Você está na página 1de 1

Miniconto – A experiência da mulher na sociedade e na vida subjetiva.

Docente: Wesley Pacheco


Discentes: Ana Cláudia Tanure e Hemylle Arifa
3º Meio Ambiente
IFNMG – Campus Araçuaí

O eco de uma voz silenciada

Nunca tive uma vida fácil. Aliás, nada foi fácil.


Venho de uma família pobre da zona rural, que passou por muitas dificuldades após a morte
do meu pai, que aconteceu em meus braços, aos meus 10 anos. E lá estava a minha mãe, viúva
aos 28 anos, com 6 filhos e a mais velha, era eu.
Buscando condições melhores de estudos para mim e meus irmãos, que sempre foi a
prioridade para minha mãe, decidimos nos mudar para a cidade mais próxima, investindo
todas as poucas economias na compra de uma pequena casa.
Pouco tempo depois, houve uma enchente, a famosa de 79. E lá se foi a nossa única conquista.
Logo, vimos a necessidade de contar com os mais próximos para nos abrigar.
Nada foi fácil.
Assim, me separei dos meus irmãos, pois ninguém abrigaria tanta gente. Na casa que fiquei, eu
tinha a função de realizar os serviços domésticos, afinal, nada nessa vida é de graça.
Com receio do incômodo, minha mãe começou a trabalhar como confeiteira e conseguiu uma
casa de aluguel. Mas, mesmo assim, o orçamento era muito apertado.
Daí, houve a necessidade que eu também arrumasse um emprego. E lá estava eu, trabalhando
aos 13 anos em uma empresa. Com todos os medos e inseguranças possíveis, como todo
adolescente.
Nada foi fácil.
A minha beleza começou chamar a atenção dos meus chefes, que, obviamente, eram bem
mais velhos.
Os olhares me incomodavam, mas como eram só olhares, eu deixei passar.
Logo, vieram os comentários. Mas como eram só comentários, também deixei passar.
Até que, um dia, partiram para o contato físico. Um contato agressivo. Um contato
completamente invasivo.
A vontade de denunciar aos quatro cantos era grande, mas o receio do desemprego também.
Minha voz ecoava em uma frequência que só eu escutava. Era a palavra de uma mulher, jovem
e pobre, contra a DELES.
Anos se passaram, consegui outros empregos, me formei em duas faculdades... Hoje, ocupo
um cargo importante e tenho boas condições financeiras. Mas a mágoa de um dia ter sido
ferida enquanto mulher permanece em mim.
Afinal de contas, nada foi fácil.

Você também pode gostar