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EXCELENTÍSSIMA SRA DRA.

JUÍZA DE DIREITO A 17ª VARA CÍVEL DO


FÓRUM DE JOÃO PESSOA – P.B.

PROC. 0021566-71.2013.815.2001

GABRIEL DE SÁ TELES E LIMA, Doutor em Engenharia Mecânica, registrado


no CREA sob número 161161964-5, perito nomeado no Processo 0021566-
71.2013.815.2001, Ação Sumária, promovida por RAQUEL DA SILVA MENDONÇA
contra AUTOCLUB VEÍCULOS E PEÇAS LTDA e OUTROS, tendo efetuado a análise
do conteúdo da ação, vem respeitosamente solicitar o seguinte:

A liberação dos honorários depositados; e


A juntada do presente laudo aos autos.

LAUDO

I. DO ALVO DA ANÁLISE

Trata-se de um veículo de fabricação Brasileira, marca Honda, modelo City EX


AT, de cor cinza, fabricado em 2011, modelo 2012, chassi número
93HGM2620CZ200354 e placa OET-9077. Na ocasião da reclamação, o hodômetro
registrava 6.136 quilômetros percorridos e o veículo calçava rodas originais de liga de
alumínio de 16” com pneus radiais (sem câmara).

II. DO DEFEITO RECLAMADO

Fratura da roda dianteira direita proveniente de Vício e Defeito de Fabricação,


Montagem ou Material, o que segundo a Autora, seria passível de reparo acobertado pela
garantia de fábrica da montadora.

III. DO HISTÓRICO DO VEÍCULO

Em suma, a Autora, proprietária de um veículo da marca Honda, modelo City LX


FLEX 2011/2012, alega que, em 15.01.2012, dirigia o veículo acompanhada de sua
família, quando foi surpreendida com um comportamento anormal no setor dianteiro do
veículo

Ao parar o veículo, a Autora observou que o pneu estava completamente vazio e


que a roda apresentava uma rachadura ao longo da circunferência do aro.

A Autora recorreu à concessionária AUTOCLUB HONDA para a realização do


reparo do produto, sendo negada a garantia do serviço.

Insatisfeita, a Autora entrou com uma reclamação na Promotoria Especializada de


Defesa dos Direitos do Consumidor apenas em face da concessionária AUTOCUB
HONDA, para solucionar o problema, ficando acordado que a concessionária se
comprometeu a ceder um estepe completo, bem como concordou com a realização de
perícia técnica no produto defeituoso.

IV. DAS PERÍCIAS REALIZADAS

A partir dos documentos inseridos no processo, foi elaborado um resumo


cronológico dos fatos que podem ajudar no entendimento do ocorrido.

A) Requerida pela Autora

A reclamante solicitou junto ao Instituto de Polícia Científica – I.P.C. da Paraíba,


a realização de um exame de constatação de danos na roda danificada com o pneu ainda
acoplado.

Os registros fotográficos apresentados pelo órgão (fls. 44 à 48) ilustram a roda


com uma fratura completa ao longo de toda a sua circunferência. As fotos 05 e 06 (fl. 46)
ilustram o disco (face externa) totalmente destacado do aro. As fotos 07 e 08 (fl.47)
ilustram os detalhes da fratura no disco e no aro.

Dentre as observações apontadas no laudo é importante destacar as seguintes:


a. “DOS DANOS NA RODA: Com o pneu desconectado da roda, foi
possível verificar que a roda sofreu dano por ruptura contínua ao longo do
perímetro da circunferência, porção mediana da mesma, perfazendo
trezentos e sessenta graus.”
b. “CONSIDERAÇÕES: Ao verificar o objeto do estudo, o Perito relator
observou que, ao longo da superfície das partes apartadas, ocorria algo
semelhante à oxidação, de forma não contínua, pois em pontos isolados, a
superfície apresentava vestígios de ruptura recente, ou seja, partes não
oxidadas, o que indica que a peça antes da ruptura continha uma fissura ao
longo da superfície circular.

Contudo, é importante fazer mais algumas observações sobre o material


apresentado no laudo:
a. Quanto às Considerações (fl. 42), o Perito constatou visualmente, a
presença de regiões de oxidação ao longo da fratura na roda de liga de
alumínio. Entretanto, não estão descritos detalhes referentes ao tipo de
oxidação e em quais circunstâncias ela se formou.
b. A foto 02 (fl. 44) ilustra a face da roda ainda acoplada ao conjunto aro e
pneu. É possível observar uma deformação plástica na base inferior do
raio posicionado ao lado direito da válvula de ar. Na foto 09 (fl. 48) é
possível observar, por outro ângulo, a mesma deformação próxima à base
do raio. Este tipo de deformação ocorre quando a roda é submetida à forte
impacto no sentido radial, fato que não foi citado pela Autora.

B) Requerida pela AUTOCLUB HONDA

A Corré solicitou a realização de perícia junto à empresa J.A.N.P. ENGENHARIA


(fls. 102 à 112) localizada na cidade de Santos, no estado de São Paulo.
Para a realização do trabalho, foi utilizado material fotográfico fornecido pela
AUTOCLUB HONDA, produzido na ocasião da entrada do veículo em sua oficina
quando foi constatado o problema da roda pela Autora.

Dentre as observações apontadas no laudo é importante destacar as seguintes:


a. As imagens na fl. 107 ilustram, de forma mais nítida, deformação plástica
na base inferior do raio (face externa). É possível observar também uma
grande deformação plástica na borda interna da roda, formando uma
potencial região para o escape do ar pressurizado no interior do pneu.
Ambas as deformações plásticas identificadas, foram causadas por forças
de impacto radiais. Contudo, não fica claro quais circunstâncias causaram
tais deformações.
b. As imagens na fl. 109 ilustram a região inferior frontal do veículo, que
apresentam marcas de impacto no lado direito do protetor de cárter.
Manchas de tinta branca se sobrepõem às marcas no protetor de cárter,
indicando que houve o deslocamento do veículo após sofrer o impacto.
Desta forma, não se pode associar diretamente, os danos no protetor de
cárter com as deformações na roda.

Não foi realizada uma nova perícia na roda danificada do veículo objeto de exame,
porque ele não se encontra mais de posse da Autora.

V. DA FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O presente Laudo foi concebido a partir da análise das informações contidas no


processo com base em fundamentação teórica técnica.

Capítulo do livro “TECNOLOGIA MECÂNICA: Processos de Fabricação e


Tratamento”, Chiaverini (1986):

Quanto às propriedades da liga de alumínio que constituem a roda, o autor afirma


que esse material apresenta boa resistência devido à estabilidade do seu principal óxido
(Al2O3) que se forma na superfície do metal. Essa resistência à corrosão é melhorada por
anodização, que a inda melhora sua aparência, tornando-o adequado para aplicações
decorativas. A adição de elementos de liga geralmente retarda a formação do óxido, não
melhorando a resistência à corrosão.
A roda em análise foi fabricada a partir da liga de alumínio e em seguida,
submetida ao processo de anodização para proteger contra os efeitos da oxidação.

Artigo científico n.01: “Teste de impacto radial de rodas de alumínio -


simulação numérica e validação experimental”

A pesquisa científica realizada pelos autores PREVIATI, BALLO, GOBBI,


MASTINU (2019) aborda a simulação numérica e o teste de validação do teste impacto
radial em rodas de alumínio. Segundo os autores, este tipo de avaliação é crucial para a
determinação do nível de segurança nas rodas automotivas, normalmente sujeitas a
condições de trabalho dinâmico severas.
Os testes foram realizados de acordo com normas técnicas internacionais como a
SAE-J175 (2006), a ISO:7141 (2005) e a AK-LH 08 (2006), que seguem parâmetros pré-
estabelecidos como, velocidade e intensidade de carga aplicada.
Nos testes, a roda é restringida a uma estrutura de suporte e uma ferramenta sólida
bate na lateral ou na banda de rodagem do pneu.
A massa da ferramenta sólida e a altura de queda dependem da energia de impacto
necessária, em função do tamanho da roda. Rachaduras e deformações nas rodas são
medidas após os testes e devem permanecer abaixo dos limites especificados.
Tais testes, por serem destrutivos, são bastante caros e demorados. Um design
correto da roda pode minimizar o tempo e os custos do fabricante se o teste de impacto
radial for aprovado na primeira tentativa. Por esse motivo, um modelo matemático capaz
de simular corretamente o teste de impacto radial pode ser uma ferramenta valiosa para o
projeto das rodas.
Este teste foi projetado para simular o impacto devido a uma acentuada colisão
vertical no pneu durante a rodagem. Nesta situação, a força de impacto é completamente
transmitida pelo pneu ao aro da roda. O modelo do pneu desempenha um papel crítico,
principalmente no caso de energia de alto impacto, onde as paredes laterais do pneu são
completamente dobradas. Neste teste, a zona mais crítica da roda é a aresta exterior de
uma roda que segura o pneu, ou Jante, enquanto a tensão nos raios é relativamente baixa.
Para a realização do teste, a roda é fixada a uma estrutura de suporte e o atacante
cai de uma altura especificada, como ilustrado na Figura 1. As células de carga imprimem
a força pré-determinada sobre o conjunto, enquanto os acelerômetros aferem a
deformação do pneu e da roda, como ilustrado na Figura 2.

Figura 1: Layout do teste de carga radial


Figura 2: Detalhe da aplicação de carga radial no conjunto roda-pneu

Dois níveis de energia de impacto (um nível baixo e um alto) são prescritos a partir
da norma, possuindo os seguintes critérios de aceitação:
• Para o baixo nível de energia, é permitida uma deformação residual máxima de
2,5 mm na borda do aro interno.
• Para o alto nível de energia de impacto, rachaduras são permitidas no aro da roda
ao longo de no máximo 25% da circunferência da roda.

Após o teste com alto nível de energia de impacto, observa-se na Figura 3, uma
grande deformação na borda e na pista de rolamento, gerando pontos concentradores de
tensão que podem acarretar a fratura da roda.

Figura 3: Deformação na borda e na pista de rolamento da roda após aplicação do nível


máximo de carga.

Após os testes de impacto radial de alta energia, observou-se que as rodas


apresentaram fraturas ao longo de setores do aro da roda. Como mostrado na Figura 4,
rachaduras aparecem frequentemente na área próxima à borda externa das rodas.
Na Figura 5 é possível observar a simulação das deformações na modelagem
computacional, demonstrando a aplicação de carga radial na roda em análise.
Comparando as Figuras 4 e 5, observa-se a semelhança quanto ao comportamento das
rodas na simulação e no ensaio físico, apresentando trincas próximas à borda externa.

Figura 4: Imagem das rodas após o teste de impacto de alta energia.

Figura 5: Modelagem computacional da deformação decorrente da aplicação de carga


radial
De fato, no teste de impacto radial, o pneu desempenha um papel crucial na
transmissão das forças de impacto entre a ferramenta de ensaio e a roda. A deformação
na borda da roda pode afetar a estanqueidade do pneu, ocasionando vazamentos
constantes, comprometendo a segurança e o desempenho do veículo.

Artigo científico n.02: “Avaliação da vida útil de rodas de liga de alumínio sob
a fadiga de cargas radiais”

A pesquisa de RAJU, SATYANARAYANNA, RAMJI, BABU (2007)


determinou a vida útil da roda de alumínio submetida à fadiga das cargas radiais aplicadas
durante os testes. Para isso, foram realizados testes nas rodas de alumínio e análise de
elementos finitos (FEA), simulando as condições de teste para analisar a distribuição de
tensões e a vida útil da roda.
Na Figura 6 (esquerda) é possível observar que no estudo de elementos finitos
foram calculados pontos de concentração de tensão (cores variando entre amarelo e
vermelho) na região entre o raio e o cubo da roda.
Da mesma forma, no teste físico de aplicação de cargas radiais, observa-se na
Figura 6 (direita) a formação e propagação de trincas na região entre o raio e o cubo da
roda.

Figura 6: Resultados dos ensaios da simulação (esquerda) e teste físico (direita) da


aplicação de cargas radiais.

Como os raios atuam como linhas de distribuição do peso do veículo para a roda,
a formação e trincas nas regiões próximas ao raio reduzem o tempo de vida útil,
comprometendo a segurança dos condutores.

VI. REALIZAÇÃO DA PERÍCIA

A) CONJUNTO RODA E PNEU

De acordo com o Manual do Fabricante “Para conduzir o veículo com segurança,


os pneus devem ser do tipo e tamanho corretos, apresentar bandas de rodagem em boas
condições e estar na pressão correta”. Ainda, “Pneus com pressão insuficiente
desgastam-se de forma desigual, afetam adversamente o manuseio e a economia de
combustível, e têm maior probabilidade de falha por superaquecimento”.
Os registros fotográficos indicam que os pneus se encontravam com desgaste
condizente com a quilometragem informada no processo. Contudo, a roda objeto de
estudo apresenta, segundo as fotografias, marcas e deformações decorrentes do mau uso
(fls. 86 e 88).
Tais deformações podem acarretar falta de estanqueidade constate dos pneus
necessitando calibração recorrente, fato que não foi mencionado pela Autora.
As avarias no componente protetor de cárter na parte inferior direita (fls. 83 e 84),
também indicam o mau uso do veículo.
Análises metalográficas e os testes de visualização de trincas não foram realizadas
porque a Autora não está mais de posse da roda (fl. 210). Ainda segundo a mesma, ratifica
que não existe a necessidade de uma análise detalhada do objeto da presente demanda,
uma vez que o laudo pericial completo realizado pelo Instituto de Polícia Científica do
Estado da Paraíba, já consta no caderno processual (fls. 39-49).

B) ÂNGULO DE IMPACTO

Com base nas informações apresentadas na Seção V, é possível observar nas fls.
86 e 88, deformações plásticas nas bordas externa e interna da roda, provenientes de
impacto radial contra obstáculo rígido, podendo ocorrer de forma Frontal ou Diagonal,
como ilustrado na Figura 7.

Figura 7: a) Impacto frontal e b) Impacto diagonal

a) b)
No impacto frontal, a carga radial é aplicada paralelamente ao eixo de rotação da
roda. No impacto diagonal, ocorre a colisão contra um obstáculo com a roda esterçada.
Desta forma, a carga radial é aplicada angularmente ao eixo de rotação da roda.
O fato de as deformações não estarem alinhadas de forma paralela, sugere que a
colisão ocorreu de forma diagonal.

C) DEFORMAÇÃO

Analisando as imagens obtidas a partir da fundamentação teórica na Seção V e


comparando com as fotografias das deformações contidas no processo, é possível
identificar a semelhança no comportamento da roda quando submetida a impactos radiais,
como ilustrado na Figura 8.
Figura 8: Comparação entre as deformações sofridas pela roda estudada em artigo e a
roda objeto de análise processual

Deformação de cargas radiais sofridas pela roda analisada no artigo

Deformações de cargas radiais sofridas pela roda objeto de análise deste processo

Este tipo de deformação pode comprometer a segurança do veículo, uma vez que
a perda de contato entre o pneu e a roda permite o vazamento do ar pressurizado no pneu,
comprometendo o contato da banda de rodagem com o asfalto.
Além disso, a perda de pressão aumenta a exposição da roda à obstáculos
cotidianos como pedras, buracos, quebra-molas e sinalizadores horizontais,
possibilitando a formação de novas deformações e a propagação de trincas.

VII. RESPOSTAS AOS QUESITOS DO REQUERIDO

1) Queira o senhor Perito fornecer todas as características e identificação do veículo


objeto de exame, bem como averiguar qual a quilometragem percorrida?

R.: Analisando os documentos anexados ao processo, trata-se de um veículo sedã


HONDA CITY EX AT, de cor cinza, fabricado em 2011, modelo 2012, chassi
número 93HGM2620CZ200354 e placa OET-9077, com hodômetro registrando
6.136 quilômetros percorridos até a ocasião da reclamação.

2) Seu estado atual de desgaste e conservação está compatível com a quilometragem


registrada?
R.: Analisando as ranhuras e sulcos da banda de rodagem do pneu, é possível
afirmar que o nível de desgaste é compatível com a quilometragem registrada.

3) Quando exatamente e quantos quilômetros o veículo já havia percorrido na época


que a autora formulou o problema na roda?

R.: O problema foi constatado no dia 15 de janeiro de 2012 na avenida Ministro José
Américo de Almeida, localizada na cidade de João Pessoa, onde o hodômetro já registrava
6.136 quilômetros.

4) O veículo passou por todas as revisões recomendadas pelo fabricante respeitando o


intervalo de tempo e km percorrido? Para que serve o requerido plano de
manutenção?

R.: O plano de manutenção do fabricante prevê revisões periódicas no intervalo de


10.000 quilômetros ou um ano, prevalecendo o parâmetro que for atingido primeiro,
objetivando o funcionamento do veículo de forma adequada e segura. Como nenhum
dos parâmetros citados foram atingidos até a data da constatação do problema, não
haveria a obrigatoriedade de realizar os serviços de revisão periódica. Entretanto, a
partir de consulta na home-page da montadora, até a presente data a Autora não
realizou os serviços de Recall anunciados pela montadora HONDA AUTOMÓVEIS
DO BRASIL LTDA em 2015. Dentre os itens a serem reparados estão os Air Bags
do motorista e do passageiro, além do sensor de nível de combustível. A Corré foi
contactada para fornecer o histórico de ordens de serviço associadas ao automóvel
da Autora, mas não foi obtido sucesso na resposta.

5) Queira o nobre perito mostrar o histórico dessas passagens e relacionar:


R.: Pergunta respondida na questão 4.

6) Quais reparos foram efetivamente efetuados?


R.: Pergunta respondida na questão 4.

7) Quais componentes foram efetivamente substituídos?


R.: Pergunta respondida na questão 4.

8) Alega a autora na inicial do processo em epígrafe, que transitava com seu veículo
quando notou alteração na dirigibilidade constatando em seguida a fratura do aro da
roda dianteira e que a substituição do aro não foi realizada em garantia. Assim sendo,
é possível o nobre perito fazer uma análise direta do veículo, e utilizando a
fundamentação técnica apropriada, demonstrando os elementos técnicos de
constatação, dizer o que exatamente ocorreu, onde se localiza e de que maneira se
manifestou o problema reclamado.

R.: Não é possível realizar uma análise direta no veículo, pois durante o tempo
transcorrido desde a constatação da fratura até o presente momento, o veículo pode
ter sofrido depreciações em razão do período de utilização. Contudo, a análise dos
registros fotográficos permite, juntamente com fundamentação técnica apropriada,
entender os fatos que resultaram na fratura do aro da roda dianteira. Desta forma,
compreende-se que a roda sofreu impacto radial, deformando a borda externa
próximo ao raio e a borda interna da roda. De acordo com os artigos apresentados na
Seção V, as deformações próximas ao raio provocam danos irreversíveis a roda,
permitindo a formação de trincas. Este tipo de avaria compromete a estanqueidade
do pneu e seu uso contínuo pode acarretar na propagação de trincas e até mesmo
ruptura do material.

9) É correto afirmar que o desgaste de um veículo está condicionado à forma e à


intensidade com que o equipamento é utilizado, não sendo razoável considerar a
presença de vício de fabricação no produto, pelo simples fato de ser detectada a
necessidade de manutenção específica em determinado sistema elétrico ou
mecânico?

R.: Sim, uma vez que o desgaste do bem é decorrente tanto da sua depreciação pela
idade no decorrer da vida útil, ou deprecitude, quanto pela deterioração de
componentes ou falhas de funcionamento em razão do mal uso ou manutenção
inadequados. Desta forma, a utilização inadequada e a falta de manutenção do
veículo, podem acarretar a diminuição da sua vida útil, e consequentemente, no
aumento da sua deterioração.

10) A roda sofreu impactos contra obstáculos? Ela possui deformações decorrentes
destes impactos? Em caso afirmativo, é possível avaliar a forma como o impacto
ocorreu? Queira detalhar.

R.: A análise dos registros fotográficos inseridos no processo mostrou que a roda
apresenta deformações plásticas tanto na borda externa, próxima ao raio do lado
direito à válvula de ar, quanto na borda interna, alinhada à válvula de ar. A geometria
das deformações indica que a roda sofreu impacto do tipo radial (no sentido borda –
centro) contra um obstáculo sólido.

11) A estrutura inferior dianteira do veículo também possui deformações provocadas por
impactos?

R.: Sim. Segundo os registros fotográficos anexados, o componente metálico protetor


do cárter possui marcas de impacto e arranhões.

12) O aro da roda é fabricado em material indestrutível capaz de suportar qualquer tipo
de solicitação?

R.: Não. A roda foi fabricada a partir do processo de fundição de uma liga de alumínio
e silício com elevada resistência à corrosão, alta resistência mecânica e baixa
densidade, e revestida com uma tinta para proteger a sua superfície.

13) Queira o nobre perito fazer um exame fractográfico da seção da fratura e especificar
minuciosamente, utilizando a fundamentação adequada, o mecanismo da referida
falha?

R.: Não foi possível realizar o exame fractográfico, uma vez que a roda em questão
não se encontra mais em posse da Autora.
14) O dano pode ser classificado como “fratura frágil”, “por fadiga” ou “fratura dúctil”?
Queira especificar.

R.: Devido às propriedades cristalinas da liga de alumínio que compõe a roda objeto
da demanda, o dano pode ser classificado como fratura dúctil, uma vez que é possível
observar sinais de deformações plásticas nas regiões fraturadas.

15) É possível identificar algum defeito metalográfico macroscópico que deu origem a
uma falha catastrófica? Em caso positivo queira especificar.

R.: Não é possível.

16) Existem “marcas de praia” ou início de trincas na parte externa da peça que se
prolongaram para o núcleo indicando a existência de fratura por fadiga do material?
Em caso positivo queira especificar.

R.: Não é possível afirmar.

17) A fratura da peça ocorreu por sobrecarga decorrente de impacto? A separação da


seção ocorreu em seu plano cristalino com pouca deformação, com aparência fibrosa,
límpida e sem “Marcas de Praia”.

R.: Como foi abordado na Seção V, existe a possibilidade de a fratura da peça ser
decorrente de um impacto radial. Contudo não é possível fazer afirmações sobre o seu
plano cristalino.

18) Segundo a reclamação formulada pela autora a roda foi examinada por peritos do
Instituto de Criminalística do Estado da Paraíba. Qual foi a conclusão encontrada?

R.: Segundo o laudo do Instituto de Criminalística do Estado da Paraíba, “houve


ruptura contínua ao longo da superfície circular causada por fissura pré-existente”.

19) A roda é fabricada em liga de alumínio? Este tipo de material está sujeito a oxidação?

R.: A roda é fabricada em liga de alumínio e está sujeita a oxidação.

20) O relator do referido trabalho oficial constatou a presença de uma trinca no material?
Caso exista de fato a referida trinca, é correto afirmar que ela é considerada apenas
um sintoma de um problema principal que não foi efetivamente identificado?

R.: O relator constatou a presença da trinca no material. Entretanto, não foi


especificada a origem deste defeito na roda.

21) Foi realizado algum tipo de exame metalográfica para determinação exata do padrão
da falha ou o perito realizou apenas uma análise visual?

R.: Apenas análise visual.

22) É possível especificar exatamente o padrão da nucleação da trinca e sua origem? Em


caso afirmativo, queira especificar o resultado da análise.
R.: Não é possível identificar na roda em estudo, o padrão de nucleação da trinca
uma vez que também não foi determinada a sua origem. Entretanto, segundo o artigo
científico mencionado na SEÇÃO V, impactos radiais podem ocasionar deformações que
formam pontos concentradores de tensão ao longo da circunferência do aro.

23) O fato de ter sido identificado uma trinca antiga que acabou provocando uma falha
catastrófica, implica necessariamente concluir que a referida trinca é proveniente do
processo de fabricação do aro? A hipótese de a trinca ter sido nucleada por um
impacto na roda após a aquisição do veículo pode ser totalmente descartada? O perito
oficial que examinou a roda levou em consideração as deformações existentes?

R.: Não é possível concluir que a referida trinca é proveniente do processo de


fabricação do aro. Contudo, como descrito em artigo científico na Seção V, o impacto
radial contra a roda pode acarretar a deformação da roda e consequentemente, na
propagação de trincas, que por sua vez, comprometem a estanqueidade do pneu.
Entretanto, a perícia realizada pelo I.P.C. da Paraíba, não considerou as deformações
existentes na roda.

24) É possível afirmar com absoluta certeza que a trinca é proveniente do processo de
fabricação da roda? Em caso positivo, queira desmontar o elemento técnico de
constatação, indicando exatamente o padrão da falha do processo de fabricação e sua
origem.

R.: Não é possível afirmar com absoluta certeza que a trinca é proveniente do
processo de fabricação da roda, uma vez que não foram realizadas caracterizações
metalográficas da mesma.

25) O veículo foi reparado e vem sendo utilizado normalmente?

R.: De acordo com a consulta realizada no portal do DETRAN-PB, o veículo se


encontra em circulação com sua documentação em situação regular.
VIII. CONCLUSÕES

• Os documentos anexados mostram que até a data de ocorrência do incidente, o


automóvel era utilizado normalmente, uma vez que a Autora não inseriu nenhuma
ordem de serviço referente a qualquer defeito apresentado anteriormente.
• Os registros fotográficos e conclusões apresentados pelo I.P.C. da Paraíba e perito
requisitado pela Corré, fornecem informações suficientes para a elaboração deste
laudo dos autos.
• Não é possível afirmar que houve a formação de óxidos na superfície da roda e
nem correlacionar este fato com a formação e propagação de trincas e fissuras. As
fotografias anexadas não apresentam sinais de oxidação em nenhuma região da
roda. Ainda, de acordo com a literatura, o alumínio possui resistência à corrosão
quando exposto ao ar devido à formação espontânea de Al2O3 na superfície.
• As marcas no componente protetor de cárter e na roda reforçam os indícios de
mau uso do veículo.
• A roda sofreu um impacto radial que gerou deformação da borda externa e da
borda interna, caracterizando mau uso. Este tipo de avaria permite a redução da
pressão do conjunto e compromete a resistência mecânica da roda, da mesma
forma como foi abordado na fundamentação teórica. A principal consequência do
uso contínuo nestas condições é a propagação da trinca até o ponto de colapso da
roda.

IX. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHIAVERINI, V. TECNOLOGIA MECÂNICA: Processos de Fabricação e


Tratamento. 2. Ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1986.

PREVIATI, G.; BALLO, F.; GOBBI, M.; MASTINU, G. Radial impact test of
aluminium wheels—Numerical simulation and experimental validation. International
Journal of Impact Engineering, v.126, p. 117-134, 2019

RAMAMURTY RAJU, P.; SATYANARAYANA, B.; RAMJI, K.; SURESH


BABU, K.; Evaluation of fatigue life of aluminum alloy wheels under radial loads.
Engineering Failure Analysis, v.14, p. 791-800, 2007

X. FINALIZAÇÃO

Este laudo é composto por 14 páginas impressas em um só lado, todas rubricadas


e a última assinada.

João Pessoa, 29 de novembro de 2019

Dr. Eng. Gabriel de Sá Teles e Lima


CREA 161161964-5

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