o riso dos debochados, a alegria das fortu-
nas adquiridas através do sangue e do suor dos outros, o grito
queixoso dos corações que não esperam mais, e sozinho no alto
destes raciocínios que me levaram a ideia do verdadeiro, do bem,
Edison Carneiro