-Entre os transtornos causados total ou parcialmente por fatores genéticos,
temos 3 principais: distúrbio cromossômico, distúrbio monogênico e distúrbio multifatorial. Neste momento, a ênfase será em distúrbios monogênicos, que são causados por mutações patogênicas em genes individuais.
PRIMEIRA LEI DE MENDEL
-Esta lei confirma a existência de fatores que determinam as
características e que eles são encontrados aos pares no organismo. -A Primeira Lei de Mendel, também chamada de Lei da Segregação, diz que cada característica é condicionada por um par de fatores que se separam na formação dos gametas. -Em resumo, o experimento de Mendel baseou-se em analisar 7 características de ervilhas. Tendo como exemplo sua textura, uma ervilha podia ser Lisa ou Rugosa. Inicialmente, ele reproduziu ervilhas puramente lisas (AA) entre si, obtendo puras lisas (AA); e puramente rugosas (aa) entre si, obtendo puras rugosas (aa). Depois, ele reproduziu ambas (AA x aa), obtendo híbridos lisos (Aa). Depois, ele reproduziu os híbridos entre si (Aa x Aa), obtendo AA, Aa, Aa e aa, ou seja, 75% lisas e 25% rugosas. -Mendel resolver chamar a característica que mais apareceu nos indivíduos de Dominante e aquela que pouco apareceu de Recessiva. Assim, ele pôde perceber que sempre haveria um fator que dominava sobre o outro: um gene existe de duas formas (alelos): dominante ou recessiva. Os alelos são formas alternativas de um determinado gene e ocupam um mesmo loco em cromossomos homólogos. -Dominante refere-se a um alelo ou um fenótipo que é expresso nos homozigotos (AA ou aa) e heterozigotos (Aa); apenas o alelo dominante é expresso no fenótipo heterozigoto. Recessivo refere-se a um alelo ou fenótipo que é expresso apenas quando em homozigose; o alelo recessivo não se expressa no fenótipo heterozigoto. -As conclusões de Mendel foram: as características são determinadas por pares de fatores hereditários; um fator é herdado da mãe e o outro é herdado do pai; indivíduos ditos puros possuem os fatores iguais, enquanto os híbridos possuem fatores diferentes entre si e produzem dois tipos de gametas; quando dois fatores são encontrados em um indivíduo, apenas um deles se manifesta; quando os gametas formam-se, ocorre a separação dos fatores. Assim, “Cada caráter é condicionado por um par de fatores que se segrega na formação dos gametas, nos quais ocorrem em dose simples”.
HEREDOGRAMA
-Para definir o tipo de transmissão, o primeiro passo comumente utilizado
é obter informações sobre a história familiar do paciente e resumir os detalhes na forma de um heredograma, uma representação gráfica da árvore familiar, usando símbolos padronizados. -Alguns conceitos importantes são: Genealogia é a extensão familiar representada no heredograma; Probando é o indivíduo estudado/afetado, sendo que a família pode ter mais de um probando; Consulente é a pessoa que traz as informações familiares; Casal Consanguíneo é aquele composto por indivíduos com antepassados em comum. Os parentes são classificados em primeiro grau (pais, irmãos e prole de um probando), segundo grau (avós e netos, tios e tias, sobrinhos e sobrinhas, bem como meioirmãos) ou terceiro grau (primos em primeiro grau) e assim por diante.
HERANÇAS MONOGÊNICAS (OU MENDELIANA)
-As doenças monogênicas são as patologias que afetam um único gene e
esse gene é o causador da patologia. Imagine um pequeno pedaço de qualquer cromossomo. Cada cromossomo vai ter centenas a milhares de genes. Basta que apenas um gene tenha mutação para que manifeste essa patologia. -Há quatro padrões de herança: Herança Autossômica Dominante/Recessiva e Ligadas ao “x” Dominante/Recessivo. Elas dependem de dois fatores: a localização cromossômica do locus gênico em um autossomo (cromossomos 1 a 22), em um cromossomo sexual (X e Y) ou no genoma mitocondrial; dominância ou recessividade. -Heterozigoto é usado para designar os indivíduos que carregam um par de genes diferentes, por exemplo, um dominante e um recessivo (Aa). Homozigoto é usado para designar indivíduos de linhagens puras, que carregam um par de genes iguais dominantes ou recessivos (AA ou aa). Desta maneira, um indivíduo AA é dito homozigoto dominante; e um indivíduo aa, homozigoto recessivo. Genótipo refere-se à constituição genética de um indivíduo ao longo de todo o genoma. Fenótipo é a expressão do genótipo como um traço morfológico, clínico, celular ou bioquímico, podendo ser observado clinicamente ou apenas através de exames sanguíneos ou histológicos. -Devido ao fato de apenas uma das duas cópias de cada autossomo ser passada para um único gameta durante a meiose, homens e mulheres heterozigotos para um alelo mutado em um autossomo têm uma chance de 50% de passar aquele alelo a qualquer um de sua prole, independentemente do gênero da criança. Já alelos mutados em um cromossomo X não são distribuídos de modo igual para filhos e filhas. Os homens passam seu cromossomo Y aos filhos e seu cromossomo X às filhas. Assim, não podem passar um alelo no cromossomo X aos seus filhos e sempre passam esse alelo às filhas. Desse modo, diz-se que distúrbios autossômicos afetam igualmente homens e mulheres, enquanto que, quando ligado ao X, homens são sempre hemizigotos, enquanto mulheres podem ser homozigotas ou heterozigotas. -Um fenótipo recessivo é expresso apenas em homozigotos (aa), já no dominante a presença de apenas um gene afetado expressa a doença, ou seja, em heterozigotos (Aa) ou homozigotos (AA). São conhecidos poucos distúrbios nos quais os homozigotos (ou heterozigotos compostos) apresentam o mesmo fenótipo que os heterozigotos; nesses casos, o distúrbio é dito dominante puro. Apesar de rara, pode ocorrer a expressão fenotípica de ambos os alelos de um locus em um heterozigoto, a herança é denominada codominante. -Os dois principais fatores que afetam o fenótipo são a Penetrância e a Expressividade. Eles quantificam a modificação da expressão gênica em função da variação ambiental e de fundo genético. Eles medem respectivamente a porcentagem de casos nos quais o gene é expresso e o nível de expressão. A herança de características cuja manifestação do gene (também chamada de expressividade) não determina fenótipos tão definidos, mas sim uma gradação de fenótipos. A essa gradação da expressividade do gene, variando desde um fenótipo que mostra leve expressão da característica até sua expressão total, chamamos de norma de reação ou expressividade variável. Alguns genes sempre que estão presentes se manifestam, dizemos que são altamente penetrantes. Outros possuem uma penetrância incompleta, ou seja, apenas uma parcela dos portadores do genótipo apresenta o fenótipo correspondente, estando relacionado à expressividade do gene em um conjunto de indivíduos, sendo apresentado em termos percentuais.
PADRÕES AUTOSSÔMICOS DE HERANÇA MENDELIANA
+HERANÇA AUTOSSÔMICA RECESSIVA
-A doença autossômica recessiva ocorre apenas em indivíduos com dois alelos mutados e nenhum alelo selvagem (aa). Tais homozigotos devem herdar um alelo mutado de cada um dos genitores, sendo cada um deles heterozigoto para aquele alelo ou homozigoto recessivo. -Aa X Aa = AA, Aa, Aa, aa ou aa x aa = aa, aa, aa, aa. -O distúrbio autossômico recessivo mais comum em crianças de origem caucasiana é a fibrose cística, determinada por mutações no gene CFTR. Nas populações caucasianas, aproximadamente uma em cada 2000 crianças apresenta dois alelos mutados no gene CFTR e manifesta a doença. Os alelos mutados podem ser transmitidos de portador para portador ao longo de várias gerações sem aparecer em estado homozigoto ou causar doença evidente. A presença de tais genes recessivos escondidos não é revelada até que um portador case com outra pessoa que também seja portadora do alelo mutado no mesmo locus e os dois alelos deletérios sejam herdados por um dos filhos, ou seja, os pais, se não tiverem a doença expressa, precisam ambos carregar o alelo Aa. -CARACTERÍSTICAS ÚNICAS: Para a maioria das doenças autossômicas recessivas, homens e mulheres são afetados em proporções aproximadamente iguais. Os pais de uma criança afetada são portadores assintomáticos dos alelos mutados. Um fenótipo autossômico recessivo, se não for isolado, é encontrado tipicamente na irmandade do probando e não nos seus pais, sua prole ou outros parentes. Os pais de uma pessoa afetada podem, em alguns casos, ser consanguíneos, o que é particularmente provável se o gene responsável por essa condição for raro na população. O risco de recorrência para a irmandade de um probando é de um em quatro (25%).
+HERANÇA AUTOSSÔMICA DOMINANTE
-A maioria dos distúrbios mendelianos conhecidos são herdados de forma autossômica dominante. O risco e a gravidade de doenças transmitidas de forma dominante à prole dependem de se um ou ambos os genitores são afetados e se esse caráter é dominante puro ou dominante incompleto. -As uniões que produzem crianças com distúrbios autossômicos dominantes podem ocorrer entre dois heterozigotos (Aa X Aa = AA, Aa, Aa, aa) para a mutação ou, mais frequentemente, entre um heterozigoto para a mutação e um homozigoto ao alelo normal (Aa X aa = Aa, Aa, aa, aa) -As condições autossômicas dominantes são mais frequentes que as recessivas, dentre elas: a acondroplasia, a doença policística renal, hipercolesterolemia familiar e a distrofia miotônica. -CARACTERÍSTICAS ÚNICAS: O fenótipo geralmente aparece em todas as gerações e uma pessoa afetada tem um genitor afetado. A partir de um genitor afetado, qualquer criança tem o risco de 50% de herdar a característica. Familiares fenotipicamente normais não transmitem o fenótipo aos seus filhos. Homens e mulheres são igualmente passíveis de transmitir o fenótipo aos filhos, seja qual for o gênero. Uma proporção significativa de casos isolados e de casos esporádicos se deve a mutações novas.
PADRÃO DE HERANÇA LIGADO AO X
-Ao contrário dos genes localizados nos autossomos, os genes nos
cromossomos X e Y apresentam uma distribuição desigual entre homens e mulheres dentro das famílias. -Pelo fato dos homens terem um cromossomo X e as mulheres terem dois, existem apenas dois genótipos possíveis para os homens e quatro às mulheres no que se refere aos alelos mutantes em um locus ligado ao X. Um homem com um alelo mutado em um locus ligado ao X é hemizigoto para aquele alelo, enquanto as mulheres podem ser homozigotas ao alelo selvagem, homozigotas para o alelo mutado, heterozigotas compostas a dois alelos mutados diferentes ou uma portadora heterozigota de um alelo mutado. -A inativação do X é um processo fisiológico normal que inativa, nas células somáticas, a maioria dos genes de um dos dois cromossomos X nas mulheres normais, mas não os genes do único cromossomo X nos homens, de modo a igualar a expressão da maioria dos genes ligados ao X em ambos os gêneros. Essa inativação em doenças ligadas ao X tem importância clínica, porque ela faz com que as mulheres tenham duas populações celulares que expressam os genes de um ou de outro cromossomo X, assim, a depender de qual gene esteja responsável por determinada função, e se ele estiver afetado, pode ou não expressar a doença.
+HERANÇA RECESSIVA LIGADA AO X
-Uma mutação recessiva ligada ao X se expressa fenotipicamente em todos os homens que a recebem e, consequentemente, distúrbios recessivos ligados ao X são geralmente restritos aos homens. -A Hemofilia A é um distúrbio recessivo ligado ao X clássico, no qual há falha na coagulação sanguínea devido à deficiência do fator VIII, uma proteína da cascata da coagulação. -CARACTERÍSTICAS ÚNICAS: A característica fenotípica incide muito mais em homens que em mulheres. Mulheres heterozigotas geralmente não são afetadas, mas algumas manifestam a condição em níveis variados de gravidade determinada pelo padrão de inativação do X. O gene responsável pela condição é transmitido de um homem afetado a todas as suas filhas, de modo que filhos homens de qualquer uma dessas filhas têm um risco de 50% de herdá-lo. O alelo mutante nunca é transmitido diretamente de pai para filho, mas é transmitido de um homem afetado a todas as suas filhas. O alelo mutante pode ser transmitido ao longo de uma série de mulheres portadoras, de modo que os homens afetados em uma genealogia serão aparentados entre si através das mulheres. Uma proporção significativa dos casos isolados se deve a mutações novas.
+HERANÇA DOMINANTE LIGADA AO X
-São menores em número e prevalência que as doenças recessivas ligadas ao X. A herança dominante ligada ao X pode ser prontamente diferenciada da herança autossômica dominante pela ausência de transmissão homem a homem, que é impossível de ocorrer porque os homens transmitem o cromossomo Y, e não o X, aos seus filhos homens. -Um exemplo de doença dominante ligado ao X é o Raquitismo Hipofosfatêmico, uma doença na qual os rins estão prejudicados em sua capacidade de absorver o fosfato, o que resulta em uma ossificação anormal, com arqueamento e torção dos ossos. -CARACTERÍSTICAS ÚNICAS: Homens afetados casados com mulheres normais têm todos os filhos homens normais e nenhuma filha normal. A prole de ambos os gêneros de uma mulher portadora tem risco de 50% de herdar o fenótipo, sendo que o padrão visto no heredograma é semelhante ao da herança autossômica dominante. Mulheres afetadas ocorrem em uma frequência aproximadamente duas vezes maior que os homens afetados, mas as mulheres afetadas tipicamente exibem uma expressão mais leve (embora variável) do fenótipo.
HERANÇA PSEUDO-AUTOSSÔMICA
-Uma Herança Pseudo-Autossômica é aquela que descreve o padrão de
herança observado nos genes na região pseudo-autossomicados (cromossomos X e Y) que podem ser regularmente permutados entre os 2 cromossomos sexuais, ou seja, trata-se de genes que embora se encontrem na região dos cromossomos sexuais, fazem crossover (recombinação genética nas pontas), isto é, na prática eles funcionam como autossômicos, já que não tem distinção entre sexos pela distribuição igual. -Um exemplo de uma doença causada por uma mutação em um locus pseudoautossômico é a discondrosteose, uma displasia esquelética herdada de forma dominante que apresenta baixa estatura desproporcional e deformidade dos antebraços. -A Síndrome do X Frágil é uma mutação no gene do cromossomo X. É a forma hereditária mais comum de deficiência intelectual de grau moderado, sendo uma das várias condições atualmente consideradas nos transtornos do espectro autista. Ela é responsável por aproximadamente 40% de todos os casos de retardo mental ligado ao X. Além do retardo mental, a síndrome do X frágil é caracterizada por uma aparência facial peculiar, com orelhas grandes e face alongada, hipoermobilidade das articulações e macroorquidismo (volume testicular aumentado). O termo X frágil é devido ao fato de que os cromossomos X dos indivíduos afetados, quando cultivados em um meio deficiente de ácido fólico, algumas vezes exibem quebras e intervalos perto da extremidade do braço longo. Ela está relacionada a repetições de trinucleotídeos ao longo do genoma de forma polifórmica, de modo que o estado expandido pode causar antecipações clínicas, isto é, conforme o gene prolifera, mais cedo chegam os sintomas.
HERANÇA MATERNA
-Apenas o DNA mitocondrial materno é transmitido à geração futura, de
modo que as crianças de uma mulher que tenha uma mutação no mtDNA herdarão a mutação, enquanto nenhum dos descendentes de um homem portador da mesma mutação irá receber o DNA defeituoso. -Uma doença característica é a neuropatia óptica hereditária de Leber, uma forma de cegueira de início na vida adulta, causada por defeitos no DNA mitocondrial. -Embora seja esperada geralmente a herança materna, pode ocorrer herança paterna do mtDNA em um paciente com miopatia mitocondrial, sendo muito raro. -CARACTERÍSTICAS ÚNICAS: Todos os filhos de mulheres homoplásticas (AA) herdarão essa mutação, sendo que os filhos de homem portador não. Mulheres heteroplasmáticas (Aa) as passarão aos seus filhos. A fração de mitocôndrias mutantes nos diferentes tecidos de um indivíduo heteroplasmático (mitocôndrias com DNA diferente) pode variar tremendamente.