Você está na página 1de 7

Tropical Bryology 30:8–14, 2009

Briófitas do caxetal, em Ubatuba, São Paulo, Brasil


Sandra Regina Visnadi
Instituto de Botânica, Caixa Postal 3005, 01061-970 São Paulo, SP, Brasil (svisnadi@uol.com.br)

Abstract: The “caxeta” [Tabebuia cassinoides (Lam.) DC., Bignoniaceae] is exclusive of Brazil, where it occurs
in flooded areas of the coastal plains, between the states of Pernambuco and Santa Catarina, forming large
populations called “caxetais”. Bryophytes collections were made in 1988, 1993 and 1995, in the “caxetal” of
Ubatuba, SP, Brazil. The material is deposited in the Herbaria SP and HRCB. This paper lists two divisions of
bryophytes, with the total of 25 families, 61 genera, 109 species, one subspecies and four varieties. Lejeuneaceae
totals the largest numbers of genera, species and of collected samples. The bryophytes were usually found on
bark of living phorophytes and in a single kind of substrate. The bryoflora from “caxetal” is similar to that one
reported for the Atlantic rain forest of the State of São Paulo. The liverworts Colura cylindrica and
Leptolejeunea obfuscata are new records for the State of São Paulo.

Keywords: “caxetal”, liverworts, mosses, Tabebuia cassinoides, Ubatuba

Resumo: A caxeta [Tabebuia cassinoides (Lam.) DC., Bignoniaceae] é exclusiva do Brasil, onde ocorre em
áreas alagadas da planície litorânea, entre os Estados de Pernambuco e Santa Catarina, formando grandes
populações denominadas de caxetais. Coletas de briófitas foram realizadas em 1988, 1993 e 1995, no caxetal de
Ubatuba, SP, Brasil. O material encontra-se depositado nos herbários SP e HRCB. O trabalho lista duas divisões
de briófitas, com o total de 25 famílias, 61 gêneros, 109 espécies, uma subespécie e quatro variedades.
Lejeuneaceae totaliza os maiores números de gêneros, espécies e de amostras. As briófitas foram geralmente
encontradas em casca de forófitos vivos e num único tipo de substrato. A brioflora do caxetal é semelhante
àquela registrada para a Mata Atlântica do Estado de São Paulo. As hepáticas Colura cylindrica e Leptolejeunea
obfuscata são citadas pela primeira vez para o Estado de São Paulo.

Palavras-chave: caxetal, hepáticas, musgos, Tabebuia cassinoides, Ubatuba

Introdução Os caxetais apresentam importância ambiental,


devido aos recursos hídricos e à biodiversidade e
Tabebuia cassinoides (Lam.) DC. (Bignoniaceae) é também apresentam importância econômica, mas a
exclusiva do Brasil e popularmente denominada de exploração destas florestas naturais sempre foi
tabebuia, tagibibuia (Gentry 1992), caxeta, caixeta, realizada em caráter predatório (Castro 2002). As
malacaxeta, pau-caxeta, pau-caixeta, pau-de-tamanco, normas para a exploração da caxeta foram
pau-paraíba, pau-viola, tamancão ou tamanqueira estabelecidas, mediante Resolução SMA no. 11 de
(Carvalho 2001). A espécie forma grandes populações 13/04/1992. Desde então, as pesquisas desenvolvidas
geralmente denominadas de caxetais, em áreas em caxetais incluem sugestões para a revisão da
alagadas da planície litorânea, entre os Estados de legislação, visando o manejo florestal da caxeta
Pernambuco e Santa Catarina, mas é a região sul do (Bernhardt 2003).
Estado de São Paulo que apresenta as maiores áreas
cobertas por este tipo de vegetação no país (Bernhardt Alta diversidade de epífitas já foi observada em
2003, Castro & Shirota 2003). Portanto, o caxetal é caxetais por Castro & Shirota (2003), mas não
um tipo peculiar de floresta paludosa de baixa existem dados sobre a sua brioflora. Portanto, o
diversidade, embora apresente populações densas de presente trabalho inclui uma lista das espécies de
palmiteiros e xaxim e grande quantidade de bromélias briófitas ocorrentes no caxetal de uma área com
no solo e sobre as árvores, formando uma estrutura interferência humana intensa, em Ubatuba, SP.
própria, com espécies distintas das florestas
adjacentes (Vanini 1999).

TROPICAL BRYOLOGY 30 (2009)


VISNADI: BRYOPHYTA DO CAXETAL 9

Material e Métodos (2006a, 2006b), Yano & Peralta (2006a, 2006b),


Yano & Pôrto (2006), Campelo & Pôrto (2007), Yano
A área de estudo situa-se no Parque Estadual da Serra & Peralta (2007) e na base de dados W3MOST do
do Mar, Núcleo Picinguaba (2320 a 23°22´ S e 44 sítio do Jardim Botânico de Missouri, St. Louis, USA
48 a 4452 W), município de Ubatuba, Estado de (http://mobot.mobot.org/W3T/Search/most.html).
São Paulo, Brasil. O Parque é administrado pelo
Instituto Florestal, da Secretaria de Estado do Meio
Ambiente. Resultados e Discussão

Segundo classificação de Köppen, a área situa-se sob O presente trabalho lista duas divisões de briófitas,
clima Af, tropical chuvoso, com chuvas durante todo com o total de 25 famílias, 61 gêneros, 109 espécies,
o ano, onde as geadas são raras, geralmente de uma subespécie e quatro variedades para o caxetal,
intensidade baixa e não causam danos à vegetação em Ubatuba, SP, Brasil.
(César & Monteiro 1995).

O caxetal ocorre em terrenos instáveis, devido às Bryophyta


constantes deposições de areias marinhas e às
inundações causadas pelas cheias dos rios ou das 1 - Brachytheciaceae
depressões alagáveis (Veloso & Góes-Filho 1982, Helicodontium capillare (Hedw.) A. Jaeger
Veloso et al. 1991, IBGE 1992). Em Ubatuba, o Zelometeorium patulum (Hedw.) Manuel
caxetal estudado é parte da vegetação alterada pelo
desbaste seletivo de espécies, ou substituída por 2 - Calymperaceae
construções de moradias e lazer para moradores e Leucophanes molleri Müll. Hal.
turistas. Octoblepharum albidum Hedw.
O. pulvinatum (Dozy & Molk.) Mitt.
As coletas foram realizadas pela autora e por Daniel Syrrhopodon africanus (Mitt.) Paris ssp.
Moreira Vital, em 1988, 1993 e 1995. As exsicatas graminicola (R.S. Williams) W.D. Reese
encontram-se depositadas no Herbário do Instituto de S. gaudichaudii Mont.
Botânica, em São Paulo (SP) e, algumas duplicatas, S. incompletus Schwägr var. berteroanus
no Herbário da Universidade Estadual Paulista, em (Brid.) W.D. Reese
Rio Claro (HRCB). S. incompletus Schwägr var. incompletus
S. parasiticus (Sw. ex Brid.) Paris
Lâminas semipermanentes foram preparadas com a S. prolifer Schwägr.
solução de Hoyer (Anderson 1954, Visnadi 2005), a
3 - Dicranaceae
fim de melhor visualizar as estruturas. A identificação
Holomitrium crispulum Mart.
das amostras de briófitas foi baseada em trabalhos
Leucoloma serrulatum Brid.
pertinentes a cada espécie estudada e em comparações
com outros materiais provenientes do Brasil e do 4 - Lembophyllaceae
exterior, depositados no Herbário SP. Orthostichella pentasticha (Brid.) W.R. Buck
As briófitas foram listadas por ordem alfabética de 5 - Leucobryaceae
divisões, famílias, gêneros e espécies, subespécies e Bryohumbertia filifolia (Hornsch.) J.-P. Frahm
variedades, utilizando-se o sistema de classificação de var. filifolia
Goffinet & Buck (2004) para os musgos e de B. filifolia (Hornsch.) J.-P. Frahm var. humilis
Crandall-Stotler & Stotler (2000) para as hepáticas. (Mont.) J.-P. Frahm
Papillaria nigrescens (Sw. ex Hedw.) A. Jaeger foi Campylopus trachyblepharon (Müll. Hal.) Mitt.
incluída em Meteoriaceae, segundo Huttunen et al. Leucobryum albicans (Schwägr.) Lindb.
(2004) e, Porothamnium, em Neckeraceae, segundo L. clavatum Hampe
Buck & Goffinet (2000).
6 – Leucomiaceae
As citações inéditas de determinadas espécies para Leucomium strumosum (Hornsch.) Mitt.
alguns tipos de substratos e a discussão sobre a
distribuição geográfica foram baseadas em Yano 7 - Meteoriaceae
(1981, 1984, 1989, 1995), Câmara & Vital (2004), Floribundaria usneoides (Broth.) Broth.
Pôrto et al. (2004), Visnadi (2004a, 2004b), Yano Papillaria nigrescens (Sw. ex Hedw.) A. Jaeger
(2004), Visnadi (2005), Yano (2005), Yano & Peralta
8 - Neckeraceae
(2005), Bastos & Yano (2006), Genevro et al. (2006),
Neckeropsis disticha (Hedw.) Kindb.
Joyce et al. (2006), Lisboa et al. (2006), Oliveira et al.
N. undulata (Hedw.) Reichardt
(2006), Patrus & Starling (2006), Valente & Pôrto
Porothamnium filiferum (Mitt.) M. Fleisch.
(2006a, 2006b), Vilas Bôas-Bastos et al. (2006), Yano
P. leucocaulon (Müll. Hal.) M. Fleisch.

TROPICAL BRYOLOGY 30 (2009)


10 VISNADI: BRYOPHYTA DO CAXETAL

9 - Orthotrichaceae Ceratolejeunea coarina (Gottsche) Steph.


Macromitrium richardii Schwägr. C. cornuta (Lindenb.) Schiffn.
Schlotheimia rugifolia (Hook.) Schwägr. C. cubensis (Mont.) Schiffn.
S. tecta Hook. f. & Wilson C. fallax (Lehm. & Lindenb.) Bonner
S. torquata (Sw. ex Hedw.) Brid. C. laetefusca (Austin) R.M. Schust.
Cheilolejeunea adnata (Kunze) Grolle
10 - Phyllogoniaceae C. discoidea (Lehm. & Lindenb.) Kachr. &
Phyllogonium viride Brid. R.M. Schust.
C. exinnovata E.W. Jones
11 - Pilotrichaceae C. rigidula (Mont.) R.M. Schust.
Callicostella pallida (Hornsch.) Ångstr. Colura cylindrica Herzog
Lepidopilum scabrisetum (Schwägr.) Steere C. ueli Jovet-Ast
Pilotrichum evanescens (Müll. Hal.) Crosby Diplasiolejeunea brunnea Steph.
12 - Pterobryaceae D. rudolphiana Steph.
Henicodium geniculatum (Mitt.) W.R. Buck Drepanolejeunea anoplantha (Spruce) Steph.
Orthostichopsis tortipilis (Müll. Hal.) Broth. D. lichenicola (Spruce) Steph.
D. mosenii (Steph.) Bischl.
13 - Pylaisiadelphaceae Harpalejeunea subacuta A. Evans
Isopterygium tenerifolium Mitt. Lejeunea bermudiana (A. Evans) R.M. Schust.
I. tenerum (Sw.) Mitt. L. caespitosa Lindenb.
Pterogonidium pulchellum (Hook.) Müll. Hal. ex L. cf. compressiuscula Steph.
Broth. L. confusa E.W. Jones
L. controversa Gottsche
14 - Rhizogoniaceae L. flava (Sw.) Nees
Pyrrhobryum spiniforme (Hedw.) Mitt. L. glaucescens Gottsche
L. grossitexta (Steph.) E. Reiner & Goda
15 - Sematophyllaceae L. phyllobola Nees & Mont.
Meiothecium commutatum (Müll. Hal.) Broth. L. ulicina (Taylor) Gottsche, Lindenb. & Nees
Sematophyllum adnatum (Michx.) E. Britton Leptolejeunea elliptica (Lehm. & Lindenb.)
S. subpinnatum (Brid.) E. Britton Schiffn.
S. subsimplex (Hedw.) Mitt. L. obfuscata (Spruce) Steph.
Taxithelium planum (Brid.) Mitt. Leucolejeunea unciloba (Lindenb.) A. Evans
Trichosteleum papillosum (Hornsch.) A. Jaeger L. xanthocarpa (Lehm. & Lindenb.) A. Evans
Lopholejeunea nigricans (Lindenb.) Schiffn.
L. subfusca (Nees) Schiffn.
Marchantiophyta Microlejeunea epiphylla Bischl.
Omphalanthus filiformis (Sw.) Nees
1 - Aneuraceae Symbiezidium barbiflorum (Lindenb. & Gottsche)
Riccardia chamedryfolia (With.) Grolle A. Evans
R. digitiloba (Spruce ex Steph.) Págan Taxilejeunea obtusangula (Spruce) A. Evans
T. pterigonia (Lehm. & Lindenb.) Schiffn.
2 - Bryopteridaceae Vitalianthus bischlerianus (Pôrto & Grolle) R.M.
Bryopteris diffusa (Sw.) Nees Schust. & Giancotti
Xylolejeunea crenata (Nees & Mont.) X.-L. He &
3 - Calypogeiaceae Grolle
Calypogeia peruviana Nees & Mont.
7 - Lepidoziaceae
4 – Geocalycaceae Bazzania heterostipa (Steph.) Fulford
Lophocolea martiana Nees Kurzia capillaris (Sw.) Grolle
5 - Jubulaceae Telaranea nematodes (Gottsche ex Austin) M.A.
Frullania arecae (Spreng.) Gottsche Howe
F. brasiliensis Raddi 8 - Metzgeriaceae
F. caulisequa (Nees) Nees Metzgeria albinea Spruce
F. ericoides (Nees) Mont. M. myriopoda Lindb.
F. vitalii Yuzawa & Hatt.
9 - Plagiochilaceae
6 - Lejeuneaceae Plagiochila bunburii Taylor
Anoplolejeunea conferta (Meissn.) A. Evans P. corrugata (Nees) Nees & Mont.
Bromeliophila natans (Steph.) R.M. Schust. P. disticha (Lehm. & Lindenb.) Lindenb.
Caudalejeunea lehmanniana (Gottsche) A. Evans P. micropteryx Gottsche

TROPICAL BRYOLOGY 30 (2009)


VISNADI: BRYOPHYTA DO CAXETAL 11

10 - Radulaceae Aneuraceae, Jubulaceae, Lepidoziaceae,


Radula angulata Steph. Metzgeriaceae, Plagiochilaceae e Radulaceae também
R. decora Gottsche ex Steph. ocorrem em florestas tropicais úmidas de planície,
R. kegelii Gottsche ex Steph. embora apresentem maior riqueza em maiores
altitudes (Gradstein et al. 2001). Estas famílias
Espécimes brasileiros determinados como encontraram-se representadas por 2, 5, 3, 2, 4 e 3
Cheilolejeunea exinnovata podem se tratar de espécies, respectivamente, no caxetal e 5, 8, 9, 5, 9, 5,
identificações errôneas de C. adnata (Kunze) Grolle respectivamente, na Mata Atlântica (Visnadi 2005).
ou Trachylejeunea aneogyna (Spruce) Grolle Considerações semelhantes podem ser feitas para
(Gradstein & Costa 2003). Todavia, Cheilolejeunea Bryopteridaceae, Calypogeiaceae e Geocalycaceae,
exinnovata foi registrada para a Mata Atlântica no com 1, 1, 1 espécies, respectivamente, no caxetal e 2,
Estado de São Paulo (Visnadi 2005) e para o caxetal 3, 7, respectivamente, na Mata Atlântica (Visnadi
por apresentar filídios persistentes, margens dos lobos 2005).
sem rizóides, lóbulo com dente falcado ou reto,
lóbulos reduzidos, células dos filídios com paredes Em florestas tropicais úmidas de planície, os musgos
delgadas, lisas e com trigônios inconspícuos. estão principalmente representados por
Calymperaceae, Fissidentaceae, Pilotrichaceae e
Lejeunea cf. compressiuscula foi também citada para Sematophyllaceae; outras famílias incluem
a Mata Atlântica paulista (Visnadi 2005) e no Hypnaceae, Leucobryaceae e Macromitriaceae;
presente trabalho para o caxetal. Os materiais, assim entretanto, cerca de metade das famílias encontradas
determinados, apresentam lobos ovado-triangulares nestas florestas possuem uma ou duas espécies cada
com margem inteira a crenulada e ápice obtuso, (Gradstein et al. 2001). Apenas Fissidentaceae não foi
lóbulos desenvolvidos e piriformes, orbiculares ou listada no presente trabalho; representantes de
subretangulares, às vezes reduzidos, anfigastros Hypnaceae e Macromitriaceae (Gradstein et al. 2001)
orbiculares a reniformes e bífidos, células dos filídios foram listados em Pylaisiadelphaceae e
com paredes delgadas, trigônios e espessamentos Orthotrichaceae. Finalmente, oito das 15 famílias de
intermediários, perianto obovado, com quilhas musgos ocorrentes no caxetal possuem uma ou duas
crenuladas. Tais espécimes foram encontrados em espécies cada (Brachytheciaceae, Dicranaceae,
pequena quantidade de material, junto com outras Lembophyllaceae, Leucomiaceae, Meteoriaceae,
Lejeuneaceae e assemelham-se ao material D.M. Vital Phyllogoniaceae, Pterobryaceae e Rhizogoniaceae).
11195 (SP189955), estudado pelo Dr. Pierre Tixier
(Museu Nacional de História Natural, Paris), que o As briófitas crescem geralmente em casca, como
identificou como Lejeunea cf. compressiuscula. A epífitas e, menos freqüentemente, no solo das
literatura disponível apenas trata Taxilejeunea florestas tropicais úmidas de planície (Gradstein et al.
compressiuscula (Lindb.) Steph. (= Lejeunea 2001), devido a grande quantidade de matéria
compressiuscula Lindb.), proveniente de Java orgânica em rápida decomposição (Frahm 2003). As
(Stephani 1912-1917, Herzog & Noguchi 1955, briófitas foram geralmente encontradas no caxetal, em
http://mobot.mobot.org/W3T/Search/most.html) e casca de forófitos vivos (86% das espécies) e, menos
Lejeunea compressistipula (Pears.) Demar., da freqüentemente em casca de forófitos mortos (39%
República do Congo (Bonner 1978). das espécies), em folhas (18% das espécies) e em solo
(10% das espécies). As espécies foram geralmente
Em florestas tropicais úmidas de planície, as hepáticas coletadas num único tipo de substrato (61%) e, menos
são geralmente mais numerosas que os musgos, com freqüentemente, em dois (27%), três (11%) ou nos
predomínio de Lejeuneaceae, que é também a família quatro tipos de substratos registrados (1%, apenas
de hepáticas com maior número de gêneros e de Callicostella pallida).
espécies na região neotropical (Gradstein et al. 2001).
A brioflora do caxetal possui maior número de Como o solo do caxetal estudado não é totalmente
famílias de musgos (15) que de hepáticas (10), mas inundado, foram realizadas algumas coletas de
uma quantidade maior de espécies de hepáticas (65) briófitas (10% das espécies), entre a matéria orgânica
que de musgos (44). Lejeuneaceae com 19 gêneros e em decomposição, sobre estas partes de solo não
43 espécies representa 39% das espécies de briófitas atingidas pela água. Segundo Frahm (2003), matéria
do caxetal. Adicionado a isto, Lejeunea totaliza o orgânica em decomposição é a razão da ocorrência
maior número de espécies (10). As hepáticas também reduzida de briófitas terrestres no solo destas florestas
predominam no material coletado, pois foram tropicais. Todavia, no caso do caxetal estudado, as
encontradas em 59% e os musgos em 41% das poucas espécies de briófitas terrestres encontradas,
amostras estudadas. A maior quantidade de amostras devem-se principalmente à pequena extensão de solo
coletadas foi totalizada para Lejeuneaceae (215), exposto, como substrato disponível para as briófitas.
dentre as famílias de briófitas listadas para o caxetal,
em Ubatuba. Os musgos Lepidopilum scabrisetum e Trichosteleum
papillosum são citados pela primeira vez para solo; os

TROPICAL BRYOLOGY 30 (2009)


12 VISNADI: BRYOPHYTA DO CAXETAL

musgos Campylopus trachyblepharon, Henicodium Referências


geniculatum, Orthostichopsis tortipilis e as hepáticas
Anoplolejeunea conferta, Bazzania heterostipa, Anderson, L. E. 1954. Hoyer’s solution as a rapid
permanent mounting medium for bryophytes. The
Ceratolejeunea fallax, C. laetefusca, Colura
Bryologist 57: 242–244.
cylindrica, Diplasiolejeunea rudolphiana, Bastos, C. J. P. & O. Yano. 2006. Lejeuneaceae holostipas
Leucolejeunea xanthocarpa, Lopholejeunea (Marchantiophyta) no Estado da Bahia. Acta Botanica
nigricans, Plagiochila disticha, para casca de Brasilica 20: 687–700.
forófitos mortos e, finalmente, os musgos Bernhardt, R. 2003. Análise qualitativa e quantitativa do
Callicostella pallida, Sematophyllum subsimplex e crescimento da caxeta – Tabebuia cassinoides (Lam.)
Syrrhopodon incompletus, para folhas. DC. – em florestas manejadas, no Município de
Iguape/SP. Dissertação de Mestrado, Escola Superior
Dentre as 109 espécies listadas para o caxetal, 27 de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São
espécies (25%) ocorrem em manguezais (Mello & Paulo, Piracicaba, 61p.
Bonner, C. E. B. 1978. Index Hepaticarum, pars IX:
Yano 1991, Vital & Pursell 1992, Visnadi et al. 1994, Jungermanniopsis to Lejeunites. J. Cramer, Lehre, 745
Yano & Carvalho 1994, Yano & Mello 1999, Vital & p.
Visnadi 2000, Yano 2002), 43 espécies (39%) em Buck, W. R. & B. Goffinet. 2000. Morphology and
praias (Visnadi 2004a), 44 espécies (40%) em classification of mosses. In A. J. Shaw & B. Goffinet
restingas (Visnadi et al. 1994, Vital & Visnadi 1994) (eds.), Bryophyte biology, p.p. 71–123. Cambridge
e, finalmente, 92 espécies (84%) na Mata Atlântica ao University Press, Cambridge.
longo das serras (Visnadi 2005), no Estado de São Câmara, P. E. A. S. & D.M. Vital. 2004. Briófitas do
Paulo. Estes dados demonstram que a brioflora do município de Poconé, Pantanal de Mato Grosso, MT,
caxetal assemelha-se mais com a brioflora registrada Brasil. Acta Botanica Brasilica 18: 881–886.
Campelo, M. J. A. & K. C. Pôrto. 2007. Brioflora epífita e
para a vegetação de encosta (Mata Atlântica), que epifila da RPPN Frei Caneca, Jaqueira, PE, Brasil.
com a brioflora ocorrente em ambientes de planície Acta Botanica Brasilica 21: 185–192.
(manguezais, praias e restingas), no Estado paulista. Carvalho, H. C. B. 2001. Artesanato de caxeta em São
A brioflora varia significantemente entre os diferentes Sebastião-SP. Dissertação de Mestrado, Escola
tipos de florestas tropicais úmidas (Gradstein et al. Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”,
2001), como pôde ser verificado pela comparação dos Universidade de São Paulo, Piracicaba, 143p.
dados acima, exceto para praias, cuja vegetação não Castro, R. C. F. 2002. Análise econômica do manejo da
se enquadra em floresta. caxeta – Tabebuia cassinoides (Lam.) DC. na região
do Vale do Ribeira-SP: um estudo de caso. Dissertação
de Mestrado, Escola Superior de Agricultura “Luiz de
A maior parte das briófitas do caxetal ocorre Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba,
principalmente na região neotropical (99 espécies). O 117p.
restante (10 espécies) são pantropicais: Leucomium Castro, R. C. F. & R. Shirota. 2003. Análise econômica
strumosum, Octoblepharum albidum (musgos), do manejo da caxeta – Tabebuia cassinoides (Lam.)
Diplasiolejeunea rudolphiana, Frullania arecae, F. DC.: um estudo de caso. Florestar Estatísitco 6 (15):
ericoides, Lejeunea flava, Leucolejeunea 23–31.
xanthocarpa, Lopholejeunea nigricans, L. subfusca e César, O. & R. Monteiro. 1995. Florística e fitossociologia
Metzgeria albinea (hepáticas). Leucobryum clavatum de uma floresta de restinga em Picinguaba (Parque
Estadual da Serra do Mar), Município de Ubatuba-SP.
(musgo), Bazzania heterostipa, Frullania vitalii,
Naturalia 20: 89–105.
Plagiochila bunburii, Vitalianthus bischlerianus Crandall-Stotler, B. & R. E. Stotler. 2000. Morphology
(hepáticas) ocorrem apenas no Brasil e Bromeliophila and classification of the Marchantiophyta. In A. J.
natans (hepática) restringe-se ao sudeste do país. Shaw & B. Goffinet (eds.), Bryophyte biology, pp. 21–
Lejeunea cf. compressiuscula, L. confusa e Radula 70. Cambridge University Press, Cambridge.
decora já foram citadas para o Brasil e, no país, Frahm, J.-P. 2003. 5. Ecology of tropical bryophytes. In J.
limitam-se ao Estado de São Paulo. As hepáticas -P. Frahm (ed.), Manual of Tropical Bryology, pp. 39–
Colura cylindrica e Leptolejeunea obfuscata tratam- 57. Tropical Bryology 23: 1–196.
se de primeira ocorrência para o Estado paulista. Genevro, J. A., F. P. Athayde Filho & D. F. Peralta.
2006. Briófitas de mata de galeria no Parque Municipal
Mário Viana, Nova Xavantina, Mato Grosso, Brasil.
Boletim do Instituto de Botânica: homenagem ao
Agradecimentos: Ao Ms. Daniel Moreira Vital, do Instituto
briólogo D. M. Vital 18: 149–157.
de Botânica de São Paulo, pelo apoio ao trabalho de campo;
Gentry, A. H. 1992. Bignoniaceae-Part II (Tribe
à Direção do Instituto Florestal e do Parque Estadual da
Tecomeae). Flora Neotropica. Monograph 25 (2): 1–
Serra do Mar, Núcleo Picinguaba, pela autorização da coleta
390.
de material botânico e apoio logístico na área de estudo; à
Goffinet, B. & W. R. Buck. 2004. Systematics of
Dra. Lúcia Rossi e Dra. Marie Sugiyama, do Instituto de
bryophyta (mosses): from molecules to a revised
Botânica de São Paulo, pelo empréstimo de literatura.
classification. In B. Goffinet, V. Hollowell & R. Magill
(eds.), Molecular systematics of bryophytes, pp. 205–
239. Missouri Botanical Garden, St. Louis.

TROPICAL BRYOLOGY 30 (2009)


VISNADI: BRYOPHYTA DO CAXETAL 13

Gradstein, S. R., S. P. Churchill & N. Salazar-Allen Valente, E. B. & K. C. Pôrto. 2006b. Hepáticas
2001. Guide to the bryophytes of Tropical America. (Marchantiophyta) de um fragmento de Mata Atlântica
Memoirs of the New York Botanical Garden 86: 1– na Serra da Jibóia, Município de Santa Teresinha, BA,
577. Brasil. Acta Botanica Brasilica 20: 433–441.
Gradstein, S. R. & D. P. Costa. 2003. The Hepaticae and Vanini, A. 1999. Estudo comparativo de dois métodos de
Anthocerotae of Brazil. Memoirs of the New York amostragem fitossociológica em caixetais (floresta
Botanical Garden 87: 1–318. ombrófila densa permanentemente alagada).
Herzog, T. & A. Noguchi. 1955. Beitrag zur Kenntnis der Dissertação de Mestrado, Escola Superior de
Bryophytenflora von Formosa und den benachbarten Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São
Inseln Botel Tobago un Kwashyoto. The Journal of the Paulo, Piracicaba, 120p.
Hattori Botanical Laboratory 14: 29–70. Veloso, H. P. & L. Góes-Filho. 1982. Fitogeografia
Huttunen, S., M. S. Ignatov, K. Müller & D. Quandt. brasileira. Classificação fisionômico-ecológica da
2004. Phylogeny and evolution of epiphytism in the vegetação neotropical. Ministério das Minas e
three moss families Meteoriaceae, Brachytheciaceae, Energia/Secretaria Geral. Boletim Técnico, Projeto
and Lembophyllaceae. In B. Goffinet, V. Hollowell & RADAMBRASIL, Série Vegetação 1: 1–85.
R. Magill (eds.), Molecular systematics of bryophytes, Veloso, H. P., A. L. R. Rangel Filho & J. C. A. Lima.
pp. 328–361. Missouri Botanical Garden, St. Louis. 1991. Classificação da vegetação brasileira adaptada a
IBGE. 1992. Manual Técnico da Vegetação Brasileira. um sistema universal. Ministério da Economia,
Secretaria de Planejamento, Orçamento e Fazenda e do Planejamento. IBGE, Diretoria de
Coordenação. Fundação Instituto Brasileiro de Geociências, Departamento de Recursos Naturais e
Geografia e Estatística — IBGE. Diretoria de Estudos Ambientais, Rio de Janeiro, 124 p.
Geociências. Departamento de Recursos Naturais e Vilas Boas-Bastos, S. B., C. J. P. Bastos & J. Ballejos.
Estudos Ambientais, Rio de Janeiro, Série Manuais 2006. Novas ocorrências de hepáticas
Técnicos em Geociências, n.1, 92 p. (Marchantiophyta) para o Estado da Bahia. Boletim do
Joyce, M. V., Z. R. Mello & O. Yano. 2006. Briófitas da Instituto de Botânica: homenagem ao briólogo D. M.
Ilha de Palmas, Guarujá, São Paulo, Brasil. Boletim do Vital 18: 141–147.
Instituto de Botânica: homenagem ao briólogo D. M. Visnadi, S. R. 2004a. Briófitas de praias do Estado de São
Vital 18: 101–109. Paulo. Acta Botanica Brasílica 18: 91–97.
Lisboa, R. C. L., A. C. C. Tavares, & S. V. Costa Neto. Visnadi, S. R. 2004b. Distribuição da brioflora em
2006. Musgos (Bryophyta) e hepáticas diferentes fisionomias de cerrado da Reserva Biológica
(Marchantiophyta) da zona costeira do Estado do e Estação Experimental de Mogi-Guaçu, SP, Brasil.
Amapá, Brasil. Boletim do Instituto de Botânica: Acta Botanica Brasílica 18: 965–973.
homenagem ao briólogo D. M. Vital 18: 163–171. Visnadi, S. R. 2005. Brioflora da Mata Atlântica do estado
Mello, Z. R. & O. Yano. 1991. Musgos do manguezal do de São Paulo: região norte. Hoehnea 32: 215–231.
Rio Guaraú, Peruíbe, São Paulo. Revista Brasileira de Visnadi, S. R., D. R. Matheus & D. M. Vital. 1994.
Botânica 14: 35–44. Occurrence of bryophytes in areas polluted with
Oliveira, J. R. P. M., L. D. P. Alvarenga & K. C. Pôrto. organopollutants and on nearby vegetation, preliminary
2006. Briófitas da Estação Ecológica de Águas notes. The Journal of the Hattori Botanical Laboratory
Emendadas, Distrito Federal, material coletado por 77: 315–323.
Daniel Moreira Vital. Boletim do Instituto de Botânica: Vital, D. M. & R. A. Pursell. 1992. New or otherwise
homenagem ao briólogo D. M. Vital 18: 181–195. interesting records of Brazilian bryophytes. The
Patrus, P. & M. F. V. Starling. 2006. Briófitas da Serra do Journal of the Hattori Botanical Laboratory 71: 119–
Curral, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Boletim 122.
do Instituto de Botânica: homenagem ao briólogo D. Vital, D. M. & S. R. Visnadi. 1994. Briófitas de um trecho
M. Vital 18: 123–129. de restinga da Estação Ecológica da Juréia, Peruíbe,
Pôrto, K. C., S. R. Germano & G. M. Borges. 2004. Estado de São Paulo, Brasil. In S. Watanabe (coord.),
Avaliação dos brejos de altitude de Pernambuco e Anais do III Simpósio de Ecossistemas da Costa
Paraíba, quanto à diversidade de briófitas, para a Brasileira. Aciesp, São Paulo, v. 3, p. 153–157.
conservação. In K. C. Pôrto, J. J. P. Cabral & M. Vital, D. M. & S. R. Visnadi. 2000. New records and notes
Tabarelli (orgs.), Brejos de altitude em Pernambuco e on Brazilian bryophytes. The Journal of the Hattori
Paraíba: história natural, ecologia e conservação, pp. Botanical Laboratory 88: 191–197.
79–97 (Série Biodiversidade, 9). Ministério do Meio Yano, O. 1981. A checklist of Brazilian mosses. The
Ambiente, Brasília. Journal of the Hattori Botanical Laboratory 50: 279–
Resolução SMA no. 11 de 13 de abril de 1992. Estabelece 456.
normas para exploração da caixeta (Tabebuia Yano, O. 1984. Checklist of Brazilian liverworts and
cassinoides) sob regime de rendimento auto-sustentado hornworts. The Journal of the Hattori Botanical
no Estado de São Paulo. Sítio do Portal do Governo do Laboratory 56: 481–548.
Estado de São Paulo, Coordenadoria de Licenciamento Yano, O. 1989. An additional checklist of Brazilian
Ambiental e de Proteção de Recursos Naturais, Sigam - bryophytes. The Journal of the Hattori Botanical
Sistema Integrado de Gestão Ambiental Laboratory 66: 371–434
(http//sigam.ambiente.sp.gov.br). Yano, O. 1995. O. A new additional annotated checklist of
Stephani, F. 1912–1917. Species Hepaticarum. Bulletin de Brazilian bryophytes. The Journal of the Hattori
L’ Herbier Boissier 5: 1–1022. Botanical Laboratory 78: 137–182.
Valente, E. B. & K. C. Pôrto. 2006a. Novas ocorrências de Yano, O. 2002. Lejeuneaceae (Marchantiophyta) do
hepáticas (Marchantiophyta) para o Estado da Bahia, manguezal do litoral sul de São Paulo, Brasil. In Anais
Brasil. Acta Botanica Brasilica 20: 195–201. do II Congresso Brasileiro de Pesquisas Ambientais
(em CD CBPA/2002), p. 1–11.

TROPICAL BRYOLOGY 30 (2009)


14 VISNADI: BRYOPHYTA DO CAXETAL

Yano, O. 2004. Novas ocorrências de briófitas para vários Yano, O. & D. F. Peralta. 2005. Hepáticas
estados do Brasil. Acta Amazonica 34: 559–576. (Marchantiophyta) de Mato Grosso. Hoehnea 32 (2):
Yano, O. 2005. Adição às briófitas da Reserva Natural da 185–205.
Vale do Rio Doce, Linhares, Espírito Santo, Brasil. Yano, O. & D. F. Peralta. 2006a. Briófitas coletadas por
Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão 18: 5–48 Daniel Moreira Vital no Estado da Bahia, Brasil.
(Nova Série). Boletim do Instituto de Botânica: homenagem ao
Yano, O. 2006a. Novas adições ao catálogo de briófitas briólogo D. M. Vital 18: 33–73.
brasileiras. Boletim do Instituto de Botânica 17: 1–142. Yano, O. & D. F. Peralta. 2006b. Novas ocorrências de
Yano, O. 2006b. Novas adições às briófitas brasileiras. briófitas para os Estados de Alagoas e Sergipe, Brasil.
Boletim do Instituto de Botânica: homenagem ao Arquivos do Museu Nacional 64: 287–297.
briólogo D. M. Vital 18: 229–233. Yano, O. & D. F. Peralta. 2007. Flora dos Estados de
Yano, O. & A. B. Carvalho. 1994. Musgos do manguezal Goiás e Tocantins – Criptógamos: Musgos
do Rio Itanhaém, Itanhaém, São Paulo. In S. Watanabe (Bryophyta). Universidade Federal de Goiás, Série
(coord.), Anais do III Simpósio de Ecossistemas da Criptógamos: Bryophitas 6: 1–333.
Costa Brasileira. Aciesp, São Paulo, v. 1, p. 362–366. Yano, O. & K. C. Pôrto. 2006. Diversidade das briófitas
Yano, O. & Z. R. Mello. 1999. Frullaniaceae dos das matas serranas do Ceará, Brasil. Hoehnea 33: 7–39.
manguezais do litoral sul de São Paulo, Brasil.
Iheringia, Série Botânica 52: 65–87.

TROPICAL BRYOLOGY 30 (2009)

Você também pode gostar