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I S B N 9 7 8 - 6 5 - 5 5 5 0 - 2 1 4 - 5
do design 3
ergonomia
e tecnologia
NºIII 4 → 4
[em foco]
Autores↘
Amaury Alyson Teodoro de Souza Manuela Mello Fernandes
Denise Freire Gaudiot Marcella V. C. L. L. de Farias
& Marcelo Márcio Soares
Bibliografia
ISBN 978-65-5550-215-2 (impresso)
ISBN 978-65-5550-214-5 (digital)
22-6290 / CDD745.2
———————————————————————————————————————————————————————
Índices para catálogo sistemático: 1. Design - Ensaios
apoio
incentivo
realização
dDESIGN
fronteiras
I S B N 9 7 8 - 6 5 - 5 5 5 0 - 2 1 4 - 5
502145
do design 3
ergonomia
9 786555
e tecnologia
NºIII 4 → 4
[em foco]
Germannya D`Garcia Araújo Silva
Autores↘
Amaury Alyson Teodoro de Souza Manuela Mello Fernandes
Denise Freire Gaudiot Marcella V. C. L. L. de Farias
& Lourival Costa Filho
equipe.
Vice-diretor
Luiz Francisco Buarque de Lacerda Júnior
56
26_capítulos. INTERFACE PESSOA CEGA, MAPA TÁTIL E
AMBIENTE: UM ESTUDO EXPERIMENTAL
PARA AVALIAR PLANEJAMENTO
E EXECUÇÃO DE ROTAS
262_autores. Maria de Fátima Xavier do Monte Almeida
Laura Bezerra Martins
sumário.
86
SOB A PERSPECTIVA DOS IDOSOS: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA SOBRE COMO OS
IDOSOS PERCEBEM OS AMBIENTES ONDE VIVEM
fronteiras do design 3. ergonomia e tecnologia [em foco]
110
AMBIENTES RESIDENCIAIS DE IDOSOS E
QUEDAS DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19
Tuíra Oliveira Maia
Laura Bezerra Martins
126
FATORES RELACIONADOS À NOCIVIDADE
DE ESTÍMULOS E ÀS CARGAS DEMASIADAS
EM AMBIENTES DE HOME OFFICE
Manuela Mello Fernandes
Lourival Costa Filho
148
ANÁLISE ERGONÔMICA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO DE SALAS DE
FISIOTERAPIA PARA TRATAMENTO DE PACIENTES COM PARALISIA
CEREBRAL: O CASO DA CLÍNICA PEPITA DURAN, EM RECIFE (PE)
Marcella Vívian Chaves Lôbo Leitão de Farias
Germannya D’Garcia Araujo Silva
176
CAPAS DE LIVROS DE LITERATURA: EFEITOS DE COERÊNCIA,
COMPLEXIDADE E NOVIDADE NA PREFERÊNCIA VISUAL PERCEBIDA
Letícia Lima de Barros
Guilherme Ranoya Seixas Lins
Lourival Costa Filho
196
MÉTODOS E FERRAMENTAS PARA AVALIAÇÃO
AFETIVA DE ARTEFATOS VESTÍVEIS: UMA REVISÃO
DA SISTEMÁTICA DA LITERATURA
Thuanne R. Fonsêca Teixeira
Germannya D’Garcia Araújo Silva
Marcelo Cairrão Araujo Rodrigues
220
AVALIAÇÃO DA USABILIDADE DE SITES DE
E-COMMERCE DE ELETRODOMÉSTICOS
Marina Holanda Kunst
Thatianne Elisa Ferreira da Silva
Yasmin van der Linden Remígio Leão
Thuanne Raissa Fonsêca Teixeira
Marcelo M. Soares
242
AVALIAÇÃO DE USABILIDADE DE LEITORES DIGITAIS:
DESIGN DE DISPOSITIVO E PLATAFORMA WEB
Felipe Gabriele
Helena de Cássia Nogueira
Israel Lucas Sousa Silva
Marcelo M. Soares
Walter Franklin Marques Correia
João Marcelo Xavier Natario Teixeira
apresentação.
Há quase três anos vivenciamos algo que jamais seria esperado,
fomos assolados pela pandemia da COVID-19, que teve proporções
devastadoras em todo o mundo. Muito do que se fazia em pesquisas
no mundo ficou parado e, não diferentemente, aqui no Brasil ocorreu
o mesmo. Porém, fizemos um esforço hercúleo para que fosse pos-
sível continuar as atividades nas pós-graduações e para seguirmos
produzindo cientificamente e tecnicamente.
O PPGDesign da UFPE, por meio de uma coordenação atuante nas
figuras da Profª Virgínia Cavalcanti e da Profª Kátia Araújo, a exemplo do
que poderia ser feito, iniciaram uma série de livros destinada à publica-
ção de egressos com os docentes do programa e com outros pesquisa-
dores, a qual fora [muito bem] batizada de Fronteiras do Design. De lá
para cá já foram duas séries de quatro livros cada, dezenas de capítulos
que enchem de orgulho os autores e o PPGDesign, ante o alcance dessas
publicações. Ressaltamos que tais publicações fazem parte de um plane-
jamento estratégico desenvolvido a diversas mãos pela comissão respon-
sável, e que vem demonstrando resultados muito positivos, a citar-se o
resultado da última avaliação quadrienal pela CAPES: nota cinco!!! Com
muito empenho e dedicação, o PPGDesign agora está num novo patamar,
mas os desafios continuam, pois, se conseguir uma nota como esta não
foi tarefa fácil, mantê-la também não será tarefa simples.
Essa terceira série do Fronteiras do Design, que acontece em
sequência, estando dentro do nosso planejamento, surge em um
“quase” pós pandemia e apresenta muitas das pesquisas que foram
realizadas e finalizadas nesse período. Adiciona-se a isso um pano-
rama nacional bem diferente do outrora vivenciando, com grandes
dificuldades orçamentárias, cenário de descaso com a pesquisa e
educação superior que em muito desanima até mesmo os mais fortes,
mas que não esmorece a vontade dos professores e pesquisadores em
melhorar esse país por meio de estudos e proposições relevantes para
a sociedade, indústria e academia. Assim como ocorreu na edição
anterior, outras pesquisas em curso no PPGDesign, cujos extratos
poderiam compor a presente edição, sofreram atraso em função de es-
tudos de caso afetados, entrevistas não executadas, doenças, mortes
familiares, tristezas, enfim... e, mais uma vez, foi preciso que repen-
sássemos o fazer na pós-graduação, o que conduziu aos trabalhos de
excelência aqui apresentados, assim como o serão os demais, que não
puderam ser trazidos nesta terceira edição.
11
SOBRE O PROGRAMA
O Programa de Pós-graduação em Design da UFPE iniciou suas
atividades em 2004 com o curso de Mestrado Acadêmico em Design
Stricto Sensu, o terceiro a ser criado no Brasil, e desempenhou papel
estratégico na formação de mestres em Design no país. Junto às
especializações Lato Sensu em Design da Informação e Ergonomia,
formou pesquisadores capacitados à docência nas Instituições de
Ensino que à época surgiam no Norte e Nordeste brasileiro. O curso
de Doutorado do PPGDesign UFPE foi criado em 2010, como decor-
rência natural do curso de Mestrado e da expansão das atividades
de pesquisa potencializadas pelo programa no Departamento de
Design. Pela sua história, o Programa está entre os pioneiros no en-
sino e pesquisa em Design do Brasil, sendo um dos primeiros oferta-
dos em uma Instituição Federal de Ensino Superior - IFES. Tem como
principal objetivo propiciar a formação de pesquisadores e docentes,
concorrendo para a qualificação de recursos humanos e a produção
de conhecimento científico na área, com vistas ao desenvolvimento
tecnológico, científico e cultural do País.
O programa direciona esforços para a capacitação e treinamento
de pesquisadores/ professores e profissionais que desejam ampliar seu
potencial de geração, difusão e aprimoramento de conhecimentos no
campo do Design e para contribuir com o desenvolvimento da pesquisa
científica. É por meio da produção de conhecimento técnico-científico
e reflexão crítica sobre sua vocação interdisciplinar quanto às teorias,
métodos e práticas, e sobre seus impactos na sociedade e contextos
organizacionais, que o programa traz sua contribuição. O objetivo é as-
segurar a formação de pesquisadores intelectuais do mais alto padrão
para fazer face às necessidades do desenvolvimento humano, compro-
metido de forma ativa e propositiva em diferentes instâncias sociais.
A grande área de concentração (AC) do PPGDesign é o
Planejamento e Contextualização de Artefatos, articulando teoria e
prática de pesquisa em Design. A interdisciplinaridade é prática co-
mum às suas quatro linhas de pesquisa e contribui para os avanços na
área de conhecimento por meio de sua capilaridade teórico-metodo-
lógica. A linha Design da Informação [DI] se interessa pelas práticas de
negociação de sentidos dados aos artefatos e sistemas de informação,
observando a mediação entre pessoas e campos simbólicos.; a linha
13
No Livro Fronteiras do Design 3: [in]formar novos sentidos, a linha
Design da Informação nos contempla com processos de análise e
reflexões sobre narrativas e artefatos informacionais, através dos
seguintes títulos:
15
O Livro Fronteiras do Design 3: [bem] além do digital, aborda o diá-
logo do design com o universo de artefatos digitais [e não digitais] em:
17
Nessa nova série de Livros, o PPGDesign vem reafirmar o seu com-
prometimento para com a UFPE e para com a Sociedade e Academia,
com uma produção e demonstração de conhecimento científico no
campo do Design e suas diversas relações inter e transdisciplinares.
Dessa forma, gostaríamos de convidar a todas e todos – professores,
pesquisadores, estudantes, profissionais – a percorrerem as obras
e a refletirem junto aos autores, a partir dos sentimentos de iden-
tificação, empatia ou mesmo de estranhamento porventura susci-
tados. Fiquem à vontade! Essa Série é uma obra aberta e voltada a
contribuir para a construção de conhecimento em Design no Brasil.
Sirvam-se!
prefácio.
Ao receber o convite para escrever o prefá-
cio de “Fronteiras do Design: Ergonomia e
Tecnologia”, lembrei-me do VII Congresso
Latino-Americano de Ergonomia - ABERGO
2002, organizado pela equipe do Professor
(e Amigo) PhD Marcelo Márcio Soares,
na cidade do Recife (PE) e promovido
pela Associação Brasileira de Ergonomia
(ABERGO) e Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE). Sabemos que este
evento foi um marco (considero um dos
melhores eventos científicos que eu já fui em
minha vida) e também a consequência de
muito trabalho, empenho e efetiva contri-
buição para as áreas do Design, Ergonomia e
Tecnologia.
Trabalho, empenho e contribuição
são os sinônimos desta equipe da UFPE;
e “Fronteiras do Design: Ergonomia e
Tecnologia” é mais uma prova disto. Esta
21
coletânea é composta de dez textos que orbitam problemas tecnoló-
gicos em torno da Ergonomia e do Design.
O primeiro texto, intitulado“Cor, luz e som: Relevância da per-
cepção ambiental para estudantes com deficiência auditiva nas
salas de aula” é uma abordagem que discute a influência das variá-
veis relacionadas à percepção espacial de salas de aula para o ensino
regular. Sua característica teórica é proporcionar suporte ao leitor
para compreender as restrições que estudantes com deficiência au-
ditiva enfrentam durante o processo de aprendizagem.
Em seguida é apresentado o capítulo “Interface pessoa cega,
mapa tátil e ambiente: um estudo experimental para avaliar pla-
nejamento e execução de rotas”, o qual também se caracteriza por
uma abordagem sobre acessibilidade, mas agora focado em wayfin-
ding de pessoas deficientes visuais. Para além da abordagem teórica,
apresenta experimentos sobre “o processo de decisão de orientação
e navegação” em um espaço específico, o que representa uma im-
portante contribuição para o desenvolvimento de novas Tecnologias
Assistivas.
O texto seguinte continua discutindo aspectos sobre a percepção
e acessibilidade de ambientes; e é intitulado “Sob a perspectiva dos
idosos: uma revisão sistemática sobre como os idosos percebem
os ambientes onde vivem”. Trata-se de um texto essencialmente
teórico, o qual apresenta uma síntese qualitativa a partir de quinze
outros estudos; e também traz uma reflexão sobre as novas deman-
das tecnológicas que os ambientes de vivência irão apresentar, em
um futuro próximo.
O quarto texto, intitulado “Ambientes residenciais de idosos e
quedas durante a pandemia da COVID-19” continua abordando o
público idoso e sua relação com os ambientes residenciais, particu-
larmente focado nos problemas decorrentes das quedas (tão fre-
quentes nesta faixa etária). A abordagem visou esclarecer os fatores
de risco ambientais, associados às quedas nos espaços domésticos
de idosos e foi desenvolvido durante a pandemia da COVID-19.
Na sequência é apresentado o capítulo “Fatores relacionados à
nocividade de estímulos e às cargas demasiadas em ambientes
de home office”, o qual também realiza uma abordagem ao contexto
da pandemia da COVID-19. De fato, utiliza-se de técnicas de Revisão
23
No décimo capítulo, o leitor irá encontrar “Avaliação de usabi-
lidade de leitores digitais: Redesign de dispositivo e plataforma
web”, o qual avaliou duas interfaces (dispositivo físico e plataforma
web), constando que apesar de serem bem avaliados, os mesmo
ainda apresentam alguns problemas de usabilidade, indicando que
merecem ser redesenhados (aperfeiçoados).
Por fim, e passados 20 anos, estudantes, pesquisadores, docentes
e profissionais da UFPE, que desenvolvem pesquisas nas fronteiras
do design, da ergonomia e da tecnologia, continuam demonstrando
elevada COMPETÊNCIA no desenvolvimento científico e de formação
de recursos humanos.
E esta COMPETÊNCIA é igualmente reconhecida pela CAPES -
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior,
a qual atribuiu (neste ano de 2022) o conceito “Quatro” para o
Programa de Pós-graduação em Ergonomia; e conceito “Cinco” para
o Programa de Pós-graduação em Design. A conquista é desta equipe
maravilhosa da UFPE, mas o orgulho é de todos nós que atuamos na
pesquisa em Design no Brasil.
29
em desvantagem por serem minoria dentro de espaços pensados
para as maiorias. Aqueles com deficiências sensoriais, sem proble-
mas cognitivos, dependem das respostas do espaço para terem au-
tonomia. A percepção que desenvolvem do ambiente é o que pode
dar a sensação de segurança e bem-estar a eles.
Este capítulo tem a pretensão de discutir a avaliação de elemen-
tos da percepção espacial que possam gerar restrições ao aprendi-
zado de estudantes com deficiência auditiva, usuários de salas de
aula, para o ensino regular.
Defende-se que a escola deve ser democrática na aceitação e
na execução de suas funções. A arquitetura educacional inclusiva
promove essa democratização, de forma a permitir seu uso por uma
multiplicidade de usuários. Nesse sentido, a ergonomia e o design
do ambiente construído são importantes ferramentas para a elimi-
nação das barreiras físicas e sociais, permitindo que todos convivam
em posição de igualdade e autonomia.
O AMBIENTE CONSTRUÍDO
E A APRENDIZAGEM
31
Para o autor (2004, p. 177), é nessa disciplina que os fundamentos
da sistematização do dimensionamento devem ser abordados com
os seguintes objetivos:
33
Em um estudo sobre percepção e cognição ambiental, Rapoport
(1978, p. 195) observa que uma gama desejável de estímulos deve ser
recebida do meio ambiente, e enfatiza que tanto o excesso quanto
a escassez podem cancelar a assimilação do estímulo pelo aparato
sensorial. Quando a clareza de um ambiente é exagerada, a pessoa
perde o interesse por ele. Por outro lado, quando o nível de clareza
diminui, a complexidade entra em jogo.
A percepção ambiental, entre outros aspectos, estuda sistemas
onde predominam elementos sensoriais de percepção e tratamento
da informação, assim como a tomada de decisões. De acordo com
Iida (2016, p. 488), ela envolve o processo de recolher informação
(percepção), armazenamento (memória) e seu uso no trabalho (deci-
são), o que se traduz no estudo dos aspectos cognitivos do homem.
Como consequência da percepção, a cognição é responsável pelo
aprendizado, e este é obtido de maneira formal, principalmente nas
escolas. Para que ocorra de maneira eficaz, o ambiente escolar deve
ser elaborado de forma a transmitir segurança e tranquilidade.
35
proximidade, alcance sensorial, mobilidade e proximidade, luz e cor Figura 1 Alcance
e acústica. sensorial.
O alcance sensorial é interligado às percepções espaciais ofereci- Fonte: https://www.
das pelo senso auditivo e responsável pela orientação e pela cons- gallaudet.edu/campus-
cientização das atividades que são transcorridas nos espaços utiliza- -design-and-planning/
dos, sendo, assim, um dos principais responsáveis pela sensação de deafspace, acesso
bem-estar. Ele desperta um reflexo visual de exploração da região em 13/03/2020.
onde se acha a origem de um estímulo sonoro, onde os movimentos
da cabeça permitem precisar a direção e a interpretação das caracte-
rísticas dos sons e dos barulhos ouvidos.
O alcance sensorial das pessoas surdas passa por uma “leitura” das
atividades e de seus entornos e, diferentemente dos ouvintes, pode
acontecer a partir do uso de sentidos diversos, como tato, olfato,
movimento de sombras, vibrações ou até sutis mudanças nas ex-
pressões ou nas posições das outras pessoas. Para facilitar a orien-
tação e a mobilidade de pessoas com deficiências sensoriais, como
surdos ou cegos, o ambiente construído deve ser projetado levando
em conta uma consciência espacial de 360°.
As diretrizes do DeafSpace Project recomendam o uso de transpa-
rências, aberturas horizontais e visores, de forma a permitir a visão
37
características específicas do objeto, enquanto a visualização propor-
ciona a identificação instantânea e suposições das propriedades do
objeto, baseadas na cognição e no conhecimento prévio.
Pode-se afirmar que, para muitas atividades, o tato é superior à
visão. Sentir o peso e a dureza de um material, até mesmo sua tem-
peratura, implica valores mais reais que os percebidos pela visão,
apenas tendo como referencial as atitudes de outra pessoa ao lidar
com o objeto.
Os materiais de revestimento não devem se limitar a funções
estéticas, mas devem ter também funções acústicas, táteis, vibrató-
rias e visuais. Um material comum como o carpete pode impedir o
sentimento de vibração tão caro à percepção ambiental dos surdos
ou cegos. A arquitetura oferece pistas a partir de aspectos funda-
mentais, como cor, forma, material e luz. Sombras, reentrâncias,
reflexos, texturas e transparências são exemplos de recursos proje-
tuais que devem ser oferecidos para facilitar a percepção e a orienta-
ção espacial.
A surdez dificulta o reflexo de exploração, podendo afetar a vida
cotidiana na qual o sujeito é constantemente solicitado de forma
sonora. Esse fator se torna grave quando o fenômeno sonoro é um
sinal de alarme ou indicação de perigo iminente. Mesmo que o surdo
esteja apto a sentir o clima sonoro de um lugar, ele é incapaz de ter
uma reação motora bastante rápida diante de um acontecimento
qualquer que não entre de maneira suficiente no seu campo visual,
independentemente do fenômeno sonoro que o acompanhe. No
ambiente escolar, isto se traduz, por exemplo, pelo alarme sonoro de
incêndio, pela sirene marcando o início das aulas e até pela resposta
de um colega na sala de aula que esteja fora de seu campo de visão.
A influência da qualidade espacial sobre o aprendizado e o com-
portamento é de grande relevância, devendo ser considerada como
um fator de desenvolvimento da percepção ambiental e das faculda-
des cognitivas de todos os educandos.
02 A cor tem um poder de ordem emocional e afetiva que não podemos negar, e isso é
explicado pela superioridade da função visual sobre os outros sentidos... Mas a cor não é
apenas um meio de detecção. É também “energia”, já que existe apenas em função da luz,
da qual dependem todas as manifestações da vida na Terra (tradução livre).
39
A visão é responsável, para a maioria das pessoas, por cerca de
80% da sua percepção ambiental, e a cor é um atributo importante
nessa relação, tendo influência na compreensão da harmonia dos
espaços e no bem-estar do utilizador. O projeto cromático auxilia a
leitura, a compreensão e a memorização do espaço ao criar zo-
neamentos funcionais, destacar elementos e hierarquizar funções
(RANGEL, 2011, p. 80).
A utilização de cores deve ser equilibrada para se evitar tanto o
excesso quanto a falta de estímulo ao ambiente. Sinofsky e Knirck
(1981) constataram que a cor afeta os educandos em suas atitudes,
seus comportamentos e sua aprendizagem. Pessoas que permane-
cem em ambientes monótonos podem ser levadas a sentimentos de
cansaço, dificuldade de concentração e apatia.Por vezes, as cores
carregam significados consolidados (pelo tempo e pela repetição),
e assim conseguem se antecipar aos outros códigos na mensagem
e direcionar a leitura, acelerar ou intensificar sua compreensão. O
uso do branco é recorrente em instituições de saúde, e fixado no
imaginário humano ocidental como a cor da limpeza, da assepsia
e da paz. O uso do vermelho é reconhecido como perigo, cuidado e
alerta nas advertências. Dessa forma, a facilidade de acesso a esses
significados pode encobrir outro sentido pretendido, dificultando a
recepção e a compreensão das mensagens.
41
Quando se escolhe uma cor, não nos devemos per-
guntar se ela é bonita na amostra que vemos, mas se
ela cumprirá os requeridos pressupostos estéticos,
ergonómicos e programáticos, ou seja, se terá uma
aplicação correta na superfície específica em que for
aplicada, que inevitavelmente terá uma determinada
textura, com um determinado nível de brilho, ocu-
pando uma determinada posição no espaço, com uma
dimensão específica, mantendo uma relação visual
com outras cores, e iluminada de determinada forma.
(PERNÃO, 2005, pp. 158-159)
43
razões opostas – excesso de estímulo – a concentra-
ção no trabalho, podendo ocasionar um aumento do
ritmo cardíaco, da pulsação e do ritmo respiratório.
(PERNÃO, 2005, pp. 13-14)
45
LUZ E SOMBRA
47
Tabela 1 Aplicação da
diferença do LRV na
sinalização – ∆LRV
Fonte: ABNT NBR
9050:2015.
49
eliminados com cuidados desde a fase projetual, com a previsão de Tabela 2 Escala de
tratamento acústico e o uso de materiais de boa qualidade. níveis de pressão sonora
Segundo a ABNT NBR 10152:2017 (https://www.normas.com.br/ (dB) no ambiente
visualizar/abnt-nbr-nm/5283/abnt-nbr10152-acustica-niveis-de-pres- Fonte: https://www.
sao-sonora-em-ambientes-internos-a-edificacoes), que rege a acús- apsei.org.pt/media/
tica em ambientes internos e edificações, é importante a mensura- temas/ruido-escala.png,
ção dos níveis de pressão sonora para o conforto ambiental. A norma acesso em 09/04/2020.
estabelece o intervalo de 40 a 50 dB como confortáveis.
51
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este capítulo tem a pretensão de discutir a avaliação de elementos
da percepção espacial que possam gerar restrições ao aprendizado
de estudantes com deficiência auditiva, usuários de salas de aula
para o ensino regular.
Defende-se que a escola deve ser democrática na aceitação e
na execução de suas funções. A arquitetura educacional inclusiva
promove essa democratização, de modo a permitir seu uso por uma
multiplicidade de usuários. Nesse sentido, a ergonomia e o design do
ambiente construído são importantes ferramentas para eliminação
das barreiras físicas e sociais, permitindo que todos convivam em
posição de igualdade e autonomia.
No caso do ambiente escolar inclusivo, chama-se a atenção para
o sentimento de inclusão sensorial que, sob o ponto de vista das
autoras, uma vez estimulado por meio da multissensorialidade do
ambiente escolar, pode ocasionar o interesse que motiva a atenção e
o engajamento, podendo decorrer de uma série de necessidades que
se apresentam conforme o objetivo do indivíduo frente a esse am-
biente. As análises feitas neste estudo reforçam as afirmações de que
elementos essenciais, como cor, luz e som, são de grande relevância
para a inclusão de estudantes com deficiências auditivas ou visuais
no processo educacional.
Portanto, esses discentes já entram na sala de aula em desvan-
tagem devido à ausência de um sentido, e tentam compensar com
os outros. Como observado por Rapoport (1978, p. 195), o meio
ambiente deve fornecer estímulos para que seja percebido. Seus
elementos devem ser dosados de forma a não estimular a ponto de
causar estresse nem cancelar sua assimilação, tornando-se um am-
biente entediante e cansativo.
Elementos de percepção ambiental como cor, luz e som servem
de ferramentas para a autonomia de pessoas com deficiências
auditivas ou visuais. Por si só, eles não têm o poder de modificar o
estado de espírito do indivíduo, mas facilitam essa mudança agindo
na sua percepção do ambiente utilizado.Uma sala de aula inclusiva
deve respeitar a diversidade de utilizadores e suas necessidades. A
qualidade espacial dela tem funções ergonômicas, podendo reduzir
a fadiga visual, além de aumentar a concentração de estudantes e o
conforto necessário para uma melhor aprendizagem.
53
environnements pédagogiques efficaces, 2010/13. Paris: Éditions
OCDE, 2010. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1787/5km4g20sbt7l-fr.
Acesso em: 17/08/2019.
https://www.atenaeditora.com.br/wp-content/uploads/2019/02/e-
-book-Ergonomia-e-Acessibilidade.pdf. Acesso em: 05/03/2019
55
Interface pessoa
cega, mapa tátil e
ambiente: um estudo
experimental para
avaliar planejamento
e execução de rotas
Maria de Fátima Xavier do Monte Almeida
Laura Bezerra Martins
INTRODUÇÃO
Um dos grandes desafios dos pedestres
cegos é caminhar em um ambiente – não
familiar – com autonomia e satisfação. Os
edifícios públicos geralmente não fornecem
informações adequadas às atividades de
planejar e executar uma rota para quem não
tem visão. O sistema de informação ambien-
tal, quer seja da arquitetônica, do objeto ou
do adicional gráfico não facilita a identifi-
cação dos objetos nem a sua localização na
estrutura do espaço. Identidade e estrutura
são aspectos fundamentais para orientação
espacial, explanados por Lynch em 1960. A
sinalização gráfica tátil, quando existe, sem-
pre favorece o conhecimento da rota. Nesse
caso, Schwering et al. (2017) afirmam que é
o tipo de informação ambiental que orienta
os usuários para o destino, dando instruções
57
de direção em cada ponto de decisão; contudo, eles podem chegar
ao destino desejado, mas não adquirem uma orientação ampla e
nenhuma visão geral da rota que lhes dê autonomia para escolher
outros caminhos e saber onde estão.
Ao frequentarem edifícios públicos, como aeroportos, shoppings,
hospitais ou escolas, pedestres cegos estão submetidos a uma série
de riscos de quedas, acidentes, desorientação espacial ou mesmo
estresse, afetando não só o bem-estar e sua segurança, mas também
o desempenho de suas atividades no espaço físico. Uma das conse-
quências iminentes, destacadas por Almeida (2008) é a influência
negativa do ambiente em sua autonomia espacial e vida social e pro-
fissional. Lynch (1999), Golledge (1992) e Papadopoulos et al. (2017)
constatam que a autonomia em caminhar está diretamente ligada à
qualidade de vida, podendo afirmar que questões de orientação, mo-
bilidade e tomadas de decisão ambiental – em várias situações e em
diferentes escalas – estão sempre listadas como uma das principais
prioridades para a sobrevivência de uma pessoa.
É preocupante constatar que, todos os dias, cegos enfrentam
problemas de orientação ao navegar nos ambientes onde a sinaliza-
ção visual é a única contemplada. Com dificuldades, para chegar ao
seu destino eles precisam planejar e executar uma série de tomada
de decisões através desses ambientes, a partir de um modelo refe-
rencial egocêntrico, ou seja, de corpo para objeto, sem possibilidade
de entender o que existe além de seu corpo; apesar de os indivíduos
cegos serem capazes de fazer codificação alocêntrica, via audição
e olfato, essas modalidades por si só são, na maior parte das vezes,
insuficientes para o conhecimento do espaço. Daí surge o interesse
em analisar o processo cognitivo de pedestres cegos nas tomadas de
decisão em wayfinding, com auxílio de mapa tátil, cujos procedimen-
tos metodológicos serão explanados aqui, podendo servir de parâ-
metro para novas pesquisas que abordem o mesmo tema.
A opção pelo uso do mapa tátil deve-se ao fato de que este é um
elemento facilitador para pedestres cegos na aquisição do conheci-
mento espacial e na criação do mapa cognitivo. A análise da “inter-
face pessoa cega, mapa tátil e ambiente” permite ao pesquisador en-
tender as estratégias aplicadas pelo usuário nas tomadas de decisão
durante a leitura háptica, em alto relevo, dos marcos referenciais,
59
O presente estudo experimental proposto possibilita o enten-
dimento do processo cognitivo de pessoas cegas em wayfinding,
permite coletar dados relacionados ao modelo mental dos usuários
e informações ambientais nas tomadas de decisão. Sugere-se, no
entanto, adequações aos procedimentos metodológicos a serem
explanados aqui, visando à evolução da tecnologia que viabiliza o
design de mapas interativos acessíveis. Isso não desmerece o valor
do presente estudo, pois os mapas táteis exigem compreensão de
suas especificidades em relação à cognição espacial e estratégias
de leitura háptica de pedestres cegos para sua produção, objeto de
estudo da pesquisa, crucial para design de técnicas na interação com
pessoas cegas (BROCK et al., 2014).
WAYFINDING, NAVEGAÇÃO,
CONHECIMENTO ESPACIAL
De acordo com Passini e Proulx (1988), wayfinding diz respeito às ha-
bilidades humanas, tanto cognitivas quanto comportamentais, para
alcançar um destino no cotidiano da vida. Golledge (1999) classificou
wayfinding como “um processo de determinar e seguir um caminho
ou uma rota do ponto inicial ao destino final”. Considerou como um
traçado de ações motossensoriais através do ambiente. A rota vem
a ser um trajeto que precisa ser planejado para que o passeio seja
percorrido. Dessa maneira, a sua definição é semelhante à de Arthur
e Passini (2002), quando estes afirmam que se trata de uma relação
dinâmica.
Diante do processo de navegação para aquisição do conheci-
mento espacial, Arthur e Passini (2002) citam sete tarefas básicas
relacionadas a wayfinding, que, se aplicadas, correspondem a sete
manipulações espaço-cognitivas, que são citadas a seguir:
61
problemas relacionados à percepção espacial, segundo Dischinger e
Bins Ely (1999), classificados em duas categorias: a primeira, quando
os sinais e referências existentes no espaço são inadequados ou insu-
ficientes para sua percepção sensorial e identificação; e a segunda,
quando as condições perceptivas individuais não permitem o reco-
nhecimento de informações espaciais devido à falta de experiência
anterior de objetos, lugares e imagens, restringindo suas possibilida-
des de ação e participação no espaço.
Além de esses problemas serem interdependentes, as autoras
afirmam ainda que os estudos de ergonomia enfocam a primeira ca-
tegoria, procurando transformar os elementos espaciais em objetos
reconhecidos por meio de outros sentidos que não a visão. No en-
tanto, sem a segunda categoria descrita pelas autoras, ou seja, sem
o repertório – ou falta de conhecimento anterior –, a percepção e
apreensão do espaço é praticamente inviabilizada. Torna-se necessá-
rio, portanto, o estudo da percepção ambiental e da cognição, além
de avaliar as habilidades e as restrições das pessoas cegas.
Diante do exposto, pode-se questionar se pedestres cegos são
capazes de desenvolver habilidades cognitivas espaciais. Cattaneo
et al. (2011) afirmam que sim, e argumentam que a visão não requer
apenas olhos funcionais e nervos ópticos, mas também estruturas
cerebrais em funcionamento, a fim de criar representações mentais.
Presumia-se, originalmente, que as pessoas com deficiência visual
eram incapazes de criar representações mentais. Hoje sabe-se que
os mapas cognitivos podem ser criados sem visão, porém essas
representações diferem daquelas desenvolvidas por indivíduos que
enxergam, defendida pela Teoria da Diferença.
Devido à falta da visão, as pessoas cegas são obrigadas a usar
canais sensoriais compensatórios e estratégias alternativas como
métodos para aquisição do conhecimento espacial, de acordo com
Jacobson (1992). Além disso, Lahav e Mioduser (2005) destacam a
importância da obtenção de informações substanciais e mapea-
mento cognitivo de um espaço desconhecido antes de chegar a ele,
para que se tenha o bom desempenho de orientação e mobilidade e
da construção da cognição espacial e de mapas cognitivos do espaço
vivenciado por pedestres cegos.
63
diante do seu repertório de conhecimento espacial, pode fazer um
julgamento avaliativo de um ambiente familiar e habitual.
Golledge (1999) admite, como consenso, que o homem ad-
quire, codifica, armazena, decodifica e usa a informação cognitiva
espacial como resultado de suas atividades de navegação e de
wayfinding. Há evidência de que essa representação interna não
necessariamente combina com a realidade externa, somadas com
as dificuldades vivenciadas em várias rotas e percebidas na mente
de cada um, que, de acordo com suas características, pode ajudar
ou prejudicar essas representações, surgindo imagens internas
fragmentadas, distorcidas, incompletas. Em contrapartida, o autor
afirma que o mapa cognitivo também facilita o reconhecimento do
lugar e da tarefa de wayfinding, dependendo de estratégias utili-
zadas na aprendizagem. O autor considera o mapa cognitivo como
um organizador de experiências espaciais; e os elementos referen-
ciais um fator que contribui na aquisição do conhecimento espa-
cial, que pode ser usado para determinar onde os objetos estão
no ambiente, como ir de um lugar para outro ou como comunicar
informação ambiental para outra pessoa.
Passini e Proulx (1988) afirmam que o mapeamento cognitivo é in-
tegrante do processamento da informação. É relevante apresentar a
distinção que os autores fazem entre mapa cognitivo e mapeamento
cognitivo para entender o comportamento de wayfinding: mapa
cognitivo é a imagem mental ou a representação dos espaços da con-
figuração de um ambiente; mapeamento cognitivo é o processo na
estrutura da mente, que proporciona a criação do mapa cognitivo.
A construção de mapas cognitivos deve-se a uma das caracterís-
ticas das atividades mentais que consiste em atribuir um significado
de conjunto aos elementos resultantes da análise perceptiva. Tais
atividades são partes das ações cognitivas: situam-se além do trata-
mento das informações sensoriais, de origens ambientais ou linguís-
tica, e precedem a programação motriz, a execução e o controle dos
movimentos, que são a realização (CREMONINI, 1998).
Assim, quando se usa a terminologia mapa cognitivo, são mencio-
nados os processos implicados em captação, simbolização, memo-
rização e recordação dos dados que constituem o entorno determi-
nado. Sabe-se que o mapa cognitivo da pessoa cega é diferente do
65
INTERFACE PESSOA CEGA,
MAPA TÁTIL E AMBIENTE
O mapa cognitivo, habilidade das pessoas de formar a representação
mental de um ambiente geográfico, pode ser desenvolvido de três
maneiras distintas. A primeira pode ser construída a partir da expe-
riência direta em um ambiente; a segunda, indiretamente, tanto por
meio da descrição verbal quanto escrita sobre o local; e, por último,
a partir de representação gráfica, em três dimensões, tendo como
exemplo o mapa tátil (BLADES, UNGAR, SPENCER, 1999).
Consciente da habilidade cognitiva espacial da pessoa cega, e
para suprir as necessidades de informação visual, Espinosa et al.
(1998) e Jacobson (1992) destacam a importância da aquisição de
conhecimento espacial de forma indireta, com o uso de mapa tátil
para facilitar o processo de wayfinding. Verifica-se que, por meio
desse instrumento informacional, a pessoa cega tem uma ideia ante-
cipada e panorâmica do ambiente que pode facilitar a percepção, o
planejamento e a execução de uma rota não familiar. Porém, perce-
be-se a grande limitação do mapa tátil quando a pessoa cega aplica
estratégias ineficientes de tomadas de decisão para planejar uma
rota durante a leitura háptica do mapa. Talvez seja preciso incluir
esse instrumento nas escolas, para favorecer o processo de ensino e
aprendizagem do conhecimento espacial.
Ungar et al. (2004) afirmam que as estratégias utilizadas por
pessoas cegas durante a leitura háptica do mapa para planejar e
executar uma rota são fatores determinantes para a qualidade da
compreensão da informação ambiental. Os autores relatam que as
melhores performances parecem estar relacionadas com estratégias
envolvidas em focar não só em aspectos locais dos elementos em
alto relevo percebidos, mas também nos aspectos gerais da configu-
ração do ambiente representado no mapa.
Thinus-Blanc e Gaunet (1997) e Ungar (2000) afirmam que a pala-
vra estratégia pode ter dois significados básicos e estar relacionada
à maneira como a informação é codificada na memória ou ao as-
pecto comportamental assumido pela pessoa ao explorar um layout
espacial ou ambiente. Embora essas duas categorias de estratégias
ESTUDO EXPERIMENTAL
A proposta metodológica da pesquisa foi realizada no Centro de
Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) a partir
de revisão da literatura e da adaptação de dois métodos de experi-
mento: primeiro, o de Passini e Proulx (1988), que trata de questões
de wayfinding com pessoas cegas no edifício público, e, por último,
o experimento de May et al. (2003), que trata de auxílios à navegação
de pedestres com visão no contexto urbano.
Nesse contexto, trata-se de um estudo exploratório de manipu-
lação experimental constituído por duas fases: sessão de aprendiza-
gem e sessão de experimento. Cada sessão é dividida em três etapas,
contendo tarefas para cada candidato: 1) planejar uma rota a partir
de um mapa tátil; 2) executar a rota; e 3) descrever a rota após repro-
dução desta com fitas magnetizadas sobre uma chapa metálica.
Quanto à aplicação, o experimento focou nas decisões de orien-
tação tomadas por quatro cegos congênitos totais, quatro cegos que
67
adquiriram a deficiência há mais de dez anos e quatro indivíduos de
baixa visão no processo de encontrar um caminho (wayfinding).
CATEGORIZAÇÃO E CODIFICAÇÃO
69
CATEGORIZAÇÃO DAS DECISÕES
71
Caso o voluntário verbalize uma decisão no nó sem um critério fí-
sico, ela se torna uma decisão comportamental. Tem-se como exem-
plo a frase “dobrei à direita”. Observa-se que não há uma caracterís-
tica física vinculada a essa decisão. No entanto, se ele diz “eu dobro
à direita na esquina da última parede”, essa decisão tem um critério
físico, que é denominado interseção. A “última parede” se torna um
ponto referencial para ele tomar uma decisão.
Vale esclarecer que a codificação para identificar onde e como a
decisão foi usada por cada usuário ao executar a rota será sempre
colocada no final da frase, nos quadros existentes.
Caso o voluntário fale de uma decisão ao caminhar, mas que
pretende fazê-la mais adiante, a codificação para identificar o lugar a
que ele se refere será inserida ao lado da palavra. Tem-se o seguinte
exemplo, supondo a decisão de um voluntário: “Vou dobrar no pró-
ximo corredor (n6) à esquerda, c5”. A codificação do lugar significa
que o sujeito verbalizou uma decisão no caminho 5, que será reali-
zada mais adiante no nó 6.
Pela dificuldade de identificar onde a decisão foi verbalizada, ao
planejar a rota, as duas taxonomias de codificação foram usadas
para indicar o lugar a que o usuário se refere. Percebeu-se que alguns
usuários, ao descrever uma rota, muitas vezes verbalizaram de tal
maneira que não houve possibilidade de identificar o local referido
por eles. Para evitar erros de interpretação, não se fez a codificação
quando isso ocorreu. Mesmo assim, foi avaliada a frequência das
palavras relacionadas a decisões no processo de wayfinding.
A codificação usada para identificar onde e como a informação
foi usada por cada usuário ao executar a rota permitiu avaliar três
tipos de informação definidas por May et al. (2003) nos pontos e entre
os pontos-chave de decisão: para prever, identificar e confirmar.
Informação para prever a decisão é usada para alertar o usuário
de que a decisão de navegação em um nó ou um ponto ao longo
do caminho está se aproximando: é uma informação preparatória.
Exemplo: “viro à esquerda quando perceber o final do corredor”.
Informação para identificar a decisão é usada para apontar o
ponto exato na rota. Por exemplo: “Vou virar à esquerda na se-
gunda coluna”.
COLETA DE DADOS
73
de caminhos (c) e nós (n), representação baseada nas duas
taxonomias usadas por May et al. (2003) em seu experi-
mento. Nas horas de erro ou hesitação, o usuário poderia
ser auxiliado pelo mapa tátil. Esse fato foi registrado por um
círculo preenchido pela cor azul ou vermelha sobre a linha
do trajeto: vermelho se o usuário tivesse pedido auxílio do
mapa tátil na sessão de aprendizagem, azul se tivesse pedido
auxílio do mapa na sessão de experimento. Ver apêndice.
» Duas figuras da reprodução do trajeto percorrido feita pelo
usuário. O registro de wayfinding não analisou o erro de repre-
sentação, e sim as decisões de orientação. Ver mais detalhes
no Quadro 2, fase 1 do estudo experimental proposto, etapa 3.
APLICAÇÃO DO ESTUDO
EXPERIMENTAL PROPOSTO
As duas fases do estudo – sessão de aprendizagem e sessão de expe-
rimento – estão apresentadas nas Figuras 2 e 3, a seguir. Também es-
tão explicitadas as etapas, os objetivos das tarefas para cada usuário
e a descrição de como o experimento foi aplicado.
75
Sessão de aprendizagem
Figura 2 Fase 1 do
estudo experimen-
tal proposto.
Figura 3 Fase 2 do
estudo experimen-
tal proposto.
77
Figura 5 Execução da rota.
79
processo de decisão de orientação e navegação de uma rota antes
de sua execução. Portanto, é fundamental equipar edificações de
uso público com sistemas informacionais que integrem informações
gráficas visuais, gráficas táteis, olfativas, sonoras, observando-se as
habilidades e as necessidades de todos os usuários.
Este estudo experimental teve a riqueza de registros de doze vo-
luntários nas tomadas de decisão, verbalizadas e gravadas em áudio,
transcritas em tabelas, e em vídeos, em todas as tarefas solicitadas,
como: entender o mapa; planejar a rota, percorrer o trajeto e repre-
sentá-lo com fitas magnetizadas em chapa metálica. Não foi deter-
minado tempo para terminar a tarefa de cada um. Como consequên-
cia, cada voluntário ocupou uma média de duas horas para terminar
sua participação. Porém, todos se mostraram motivados a colabo-
rar, por terem tido a oportunidade de conhecer um mapa tátil pela
primeira vez e poder realizar um trajeto com autonomia, “vendo”,
expressão deles, um ambiente não familiar com antecedência.
81
Ergonomia, 9º Congresso Brasileiro de Ergonomia, 3º Seminário de
Ergonomia da Bahia, Salvador, 1999.
SCHWERING, A.; KRUKAR, J.; LI, R.; ANACTA, V. J.; FUEST. Wayfinding
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child development and behavior, v. 10, pp. 9-55. New York: Academic
Press, 1975.
onde vivem
os ambientes
sobre como os
dos idosos: uma
idosos percebem
Sob a perspectiva
revisão sistemática
São muitas as preocupações com o rápido
crescimento da população idosa no mundo
e no Brasil, pois, além de estar causando
uma transição demográfica, também causa
impactos na congruência pessoa-ambiente,
ou seja, nas condições ambientais em que o
idoso está presente. Nesse contexto, enten-
der de forma mais aprofundada essa relação
é tentar promover uma melhor qualidade de
vida para os idosos.
Miranda, Mendes e Silva (2016) destacam
que envelhecer não é sinônimo de adoeci-
mento. Há, obviamente, doenças associadas
ao avanço da idade, mas a pessoa idosa pode
ter um bom nível de saúde. Assim, torna-se
fundamental investir em ações de prevenção
ao longo da vida. Em seu estudo, Batistoni e
Namba (2010) apontam que o processo de en-
velhecimento não é uniforme entre as pessoas.
Cada indivíduo tem suas próprias experiências,
87
sua percepção, sua aprendizagem, sua memória e seus marcadores
biológicos e psicológicos do envelhecimento, bem como distintos locais
de residência, estado de saúde e relações sociais, como destaca Lawton
(1983). Cada um desses fatores afeta a pessoa de forma diferente.
Nessa perspectiva, Batistoni (2014) destaca que o envelheci-
mento expõe cada vez mais os indivíduos às influências das condi-
ções de docilidade ambiental, em que quanto menos competente
é um indivíduo, maior é o impacto do ambiente sobre seu compor-
tamento. Enfatiza-se, então, a importância do aging in place, que
sintetiza as vantagens de que o idoso usufrui ao envelhecer no seu
contexto residencial, desfrutando de sua vida comunitária. Assim,
a casa possibilita uma mistura confortável entre individualidade e
comunidade, quer dizer, entre proteção e permeabilidade, pois as
necessidades de segurança aumentam com a idade cronológica,
na medida em que a saúde, a renda e a inserção na estrutura social
mudam, afirma Lawton (1985).
Nesse contexto, refletir sobre a percepção ambiental é importante
para entender o conjunto que compõe o meio físico e a sua relação
direta com os usuários, além do fato de que a percepção se destaca
como uma atividade humana muito importante para o idoso, sendo
relacionada tanto com sua casa quanto com qualquer outro espaço
construído ou natural. A percepção é composta pelos sentidos huma-
nos e tem conexão com o processo cognitivo, fornecendo informação
de orientação em um ambiente a partir dos estímulos captados.
Uma forma de expressão dessa percepção é a qualidade visual
percebida, que está associada a julgamentos perceptuais/cognitivos
e emocionais do idoso sobre um ambiente. Essa avaliação se refere
aos componentes do entorno e aos esquemas mentais pré-exis-
tentes de experiências anteriores às pessoas (SILVA; COSTA FILHO,
2020). De acordo com Nasar (1988), a qualidade visual percebida
parte da percepção que um indivíduo tem dos aspectos físicos am-
bientais (avaliações cognitivas) e dos sentimentos que a cena des-
perta (avaliações afetivas). É perceber seus elementos formais, como
cores, texturas e formas, e atribuir a eles qualidades afetivas, como
percebê-los como agradáveis ou desagradáveis.
Russell (1988) indica que indivíduos diferentes não podem avaliar
afetivamente o mesmo ambiente exatamente da mesma maneira. Isso
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
No cruzamento da percepção ambiental com a satisfação do idoso,
este capítulo apresenta uma revisão sistemática de literatura que
teve como principal objetivo identificar como os idosos percebem os
ambientes onde vivem. Como fundamentação teórica, será exposta
uma abordagem que se desdobrou em três tópicos principais, a sa-
ber: idoso, percepção visual e ambientes construídos.
Sobre o primeiro tópico – o idoso –, pode-se destacar que o
mundo está testemunhando um rápido envelhecimento de sua popu-
lação, além do aumento da expectativa de vida. A respeito do Brasil,
a expectativa é que em 2025 o país ocupe a posição de sexto lugar
mundial quanto ao número de idosos, segundo WHO (2005). Esse pro-
cesso de envelhecimento, aponta Paschoal (2006), mostra as sérias
consequências que são reflexos naturais da idade. Dorneles, Bins Ely
e Pedroso (2006) acrescentam, ainda, que essas limitações afetam a
interação do idoso com os ambientes e, portanto, é fundamental que
os espaços se apresentem acessíveis e seguros a esse público.
Iida (2005) indica que algumas limitações físicas surgem a partir
dos 55 anos. Outras, relacionadas aos sentidos, como a diminuição
da acuidade visual e da audição, também se tornam frequentes com
o passar dos anos. O autor associa, ainda, impactos na memória e no
tempo de reação com o envelhecimento.
Cattelan et al. (2007) e Cunha e Costa (2011) afirmam que nessa
fase da vida o corpo humano perde progressivamente sua capaci-
dade de adaptação (capacidade sensorial) ao ambiente onde está
89
inserido. Dessa forma, com o objetivo de promover uma qualidade
de vida melhor, esses ambientes necessitam estar adaptados às
necessidades dos idosos.
Nessa perspectiva, Almeida, Nogueira e Costa (2018) apontam
que há uma diversidade entre os idosos, que cada um poderá apre-
sentar determinadas limitações e necessidades, potencialidades e
habilidades quanto ao ambiente. Assim, deve-se considerar o pro-
cesso de envelhecimento como dinâmico e progressivo para lhes
garantir um ambiente mais adequado.
Quanto ao segundo tópico – percepção visual –, Bins Ely (2003)
afirma que toda atividade exige um determinado ambiente para sua
realização, porém a percepção das características do ambiente pode
dificultar ou facilitar a sua realização. Assim, a percepção é o pro-
cesso inicial para essa atuação, pois fornece as informações ambien-
tais que guiarão cada tarefa. Nesse contexto, a percepção perpassa
o que Nasar (1988) e Russell (1988) apontam como a qualidade visual
percebida, um constructo psicológico que envolve o reconhecimento
de estímulos visuais e a sua interpretação, associando-os às expe-
riências passadas.
Alves, Figueiredo e Sánchez (2018) apontam que são os estímulos
visuais recebidos do ambiente que proporcionam a compreensão
de elementos arquitetônicos. Nesse contexto, a captação das infor-
mações do ambiente é derivada da percepção visual do entorno.
Segundo Kavakli e Gero (2001), o processo de interpretação de ima-
gens mentais e físicas ativa áreas cerebrais semelhantes às dedica-
das ao reconhecimento de objetos e lugares.
Devido à singularidade de cada ser humano e às experiências
únicas, a percepção do ambiente é processada, interpretada e vi-
venciada de maneiras diferentes, influenciando a forma como cada
um irá interagir com os ambientes. Sobre esse assunto, Costa Filho
(2020) explica que a ciência tenta trazer ordem às experiências que
parecem variadas, procurando consenso ou princípios universais
e, embora inexista consenso para a mesma resposta avaliativa, há
alguns pontos em comum entre os indivíduos. A realidade física
compartilhada, a fisiologia e a cultura, assim como o treino do olhar,
ainda para esse autor, produzem áreas consensuais.
METODOLOGIA
Tratando agora da revisão sistemática de literatura (passo a
passo metodológico) realizada, cumpre inicialmente destacar que
o banco de dados Scopus foi selecionado. A sua escolha se deu por
ser o maior banco de dados de resumos e citações da literatura, com
revisão por pares, além de apresentar uma grande diversificação de
91
artigos. No Scopus, foram buscados artigos com os descritores em Quadro 1 Artigos sele-
língua inglesa: elderly, older people, older person, visual environment, cionados na primeira
perception, environment psychology, environment perception e envi- etapa (o número se
ronmental perception. refere ao resultado da
Os artigos incluídos foram de pesquisas com idosos como público busca, e o número entre
respondente; sem delimitação de tempo; em que os idosos real- parênteses é o total de
mente frequentavam os locais avaliados; com público idoso acima artigos com a aplicação
ou igual a 60 anos de idade; open access; nas línguas português (bra- dos critérios de inclu-
sileiro) e inglês. Já os critérios de exclusão eliminaram pesquisas do são e de exclusão)
tipo editoriais, revisões, cartas e comentários; repetidas; cujo foco Fonte: Elaborado
principal fugisse da percepção ambiental de idosos; envolvessem pelos autores (2021).
idosos com comprometimento cognitivo; não fossem open access.
Para a busca, os operadores booleanos usados foram and e or.
Assim, a combinação dos descritores ocorreu da seguinte forma: el-
derly OR older people OR older person AND visual environment; elderly
OR older people OR older person AND perception; elderly OR older
people OR older person AND environment psychology; elderly OR older
people OR older person AND environment perception OR environmen-
tal perception.
A primeira fase do estudo envolveu a busca pelos artigos no
banco de dados, com a leitura do título dos artigos e os critérios de
inclusão e exclusão estabelecidos, que resultou em 1,984 artigos
(Quadro 1).
RESULTADOS
A seleção dos artigos foi baseada no método PRISMA, que resultou
na elaboração de uma planilha do Microsoft Excel explicitando,
para cada um dos 23 artigos, título, autor(es), objetivo, metodologia
utilizada, amostra, principais resultados obtidos e conclusão. Como
resultados, foram obtidos, ao todo, 24,142 artigos identificados,
sendo 1,984 analisados e 15 efetivamente selecionados para revisão.
Os detalhes podem ser observados na Figura 1.
93
O primeiro artigo, de Wang et al. (2019), objetivou avaliar atributos
perceptíveis do ambiente construído a partir da percepção asso-
ciando-os à saúde física e mental de idosos. Utilizando imagens do
Tencent Street View, a pesquisa investigou atributos do ambiente
construído de 48 bairros do distrito de Haidian, Pequim, China. O
estudo contou com 1.231 idosos.
Os resultados relacionam alguns atributos do ambiente cons-
truído com aspectos físicos e mentais dos idosos. A percepção de
segurança foi relacionada à condição física do idoso. Já o atributo
beleza foi relacionado a condições da saúde mental do idoso. O
estudo traz a importância de melhorar a percepção obtida do am-
biente construído em bairros com população idosa contribuindo
para o desenvolvimento de cidades mais saudáveis.
95
» Neighbourhood environment and cognitive vul-
nerability – a survey investigation of varia-
tions across the lifespan and urbanity levels
97
revelou a casa e os ambientes de vizinhança como capazes de afetar
a qualidade de vida do idoso.
99
Ostrava, na República Checa. Os resultados apontaram que condi-
ções de saúde, oportunidades financeiras (se o idoso é mais ativo ou
passivo), compromissos familiares e mobilidade nos transportes são
as principais fontes de constrangimento; quase um terço dos idosos
mais velhos passam quase todo o tempo em casa com a aposenta-
doria; pouco menos de ⅓ dos entrevistados tem sentimentos de so-
lidão. Os autores, então, concluíram que o isolamento socioespacial
é um fenômeno multidimensional, e que o isolamento e a solidão
são questões dependentes do lugar e do gênero (FRANTÁL; KLAPKA;
NOVÁKOVÁ, 2020).
Por fim, Musselwhite (2018) buscou avaliar como idosos que estejam
quase completamente reclusos em suas casas usam a vista de suas
janelas para se conectar com o espaço externo, em que eles não
podem estar fisicamente. Foram entrevistados 42 idosos do Reino
Unido com idades entre 70 e 90 anos, com problemas de mobilidade,
vistas interessantes e que gostavam de suas janelas.
Os resultados mostraram que os participantes gostavam das
vistas que tinham através da janela, ainda que não fossem esteti-
camente agradáveis. Houve opiniões divergentes quanto ao nível
de atenção dedicada a olhar pela janela, pois uns preferem parar
suas atividades para apreciar a vista, e outros preferem que a janela
seja apenas um plano de fundo, com atenção secundária. Também
houve opiniões diferentes quanto ao posicionamento da cadeira
próxima à janela ou mesmo se há preferência por permanecer em
pé durante o uso enquanto apreciam a vista.
O estudo comprovou que a existência de janelas é muito im-
portante para idosos com mobilidade reduzida, por permitir uma
conexão com o exterior, que, às vezes, é inacessível fisicamente.
Isso impacta de modo positivo os aspectos físicos e mentais dos
usuários, o que deve ser considerado, inclusive por profissionais
de saúde, para possibilitar esse momento de apreciação através da
janela ao usuário idoso.
101
DISCUSSÃO
Concluída a descrição dos 15 artigos selecionados, agrupados nas
três temáticas que perpassam suas abordagens, expostas anterior-
mente, cabe fazer uma discussão sobre a revisão sistemática de
literatura apresentada, que revelou o constante interesse da comu-
nidade acadêmica mundial em compreender o processo de enve-
lhecimento e suas consequências na percepção do ambiente. Em
diversos países, como foi mostrado, estudam-se as necessidades das
pessoas idosas, no sentido do que poderia ser feito para melhorar a
qualidade de vida e o bem-estar desse público.
No tocante ao ambiente construído, foram encontrados estudos
que abordaram o meio urbano, a arquitetura em si, inclusive debru-
çando-se sobre aspectos dos ambientes internos e externos. Como
ênfase dessa revisão, destacaram-se aqueles que relacionavam a
percepção dos idosos e o ambiente construído onde vivem. A principal
característica dos artigos selecionados estava relacionada com a in-
fluência do ambiente – residencial ou urbano – no comportamento do
idoso. Contudo, foram observados outros aspectos igualmente impor-
tantes que também impactam a percepção do idoso sobre o ambiente
em que vive, quais sejam: o aspecto social, a vizinhança, o medo, o
suporte familiar e a estrutura do bairro (transporte, lixeiras, calçadas).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O capítulo apresentou uma revisão sistemática de literatura que teve
como objetivo identificar como os idosos percebem os ambientes
onde vivem, tendo apurado, de forma indireta, que outros fatores
associados a esse aspecto também afetam suas percepções (suporte
familiar, vizinhança, sensação de segurança). A escolha pelo am-
biente construído se deu pelo fato de que, principalmente no Brasil,
o público idoso é muito desconsiderado no seu planejamento. Ao
se pensar no ambiente residencial, onde presume-se que o idoso
está mais presente, quase sempre ele é inadequado às necessidades
desse público. Além do mais, há poucos estudos publicados que
consideram o viés residencial.
103
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2021. DOI: 10.1186/2193-1801-4-S2-O4.
109
Ambientes
residenciais de
idosos e quedas
durante a pandemia
da COVID-19
Laura Bezerra Martins
Tuíra Oliveira Maia
CONTEXTUALIZAÇÃO
A queda é um evento multifatorial conside-
rado problema de saúde pública em diver-
sos países devido às consequências que
pode trazer, como incapacidade e lesões
graves, gerando alta demanda de interna-
ções (GAMAGE; RATHNAYAKE; ALWIS, 2019;
TEXEIRA et al., 2019). No Brasil, o número de
acidentes por quedas é elevado. Cerca de
30% dos idosos têm um evento de queda
pelo menos uma vez ao ano, e aproximada-
mente 2,5% deles necessitam de hospitali-
zação. Destes, metade sobrevive após um
ano. De acordo com dados da Universidade
Federal de São Paulo (USP), 13% dos idosos
caem de forma recorrente, número que au-
mentou 30% na pandemia (CEJAM, 2021).
Os episódios de queda são causados
pela presença de aspectos intrínsecos e
111
extrínsecos. Os fatores intrínsecos envolvem as alterações fisiológicas
decorrentes do envelhecimento, entre elas: déficits cognitivos, condi-
ções crônicas, questões psicológicas, alterações de força, equilíbrio,
marcha, sensoriais e articulares, além de fatores comportamentais
(PHELAN et al., 2015; HUNG et al., 2017; ZHAO et al., 2018). Os fatores
extrínsecos são aqueles externos ao idoso e englobam aspectos como:
uso de medicamentos, condições de calçados, dispositivos de assis-
tência e, sobretudo, características do domicílio (PHELAN et al., 2015).
As características do ambiente em que o idoso vive têm elevada
relevância para a ocorrência de quedas. Esse fato é evidenciado no
estudo de Cavalcante et al. (2012), que mostrou o domicílio inade-
quado como responsável por 57% das quedas de idosos, principal-
mente devido ao piso escorregadio. Da mesma forma, Rossetin et al.
(2016) demonstraram que os riscos ambientais foram determinantes
para quedas em mulheres idosas, e ainda evidenciaram que tais
riscos foram mais importantes do que os fatores intrínsecos avalia-
dos. Ainda assim, poucos estudos demonstram a interação entre os
fatores individuais e o ambiente (HILL et al., 2009).
Desse modo, apesar de todo avanço tecnológico, as quedas e os
acidentes domésticos ainda estão presentes nos domicílios de idosos
devido à tendência de essa população realizar adaptações ambien-
tais inadequadas de mobiliários e ambientes, inapropriadas para as
suas condições físicas, assim como a adoção de medidas preventi-
vas, na maioria das vezes, apenas posteriormente à ocorrência dos
acidentes (MARTINS et al., 2016).
Sabendo-se os possíveis fatores causais e os impactos que as
quedas podem provocar à saúde dos idosos, a problemática torna-se
ainda mais séria, visto que, além de haver uma maior probabilidade
de sofrer quedas, os idosos apresentam menor reação de defesa ao
cair, principalmente devido a limitações de movimento, diminuição
de reflexos e acuidade dos sentidos, redução do equilíbrio postural,
presença de doenças neurológicas e inadequações ambientais.
Logo, diante do panorama atual, o enfoque desta pesquisa parte da
necessidade de mais informações do ambiente em que os idosos estão
inseridos, buscando adotar estratégias de prevenção, resultado das ca-
racterísticas encontradas nas residências. Assim, o objetivo deste estudo
é identificar o perfil ambiental de acidentes ocorridos entre idosos du-
rante no período da pandemia em um hospital público de Pernambuco.
113
moram em residências na zona urbana ou rural, vítimas de quedas
atendidas na enfermaria de um hospital público de Pernambuco no
ano de 2021. Os critérios de exclusão foram idosos residentes em
Instituições de Longa Permanência e idosos com comprometimento
de cognição que pudessem interferir na coleta de dados durante a
realização da entrevista.
Para a coleta dos dados, foi utilizado o questionário Older
Americans Resources and Services (OARS), desenvolvido pela Duke
University em 1978. O OARS é um instrumento com várias dimensões
para avaliar o estado funcional dos idosos, tendo sido validado e
adaptado para a realidade brasileira por Ramos (1987). Será utili-
zada nesta pesquisa parte do instrumento OARS, contendo apenas 7
perguntas. Ela é composta por dois itens: identificação: sexo, idade,
estado civil, tempo e local de residência; perfil social do idoso: nível
de escolaridade e atividade profissional.
Foi realizada, também, uma entrevista semiestruturada para
identificar as características das quedas que não foram obtidas nos
prontuários, com as seguintes informações: número de quedas no
último ano, local da queda, atividade que realizava no momento do
acidente, aspectos de saúde associados com a queda, percepção
dos idosos sobre as causas da queda, questões associadas aos am-
bientes e às atividades realizadas – que provocam nos idosos maior
receio de sofrer acidentes –, existência de algum móvel ou objeto
que oferecesse risco de queda e definição de quais ações ou atitudes
seriam tomadas para a prevenção dos casos relatados.
RESULTADOS
A faixa etária dos participantes variou entre 60 e 86 anos, sendo a
maioria do sexo feminino (76,82%) e viúvos (51,22%). Em relação à
escolaridade, apenas 28% tinham mais de 5 anos de estudo, e 64
idosos do estudo eram aposentados (78,04%), considerando um total
de 82 idosos (Tabela 1).
115
A RESIDÊNCIA
Tabela 2 Características
das quedas estuda-
das pela pesquisa
Fonte: Arquivos
da pesquisa.
117
Figura 1 Piso
escorregadio.
Figura 2 Banheiro.
Figura 3 Batente
do quintal.
119
Em relação às medidas preventivas adotadas pelos idosos para
evitar acidentes dentro de suas residências, 60,9% dos entrevistados
assumem que não realizam nenhum tipo de ação preventiva para
evitar a ocorrência desses acidentes. Em contrapartida, 22 idosos
(26,8%) afirmaram que utilizam equipamentos de tecnologia assis-
tiva, ou seja, usam recursos que ajudam na realização das atividades
funcionais. Desses, 20 idosos faziam uso de dispositivos de auxílio
de mobilidade, como bengalas e andadores, e 2 apresentavam em
suas residências adaptações arquitetônicas para acessibilidade: piso
antiderrapante, barras de apoio e corrimão.
DISCUSSÃO
Os fatores de risco ambientais foram encontrados em todos os
episódios de quedas relatados pelos participantes do estudo, ocor-
ridas no período de pandemia, independentemente do local de
moradia, ou seja, tanto em área rural quanto em área urbana. O
estudo de Sophonratanapokin (2012) demonstrou que os fatores de
risco ambientais são significantes preditores de quedas, visto que
o risco de cair é 1,39% maior entre idosos que residem em casas
com pisos escorregadios (SOPHONRATANAPOKIN; SAWANGDEE;
SOONTHORNDHADA, 2012). O piso desnivelado ou escorregadio foi
o fator de risco mais descrito pelos participantes da pesquisa; além
deste, a falta de equipamentos de apoio e móveis inadequados tam-
bém foi relatada com frequência.
A presença de piso desnivelado e/ou escorregadio é um dos
fatores de risco extrínseco mais comuns nos episódios de quedas
entre os longevos no período de distanciamento social encontrado
nesta pesquisa. Pisos escorregadios podem contribuir para a perda
de equilíbrio em idosos, porém deve-se considerar que o estado de
confinamento e o medo de contaminação podem ter ampliado as
rotinas de limpeza de pisos, o que pode oferecer mais risco devido
à permanência da superfície escorregadia – a desinfecção usando
produtos comprados em lojas e supermercados pode fazer com que
mais superfícies fiquem molhadas, aumentando o risco de quedas
(SANTOS et al., 2021).
121
Não foram encontrados estudos que demonstrassem as diferenças
ambientais entre zona rural e zona urbana com relação aos episódios
de quedas; todavia, os idosos participantes do estudo que moravam
em área rural sofreram mais acidentes no banheiro e na cozinha. Já
na zona urbana, o quarto, a área de serviço e o corredor foram os
locais em que mais ocorreram quedas.
Por um lado, uma das consequências da queda estudada pela
pesquisa foi o medo de cair novamente; a síndrome do medo de cair
é bem comum, servindo para aumentar a preocupação do idoso
em evitar o tombo. Por outro lado, no entanto, observou-se que as
limitações econômicas e sociais se tornam obstáculos para adoção
de medidas preventivas e modificações do local onde os idosos
sofreram o acidente. Essa questão também foi observada no estudo
de Teixeira et al. (2019), que coloca a necessidade de implementar
medidas que minimizam os riscos de quedas em domicílios e, conse-
quentemente, as complicações de saúde que causam.
A temática de acidentes domésticos, sobretudo as quedas, tem
sido objeto de estudos nos últimos anos, porém ainda existem pou-
cos trabalhos sobre os fatores ambientais envolvidos e a prevenção
efetiva das quedas. Dessa forma, com a mudança da expectativa de
vida e o envelhecimento populacional, é fundamental que haja mais
pesquisas para a adoção de medidas que minimizem os riscos de que-
das em domicílio. No entanto, apesar de reconhecer e constatar a ne-
cessidade de modificações ambientais, não se pode ignorar a questão
social limitante, vivenciada por boa parte dos idosos do país. Por isso,
é preciso pensar em medidas intersetoriais que objetivem diminuir a
alta prevalência desses acidentes nas residências de idosos.
Neste estudo, pôde-se identificar como limitação a necessidade
de uma abordagem mais ativa, a partir de visitas às residências dos
idosos para avaliar e analisar o ambiente do acidente. Entretanto,
com o aumento dos casos de COVID-19 e seu alto risco para a popula-
ção idosa, foi evitado o contato direto com essa população e com sua
família, restringindo a coleta de dados apenas ao contato do fisiote-
rapeuta no ambiente hospitalar.
Por fim, deve-se ressaltar que a causa das quedas é multifatorial,
ocorrendo pela combinação de fatores intrínsecos e, sobretudo,
extrínsecos, visto que a maioria das quedas ocorre por inadequações
CONCLUSÃO
Com base no estudo realizado, pôde-se concluir que os fatores
ambientais têm papel fundamental nos episódios de quedas que
ocorrem nas residências de idosos, sobretudo a presença de pisos
escorregadios e/ou desnivelados, ausência de dispositivos arquitetu-
rais de auxílio, como barras de apoio e corrimãos, e o uso de móveis
inadequados. Além disso, quase metade dos casos de quedas ocorre
durante a locomoção, envolvendo tropeções e escorregões.
O local da moradia também pode influenciar a ocorrência de
quedas em determinados ambientes da residência, visto que na área
rural ocorreram mais acidentes no banheiro e na cozinha, e na área
urbana os acidentes ocorreram mais no quarto, na área de serviço e
no corredor.
A abordagem dessa problemática deve considerar a complexi-
dade do fenômeno que envolve, entre outros aspectos, a conscien-
tização dos perigos e a identificação de fatores visando à redução
desses eventos. Destaca-se que estratégias de prevenção de quedas
podem ser mais eficazes se considerarem o ambiente doméstico.
Entretanto, deve-se levar em consideração, que a grande maioria dos
idosos não apresenta condições para adotar as modificações pre-
conizadas nos ambientes residenciais; por isso, é necessário apoio
social por meio de políticas públicas para implementá-las.
Os resultados encontrados podem ajudar a estimular novos es-
tudos que contribuam para preencher essa lacuna do conhecimento
relacionado à influência dos fatores de risco ambientais em aciden-
tes domésticos com idosos, gerando novas práticas preventivas para
atender a uma crescente parcela da população, propiciando segu-
rança, independência e uma melhor qualidade de vida.
123
REFERÊNCIAS
ARAÚJO NETO, A. H.; PATRÍCIO, A. C. F. A.; FERREIRA, M. A. M.;
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elderly according to extrinsic and intrinsic precipitating causes. Eur.
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VIEIRA, L. et al. Falls among older adults in the South of Brazil: preva-
lence and determinants. Rev. Saúde Pública, 2018, 52(22), pp. 1-13.
125
Fatores relacionados
à nocividade de
estímulos e às
cargas demasiadas
em ambientes
de
Manuela Mello Fernandes
Lourival Costa Filho
Durante o surto pandêmico causado pela
covid-19, as empresas e escolas suspenderam
as atividades presenciais, adequando-se às
tarefas remotas. As atividades passaram a ser
realizadas em casa, pelo sistema de home of-
fice. Inicialmente, o período de isolamento foi
visto de maneira positiva, pois permitiu maior
flexibilidade para o trabalho e a realização das
atividades cotidianas da casa e mais tempo
com a família. No entanto, pouco depois, co-
meçaram a surgir uma série de conflitos, visto
que os espaços eram inadequados, afetando
as condições estruturais de trabalho.
Xiao et al. (2021) reforçam que trabalhar
em ambientes sem condições estruturais e
por longas jornadas pode gerar desconforto e
insatisfação em relação à qualidade ambien-
tal (falta de conforto ambiental e estético).
Com o home office, a rotina de casa passa
a afetar o desempenho do trabalho, dado
127
que não há barreiras ou limites que segreguem o ambiente laboral
do lar, delimitação importante para imprimir a percepção de am-
biente de trabalho e das atividades ali desempenhadas, conforme
ressalta Moser (2018), o que acaba gerando o trabalho excessivo do
funcionário, sem limites temporários definidos, acarretando horas
extras exorbitantes e, muitas vezes, não remuneradas (XIAO et al.,
2021). Somam-se a isso fatores como a falta de habilidade com a tec-
nologia e a falta de familiaridade com o mundo virtual, que também
podem ser obstáculos para a adaptação ao home office, conforme
apontam Elliot e Bibi (2020).
Embora o home office sempre tenha existido, com a pandemia da
covid-19 os conflitos de morar e trabalhar no mesmo espaço foram
exacerbados e, com o contínuo avanço pandêmico, o trabalho re-
moto ainda deve perdurar por algum tempo. Segundo o IBGE (2020),
8,7 milhões de pessoas trabalharam de forma remota nesse período,
e, conforme aponta pesquisa da Workana01 (2020), 84,2% dos líderes
das empresas entrevistadas pretendem manter esse regime de tra-
balho. Isso é reforçado por Walsh e Hargrave (2020), bem como por
Araújo e Lua (2021), ao predizerem que parte da demanda de traba-
lho remoto permanecerá, e a vida em sociedade será moldada com
base nisso. Assim, esse momento torna-se oportuno para estudá-los.
Por esse viés, o presente capítulo levantou aportes teóricos a par-
tir de um levantamento do estado da arte sobre a temática exposta,
com o objetivo de identificar fatores relacionados à nocividade de
estímulos e às cargas demasiadas em ambientes de home office.
Para alcançar esse objetivo, a pesquisa bibliográfica foi o mé-
todo escolhido. Nesse sentido, recorreu-se à realização de uma
revisão sistemática da literatura como estratégia para a análise do
que vem sendo abordado nas pesquisas – nacionais e internacionais
– nos últimos dois (2) anos acerca dos estímulos nocivos em am-
bientes de home office.
A contribuição desse levantamento limita-se à identificação de
contextos estratégicos sobre o objeto de estudo exposto para a
129
identificar fatores que influenciem o desempenho de uso pode con-
tribuir para criar ambientes que promovam o bem-estar e a saúde
daqueles que o utilizam.
Diante do exposto, fica evidente a importância de se projetar
ambientes de home office considerando as diversas necessidades
humanas, sejam elas físicas ou psicológicas, para favorecer o prazer
e o bem-estar (VENTURA; COSTA FILHO, 2021).
Elali e Ornstein (2021) reforçam esse contexto ao evidenciar que
um dos papéis sociais de arquitetos e designers é se manterem
conectados às necessidades e às aspirações das pessoas. Essas
necessidades, segundo as autoras, contemplam também aspectos
subjetivos, de maneira que, quando um ambiente físico atende às
necessidades dos usuários, é possível ter um impacto positivo na
realização das atividades.
Costa, Andreto e Villarouco (2011) destacam que as variáveis
envolvidas na identificação da adequabilidade de um ambiente são
muitas, tornando a busca por essa adequação muito complexa,
principalmente quando encarada sob o enfoque da ergonomia,
visto que a disciplina extrapola a consideração apenas de variáveis
físicas, visando a outros diferentes campos do conhecimento, e
trazem uma abordagem inter, multi ou transdisciplinar, como a da
psicologia ambiental.
Segundo Moser (2018), a disciplina estuda a pessoa em seu con-
texto, tendo como tema central as inter-relações, e não somente
as relações entre a pessoa e o meio ambiente físico e social. Assim,
pode-se dizer que a psicologia ambiental envolve a inter-relação
entre o ambiente físico construído e comportamento humano
por meio da percepção, de maneira que, assim como o ambiente
influencia o comportamento humano, este, por sua vez, também
influencia o espaço.
Assim, com ênfase na aplicabilidade dessa área de investigação,
os resultados concretos da psicologia ambiental contribuem para a
tomada de decisões em questões do ambiente, para traduzir essa
contribuição em um design ambiental julgado favoravelmente pelo
público sem deixar para trás as avaliações empíricas ou a percepção/
cognição dos usuários, conectando-se, desse modo, com a ergono-
mia do ambiente construído.
131
sobre fatores relacionados à nocividade de estímulos e às cargas
demasiadas em ambientes de home office.
A partir do método, em sua primeira fase, foi realizado o plane-
jamento da revisão: definidos objetivos, palavras-chave, critérios de
inclusão e exclusão, além de bases de dados da pesquisa. A partir
daí, foram feitas buscas nas bases catalogadas. Para esta pesquisa,
utilizou-se o software Start, associado ao Mendley, e, posteriormente,
os trabalhos foram selecionados através de testes de relevância (TR).
No primeiro TR, são lidos os títulos, os resumos e as conclusões;
no segundo teste, os trabalhos escolhidos são lidos integralmente.
Por fim, são feitos resumos, de modo a criar bases teóricas sobre o
estado da arte. Essas bases foram condensadas em uma tabela para
serem, depois, utilizadas.
A pergunta norteadora foi: “quais fatores estão atrelados à noci-
vidade de estímulos e às cargas demasiadas em ambientes de home
office?”, e, a partir dessa questão, foram iniciadas as buscas. As pes-
quisas foram realizadas por meio de duas bases acadêmicas: Science
Direct (ELSEVIER) e Google Scholar, por abrangeram grande número
de pesquisas.
Quanto aos critérios de inclusão, foram utilizados artigos, jornals,
livros e capítulos de livros, bem como teses de doutorado, publica-
dos entre 2020 e 2022, revisados por pares, escritos em inglês, portu-
guês ou espanhol. Em contrapartida, foram excluídos trabalhos que
tinham apenas o resumo disponível, repetidos e aqueles cujo título
ou resumo não tinha ligação com as palavras-chave da pesquisa ou
do tema investigado.
O Quadro 1 apresenta os resultados dessas combinações, apon-
tando os achados antes e depois de terem sido filtrados.
133
Foi também observado que o termo “ergonomia do ambiente
construído” (ergonomics of the built environment) era mais comu-
mente visto como “environmental ergonomics”, facilitando a busca.
O termo “indoor quality” muitas vezes foi associado ao conforto
ambiental e, por fugir ao escopo da pesquisa, foi eliminado. O uso do
termo “design de interiores” deu-se por trazer mais resultados asso-
ciados aos ambientes domésticos de interiores quando relacionados
ao termo home office, pois o termo “ergonomia do ambiente cons-
truído” teve pouca eficiência, sendo comumente atrelado a ambien-
tes construídos de modo geral, fugindo ao escopo da pesquisa.
Foram realizadas diversas associações com os termos detectados
e as palavras-chave, como pode ser observado no Quadro 1, sendo
encontrados 526 trabalhos. Foram feitas associações a cada 3 pala-
vras, para que a quantidade de artigos não fosse muito restringida,
pois ao associar 4 palavras ou mais o número de trabalhos encontra-
dos era reduzido significativamente.
O número de trabalhos encontrados caiu significativamente ao
realizar o teste de relevância 1, em que foi feita a leitura de resumos,
títulos e palavras-chave. O teste resultou em 246 arquivos. Entre
eles, foram selecionados 112 para leitura da introdução, por deixa-
rem dúvidas sobre a adequação de sua abordagem à pesquisa.Foram
selecionados 100 trabalhos para serem lidos na íntegra. Também
foram utilizados para fundamentação teórica livros e artigos mais
antigos, por serem fontes primárias muito mencionadas nos traba-
lhos encontrados. Dessa forma, a revisão sistemática tornou-se mais
relevante no que diz respeito ao estado da arte sobre o tema desta-
cado, embora mais ampla.
Desse total, 26 trabalhos foram destacados devido à conexão
com o tema ou por serem mais comumente citados. Em sua maioria,
esses trabalhos são de origem norte-americana e foram publicados
em journals entre 2020 e 2022, uma vez que durante esse período os
estudos acerca do home office tenham despertado maior interesse
como objeto de estudo devido à pandemia. Os achados obtidos
com a revisão desses trabalhos serão apresentados nos próximos
parágrafos.
Inicialmente, as pesquisas apontaram que questões como busca
por benefícios oferecidos pelas empresas, humanização, qualidade
135
de decisão; contexto do trabalho, como condições de trabalho,
equipamentos usados, ergonomia; características sociais, como
feedback de colegas e chefia, interação social fora da empresa, apoio
da equipe, entre outros; características cognitivas que têm relação
direta com habilidades, complexidade do trabalho e especialização
do funcionário; e, por fim, os resultados atingidos (outcomes).
Já para Boiko (2021), no que diz respeito ao home office, existem
duas dimensões principais e importantes na avaliação desses am-
bientes: a percepção de tempo e a percepção de espaço. Para esse
autor, no home office os agentes humanos e os não humanos estão
em constante negociação, e o espaço de home office estaria em cons-
tante mudança, sofrendo influências internas e externas.
Sobre o home office, este era considerado pela maioria das pes-
soas como uma situação temporária. Estudos mais recentes, entre-
tanto, apontam uma mudança nessa configuração como reflexo da
covid-19 (BOIKO, 2021; WORKANA, 2020).
Vale ressaltar que há ambiguidade em relação às características
positivas e negativas do home office, entre elas: mais autonomia,
tempo com deslocamento, convívio social, equilíbrio com o tempo
em família. No entanto, é importante lembrar que essas caracterís-
ticas dependem do tipo de trabalho, do gênero e até da composição
familiar, conforme descrevem Araújo e Lua (2020). Isso porque o
ambiente doméstico do lar, onde o home office está inserido, sofre
inferências das dinâmicas familiares, que podem influenciar as ativi-
dades ali desempenhadas.
Tendo sido apresentadas as categorias e as características rela-
cionadas com o ambiente de home office, a seguir serão detalhadas
as questões atreladas aos fatores de nocividade desses espaços,
identificados a partir da revisão sistemática de literatura realizada.
Embora a pesquisa tenha focado nos últimos três anos, alguns
outros estudos foram incluídos por terem sido considerados impor-
tantes para o estudo proposto, auxiliando na compreensão de como
eram os home offices antes e depois do período pandêmico.
As transformações sociais, culturais e até mesmo tecnológicas da
sociedade fazem surgir constantemente novos paradigmas de traba-
lho (GODOY; FERREIRA, 2019).
137
contrato regular, sendo estabelecido por políticas internas entre o
empregador e o funcionário. Além disso, segundo alguns autores, há
um controle da jornada de trabalho por parte do empregador.
Para Godoy e Ferreira (2019), os novos paradigmas de trabalho, em
especial o teletrabalho, apresentam especificidades como a autono-
mia do trabalhador, a flexibilidade de horário, os locais onde podem
ser desempenhados, entre outros, que precisam ser considerados no
projeto do espaço, sobretudo considerando que o exercício laboral
passou a ser realizado na própria residência do funcionário, sendo
necessário adequar os espaços e as ferramentas com os quais ele pró-
prio interage. Desse modo, determinadas responsabilidades, que an-
tes cabiam ao empregador, passam a ser exercidas pelo trabalhador.
Na via proposta, cabe explicar com mais detalhes alguns fatores
comumente apontados nos aportes teóricos acerca do tema investi-
gado. Entre os elementos identificados na revisão sistemática, além
de questões como problemas mentais, insônia e desequilíbrio entre
trabalho e vida social, dois fatores usualmente abordados na psico-
logia ambiental foram identificados, sendo eles: privacidade e es-
tresse. Portanto, cabe detalhar um pouco esses aspectos, visto que,
previsivelmente, eles podem influenciar a experiência em home of-
fice.Um dos aspectos da habitação mais impactados pela pandemia
é a condição de privacidade (VILLA et al., 2021). Embora necessário,
o isolamento social trouxe ao lar todos os membros da família e suas
respectivas atividades cotidianas. A tecnologia, ainda que tenha sido
um ponto positivo, no sentido de permitir a realização dos trabalhos
de maneira remota, também expôs os lares e as intimidades das
pessoas.Esse argumento é corroborado por Lee (1977) e, segundo o
autor, o entendimento de privacidade implica um equilíbrio consi-
derado ideal entre a capacidade do indivíduo de se isolar e se tornar
acessível aos outros. Para o autor, essa noção de privacidade é, em
sua maior parte, determinada pelas normas da sociedade.
Segundo Elali (2009), para desenvolver a capacidade de regular
as condições de privacidade, é preciso que o sujeito esteja em cons-
tante conexão consigo e sua com identidade, para, assim, reconhe-
cer seus limites em contato com outros. Em outras palavras, quais
“aspectos do ambiente físico e social são partes de si, e que aspectos
são partes dos outros” (ELALI, 2009 apud ALTMAN, 1976, p. 25).
139
Moser sumariza o conceito de estresse dizendo que este “é um
conjunto de processos usados para intermediar a excitação neuro-
vegetativa que uma estimulação ambiental produz” (MOSER, 2018,
p. 46). Portanto, todo estímulo ambiental demasiado – excesso de
cargas e impulsos que provocam no indivíduo um processo de regu-
lação – é considerado estresse.
Diante do contexto apresentado, bem como das consequên-
cias para os usuários de home office, surge um dos mais relevantes
pontos da temática aqui abordada, a sobrecarga ambiental, que,
quando prolongada – como condição de atividades que exigem mais
do exercício cognitivo e requerem maior capacidade de tratamento
de informação –, pode tornar-se nociva, promovendo condições de
estresse e fadiga.
Moser (2018) ressalta que o excesso de estímulos diminui a ca-
pacidade de se atentar, o que, por sua vez, dificulta focalizar deter-
minados impulsos. Assim, o indivíduo passa a ignorar os estímulos
“periféricos”. Segundo o autor, o excesso de informação ambiental
pode gerar uma dificuldade de leitura do espaço, promovendo má
interpretação espacial, além de incômodo e frustração. Ainda para o
autor, outros fatores, como a perda de controle e de convívio social,
além de previsibilidade e de adaptabilidade, também podem interfe-
rir na percepção ambiental, causando nocividade.
Desse modo, ao ser exposto a pressões ambientais demasiadas,
o indivíduo desenvolve a percepção da perda de controle e, assim, o
sentimento de impotência molda o comportamento, transformando-
-se em reações emotivas, como estresse, raiva e mudanças de humor.
Com base no que foi apresentado, elencam-se a seguir, no
Quadro 3, outros pontos, positivos e negativos, identificados na RSL
sobre estudos acerca de home office.
Necessidade de reali-
zar multitarefas
141
nas jornadas de trabalho, entre outros fatores, o que indica que,
embora a covid-19 tenha exacerbado tal situação, os conflitos rela-
cionados a essa modalidade de trabalho sempre existiram.
Assim, o conjunto de atividades exercidas no home office precisa
ter um ponto de equilíbrio, para que os fatores relacionados à nocivi-
dade de estímulos e às cargas demasiadas nesses ambientes não se
tornem exaustivas para seus usuários frequentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os trabalhos identificados na revisão de literatura realizada corro-
boram com a hipótese de que os ambientes de home office carregam
conflitos que elevam as sobrecargas ambientais, relacionadas à noci-
vidade de estímulos e às cargas demasiadas nesses ambientes.
Algumas das pesquisas acessadas abordam a necessidade de
identificar variáveis que provocam cargas de estímulo excessivas,
bem como a necessidade de investigar formas de tornar os ambien-
tes mais saudáveis. Outro ponto relevante foi que a pandemia fez
aumentar o interesse pelo objeto de estudo investigado, mas que,
comumente, estão mais relacionados com às áreas da saúde e não
do ambiente construído.
Com relação ao objetivo definido inicialmente, de identificar
fatores relacionados à nocividade de estímulos e às cargas de-
masiadas em ambientes de home office, foram levantados fatores
relacionados com problemas de saúde, como síndrome de burnout,
estresse, insônia ou cansaço por noites mal dormidas; fatores de or-
dem organizacional, como isolamento, longas jornadas de trabalho
(presenteísmo), falta de apoio por parte da empresa, progressão de
carreira mais limitada, dificuldades com a tecnologia e necessidade
de realizar multitarefas (cuidar das tarefas da casa e dos filhos en-
quanto trabalha); e fatores de ordem social, principalmente falta de
privacidade e de controle.
Contatou-se, entretanto, a carência de estudos publicados que
versem sobre fatores ambientais de home office relacionados com
a nocividade de estímulos e as cargas demasiadas nesse tipo de
espaço, o que demonstra a contribuição deste levantamento com a
143
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, T. M.; LUA, I. O trabalho mudou-se para casa: trabalho
remoto no contexto da pandemia de COVID-19. Revista Brasileira de
Saúde Ocupacional, 2021, v. 46, pp. 1-11.
145
ergonomia e tecnologia [em foco]. v. 2. São Paulo: Blucher, 2021. ISBN:
9786555501124. DOI 10.5151/9786555501124-05.
149
início da infância (GUPTA; APPLETON, 2001). Essas consequências não
são progressivas, ou seja, não avançam conforme é atingida a idade
adulta, mas são suscetíveis a mudanças em decorrência de fatores
diversos, como o crescimento ósseo.
Evidências apontam que há uma influência direta dos espaços
físicos com a saúde e o bem-estar das pessoas (PECCIN, 2002, apud.
BENYA, 1989). O design de espaço projetado para o usuário é capaz
de tornar o ambiente mais seguro e saudável para os pacientes e um
lugar melhor para os funcionários (ULRICH et al., 2008; ANDRADE et
al., 2013). Nesta pesquisa, os pressupostos teóricos e metodológicos
da ergonomia foram aplicados à área da saúde, a fim de melhorar
a compreensão sobre o espaço de trabalho do fisioterapeuta que
atua diretamente com pessoas com PC, com o propósito de propor
ambientes mais afetivos.
A ergonomia, como disciplina científica, busca relacionar as inte-
rações entre os seres humanos e os sistemas a partir de métodos e
ferramentas com o objetivo de aprimorar o desempenho global do sis-
tema (IEA, 2000). Intitula-se ergonomia do ambiente construído (EAC)
quando ela está focada na relação humano-tarefa-ambiente. Esse
campo de pesquisa preocupa-se com a avaliação e a adequação dos
ambientes às atividades desenvolvidas, sempre atentando às necessi-
dades físicas, cognitivas, organizacionais e emocionais dos usuários.
Nesse cenário, as autoras desta pesquisa aplicaram os conceitos
e ferramentas da EAC para a obtenção de resultados que favoreçam
um espaço adequado das salas de fisioterapia para o tratamento de
pacientes com paralisia cerebral. O trabalho apresenta uma análise
do ambiente para além dos aspectos normativos de conforto tér-
mico, acústico e lumínico. As características de acessibilidade e de
fluxos de deslocamento foram associadas à percepção de conforto
da fisioterapeuta de uma clínica de fisioterapia, a fim de proporcio-
nar melhores condições de trabalho aos profissionais da área.
A justificativa desta pesquisa é a baixa incidência de investiga-
ções sobre a influência do ambiente na saúde de pacientes com PC
em espaços de tratamento de permanência curta ou intermitente,
bem como pelas tímidas pesquisas que avaliam as questões ergonô-
micas dos espaços de trabalho sob a perspectiva dos fisioterapeutas
(LÔBO; VILLAROUCO, 2021).
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
151
global, coordenação motora fina, organização temporal, organiza-
ção espacial e lateralidade.
O DNPM tem na motricidade sua principal atuação, tendo reflexos
na aprendizagem, uma vez que a capacidade motora é considerada
um indicador do desenvolvimento humano (PAPALIA; OLDS, 2000).
Por isso, o atraso no DNPM apresenta uma condição que pode inter-
ferir na instrução, pois a criança não alcança habilidades esperadas,
algo identificado por meio de escores mais baixos do que os reco-
nhecidos na população normativa.
A paralisia cerebral (PC), também conhecida como encefalopa-
tia crônica da infância, é uma doença não progressiva e pode ser
definida como “um distúrbio permanente, embora não invariável,
do movimento e da postura, devido a defeito ou lesão não progres-
siva do cérebro no começo da vida” (FERRARETTO; SOUZA, 1998). O
termo foi proposto em 1897 por Freud, tendo sido posteriormente
consagrado por Phelps.
Na ocorrência da PC, uma alteração dos movimentos motores
causada por lesões, danificações permanentes ou disfunções rela-
cionadas ao sistema nervoso central (SNC) é a característica classifi-
catória no diagnóstico final. As origens da doença podem ocorrer no
período inicial gestacionário (malformações congênitas), durante o
parto (falta de oxigenação cerebral ou uso do fórceps) ou no início da
infância (infecções cerebrais).
Por não ser uma doença progressiva, a PC não evolui com o
passar do tempo; entretanto, algumas características podem se
transformar com o desenvolvimento e o crescimento corporal nes-
ses pacientes – é o caso do estirão do crescimento, capaz de alterar
a estrutura corpórea da criança a partir dos 8 ou 9 anos, podendo
causar compressão de órgãos ou deficiências ósseas em crianças
com PC, gerando pioras significativas no quadro clínico.A fisiote-
rapia tem função direta para esses pacientes, pois atua na inibição
da atividade reflexa anormal, corrigindo o tônus muscular e, assim,
facilitando o movimento do corpo, otimizando a função e reduzindo
a incapacidade. Os estudos medicinais indicam que os alongamen-
tos musculotendinosos devem ser lentos e realizados diariamente
para manter a amplitude de mobilidade e reduzir o tônus muscular
(GUPTA; APPLETON, 2001).
153
Desde 2001, a OMS publicou um documento intitulado International Figura 2 Modelo
Classification of Functioning, Disability and Health (ICF – CIF em por- biopsicossocial da
tuguês), considerado um marco no debate sobre a deficiência. Nele, deficiência (MBD).
o termo “deficiência” deixou de ser estritamente biomédico para Fonte: Research
assumir um caráter sociológico e político, uma linguagem universal Gate (2019).
para políticas públicas, pesquisas científicas e iniciativas internacio-
nais. Atualmente, está vigente o modelo biopsicossocial (MBD), fruto
de uma revisão do sistema classificatório (Figura 2).
De acordo com a CIF, os elementos que compõem a classificação
são 3: 1) Função e estrutura do corpo; 2) Atividade e participação; 3)
Fatores pessoais e ambientais. Esses elementos definem as limita-
ções do indivíduo e geram o alcance da deficiência como moderado,
grave e completo.
155
será considerada a norma do Ministério da Saúde, por estar em
maior conformidade com a situação adequada.
As normas regulamentadoras que indicam as diretrizes neces-
sárias para o funcionamento das edificações exploradas abrangem
desde a Norma de Higiene Ocupacional 11 (NHO 11) até a NBR ISO/CIE
8.995-1 (2013) e a NBR 5.413, relacionadas com a NBR 10.152 (2017) e a
NBR 9050 (2020). Todos esses fatores foram colocados em destaque
na avaliação dos aspectos físicos dos ambientes escolhidos como
estudo de caso, servindo como base para os parâmetros a serem
determinados na evolução da pesquisa.
A Clínica Pepita Duran, em Recife (PE), foi selecionada por ser
uma instituição privada com facilidade de acesso às informações e
reconhecida pela excelência do serviço prestado pelos profissionais
de fisioterapia às pessoas com PC a partir do Selo de Certificação
PLENO de Qualidade FENAFISIO, recebido em 2020.
157
do indivíduo para que se tenha um resultado coerente e conciso
acerca da experiência do usuário.
A Norma de Acessibilidade de Pessoas Portadoras de Deficiências
em Edificações, Espaço, Mobiliário e Equipamentos Urbanos (NBR
9050/20) determina valores mínimos para o estabelecimento de
conforto, desempenho e segurança no desenvolvimento de ativi-
dades relacionadas à acessibilidade dos ambientes. O espaço aqui
definido se estende nas dimensões físicas, nas atividades inseridas e
no significado alcançado, sendo este último uma síntese da relação
homem-atividade-ambiente aqui exposta.
A ESTRATÉGIA METODOLÓGICA
O método da presente pesquisa contemplou as duas primeiras ma-
crofases da metodologia de intervenção ergonomizadora do sistema
humano-tarefa-máquina (SHTM), proposta por Moraes e Mont’Alvão
(2012), com aplicação de ferramentas da metodologia ergonômica
aplicada para o ambiente construído (MEAC), desenvolvida por
Villarouco (2007) (Figura 3).
A SHTM apresenta-se como um caminho metodológico para o de-
senvolvimento de projetos e produtos ergonômicos, recomendada
também para análise de posto de trabalho. Nas fases da apreciação
e diagnóstico ergonômico, são colhidos e tratados os dados que
resultam na projetação ergonômica, seguida de validação e deta-
lhamento projetual. Já a MEAC se propõe a verificar a adequação
ergonômica de espaços construídos em duas etapas: a primeira de
ordem física do ambiente, e a segunda de identificação da percep-
ção do usuário em relação ao espaço, ou seja, tem relação com a
experiência do usuário no ambiente.
Figura 3 Estratégia
metodológica da pes-
quisa.Fonte: elaborada
pelos autores (2021)
com base em Moraes
e Mont’Alvão (2012) e
Villarouco (2007).
159
A fase de apreciação ergonômica foi dividida em duas etapas: 1)
análise das características físicas dos espaços (conforto térmico;
acústico; lumínico; fluxo de deslocamento; acessibilidade e layout
dos ambientes), bem como a dinâmica do fluxo de pessoas e sua
Fonte: elaborado
pelos autores (2021).
161
complementar ao diagnóstico ergonômico, foi realizado um breve Figuras 5, 6 e 7 Planta
registro de comportamento a partir de anotações sobre manobras baixa C03 e consultório
e deslocamento dos terapeutas, visando compreender a relação do de fisioterapia 03.
usuário com os artefatos do espaço de trabalho. Fonte: elaboradas
pelos autores (2021).
ANÁLISE EM CAMPO
Figuras 11, 12 e 13
Armários, plataforma,
bolas, bancos e rolos.
Fonte: elaboradas
pelos autores (2021).
163
Depois da observação e da descrição do espaço da sala C03, pode-
-se caracterizar o sistema-alvo, posto de trabalho do fisioterapeuta,
como previsto na metodologia SHTM (Figura 14).
Figura 14
Caracterização do
posto de trabalho do
C03.Fonte: elaborada
pelos autores (2021).
165
ANÁLISE DA TAREFA DO FISIOTERAPEUTA Fonte: elaborada
NO TRATAMENTO DE PESSOAS COM PC pelos autores (2021).
167
Figura 16 Fluxo
da tarefa.
Fonte: elaborada
pelos autores (2022).
169
Nas Figuras 25 e 28, a terapeuta utiliza seu corpo como ferramenta
para auxiliar na execução da atividade. Na figura 26, ela é apenas
apoio para o paciente. Já a Figura 27 mostra a pior postura obser-
vada no desenvolvimento da terapia, podendo ser relacionada à má
execução do movimento, em razão do porte do paciente, gerando a
amplificação do uso do corpo pelo profissional.
Durante a entrevista realizada com a profissional, foram relata-
das dificuldades relacionadas ao atendimento de pacientes de maior
porte, evidenciando o quesito citado, além de uma observação
importante acerca do esgotamento físico quando executa o atendi-
mento desses pacientes de maneira individual.
A fisioterapeuta apresentou as respostas sobre a descrição do
ambiente pautadas em aspectos organizacionais (como layout)
e dimensionais do espaço, além de ter sido pontuado, em quase
todas as respostas, a importância para o funcionamento da sala
com a presença dos equipamentos e dos objetos necessários para o
tratamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O método proposto para a pesquisa se mostrou eficaz para obten-
ção dos resultados com a participação direta da fisioterapeuta. A
mensuração dos aspectos físicos de conforto ambiental (lumínico,
térmico e acústico), associada aos aspectos cognitivos de percep-
ção ambiental e registro das atividades, possibilitou o entendi-
mento das características de maior interferência na atuação dos
fisioterapeutas.
As regras mínimas para conforto lumínico, acústico e térmico
devem atender o mínimo exigido na normativa vigente. A luz natu-
ral se mostra como um elemento perceptivo positivo para esse tipo
de estabelecimento, desde que não gere distração nem perda de
privacidade. Os espaços de terapia podem fornecer som ambiente
que possa ser acionado ou desligado conforme a solicitação do
terapeuta, em função da concentração dos usuários.A pesquisa res-
saltou que os EAS devem atender os valores mínimos exigidos pelas
normas vigentes para conforto lumínico, acústico e térmico, sendo
destacada a necessidade de uma iluminação direcionada à ativi-
dade exercida no momento do tratamento com as pessoas com PC.
O layout dos EAS precisa considerar a locomoção dos usuários de
cadeiras de rodas, bem como seus acompanhantes, além de delimi-
tar uma área de atividades no chão, uma vez que poderão ser neces-
sários equipamentos de interatividade ou espaço livre para a criação
de circuitos.O estabelecimento de pausas sistemáticas e alonga-
mentos pode ser inserido no período de trabalho do profissional,
171
evitando a fadiga muscular e as lesões por esforços repetitivos. Os
estabelecimentos devem prever a coparticipação de profissionais
durante a sessão quando os pacientes apresentarem a necessidade.
Por exemplo, aqueles que possuem massa corpórea de grande porte
podem ser tratados por dois profissionais simultaneamente.
Com isso, as recomendações ergonômicas foram propostas para
auxiliar profissionais de fisioterapia, percebendo que o cuidado com
o outro é tão importante quanto o cuidado com si próprio. Assim, a
ergonomia do ambiente construído pode ser uma boa ferramenta
de análise, bem como de projetação para espaços mais afetivos
para o paciente e o profissional de saúde. Por fim, recomenda-se a
execução de uma análise postural dos profissionais envolvidos, a
fim de aprimorar as recomendações observadas e ratificar os dados
obtidos.
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. RDC 50: Regulamento
Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de
projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Brasília:
ANVISA, 2002.
173
FERRARETTO, I.; SOUZA, A. M. C. Paralisia cerebral: aspectos práticos.
São Paulo: Memnon, 1998.
ULRICH R. S.; ZIMRING C.; ZHU X.; DUBOSE J.; SEO H.-B.; CHOI Y.-S;
et al. A review of the research literature on evidence-based healthcare
design. Estados Unidos: Health Environments Research & Design
Journal, 2008.
175
Capas de livros de
literatura: efeitos
de coerência,
complexidade
e novidade na
preferência visual
percebida
Guilherme Ranoya Seixas Lins
Letícia Lima de Barros
177
maior ou menor sensibilidade e de seu repertório cultural, técnico e
profissional” (GOMES FILHO, 2008, p. 103). Ao considerar três cate-
gorias preditoras da preferência visual pelo entorno,01 tencionou-se
avaliar, dentro da relação leitor-livro, como os elementos estéticos
podem ser organizados para promover o envolvimento do leitor e
fazer sentido para ele. Atenta-se, também, para a atribuição da capa
como elemento que recepciona o leitor em seu primeiro contato
com a edição.
Iniciando sua trajetória – sendo compreendida como um recurso
protetor do papel que contém o corpo textual – para posteriormente
ganhar reconhecimento como um meio diferenciador de edições
frente aos demais exemplares, a capa do livro passou a se constituir
como uma espécie de “embalagem” do impresso. A atenção direcio-
nada ao invólucro surge na década de 1820, “com o aumento verti-
ginoso das edições, coerente com o processo de industrialização do
início do século XIX. É uma revolução que muda a apresentação do
livro e a sua relação com o leitor” (MACHADO, 2017, p. 10). O material
passa a ser compreendido como essencial, dada sua natureza dual
de prover conservação ao miolo e estimular o interesse dos leitores.
Alinhados à proposta de envolvimento do leitor e de fazer sentido
para ele, os aspectos estéticos das capas de livro também são confi-
gurados para conduzir as primeiras inferências sobre a obra contida
nas páginas do impresso, conforme se constrói um significado para
a articulação observada entre os elementos ali presentes. Ainda que
o design de capas de livros esteja sujeito a diversas variáveis – como
público-alvo, parâmetros gráficos da editora, solicitações do escritor
e tendências de mercado, ou seja, um projeto que deve atender às
necessidades mercadológicas –, sua elaboração pode recorrer a de-
terminadas alternativas para organização gráfica. Magalhães e Santos
(2018) destacam algumas dessas possibilidades: a capa pode ser criada
tomando o conteúdo textual da obra como referência ou, no caso de
edições de diferentes nacionalidades, recriada a partir da capa original
do livro, em vez de utilizar diretamente o texto como base; também
01 As partes predominantes do entorno elaborado pelo ser humano são formadas por
objetos arquitetônicos e produtos industriais (LÖBACH, 2001).
FUNDAMENTOS TEÓRICOS
A qualidade visual percebida deve satisfazer o público que a expe-
riencia, e não o especialista, principalmente em relação ao entorno
observado, elencando classificações em relação aos seus aspectos
formais e sua aparência, como quantidade de elementos e cores
179
presentes, ou o que as pessoas sentem sobre eles, apontando o quão
agradável, estressante ou interessante pode parecer aos olhos do
observador ou do usuário (NASAR, 1987).
Esse constructo psicológico é, por definição, um julgamento emo-
cional, abrangendo avaliação e sentimentos. De acordo com Russell
(1988), a avaliação afetiva ocorre quando se qualifica algo como
detentor de uma qualidade afetiva, como estressante ou emocio-
nante. Aproxima-se do emocional na medida em que diz respeito a
sentimentos afetivos, mas também é associado à cognição, já que é
um aspecto sobre como alguém interpreta algo. Dada a combinação
entre interpretação e afetividade, a qualidade atribuída ao objeto é
um elemento essencial para o entendimento do significado integral
a ele vinculado, assumido empiricamente. A atribuição verbal é uma
possibilidade de dimensionamento da avaliação afetiva para distin-
gui-la de outros fenômenos afetivos. Assim, para diferenciá-la dos
demais aspectos da interpretação, o significado identificado para o
objeto pode ser dividido entre:
181
seu cotidiano. Dados objetos poderão ser ignorados por aqueles que
têm contato frequente e por outros que lidam com ele pela primeira
vez. Pessoas diferentes poderão avaliar o mesmo objeto de formas
distintas. O autor ainda assinala que os descritores do sistema não
constituem um conjunto mutuamente exclusivo e formalmente defi-
nido, mas, conforme suas propriedades são reconhecidas por quem
avalia afetivamente, os conceitos se mostram compreensíveis e úteis.
As impressões diante da avaliação direcionada ao objeto também se
relacionam à percepção e à preferência.
Conforme considerações de Kaplan (1988), a percepção é tida não
somente como capaz de lidar com as informações sobre o objeto,
mas como apta a fornecer informações acerca das possibilidades
relacionadas ao propósito das pessoas, sendo a resposta ao objeto
condicionada pelo propósito do indivíduo para aquela interação. A
partir dessa intencionalidade, a preferência pode ser compreendida
como o ato de notar e reagir ao objeto em termos de sua utilidade e
seu apoio. Destacando o papel do processo perceptivo como intrin-
secamente conectado aos propósitos dos indivíduos – e, talvez, com
a preferência humana –, o autor nomeia dois propósitos humanos
persistentes: envolvimento e fazer sentido.
Dessa forma, a preferência visual percebida para o entorno é
evidenciada pelos processos de fazer sentido e envolvimento. O pri-
meiro diz respeito ao interesse em entender o que acontece no aqui
e agora. É o componente voltado à organização do objeto, visando
à compreensão da cena; inclui o que pode tornar esse mapeamento
mais simplificado (KAPLAN, 1988). O segundo se refere à descoberta,
ao estímulo. Atrela-se às possibilidades identificadas no objeto, na
intenção de processar as informações ali contidas de modo bem-su-
cedido, enfatizando a riqueza de alternativas. Embora pareça que os
dois processos caminham em direções opostas, Kaplan (1988) aponta
a existência de cenas que podem fornecer compreensão e estímulo
simultaneamente, assim como outras que omitem ambas as possi-
bilidades, além de, também ponderar que a possibilidade de envol-
vimento não implica necessariamente na condição de a cena fazer
sentido; há uma variedade de combinações possíveis. Dado o caráter
de persistência desses processos, conforme comenta o autor, os
entornos que reúnem esses componentes seriam, então, preferidos.
183
coerência – uma variável de ordem – não é uma das variáveis colati-
vas, mas atua no papel de fornecer suporte para elas, auxiliando na
redução da incerteza figurada entre as colativas. Também é válido
pontuar, a partir de Costa Filho (2020), que a conceituação proposta
por Berlyne salienta a percepção e a preferência por um nível mo-
derado de complexidade para o estímulo; enquanto Kaplan (1988)
guia-se por uma abordagem cognitiva, substituindo o estímulo
pelo processamento de informações percebidas no entorno, o que
permite a preferência pelos sujeitos. Tal preferência seria, então,
por entornos que façam sentido (atrelado à coerência) e que sejam
envolventes (vinculado à complexidade).
Ao lado da complexidade, a novidade se constitui como uma das
variáveis colativas. Ela se refere ao quão atípico determinado com-
ponente é entendido dentro de um cenário. Designa-se um objeto
ou ambiente como incomum, segundo o conjunto de elementos e
suas relações dentro de um sistema, variando conforme a familia-
ridade do observador diante da cena (NASAR, 2000). À medida que
o sujeito experiencia ocorrências, as partes do local passam a ser
visualizadas como típicas, dada a capacidade de reconhecimento
adquirida. Sendo uma variável colativa, a novidade, portanto, se
relaciona a uma comparação interna entre os componentes perce-
bidos, de forma a confrontar o objeto estimulante e as expectativas
do sujeito. Nasar (2000) ainda afirma que há distintas considerações
sobre a preferência em relação a essa variável: embora pessoas
pareçam preferir níveis baixos de novidade, há constatações teóricas
que sugerem preferência por novidade; enquanto outras vinculam
a familiaridade como mais propensa a uma avaliação positiva, em
oposição à novidade. Como uma resposta a essas variações, pode-se
propor a novidade como atrelada ao quão complexo o estímulo pode
ser, enquanto o nível de familiaridade se constituiria como o recurso
apto a fornecer certo nível de ordem à complexidade, de modo que a
preferência é sugerida pela familiaridade em cenas complexas, tam-
bém associando-se à experiência do observador diante de determi-
nadas cenas (que pode ser adquirida de forma indireta, como através
de fotos), enquanto a novidade seria favorecida quando apresentada
em cenas simples, conectada às propriedades físicas do entorno, em
termos de atipicidade ou tipicidade, avaliadas em uma combinação
MÉTODOS E TÉCNICAS
A pesquisa realizada é entendida como aplicada, utilizando o ferra-
mental teórico em estudo de caso com grupo específico de indiví-
duos, de abordagem quali-quantitativa. A observação direta e ex-
tensiva, com o auxílio de um questionário, foi utilizada na coleta de
dados analisados por meio de tabela de distribuição das frequências.
A elaboração do questionário levou em conta as três categorias
tomadas para estudo, indicadas também por letras [(X) contraste, (Y)
complexidade, (Z) novidade]. Os elementos internos dessas cate-
gorias podem ser organizados de forma semelhante a uma análise
combinatória, produzindo 12 diferentes conjuntos (X2 x Y2 x Z2 = 12)
ou situações a serem empiricamente avaliadas. O número de ele-
mentos de estímulo a ser apresentado aos sujeitos avaliadores, por
185
conseguinte, deve totalizar 12 imagens de capas de livros de litera- Fonte: elaborado
tura, expressando o modo como os elementos que definem a investi- pelos autores da
gação se relacionam (Quadro 1). pesquisa (2021).
187
os pensamentos e as soturnas fantasias engendradas
mais cedo, quando o poente fazia com que as nuvens
fantasmagóricas que ali nos Cárpatos parecem des-
lizar incessantemente por entre os vales parecessem
estar em alto-relevo. (STOKER, 2014, p. 15)
X2Y3Z2
X2Y2Z2
X2Y3Z1
X2Y2Z1
X1Y3Z2
X2Y1Z2
X1Y2Z2
X1Y3Z1
X1Y2Z1
X2Y1Z1
X1Y1Z2
X1Y1Z1
nada 0 0 2 3 2 2 0 0 1 2 2 0
pouco 3 9 5 3 1 1 0 0 4 3 3 2
mais ou 4 6 3 2 6 2 6 0 7 4 3 1
menos
muito 7 2 5 5 4 3 10 5 6 5 4 5
demais 4 1 3 5 5 10 2 13 0 4 6 10
189
Pelas características citadas, a capa de livro preferida pelos Figura 3 Capas de
estudantes participantes, destacada na Tabela 1, omite determina- livros de ficção gótica
das evidências empíricas esperadas; ao passo que a capa percebida preferida (capa 08 –
como preterida, igualmente realçada na Tabela 1, coincide com X2Y2Z1) e preterida
sugestões teóricas apresentadas no referencial adotado. A avaliação (capa 04 – X2Y1Z2),
dos participantes destacou a imagem 08, apresentando contraste respectivamente, de
alto (coerência baixa), complexidade moderada e novidade típica, acordo com as avalia-
como a capa preferida do conjunto, destacada como tendo maior ções dos participantes.
qualidade visual percebida; enquanto a cena 04, com contraste Fonte: elaborada
alto (coerência baixa), complexidade mínima e inovação, foi julgada pelos autores da
como preterida e, portanto, com menor qualidade visual percebida pesquisa (2021).
(Figura 3).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A capa do livro editado no Brasil, em seu princípio, apresentava-se
como “apenas a reprodução, em papel cinza ou amarelo, dos carac-
teres tipográficos da página de rosto” (HALLEWELL, 2012, p. 364), até
alcançar reconfigurações para arranjos de imagem e texto que viriam
a tornar o Brasil como “um dos países mais ricos na expressão cul-
tural desse ramo do design” (CARDOSO, 2005, p. 164). Este capítulo
intencionou realizar um recorte das capas de livros brasileiros sob os
parâmetros da preferência visual percebida, considerando, também,
a relevância do material no contexto nacional.
Ao verificar as avaliações realizadas em torno da avaliação dire-
cionada ao objeto de estudo aqui selecionado, capas de livros de
ficção gótica, visualiza-se a delimitação de preferências e não pre-
ferências visuais percebidas pelos sujeitos avaliadores, apuradas a
partir das características de coerência, complexidade e novidade.
Esse conteúdo, cumpre destacar, relaciona-se com a qualidade visual
percebida em aspectos visuais presentes nas capas.
Percebeu-se que, mesmo com as variadas experiências dos
respondentes, há pontos em comum nas respostas avaliativas. As
191
evidências empíricas levantadas sugerem que a preferência visual
percebida em capas de livros de ficção gótica tenha uma inclinação à
compreensão facilitada, com variações moderadas em seus elemen-
tos estéticos, além da vinculação da familiaridade como mais pro-
pensa a uma avaliação positiva. Tudo isso a partir do entendimento
da qualidade visual percebida como um recurso aprimorado pelas
categorias preditoras da preferência.
Em resposta ao objetivo traçado, os resultados empíricos apura-
dos alinham-se ao referencial teórico por demonstrar a redução da
preferência para capas com contraste alto (coerência baixa) e com-
plexidade mínima. A capa de livro preferida (capa 08 – X2Y2Z1), por
sua vez, parte em direção contrária aos efeitos especulados, no que
diz respeito a uma capa com contraste alto (coerência baixa), mas
corrobora com as sugestões teóricas para a complexidade mode-
rada. Nesse contexto, a característica de novidade pode ser vista
associada à preferência visual percebida em capas com elementos
que atribui familiaridade aos sujeitos avaliadores, enquanto a ino-
vação dos elementos representa o oposto para eles, ou seja, menor
qualidade visual percebida. Com relação a essa última característica,
ainda cumpre destacar que o referencial levantado pontua a instabi-
lidade da predileção pela novidade.
A pesquisa teve seu desenvolvimento em meio ao contexto pan-
dêmico da covid-19. O formulário se mostrou viável para a coleta de
dados, possibilitando o cumprimento dos protocolos de segurança
necessários por utilizar um questionário online e, portanto, ope-
rar de forma remota. Identificou-se apenas uma certa variação de
envolvimento por parte dos sujeitos; foi necessário reenviar o link do
formulário repetidas vezes para os estudantes, até que a participa-
ção de toda a turma da disciplina estivesse completa, embora esse
distanciamento em relação ao preenchimento das respostas não
tenha causado impactos negativos para o estudo.
Ressalta-se que os resultados aqui presentes, embora possam
nortear decisões em prol da qualidade visual percebida em capas de
livros de ficção gótica, correspondem a um cenário específico, em
função das imagens utilizadas como elementos de estímulos para
as avaliações, os sujeitos avaliadores, as ferramentas e os parâme-
tros avaliativos particulares, além do local e da época em que foram
193
REFERÊNCIAS
BARROS, L. L.; ARAÚJO, M. D. X. A configuração visual em edi-
ções brasileiras de obras da literatura gótica. In: Anais do 10º CIDI |
Congresso Internacional de Design da Informação, edição 2021 e do
10º CONGIC | Congresso Nacional de Iniciação Científica em Design da
Informação. São Paulo: Blucher, 2021. pp. 16-33.
DOI 10.5151/cidicongic2021-002-340725-CIDI-Comunicacao.pdf.
195
Métodos e
ferramentas para
avaliação afetiva de
artefatos vestíveis:
uma revisão da
sistemática da
literatura
Marcelo Cairrão Araujo Rodrigues
Germannya DʼGarcia Araújo Silva
Thuanne R. Fonsêca Teixeira
Toda relação humana com o mundo físico é
mediada por um objeto. Alguns são naturais,
outros, artefatos produzidos pelos seres
humanos para atender algum tipo de neces-
sidade. Segundo Löbach (2001), isso ocorre
por meio das funções dos produtos que, no
processo de utilização, se manifestam como
valores de uso.
O presente trabalho traz a roupa en-
quanto um artefato vestível, um objeto pro-
duzido pela humanidade que tem propósito,
significados e papéis diversos. Um artefato
vestível não é simplesmente um objeto
para dar conta dos pudores sociais, mas se
apresenta como uma ponte de informações
entre o indivíduo e a sociedade que o cerca,
desempenhando um papel fundamental:
além da nossa sobrevivência, para cobertura
e proteção corporal, consegue comunicar
informações sobre o indivíduo, o coletivo ou
197
o grupo social que o utiliza (ROCHA, 2016; MOURA, 2018). O uniforme
militar, por exemplo, carrega informação de patente ou ranque do
indivíduo, bem como condecorações que demonstram feitos consi-
derados memoráveis (medalhas, por exemplo).
Essa comunicação, assim como qualquer outra, vai depender
não somente do emissor, mas também do receptor, ou seja, de como
essas mensagens emitidas serão decodificadas. A decodificação das
informações é influenciada e resultante do repertório do receptor.
Sendo assim, os valores e significados que atribuímos às coisas têm
a ver com elas e com nós mesmos, com as ligações subjetivas que
fazemos com nossa própria vivência durante a interação (NORMAN,
2008; CARDOSO, 2011; ROCHA, 2016).
Cardoso (op. cit.) explica que a atribuição de valor não é enges-
sada, mas resultante do processo de significação que se manifesta
como troca entre a informação embutida no objeto e a informação
obtida pela experiência pessoal e social do indivíduo. Um dos exem-
plos utilizados pelo autor para mostrar essa maleabilidade das signi-
ficações é o vestuário: “com a passagem do tempo, a mesma roupa
elegante pode passar a ser percebida como cafona”. Ou seja, a leitura
e a percepção dos artefatos se relacionam mais com repertório cul-
tural de quem interage com o objeto do que com este em si.
Nessa relação, as emoções podem ser medidas por objetos con-
cebidos pelo ser humano, os artefatos (HARARI, 1976). No processo
de envolvimento emocional, atratividade, julgamento, aquisição e
utilização do produto de vestuário, questões pessoais e valores sub-
jetivos são acrescentados ao artefato pelo usuário. Dependendo das
subjetividades individuais, artefatos podem despertar nos indivíduos
respostas emocionais, entre elas a tristeza, o medo, a alegria, a raiva,
o nojo e o espanto, bem como suas variantes decorrentes dessa inte-
ração (CUNHA; PROVIDÊNCIA, 2020; SILVEIRA; MARIÑO, 2020).
Isso posto, a disciplina Avaliação Afetiva de Produtos e Serviços,
ofertada em 2021 no Programa de Pós-Graduação em Design da
Universidade Federal de Pernambuco, propôs um desafio de mensu-
rar as conexões subjetivas para que seja possível desenvolver projetos
significativos para os usuários. Na trajetória, os conceitos sobre de-
sign e emoção foram discutidos de forma transversal com as ferra-
mentas de avaliação da experiência do produto. Como resultado, os
199
também pelas ligações intelectuais e afetivas que se estabelecem na
interação com o artefato.
A roupa, ocupando esse espaço de objeto significante, pode nos
fornecer diversas informações, como evidências da tecnologia de
manufatura, uso de matérias-primas, modelagens, qualidade de
acabamento, entre outras informações de um determinado período
histórico (ANDRADE, 2006). Rocha (2016) contribui com esse pensa-
mento afirmando que a roupa também comunica marcadores so-
ciais, informações quanto ao estilo de vida do usuário e pode, ainda,
nos situar em algum acontecimento social, bem como informar
traços comportamentais do usuário.
Atualmente, o vestuário continua cumprindo funções básicas,
como de segurança e proteção, contudo, com materiais carregados
de tecnologia para adaptarem-se às necessidades humanas, indo
desde materiais mais leves e que secam rapidamente (dry fit), até
pesados isolantes térmicos utilizados por montanhistas sob condi-
ções de frio extremo. A vestimenta necessita ser adequada ao uso,
ao usuário e ao ambiente. Como exemplo, pode-se citar o vestuário
profissional, que, sendo a ferramenta de trabalho mais próxima ao
corpo, protege e influencia no bem-estar e no desempenho de seu
usuário (SARRAF, 2004; NUNES, 2011; IIDA, 2016; TEIXEIRA et al., 2021).
Não obstante, essa peça também desempenha papel importante no
campo da linguagem: carrega consigo informações que são trans-
mitidas ao seu entorno, como a identidade corporativa, confiança e
responsabilidade, ou seja, valores sociais, influenciando o compor-
tamento do usuário dentro e fora do ambiente de trabalho, pois seu
uso o leva a agir de acordo com as expectativas sociais nele coloca-
das (FARIAS, 2010; DIAS, 2017; MARANEZI, 2017).
Na história do vestir, passa-se desde pela necessidade fisioló-
gica da proteção contra danos físicos, iniciada na era do Paleolítico,
até as necessidades psicossociais, em que a razão do vestir se dá
para uma boa convivência social, em que se valoriza mais o con-
forto e as experiências emocionais que o vestuário proporciona e
menos os aspectos formais e funcionais (BROEGA et al., 2019; PINTO
et al., 2019). Percebe-se, então, que o vestuário intersecciona as
esferas do campo material e simbólico. Nesse sentido, Cunha e
Providência (2020) apontam que, atualmente, o design volta o olhar
201
Poder mensurar a experiência emocional torna-se a chave para o Figura 1 “Uma hierar-
processo de design a fim de evocar emoções positivas e buscar a sa- quia de ergonomia e
tisfação de necessidades de uso. Na área da ergonomia, as emoções necessidades hedo-
positivas desempenham um papel importante, não apenas as rela- nômicas derivadas da
cionadas às funções práticas e aos aspectos fisiológicos, mas tam- concepção de Maslow.”.
bém às funções estéticas e simbólicas do produto, ou seja, aspectos Fonte: Adaptada de
psicossociais vinculados às experiências de vida do usuário (DESMET; Hancock et al. (2005).
HEKKERT, 2009; DESMET, 2012).
Assim, o artefato vestível se apresenta como conector entre o
usuário e seu entorno; intersecciona as esferas da segurança, do
conforto e da sociabilidade e, enquanto produto de design, deve
ser projetado levando em conta as várias necessidades do usuário.
Entendendo, ainda, que um produto vestível é o elemento que passa
informações para o usuário, estas, quando recebidas e conectadas
ao seu repertório, ganham um significado e estabelecem uma cone-
xão emocional pessoa-artefato.
Nesse contexto, deve-se considerar o fator prazer no design de
produtos, uma vez que as necessidades básicas dos usuários já estão
sendo atendidas no processo de uso, como afirmam Hancock et al.
(2005). O prazer, por sua vez, está ligado aos fatores hedônicos do
produto. A hedonia relaciona-se aos resultados afetivos na relação
usuário-artefato, que se apresentam como resultados imediatos. De
acordo com a hierarquia das necessidades ergonômicas e hedônicas
(Figura 1), quando um artefato alcança funcionalidade e usabilidade,
pode ser projetado para atender as necessidades psicossociais, de
forma a otimizar a interação com seu usuário.
203
Na atualidade, o design emocional atua em teoria, prática e me-
todologias com potencial para evocar emoções positivas ou reduzir
experiências de cunho emocional negativo, na interação indivíduo-
-artefato, cabendo a esse campo do conhecimento compreender as
funções cognitivas, afetivas e volitivas que interferem nessa intera-
ção. As cognitivas são relacionadas a memória, raciocínio e percep-
ção; as afetivas, relacionada à expressão de sentimentos; e as voliti-
vas relacionam-se ao que o indivíduo exterioriza, ou seja, à reação
corporal ao estímulo dado pela função afetiva (SILVEIRA; MARIÑO,
2020; DAMAZIO; TONETTO, 2022).
Diante do exposto, pode-se concluir que a conexão emocional
com um artefato pode ser desencadeada por variadas necessidades
humanas, que se manifestam de acordo com o usuário, seu repertó-
rio pessoal e com o contexto no qual está inserido. A conexão emo-
cional com o produto se dá primeiramente por processos fisiológicos
que se manifestam no corpo humano e posteriormente no âmbito
cognitivo. Ambos podem ser aferidos e interpretados sobre a reação
das pessoas durante a interação com os artefatos, a fim de facilitar
a compreensão das predileções (LÜ et al., 2016; WANG, 2019). Dessa
forma, a aplicação de ferramentas de avaliação afetiva pode con-
tribuir para o projeto de produtos. Nesse sentido, Kamp e Desmet
(2014) declaram que não basta apenas projetar para o bem-estar,
mas, sim, que avaliar os produtos na interação indivíduo-artefato se
faz importante.
205
Se percebemos e interagimos com as coisas e nosso entorno com afeto,
a mensuração desse envolvimento se faz importante para que seja pos-
sível compreender e executar um design significativo afetivamente, que
elicie emoções e sentimentos de valência positiva nas pessoas.
Dentre os variados métodos e ferramentas para avaliação afetiva,
Silva (op. cit.) os separa em sistemas de medição baseados em res-
postas voluntárias e involuntárias. Nas voluntárias, estão os métodos
que utilizam ferramentas de autorrelato, como as escalas: POMS –
perfil de estado de humor, PANAS – escala de afetos positivos e ne-
gativos, BRUMS – escala de humor de Brunel, SAM – Self-Assessment
Manikin, diferencial semântico, e escala Likert, que é comumente
utilizada em estudos das ciências sociais aplicadas.
Há também métodos que envolvem a interpretação de expres-
sões faciais, que, para Merize et al. (2018), permite a identificação e
interpretação das emoções do usuário durante o uso de um produto,
com a vantagem de ser um método não invasivo e desvantagens
como o alto custo de ferramentas, bem como o fato de ser passível
de manipulação pelo usuário cuja expressão está sendo analisada.
Envolvendo expressão facial, mas desta vez de uma ilustração,
temos o PrEmo – instrumento de medição de emoções do produto,
criado por Desmet (2002) (Figura 3). Essa ferramenta utiliza catorze
ilustrações de reações humanas com expressões faciais, sons e
gestos, sendo sete de valência positiva e sete de valência negativa.
Nesse método, o usuário escolhe a expressão e sua intensidade por
meio de uma escala. Sendo um método não verbal, viabiliza sua
aplicação com usuários de diferentes regiões do mundo (MERIZE et
al., 2018). De acordo com seu criador, devido a poucas informações
sobre como as pessoas respondem emocionalmente aos produtos
e quais aspectos do design ou interação desencadeiam respostas
emocionais, o PrEmo foi desenvolvido como instrumento de medida
capaz de medir combinações de emoções experimentadas simulta-
neamente (DESMET, 2018).
207
investigações de reações emocionais aos produtos (LÜ et al., 2016;
WANG, 2019). As ferramentas de avaliação emocional baseadas em
respostas involuntárias destacadas por Silva (2020) foram as que
envolvem medidas do sistema nervoso central e do sistema nervoso
autônomo:
Síntese dos dados Ordenação e interpretação dos dados: de forma descritiva, apresentaram-se os
resultados da RSL de maneira a responder a questão norteadora desta pesquisa.
CE 1 Não serão selecionados artigos que tenham como usuários participantes pes-
soas de outras faixas etárias ou pessoas com deficiência (PcD).
CE 2 Não serão selecionados artigos que investiguem acessórios de moda.
CE 3 Não serão selecionados artigos que não satisfaçam nenhum critério de inclusão.
CE 4 Não serão selecionados artigos duplicados ou repetitivos.
CE 5 Não serão selecionados artigos que não tenham acesso aberto.
209
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Fonte: elaborados
pelos autores.
Como resultado, um total de 286 (duzentos e oitenta e seis) publica-
ções foram encontradas, das quais 43 (quarenta e três) foram sele-
cionadas a partir da leitura dos títulos e resumos. Na sequência, a
partir dos critérios do Quadro 2, um total de 20 (vinte) artigos foram
selecionados, 8 (oito) da base de dados Scopus e 12 (doze) pela plata-
forma Web of Science, para leitura dinâmica. Os Quadros 3 e 4 apre-
sentam os títulos dos artigos, ano, autores, periódico de publicação e
o motivo da inclusão ou exclusão.
Plataforma Scopus
Fonte: elaborado
pelos autores.
211
Artigos selecionados para leitura completa
Título do artigo 1º autor Ano Base de dados
Fonte: elaborado
pelos autores.
213
vestuário pode ser expressada tanto por meios comportamentais
quanto por meios fisiológicos, como temperatura corporal, pressão
arterial, atividade muscular, atividade cerebral, dentre outros pro-
cessos fisiológicos que acompanham as emoções.
Aplicando paralelamente métodos de cunho comportamental e
fisiológico, os autores Lü et al. (2016) utilizaram os potenciais cere-
brais espontâneos como um índice para quantificar as emoções dos
usuários durante a avaliação afetiva de roupas. De maneira com-
plementar, cruzaram os dados obtidos por meio do monitoramento
cerebral dos usuários com as respostas de autorrelato, obtidas
posteriormente por meio do método self-assessment manikin (SAM).
Dessa maneira, os autores concluíram que é possível quantificar as
atividades emocionais dos usuários apenas monitorando as suas ati-
vidades cerebrais, podendo transferir, dessa forma, os dados anali-
sados para as referências de design. Sendo assim, o estudo contribui
para orientações de projetos de vestuário que objetivam a melhoria
da experiência de uso por meio das emoções.
Dentre os artigos analisados, percebe-se a forte presença de
métodos que utilizam ferramentas de autorrelato para avaliação
afetiva de produtos de design. Contudo, há limitações nessas ferra-
mentas devido aos diferentes repertórios individuais dos usuários,
bem como o cunho subjetivo que essas ferramentas têm. Métodos
que utilizam respostas voluntárias dos usuários dependem, ainda,
da completa honestidade do participante ao responder os questio-
nários e escalas, bem como que o usuário seja alfabetizado, para que
possa compreender de forma clara o que está sendo questionado e
se expressar de forma que contemple suas percepções.
Diante do exposto, as ferramentas de mensuração de sinais fisio-
lógicos emocionais envolvendo o sistema nervoso central (eletroen-
cefalografia) e o sistema nervoso periférico (resposta galvânica da
pele, frequência cardíaca, resposta térmica) se apresentam como um
caminho para o preenchimento das lacunas deixadas pelas ferra-
mentas de autorrelato, de maneira a fornecer o acompanhamento
de atividades fisiológicas em tempo real durante a avaliação afetiva
de produtos, além de dados emocionais quantitativos. Contudo, tais
ferramentas também possuem limitações, como o acesso aos equipa-
mentos e a necessidade de conhecimento técnico para manipulá-las.
215
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da CAPES –
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
– Brasil.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, R. Por debaixo dos panos: cultura e materialidade de nos-
sas roupas e tecidos. Anais… II Colóquio de Moda, Salvador, 2006.
DESMET, P.; KAMP, I. Measuring Product Happiness. CHI 2014, Apr 26-
May 1 2014, Toronto, pp. 2059-2514, 2014.
217
LOBACH, B. Design industrial: bases para a configuração dos produtos
industriais. São Paulo: Blucher, 2001.
219
Marina Holanda Kunst
Thatianne Elisa Ferreira da Silva
Yasmin van der Linden Remígio Leão
Thuanne Raissa Fonsêca Teixeira
Marcelo M. Soares
Avaliação da
eletrodomésticos
de e-commerce de
usabilidade de sites
A internet contribui para a dinamização do
trabalho e facilita os processos de interação
entre o usuário e o mercado. Com a invenção
da Web, seu acesso se tornou uma prática
muito frequente. Além de ela permitir o uso
de trocas de informações e o comércio ele-
trônico (e-commerce), também proporciona
mais aplicações para o dia a dia das pessoas
(BARROS et al., 2015).
Dentro desse cenário, compreende-se
site como um conjunto de páginas web
compostas por diferentes elementos, textos,
imagens, sons e outros. Lemos et al. (2004)
destaca que o foco principal desse tipo de
interface consiste em proporcionar a facili-
dade da busca por informação, comunicação
e execução de tarefas, bem como impul-
sionar o cumprimento dessas atividades
realizadas pelo usuário. De acordo com Silva
(2021, p. 105), o e-commerce se caracteriza
221
como “um meio de interação entre a loja virtual e os participantes/
consumidores (B2C) que deverão estar apoiados pela infraestrutura
que a internet dispõe”. Com isso, Bozzi e Mont’Alvão (2017) ressaltam
que há uma expansão considerável no comércio eletrônico, atre-
lada ao uso intensivo da internet banda larga no Brasil. Assim, como
reflexo da pandemia de covid-19, houve a necessidade do isolamento
social, fechamento das lojas físicas em todo o Brasil e, consequen-
temente, ocorreu uma migração para o comércio eletrônico. Dessa
forma, a diminuição do fluxo de pessoas nas ruas e o aumento nas
rotas virtuais, sites ou aplicativos de compras demonstram os novos
hábitos dos consumidores (XAVIER; CAMPOS; MONT’ALVÃO, 2022).
Com o aumento no número de sites, os projetistas, muitas vezes,
desconsideram a usabilidade nas possíveis trocas entre usuário e
interface. Apesar de os sites representarem um importante papel no
ambiente mercadológico atual, problemas de interação com a inter-
face resultam na insatisfação e na frustração dos usuários. Segundo
Winckler e Pimenta (2002), o problema de usabilidade mais relatado
por usuários é a dificuldade em encontrar informações no site. Nesse
contexto, Silva et al. (2015) e Silva (2021) apontam que a usabilidade
consiste em um produto que atenda às necessidades dos usuários.
Além disso, os autores também sugerem que é possível planejar o
resultado pretendido. Portanto, a usabilidade deve estar presente
desde o início da atividade projetual (MORAES, 2013).
Carvalho (2016) e Santa Rosa et al. (2019) destacam que se a usa-
bilidade for considerada no processo de desenvolvimento de inter-
faces web, vários problemas podem ser eliminados, como: tempo de
acesso à informação, não ter informações facilmente disponíveis aos
usuários e diminuição de informações não encontradas no site. Isso
acontece porque a web é uma interface que conecta o usuário com
o produto. Assim, o desenvolvimento de projetos de sites que con-
siderem os fatores humanos favorece uma melhor interação entre
os usuários e a internet como um todo. A internet é o meio e a ferra-
menta que fornece os recursos para a comunicação humano-compu-
tador. Dessa forma, ao projetar um website, é necessário considerar
não apenas fatores gráficos, mas, acima de tudo, os fatores huma-
nos (CARVALHO, 2016). A clareza, a simplicidade e a consistência no
design da web desempenham um papel crucial na forma como os
METODOLOGIA
O capítulo consiste em uma pesquisa aplicada que tem como ob-
jetivo gerar conhecimentos por meio de soluções para problemas
específicos; descritiva, de abordagem qualitativa, por descrever as
características de um problema e entender o caráter subjetivo dos
envolvidos; e estudo de caso, caracterizado por se tratar de um es-
tudo profundo de um determinado objeto.
O caminho metodológico estabelecido utilizou três teorias de
usabilidade para avaliação de dois websites selecionados: o modelo
de interface, de Leventhal e Barnes (2008), as dez orientações da
web, por Brinck, Gergle e Wood (2002), bem como as dez heurísticas
de Nielsen (1994). Como cada um dos autores escolhidos propõe
uma metodologia de avaliação de usabilidade de websites, optou-se
pela aplicação individual de cada uma de suas orientações. Sobre as
teorias sobre usabilidade, destaca-se o seguinte:
Leventhal e Barnes (2008): os autores apresentam um modelo
de avaliação da usabilidade adaptado dos modelos desenvolvidos
por Shackel, Nielsen e Eason. Para isso, utilizam a interação huma-
no-computador de forma a congregar os fatores mais importantes
desses três modelos. Assim, seu modelo de interface propõe cinco
aspectos a serem analisados: adequação do contexto; análise e
especificação de requisitos; design (nível geral); design (nível deta-
lhado) e implementação e avaliação.
223
Brinck, Gergle e Wood (2002): os autores apresentam uma lista
de dez princípios úteis e de uso geral para fazer uma revisão rá-
pida de um site. Essa revisão mostra como descobrir a maioria dos
problemas comuns. Esses princípios são: 1. conteúdo e escopo; 2.
velocidade; 3. navegação; 4. adequação à tarefa; 5. design visual;
6. compatibilidade; 7. simplicidade; 8. consistência e contraste; 9.
tratamento de erros; 10. respeito ao usuário.
Nielsen (1994): o autor propõe dez heurísticas para projetar uma
boa interface e proporcionar uma melhor experiência de usuário
(UX). Para o autor, pensar em UX é projetar uma interface que não
gere insegurança para o usuário, que esclareça quais serão os re-
sultados de suas ações e garanta a realização das tarefas de forma
simples e eficiente. As heurísticas são: 1. diálogo simples e natural;
2. fale a linguagem do usuário; 3. minimize a carga de memória
do usuário; 4. consistência; 5. feedback; 6. saídas marcadas clara-
mente; 7. atalhos; 8. boas mensagens de erro; 9. prevenção de erros;
10. ajuda e documentação.
Dois sites de empresas que atuam no segmento de vendas de
eletrodomésticos foram selecionados e, visto ser um setor de grande
participação no mercado consumidor, o estudo priorizou sites com
venda de micro-ondas. Além disso, segundo dados da empresa
Reclame Aqui (2022), os sites selecionados foram os mais bem ava-
liados pelos clientes. As atividades dos sites (e-commerce) exigem
que a interface seja de fácil utilização para influenciar diretamente
na conquista e na fidelidade de clientes. Sobre os sites selecionados,
destaca-se o seguinte:
Website A: o site tem três cores predominantes no seu layout.
A disposição do produto na página está adequada. O site permite
ampliar a imagem em destaque ao passar o mouse. Há uma certa
distribuição de informações necessárias. As fontes são legíveis, e
algumas informações aparecem em destaque (negrito). A interface
mostra contrastes adequados para a leitura das informações. O site
mostra alguns símbolos igualmente legíveis e de fácil compreensão,
tornando a navegação mais amigável.
Website B: o site tem três cores predominantes no seu layout, e
a disposição do produto na página está adequada. Diferentemente
do website A, este não permite ampliar a imagem em destaque ao
225
As medidas objetivas (dados quantitativos) são medidas de obser-
vação direta que envolvem o desempenho do usuário na execução
de testes enquanto usa a interface. Isso pode fornecer medidas de
tempo, velocidade ou ocorrência de eventos. Para essa etapa, o
teste A/B foi escolhido e um minirroteiro, distribuído para as volun-
tárias para observação de cores, facilidade de encontrar o produto e
navegabilidade.
A escolha pelo uso das medidas subjetivas e objetivas ocorreu
pelo fato de que apenas a coleta de um tipo dessas medidas não
seria suficiente para fornecer dados mais confiáveis ao objetivo pro-
posto. Com isso, enquanto as medidas subjetivas estão relaciona-
das diretamente com a satisfação do usuário, as medidas objetivas
fornecem indicações diretas do comportamento do usuário.
Para a coleta dos dados, as participantes responderam um ques-
tionário contendo: sexo, idade e conhecimento sobre como usar a
internet. Em seguida, completaram a escala de satisfação com os
sites e responderam sobre suas expectativas em encontrar o pro-
duto e a possibilidade de comprá-lo. Por fim, realizaram o teste A/B
em ambos os sites, de acordo com as orientações predefinidas e
Figura 1 Escala
de satisfação.
Fonte: Elaborada
pelos autores (2021).
227
1. Conteúdo e escopo
Os sites mostram informa-
ções úteis e suficientes
para conhecer o produto.
2. Velocidade
Os sites não têm muitos da-
dos que os tornam pesados,
fazendo com que carreguem
de forma satisfatória.
3. Navegação
Os sites são bem organiza-
dos e de fácil manipulação.
No entanto, o site B contém
informações escondidas.
5. Design visual
Os sites são simples, lim-
pos, atrativos e reforçam a
marca ao usar suas cores.
6. Compatibilidade
Os sites desconsideram usuá-
rios não videntes. Há men-
sagens com fontes pequenas
ou com pouco contraste.
229
7. Simplicidade
Nos sites, as informações bá-
sicas são apresentadas de
forma simples e fácil. Os sím-
bolos ajudam na navegação.
8. Consistência e contraste
Os sites são semelhantes (con-
sistentes), seguindo as orien-
tações dos autores Bricnk,
Gergle e Wood (2002).
9. Tratamento de erros
Os sites mostram quando o
número do cartão é informado
de forma incorreta, auxiliando
na correção de erros.
Tabela 2 Resultados Por fim, os resultados referentes à teoria das dez heurísticas de
obtidos pela teoria das Nielsen (1994) encontram-se na Tabela 3.
dez orientações da web,
proposta por Brinck,
Gergle e Wood (2002).
Fonte: elaborada
pelos autores (2021).
231
3. Minimize a carga de
memória do usuário
Os sites têm simbologias que
auxiliam na navegação.
4. Consistência
Os sites são semelhantes (consis-
tentes, padronizados), seguindo
as orientações de Nielsen (1994).
5. Feedback
Os sites têm várias for-
mas de sanar dúvidas.
7. Atalhos
Os sites têm a opção “bus-
car”, facilitando a tarefa de
encontrar o produto desejado,
além de mostrar onde a pes-
soa está dentro do site.
233
9. Prevenção de erros
Os sites perguntam qual a
voltagem do produto. Os bo-
tões são contrastantes.
DISCUSSÃO
Diante dos resultados encontrados, observou-se que ambos os
websites foram satisfatórios às necessidades das usuárias, mesmo
apresentando resultados parcialmente convergentes com os testes
realizados. Ademais, foi demonstrado que os sites tiveram uma boa
usabilidade, ou seja, funcionaram como o esperado e apresenta-
ram condições para que o usuário pudesse concluir uma tarefa sem
eventuais dificuldades. No entanto, cabem algumas considerações.
Quanto à quantidade de informação na página do produto, o site A
necessita de alguns ajustes, como: a inserção de vídeos curtos, bem
como o aumento do tamanho da fonte em certas palavras. Por outro
lado, o site B necessita de certificados de segurança para os usuários.
Quanto à simbologia, ambos os sites apresentaram menus que
forneciam uma lista com símbolos para facilitar a busca dos produ-
tos nas páginas web e melhorar a navegação. Esse aspecto também
foi observado por Ferreira, Chauvel e Silveira (2006) em estudo com
sites e-commerce. O uso de simbologia e a navegação são aponta-
dos como uma forma de melhorar a interação do usuário com o site
(LEVENTHAL; BARNES, 2008). Brinck, Gergle e Wood (2002) e Nielsen
(1994) também apontam esses aspectos como fator de redução da
carga de memória do usuário, o que acarreta em cansaço ou estresse.
Outro aspecto presente em ambos os sites é a rapidez no car-
regamento da página. Todas as participantes apontaram que os
sites não demoraram a carregar. Resultado semelhante também foi
encontrado por Kumar e Hasteer (2017) ao avaliarem dois sites dire-
cionados para o auxílio de estudantes de engenharia com materiais
de estudo e arquivos de experimentos. Para Brinck, Gergle e Wood
(2002), um rápido carregamento do site é fundamental para a satisfa-
ção do usuário.
235
No presente estudo, tanto na aplicação das diretrizes de Brinck,
Gergle e Wood (2002) e de Nielsen (1994) quanto nas observações das
usuárias, não foram evidenciados erros de links que não pareciam
ser links, inconsistência na linguagem das páginas web e conteúdos
irrelevantes. Resultados diferentes foram encontrados no estudo de
Hasan (2014) ao avaliar três sites universitários.
O uso das cores foi adequado e não confundiu as usuárias. No
entanto, um outro estudo evidenciou o uso exagerado de cores e mu-
dança destas quando o site era direcionado para os outros departa-
mentos (FERREIRA; LEITE, 2003). Assim, Brinck, Gergle e Wood (2002)
entendem que o uso das cores faz parte de qualquer design visual de
um site e interfere no tempo gasto pelos usuários.
Observou-se nos sites que mesmo apresentando botões seme-
lhantes para funções diferentes, as cores alteravam (botões “finalizar
compra” e “continuar comprando”), induzindo a uma mudança de to-
mada de decisão. Diferentemente, um estudo com site e-commerce
encontrou um mesmo ícone para funções diferentes e com cores
iguais, dificultando o entendimento das informações passadas ao
usuário (FERREIRA; LEITE, 2003).
A compatibilidade entre sites semelhantes, caso encontrado neste
estudo, é apontada como uma forma de não sobrecarregar os usuários
que migram entre sites parecidos na busca de um produto desejado
(NIELSEN, 1994; BRINCK; GERGLE; WOOD, 2002). Conforme apontado
por Ferreira, Chauvel e Silveira (2006), Brinck, Gergle e Wood (2002) e
Nielsen (1994), os sites devem se mostrar consistentes, ou seja, seme-
lhantes entre si. Esse aspecto é naturalmente esperado pelos usuários
durante a navegação em sites que vendem o mesmo produto.
Sobre os feedbacks dos sites, observou-se boas respostas aos
comandos dados pelas voluntárias, com bons ícones para sanar
dúvidas. Estudos com site e-commerce com produtos variados e de
eletrodomésticos, respectivamente, também encontraram este tipo
de facilidade (FERREIRA; LEITE, 2003; AZEVEDO et al., 2016). Dessa
forma, um site responsivo é importante para a fidelização dos usuá-
rios (LEVENTHAL; BARNES, 2008; NIELSEN, 1994).
As avaliações com a escala de satisfação e o teste A/B serviram de
base para entender como as usuárias interagem com as páginas web,
além de identificar inadequações, inconsistências e ambiguidades
CONCLUSÃO
De acordo com os critérios preconizados por Leventhal e Barnes
(2008), Brinck, Gergle e Wood (2002) e Nielsen (1994), a aplicação da
escala de satisfação com o website, a observação da interação de
participantes com os websites e do teste A/B, é possível fazer algu-
mas considerações finais ao capítulo, como segue.
237
O uso misto de metodologias teóricas associadas às medidas
subjetivas e objetivas para esse tipo de site pode fornecer resultados
indicativos de solução do problema. Cada uma das metodologias
empregada se apoia mutuamente e contribui para um maior nível de
satisfação com o site e com os testes de usabilidade.
Como a usabilidade ajuda na interação usuário-website, espera-
-se que seu componente fundamental seja a satisfação do usuário
e seu feedback positivo (boa experiência). Assim, a participação de
usuárias finais do sistema, bem como as tarefas aplicadas apontam
direcionamentos importantes para a pesquisa. Ademais, o conheci-
mento sobre a facilidade de encontrar o produto, a navegabilidade e
a comparação entre as páginas web foram fundamentais para traçar
melhorias para os respectivos sites.
Embora as usuárias tenham avaliado as páginas dos sites de ma-
neira positiva, sugere-se que projetos realizados por designers sejam
feitos em parceria com possíveis usuários finais para sanar quaisquer
falhas encontradas nos websites estudados. Adicionalmente, as pá-
ginas se mostraram atraentes para navegação e possível compra do
produto.
Com esses resultados, ficou evidente a importância da aplica-
ção de testes de usabilidade com usuários finais, com o objetivo de
proporcionar uma navegação satisfatória para o usuário, mesmo
com páginas web já publicadas. Ainda assim, deve-se considerar que
os sites necessitam estar em constante processo de modelagem por
meio de feedbacks.
BRINCK, T.; GERGLE, D.; WOOD, S. D. Usability for the Web: Designing
websites that work. San Francisco: Morgan Kaufmann Publishers.
2002.
239
FERREIRA, S. B. L.; LEITE, J. C. S. do P. Avaliação da usabilidade em
sistemas de informação: o caso do Sistema Submarino. Revista de
Administração Contemporânea [online], v. 7, n. 2, pp. 115-136, 2003.
241
Avaliação de
usabilidade de
leitores digitais:
design de dispositivo
e plataforma web
Helena de Cássia Nogueira
Israel Lucas Sousa Silva
Marcelo M. Soares
Felipe Gabriele
Os livros digitais têm ganhado cada vez mais
espaço na rotina das pessoas em razão de
sua portabilidade ou custo reduzido para
aquisição, se comparados aos livros físicos.
Muitos leitores, inclusive, já incorporaram
completamente o livro digital à sua rotina,
principalmente aqueles que apreciam
novidades tecnológicas. Em um primeiro
momento, esses livros digitais eram lidos
em computadores e demais dispositivos
que suportam arquivos de texto de forma-
tos diversos, como smartphones e tablets.
Porém, com o aumento da procura por esse
segmento de produto, foram criados dispo-
sitivos com a função específica de leitura de
livros digitais – os e-readers.
A maioria deles utiliza tecnologia de
telas e-Ink, que proporcionam mais conforto
visual para os usuários ao gerar imagens sem
a necessidade de luz de fundo (backlight).
243
A tela é composta por uma sobreposição de duas telas finas, pos- Figura 1 Esquema de
suindo no seu interior microesferas de pigmentos magnéticos nas funcionamento da
cores preta e branca, que são responsáveis pela geração da imagem tela e-Ink e quadro
em diversas tonalidades de cinza, como mostra a Figura 1. A única de identificação de
luz que participa do processo é a luz do ambiente, que incide sobre o seus componentes.
dispositivo. Fonte: Ferreira (2014).
Há dispositivos que trazem luz como componente apenas para Disponível em: https://
iluminar as imagens formadas no equipamento, mas essa luz não se www.vidasempapel.
projeta para os olhos do leitor, ela funciona como uma luminária de com.br/como-fun-
mesa iluminando a página de um livro. Apesar de essa tecnologia ciona-tela-e-ink-dos-
proporcionar bastante conforto visual, tem a limitação de não gerar -e-readers/. Acesso
imagens coloridas – o que limita alguns tipos de materiais de leitura, em: 5 set. 2014.
como as HQs. Porém, a tecnologia e-Ink com esferas coloridas já
existe e se encontra disponível para que desenvolvedores de produ-
tos, dentre os quais o mercado dos e-readers, possam incorporá-la
aos seus equipamentos. Para este estudo, iremos avaliar o disposi-
tivo Kindle, da empresa Amazon, que reproduz imagens em preto e
branco.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Os procedimentos metodológicos para a realização desta pesquisa
foram divididos em três etapas: 1) avaliação do dispositivo de leitura
digital Kindle; 2) avaliação da sua plataforma web; e 3) requisitos pro-
jetuais de redesign do dispositivo Kindle e de sua página web.
A avaliação do dispositivo Kindle utilizou os estudos de Jordan
(1998), além da classificação de produtos de Cushman e Rosenberg
(1991), bem como suas orientações para produtos voltados às pes-
soas com deficiência. A análise da manipulação da interface pelo
usuário foi baseada em Leventhal e Barnes (2008), assim como a aná-
lise da tarefa. No final dessa etapa, foi aplicado um questionário do
245
Sistema de Escala de Usabilidade (SUS), em tradução livre (SAURO,
2011), para medir o grau de satisfação dos usuários com o dispositivo.
A avaliação da plataforma web foi realizada a partir das defini-
ções de Leventhal e Barnes (2008). Ao final, aplicou-se um teste de
usabilidade utilizando a ferramenta UEQ-S (SCHREPP; HINDERKS;
THOMASCHEWSKI, 2017).
A terceira e última etapa dividiu-se em duas subetapas: redesign
do dispositivo Kindle e redesign da plataforma web. O redesign do
dispositivo baseou-se, principalmente, nos resultados das avaliações
de usabilidade realizadas, na classificação de produtos de Cushman
e Rosenberg (1991), pois foi essa avaliação que levantou problemas
de forma mais expressiva, junto com as suas recomendações para
produtos para pessoas com deficiência; também nos resultados das
entrevistas com os usuários. O redesign da plataforma web baseou-
-se nos problemas pontuais identificados no teste de usabilidade
realizado com usuários, apesar de ela ter obtido resultados satisfató-
rios nas demais avaliações realizadas.
Todas as etapas em que se realizaram testes com usuários e
aplicações de questionários foi lido o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido, facultando a eles a opção de escolher participar da
pesquisa ou abandoná-la a qualquer momento.
AVALIAÇÃO DO DISPOSITIVO DE
LEITURA DIGITAL KINDLE
DESCRIÇÃO DO PRODUTO
247
AVALIAÇÃO DE USABILIDADE DO DISPOSITIVO Quadro 1 Síntese da
avaliação de usabilidade
A usabilidade do dispositivo foi avaliada a partir dos cinco compo- pelos cinco componen-
nentes de usabilidade de Jordan (1998) e a classificação de produtos tes de Jordan (1998)
de Cushman e Rosenberg (1991), conforme os Quadros 1 e 2. Fonte: elaborado
O modelo de cinco componentes de usabilidade de Jordan ba- pelos autores (2022).
seia-se na definição de usabilidade estabelecido pela International
Standards Organization (ISO), entendida como “a medida em que um
sistema, produto ou serviço pode ser usado por determinados usuá-
rios para atingir determinados objetivos com eficácia, eficiência e sa-
tisfação em um determinado contexto de uso” (ISO 9241-11:2018 (EN),
2018). Esse modelo permitiu uma avaliação inicial da usabilidade do
dispositivo ao fornecer informações sobre o desempenho no uso do
produto que nortearam o processo de identificação dos seus princi-
pais problemas. De acordo com Jordan (1998), os cinco componentes
do modelo são: 1) suposição, que considera aspectos de usabilidade
na conclusão de tarefas específicas por usuários específicos pela
primeira vez; 2) aprendizagem, que avalia a usabilidade no alcance
de um nível de desempenho competente em tarefas específicas por
usuários específicos, tendo completado essas tarefas anteriormente
uma vez; 3) desempenho do usuário experiente, que avalia a usabi-
lidade na realização de tarefas específicas por usuários experientes;
4) potencial do sistema, que representa o nível ótimo dos aspectos
de usabilidade com o qual seria possível completar determinadas
tarefas; e 5) reusabilidade, que avalia os aspectos de usabilidade com
os quais usuários específicos conseguiriam realizar determinadas
tarefas após um período comparativamente longo distante delas.
Reusabilidade Alto Seu uso simples e intuitivo facilita a reusabilidade em ações pri-
márias, embora as ações secundárias precisem ser lembradas.
249
APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO SUS
DESCRIÇÃO DO PRODUTO
251
AVALIAÇÃO DA USABILIDADE
253
da sessão que mostrava os dispositivos Kindle havia a sessão dos
aplicativos, onde também havia informação sobre o Kindle em dis-
positivos externos; Usuário 5: não teve problemas e realizou o teste
na metade da média do tempo dos demais.
No teste remoto, a média para finalização do teste foi de 2 mi-
nutos e 52 segundos, nos quais tivemos alguns achados principais
em cada tarefa. Em geral, os usuários tiveram dificuldade por não
estarem familiarizados com o site e utilizarem somente o dispositivo
Kindle. Para a tarefa de acessar a conta (1), a maioria deles não teve
problema, pois já deixam sua conta conectada, seja por facilidade,
seja para evitar o retrabalho de se lembrar a senha. Para acessar a
página de “dispositivos e conteúdo” (2), houve uma dificuldade de lo-
calizar o menu, apesar de termos detectado três caminhos possíveis
em nossa avaliação. Todos acharam demorado fazer a atividade 4 no
site, pois geralmente fazem pelo dispositivo, sendo algo automático.
O questionário foi respondido por um total de 13 usuários que se
dividiram em um número quase proporcional de indivíduos do sexo
feminino e masculino. Para a avaliação, realizou-se a conversão dos
valores respondidos para uma escala que varia entre -3 (pior resposta)
e +3 (melhor resposta). São consideradas positivas as avaliações maio-
res que 0,8 e negativas as menores que -0,8. Dessa forma, é possível
classificar a média de experiência dos participantes em cada item.
REDESIGN DO DISPOSITIVO
Quadro 3 Propostas
com base nos requisitos
projetuais do Kindle
Fonte: elaborado
pelos autores (2022).
255
Além disso, considerando-se as recomendações de Cushman e
Rosemberg (1991) para que o produto atenda às necessidades de
pessoas com deficiência, definiu-se o seguinte:
Diretrizes Proposta
Melhorar o acesso a mostradores e Adaptar o botão físico na lateral do pro-
controles de forma evidente duto, de forma semelhante a dispositi-
vos portáteis, como smartphones
Simplificar a operação do produto e Sistema sonoro e de vibração como
fornecer redundância de informações sensoriais feedback nas operações
Adaptação do produto para atender às ne- Adaptação de entrada para fone de ouvido
cessidades do usuário individual
um novo conceito, advindo de diversos fatores, como uma ideia a pessoas com defi-
que se deseja remeter. No caso do redesign do Kindle, o conceito ciência de Cushman
de portabilidade e facilidade de manuseio é essencial ao produto e Rosenberg (1991)
desde o seu processo inicial de criação. O redesign procurou encon- Fonte: elaborado
trar lacunas na sua configuração que viessem a fugir desse conceito pelos autores (2022).
original ou que não o atendesse por completo, considerando o
ponto de vista dos usuários nesta pesquisa. Dessa forma, os esbo-
ços iniciais procuraram solucionar o problema da pega do artefato,
propondo um suporte na parte de trás que evite que o equipamento
escorregue das mãos do usuário. A seleção pela opção mais dis-
creta, em formato de disco, levou em consideração as limitações
do próprio equipamento em receber o acréscimo de uma peça com
muito volume. Uma das características formais do dispositivo é ter a
superfície plana. Então, optou-se por manter essa identidade visual
do produto no redesign.
257
PROPOSTA DE REDESIGN DO DISPOSITIVO Figura 5 Destaque dos
elementos da pro-
posta de redesign.
Fonte: elaborada
pelos autores (2022).
Figura 7 Proposta
de uma página ini-
cial – “Sua biblioteca
Kindle” – e proposta
de menu lateral retrá-
til, em substituição
ao menu superior.
A mesma dificuldade foi relatada pelos usuários no tocante à iden-
Fonte: elaborada
tificação dos dispositivos que eles têm cadastrados para acessar o
pelos autores (2022).
conteúdo de suas assinaturas. Muitos sequer sabiam o que estava
cadastrado no site, mesmo visualizando essa funcionalidade. Um
rearranjo dessa aba está sendo proposto, de forma a tornar a infor-
mação mais clara para o usuário.
259
CONSIDERAÇÕES FINAIS Figura 8 Aba
“Dispositivos conecta-
A pesquisa realizada verificou que tanto o dispositivo Kindle quanto a dos” original e nova pro-
sua plataforma web apresentam uma boa avaliação do ponto de vista posta.Fonte: elaborada
da métrica e dos métodos de avaliação utilizados no trabalho. Porém, pelos autores (2022).
mesmo apresentando um balanço geral positivo, foi possível identi-
ficar problemas de usabilidade nos dois produtos investigados, que
justificaram um redesign de aprimoramento no dispositivo e na plata-
forma web. É importante destacar que, apesar de a empresa Amazon
ter estabelecido metas iniciais de usabilidade no desenvolvimento do
produto Kindle e de sua plataforma web, faz-se necessária a aplicação
constante de pesquisas objetivando compreender e atender a comple-
xidade da relação homem-produto. Fatores técnicos precisam traba-
lhar em conjunto com fatores sociais, psicológicos e emocionais para
que um produto atenda satisfatoriamente seus usuários.
A pesquisa desenvolvida tem suas limitações, pois objetivou
levantar problemas e apresentar soluções apenas a nível conceitual,
mas traz uma contribuição significativa ao apresentar a aplicação
prática de métodos de avaliação de usabilidade para tornar tangível
a avaliação de elementos subjetivos, presentes em todo o processo
de interação do usuário com artefatos, quer sejam eles físicos, quer
sejam digitais. Recomenda-se que sejam aprofundadas as pesquisas
aqui realizadas a partir de novos testes de usabilidade, contemplando
as proposições de redesign para verificar a aceitação do público e a
investigação de protótipos associados a futuras simulações de uso
para validar a proposição conceitual, inclusive ampliando significati-
vamente a amostragem para verificar se os resultados se repetem.
261
autores.
AMAURY ALYSON DENISE FREIRE GAUDIOT
TEODORO DE SOUZA dg.arquitetura0@gmail.com
amaury.teodoro@ufpe.br http://lattes.cnpq.br/1419656852903429
http://lattes.cnpq.br/2706065833576000
Doutoranda em arquitetura pela
Mestrando em Design pela Universidade Universidade de Lisboa, possui gradua-
Federal de Pernambuco (UFPE). Especialista ção em Arquitetura e Urbanismo (1985),
em Gestão de Obras e Projetos: Orçamentos mestrado em Design e especialização em
e Perícias pela Faculdade de Ciências Ergonomia pela UFPE. Trabalhou como
Humanas ESUDA (2020). Graduado em arquiteta projetista nos escritórios de Mauro
Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Baracco e Baldacci e Ugo Mauro entre 1992 e
Universitário Unifavip (2018). Pesquisador do 1995, na Itália, e no W2A Design Group entre
Grupo de Pesquisa em Ergonomia Aplicada 1999 e 2002, nos EUA. Professora de projeto
ao Ambiente Construído (UFPE/CNPq). na Faculdade Damas Cristãs de 2013 a 2017.
Desenvolve pesquisas na área da arquitetura Participa do grupo de pesquisa LABERGO
e urbanismo e sua relação com ambiente, na UFPE. Em 2003 abriu o escritório DG
movimentos sociais e percepção do usuário. Arquitetura com foco em acessibilidade e
Tem experiência atuando na área de projetos ergonomia do ambiente construído.
arquitetônicos, urbanísticos e de interiores,
com ênfase na percepção ambiental.
265
GUILHERME RANOYA SEIXAS LINS HELENA DE CÁSSIA NOGUEIRA
guilherme.ranoya@ufpe.br helena.cassianogueira@ufpe.br
http://lattes.cnpq.br/1249288637916190 http://lattes.cnpq.br/4256088028840223
267
LETÍCIA LIMA DE BARROS LOURIVAL LOPES COSTA FILHO
leticia.lima@ufpe.br lourival.costa@ufpe.br
http://lattes.cnpq.br/9566920325088153 http://lattes.cnpq.br/4538629871153606
269
MARCELO CAIRRÃO MARCELO M. SOARES
ARAUJO RODRIGUES marcelo.soares@ufpe.br
marcelo.carodrigues@ufpe.br http://lattes.cnpq.br/9745050077461951
http://lattes.cnpq.br/8243956522121701
É professor titular da Escola de Design,
Possui graduação em Ciências Biológicas Universidade Hunan, China. É professor ti-
– Modalidade Médica pela Universidade tular licenciado do Departamento de Design
Federal de São Paulo (USP, 1996). Mestrado e da Universidade Federal de Pernambuco.
doutorado em Psicobiologia pela Faculdade É mestre em Engenharia de Produção pela
de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Preto da Universidade de São Paulo (1999 Ph.D. pela Universidade de Loughborough,
e 2002). Pós-doutorado em Neurofisiologia Inglaterra. É ergonomista profissional
pelo Departamento de Fisiologia da certificado pela Associação Brasileira de
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Ergonomia, da qual foi presidente por sete
(USP, 2003-2005) e pós-doutoramento anos.
sanduíche na Universidade de Leeds, na
Inglaterra (2005). Atualmente, é docente do
Departamento de Fisiologia e Farmacologia
da Universidade Federal de Pernambuco.
Possui experiência nas áreas de purificação
e teste de neurotoxinas anticonvulsivantes
presentes em peçonhas de aranhas e mo-
delos experimentais de epilepsia in vivo e in
vitro. Possui atualmente três linhas de pes-
quisa utilizando a técnica de eletroencefa-
lograma em seres humanos: 1. novos trata-
mentos não farmacológicos para controle da
epilepsia; 2. mapeamento cerebral associado
a ansiedade, autismo, depressão; 3; interface
cérebro-máquina e sua aplicação na escola
(Neuroescola).
271
THATIANNE ELISA THUANNE R. FONSÊCA TEIXEIRA
FERREIRA DA SILVA thuanne.teixeira@ufpe.br
thatianne.ferreira@ufpe.br http://lattes.cnpq.br/8808163689578915
http://lattes.cnpq.br/4809422512624474
Mestranda em Design pelo Programa de
Graduada em Design pela Faculdade Boa Pós-Graduação em Design da Universidade
Viagem, graduanda em Arquitetura e Federal de Pernambuco (UFPE), na linha de
Urbanismo pela Universidade Federal de pesquisa design, ergonomia e tecnologia.
Pernambuco e mestranda em Design pela Graduada em Economia Doméstica pela
Universidade Federal de Pernambuco. Universidade Federal Rural de Pernambuco
Pesquisadora do Laboratório de Conforto (UFRPE). Integrante do Grupo de Pesquisa de
Ambiental (Lacam-UFPE) e do Grupo de Mapeamento de Inovações Têxteis, coorde-
Pesquisa Ergonomia Aplicada ao Ambiente nado pela prof.ª dr.ª Danielle Silva Simões-
Construído (UFPE). Possui interesse em con- Borgiani (CAA-UFPE).
forto ambiental, acessibilidade e ergonomia.
273
Os textos desse livro foram compostos em Source® Sans Pro
Source® Sans Pro, fonte projetada por Paul D. ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVXWYZ
Hunt para o programa Adobe Originals que co- abcdefghijklmnopqrstuvxwyz
meçou em 1989 como uma fundição interna 0123456789
da Adobe. Esta fonte foi pensada para fun- "!@#$%¨&*()_+`{^}<>:?´[~],.;/ªº°/*-+¹²³£¢¬§
cionar bem em interfaces de usuário, sendo a
primeira de código aberto desta fundição.
incentivo
realização
dDESIGN