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Finanças Empresariais
Textos de Apoio
Sónia Silva
Novembro de 2014
ii
5.1.1 Fluxos de caixa incrementais ......................................................................... 83
5.2 Critérios de avaliação de projetos de investimento em contexto de certeza ...... 86
5.2.1 O porquê de utilizar o valor atual líquido (VAL)............................................... 86
5.2.2 O critério do Payback ..................................................................................... 88
5.2.3 O critério do Payback atualizado .................................................................... 89
5.2.4 A taxa média de rendibilidade contabilística (TMRC)...................................... 90
5.2.5 A taxa interna de rendibilidade (TIR) .............................................................. 91
5.2.6 O rácio benefício/custo – O Índice de Rendibilidade....................................... 99
5.3 Exemplo de avaliação de investimento em ativos reais ................................... 102
5.4 Inflação e decisões de investimento ................................................................ 107
5.5 Projetos com vidas diferentes: o método do custo anual equivalente (CAE) ... 111
6. Risco e rendibilidade ......................................................................................... 113
6.1 Risco e rendibilidade ...................................................................................... 113
6.1.1 Como medir a rendibilidade? ........................................................................ 114
6.1.2 Como medir o risco? .................................................................................... 115
6.2 Análise de avaliação de investimentos em contexto de incerteza ................... 119
6.2.1 Análise de sensibilidade e análise de cenários ............................................. 119
6.2.2 Análise de pontos críticos ............................................................................. 124
6.2.3 Simulação de Monte Carlo ........................................................................... 129
6.2.4 Opções reais ................................................................................................ 130
7. O custo de capital e a estrutura de Financiamento .................................... 133
7.1 Fontes de financiamento de longo prazo ......................................................... 135
7.1.1 Financiamento por capitais próprios ............................................................. 135
7.1.2 Financiamento por capitais alheios ............................................................... 139
7.2 Estimação do custo de capital - Noção de custo de oportunidade do capital ... 143
7.3 Teorias da Estrutura de Financiamento (estrutura de capitais) ....................... 152
8. Avaliação de projetos de empresas alavancadas ............................................ 159
8.1 Valor Atual Líquido Ajustado (APV) ................................................................ 159
8.2 Ótica dos Capitais Próprios ............................................................................. 161
8.3 Método do Custo Médio Ponderado de Capital ............................................... 163
9. Política de Dividendos ....................................................................................... 163
10. Avaliação de Empresas .................................................................................... 168
10.1 Método de avaliação usando fluxos de caixa atualizados (discounted cash
flows) – ..................................................................................................................... 173
10.1.1 Perspetiva da Entidade............................................................................... 173
10.1.2 Métodos de avaliação na perspetiva dos capitais próprios ......................... 176
iii
10.2 Método de avaliação usando fluxos económicos atualizados (discounted cash
flows) ....................................................................................................................... 178
10.3 Método dos múltiplos..................................................................................... 180
11. Mercados e Investimentos Financeiros........................................................... 186
11.1 Mercados financeiros .................................................................................... 187
11.2 Teoria da gestão de carteiras de ativos financeiros ....................................... 190
11.3 Modelos de avaliação de ativos financeiros ................................................... 194
11.4 Avaliação de desempenho de carteiras de investimento ............................... 197
11.5 A eficiência dos mercados de capitais ........................................................... 199
Bibliografia .............................................................................................................. 204
ANEXO I - Due Diligence Checklist ........................................................................... 205
ANEXO II - Conjunto de Rácios para Análise Financeira ............................................ 208
ANEXO III – Indicadores financeiros de acordo com o POC e SNC.............................. 212
ANEXO IV– Taxas de depreciação e de amortização fiscal ......................................... 214
ANEXO V– Orçamento de Tesouraria......................................................................... 215
iv
1. Introdução às Finanças Empresariais
1
financeira identificava-se com a gestão da tesouraria, isto é, controlar entradas e
saídas de fluxos monetários. Esta função foi-se desenvolvendo dada a necessidade de
obtenção eficiente de financiamento (gestão do timing e dos custos associados), assim
como gerir de forma igualmente eficiente os investimentos (maximizar a sua
rendibilidade esperada). O aumento da complexidade do papel do gestor financeiro é
assim justificado dado caber à área financeira a análise e o controlo da
rendibilidade atual e previsional de todas as aplicações de fundos.
Se determinada empresa obtém resultado líquido positivo num dado período, este
pode ser usado, exclusivamente, como autofinanciamento ou então pode ser dividido:
uma das partes é utilizada como autofinanciamento e a outra parte é distribuída sob a
forma de dividendos aos sócios/acionistas.
3
Figura 2 – Estrutura conceptual do balanço
4
de exploração começa quando a empresa recebe o tecido do fornecedor e termina no
momento em que recebe o pagamento dos seus clientes.
Para financiar este ciclo a empresa necessita de dinheiro, assim a empresa recorre
ao seu fundo de maneio. O fundo de maneio é o excedente de ativo corrente sobre
passivo corrente que se destina a financiar o ciclo produtivo.
O fundo de maneio é determinado da seguinte forma:
Legenda:
A – A empresa vai ao mercado de capitais para obter financiamento através de uma
emissão acionista (e também o poderá fazer através de uma emissão obrigacionista).
Será uma entrada de dinheiro, entrada de fluxos de caixa na Empresa;
B – A empresa investe os fluxos de caixa que obteve em A (na sua atividade);
C – A empresa gerou resultados positivos na sua atividade. É a hora de saída de
dinheiro, saída de fluxos de caixa da empresa;
D – A 1.ª Entidade a receber dinheiro da empresa é o Estado para pagamento de
impostos sobre lucros (IRC);
1
Muitos autores referem-se ao fundo de maneio como o investimento no ciclo de exploração,
nomeadamente contas a pagar e mercadorias, e ao fundo maneio líquido como a diferença entre o ativo
corrente e o passivo corrente.
5
E – Depois a empresa tem de remunerar os seus financiadores, isto é, os seus
credores (que podem ser os obrigacionistas ou os Bancos) e os seus acionistas
(dividendos);
F – Depois de todas as contas pagas a empresa retém os lucros que sobraram para
se autofinanciar, isto é, para que não necessite de tanto financiamento externo (seja
através de capitais próprios ou alheios) no futuro.
6
O acionista precisa de motivar o gestor a agir sempre de forma a defender os seus
interesses. Este comportamento acarreta custos para os acionistas. Normalmente o
maior dos custos é o salário do gestor.
Mecanismos para alinhar interesses dos acionistas e gestores:
a) Pagamento de bons salários aos gestores, muitas vezes com “oferta” de
ações para que sintam que a empresa também lhes pertence;
b) Nos E.U.A. é muito frequente que grandes empresas serem compradas,
adquiridas por outras empresas, principalmente quando estão a ser mal
geridas. Quando uma empresa compra outra a primeira medida que toma é
despedir o atual gestor (da empresa que comprou). Isto é um incentivo para
o gestor trabalhar no sentido de gerir bem a empresa onde está;
c) Os Stakeholders são as outras partes interessadas – os trabalhadores, o
Estado, os fornecedores, obrigacionistas, etc. – todos estes grupos têm
como objetivo que a empresa gere lucro e que seja bem gerida, isto é,
também controlam e supervisionam o trabalho do gestor.
7
normas contabilísticas adotadas nos E.U.A., os Princípios Contabilísticos Geralmente
Aceites - Generally Accepted Accounting Principles (GAAP).
2.1 O balanço
O balanço expressa a posição financeira do Ativo, Capital Próprio e Passivo em
determinada data. Este documento representa um inventário de todos os bens que a
empresa possui, desde o momento da sua constituição. Daí se designar por balanço
patrimonial. A figura abaixo representa a estrutura de um balanço de acordo com as
regras contabilísticas geralmente aceites em Portugal.
Figura 4 – Estrutura conceptual Balanço
2
Definição de benefício económico – investimento em recursos produtivos no presente que gerarão
proveitos futuros.
8
sobre os fluxos de caixa gerados, isto é, só serão remunerados depois de pagos todos
os outros agentes que intervêm no processo produtivo: empregados, Estado e
credores.
9
lugares cimeiros do balanço enquanto os ativos mais líquidos ocupam os últimos
lugares. A rubrica Inventários é menos líquida que as Contas de clientes a receber,
que por sua vez ainda é menos líquida que Caixa e equivalentes. Esta situação pode
ser observada na figura abaixo.
10
A situação líquida da empresa é a seguinte:
Capital próprio = Ativo - Passivo
11
As duas formas de elaboração da Demonstração de Resultados são:
- Demonstração de Resultados por Naturezas (Figura 7);
- Demonstração de Resultados por Funções (Figura 8)
12
2.2.1 Análise da demonstração de resultados
Três questões essenciais a tomar em atenção na análise da demonstração de
resultados:
1. As normas de contabilidade - dependem da legislação e do sistema contabilístico
de cada país;
2. Rubricas não financeiras - as depreciações e as amortizações. Os ativos
tangíveis e intangíveis (ativo não corrente) sofrem um desgaste pelo uso decorrente
do processo produtivo. Esse desgaste traduz-se numa perda de valor do ativo que tem
que ser contabilizada. Como não origina qualquer pagamento como contrapartida, a
depreciação é um custo não financeiro. Veja-se um exemplo: uma empresa adquire
um automóvel por 20.000€ no ano 20X0 e contabiliza-o por esse valor no balanço. No
ano seguinte o automóvel perdeu valor pelo que não é razoável que esteja
contabilizado por 20.000€, tem que se fazer refletir no seu valor contabilístico a sua
depreciação. Para se estimar a depreciação de cada ativo é necessário identificar a
sua vida útil (a sua longevidade). Essa identificação tem que ser feita de acordo com
imperativos fiscais (no caso de Portugal, de acordo com o Código do Imposto sobre
Pessoas Coletivas – CIRC). Em regra as depreciações são calculadas pelo método
das quotas constantes, tendo presente o período de vida útil máximo e mínimo do
ativo, o setor onde é utilizado e ainda as condições da sua utilização. Vejamos
novamente o exemplo anterior: a empresa adquire uma viatura por 20.000€. A sua
vida útil será de quatro anos e o método de depreciação utilizado será o das quotas
constantes. Resolução: 20.000€/4anos = 5.000€, a viatura será depreciada em 5.000€
durante quatro anos. Tal como referido anteriormente, o período de vida útil do ativo e
a percentagem de depreciação/amortização a contabilizar em cada ano são matérias
normalizadas de acordo com o quadro fiscal vigente em cada país.
3. Custos variáveis versus custos fixos – os custos que dependem do processo
produtivo são variáveis (matérias-primas, luz, água, etc.) e os custos que ocorrem
sempre, mesmo que o processo produtivo pare, são chamados de custos fixos
(rendas, aluguer de material, contador da luz e água, salários, etc.).
13
O fundo de maneio líquido traduz-se num excedente do valor do ativo corrente
sobre o valor do passivo corrente, isto é, traduz a diferença entre as necessidades
Cíclicas e os recursos Cíclicos.
O saldo de “Caixa e seus equivalentes no início do período” deve ser igual ao saldo
escriturado no balanço na rubrica “Caixa e Equivalentes” no início do ano e “Caixa e
seus equivalentes no fim do período” deve ser igual ao saldo que está escriturado no
balanço em “Caixa e Equivalentes” no final do ano.
14
Demonstra também a capacidade de a empresa dar resposta às necessidades de
caixa operacionais, de investimento e de financiamento, possibilitando previsões de
tesouraria e avaliações da necessidade de recurso a financiamento externo.
Para efeitos de Análise Financeira, este mapa é muito útil porque possibilita uma
fiável comparação entre empresas, eliminando efeitos de diferentes tratamentos
contabilísticos.
Em conformidade com o SNC, os fluxos de caixa devem ser apresentados pelo
método direto e estão classificados de acordo com os três ciclos de atividades da
empresa:
i) Operacionais – atividades do ciclo de exploração com caráter de curto prazo
que geram recebimentos de clientes, pagamentos a fornecedores, pagamentos a
pessoal, imposto, etc.
ii) Investimento – atividades que refletem dispêndios no passado ou presente com
o objetivo de gerarem fluxos de caixa futuros: investimentos em ativos fixos tangíveis e
intangíveis (com caráter de longo prazo).
iii) Financiamento – atividades que envolvem a obtenção de meios financeiros de
longo prazo junto de sócios, acionistas e outros financiadores (por ex., bancos e
obrigacionistas) e de curto prazo (fornecedores, etc.), assim como o pagamento
dessas dívidas e respetivos rendimentos.
O quadro abaixo apresenta um resumo das várias rubricas que compõe cada um
destes ciclos financeiros.
Figura 10 – Ciclos Financeiros
• Vendas e prestação de • Fornecedores
serviços Recebimentos Pagamentos • Empregados
• Royalties, honorários, • IRC, outros Impostos
comissões e outros Atividades Atividades • Outros custos
proveitos operacionais
• Reembolsos de IRC Operacionais Operacionais
• Alienação de ativos • Aquisição de ativos
fixos fixos
• Alienação de invtos • Aquisição de
financeiros investimentos
• Reembolso de adiantos Recebimentos Pagamentos financeiros
e empréstimos • Adiantamentos credores
concedidos Atividades Atividades investimento e
• Contratos de futuros, empréstimos
opções, forwards e Investimento Investimento concedidos
swaps • Contratos de futuros,
• Juros e rendimentos de opções, forwards e
partes de capital swaps
15
Este mapa financeiro é de demonstração obrigatória3 somente para empresas que
sujeitam o seu sistema de informação ao SNC. A Demonstração de fluxos de caixa é
um documento financeiro dinâmico (analisa a variação entre 2 anos consecutivos) e
que, a par de outro documento – demonstração de alterações nos capitais próprios -
coloca em evidência as alterações na posição financeira da empresa ao longo de um
exercício económico em comparação com o anterior. Esta informação permite avaliar
duas situações: i) as atividades de investimento, de financiamento e operacionais da
empresa durante o período de relato; ii) se as alterações no ativo estão refletidas nas
alterações do capital próprio entre duas datas de balanço.
2.5 Demonstração Alterações nos Capitais Próprios
A Demonstração de Alterações nos Capitais Próprios é um documento financeiro
dinâmico que coloca em evidência as alterações na posição financeira da empresa ao
longo de um exercício económico (normalmente, um ano). Esta informação permite
avaliar duas situações: i) as atividades de investimento, de financiamento e
operacionais da empresa durante o período de relato; ii) se as alterações no capital
próprio entre duas datas de balanço refletem o aumento ou redução dos ativos
líquidos4 durante esse período.
2.6 Anexo
O Anexo proporciona informações de origem económica e financeira da forma de
obtenção dos valores inscritos nas várias demonstrações financeiras. Contém
informação adicional relevante para desenvolver e comentar rubricas incluídas no
Balanço e Demonstração dos resultados e, por outro lado, divulgar factos que, não
tendo expressão naqueles documentos contabilísticos (Balanço e Demonstração dos
resultados) influenciam ou podem ser do interesse dos utilizadores da informação
financeira.
3
Obrigatoriedade de apresentação de outros documentos contabilísticos (além do Balanço e
Demonstração de Resultados) - quando se verificam ultrapassados 2 dos 3 limites seguintes: total do
balanço de €500.000; total de Vendas Líquidas e outros rendimentos de €1 milhão; nº de trabalhadores
empregados em média durante o exercício de 20.
4
Ativo líquido = ativo bruto – depreciações/amortizações
16
3. Pormenorizar os conteúdos de certas rubricas contabilísticas.
17
O primeiro passo para calcular fluxos de caixa é apurar o resultado operacional, isto
é, o resultado entre o volume de negócios transacionado subtraído dos respetivos
custos.
2) Depreciações
A esse resultado são somadas as depreciações do período. As depreciações não
representam fluxos financeiros mas são um custo que permitirá à Empresa pagar
menos impostos. Resultam por isso num benefício fiscal. A empresa suportou um
custo sem que isso resultasse numa saída de caixa. Logo, esse custo permitirá
diminuir a base tributável sobre a qual é calculado o imposto sobre os lucros.
3) Impostos
Se o resultado operacional for positivo terá que ser apurado e deduzido a esse
resultado o respetivo imposto sobre os lucros (no caso Português, Imposto sobre o
Rendimento de pessoas Coletivas - IRC).
4) Investimento
Quando se calculam fluxos de caixa com o objetivo de se avaliar um qualquer
projeto de investimento, o investimento inicial e subsequente é sempre subtraído aos
fluxos de caixa gerados. O investimento pode ser em ativo corrente (investimento em
fundo de maneio) e em ativos tangíveis e intangíveis (investimento em ativos fixos).
a. Variações de fundo de maneio
Como já referido anteriormente, as variações de fundo de maneio são a diferença
registada no investimento em fundo de maneio entre dois períodos. O investimento em
fundo de maneio pode estar relacionado com o aumento dos inventários em armazém
e/ou com o aumento do crédito concedido aos clientes.
b. Variações de investimento em ativos fixos
Investimento em ativos fixos é a aquisição de ativos tangíveis (maquinaria,
automóveis, edifícios, terrenos, etc.) e ativos intangíveis (patentes, marcas, software,
etc.). A variação é a diferença do investimento entre dois períodos. As variações em
investimento em ativo fixo são apuradas aplicando o seguinte procedimento:
Investimento líquido em ativo fixo=Saldo final do ativo fixo – Saldo inicial
do ativo fixo + depreciações.
Conclusão:
+ Resultado operacional
- Impostos
+ Depreciações
+/- Variações de fundo de maneio
+/- Investimento líquido em ativo fixo
= Fluxos de caixa gerados pelo investimento
18
Exemplo5:
A Empresa U.S. Composite Corporation apresentou, no ano de 2007, a seguinte
informação:
- Resultado operacional (antes de gastos de financiamento e impostos): $219
- Depreciações: $90
- Como o resultado operacional foi positivo isso implica deduzir imposto: $71
- Variação de fundo de maneio: $23
- Variação de investimento em ativos fixos: $173
- Pagamento aos credores: $36
- Distribuição de lucros aos acionistas: $6
5
Exemplo adaptado de Ross, S. A., Westerfield, R. W. and Jaffe, J. (2008), Modern Financial
th
Management, 8 international edition, McGraw-Hill.
19
É de extrema importância referir que a qualidade da análise económica e financeira
e das decisões tomadas com base nessa análise estabelecem uma relação direta com
a qualidade e a fiabilidade da informação utilizada, pelo que o processo de
sistematização e os recursos utilizados para o tratamento dessa informação são
determinantes na garantia dessas propriedades (fiabilidade e qualidade).
O processo de realização de uma análise financeira implica um exercício de Due
Diligence, isto é, observar a empresa na sua envolvente económica, social, política,
cultural e geográfica. Isto implica um estudo de todas as variáveis, externas e internas,
relevantes para a identificação do seu posicionamento estratégico: o setor de atividade
onde atua; posição em relação aos concorrentes, clientes, fornecedores e respetivas
vantagem (ens) comparativa(s); fase do ciclo de vida; o sistema de informação e os
recursos humanos.
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• A quantia escriturada de algumas rubricas é efetuada por estimativa, como, por
exemplo, as contas provisões/imparidades;
• A dificuldade em mensurar, principalmente, ativos intangíveis, tais como,
o valor dos seus recursos humanos (a sua motivação, capacidades técnicas
ou formação), da sua imagem, da qualidade dos seus produtos ou serviços, da
marca, do sistema de informação existente, da sua experiência e da existência
de sinergias;
• A falta de uniformidade contabilística a nível internacional inviabiliza, na
maioria das vezes, as comparações entre empresas do mesmo setor em
diferentes países.
21
Uma das fontes de informação de natureza extra contabilística de supra importância
é o Relatório/Parecer de um Auditor Independente. A auditoria financeira tem por
objetivo a emissão de um parecer técnico, expresso sobre a forma de opinião, onde o
auditor irá exprimir-se sobre a adequação das demonstrações contabilísticas de
determinada Empresa às Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro em vigência6.
O parecer deve expressar, claramente, a opinião do auditor sobre os seguintes
aspetos relevantes: posição patrimonial e financeira; formação de resultados no
período a que correspondem; alterações do património líquido no período a que
correspondem; origens e aplicações de fundos no período a que correspondem.
6
Em Portugal, de acordo com o SNC (Sistema de Normalização Contabilística) e as IFRS (International
Financial Reporting Standards).
22
Retomando em parte o que já foi anteriormente referido, este mapa é encarado do
seguinte modo:
Figura 11 – Estrutura conceptual do balanço na perspetiva jurídica
Património Líquido
Direitos de propriedade
Obrigações
7
Situações existentes à data das demonstrações financeiras (ex: processos judiciais em curso), cujo
efeito financeiro será determinado por eventos futuros, cuja probabilidade de acontecimento é elevada.
23
Figura 12 – Exemplo de balanço financeiro
Ativos Responsabilidades
+ Inventários (corr.)
24
pelo menos à duração do ativo adquirido com esses capitais. Ex: um automóvel que
será adquirido recorrendo a um empréstimo que será reembolsado num prazo de 4
anos, deverá ficar à disposição da empresa, pelo menos, durante esses 4 anos.
Sob a perspetiva da abordagem funcional do equilíbrio financeiro, os ciclos
financeiros podem ser classificados da seguinte forma:
Ciclo de Investimento - Engloba a análise de tomadas de decisão em relação a
investimentos ou desinvestimentos. No balanço está representado nas contas do
ativo fixo.
Ciclo de Exploração - Corresponde às atividades de aprovisionamento,
produção e comercialização. Estas operações conduzem ao consumo e
obtenção de recursos ao que corresponde as contas de gastos e rendimentos
operacionais da demonstração de resultados. No balanço provoca necessidades
de recursos para “financiar” clientes e existências e obtém recursos
automaticamente, como seja o “crédito” dos fornecedores. O Ciclo de
Exploração, pode ser definido como o prazo, em dias, que decorre entre o
momento em que se compra a matéria-prima até ao momento em que se recebe
do cliente, passando pela fase de aprovisionamento, pelo processo de produção
e comercialização dos produtos.
Ciclo de Financiamento - Corresponde às atividades de obtenção de fundos
adequados aos investimentos e às necessidades de financiamento do ciclo de
exploração. Neste ciclo distinguem-se ainda:
i) Ciclo de operações de capital, que visa a obtenção de fundos estáveis para
financiar ativos estáveis (fixos);
ii) Ciclo das operações de tesouraria, que visa a gestão de disponibilidades e
ativo cíclico (quase líquido), bem como assegurar a cobertura financeira a
curto prazo no caso de insuficiência temporária de fluxos de caixa.
Em resumo, podemos agregar as rubricas do balanço da seguinte forma:
25
Em termos práticos, a apresentação mais comum do balanço funcional é a seguinte:
8
A emissão acionista foi na sua totalidade subscrita pelos investidores.
26
b. Capitais Alheios estáveis:
• Todas as dívidas de MLP (que não sejam do ciclo de exploração)
• Contas a pagar, mas que têm tendência para se manterem estáveis
• Rendas de MLP do contrato de locação financeira, referentes ao reembolso
de capital
• Dívidas a Empresas interligadas
27
um valor ótimo de investimento em fundo de maneio, dependendo do setor de
atividade e do ciclo de vida da empresa. No entanto, existem algumas boas práticas
na gestão do fundo de maneio, como por exemplo: os meios financeiros líquidos
devem ter um valor reduzido; o prazo médio de recebimentos deve ser o menor
possível; as existências devem estar sujeitas a uma gestão eficiente e conduzir a um
montante de stocks reduzidos sem provocar rutura na atividade (ex. método just-in-
time, etc.); estender ao máximo o prazo médio de pagamento a fornecedores, sem
colocar em causa o bom nome e imagem da empresa.
28
• Inventários = Matérias-primas, subsidiárias e de consumo + Produtos e
trabalhos em curso + Subprodutos, desperdícios, resíduos e refugos +
Produtos acabados e intermédios + Mercadorias
Os Recursos Cíclicos englobam:
• Fornecedores
• Outros credores de exploração
• Estado e outros Entes Públicos a pagar
• Adiantamentos de clientes
• Acréscimos e diferimentos (passivos de exploração)
29
segurança designada por Fundo de Maneio. Esta margem de segurança é necessária,
dadas as seguintes evidências:
Em média, a liquidez dos ativos correntes é inferior à exigibilidade dos passivos
de curto prazo;
Financiar ativos de curto prazo com caráter de permanência (ex.: inventários de
segurança);
Parte das necessidades de financiamento do ciclo de exploração não pode ser
financiada por recursos originados no mesmo ciclo.
30
Fundo de Maneio Funcional: FMF=Capitais Permanentes – Ativo Fixo;
Necessidades de Fundo de Maneio: NFM=Necessidades Cíclicas – Recursos
Cíclicos;
Tesouraria Líquida: TRL=Tesouraria Ativa – Tesouraria Passiva.
31
Tipo IV – FM negativo c/ NFM negativas e TRL negativa – situação financeira
arriscada, não apresenta liquidez nem segurança.
Tipo V - FM negativo c/ NFM negativas e TRL positiva – situação financeira de risco,
não apresenta liquidez nem segurança, depende dos níveis e ritmo de atividade para
realizar meios que se compatibilizem com o ritmo da exigibilidade da dívida. Não
existência de FM converte-se em insegurança permanente.
Tipo VI - FM positivo c/ NFM negativas e TRL positiva – situação financeira decorrente
de ciclo de exploração favorável – prazo médio de recebimentos mais curto do que
prazo médio de pagamentos. Nas situações de FM exagerado o aconselhado são as
aplicações de médio e longo prazo (oferecem rendibilidades mais atrativas).
32
b. Ajustar as depreciações à vida útil do ativo, tendo em atenção o quadro
fiscal em vigor (Anexo IV);
c. Ajustar no custo das vendas a variação de inventários para preços
correntes (cuidado com inventários que permaneceram em armazém por
um período superior a um ano);
d. Ajustar rendas de imóveis (as rendas devem equivaler, pelo menos, aos
critérios de atualização em vigor);
e. Incluir gastos excluídos por não se verificar especialização do exercício
(ex: subsídios de férias que respeitam ao ano N-1, mas pagos no ano N);
f. Incluir provisões indevidamente não constituídas (ex: provisões para
vendas incobráveis).
g. Custos de indemnizações por despedimento (ex: reestruturação
empresarial)
ii) Ajustamentos rendimentos
a. Ganhos resultantes de processos judiciais extraordinários;
b. Mais/menos valias ativos (ex: apurar imposto a pagar/deduzir);
c. Eliminação de ganhos/perdas resultantes da descontinuação de uma
atividade empresarial.
A figura 15 abaixo representa uma forma possível de apresentação da
demonstração de resultados ajustada.
Figura 15 – Exemplo de demonstração resultados ajustada
Rubricas
= Resultado operacional
33
3.3 Métodos e Técnicas de Análise Financeira
Após a preparação das demonstrações financeiras para análise, segue-se a
aplicação de um conjunto de técnicas e métodos de diferentes naturezas e níveis de
complexidade, e que podem ser usados isolada ou conjugadamente.
Desse conjunto de técnicas e métodos, salientam-se:
• Comparação de demonstrações financeiras de anos consecutivos: Esta
comparação pressupõe a normalização prévia das contas por forma a serem
analisadas. Pode ser efetuada em valores absolutos ou valores relativos. A
comparação, em termos absolutos, permite obter facilmente uma visão direta e
rápida da evolução da situação financeira da empresa, através das alterações
ocorridas nas diferentes rubricas. Contudo, não permite a comparação de valores
de diferentes ordens de grandeza ou expressos em unidades monetárias
diferentes. A comparação, em termos relativos, permite a leitura em percentagem
de uma dada grandeza (determinação da sua importância relativa), como por
exemplo em função do volume de negócios e/ou em função do ativo total.
Apresenta como vantagem a eliminação dos efeitos de dimensão e permite
comparações no tempo e no espaço. Sendo assim, permite estudar
características fundamentais como estrutura de gastos, do ativo ou estrutura de
capitais.
• Análise rubrica a rubrica. Analisar a evolução de uma rubrica (ex. resultado
líquido, margem bruta, capitais próprios, etc.) de forma isolada ao longo de um
período de tempo.
• Análise gráfica. Recorrer a gráficos para comparar a evolução de determinados
indicadores da empresa de forma isolada ou estabelecendo comparação com
concorrentes e média do setor.
• Método dos rácios É o método mais utilizado na análise financeira, dado que
permite reduzir toda a informação relevante num grupo limitado de indicadores
económico-financeiros, possibilitando uma melhor compreensão sobre o
desempenho e situação financeira.
• Recurso a padrões de comparação Comparação do desempenho financeiro
da empresa com indicadores de empresas concorrentes (fontes de informação:
Imprensa especializada; Conservatória do Registo Comercial; Empresas de
informação, tais como Coface, Dun & Bradstreet, etc.) e Indicadores setoriais
(Centrais de balanços do Banco de Portugal; Estatísticas nacionais (INE) e
internacionais (EUROSAT, OCDE, etc.)). Para se aplicar este método, as
empresas devem ser consideradas comparáveis (ex: adoção mesmas políticas
contabilísticas; valor ativos semelhante; etc.).
34
• Análise da Qualidade dos resultados. Técnica de análise qualitativa que se
baseia na avaliação de fatores de qualidade dos resultados e na deteção de
sinais de perigo, isto é, tentativa de despiste de manipulação da informação
contabilística.
• Análise do risco. Análise da exposição dos capitais investidos ao risco de
negócio e ao risco financeiro.
35
Podem-se construir inúmeros rácios ou relações, conforme o objetivo e o campo de
análise e controlo. As realidades e os fenómenos a acompanhar e estudar podem ser
de natureza diversa – financeira, económica, económico-financeira, técnica, etc.
Pode ser consultado no Anexo II um conjunto de rácios conforme a sua natureza.
A análise de liquidez tem como objetivo avaliar a capacidade da empresa para fazer
face aos seus compromissos de curto prazo. Para cumprir esses compromissos, a
empresa tem que ser avaliada pela sua capacidade em gerar recursos através da sua
atividade corrente. Esta análise recorre a rácios de funcionamento e de liquidez, assim
como a outros indicadores de liquidez, nomeadamente, rácios de
atividade/funcionamento e indicadores funcionais da liquidez.
i) Rácios de Liquidez:
a. Rácio de Liquidez Geral (LG) =
, reflete o equilíbrio entre as
36
em fazer face aos seus compromissos de curto prazo. Relaciona-se com o
indicador FM, de tal forma que: LG > 1 ⇒ FM > 0; LG = 1 ⇒ FM = 0, LG < 1
⇒ FM < 0.
á
ó
b. Rácio de Liquidez Reduzida =
, também
O ciclo de exploração pode ser definido como o prazo, em dias, que decorre entre
o momento em que se compra a matéria-prima até ao momento em que se recebe do
cliente, passando pela fase de aprovisionamento, pelo processo de produção e
comercialização dos produtos, conforme Figura 16 abaixo.
O ciclo de caixa indica o número de dias em que a empresa terá que financiar a
atividade de exploração com o recurso a capitais próprios ou alheios onerosos. Isto
acontece porque o crédito de fornecedores não é suficiente para financiar a totalidade
da duração do ciclo de exploração.
37
- Rotação – quantificação da rapidez de um investimento em meios líquidos
(ex: rotação do ativo, rapidez de conversão do investimento em vendas). São
considerados rácios de eficiência do ciclo de exploração.
- Prazo – indicação da duração de tempo necessária para convertermos uma
determinada grandeza em liquidez (ex: prazo médio de recebimentos, tempo médio
entre a entrega da encomenda ao cliente e o seu pagamento). São considerados
rácios de eficácia do ciclo de exploração.
vendidas por cada unidade monetária investida pela empresa, isto significa que
cada unidade monetária investida na empresa vai gerar um determinado
montante de vendas, isto é, de retorno.
b. Rotação dos inventários = , indica o número de vezes que os
á
PMR= × 365
ç
!
×&'()*.,
-
PMP= × 365
!
(-.×&'()*.,
9
Fornecimentos e serviços externos.
38
é
á
× 365 ou
10
e. Prazo Médio Inventários (PMI) =
11
á
PMI= × 365
10
O PMI engloba o PMI de matérias-primas (PMImp), o PMI produtos em vias de fabrico (PMIpvf) e o PMI
produtos acabados (PMIpa).
11
Custo das mercadorias vendidas e das matérias consumidas.
39
Esta análise de equilíbrio financeiro de médio e longo prazo recorre a rácios de
solvabilidade e de estrutura de capitais.
i) Rácios de Solvabilidade:
!
!ó!
a. Rácio de Solvabilidade =
, avalia a capacidade da empresa
12
Excedente Bruto de Exploração = Resultados operacionais + amortizações/depreciações + provisões +
imparidades + aumentos/reduções justo valor
40
Rácios de endividamento:
ã
i. Endividamento de Médio e Longo Prazo =
ii. Endividamento de Curto Prazo =
13
Código Insolvência e Recuperação de Empresas
41
214
a. Rendibilidade Bruta das Vendas =
ó
, medida de margem bruta
de lucro (o ganho por cada unidade monetárias vendida) gerada pelo volume
de negócios durante um período.
Quanto mais elevado for qualquer dos indicadores de rendibilidade das
vendas, maior a propensão e aptidão do negócio para gerar resultados.
14
Margem bruta ou de contribuição= volume de negócios –custos variáveis.
42
Muitos analistas decompõem o rácio de rendibilidade do ativo, permitindo
aprofundar e compreender melhor as causas da rendibilidade analisada. Assim:
.2) .2)
ó
= × , a rendibilidade económica (ROA)
í
ó
í
E
í
d. Rendibilidade Líquida do Ativo = , outra possibilidade de cálculo
í
43
í
(decisões sobre origem do financiamento). O rácio !
!ó!
é um indicador da
44
forma coerente e integrada os fatores que a influenciam, tais como: Rendibilidade do
ativo económico, Efeito de Alavanca Financeira e Efeito Fiscal.
i) Modelo aditivo
Onde,
EBIT=Resultados antes de gastos financeiros e impostos
EBT=Resultados antes de impostos
Estudo da produtividade
A atividade empresarial necessita, para se realizar, de três componentes de gestão:
as atividades, os meios e os resultados, em resumo, produzir bens e/ou serviços e
conseguir comercializá-los. A produção como processo de criação ou adição de valor
necessita de fatores humanos, financeiros e materiais. Os rácios de produtividade
medem a eficiência de todos os fatores produtivos que contribuam para essa
criação/adição de valor:
− Os Recursos Humanos;
− As matérias e serviços incorporadas no produto;
− Os equipamentos utilizados.
45
O valor acrescentado bruto (VAB) mede o excedente de riqueza criada pela
empresa e corresponde, portanto, à contribuição da Empresa para criação de valor,
considerando a hipótese de que os preços refletem efetivamente o valor dos bens.
O VAB é estimado de duas formas:
46
cobrir gastos e perdas operacionais. Em resumo, reflete a incerteza inerente à
realização e continuidade de resultados operacionais futuros.
São fatores determinantes do risco económico:
- Instabilidade da procura;
- Volatilidade do preço unitário;
- Volatilidade dos custos dos fatores de produção;
- Peso (na estrutura de custos) dos gastos fixos operacionais;
- Capacidade de repercussão dos custos nos preços de venda.
47
Exemplo: se GAO for 3 (e a estrutura de custos não se alterar) uma variação de 1%
nas vendas traduzirá, de grosso modo, uma variação de 3% nos resultados
operacionais (ou EBIT).
Conclusões:
− Quanto maior o GAO maior o risco subjacente, isto é, um valor significativo da
margem bruta está a ser absorvido pelos gastos fixos. No limite, o GAO tende
para valor infinitamente grande se MB = GF.
− Este indicador permite “prever” o impacto das variações das vendas sobre os
resultados operacionais.
− Se num dado cenário as vendas estiverem a crescer o GAO é favorável uma vez
que esta tendência proporciona um aumento mais do que proporcional no RO,
sendo o cenário contrário também verdade.
− Empresas com elevados valores de gastos fixos têm GAO elevado (maior
incerteza quanto à previsão dos resultados operacionais futuros). Ex: indústria
capital intensivo.
− Empresas com baixos valores de custos fixos têm GAO baixo (menor incerteza
quanto ao valor positivo dos resultados operacionais futuros).
48
Em que (Pv1 – CV1) / Pv1 é a margem unitária sobre o preço de venda
Ou
Qv0 * Pv1 = CF / [ Margem bruta/ Vendas ]
b) Risco financeiro
O risco financeiro está condicionado ao nível de endividamento (e consequentes
custos financeiros), depende da estrutura de capitais e da relação entre a rendibilidade
do capital próprio e o custo do capital alheio.
As técnicas utilizadas permitem avaliar o risco financeiro subjacente à estrutura de
capitais de uma empresa: proporção de capitais próprios e proporção de capitais
alheios. O indicador que iremos abordar é o grau de alavanca financeira.
a) Grau de alavanca financeira (GAF) – Este indicador avalia a capacidade da
empresa fazer face aos seus compromissos financeiros, isto é, relaciona a
mudança nos resultados disponíveis para os acionistas – o resultado líquido
(efeito) - face a variações nos resultados operacionais (causa).
Onde
T=taxa de imposto
RAI=Resultados antes de impostos
Conclusões:
− O GAF permite avaliar se uma variação no endividamento significa uma variação
mais do que proporcional na rendibilidade dos capitais próprios.
49
− Como o RO é em grande parte absorvido pelos gastos financeiros, se o RO for
positivo e o GAF for negativo significa que os gastos financeiros excedem o RO.
− Quanto maior o valor deste indicador maior o risco associado à utilização da
dívida.
c) Risco Global
O Grau de Alavanca Combinado (GAC) é um instrumento que funciona como
indicador do risco global (económico e financeiro). Mede a sensibilidade do
resultado líquido (RL) (efeito) às variações das vendas (causa) e significa que
uma variação X% nas vendas (mantendo a estrutura de custos fixos e de
encargos financeiros) implicará uma variação de Y% no RL
GAC = GAO X GAF = MB / RO X RO / RAI = MB / RAI
50
segurança, grau de alavanca operacional, grau de alavanca financeira, grau de
alavanca combinado) e outros indicadores abordados na secção de equilíbrio
financeiro (rácios/indicadores de liquidez e rácios de solvabilidade) e secção do estudo
da rendibilidade (efeito de alavanca financeira, custo versus rendibilidade dos capitais
investidos), a análise de risco de crédito dispõe também de técnicas baseadas na
combinação de indicadores: notação de risco (Rating) e análise discriminativa de
rácios (Scoring).
i) Rating
Técnica de avaliação de risco de crédito baseada na análise global de um dado
conjunto de indicadores históricos qualitativos e quantitativos, designados por
determinantes de valor ou value drivers. O objetivo da análise é elaborar uma
estimativa ou previsão de capacidade de uma determinada empresa pagar juros e
capital aos credores.
As Agências especializadas em notação de risco ou rating criaram uma escala
de indicadores para classificarem o risco de crédito de determinada Entidade
(empresas, famílias, Estado, etc.). Os ratings atribuídos por estas Entidades
especialistas expressam uma opinião sobre a capacidade e vontade de uma dada
Entidade (empresas, famílias, Estado, etc.) honrar, atempadamente e na íntegra,
os compromissos financeiros e indicam a probabilidade de incumprimento dos
compromissos financeiros.
51
Tabela 1 - tabela de notação das principais agências internacionais de rating
ii) Scoring
Os sistemas de Scoring (ou pontuação do risco de crédito) recorrem a rácios e
outros indicadores para classificar as empresas por grau de risco e baseiam essa
análise (quase sempre) em informação histórica. Definir características mutuamente
exclusivas de cada um dos grupos a analisar. Existem modelos discriminantes
(baseados em rácios e outros indicadores), modelos que usam análise univariada
(paramétricos e não paramétricos) e que usam análise multivariada (com recurso a
modelos econométricos como são os modelos logísticos).
Os modelos baseados na análise discriminante devem ser concebidos da seguinte
forma:
. Recolher dados sobre uma amostra de empresas representativa da população
onde se insere (ex. mesma dimensão, setor, etc.);
. Tentar combinar de forma linear os dados da amostra que melhor discriminam as
empresas;
52
. A escolha dos rácios a usar no modelo não se baseia em nenhuma teoria
específica e dependem, em grande parte, da amostra e do país e setor estudado;
. Os rácios e indicadores utilizados baseiam-se apenas em elementos históricos,
ignorando as reestruturações em curso e mudanças de estratégia já implementada.
53
• X1 - Fundo de maneio / Ativo total. Relaciona os ativos mais líquidos com o
saldo do balanço.
• X2 - Resultados retidos / Ativo total. Mede a capacidade da empresa gerar
lucro.
• X3 – EBIT / Ativo total. Relaciona a capacidade da empresa gerar lucro com a
eficiência operacional.
• X4 – Capitais próprios/ Passivo. Indicador de solvabilidade.
• X5 - Vendas / Ativo total. Mede a eficiência operacional.
54
Exemplo (sucinto) de uma Análise Financeira:
A empresa PFE, Lda., uma pequena empresa têxtil, apresenta as seguintes
demonstrações financeiras a 31/12/2011.
Balanço da PFE, Lda.
Rubricas 2011 2010
Ativo
Ativo não corrente
Ativo fixo tangível 412.000 406.000
Total do ativo não corrente 412.000 406.000
Ativo corrente
Inventários 37.000 34.000
Clientes 38.500 46.000
Caixa e depósitos bancários 174.393 151.316
Total do ativo corrente 249.893 231.316
Total do ativo 661.893 637.316
Capital próprio e passivo
Capital próprio
Capital realizado 350.000 320.000
Resultados transitados 5.000 0
Resultado líquido do período 70.893 63.566
Total do capital próprio 425.893 383.566
Passivo
Passivo não corrente
Financiamentos obtidos 161.000 181.750
Total do passivo não corrente 161.000 181.750
Passivo corrente
Fornecedores 47.000 42.000
Estado e outros entes públicos 8.000 10.000
Financiamentos obtidos 20.000 20.000
Total do passivo corrente 75.000 72.000
Total do passivo 236.000 253.750
Total do capital próprio e do passivo 661.893 637.316
55
Pedido: Elabore uma análise económica e financeira à empresa PFE, Lda.
Atenção: por uma questão de brevidade, as demonstrações financeiras só
apresentam informação para os anos de 2010 e 2011, o que é claramente uma
limitação na análise financeira (o período considerado ótimo é entre 3 e 5 anos).
56
Passivo Corrente (Financiamentos obtidos) = 20.000 - 15.000 = 15.000€
2010
Passivo não Corrente (Financiamentos obtidos) = 181.750 + 15.000 = 196.750€
Passivo Corrente (Financiamentos obtidos) = 20.000 - 15.000 = 15.000€
Balanço financeiro corrigido
Investimentos 2011 2010
Ativo fixo 407.500 406.000
Total ativo 407.500 406.000
Balanço funcional
57
Síntese: Após a construção do balanço financeiro, procede-se à construção do
balanço funcional que permite o cálculo de indicadores-chave para a análise seguinte.
2011
2010
Rácios de liquidez
2011
^_`.a`b
• Rácio de Liquidez Geral =&cdeee'deee, = 4,16
&^_`.a`bbc.eee,
• Rácio de Liquidez Reduzida = = 3,55
&cdeee'deee,
2010
^b'.b'f
• Rácio de Liquidez Geral =&c^.eee'd.eee, = 4,06
&^b'.b'fb_.eee,
• Rácio de Liquidez Reduzida = &c^.eee'd.eee, = 3,46
Rácios de funcionamento
58
2011
ba.dee
• PMR15 = × 365 = × 365=27,45 dias
ç
!
d'^.eee
á
bc.eee
• PMI = × 365 = × 365=58,62 dias
^be._ee
_c.eee
• PMP 16= × 365 = × 365=60,11 dias
&!
(-., &^be._ee(dd.eee,
d'^.eee
• Rotação ativo =fe^.b`b = 0,85
^be._ee
• Rotação inventários = bc.eee = 6,23
2010
_f.eee
• PMR =
ç
!
× 365 = _af.eeee × 365=34,55 dias
á
b_.eee
• PMI = × 365 = ^'a.cee × 365=56,74 dias
_^.eee
• PMP = × 365 = &^'a.cee(d^.eee, × 365=56,63 dias
&!
(-.,
_af.eee
• Rotação ativo = = 0,83
dad,b'f
^'a.cee
• Rotação inventários = b_.eee = 6,43
Síntese:
• Situação reveladora de equilíbrio financeiro, com FM> 0, NFM > 0 e TL > 0, tanto
em 2010 como em 2011. Contribui para esta situação o facto do PMR<PMP.
• FM>NFM, situação que revela equilíbrio financeiro. Esta situação é resultante do
facto do ciclo de caixa ser inferior ao PMP;
• Elevados rácios de liquidez geral com tendência crescente (nota: esta situação
pode afetar rendibilidade do investimento na eventualidade da empresa dispor de
15
Por simplificação e brevidade, o rácio de PMR será calculado com o saldo do período e não com
recurso saldo médio de clientes.
16
Por simplificação e brevidade, o rácio de PMP será calculado com o saldo do período e não com
recurso saldo médio de fornecedores. A variável compras corresponderá ao saldo das CMCMV.
59
muitas reservas de caixa (dinheiro parado= investimento subótimo);
• Pequena diferença entre LG e LR, evidenciando que o peso dos inventários no
ativo corrente não é determinante em termos de liquidez.
• Eficiência operacional dos inventários e ativo com tendência para a estabilidade.
Contudo, o ativo demora mais de um ciclo de exploração a completar uma rotação.
2010
bab.dff
• Rácio de Solvabilidade = = 1,51
^db.cde
bab.dff
• Autonomia Financeira (%) = dad.b'f = 66%
Síntese:
• Razoável estabilidade do financiamento, uma vez que mais de 50% dos capitais
utilizados são capitais próprios (conforme rácio de autonomia financeira);
• Os capitais próprios são excedentários face aos capitais alheios (rácio de
solvabilidade);
• A maior fatia do endividamento é de médio e longo prazo (representa 75% em
2011 e 78% em 2010 do total do passivo), o que corresponde a capital permanente
investido na empresa contribuindo assim para a sua situação de equilíbrio
financeiro no médio e longo prazo.
Análise da Rendibilidade
Perspetiva operacional
2011
'^_.fee
• Rendibilidade Operacional das Vendas = d'^.eee =24,34%
ff.b`b
• Rendibilidade Líquida das Vendas = d'^.eee = 12,97%
2010
''f.bee
• Rendibilidade Operacional das Vendas = _af.eee =23,93%
fb.dff
• Rendibilidade Líquida das Vendas =
_af.eee
= 13,08%
60
Perspetiva estratégica
2011
'^_.fee
• ROA = fe^.b`b = 20,68%
ff,b`b
• RCP = = 15,76%
_^'.b`b
^e.b_d
• Taxa de juro bruta média = = 11,24%
&'cf.eee(d.eee,
2010
''f.bee
• ROA = = 19,87%
dad.b'f
fb.dff
• RCP = bab.dff = 16,57%
^^.a^e
• Taxa de juro bruta média =&'`f.cde(d.eee, = 11,31%
Síntese:
• Rendibilidade das vendas (margem operacional e margem líquida) positiva
estável no período 2010-2011;
• Rendibilidade do investimento (Económica e Financeira) positiva. O ROA
cresceu ligeiramente enquanto o RCP apresenta uma trajetória contrária;
• Estes rácios refletem que a empresa é eficiente na afetação de recursos
• Efeito de alavanca financeiro tem impacto positivo na rendibilidade do capital
próprio porque em ambos os anos: ROA>juro.
Análise do Risco
Risco operacional
Nota: GAO: Pressuposto no cálculo da margem bruta – os gastos variáveis
correspondem somente aos CMVMC.
2011
• GAO = (512.000-230.400)/ 124.600 = 2,26
• PC= (55.000+64.000+38.000)/[(512.000-230.400)/ 512.000] = 285.455
• MS = 512.000/285.455 – 1 = 79%
2010
• GAO = (486.000-218.700)/ 116.300 = 2,30
• PC= (52.000+64.000+35.000)/[(486.000-218.700)/ 486.000] = 274.545
• MS = 486.000/274.545 – 1 = 77%
61
Risco Financeiro
2011
• GAF = 124.600/ 104.255 = 1,20
2010
• GAF = 116.300/ 93.480 = 1,24
Risco global
2011
• GAC = 2,26 x 1,20 = 2,70
2010
• GAC = 2,30 x 1,24 = 2,85
Síntese:
• A empresa apresenta uma margem de segurança nas vendas de mais de 50%, o
que reflete uma posição pouco arriscada e de segurança;
• A maior fonte de risco dos capitais investidos é o risco operacional, tal como
observado pelo valor do GAO. Em 2011, por cada 1% de variação nas vendas, o
EBIT (resultado operacional), irá variar, de grosso modo, 2,26;;
• Risco financeiro quase sem expressão (valor do GAF não se afasta muito de 1), o
que reflete um baixo nível de endividamento oneroso;
• Análise do GAC: a maior fonte de risco é o risco operacional;
• Os indicadores de risco apontam para uma diminuição do risco entre 2010 e 2011.
62
orçamento, como forma de garantir uma permanente adequação das necessidades
aos recursos cíclicos e garantir intervenções atempadas e consequentes.
O Planeamento Financeiro
63
• O ponto de partida é a previsão do volume de negócios. Depois estimam-se as
rubricas que variam com o volume de negócios. As restantes rubricas
(independentes das vendas) devem ser estimadas autonomamente. Com
bases nestas estimativas elaboram-se as demonstrações financeiras
previsionais.
•
3. Método de planeamento integrado (método de consolidação orçamental)
• Maior participação dos vários departamentos na fixação dos objetivos, dos
programas e orçamentos.
• Utilizado no planeamento financeiro e no controlo da gestão.
• A sua utilização só faz sentido em estruturas organizacionais complexas (ex:
empresas ou grupos de empresas industriais).
• Nota: Este método não será explorado dado só se aplicar a um segmento
específico de empresas.
1. Método expedito
O método expedito do fluxo de caixa previsional procura estimar as
necessidades de financiamento previsional a partir de um modelo simplificado de
fluxos de caixa.
Neste método, privilegia-se a rapidez em detrimento do rigor. Dada a sua
simplicidade e rapidez de aplicação e de obtenção de informação, é o método mais
utilizado pelos analistas financeiros que se dedicam a “seguir” empresas cotadas em
bolsa de valores mobiliários.
Este método tem como ponto de partida a evolução das vendas e parte da forma
mais agregada do balanço: Ativo=Cap.Próprios + Passivo. Logo,
∆Ativo=∆Cap.Próprios + ∆Passivo
O método pressupõe que todas as rubricas do ativo e passivo irão variar na
mesma proporção da variação do volume de negócios e que os capitais próprios
variam pelo resultado retido, que por sua vez também é função do volume de
negócios, da rendibilidade e da política de distribuição de resultados. Na situação em
que ∆Ativo>∆Cap.Próprios + ∆Passivo, então está-se perante uma necessidade de
financiamento externo. Assim sendo, as necessidades de financiamento previsionais
(NFP) podem ser estimadas da seguinte forma:
L P
klP = QU X . ∆MY + QU X . ∆MY + n4] ∙ M' ∙ &1 − 7,p
M M
Onde:
A=Ativo
64
P=Passivo
V=Volume de negócios
∆V=Variação volume de negócios
RL=Resultado líquido
V1=Volume de negócios previsto no ano 1
d=Taxa de distribuição de dividendos
Assim, na expressão qr s . ∆Mt está a previsão do acréscimo de ativos, na
expressão qrs . ∆Mt está a previsão do acréscimo de passivo e na expressão n4] ∙ M' ∙
65
2. Método direto
O primeiro passo para elaboração de demonstrações financeiras previsionais
(conforme o método direto) consiste na análise financeira histórica. A partir dessa
análise, assumem-se pressupostos relativos a proveitos e custos operacionais.
Com base nessa informação, o processo prossegue com a projeção das
demonstrações financeiras – balanço, demonstração de resultados e de fluxos de
caixa – designadas por pró-forma ou 1.ª aproximação. Segue-se uma análise das
necessidades financeiras e seleção das fontes de financiamento mais adequadas. Por
último, elaboram-se as demonstrações financeiras previsionais.
i) Demonstrações financeiras pró-forma: o balanço
Previsão de ativos correntes, exceto meios financeiros líquidos (caixa e
equivalentes), com base nos rácios de atividade (PMR, PMI, …) e outras
rubricas (Estado, outros devedores de exploração, …) históricas e a previsão
do volume de negócios;
Previsão de Investimentos em ativo fixo, depende do plano estratégico e da
capacidade produtiva da empresa em suportar o volume de negócios previsto.
Pode ser definido em função do rácio de rotação do ativo (volume
negócios/ativo) a atingir;
Previsão de dívidas correntes, com base nos rácios de atividade (PMP, …) e a
evolução de outras rubricas (como Estado e outros credores de exploração) e
do ciclo de caixa histórico e a evolução prevista do volume de negócios;
Os meios financeiros líquidos resultarão da diferença entre total do ativo e o
total capitais próprios mais passivo. O nível destes será ajustado tendo em
conta o nível desejado através das contas de passivo (empréstimos) e/ou
capital próprio.
Estimativa da evolução de outras rubricas, as outras rubricas não diretamente
relacionadas com o volume de negócios (capital social, empréstimos bancários,
empréstimos de acionistas, etc.) são estimadas de acordo com a expectativa
da sua evolução (ex: plano de reembolso das dívidas bancárias, etc.).
66
Consumidas (CMVMC) e algumas rubricas dos Fornecimentos e Serviços
Externos (FSE). É necessário definir a tendência da evolução histórica da
relação vendas/custos variáveis e fazer refletir a introdução de sinergias e
eficiências operativas (caso seja previsível a sua existência);
Previsão de custos fixos (operacionais), estes custos não têm uma relação
proporcional com o volume de negócios (o que não significa que não sejam
condicionados por essa previsão). Incluem os gastos com pessoal, alguns FSE
e as depreciações/amortizações, cuja taxa é determinada em função do
montante de ativo fixo (Depreciações/Ativo fixo bruto sujeito a depreciação);
Previsão de custos financeiros, esta rubrica está relacionada diretamente com
o endividamento atual e previsto (a curto ou médio/longo prazo);
Previsão do imposto sobre o rendimento, este custo resulta de imperativos
fiscais.
Dado que a elaboração das demonstrações previsionais tem por base um conjunto
de pressupostos (evolução prevista do volume de negócios e de outras rubricas) é
importante proceder a uma análise de sensibilidade no sentido de avaliar o impacto
sobre a estrutura financeira e sobre a rendibilidade da empresa
Gestão de Tesouraria
67
e de pagamentos e recurso a soluções de financiamento ou aplicação de excedentes,
de modo a preservar a capacidade da empresa em satisfazer os compromissos
financeiros resultantes da sua atividade operacional, isto é, de modo a preservar o
equilíbrio financeiro da empresa.
A gestão de tesouraria deve integrar as seguintes áreas:
1. Gestão de clientes (do crédito ativo): Definição das políticas de crédito, isto
é, das condições de crédito a oferecer a clientes. A política de crédito
funciona como um instrumento de promoção de venda pois o objetivo da
política de concessão de crédito a clientes é maximizar o efeito comercial. No
entanto, os custos associados à concessão de crédito devem situar-se dentro
dos limites admitidos pela margem bruta das vendas e devem considerar o
impacto sobre as necessidades de fundo de maneio (ex: possíveis encargos
financeiros resultantes do financiamento oneroso das necessidades cíclicas e o
potencial impacto sobre o volume de incobráveis).
2. Gestão de inventários/stocks: estabelecimento de regras e ritmos de
aprovisionamento e de manutenção de existências que minimizem os custos
associados aos stocks, nomeadamente o custo financeiro dos inventários, os
custos administrativos e os custos de rutura de stocks.
3. Financiamento de curto prazo: constituem opções possíveis de colmatar
défices de tesouraria. Os critérios de seleção deverão ser o custo, a
exigibilidade (prazo) e as garantias exigidas. Alternativas: crédito bancário,
Factoring, papel comercial, crédito de fornecedores, concessão de descontos a
clientes, etc.
4. Aplicação de excedentes de tesouraria: constituem opções possíveis de
aplicar excedentes de tesouraria. Os critérios de seleção devem ser a liquidez,
a rendibilidade e o risco. Alternativas: títulos do Estado, aplicações bancárias,
fundos de investimento, papel comercial, aplicações no ciclo de exploração
(aproveitamento de descontos de pronto pagamento, aquisição de stocks
adicionais face à perspetiva de subida de preço, etc.).
69
dimensão e necessidades da empresa, não existindo nenhum método “mágico”, para
além do bom senso e do bom desempenho. Essa capacidade de ajustamento é muito
importante, principalmente, quando:
• As vendas são inferiores ao valor orçamentado, o que pode significar menor
rendibilidade global, custos fixos desajustados ou stocks que não são escoados;
• As vendas são superiores ao valor orçamentado, o que pode “arrastar” aumento
de custos fixos e representar margens menores apesar do aumento do volume
total;
• …
Facilmente se deduz que toda a evolução deve ser controlada e analisada.
70
Aplicando diretamente a fórmula ao exemplo supracitado:
17
A taxa de juro aplicada neste tipo de empréstimos bancários é constítuida pela taxa de juro de
referência (ex, Euribor) acrescido do prémio de risco adequada a cada cliente (spread).
72
Exemplo: Investimento numa conta a prazo de 5.000€, remunerado à taxa de juro
de 5%, por um prazo de 5 anos. Qual o valor futuro?
Até ao momento as nossas incógnitas eram o valor futuro e valor atual. Mas se
estivermos já na posse desses dados e não soubermos a taxa de juro implícita ou o
número de anos do investimento?
Descobrir a taxa: Sabemos que determinado automóvel custará 15.000€ dentro de
4 anos e que o seu valor atual é de 9.500€. Qual a taxa de juro implícita?
15.000 = 9.500 × &1 + K,_
9.500&1 + K,_ = 15.000
73
15.000
&1 + K,_ =
9.500
'
15.000 r_s
K=U X − 1 = 12,10%
9.500
x
- rys
Deste exemplo podemos deduzir a seguinte fórmula: K = r s −1
18
Vida útil esperada expressa a durabilidade prevista (geralmente, anos) de um determinado ativo.
74
Ano 1 – 200.000€
Ano 2 – 250.000€
Ano 3 – 400.000€
Ano 4 – 500.000€
Ano 5 – 600.000€
A condição imposta pelo senhor B para investir na pastelaria será obter uma taxa
de rendibilidade superior à taxa de juro que o banco lhe oferece se este investir o seu
dinheiro num depósito a prazo, que é de 8%/ano. Valerá a pena o senhor B investir
nesse negócio?
75
Estes períodos de capitalização são designados pela letra m. Quando uma taxa
capitalização m vezes num ano, a fórmula analítica para calcularmos o valor futuro é a
seguinte: m×T
r
VF = C 0 × 1 +
m
Seja qual for o contexto, quando se falam em taxas de juro estas são sempre
anuais. O processo normal é partirmos de uma taxa de referência e depois
capitalizarmos essa taxa m vezes por ano. Essa taxa de referência é designada por
taxa anual nominal (TAN). A taxa que resulta de m períodos de capitalização é a taxa
que efetivamente remunera o nosso investimento ou que efetivamente pagamos
quando contraímos um empréstimo, daí designar-se por taxa anual efetiva (TAE).
Estes dois tipos de taxas só diferem uma da outra quando a TAE capitaliza mais do
que uma vez por ano.
Exemplo: Depósito de 100€ investido pelo prazo de um ano, remunerado à taxa
de juro de 6%/ano em regime de capitalização simples e regime de capitalização
composta para diferentes períodos de capitalização:
VF VF
Período Taxa Factor Capitalização Capitalização
Período (m ) correspondente r/m correspondente capitalização simples composta
Anual 1 6%/1 6,0000% 1,060000 106,0000 106,0000
Semestral 1/2 6%/2 3,0000% 1,060900 106,0000 106,0900
Quadrimestral 1/3 6%/3 2,0000% 1,061208 106,0000 106,1208
Trimestral 1/4 6%/4 1,5000% 1,061364 106,0000 106,1364
Bimestral 1/6 6%/6 1,0000% 1,061520 106,0000 106,1520
Mensal 1/12 6%/12 0,5000% 1,061678 106,0000 106,1678
Semanal 1/52 6%/52 0,1154% 1,061800 106,0000 106,1800
Diário 1/365 6%/365 0,0164% 1,061831 106,0000 106,1831
Como acima referido, quando a taxa de juro capitaliza uma vez por ano, a TAE é
igual à TAN. Exemplo: será mais rentável investir 1.000€ durante um ano à TAE de 8%
ou à TAN de 8%?
1. Investir à TAE de 8%
8% '×'
Ml = 1.000 × U1 + X = 1.080
1
2. Investir à TAN de 8%
Ml = 1.000 × &1 + 8%,' = 1.080
Este tipo de taxas são taxas equivalentes, são taxas que remuneram de igual forma
o investimento. É indiferente optar por uma ou por outra, o valor obtido no final é igual.
Exemplo: o Senhor C está indeciso entre investir 1.000€ num depósito a prazo
remunerado a uma TAE com capitalização anual de juros de 19,56%, ou investir numa
TAN de 18% que capitaliza juros ao mês?
a) Investir à TAE de 19,56%
Ml = 1.000 × &1 + 19,56%, = 1.196
77
Perante este cenário é indiferente investir 1.000€ à TAE de 19,56% (que capitaliza
uma vez por ano) ou investir à TAE de 18% que capitaliza juros ao mês.
×
VF = C0 ert
\LR = 5 − 1
1 I)
ML = I) × U ) X vw, ML =
5 5 )
78
1 300.000
ML = 300.000 × U X = 146.026 vw, ML = = 146.026
5 '^%×f 5 '^%×f
19
4.4 Simplificações
Perpetuidade
Sob o ponto de vista da teoria financeira, o valor atual de um (projeto de)
investimento é o valor atualizado de uma série de fluxos de caixa futuros esperados.
Geralmente, essa avaliação foca-se num número finito de períodos, entre os 5/10
anos. Projetar fluxos de caixa para um período de tempo superior poderá ser irrealista.
Mas podem existir determinados investimentos que (tomamos como pressuposto) não
se extinguirão dentro de um prazo de 5/10 anos, isto é, a avaliação efetua-se numa
perspetiva de continuidade. Como humanamente é impossível calcular fluxos de caixa
perpétuos, isto é, que durarão para todo o sempre, a fórmula do valor atual para
calcular estes fluxos de caixa perpétuos foi determinada através de uma simplificação
de cálculo, que se designa por perpetuidade.
O valor atual de uma perpetuidade é dado pela seguinte fórmula analítica:
ML! ! =
19
Na linguagem técnica do cálculo financeiro, as simplificações que serão apresentadas nesta secção
são conhecidas como rendas.
79
M567;=^eea M567;=^eec 2.500.000 − 1.500.000
N= = = 66,67% ou,
M567;=^eec 1.500.000
^.dee.eee
g= −1= − 1 = 66,67%
'.dee.eee
80
300 1
ML
= 1 − = 8.415
17% &1 + 17% ,bf
12 12
Anuidade crescente
Tal como no caso da perpetuidade, as anuidades podem crescer a uma taxa
constante. Para evitar a elaboração de cálculos complexos simplificou-se o cálculo:
I I × &1 + N, I × &1 + N,)'
ML
= + + ⋯ +
&1 + K, &1 + K,^ &1 + K,)
Simplificação:
I 1+N )
ML
= 1 − U X
K−N &1 + K,
81
para um determinado número de períodos e atualizados para o momento presente a
uma dada taxa de desconto que reflete o timing e o risco inerente a esses montantes.
Quanto mais distantes do momento atual maior incerteza implícita na estimação, logo
maior a exposição desses fluxos de caixa ao risco.
Exemplo: determinada empresa do negócio das tintas plásticas está à venda por
500.000€. Analistas financeiros estimam que a empresa consiga obter os seguintes
fluxos de caixa para os próximos anos:
Período Fluxo de caixa
1 200.000
2 150.000
3 125.000
4 400.000
A taxa de desconto ajustada ao risco do negócio é de 12%. Será que vale a pena
investir nesta empresa?
82
• Todas as decisões devem ser avaliadas recorrendo aos critérios explicados
no capítulo anterior e tendo atenção aos critérios complementares, que
serão explicitados neste e no próximo capítulo.
83
de um edifício vazio que o adquiriu há 3 anos por 800.000€. O preço de mercado
desse ativo (líquido de impostos) é de 500.000€, deve este custo entrar nos fluxos de
caixa de avaliação da nova linha de produção? Sim. É considerado um custo
incremental.
d) Efeitos colaterais que podem ser considerados negativos ou positivos.
Negativos: a introdução de novos produtos que concorrem com os produtos
existentes pode causar fenómenos designados por erosão ou canibalismo das vendas,
isto é, esse novo produto pode provocar uma queda nas vendas dos produtos já
existentes. Exemplo: um novo modelo de telemóvel pode provocar uma descida nas
vendas do modelo anterior.
Positivos: a situação é exatamente a contrária à acima exposta, a introdução de
um novo produto pode originar aumento das vendas dos produtos já existentes e esse
fenómeno é designado por sinergia. Exemplo: a colocação no mercado de uma nova
consola de jogos eletrónica potencia as vendas dos jogos eletrónicos já disponíveis.
e) Alocação de custos
Na avaliação de projetos de investimento há que analisar cuidadosamente quais os
custos que serão originados pela aceitação e implementação do projeto. Exemplo: se
a empresa já dispõe de um centro de distribuição, os custos de distribuição do novo
produto poderão não ser considerados incrementais dependendo se o novo produto irá
ou não originar custos de distribuição acrescidos.
f) Investimento inicial:
Quando se inicia um novo projeto, o investimento inicial destina-se a adquirir ativo
não corrente e ativo corrente.
Investimento em ativo não corrente: é usual assumir-se o pressuposto que no final
do projeto os ativos serão vendidos. O valor dessa venda é designado por valor
residual.
Investimento em ativo corrente (fundo de maneio): o fundo de maneio destina-se a
financiar os ativos correntes, isto é, o ciclo produtivo ou de exploração. O fundo de
maneio líquido é a diferença entre o ativo corrente (ex: clientes, inventários e caixa) e
o passivo corrente (ex: fornecedores). Se a empresa concede crédito aos clientes e
aceita crédito dos fornecedores, uma parte do seu ativo corrente está a ser financiada
pelos seus fornecedores. Exemplo: a empresa concede aos clientes três meses de
crédito, isto é, os clientes recebem as encomendas e dispõem de um prazo de três
meses para efetuarem o pagamento. Esta empresa obtém também o mesmo prazo de
pagamento aos fornecedores (que fornecem as matérias-primas). Mas durante esse
tempo a empresa necessita de dinheiro para cumprir com determinados
84
compromissos: pagamento salários, rendas, luz, água, etc., em suma, são as
chamadas necessidades de fundo de maneio sentidas pela empresa.
Normalmente, assume-se que o fundo de maneio está ligado à variável vendas,
quanto maior o volume de vendas maior o investimento em fundo de maneio. É
geralmente tomado como pressuposto que todo o investimento em fundo de maneio
será recuperado no final da vida útil do projeto de investimento, isto porque é suposto
a empresa recuperar todo o crédito que concedeu aos clientes e também recuperar
tudo o que investiu em matérias-primas e mercadorias (que será vendido).
Sob o ponto de vista do cálculo do free cash flow, o fundo de maneio que é
necessário estimar são as necessidades de fundo de maneio (NFM). As NFM são
definidas da seguinte forma:
NFM = NECESSIDADES Cíclicas – RECURSOS Cíclicos
g) Custos de financiamento
Quando falamos em investimento isso implica fontes de financiamento. Tratando-
se de avaliação de fluxos de caixa futuros, o custo das fontes de financiamento do
projeto – capital próprio ou endividamento - não entram diretamente como valores
absolutos nos fluxos de caixa, estão refletidos na taxa de desconto. Daí essa taxa de
desconto ser designada por taxa de custo de capital. Essa taxa reflete a rendibilidade
exigida pelos investidores para investirem no projeto, estando implícito também o
risco, senão vejamos, investir numa empresa representa um risco maior do que
investir num depósito a prazo. Quanto maior o risco assumido maior a rendibilidade
exigida. O risco dos detentores de capital próprio é maior que o risco assumido pelos
credores. Isto acontece porque em caso de falência (a nomenclatura técnica mais
apropriada é insolvência) os credores têm direitos contratuais sobre o património da
empresa enquanto os detentores de capital próprio têm somente direitos residuais, isto
é, é efetuada uma lista ordenada de credores da empresa e os detentores de capital
próprio são os últimos a serem ressarcidos. A taxa de custo de capital resulta da
média ponderada entre a percentagem e taxa de custo de capital próprio e a
percentagem e taxa de custo da dívida. De salientar também que o facto de a empresa
ter dívida implica uma redução do imposto a pagar.
Mas como estimar o custo de capital que a empresa suporta? Este assunto será
abordado na próxima secção.
Resumo
85
• Vendas e custos das vendas que estejam diretamente ligados à aceitação e
implementação do projeto;
• Custos de oportunidade devem ser incluídos;
• Efeitos secundários negativos, tais como erosão ou canibalismo, devem ser
considerados no cálculo das vendas;
• Efeitos secundários positivos, sinergias, devem ser considerados no cálculo das
vendas;
• Custos afundados, que já ocorreram antes da aceitação do projeto, não devem
ser considerados;
• O fluxo de caixa liberto ou free cash flow deve ser líquido de impostos;
• O fenómeno da inflação também é relevante para a determinação de fluxos de
caixa incrementais, como veremos na próxima secção.
86
inicial, o VAL é o valor atual de uma série de fluxos de caixa futuros, ao qual é
deduzido esse custo inicial.
87
5.2.2 O critério do Payback
Prazo de recuperação de capital, isto é, o número de anos de recuperação do
investimento inicial. Este critério apresenta duas abordagens distintas, sendo uma
delas o Payback “simples”, que é a contagem dos fluxos de caixa até ser atingido o
valor do investimento inicial (a outra abordagem será explicitada no próximo ponto.
Exemplo: Considere um projeto com um investimento inicial de 100.000€. Os fluxos de
caixa estimados são, respetivamente, para os primeiros três anos: 60.000€, 40.000€ e
10.000€.
Como podemos verificar pela análise da figura acima, tendo como critério o
payback o investimento está pago ao fim de dois anos. Mas a teoria financeira invalida
decisões que não levem em conta o valor do dinheiro no tempo. Essa é uma das
limitações deste critério. Por outro lado, é um critério fácil de transmitir pelo emitente e
fácil de entender pelo recetor, o que constitui uma das suas maiores vantagens de
utilização. Mas as desvantagens que este critério apresenta tendem a pesar muito
mais do que a grande vantagem apresentada. Essas desvantagens são as seguintes:
como já referido não leva em conta o valor do dinheiro no tempo; a condição de
aceitação não está validada na teoria financeira, fica dependente do critério arbitrário
da gestão. Neste caso, e recuperando o exemplo anterior, a gestão pode definir como
payback o período de dois anos, então aceitará todos os projetos de investimento que
apresentem um payback igual ou inferior a dois anos e rejeita todos os outros projetos
que apresentem um payback superior a dois anos. Este procedimento gera vários
problemas, tais como: rejeitar projetos de longo prazo; rejeitar projetos que
apresentem maiores fluxos de caixa nos anos finais do investimento; e a maior de
todas as limitações, podem ser aceites projetos com VAL negativo dado não existir
relação direta entre o VAL e o payback. Todos os constrangimentos inerentes a este
88
critério abriram caminho a uma abordagem mais rigorosa do critério payback,
designada por payback atualizado.
Analisando este exemplo concluímos que, sob o critério do payback “simples”, este
projeto seria aceite porque apresenta um prazo de recuperação de capital de 2 anos,
mas procedendo à atualização dos fluxos de caixa verificamos que este seria um mau
89
investimento porque viola a condição de aceitação do VAL (VAL<0). Quando o VAL<0
o payback atualizado é superior ao número de períodos do investimento e quando o
VAL>0, o payback atualizado é inferior ao número de períodos do investimento.
Embora este critério sofra do mesmo mal que o payback “simples” dado que a
condição de aceitação é arbitrária e fica a cargo da gestão definir um número mínimo
de períodos para aceitação do investimento, há uma condição lógica que deve ser
respeitada e que emerge da própria definição de payback: aceitar o projeto se o prazo
de payback atualizado for inferior à vida útil do projeto.
Fluxos de caixa
Projeto
C0 C1 C2 C3
A -200 100 200 300
TIR = 65%
91
VAL
500
400
300
TIR
200
100
0 Taxa de desconto
0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%
-100
TIR=65%.
Dado o grau de complexidade matemática que a equação pode atingir, recomenda-
se que a sua resolução seja efetuada recorrendo a uma máquina de calcular ou folha
de cálculo (ex. Excel), utilizando para o efeito uma função específica. Para cálculos
manuais o método de resolução é por interpolação linear, isto é, por tentativas de
aproximação ao valor mais correto (método tentativa/erro).
A TIR só tem significado económico quando o projeto apresenta uma única taxa de
rendibilidade interna, independentemente do número de anos do projeto. Isto porque
um dos pressupostos de cálculo da TIR é que todos os anos os fluxos de caixa são
reinvestidos à mesma taxa da TIR.
A condição de aceitação projetos de investimento é: TIR>r, TIR deve ser superior à
taxa de desconto dos fluxos de caixa (taxa exigida pelos investidores). O objetivo é
que o projeto de investimento gere uma rendibilidade superior ao custo de
financiamento que a empresa suporta com a sua implementação. Quando o VAL>0 e a
TIR>r, logo o projeto gerou mais inflows do que outflows. Gerou fundos suficientes
para “pagar” os custos decorrentes do ciclo produtivo, para “pagar” a quem investiu no
projeto (refletido na taxa de desconto dos fluxos de caixa) e ainda gerou excedente.
Entre múltiplos projetos de investimento, deverá ser selecionado o que apresente
maior TIR.
A TIR apresenta como vantagens o rigor na condição de aceitação e a facilidade de
entender, interpretar e transmitir. Por outro lado, apresenta também alguns problemas
ou desvantagens que exigem cuidados específicos, tais como: i) não faz distinção
entre projetos de investimento e projetos de financiamento; ii) um projeto pode não
apresentar uma TIR ou pode existir uma multiplicidade de TIRs, principalmente em
projetos de investimento mutuamente exclusivos.
92
Antes de abordarmos este ponto, há que distinguir entre dois tipos de projetos de
investimento:
- Projetos de investimento mutuamente exclusivos: por exemplo, quando uma
empresa deseja substituir uma máquina ou investir numa nova linha de produção (para
produzir um produto diferente do portfolio de produtos que já fabrica) não vai desejar
adquirir duas ou três máquinas para substituir uma única máquina se não tem
estrutura produtiva para isso ou adquirir duas ou três linhas de produção se uma linha
produtiva é suficiente, logo a decisão de aceitação de um investimento implica a
rejeição de outros investimentos concorrentes. Será selecionado o investimento que
preencher as condições de aceitação e que se encontrar mais bem posicionado no
ranking dos critérios de avaliação pré-definidos pela gestão. A gestão pode optar por
um dos projetos, rejeitá-los a todos, mas nunca aceitar mais do que um projeto;
- Projetos de investimento independentes: por exemplo, uma empresa pretende
adquirir um novo software de gestão e uma nova viatura para distribuição. Este tipo de
projetos são independentes, isto é, a aceitação ou rejeição de um deles não implica a
aceitação ou rejeição do outro, não são concorrentes entre si. A empresa poderá
aceitar ou rejeitar todos os projetos.
Projetos de investimento
Exemplo típico de um projeto de investimento:
93
vendidas, assim os fluxos de caixa seguintes refletem essas vendas deduzidas de
todos os custos de produção e impostos.
Assumindo uma taxa de 10%, o projeto Alpha apresenta VAL=91 e TIR=36%. O
gráfico 2 representa a relação entre o VAL, TIR e taxa de desconto.
200 VAL
100
Taxa de
desconto
0
0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%
-100
Como podemos observar no gráfico acima, quando TIR>r o VAL é positivo, quando
TIR<r o VAL é negativo. Para que a condição de aceitação do critério da TIR se
verifique, o projeto só deverá ser aceite quando TIR>r.
Projetos de financiamento
Exemplo típico de um projeto de endividamento:
Fluxos de caixa
Projeto
C0 C1 C2 C3
A 200 -100 -200 -300
94
Gráfico 3 – Projeto de financiamento
100 VAL
Taxa de
0
desconto
0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%
-100
-200
-300
-400
-500
Fluxos de caixa
Projeto
C0 C1 C2 C3
A -200 200 800 -800
95
100
VAL
50
0
-50% 0% 50% 100% 150% 200%
-50
-100
Quando este problema acontece a solução para ultrapassar esta limitação é adotar
o critério designado por TIR Ajustada. Este critério é estimado em dois passos:
1.º Passo: calcular o Valor Futuro (VF) dos fluxos de caixa (ajustados a cada
momento) a uma dada taxa de reinvestimento. Por simplificação de cálculo podemos
assumir que a taxa de reinvestimento coincide com a taxa de desconto:
T
VF = ∑
Ci × (1 + r*)T −i
i =1
2.º Passo: consiste em atualizar o VF à TIR ajustada. Este procedimento origina o
VAL Ajustado (abordagem que não iremos desenvolver) e a TIR Ajustada. Como a
nossa incógnita é a TIR Ajustada, resolveremos a equação em sua função:
VF VF VF
VALA = T
− C0 ⇒ C0 = T
⇒ TIRA = T −1
(1 + TIRA) (1 + TIRA) C0
96
diferente o que contribui para essa disparidade. Neste caso como são projetos
mutuamente exclusivos, o critério a seguir deverá ser o VAL.
Quando dúvidas restam neste tipo de situações podemos sempre recorrer ao
cálculo da TIR incremental. Tir incremental refere-se ao valor da TIR que está para
além da taxa de desconto.
Assumindo uma taxa de desconto de 10%, o layout do procedimento seria o
seguinte:
Fluxos de caixa
Projeto
C0 C1 C2 C3
B -5.750 5.000 1.780 3.500
A -1.750 1.000 1.750 1.250
Diferença -4.000 4.000 30 2.250
4.000 30 2.250
VAL = 0 = −4.000 + + 2
+ TIR = 33%
(1 + TIR%) (1 + TIR %) (1 + TIR ) 3
97
que o critério de seleção, neste tipo de projetos deve ser o VAL (devido ao problema
de relatividade que a TIR apresenta). Outro possibilidade é determinar a TIR que
corresponde ao ponto exato onde os projetos se intersetam. O quadro abaixo
demonstra a forma de cálculo para determinar o ponto de intersecção da TIR.
0 -1.000 -1.000 0 0
2 100 100 0 0
Como se pode observar no gráfico acima, o projeto A valerá a pena até ao ponto
em que a TIR cruza com o projeto B, momento em que o projeto B passa a ser a
opção mais acertada.
Conclusão: na análise para seleção de projetos de investimento mutuamente
exclusivos, deveremos:
• Comparar o VAL dos projetos de investimento;
• Comparar a TIR dos projetos de investimento;
• Comparar a TIR com a taxa taxa de desconto:
• Quando nos deparámos com problemas derivados da aplicação do critério
TIR: comparar TIR incremental face à taxa de desconto.
Em condições normais, o VAL e a TIR, normalmente, conduzem à mesma decisão.
Existem alguns problemas com a TIR quando: i) durante o período de avaliação, se
verificar mudança de sinal dos fluxos de caixa; ii) em projetos de investimento
98
mutuamente exclusivos, nomeadamente nas situações em que o investimento inicial, o
momento de ocorrência e o valor dos fluxos de caixa são substancialmente diferentes.
VA 51
IR B = = = 1,46
C 0 35
Por qual dos projetos optar, A ou B?
Em primeiro lugar temos que verificar qual o tipo de projetos que estão a ser
analisados:
• Se forem projetos de investimento mutuamente exclusivos, o critério que
devemos optar é o VAL, logo optaríamos pelo projeto A;
• Se forem projetos de investimento independentes, e como os dois projetos
preenchem a condição de aceitação IR>1, logo os dois projetos seriam aceites.
No caso de a empresa sofrer de alguma limitação financeira então devemos optar
pelo critério do IR e selecionar o projeto com maior IR, que neste caso concreto é o
projeto B.
99
A prática da tomada de decisões de investimento
Depois da abordagem aos vários critérios de avaliação, o objetivo passa pela sua
aplicação a um exemplo concreto. Recuperemos o exemplo seguinte. Calcular: VAL,
TIR, Payback, Payback atualizado e IR. Assumir uma taxa de desconto de 10%.
Fluxos de caixa
Projetos
C0 C1 C2 C3
A -200 200 800 -800
B -150 50 100 150
a) Cálculo do VAL
200 800 800
VAL A = −200 + + − = 41,92
(1 + 10%) (1 + 10%) 2 (1 + 10%) 3
50 100 150
VALB = −150 + + 2
+ = 90,8
(1 + 10%) (1 + 10%) (1 + 10%) 3
b) Cálculo da TIR
Como podemos verificar o projeto A apresenta duas TIRs devido a duas mudanças
de sinal dos seus fluxos de caixa. O projeto B apresenta uma TIR=36%. O gráfico
abaixo ilustra essa situação.
200 VAL
150
100
Projecto A
50
Projecto B
0
taxa desconto
-50 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%
-100
c) Cálculo do payback
100
Projeto Fluxos de caixa
C0 C1 C2 C3
A -200 200 800 -800
Acumulado -200 -200+200=0
B -150 50 100 150
Acumulado -150 -150+50=100 -100+100=0
• Projeto A
200
l:>Z@ 75 O;8Z; ;6@1 = ≅ 181,82
1 + 10%
800
l:>Z@ 75 O;8Z; ;6@2 = ≅ 661,16
&1 + 10%,^
P;9;O ;?>;:8;7@ = 200 − 181,82 = 18,18
• Projeto B
50
l:>Z@ 75 O;8Z; ;6@1 = ≅ 45,45
1 + 10%
100
l:>Z@ 75 O;8Z; ;6@2 = ≅ 82,65
&1 + 10%,^
150
l:>Z@ 75 O;8Z; ;6@3 = ≅ 112,70
&1 + 10%,b
e) Cálculo do IR
•
Determinar Valor atual dos fluxos de caixa:
Depende…
- Se A e B forem projetos de investimento mutuamente exclusivos: optar pelo
projeto com maior VAL, que neste caso é o B!
- Se A e B forem projetos de investimento independentes: optar pelos dois!
Este estudo de mercado representa um custo de 125.000. Esta loja tinha sido
adquirido há dois anos e é alvo de uma proposta de arrendamento pelo valor anual de
10.000€. Esta loja fica situada num prédio que sofrerá um restauro dentro de quatro
anos, a Administração Local decidiu que pretende transformar o referido prédio numa
biblioteca municipal. Nessa altura a empresa será ressarcida pelo valor residual de
200.000€ mais a liquidação do investimento em ativo não corrente pelo valor de
100.000€.
102
Resolução
Nota: o mapa de fluxos de caixa não é um documento normalizado, isto é, a sua
estrutura não é definida através de diretivas legais (como nos casos das
demonstrações financeira), mas sim um documento para “consumo” interno da
empresa. Há autores que defendem a separação entre o que significa investimento e o
que são fluxos de caixa operacionais. Este tipo de mapas permite alguma flexibilidade
de apresentação, respeitando-se no entanto algumas “regras” de lógica financeira na
construção do mesmo.
Comecemos então pela planificação dos dados do exemplo acima enunciado.
Serão considerados quatro anos de atividade, isto é, a vida útil estimada deste projeto
é de 4 anos:
Rubricas X0 X1 X2 X3 X4
103
Este método permite-nos poupar tempo no apuramento do resultado operacional,
dado que o nosso objetivo é perceber qual o montante do benefício fiscal que resultou
do facto de a empresa ter adquirido ativos depreciáveis para o seu investimento.
Nota: Apesar de ativos fixos serem depreciados ao longo do tempo de acordo com a
sua natureza, o que se pretende é homogeneizar a depreciação desses ativos no
tempo de forma a apurar o potencial benefício fiscal daí resultante. Relembro que a
depreciação não tem de corresponder de forma “cega” à depreciação contabilística,
pretende-se saber de forma aproximada o valor desse benefício fiscal. Esse benefício
fiscal corresponde a um fluxo de caixa de não irá sair da empresa sob forma de
imposto. Como as depreciações são um custo fiscalmente aceite e não correspondem
a uma saída de caixa, assim a empresa pagará menos imposto. Essa parte do imposto
que não paga é um fluxo de caixa que fica na empresa.
Rubricas X0 X1 X2 X3 X4
Investimento Inicial 1.200.000
Depreciações (Poupança Fiscal) 90.000 90.000 90.000 90.000
Este projeto será descontinuado ao fim de quatro anos e a empresa prevê um valor
residual de 300.000€.
O valor residual pode constituir uma mais-valia ou menos-valia, dependendo da
diferença entre este e o valor contabilístico.
Se o tratamento das depreciações tivesse sido efetuado pelo método indireto, o
'.^ee.eee
valor do ativo a depreciar em cada ano é de:¢5JK5O8;çõ5= = _
= 300.000
104
No final do investimento o valor contabilístico do ativo é zero mas o seu valor de
mercado estimado é de 300.000.
Posto isto, as mais ou menos valias fiscais são apuradas da seguinte forma:
Mais ou menos valia = valor residual – valor contabilístico
Neste caso, +/-valia =300.000 – 0 = 300.000, logo estamos perante uma mais-valia
o que implica que este valor está sujeito ao pagamento de imposto. É necessário
calcular o valor residual líquido de impostos:
Valor residual líquido de impostos = Valor residual X (1-taxa de imposto20) =
300.000 X (1-30%) = 210.000.
Vamos incluir esse valor no mapa de fluxos de caixa (no último ano do
investimento):
Rubricas X0 X1 X2 X3 X4
Investimento Inicial 1.200.000
Depreciações (Poupança Fiscal) 90.000 90.000 90.000 90.000
Valor residual 210.000
De seguida verificamos que este projeto irá implicar um custo de oportunidade que
a empresa suportará rejeitando a possibilidade de arrendar a loja que já tinha
adquirido. Este tipo de custos deverão ser incluídos líquidos de impostos, logo:
I>=?@ 75 ;KK567;C56?@ :íH>87@ 75 8CJ@=?@= = 10.000 × &1 − 30%, = 7.000
Rubricas X0 X1 X2 X3 X4
Investimento Inicial 1.200.000
Depreciações (Poupança Fiscal) 90.000 90.000 90.000 90.000
Valor residual 210.000
Custo de oportunidade de Investimento 7.000 7.000 7.000 7.000
20
Estamos a partir do pressuposto que a taxa de imposto prevista no enunciada se aplica a todas as
operações da empresa.
105
X4 = 500.000X(1+2,5%)3 =538.445
Custo das vendas
i) Custos variáveis: variam em função da produção
X1 = 250.000
X2 = 250.000X(1+1,5%)=253.750
X3 = 250.000X(1+1,5%)2 =257.556
X4 = 150.000X(1+1,5%)3 =261.420
Custos fixos: não variam em função da produção
Os custos fixos previsionais para os próximos 4 anos são no valor de 35.000€.
Rubricas X0 X1 X2 X3 X4
Fluxo de caixa operacional
Vendas 500.000 512.500 525.313 538.445
Custos das vendas
Custos variáveis 250.000 253.750 257.556 261.420
Custos fixos 35.000 35.000 35.000 35.000
Resultado operacional 215.000 223.750 232.756 242.026
Imposto 64.500 67.125 69.827 72.608
Resultado líquido 150.500 156.625 162.929 169.418
Investimento em fundo de maneio
Cálculo da variação anual em fundo de maneio, para isso temos que apurar o valor
nominal do investimento em fundo de maneio
X0 = 10.550
X1 = 10.550 X(1+2,0%)=10.761
X2 = 10.550X(1+2,0%)2 =10.976
X3 = 10.550X(1+2,0%)3 =11.196
A variação é obtida da seguinte forma:
X1 = - X1 + X0 = -10.761 + 10.550 = -211
X2 = - X2 + X1 = -10.976 + 10.761 = -215
X3 = - X3 + X2 = -11.196 + 10.976 = -220
106
Free cash flow (fluxo de caixa liberto)
107
A inflação está implícita na generalidade dos preços nominais dos ativos, o que
influencia também taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), taxas de juro,
etc. Os preços correntes são lidos na sua forma nominal. Quanto maiores as taxas de
inflação esperadas e experienciadas mais importante se torna “descontar” esse
impacto nos preços e verificar qual o verdadeiro poder aquisitivo do dinheiro. Aos
valores deflacionados chamam-se valores reais ou preços constantes. Existem
algumas variáveis que é necessário sabermos à partida qual o valor real, como por
exemplo, o crescimento do PIB de determinado país ou o salário de um trabalhador.
Exemplo 1: um trabalhador maquinista da CP aufere o salário mensal de 1.000€ e
no início do ano 2004 foi aumentado em 2%, passando a auferir 1.020€/mês. A taxa
de inflação prevista para 2004 é de 3%. Se a taxa de inflação se confirmar este
trabalhador consegue manter o poder de compra do ano anterior? Não, porque o seu
salário aumentou em termos nominais mas diminuiu em termos reais.
- O processo de crescimento nominal: 1.000 × &1 + 2%, = 1.020
- O processo de conversão do preço nominal em real:
1.020
≅ 990,29
&1 + 3%,
Exemplo 2: suponha que a taxa de juro anual nominal (TAN) que remunera um
depósito a prazo é de 12%/ano. Se investir hoje 2.000€ obtém 2.240€ dentro de um
ano (2.240=2.000X(1+12%)). Contudo, na taxa de juro está implícita a taxa de inflação
ocorrida nesse ano. Assumindo uma taxa de inflação de 5%/ano, qual a taxa de juro
real que remunerou o seu depósito?
Para resolver esta questão temos que recorrer à equação de Fisher, que
estabelece relações entre taxas de juros nominais, taxas de juro reais e taxa de
inflação:
&\;Z; 75 ¤>K@ 6@C86;:, = &1 + ?;Z; 75 ¤>K@ K5;:, × &1 + ?;Z; 75 86¥:;çã@, − 1
Retomando o exemplo anterior, podemos agora calcular a taxa de juro real que
remunerou o depósito.
&1 + 12%,
?;Z; 75 ¤>K@ K5;: = − 1 ≅ 6,67%
&1 + 5%,
108
Quando pretendemos determinar um valor real podemos fazê-lo de duas formas:
Ou
2.240
M;:@K K5;: = ≅ 2.133
&1 + 5%,
Rubricas X0 X1 X2
Investimento Inicial 170.000
Depreciações (Poupança Fiscal) 28.900 28.900
Fluxo de caixa operacional
Vendas 375.000 385.000
Custos das vendas 50.000 55.000
Resultado operacional 325.000 330.000
Imposto 110.500 112.200
Resultado líquido 214.500 217.800
Free cash flow 170.000 243.400 246.700
243.400 246.700
ML] = −170.000 + + = 255.157
&1 + 10%, &1 + 10%,^
109
1.º Processo
Depreciações:
28.900
¦1 = = 27.923
&1 + 3,5%,
28.900
¦2 = = 26.978
&1 + 3,5%,^
Vendas:
375.000
¦1 = = 362.319
&1 + 3,5%,
385.000
¦2 = = 359.402
&1 + 3,5%,^
Custo das vendas:
50.000
¦1 = = 48.309
&1 + 3,5%,
55.000
¦2 = = 51.343
&1 + 3,5%,^
2.º Processo
Fluxos de caixa libertos:
243.400 246.700
¦1 = = 235.169 ¦2 = = 230.297
&1 + 3,5%, &1 + 3,5%,^
Fluxos de caixa em termos reais:
Rubricas X0 X1 X2
Investimento Inicial 170.000
Depreciações (Poupança Fiscal) 27.923 26.978
Fluxo de caixa operacional
Vendas 362.319 359.402
Custos das vendas 48.309 51.343
Resultado operacional 314.010 308.059
Imposto 106.763 104.740
Resultado líquido 207.246 203.319
Free cash flow 170.000 235.170 230.297
110
&1 + 10%,
\;Z; 75 75=O@6?@ K5;: = − 1 ≅ 6,28%
&1 + 3,5%,
235.170 230.297
ML] = −170.000 + + = 255.157
&1 + 6,28%, &1 + 6,28%,^
5.5 Projetos com vidas diferentes: o método do custo anual equivalente (CAE)
Como já anteriormente referido, um projeto de investimento pode ser a aquisição de
um qualquer ativo que gere inflows e outflows. Mas os critérios e regras de seleção de
projetos também se podem estender à aquisição de outros ativos. Normalmente,
quando uma empresa pretende adquirir um ativo específico, como por exemplo uma
máquina de ar condicionado, procura informação sobre os preços de mercados para
modelos de máquinas que possam preencher os requisitos. O processo de seleção da
máquina a adquirir consiste em analisar, numa primeira fase, vários orçamentos.
Máquina X0 X1 X2 X3 X4 X5 X6
A 10.000 150 150 150 150 150 150
B 5.000 575 575 575
111
575 575 575
ML]2 = 5000 + + + = 6.381
&1 + 12%, &1 + 12%,^ &1 + 12%,b
1 1
Ll = Q1 − Y
K &1 + K,)
1 1
Ll = Q1 − Y = 4,1114
12% &1 + 12%,f
1 1
Ll2 = Q1 − Y = 2,4018
12% &1 + 12%,b
I 1
ML = Q1 − Y
K &1 + K,)
ML] = I × Ll
Máquina A Máquina B
VAL = C × AF VAL = C × AF
10.617 = C × 4,1114 6.381 = C × 2,4018
C = 2.582 C = 2.657
Tear X0 X1 X2 X3 X4 X5 X6
A 10.000 150 150 150 150 150 150
B 5.000 575 575 575
Compra de nova máquina B 5000 575 575 575
112
150 150 150 150 150
ML] = 10.000 + + + + +
&1 + 12%, &1 + 12%,^ &1 + 12%,b &1 + 12%,_ &1 + 12%,d
150
+ = 10.617
&1 + 12%,f
6. Risco e rendibilidade
113
Tradicionalmente, o risco é visto como negativo, sendo a sua definição no
dicionário: “possibilidade de um acontecimento futuro e incerto; perigo”. Os símbolos
chineses que definem risco têm uma descrição muito mais adequada:
− ∑r
t =1
it
• Média aritmética r i =
n
1/n
_
n
• Média geométrica r ig = ∏ ( 1 + rit ) −1
t =1
n
• Valor esperado E (ri ) = ∑r
t =1
i pi
114
6.1.2 Como medir o risco?
O risco pode ser medido como o desvio face à média da rendibilidade através do
desvio padrão. Mas para calcular o desvio padrão necessitamos de estimar numa
primeira fase a variância. Neste caso estamos a calcular o desvio padrão com dados
históricos (passados).
_ 2
n
∑ (rit - ri )
• Variância σ i2 = t=1
n -1
2
• Desvio padrão σ i = σ i
n 2
• Variância σ i2 = ∑ [r
t =1
it − E (ri )] pi
2
• Desvio padrão σ i = σ i
115
O desvio padrão (σi) mede o risco total de um só ativo financeiro. Quanto maior for
σi, menor será a probabilidade que a taxa de rendibilidade efetiva se aproxime da taxa
desejada.
Mas como medir o risco de uma carteira de ativos financeiros constituída por dois
ativos? Resposta: Covariância!
Também neste caso podemos calcular a covariância baseada em dados históricos:
n
_
_
∑ r it − r i r jt − r j
• Covariância (ex-post) σ ij = t =1
n- 1
116
Gráfico 7 – Análise de correlação positiva
117
Como já foi referido, o risco define-se como a incerteza, a volatilidade implícita
no retorno do investimento, isto é, o facto de à priori desconhecermos o valor do
retorno.
Teoricamente, o risco total divide-se em dois tipos de risco:
Risco sistemático ou de mercado (ou não diversificável), está relacionado com
a evolução dos ciclos económicos (ou de negócios) e que afeta o
desempenho de todas as empresas em geral, embora umas possam estar
mais expostas a esse risco e ser mais afetadas do que outras. Por exemplo: o
aumento das taxas de juros, aumento de impostos, etc.
Risco não sistemático ou específico (ou diversificável), está associado
particularmente a uma empresa e à sua relação com os seus clientes,
fornecedores, etc.. Por exemplo: o lançamento das lentes de contacto
descartáveis afetou o mercado das lentes de contacto, entre outras situações.
21
Nas ciências económico-financeiras esta expressão em latim é vulgarmente usada e define-se como
mantendo-se tudo o resto constante.
119
irá custar 1.600.000€. A produção irá ocorrer durante os próximos quatro anos. Taxa
de desconto assumida de 10% e taxa de imposto de 34%.
Vendas
No caso de o produto se revelar um sucesso, as estimativas de mercado para as
vendas são as seguintes:
1. Dimensão de mercado – quantidade produzida por todo o setor da indústria
farmacêutica, neste caso a produção total esperada é de 2.333.333 milhões de
caixas de medicamentos similares;
2. Quota de mercado – percentagem do mercado alocada à empresa é de 30%;
3. Preço unitário – o preço depende dos preços dos produtos similares existentes
no mercado, que neste caso específico é de 10.
Vendas = Dimensão de mercado X quota de mercado X preço unitário
7.000.000 = 2.333.333,33 X 30% X 10
Custos
Os custos totais são normalmente constituídos por:
a) Custos variáveis, variam conforme as unidades produzidas e vendidas. São
exemplos de custos variáveis as matérias-primas, matérias-subsidiárias e
mão-de-obra direta;
b) Custos fixos, que são considerados fixos porque não variam com a
quantidade produzida, mas podem alterar-se devido a outros fatores. As
rendas dos contadores da luz e da água e os salários dos trabalhadores
administrativos são exemplos de custos fixos que não variam com a
produção mas que se alteram devido a fatores externos, tais como a
inflação que implica um aumento generalizado dos preços nominais dos
bens.
Partimos do cenário base que corresponde ao cenário com maior probabilidade de
ocorrência. As projeções para este cenário são as seguintes:
Rubricas X0 X1 X2 X3 X4 X5
Investimento inicial 1.600.000
Depreciações 136.000 136.000 136.000 136.000
Vendas 7.000.000 7.000.000 7.000.000 7.000.000
custo variáveis 3.000.000 3.000.000 3.000.000 3.000.000
Custos fixos 1.800.000 1.800.000 1.800.000 1.800.000
Resultado operacional 2.200.000 2.200.000 2.200.000 2.200.000
Impostos (34%) 748.000 748.000 748.000 748.000
Resultado líquido 1.452.000 1.452.000 1.452.000 1.452.000
Cash Flow 1.600.000 1.588.000 1.588.000 1.588.000 1.588.000
120
O ano X0 corresponde ao ano de investigação e desenvolvimento.
O valor estimado do VAL é de:
1.588.000 1.588.000 1.588.000 1.588.000
VALr =10% = −1.600.000 + + + + = 3.433.746
(1 + 10%) (1 + 10%) 2 (1 + 10%)3 (1 + 10%) 4
Para efetuarmos uma análise de sensibilidade vamos verificar qual o impacto no
VAL provocado por uma descida de 14,29% nas vendas.
Vendas = 7.000.000 × (1 − 14,29%) ≅ 6.000.000
121
nunca chegará a concretizar-se porque a empresa já decidiu que nesse caso não irá
avançar para a fase de produção.
A análise de cenários acima descrita é de natureza probabilística, isto é, a cada
cenário previsto é atribuída uma probabilidade de ocorrência. Esta abordagem nasecu
da necessidade de contrair a análise de cenários clássica baseada em previsões para
3 cenários diferentes: cenário pessimista, cenário realista e cenário otimista. A
probabilidade de acontecimento destes cenários é normalizada e distribui-se da
seguinte forma: uma probabilidade de 25% associada ao cenário pessimista, uma
probabilidade de 50% associada ao cenário realista e uma probabilidade de 25%
associada ao cenário otimista. Este tipo de análise de cenários é descrita como sendo
não probabilística.
Aplicando este tipo de análise não probabilística ao caso analisado, obteríamos
os seguintes resultados:
CENÁRIOS
Variável Pessimista Esperado Otimista
Probabilidade de acontecimento 25% 50% 25%
Dimensão do mercado 1.000.000 2.333.333 4.000.000
Quota de mercado 20% 30% 50%
Quantidade 200.000 700.000 2.000.000
Preço/unidade 9 10 11
Total vendas 1.800.000 7.000.000 22.000.000
Custos variáveis/unidade 5 4,29 3
Custos variáveis 1.028.571 3.000.000 6.857.143
Custos fixos 1.900.503 1.800.000 1.749.749
Investimento 1.900.000 1.600.000 1.100.000
Val 3.750.215 3.433.746 27.216.254
Mas a gestão da Stewart Pharmaceuticals optou por realizar uma análise com
distribuições de probabilidade de acontecimentos e cenários probabilística: há
somente 2 cenários – sucesso e insucesso. A distribuição de probabilidades dos
acontecimentos é a seguinte: 60% de probabilidade de sucesso e 40% de
122
probabilidade de insucesso. Apesar do VAL no cenário II apresentar um valor
negativo, esse valor não entrará no cálculo do payoff final porque a gestão desta
empresa já decidiu que se os testes de marketing (a realizar no momento em que o
produto se encontrar desenvolvido) revelarem a previsão do produto ser um
insucesso, a empresa não prosseguirá com o investimento, e o VAL nesse caso será 0
porque não existirá projeto.
O payoff neste caso concreto será:
J;@¥¥ = &60% × 3.433.746 + 40% × 0, =2.060.248
Podemos concluir que a fórmula analítica para dedução de qualquer payoff
associado a diferentes cenários para o mesmo projeto de investimento será:
J;@¥¥ = &PK@9;98:87;75 =>O5==@ × ML] + PK@9;98:87;75 86=>O5==@ × VAL,
123
22
6.2.2 Análise de pontos críticos
Esta técnica procura a determinação do nível mínimo/máximo das variáveis do
projeto de investimento críticas que proporcionam a sua viabilidade (analisados
individualmente). O objetivo é encontrar o valor destas variáveis para o qual o VAL é
zero. Exemplos deste tipo de variáveis são as vendas, custos e investimento. Vamos
focar a nossa abordagem no cálculo do ponto crítico das vendas.
Esta é uma análise complementar às anteriores, tendo por objetivo determinar um
volume de vendas abaixo do qual a empresa não deverá operar, isto porque O ponto
crítico significa o ponto de partida ou ponto em que a empresa começa a gerar lucro.
Esse volume de vendas é designado por ponto crítico das vendas e corresponde ao
ponto em que as vendas igualam os custos.
Podemos distinguir três indicadores de ponto crítico:
1. Ponto crítico contabilístico
2. Ponto crítico de fluxos de caixa
3. Ponto crítico financeiro
Ponto crítico contabilístico
O objetivo é alcançarmos um valor indicativo das vendas que determine que o
resultado operacional seja igual a zero.
Analisemos a seguinte demonstração de resultados previsional:
Rubricas X1
Vendas
Quantidade 600
Preço unitário (Pu) 10
Total de vendas 6.000
Gastos
Custos variáveis
Quantidade 600
Custo variável unitário (Cu) 5
Total custos variáveis 3000
22
O termo que iremos utilizar doravante para designar ponto crítico é o termo anglo-saxónico break even.
124
Pela análise do resultado líquido deduz-se que o atual volume de vendas desta
empresa supera os custos. A empresa gerou resultados positivos. O objetivo da
gestão deverá passar por conhecer o valor do volume de vendas necessário para
“cobrir” os custos e o ponto crítico (de break-even) em que a empresa começa a gerar
“lucros”.
Poderemos obter esse ponto crítico das vendas de duas formas distintas:
Em quantidade – determinando a quantidade a produzir necessária para atingir o
ponto crítico:
I>=?@= ¥8Z@= + 75JK5O8;çõ5=
[K5; − 5B56 5C H>;6?87;75 =
&P> − I>,
Pu é o preço unitário das unidades vendidas e Cu é o custo unitário das unidades
produzidas.
Nota: Nas demonstrações de resultados convencionais o valor das depreciações
estão incluídas nos custos fixos. Sempre que tal não aconteça existe a necessidade
de somar as depreciações aos custos fixos.
Calculado o ponto crítico das vendas em quantidade, passemos agora ao cálculo
do ponto crítico das vendas em valor. Existem nesta secção duas fórmulas que se
poderão aplicar:
1. Fórmula adotada:
I>=?@= ¥8Z@= + 75JK5O8;çõ5=
[K5; − 5B56 5C B;:@K =
M567;= − O>=?@= B;K8áB58=
= KáO8@ × B567;= 868O8;8=
O resultado da aplicação desta fórmula é um rácio que será necessário multiplicar
pelo valor inicial das vendas e assim obter o ponto crítico.
2. Fórmula contabilística
I>=?@= ¥8Z@= + 75JK5O8;çõ5=
[K5; − 5B56 5C B;:@K =
§;KN5C 9K>?; ∗
M567;=
125
Recalculando a demonstração de resultados inicial em função deste novo valor (e
quantidade) de vendas, verificamos que…
Rubricas X1
Vendas
Quantidade 600 418,2
Preço unitário (Pu) 10 10
Total de vendas 6.000 4.182
Gastos
Custos variáveis
Quantidade 600 418,2
Custo variável unitário (Cu) 5 5
Total custos variáveis 3000 2.091
126
Rubricas X0 X1 X2 X3 X4 X5
Investimento inicial 1500
Vendas
Quantidade 600 600 600 600 600
Preço unitário (Pu) 10 10 10 10 10
Total de vendas 6.000 6.000 6.000 6.000 6.000
Custos
Custos variáveis
Quantidade 600 600 600 600 600
Custo variável unitário (Cu) 5 5 5 5 5
Total custos variáveis 3000 3000 3000 3000 3000
Custos fixos 1791 1791 1791 1791 1791
Depreciações 300 300 300 300 300
Resultado operacional 909 909 909 909 909
Impostos 309 309 309 309 309
Resultado Líquido 600 600 600 600 600
Depreciações 300 300 300 300 300
Free cash flow 1500 900 900 900 900 900
Para tal, é necessário percorrermos dois passos: determinar o valor dos fluxos de
caixa anuais equivalentes e determinar o volume de vendas que corresponda ao ponto
de break-even financeiro, em que VAL=0.
127
A6B5=?8C56?@ 868O8;: 1.500
lILR = = = 447,5
1 1 1 1
× − × Q1 −
K Q1 &1 + K,) Y 15% &1 + 15%,d
Y
Este é o valor do fluxo de caixa (447,5) que necessitamos de obter para que o
VAL=0.
Este 2.º passo é possível calcular somente após a determinação do fluxo de caixa
equivalente. A fórmula para o cálculo do volume de vendas que determine que VAL=0,
é a seguinte:
No ponto em que vendas são iguais a 4.629, o VAL será igual a zero. Nota: Na
projeção de fluxos de caixa as depreciações foram tratadas pelo método indireto, isso
implica que na fórmula acima o valor das depreciações multiplique pela taxa de
imposto para se averiguar o benefício fiscal das depreciações. Quando se projetam
fluxos de caixa e se opta pelo tratamento direto das depreciações não é necessário
(na fórmula do break-even) multiplicar pela taxa de imposto. Verifiquemos agora se o
valor crítico de 4.629 das vendas corresponde a valor do VAL=0.
128
Rubricas X0 X1 X2 X3 X4 X5
Investimento inicial 1.500
Vendas
Quantidade 462,9 462,9 462,9 462,9 462,9
Preço unitário (Pu) 10 10 10 10 10
Total de vendas 4.629 4.629 4.629 4.629 4.629
Gastos
Custos variáveis
Quantidade 462,9 462,9 462,9 462,9 462,9
Custo variável unitário (Cu) 5 5 5 5 5
Total custos variáveis 2314,5 2314,5 2314,5 2314,5 2314,5
Custos fixos 1791 1791 1791 1791 1791
Depreciações 300 300 300 300 300
Resultado operacional 224 224 224 224 224
Impostos 76 76 76 76 76
Resultado Líquido 147,5 147,5 147,5 147,5 147,5
Depreciações 300 300 300 300 300
Free cash flow 1500 447,5 447,5 447,5 447,5 447,5
129
b) construção do modelo de simulação: inclui o desenvolvimento de fórmulas e
equações apropriadas;
c) verificação e validação do modelo: verificar se o modelo está livre de erros de
lógica;
d) esta etapa envolve a determinação de questões a serem respondidas pelo
modelo com o intuito de auxiliar o gestor a alcançar o seu objetivo;
e) realização das experiências e análise dos resultados.
130
Um projeto de investimento com uma opção real incorporada tem sempre mais
valor do que sem a opção. A opção traduz flexibilidade que é uma característica muito
importante quando a empresa é confrontada com determinados cenários.
Tipos e exemplos de opções reais:
a) opção de expansão quando a procura supera a oferta estimada, isto é, se
essa opção for incorporada à priori no projeto o seu valor aumenta
significativamente;
b) opção de abandono se a evolução económico-financeira do projeto não
acompanhar as previsões pode estar implícita uma opção de abandono
devido ao facto de se incluir um valor de mercado (valor residual) pelo qual
se pode vender o projeto;
c) opção de diferimento, pode ser viável aguardar que os custos de produção
diminuam (se for essa a expectativa de evolução do mercado) e iniciar o
projeto mais tarde. Os custos mais baixos implicam projeto com maior VAL.
131
ano, se for um sucesso VA=575.000€ e se for um insucesso VA=0€. Determine o
valor do projeto com a opção de abandono.
As decisões associadas a este projeto são duas: investir ou não investir. Investir
tem um custo de 300.000€ e dois acontecimentos associados: 50% de probabilidade
de ser um sucesso o que se traduz num valor atual de 575.000€ e 50% de
probabilidade de ser um insucesso e duas possibilidades de ocorrência associadas; no
acontecimento de ser um insucesso o VA será igual a zero ou incorporar no projeto um
valor de mercado (valor residual) para vender o investimento inicial (a sonda de
perfuração). Este projeto tem uma opção real incorporada: a opção de abandono do
projeto (venda) caso se revele um insucesso.
Esta sequência está representada na árvore de decisão abaixo representada:
Como estamos perante dois cenários, o valor final do VAL irá depender da média
ponderada. Numa 1.ª fase vamos considerar o projeto sem o valor da opção.
J;@¥¥ = &JK@9;98:87;75 =>O5==@ × ML + JK@9;98:87;75 86=>O5==@ × ML,
J;@¥¥ = &50% × 575.000 + 50% × 0, = 287.500
Este payoff esperado é calculado para X1. Agora calculemos o VAL em X0:
287.500
ML] = −300.000 + = −38.636,36
&1 + 10%,
Sem incorporação do valor da opção real este projeto seria rejeitado pois não
preenche a condição de aceitação imposta pelo critério do VAL.
De seguida analisemos este projeto com a opção de abandono incorporada, que é
o valor residual de 250.000€.
J;@¥¥ = &JK@9;98:87;75 =>O5==@ × ML + JK@9;98:87;75 86=>O5==@ × ML,
J;@¥¥ = &50% × 575.000 + 50% × 250.000, = 412.500
132
Como o VAL é calculado separadamente do projeto, o seu valor é de -38.636,36.
Mas para determinarmos o valor de mercado do projeto necessitamos de incorporar
o valor da opção. Não é do âmbito desta unidade curricular os métodos de cálculo de
opções reais, logo uma forma simples de proceder a esse cálculo será a seguinte:
412.500
ML] &O@C B;:@K @Jçã@ 86O@KJ@K;7@, = −300.000 + = 75.000
&1 + 10%,
Este será o valor de mercado do projeto (porque incorpora o valor da opção).
Pela seguinte igualdade: valor de mercado=VAL + valor da opção, podemos estimar
um valor aproximado da opção.
75.000 = −38.636,36 + B;:@K 7; @Jçã@
Resolvendo a equação em função do valor da opção:
B;:@K 7; @Jçã@ = 75.000 − &−38.636,36, = 113.636,36
Este exemplo pretende realçar que incorporar uma opção real num projeto aumenta
o valor de mercado desse projeto.
133
pagamento da dívida é um custo fiscalmente aceite, deste modo a empresa pagará
menos imposto ao Estado.
Pela análise do balanço observamos que o valor do ativo é igual ao valor do capital
próprio mais o valor do passivo. Logo, de forma intuitiva poderemos afirmar que o
valor da empresa é igual ao valor do capital próprio mais o valor do passivo (dívida).
134
Normalmente, em cada setor de atividade existe uma estrutura de capital de
referência.
Vejamos um exemplo: O senhor A deseja investir numa empresa de calçado e quer
saber se irá financiar o seu negócio só com capital próprio ou recorrer a
endividamento. Sabe que estrutura de capitais de referência para as empresas do seu
setor é 30% de capital próprio e 70% de dívida, logo o senhor A opta por estruturar o
capital da sua empresa da mesma forma.
O indicador de estrutura de capitais mais usual é o rácio debt-to-equity (capitais
alheios/capitais próprios).
A dívida tem um impacto positivo no valor da empresa mas só até um certo ponto.
A partir de determinado ponto, quanto mais dívida a empresa tiver maior será o receio
dos credores em emprestarem mais fundos (e nesse caso cobrarão juros mais altos),
logo a empresa irá pagar mais para obter financiamento.
23
Traders autorizados a participar em mercado primário.
24
Em Portugal: Millenium investment bank, Banco de investimento global (BIG), Banif Investment bank,
Caixa Banco de Investimento, etc.
135
será o valor escriturado na contabilidade como capital próprio. Essa emissão pode ser
vendida ao subscritor ao par, abaixo do par ou acima do par.
• A emissão é vendida ao par quando o valor da venda é igual ao valor da
emissão;
• A emissão é vendida abaixo do par quando o valor da venda é inferior ao
valor da emissão. Neste caso foi gerado um desconto;
• A emissão é vendida acima do par quando o valor da venda é superior ao
valor da emissão. Neste caso foi gerado um prémio.
25
Em Portugal, estes direitos estão clausulados no Código das Sociedades Comerciais.
137
de ações: um tipo de ações para os investidores comuns e outro tipo de ações para a
gestão da empresa. As ações da gestão conferem mais votos que as ações normais
(por exemplo, cada ação confere direito a 10 votos).
Ações preferenciais
As empresas podem emitir ações ordinárias e ações preferenciais. Estas últimas
têm todas as características de capital próprio. A empresa não tem obrigação de pagar
dividendos, mas quando o faz deve efetuar em primeiro lugar o pagamento de
dividendos aos acionistas preferenciais. Se a empresa seguir uma política de
pagamento de dividendos com regularidade e no caso de não pagar num determinado
ano, este dividendo acumula para o ano seguinte (só para os detentores deste tipo de
ações26). Em contrapartida, estes acionistas não detêm direito de voto.
Apesar dos acionistas preferenciais terem direitos residuais sobre a propriedade da
empresa, em caso de insolvência estes têm preferência face aos acionistas ordinários.
Alguns autores defendem que a emissão de ações preferenciais é dívida
disfarçada. Não é dívida porque não gera encargos fiscalmente dedutíveis. É uma
espécie de ativos que agrada a uma determinada “clientela”, isto é, a um determinado
tipo de acionistas.
26
Em caso de não pagamento de dividendos durante 3 exercícios seguidos, estas ações preferenciais
são convertidas em ações ordinárias. Consultar o Código das Sociedades Comerciais.
138
7.1.2 Financiamento por capitais alheios
Emissão de obrigações
Além de capital próprio, as empresas cotadas podem emitir dívida: obrigações.
Quem adquirir estas obrigações passa a ter o papel de credor da empresa.
• Pagamento de juros
Os obrigacionistas não detêm a propriedade da empresa nem o direito de voto,
mas detêm direitos contratuais que resultam no pagamento por parte da empresa de
juros mais o reembolso do valor emprestado inicialmente.
O pagamento de encargos financeiros por parte da empresa resulta numa dedução
do imposto a pagar, num benefício fiscal.
• Instrumentos híbridos
São ativos financeiros que têm características de capital próprio e de dívida. Num
dado momento a empresa pode optar por emitir obrigações porque o custo da dívida é
inferior ao custo de capital próprio. Além disso, a emissão de dívida gera benefícios
fiscais, o que para a empresa pode ser um aspeto importante a ter em conta. Mas
como o endividamento só é benéfico até um determinado ponto, as emissões de
obrigações poderão ser convertíveis em ações após alguns anos da data da sua
emissão. Quando essas obrigações forem convertidas em ações, a empresa pode
emitir novamente obrigações.
139
Colaterais são ativos que servem de garantias ao contrato. Em caso de
incumprimento por parte da empresa, o obrigacionista aciona estas garantias para ser
ressarcido.
Fundo de garantia, algumas empresas (principalmente, no Mercado dos EUA)
constituem um fundo para garantir o pagamento aos seus obrigacionistas.
Opções, no caso das obrigações convertíveis em ações. Um contrato de opção
confere um direito a quem o compra mediante o pagamento de um prémio. O
comprador da opção pode comprar um contrato de compra (call option) ou um contrato
de venda (put option). Neste caso, o obrigacionista exerce o seu direito de opção ao
converter a obrigação numa ação (pode exercer este direito até à data da maturidade
da opção).
Cláusulas, como em qualquer contrato comercial, um contrato obrigacionista
tem várias cláusulas anexas, entre as mais usuais: limitar o acesso à emissão de nova
dívida, restringir o valor de dividendos a ser distribuído no futuro ou definir um nível
mínimo de fundo de maneio ou liquidez.
Notação de crédito, designado com frequência como notação de rating, é a
análise de uma Entidade externa (Standard & Poor's, Moody`s, etc.) sobre a
capacidade demonstrada pela empresa em cumprir as suas responsabilidades
financeiras no futuro. Esta característica pode alterar-se ao longo do tempo.
Yield-to-Maturity, taxa de juro de mercado que reflecte a rendibilidade da ação
(para o obrigacionista) se esta for detida até à maturidade. Esta é a taxa de juro
implícita das obrigações. Pode ser estimada como uma taxa interna de rendibilidade.
Esta característica pode alterar-se ao longo do tempo.
140
• Obrigações de taxa fixa – a taxa de juro é fixada na data de emissão e o
pagamento do cupão é constante até à data da maturidade.
• Obrigações taxa variável ou indexada – o cupão é variável dependendo da
evolução de determinada variável de referência (p.e., taxa de juro de mercado,
índice bolsista, evolução do preço das matérias-primas, inflação, etc.).
• Obrigações de cupão zero – não pagam cupão, são geralmente vendidas a
desconto e reembolsam ao par, isto é, reembolsam pelo valor nominal. A
rendibilidade para o investidor reside na diferença entre o preço de compra (a
desconto) e o valor de reembolso (ao par).
• Obrigações de capitalização automática – o juro não é pago periodicamente, é
capitalizado e pago no momento de reembolso, isto é, quando a obrigação
atinge a sua maturidade.
• Obrigações com warrants – warrants são opções sobre um ativo subjacente
específico, as ações. Os warrants podem ser emitidos por sociedades
anónimas desde que o ativo subjacente sejam valores mobiliários próprios. O
que diferencia estas obrigações das obrigações clássicas é que têm associado
um warrant, isto é, o warrant confere o direito ao seu detentor de adquirir um
determinado número de ações da empresa a um preço pré-definido, até uma
determinada data. O warrant pode ser transacionado de forma autónoma.
• Obrigações participantes - conferem aos seus titulares o direito a uma
remuneração suplementar que é calculada como uma percentagem sobre os
resultados gerados pela empresa emitente, daí serem participantes nos lucros
da empresa.
• Obrigações convertíveis - São obrigações que podem ser convertidas num
determinado número de ações da própria empresa emitente por decisão do
obrigacionista e geralmente numa relação pré-determinada. A opção de
conversão não pode ser transacionada separadamente. Geralmente são
remuneradas a taxas de cupão mais baixas, o que constitui uma vantagem
para o emitente. A compensação para o comprador está na possibilidade de as
trocar por ações a preços com desconto. Representam uma desvantagem para
os acionistas pré-existentes devido à diluição do valor das ações por aumento
do número de títulos emitidos.
• Junk-bonds - obrigações com baixa notação de rating (ao nível de junk).
Apresentam elevado risco, mas despertam elevado desejo especulativo porque
oferecem uma rendibilidade muito mais elevada do que os títulos com elevada
notação de rating.
141
• Euro-obrigações (euro-bonds) – obrigação emitida por uma empresa de uma
determinada nacionalidade (empresa doméstica) numa moeda estrangeira.
Avaliação de obrigações
)
I 4)
[e = © +
&1 + K, &1 + K,)
ª'
Onde,
B0 = Valor atual da obrigação
T = Maturidade
Ci = Cupão gerado no momento t
K = taxa de juro implícita ou yield-to-maturity
Exemplo: Calcule o valor atual de uma obrigação cujo valor nominal é de $1,000,
tem uma maturidade de 20 anos e paga taxa de cupão de 5% de forma semestral.
Considere uma yield-to-maturity de 6%.
Resolução
Cupão: Mk × ?;Z; 75 O>Jã@ = 1,000 ×
d%
= 25.
^
_e
25 1000 25 1 1000
[e = © + = Q1 − Y+ = 884.43
&1 + 3%,_e &1 + 3%,_e 3% &1 + 3%,_e &1 + 3%,_e
ª'
142
- Suprimentos
Empréstimos cedidos por sócios ou acionistas da empresa com prazo de reembolso
superior a 1 ano que podem ser realizados em dinheiro ou noutra coisa fungível.
Podem vencer juros (não sujeitos a imposto de selo). O reembolso ocorre como
estipulado no contrato entre as partes.
Em caso de falência, os sócios/acionistas são reembolsados após o pagamento das
dívidas para com terceiros.
- Garantia mútua
Sistema de apoio vocacionado para as microempresas e pequenas e médias
empresas. Visa promover a melhoria das condições de financiamento através da
prestação de garantias financeiras que facilitem a obtenção de crédito em condições
de preço a prazos adequados, e reduzindo a prestação de garantias reais ou pessoais.
A garantia mútua é prestada por Sociedades de Garantia Mútua (SGM), e para
aderir ao sistema mutualista é necessário adquirir ações de uma SGM.
7.2 Estimação do custo de capital - Noção de custo de oportunidade do
capital
A taxa de custo de capital 27 é também considerada uma taxa de custo de
oportunidade, dado ser a taxa de rendibilidade que um investidor poderia obter num
investimento de risco semelhante. Os sócios/acionistas que são os detentores de
capital são também os investidores. As empresas passam a ser vistas na perspetiva
de ativos financeiros. A avaliação de investimentos deve ser sempre analisada na
perspetiva do risco/retorno.
27
Sinónimos: taxa de juro, taxa de atualização, taxa de custo de oportunidade, taxa de rendibilidade
exigida, etc.
143
Nessa perspetiva podemos estimar o custo de capital próprio com recurso ao
modelo de avaliação de ativos financeiros Capital Asset Pricing Model (CAPM).
Ri = R F + βi ( Rm − RF )
28
Exemplo: Na avaliação de um investimento a 10 anos deve-se utilizar obrigações do Tesouro a 10
anos.
29
Dada a definição conceptual de ativo sem risco, proxy é o substituto natural que mais se aproxima
dessa definição. É um valor de referência.
144
não está sempre disponível, existem prazos definidos para liquidação de depósitos
(“resgates” antecipados sofrem, normalmente, penalização por liquidação antecipada).
Exemplo: Estimar o custo de capital próprio. Considere que a taxa isenta de risco
é de 5%. O risco sistemático estimado Beta=2,5 e o prémio de risco é de 10%.
Re = RF + βi ( RM − RF )
Re = 5% + 2.5 × 10%
Re = 30%
145
A Linha de alocação de capitais é a linha que representa a relação
risco/rendibilidade de uma carteira30 de ativos.
1. O valor do Beta pode variar ao longo do tempo e é difícil saber qual o beta a
utilizar. Solução: a média? A média do setor?
2. Nas empresas cotadas, com vasta informação é fácil estimar o beta. Mas nas
empresas não cotadas ou por quotas a amostra de rendibilidades pode ser insuficiente
para estimar o Beta, porque no lugar das rendibilidades das ações usam-se resultados
líquidos. Esse problema estende-se a empresas recentes com poucos resultados
disponíveis.
30
O termo carteira é, por norma, substituído pelo termo anglo-saxónico portfolio.
31
Benchmark, neste contexto, funciona como uma medida de comparação de desempenho.
32
PSI20 – Portuguese Stock Index, composto pelas 20 empresas portuguesas com maior capitalização
bolsista.
146
etc.). Exemplo disso são as empresas só financiadas com recurso a capital próprio e
que contraem empréstimos para financiarem investimentos.
Determinantes do beta
O beta da empresa é determinado pelas características de cada empresa. As
mais relevantes são:
Rendibilidades Cíclicas
Alavancagem operacional versus alavancagem financeira
Risco do negócio versus Risco financeiro
147
Rendibilidades Cíclicas
Empresas que apresentem este tipo de rendibilidades estão altamente
correlacionadas com o ciclo económico. Há evidência empírica que sugere que o setor
do retalho, da alta tecnologia e automóvel são mais sensíveis às flutuações dos
diferentes ciclos económicos. Logo, ativos financeiros com rendibilidades Cíclicas têm
Betas mais elevados dada a sua maior sensibilidade à variação do mercado.
Os setores do transporte, utilities (luz, água, gás, …), alimentação e construção
de estradas são menos afetados pelas variações do ciclo económico, os seus fluxos
de caixa são mais estáveis logo o seu Beta também é menor.
Por outro lado, rendibilidades Cíclicas não são sinónimo de sazonalidade nem de
volatilidade dos fluxos de caixa. Vejamos o exemplo apontado nas aulas: estúdios
cinematográficos, os seus cash flows dependem mais do sucesso do filme (hits ou
flops) do que do ciclo económico. Não existe um grau de correlação elevado.
148
verdade. Exemplo: se GAO for 3 (e a estrutura de custos não se alterar) uma variação
de 8% nas vendas significa uma variação de 24% nos resultados operacionais.
«.¬
«
=
&1 + ¢⁄R × &1 − \ ,
149
O negócio desta empresa está dividido em 3 divisões de igual dimensão:
Comércio de viaturas; beta = 2.0
Fabricação de disco duro (p/ PC): beta = 1.3
Distribuição de eletricidade; beta = 0.6
O Beta médio é de 1.3, mas será este o valor de Beta a utilizar na avaliação do
novo projeto de investimento? Não. Deve ser o valor de Beta adequado ao risco do
negócio de distribuição de energia. Sendo assim, o custo do capital próprio será
alterado.
Re = 4% + 0.6 × 10% =10%
O custo da Dívida
O custo da dívida é determinado por uma taxa de juro de referência (ex. Euribor)
mais um spread, definido com um prémio de risco adequado a cada cliente. O risco de
um cliente que sempre respeitou os seus compromissos e que detém alguns ativos em
carteira será inferior ao risco de um cliente que não cumpriu sempre atempadamente
os seus compromissos.
O modelo de estimação da taxa de custo da dívida será dado pela seguinte
expressão:
150
4 = \;Z; 75 ¤>K@ 75 K5¥5Kê6O8; + ¯JK5;7
151
8.000 = 5.000 + 3.000
5000 3000
±;OO = × 15% + × 9% × &1 − 30%, ≅ 11,74%
5000 + 3000 5000 + 3000
Wacc=11,74%.
33
O termo Wacc é a sigla de Weighted Average cost of capital. Utilizaremos sempre a sigla Wacc quando
nos referirmos ao custo médio ponderado de capital.
152
Gráfico 14 – Estrutura de capital ótima
O custo de capital alheio (Rd) aumenta à medida que o peso relativo do capital
alheio aumenta na estrutura de capital (à medida que aumenta o risco financeiro). O
custo de capital próprio (Re) aumenta à medida que aumenta o peso relativo do capital
alheio na estrutura de capital, na medida em que há mais capitais alheios a remunerar
e, consequentemente, menos resultados para remunerar o capital próprio. Este
aumento é conduzido pelo aumento do risco financeiro.
O decréscimo do custo médio ponderado do capital (WACC) verifica-se até certo
ponto – ponto X – onde o custo marginal de Re e Rd se igualam. O ponto X representa
a estrutura ótima de capital (combinação ideal de capitais próprios e alheios), onde a
WACC é mínima e o valor de mercado da empresa é máximo.
Teoria moderna da Estrutura de Capitais de Modigliani e Miller
Para Modigliani e Miller não existe uma combinação de financiamento por capitais
próprios e dívida melhor do que outra.
Os críticos da teoria de M&M argumentam que esta teoria estaria correta apenas
sob a assunção de mercados perfeitos.
A teoria de M&M deve ser analisada sob duas perspetivas:
• Economia sem impostos (o resultado obtido pela empresa não é tributado);
• Economia com impostos (o resultado das empresas é sujeito a tributação
mediante a aplicação de uma taxa de imposto sobre o rendimento).
153
Esta empresa alavancou o seu valor, isto é, aumentou o seu valor ao endividar-se. Em
suma, podemos afirmar que o principal objetivo do gestor é maximizar o valor da
empresa e como meio para atingir esse fim deve escolher a combinação de fontes de
financiamento que permitam atingir esse objetivo de forma mais eficiente. Miller &
Modigliani (doravante M&M), defendem o argumento de que num mundo sem
impostos e de concorrência perfeita (e todos os pressupostos inerentes a um mercado
perfeito 34 ) o gestor não deve ficar preocupado com a escolha das fontes de
financiamento: a estrutura de capitais não tem impacto no valor da empresa, é
irrelevante.
Exemplo: duas empresas que geram o mesmo resultado operacional e que só diferem
na sua estrutura de capitais. O valor da empresa Unlevered (não alavancada) coincide
com o valor dos capitais próprios. O valor da empresa Levered (alavancada) para os
acionistas é o valor da empresa menos o valor da sua dívida. Em qual das empresas
se corre menos risco? Na empresa Unlevered. Então o valor proporcionado por uma
empresa não alavancada é o mesmo que o valor proporcionado por uma empresa
alavancada. Caso o investidor pretenda investir numa dada empresa que não seja
alavancada, este pode replicar o nível de endividamento pretendido. Esta estratégia é
designada por Homemade Leverage.
Esta é a lógica da Proposição I de M&M: VU=VL, o valor de mercado de uma
empresa é independente da sua estrutura de capital.
Por outro lado, o recurso ao endividamento provoca um aumento na
rendibilidade do capital próprio mas também provoca um aumento no risco. Esta é a
proposição II de M&M: a alavancagem financeira aumenta a rendibilidade e o risco
para o acionista, então quanto maior o rácio de endividamento maior a rendibilidade
exigida pelo acionista.
• Se a empresa não estiver alavancada: R e = ROA
D
• Se a empresa estiver alavancada: R e = ROA + ( ROA − Rd )
E
onde R e é a taxa de custo capital próprio; ROA é taxa de rendibilidade dos
D
ativos; é o rácio debt-to-equity; Rd é a taxa de custo da dívida.
E
34
Pressupostos: inexistência de impostos; inexistência de custos de transação; mercado é eficiente;
investidores são maximizadores da sua função utilidade; expectativas homogéneas; aversão ao risco;
empresta-se e pede-se emprestado à mesma taxa, considerada sem risco;etc.
154
Gráfico 15 – Representação gráfica da proposição II de M&M (sem impostos)
Exemplo: A Divided Airlines está a pensar alterar a sua estrutura de capitais e emitir
dívida no valor de $200 milhões para recompra de ações próprias. A taxa de imposto
esperada é de 35%. Qual o impacto no valor da empresa? O valor da empresa sofre
um aumento proporcional ao valor do benefício fiscal da sua dívida: 200x35%=70.
155
Exemplo: Determinada empresa apresenta uma taxa de rendibilidade do ativo de
20%, um rácio debt-to-equity de 40%, uma taxa de custo da dívida de 10% e uma taxa
de imposto de 35%. Determinar a taxa de custo de capital próprio através da
proposição II de M&M com e sem impostos.
D
a) Sem impostos: R e = ROA + ( ROA − Rd ) = 20%+ 40%× (20%− 10%) = 24%
E
D
b) Com impostos: R e = ROA + ( ROA − Rd ) − (1 − %TC )= 20%+ 40%× (20%− 10%)
E
× (1 − 35%) = 22,6%
A teoria do trade-off
Esta teoria postula que existe um ponto ótimo de equilíbrio entre o benefício fiscal
derivado do endividamento e os custos de falência. Os benefícios fiscais da dívida
diminuem à medida que aumenta o endividamento, ao passo que os custos
insolvência aumentam com o aumento da dívida. O gráfico 17 ilustra essa situação.
156
Gráfico 17 - Representação gráfica da teoria do trade-off
A empresa tem um rácio debt-to-equity ótimo que maximiza o seu valor. Esta
função entre o valor da empresa e o endividamento é uma função quadrática que
atinge um ponto máximo a partir do qual o aumento de dívida tem um impacto
negativo no valor da empresa. Até atingir esse ponto máximo a empresa tem mais
vantagens que que desvantagens em ter dívida, a partir desse ponto o benefício em
aumentar a dívida é inferior aos custos de insolvência resultantes do excesso de
dívida.
Esta teoria defende uma estrutura de capital alvo que maximize o valor da
empresa, nem sempre consensual na literatura desta área científica.
157
sinal de que as ações estão sobreavaliadas e de que a empresa não tem mais
capacidade de emitir dívida. Conclusão, tem um impacto negativo no valor da ação.
Também os custos de agência do capital próprio ajudam na argumentação da
teoria do Pecking order. As empresas que geram maiores fluxos de caixa são mais
propensas ao desperdício e às más decisões dos gestores porque apresentam
elevado grau de liquidez. Posto isto, as estratégias para redução dos fluxos de caixa
(como medida para monitorizar e disciplinar os gestores) são: distribuição de
dividendos e endividamento. Apesar dos dividendos serem uma saída de caixa que
reduz o free cash flow, os encargos financeiros têm um impacto muito maior nos fluxos
de caixa libertos e disciplinam mais os gestores. Assim, este é mais um argumento
para se privilegiar a emissão de dívida em detrimento do capital próprio. Fluxos de
caixa menores diminuem a oportunidade dos gestores em desperdiçarem recursos.
Resumo
158
8. Avaliação de projetos de empresas alavancadas
Significa que o APV é igual ao VAL (NPV) do caso base mais o valor atual do
financiamento, que reflete os efeitos colaterais do recurso ao endividamento.
Geralmente, pensamos em 4 efeitos colaterais:
• O benefício fiscal da dívida - os encargos financeiros da dívida são
fiscalmente dedutíveis, o que resulta num menor imposto a pagar.
• O custo de emissão de dívida - tanto a emissão de obrigações como o
recurso a financiamento bancário inclui custos correntes e administrativos.
O benefício fiscal deve ser suficientemente compensador para superar os
custos.
• Os custos de insolvência - que estão associados à dívida. Este tipo de
custos tem, por norma, um impacto negativo no valor da empresa.
• Estímulos ao recurso à dívida em determinadas zonas geográficas -
usufruindo de emissões de dívida com uma taxa de juro semelhante ao do
Estado.
159
Apesar de todos os efeitos secundários serem importantes, o mais importante é,
sem dúvida, o benefício fiscal da dívida. Essa é a razão para ser considerado no
cálculo do APV.
Resolução:
Receitas $500,000
Custos 360,000
Resultado operacional 140,000
Imposto 47,600
Fluxo de caixa não alavancado 92,400
160
APV = NPV + NPVF
´
APV = −$13,000 + $126 , 229 .50 × 34 % = $29,918
Receitas $500,000
Custos 360,000
Juros 12,622.95
161
Os fluxos de caixa alavancados serão designados de LCF (levered cash flow).
Outra fórmula possível é a seguinte:
UCF − LCF = (1 − T ) × R × Debt
c d
3. Avaliar o investimento
84, 069
RlIl = ≅ 378,688.5
22,2%
162
O resultado é o valor dos capitais próprios. Mas o nosso objetivo é estimar o
rendimento produzido pelo investimento inicial proveniente dos capitais próprios.
Foram investidos $348,770.50 que geraram $378,688.5. O rendimento é de:
$378,688.50 − $348,770.5 = $29,918
O resultado é igual em ambas as abordagens: APV e na ótica dos capitais próprios.
$378,688.50 $126,229.50
RWACC
= × 22,2% + × 10% × (1 − 34%)
$378,688.50 + $126,229.50 $378,688.50 + $126,229.50
RWACC
= 18,3%
Então o valor do projeto é:
$92,400
M;:@K JK@¤5?@ = = $504,918
18,3%
Mas o que se pretende é saber qual o Valor atual líquido (VAL). Dessa forma,
temos que determinar o VAL.
ML] = $504,918 − $475,000 = $29,918
O VAL apresenta o mesmo valor obtido nas duas abordagens anteriores: APV e
ótica dos capitais próprios.
9. Política de Dividendos
163
divididos: uma parte é utilizada como autofinanciamento e a outra parte é distribuída
sob a forma de dividendos aos sócios/acionistas. O dividendo pode ser pago
diretamente em dinheiro, com nova emissão de ações ou em espécie (este último é o
caso menos frequente). Normalmente, a situação mais frequente é o dividendo ser
pago em dinheiro. O resultado líquido pode ser também utilizado para recompra de
ações.
Em suma, os dividendos constituem os fluxos de caixa distribuídos aos
sócios/acionistas com o objetivo de remunerar o capital investido.
164
serão distribuídos dividendos. A partir da declaration date e até 3 dias úteis antes
dessa data (até ao ex-dividend date), quem comprar ações ainda tem direito ao
dividendo (estamos no período de cum-dividend date). No dia de ex-dividend date, o
comprador da ação perde o direito ao dividendo. Este é retido pelo vendedor. Três
dias úteis após essa data é elaborada uma lista de acionistas pelos quais serão
distribuídos dividendos (record date). Alguns dias úteis após a elaboração dessa lista,
os dividendos são efetivamente pagos.
165
A política de dividendos e o valor da empresa
A otimização da política de dividendos consiste na procura de equilíbrio entre as
vantagens e as desvantagens marginais entre distribuir dividendos e reter resultados
(e assim aproveitar uma fonte de financiamento mais barata: o autofinanciamento).
Estamos perante um dilema clássico da gestão: por um lado, uma maior
distribuição de dividendos pode ter um impacto positivo na cotação das ações, mas
por outro lado, retira capacidade à empresa de se autofinanciar e isso tem um impacto
negativo na cotação das ações.
35
Pressupostos: inexistência de impostos; inexistência de custos de transação; mercado é eficiente;
investidores são maximizadores da sua função utilidade; expectativas homogéneas; aversão ao risco;
empresta-se e pede-se emprestado à mesma taxa de juro, considerada sem risco;etc.
166
financeiro da empresa. Ao decidirem comprar ações da sua própria empresa emitem
um sinal aos mercados financeiros que acreditam que as ações estão subavaliadas e
que a cotação irá subir (ajustar) num futuro próximo. Além disso, a recompra de ações
é também sinal de que a empresa está “saudável” em termos financeiros.
A recompra de ações é uma decisão que normalmente tem um impacto positivo no
valor por ação
As empresas são ativos reais. O termo real deriva da expressão em latim “rês” que
significa bens, propriedades, em suma, coisas concretas. Uma empresa representa
um conjunto de ativos reais, que podem ser classificados como tangíveis (edifícios,
equipamentos, etc) ou intangíveis (conhecimentos tecnológicos, marcas, patentes,
etc), sendo no limite ela própria um ativo real no seu todo. Mas a propriedade desse
ativo real pode estar dividida em valores mobiliários que representam ativos
financeiros, como é o caso das ações. Então uma empresa pode ser vista na
perspetiva de ativo real (essa é a perspetiva da sua gestão, funcionários, etc.) e na
perspetiva de ativo financeiro (na perspetiva dos investidores).
Seja qual for a perspetiva e objetivo, os processos de avaliação consistem em
converter previsões numa estimativa do valor aproximado de uma empresa.
168
Processos de avaliação: Principais regras
Na teoria moderna da gestão, a tomada de decisões deve ser efetuada tendo como
referência o potencial de criação de valor dessas decisões: Value based
management. A palavra de ordem é sempre a mesma: valor. Criação de valor para a
36
empresa, e com isso para as partes interessadas: os stockholders e os
37
stakeholders . O investimento é sempre realizado visando o retorno futuro desse
capital. Isto é, numa perspetiva de continuidade no tempo. Dizemos nós em Finanças:
numa perspetiva dinâmica! O valor de uma empresa ou negócio corresponde ao
valor atualizado, para o momento presente, dos rendimentos futuros. Essa definição
confunde-se com a própria definição de valor de mercado.
Por oposição ao valor de mercado, o valor contabilístico é normalmente o valor
escriturado de um bem quando este foi adquirido. Esta perspetiva de avaliação baseia-
se em valores produzidos pelo sistema de informação de origem contabilística
designados por valores históricos, isto é, valores que aconteceram no passado e que
foram lançados no sistema de informação contabilística de acordo com critérios de
valorimetria da empresa, isto é, de acordo com as suas políticas contabilísticas. Esta é
uma ótica estática!
36
Stockholders significa acionistas.
37
Stakeholders são todas as partes interessadas: empregados, acionistas, Estado, fornecedores, banca,
etc.
38
Analista de mercado é um especialista na área de acompanhamento e investigação do potencial
financeiro de determinada empresa. Faz recomendações de compra/venda de ações baseadas na sua
análise de valor (análise fundamental).
169
estão o lucro, os dividendos, a estrutura financeira, a qualidade da gestão, as
perspetivas do mercado, etc. Com o fundamento da comparação com preços
de cotação para assim tomarem decisões de investimento de compra ou de
venda das ações analisadas. O valor intrínseco resulta do valor fundamental.
• Valor para o investidor (detentor de capital próprio): O valor da empresa
para um investidor específico é normalmente diferente do valor fundamental ou
intrínseco pois está relacionado com os objetivos e com o posicionamento do
mercado. Exemplo: a aquisição da Compal pela Sumolis refletiu uma decisão
de investimento, com grande probabilidade associada, que os investidores
levaram em conta as sinergias que esta aquisição geraria em termos de
enriquecimento do portfolio dos acionistas, permitindo aumentar a massa
crítica dos seus negócios.
• Valor Residual: Quando avaliamos um investimento fazemo-lo sempre através
de estimativas de fluxos de caixa para um número finito de períodos,
normalmente não ultrapassando os 5/10 anos. Projetar fluxos de caixa para um
período de tempo superior poderá ser irrealista. Mas na realidade existem
determinados investimentos que (tomamos como pressuposto) não se
extinguirão dentro de um prazo de 5/10 anos, investimentos com caráter de
continuidade. No final desse período normal de avaliação, deverá ser estimado,
(através de uma perpetuidade crescente) o valor residual ou valor terminal.
• Justo valor: De acordo com os International Valuation Standards Fair Market
Valvet, será “o preço, expresso e de interesse para quem estaria disposto a
comprar ou vender sem estar forçado à compra ou venda e em que ambos têm
conhecimento de mercado.”
• Valor Contabilístico Ajustado: É o valor contabilístico depois de adicionar,
retirar ou diminuir valores ao ativo e ao passivo contabilístico da empresa.
Depois deste processo são gerados mapas financeiros corrigidos que ajudarão
no processo de estimação de valor.
• Valor Substancial: Consiste na adição das estimativas de valor para cada
elemento do património social da empresa – utilizam-se os preços históricos,
os preços correntes, justo valor, etc.
• Goodwill (trespasse): Corresponde ao Ativo Intangível que resulta de ativos
como: marca, reputação, fidelidade da clientela, localização e outros fatores
que valorizam a empresa e não se podem separar dela. Uma empresa quando
é cotada e se for alvo de aquisição, a empresa adquirente paga sempre o justo
valor mais um prémio pelas oportunidades de crescimento futuras associadas
170
às características acima descritas da empresa. Representa assim, o excedente
de preço relativamente ao justo valor dos ativos e dos passivos.
D1 D × (1 + g )
Valor = = 0
Re − g Re − g
D1
Re = +g
Valor
Exemplo: A empresa Sunai apresenta uma taxa de crescimento dos dividendos por
ação de 4%. O seu custo de capital próprio é de 11%. No ano corrente, o dividendo
pago por ação foi de 0,80€ por ação, qual o valor atual de cada ação?
D1 0,80 × (1 + 4% )
Valor = = ≅ 11,89€
Re − g 11% − 4%
39
Para efeitos de determinação de indicadores, só devem ser consideradas as ações em circulação. As
ações próprias devem ser subtraídas ao total de ações emitidas para assim se obter o nr. de ações em
circulação.
171
Para estimarmos este modelo necessitamos de três variáveis fundamentais: a taxa
de crescimento, a taxa de custo de capital próprio e o valor do dividendo do ano
seguinte.
A taxa de crescimento pode ser vista como uma derivação dos fundamentais40 da
empresa.
g = rendibilidade dos capitais próprios (RCP) * rácio de retenção de resultados (b)
g = RCP*b
Onde,
RCP= resultados líquidos/capitais próprios
b = 1- dividendos/resultados líquidos
40
Fundamentais são as variáveis estudadas na chamada análise fundamental, definida de forma simples
como a análise financeira da empresa com o objetivo de fazer previsões futuras relativas à evolução
económico-financeira de determinada empresa. Esta análise interpreta dados fundamentais dos mapas
financeiros (ativo, passivo, capitais próprios, etc.). Uma característica importante é que as variáveis
fundamentais são inputs cujo valor é contabilístico.
172
• Como a avaliação dos fluxos de caixa reflete o valor de todos os ativos que
originam esses mesmos fluxos, as empresas que possuem ativos (sem
utilização) que não geram fluxos terão uma avaliação que não refletirá o valor
destes ativos.
• Empresas em processo de reestruturação, frequentemente, vendem alguns
ativos, adquirem outros, mudam a sua estrutura de capital, políticas de
dividendos ou até podem deixar de ser cotadas, o que torna difícil a estimação
de fluxos de caixa futuros.
Quando se estima uma taxa de crescimento deve-se ter atenção aos seguintes
aspetos:
• Dimensão (grandes empresas têm dificuldade em manter taxas de crescimento
elevadas).
• Empresas que apresentam taxas de crescimento históricas elevadas podem
não manter esse nível de crescimento no futuro.
• A taxa de crescimento futura está mais correlacionada com a taxa de
crescimento atual.
t = n CFt
Valor = ∑
t = 1 (1 + r) t
173
Onde,
n = Vida útil do ativo
CFt = Fluxo de caixa (cash flow) no momento t
r = Taxa de desconto que reflete o risco dos fluxos de caixa
Onde,
n = Vida útil do ativo
CFt = Fluxo de caixa (cash flow) no momento t
RWACC = Custo médio ponderado de capital
Mas tal como referido anteriormente, a avaliação deve ser efetuada (quando nada
nos leva acreditar na descontinuação de determinada empresa) numa perspetiva de
continuidade. Essa continuidade é refletida na estimação de um fluxo de caixa
perpétuo no último ano de avaliação. Dada a impossibilidade de se estimarem fluxos
de caixa perpétuos, estimam-se os fluxos de caixa dos anos mais próximos,
considerados anos de maior crescimento, e depois estima-se um valor terminal
(perpétuo), estimando para o efeito uma taxa de crescimento sustentável, que capte o
valor da empresa no final do período de avaliação.
t= n FCF t Valor Terminal
Valor = ∑ t
+
t= 1 (1 + RWACC ) (1 + RWACC ) n
FCFN +1 FCFN × (1 + g )
Valor terminal = =
RWACC - g u RWACC - g u
174
Onde,
O maior desafio e também maior dificuldade deste modelo é determinar uma taxa
de crescimento futura sustentável.
+Resultado operacional
- Impostos
+ Depreciações
+/- Variações de fundo de maneio
+/- Investimento líquido em ativo fixo
= Free cash flow
O resultado operacional deve ser obtido antes de encargos financeiros e deve ser
líquido de impostos. A regra é tentar homogeneizar os rendimentos e os custos no
tempo. Se tivermos a informação que determinado rendimento ou gasto irá acontecer
uma só vez deve-se ter atenção se a sua contabilização é ou não relevante. Até
porque a determinada altura (no final do período da avaliação), estima-se um fluxo de
caixa constante perpétuo, isto é, assume-se que será sempre igual.
175
As variações de investimento em fundo de maneio são os acréscimos e as
diminuições do investimento em fundo de maneio entre dois períodos. O fundo de
maneio é o investimento em ativo corrente, nomeadamente, em clientes e inventários.
É o financiamento do ciclo de exploração da empresa. O fundo de maneio líquido
define-se como sendo o excedente do ativo corrente sobre o passivo corrente (ativo
corrente – passivo corrente). Em suma, os fornecedores, que são a principal rubrica do
passivo corrente de algumas empresas, ajudam a empresa a financiar o seu ciclo de
exploração.
Sob o ponto de vista do cálculo do free cash flow, o fundo de maneio que é
necessário estimar são as necessidades de fundo de maneio (NFM). As NFM são
definidas da seguinte forma:
NFM = NECESSIDADES Cíclicas – RECURSOS Cíclicos
176
financiada com recurso a capital próprio o valor na perspetiva dos capitais próprios é o
mesmo que na perspetiva da empresa. Neste contexto, o valor dos capitais próprios é
obtido pela atualização dos fluxos de caixa esperados para os capitais próprios, isto é,
os fluxos de caixa residuais depois de pagas todas as despesas, impostos e juros.
Altera a taxa de atualização utilizada. A atualização destes fluxos de caixa é feita
recorrendo à taxa de custo de capital próprio.
Onde,
CF Capitais Próprios (EFCF 41 ) = Fluxos de caixa para os capitais próprios no
momento t
R e = Custo do capital próprio
+ Resultado líquido
+ Depreciações
+/- Variações de fundo de maneio
+/- Investimento líquido em ativo fixo
+ Acréscimo da dívida (líquida)
= Equity Free cash flow
41
Equity free cash flow ou fluxo de caixa para os detentores de capital próprio.
177
Esta medida de equity free cash flow reflete a completa interação entre decisões de
investimento e de financiamento.
Tal como nos modelos dos fluxos de caixa, poderemos separar os modelos
económicos atualizados na perspetiva da Entidade e na perspetiva dos detentores de
capital próprio.
Perspetiva da Entidade
O rendimento residual (RR) ou Economic Value added (EVA) corresponde ao
excedente de resultados operacionais relativamente ao exigido pelos detentores de
capitais próprios e credores.
EVA = RRt = ROt × (1 − t c ) − RWACC × capital investidot -1
Onde
RR - Rendimento residual
RO t × (1 − t c ) – Resultado operacional líquido de impostos
178
Após o apuramento do rendimento residual para os próximos anos, o próximo
passo é atualizá-los:
Neste caso, temos o modelo market value added (MVA) que atualiza os EVA´s
futuros. n ROt (1 − t c ) − RWACC × CI t −1
MVA = ∑
t =1 (1 + RWACC ) t
No caso de estarmos a avaliar a Entidade numa perspetiva de continuidade,
deveremos estimar uma perpetuidade no final da avaliação.
RR n +1
Valor Terminal n =
RWACC − g RR
RR - Rendimento residual
R Wacc = Taxa de custo média ponderada de capital
Onde
RL t - Rendimento líquido
179
No caso de estarmos a avaliar a Entidade numa perspetiva de continuidade,
deveremos estimar uma perpetuidade no final da avaliação.
LE n + 1
Valor Terminal n =
Re − g LE
L E n +1 - Lucro económico
180
pretendemos é estimar um valor, isto é, fazer uma previsão de valor aproximada, dado
o facto que é sempre “impossível” aferirmos o exato valor de uma empresa.
Vamos analisar os seguintes indicadores/múltiplos:
• PER
• PBV
• PS
• PCE
• EV/EBIT
• EV/EBITDA
181
• Valor mercado capitais próprios A = PERc X RL A
As suas maiores vantagens são as seguintes: facilidade de cálculo para todas as
empresas do setor e facilidade de comparação com média indústria/setor.
No entanto, apresenta sérias limitações na estimação de valor:
• Divergência entre preço de cotação (indicador das expectativas do valor de
mercado), enquanto o EPS é baseada em informação histórica. Muitos
analistas usam os EPS previsionais no cálculo do PER.
• Empresas com métodos contabilísticos diferentes não podem ser comparadas.
• O PER não tem significado quando a empresa apresenta prejuízos.
• Dificilmente se encontram empresas comparáveis.
D0 × (1 + g ) EPS1 (1 − b)
P0 = V 0 = = , Eps1 = ROE1 * BV0
( re − g ) ( re − ROE * b)
Logo,
ROE 1 × BV 0 × d ROE 1 × d
P0 = / BV 0 = PBV 0 = ,
( re − g ) ( re − g )
ROE 1 − g *
* g = ROE × (1 − d ), então PBV 0 =
( re − g )
Como g* é uma taxa de crescimento sustentável, quando g* e a taxa de
crescimento dos dividendos g são iguais, então podemos dizer que o: PBV = ROE –
re.
182
• Valor mercado capitais própriosA = PBVc X BV* A
D0 × (1 + g ) EPS1 × d
P0 = V0 = = , Eps1 = Rendibilid ade líquida das vendas × volume negócios por ação
( re − g ) ( re − ROE * b )
183
Tal como já referido, este múltiplo tem como vantagem ser aplicável a empresas
com resultados negativos. Outras das vantagens importantes é que o valor do volume
de negócios não é influenciado pelo impacto das políticas contabilísticas e também
não é afetado pela política de preços.
44
Em que o autofinanciamento bruto t = resultado líquido t-1 +
45
deprecisções/amortizações t-1 + provisões t-1.
44
De acordo com a fórmula do POC: Autofinanciamento líquido t = Resultado líquido t-1 – Dividendos t +
depreciações t-1 + provisões t-1.
45
De acordo com o SNC, as provisões são constituídas para contas do passivo e as imparidades para as
contas do ativo.
184
Algumas relações com interesse:
P[M 1 4IP − N
PR4 = = ×
4vR 4vR K5 − N
Em 1.º lugar vamos calcular os indicadores: PER, PBV, PS e PCE para a Empresa
A, cotada e que vai servir de referência para avaliarmos a Empresa B.
46
Earnings before interest and taxes ou resultados antes de juros e impostos.
47
Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization ou resultados antes de juros, impostos,
depreciações e amortizações.
185
Preço por ação 2 ,50
PER A = = = 4 .564 , 44
Estimativa resultado por ação ( 67 . 500 )
(125 .640 .000 − 2 .400 .000 )
186
investimento e diminuição do consumo. Já a diminuição das taxas de juro significa
diminuição do “preço” do dinheiro que traduz uma diminuição no investimento e maior
consumo.
Sistema Financeiro
Composto pelas instituições e pelos mercados que asseguram o funcionamento do
mecanismo de pagamentos e as operações de concessão de crédito, bem como as
transações de ativos financeiros. Estas instituições exercem a atividade de
intermediação entre os agentes económicos com capacidade de financiamento e os
agentes económicos com necessidades de financiamento.
11.1 Mercados financeiros
Os mercados financeiros é o espaço físico ou meramente lógico onde se operam
as transferências de fundos dos agentes económicos excedentários para os agentes
económicos deficitários, através de agentes económicos intermediários. O agente
económico excedentário tem uma poupança positiva e a capacidade financiamento,
designando-se de cedente de fundos ou investidor. O agente económico deficitário
tem uma poupança negativa e necessidade de financiamento, designando-se de
tomador de fundos.
Os mercados financeiros dividem-se:
- Mercado de capitais, incluem instrumentos financeiros (como ações e obrigações)
e que são emitidos com caráter de longo prazo;
- Mercado monetário, incluem instrumentos financeiros (como divisas) que são
transaccionados no curto prazo.
187
Também as cotações das moedas são apresentadas na sua foram Spot (à vista) e
Forward (a prazo). Estas permitem determinar se a moeda está a prémio ou a
desconto, isto é, se a moeda tende a apreciar ou a depreciar no futuro face a outra
moeda.
No quadro abaixo podemos observar de forma destacada a cotação do Euro face à
Libra Esterlina no mercado Spot que corresponde à cotação do dia, €/£ 0,8130, e no
mercado Forward a um mês (€/£ 0,8133) e a três meses (€/£ 0,8139). Esta evolução
do €/£ permite concluir que o Euro tem tendência para apreciar face à Libra Esterlina.
188
A transação de títulos financeiros tem que ser sempre intermediada por brokers
(corretores), isto é, os investidores individuais não estão autorizados a participar no
mercado de valores mobiliários de forma direta.
Nos mercados normalizados existem regras bem definidas em relação às
características dos ativos a serem transacionados. Esses ativos são transacionados
em bolsa de valores mobiliários ou bolsa de futuros e opções. As transações
efetuadas em mercados organizados estão menos expostas aos riscos de preço,
quantidade, liquidez, incumprimento, etc. Por exemplo, para mitigar o risco de
incumprimento cada investidor tem que ter uma conta margem associada onde serão
refletidas os ganhos e perdas diários.
Um mercado ao balcão ou OTC é um mercado não normalizado onde os
investidores acordam os termos da transação diretamente. Esta característica é
também a principal vantagem destes mercados, a sua flexibilidade na estruturação dos
produtos transacionados. No entanto, a falta de regulamentação provoca que as
contrapartes envolvidas enfrentam o risco de crédito da contraparte.
189
estão afetas determinadas empresas. A comissão deste especialista designa-se por
ask-bid spread. A cotação ask é o preço de venda da ação ao investidor (quando o
investidor dá uma ordem de compra), e a cotação bid é o preço de compra da ação ao
investidor (quando o investidor dá uma ordem de venda).
190
Gráfico 18 – Correlação entre dois ativos
191
192
b) Se a carteira fosse constituída por 50% de A e 50% de B, qual seria a
rendibilidade esperada da carteira?
Síntese
ri si
Título
(Retorno) (Risco)
A 9.00% 6.2450%
B 12.00% 8.1548%
Carteira 10.50% 1.5811%
193
11.3 Modelos de avaliação de ativos financeiros
Capital Asset Pricing Model
O CAPM foi uma evolução na Teoria da Carteira de Markowitz, porque quantifica o
risco sistemático de um ativo. No risco total está implícito o risco sistemático ou de
mercado e o risco não sistemático ou específico. O CAPM pressupõe que o único risco
importante que é necessário mitigar é o risco sistemático e quantifica-o através da
sensibilidade do ativo em relação ao mercado. Essa sensibilidade é designada por
COV(i ,m )
beta e traduzida pela seguinte expressão: β = .
VAR( m )
O modelo CAPM baseia-se nos seguintes pressupostos: não há restrições na
compra e venda a descoberto e compras contra margem; pode-se emprestar e pedir
emprestado à mesma taxa isenta de risco; não existem impostos nem custos de
transação; todos os investidores têm acesso à mesma informação; os investidores,
individualmente, não são price takers, isto é, não afetam os preços; os investidores
demonstram aversão face ao risco e isto implica um “prémio de risco”; as
rendibilidades são independentes e seguem uma distribuição normal; o mercado é
eficiente e a carteira de mercado é uma carteira eficiente; a carteira de mercado
contém todos os ativos transacionáveis; numa economia todos os ativos são
transacionáveis e perfeitamente divisíveis; os investidores são maximizadores da sua
utilidade esperada e quando investem têm em atenção o risco e a rendibilidade; é
assumida a previsão de betas “futuros” através da análise de dados históricos.
Desenvolvido em meados de 1960 por William Sharpe, John Lintner e Jack Treynor,
o CAPM é um modelo unifatorial que tenta explicar a rendibilidade em excesso
oferecida por determinado ativo com risco através da sensibilidade desse ativo à
rendibilidade em excesso oferecida pelo mercado. Essa sensibilidade do ativo em
relação à rendibilidade em excesso oferecida pelo mercado designa-se por “prémio de
risco”, que é o retorno que o investidor obtém por cada unidade de risco adicional que
suporta. A rendibilidade em excesso é a diferença entre a rendibilidade esperada de
determinado ativo/índice e um ativo isento de risco. De referir que o índice de mercado
funciona como benchmark para avaliar o desempenho do ativo com risco.
O ativo que mais se aproxima à ideia conceptual de ativo isento de risco em
avaliação de investimentos financeiros (e não em contexto de avaliação de projetos)
deve apresentar o prazo de maturidade mais curto possível, a maior liquidez possível
e ser garantido pela Entidade que apresente menor risco de incumprimento e
insolvência.
Recuperemos a forma analítica do modelo.
194
R i = RF + βi ( R M − R F )
O investidor vai conjugar na sua carteira o ativo isento de risco (Rf) e ativos com
risco que incorporam a carteira de mercado (M). O seu posicionamento na linha de
mercado de capitais (também designada por SML) será localizado na semi-reta
definida entre Rf e M e irá depender do seu nível de aversão ao risco.
No caso de o investidor querer alavancar a sua posição, isto é, endividar-se, poderá
fazê-lo recorrendo a estratégias de short-selling. Na linguagem dos mercados
financeiros deter o ativo é deter uma posição longa (long) e pedir emprestado para
deter o ativo é deter uma posição curta (short). Logo, quando o investidor pede
emprestado o ativo para o transacionar está a incorrer numa estratégia de short-
selling. O investidor pede emprestado o ativo, normalmente, ao seu broker, com o
compromisso de o repor numa data futura. Esta estratégia obriga a que o investidor
tenha uma conta margem associada com uma provisão mínima para efetuar este tipo
de transações. Esta conta é, regra geral, remunerada ou pagadora de juros conforme
a posição do investidor. Se o investidor adota uma estratégia short, no momento em
que devolve o ativo terá que pagar um juro.
Exemplo: Assuma que pretende pedir emprestado ações da Portugal Telecom no valor
total de 500.000€, estando cada ação cotada a 8,5€. Aguarda até a cotação das ações
atingir os 7,5€, vende-as em mercado Spot e realiza um ganho (mesmo após o
pagamento de juros ao broker).
195
Venda 7.50 58824 441180
Ganho 58820
O modelo de avaliação de ativos mais usado pelos práticos é o CAPM, que apesar
de ser considerado um modelo válido tem limitações.
A mais conhecida crítica ao CAPM é a de Roll (1977) que defende que a verdadeira
carteira de mercado é conceptual, não pode ser observada, o que invalida os testes
empíricos ao CAPM dado que é utilizado um proxy da carteira de mercado, se este for
mudado os resultados obtidos serão diferentes.
Por sua vez, Fama e French incluíram mais duas variáveis explicativas (dimensão e
o rácio book to market) e verificaram que os modelos multifatoriais são mais eficientes
a explicar a rendibilidade em excesso.
Arbitrage Pricing Theory (APT)
Na tentativa de ultrapassar a limitação apontada ao CAPM que quantifica o risco
sistemático de forma unifatorial, Ross (1976) desenvolveu um modelo multifatorial que
procura identificar várias fontes de risco sistemático.
Uma oportunidade de arbitragem surge quando um investidor incorre num ganho
sem risco. Por exemplo, se identificasse que as ações da PT estavam a cotar a €5 na
Euronext Lisboa e a 8€ no Euronext-Nyse em Nova Iorque, compraria ações no
mercado de Lisboa e venderia em Nova Iorque. Se tal situação ocorresse demoraria
pouco tempo até o equilíbrio ser reposto, uma vez que múltiplos investidores
identificariam a oportunidade e ao darem ordens de compra sucessivas em Lisboa tal
iria provocar um efeito de subida do preço e ordens de venda sucessivas em Nova
Iorque iria provocar um efeito de descida do preço.
O APT é composto por uma parte da rendibilidade esperada associada a cada fator
e outra parte inesperada, como podemos observar na fórmula abaixo.
R = R +U
em que podemos decompor o risco
R = R+m+ε
onde
m é o risco sistemático
ε é o risco não sistemático
Desta forma, teremos n fontes de risco sistemático, n betas, e n fatores que são a
expressão do prémio de risco associado a cada fator. Este prémio de risco não é a
196
Ri = R i + ∑ β i F + ε i
rendibilidade em excesso do mercado, mas a diferença entre a parte da rendibilidade
esperada e a inesperada: &R&l¶ , − w,.
O modelo genérico do APT é o seguinte: .
Exemplo: Foram identificadas três fontes de risco sistemático: inflação,
crescimento PIB e taxa de câmbio €/$.
Valor estimado para os betas é o seguinte e para o risco específico.
β I = - 2.30; β PIB = 1.50; β S = 0.50; ε = 1 %
Onde
β I - inflação
β PIB - crescimento do PIB
β S - taxa de câmbio €/$
ε é o risco não sistemático
197
Avaliar o desempenho de um fundo de investimento é avaliar o desempenho de
uma carteira.
A metodologia de avaliação baseia-se em comparar o desempenho da nossa
carteira com a de uma carteira benchmark, normalmente um índice de mercado cuja
constituição se aproxime da carteira em análise.
R p − Rf
medida é a seguinte: S p =
σp .
R p − Rf
expressa da seguinte forma: S p = Rp −R f
.
Rp −R f
σp
R p − Rf
Tp =
βp .
Assim chegámos ao alfa de Jensen, como ficou conhecido, medida que determina o
desempenho do fundo face ao mercado, sendo alfa (α) o parâmetro da regressão que
corresponde à rendibilidade incremental para além da rendibilidade correspondente ao
nível de risco assumido. Este modelo mais não é do que análise empírica do CAPM
198
ex-post e um dos objetivos é avaliar se o gestor do fundo acrescentou valor à sua
carteira. O modelo apresenta a seguinte expressão analítica:
R p ,t − R f ,t = α p + β p ( Rm,t − R f ,t ) +ε p ,t
exposto.
Modelo multifatorial
Depois de inúmeras críticas ao CAPM surgiram modelos de avaliação alternativos
fruto de vários estudos empíricos, cuja conclusão foi que os modelos multifatoriais são
mais eficientes a explicar a rendibilidade em excesso de determinado ativo. Nesse
movimento surge o modelo dos três fatores de Eugene Fama e Kenneth French, que
além da sensibilidade do ativo ao mercado (dada pelo seu beta) incluíram mais duas
variáveis explicativas: o size (dimensão) e o rácio book-to-market, fatores originados
pela observação dos autores a dois tipos de ativos que tendencialmente tinham um
desempenho superior ao do mercado, as denominadas small caps (empresas de
pequena dimensão) e empresas com elevados rácios book-to-market vulgarmente
designadas por value. Definiram o seguinte modelo:
Ri ,t − R f ,t = α i + β i ,m ( Rm,t − R f ,t ) + β i , s SMBt + β i ,h HMLt +ε i ,t
explicação desse desempenho poderia estar relacionado com outros fatores (neste
caso com a dimensão e/ou com informação pública).
199
Como consequência, a hipótese dos mercados eficientes teoriza que é impossível
conseguir obter48, de forma consistente, rendibilidades em excesso usando qualquer
informação que o mercado já conheça (exceto pelo fator sorte). Chama-se informação
a tudo o que possa afetar as movimentações das cotações.
A hipótese dos mercados eficientes foi desenvolvida pelo Professor Eugene Fama,
da Universidade de Chicago.
48
Na gíria financeira obter rendibilidades superiores ao mercado significa obter rendibilidades
supranormais ou anormais. Assim, conseguir obter ganhos anormais significa “bater o mercado”.
200
No eixo dos YY temos a cotação do ativo financeiro. No eixo dos XX temos os dias
antes do anúncio da informação (-), o momento 0 que corresponde ao dia do anúncio
e os dias após o anúncio (+). A linha verde descreve a movimentação do mercado
quando este é eficiente: a cotação do ativo incorpora o efeito positivo da informação, o
preço aumenta e mantém-se assim até à divulgação de nova informação.
Quando o mercado não é eficiente, assistimos a dois tipos de fenómenos:
• Overreaction, a cotação do ativo sobe mais do que o seu justo valor, isto é,
uma reação excessiva que será corrigida alguns dias depois. Isto reflete
ineficiências do mercado. Por exemplo: se o preço de equilíbrio de um ativo
deveria ser (após divulgação anúncio) de $116, mas se subiu até aos $123
quem comprou por esse preço pagou em excesso e quem vendeu realizou
lucros supranormais.
• Underreaction, a cotação do ativo demora muito mais tempo a incorporar a
nova informação, isto é, uma reação sub-eficiente que será corrigida alguns
dias depois. Este comportamento também reflete ineficiências do mercado.
Por exemplo: se o preço de equilíbrio de um ativo deveria ser (após
divulgação anúncio) de $116, mas se só após 5 dias atinge o seu justo
valor, quem comprou após o anúncio por $115 pode vendê-lo por $116 e
assim realizar lucros supranormais.
Evidência empírica
Existem três formas de expressar o tipo de eficiência de mercado que estão
dependentes do tipo de informação disponível e dos testes empíricos aos quais estão
sujeitos.
Essas formas são as seguintes:
1. A forma de eficiência fraca que defende que os preços refletem toda a
informação histórica.
Tese: Não é possível obter rendibilidades supranormais com base em
estratégias de investimento baseadas em cotações históricas do ativo;
201
Uma dessas estratégias é a análise técnica49, que não será capaz de justificar
rendibilidades anormais somente pela observação das movimentações
passadas, embora algumas formas de análise fundamental ainda possam
justificar rendibilidades supranormais;
As cotações históricas dos ativos não exibem evidência de correlação, isto é,
o movimento passado não explica o movimento presente nem deve servir de
base para explicar o movimento futuro. Isto implica que as cotações são
determinadas inteiramente por informação inesperada, designada por
aleatória, isto é, as cotações seguem um caminho aleatório (random walk).
49
Análise técnica é uma ferramenta utilizada por alguns investidores e que permite analisar a
movimentação histórica dos preços e dessa foram definir um padrão de comportamento dos preços para o
futuro.
50
Informação privilegiada ou insider trading é informação a que só um grupo restrito de agentes
económicos tem acesso.
202
esta ainda não é uma matéria consensual entre os académicos. A principal
característica desta evidência é que os mercados reagiam rapidamente à informação
tornada pública, sendo assim não será possível identificar analistas ou fundos de
investimento com ganhos anormais. Os preços das ações refletiam um sofisticado
nível de análise fundamental.
203
Bibliografia
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Nabais, Carlos e Nabais, Francisco (2011), Prática Financeira I – Análise Económica &
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Neves, J.C. (2002), Avaliação de empresas e negócios, Lisboa: MacGraw-Hill.
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Wild, J. J.& Subramanyam, K. R. (2009), Financial Statement Analysis, 10ª ed., McGraw-
Hill.
204
ANEXO I - Due Diligence Checklist
I. Informação Financeira
II. Produtos
205
5. Estrutura de custos e rendibilidade
6. Lista de principais fornecedores:
a. Cópias dos serviços e das garantias inerentes a cada produto
IV. Concorrência
A. Estratégia e Implementação
1. Canais de distribuição domésticos e internacionais
2. Posicionamento estratégico da empresa e dos seus produtos
3. Oportunidades/riscos
4. Descrição dos programas de marketing
B. Maiores clientes
1. Status atual e tendências das relações
2. Perspetiva para o futuro crescimento e desenvolvimento
3. Vendas totais e percentuais por cliente
C. Perspetivas de desenvolvimento de novos produtos
D. Análise da produtividade da força de vendas
1. Compensação
2. Quota
3. Ciclo das vendas
4. Plano para novas contratações
E. C a p a c i d a d e d e i m p l e m e n t a r u m p l a n o d e m a r k e t i n g c o m
orçamento atual e projetado
1. Informação sobre as campanhas de marketing realizadas pela empresa
2. Resultados de estudo de mercado realizados
3. Prazo médio de recebimentos
4. Política de descontos comerciais/ financeiros
5. Estatísticas de vendas dos últimos 5 anos
6. Lista dos principais concorrentes por segmento de negócio
206
2. Relatório das maiores atividades
B. Veículo condutor de novos produtos
1. Status e timing
2. Custo do desenvolvimento
3. Tecnologia crítica necessária para a implementação
4. Riscos
A. Organigrama
B. Headcount histórica e projetada por função e localização
C. Biografias do desempenho dos atores que exerceram nos últimos ano as
principais funções de chefia
D. Planos de remuneração
1. Cópias dos contratos
2. Planos de benefícios
E. Discussão do incentivo ao stock plan
F. A t r i t o s p r e s e n t e s o u p a s s a d o s c o m o s t r a b a l h a d o r e s
G. Rotatividade do pessoal nos últimos dois/três anos
207
ANEXO II - Conjunto de Rácios para Análise Financeira
Liquidez
• Rácio de Liquidez Geral =
á
ó
• Rácio de Liquidez Reduzida =
í
• Rácio de Liquidez Imediata =
ó
51
í
• Rotação do Ativo =
ó
*
• Rotação ativo fixo=
• Rotação dos inventários =
á
× 365
ç
!
×&'()*.,
ou
é
á
á
• PMI = 53
× 365 ou
× 365
b. Análise solvabilidade
Estrutura de capitais
!
·
54
• Endividamento = í ou ! !ó!(
• Rácio passivo sobre capitais próprios (Debt to Equity Ratio) = !
!ó!
51
Volume de negócios= vendas + prestações de serviços.
52
Fornecimentos e serviços externos
53
Custo das mercadorias vendidas e das matérias consumidas.
54
Passivo, pode ser considerado o total do passivo ou o passivo não corrente.
208
Rácios de Estrutura do Endividamento
ã
• Endividamento de Médio e Longo Prazo =
• Endividamento de Curto Prazo =
Solvabilidade
!
!ó!
í
• Autonomia Financeira (AF) =
!
!ó!
• Solvabilidade Geral =
!
!ó!
ã
• Solvabilidade Reduzida =
.2)55 .2.56
• Cobertura dos Encargos Financeiros =
-
ou
-
257
• Cobertura dívida financeira=-
(
-
2. Análise da Rendibilidade
Rácios de rendibilidade das vendas
258
ó
• Rendibilidade Bruta das Vendas = ou
çã
ó
E
!
ó
• Rendibilidade Operacional das Vendas =
E
í
• Rendibilidade Líquida das Vendas =
ó
55
Earnings before interest and taxes ou resultados antes de juros e impostos.
56
Excedente Bruto de Exploração=Resultados
operacionais+amortizações/depreciações+provisões+imparidades+aumentos/reduções justo valor.
57
Autofinanciamento Bruto= Resultados
líquidos+amortizações/depreciações+provisões+imparidades+aumentos/reduções justo valor.
58
Margem bruta ou de contribuição= volume de negócios –custos variáveis.
209
.2)
!
• Rendibilidade operacional capitais investidos=
E
í(
×&'* !
,
o (RIT) =
.2)
o ROA=
E
í
• Rendibilidade capitais próprios = !
!ó!
E
í
• Rendibilidade Líquida do Ativo =
ç çã
2
µ
• Rácio de distribuição de resultados ou payout ratio=E
í
µ
! çã
yield=çã
*
61
3. Análise do Risco
59
O resultado líquido por ação é obtido resultados líquidos/número de ações em circulação. Também designado
pela expressão anglo-saxónica EPS (earnings per share).
60
Valor contabilístico ação (BV)= capitais próprios/número de ações em circulação.
61
Dia no qual quem compra ação não tem direito a receber o dividendo respetivo.
210
a) Risco económico
Indicadores de risco económico
(Qv * Pv1 )
• Margem de segurança= −1
(Qv 0 * Pv1 )
2
• Grau de alavanca operacional=
.2)
b) Risco financeiro
Indicadores de risco financeiro
.2)
• Grau de alavanca financeira= E62
c) Risco global
Indicadores de risco global
• Grau de alavanca combinada=
E
62
Resultado antes de impostos.
211
ANEXO III – Indicadores financeiros de acordo com o POC e SNC
212
Indicadores POC SNC
+Resultado operacional + Resultado operacional
+Amortizações/Depreciações + Gastos/Reversões Amortizações e Depreciações
+ Imparidade de Investimentos Depreciáveis/Amortizáveis
+Provisões (perdas/reversões)
Excedente Bruto de + Imparidade de Inventários (perdas/reversões)
Exploração + Imparidade de Dívidas a receber (perdas/reversões)
+ Provisões (aumentos/reduções)
+ Imparidade de Investimentos não Depreciáveis/Amortizáveis
(perdas/reversões)
+ Aumentos/Reduções justo valor
213
ANEXO IV– Taxas de depreciação e de amortização fiscal
63
DGCI – Direção Geral de Contribuições e Impostos
214
ANEXO V– Orçamento de Tesouraria
Orçamento de Tesouraria Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro ANUAL
Fluxos de caixa
Atividades operacionais
Recebimentos
Vendas
Prestação de serviços
Recebimentos de clientes
Impostos
Outros
Pagamentos
Compras
FSE
Pagamentos a fornecedores
Custos com pessoal
Impostos
Outros
Saldo das ativIdades operacionais
Atividades de investimento
Investimentos financeiros
Investimentos em ativo fixo tangível
Investimentos em ativo intangível
Saldo das atividade de investimento
Atividades de Financiamento
Variações de capital próprio
Emprestimos médio e longo prazo
Empréstimo de curto prazo
Juros
Dividendos
Outros
Saldo das atividade de financiamento
Saldo inicial de caixa
Saldo final de caixa
Nível mínimo desejado de caixa
Excedente (necessidades) de tesouraria
215