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LIVRO - VISTORIA VEICULAR - Vagner Pedroso Caovila
LIVRO - VISTORIA VEICULAR - Vagner Pedroso Caovila
VISTORIA
VEICULAR
Evolução da Legislação de Trânsito
e os Aspectos Polêmicos
que a Cercam
Vagner Pedroso Caovila
VISTORIA
VEICULAR
Evolução da Legislação de
Trânsito e os Aspectos Polêmicos
que a Cercam
1ª Edição
Copyright 2015 by
Vagner Pedroso Caovila
156p. – 17cm x 23 cm
ISBN - 978-85-918828-0-9
A Deus, sobretudo.
sumário
Introdução 11
CAPÍTULO I
Breves Considerações sobre o Surgimento do Automóvel 19
1.1 Mas o que são automóveis? 23
CAPÍTULO II
Evolução da Legislação de Trânsito: vistoria automotiva 27
2.1 Mas, o que é vistoria? Qual sua finalidade e importância? 29
CAPÍTULO III
Fraudes em Vistoria 45
3.1 Cultura da fraude e a responsabilidade objetiva do Estado 49
3.2 Método antiquado e falho do decalque 51
3.3 Falhas no processo atual utilizados pelos Detrans e a necessidade do
combate ao crime organizado 57
CAPÍTULO IV
Cenário das Fraudes Envolvendo os Veículos Automotores 61
4.1 Cenário de fraudes envolvendo veículos roubados no Brasil 61
4.2 Principais tipos de adulteração em identificadores veiculares 63
4.2.1 Gravação identificadora de chassi 64
4.2.2 Gravações identificadoras de motor, câmbio e eixo 65
4.2.3 Certificado de registro de veículo (CRV) e
Certificado de registro e licenciamento do veículo (CRLV) 65
4.2.4 Demais pontos identificadores 65
4.3 A Identificação e registro das fraudes 66
4.3.1 Processos de identificação veicular - pontos que devem ser
observados nas gravações identificadoras de chassi e de motor 66
CAPÍTULO V
A Tecnologia Contra a Fraude - Resoluções Contran 282/2008 e
466/2013 e Portarias Denatran 1334/2010 e 130/2014 69
5.1 Equipamentos exigidos das ECVs, segundo a
Portaria 1334/2010 do Denatran 72
CAPÍTULO VI
As Empresas de Vistorias (ECVs) 75
6.1 Funcionamento de uma ECV 77
6.2 Vantagens para a população 80
6.3 Vantagens para o Estado 81
6.4 Justificativa para se transferir as vistorias para as ECVs ao invés de
realizá-las nos postos dos Detrans 81
6.5 Obrigatoriedade da ECV realizar a atividade exclusiva de
vistoria veicular: atividades consideradas conflitantes 83
CAPÍTULO VII
Considerações Acerca de o Credenciamento de
Entidades Privadas pelo Poder Público – Aspectos
polêmicos:
poder de polícia, licitação e o descredenciamento imotivado 87
7.1 Mas, afinal, o que é credenciamento e
qual a fundamentação jurídica desse instituto? 89
7.2 O Credenciamento de empresas para realização de vistoria
automotiva caracteriza a terceirização do poder de polícia? 91
7.3 A Prestação de Serviços das ECVs não deveria se dar por
licitação ao invés de credenciamento? 94
7.4 O Descredenciamento das ECVs pelo Denatran antes de o término
de vencimento de suas respectivas portarias e o dever de indenizar? 97
CAPÍTULO VIII
Coletânea de Jurisprudência Atinente à Legalidade e
ao Credenciamento de Empresas de Vistorias 101
8.1 Justiça Estadual de Santa Catarina 101
8.2 Justiça Estadual do Rio Grande do Norte 105
8.3 Justiça Estadual de São Paulo 105
8.4 Justiça do Distrito Federal 108
8.5 Justiça Estadual do Espírito Santo 110
8.6 Justiça Estadual de Minas Gerais 111
BIBLIOGRAFIA 113
LEGISLAÇÃO 117
Resolução 282/2008 119
Resolução 466/2013 127
Portaria 1334/2010 138
Portaria 130/2014 152
introdução
Vagner Pedroso 11
Caovila
tomadas pelo veículo dublê ou AINDA em alguma blitz onde o proprietário
tem seu veículo apreendido para verificação de qual carro é realmente ver-
dadeiro (não clonado). Nesse contexto, será demonstrado que o processo de
vistoria tem destacada importância na fiscalização e no combate ao roubo,
furto, fraudes, adulteração de veículos e recuperação dos veículos roubados/
furtados.
Com efeito, o presente estudo exibe de forma detalhada a atual
legislação de vistorias, onde se expõe de forma arguta a luta do
Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) em fazer cumprir a
legislação e destruir a “cultura” viciada criada no Brasil da “quebra” da
vistoria, um mal que atinge parte dos Departamentos Estaduais de Trânsito
(Detrans), no País.
Ao final, apresenta-se a figura das Empresas Credenciadas de Vistoria
(ECVs), empresas de vistoria, criadas nos moldes da nova legislação de
visto- ria, que utilizam modernos equipamentos e técnicas visando impedir
as adul- terações, uma verdadeira revolução no que concerne à vistoria em
prol da população, apresentando AINDA, os aspectos legais em torno da
atividade das ECVs, credenciamento, licitação, e jurisprudência.
12 Vistoria Veicular
Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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Vistoria Veicular no Brasil: a Biografia
Vagner Pedroso Caovila e Eduardo Schroeder
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
Cercam
rais, o FBI acionava a Agência de Proteção e Identificação Automotiva
(APIB), com o propósito de identificar traços periciais de identificação e
propriedade dos mesmos. Paralelamente, a APIB acionava a rede de
detetives locais, man- tidos por um consórcio de seguradoras, que buscava
informações comple- mentares aos dados periciais.
Após o término da Primeira Guerra Mundial, outras organizações ten-
taram reproduzir a fórmula da APIB, fenômeno que culminou, quase uma
década depois, no surgimento da National Automobile Theft Bureau
(NATB). Sob o comando de Fred J. Sauter, que a presidiu do ano de 1927
até aposentar- se, em 1962. A NATB tornou-se referência mundial em
identificação pericial de veículos roubados e adulterados, sendo a pioneira
dos procedimentos pe- riciais e vistoriais modernos.
No outro extremo do continente americano, longe da vanguarda mundial,
a história do automóvel e seus “efeitos colaterais” apresentou um ritmo mais
lento, mas, igual e, irreversivelmente, crescente.
O ano de 1891 foi marcado, historicamente, pela chegada do primeiro
car- ro importado ao Brasil, adquirido pelo inventor do avião, o brasileiro
Alberto Santos Dumont. A data do desembarque, 25 de novembro, é
considerada por alguns historiadores como o marco zero da era
automobilística no País.
A despeito de ter sido o ‘Pai da Aviação’, o condutor do primeiro
automóvel em solo brasileiro, com o perdão do trocadilho, não inspirou
outros consumi- dores, pois, o setor automotivo demorou décadas para
decolar no País. Por anos, os pneus do Peugeot, movidos pelo motor
Daimler 1893 de único pistão, con- duzido pelo ilustre inventor, foram os
únicos a percorrerem os paralelepípedos de São Paulo, sob a ovação da
multidão que saía às ruas para assistir ao desfile.
Validando a máxima de que ‘sem demanda não há oferta’, o País de um
único automóvel estava longe [ainda] de enfrentar os “efeitos colaterais” de
seus primos ricos. A indústria do roubo e furto de automóveis demoraria a
nascer no Brasil. Assim, por algum tempo, instituições como APIB ou
NATB, seriam absolutamente dispensáveis em um cenário tão diminuto.
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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pação das autoridades, que criaram o primeiro Código Nacional de Trânsito,
por meio do decreto nº 2.994 de 28 de janeiro de 1941, com foco nas regras
básicas de circulação que, praticamente, vigoram até os dias de hoje.
Contudo, apenas quinze anos mais tarde, no governo de Juscelino
Kubits- chek, o País sairia da inércia e, indústrias de Santa Bárbara d’Oeste,
pequena cidade do interior paulista, queimariam gasolina dentro do pistão
do primeiro automóvel fabricado aqui.
Entre 1956 e 1961 foram produzidas pouco mais de três mil unidades do
primeiro modelo brasileiro, o automóvel denominado Romi-Isetta. Um nú-
mero simbólico perto dos milhões de automóveis vendidos no Brasil e no
mundo. Pegando emprestado o jargão que marcaria a corrida espacial do fim
daquela década, tratava-se de ‘Um pequeno passo para o mercado automo-
bilístico mundial, um grande passo para um País que logo mergulharia na
Ditadura Militar’.
Há de se ressaltar, por sinal, que a Ditadura Militar e o movimento na-
cionalista, juntos, impulsionaram a indústria nacional, ainda, que por um
caminho pouco louvável: o fechamento das fronteiras para a importação de
veículos. Assim, a indústria, genuinamente, brasileira teve sua participação
no mercado, com a fabricação do Gurgel, Miura, Puma, dentre outros. A
maioria destas empresas não prosperou, especialmente após a reabertura das
importa- ções e a competição com os modelos importados, nos anos 90.
A perspectiva de crescimento gozada pelo mercado automobilístico bra-
sileiro era muito promissora, e a competência do Estado em controlar a
frota, inversamente proporcional. Por muitos anos o País desconheceu o
tamanho de sua garagem. Isto porque as estatísticas baseavam-se na emissão
de guias para arrecadação que sofria um processo de duplicação entre
municípios e estados. A inexistência de um registro único aliado a um
processo deficiente de licenciamento e fiscalização não permitiu uma
consolidação precisa do ta- manho exato da frota ativa.
Essa imprecisão tornava-se latente, em particular, no momento de dar
bai- xa nos veículos que saíam de circulação. Este descontrole sempre
trouxe uma sombra de descredibilidade aos números oficiais do Ministério
dos Transpor- tes, desde as primeiras estatísticas publicadas pela extinta
Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes, o Grupo Executivo de
Integração da Política de Transportes (GEIPOT).
Para minimizar o problema, criou-se um cálculo do volume cumulativo
do número de veículos vendidos, aplicando sobre ele um decréscimo
baseado em uma curva de sucateamento onde, estimava-se, sairia
organicamente de circulação metade da frota de veículos com 16 anos e a
totalidade deles ao atin- girem 26 anos de idade. Com base nesta fórmula, o
gráfico 1 apresenta a curva estimada de crescimento da frota no período
entre as décadas de 60 e 90.
A partir da década de 90 a indústria automobilística, no Brasil, deu uma
guinada, que se acentuou na primeira década do século XXI. Apesar de ser
o único membro do BRICS (grupo que reúne Brasil, China, Rússia, Índia e
África do Sul), a não possuir uma montadora genuinamente nacional, o
Brasil tem oscilado nos últimos anos, alternando posições entre a quarta e a
sétima, como potência mundial em produção de automovéis.
Mas há um índice que vem crescendo de forma alarmante, e não é moti-
vo de orgulho para o Brasil. Mais de um século depois dos primeiros roubos
automobilísticos da história, o País tem uma das mais aquecidas indústrias
de roubo, furto e desmanche de veículos do mundo. E o pior, muitos dos
desca- minhos têm sido legalizados pelas brechas legais e, sobretudo,
operacionais, expondo a fragilidade do sistema brasileiro de trânsito.
Veículos que deveriam ser vistoriados por funcionários públicos
altamen- te treinados, idôneos e merecedores de fé pública são transferidos
de dono em dono, muitas vezes, sem sequer comparecer aos locais
designados para averiguação exigida por lei.
Atualmente há diversas ‘Ilhas Cayman’ espalhadas pelo território nacio-
nal. Verdadeiros paraísos para a legalização de veículos irregulares.
Territórios (não necessariamente geográficos) sem lei, onde predomina o
pouco caso pela legislação, incompetência, má-fé, falta de vontade política,
com uma pitada de interesses escusos.
Felizmente, combatentes dos setores público e privado têm estado na
linha de frente, para invadir esses territórios sem lei, usando um rico
arcabouço de armas para combater o crime organizado que se alimenta do
roubo e do furto de veículos. Conheça a história de a Vistoria Veicular no
país. Seu passado, presente e futuro. Entenda como essa simples atividade
profissional deverá ser o divisor de águas entre um Brasil conhecido e
reconhecido por sua produtividade no setor automobilístico, e outro Brasil
líder na indústria do desmanche ilegal de
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
Cercam
automóveis.
frota do ciclo otto no Brasil
16000
14000
mil veículos
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
Gasolina Álcool Otto
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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CAPÍTULO I
BreVes considerações soBre o
surgimento do automóVel
Figura 1 - Réplica
do Benz Patent
Motorwagen, de
1885, velocidade
máxima de 13 km/h.
Vagner Pedroso 19
Caovila
Primeiro automóvel a
gasolina.
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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No Reino Unido é que se desenvolveram as primeiras experiências de
trá- fego, inclusive sendo impostas leis restritivas que obrigavam aos
automóveis serem acompanhados por um homem a pé acenando uma
bandeira vermelha e soprando uma corneta. Tal movimento travou o
desenvolvimento do auto- móvel na região até o fim do século XIX.
Somente em 1908, nos Estados Unidos da América, décadas após a in-
venção do automóvel movido a vapor é que a concepção de automóvel
como se vê hoje, produzido em série/linhas de produção, passou a ser
fabricado por Henry Ford que bateu a impressionante marca de 15 milhões
de unidades vendidas em menos de 20 anos.
Figura 3 -
Romi-Isetta,
o primeiro
automóvel
produzido
em território
brasileiro,
em Santa
Bárbara
d’Oeste/SP
24 Vistoria Veicular
Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
Cercam
no entanto, continua sendo o único membro do BRICS a não possuir uma
montadora, genuinamente, nacional.
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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Dado impressionante é o crescimento da frota de automóvies brasileira
que terminou o ano de 2014, com 86.700.490 automóveis, o que significa
um aumento de 121% nos últimos 10 anos.
evolução da frota nacional
BRASIL: Frota de veículos (2004 - 2014)
86.600.490
75.179.955
81.089.666
64.817.974
54.506.661
45.372.640
39.240.875
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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CAPÍTULO II
eVolução da legislação de trÂnsito:
Vistoria automotiVa
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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2.1 Mas, o que é Vistoria? Qual sua finalidade e importância?
Art. 12.
Compete ao Contran:
I - estabelecer as normas regulamentares referidas neste Códi-
go e as diretrizes da Política Nacional de Trânsito;
II - coordenar os órgãos do Sistema Nacional de Trânsito,
objeti- vando a integração de suas atividades;
VII - zelar pela uniformidade e cumprimento das normas conti-
das neste Código e nas resoluções complementares;
X - normatizar os procedimentos sobre a aprendizagem, habi-
litação, expedição de documentos de condutores, e registro e
licenciamento de veículos.
Art. 103.
O veículo só poderá transitar pela via quando atendidos os re-
quisitos e condições de segurança estabelecidos neste Código
e em normas do Contran.
Art. 22.
Compete aos órgãos ou entidades executivos de trânsito dos
Estados e do Distrito Federal, no âmbito de sua circunscrição.
I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trân-
sito, no âmbito das respectivas atribuições;
II – realizar, fiscalizar e controlar o processo de formação, aper-
feiçoamento, reciclagem e suspensão de condutores, expedir
e cassar Licença de Aprendizagem, Permissão para Dirigir, e
Carteira Nacional de Habilitação, mediante delegação do órgão
federal competente.
III – vistoriar, inspecionar quanto às condições de segurança
veicular, registrar emplacar, selar a placa, e licenciar veículos,
expedindo o Certificado de Registro e Licenciamento Anual,
me- diante delegação do órgão federal competente.
Data de
Resolução Assunto Situação
Edição
Revogada
Altera a Resolução Contran n. 480/74,
489 06/03/1975 pela Resolu-
relativa a características do veículo
ção 298/08
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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Interessante notar o que ocorreu no período entre a fabricação da Romi-
I- setta, o primeiro carro brasileiro, em 1956, e a primeira Resolução acerca
de vistorias. Passaram-se 15 anos, o que significa que o processo de
transferência de proprietário de veículos, durante muito tempo ocorreu sem
qualquer crité- rio técnico e legislação especializada.
Este período “sem legislação” é compreensível, considerando que,
naquela época, existiam poucos veículos em circulação.
Fato importante na história da legislação de trânsito foi a publicação do
decreto 5.108, de 1966, que criou o segundo Código Nacional de Trânsito,
modificado pelo decreto 271 de 23 de fevereiro de 1967, instituindo o
Depar- tamento Nacional de Trânsito (Denatran), órgão máximo executivo
de trân- sito.
O atual Código de Trânsito Brasileiro (CTB), também, trouxe uma im-
portante novidade, a criação do Sistema Nacional de Trânsito (SNT), que é
definido em seu artigo Art. 5º:
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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Art. 2º - As Câmaras Temáticas são:
I – de Assuntos Veiculares;
II – de Educação para o Trânsito e Cidadania;
III – de Engenharia de Tráfego, da Sinalização e da Via;
IV - Esforço Legal: infrações, penalidades, crimes de trânsito,
policiamento e fiscalização de trânsito;
V – de Formação e Habilitação de Condutores;
VI – de Saúde e Meio Ambiente no Trânsito.
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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ciadas pelo decalque (grifo do autor) e garantir a constatação do bem, assim
como permitir uma melhor avaliação de possíveis adulterações nas caracte-
rísticas de gravação, pois, a resolução determinou, exclusivamente o método
óptico (fotografia digital), por permitir em uma segunda etapa, armazena-
mento e conferência eletrônica em Sistema Único Nacional, denominado de
Sistema Nacional de Controle e Emissão de Certificado de Segurança
Veicular e Vistoria (SISCSV).
Interessante notar que durante anos, as vistorias ficaram adstritas à
coleta de um simples pedaço de papel (denominado decalque) onde era
sobreposto ao relevo do número do chassi e rabiscado, com lápis, a
nume- ração. Tal situação que para os leigos parece, até mesmo, uma
brincadeira de criança foi e continua sendo a única forma de
verificação da inexistência de fraudes em vistorias na maioria dos
Estados brasileiros. Sendo ampla- mente utilizado, até hoje, em laudos
de vistorias.
Acerca do decalque serão apresentados vários exemplos que apontam
sua fragilidade e explicam o motivo de o Contran ter extirpado tal método
do ordenamento jurídico brasileiro.
Para os casos de difícil visualização, tornou-se obrigatória a
desmontagem e adoção do laudo de vistoria que, para todos os casos, deve
compreender a foto do número do motor, do chassi e da placa traseira.
A vistoria estabelecida pela Resolução 282/08 trouxe a inovação de
poder ser realizada pelo Detran ou por empresas privadas de atuação
exclusiva em vistorias, denominadas Empresas Credenciadas de Vistoria
(ECVs), devida- mente credenciadas pelo Denatran, conforme critérios
publicados pelas por- tarias do Denatran (n° 131/2008, 312/2010, 431/2010
e 1334/2010).
Conforme se verá pelos requisitos abaixo descritos, é nítida a
preocupação do Denatran ao estabelecer rígidos critérios para atuação das
empresas inte- ressadas em prestar esse tipo de serviço como, por exemplo:
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Profissionais com qualificação técnica comprovada;
Canal aberto de Ouvidoria;
Controle informatizado por biometria;
Filmagem da vistoria por meio de sistema OCR; e
Sistema único de controle de emissão e monitoramento dos laudos
de transferência denominado Sistema de Controle e Fiscalização para
Emissão de Certificado de Segurança Veicular e Vistorias (SISCSV).
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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nomenclatura em questão, neste trabalho, quando se tratar de empresas de
vistorias (sejam credenciadas ou habilitadas).
Mesmo com previsão para entrar em vigor em 1º de julho de 2014, a
Reso- lução 466 só teve efetividade a partir de 1º de novembro de 2014,
consideran- do que a Resolução 496/2014 prorrogou sua data de entrada em
vigor.
Com a entrada em vigor da nova Resolução de vistorias, vários Estados
já estão se manifestando e escolhendo se irão utilizar das empresas privadas
ou continuarão realizando as atividades de forma exclusiva.
Estados como São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Rondônia,
Bahia, Amazonas, já publicaram suas portarias de credenciamento para em-
presas de vistorias, outros Estados estão em estudo quanto ao melhor
formato.
Também se têm notícias de que o Estado de Goiás licitou as atividades
de vistorias e outros Estados estudam o mesmo caminho.
Entende-se que a decisão dos gestores de cada Detran deve se pautar,
prin- cipalmente no benefício para a população e, por isso mesmo, o gestor
de cada órgão executivo de trânsito deve-se questionar se a população está
satisfeita com as vistorias em todas as cidades de seus respectivos Estados e
se o órgão está cumprindo a determinação legal, lançando todos os
resultados das visto- rias dentro do Sistema Único de Vistorias do Denatran
(SISCSV).
CAPÍTULO III
fraudes em Vistoria
Vagner Pedroso 45
Caovila
veículo usado tem a obrigação de transferir a propriedade do bem para seu
nome, ou seja, devem ser repassados os seguintes documentos Certificado
de Registro e Licenciamento do Veículo (CRLV) e o Certificado de
Registro de Veículo (CRV) para o novo comprador, para que no prazo
máximo de 30 dias, transfira a propriedade conforme prevê o art. 123 do
Código de Trânsi- to Brasileiro (CTB):
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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Já para realização da transferência de documento, obrigatoriamente, se
deve proceder à vistoria do veículo para que o órgão executivo de trânsito
(Detran) ou uma empresa habilitada pelo mesmo, culturalmente denominada
ECV, realize a análise física de todos os itens obrigatórios exigidos nas
Resolu- ções números 14, 259, 282 e 466 do Contran.
COMBINADO
VEÍCULO NO LOCAL
ENTREGA ETC.)
DETERMINADO
LADRÃO CHASSI,
ROUBA/ FURTA O VEÍCULO E MOTOR, PLACAS.
ENCOMENDA O ROUBO DE UM
PASSA POR PROCESSO DE ADULTERAÇÃO
LO DE IDENTIFICADORES. (N° DE
VEÍCU
PARA TERCEIROS
DOCUMENTAÇÃO. COMERCIALIZADO
“LARANJAS” SUA VEÍCULO É
E ENDEREÇOS DE PARA QUE SEJA PROVIDENCIADA
VISTORIA”
VEÍCULO É DOCUMENTADO E TRANSFERIDO PARA PROPRIETÁRIO
É REALIZADA A “QUEBRA” DA
Figura 7 - Fluxo da fraude em veículos roubados e adulterados - comercialização
do veículo
Como se pode constatar, a vistoria é um processo fundamental na lega-
lização OU NÃO do veículo proveniente de roubo/furto e adulteração, pois,
somente com a “quebra da vistoria”, com a conivência do vistoriador, ou
ainda pelo erro humano é que se torna possível a legalização de veículos
provenien- tes de roubo/furto e adulteração.
Mas, a “quebra da vistoria” é algo comum no País?
O tópico seguinte trata da “Cultura da fraude” como resposta a esta per-
gunta.
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A grande falha no modelo antigo do processo de vistoria (antes da
Resolu- ção 282/2008) era exatamente deixar que o FATOR HUMANO
fosse o único recurso na realização da vistoria, situação essa que será
alterada com o efetivo cumprimento das Resoluções 282/08 e 466/2013 do
Contran, pois, tais nor- mativas trouxeram um novo processo de vistoria
embasado no uso de equi- pamentos de segurança para garantia de sua
procedência, ou seja, primando pelo FATOR TECNOLÓGICO.
Trata-se de importante avanço proposto aliando a tecnologia a profissio-
nais bem treinados para a realização das vistorias, pois, o uso da tecnologia,
além de coibir e, praticamente impossibilitar a realização das fraudes
(quebra de vistoria) possibilita, ainda, a identificação imediata dos
responsáveis, caso as mesmas ocorram e o ressarcimento dos prejuízos pelo
responsável pela rea- lização da vistoria.
E por que existem tantas fraudes/falhas em vistorias?
54 Vistoria Veicular
Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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comuns nas adulterações de gravações idenficadoras de chassi e motor.
Para efeito de consultas posteriores à realização da vistoria, o decalque
perde a qualidade, pois, o grafite utilizado para visualização da numeração
sofre desgaste com o tempo, prejudicando, muitas vezes, a identificação da
numeração coletada.
Seu arquivamento é físico em um laudo de papel, portanto, é um método
que oferece pouca segurança quando se refere a perdas de informação, seja
por extravio, ou eventos imprevistos, como incêndios e alagamentos.
Figura 15 Equipamento
pericial que realiza o
“raio-X” das numerações
do chassis e motor em
busca de fraude
Outro aspecto que dificulta o trabalho do vistoriador nos postos dos De-
trans é o aumento significativo da frota, que não é acompanhado pelo
investi- mento público na contratação e treinamento de pessoal, estrutura
física ade- quada e equipamentos.
58 Vistoria Veicular
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3.3 Falhas no Processo Atual Utilizado pelos Detrans
e a Necessidade do Combate ao Crime
Organizado
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O método de decalque não possibilita a averiguação do estado das
su- perfícies dos locais das gravações de chassi e motor coletadas no
ato da vistoria;
Não é possível constatar em consultas futuras, se as superfícies apre-
sentavam-se, no ato da vistoria, com quaisquer sinais de adulteração,
como marcas de solda no entorno da superfície, abalroamento da
cha- pa, vestígios de abrasão e/ou de outras numerações sob a
gravação, sendo estes vestígios comumente encontrados em
processos de adulte- ração de veículos provenientes de roubo e furto;
O método de decalque é, ainda, menos eficaz como evidência,
quando a gravação identificadora se apresenta em superfícies rugosas
(porosas). Nestas situações, sequer é possível visualizar os caracteres
gravados;
Dificuldades de acesso ao arquivamento dos laudos em papel com
de- calques de chassi e de motor;
Utilização de sistema Estadual descentralizado, que permitia fraudes
em transferências entre Estados;
Falta de capacitação técnica da maioria dos vistoriadores dos
Detrans, que muitas vezes, eram “emprestados” das prefeituras onde
ocupavam cargos administrativos;
Falta de equipamentos e estrutura para realização das vistorias;
Fraudes facilitadas por “maus” despachantes e agentes públicos que
aceitavam as “quebras de vistoria”.
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Cercam
responsáveis pela realização de vistorias veiculares e suas respectivas
entida- des de classe, como associações, federações e conselhos na busca de
soluções e implementações que dificultem ou inviabilizem tais práticas
criminosas.
CAPÍTULO IV
cenário das fraudes enVolVendo os
VeÍculos automotores1
1
Parte dos textos e informações, deste capítulo, foi fornecida pelo Especialista em
Identificação Veicular e Documental, Hugo Sulacov.
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Cercam
domicílio é uma das principais armas para identificar as fraudes em veículos
produtos de roubo, furto e adulterações de identificadores cujas finalidades
sejam a comercialização de peças e do próprio veículo adulterado a terceiros
de boa-fé.
Quando identificada a fraude ou a suspeita dela, no momento da realiza-
ção da vistoria, o processo de legalização e transferência é interrompido e o
veículo, geralmente, encaminhado à perícia técnica, que através de exames
visuais e químico-metalográficos comprovará a existência da fraude e iden-
tificará o veículo roubado/furtado para que o mesmo seja devolvido ao seu
legítimo proprietário.
A ausência da realização da vistoria veicular, a falta de ferramentas
de controle e fiscalização de quem executa a vistoria ou a execução
desta, por profissional, sem a devida qualificação no momento da
transferência de propriedade e domicílio, são fatores determinantes
para que o veículo, produto de roubo, furto e adulteração seja
transferido para terceiros de boa-fé e o fraudador obtenha êxito em sua
atividade criminosa, a propósi- to, modalidade de crime que é altamente
rentável.
Outra arma importante na repressão de roubo, furto e adulteração de veí-
culos é a informação, ou seja, a qualificação constante de autoridades
policiais em Identificação Veicular e Documental. A informação auxilia na
identifica- ção das fraudes no momento das abordagens realizadas nas ruas e
regiões de fronteiras em blitz policiais, bem como nas operações policiais
realizadas em desmanches clandestinos.
Já existem grandes avanços para controle, fiscalização e identificação de
fraudes envolvendo veículos, como as Resoluções do Contran n.º 282/08 e
n.º 466/2013, que estabelecem critérios, regras e exigências para a
realização das vistorias para fins de transferência e regularização de veículos
pelos órgãos de trânsito ou por empresas de vistorias (ECVs) habilitadas
pelos Detrans.
Tais normativas aliadas às Portarias 1334/2010, revogada posteriormente
pela Portaria 130/2014 do Denatran estabeleceram o controle por um
sistema único fornecido pelo Denatran aos órgãos executivos de trânsito e às
empre- sas habilitadas, por estes, para realização das Vistorias.
O Sistema Nacional de Controle e Emissão de Certificado de Segurança
Veicular e Vistoria (SISCSV) e conforme será detalhado em tópico próprio
estabeleceu um sistema único para lançamento dos dados colhidos em visto-
66 Vistoria Veicular
Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
Cercam
rias nacionalmente. Também estabeleceu um novo padrão de laudo eletrôni-
co, onde são inseridas as fotos colhidas nas vistorias, bem como conferidas,
eletronicamente as informações colhidas em vistorias com as informações
presentes na Base de Informações Nacional (BIN).
Além da utilização do SISCSV, a moderna legislação de vistoria
estabele- ceu a obrigatoriedade da filmagem, registro fotográfico, validação
do laudo por meio de confronto automático com as bases cadastrais e a
identificação do responsável por sua execução por meio de biometria, sendo
empregadas as melhores técnicas com o fito de substituição do fator humano
pelo fator tecnológico.
É importante que se diga que as Resoluções supracitadas, ainda, não
estão sendo adotadas pela maioria dos Detrans do país, os quais continuam
reali- zando as vistorias veiculares pelo processo antigo, por meio do
decalque de chassi, em sistemas individualizados sem qualquer
comunicação com o SIS- CSV.
Bomba injetora;
Caixa de direção;
Segredo de cabine;
Datas de algumas peças.
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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Figura 17 – Método Decalque - Não é possível verificar e evidenciar pelo
decalque a sobreposição de caracteres
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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placas para início das vistorias via tecnologia OCR, bem como exigido a
identificação do vistoriador via biometria, o Denatran conseguiu diminuir o
procedimento irregular da “quebra de vistoria”, pois, a Portaria 1334/2010
exigia que as vistorias pudessem somente ser efetivadas no local
credenciado para realização das vistorias e durante o período determinado de
2 (duas) ho- ras (Art. 8 da Portaria 1334/2010).
Caso um veículo fosse reprovado na vistoria em determinada Circunscri-
ção Regional de Trânsito (Ciretran) ou determinada Empresa Credenciada
para Vistoria (ECV) por eventual inconformidade, este mesmo veículo
ficaria com uma restrição em seu registro só podendo ser transferido após a
regulari- zação (se possível) da inconformidade e nova vistoria no mesmo
local em que fora reprovado anteriormente.
Tal exigência evita que pessoas mal intencionadas possam tentar trocar o
local da vistoria, em caso de reprovação.
A Portaria 1334/2010 estabeleceu, ainda, que as vistorias realizadas pe-
las ECVs e, também pelos Detrans tenham o mesmo procedimento, devendo
lançar o resultado colhido nas vistorias através de sistema único denominado
Sistema Nacional de Controle e Emissão do Certificado de Segurança
Vei- cular e Vistorias (SISCSV).
As ECVs acessavam o SISCSV por meio de um módulo fornecido por
em- presas de informática já homologadas pelo Denatran para essa
atividade, que eram denominadas Unidade de Gestão Central (UGC),
empresas estas que ficavam responsáveis pelo cadastro de usuário no
sistema e de suas biometrias, bem como do suporte técnico para utilização
das câmeras OCR, gerenciamen- to do laudo e sistema administrativo.
Já os Detrans tinham a opção entre contratar uma UGC ou se homologar
para realizar a integração sistema junto ao SISCSV.
As ECVs credenciadas junto ao Denatran trabalham desde setembro de
2011, integradas ao módulo das UGCs, e lançam, diariamente, milhares de
informações colhidas nos processos de vistorias.
Apenas a título de exemplo, no ano de 2013, foram realizadas 4 milhões
de vistorias no Estado de São Paulo, sendo que 2.800 (Dois Milhões e
Oitocentas) mil vistorias foram realizadas pelas ECVs.
No entanto, em virtude de processo administrativo em que a Controlado-
ria Geral da União (CGU), apontou necessidades de melhorias nos processos
de credenciamento das ECVs, questionando ainda a necessidade da
utilização das UGCs, bem como em virtude de solicitação da Associação
Nacional dos Departamentos de Trânsito, a legislação que embasava as
ECVs foi revogada, sendo substituída pela Resolução 466/2013 do Contran.
Conforme já exposto no capítulo segundo, a nova e atual Resolução
acabou com o credenciamento de empresas de vistoria pelo Denatran e
transferiu essa competência para os Estados e para o Distrito Federal, se
assim o desejarem.
A palavra credenciamento foi substituída por habilitação, onde agora os
Detrans, após habilitarem (ou credenciarem) as empresas de vistoria devem
pedir ao Denatran o acesso destas empresas habilitadas/credenciadas ao SIS-
CSV.
A Portaria 1334/2010 foi revogada pela Portaria 130/2014, ambas do De-
natran, sendo que a portaria vigente manteve praticamente as mesmas regras
exigidas na Portaria 1334/2010, com exceção da obrigatoriedade da contra-
tação de empresas UGCs, extintas pela Resolução 466/2013 e 496/2014 do
Contran.
Também não se observa a exigência expressa quanto à utilização de
câme- ras OCR, no entanto, o Denatran já informou aos Detrans que está
desenvol- vendo uma nova versão do SISCSV, onde não será surpresa a
necessidade da sua utilização, já que a câmera OCR dá mais segurança ao
processo de vistoria ao passo que colhe a imagem da placa do veículo e,
automaticamente, abre a OS (ordem de serviço), permitindo, assim, a
abertura do processo de vistoria sem a interferência humana após a leitura da
placa do veículo.
Para fins ilustrativos e de conhecimento do leitor, serão listados a seguir
os equipamentos utilizados pelas ECVs.
76 Vistoria Veicular
Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
Cercam
5.1 Equipamentos Exigidos das ECVs,
Segundo a Portaria 1334/2010 do Denatran
Detecção de presença
do veiculo in-loco
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
Cercam
Não menos importante, o lançamento dos dados das vistorias dentro do
SISCSV alimenta e atualiza a base nacional, fazendo com que atualizações
de bases estaduais sejam, também, inseridas na base nacional.
CAPÍTULO VI
as emPresas de Vistoria (ecVs)
Vagner Pedroso 75
Caovila
anos da “novidade ECV” os Detrans, simplesmente não aceitavam os
credencia-
76 Vistoria Veicular
Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
Cercam
mentos realizados pelo Denatran. Outros Estados, até hoje, não concordam
com o credenciamento de empresas para realização de vistorias.
Ou seja, muito embora as ECVs obtivessem o credenciamento no De-
natran após o cumprimento de todos os requisitos legais previstos na Por-
taria 131/2008, existiram casos onde nunca emitiram um laudo sequer, pois,
os Detrans não reconheciam os laudos realizados pelas empresas privadas, e
por consequência, a população não procurava as ECVs, pois não
conseguiam transferir seus veículos.
Isto ocorreu no estado de Minas Gerais, onde além de o Detran não
aceitar as ECVs, ainda, promoveu Ação Civil Pública contra a Resolução
282/2008 do Contran.
No Estado de Goiás, dezenas de ECVs credenciadas iniciaram suas ativi-
dades, mas, posteriormente tiveram que encerrá-las em virtude de Portaria
do Detran/GO proibindo a aceitação dos laudos das ECVs.
As negativas em aceitação dos laudos de ECvs fizeram com que
centenas de empresas credenciadas recorressem ao judiciário.
Com o passar do tempo, os Detrans foram entendendo que as ECVs não
estavam retirando o serviço dos órgãos executivos de trânsito, mas, auxilian-
do-os na realização da atividade técnica.
Não se pode negar que as centenas de decisões judiciais a favor das
ECVs fizeram com que os gestores dos Detrans começassem a analisar a
questão de forma mais apurada onde compreenderam que as ECVs não
estavam toman- do o poder de polícia das autoridades de trânsito, mas,
apenas auxiliando no processo técnico prévio para a transferência.
A briga entre os empresários que montaram as ECVs acreditando na
Reso- lução Federal, as unidades dos Detrans que não eram contra as ECVs,
as enti- dades representativas de despachantes que tinham interesse na
continuidade dos decalques e o Denatran que queria fazer cumprir a
Resolução do Contran se intensificou no fim de 2011.
No ano de 2012, em virtude da Deliberação nº 126 do Contran foram
sus- pensos os processos de credenciamento de novas ECVs, e foi criado
grupo de Estudos onde o Denatran, a Controladoria Geral da União (CGU),
a Ad- vocacia Geral da União (AGU) e Associação Nacional dos Detrans
(AND) puderam reavaliar a Res. 282, identificando os pontos positivos e os
negativos. Foi um momento de profundo embate onde questões que muito
incomo-
davam os Detrans foram discutidas como o uso do velho e falho método do
decalque, as quebras de vistorias, a utilização individual de sistemas de
infor- mática independentes pelos Detrans, a interferência de terceiros
estranhos ao Detran e as ECVs na realização das vistorias e, especialmente,
o credencia- mento de empresas de vistorias pelo Denatran e não pelos
Detrans.
O resultado é que o Artigo 1º da Resolução 282/008 foi revogado por
uma nova Resolução do Contran a 466/2013, acabando, assim, o
credenciamento de empresas de vistorias pelo Denatran.
A 466/2013 facultou aos Detrans a habilitação/credenciamento das
empre- sas de vistorias para realização das vistorias para fins de
transferência, ou seja, transferiu a competência de credenciamento do
Denatran para os Detrans.
Ademais, referida resolução manteve irretocável a obrigatoriedade de to-
dos os Detrans na utilização do SISCSV, no método digital, com câmeras e
biometria.
A mudança é profunda para as empresas de vistorias que estavam em ati-
vidade, pois, agora dependem da manifestação dos Detrans interessados
para que haja a continuidade das atividades.
Noutro laudo resolve a grande maioria das brigas judiciais onde eram
soli- citados por alguns Detrans a competência para credenciamento das
empresas de vistorias no lugar do Denatran.
Nos últimos meses foram vistos vários Estados publicando suas portarias
Estaduais de credenciamento em locais onde já funcionavam as ECVs, tam-
bém foram vistos vários Estados se manifestando no sentido que de irão cre-
denciar essas empresas.
O fato é que são inegáveis os benefícios da utilização das ECVs em
parce- ria com os Detrans conforme será apontado a seguir, seja de forma
paralela, ou seja, deixando a população escolher aonde quer fazer a vistoria,
ou seja, transferindo essa atividade às empresas de vistorias credenciadas.
Figura 22
– Gravação
da vistoria
pela Câmera
Panorâmica
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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A população tem a escolha entre a opção de realizar a vistoria nas
Cire- trans e, assim, assumir o ônus de ter que ficar em alguns casos
em filas
(sob o sol e a chuva), ou a pagar por um serviço de melhor qualidade
realizado por empresas, que trabalham, exclusivamente, para esse fim.
84 Vistoria Veicular
Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
Cercam
método de decalque de chassi que pode ser fraudado em pedaços de sabão,
cera, madeira
bem como não há garantia de que o decalque está sendo extraído do mesmo
veículo vistoriado.
Inegável, ainda, que quase todos os Detrans do país descumprem a
Legis- lação de Trânsito ao deixar de lançar as informações colhidas no
processo de vistoria dentro do SISCSV.
Doutro lado a mudança trazida pela Resolução 466/2013 do Contran que
transferiu a competência para credenciamento de empresas de vistorias aos
Estados-membros que assim quiserem, trouxe a possibilidade de os Estados
dividirem a responsabilidade na realização das vistorias e se colocarem em
posição privilegiada, de fiscalizador.
Hoje os Detrans, além de credenciar empresas, ainda, podem criar suas
normas de fiscalização complementares, apoiadas nos requisitos já
estabeleci- dos na Res. 466/2013 do Contran e no SISCSV.
Os laudos emitidos pelas ECVs serão homologados ou não pelo Estado
através de o aceite ou a reprova. Qualquer dúvida ou caso de reprovação, o
Estado fará a apreensão até a definitiva regularização, lembrando que a pa-
lavra final no processo de vistoria sempre será dos Detrans, pois, são deles a
prerrogativa para transferir os veículos e, especialmente para fiscalizar seus
entes credenciados.
Pela frota e população em franco crescimento em todo o país, fica mais
dificultosa a tarefa de o Estado montar estruturas capazes de qualificar
profis- sionais habilitados para a realização das vistorias nos moldes
exigidos pela le- gislação, hoje em vigor, pois demandaria processos de
concurso público para a contratação de servidores, treinamento, compra de
equipamentos e monta- gem de estrutura física.
O treinamento de um vistoriador talvez seja a maior dificuldade encon-
trada, pois, não são apenas os cursos de certificação como vistoriadores ou a
aprovação em concurso público que os tornam profissionais capazes de vis-
toriar todos os tipos de carros, mas, a prática. Especialmente pela enorme
variedade de marcas, modelos, anos, nacionalidades e tipos de gravações, pe-
culiaridades que somente são absorvidas após meses de treinamento prático.
Ao decidir pelo credenciamento das ECVs, o Estado transfere ao empresá-
rio a responsabilidade de investir, de montar postos, de contratar pessoal, de
treinar profissionais, de se responsabilizar financeiramente pelo erro técnico
e de atender à população com qualidade.
86 Vistoria Veicular
Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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Por todas as questões até aqui discutidas, lembrando, ainda, dos pontos
mencionados no tópico acima que apresentam o problema cultural existente
em alguns Detrans de “quebras de vistoria”, conclui-se ser mais do que acer-
tada a decisão tomada por parte dos Detrans de credenciar empresas para a
realização da atividade de vistoria veicular.
Todo esse cuidado do Contran tem uma finalidade, evitar que sócios de
ECVs atuem em atividades tidas como conflitante.
Assim, pela leitura das normativas se pode concluir que a Resolução nº
466/2013 estabelece que toda atividade regulamentada pelo Contran ou De-
natran é conflitante com a atividade da ECV, eliminando diretamente desse
mercado atividades regulamentadas como as dos despachantes, centros de
formação de condutores, gráficas para emissão de documentos, fábricas de
placas e lacres, empresas de regravação de motores, dentre outras
atividades.
No mesmo sentido, a Portaria 1334/2010, revogada pela Portaria
130/2014 do Denatran, ao estabelecer os requisitos para credenciamento de
UGCs, em- presas que forneciam sistema para as ECVs, de forma expressa
em seu artigo 12º, § 5º, proibia expressamente que o sócio de uma UGC
fosse, também, sócio de uma ECV.
O Detran do Estado de São Paulo foi mais além na análise do conflito de
interesses, quando da publicação da Portaria de Credenciamento de número
1681/2014, estabelecendo em seu artigo 7º:
88 Vistoria Veicular
Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
Cercam
de confiança, do Detran-SP, bem como seus cônjuges, compa-
nheiros e parentes até o 2º grau;
III - que possua em seu quadro de pessoal empregado ou
servi- dor público, inclusive os de confiança, do Detran-SP,
bem como seus cônjuges, companheiros e parentes até o 2º
grau;
90 Vistoria Veicular
Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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CAPÍTULO VII
considerações acerca de o
credenciamento de entidades
PriVadas Pelo Poder PÚBlico
Aspectos Polêmicos: Poder de Polícia,
Licitação e o Descredenciamento Imotivado
A figura do credenciamento está presente em várias esferas e atividades
do poder público, desde os serviços essenciais como o credenciamento de
hospitais para atendimento via Sistema Único de Saúde (SUS) (Lei
8.080/90), credenciamento de médicos e psicólogos para realização de
exames de habi- litação para dirigir (artigos 148/148 do CTB),
credenciamento de instituições de educação superior (Lei n. 4.024/61),
credenciamento de entidades para o trabalho comunitário de presos previsto
na Lei de Execuções Penais (Lei n. 7.2010/84), credenciamento de
auditorias no Sistema Único de Saúde (Lei n. 1.691/95), credenciamento de
entidades dedicadas ao atendimento da criança e do adolescente (Lei n.
8.069/90).
Seja com o nome específico de “credenciamento”, “outorga”,
“autorização”, ”habilitação”, ou ainda “cadastramento”, fato é que essa
forma jurídica de auto- rização de prestação de serviços por entidades
privadas está presente em qua- se todos os ramos da atividade pública, bem
como aparece em destaque em vários projetos de lei que preveem, por
exemplo, o credenciamento de equipes multidisciplinares, contratos de
gestão, dentre outros.
Especificamente em assuntos voltados ao trânsito, não é diferente. No
pró- prio Código de Trânsito - Lei 9.503 de 23 de setembro de 1997 - a
figura do
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Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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credenciamento está presente nos artigos 20, 24 e 106, conforme
relacionados abaixo:
Atividade de Escolta:
Art. 20. Compete à Polícia Rodoviária Federal, no âmbito das
rodovias e estradas federais:
(...) V - credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar
medidas de segurança relativas aos serviços de remoção de
veículos, escolta e transporte de carga indivisível;
Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito
dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição:
(...) XII - credenciar os serviços de escolta, fiscalizar e adotar
medidas de segurança relativas aos serviços de remoção de
veículos, escolta e transporte de carga indivisível;
Inspeção de Segurança:
Art. 106. No caso de fabricação artesanal ou de modificação de
veículo ou, ainda, quando ocorrer substituição de equipamento
de segurança especificado pelo fabricante, será exigido, para
licenciamento e registro, certificado de segurança expedido por
instituição técnica credenciada por órgão ou entidade de
metro- logia legal, conforme norma elaborada pelo Contran.
96 Vistoria Veicular
Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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Algumas características do credenciamento:
O credenciamento não se presume, sendo objeto de ato estritamente for-
mal. O credenciamento é precário, podendo ser revisto sempre que hou-
ver real interesse. O credenciamento pode ser denominado de outras formas
como “autorização”, “habilitação”, “aprovação”, “homologação” ou
“cadastra- mento”, podendo ser cassado ou descredenciado mediante
simples ato com essa finalidade advindo do poder que lhe outorgou.
Embora o credenciamento não seja um contrato formal, em regra, impli-
ca em interesses recíprocos do outorgante e outorgado, conteúdo negocial,
podendo assim assumir o caráter contratual com características unilaterais e
bilaterais.
O Outorgado, ao obter o credenciamento, não adquire habilitação
jurídica para representação da Administração Pública, mas tão-somente a
habilitação técnica, instrumental, para exercer a atividade para qual foi
credenciado.
A empresa credenciada tem sua atividade controlada pelo órgão
outorgan- te do credenciamento. Por isso, os atos praticados pelo
credenciado são tidos como verdadeiros, confiáveis, corretos, até que se
prove o contrário, ensejando
o credenciado à fiscalização do Poder outorgante.
98 Vistoria Veicular
Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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No entanto, várias são as hipóteses em que o particular é convidado pelo
poder público a realizar certos atos materiais mediante delegação ou
creden- ciamento.
O ilustre jurista Adilson Abreu Dallari em sua obra “Credenciamento”
(Estudos em Homenagem a Geraldo Ataliba, obra coletiva) ressalta que é
ne- cessária, em relação aos atos envolvidos na atividade de Polícia, a
seguinte distinção:
10 Vistoria Veicular
0 Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
Cercam
equipamentos técnicos). Estando presentes, assim, os requisitos para delega-
ção que são a realização de atividade técnica e de natureza instrumental.
Com os dados inseridos no Sistema Nacional (SISCSV), cabe ao Depar-
tamento de Trânsito (Detran) local exercer o poder de polícia, conferindo os
dados lançados no sistema, fotos e conferindo se não existem restrições ou
pendências, concluindo ao final pela aceitação ou reprovação da vistoria.
Ou seja, a palavra final no processo de vistoria continua sendo,
exclusiva- mente do Departamento de Trânsito local, que poderá apreender o
veículo, realizar novas vistorias, bem como exercer todas as atribuições que
o poder de polícia lhe permite realizar.
Com efeito, não há delegação do poder de polícia, que continua integral-
mente exercido pelas autoridades de trânsito (Detran e Ciretran).
Em análise da formalidade jurídica dos atos administrativos de creden-
ciamento de empresas de vistoria, observa-se que preenchem plenamente os
requisitos de competência, pois são outorgados pelo detentor da competên-
cia originária (Antes Denatran e que após a Resolução 466/2013 passou aos
Detrans); objeto é lícito, serviço de vistoria de veículos realizados em
padrão predefinido pelo Denatran/Detrans; forma, prevista em regulamento
próprio contendo todos os requisitos padrões; motivo fundamentado na lei
em vigor e motivado pela necessidade de propiciar ao cidadão um serviço de
mais qua- lidade e segurança; finalidade, estrito interesse da população,
necessidade de o Contran mudar os quadros anteriores à legislação em vigor,
onde o próprio Estado homologava as fraudes em automóveis por meio das
vitorias falhas e “quebras” de vistoria (grifos do autor).
O credenciamento de empresas para atividades de vistoria é
perfeitamente válido e legal, pois, atividades previstas nas Resoluções
282/2008 e 466/2013, são atividades eminentemente técnicas, instrumentais
e de mera verificação, sendo que o resultado desta atividade materializado
em um “laudo de vistoria” será utilizado pela autoridade de trânsito para
instrumentalizar sua decisão de proceder ou não a vistoria, ou seja, o serviço
prestado pelas ECVs é o meio, a atividade técnica e instrumental para que o
poder público atinja o fim, que é a decisão sobre a aceitação da
transferência, reprovação, apreensão, ou ainda qualquer medida necessária
de obrigação de fazer ou não fazer, insculpida no poder de polícia.
Ao credenciar empresas para a atividade de vistoria automotiva, o poder
público coloca à disposição da população uma comodidade, um conforto e
uma utilidade, dando ao particular a opção de realizar as vistorias nas ECVs,
pagando para isso, ou continuar a realizá-las nos próprios órgãos de trânsito.
Além de a questão ser dominante doutrinariamente, em decorrência de di-
versos questionamentos judiciais sobre o tema, a questão foi enfrentada e dis-
cutida em todos os Tribunais onde o Estado possui ECVs, sendo certo que a
questão vem sendo pacificada conforme o entendimento externado na ementa
abaixo, bem como nas diversas ementas que serão apresentadas no próximo
capítulo:
10 Vistoria Veicular
4 Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
Cercam
Na verdade, o CTB estabeleceu a competência privativa do Contran para
legislar sobre assuntos pertinentes a trânsito, ficando desta forma, os
Estados- membro proibidos de editar normas próprias, salvo, é evidente, nos
assuntos de rotina administrativa ou, ainda, quando a normativa do Contran
expres- samente autoriza que os Detrans regulamentem determinadas
matérias con- forme a peculiaridade de cada Estado.
Isto significa que em regra, o Estado-membro não tem a liberalidade de
editar regulamentos próprios em matéria de trânsito, não podem deixar de
aplicar norma editada pelo Contran, ou Denatran, não podem inovar e não
podem descredenciar entidade credenciada pelo órgão máximo de trânsito,
salvo a exceção prevista acima.
Sobre esse assunto já escreveu o brilhante jurista Cyro Vidal:
10 Vistoria Veicular
6 Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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De fato, pela leitura desatenta ao texto da Lei de Licitações (nº.
8.666/93), pode-se ter a falsa ideia de que todos os tipos de serviços que o
particular participe e que tenha relação com o Poder Público deveriam ser
precedidos de licitação.
In casu, não há necessidade de licitação por vários fatores destacados:
10 Vistoria Veicular
8 Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
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pessoa credenciada em caso de cancelamento do credenciamento antes do seu
prazo inicialmente previsto.
No entanto, a figura do credenciamento mesmo sendo atípica, na medida
em que não encontra albergue explícito na Lei 8.666/93, é amplamente reco-
nhecida pela Doutrina e pela Jurisprudência como negócio jurídico de feição
contratual ou mesmo como contrato administrativo propriamente dito, de-
corrente de inexigibilidade de certame licitatório.
Assim, quando uma pessoa jurídica atendendo ao chamamento do ente
público no sentido de credenciamento para o exercício de determinada ativi-
dade por um prazo determinado, é óbvio que o empresário que investe para a
consecução do objeto do credenciamento se prepara para atuar na atividade
credenciada no tempo mínimo previsto no seu ato de credenciamento.
E o exaurimento do tempo mínimo de credenciamento é ato necessário
para que o empresário possa ter dentro de um planejamento, o retorno do
investimento.
O corte abrupto do credenciamento, sem motivação, afronta o princípio
da segurança jurídica.
A segurança jurídica é um direito fundamental do cidadão. O Estado De-
mocrático de Direito pressupõe uma ordem jurídica em que se garantam im-
portantes instrumentos para a defesa dos particulares em face de o Poder do
Estado. Os direitos e garantias individuais se apresentam como a maior
defesa dos cidadãos em relação ao Estado.
A segurança jurídica é um princípio que implica normalidade, estabilida-
de, proteção contra alterações bruscas numa realidade fático-jurídica. Signi-
fica a adoção pelo Estado de comportamentos coerentes, estáveis e não con-
traditórios. É também, portanto, respeito à realidades consolidadas, princípio
este previsto no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal (CF) - “a lei não
prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
julgada”.
Assim, se uma pessoa abre uma empresa de vistorias e se submete a
severos critérios de credenciamento para exercer uma atividade plenamente
regulada pelo órgão máximo de trânsito, o Denatran – inclusive realizando
altíssimos investimentos com adequação de instalações, compra de
equipamentos, cer- tificações, seguros, treinamento de pessoal, não tem
sentido a lei ou qualquer ato editado, revogar o seu direito conquistado de
trabalhar pelo tempo fixado no seu credenciamento.
Ainda, considerando que o credenciamento é forma jurídica que deve ter
sua interpretação subsidiária baseada na Lei 8.666/93, insta ressaltar que as
alterações unilaterais devem estar motivadas nos moldes do art. 65, I, “a” e
“b” da Lei nº 8.666/93, além de que as alterações devem respeitar os direitos
do contratado, de acordo com o que prescreve o art. 58 na parte final do
inciso I da citada lei.
O ato praticado pelo Contran em alterar o art.1º da Res. 282/2008 que
previa o credenciamento de ECVs pelo Denatran, revogando, assim, o
creden- ciamento de centenas de empresas antes de o vencimento de suas
respectivas portarias não mostra o cumprimento das cautelas necessárias à
espécie. Razão por que a alteração realizada não se justifica em face de fatos
novos e imprevi- síveis à época da instauração do edital de credenciamento,
que tenham força bastante para alterar a demanda do interesse público, e, se
não há fatos novos e imprevisíveis, a alteração contratual é ilegítima e ilegal.
Visando a segurança jurídica e o respeito ao direito da empresa que teria
suas atividades paralisadas pelo Descredenciamento, o Contran poderia ter
respeitado as datas de credenciamento de cada empresa ao invés de ter toma-
do a violenta medida contra as empresas de vistorias, que agora, dependem
ir- restritamente dos Detrans para decidir sobre a continuidade ou o
fechamento da empresa.
11 Vistoria Veicular
0 Evolução da Legislação de Trânsito e os Aspectos Polêmicos que a
Cercam
CAPÍTULO VIII
coletÂnea de JurisPrudÊncia atinente
À legalidade e ao credenciamento de
emPresas de Vistorias
A coletânea de ementas a seguir visa dar elementos de pesquisa
sobre as matérias que envolvem o credenciamento e a legalidade
das empresas de vistorias, tendo sido pesquisados nos acervos
jurisprudenciais dos Estados onde já atuaram ECVs.
Capítulo I
Das Vistorias
Capítulo II
Capítulo IV
Capítulo VII
Capítulo IX
Da Regravação de Motores
Art. 10. Não existindo norma técnica da ABNT, a gravação a que se referem
os artigos 3º, 5º, e 7º somente será executada em superfície virgem do bloco, composta
por nove dígitos com a seguinte regra de formação:
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Das Sanções
DECLARAÇÃO:
Considerando o disposto no inciso III do art. 22, nos incisos I e II do art. 123 e do
inciso V do art. 124, da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que institui o Código de
Trânsito Brasileiro.
RESOLVE:
Capítulo I
Das disposições preliminares
II - a legitimidade da propriedade;
§ 1º O acesso de que trata este artigo será realizado por intermédio do órgão ou
entidade executivo de trânsito do Estado e do Distrito Federal contratante, que ressarcirá ao
DENATRAN os custos referentes aos acessos à base de dados do Registro Nacional de
Veículos Automotores - RENAVAM pelo SISCSV, nos termos da regulamentação a ser
editada pelo DENATRAN.
Capítulo II
Dos requisitos para habilitação do exercício dos serviços de vistoria de identificação
veicular
Capítulo III
Das Competências
Capítulo IV
Das sanções administrativas aplicáveis às empresas habilitadas
Art. 11. Constituem infrações passíveis de suspensão das atividades por 30 (trinta)
dias na primeira ocorrência, de 60 (sessenta) dias na segunda ocorrência e de 90 (noventa)
dias na terceira ocorrência:
Art. 13. Além das infrações e penalidades previstas nos artigos anteriores, será
considerada infração administrativa passível de cassação do habilitado, qualquer ato que
configure crime contra a fé pública, a administração pública e a administração da justiça,
previstos no Decreto-Lei 2.848/40, e atos de improbidade administrativa previstos na Lei nº
8.429/92, em especial a ofensa aos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e interesse público.
Art. 14. Os órgãos e entidades executivos de trânsito dos Estados e do Distrito Federal
poderão suspender cautelarmente, sem prévia manifestação do interessado, as atividades de
vistoria de identificação veicular da pessoa jurídica de direito público ou privado,
motivadamente, em caso de risco iminente, nos termos do art. 45, da Lei nº 9.784/99.
Art. 15. A pessoa jurídica cassada poderá requerer sua reabilitação para o exercício da
atividade de vistoria de identificação veicular depois de decorridos 2 (dois) anos da aplicação
da penalidade.
Art. 16. As sanções aplicadas às pessoas jurídicas habilitadas são extensíveis aos
sócios, sendo vedada a participação destes na composição societária de outras pessoas
jurídicas que realizem as atividades de que trata esta Resolução.
Capítulo V
Das disposições finais e transitórias
Art. 21. Esta Resolução entra em vigor em 1º de julho de 2014, quando ficará
revogada a Resolução CONTRAN nº 5, de 23 de janeiro de 1998 e o art. 1º da Resolução
CONTRAN nº 282, de 26 de junho de 2008.
objeto da reabilitação, ou, ainda, que seja passível de credenciamento junto ao DENATRAN
neste período.
§ 3o. É facultado às ECV's e aos DETRAN's a troca de UGC precedida de comunicado ao
DENATRAN apresentando o cronograma de mudança e exposição de motivos.
§ 4o. Não será permitido o armazenamento de informações fora do Brasil.
Art. 12o. O Sistema que trata o módulo UGC, deverá ser desenvolvido/mantido por
empresas inscritas no DENATRAN e integradas ao SISCSV.
§ 1º Para o credenciamento como UGC junto ao DENATRAN será exigido da empresa
interessada a apresentação dos seguintes documentos:
a) ofício ao DENATRAN requerendo a inscrição, informando que dispõe de infra-
estrutura de hardware, de software e de pessoal técnico, com as adequações necessárias à
operação e ao funcionamento do sistema exigido nesta portaria;
b) cópia do Contrato Social da empresa, estatuto ou regimento atualizado;
c) comprovante de inscrição no CNPJ/MF;
d) comprovante de inscrição estadual;
e) certidões negativas de débitos com a união, estado e município da sede da empresa
interessada;
f) diagrama funcional do sistema e modelo de dados;
g) comprovante de certificação ISO/IEC 27.001:2005 para as UGC's e ABNT NBR 11515
ou EN 1047/2 para o ambiente que abriga dos dados do sistema;
h) comprovação de possuir certificado de sistema de qualidade padrão ISO 9001.
i) declaração da empresa e de todos seus sócios de não atuarem em atividades conflitantes;
§ 2º A inscrição dos DETRAN's no DENATRAN se dará, mediante a apresentação dos
documentos previstos nas alíneas “a” e “f” do parágrafo anterior;
§ 3º Após a aprovação de inscrição, dar-se-á a entrega de Especificação técnica de
WebService de comunicação do Módulo UGC com o Módulo Central do DENATRAN
mediante a assinatura de termo de sigilo e confidencialidade;
§ 4º A empresa deverá apresentar Certificado de Atendimento aos Requisitos Técnicos de
Software, Hardware, Segurança e Ambiente, expedido por Instituição Técnica Credenciada pelo
DENATRAN, que ateste condição de aptidão para operação integrada ao SISCSV;
§ 5º No período de certificação a UGC e as empresas produtoras de sistemas integrados ao
SISCSV, deverão apresentar o resultado de cinco auditorias, no mínimo uma in-loco e com
possibilidade das demais serem via remota, a qualquer tempo e sem aviso prévio, estando
sujeitas às penalidades contidas no anexo V.
§ 6º Não poderão se candidatar aos serviços de UGC as empresas de análise de crédito ou
venda de informação, empresas que tenham como proprietário, sócio, ou façam parte de um
grupo, ou que possuam parentesco até segundo grau de quem seja proprietário ou sócio de uma
ECV.
Art. 13o. O DENATRAN poderá exigir, a qualquer momento, dados complementares aos
referidos no Art. 12 e nova certificação de sistema.
Art. 14o. A Inscrição de que trata o Art.1º terá validade de 02 (dois) anos.
Parágrafo único. O DENATRAN poderá cancelar a inscrição a qualquer momento, quando
comprovar que as empresas deixaram de cumprir com as exigências desta Portaria.
Art. 15o. As ECV's e as UGC's terão, respectivamente, o prazo de 120 (cento e vinte) e 90
(noventa) dias para se adequarem a esta Portaria.
ANEXO I
I - DO OBJETO
DAS CERTIFICADORAS
1. Aspectos Gerais
2. Papéis de Trabalho
nesta portaria.
3.3 As evidências devem ser relatadas e anexadas ao processo principal da UGC, e no caso de
empresas coligadas no sistema, ficará uma cópia no processo da UGC e o original será
encaminhado à CGIT.
ANEXO II
I - DO OBJETO
A presente especificação funcional define a Unidade de Gestão Central (UGC), que será
encarregada de todo o processo de controle e emissão dos documentos eletrônicos disponíveis
na Central SISCSV, através da busca das informações de veículos na BASE do DENATRAN e
pelo sistema local das Empresas Certificadas para o reto cumprimento das resoluções referidas
nesta portaria.
II – INTRODUÇÃO
I - DO OBJETO
LEGISLAÇÃO - Portaria 1334/2010
II – INTRODUÇÃO
1.1. As ECV deverão fornecer links que propiciem capacidade de comunicação, a partir da
estação de trabalho remota para a central da UGC.
1.2. Os dados e imagens dos veículos deverão ser enviados assim que capturados para a UGC.
1.3. As filmagens não serão acessadas on-line, mas deverão ser encaminhadas para a UGC até o
primeiro dia útil do mês subseqüente através de mídia eletrônica. (backup).
1.4. Os equipamentos deverão ter capacidade para obter dados da UGC em quantidade e
velocidade compatíveis com o fluxo de veículos.
1.5. Os equipamentos deverão permitir a reprodução, em papel, de dados e imagens capturados
pelos mesmos.
1.6. Possibilidade de acesso ao help-desk da UGC para suporte técnico e operacional.
Função cujo objetivo é o cadastro obrigatório na UGC do resultado para os itens decorrentes da
Res. 05/98 do processo de vistoria.
Por ocasião da apresentação do CRV do veículo, o mesmo deverá ser fotografado/escaneado e
O Módulo Registrador responde pelo registro da imagem dos veículos na área monitorada, a
partir de um comando do módulo de controle local. As imagens registradas e os dados deverão
permitir a perfeita identificação do veículo, quanto à sua marca, modelo, cor, placa e local da
inspeção.
Para essa identificação, o registro deverá conter:
a) Data da gravação em dia, mês e ano (dd/mm/aaaa);
b) Instante da gravação em hora, minuto e segundo (hh:mm:ss);
c) Código para identificação do sistema, do local de operação.
REQUISITOS TÉCNICOS FUNCIONAIS DO MÓDULO REGISTRADOR DE
IMAGEM
Este módulo é responsável pela reprodução fiel dos dados capturados pelo sistema e/ou
introduzidos pelos operadores. Deverá apresentar textos e imagens com qualidade de impressão
de 600dpiem folhas de tamanho A4. No rodapé deverá constar obrigatoriamente o nº da UGC
cadastrado no sistema e, se caso for gerado o laudo de vistoria com o sistema em off-line,
deverá constar a Data e hora da geração do Laudo. Conforme modelo do anexo IV.
DATA VALIDADE
VISTORIA
e não-conformidades
Considerando o disposto no art. 124, inciso V e no art.125 do CTB, bem como o disposto
no art. 311 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, que institui o Código Penal
Brasileiro;
RESOLVE:
Do Âmbito e Finalidade
§ 1º A relação de que trata o caput deste artigo deverá ser elaborada em planilha eletrônica,
devidamente preenchida com nome, endereço, telefones para contato, CNPJ, área geográfica de
atuação, ato administrativo de habilitação e prazo de vigência, nome do preposto responsável e
encaminhada ao endereço eletrônico a ser divulgado pelo DENATRAN.
abaixo:
Ou
Art. 7º Os valores recebidos pelos serviços prestados com base nesta Portaria são
classificados como Receita de Serviços e deverão ser recolhidos à Unidade Gestora/Gestão
200012/0001 - Departamento Nacional de Trânsito, no código de recolhimento 28820-9 - Serviços
de Comercialização de Processamento de Dados e Material de Informática, exclusivamente por
Guia de Recolhimento da União (GRU) do tipo Simples ou Cobrança.