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Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia

Discentes: Lucas Maciel, Lucas Brito, Maurício Leandro e Vitor Mariano


Turma: 11822 de Refrigeração e Climatização Industrial
Docente: Solange Almeida

Análise literária do conto “Quantos filhos Natália teve?”, de Conceição


Evaristo.

Em Olhos D’água, da autora Conceição Evaristo, há o conto Quantos filhos


Natália teve? que retrata questões sobre a sexualização do corpo negro,
maternidade precoce e as violências que a mulher negra é submetida.

Esse temas estão totalmente concentrados na personagem Natália e nas suas


relações sociais, seja quando “brincava gostoso quase todas as noites com o
seu namoradinho”, o Bilico, e engravidou pela primeira vez até quando sua
mãe ameaçou levá-la a Sá Praxedes, mas “ela morria de medo da velha.
Diziam que ela comia meninos”, por isso ela resolveu da fugir e se esconder de
Sá Praxes, pegou um trem para o mais longe possível e lá, longe de tudo, teve
a sua primeira gravidez em um hospital, mas, por sorte, uma enfermeira o quis
e o levou, ela se sentiu mais tranquilo e livre.

Mas, depois dos sustos e das vergonhas que as descobertas do corpo lhe
trouxeram, a sua segunda gravidez também não foi por querer. Agora ela “
brincava gostoso com os homens, mas não descuidava”, o que se deu foi que,
uma vez, sei quê nem porquê, uma das “sementes” vingou e ela, novamente
envergonhada, teve que contar a Tonho que estava grávida. “O moço chorava
e ria, abraçou Natalia e repetia feliz que ia ter um filho, que formariam uma
família”, mas Natália não queria fazer parte de uma família. Mandou Tonho
embora e, com ele, a sua segunda gravidez.

Por outro lado, a sua terceira gravidez não se deu a uma semente teimosa,
mas a um casal desesperado. Natalia trabalhava em uma casa e a sua patroa
não consiga engravidar, ela não conseguia entender o porquê daquele
desespero, já que odiava ficar grávida. Mas tudo bem, seria usada pelo patrão,
quantas vezes fosse necessário até engravidar. No fim, quando finalmente
gerou a criança, foi esquecida pela casal, do mesmo modo que esqueceu sua
terceira gravidez.
Já na quarta gravidez, mesmo acontecendo em um contexto mais violento,
numa visão física, do que os outros, ela se sentia feliz. Iria ter o seu primeiro
filho, só seu e de mais ninguém, afinal não viu o rosto do seu abusador. A
vergonha da maternidade era, na verdade, causada pelo ódio que ela tinha
sobre a passividade da maternidade, que via em sua mãe dela. Em todos os
outros momentos, a gravidez se apresenta e ela não detinha controle sobre a
situação. Quando se vinga do estuprador e assume o filho, como algo
totalmente seu, torna-se dona da sua própria ideia de maternidade: mãe
solteira, que irá lutar para ensinar o seu filho como o mundo é, a partir das
experiências que ela teve.

A obra é de 2014, mas, no meio de leitura, percebe-se a descrição de uma


época mais antiga, talvez, essa seja uma forma de afirmar que o status quo da
mulher negra no Brasil não mudou, continua sendo a vitima, mesmo que nessa
estória Natália não seja retratada dessa forma, das diversas violências sofridas:
a física, a psicológica, etc. Entretanto, em outras passagens como em: “O carro
parou e o que estava ao seu lado desceu” mostra-se que há tecnologia
desenvolvida no mundo e que não estamos no século XIX. É engraçado
constatar isto, pois a estória começa com Natália tomando chás abortivos ao
invés de ter procurado métodos contraceptivos emergências.

Por fim, não há motivos para mudar nada na narrativa. A forma com que a
autora formou o texto, em um sentido de inércia social da mulher negra, foi
perfeita e leva ao debate de diversos conceitos. Entre eles, e principalmente,
está a maternidade que Natalia propõe, mesmo sem saber.

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