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Pessoa Idosa e
Pessoa Portadora
de Deficiência:
da Dignidade
Necessária
Vitória - 2003
v.3; t. I
Coleção Do Avesso ao Direito.
1. Deficiente físico (Direito Civil) 2. Pessoa Idosa 3. Ministério Público do Estado do
Espírito Santo I. Título II. Série.
CDU 347. 649 - 053.9
PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA
José Maria Rodrigues de Oliveira Filho
COORDENAÇÃO E SUPERVISÃO
Ronald de Souza
Procurador de Justiça
ORGANIZAÇÃO, REVISÃO E ASSESSORAMENTO
TÉCNICO-PEDAGÓGICO
Profª. Maria do Carmo Aboudib Varella Serpa
ASSESSORAMENTO JURÍDICO
(Jurisprudência / seleção e adaptação das peças práticas)
André Fermo Monteiro Bastos (Acadêmico de Direito/CEAF)
Lívia Ramos Breciane (Acadêmica de Direito/CEAF)
Marcelo Dias Jaccoud (Acadêmico de Direito/CEAF)
Getro Ribeiro de Oliveira (Assessor Jurídico/APOP)
Sônia Maria Silva de Souza (Assessora Jurídica/APOP)
EQUIPE TÉCNICA/CEAF
Maria do Carmo Aboudib Varella Serpa
Miriam de Oliveira Anício
Suely Penha da Silva Leite
DIGITAÇÃO, DIAGRAMAÇÃO, EDITORAÇÃO E ARTE FINAL
(funcionários e estagiários do CEAF)
André Fermo Monteiro Bastos
Lívia Ramos Breciane
Paulliany de Sousa
Priscilla Torres Moraes
Walter Santos Junior
Paulo Carvalho Jorge (Assessor de Informática – CINF)
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional
Flodesmidt Riani
Gerente-Geral do Ministério Público
Ronald de Souza
Procurador de Justiça/Dirigente do CEAF
SIGLAS MAIS UTILIZADAS NA ÁREA DA PESSOA IDOSA E DA PESSOA
PORTADORA DE DEFICIÊNCIA
Homenagem à Sociedade de Assistência à Velhice Desamparada do Estado do Espírito Santo (Asilo dos Velhos)
RIPERT
QUEM É DEFICIENTE?
Se você fracassa em
enxergar a pessoa
Mas vê somente a
deficiência...
Então quem é cego?
Se você não consegue
escutar
O grito por justiça do seu
irmão...
Então quem é surdo?
Se você não consegue
comunicar-se com seu
irmão
Mas o mantém afastado
de você...
Quem é o deficiente?
Se seu coração ou a sua
mente
Não se estendem para o
seu vizinho... FOTO: Isaura Esteves de Araújo, Presidente do
Conselho Estadual da Pessoa Portadora de Deficiência –
Quem, então, tem CONDEF/ES - e sua filha Larissa.
deficiência mental? AUTORIA: Judas Tadeu Bianconi
ê ã l LOCAL: Parque Pedra da Cebola - Vitória / ES
Autor Desconhecido.
Prefácio
É preciso, pois, compreender que o verdadeiro
sentido da isonomia, constitucionalmente
assegurada, é tratar diferentemente os desiguais,
na medida em que se busque compensar
juridicamente a desigualdade, igualando-os em
oportunidade.
Hugo Nigro Mazzilli
Ronald de Souza
Procurador de Justiça e Dirigente do CEAF
Apresentação
Dando continuidade a sua Coleção intitulada DO AVESSO AO
DIREITO, o Ministério Público do Estado do Espírito Santo, sente-se
duplamente feliz e recompensado, pelo fato de, por meio do volume III
denominado PESSOA IDOSA E PESSOA PORTADORA DE
DEFICIÊNCIA: DA DIGNIDADE NECESSÁRIA, poder prosseguir na sua
luta diária em prol da efetiva garantia de acesso, da sociedade brasileira e mais
especificamente, do povo capixaba, aos direitos individuais e sociais legalmente
determinados, principalmente quando estes direitos deveriam fazer parte do
cotidiano de segmentos populacionais, historicamente marginalizados do
processo de desenvolvimento social.
Por se tratarem de assuntos complexos, envoltos em ampla
problemática, o volume 3 está subdividido em dois tomos - Tomo I e Tomo II,
facilitando assim, ao leitor, o manuseio e a consulta ao mesmo.
Simone de Beauvoir, discorrendo sobre a velhice lembra que, para ser
tratado com dignidade, o homem necessita ter vivido sempre, de forma digna.
O que representa na verdade, viver dignamente?
Como tem sido a trajetória de vida de ambos os grupos tratados nesta
obra - idosos e portadores de deficiência - nas diferentes sociedades em seus
diversos períodos históricos?
No decorrer de seu processo de lutas constantes por garantias e direitos,
quais foram as grandes conquistas e quais os grandes desafios postos?
A presente obra trata com profundidade destas e de outras questões
importantes acerca do atendimento que a estes vem sendo dispensado nos dias
atuais, em níveis mundial e nacional, a luz de registros históricos, documentários
e estudos pertinentes, das legislações específicas, dos programas e projetos
componentes das Políticas Públicas a estes dirigidas, dos princípios e metas
subjacentes, dos resultados alcançados, das necessidades ainda não atendidas.
A doutrina e jurisprudência contidas em capítulo próprio, assim como as
peças práticas selecionadas, constituirão certamente, eficiente instrumental de
trabalho para os operadores do direito, em qualquer instituição, nível ou área de
atuação.
Acreditamos que os dados e informações contidas no decorrer de todo o
livro, constituirão igualmente subsídios valiosos a todos os profissionais que
militam nestas áreas, aos idosos e portadores de deficiência na orientação e
esclarecimento de seus direitos e aos demais atores prestadores de serviços em
organizações governamentais e não-governamentais e em conselhos, na
condução consciente, eficaz e eficiente de seus trabalhos.
Gostaria de externar a minha gratidão, a todos aqueles que contribuíram,
com seus artigos, na composição de mais este volume de nossa Coleção.
Convidados, aceitaram prontamente e de coração aberto o nosso apelo. Seus
escritos, constituem não só ensinamentos jurídicos valiosos, mas verdadeiras
lições de vida, no que tange ao alcance dos princípios de justiça e eqüidade
social.
Gostaria igualmente deixar registrado o meu agradecimento, aos colegas
do Ministério Público Capixaba e aos demais colegas do Ministério Público de
nosso país, pelas contribuições enviadas, seja em forma de livros e trabalhos
publicados, seja na condição de peças práticas de sua autoria ou de seu
conhecimento, constando inclusive, algumas destas, inseridas neste documento.
Finalmente, parabenizo ao Centro de Estudos e Aperfeiçoamento
Funcional, e em especial ao seu Dirigente Ronald de Souza, Procurador de
Justiça, assim como a Gerência de Estudos, Pesquisas e Documentação pela
sensibilidade e atualidade na escolha dos temas de estudo, pela riqueza e
profundidade dos dados e informações aqui contidos, pela possibilidade através
destes, de retratar a verdade dos fatos que compõem o cotidiano das pessoas
idosas e das pessoas que portam algum tipo de deficiência.
Certamente, esta obra representará para estes, mais uma ferramenta de
luta, em prol do alcance da dignidade merecida e necessária em suas vidas e para
nós, ferramenta de trabalho, no desempenho com êxito, de nossa missão
ministerial.
8.1 CONCEITUAÇÃO...........................................................................................
8.2 ESTIMATIVAS POPULACIONAIS.............................................................
8.3 HISTÓRICO DA TUTELA À CIDADANIA: DO PARADIGMA
DA REABILITAÇÃO À INCLUSÃO SOCIAL.........................................
8.4 CONQUISTAS DE LUTA..............................................................................
Referências Bibliográficas
13 CONCLUSÃO.......................................................................................................
14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................
ANEXOS
Dalmo de Abreu
Dallari
Professor Titular da Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo; Professor Visitante da
Universidade de Paris; Coordenador da Cátedra
UNESCO/USP de Direitos Humanos; Membro Emérito
da Associação dos Magistrados e Promotores de Justiça
da Infância, Juventude e Família do Estado do Paraná.
INTRODUÇÃO
1
BRASIL.Ministério da Justiça. Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência. Programa de Ação Mundial para Pessoas com Deficiência.
CORDE. Tradução: Edílson Alkimin da Cunha. Publicação Oficial. Brasília, 1996, p.
12
2
ALVES, Rubens Valtecides. Deficiente físico: novas dimensões da proteção ao
trabalhador, 1992, p. 61.
Esta tendência está presente em uma das mais importantes legislações
nacionais afetas ao assunto tratado: o Decreto nº 3.298/99 do Ministério da
Previdência e Assistência Social, o qual em seu artigo 3º, considera:
I - deficiência - toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica,
fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade,dentro
do padrão considerado normal para o ser humano;
II - deficiência permanente - aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período
de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se
altere, apesar de novos tratamentos; e
III - incapacidade - uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração
social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para
que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações
necessárias ao seu bem estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser
exercida.
Este mesmo Decreto, em seu artigo 4º, dispõe ser a pessoa portadora de
deficiência, aquela que se enquadra nas categorias abaixo discriminadas,
classificação essa a qual se apresenta de forma uniforme em trabalhos e obras de
natureza jurídica ou não sobre o tema tratado, anteriores ou não ao decreto:
I - deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo
humano acarretando o comprometimento da função física,apresentando-se sob a forma
de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, triplegia, triparesia,
hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral,
membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e
as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções;
II - deficiência auditiva - perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras,
variando de graus e níveis da forma seguinte:
a) de 25 a 40 decibéis (db) - surdez leve;
b) de 41 a 55 db - surdez moderada;
c) de 56 a 70 db - surdez acentuada;
d) de 71 a 90 db - surdez severa;
e) acima de 91 db - surdez profunda; e
f) anacusia;
III - deficiência visual - acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho,
após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20º (tabela de Snellen), ou
ocorrência simultânea de ambas as situações;
IV - deficiência mental - funcionamento intelectual significativamente inferior a
média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou
mais áreas de habilidades adaptativas, tais como:
a) comunicação;
b) cuidado pessoal;
c) habilidades sociais;
d) utilização da comunidade;
e) saúde e segurança;
f) habilidades acadêmicas;
g) lazer e
h) trabalho;
V - deficiência múltipla - associação de duas ou mais deficiências.
Em seu artigo 51, o Decreto nº 3.298/99, adota um outro termo -
pessoa com mobilidade reduzida - definindo-o como:
III - pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida: a que temporária
ou permanente tenha limitada a sua capacidade de relacionar-se com o meio ambiente
e de utilizá-lo.
De acordo com o que determina o Rehabilitation Act (EUA, 1973),
entende-se por deficiência qualquer fator limitante - físico ou mental -
apresentado pelo indivíduo.
Alguns autores3 chamam a atenção para o fato de que o termo
“deficiente” nem sempre apresenta significado idêntico para ambos os campos
do conhecimento - Direito e Medicina - na medida em que enquanto o primeiro
volta-se mais para as conotações sociais e culturais do problema, o segundo tem
como foco de preocupação as suas manifestações patológicas.
Exemplificando, poderíamos citar o caso, do indivíduo que, mesmo
considerado “normal” pela medicina, pode ser merecedor de tutela legal, caso
seja percebido como deficiente pelo grupo social do qual faz parte.
Essa concepção de impedimento pessoal, levando em consideração o
fato sócio-cultural, encontra-se implícita no Programa de Ação Mundial para as
Pessoas com Deficiência, já especificado neste artigo, ao afirmar estar o
3
BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcelos e. A tutela das pessoas portadoras de
deficiência pelo Ministério Público.
In FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. [Coord.]. Direitos da Pessoa portadora
de deficiência. Publicação oficial do Instituto Brasileiro de Advocacia Pública.
Advocacia pública & Sociedade, São Paulo, a.1, n.1, p.16, 1997.
impedimento, em função da relação entre as pessoas incapacitadas e seu ambiente. Ocorre
quando as ditas pessoas enfrentam barreiras culturais, físicas ou sociais que as impedem de ter
acesso aos diversos sistemas da sociedade à disposição dos demais cidadãos. O impedimento é,
portanto, a perda ou a limitação das oportunidades de participar na vida da comunidade na
igualdade de condições com as demais.4
A partir desta nova concepção de deficiência, torna-se inadmissível a
junção dos conceitos de deficiência e incapacidade, na medida em que este
último traz consigo a idéia de inutilidade, ou seja, a de se reduzir alguém a um
ser inútil. Na verdade, existem situações nas quais algumas tarefas não podem
ser exercidas por indivíduos portadores de certas deficiências; por outro lado,
existem inúmeras atividades passiveis de serem por estes enunciadas de forma
eficiente e eficaz, como é o caso dos portadores de deficiência física.
Constitui-se, portanto, preocupação já de algum tempo das pessoas e
grupos que lidam com as garantias dos direitos desse grupo populacional,
desvincular totalmente os termos deficiência e incapacidade, na medida em que
a presença da primeira não significa necessariamente incapacidade para quem a
porta, especialmente em questões de trabalho.
Benjamin discorre sobre ambos os termos, estabelecendo uma nítida
distinção entre eles, correlacionando incapacidade a impossibilidade de exprimir
de forma adequada a vontade própria e deficiência como o resultado de uma
limitação de ordem física ou mental,
... que nem sempre atinge os limites da incapacidade jurídica. A grande maioria dos
deficientes está apto a expressar sua vontade, a exercer seus direitos e quer exercer. A
incapacidade tem um sentido extremamente estreito e seus limites estão fixados na
norma legal.
Já a deficiência é um conceito flexível e mais social que jurídico. Aquele que hoje é
considerado deficiente pode não sê-lo amanhã, de acordo com as oscilações dos valores
do grupo social. Ademais, em relação à saúde, um indivíduo não pode ser julgado, a
um só tempo, absolutamente incapaz para certas atividades e completamente capaz
para outras (ao contrário do portador de deficiência).
O que o Direito Civil, por exemplo, quer saber é se o sujeito tem ou não controle
sobre a expressão de sua vontade. Deficientemente a deficiência, via de regra, é sempre
uma posição relativa. O portador de deficiência pode ser rejeitado como inapto para
certas atividades e ainda ser completamente eficiente em outras. 5
Em sua tese de Mestrado, a Promotora de Justiça e Dirigente do Centro
de Apoio Operacional das Promotorias de Defesa dos Direitos do Idoso e das
Pessoas Portadoras de Deficiência do Ministério Público do Estado do Paraná,
4
BRASIL. Ministério da Justiça; op. cit., p. 16, nota 1.
5
BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcelos e, op. cit, p. 17-18.
Rosana Beraldi Bevervanço, referenciando a aplicabilidade pelo Poder Judiciário
do Decreto nº 3.298/99 e demais legislações afins, alerta para o cuidado que
deverão ter, os operadores de direito do trato,
... das questões afetas a esse segmento social, ao defender a idéia de que o legislador
não deve definir o que é deficiência tecnicamente, porque além do constante avanço da
ciência, isso pode gerar muita injustiça, pois alguém poderá ser excluído da tutela legal
especial por décimos, frações ou poucos graus, o que ao longo da vida do indivíduo
eventualmente acarretou exclusões, dificuldades de acesso ao ensino, inabilitação para
o trabalho e assim por diante, mas quando diante da lei, poderá ser considerado uma
pessoa dita normal ou nos termos do Decreto “dentro do padrão considerado normal
para o ser humano”. Em razão disso, entende-se que é necessário sempre associar ao
conceito legal o conceito doutrinário para, conforme antes dito, propiciar interpretação
benéfica ao indivíduo e favorecer uma justa contextualização na realidade social a
quem pertence.6
Reforçando a sua preocupação nesse sentido, segue na mesma linha de
pensamento, ao comentar a respeito do termo atividades essenciais da vida diária,
surgido na Convenção Interamericana Para Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência,
realizada pela OEA, na Guatemala em 1999, na qual optou-se por definir
deficiência, como,
... uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória,
que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária7,
causada ou agravada pelo ambiente econômico e social.8
Novamente alerta para o fato de que:
No Brasil, a adoção de conceitos que envolvam atividades essenciais da vida
diária ou simplesmente atividades de vida diária, são potencialmente
prejudiciais, isto porque conforme se mostrará adiante no tópico relativo ao benefício
de prestação continuada, houve exclusão de várias pessoas que portam deficiência em
razão do entendimento de que podiam praticar atos de vida diária tais como amarrar
seus sapatos ou escovar seus próprios dentes, por incrível que pareça.9
6
Ministério Público do Estado do Paraná. Centro de Apoio Operacional das
Promotorias de Defesa dos Direitos do Idoso e das Pessoas Portadoras de Deficiência.
Direitos da pessoa portadora de deficiência: da exclusão à igualdade. Rosana Beraldi
Bevervanço. Tese de Mestrado. Curitiba, 2001.
7 O grifo é nosso.
8 ORGANIZAÇÂO DOS ESTADOS AMERICANOS – OEA. Convenção
10
Em Roma Antiga destaca –se a Lei das XII Tábuas, a qual autorizava ao patriarca da
família a eliminação dos filhos defeituosos, os quais eram considerados indivíduos
incapazes do ponto de vista do direito (pater familias, pater potestas).
11
No reinado de Justiniano, a Nova Constituição nº LXXX, previa a assistência por
parte de pessoas piedosas aos indivíduos de ambos os sexos possuidores de alguma
enfermidade grave. Na era feudal, muitas vezes essa proteção era garantida pelos
senhores feudais ou pelos dirigentes dos burgos, por meio da parceria
Estado/Igreja.
destacando-se a hanseníase na Idade Média, razão da criação de espaços
hospitalares específicos para essa enfermidade.
Consta dessa época, a existência de crenças estranhas e tenebrosas, sobre
as pessoas portadoras de deficiência, consideradas como seres dotados de
poderes sobrenaturais tais como, afugentar demônios, trazer sorte ou
estabelecer contatos com espíritos demoníacos, como também os célebres bobos
da corte e corcundas os quais se constituíam em espetáculo a parte.
O processo histórico de desenvolvimento, embasado numa filosofia a
qual coloca o homem como o centro do universo, e a razão no lugar da fé,
certamente passa a direcionar a partir do Renascimento e do Iluminismo, o
atendimento aos segmentos socialmente diferenciados, para ações de natureza
mais humanista e científica, registrando-se as primeiras cirurgias ortopédicas, o
atendimento especializado em locais e com métodos próprios educativos, em
especial para os pacientes portadores de deficiências auditivas e visual, tendo
sido contemplados, esses últimos no século XIX, com o sistema Braille de
comunicação escrita, ao lado das primeiras instituições voltadas para o estudo
do trato destas anomalias, e atendimento às vítimas de acidentes de trabalho.
O século XX constitui-se sem dúvida alguma, no período no qual
ocorreram as grandes mudanças da sociedade e as conquistas mais significativas
alcançadas pelas pessoas portadoras de deficiência, nos mais variados campos,
social, médico e educacional, (como por exemplo os novos parâmetros e modalidades de
atendimento por meio da educação especial); nas políticas públicas de bem estar social,
evoluindo das ações de assistência e promoção social para as de seguro social e
saúde publica, além dos primeiros encontros e congressos específicos sobre
segmento populacional; na elaboração das primeiras legislações sobre
previdência social, direitos do trabalho, reabilitação e inserção social; no
aparecimento de entidades e instituições privadas voltadas para essas questões;
no engajamento de organizações mundiais como a UNESCO, ONU, OMS,
OIT, OEA, UNICEF; no registro de iniciativas relacionadas a levantamentos
estatísticos sobre a questão.
As primeiras organizações de e para pessoas com deficiência surgiram
nos Estados Unidos, para atendimento principalmente aos mutilados da segunda
guerra mundial. São dessa época as primeiras escolas especiais, centros de
habilitação e reabilitação, oficinas protegidas de trabalho, clubes e associações
desportivas especiais.
De acordo com registros existentes, constam como as primeiras
entidades organizadas em nível nacional:
1954 - Conselho Brasileiro para o Bem-Estar dos Cegos.
1962 - Federação Nacional das Apaes
1970 - Federação Nacional das Pestalozzi
1974 - Federação Brasileira de Instituições de Excepcionais.
1979 - Organização de grupos por todo o Brasil influenciados pelo
movimento mundial deflagrado pela ONU e em preparação ao Ano
Internacional das Pessoas Deficientes (AIPD).
1980 - I Encontro Nacional de Entidades de Pessoas Deficientes.
1984 - Federação Nacional de Cegos FEBEC, Organização Nacional de
Entidades de Deficientes Físicos ONGDEF, Federação Nacional de Educação e
Integração de Surdos FENEIS, e outros.
1985 - Sociedade Brasileira de Ostomisados (SOB).
1987 - Associação de Paralisia Cerebral do Brasil (APCB).
Com relação ao Estado do Espírito Santo, há o registro do surgimento,
na década de 60 da APAE Vitória, na década de 80, da ACPD, UNICEP, de
organização voltada para o atendimento dos surdos, como também de novas
entidades criadas no interior do Estado. Constam como constituídas na década
de 90, a Federação das Entidades de Deficientes Físicos (Fadefes), ao lado de
entidades como a dos renais crônicos, de Fibrose Cística, de Fissura Lábio -
Palatal, de Ostomisados, de Arteriosclerose Múltipla, de Alzheimer, Vitória
Down, Ascapa, Superdotados, Obesos, CVI/ES.
Essa evolução tem como marco a década de 60 período no qual inicia -
se o processo de formulação do conceito de deficiência, constatando –se a
preocupação com a estreita ligação existente entre as limitações que experimentam as pessoas
portadoras de deficiências, a concepção e a estrutura do meio ambiente e a atitude da população
em geral com relação à questão,12 tendo sido essa concepção adotada, mundialmente,
por ocasião do lançamento do Programa de Ação Mundial para Pessoas
com Deficiência, elaborado por especialistas na área e aprovado na
Assembléia Geral pela Organização das Nações Unidas ONU, em 1982.
(Resolução 37/52)
De acordo com estimativas desse Programa, registrava –se a existência
de 500 milhões de pessoas com deficiência no mundo, do fato de que, na
maioria dos países, 10% das pessoas seriam portadoras de alguma deficiência,
sendo que a presença dessas deficiências repercute em pelo menos 25% da
população mundial.
Torna-se importante destacar algumas colocações constantes nesse
documento:
• estudos estimativos dão conta de que aproximadamente 350 milhões de
pessoas com deficiência, se encontram em regiões de desenvolvimento
precário, nas quais problemas de todas as ordem (econômicos, sociais, físicos, etc.),
12
BRASIL – Ministério da Justiça, op. cit. , p. 12, nota 1
impedem a melhoria de sua qualidade de vida, mesmo quando são
empreendidas medidas direcionadas ao incremento dessa melhoria;
• os fatores ocasionadores das deficiências, a predominância e conseqüências
das mesmas variam de sociedade para sociedade, estando na dependência de
questões como desenvolvimento sócio - econômico, políticas públicas do
setor e outras.
• há uma relação estreita entre deficiência e pobreza não só em termos de
vulnerabilidade e predisposição, mas também em termos de agravamento da
situação de pobreza, mediante os novos encargos assumidos com a
enfermidade;
Da mesma forma evidencia - se uma alta correlação entre deficiência e
paises em desenvolvimento e nestes entre deficiência e camadas pobres da
população.
Tal fato se explica mediante a escassez e precariedade de medidas
preventivas e corretivas, em sua maioria básicas no atenuamento ou
resolução dos problemas.
São apontados como fatores de incremento do quantitativo de
portadores de deficiência, dentre outros:
- existência significativa de famílias pobres com muitos dependentes;
- existência de um grande percentual de analfabetos o que traz consigo, a
ausência de conscientização sobre a importância da efetivação das medidas
preventivas;
- a ausência de uma infra - estrutura de suporte serviços sanitários,
educacionais de assistência - social, emprego e renda, etc., a distância entre os
serviços de atendimento e a população a ser beneficiada;
- utilização expressiva dos recursos disponíveis em atendimentos
sofisticados, em detrimento de serviços considerados como de absoluta
necessidade para a grande maioria da população;
- importância reduzida conferida às atividades de desenvolvimento
sócio-econômico, de equiparação de oportunidades e outras;
- percentual significativo de acidentes fora e dentro do ambiente de
trabalho;
- problemas psicossomáticos, traumas e situações tensionais da vida
moderna;
- uso indevido de medicamentos, drogas e estimulantes;
- as catástrofes e o tratamento inadequado das vítimas;
- as conseqüências do processo contínuo e rápido de urbanização e
crescimento demográfico;
- existência de guerras, epidemias, migrações, fome e das diferentes
formas de violência;
- os preconceitos, a ausência ou a existência concebida de forma errônea
dos conceitos e conhecimentos acerca da deficiência.
O documento referido discorre sobre o direito dessas pessoas no que se
refere a oportunidades idênticas às dos demais indivíduos, principalmente, a de
usufruir das melhorias na qualidade de vida, oriundas do desenvolvimento
econômico-social, além de estabelecer diretrizes nas diferentes áreas
relacionadas à este segmento populacional. Coube também à ONU o
estabelecimento do período de 1983 a 1992, como a Década do Portador de
Deficiência.
São também desse período e de iniciativa da ONU, a Declaração dos
Direitos das Pessoas com Retardo Mental (1975), a Declaração dos Direitos da
Pessoa Portadora de Deficiência (1981), fixando o ano de 1981 como o Ano
Internacional da Pessoa Deficiente, colocando como prioridade na pauta de suas
discussões, a problemática na qual se insere a pessoa portadora de deficiência
em nível mundial, em especial nos países em desenvolvimento.
Seguindo o mesmo caminho, a Organização Mundial de Saúde -
OMS, estabeleceu, em 1989, a Classificação Internacional de Deficiência,
Incapacidades e Desvantagens - CIDID, definindo os conceitos de
deficiência, incapacidade e desvantagem, anteriormente descritos neste
artigo, ao nos referirmos ao Programa de Ação Mundial para as Pessoas
com Deficiência.
Em 1997, a OMS reapresentou essa CIDID, dotada de novo título -
Classificação Internacional das Deficiências, Atividades e Participação,
com o formato de um manual - CIDDM - 2, contendo princípios que
recomendam a atenção ao contexto ambiental e as potencialidades, ao
contrário da tendência anterior de enfoque sobre as incapacidades e
limitações.
Segundo o CIDDM - 2, a deficiência representa uma perda ou
anormalidade de uma parte do corpo (estrutura) ou função corporal (fisiológica),
incluindo as funções mentais. Por atividade, entende o fazer ou a execução de
algo, por parte de um indivíduo, em diferentes níveis de complexidade.
Conceituada anteriormente como incapacidade, a limitação da atividade
passa a ser compreendida como uma dificuldade no desempenho pessoal. A
incapacidade tem sua raíz na limitação no desempenho da atividade que advém
exclusivamente da pessoa. Nessa ótica, o termo incapacidade não deve mais ser
usado, na medida em que pode subtender uma desqualificação social.
Confere, a CIDD - 2, ênfase a participação, entendida como a interação
estabelecida entre a pessoa portadora de deficiência, a limitação da atividade e os
fatores do contexto sócio-ambiental.
Essa nova abordagem dá ênfase ao conceito de inclusão social,
definido como o processo pelo qual a sociedade se adapta para incluir, em seus sistemas
sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para
assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui então, um processo bilateral no
qual as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas,
decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos.13
A partir desta nova abordagem, a prática da inclusão social, passa
a substituir, paulatinamente a prática da integração social, tendo como
objetivo primordial a inserção de todas as pessoas, por meio da mudança
social na forma de atendimento às necessidades de todos de forma igual,
isenta de preconceitos, discriminações, barreiras sociais, culturais e
individuais.
Inclusão social implica portanto, na garantia do acesso das pessoas
portadoras de deficiência aos serviços públicos e bens culturais, como também
aos bens produzidos, resultantes do progresso e desenvolvimento social.
Nos países desenvolvidos, tais como Estados Unidos e Canadá, o termo
incapacidade assume maior amplitude, por abranger, todos os indivíduos
possuidores de alguma desvantagem ou dificuldade no desempenho de alguma
função, compreendendo nesse grupo também os idosos e portadores de
doenças crônicas incapacitantes.
Em nosso país, apesar dos avanços registrados na compreensão e no
trato desses dois grupos, de acordo com o pensamento dominante e a definição
legal, consideram-se deficientes as pessoas portadoras de deficiência motora,
auditiva, visual, mental e múltipla, classificação esta que segue os padrões da
OMS como afirmado anteriormente.
Analisando a evolução deste assunto historicamente no Brasil,
percebemos a existência de normas e decretos direcionados a pessoas com
defeitos físicos, além do uso, em textos escritos (séculos XVI e XVII) de termos
como, aleijados, enjeitados, mancos, cegos, surdos-mudos, e outros, em sua
grande maioria acompanhando anotações, notificações ou trabalhos,
relacionados à população pobre e doente, prática comum em nível mundial e
não só aqui.
13
SASSAKI, Romeu Kasumi. Inclusão Social: os novos paradigmas para todos os
grupos
minoritários. 1997. Disponível em : <http://www.entreamigos.com.br/temas>.
Dados em arquivo registram o aparecimento das primeiras Santas Casas
no século XVI, ao lado do atendimento dos padres jesuítas. Evidenciam
igualmente a inexistência de casos de portadores de deficiência entre os
indígenas, resultantes de problemas congênitos e sim, somente adultos portando
deformidades resultantes de situações traumáticas vividas na idade adulta,
levantando-se a hipótese do extermínio de recém-nascidos portadores de
deficiências.
Quanto à população negra, os defeitos portados, referiam-se quase
sempre a conseqüências de acidentes nos locais de trabalho, castigos físicos, e
doenças, estas últimas somadas aos insetos, epidemias e ausência de higiene, os
quais constituíram-se razão muitas vezes da aquisição de deficiências, por parte
dos europeus.
A atenção às pessoas portadora de deficiência no Brasil, surgiu com a
finalidade de atendimento elementar nas áreas de educação e saúde, efetuado em
instituições filantrópicas, cuja preocupação se estendeu posteriormente para o
atendimento de reabilitação, sem assumir uma abordagem integradora dessa
problemática, além de preservar, na maioria dos casos, uma postura
assistencialista.
De acordo com Maior14,
...a preocupação com a reabilitação no Brasil surgiu em instituições filantrópicas, sem
proposta de participação comunitária, sem ouvir os próprios reabilitandos e
conduzidas à margem do Estado.
Segundo dados do Relatório da Câmara Técnica sobre Reabilitação
Baseada na Comunidade,
...A situação de assistência à pessoa portadora de deficiência no Brasil ainda
apresenta um perfil de fragilidade, desarticulação e descontinuidade de ações nas
esferas pública e privada. No âmbito assistencial, a maioria dos programas é bastante
centralizada e atende a um reduzido número de pessoas portadoras de deficiência,
além de não contemplar experiências comunitárias, e de seus resultados raramente ser
avaliados. Todos os leitos de reabilitação, segundo o código da tabela do Sistema de
Informações Hospitalares - SIH-SUS, estão concentrados nas regiões Centro-Oeste e
Sudeste - os Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro detém 80% do total - e
pertencem quase que exclusivamente ao setor privado, conveniado e contratado.15
Os dados específicos acerca deste segmento populacional, em níveis
mundial e nacional, representam resultados de trabalhos recentes, tendo seu
início datado, aproximadamente, da metade do século passado. Segundo
14
MAIOR, Isabel Maria M. L. Políticas públicas sociais para as pessoas portadoras de
deficiências no Brasil. Cadernos de Pesquisa. São Paulo: CEBRAP, n.7, p. 31-7,
1997, p. 16.
15
BRASIL. Ministério da Justiça. Relatório da Câmara Técnica sobre Reabilitação
baseada na Comunidade. [Brasília]: SDC; CORDE 1995.
estimativas da OMS16, cerca de 10% da população de qualquer país em tempo
de paz é portadora de algum tipo de deficiência, distribuídas nos seguintes
percentuais: 5% é portadora de deficiência mental; 2% de deficiência física; 1,5%
de deficiência auditiva; 0,5% de deficiência visual e 1% de deficiência múltipla.
Baseando-se nesses percentuais, estima-se a existência, no Brasil, de
aproximadamente 16 milhões de pessoas portadoras de deficiência.
Realizada em 1981, a Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar -
Pnad, passa a incluir questões voltadas para a deficiência tais como número e
tipos de deficientes e assistência recebida. De acordo com os dados colhidos,
2% da população é portadora de deficiência, sendo que deste percentual, os
deficientes motores representam quase a metade.
O Censo de 1991, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE, aponta um percentual de 1,14%, na população brasileira, de
portadores de deficiências, ao lado de uma expansão significativa da deficiência
de ordem mental, a partir dos 5 anos de idade, mostrando não só o papel da escola na
identificação da deficiência, mas apontando para a necessidade de um diagnóstico mais precoce,
bem como para avaliações educacionais mais precisas, evitando-se correr o risco de enquadrar-se
como portadores de deficiência mental, pessoas com problemas psicológicos, neurológicos ou
mesmo socioeconômicos, que interferem no processo de aprendizagem.17
Inversamente aos dados apontados pelo mesmo Censo/91, com relação
à população geral, (50,4% constatado como do sexo feminino e 49,6% do sexo
masculino), o contingente de portadores de deficiências, apresenta um
percentual de 44,4% do sexo feminino e 55,65% do sexo masculino, sendo
maior a incidência de deficiência motora na população masculina entre jovens e
adultos, como também de deficiência mental até aos 50 anos de idade, após o
que, predominam as mulheres.
No que se refere as populações urbanas e rurais, não foram observadas
diferenças significativas, apenas quanto a um acréscimo de portadores de
deficiência na população urbana, que apresenta 20 anos ou mais, explicável
mediante os casos de acidente e violência diariamente registrados.
São apontadas como principais causas das deficiências os transtornos
congênitos e perinatais, resultantes da falta de assistência ou inadequação dessa
às mulheres na fase reprodutiva; doenças transmissíveis e crônicas não-
transmissíveis; perturbações psiquiátricas; abuso de álcool e de drogas;
desnutrição; traumas e lesões, principalmente nos centros urbanos mais
desenvolvidos.
16
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Manual de
Legislação em Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência/ Ministério da Saúde,
Secretaria de Assistência à Saúde _ Brasília: Ministério da Saúde, 2003
17
BRASIL. Ministério da Saúde, op. cit, 2003, p. 11
Devido ao aumento, nas últimas décadas, da expectativa de vida da
população brasileira, tendência marcante em todo mundo, as causas das
deficiências têm sido relacionadas, com uma certa freqüência, com males
crônico-degenerativos, tais como a hipertensão arterial, a diabetes, o infarto, os
acidentes vásculo-encefálicos, a doença de Alzheimer, o câncer, a osteoporose,
etc, com destaque para as seqüelas oriundas das doenças cerebrovasculares.
No Brasil, o Censo/2000 do IBGE, o primeiro trabalho desta
envergadura mais aprofundado sobre a questão, concluiu que 14,5% da
população, ou seja, 24,5 milhões de habitantes, possuíam alguma forma de
deficiência.
Encontra-se abaixo especificado, quadro representativo dos resultados
deste Censo, em níveis nacional e estadual.
18
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Manual de
Legislação em Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência. Brasília: Ministério da
Saúde,2003
Sendo a oralidade a única forma de transmissão cultural na Antiguidade,
as atitudes se transformavam em regra, com o passar dos anos, por razões de
natureza religiosa ou como ordens emitidas por sarcedotes, reis ou chefes de
tribo, daí porque, os mais velhos eram venerados e respeitados pela vontade
divina.
Estudos históricos dão conta de que os primeiros registros sobre
aspectos relacionados ao direito dos idosos foram encontrados no Código de
Hamurabi, (aproximadamente 2.300 A.C.), ao lado de hieróglifos egípcios, nos
quais se encontram questões relacionadas ao atendimento e ao ato de poupar
pessoas de maior idade, e na Bíblia determinando aos filhos a assistência e
obediência aos pais.
Pesquisas demonstram a atitude de referência e respeito aos idosos em
épocas antigas, tais como serem os primeiros a serem servidos, com as melhores
porções em questões de alimentação, ao lado do cuidado nas limitações e
enfermidades.
Datam desta época uma norma não escrita, antes da Lei das XII Tábuas,
a qual dispunha que àquele que matasse pai ou mãe, tivesse a cabeça cortada.
Consta ser de Cícero, o primeiro tratado sobre a velhice, denominado De
Senectude, além das seguintes afirmações em legislações desta época: O filho
que três vezes desobedeceu a seu pai deve morrer (Zoroastro); Respeita teus
pais (Pitágoras); Pai e mãe têm de ser sempre apoiados e assistidos (Druidas);
Considera teus pais por toda a tua vida (egípcios).
Maomé recomendava o tratamento justo e respeitoso do homem para
com seu pai e sua mãe. Tal procedimento era considerado na China e no Japão
como algo imperativo, mesclado de sentimento religioso (piedade filial). O povo
árabe, por meio do Alcorão pregava a obrigação de proteção, carinho e apoio
eternos dos filhos aos pais, hábito este que perdura até os dias atuais; os hindus,
em seu livro sagrado Vedas e os persas no Avestra, reconhecem o papel de
sabedoria e equilíbrio dos mais velhos, enquanto no livro dos judeus, o Talmud,
citações importantes como diante do homem de cabelos brancos, levantar-te-ás,
encontram-se registradas no Levítico e em outros livros componentes dessa
cultura.
A religião Cristã, por meio dos Dez Mandamentos e da Bíblia, amplia e
sedimenta o comportamento compreensivo e respeitoso frente aos anciãos,
influenciando mais tarde o Corpo do Direito Civil Justiniano o qual conclama
esse dever para os mais velhos, além do Código do Direito Canônico, o qual
contempla ambos - a Bíblia e o Direito Romano - propondo normas em torno
do mesmo assunto.
O aparecimento das primeiras instituições oficializadas para o
atendimento de idosos, carentes e enfermos, data do século XV, na Holanda,
por iniciativa de paróquias e empregadores, seguida da Irlanda no século XVI, a
qual continha, dentre as suas ordenações jurídicas, a recomendação de
recolhimento e assistência às pessoas de idade, isentas de parentes e recursos.
Inspirado nos ideais da Revolução Francesa, Napoleão Bonaparte, por
meio de um trabalho conjunto de juristas da época, idealizou e deu condições de
consolidação ao Código Civil, também denominado Código Napoleônico, o
qual dentre o elenco dos aspectos legalmente contemplados, incluía os idosos e
veteranos de guerras.
Além de vigorar no continente europeu, no período considerado de
subjugo napoleônico, (séc. XIX), este Código influenciou as Constituições dos
países da América Latina quando por ocasião de sua independência,
constituições essas cuja tônica mais liberal, influenciada pela liberdade
característica do Código Napoleônico, diferenciou-se sobremodo do antigo
rigor da legislação espanhola.
Da mesma forma, o Código Civil brasileiro, de 1916, foi influenciado
pelo Código Napoleônico.
A Revolução Industrial imbuída do espírito de produtividade, traz em
seus registros históricos o fato de ser a mesma a jornada de trabalho existente
para crianças, adultos e velhos, de ambos os sexos, ou seja, de quatorze a quinze
horas. O direito à aposentadoria, ou o tratamento diferenciado para o
trabalhador de idade avançada e cansado com tempo, demorou a se concretizar,
iniciando-se na Alemanha (1889), com Bismarck, mais tarde na Áustria (1906),
Inglaterra (1908), França (1910), sendo apenas adotada no EUA, entre 1930 e
1940.
Os primeiros programas de cuidados especiais para anciãos iniciaram-se
na Inglaterra após a II Guerra Mundial, em razão da situação dos aposentados e
idosos que haviam sido convocados para auxiliar em serviços essenciais, bem
como de soldados veteranos, desajustados e com envelhecimento precoce,
originando, no território inglês, o aparecimento de novos serviços de cunho
geriátrico e gerontológico a partir de 1947, colocando a Inglaterra em posição de
vanguarda neste sentido, atitude igualmente seguida pelos Estados Unidos da
América, por meio de um trabalho conjunto envolvendo a Casa Branca, o
Congresso, os serviços de saúde e as Universidades, propiciando com isso o
surgimento de legislação especial.
A partir de 1948 percebe-se que, o foco sobre a população idosa, passa a
assumir delineamento mais específico, com a intervenção da Argentina,
solicitando a ONU maiores atenções para a questão do aumento significativo
desse segmento em nível mundial, gerando a inclusão de texto específico
sobre a velhice e a responsabilidade do Estado, na Declaração Universal
dos Direitos do Homem (Paris, 1948).
Os diversos eventos realizados pela ONU entre 1950 e 1978, deram um
enfoque especial a questão do envelhecimento, apontando-o como um
problema sério e necessário de ser estudado e analisado, resultando na
elaboração de Resolução a qual previa para o ano de 1982, uma Assembléia
Mundial sobre o Envelhecimento, além de estipulá-lo como o Ano
Internacional do Idoso.
Em abril deste mesmo ano, realizou-se em Viena, o Fórum de
Organizações Não-Governamentais sobre Envelhecimento, reunindo entidades
e instituições de grande experiência no assunto, o qual constitui uma espécie de
prévia para os trabalhos da Assembléia Mundial, realizada meses depois em
outubro de 1982, com a presença de especialistas e entendidos no assunto,
representantes de 126 países, possibilitando a montagem do roteiro do Planos
de Ação Internacional sobre o Envelhecimento, o qual serviu e ainda serve
como parâmetro mundial na estruturação de planos e programas de países os
mais diversos, voltados para a população idosa, inclusive o Brasil, no qual foi
utilizado, para a construção da Política Nacional do Idoso.
O Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento, estabelece
como recomendação a atenção especial por parte de governos a programas,
projetos e atividades voltadas para as pessoas de mais idade, dentre as quais,
aquelas que conduzam à ampliação de conhecimentos e aprendizagens que
possibilitem oportunidades de melhoria da qualidade de vida, em condições de
igualdade com os demais cidadãos, engajados no processo de desenvolvimento
do país.
A igualdade pressupõe condições de acesso em atividades remuneradas
com salários compatíveis com os demais trabalhadores, nas diversas áreas e
segmentos de execução.
Essa recomendação vem de encontro à concepção moderna de cidadania
enquanto a posse de direitos e o exercício dos deveres elencados no sistema
constitucional de um país, por parte de todos os cidadãos, sendo necessário,
portanto o processo contínuo de orientação, preparo e conscientização da
população idosa, para que possam estar capacitados na direção do
conhecimento de seus direitos, tais como oportunidades e salários iguais e
outros.
De acordo com o Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento,
a elaboração e efetivação das políticas voltadas para as pessoas idosas,
constituem-se em direito absoluto, recaindo sobre o Estado o dever de exercer o
cumprimento das mesmas.
Os eventos gerontológicos internacionais têm constatado o
envelhecimento da população também nos países em desenvolvimento ao lado
do crescimento demográfico, o qual, mesmo sendo reconhecido e admitido, não
tem assegurado a melhoria na qualidade de vida deste segmento da população;
principalmente no que se refere a reintegração dos mesmos nos campos da
empregabilidade e socialização.
Posteriormente, em Bogotá ao ano de 1986, realizou-se a Conferência
Latino-Americana de Gerontologia (ONU-CIGS) sendo que em 1992 novo
encontro foi promovido, desta vez no Chile, pela Organização Pan-
Americana de Saúde (OPAS), em parceria com o Centro Latino-
Americano de Demografia e o Centro Internacional de Envelhecimento,
nos quais, críticas e advertências aos governantes sobre a problemática
relacionada ao envelhecimento, bem como a necessidade da tomada de decisões
prementes neste sentido.
As Constituições da grande maioria dos países que integram a ONU
foram elaboradas tendo como base a Declaração Universal dos Direitos do
Homem, garantindo, portanto, dentre outros, os princípios de liberdade,
igualdade, segurança social e dignidade, baluartes de qualquer política que se
queira implementar, com relação à pessoa idosa.
19
MAGALHÃES, Dirceu Nogueira. Invenção Social da Velhice. Rio de Janeiro:
Papagaio,
1989. pág. 27.
mendicantes, para os quais restava a assistência das famílias e instituições
religiosas.
É deste e de épocas anteriores como a do Brasil-Colônia, por exemplo,
a Casa dos Inválidos, a qual prestava assistência aos militares que lutaram em
defesa da colônia portuguesa.
Consta como um marco em termos legislativos, a Lei Eloy Chaves, cuja
razão motivadora principal constitui resposta às reivindicações até então não
pensadas e não existentes, representando talvez a principal tentativa, de que se
tem noticia de tratar a velhice como uma questão de cunho social.
A partir da década de 60, constata-se um declínio significativo na taxa de
fecundidade de sua população. Dentre as prováveis causas, encontram-se uma
maior possibilidade de acesso das mulheres a informação quanto aos métodos
contraceptivos, os processos de industrialização e as mudanças geradas por este
no seio familiar, o maior acesso da população brasileira aos avanços da
medicina, dentre estes as campanhas de vacinação, diminuindo e erradicando
algumas doenças graves.
São desta década as iniciativas do SESC (Serviço Social do Comércio),
de criação de grupos de convivência de idosos com atividades de lazer, sócio-
educativas, de conscientização e desenvolvimento de cidadania.
Estudiosos do assunto20 afirmam que por não dispor de políticas
publicas voltadas para a área sanitária, fato este ocorrido nos paises hoje
considerados desenvolvidos, principalmente a partir do século XX, o
envelhecimento da população brasileira aconteceu de uma forma revestida de
artificialismo, na medida em que estando ausentes as condições básicas
sanitárias, o fato de envelhecer deve-se quase que unicamente ao uso de uma
nova tecnologia médica.
Despreparado e não engajado para o enfrentamento dos novos desafios
postos pelo envelhecimento da população que hoje se encontra nesta fase da
vida, por questões de ordem política tais como, ausência de prioridade, de
vontade política, de conscientização como algo necessário e outras, a população
brasileira enfrenta hoje sérios problemas sociais, antigos e novos, relacionados
ao assunto ao lado das escassas condições econômicas de solucioná-los.
O ano de 1974, ficou marcado pela criação da renda mensal
vitalícia, a qual garantiu um auxilio financeiro, apesar de reduzido, aos
idosos com mais de 70 anos, os quais não dispunham de direitos quanto
aos benefícios da previdência social.
20
KALACHE, Alexandre. Envelhecimento no Contexto Internacional: A perspectiva
da
Organização Mundial de Saúde. Anais do I Seminário Internacional Envelhecimento
Populacional.
Dois anos após, em 1976, discutiu-se no país pela primeira vez, em
Seminário Nacional acerca das diretrizes necessárias para uma Política de
atendimento à velhice.
O primeiro Conselho Estadual do Idoso surgiu em São Paulo, no
ano de 1986, experiência esta que se propagou pelo país, reproduzindo-se em
outros estados da Federação, constituindo-se por representantes de órgãos
públicos e da sociedade civil, cujo objetivo principal é a promoção de ações
direcionadas à população idosa.
Em seu Capítulo VIII, art. 230, a Constituição Federal de 1988 dispõe
que:
A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas,
assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem estar e
garantindo-lhes o direito à vida.
Deixa evidente portanto, a necessidade do envolvimento dos diferentes
atores que compõem e atuam no contexto social, na criação e efetivação de
programas e ações que conduzam à promoção humana dos mais velhos e não
somente garantam a sua sobrevivência.
Na verdade, durante muito tempo o que se observou por parte da
família, da sociedade e do Estado, foi a demonstração de um comportamento
negligente quanto a esta questão, abstendo-se de adotar posturas práticas,
mesmo percebendo que no decorrer dos anos, ampliavam-se os problemas
relacionados a ausência de apoio sócio-psicológico, habitação, saúde, lazer,
segurança, transportes, oportunidades ocupacionais, meio ambiente, assistência
jurídica e tanto outros.
Mais recentemente, tem-se constatado o incremento de experiências
municipais, tais como a criação de espaços alternativos e de convivência para
a 3ª idade, a realização de fóruns, jornadas,encontros e seminários, tendo sido
um dos marcos neste sentido, o Fórum Nacional “As Cidades nas Políticas
de Atenção aos Idosos” , realizado em 1995 na cidade de Campinas, sob a
coordenação do Rotary, o qual teve como finalidade a aplicabilidade do
conteúdo da Lei nº 8.842 de janeiro de 1994, no plano local, contando com a
presença de 161 cidades.
Infelizmente, esta lei, apesar de representar um avanço em direção a um
trabalho mais sério em prol da população idosa, não incluiu em seu texto, como
em sua regulamentação, Decreto Federal nº 1948/96, o funcionamento dos
Conselhos Municipais do Idoso, apesar de sabermos da necessidade dos
mesmos, na medida em que, grande parte de nossas cidades, não se encontram
estruturadas para o atendimento dessa camada de cidadãos.
O lançamento da Política Nacional do Idoso, por meio da Lei
Federal 8.842/94 e do Decreto 1948/96 que a regulamentou, culminou
com a realização do I Seminário Internacional Envelhecimento
Populacional, realizado na cidade de Brasília do qual resultaram muitas
moções e recomendações importantes e impulsionadoras de novas ações
e programas voltados para a garantia de maior qualidade no processo de
envelhecimento, considerando para os efeitos desta lei os maiores de
sessenta anos de idade.
A Política Nacional do Idoso, visa garantir os direitos sociais do idoso,
criando condições que promovam a sua autonomia, integração e participação
efetiva na sociedade.
Encontra-se regida pelos seguintes princípios:
I.a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos
da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua
dignidade,bem-estar e o direito à vida;
II.o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objeto
de conhecimento e informação para todos;
III.o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza;
IV.o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem
efetivadas através desta política;
V.as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradições entre
o meio rural e o urbano do Brasil, deverão ser observadas pelos poderes públicos e
pela sociedade em geral, na aplicação desta lei
Discorre sobre a participação dos conselhos nacionais, estaduais, do
Distrito Federal e municipais do idoso, sendo de suas competências a
formulação, coordenação, supervisão e avaliação da Política Nacional do Idoso,
no âmbito das respectivas instâncias político-administrativas. Define igualmente
as competências dos órgãos e entidades públicas nas áreas de promoção e
assistência social, saúde, educação, trabalho e previdência social, habilitação e
urbanismo, justiça e cultura, esporte e lazer.
Entretanto, dentre todos esses avanços, a aprovação do Estatuto
do Idoso, Lei 10.741 de 01 de outubro de 2003, recentemente no dia 23 de
setembro de 2003, representa um marco na trajetória de luta deste
seguimento populacional, em nosso pais. Além de consolidar a legislação
já existente sobre o assunto, acrescenta benéficos a pessoas com mais de
60 anos, e institui penas severas para quem desrespeitar os idosos ou
abandoná-los.
Reafirma a obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do
Poder Público em assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura , ao esporte, ao lazer,
ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária.
Consolida mais uma vez, o prescrito na Lei Federal 8.842/94, (Política
Nacional do Idoso) quanto a priorização do atendimento deste por sua própria
família, em detrimento do atendimento asilar, exceto àqueles que não a possuam
ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência, bem como,
reafirma o compromisso dos Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito
Federal e Municipais do Idoso.
Seguem abaixo alguns pontos importantes determinados pelo Estatuto
do Idoso:
9 Gratuidade nos transportes coletivos públicos, para maiores de 65
anos, podendo a legislação local dispor sobre gratuidade também para
pessoas na faixa etária de 60 a 65 anos.
Em se tratando de transporte coletivo intermunicipal e interestadual,
ficam asseguradas duas vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual
ou inferior a dois salários mínimos e desconto de 50% para idosos de mesma
renda que excedam a essa reserva. É assegurada a reserva, nos termos da lei
local, de 5% (cinco por cento) das vagas nos estacionamentos públicos e
privados;
9 Desconto de pelo menos 50% nas atividades culturais, de lazer e
esportivas.
9 Reajuste dos benefícios em caso de aposentadoria, na mesma data do
reajuste do salário mínimo, porém com percentual deferido em
regulamento, redação esta acolhida pelo relator de emenda do
governo. O substitutivo aprovado na comissão especial tinha redação
que vinculava o reajuste ao mínimo.
9 A idade para requerer um benefício de um salário mínimo estipulado
pela Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) passa de 67 para 65
anos, concedido aos idosos que não possuem meios para prover sua
subsistência, nem tê-la provida por sua família.
9 Prioridade na tramitação de processos e procedimento dos atos e
diligências judiciais nos quais pessoas acima de 60 anos figuram como
intervenientes.
9 Estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de
informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais
do envelhecimento.
9 É assegurada na área da Saúde, a atenção integral ao idoso, por
intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS, por meio de ações e
serviços de prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde
tais como: cadastramento da população idosa; atendimento geriátrico
e gerontológico em ambulatórios, unidades geriátricas de referência e
atendimento domiciliar , incluindo a internação para a população que
dele necessitar e esteja impossibilitada de se locomover, inclusive para
os idosos abrigados e acolhidos por instituições públicas, filantrópicas
ou sem fins lucrativos; fornecimento gratuito de medicamentos
especialmente os de uso continuado, assim como recursos relativos
ao tratamento, habilitação ou reabilitação.
9 É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança
de valores diferenciados em razão da idade.
2.6 CONCLUSÃO
21
MAZZILLI, Hugo Nigro. O Ministério Público e a Pessoa Portadora de Deficiência.
Júris
Síntese, nº 29. mai/jun de 2001.
Cabe a todos nós, Estado, operadores de direito, (reconhecendo-se aqui
o papel crucial do Ministério Público), Conselhos, órgãos e entidades
governamentais e não-governamentais e a sociedade civil, de modo geral,
fiscalizar, apoiar e acompanhar as ações, projetos e programas previstos e em
andamento, assim como engajarmo-nos na luta comum pelo efetivo
cumprimento do aparato legal comprometido com os direitos e garantias de
uma vida plena, alicerçada nos princípios da justiça, da igualdade, da equidade e
principalmente da dignidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INTERNET. http://www.mppr.com.br/teses/gts/4.htm
REVISTA VEJA, São Paulo, ed. 1652, a. 33, n.23, 7 jun. 2000, p. 118-
119.
RIBAS, João B. Cintra. O que são pessoas deficientes. São Paulo:
Brasiliense, 1985.
3 Os Interesses
Metaindividuais do
Idoso e da Pessoa
Portadora de
Deficiência
Sandra Lemgruber da
Silva
Promotora de Justiça do Ministério Público do Estado do
Espírito Santo; Mestre em Direito das Relações Sociais
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo;
Professora da Escola de Ensino Superior do Ministério
Público do Estado do Espírito Santo.
INTRODUÇÃO
O tema que será abordado e que pertine aos interesses metaindividuais
do idoso e da pessoa portadora de deficiência refere-se a um novo ramo do
Direito, qual seja o dos direitos difusos, envolvendo aspectos de direito material
e processual.
Há pouco tempo, vislumbrava-se apenas o estudo dos direitos
individuais, concebendo-se tão somente o denominado processo civil individual,
sendo recentes os estudos acerca dos direitos transindividuais e do processo
coletivo.
Trata-se de novos direitos, e assim de uma nova visão do processo,
necessária para a tutela daqueles, e que em muitos pontos rompe drasticamente
com os parâmetros em que se fulcra o processo civil tradicional.
Considerando o objetivo desta obra organizada pelo Centro de Estudos
e Aperfeiçoamento Funcional (CEAF), bem como o tema que nos foi proposto,
alguns pontos devem ser examinados.
Assim, o estudo é iniciado definindo-se os direitos metaindividuais, e
sendo caracterizadas cada uma de suas espécies (item 3.1).
Em seguida (item 3.2), analisar-se-á a previsão legal dos interesses
transindividuais em geral, procedendo-se a um exame voltado tanto para a esfera
constitucional como para a infraconstitucional.
Após (item 3.3), adentrando especificamente no âmbito dos interesses
metaindividuais do idoso e da pessoa portadora de deficiência, será traçado um
panorama dos direitos materiais previstos no nosso ordenamento jurídico.
Por fim (item 3.4), ingressar-se-á no estudo da tutela judicial e
extrajudicial de tais interesses, com ênfase nos aspectos específicos de processo
coletivo.
22
Cf. em Código de Processo Civil Comentado, p. 1882/1883; Princípios do processo civil
na Constituição Federal, p. 117; e Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, p. 874.
23
Cf. Antonio Gidi, Coisa julgada e litispendência em ações coletivas, p. 21; Patrícia
Miranda Pizzol, Liquidação nas ações coletivas, p. 94/95; e Márcio Flávio Leal Mafra,
Ações coletivas: história, teoria e prática, p. 194/195.
24
Ressalte-se que, mesmo antes da conceituação proposta pelo Código do Consumidor
no que tange às espécies dos direitos coletivos lato sensu, José Carlos Barbosa
Moreira, em artigo relacionado a palestra proferida em 1989, já lecionava a
existência de litígios essencialmente e acidentalmente coletivos. Para o autor, os
primeiros seriam os concernentes a um número indeterminado de sujeitos e a um
objeto indivisível, de forma que a solução seria unitária e incindível por natureza. Os
acidentalmente coletivos, diversamente, referir-se-iam a objeto divisível, titulares
A partir da mencionada definição legal, a doutrina parte a esmiuçar os
conceitos e a esclarecer quanto às peculiaridades de cada um, identificando-os
nos casos da prática forense.
Antes do advento do referido diploma legal, já existiam tentativas no
sentido de conceituar e diferenciar os direitos difusos e os coletivos, tarefa que,
se antes era árdua, ainda hoje guarda certas dificuldades.
Os direitos difusos e os coletivos apresentam algumas características em
comum, mas também diferenças consideráveis.
Segundo o previsto no Código do Consumidor, em seu art. 81, parágrafo
único, I, os direitos difusos25 caracterizam-se como aqueles transindividuais, de
natureza indivisível, cujos titulares são pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato.
A transindividualidade significa que estes direitos transcendem o
indivíduo, de forma a ultrapassar o limite da esfera de direitos e obrigações de
caráter individual26.
A natureza indivisível refere-se ao objeto destes direitos, pertencentes a
todos os titulares e ao mesmo tempo a nenhum especificamente, do que decorre
que tanto a lesão como a satisfação de um interessado implica obrigatoriamente
na lesão ou na satisfação de todos.
Quanto às características pertinentes aos titulares destes direitos e à
forma em razão da qual os mesmos encontram-se ligados, verifica-se que a
indeterminação dos titulares decorre, em parte, justamente do fato de que não
há um vínculo jurídico a agregar os sujeitos.
Assim, tais interesses situam-se no extremo oposto dos direitos
subjetivos, vez que inexiste relação entre titularidade dos interesses e uma
pessoa determinada, sendo aqueles insuscetíveis de apropriação a título
exclusivo27.
Além destas características previstas no Código do Consumidor, a
doutrina28 menciona ainda duas características dos direitos difusos.
32
Deve-se gizar, no entanto, que, quando esses direitos individuais de origem comum
são tutelados de forma coletiva, a divisibilidade plena do objeto somente é verificada
com a liquidação da sentença.
33
Interesses difusos e coletivos, p. 39.
34
Cf. Paulo de Tarso Brandão, Ação Civil Pública, p. 97.
Fica evidente que a tutela coletiva dos direitos individuais homogêneos
não é uma imposição da natureza dos mesmos, mas uma forma de tutela mais
adequada e eficaz35.
Neste ponto, ao se falar em tutela mais adequada e eficaz, inclui-se tanto
a desobstrução do Poder Judiciário, com conseqüente economia processual,
quanto a uniformização de decisões para conflitos isonômicos e,
conseqüentemente, a tentativa de evitarem-se decisões contraditórias.
A tutela mais adequada e eficaz abrange ainda a quebra das dificuldades
enfrentadas pelo consumidor da justiça.
Este, se por um lado, não dispõe de condições financeiras para ingressar
em juízo, face o pagamento das custas e despesas processuais, por outro, mesmo
que disponha de tais condições, muitas vezes é lesado em “micro-direitos”, de
forma que o valor pecuniário destes não justifica os gastos com a propositura de
uma ação individual.
Fora tais dificuldades financeiras, há ainda as emocionais, decorrentes de
vários fatores, como a possível subordinação do indivíduo lesado ao provável
réu, bem como ao fato de que, na maioria das vezes, este é um litigante eventual
ao passo que aquele se depara com uma situação inédita.
Neste contexto, enfoca-se também a questão das dificuldades
socioculturais e intelectuais, em razão das quais muitos não chegam a ter
consciência de que os seus direitos estão sendo violados, mesmo porque nem
sabem que possuem determinado direito36.
Em tais hipóteses, a busca da tutela de forma individual poderia
inviabilizar a demanda, o que se resolveria com a propositura de uma ação
coletiva para a defesa de interesses individuais homogêneos.
Em conseqüência, comparando a tutela de tais direitos com a dos
difusos e coletivos, resta claro que quanto aos primeiros há uma conveniência e
facultatividade, e no que se refere aos últimos, uma necessidade.
35
Ressalte-se inclusive a tendência do processo civil brasileiro em desestimular a
formação de litisconsórcio com número grande de partes, especialmente face ao
previsto no novo parágrafo único do art. 46, do CPC.
36
Vale gizar neste aspecto o entendimento de Mauro Cappelletti e Bryant Garth, que,
utilizando-se da expressão “capacidade jurídica pessoal” como significando a
possibilidade de o indivíduo reivindicar efetivamente um direito, enfocam as várias
barreiras que precisam ser pessoalmente superadas, destacando a aptidão para
reconhecer a existência de um direito juridicamente exigível, o conhecimento a
respeito da maneira de ajuizar uma demanda, e a disposição psicológica das pessoas
para recorrer a processos judiciais. Acesso à justiça, p. 22/24.
Sobressai neste ponto o fato de que os direitos difusos e os coletivos
stricto sensu apresentam algumas características em comum, ao mesmo tempo em
que se diferenciam extremamente dos individuais homogêneos.
Rodolfo de Camargo Mancuso assevera que esta distinção pauta-se na
essencialidade ou contingência da natureza jurídica dos direitos coletivos, de
modo que, enquanto nos direitos difusos e coletivos stricto sensu a natureza
coletiva lhes é imanente, nos individuais homogêneos, é acidental37.
Chega-se a esta constatação vez que, conforme já explicitado, a natureza
coletiva dos direitos individuais homogêneos diz respeito tão somente a sua
forma de tutela38, sendo que os mesmos não passam de direitos materiais
individuais.
Quanto a este ponto, cumpre destacar o posicionamento de Patricia
Miranda Pizzol39, para quem existem os direitos materiais difusos, coletivos e
individuais, mas não há que se falar em um direito material individual
homogêneo.
Pautando-se em tais características, Teori Albino Zavascki chega a
afirmar que os direitos individuais, ainda que homogêneos, são direitos
individuais e não transindividuais, sendo uma antinomia a afirmação da
existência de direitos individuais transindividuais.
Assevera, ainda, o autor, que neste caso trata-se de defesa coletiva de
direitos (individuais) e não de defesa de direitos coletivos (e difusos)40.
Nestes termos fica evidente que a expressão “direito metaindividual”, no
que toca aos direitos individuais de origem comum (individuais homogêneos),
diz respeito apenas à forma de tutela.
37
Interesses difusos e coletivos, p. 39. O autor diferencia ainda os interesses difusos dos
coletivos, asseverando que nos primeiros a essencialidade é absoluta, ao passo que
nos segundos, relativa. Cf. ainda Teori Albino Zavascki, Ministério Público e defesa
de direitos individuais homogêneos, p. 148 e ss.
38
Este também é o entendimento de Celso Antonio Pacheco Fiorillo, Curso de direito
ambiental brasileiro, p. 8.
39
Liquidação nas ações coletivas, p. 100/101.
40
Defesa de direitos coletivos e defesa coletiva de direitos, p. 33/35.
O ordenamento jurídico pátrio aos poucos foi respondendo a estas
novas demandas, através de vários diplomas legais, disciplinando, ora apenas
direitos metaindividuais materiais, ora formas de tutelá-los, ora tanto uns como
outras simultaneamente.
Assim, chegou-se à previsão legal atual dos interesses metaindividuais,
consagrada tanto no âmbito constitucional como no infraconstitucional, esferas
que serão analisadas separadamente.
Ressalte-se que, dentre os novos direitos acima mencionados
encontram-se os dos idosos e dos portadores de deficiência, que, em não sendo
respeitados, necessitam também de instrumentos para sua tutela. Todavia,
considerando o objeto deste trabalho, tais temas serão examinados nos
próximos capítulos.
Assim, após a análise, neste capítulo, da previsão legal dos interesses
transindividuais em geral, serão examinadas as particularidades quanto a tais
interesses tocantemente aos idosos e às pessoas portadoras de deficiência.
41
Cf. Celso Antonio Pacheco Fiorillo, Curso de direito ambiental brasileiro, p. 218.
42
Manual do consumidor em juízo, p. 4/7.
Para o autor, o núcleo seria formado pela Constituição Federal, CDC,
LACP, Lei de Ação Popular e CPC (aplicação subsidiária), e o entorno, relativo
à tutela de interesses coletivos mais particularizados, seria constituído por leis
específicas, tais como as Leis n.º 7.913/89 (ação civil pública por danos
causados a investidores no mercado imobiliário), n.º 7.853/89 (portadores de
deficiência), n.º 8.429/92 (improbidade administrativa), n.º 8.884//94 (ordem
econômica), n.º 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), dentre outras.
Ponto fundamental a ser ressaltado refere-se à constatação de que a
jurisdição civil coletiva consiste em um sistema processual integrado, em que
seus diplomas legais interagem-se e complementam-se mutuamente, podendo
ser aplicados indistintamente às ações que versem quaisquer direitos materiais
metaindividuais.
Isto ocorre, pois, em face do disciplinado no Título VI do Código do
Consumidor (disposições finais), o Título III deste, que contém normas de
processo, em especial, coletivo, pode ser utilizado nas ações disciplinadas pela
Lei n.º 7.347/85 (seu art. 21 foi incluído pelo art. 117, do CDC).
Igualmente, as disposições da LACP são aplicáveis às ações propostas
com fundamento no Código do Consumidor, em face do consignado no art. 90
deste.
Há, ainda, que o Código do Consumidor, apesar de referir-se à defesa
individual e coletiva do consumidor em juízo (art. 81), não trata do
procedimento para a tutela dos interesses difusos e coletivos, dispondo apenas
sobre a tutela dos interesses individuais homogêneos (art. 91 e seguintes).
Destarte, verifica-se que referido diploma legal considerou a disciplina
constante da Lei de Ação Civil Pública, que já trata do procedimento tocante à
tutela dos direitos coletivos e difusos.
Percebe-se, mais uma vez, a interligação entre estas duas leis, que não
podem ser interpretadas separadamente no que tange às lides coletivas.
3.3.1 Idoso
Iniciando pela Constituição Federal de 1988, constata-se claramente
acerca da previsão dos direitos dos idosos, em especial dos metaindividuais.
No art. 3º, inserido no Título I - Dos Princípios Fundamentais, ao tratar-
se dos objetivos da República Federativa do Brasil, já se encontra, no inciso IV,
o de promover o bem de todos, sem preconceitos de idade, o que evidencia uma
preocupação em especial com os mais velhos.
Na mesma linha de raciocínio, destaca-se mais adiante, no Capítulo 2 -
Dos Direitos Sociais, do Título II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais, o
art. 7º, onde são consignados os direitos do trabalhador, encontrando-se aí
inserida, no inciso XXX, a proibição de diferença de salários, de exercício de
funções e de critério de admissão por motivo de idade.
De importância fundamental é o Título VIII - Da Ordem Social, que,
através de vários dispositivos, garante os direitos dos idosos, especialmente em
seus Capítulos II e VII.
No Capítulo II - Da Seguridade Social, cumpre fazer referência ao que
rezam os arts. 201, I, e 203, I.
No primeiro destes dispositivos, integrante da Seção III, verifica-se o
comando no sentido de que a previdência social atenderá a cobertura dos
eventos de idade avançada.
Além disso, o art. 203, I, inserido na Seção IV, estabelece que a
assistência social tem como objetivo a proteção à velhice, devendo ser prestada
a quem necessitar, ainda que não contribuinte da previdência social.
No Capítulo VII - Da Família, da Criança, do Adolescente e do Idoso,
alguns dispositivos devem ser destacados.
O art. 229 dispõe sobre o dever dos filhos maiores de ajudar e amparar
os pais na velhice.
O art. 230, de relevância extrema, determina o dever da família, da
sociedade e do Estado de amparar as pessoas idosas, garantindo-lhes o direito à
vida, à dignidade, ao bem-estar, e a participação na comunidade, ressaltando-se,
no § 1º, que, para tanto, os programas serão realizados de preferência nos lares
dos idosos.
Por fim, o § 2º, ainda do art. 230, consigna a gratuidade no transporte
coletivo urbano para os maiores de 65 anos.
Também a legislação infraconstitucional contempla os direitos
metaindividuais dos idosos, o que pode ser constatado, fundamentalmente,
através de dois diplomas legais.
Destaca-se primeiramente a Lei nº 8.842/94, que estabelece a política
nacional do idoso, e que visa garantir os direitos sociais deste.
Além desta, há a Lei nº 10.048/00, que, dentre outros fins, determina a
prioridade de atendimento aos idosos pelas repartições públicas, empresas
concessionárias de serviços públicos e instituições financeiras (art. 2º), e a
reserva de assentos para os mesmos pelas empresas públicas de transporte e
concessionárias de transporte coletivo (art. 3º).
Procedida a esta exposição, o que evidencia a previsão legal dos
interesses metaindividuais dos idosos, passa-se à análise de tais interesses no que
se refere às pessoas portadoras de deficiência.
43
Ver sub-item 1.2.
44
Luís Roberto Barroso, Ação popular e ação civil pública. Aspectos comuns e
distintivos, p. 233/234.
interesses coletivos lato sensu, as mesmas vêm sendo denominadas de
Constituições de segunda geração45.
Os direitos materiais metaindividuais em epígrafe também encontram-se
em consonância com a relação estabelecida atualmente entre sociedade civil e
Estado.
Como o Estado contemporâneo, ao lado dos direitos fundamentais do
indivíduo, passou a dispor sobre os denominados direitos sociais, e como estes
se manifestam no âmbito da sociedade civil, entendida esta enquanto
coletividade, num plano diverso das relações individuais, verifica-se uma estreita
vinculação entre sociedade civil e Estado.
Destarte, nota-se uma profunda modificação na relação entre a
sociedade civil e o Estado no sentido de colaboração.46
Isto pode ser percebido em nossa Constituição Federal ao dispor acerca
de vários direitos transindividuais que devem ser promovidos pelo Estado com
a colaboração da sociedade, tais como os relativos ao idoso (art. 230), conforme
acima exposto, e ainda no que tange ao meio ambiente equilibrado (art. 225), ao
patrimônio cultural (art. 216, § 1º), à criança e ao adolescente (art. 227), e à
educação (art. 205).
Tocantemente aos direitos das pessoas portadoras de deficiência, nota-se
esta colaboração entre a sociedade civil e o Estado na Lei n.º 7.853/89, que em
seu art. 1º, § 2º, estabelece que a matéria é obrigação nacional a cargo do Poder
Público e da sociedade.
47
Cf. Marcelo Abelha Rodrigues, Elementos de direito processual civil, v.1, p. 81/84.
Verifica-se na prática que a cada dia aumenta o número de acordos
celebrados, sendo estes um poderoso instrumento para atingir-se o objetivo
maior de proteção dos interesses em tela.
3.6 TUTELA JUDICIAL
Apesar da grande importância da tutela extrajudicial, nem sempre esta é
possível, havendo casos em que, para a proteção dos interesses metaindividuais,
não resta outra saída a não ser buscar a tutela judicial.
Para tanto, deve-se propor uma ação coletiva ou uma ação civil pública.
Conforme já explicitado48, quaisquer ações que versem sobre direitos
transindividuais pautar-se-ão no que consigna o denominado sistema de tutela
coletiva.
Conseqüentemente, também as ações coletivas concernentes aos
interesses de idosos e de pessoas portadoras de deficiência fundar-se-ão no
sistema integrado formado pela Constituição Federal, pela Lei n.º 7.347/85 (Lei
de Ação Civil Pública) e pela parte processual da Lei n.º 8.078/90 (Código de
Defesa do Consumidor).
Existem, todavia, algumas peculiaridades no que tange aos interesses dos
idosos e dos portadores de deficiência, tema que passaremos a tratar a seguir.
Resta uma observação quanto ao uso dos termos “ação coletiva” ou
“ação civil pública” no que tange à tutela dos interesses metaindividuais dos
idosos e das pessoas portadoras de deficiência.
Há posicionamentos que consideram estas ações pertinentes a realidades
diversas.49
Dentre estes, destaca-se o entendimento segundo o qual a ação coletiva
teria abrangência maior que a ação civil pública.
Segundo tal posicionamento, existem determinadas ações específicas,
com procedimentos próprios, tais como o mandado de segurança coletivo, a
ação popular, a ação de improbidade administrativa e o mandado de injunção
coletivo, que seriam consideradas ações coletivas, sem se tratar de ações civis
públicas.
Sendo assim, percebe-se que esta linha de raciocínio concebe a ação civil
pública como a que segue um procedimento “comum”, que nada mais seria que
aquele previsto no CDC e na LACP.
48
Ver sub-item 3.2.2.
49
Cf. Teori Albino Zavascki. Defesa de direitos coletivos e defesa coletiva de direitos, p.
36/37 e 42; e Hugo Nigro Mazzilli, A defesa dos interesses difusos em juízo, p. 65.
Neste aspecto, cumpre verificar que o sistema de processo coletivo é o
conjunto normativo para a tutela dos direitos coletivos lato sensu, devendo-se
recordar que é integrado, no que toca à legislação infraconstitucional,
fundamentalmente pela Lei n.º 7.347/85 e pelo Código do Consumidor, mas
também por outras leis mais específicas, denominadas por Rodolfo de Camargo
Mancuso de “entorno”50.
Assim, a tutela de quaisquer ações versantes acerca dos direitos
metaindividuais deve ser buscada neste sistema, ainda que seu “núcleo” seja
aplicado secundariamente.
Observa-se, além disso, que, em face do previsto no art. 83, do CDC,
são admitidas quaisquer ações para a tutela dos direitos coletivos lato sensu, de
forma que, como este dispositivo legal aplica-se a LACP, podem ser propostas
todas as espécies de ações, sendo possível denominá-las de ação civil pública ou
de ação coletiva.
Procedidas a tais considerações, chega-se à insofismável conclusão de
que os termos “ação civil pública” e “ação coletiva” podem e devem ser
aplicados indistintamente, referindo-se ao instrumento de tutela dos direitos
transindividuais51, inclusive dos pertinentes ao idoso e à pessoa portadora de
deficiência.
3.6.1 Idoso
Quanto aos interesses metaindividuais do idoso, não há legislação
específica para a tutela dos mesmos, ou seja, que trate do processo coletivo.
Conseqüentemente, aplica-se integralmente o consignado no sistema de tutela
coletiva.
Contudo, há uma peculiaridade prevista nos arts. 1.211-A, 1.211-B e
1.211-C, do CPC, acrescentada pela Lei n.º 10.173/01, e que determina a
prioridade na tramitação de procedimentos judiciais em que figure como parte
ou interveniente pessoa com 65 (sessenta e cinco) anos de idade ou mais.
Esta regra, estando inserida no CPC, pertine a princípio à tutela dos
direitos individuais e conseqüentemente ao processo individual.
Ocorre que, não havendo regra análoga no sistema de tutela coletiva, o
CPC é de aplicação subsidiária, conforme já expresso, de forma que a prioridade
50
Ver sub-item 3.2.2.
51
Neste sentido manifestam-se José Marcelo Menezes Vigliar, Ação civil pública, p. 30, e
Ação civil pública ou ação coletiva?, p. 412; Márcio Flávio Mafra Leal, Ações
coletivas: história, teoria e prática, p. 188; e Nelson Nery Junior, O sistema do processo
coletivo e o interesse público, p. 255, texto integrante da obra Direito processual
público, coordenada por Carlos Ari Sundfeld e Cassio Scarpinella Bueno.
na tramitação de procedimentos judiciais diz respeito também à proteção dos
interesses transindividuais do idoso, e assim às ações coletivas.
Como o dispositivo em questão refere-se ao idoso que figure como parte
ou interveniente, poder-se-ia questionar se a situação jurídica do mesmo nas
ações coletivas ensejaria a aplicação da mencionada regra.
Quanto a isto, verifica-se que nestas ações o idoso não é parte, e em
regra nem interveniente.
Tocantemente à intervenção de terceiros, constata-se que poucas são as
hipóteses de ocorrência no âmbito das ações coletivas.
Por outro lado, fundamental é o entendimento acerca da parte ativa
nestas ações.
Neste aspecto, cumpre sublinhar que, assim como na tutela individual, a
qualidade jurídica em que a parte ativa apresenta-se no processo é de
fundamental importância.
Verifica-se que os pretensos titulares do direito material invocado
comparecem em juízo através de outrem, e não em nome próprio, o que se dá
por razões diversas conforme a espécie de direito coletivo invocado.
No tocante aos direitos difusos, isto ocorre tendo em vista sua natureza
indivisível, cujos titulares são indetermináveis.
Quanto aos direitos coletivos stricto sensu, ainda que seus titulares possam
ser determinados, sua natureza é indivisível.
Por fim, no que diz respeito aos direitos individuais homogêneos,
mesmo que possuam natureza divisível e refiram-se a titulares determinados,
deve-se considerar o intuito do legislador de tratar molecularmente tais
demandas.
Justamente em razão disso, a opção legislativa foi a de atribuir
legitimação ativa a determinados entes52, os quais não agem em busca de direito
próprio, mas sim em prol de interesses metaindividuais, conseqüência de que a
lide não se refere à somatória dos direitos individuais.
Se a lei elencou um rol taxativo quanto aos legitimados para a
propositura das ações coletivas, é justamente em face da natureza das lides
coletivas, nas quais não há como, por vários motivos, ingressarem em juízo
todos os indivíduos materialmente lesados.
Nota-se que, enquanto no direito processual civil individual a regra é a
de que os meios processuais restringem-se aos pretensos titulares do direito,
52
Ver art. 5.º, da LACP, art. 82, do CDC, art. 5.º, LXX e LXXIII, da CF/88,
ressalvando-se ainda previsão neste sentido em outras leis mais específicas.
aceitando-se apenas excepcionalmente (art. 6.º, do CPC) a atuação de terceiros,
diversamente ocorre em se tratando de direitos metaindividuais, vez que a
titularidade é de categorias de pessoas ou mesmo da própria coletividade53.
Desta forma, é preciso considerar a função desempenhada por estes
legitimados para a propositura das ações coletivas, viabilizando uma pretensão
da qual não são titulares, e agindo em lugar da coletividade como meros
condutores ou portadores do direito de ação.
Disto conclui-se que a parte ativa não pode ser caracterizada apenas a
partir de quem instrumentaliza a via ingressando em juízo, mas também a partir
dos verdadeiros interessados.
Impende destacar que os legitimados para as ações coletivas são
alcançados tão somente pela coisa julgada formal, enquanto a coletividade,
verdadeira titular da lide, é que será atingida pela coisa julgada material.
Entretanto, considerando o conceito de parte, em que deve ser
considerada a relação jurídica processual e não a material, não restam dúvidas de
que partes nas ações coletivas são os legitimados elencados no ordenamento
brasileiro para tutela dos direitos transindividuais, e não os pretensos titulares de
tais direitos.
Ainda assim, resta claro que no âmbito das ações coletivas este conceito
deve ser entendido com certos temperamentos.
Diante disto, nas ações coletivas que versem sobre interesses
metaindividuais dos idosos, apesar de a parte ser um dos legitimados para a
propositura destas ações, conclui-se que a regra insculpida no art. 1.211-A, do
CPC, é plenamente aplicável.
1) Legitimação ativa
Seguindo a ordem prevista na Lei n.º 7.853/89, e assim partindo do art.
3.º, caput, constata-se que o mesmo trata da legitimidade para a propositura da
ação civil pública.
Também a LACP e o CDC consignam acerca dos legitimados para a
propositura de tais ações, respectivamente em seus artigos 5.º, caput, I e II, e 82,
caput, I a IV.
Analisando estes dois dispositivos em conjunto, verifica-se que o CDC
repetiu a LACP, acrescentando ao rol de legitimados desta o Distrito Federal e
as entidades e órgãos da administração pública direta e indireta sem
personalidade jurídica, desde que tenham como finalidade institucional a
proteção de algum dos interesses metaindividuais.
Como mencionados diplomas legais se interagem, conforme exposto
acima, conclui-se que são legitimados ativos para as ações coletivas todos os
entes elencados no art. 82, que é mais completo.
Por outro lado, a Lei n.º 7.853/89, em seu art. 3.º, caput, coincide com o
disposto no art. 82, do CDC, exceto ao não dispor sobre a legitimidade das
entidades e órgãos da administração pública direta e indireta sem personalidade
jurídica.
Ainda assim, entendemos que também estes entes são legitimados para a
propositura das ações coletivas fundadas na Lei n.º 7.853/89, em que pese não
haver previsão expressa nesta lei.
Isto se justifica, primeiramente, porque o sistema de jurisdição civil
coletiva pertine a quaisquer interesses materiais coletivos lato sensu, e assim
também aos das pessoas portadoras de deficiência. Quanto a isso, repita-se que
o art. 7.º, da Lei n.º 7.853/89, consignou a subsidiariedade da LACP.
Em segundo lugar, nota-se que o CDC, que introduziu a legitimação das
entidades e órgãos da administração pública direta e indireta sem personalidade
jurídica, é posterior à Lei n.º 7.853/89, não havendo que se falar em intuito do
legislador desta em não incluir no rol dos legitimados os mencionados entes.
Diante disto, conclui-se que, para a propositura da ação coletiva para a
tutela das pessoas portadoras de deficiência, são legitimados o Ministério
Público; a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal; a associação
constituída há mais de um ano, que inclua entre suas finalidades institucionais a
proteção das pessoas portadoras de deficiência; e as entidades e órgãos da
administração pública direta e indireta, com ou sem personalidade jurídica, e que
tenham como finalidade institucional a proteção dos interesses das pessoas
portadoras de deficiência.
4) Litisconsórcio
A Lei n.º 7.853/89, em seu art. 3º, § 5º, dispõe acerca da possibilidade de
litisconsórcio no pólo ativo entre os legitimados para a propositura da ação civil
pública para a tutela das pessoas portadoras de deficiência.
A LACP, em seu art. 5º, § 2º, também trata desta espécie de
litisconsórcio facultativo ativo, não havendo diferenças em essência entre um e
outro dispositivo.
Vale gizar que este litisconsórcio, em que pese a facultatividade, é
unitário, uma vez que o comando judicial será o mesmo para todos os
litisconsortes, conseqüência de se tratar de uma mesma relação jurídica.
6) Coisa julgada
A coisa julgada é tratada tanto na Lei n.º 7.853/89 (art. 4º, caput), como
na LACP ( art. 16) e no CDC (art. 103 e 104).
Cotejando-se o art. 4º, caput, da Lei n.º 7.853/89, com o art. 16, da
LACP, verifica-se que ambos dispõem acerca dos efeitos erga omnes da coisa
julgada, excepcionando-se a possibilidade de ser proposta nova ação caso o
pedido da anterior seja julgado improcedente por falta de provas.
A diferença que existe entre o teor desses dois dispositivos consiste em
que o art. 16, diversamente do art. 4º, caput, restringe os efeitos da sentença
qualificados pela coisa julgada aos limites da competência territorial do órgão
prolator.
Em relação a isto, percebe-se que mencionado dispositivo, modificado
em razão da Lei n.º 9.494/97 (advinda da MP n.º 1.570-4, de 22.07.1997),
objetiva a fragmentação da coisa julgada, ou melhor, dos limites subjetivos da
mesma, mediante a restrição territorial da competência jurisdicional.
Contra a aplicação do mesmo, várias são as objeções, destacando-se,
primeiramente, sua inconstitucionalidade.55
De um lado, verifica-se o desrespeito aos princípios do acesso à justiça,
da razoabilidade e da proporcionalidade56.
De outro, há que a medida provisória da qual se originou sobredita
modificação não observou os requisitos materiais para sua edição, quais sejam
os da relevância e urgência57.
55
Visando à declaração da inconstitucionalidade do dispositivo legal em tela, além de
outros, foi proposta pelo Partido Liberal, a ADIN n.º 1576-1. No que tange ao
mencionado dispositivo, foi indeferida a liminar, não tendo sido ainda proferida
sentença.
56
Cf. Nelson Nery Junior e Rosa Maria A. Nery, ibidem, p. 1540/1541.
Ainda que assim não fosse, assevera-se, em segundo lugar, quanto à
ineficácia e inaplicabilidade do art. 16.
Isto porque, em que pese a modificação constante da LACP, este
diploma interage e intercomunica-se com o CDC, o qual, ao tratar, em seus arts.
93 e 103, da competência e da coisa julgada no que tange a todos os tipos de
ações coletivas, permanece inalterado.
Ressalte-se, ainda, que o art. 103 é muito mais amplo que o art. 16,
prevendo um regime completo no que toca à coisa julgada nas ações coletivas.
Vale mencionar que alguns chegam a afirmar que o art. 103, do CDC,
revogou o art. 16, da LACP, não tendo a Lei n.º 9.494/97 repristinado-o, vez
que para tanto deveria ter sido expressa.
Por último, mister sublinhar que a competência é determinada a partir
do objeto do processo, não podendo, por uma inversão de coisas, vir a
determiná-lo.
Da mesma forma, os efeitos da sentença estão ligados ao objeto do
processo e aos pretensos titulares do mesmo, não podendo submeter-se a
outros limites.
Assim, fundamental é a consideração do interesse metaindividual, cuja
defesa é buscada, bem como da projeção social do mesmo.
Em face deste raciocínio, verifica-se que a decisão judicial não pode
sofrer condicionamento geográfico, devendo atingir o interesse pretendido onde
quer que se revele seu campo de incidência, e no que tange a todos os sujeitos
concernentes58.
Conseqüentemente, a coisa julgada, como qualidade que se agrega aos
efeitos da sentença, qualificando-os e tornando-os imutáveis59, não pode sofrer
restrições por critérios meramente territoriais.
Além dos motivos apontados, especificamente no que tange às ações
civis públicas para a tutela de interesses metaindividuais de pessoas portadoras
de deficiência, constata-se que o art. 16, por se tratar de preceito que implique
57
Clèmerson Merlin Clève esclarece que a relevância diz respeito aos interesses da
sociedade, ao interesse público, devendo focar-se não apenas sobre a matéria
tratada, como também sobre a situação ensejadora da medida (estado de
necessidade). Quanto à urgência, leciona que indica um perigo de dano, estando
relacionada ao provimento. Medidas provisórias, p. 69/74.
58
Cf. Rodolfo de Camargo Mancuso, Ação civil pública, p. 235/236.
59
Enrico Tullio Liebman leciona que devem-se distinguir efeitos ou eficácia da sentença
e a sua possível imutabilidade. A eficácia é a aptidão de produzir efeitos, sendo que a
sentença tem essa aptidão, e assim, eficácia, por provir do Estado. No entanto, a
imutabilidade de tais efeitos só se dá com a coisa julgada. Cf. Eficácia e autoridade da
sentença, p. 40.
em uma restrição, não há de ser observado, uma vez que o art. 7º, da Lei
nº 7.853/89, determina que a LACP será aplicada no que couber, ou seja, desde
que não seja incompatível com o previsto naquela outra.
Por outro lado, corroborando o raciocínio exposto, constata-se que os
arts. 103 e 104, do CDC, consignam regras que vêm completar o enunciado do
art. 4º, caput, da Lei n.º 7.853/89, sendo sua aplicação conjunta não só possível
mas também necessária.
11) Crime
A conduta de desatender dolosamente e sem justa causa a requisições do
Ministério Público referentes a dados técnicos indispensáveis para a propositura
de ação civil pública, constitui infração penal tipificada tanto na Lei nº 7.853/89,
em seu art. 8º, VI, como na Lei n.º 7.347/85, em seu art. 10.
Ambos os dispositivos possuem o mesmo teor, diferenciando-se
somente no tocante à pena de reclusão que, enquanto na Lei n.º 7.853/89 é de 1
a 4 anos, na LACP, é de 1 a 3 anos.
Vale gizar que, se a requisição versar sobre dados apenas úteis à
propositura da ação, considera-se praticada a conduta penal de prevaricação ou
desobediência, conforme o destinatário da ordem seja funcionário público ou
não.61
B) Matérias tratadas na Lei n.º 7.347/85 (LACP), e na Lei
n.º 8.078/90 (CDC), e que não constam da Lei n.º 7.853/89
Conforme já exposto, a Lei n.º 7.853/89 consigna apenas algumas regras
específicas quanto à tutela jurisdicional dos interesses metaindividuais das
pessoas portadoras de deficiência, de forma que as matérias que não são tratadas
nesta lei devem buscar embasamento nos diplomas que constituem o cerne da
jurisdição civil coletiva, quais sejam a Lei n.º 7.347/85 e a Lei n.º 8.078/90.
Mencionou-se, inclusive, que a própria Lei n.º 7.853/89, em seu art. 7.º,
consigna a aplicação subsidiária da LACP.
Assim, passar-se-á a enumerar as regras constantes do citado sistema de
tutela coletiva que devem ser aplicadas à tutela dos direitos metaindividuais das
pessoas portadoras de deficiência, sem se proceder a uma análise detida face não
serem específicas destas, e tendo em vista o objetivo deste trabalho.
Também aqui, este mister será realizado através de uma tabela, exposta a
seguir.
61
Hugo Nigro Mazzilli, O inquérito civil, p. 172.
MATÉRIAS TRATADAS NA LEI N.º 7.347/85 (LACP) E NA LEI
N.º 8.078/90 (CDC), E QUE NÃO CONSTAM DA LEI N.º 7.853/89
MATÉRIA PD
1) Remessa necessária Art. 4.º, § 1.º
2) Legitimidade recursal Art. 4.º, § 2.º
3) Crime para o não cumprimento de Art. 8.º, V
ordem judicial
1) Remessa necessária
A Lei n.º 7.853/89, em seu art. 4.º, § 1.º, consigna duas hipóteses de
remessa necessária, nas quais os efeitos da sentença só adquirem a qualidade da
imutabilidade após reexame pelo órgão ad quem.
Uma delas refere-se às ações coletivas que sejam extintas sem o
julgamento do mérito em razão da ausência de uma das condições da ação, e a
outra às ações cujo pedido seja julgado improcedente.
Vale gizar que o teor desta norma é quase idêntico ao do art. 19, 1.ª
parte, da Lei n.º 4.717/65, que trata das ações populares.
2) Legitimidade recursal
Outra regra peculiar trazida pela Lei n.º 7.853/89, em seu art. 4º, § 2º,
pertine à legitimidade para a interposição de recursos quando tenha havido
sucumbência pelo autor da ação.
Nestes casos, são legitimados para recorrer tanto aquele que ingressou
com a ação coletiva para a tutela de interesses de pessoas portadoras de
deficiência, como os demais co-legitimados, aí incluído o Ministério Público.
Quanto a este último, sua legitimidade para recorrer nos casos em que
oficie como custos legis já estava prevista anteriormente, considerando os termos
do art. 499, do CPC.
Percebe-se que, também no tocante a este aspecto, há regra muito
semelhante para as ações populares, prevista no art. 19, § 2.º, da Lei
n.º 4.717/65.
3) Crime
Apesar de não se tratar de regra de direito processual coletivo, destaca-se
por fim como especificidade da Lei n.º 7.853/89 o previsto em seu art. 8.º, V.
Este dispositivo torna fato típico a conduta de descumprir
injustificadamente a execução de ordem judicial expedida nas ações que versem
acerca dos direitos das pessoas portadoras de deficiência.
Trata-se assim de mais uma forma encontrada pelo legislador para
buscar garantir a efetividade das decisões judiciais na esfera destes interesses.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Rosana Beraldi
Bevervanço
Promotora de Justiça do Ministério Público do Paraná;
Mestre em Direito das Relações Sociais pela Universidade
Federal do Paraná (UFPr) ; Assessora Jurídica da
Procuradoria - Geral de Justiça do Paraná; Coordenadora
dos Centros de Apoio Operacional das Promotorias de
Defesas dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência e
de Defesa dos Direitos do Idoso até abril de 2002;
Membro da Comissão Interinstitucional para
implementação da Lei Orgânica da Assistência Social;
Professora da Fundação Escola do Ministério Público;
Autora de artigos em periódicos e Jornais na área do
Idoso e Portador de Deficiência.
Art. 19. Consideram-se ajudas técnicas, para os efeitos deste Decreto, os elementos que
permitem compensar uma ou mais limitações funcionais motoras, sensoriais ou mentais
da pessoa portadora de deficiência, com o objetivo de permitir-lhe superar as barreiras
da comunicação e da mobilidade e de possibilitar sua plena inclusão social.
Parágrafo único. São ajudas técnicas:
I - próteses auditivas, visuais e físicas;
II - órteses que favoreçam a adequação funcional;
III - equipamentos e elementos necessários a terapia e reabilitação da pessoa portadora
de deficiência;
IV - equipamentos, maquinarias e utensílios de trabalho especialmente desenhados ou
adaptados para uso por pessoa portadora de deficiência;
V - elementos de mobilidade, cuidado e higiene pessoal necessários para facilitar a
autonomia e a segurança da pessoa portadora de deficiência;
VI - elementos especiais para facilitar a comunicação, a informação e a sinalização para
pessoa portadora de deficiência;
VII - equipamentos e material pedagógico especial para educação, capacitação e
recreação da pessoa portadora de deficiência;
VIII - adaptações ambientais e autonomia pessoal; e outras que garantam o acesso, a
melhoria funcional e
IX - bolsas coletoras para os portadores de ostomia.
4.1.2 A Esterilização
70
RIBAS, João B. Cintra. O que são pessoas deficientes, 1985, p. 193.
71
PARREIRA, Jandira Grandisoli. Aspectos legais da esterilização voluntária, 1986,
p.100.
72
PERLINGIERI, Pietro, op. cit., 1997, p.155.
A questão da diversidade nos termos acima postos, deve ser melhor
apreciada inclusive pela Bioética, quando aborda o conceito de "competência"
do paciente para aceitar ou recusar um tratamento médico e, assim, o médico
orientar-se quanto a isso.73
Aliás, é interessantíssima a demonstração do dilema entre ética e ciência
na vida atual, pelos professores Volnei GARRAFA e Giovanni BERLINGUER,
em sua obra.74
Na Constituição Federal, artigo 226, § 7º lê-se que compete ao Estado
propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício do direito ao
planejamento familiar.75
A Lei nº 7.853/89, por seu lado estabelece a responsabilidade do Poder
Público em assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de
seus direitos básicos como as referentes ao planejamento familiar, entre outras.76
É de se lembrar que no sistema jurídico vigente em nosso País, quanto
aos direitos das pessoas portadoras de deficiência, vigora obviamente o princípio
da igualdade para estas.
73
CULVER, Charles M. Competência do paciente. Tradução de Patrícia Roffo de
Nelson. In: COHEN, Claudio ; SEGRE, Marco. [Org.]. Bioética. São Paulo :
Universidade de São Paulo, 1995, p. 63-87.
74
BERLINGUER, Giovanni ; GARRAFA, Volnei. O mercado humano : estudo bioético
da compra e venda de partes do corpo. Brasília : Universidade de Brasília, 1996, p.149.
75
Artigo 226, § 7º: "Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da
paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo
ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito,
vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficias ou privadas". (grifos
nossos).
76
Art. 2º " Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de
deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à
saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à
maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das Leis, propiciem seu
bem-estar pessoal, social e econômico.
Parágrafo único. Para o fim estabelecido no caput deste artigo, os órgãos e entidades da
administração direta e indireta devem dispensar, no âmbito de sua competência e
finalidade, aos assuntos objetos desta Lei, tratamento prioritário e adequado, tendente
a viabilizar, sem prejuízo de outras as seguintes medidas:
a) a promoção de ações preventivas, como as referentes ao planejamento
familiar, ao aconselhamento genético, ao acompanhamento da gravidez, do
parto e do puerpério, à nutrição da mulher e da criança, à identificação e
ao controle da gestante e do feto de alto risco, à imunização, às doenças do
metabolismo e seu diagnóstico e ao encaminhamento precoce de outras
doenças causadoras de deficiência;" (grifos nossos)
A Lei nº 9.263, de 12 de janeiro de 1996, veio regular o § 7º, do artigo
226 da Constituição Federal, quando ao planejamento familiar, estabelecendo
como direito de todo cidadão e definindo-o como conjunto de ações de
regulação da fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação
ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal (art. 2º, caput).
Ainda, em seu artigo 3º, estabelece o planejamento familiar dentro de
um atendimento global e integral à saúde.77
No artigo 4º, resta estabelecido que o planejamento familiar orienta-se
por ações preventivas e educativas e pela garantia de acesso igualitário e
informações, meios, métodos e técnicas disponíveis para a regulação da
fecundidade com treinamento de profissionais do Sistema Único de Saúde para
tanto.
Vale atentar para os artigos 9º, 12º e 17º da Lei que voltam-se ao
cuidado com a vida e saúde das pessoas, liberdade de opção e tipos penais
relativos ao induzimento ou instigação à esterilização.78
A Lei nº 9.263/96, em sua segunda edição, prevê ainda os casos em que
é permitida a esterilização voluntária, incluindo aí, a importante previsão acerca
da capacidade civil plena, sendo que a esterilização cirúrgica em pessoas
absolutamente incapazes somente poderá ocorrer mediante autorização judicial,
regulamentada na forma da lei, bem como acrescentou tipos penais para
condutas em desacordo com tais previsões.79
77
Artigo 3º: "O planejamento familiar é parte integrante do conjunto de ações de
atenção à mulher, ao homem ou ao casal, dentro de uma visão de atendimento global e
integral à saúde.
Parágrafo único - as instâncias gestoras do Sistema Único de Saúde, em todos os seus
níveis, na prestação das ações previstas no caput, obrigam-se a garantir, em toda a sua
rede de serviços, no que respeita a atenção à mulher, ao homem ou ao casal, programa
de atenção integral à saúde, em todos os seus ciclos vitais, que inclua, como atividades
básicas, entre outras:
I - a assistência à concepção e contracepção".
78
"Art. 9º. Para o exercício do direito ao planejamento familiar, serão oferecidos todos
os métodos e técnicas de concepção e contracepção cientificamente aceitos e que não
coloquem em risco a vida e a saúde das pessoas, garantida a liberdade de opção.
[...]
Art. 12. É vedada a indução ou instigamento individual ou coletivo à prática de
esterilização cirúrgica.
[...]
Art. 17. Induzir ou instigar dolosamente a prática de esterilização cirúrgica.
Pena - reclusão, de um a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime for cometido contra a coletividade, caracteriza-se como
genocídio, aplicando-se o disposto na Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956."
79
"Art. 10. Somente é permitida a esterilização voluntária nas seguintes situações:
I - em homens e mulheres com capacidade civil plena e maiores de vinte e cinco anos de
idade ou, pelo menos, com dois filhos vivos, desde que observado a prazo mínimo de
Não foi encontrada jurisprudência nacional sobre o tema, até o
momento.
O Projeto do Código Civil apenas prevê:
Artigo 13 - Salvo exigência médica, os atos de disposição do próprio
corpo são defesos quando importarem diminuição permanente da integridade
física, ou contrariarem os bons costumes.
Parágrafo único - Admitir-se-ão, porém, tais atos para fins de
transplante, na forma estabelecida em lei especial.80
No estudo denominado “Direito do Planejamento Familiar”, os autores
indicam que:
Podemos extrair dois posicionamentos do planejamento familiar
constitucional:
O planejamento familiar está fundado em dois princípios: o da dignidade
da pessoa humana e o da paternidade responsável.
A dignidade humana é um dos fundamentos da própria República
Federativa do Brasil (art.1º, III). Tudo que tornar o homem e a mulher indignos
ou aviltados contraria à própria vida da República. Este fundamento tem que ser
sessenta dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico, período no qual será
propiciado à pessoa interessada acesso a serviço de regulação da fecundidade, incluindo
aconselhamento por equipe multidisciplinar, visando desencorajar a esterilização
precoce;
[...]
§ 3º. Não será considerada a manifestação de vontade, na forma do § 1º, expressa
durante ocorrência de alterações na capacidade de discernimento por influência de
álcool, drogas, estados emocionais alterados ou incapacidade mental temporária ou
permanente.
[...]
§ 6º. A esterilização cirúrgica em pessoas absolutamente incapazes somente poderá
ocorrer mediante autorização judicial, regulamentada na forma da Lei.
[...]
Art.15 - Realizar esterilização cirúrgica em desacordo com o estabelecido no art. 10,
desta Lei.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço se a esterilização for praticada:
[...]
II - com manifestação da vontade do esterilizado expressa durante a ocorrência de
alterações na capacidade de discernimento por influência de álcool, drogas, estados
emocionais alterados ou incapacidade mental temporária ou permanente;
[...]
IV - em pessoa absolutamente incapaz sem autorização judicial.”
80
Projeto de Lei nº 634-C, de 1975, Câmara dos Deputados, publicação de fevereiro de
1998.
constantemente contrastado com as iniciativas legais e com nossas ações e
omissões cotidianas.
A paternidade responsável consagra constitucionalmente as normas
jurídicas do Direito Civil sobre a paternidade. A responsabilidade pela
paternidade ou maternidade é do casal, e não do Estado. Este tem
responsabilidade de “propiciar recursos educacionais e científicos” para que o
planejamento familiar responsável seja realizado.
O casal é livre na sua decisão de planejar sua família. Liberdade para
criar ou não a vida, mas não para destruí-la. Harmonizam-se dois critérios - o
direito à vida e o direito à liberdade - pilares de nossas Constituições, a partir da
Constituição de 1824.
Ao dizer que o “planejamento familiar é livre decisão do casal”, a
Constituição Federal impede que qualquer lei infraconstitucional possa exigir
autorização do Poder Público para qualquer ato do planejamento familiar. Não
pode haver coerção de instituições oficiais e privadas. Dessa forma, nem o
Poder Público nem as empresas poderão condicionar o gozo de qualquer direito
ao número de filhos. Tendo como alicerce a informação e o direito de acesso
aos métodos de concepção e contracepção, a liberdade de decidir dos pais é o
esteio do planejamento dos filhos, segundo a legislação brasileira”.81
Deve o Poder Público, fazer cumprir urgentemente com a previsão legal
de atenção ao direito ao planejamento familiar para as pessoas portadoras de
deficiência já estabelecido na Lei nº 7.853/89, trazendo em seu bojo os
princípios estabelecidos na Lei nº 9.263/96: informação, orientação e
acompanhamento na utilização de métodos contraceptivos que devem por
óbvio estar adaptados às necessidades especiais das pessoas portadoras de
deficiência. Urge, portanto, a criação de programa de planejamento familiar para
essas pessoas, mormente para os portadores de deficiência mental. Acaso seja a
esterilização indicada, entendemos deva ser a última instância de um processo
técnico científico desenvolvido e não como "atalho" para enfrentamento da
sexualidade e reprodução de portador de deficiência. Lembra-se, por oportuno,
que o direito de constituir família deve sempre que possível ser preservando
qualquer que seja a deficiência.
Se de um lado fixa-se claramente o entendimento de que esterilização só
é aceitável se realizada com responsabilidade, inserida num programa de
planejamento familiar voltado à prestação de assistência à saúde especializada
para a pessoa portadora de deficiência, isso não significa que tais pessoas, por
intermédio dos seus representantes legais, ou seja, de curador, não exerçam o
81
MACHADO, Paulo Affonso Leme e outros. Direito ao planejamento familiar, mar.
1998, p. 46-59.
direito de petição junto ao Poder Judiciário, até mesmo diante da previsão da
Lei nº 9.263/96 (artigo 1º, parágrafo 6º).
Portanto, o curador nomeado em processo de interdição (se for o caso),
representará o incapaz em Juízo (artigo 84 do Código Civil) pois a ele cabe
atender o curatelado quanto a pessoa e bens (artigos 453, 422 usque 431 do
Código Civil). Haverá, obviamente, a manifestação do Poder Judiciário sobre o
tema que, repita-se, entende-se, somente poderá deferir o pedido de esterilização
após comprovada utilização e/ou ineficácia dos meios científicos disponíveis
para a contracepção (a não ser em casos de risco para a saúde e vida da pessoa
portadora de deficiência), em programa de planejamento familiar voltado para
elas. Assim, estar-se-á respeitando as conquistas científicas, princípios de
bioética, o direito de cidadania da pessoa portadora de deficiência e o direito de
personalidade delas.
Por outro, resta claro o cabimento da ação civil pública contra o Sistema
Único de Saúde - SUS, para o cumprimento das obrigações da Lei nº 9.263/96,
e a atribuição do Ministério Público para o ajuizamento da medida que terá por
objeto o cumprimento da obrigação de fazer (art. 3º, da Lei nº 7.347/85 e Lei nº
7.853/89),
[...] para que o Sistema Único de Saúde - SUS ofereça todos os métodos
e técnicas de concepção e contracepção cientificamente aceitos” (arts. 3º,
parágrafo único, I, 9º, ambos da Lei nº 9.263/96). Felizmente, o Brasil está
dotado deste tipo de ação judicial, permitindo a todas as pessoas, especialmente
aos carentes ou hipossuficientes, buscar prestação jurisdicional, valendo-se da
atuação do Ministério Público, que tem a obrigação constitucional da promoção
do inquérito civil e da ação civil pública para a proteção dos interesses difusos e
coletivos’ (art. 129, III, CF).82
4.1.3 A Prevenção
82
Ibidem, mar. 1998, p. 59.
83
" Art. 2º., II - NA ÁREA DA SAÚDE:
a) a promoção de ações preventivas, como as referentes ao planejamento familiar, ao
aconselhamento genético, ao acompanhamento da gravidez, do parto e do puerpério, à
nutrição da mulher e da criança, à identificação e ao controle da gestante e do feto de
alto risco, à imunização, às doenças do metabolismo e seu diagnóstico e ao
encaminhamento precoce de outras doenças causadoras de deficiência;
b) o desenvolvimento de programas especiais de prevenção de acidentes do trabalho e
de trânsito, e de tratamento adequado a suas vítimas;[...]"
Já o Decreto n. 3.298/99, embora guarde dez anos de distância da antes
referida lei, singelamente a repete quase integralmente na seção relativa à saúde,
apenas acrescendo alguns elementos e o parágrafo primeiro.84
No tocante à prevenção, o Programa de Ação Mundial para as Pessoas
com Deficiência aponta com bastante evidência a necessidade de cuidados
primários com a saúde e a extensão deles à totalidade da população,
especialmente nos denominados países em desenvolvimento,85 bem como
enumera medidas necessária à prevenção.86
84
Art. 16. "I- a promoção de ações preventivas, como as referentes ao planejamento
familiar, ao aconselhamento genético, ao acompanhamento da gravidez, do parto e do
puerpério, à nutrição da mulher e da criança, à identificação e ao controle da gestante e
do feto de alto risco, à imunização, às doenças do metabolismo e seu diagnóstico, ao
encaminhamento precoce de outras doenças causadoras de deficiência, e a detecção
precoce das doenças crônico-degenerativas e a outras potencialmente incapacitantes;
II - o desenvolvimento de programas especiais de prevenção de acidentes domésticos, de
trabalho, de trânsito e outros, bem como o desenvolvimento de programa para
tratamento adequado a suas vítimas;
[...]
§ 1° Para os efeitos deste Decreto, prevenção compreende as ações e medidas orientadas
a evitar as causas das deficiências que possam ocasionar incapacidade e as destinadas a
evitar sue progressão ou derivação em outras incapacidades."
85
"52. Registra-se um incremento sustentado de atividades com vista à prevenção das
deficiências, como a melhoria da higiene, da educação e da nutrição; maiores
possibilidades de cuidar da alimentação e da saúde mediante métodos de assistência
primária de saúde, com especial interesse à maternidade e à criança; assessoramento
dos pais sobre fatores genéticos e assistência pré-natal; imunização e luta contra
doenças e infecções; prevenções de acidentes e melhoria da qualidade do meio
ambiente. Em algumas partes do mundo essas medidas vêm tendo repercussão
considerável na incidência das deficiências físicas e mentais.
53. Todavia, no que diz respeito à maioria da população do mundo, especialmente os
habitantes de países que se encontram nas etapas iniciais do desenvolvimento
econômico e social, essas medidas preventivas só atingem eficazmente uma pequena
proporção das pessoas que delas necessitam. Na maioria dos países em desenvolvimento
não foi criado ainda um sistema para a detecção precoce e a prevenção das deficiências
mediante exames médicos periódicos, particularmente de mulheres grávidas, recém-
nascidos e crianças de pouca idade.
54. Na Declaração de Leeds Castle, sobre a prevenção das deficiências, de 12 de
novembro de 1981, um grupo internacional de homens de ciência, médicos,
administradores de saúde e políticos chamam a atenção, entre outras coisas, para as
seguintes medidas práticas para impedir a deficiência:
"[...] 3. As deficiências originárias de alimentação deficiente, de infecções e falta de
assistência médica podem ser prevenidas com melhoria de baixo custo na assistência
primária de saúde.
Muitas deficiências futuras podem ser previstas ou evitadas. Há linhas promissoras de
pesquisa sobre o controle de fatores hereditários e degenerativos.A deficiência não é,
necessariamente, causa de incapacitação. O fracasso na aplicação de soluções simples
aumenta, com muita freqüência, a deficiência, e as práticas institucionais da sociedade
aumentam a probabilidade de os indivíduos serem postos pela deficiência numa
A Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência estabelece como prioridade, o
trabalho relativo à "prevenção de todas as formas de deficiências preveníveis".87
Conforme também analisado no tópico relativo aos dados estatísticos
neste trabalho, as causas das deficiências estão bastante vinculadas à miséria.
Então, a erradicação da pobreza e da marginalização e redução das
desigualdades sociais e regionais - um dos objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil (artigo 3º., inciso III, da Constituição Federal) - é mesmo
questão de essência na prevenção de deficiências.
Somada a isso está uma das previsões inaugurais da Lei nº. 7.853/89, no
primeiro artigo no sentido de que em sua aplicação e interpretação, serão
considerados os valores básicos da igualdade de tratamento e oportunidade, da
justiça social, do respeito à dignidade da pessoa humana, do bem-estar, e outros,
indicados na Constituição ou justificados pelos princípios gerais de direito. 88
89
Jornal Folha de Londrina, 18 ago. 1998, p. 4.
90
Ibidem, p. 4.
91
SILVA, José Afonso da, op. cit., 1993, p. 712.
instalações de ensino. Na maioria dos países, as pessoas com deficiência não
dispõem ainda de serviços de educação para as diversas etapas da vida.
67. No campo da educação especial, avanços significativos têm sido
feitos nas técnicas didáticas e têm sido aplicadas valiosas inovações, mas resta
ainda muito a ser feito para a educação de pessoas com deficiência. Os
progressos, todavia, se limitam apenas a um número muito reduzido de países e
centros urbanos.
68. Esses progressos se referem à detecção precoce, à avaliação e à
conseqüente intervenção e aos programas de educação especial em situações
diversas, possibilitando que muitas crianças com deficiência se incorporem aos
centros escolares comuns, enquanto outras requerem programas especiais.
120. Os estados-membros devem adotar políticas que reconheçam os
direitos de pessoas com deficiência à igualdade de oportunidades na educação
com relação às demais. A educação de pessoas com deficiência deve ser
realizada, na medida do possível, no sistema escolar comum. A responsabilidade
de sua educação deve competir às autoridades educacionais, e as leis relativas à
educação obrigatória devem incluir crianças de todos os tipos de deficiência,
inclusive as portadoras de graves deficiências.
121. Os estados-membros devem deixar para uma maior flexibilidade na
aplicação, a pessoas com deficiência, de qualquer regulamentação que afete a
idade de admissão, a promoção de uma classe para outra e, quando oportuno, os
procedimentos de exame[...].92
O citado Programa Mundial se ocupa ainda de importantes situações tais
como serviços individualizados, em locais acessíveis, universais, a necessidade de
planejamento na integração de crianças com deficiência no sistema comum de
educação, instalações especiais, apoio aos pais e outras medidas.
A Constituição Federal, no artigo 208, inciso III, estabelece que o dever
do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de atendimento
educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na
rede regular de ensino.93 Essa previsão constitucional busca evidentemente a
integração do aluno portador de deficiência o que, na essência, significa o
asseguramento da igualdade que é, conforme antes visto " o patrimônio jurídico
das pessoas portadoras de deficiência", nas palavras de ARAÚJO.94
92
BRASIL. Ministério da Justiça. CORDE. Programa De Ação Mundial Para As
Pessoas Com Deficiência. Publicação Oficial. Brasília, 1996, p. 30-31; 45.
93
Artigo 208, inciso III: "[...] atendimento educacional especializado aos portadores de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino."
94
ARAÚJO, Luiz Alberto David, op. cit., 1994, p. 81.
Oportuno lembrar que o artigo 205 da Constituição Federal95 inscreveu
os princípios da educação para o Brasil que, obviamente, se aplicam para
pessoas portadoras e não portadoras de deficiência.
A Lei nº. 7.853/89, quanto à educação prevê no artigo 2º, parágrafo
único medidas inclusivas, oferta de ensino especial, ensino em unidades
hospitalares e congêneres, acesso igualitário aos benefícios conferidos aos
demais educandos, inclusive material escolar, merenda escolar e bolsas de estudo
e a matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos públicos e
particulares de pessoas portadoras de deficiência capazes de se integrarem no
sistema regular de ensino.96
Quanto à matrícula compulsória em cursos regulares de
estabelecimentos públicos e particulares de pessoas portadoras de deficiência
capazes de se integrarem no sistema regular de ensino, necessário lembrar que
seu descumprimento importa no cometimento de crime de preconceito previsto
no artigo 8º, inciso I, da Lei em exame, quando há recusa, suspensão,
procrastinação, cancelamento ou cessação, sem justa causa, da inscrição de
aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou
privado, por motivos derivados da deficiência que porta.97
95
"Art. 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho."
96
Artigo 2º., parágrafo único:
"a) a inclusão, no sistema educacional, da Educação Especial como modalidade
educativa que abranja a educação precoce, a pré-escolar, as de 1º e 2º graus, a
supletiva, a habilitação e reabilitação profissionais, com currículos, etapas e exigências
de diplomação próprios;
b) a inserção, no referido sistema educacional, das escolas especiais, privadas e
públicas;
c) a oferta, obrigatória e gratuita, da Educação Especial em estabelecimentos públicos
de ensino;
d) o oferecimento obrigatório de programas de Educação Especial a nível pré-escolar e
escolar, em unidades hospitalares e congêneres nas quais estejam internados, por prazo
igual ou superior a 1 (um) ano, educandos portadores de deficiência;
e) o acesso de alunos portadores de deficiência aos benefícios conferidos aos demais
educandos, inclusive material escolar, merenda escolar e bolsas de estudo;
f) a matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos públicos e
particulares de pessoas portadoras de deficiência capazes de se integrarem no sistema
regular de ensino."
97
"Artigo 8º., inciso I: recusar, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar, sem
justa causa, a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso
ou grau, público ou privado, por motivos derivados da deficiência que porta;
O Decreto nº. 3.298/99, quanto ao acesso à educação segue o perfil já
apontado, acrescendo a questão da acessibilidade, condições para realização de
provas, inclusive vestibular e educação profissional.98
98
"Art. 24. Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e indireta
responsáveis pela educação dispensarão tratamento prioritário e adequado aos assuntos
objeto deste Decreto, viabilizando, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas:
I - a matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos públicos e
particulares de pessoa portadora de deficiência capazes de se integrar na rede regular
de ensino;
II - a inclusão, no sistema educacional, da educação especial como modalidade de
educação escolar que permeia transversalmente todos os níveis e as modalidades de
ensino;
III - a inserção, no sistema educacional, das escolas ou instituições especializadas
públicas e privadas;
IV - a oferta, obrigatória e gratuita, da educação especial em estabelecimentos públicos
de ensino;
V- o oferecimento obrigatório dos serviços de educação especial ao educando portador
de deficiência em unidades hospitalares e congêneres nas quais esteja internado por
prazo igual ou superior a um ano; e
VI - o acesso de aluno portador de deficiência aos benefícios conferidos aos demais
educandos, inclusive material escolar, transporte, merenda escolar e bolsas de estudo.
§ 1° Entende-se por educação especial, para os efeitos deste Decreto, a modalidade de
educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para educando
com necessidades educacionais especiais, entre eles o portador de deficiência.
§ 2° A educação especial caracteriza-se por constituir processo flexível, dinâmico e
individualizado, oferecido principalmente nos níveis de ensino considerados
obrigatórios.
§ 3° A educação do aluno com deficiência deverá iniciar-se na educação infantil, a
partir de zero ano.
§ 4° A educação especial contará com equipe multiprofissional, com a adequada
especialização, e adotará orientações pedagógicas individualizadas.
§ 5° Quando da construção e reforma de estabelecimentos de ensino deverá ser
observado o atendimento as normas técnicas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas - ABNT relativas a acessibilidade.
Art. 25. Os serviços de educação especial serão ofertados nas instituições de ensino
público ou privado do sistema de educação geral, de forma transitória ou permanente,
mediante programas de apoio pare o aluno que está integrado no sistema regular de
ensino, ou em escolas especializadas exclusivamente quando a educação das escolas
comuns não puder satisfazer as necessidades educativas ou sociais do aluno ou quando
necessário ao bem-estar do educando.
Art. 26. As instituições hospitalares e congêneres deverão assegurar atendimento
pedagógico ao educando portador de deficiência internado nessas unidades por prazo
igual ou superior a um ano, com o propósito de sua inclusão ou manutenção no
processo educacional.
Art. 27. As instituições de ensino superior deverão oferecer adaptações de provas e os
apoios necessários, previamente solicitados pelo aluno portador de deficiência, inclusive
tempo adicional para realização das provas, conforme as características da deficiência.
§ 1° As disposições deste artigo aplicam-se, também, ao sistema geral do processo
seletivo para ingresso em cursos universitários de instituições de ensino superior.
Feitas as colocações de ordem legal, objetivando melhor situar as
questões que requerem reflexão, tratar-se-á dos tópicos relativos à criança e
adolescente, portadores de deficiência e ao atendimento educacional
especializado.
101
"Art. 2º. Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de
deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à
saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à
maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu
bem-estar pessoal, social e econômico.
Parágrafo único. Para o fim estabelecido no caput deste artigo, os órgãos e entidades da
administração direta e indireta devem dispensar, no âmbito de sua competência e
finalidade, aos assuntos objetos desta Lei, tratamento prioritário e adequado, tendente
a viabilizar, sem prejuízo de outras as seguintes medidas: [...]."
edificado sob a noção da dignidade da pessoa humana se ele próprio, na prática,
não proporciona os meios e as condições para que os cidadãos exerçam o seu
direito de serem dignos".102
102
TEIXEIRA. Sálvio de Figueiredo. O menor, esse desconhecido, 1993, p. 343.
103
ANGELIDES, Amalia; PINHEIRO, Ana Isabel T. M. O serviço social na escola
especializada, 1984, p. 79.
104
RAIÇA, Darcy; OLIVEIRA, Maria Teresa Baptista de. A educação especial do
deficiente mental. São Paulo: EPU, 1990, p. 3.
105
Ibidem, 1990, p. 5.
especializadas, mencionando também as escolas especializadas em regime de
internado.106
Depois de análise da realidade da educação especial no Brasil, Darcy
RAIÇA e Maria Teresa Baptista de OLIVEIRA lançam propostas de
aprimoramento, por assim dizer, dentre as quais destacamos, além de se evitar a
segregação da classe especial, a capacitação dos professores e metodologia e
currículo calcados na realidade brasileira.107
Nas Normas e Recomendações Internacionais sobre Deficiências, há, entre outras,
que:
106
"Classes comuns - para crianças portadoras de Variação Normal de Inteligência
(VNI), anteriormente definidas como limítrofes. Deve o professor adaptar um
programa às suas necessidades sem prejuízo dos outros educandos. Nesse caso o
objetivo da educação especial será o de fazer com que se mantenha na escola ambiente
capaz de favorecer o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos com necessidades
especiais.
Classes especiais - estas classes são criadas e instaladas na rede escolar estadual, para
atender às necessidades educacionais de uma determinada categoria de educandos
excepcionais, ou seja, o educável. Nesse tipo de atendimento, o educando passa seu
período de aula sob a orientação de um professor especializado, que assume
responsabilidade total de seu programa educacional, em plano segregado. Este tipo de
atendimento justifica quando o aluno necessita de um currículo especial ou suas
discrepâncias em relação aos companheiros normais sejam acentuadas. A tendência
geral é evitá-lo, nos casos de portadores de VNI, que devem ser admitidos em classes
comuns e receber educação especial para suas deficiências específicas.
Escolas especializadas - são escolas instaladas para o atendimento educacional de
crianças excepcionais, servindo geralmente a um determinado tipo de excepcionalidade
(treináveis). Porém, a maioria dessas escolas se organiza para o atendimento de
crianças deficientes mentais educáveis e treináveis.
Tais escolas podem oferecer a vantagem de se organizarem para o atendimento
específico de determinadas necessidades e contarem com serviços auxiliares mais
amplos, tais como: serviço médico, social e psicológico, como também, atendimento
fonoaudiológico, terapêutico e outros.
[...]
Escolas especializadas em regime de internato: Além do atendimento institucionalizado,
oferecem a parte acadêmica através de ensino especializado para os portadores de
Deficiência Mental classificados como leves e moderados. São atendidas dentro desse
regime crianças órfãs ou abandonadas pelas famílias.
As desvantagens dessas escolas estão principalmente no fato de retirar a criança do
convívio do lar, expondo-a à rigidez da vida institucional, consequentemente deixando
de prepará-la para futuramente viver na comunidade.
Cumpre salientar, entretanto, que tais recursos oferecem para muitas crianças
deficientes mentais a única oportunidade de atendimento educacional." (ANGELIDES,
op. cit., 1984, p. 79-80).
107
RAIÇA, op. cit., 1990, p.33.
6. Para que as disposições sobre instrução de pessoas com deficiência
possam ser integradas no sistema de ensino geral, os estado deve:
a) contar com uma política claramente formulada, compreendida e aceita
nas escolas e pela comunidade em geral;
b) permitir que os planos de estudo sejam flexíveis e adaptáveis,
passíveis de serem acrescidos de distintos elementos, se necessário;
c) proporcionar materiais didáticos de qualidade e prever a formação
constante do pessoal docente e de apoio.108
Conforme antes referido, o artigo 208, inciso III da Constituição Federal
estabelece que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
garantia de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino.
O atendimento educacional especializado está situado num campo pleno
de detalhes e componentes que, ao cabo, tornam-se decisivos para a sua
eficiência ou não. São as barreiras arquitetônicas que muitos estabelecimentos de
ensino teimam em ignorar, falta de pessoal especializado e recursos técnicos, etc.
Mas, na verdade, o mais crucial é que o ensino especializado conta ainda
com muitos alunos que não precisam de ensino especial e, com ele, acabam
sendo prejudicados porque distante de suas aptidões. Deveriam estar incluídos
no sistema regular de ensino e permanecem inadequadamente no ensino
especial.
Luiz Alberto David ARAÚJO reflete: "Certas deficiências, no entanto,
não apresentam qualquer necessidade de educação especial, como os
fenilcetunúricos, por exemplo. As pessoas portadoras de deficiência de
locomoção não necessitam, em regra, de educação especial, mas de transporte
especial para chegarem até as escolas".109
Carolyn L. VASH escreve:
Muitas pessoas que vivem hoje viram a educação pública para jovens
deficientes progredir de nenhuma educação, passando por educação 'especial'
em ambientes segregados, até um esforço para integrar os estudantes deficientes
em escolas comuns.[...]
Os estudantes cuja capacidade de aprendizagem é afetada por limitação
intelectual, distúrbio emocional/comportamental ou outras disfunções
neurológicas, são segregados de forma que seu ritmo não retarde o progresso de
estudantes mais capazes, e de forma a permitir o tempo e a atenção extras
108
BRASIL. Ministério da Justiça. CORDE. Normas E Recomendações Internacionais
Sobre Deficiências. Publicação Oficial. Brasília, 1997, p. 33.
109
ARAÚJO, Luiz Alberto David, op. cit., 1994, p. 58.
necessários para que eles absorvam o material. A acomodação dos alunos mais
rápidos e mais lentos pode exigir alguma segregação por classe, mas não mais
aparecem claros o motivos pelos quais em determinada época parecia ser
necessário que eles freqüentasse, instalações totalmente separadas. O desejo por
parte da população não deficiente de evitar contato com pessoas assim limitadas
é a explicação mais lógica para o fato de a sociedade ter-se utilizado desse passo
extra.110
Nesse contexto, recentemente aprofundaram-se os debates e estudos
acerca do denominado ensino inclusivo. Ou seja, a inserção do aluno portador
de deficiência na rede regular de ensino. A questão reclama sérias conclusões
por parte dos profissionais da educação para que o direito dos alunos seja
respeitado e viabilizado de forma responsável e adequada. Sobre isso,
retomaremos a reflexão na seção seguinte.
A experiência norte-americana foi assim identificada por TELFORD e
SAWREY:
Outro movimento que vem modificando a natureza da educação
especializada na América do Norte [...]: a prestação de serviços em bases não
categorizadoras e a manutenção da criança desviante nas salas de aula regulares,
com assistência e apoio instrutivo complementar fornecidos por pessoal
especializado - popularmente conhecido como integração (mainstreaming). A
ênfase atual no tratamento não categorizador e na integração foi ocasionada por
uma série de eventos, incluindo:
1. A falha dos trabalhos de pesquisa em estabelecer a eficácia das turmas
especiais para deficientes.
2. A compreensão da inadequação das categorias diagnósticas médica e
psicologicamente definidas para fins educativos.
3. Os estudos que indicaram que muitos fatores irrelevantes, em termos
educacionais e de aptidão, tais como raça, classe social, características de
personalidade e docilidade, vinham atuando no processo de colocação em
turmas especiais (Rubin, Krus & Balow, 1973).
4. A compreensão dos efeitos deletérios da categorização e rotulação
oficiais, pré-requisito tradicional para o fornecimento da assistência educacional
necessária.
5. As decisões judiciais e a legislação do tipo já mencionado (Chaffin,
1974).
[...]
110
VASH, Carolyn L. Enfrentando a deficiência: A manifestação. A psicologia. A
reabilitação, 1988, p. 102-103.
A sociedade, através de seu sistema educacional, tem obrigação de
conceber programas e fornecer um tratamento sob medida para atender às
necessidades individuais das crianças desviantes, e não simplesmente tirá-las
segundo o grau em que se enquadram nos programas e técnicas existentes,
excluindo aquelas que não se encaixam. Presume-se também que a integração irá
promover a valorização e não a estigmatização das diferenças humanas.
Rotular e segregar os desviantes aumenta sua categorização e
estigmatização clara. Por conseguinte, mantê-los nas salas de aula regulares
aumentará a compreensão e aceitação mútuas entre o normal e o desviante. As
disposições públicas e as práticas educacionais deveriam encorajar não a mera
tolerância, mas sim uma valorização positiva das diferenças. Deveriam estimular
o respeito pela individualidade e o reconhecimento dos diferentes talentos de
pessoas que são diferentes, física, mental, lingüística e culturalmente. Os
sistemas atuais de classificação (institucionais, de turmas especiais ou de
colocação em escolas especializadas) promoveram a estigmatização e
discriminaram negativamente os pobres e certos grupos étnicos minoritários.
Presume-se também que a integração dos deficientes irá resultar num
aprimoramento da instrução para todas as crianças.”
[...] Para que seja bem sucedida, a integração dos deficientes deve incluir
o suprimento de um rico volume de pessoal e equipamentos auxiliares, para dar
apoio aos professores regulares e complementar seus esforços. Assinalamos,
anteriormente, que a falta de serviços de apoio no lar e na comunidade explicava
boa parte da institucionalização desnecessária dos deficientes. A ausência
continuada desses mesmos serviços está agora ameaçando o sucesso do
movimento de desinstitucionalização. O mesmo se pode dizer quanto ao
movimento no sentido de eliminar as turmas especiais e ‘normalizar’ as crianças
previamente matriculadas nelas.
Se o retorno das crianças excepcionais às turmas regulares for
verdadeiramente ‘normalizador’, os professores de recursos especiais, os
professores itinerantes, os professores supervisores, os orientadores e os
psicólogos escolares terão que manter-se intimamente empenhados no
desenvolvimento e execução efetiva de programas individualizados e de
pequenos grupos para a faixa mais ampliada de diferenças individuais na sala de
aula”.
[...]
Eliminar todas as turmas especiais pode ser um erro tão grande quanto
eliminar todas as instituições para os desviantes mentais. É possível que ainda
precisemos de algumas turmas especiais. A experiência com a integração indica
que, provavelmente, necessitamos de um continuum de serviços e facilidades. Em
determinado ponto e sob certas circunstâncias, o desvio é tão extremo ou único
que se faz necessária a colocação em turmas especiais, a freqüência a escolas
especiais ou o atendimento total, incluindo a institucionalização. A questão a ser
eventualmente levantada não é se as turmas especiais devem ser eliminadas, mas
sim qual a faixa de diferenças individuais e tipos de desvio que pode ser
acomodada de maneira mais eficaz nas turmas regulares. Algumas turmas
especiais exclusivas auxiliares, tanto categorizadoras quanto não-categorizadoras,
podem ainda fazer-se necessárias.”111
ASSIS e PUSSOLI registram que:
com o advento da Lei nº. 7.853/89, uma boa parcela de portadores de
deficiências passaram a ter uma atividade no espaço público. É notório que
alguns deficientes precisam, por algum período, de ensino especializado para ter
acesso aos cursos regulares. Por exemplo, os deficientes auditivos, mentais ou
aqueles de grande limitação física. Para estes, o ensino especial (ensino dotado
de recursos materiais e humanos voltados para educar e preparar o deficiente
objetivando a sua integração na rede regular de ensino) é a única forma do
Estado lhes assegurar o direito à educação.
Para que se cumpram os preceitos constitucionais concernentes ao
direito à cidadania, (direito a ter direitos) que se traduz, entre outros, pelo direito
à educação, é necessário que a rede pública de ensino mantenha classes especiais
nas suas unidades de ensino.
Aliás, é sempre pedagógico repetir a Lei que prescreve sobre este
assunto, dispõe que o mesmo deve ser tratado prioritariamente e de modo
adequado (Parágrafo 2º., artigo 2º.). É bom frisar que a Lei data de 1989, tempo
suficiente para se desenvolver e viabilizar algo que a Lei prescreve de caráter
prioritário. Caso o Estado não esteja cumprindo o mandamento da Lei, seria o
caso de buscarmos na rede particular a educação especial e mandar a conta para
o Estado, medida jurídica perfeitamente cabível para o caso. Até porque, sendo
a educação pública financiada por toda a sociedade, não é direito que tão-
somente uma parcela disponha dela.112
A Constituição do Estado do Paraná prevê nos artigos 179 e 183, a
oferta do ensino especial,113 bem como faz a ele menção em outros de seus
dispositivos.114
111
TELFORD; SAWREY, op. cit., 1988, p. 150-151; 159-160.
112
ASSIS; PUSSOLI, op. cit., 1992, p. 147.
113
"Art.179. O dever do Poder Público, dentro das atribuições que lhe forem
conferidas, será cumprido mediante a garantia de:
[...]
II- progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade do ensino médio, pré-escolar e
de educação especial;
[...]
4.2.3 A Lei de Diretrizes e Bases
116
Conforme notícia publicada sobre o lançamento do programa para inclusão das
pessoas portadoras de deficiência na rede regular de ensino, pela Secretaria de Estado
da Educação. Jornal Estado do Paraná, 30 julho 1997, p. 4.
governamentais tiveram papel de vanguarda na instituição do ensino
especializado pela inexistência da oferta de recursos oficiais, sendo portanto
pioneiras.
Contudo, com a necessária previsão da tomada da responsabilidade pelo
Poder Público desse papel e não desmerecendo a importância até hoje dessas
entidades, a predita Lei estabelece no artigo 60, o estabelecimento de critérios
para fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder Público, sendo que há
previsão de adoção como alternativa preferencial, a ampliação do atendimento
aos educandos com necessidades especiais na própria rede pública regular de
ensino, independentemente do apoio às referidas instituições. 117
A Constituição do Estado do Paraná, no seu artigo 217 prevê que o
Estado incentivará as entidades particulares sem fins lucrativos, atuantes na
política do bem-estar da criança, do adolescente, da pessoa portadora de
deficiência e do idoso, devidamente registradas nos órgãos competentes,
subvencionando-as com auxílio financeiro e apoio técnico.
Aqui há outra problemática da qual deveria intensamente se ocupar o
Poder Público, por intermédio de setores da educação. O ensino inclusivo tende
naturalmente a esvaziar a demanda das entidades filantrópicas que,
lamentavelmente, muitas vezes perpetuam a presença do aluno sem prepará-lo
para o ensino regular e para o trabalho, quando possível, tanto que a 13ª
sugestão constante das Conclusões do Encontro Nacional de Procuradores da
República e de Justiça, conta com o seguinte teor: "Recomendação a instituições
especializadas no atendimento a pessoa portadora de deficiência para que
encaminhem à escola regular crianças potencialmente aptas".118 Muitos
profissionais da área têm a consciência de que alguns alunos com potencial para
o ensino regular ficaram desde a primeira infância até a idade adulta dentro de
entidades filantrópicas, sem profissionalização. Tal decorre tanto pelo
despreparo profissional de dirigentes e técnicos, quanto ao apego sentimental do
aluno quanto - é necessário dizer - o interesse financeiro dessas entidades em
manter alunos que são subvencionados pelo Poder Público ou, então, numa
equivocada atitude expansionista, sem critérios e distanciada de rigor científico,
e inacreditável busca de poder junto a sociedade, fazer constar que "minha
117
Art. 60. "Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão critérios de
características das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com
atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo
Poder Público.
Parágrafo único: O Poder Público adorará, como alternativa preferencial, a ampliação
do atendimento aos educandos com necessidades espaciais na própria rede pública
regular de ensino, independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo".
118
BRASIL. Ministério do Bem-Estar Social. Coordenadoria Nacional Para Integração
Da Pessoa Portadora De Deficiência - Corde. Resultado da sistematização dos trabalhos
do Encontro Nacional dos Procuradores da República e da Justiça. Publicação Oficial.
Brasília, 1994, p.33.
entidade tem tantos alunos". Algumas entidades que vimos nascer já tinham
planejamento prévio de busca de recursos públicos e, então, precisava mesmo
de um razoável número de usuários.
Nesse contexto, repete-se, há também a constrangedora ineficiência na
fiscalização pelo Poder Público dessas entidades privadas sem fins lucrativos,
facilmente observável pela quantidade de apurações de irregularidades em
entidades de atendimento levadas a efeito pelo Ministério Público do Paraná nos
últimos anos. Ou seja, o Poder Público tem subsidiado entidades sem verificar a
correta aplicação dos recursos e dos métodos de ensino, onde por diversas vezes
constatamos as mais diversas irregularidades e até mesmo crimes.
Marilene Ribeiro dos SANTOS reflete:
Como as entidades privadas sem fins lucrativos, são consideradas
especializadas, aquelas que oferecem serviços especializados de natureza
pedagógica e/ou terapêutica, e/ou profissionalizante, e/ou assistencial, é
importante ressaltar que estas três últimas modalidades necessidades especiais, as
que dispõem de classes especiais e as escolares regulares que contemplam a nova
LDB, onde destacamos as necessidades de cumprir todos os dispositivos legais
que autorizem o seu funcionamento, bem como, ter a avaliação externa feita por
organismos externos, ter jurisdição democrática e apresentar o seu projeto
político-pedagógico. Tem que elaborar e definir este projeto político-pedagógico
junto à comunidade escolar.119
4.3 DIREITO AO TRABALHO
119
Palestra "Novos Rumos Sobre Necessidades Educativas Especiais, Declaração de
Salamanca e a Nova LDB". In: SOCIEDADE PESTALOZZI. Anais do III Encontro
Ibero-Americano de Jovens Portadores de Necessidades Especiais. II Seminário
Fluminense sobre Cidadania e Inclusão. 17 a 19 de Setembro de 1998. Niterói-RJ: [s.e.],
1998, p. 39.
120
Art. 7º inciso XXXI: "proibição de qualquer discriminação no tocante a salários e
critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência."
8º., incisos II e III, veio trazendo a criminalização do preconceito no âmbito do
trabalho.121
O dispositivo constitucional citado busca assegurar, evidentemente, a
igualdade122 entre trabalhadores portadores e não portadores de deficiência. Para
Rubens ALVES a eficácia desse dispositivo da Constituição Federal.
[...] pode ser dada pelo art. 461 da Consolidação das Leis do Trabalho,
pelo menos no tocante ao salário[...]. Assim, os trabalhadores que forem
admitidos numa empresa terão amplas garantias de recebimento de salário igual
ao percebido por outrem, nas mesmas condições de trabalho, ou seja: 'idêntica
função, trabalho de igual valor prestado ao mesmo empregador e na mesma
localidade'.
No tocante à admissão, impera a subjetividade de critérios ditados por
quem oferece o trabalho, tornando quase que impossível a legislação trabalhista
prever seus casuísmos, ou seja, a quebra das 'condições de igualdade' nas
oportunidades de emprego, como frisou José Afonso da Silva.[...].123
Assim é que, na fase pré-contratual, a demonstração da ocorrência de
preconceito por parte do empregador é tarefa dificílima. Por exemplo, sendo
anunciada por empresário a oferta de vaga para secretária e em se apresentando
duas candidatas, uma portadora de deficiência física e outra não portadora de
deficiência, a tendência que impera atualmente é da contratação da dita
"normal", principalmente, se a empresa tiver algum obstáculo arquitetônico e
diante do verdadeiro culto de nossa sociedade à "boa aparência". Evidentemente
o empresário não dirá à candidata portadora de deficiência que ela não será
contratada por motivos derivados da deficiência, mas alegará - quando se dá ao
trabalho de alegar algo - que a outra candidata saiu-se melhor nos testes.
Situações como essa revelam a pouca efetividade da norma penal voltada a
coibir a prática do preconceito, conforme se assinala na Seção O preconceito real à
luz de alguns dados estatísticos.
121
"Art. 8º Constitui crime punível com reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa:
[...]
II - obstar, sem justa causa, o acesso de alguém a qualquer cargo público, por motivos
derivados de sua deficiência;
III - negar, sem justa causa, a alguém, por motivos derivados de sua deficiência,
emprego ou trabalho; [...]".
122
Adotando o pensamento de Romita, "[...] o princípio de igualdade passa a ser
encarado em vertente negativa: o princípio da não-discriminação. A necessidade de
consagrar diferenças de tratamento cria as chamadas 'discriminações positivas com
vistas a alcançar a igualdade substancial', como esclarece João Caupers". (ROMITA,
Arion Sayão, op. cit., maio 2000, p. 63).
123
ALVES, Rubens Valtecides. Deficiente físico: Novas dimensões da proteção ao
trabalhador, 1992, p.130-131.
Em razão disso há muito é defendida a necessidade de aprimoramento
da criminalização do preconceito prevista na Lei nº. 7.853/89, no tocante ao
trabalho, pois seu tipo penal aberto enfraquece a eficaz aplicabilidade.124 Então:
124
"Criminalização do preconceito - Recusa na admissão do trabalhador portador de
deficiência”
A presente tese busca demonstrar a insatisfatória efetividade da criminalização do
preconceito, referente à negativa de trabalho ou emprego à pessoa portadora de
deficiência (art. 8º, inciso III, da Lei nº 7.853/89), em razão da inserção no tipo penal do
elemento normativo sem justa causa, inexistindo a necessária lei reguladora da seleção
e contratação do trabalhador portador de deficiência.
[...]
Portanto, vê-se como necessária a fixação legal das causas e circunstâncias que
justificariam a recusa do trabalho ou emprego. Tal silêncio no nosso sistema normativo
propicia a insatisfatória efetividade da criminalização enfocada. Assim, imperiosa é a
elaboração legislativa referente aos critérios de seleção e contratação da pessoa
portadora de deficiência, em qualquer setor da iniciativa privada, seja qual for o
número de empregados já contratados.
[...]
Há, como se disse, um espaço de subjetividade muito grande para o empregador
contratar. Aliás, é direito dele selecionar seus funcionários e a justa causa do tipo penal
é inespecífica, insatisfatória para a efetividade da própria norma, ao contrário da lei
trabalhista que elencou a justa causa nos artigos 482 e 483 da CLT. Porém, o fez para
aplicação a contratos de trabalho já celebrados e como motivo para rescisão deles.
Tanto é insatisfatória a criminalização nos termos postos que uma das sugestões
extraídas do Encontro Nacional com Procuradores Gerais de Justiça e da República,
realizado de 06 a 08 de outubro de 1993, em Petrópolis-RJ, é no sentido da reforma da
Lei nº 7853/89, no aspecto criminal (Sugestão nº 2).
[...]
A legislação trabalhista é sabidamente protetiva dos interesses dos trabalhadores.
Ocorre que, no caso em exame, não há proteção alguma pois é fase anterior à
instalação, à vigência do contrato de trabalho. Aliás, a legislação trabalhista deveria
voltar-se mais a interesses coletivos do que aos privatistas.
Portanto, a norma programática do artigo 7º, inciso XXXI da Constituição Federal
regulamentada parcialmente pelo artigo 8º, inciso III, da Lei nº 7853/89, deverá contar
com elaboração legislativa voltada a regulamentar os critérios a serem adotados na
admissão do trabalhador portador de deficiência, no setor privado, fixando critérios
objetivos e definindo também claramente em que se consubstancia a justa causa para a
negativa do trabalho ou emprego.
[...]
O tipo penal em exame é anormal, aberto pois nele está inserido o elemento normativo
sem justa causa, sendo que a avaliação de qual causa é justa ou deixa de ser não pode
ficar a critério do Juiz, até porque o princípio da reserva legal - como modernamente
admitido - não se estende às normas penais não incriminadoras. A lacuna de previsão
legislativa nas causas de exclusão de ilicitude pode ser suprida pelos processos de auto-
integração da lei.
Ora, a antijudiricidade se fundamenta em valores sociais, morais, políticos, etc. Como
existem condutas consideradas justas pela consciência social e a inaceitação do trabalho
do portador de deficiência é regra em nossa sociedade, o fato típico poderá
"Não obstante a incisividade da norma penal, o fato é que sempre será difícil
apurar se o motivo da recusa de emprego ou impedimento de acesso a cargo
público foi derivado da deficiência do postulante ao emprego ou cargo
público".125
O Programa de Ação Mundial Para Pessoas Com Deficiência, no item 129,
estabelece que:
[...] Os estados-membros podem apoiar a integração das pessoas com
deficiência no mercado aberto de trabalho mediante diversas medidas, como
sistemas de cotas com incentivos, empregos reservados ou atribuídos,
empréstimos ou doações a pequenas empresas e cooperativas, contratos
exclusivos ou direitos de produção prioritária, isenções obrigatórias, aquisições
preferenciais ou outros tipos de assistência técnica ou financeira a empresas que
empreguem trabalhadores com deficiência. Os estados-membros devem apoiar
126
BRASIL. Ministério da Justiça. CORDE. Programa De Ação Mundial Para As
Pessoas Com Deficiência. Publicação Oficial. Brasília, 1996, p. 46-47.
127
Em reportagem publicada por ocasião do II Encontro Nacional do Centro de Vida
Independente (CVI), os participantes concluíram que "um dos piores preconceitos
enfrentados pelos deficientes é a exclusão do mercado de trabalho." ( Jornal Gazeta do
Povo, 20 out. 1998, p. 5).
Em outra reportagem publicada, restou apontado que, no Paraná, o desemprego
atingia 95% das pessoas portadoras de deficiência em 1997. (Jornal Gazeta do Povo, 2
julho 1997, p. 8).
128
FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. A pessoa portadora ..., 199, p. 68.
68
SAIOTE, op. cit, 1997, p. 7.
inserção laboral, o Decreto em exame estabeleceu três formas: colocação
competitiva, colocação seletiva e promoção do trabalho por conta própria.130
130[70]
"Art. 34. É finalidade primordial da política de emprego a inserção da pessoa
portadora de deficiência no mercado de trabalho ou sua incorporação ao sistema
produtivo mediante regime especial de trabalho protegido.
Parágrafo único. Nos casos de deficiência grave ou severa, o cumprimento do disposto
no caput deste artigo poderá ser efetivado mediante a contratação das cooperativas
sociais de que trata a Lei n° 9.867, de 10 de novembro de 1999.
Art. 35. São modalidades de inserção laboral da pessoa portadora de deficiência:
I - colocação competitiva: processo de contratação regular, nos termos da legislação
trabalhista e previdenciária, que independe da adoção de procedimentos especiais para
sua concretização, não sendo excluída a possibilidade de utilização de apoios especiais;
II - colocação seletiva: processo de contratação regular, nos termos da legislação
trabalhista e previdenciária, que depende da adoção de procedimentos e apoios
especiais para sua concretização; e
III - promoção do trabalho por conta própria: processo de fomento da ação de uma ou
mais pessoas, mediante trabalho autônomo, cooperativado ou em regime de economia
familiar, com vista a emancipação econômica e pessoal.
§ 1° As entidades beneficentes de assistência social, na forma da lei, poderão
intermediar a modalidade de inserção laboral de que tratam os incisos II e III, nos
seguintes casos:
I- na contratação para prestação de serviços, por entidade pública ou privada, da
pessoa portadora de deficiência física, mental ou sensorial: e
II - na comercialização de bens e serviços decorrentes de programas de habilitação
profissional de adolescente e adulto portador de deficiência em oficina protegida de
produção ou terapêutica.
§ 2° Consideram-se procedimentos especiais os meios utilizados para a contratação de
pessoa que, devido ao seu grau de deficiência, transitória ou permanente, exija
condições especiais, tais como jornada variável, horário flexível, proporcionalidade de
salário, ambiente de trabalho adequado as suas especificidades, entre outros.
§ 3° Consideram-se apoios especiais a orientação, a supervisão e as ajudas técnicas
entre outros elementos que auxiliem ou permitam compensar uma ou mais limitações
funcionais motoras, sensoriais ou mentais da pessoa portadora de deficiência, de modo
a superar as barreiras da mobilidade e da comunicação, possibilitando a plena
utilização de suas capacidades em condições de normalidade.
§ 4° Considera-se oficina protegida de produção a unidade que funciona em relação de
dependência com entidade pública ou beneficente de assistência social, que tem por
objetivo desenvolver programa de habilitação profissional para adolescente e adulto
portador de deficiência, provendo-o com trabalho remunerado, com vista à
emancipação econômica e pessoal relativa.
§ 5° Considera-se oficina protegida terapêutica a unidade que funciona em relação de
dependência com entidade pública ou beneficente de assistência social, que tem por
objetivo a integração social por meio de atividades de adaptação e capacitação para o
trabalho de adolescente e adulto que devido ao seu grau de deficiência, transitória ou
permanente, não possa desempenhar atividade laboral no mercado competitivo de
trabalho ou em oficina protegida de produção.
§ 6° O período de adaptação e capacitação para o trabalho de adolescente e adulto
portador de deficiência em oficina protegida terapêutica não caracteriza vínculo
Assim, conta-se em nosso sistema normativo, com previsão
constitucional de vedação de discriminação, de lei própria que pune
criminalmente algumas condutas típicas de preconceito, a mesma lei (Lei
nº 7.853/89) que determina, assim como já fez a Constituição Federal, que outra
lei estabelecerá a sistemática de reserva de vagas e, a Lei nº. 8.213/91 que previu
a reserva para empresas com 100 (cem) ou mais funcionários, além da nova
regulação da reserva no setor público federal e repetição da já existente reserva
no setor privado no Decreto nº. 3.298/99, que também estabeleceu mecanismos
especializados para acesso ao trabalho e, finalmente, das legislações estaduais e
municipais eventualmente existentes.
O sistema de reserva de vagas sofre críticas até mesmo entre pessoas
portadoras de deficiência. Contudo, entende-se que neste momento histórico
elas são necessárias, pois o preconceito e a exclusão são reais. Assim, até que a
sociedade assimile a pessoa portadora de deficiência como "seu igual" e o Poder
Público invista efetivamente na educação, habilitação, reabilitação, saúde,
assistência social e remoção de barreiras arquitetônicas, a pessoa portadora de
deficiência necessita da tutela legal especial. Talvez, dessa forma, daqui alguns
poucos anos, essa tutela legal especial, a reserva de vagas seja de todo
desnecessária porque as pessoas portadoras de deficiência já estarão plenamente
inseridas, integradas socialmente.
Guilherme de FIGUEIREDO alerta que:
Não há que se olvidar, contudo, que o sistema de quotas não se vem
revelando inteiramente adequado nos países onde foi introduzido. De acordo
com a OIT, foram constatados casos em que os empregadores pagavam as
PPDs para ficar em casa, mantendo-as na folha de pagamento com a finalidade
exclusiva de suprirem a sua quota. Em outros casos, o empregador preferia
pagar as multas a manter empregados portadores de deficiência.131
Conforme, novamente, assinala Guilherme FIGUEIREDO:
Lamentavelmente ainda há os que fecham os olhos para a evidência de
nosso Direito. Afirma-se, por exemplo, que numa época de implementação de
novas tecnologias, de automação e de 'flexibilização' do Direito do Trabalho,
132
Ibidem, 1997, p. 75-76.
133
"[...] Deve a sociedade propiciar prioritariamente os meios aptos a inserir o portador
de deficiência no convívio social, valorizando o seu trabalho e as suas qualidades
pessoais.[...]." (FONSECA. Ricardo Tadeu Marques da. O trabalho protegido do
portador de deficiência, 1997 p.135).
4.3.1 A Pessoa Portadora de Deficiência, as Normas Trabalhistas e
Algumas Especificidades
Embora a Lei nº. 7.853/89, no artigo 2º, inciso III, alínea b, refira-se ao
surgimento e manutenção de empregos de tempo parcial,134 é necessário
registrar desde logo a inexistência de previsão legal de contrato de trabalho com
horário e, em decorrência disso, salário diferenciado para a pessoa portadora de
deficiência o que, entende-se, é uma necessidade. Nesse sentido, segundo
notícias informais, alguns grupos de trabalho teriam sido formados, com
participação da Corde, Ministério Público do Trabalho, Procuradoria da
República e outros, objetivando esboçar projeto de lei que seria encaminhado a
parlamentar ou mesmo seria de iniciativa da Presidência da República. Também
o Decreto nº. 3.298/99 veio, no artigo 35, parágrafo 2º, estabelecendo como
procedimento especial a contratação com jornada variável, horário flexível,
proporcionalidade de salário e outros, mas não passa dessa definição que, ao que
parece, pouca efetividade alcançará na contratação cotidiana de mão-de-obra.
Portanto, até o presente momento, a situação é de inexistência de lei específica
de natureza trabalhista.
Entende-se que deve ser oportunizada uma legislação apurada e
diferenciada para as pessoas portadoras de deficiência, nos moldes apontados.
Ou seja, alguns trabalhadores portadores de deficiência precisam por tempo
indeterminado freqüentar terapia(s), como por exemplo a fisioterapia, ou ainda,
a locomoção é mais demorada mesmo quando inexista barreira arquitetônica.
Para estes trabalhadores, seria benéfica a possibilidade de optar por um contrato
de trabalho diferenciado.
A Lei nº 7.853/89, em seu artigo 2º, inciso II, a, prevê apoio
governamental à formação e orientação profissional para a pessoa portadora de
deficiência.135 Não obstante isso, sabe-se que a formação e orientação
profissionais está em muito longe de constituir ação governamental efetiva.
Com o advento do Decreto nº. 3.298/99, houve uma pequena
aproximação - ao que parece - de ação concreta pois no artigo 45 ficou
estabelecida implementação de programas de formação e qualificação da pessoa
134
Art. 2º., inciso III, b: "o empenho do Poder Público quanto ao surgimento e à
manutenção de empregos, inclusive de tempo parcial, destinados às pessoas portadoras
de deficiência que não tenham acesso aos empregos comuns;"
135
Art. 2º., II, a: "apoio governamental à formação profissional, à orientação
profissional, e a garantia de acesso aos serviços concernentes, inclusive aos cursos
regulares voltados à formação profissional;"
portadora de deficiência no Plano Nacional de Formação Profissional -
PLANFOR.136
Na verdade, paira ainda a dúvida se a habilitação e reabilitação são
atividades vinculadas ao trabalho, à educação ou à saúde ou, ainda, aos três. Isso
é importante estabelecer porque, na prática, o resultado é o não investimento
concreto e eficaz por nenhum deles, restando para as entidades filantrópicas ou
escolas especiais desenvolverem isoladamente projetos como puderem ou
entenderem como preparo para o trabalho de seus alunos.
O Decreto nº. 3.298/99, nos artigos 30 a 33 regula a habilitação,
reabilitação e orientação profissional mas com uma falta de especificidade típica
da legislação pátria na atualidade, utilizada como estratégia mesmo de não
apontar quem, como, quando e onde deverá investir, gastar dinheiro com essa
política básica, indispensável e inadiável.
Quanto às oficinas protegidas ou simplesmente "oficinas" no dizer da
Lei nº. 7.853/89, em seu artigo 2º., III, d,137 o Decreto nº. 3.298/99, veio
diferenciando entre oficina protegida de produção e a oficina protegida
terapêutica, no seu artigo 35, parágrafos 4º e seguintes.138 Para o Decreto
136
"Art. 45. Serão implementados programas de formação e qualificação profissional
voltados para a pessoa portadora de deficiência no âmbito do Plano Nacional de
Formação Profissional - PLANFOR.
Parágrafo único. Os programas de formação e qualificação profissional para pessoa
portadora de deficiência terão como objetivos:
I - criar condições que garantam a toda pessoa portadora de deficiência o direito a
receber uma formação profissional adequada;
II - organizar os meios de formação necessários para qualificar a pessoa portadora de
deficiência para a inserção competitiva no mercado laboral; e
III - ampliar a formação e qualificação profissional sob a base de educação geral para
fomentar o desenvolvimento harmônico da pessoa portadora de deficiência, assim como
para satisfazer as exigências derivadas do progresso técnico, dos novos métodos de
produção e da evolução social e econômica."
137
Art. 2º., III, d: " a adoção de legislação específica que discipline a reserva de
mercado de trabalho, em favor das pessoas portadoras de deficiência, nas entidades da
Administração Pública e do setor privado, e que regulamente a organização de oficinas
e congêneres integradas ao mercado de trabalho, e a situação, nelas, das pessoas
portadoras de deficiência".
138
Art. 35: "4° Considera-se oficina protegida de produção a unidade que funciona em
relação de dependência com entidade pública ou beneficente de assistência social, que
tem por objetivo desenvolver programa de habilitação profissional para adolescente e
adulto portador de deficiência, provendo-o com trabalho remunerado, com vista à
emancipação econômica e pessoal relativa.
§ 5° Considera-se oficina protegida terapêutica a unidade que funciona em relação de
dependência com entidade pública ou beneficente de assistência social, que tem por
objetivo a integração social por meio de atividades de adaptação e capacitação para o
trabalho de adolescente e adulto que devido ao seu grau de deficiência, transitória ou
referido, a diferenciação reside na capacidade da pessoa portadora de deficiência
exercer ou não atividade laboral ou estar inserida em oficina protegida de
produção, em razão do grau da deficiência. Nos dois casos, há vinculação,
dependência com entidade pública ou beneficente de assistência social, somente
que na oficina protegida de produção há remuneração e a atividade objetiva
emancipação econômica e pessoal relativa. Na oficina protegida terapêutica, o
objetivo reside na integração social e preparo para o trabalho.
É interessante observar que, de 1989 até 1999, período entre a edição da
Lei e do Decreto antes referidos, houve muita divergência observável nos
grupos de trabalho, simpósios, congressos e outros eventos, entre o que seria
uma oficina protegida, a que se destinaria e assim por diante. Na verdade, as
poucas oficinas protegidas existentes traçavam o seu próprio projeto, fixando
finalidades, atividades, usuários, etc.
A fixação legal de critérios para as oficinas é importante tanto para uma
padronização, que favorecerá o aprimoramento da atividade no que pertine a
todos os aspectos de sua existência, quanto a não correr-se o risco de
perenização do aluno ou usuário dentro da oficina, tal qual aponta-se ocorrer
em algumas escolas especiais, bem como afasta o temor de alguns de eventual
exploração de mão de obra barata do portador de deficiência.
Importante tópico ainda diz respeito à Instrução Normativa nº. 05 de 30
de agosto de 1991, do Secretário Nacional do Trabalho,139 que regula o
denominado "trabalho terapêutico". Este, segundo a Instrução, não caracteriza
vínculo empregatício se realizado por entidade filantrópica e assistencial,
destinado a fins terapêuticos ou de desenvolvimento da capacidade laborativa,
141
INTERNET.http:www.mppr.com.br/teses/gts/4.htm
142
Art. 35, § 1° " As entidades beneficentes de assistência social, na forma da lei,
poderão intermediar a modalidade de inserção laboral de que tratam os incisos II e III,
nos seguintes casos:
I- na contratação para prestação de serviços, por entidade pública ou privada, da
pessoa portadora de deficiência física, mental ou sensorial, e
II - na comercialização de bens e serviços decorrentes de programas de habilitação
profissional de adolescente e adulto portador de deficiência em oficina protegida de
produção ou terapêutica."
uma redação falha e não suficientemente objetiva o que poderá contribuir para,
pelo menos, a pretensão de intermediar mão de obra como vem ocorrendo
atualmente.
Por fim, como especificidade, há a Lei nº. 8.666, de 21 de junho de
1993, que no artigo 24, inciso XX,143 trata da dispensa de licitação quando há
contratação de associação de portadores de deficiência física, com os requisitos
que estipula, para prestação de serviços ou fornecimento de mão-de-obra,
conforme apontado na seção relativa à legislação esparsa.
143
"Art. 24 - É dispensável a licitação:
[...]
XX - Na contratação de associação de portadores de deficiência física, sem fins
lucrativos e de comprovada idoneidade, por órgãos públicos ou entidades da
Administração Pública, para a prestação de serviços ou fornecimento de mão de obra,
desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado".
144
Art. 37, VIII: "A lei reservará percentual de cargos e empregos públicos para as
pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão".
145
Art. 2º, inciso III: " c) a promoção de ações eficazes que propiciem a inserção, nos
setores público e privado, de pessoas portadoras de deficiência;
d) a adoção de legislação específica que discipline a reserva de mercado de trabalho, em
favor das pessoas portadoras de deficiência, nas entidades da Administração Pública e
do setor privado, e que regulamente a organização de oficinas e congêneres integradas
ao mercado de trabalho, e a situação, nelas, das pessoas portadoras de deficiência."
146
ASSIS; PUSSOLI. Pessoa deficiente: direitos e garantias, 1992, p. 97.
reserva de vagas era compatível com a igualdade de condições porque esta diria
respeito à realização das provas apenas e outros, ainda, se debatiam em como
deveriam os resultados dos concursos ser divulgados - em uma única
classificação não. Evidentemente outra parcela - especialmente pessoas sem
deficiência - discordando de qualquer forma de reserva de vagas por entender
constituir-se em privilégio e, ainda, quais deficiências seriam abrangidas em
reserva de vagas.
Também, injustificável e injusta, a demora na adoção de legislação que
de fato regulasse a previsão constitucional e, nesse sentido, ALVES se
posicionava:
Tais normas (referindo-se aos dispositivos da Lei nº. 7.853/89 antes
citados) constituem uma deplorável realidade e 'escamoteamento' do Poder
Público, em adotar real e efetiva legislação que determine os meios pelos quais
se dará a obrigatoriedade da absorção do trabalho remunerado pelos setores
público e privado das 'pessoas portadoras de deficiência'(inabilitados). Esse
descaso legislativo deixa tais trabalhadores numa situação de desamparo em
termos de proteção legal.147
Nessa esteira, ASSIS e PUSSOLI entendiam:
No momento, a situação da reserva de mercado no setor público se
encontra no seguinte ponto: os fins previstos na norma-origem, na norma
constitucional, que trata da reserva de um percentual de cargos e empregos
públicos para as pessoas portadoras de deficiência não se realizam porque lhes
faltam meios, ou seja, falta uma norma regulamentadora que discipline e
explicite aquele percentual e defina os critérios de admissão. Estamos às voltas,
de novo, com uma norma programática.148
No âmbito Federal, contava-se unicamente com as previsões da Lei nº.
8.112, de 11 de dezembro de 1990, que dispõe sobre o regime jurídico dos
Servidores Públicos Civis da União, das autarquias e das fundações públicas
federais, que no seu artigo 5º., parágrafo 2º., assegura reserva de vagas de até
20% das oferecidas no concurso.149 Essa Lei sofreu críticas no sentido de que
até 20% comportava 1%, ou seja, a reserva poderia ocorrer em percentual
147
ALVES, Rubens Valtecides, op. cit., 1992, p. 142.
148
ASSIS; PUSSOLI, op. cit., 1992, p.97.
149
Art. 5º., parágrafo 2º. :"Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito
de se inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam
compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão
reservadas até 20% ( vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso". (PARANÁ.
Coletânea Da Legislação Referente Aos Direitos Da Pessoa Portadora De Deficiência.
Publicação Oficial do Ministério Público do Estado do Paraná - Centro de apoio
operacional das promotorias de defesa dos direitos da pessoa portadora de deficiência.
Curitiba: [s.e.], 1997, p. 38.
inadequado porém, dentro da previsão legal. A realidade estava sendo da reserva
de vagas na grande parte dos concursos públicos federais não obstante ainda a
carência de regulamentação satisfatória. Então, havia uma infinidade de questões
não resolvidas como, por exemplo, como se daria a inscrição do candidato,
quais as deficiências estariam abrangidas, como seria a classificação e assim por
diante. Muitos desses casos foram à apreciação judicial.
A Carta de São Luís em Defesa das Pessoas Portadoras de Deficiência e Idosas,
extraída da reunião do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais de Justiça do
Brasil, ocorrida no período de 09 a 11 de setembro de 1999, tem como uma das
conclusões "recomendar a regulamentação de reserva de vagas, nos setores
públicos, bem como exigir a efetivação do acesso a cargos no setor privado".150
Contudo, com o advento do Decreto nº. 3.298/99, entende-se, essas
questões foram enfrentadas (artigos 37 a 44), pois está regulando a inscrição do
candidato portador de deficiência em concurso público, em igualdade de
condições com os demais candidatos, a compatibilidade entre atribuições do
cargo e deficiência, concorrência a todas as vagas, com reserva mínima de 5%
em face da classificação obtida, casos de não incidência da reserva, requisitos
dos editais de concurso, vedação de obstaculização da inscrição, condições,
tratamento e tempo diferenciados nos dias de concurso, quais são as condições
de participação em igualdade com os demais candidatos (conteúdo das provas,
avaliação, critérios de aprovação, horário e local das provas, nota mínima exigida
para todos os candidatos), publicação do resultado em duas listas (a primeira
com pontuação de todos os candidatos, inclusive a dos portadores de
deficiência, e a segunda com a pontuação destes), assistência de equipe
multiprofissional e potencial de trabalho.151
150
PARANÁ. Cadernos do Ministério Público do Paraná. Publicação Oficial do
Ministério Público do Estado do Paraná. Curitiba, v. 2 , n. 9, p. 90, out. 1999.
151
Art. 37. Fica assegurado à pessoa portadora de deficiência o direito de se inscrever
em concurso público, em igualdade de condições com os demais candidatos, para
provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que é
portador.
§1° O candidato portador de deficiência, em razão da necessária igualdade de
condições, concorrerá a todas as vagas, sendo reservado no mínimo o percentual de
cinco por cento em face da classificação obtida.
§ 2° Caso a aplicação do percentual de que trata o parágrafo anterior resulte em
número fracionado, este deverá ser elevado até o primeiro número inteiro subseqüente.
Art. 38. Não se aplica o disposto no artigo anterior nos casos de provimento de:
I - cargo em comissão ou função de confiança, de livre nomeação e exoneração; e
II - cargo ou emprego público integrante de carreira que exija aptidão plena do
candidato.
Art. 39. Os editais de concursos públicos deverão conter:
I - o número de vagas existentes, bem como o total correspondente a reserva destinada
à pessoa portadora de deficiência;
II - as atribuições e tarefas essenciais dos cargos;
No Estado do Paraná, embora a Constituição do Estado, no artigo 27,
inciso VIII, repita o artigo 37, inciso VIII da Constituição Federal, a lei não
adveio. Contudo, conta-se com a Lei nº. 7.875, de 02 de julho de 1984,
Embora, como anteriormente visto, a Lei nº. 7.853/89, artigo 2º., inciso
III, alínea d, tenha estabelecido a adoção de legislação específica que discipline a
reserva de vagas no mercado de trabalho, nos setores público e privado, apenas
em parte conta-se com essa reserva, porque destinada a empresas com mais de
100 (cem) empregados.
O artigo 93 da Lei nº. 8.213/91 - "norma de natureza trabalhista,
inserida em texto legal de caráter previdenciário"152 - obriga a empresa com 100
(cem) ou mais empregados a preencher de 2% a 5% dos seus cargos com
beneficiário reabilitado ou pessoas portadoras de deficiências habilitadas, na
seguinte proporção: I - até 200 empregados: 2%; II - de 201 a 500: 3%; III - de
501 a 1000: 4%; IV - de 1000 em diante: 5%. No parágrafo 1º, do artigo 93, a
152
FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de, op. Cit,1997, p. 68.
Lei estabelece que a dispensa de trabalhador reabilitado ou pessoa portadora de
deficiência reabilitada somente pode ocorrer após contratação de outro
trabalhador em condições similares.153
É verdade que a Lei citada não obteve espontânea aceitação e, por isso,
ainda hoje não satisfatoriamente cumprida. Essa situação foi recentemente
apontada em matéria na revista Veja intitulada Cota de 10%, indicando que
empresas multinacionais instaladas no Brasil estão reservando vagas para
minorias, relacionando quatorze delas. Quanto às pessoas portadoras de
deficiência ressalta o descumprimento da Lei nº. 8.213/91: "As empresas alegam
que não cumprem a legislação por dois motivos. O primeiro é que desconhecem
o decreto. O segundo é que teriam de demitir outros empregados para colocá-la
em prática. O Ministério Público não está convencido desses argumentos e
muitas instituições já estão sendo chamadas para adaptar-se às novas regras".154
Sobre isso, refletem ASSIS e PUSSOLI:
A afirmação do direito ao trabalho das pessoas portadoras de
deficiência, de alguma forma impõe limites ao direito de propriedade. É por isso
que a norma que dispõe sobre o assunto não obtém sucesso. Uma boa parcela
dos empresários ainda entende como sagrado esse direito.
Com efeito, precisamos de uma norma que introduza limites à extensão
dos direitos dos empresários por um lado e, por outro lado, salvaguarde, pelo
menos em parte, os direitos dos deficientes de ter acesso ao mercado de
trabalho.155
Os autores citados trazem curioso entendimento acerca tanto da
avaliação da habilitação, quanto da obrigação imposta pela lei acaso a empresa
não preencha o percentual que lhe cabe:
[...] Esclarecemos desde logo que não é prerrogativa do empregador
avaliar se a pessoa portadora de deficiência está ou não habilitada. Por exemplo,
as pessoas cujo exercício da profissão depende do reconhecimento da entidade
153
"Art. 93 - A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher
de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários
reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência habilitadas, na seguinte proporção:
I - até 200 empregados ........................2%
II - de 201 a 500......... .........................3%
III - de 501 a 1000........ ........................4%
IV - de 1001 em diante .........................5%
º 1º.. A dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado ao final de
contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, e a imotivada, no
contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de substituto
de condição semelhante.
154
Revista Veja, São Paulo, ed. 1652, a. 33, n. 23, 7 jun. 2000, p. 118-119.
155
ASSIS ; PUSSOLI, op. cit., 1992, p. 94.
de classe à qual pertencem, como os advogados, médicos, contadores,
professores, etc., estão habilitadas em virtude mesmo do reconhecimento desta
habilitação pela entidade classista. Outra não é a solução para aqueles
profissionais habilitados em instituições de ensino de nível médio que não
dependem do reconhecimento da entidade de classe para o exercício da
profissão como os ferramenteiros, secretárias, digitadores, etc.
A obrigação da empresa manter um certo percentual de reabilitados ou
pessoas portadoras de deficiências nos seus quadros é relativa, porque se tais
pessoas não quiserem trabalhar em determinada empresa, não há meio de
obrigá-las. Porém, se não for este o caso - até porque será algo raro de acontecer
- a empresa deverá obedecer pelo menos os percentuais previstos em lei, casos
contrário estará caracterizada a negação de trabalho sem justa causa. Neste caso
é possível aplicar a pena prevista no art. 8º. da Lei n. 7.853/89 ao infrator ou
infratores, porque não há como argüir a justa causa para a negação de emprego.
O percentual previsto em lei é um patamar mínimo, só após completá-lo é
possível argüir a justa causa.156
No que diz respeito à previsão do parágrafo único do artigo 93, os
autores alertam não tratar-se de estabilidade no emprego, que não possa ser
demitido imotivadamente, desde que haja a substituição prevista e,
evidentemente que esta contratação, no que diz respeito à sua obrigatoriedade,
fica condicionada aos percentuais do caput do artigo. Quer dizer, se for o caso de
demissão em massa motivada por problemas econômicos, o empregador não
está obrigado a manter os deficientes acima das proporções indicadas pela lei.
Estando nos limites da proporcionalidade, o empregador não está obrigado a
contratar substituto.157
Quanto à natureza jurídica do trabalho prestado pela pessoa portadora
de deficiência, Guilherme FIGUEIREDO apresenta três teorias: a primeira que
sustenta ser a relação entre o trabalhador e empregador de natureza contratual, a
segunda que nega a relação contratual mas, ao mesmo tempo, o reconhece
assegurado pela legislação trabalhista e, a terceira que nega aplicabilidade da
legislação trabalhista porque não contaria o contrato com um de seus elementos
constitutivos, qual seja, o acordo de vontades. Contudo, entende-se, tal qual o
autor citado, que o trabalho da pessoa portadora de deficiência é de natureza
contratual e inteiramente protegida pelas normas do Direito do Trabalho, eis
que o parágrafo 1º. do artigo 93, da Lei nº. 8.213/91 fala expressamente em
contrato e, assim, "[...] Não há dúvida que a exigência de preenchimento de
cargos prevista em lei significa obrigação de oferta de empregos a portadores de
deficiência, com encargos idênticos àqueles fixados para os demais
156
Ibidem, 1992, p. 95.
157
Ibidem, 1992, p. 95.
trabalhadores" e, lembra o autor que está sim presente o elemento volitivo: "[...]
Nesses casos, o trabalhador também se aproxima por sua vontade e o
empregador é obrigado não a admitir uma pessoa, mas a deixar um número de
vagas a serem preenchidas por trabalhadores em certas condições".158
Necessário ressaltar que a empresa com menos de 100 (cem)
funcionários não tem a obrigação legal de contar com percentual de
trabalhadores portadores de deficiência em seu quadro funcional. Nesse caso,
dependerá muito da consciência social e visão de mundo do empresariado.
Então, mais uma vez evidencia-se a importância da informação e
conscientização de todos, no sentido de que a pessoa portadora de deficiência
pode e deve estar integrada plenamente no sistema produtivo do País.
Manoel Jorge e SILVA NETO defende a possibilidade de atuação do
Ministério Público do Trabalho:
[...] dentro do âmbito da relação jurídica processual coletiva, poderá não
apenas concitar os contendores a incluírem no conteúdo normativo cláusulas
assecuratórias de um percentual mínimo de vagas destinadas aos portadores de
deficiência, solvendo-se a lide através de método de autocomposição (acordo ou
convenção coletiva), impondo-se a obrigação, de igual modo, à unidades
empresariais com menos de cem empregados, como também poderá atingir tal
objetivo mediante postulação dirigida à autoridade jurisdicional, consagrando-se
a garantia na sentença normativa.
Induvidosa a legitimidade do Ministério Público do Trabalho para
atuação de tal jaez à vista do disposto no art. 83, IV e VI da Lei Complementar
nº 75, de 20 de maio de 1993 e, na eventualidade de rejeitada a pretensão, deverá
recorrer da sentença por afronta à ordem constitucional.
Deveras, o mero e simples fato de o art. 93 da Lei n. 8.213/91 não
impor a proporcionalidade às empresas com até 99 empregados não desponta
como óbice à disciplina da matéria através da norma coletiva porque o art. 7º.,
XXXI, é norma constitucional dotada de irrefutável auto-aplicabilidade [...] e,
por via de conseqüência, se subsume em autêntica regra conformadora da
atuação do magistrado trabalhista, máxime no processo coletivo, para o qual, de
forma mais marcante, se dirige o preceito [...]." Para o autor citado, a atuação do
Ministério Público do Trabalho, no caso, objetiva "[...] a obtenção de
provimento judicial assecuratório da garantia contra discriminação, efetivando o
comando da Carta Política inclusive no tocante aos estabelecimentos não
abrangidos pelo art. 93 da Lei nº. 8.213/91.159
158
FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de, op. cit., 1997, p. 69-73.
159
SILVA NETO, Manoel Jorge e. O Ministério Público do Trabalho e o portador de
deficiência, 1997, p. 106-107.
No descumprimento da reserva de vagas no setor privado, conforme
aqui exposto, a atuação do Ministério Público do Trabalho se impõe, mediante
até o inquérito civil e ação civil pública.160
O que se evidencia como de fundamental importância é o investimento
na habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência, no preparo
para o trabalho pelo Poder Público, sendo essa uma política básica para a área
conforme anteriormente abordado. Fica claro que a pessoa portadora de
deficiência desatendida quanto à habilitação, preparo para o trabalho e ensino
adequado, recebe quase que uma sentença de total invalidez e inutilidade,
quando poderia estar muito bem inserida no sistema produtivo e tendo
autonomia na vida se nela tivesse sido investido.
Nos anos seguintes à edição da Lei nº. 8.213/91, houve a oportunidade
de participar de trabalho conjunto entre o Ministério Público do Estado do
Paraná e o Ministério Público do Trabalho para verificação acerca do seu
cumprimento. Oficiou-se a todas as empresas paranaenses com mais de cem
funcionários indagando quantos portadores de deficiência faziam parte de seus
quadros. As respostas, algumas absurdas, basicamente fundavam-se na alegação
de que nunca uma pessoa portadora de deficiência habilitada ou beneficiário da
previdência reabilitado postulou vaga na empresa. Assim, muitos empresários
fundaram suas respostas - quase defesas - num fato que sabe-se ser a fragilidade
na área: a falta ou debilidade de oferta e efetivação de habilitação, reabilitação e
preparo para o trabalho. Mas, no decorrer da atuação, o Ministério Público do
Trabalho estabeleceu contato com o serviço público de colocação de emprego
que, no Paraná, conta com atendimento próprio para pessoas portadoras de
deficiência e tinha na época cerca de trezentas pessoas com deficiência
habilitadas ou beneficiários reabilitados, tornando possível firmar termos de
ajustes com as empresas que mostraram interesse em cumprir a lei, mediante
acordo extrajudicial.
O Decreto nº. 3.298/99 reafirmou, por assim dizer, a reserva de vagas
no setor privado, pois no artigo 36 e parágrafo 1º. repete o artigo 93 e parágrafo
1º. da Lei nº. 8.213/91, acrescentando o que é pessoa portadora de deficiência
habilitada e beneficiário reabilitado, atribuindo ao Ministério do Trabalho e
160
"Assumindo como objeto obrigação de fazer, no caso do atendimento à
proporcionalidade, poderá a ação proposta pelo Ministério Público, em cúmulo
objetivo, inserir preceito cominatório, de sorte a 'acelerar' a eficácia do comando
sentencial, tudo direcionado para o escopo maior de estancar a grave transgressão a
interesse transindividual". (SILVA NETO, op. cit., 1997, p. 109).
Emprego a obrigação de estabelecer sistemática de fiscalização, avaliação e
controle das empresas e gerar estatísticas.161
161
"Art. 36. A empresa com cem ou mais empregados está obrigada a preencher de dois
a cinco por cento de seus cargos com beneficiários da Previdência Social reabilitados ou
com pessoa portadora de deficiência habilitada, na seguinte proporção:
I - até duzentos empregados, dois por cento;
II - de duzentos e um a quinhentos empregados, três por cento;
III - de quinhentos e um a mil empregados, quatro por cento; ou
IV - mais de mil empregados, cinco por cento.
§1° A dispensa de empregado na condição estabelecida neste artigo, quando se tratar de
contrato por prazo determinado, superior a noventa dias, e a dispensa imotivada, no
contrato por prazo indeterminado, somente poderá ocorrer após a contratação de
substituto em condições semelhantes.
§ 2° Considera - se pessoa portadora de deficiência habilitada aquela que concluiu
curso de educação profissional de nível básico, técnico ou tecnológico, ou curso
superior, com certificação ou diplomação expedida por instituição pública ou privada,
legalmente credenciada pelo Ministério da Educação ou órgão equivalente, ou aquela
com certificado de conclusão de processo de habilitação ou reabilitação profissional
fornecido pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS.
§ 3° Considera-se, também, pessoa portadora de deficiência habilitada aquela que, não
tendo se submetido a processo de habilitação ou reabilitação, esteja capacitada para o
exercício da função.
§ 4° A pessoa portadora de deficiência habilitada nos termos dos §§ 20 e 30 deste artigo
poderá recorrer a intermediação de órgão integrante do sistema público de emprego,
para fins de inclusão laboral na forma deste artigo.
§ 5° Compete ao Ministério do Trabalho e Emprego estabelecer sistemática de
fiscalização, avaliação e controle das empresas, bem como instituir procedimentos e
formulários que propiciem estatísticas sobre o número de empregados portadores de
deficiência e de vagas preenchidas, para fins de acompanhamento do disposto no caput
deste artigo."
Público, família e sociedade das necessidades dessa população, etc., é que se
pode almejar uma aproximação a uma intervenção de qualidade.
Ao profissional do direito não mais é permitida a ilusão de um trabalho
hermético, sem participação e integração dos demais conhecimentos, não só do
serviço social, mas também da psicologia, psiquiatria, pedagogia, e assim por
diante. Conforme KRYNSKI:
[...] a existência e a proeminência dos assim chamados fatores sociais não
implicam necessariamente que apenas o assistente social (ou o trabalhador social,
como é denominado em outros países) esteja interessado nesta problemática. É
todo um conjunto multifatorial que necessita ser abordado globalmente. Daí as
assim chamadas equipes multidisciplinares, interprofissionais ou interdisciplinares, que
bem caracterizam, por um lado, a complexidade dos problemas a serem
enfrentados [...]. Não há mais enciclopedistas no século vinte. Ninguém mais 'sabe
tudo'. É preciso equacionar os conhecimentos, constituir equipes de trabalho,
dividir responsabilidades, 'assumir a realidade'[...]. É evidente que grande peso
desta responsabilidade cabe ao assistente social, termo bastante indefinido, a meu
ver, e que, na prática, aos menos nos assim chamados países do Terceiro Mundo
(pobre mundo), se constituem mais em 'muros de lamentação' ou 'guichês de
reclamações' do que realmente em assistentes sociais com funções assistenciais
definidas e atuantes. Tal é o descaso administrativo e a ausência ou insuficiência
na comunidade, que a assistente social, muitas vezes, se vê sozinha e
desamparada em suas ações profissionais. Daí, também, sua própria insatisfação
e revolta, que a fazem, freqüentemente, para um progressivo avanço dos
recursos, materiais e humanos, necessários para a consecução das metas
idealizadas. É evidente que as circunstâncias são dependentes do sistema
vigente, da filosofia que norteia essa 'assistência', da preparação profissional do
técnico e, porque não, de suas normais condições de trabalho e de sua própria
inserção social.
A realidade é que, ao menos na área da deficiência mental, a tarefa da
assistente social, entre nós, é extremamente penosa.162
Anota o Conselho Federal de Assistentes Sociais,
A assistência social historicamente tem ocupado uma posição secundária
e marginal na ação do Estado. Por conseqüência, suas práticas têm sido
tangenciais às demais políticas sociais, compensando ou complementando de
modo casual ou fragmentando a prestação de serviços sociais.
162
KRYNSKI, Stanislau [Coord.]. Serviço social na área da deficiência mental, 1984, p.
1- 2.
A partir da nova ordem constitucional a assistência social passa a
compor o tripé da seguridade social brasileira, juntamente com a Saúde e a
Previdência.
No campo da seguridade a assistência social se transforma em política de
Estado que processa a extensão de cobertura ou de direitos sociais. Isto significa
que ela sempre mantém e manterá uma posição relacional com a demais
políticas públicas.
Essa relação não pode ser mantida num patamar casuístico, eventual,
pontual, caracterizando a justaposição de ações.
Defendemos que a assistência social como as demais políticas públicas
tenha um propósito comum, isto significa alterar o atual caráter de justaposição
eventual e de ações eventuais para uma relação imbricada, onde o propósito e o
enfrentamento da questão social, do ponto de vista dos segmentos excluídos na
sociedade. Conseqüente a isso, o campo da assistência social é sempre relativo
ao avanço da melhoria das condições de vida que a sociedade pretende garantir.
Por isso a assistência social assume a defesa dos padrões mínimos de atenção às
necessidades sociais historicamente determinadas.163
A Constituição Federal inseriu a assistência social na seguridade social,
compondo o modernamente chamado tripé da saúde, previdência e assistência
social, compreendendo um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Público e da sociedade, conforme o artigo 194.164
Especificamente, quanto à assistência social, há o artigo 203 da
Constituição Federal delineando a abrangência e objetivos para a área.165
Neste ponto do presente trabalho, deter-se-á na habilitação, reabilitação
e integração social, sendo bastante interessante notar que a Lei nº. 7.853/89 não
trata em título próprio da assistência social. Ocorre o mesmo com o atual
163
Conselho Federal de Assistentes Sociais. O ponto de vista que defendemos. In:
PARANÁ. Secretaria de Estado do Trabalho e da Ação Social. Fundação de Ação
Social do Paraná. Lei Orgânica da Assistência Social. Textos de Apoio. Publicação
Oficial. Curitiba: Venezuela, 1994, p. 4.
164
Constituição Federal. "Art. 194 - A seguridade social compreende um conjunto
integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a
assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social."
165
Constituição Federal. "Art. 203." A assistência social será prestada a quem dela
necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
[...]
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de
sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei."
decreto regulamentador da Lei, o Decreto nº. 3.298/99, conquanto faça sua
citação em diversas previsões.166
A Lei nº. 8.742, de 07 de dezembro de 1993 - Lei Orgânica da
Assistência Social - quanto à pessoa portadora de deficiência, traz como um dos
objetivos da assistência social, a habilitação e reabilitação desta e a promoção de
sua integração à vida comunitária, bem como a garantia do benefício de
prestação continuada,167 já previsto na Constituição Federal, no artigo 203,
inciso V. Com seus objetivos, princípios, diretrizes, previsões de organização e
gestão, benefícios, serviços, programas e projetos de assistência social, tudo
concebido por assim dizer com a Constituição Federal de 1988, a referida Lei
delineou um novo modelo na área que tem buscado afirmação não sem
percalços sendo um dos exemplos disso, o benefício de prestação continuada
conforme restará analisado em seção seguinte, e a quase letra morta do artigo
22, referentemente aos benefícios eventuais168 que para a pessoa portadora de
deficiência jamais foram instituídos.
Quanto à questão, já fixou-se posição no sentido de que: "Para que a
assistência social cumpra o almejado papel no presente contexto histórico, vê-se
como fundamental o rompimento com o assistencialismo e a tendência
brasileira de tratar a questão com base no emergencial. Necessária é a utilização,
nas políticas sociais brasileiras, dos critérios de universalização, bem como a
abertura para que as forças populares ingressem nos mecanismos decisórios."169
166
Ver ANEXOS.
167
Lei nº. 8.742/93. "Art. 2º. A assistência social tem por objetivos:
[...]
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de
sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família."
168
Lei nº. 8.742/93. "Art.22. Entendem-se por benefícios eventuais aqueles que visam
ao pagamento de auxílio por natalidade ou morte às famílias cuja renda mensal per
capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo.
§ 1º. A concessão e o valor dos benefícios de que trata este artigo serão regulamentados
pelos Conselhos de Assistência Social dos estados, do distrito Federal e dos Municípios,
mediante critérios e prazos definidos pelo Conselho Nacional de Assistência Social -
CNAS.
§ 2º. Poderão ser estabelecidos outros benefícios eventuais para atender necessidades
advindas de situações de vulnerabilidade temporária, com prioridade para a criança, a
família, o idoso, a pessoa portadora de deficiência, a gestante, a nutriz e nos casos de
calamidade pública. [...]"
169
BEVERVANÇO, Rosana Beraldi; GRILO, Valéria Teixeira de Meiroz. Assistência
Social: conceito, histórico e papel. In: PARANÁ. Secretaria de Estado do Trabalho e da
Ação Social. Fundação de Ação Social do Paraná. Lei Orgânica da Assistência Social.
Textos de Apoio. Publicação Oficial. Curitiba: Venezuela, 1994, p. 37.
4.4.1 Assistência Social para Quem Precisa
170
Em matéria publicada sob o título "Assistencialismo atrapalha desenvolvimento" foi
apontada necessidade de abandono do assistencialismo que "não leva a lugar nenhum",
no que diz respeito à pessoa portadora de deficiência. Jornal Gazeta do Povo, 24 maio
1997, p. 12.
Conseqüência disso é que o Ministério Público do Paraná tem recebido nos
últimos oito anos várias notícias de irregularidades em entidades, instaurado
procedimentos, inquéritos civis, tomado medidas cíveis e criminais.
Essa situação ainda vigente é aqui relatada porque a uma precisa
urgentemente ser extirpada da sociedade pois seus efeitos, em última análise,
recaem sobre a pessoa portadora de deficiência e, porque é propiciada em razão
da omissão do Poder Público na implementação, oferta ou fiscalização de
atividades que lhe cabem.
Fica muito claro: a omissão estatal tem conseqüências generalizadas e
gravíssimas. Também, a omissão da comunidade em razão da alienação social
para a questão - muito acalentada pela conduta caridosa em seu aspecto negativo
- tem participação de igual dimensão nessas conseqüências.
O Conselho Federal de Assistentes Sociais assim aborda o tema:
A presença da rede privada assistencial remonta às origens da sociedade
brasileira e precede, inclusive, outras formas de intervenção social do Estado.
Neste momento, a relação Estado - rede filantrópica é fundamentalmente
cartorial através do registro e cadastro das entidades sociais.
Quando o Estado regulamenta as relações de trabalho e as condições
gerais de reprodução da força de trabalho é que se configura um novo tipo de
associação público-privado na prestação de serviços assistenciais.
Esta associação se efetiva através de auxílios e subvenções, convênios de
assistência técnico-financeira, com transferência de recursos públicos
acompanhados ou não pela supervisão técnica e controle da utilização destes
recursos, evidenciando algumas questões.
A primeira é que esta relação assim posta, não se dá no campo da defesa
da Assistência Social como política pública. Pelo contrário, a ação do Estado
torna-se oculta, diluída e ambígua junto à população usuária dos programas e
serviços. E as entidades sociais, por sua vez, passam a ser reconhecidas como as
protagonistas destas ações, num discurso, supostamente neutro, de colaboração
com o Estado.
O Estado se desobriga da prestação de serviços e da garantia de
benefícios à população, através da esfera pública. Além disso, acentua a
ambigüidade, por não ser "reconhecido" como responsável pelas ações
desenvolvidas pela rede privada.
Reafirma-se nesta relação público-privado o caráter clientelista que vem
assumindo a assistência social prestada pelo Estado. Desse modo, permeia esta
relação uma dose de manipulação em troca do apoio público e favoritismo na
distribuição de "benesses" do Estado.
Assim, a associação poder público-iniciativa privada no campo
assistencial não se configura como uma mera divisão de tarefas, mas como
relação de poder que implica alianças, pactos e negociações, no âmbito da
correlação de forças entre Estado e sociedade civil.
Defendemos que a assistência social como política pública não prescinda
da presença da rede privada, mas que regule claramente essa relação, de modo a
submetê-la também ao controle social.
A posição de defesa de uma política pública da assistência social exige
um nova política de reconhecimento das relações entre Estado e Entidades
Sociais.
A pauta desse reconhecimento deixa de ser cartorial e vai significar o
compromisso com a publicização da prestação de serviços sociais. Isto supõe a
parceira estado - entidades sociais no enfrentamento da pobreza e na extensão
dos direitos sociais.
Consequentemente, esta proposta supõe transformar as ainda existentes
burocracias cartoriais em câmaras de negociação de parcerias e alianças.171
A assistência social deve ser prestada sem qualquer traço de
assistencialismo ou caridade, mas com técnica, ética e profissionalismo.
Ainda, deve ser destinada obviamente aos carentes de recursos
financeiros sem discrepâncias e contradições como se vê, apenas como exemplo,
entre o benefício de prestação continuada e a isenção de impostos para
aquisição de carros adaptados. Para a concessão do primeiro, a exigência da lei é
da renda familiar per capita de um quarto do salário mínimo. Para o segundo, não
há requisito de carência de recursos financeiros compatível com o benefício, ou
seja, a isenção.172
174
Ibidem, 1997, p. 118.
Dessa forma, transparece clara a intenção cruel e injusta de ir
restringindo ao máximo o direito constitucional ao benefício de prestação
continuada, sem falar obviamente no desrespeito à hierarquia das leis pois, num
artifício condenável, passou-se a exigir da pessoa portadora de deficiência não
apenas a falta de condições para a "vida independente e para o trabalho" (Lei nº
8.742/93) mas mais ainda, que não tenha "atividades da vida diária" (Decreto nº
1.744/95), tendo ouvido em reunião sobre o tema de agente do INSS: "se a
pessoa portadora de deficiência escova seus dentes ou amarra seu sapato, não
pode receber o benefício"(sic). Quanto descalabro!
Quem efetivamente vivencia os fatos humanos e sociais que rodeiam os
cidadãos brasileiros portadores de deficiência, sabe o quão absurdo é tal artifício
legal pois, nesse passo, somente a ele farão jus os que praticamente levem vida
vegetativa. Mas é de se indagar: as pessoas portadoras de deficiência que até hoje
foram ignoradas quanto aos direitos de cidadania, sem adequado fornecimento
de programas de atenção à habilitação, reabilitação e integração social por parte
do Poder Público, isto é, sem atendimento educacional e de saúde especializado,
de fornecimento de medicamentos, próteses e órteses, sem profissionalização e
inserção no mercado de trabalho que é altamente preconceituoso e excludente, e
assim por diante, serão agora analisados sem critérios razoáveis e
contextualizados pelo próprio Poder Público se são independentes, se podem
trabalhar e até se podem ou não escovar seus dentes, para lhe pagar um salário
mínimo por mês se não receberem mais do que um quarto do salário mínimo?
Há que haver cientificidade e honestidade ao conceituar deficiência.
Ainda, o Decreto nº 1.744/95 diz que a pessoa portadora de deficiência
deve apresentar anomalias ou lesões irreversíveis de natureza hereditária,
congênitas ou adquiridas. É ilegal e incoerente, pois a própria Lei Orgânica da
Assistência Social prevê que o benefício de prestação continuada deve ser
revisto a cada dois anos para avaliação da continuidade das condições que lhe
deram origem e que o pagamento do benefício de prestação continuada cessa no
momento em que forem superadas as condições referidas no caput do artigo ou
em caso de morte do beneficiário.175 Ou seja, a Lei prevê a possibilidade real das
deficiências serem superadas, mas o Decreto as quer irreversíveis, crônicas,
insuperáveis em um momento para, mais adiante, repetir o dispositivo da Lei
(ver artigo 35 usque 38).
Assim é que o Decreto nº 1.744/95, em seu artigo 2º, inciso II foi
intencionalmente colocado na ordem jurídica para restringir o preceito
constitucional amplo, honesto e viabilizador de maior justiça social na área.
175
Art. 21."O benefício de prestação continuada deve ser revisto a cada 02 (dois) anos
para avaliação da continuidade das condições que lhe deram origem.
Parágrafo 1º - O Pagamento do benefício de prestação continuada cessa no momento
em que forem superadas as condições referidas no "caput" , ou em caso de morte do
beneficiário ".
O princípio da JUSTIÇA SOCIAL inserto na Lei nº 7.853/89 não pode
ser olvidado jamais.176
Por haver acompanhado parte do processo de discussão e luta de
implementação do benefício de prestação continuada após a Carta de 1988,
pôde-se ver bem de perto como se "fabrica" uma restrição a direito
fundamental, por haver interesse econômico em jogo. É de fato vergonhoso e
desesperador. E mais: além desse afunilamento do direito constitucionalmente
assegurado, há no cotidiano o emprego de uma técnica repugnante e muito
antiga que é de burocratizar ao máximo o direito para restringir seu exercício.
Então, o anseio se volta totalmente no sentido de que o Poder Judiciário
venha como salvador mesmo da Constituição. Mas, o Supremo Tribunal Federal
julgou improcedente a ação direta de inconstitucionalidade (Adin 1232-1)
interposta pela Procuradoria Geral da República, contra o parágrafo 3º, do
artigo 20 da Lei Federal nº 8.942/93, que prevê o pagamento do benefício de
prestação continuada ao idoso e pessoa portadora de deficiência cuja renda
familiar per capita mensal seja inferior a 1/4 do salário mínimo. O pedido
apontava que tal previsão legal afronta o artigo 230 da Constituição Federal que
garante o pagamento de tal benefício "à pessoa portadora de deficiência e ao
idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou
tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei". Por maioria de votos,
acompanhando o voto do ministro Nelson Jobim, os ministros do Tribunal
julgaram improcedente a ação por entenderem que a lei pode estabelecer uma
176
Art. 1º - Ficam estabelecidas normas gerais que asseguram o pleno exercício dos
direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiência, e sua efetiva
integração social nos termos desta Lei.
§ 1º. Na aplicação e interpretação desta Lei, serão considerados os valores básicos de
igualdade de tratamento e oportunidade, da justiça social, do respeito à dignidade da
pessoa humana, do bem-estar, e outros, indicados na Constituição ou justificados pelos
princípios gerais de direito. (grifo nosso)
§ 2º. As normas desta Lei visam garantir às pessoas portadoras de deficiência as ações
governamentais necessárias ao seu cumprimento e das demais disposições
constitucionais e legais que lhe concernem, afastadas as discriminações e os
preconceitos de qualquer espécie, e entendida a matéria como obrigação nacional a
cargo do Poder Público e da Sociedade.
Art. 2º. Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de
deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à
saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à
maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu
bem-estar pessoal, social e econômico.
Parágrafo único. Para o fim estabelecido no caput deste artigo, os órgãos e entidades da
administração direta e indireta devem dispensar, no âmbito de sua competência e
finalidade, aos assuntos objetos desta Lei, tratamento prioritário e adequado, tendente
a viabilizar, sem prejuízo de outras as seguintes medidas [...]".
nova forma de se comprovar que uma pessoa idosa ou portadora de deficiência
não tem condições próprias ou familiares para se manter.177
A decisão, com o respeito que merece, lamentavelmente faz por manter
uma situação de extrema injustiça, pois a exigência de renda per capita de até 1/4
do salário mínimo exclui do benefício famílias paupérrimas e numerosas que
não conseguem fazer frente às necessidades especiais de medicação e tratamento
de portador de deficiência ou idoso e, em algumas famílias, a existência de
ambos ou de mais de um portador de deficiência. Parece evidente a
inconstitucionalidade de ordem principiológica da Lei antes referida com a
previsão constitucional no que concerne à finalidade do salário mínimo, que
seria (ainda que só em tese) de garantir minimamente condições de vida digna
aos cidadãos.
Aqui, parece-nos fundamental o registro do pensamento de
WOLKMER no sentido da necessidade de se "[...] priorizar um certo número de
carências e necessidades fundamentais que se traduzem em demandas por
'novos direitos'[...] e que, na medida em que são frustradas, desencadeiam uma
dinâmica interminável de conflitos coletivos".178
177
Não obstante a decisão relativa à ADIN n. 1232-1 tenha sido publicada no Diário da
Justiça de 09/09/98 , até a presente data, curiosamente, não é possível acesso aos votos
em razão de não terem sido entregues ainda por alguns Ministros, conforme
informação da própria assessoria do Ministro Relator Ilmar Galvão, em 02 de outubro
de 2000, via telefone, à autora deste trabalho.
178
WOLKMER, Antonio Carlos. Pluralismo Jurídico: fundamentos de uma nova
cultura no direito, 1994, p.80-83. "Na verdade, o conjunto das 'necessidades humanas
fundamentais', - quer primárias e secundárias, quer pessoais ou sociais, ou reais e
aparentes - implica a falta, ausência de privação, tanto 'objetivamente' de bens
materiais e não-materiais inerentes à produção humana em sociedade, quanto
'subjetivamente' de valores, interesses, desejos, sentimentos e formas de vida. O
desenvolvimento da própria sociedade cria constantes e crescentes necessidades que
nem sempre poderão ser completamente satisfeitas. A não realização ou negação, total
ou parcial, dessas necessidades essenciais, principalmente quando geradas pelo
moderno 'desenvolvimento da produção e da divisão social do trabalho', acabam
gerando contradições, conflitos e lutas. Neste processo histórico de mudanças nas
condições de vida marcado pela insatisfação de necessidades e pela eclosão resultante
de conflitos, interpõe-se a reivindicação de 'vontades coletivas' em defesa dos direitos
adquiridos e pela criação ininterrupta de 'novos' direitos. Ora, como assinala Eunice R.
Durham, a passagem do reconhecimento das necessidades humanas para a
'formulação da reivindicação é mediada pela afirmação de um direito'. Com efeito, as
múltiplas manifestações da cidadania individual e coletiva estão direcionadas,
objetivando conquistar e legitimar direitos que a própria comunidade se outorga,
independentemente da produção e distribuição legal, institucionalizada pelos canais
oficiais do aparelho estatal. A demanda e a implementação desses 'novos' direitos ainda
não contemplados - ou, quando reconhecidos, só formalmente, a nível de normas
programáticas sem efetividade prática - pela legislação e pelos códigos positivos, na
maioria das vezes só são conseguidos ou assegurados através de um processo de lutas
comunitárias e conflitos coletivos.
Nesta altura do presente trabalho, torna-se indispensável a análise, ainda
que breve, de dados numéricos relativos ao benefício de prestação continuada.
Assim é que, adotando como fonte dados do Ministério da Previdência e
Assistência Social/INSS e Secretaria de Assistência Social/SAS, tem-se os
seguintes números relativos aos período de janeiro de 1998 e janeiro de 1999,
quanto a benefícios requeridos e benefícios concedidos:
PPD IDOSO
REQUERIDOS 21.000 5.000
CONCEDIDOS 8.599 3.000
Janeiro de 1999.
PPD IDOSO
REQUERIDOS 20.349 10.270
CONCEDIDOS 7.411 7.577
Demissões:
180
BIONDI, Aloysio. O Brasil privatizado: um balanço do desmonte do Estado, 1999, p.
41.
imperativo de sobrevivência e disso o Poder Judiciário não poderá se ausentar,
muito ao contrário, deverá ser um agente bastante atuante. Esse é um desafio
atual, como aponta Wilson RAMOS FILHO.181
Evidentemente é preciso ter muito presente a advertência de
MONREAL no sentido de que "não faltam casos, nos quais a classe dominante,
como meio para acalmar exigências sociais justas de outra classe, concordam em
editar as leis que pareceriam apropriadas a satisfazê-las, com a certeza de que,
em sua aplicação, ocorreria o desvirtuamento que melhor lhe conviesse".182
Então, no Estado Democrático de Direito,183 se os direitos fundamentais
não são efetivados de forma íntegra e prioritariamente, tornam-se apenas
instrumentos de retórica a serviço de interesses que não da Nação.
Atualmente, tramita na Câmara dos Deputados o projeto de lei
nº. 3.055/97, de autoria do Senado Federal, com substitutivo aprovado
apresentado pela deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), que aumenta o per capita
referido para um salário mínimo, bem como estabelece para os idosos a idade de
sessenta e cinco anos para ter direito ao benefício e, ainda, concede tal benefício
aos doentes crônicos. O mesmo projeto vem prevendo a facilitação para que
seja pleiteado e definição menos rigorosa do que seja pessoa portadora de
deficiência. O projeto foi aprovado pela Comissão de Seguridade Social e
Família e segue para análise da constitucionalidade na Comissão de Constituição
e Justiça e de Redação para posterior remessa ao Senado Federal.184
185
BRASIL. Ministério da Justiça. CORDE. Programa De Ação Mundial Para As
Pessoas Com Deficiência. Publicação Oficial. Brasília, 1996, p. 18.
186
"Art. 1º. Fica assegurada à Servidora Pública Municipal que seja genitora, curadora
ou responsável pela criação, educação e proteção de excepcional, o direito de ser
dispensada do cumprimento de parte da jornada de trabalho, sem prejuízo de
remuneração, respeitada a execução de metade da carga horária semanal.
Parágrafo Único. A Servidora beneficiária desta lei, deverá manter o excepcional sob
sua responsabilidade submetido a tratamento terapêutico.
Art. 2º. Para efeitos desta lei, considera-se excepcional pessoa de qualquer idade com
deficiência física ou mental comprovada e considerada dependente sócio-educacional.
Art. 3º. A autorização será concedida pelo prazo máximo de l (um) ano, podendo ser
renovada.
Art. 4º. Aplicam-se as disposições desta lei ao pessoal da administração direta, indireta
e funcional do Município.
Art. 5º. O Servidor Público, viúvo ou separado judicialmente que tenha sob sua guarda
filho excepcional, poderá valer-se dos benefícios desta lei, desde que comprove
dependência.
Art. 6º. O Executivo regulamentará esta lei no prazo de 60 (sessenta) dias."
Ver Decreto nº 569, de 31 de maio de 1993.
187
PORTARIA Nº 4.017, DE 27 DE NOVEMBRO DE 1995
O MINISTRO DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO FEDERAL E REFORMA DO
ESTADO, no uso das suas atribuições e tendo em vista o disposto no art. 10, do Decreto
nº 1.590, de 10 de agosto de 1995, disciplinado pela Portaria/MARE nº 2.561 de
18.08.95, resolve:
Recomendar que sejam levadas em consideração, na flexibilização do horário de
trabalho, as necessidades dos servidores responsáveis legais por portadores de
deficiências físicas, sensoriais ou mentais que requeiram atenção permanente ou
tratamento educacional, fisioterápico ou terapêutico ambulatorial em instituição
especializada.
deficiência, independentemente de compensação de horário, como para o
servidor com familiar portador de deficiência. Neste último caso, no entanto, é
exigida a compensação de horário.188
Na iniciativa privada, inexiste qualquer possibilidade de flexibilização de
horário, nos termos aqui tratados.
Na hipótese dos pais ou responsáveis serem funcionários públicos
estaduais, também inexistirá proteção legal, muito embora o Ministério Público
do Estado tenha tentado diversas vezes a aceitação pela Secretaria de Estado da
Administração de eventual regulamentação (com oferecimento inclusive de
esboço de projeto de lei), não obtendo sucesso. Ainda, projeto de lei proposto
por parlamentar estadual foi vetado pelo Governo do Estado há alguns anos.
Há uma fortíssima resistência por parte do Executivo que prefere, ao que se
pôde perceber, tratar informalmente caso a caso e sem amparo legal.
Infelizmente nosso Estado, na matéria, em muito difere do Estado de
Santa Catarina que, desde 1985, regula a flexibilização de horário.189
127
Lei nº 9.527/97, no artigo 95:"Parágrafo 2º: Também será concedido horário
especial ao servidor portador de deficiência, quando comprovada a necessidade por
junta médica oficial, independentemente de compensação de horário.
Parágrafo 3º: As disposições do parágrafo anterior são extensivas ao servidor que tenha
cônjuge, filho ou dependente portador de deficiência física, exigindo-se, porém, neste
caso, compensação de horário na forma do inciso II do art. 44."
189
LEI Nº 6.634 - DE 30 DE SETEMBRO DE 1985
"Concede licença de parte da jornada de trabalho à servidora pública que seja mãe,
tutora, curadora ou responsável por pessoa excepcional, e dá outras providências".
O GOVERNADOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA,
Faço saber a todos os habitantes deste Estado, que a Assembléia Legislativa decreta e
eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º. Fica assegurado à servidora pública que seja mãe, tutora, curadora ou
responsável pela criação, educação e proteção de excepcional, o direito de licenciar-se
de parte da jornada de trabalho, sem prejuízo da remuneração, respeitado o
cumprimento de 20 (vinte) horas semanais.
Parágrafo único. A servidora beneficiária desta Lei deverá ter seu filho, tutelado,
curatelado ou excepcional sob sua responsabilidade avaliado e submetido a plano
terapêutico orientado pela Fundação Catarinense de Educação Especial ou por
instituição credenciada pela FCEE.
Art. 2º. Para efeitos desta Lei considera-se excepcional pessoa de qualquer idade com
deficiência comprovada e considerada dependente sócio-educacional.
Art. 3º. A licença será concedida pelo prazo de 1(um) ano, podendo ser renovada.
Art. 4º. As disposições desta Lei se aplicam ao pessoal da Administração direta, indireta
e fundacional dos Três Poderes do Estado.
Art. 5º. Aplica-se o disposto nesta Lei ao servidor público, viúvo ou separado
judicialmente que tenha sob sua guarda filho excepcional.
Art. 6º. Decreto do Chefe do Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 60
(sessenta) dias.
Art. 7º. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
No predito esboço de projeto de lei que o Ministério Público do Paraná
elaborou como subsídio às discussões com o Executivo, vê-se, na justificativa, o
pensamento que norteia tal política.190
191
ARAÚJO, Luiz Alberto David, op. cit., 1994, p. 59.
192
"Esses equipamentos urbanos apresentam grande dificuldade para os portadores de
deficiência visual, já que o obstáculo é identificado pelo deficiente através de sua base
(fina), procedendo diante da identificação, aos desvio de sua trajetória. Ora, como é
sabido, a parte superior do "orelhão" e da caixa do correio não se situam exatamente
sobre o seu suporte, o que causa o choque da pessoa portadora de deficiência com o
objeto, mesmo diante do desvio da trajetória." (ARAÚJO, Luiz Alberto David, op. cit.,
1994, p.59).
problemas sociais que é a dos carrinhos de catadores de papéis e deficientes
visuais que, temos conhecimento, já causaram vários acidentes porque os
carrinhos circulam e estacionam de forma irregular ou pelo menos não
convencional.
A limitação do acesso é fortíssimo componente na exclusão da
integração social da pessoa portadora de deficiência, tanto que da questão se
ocupa o Programa de Ação Mundial:
Muitas pessoas com deficiência são excluídas da participação ativa na
sociedade devido a barreiras físicas, por exemplo, portas estreitas demais para
dar passagem a uma cadeira de rodas; escadas e degraus inacessíveis em
edifícios, ônibus, trens e aviões; telefones e interruptores de luz instalados fora
de seu alcance; instalações sanitárias que não podem ser utilizadas. Também se
vêem excluídas por outras classes de barreiras, como a comunicação oral,
quando se ignoram as necessidades das pessoas com deficiências auditivas, ou
na informação escrita quando se desconhecem as necessidades das que sofrem
de deficiências visuais. Essas barreiras são resultado da ignorância e do descaso;
muitas delas poderiam ser evitadas sem muito custo, com um cuidadoso
planejamento. O problema continua sendo crucial, mesmo em alguns países
onde vigoram leis especiais e se têm realizado campanhas de educação do
público para a eliminação desses obstáculos.193
A Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Contra Pessoas Portadoras de Deficiência, colheu dos Estados Partes o
compromisso de adotar "medidas para que os edifícios, os veículos e as
instalações que venham a ser construídos ou fabricados em seus respectivos
territórios facilitem o transporte, a comunicação e o acesso das pessoas
portadoras de deficiência" e "medidas para eliminar, na medida do possível, os
obstáculos arquitetônicos, de transporte e comunicações que existam, com a
finalidade de facilitar o acesso e uso por parte das pessoas portadoras de
deficiência".194
Para melhor analisar a questão do acesso e locomoção, desenvolver-se-á,
nas seções seguintes análise sobre acessibilidade e meios relativos à remoção de
barreiras arquitetônicas.
Necessário é registrar que atualmente tramita na Câmara dos Deputados
o projeto de lei nº. 4.590/94, de autoria do Senado Federal, dispondo sobre o
atendimento preferencial aos maiores de sessenta e cinco anos, gestantes,
portadores de deficiências físicas e mentais e aposentados por invalidez nos
193
BRASIL. Ministério da Justiça. CORDE. Programa De Ação Mundial Para As
Pessoas Com Deficiência. Publicação Oficial. Brasília, 1996, p.33-35.
194
ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS - OEA. Convenção
Interamericana Para Eliminação De Todas As Formas De Discriminação Contra As
Pessoas Portadoras De Deficiência. Guatemala, maio de 1999. NP
órgãos da administração pública federal direta e indireta. O plenário da
Comissão de Constituição e Justiça também aprovou o projeto de lei nº.
2.771/97 de autoria da deputada Lidia Quinan (PMDB-GO), assegurando a
destinação de uma urna especial, em andar térreo e de fácil acesso, para os
eleitores idosos, enfermos, gestantes e pessoas portadoras de deficiência física.195
4.5.1 Acessibilidade
195
Jornal da Câmara, op. cit., 8 ago. de 2000, p. 8.
196
Art. 227, parágrafo 2º.: "A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros
e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de
garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência".
197
Art. 244: "A lei disporá sobre a adaptação dos logradouros, dos edifícios de uso
público e dos veículos de transporte coletivo atualmente existentes a fim de garantir
acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência, conforme o disposto no art. 277,
º. 2º.".
198
Artigo 2º., inciso V, a,: "a adoção e a efetiva execução de normas que garantam a
funcionalidade das edificações e vias públicas, que evitem ou removam os óbices às
pessoas portadoras de deficiência, e permitam o acesso destas a edifícios, a logradouros
e a meios de transportes".
199
" Da Acessibilidade na Administração Pública Federal
Art. 50. Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e indireta
adotarão providências para garantir a acessibilidade e a utilização dos bens e serviços,
no âmbito de suas competências, à pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade
reduzida, mediante a eliminação de barreiras arquitetônicas e obstáculos, bem como
evitando a construção de novas barreiras.
Art.51. Para os efeitos deste Capítulo, consideram-se:
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e
autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das instalações e
equipamentos esportivos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de
comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida;
II - barreiras: qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade
de movimento e a circulação com segurança das pessoas, classificadas em:
a) barreiras arquitetônicas urbanísticas: as existentes nas vias públicas e nos espaços de
uso público;
b) barreiras arquitetônicas na edificação: as existentes no interior dos edifícios públicos
e privados;
c) barreiras nas comunicações: qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou
impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou
sistemas de comunicação, sejam ou não de massa;
III - pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida: a que temporária ou
permanentemente tenha limitada sua capacidade de relacionar-se com o meio ambiente
e de utilizá-lo;
IV - elemento da urbanização: qualquer componente das obras de urbanização, tais
como os referentes a pavimentação, saneamento, encanamentos para esgotos,
distribuição de energia elétrica, iluminação pública, abastecimento e distribuição de
água, paisagismo e os que materializam as indicações do planejamento urbanístico; e
V - mobiliário urbano: o conjunto de objetos existentes nas vias e espaços públicos,
superpostos ou adicionados aos elementos da urbanização ou da edificação, de forma
que sua modificação ou translado não provoque alterações substanciais nestes
elementos, tais como semáforos, postes de sinalização e similares, cabines telefônicas,
fontes públicas, lixeiras, toldos, marquises, quiosques e quaisquer outros de natureza
análoga.
Art. 52. A construção, ampliação e reforma de edifícios, praças e equipamentos
esportivos e de lazer, públicos e privados, destinados ao uso coletivo deverão ser
executadas de modo que sejam ou se tornem acessíveis a pessoa portadora de
deficiência ou com mobilidade reduzida.
Parágrafo único. Para os fins do disposto neste artigo, na construção, ampliação ou
reforma de edifícios, praças e equipamentos esportivos e de lazer, públicos e privados,
destinados ao uso coletivo por órgãos da Administração Pública Federal deverão ser
observados, pelo menos, os seguintes requisitos de acessibilidade:
I - nas áreas externas ou internas da edificação, destinadas a garagem e a
estacionamento de uso público, serão reservados dois por cento do total das vagas à
pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, garantidas no mínimo
três, próximas dos acessos de circulação de pedestres, devidamente sinalizadas e com as
especificações técnicas de desenho e traçado segundo as normas da ABNT;
II - pelo menos um dos acessos ao interior da edificação deverá estar livre de barreiras
arquitetônicas e de obstáculos que impeçam ou dificultem a acessibilidade da pessoa
portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida;
III - pelo menos um dos itinerários que comuniquem horizontal e verticalmente todas
as dependências e serviços do edifício, entre si e com o exterior, cumprirá os requisitos
de acessibilidade;
IV - pelo menos um dos elevadores deverá ter a cabine, assim como sua porta de
entrada, acessíveis para pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida,
em conformidade com norma técnica especifica da ABNT; e
Mas, como assinala Luiz Alberto David de ARAÚJO "[...] a arquitetura
nacional ainda não atentou para a questão do deficiente, especialmente o
problema de sua locomoção. As prefeituras municipais continuam autorizando a
construção de edifícios públicos sem rampas de acesso, com degraus, impedindo
a entrada de cadeiras de rodas, o mesmo se diga dos banheiros, sem a largura
necessária para a entrada da referida cadeira, etc.".200
A arquiteta Adriana Romeiro de Almeida PRADO afirma que:
tornar o espaço acessível é eliminar barreiras físicas, naturais ou de
comunicação, no equipamento e mobiliário urbano, nos edifícios e seu
mobiliário, nas modalidades de transportes públicos que impeçam ou dificultem
a livre circulação de qualquer pessoa. Barreiras são obstáculos que dificultam,
principalmente, a circulação de idosos e de pessoas com deficiência,
entendendo-se aquelas que andam em cadeiras de rodas, com muletas ou
bengalas, que têm dificuldade na marcha, que possuem redução ou perda total
da visão ou audição e, até mesmo, os indivíduos que apresentam uma redução
na capacidade intelectual.[...] Outra grande dificuldade para a livre circulação
dessas pessoas está no acesso aos transportes, sejam eles urbanos, rodoviários,
ferroviários, metroviários, fluviais, marítimos e aéreos. Para as pessoas em geral
e em especial para o deficiente visual, auditivo e mental, a barreira da
comunicação é o grande obstáculo para a sua integração.[...] O conceito de
desenho acessível, que enfatiza a integração, evoluiu para o desenho universal,
que prioriza a inclusão, no qual se entende que a sociedade é composta por
muitas minorias, que nela existem pessoas com necessidades diferentes e que é
preciso criar objetos, edifícios, espaços urbanos ou transportes que levem em
consideração todas as pessoas.[...] A acessibilidade, para ser atingida, necessitará
de diferentes arranjos do ambiente, de modo a permitir às pessoas usá-los de
várias maneiras, tornando-se um espaço que as estimule e que elimine a
frustração de vivenciar um espaço que as intimida.[...] A principal preocupação
da acessibilidade é a integração dessas pessoas na sociedade. Hoje esse conceito
204
"Art. 222. A lei disporá sobre a construção de logradouros e de edifícios de uso
público, adaptação de veículos de transporte coletivo e sonorização dos sinais luminosos
de trânsito, adequando-se-os à utilização por pessoas portadoras de deficiência".
205
PARANÁ. Coletânea da Legislação..., 1997, p 313; 380.
Os artigos 201 e 205 da Lei Orgânica do Município de Curitiba,
remetem a regulamentação da acessibilidade à lei municipal.206 Em parte apenas
tais previsões foram regulamentadas pela Lei Municipal nº 9.121, de 10 de julho
de 1997.207
Outra situação que está a merecer maior reflexão pelos profissionais da
área, diz respeito à acessibilidade em prédios históricos, ou seja, o aparente
conflito existente entre remoção de barreiras arquitetônicas e o tombamento de
construções e espaços públicos em razão de constituírem o patrimônio histórico
e cultural brasileiros. Nesse sentido, reflete José Eduardo Ramos
RODRIGUES:208
O Poder Público já vem se apercebendo do conflito existente, tanto que
a Câmara Técnica sobre Regulamentação das Normas Constitucionais sobre
Locomoção e Acessibilidade da Pessoa Portadora de Deficiência da
Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência do
Ministério da Justiça emitiu relatório final em dezembro de 1995, cuja proposta
n. 13 afirma que 'edificações e espaços públicos tombados ou preservados pelo
Patrimônio Histórico devem assegurar a acessibilidade, devendo respeitar os
princípios definidos dos respectivos atos de tombamento ou preservação'. O
que o documento não diz é como conciliar ambos os preceitos na prática, o que
continua a ser o grande problema! [...] Em meio a tantos conflitos e equívocos,
parece-nos urgente a promulgação de legislação específica tratando do assunto
206
"Art. 201. A Lei Municipal disporá sobre a construção de logradouros e de edifícios
de uso público, a adaptação de veículos de transporte coletivo, a sonorização de sinais
luminosos de trânsito, a fim de permitir o seu uso adequado por pessoas portadoras de
deficiência.
[...]
Art. 205. A lei municipal disporá sobre a adaptação dos logradouros, dos edifícios de
uso público e dos veículos de transporte coletivo atualmente existentes, a fim de
garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência, conforme disposto no
art. 244 da Constituição Federal." (Coletânea da Legislação ..., 1997, p. 317).
146
LEI n. 9.121/97."Art. 1º. As calçadas, no Município de Curitiba, deverão oferecer,
prioritariamente, toda a segurança de trânsito aos pedestres, que se utilizam das
mesmas, inclusive as pessoas portadoras de deficiências.
Art. 2º. As calçadas deverão ser construídas de acordo com o Projeto elaborado pelo
órgão competente da Prefeitura Municipal de Curitiba, que preverá, obrigatoriamente,
o uso de material liso e não derrapante no seu leito, sem obstáculos de qualquer
natureza, exceto os indispensáveis e de Utilidade Pública previstos oficialmente por
aquele órgão, permitindo o fácil deslocamento de portadores de deficiência visual e
física que se utilizam de cadeiras de rodas.
Art. 3º. Fica a Prefeitura Municipal de Curitiba, autorizada a desenvolver e implantar
o programa de apoio e estímulo à construção de calçadas e, também, a adaptação das
atuais ao novo sistema, no prazo por ela estabelecido."
208
RODRIGUES, José Eduardo Ramos. O acesso do portador de deficiência ao
patrimônio cultural, 1997, p.102-103.
que levasse em conta pelo menos os seguintes princípios: I) os bens imóveis
culturais abertos à visitação, de grande porte, poderiam ter acessibilidade
garantida ao portador de deficiência, por meio de rampas e/ou elevadores,
desde que instalados de forma a não danificar os elementos que justificam sua
preservação e devidamente aprovados pelos órgãos estatais preservacionistas; II)
Os bens imóveis culturais abertos à visitação de pequeno porte e/ou cuja
instalação de equipamentos de acessibilidade possam comprometer os
elementos que justificam sua preservação devem manter pessoal especialmente
treinado para assistir ao portador de deficiência.
Sem dúvida, é neste último tópico apontado pelo autor, como possível
solução para o impasse que reside a grande dificuldade, eis que não possibilita
uma acessibilidade autônoma e livre de constrangimentos de ser, como
freqüentemente ocorre, carregado por um segurança.
Registre-se o exemplo dado pelo Ministério Público do Paraná, quanto à
plena acessibilidade por ocasião da restauração da subsede da Marechal
Floriano, que é prédio histórico tombado, mas sem barreiras arquitetônicas
externas ou internas, o que fez dele exemplo para todo o País.
O Ministério Público e o Poder Judiciário do Estado do Paraná
firmaram Protocolo de Intenções objetivando a adoção de providências para
remoção dos obstáculos arquitetônicos nos imóveis pertencentes aos
signatários. Tal iniciativa é de extraordinária importância em vários aspectos:
viabiliza o cumprimento da lei pelas instituições que mais têm que velar pelo seu
cumprimento, revela caráter exemplificativo para os demais órgãos públicos e,
deixa as casas do Ministério Público e do Poder Judiciário aptas a recepcionar
demandas da população e ações em geral relativas às barreiras arquitetônicas.
Ainda, há outra questão relevante que diz respeito à extensão da
eliminação de barreiras em imóveis, logradouros e transporte coletivo já
existentes. Nesse sentido, ARAÚJO diz que:
A Constituição Federal não pretende, apenas, que os futuros edifícios ou
logradouros públicos ou mesmo, veículos coletivos só venham a ser adaptados a
partir da lei que disciplinar o comando constitucional, instituído pelo parágrafo
segundo do artigo 227. A Constituição Federal, através das 'Disposições
Constitucionais Transitórias', fez constar providência, a ser disciplinada por lei,
levando em consideração não somente os logradouros e edifícios públicos que
forem construídos, mas, também, os já existentes. Quis evitar que a alegação de
direito adquirido impedisse a adaptação dos veículos, logradouros e edifícios
públicos já em uso. Para que se evitasse qualquer dúvida sobre a possibilidade de
exigência de adaptação imediata (a partir da edição da lei), surge o artigo 244 da
Constituição Federal, dispondo sobre a situação transitória [...]. A norma
constitucional, em verdade, sabiamente, cuidou de estender a possibilidade de
adaptação de logradouros e edifícios públicos e veículos de transporte coletivo
àqueles já existentes, só dependendo de lei. Não há, portanto, possibilidade de
invocação de direito adquirido, quando da ocorrência da lei que exigir a
adaptação dos bens já existentes, pois a própria Constituição Federal tratou de
permitir (e mais, determinar), tal exigência.209
Sobre o tema, no Município de São Paulo que conta com lei específica,
CORDARO registra:
[...] a resistência ao cumprimento da Lei virá fundamentada na tese de
que os imóveis pré-existentes à lei, os imóveis já construídos, já tinham o
'habite-se' e já estavam com o seu uso licenciado para as atividades nele
desenvolvidas. É que, nos termos da própria Constituição Federal, a lei nova
tem como limite à sua aplicação as situações jurídicas anteriores, já definidas à
época de seu advento. Então - argumenta-se - o grande problema que se coloca
é como o Poder Público poderá exigir essas adaptações, tendo à vista que os
proprietários dos imóveis já licenciados têm uma situação constituída.
Estou relatando esta situação para demonstrar a existência de uma visão
bastante tímida no tocante àquilo que se refere a um direito garantido
constitucionalmente e que encerra um preceito de ordem pública, que se
sobrepõe aos interesses privados e, mesmo, às situações jurídicas constituídas.
[...] Outra questão limitativa aparece: é que, se a adaptação a esse
preceito de ordem pública for excessivamente onerosa à pessoa que a ela esteja
obrigada, ela terá o direito a uma indenização por parte do poder público em
razão desta obrigatoriedade. Isso talvez leve a uma situação que desencoraje a
adoção de medias mais enérgicas no sentido de garantir a eficácia dessas
disposições[...].210
Por fim, há que se registrar, a acessibilidade plena não é direito exclusivo
de pessoas portadoras de deficiência, mas de idosos, pessoas com restrição
temporária de locomoção, obesos e gestantes.
211
"Art. 224. É garantida a gratuidade nos transportes coletivos urbanos e das regiões
metropolitanas aos maiores de sessenta e cinco anos e às pessoas portadoras de
deficiência que comprovem carência de recursos financeiros".
212
Lei nº. 11.911 - DE 01 DE DEZEMBRO DE 1997
"Assegura, conforme especifica, transporte gratuito em linhas de transporte
intermunicipal, aos portadores de deficiência, quando estiverem se submetendo a
processo de reabilitação e/ou capacitação profissional".
Art.1o. Fica assegurado transporte gratuito aos portadores de deficiência em linhas de
transporte intermunicipal, quando os mesmos estiverem se submetendo a processo de
reabilitação e/ou de capacitação profissional, mediante a apresentação de atestado
gratuidade à reabilitação e/ou capacitação profissional, posto que a Constituição
Estadual não faz essa exigência, trouxe a lei importantíssima previsão quanto à
acessibilidade tanto no veículo quanto em estabelecimentos comerciais nos quais
213
" Art. 105. É garantida a gratuidade do transporte coletivo urbano aos maiores de
sessenta e cinco anos e, comprovadamente carentes, aos portadores de deficiência e aos
aposentados por invalidez".
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INTERNET. http://www.mppr.com.br/teses/gts/4.htm
REVISTA VEJA, São Paulo, ed. 1652, a. 33, n.23, 7 jun. 2000, p. 118-
119.
5 A Política
Nacional Com Relação
ao Idoso e Previsões
Legais
216
RAMOS, Paulo Roberto Barbosa. A velhice na Constituição. Seqüência (Revista do
Curso de Pós-Graduação em Direito da UFSC), nº 38, Florianópolis: CPGD, 2000,
p. 85.
redução das desigualdades sociais e regionais e a supressão de todas as formas
de desigualdade, inclusive as decorrentes da idade.
A interpretação dos objetivos fundamentais mencionados, somente será
adequada na medida em que se tenha conhecimento dos dados estatísticos
informadores da real situação brasileira. Melhor explicando: não é possível
combater e erradicar a pobreza sem que se tenha informação acerca do número
de pessoas pobres na sociedade, do nível da pobreza dessas pessoas e das causas
que as levam a essa condição; também não se pode atacar a marginalização sem
que se conheçam as suas principais manifestações e os seus motivos; não se
pode reduzir as desigualdades regionais sem dados sobre a realidade de cada
região e o que pode ser feito para que o desnível entre estas seja reduzido; de
modo semelhante não se pode combater a desigualdade, especialmente a
decorrente da idade, sem que todo o povo tenha acesso à educação e
qualificação permanentes, de forma que as pessoas, notadamente as mais velhas,
não venham a se encontrar em situação desfavorável em relação às mais novas.
Portanto, é preciso saber quantos idosos a sociedade apresenta a cada ano e
quais as suas condições de vida, as suas necessidades e as suas peculiaridades217.
Conseqüentemente, o conhecimento de todas essas peculiaridades do
contigente idoso da população brasileira traduz-se imprescindível para o
desenvolvimento de políticas públicas adequadas voltadas à efetivação dos
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil.
218
KALACHE, Alexandre. Envelhecimento Populacional: perspectiva da Organização
Mundial de Saúde. Anais do I Seminário Internacional Envelhecimento Populacional:
uma agenda para o final do século. Brasília: MPAS/ SAS, 1996, p. 15.
educacional cada vez mais sólido e com um mercado de trabalho cada vez maior
e mais dinâmico.
Diante de todas essas observações e constatações, a Organização das
Nações Unidas (ONU) não poderia ter deixado de traçar Princípios (1982) e um
Plano de Ação Internacional do Envelhecimento (1991), que devem ser
seguidos por todos os países que almejam o adjetivo de civilizados, porque o
atendimento aos direitos dos idosos é essencial para a afirmação dos direitos
humanos em todas as etapas da vida.
Os referidos Princípios e Plano priorizam a independência, a participação, a
assistência, a satisfação e a dignidade das pessoas idosas.
Compete ao Brasil, portanto, criar as condições para que essas diretrizes de
âmbito internacional sejam cumpridas, pois se suas relações internacionais são
regidas pela prevalência dos direitos humanos, não pode exigir de outros países
respeito aos direitos humanos se não os respeita dentro do seu próprio
território.
A CF/88, no seu art. 5º, determina que todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros a
inviolabilidade do direito à igualdade.
Dados levantados pelo Censo de 2000 comprovam que mais de 35% dos
idosos brasileiros são analfabetos220. Ora, se mais de 5 milhões de idosos são
analfabetos, significa que o direito à educação não lhes está sendo assegurado. É
219
BORGES, José Souto Maior. Significação do princípio da isonomia na Constituição
de 1988. Revista Trimestral de Direito Público, nº 15, São Paulo: Malheiros, 1996, p.
30.
220
Perfil dos idosos responsáveis pelos domicílios no Brasil 2000 (Departamento de
População e Indicadores Sociais). Rio de Janeiro: IBGE, 2000, p. 21.
preciso então, em razão disso, a fim de que se possa cumprir a determinação da
CF/88 de que todos têm direito à educação, iniciar um conjunto de ações
voltadas não somente a alfabetizar essas pessoas, como também politizá-las, de
maneira que sejam efetivamente inseridas em seu ambiente.
221
MAGALHÃES, Dirceu Nogueira. Invenção social da velhice. Rio de Janeiro: Ed.
Papagaio, 1989, p. 23.
O Estado precisa criar as condições para que o ser humano esteja seguro
de que não será vítima de violência em sua casa e na rua. Para tanto, o Estado
deverá utilizar tanto medidas preventivas, diminuindo as desigualdades sociais e
econômicas, como repressivas, punindo aqueles que lesam a integridade física e
moral alheias.
Comumente os idosos são vítimas de violência fora e dentro de seus
lares.
222
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Eficácia das normas constitucionais sobre
justiça social. Revista de Direito Público, nº 57/58, São Paulo: Revista dos Tribunais,
1981, p. 248.
De acordo com o art. 14 da CF/88, a soberania popular será exercida pelo
sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos. Esse
mesmo artigo estabelece que o alistamento eleitoral e o voto são facultativos
para os maiores de 70 anos.
Não pareceu ter sido pertinente, diante de uma sociedade que
marginaliza os idosos, a CF/88 ter garantido a faculdade de o idoso votar a
partir dos 70 anos, na medida em que essa previsão pode contribuir para a apatia
política de parte desse grupo populacional.
223
BASTOS, Celso. Curso de direito constitucional. 18ª ed. São Paulo: Saraiva, 1997, p.
492.
construção de uma nova cultura jurídico-política no País: a da necessidade de
garantia dos direitos fundamentais do homem.
Até antes da Constituição de 1988, as normas atinentes aos direitos
fundamentais do homem eram meramente retóricas, na medida em que as
próprias agências do Estado agiam sempre no sentido de sua violação224 . O
Estado valia mais do que o homem. Com a Constituição de 1988, o Estado é
colocado no seu correto lugar, o de responsável pela criação das condições para
que os homens possam desenvolver com dignidade as suas potencialidades. O
Estado é o devedor e o homem o seu credor.
Sem embargo dessa importante mudança quanto à função do Estado,
muitas normas voltadas a dar condições dignas aos cidadãos não conseguiram se
impor até o presente momento. Muitos obstáculos foram colocados desde o
início de sua vigência, a começar pelos discursos dos principais personagens da
vida pública brasileira, que daí em diante deveriam agir respaldados nos novos
princípios eleitos pelo Corpo Constituinte de 1988.
A primeira dessas barreiras ficou clara a partir do momento em que a
própria cúpula dirigente do País passou a defender a idéia segundo a qual a
CF/88 representava um sério empecilho à governabilidade do Brasil, no que foi
acompanhada por empresários, banqueiros, muitos políticos e grande parte da
imprensa. Não se aperceberam ou não quiseram se aperceber que a Constituição
só possui força normativa se as forças em condições de violá-la ou de alterá-la
mostrarem-se dispostas a render-lhe homenagem, na medida em que ela é o
grande pacto ao qual todos devem estar submetidos225. Assim, não é nos tempos
felizes que as Constituições são colocadas à prova, mas sim nos difíceis.
Esse foi, então, o primeiro dos grandes empecilhos enfrentados pela
nova cultura jurídico-política que se quer ver definitivamente implantada no
País. Não obstante a insuficiente reverência à Constituição de 1988, o País
avançou por meio do exercício periódico do direito de voto, da liberdade de
pensamento, de uma maior mobilização da sociedade civil, do fortalecimento de
instituições com papel nitidamente democrático, como é o caso do Ministério
Público, responsável pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços
de relevância pública aos direitos assegurados na CF/88, bem como pela defesa
dos interesses sociais e individuais indisponíveis (arts.127 e 129, II, da CF/88).
224
Se na democracia o Estado não organiza mais a coerção paralela e ilegal, sua
responsabilidade consiste em não se omitir, em impedir as práticas repressivas ilegais
por parte das agências do Estado e em debelar a impunidade desses crimes como
daqueles cometidos por particulares (PINHEIRO, Paulo Sérgio. O passado não está
morto: nem passado é ainda. In: DIMENSTEIN, Gilberto. Democracia em pedaços:
direitos humanos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 8).
225
HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Trad. Gilmar Ferreira
Mendes. Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1991, p. 25.
Em uma sociedade saída há pouco de um regime de intolerância,
responsável, em razão da violência usada para sua manutenção, pela
desmobilização da sociedade civil e pela apatia social, nada mais adequado que
atribuir a uma outra instituição, que não àquelas tradicionais, poderes suficientes
para orientar todas as demais em direção à construção de uma nova cultura
jurídico-política, comprometida definitivamente com a dignidade do ser
humano. Esse papel foi entregue ao Ministério Público, que, por vezes, apesar
de vacilar no exercício dessa tarefa, tem tido fundamental atuação na defesa dos
direitos sociais e individuais indisponíveis.
Apesar das vacilações e angústias vividas pelos membros dessa
instituição, diante das inúmeras atribuições que lhes foram confiadas nesse
momento de transição de uma sociedade civil desarticulada para uma sociedade
civil efetivamente articulada, consciente de seus direitos e capacitada para exigir
as condições necessárias para o seu exercício, o Ministério Público tem
encontrado na especialização de suas funções uma saída inteligente para dar
conta de suas tarefas constitucionais. Daí a relevância da criação de promotorias
que tratam exclusivamente da defesa da criança e do adolescente, do meio
ambiente, do consumidor, do patrimônio público, dos registros públicos, dos
acidentes de trabalho, da cidadania, dos direitos humanos, da habitação e
urbanismo, do controle externo da atividade policial, da saúde, das pessoas
portadoras de deficiência e das pessoas idosas.
Reconhecendo a importância das outras especializações do Ministério
Público, todas voltadas para defender os cidadãos dentro de um contexto social
extremamente complexo, onde ao mesmo tempo em que se é regido por uma
Constituição democrática, na medida em que elege o ser humano como a
primeira de suas prioridades, convive-se com um contexto internacional
radicalmente nefasto ao homem como ser portador de direitos, porquanto
aponta para a supressão de todas as conquistas históricas, gravadas de forma
luminosa na Declaração Universal de Direitos Humanos, na qual todos os
povos civilizados do pós-guerra assentaram sua organização social, a
especialização voltada para a defesa das pessoas idosas sobressai sobre as demais
em razão de objetivar o respeito aos direitos daquelas pessoas que são sempre
vistas como necessitadas de piedade, e menos de cidadania.
E essa é a tradicional postura diante das pessoas idosas, especialmente
aquelas com problemas de saúde, abandonadas, com dificuldade de locomoção,
porque além de essas pessoas carecerem, assim como a grande maioria da
população brasileira, de cidadania, faltam-lhes as condições físicas e fisiológicas
consideradas normais para o ser humano, fato que as coloca socialmente numa
situação extremamente desfavorável.
Se para um ser humano em plena condição física e fisiológica torna-se
difícil, por exemplo, conseguir um emprego, imagine-se a situação pela qual
passará uma pessoa idosa em busca desse mesmo objetivo, na maioria das vezes
sem qualquer qualificação.
Desconsiderando as fragilidades desse segmento, tudo é feito para
pessoas sem problemas de saúde e limitações físicas, como se na sociedade não
existissem pessoas diferentes, pessoas portadoras de restrições de toda ordem,
decorrentes muitas vezes do avançar da idade. Assim, constroem-se ruas, praças,
lojas, cinemas, teatros, meios de transportes e demais equipamentos urbanos
sem pensar nessas pessoas, como se elas inexistissem ou não precisassem sair de
suas casas para trabalhar, tentar conseguir um emprego, estudar, brincar, entre
outras atividades .
Com isso, essas pessoas são condenadas a um duplo processo de
marginalização: fora de casa, já que não têm autonomia nesse espaço, uma vez
que nele não podem transitar sozinhas, o que faz que sejam vistas como seres
humanos de segunda classe; e dentro de casa, na medida em que enfrentam
muitas dificuldades para trabalhar, estudar, se divertir, sendo vistas como fardo a
ser carregado pela família, especialmente se não receberem algum benefício
pecuniário. A situação, por outro lado, não se torna muito diferente caso
recebam algum benefício, pois, mesmo sendo baixo, muitas vezes é a única
fonte de renda da família, que dele se apropria em detrimento do idoso.
Alguns serviços simples realizados nas cidades para o livre trânsito das
pessoas idosas, especialmente aquelas com dificuldades de locomoção, poderiam
contribuir decisivamente para a diminuição do grau de marginalização a que esse
segmento está submetido.
É bom observar que atitudes de inércia do poder público ante a não
efetivação das condições para que as pessoas idosas possam exercer seus direitos
básicos de cidadãos (liberdade de locomoção, educação, saúde, lazer, trabalho,
aposentadoria digna, assistência social, entre outros), traduzem, além de
imperdoável desrespeito ao ser humano, e à Constituição que os reconhece e os
quer ver efetivados, numa inominável atitude racista, só comparável à insanidade
de Hitler, muito bem demonstrada no documentário Arquitetura da destruição, no
qual se pode ver que as vítimas preferenciais do Füher não eram somente os
judeus, mas também os idosos226.
Não viabilizar as condições para dar dignidade às pessoas idosas revela-
se numa atitude inaceitável, já que incompatível com o avanço do processo
civilizatório pelo qual passou a humanidade depois da II Guerra Mundial.
Não parece concebível que hoje, a par de todo o aparato tecnológico
disponível, a sociedade brasileira não ofereça as condições mínimas de dignidade
às pessoas idosas.
226
COHEN, Peter. Arquitetura da Destruição. Suécia, 1992.
Diante disso, salta aos olhos a importância do Ministério Público na
defesa dos direitos desse segmento social, porquanto tem a tarefa primordial de
reverter esse quadro de desrespeito a seus direitos, especialmente mediante
ações que despertem a atenção da sociedade para a necessidade de sua garantia,
lançando mão de todos os instrumentos jurídicos à sua disposição,
especialmente o inquérito civil e a ação civil pública, como forma de demonstrar
à sociedade que se transitou da barbárie à civilização, traduzida pela efetividade
das normas que reconhecem os direitos humanos como imprescritíveis e
invioláveis.
Deve ainda o representante do Ministério Público que atua na defesa das
pessoas idosas ter a consciência de que, diferentemente de suas outras áreas de
especialização, aquela é integrada por um segmento que, por ser cada vez maior,
exigirá resultados.
Em razão da perpetuidade de sua situação, podem manter-se
permanentemente mobilizadas em torno de ações voltadas para garantir-lhes
condições dignas de vida. Para que essa mobilização seja efetiva e
transformadora é preciso que sejam cônscios de seus direitos, que se percebam
como seres humanos dignos de respeito, como cidadãos, portanto credores de
ações concretas voltadas para que as suas vidas sejam as mais confortáveis.
Nesse ponto, o Ministério Público pode dar uma grande parcela de
contribuição aos idosos, especialmente através da conscientização de seus
direitos, da orientação sobre os mecanismos judiciais de garantia de sua
cidadania, cobrando do Estado, dos particulares e dos demais cidadãos uma
nova postura diante desse segmento social, que segundo as mais atualizadas
pesquisas, já corresponde a mais de 8% (oito por cento) da população brasileira.
Assim conscientizados e, em razão disso, exercendo pressão sobre os
centros de poder do Estado, provocarão a materialização dos direitos que lhes
assistem, fato que chamará a atenção do restante da sociedade civil para os
resultados que ela poderá alcançar, se devidamente organizada. Isto ocorrendo,
os representantes do Ministério Público terão colaborado decisiva e
definitivamente para a efetivação dos direitos fundamentais, meta maior dessa
instituição.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
______. Curso de direito constitucional. 18ª ed. São Paulo: Saraiva, 1997.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Eficácia das normas constitucionais sobre
a justiça social. Revista de Direito Público, nº 57/58, São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1981. p. 233-256.
MONTORO, André Franco. Direitos do homem e o direito de participar no
desenvolvimento. Revista de Informação Legislativa, nº 19, Brasília, 1968. p.
05-18.
PINHEIRO, Paulo Sérgio. O passado não está morto: nem passado é ainda. In:
DIMENSTEIN, Gilberto. DEMOCRACIA EM PEDAÇOS: DIREITOS
HUMANOS NO BRASIL. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
6 Proteção
Previdenciária às
Pessoas com
Deficiência e Idosos
227
Essas são as palavras de Paulo BONAVIDES em seu livro Curso de Direito
Constitucional, 11 ed. São Paulo, Malheiros Editores, 2001, p. 514, o qual cita Hesse.
228
Paulo BONAVIDES, Curso de Direito Constitucional, 11 ed. São Paulo, Malheiros
Editores, 2001, p. 516.
229
Ingo Wolfgang SARLET, A eficácia dos direitos fundamentais, 2 ed. Porto Alegre,
Livraria do Advogado, 2001, pp. 48 e 49.
230
Paulo BONAVIDES, Curso de Direito Constitucional, 11 ed. São Paulo, Malheiros
Editores, 2001, p. 517.
231
Paulo BONAVIDES, Curso de Direito Constitucional, 11 ed. São Paulo, Malheiros
Editores, 2001, p. 517.
Sustenta Gilmar Ferreira Mendes232 que os direitos fundamentais
enquanto direitos de defesa revelam-se insuficientes para assegurar a pretensão
de eficácia que deriva do texto constitucional.
Os direitos fundamentais de segunda geração se caracterizam por
outorgarem ao indivíduo direitos a prestações sociais estatais, como previdência
social, saúde, educação, trabalho etc., revelando uma transição das liberdades
formais abstratas para as liberdades materiais concretas.
Nas palavras de Bonavides233, os direitos fundamentais de segunda
geração são os direitos sociais, culturais e econômicos bem como os direitos
coletivos ou da coletividade, introduzidos no constitucionalismo das distintas
formas de Estado Social. Nasceram abraçados ao princípio da igualdade, do qual
não se podem separar, pois fazê-lo eqüivaleria a desmembrá-los da razão de ser
que os ampara e estimula. Para o mencionado autor os direitos fundamentais de
segunda geração tendem a se tornar tão justificáveis quanto os da primeira.
Afirma Canotilho que “os direitos a prestações significam, em sentido estrito,
direito do particular a obter algo através do Estado (saúde, educação, segurança social)”.234
Os direitos fundamentais de segunda geração garantem o direito de
participar do bem-estar social, através das prestações positivas que o Estado
deve oferecer aos cidadãos.
Pondera Gilmar Ferreira Mendes235 que, enquanto a moderna dogmática
dos direitos fundamentais, discute a possibilidade de o Estado vir a ser obrigado
a criar os pressupostos fáticos necessários ao exercício efetivo dos direitos
constitucionalmente assegurados e sobre a possibilidade de eventual titular do
direito dispor de pretensão e prestações em face do Estado, gerando
controvérsia sobre a existência de direitos fundamentais de caráter social, a
nossa Constituição consagrou os direitos sociais como direitos fundamentais,
vinculando, dessa forma, o Poder Público.
Assim, dentre os direitos fundamentais (título II da Constituição), temos
os direitos sociais, nominados em seu capítulo II, no art. 6º, o qual arrola, entre
outros, a saúde, a previdência e a assistência que juntos formam o que a Lei
Suprema denomina seguridade social.
232
Gilmar Ferreira MENDES, Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade,
São Paulo, Celso Bastos Editor, 1998, p. 42.
233
Paulo BONAVIDES, Curso de Direito Constitucional, 11 ed. São Paulo, Malheiros
Editores, 2001, p. 518.
234
J.J. Gomes CANOTILHO, Direito constitucional e teoria da constituição, 3 ed.,
Coimbra,
Livraria Almedina, 1999, p. 384.
235
Gilmar Ferreira MENDES, Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade,
São
Paulo, Celso Bastos Editor, 1998, p. 42.
A partir do art. 193 a Constituição passa a tratar da ordem social, na qual
a seguridade social se encontra. O art. 194 assim se refere:
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de
iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à
saúde, à previdência e à assistência social.
Para Wagner Balera: “a seguridade social foi concebida pelo direito constitucional
positivo brasileiro como um conjunto de medidas que, atuando no mundo fenomênico, está apto
a suprimir as situações de necessidade”.236
Sustenta Daniel Pulino que “no Estado moderno traçado pela
Constituição de 1988, a manutenção das condições básicas de vida dos
indivíduos depende das prestações de seguridade social”237.
Feijó Coimbra aponta como objetivo da seguridade a segurança do
homem contra os infortúnios. Nas palavras do autor a “segurança é um dos
termos do binômio que, com a liberdade, forma o sustentáculo da felicidade
humana”. 238
Já tivemos oportunidade de sustentar239 que a Constituição se refere ao
sistema de seguridade social, tanto no que tange aos direitos relativos à saúde e à
assistência, como aos relativos à previdência. No entanto, conforme
constatamos abaixo, as disposições constitucionais aplicáveis às subáreas da
seguridade são diferentes, o que nos leva a diferenciar o regime jurídico aplicável
à previdência.
O art. 196 dispõe que “a saúde é direito de todos e dever do Estado”.
Por sua vez, o art. 203 estabelece que “a assistência social será prestada a quem
dela necessitar, independente de contribuição à seguridade social”. Com isso
verificamos que tanto os direitos relativos à saúde como os relativos à
assistência independem de contraprestação direta dos beneficiários.
Já no que se refere aos direitos previdenciários, as disposições do art.
201 (aplicáveis ao regime geral de previdência), bem como do art. 40 (regras
aplicáveis aos regimes próprios de previdência), tanto em sua redação original,
236
Wagner BALERA, O Seguro-desemprego no direito brasileiro, São Paulo, LTr,
1993, p. 58.
237
Daniel PULINO, A aposentadoria por invalidez no direito positivo brasileiro, São
Paulo,
LTr, 2001, p. 24.
238
Feijó COIMBRA, Direito Previdenciário Brasileiro, 9 ed., Rio de Janeiro, Edições
Trabalhistas, 1998, p. 44.
239
Zélia Luiza PIERDONÁ, “A aposentadoria do servidor público e as normas de
transição
da emenda constitucional nº 20/98” in Revista de Direito Social nº 01, Porto Alegre,
Notadez, 2001.
como na redação atribuída pela EC nº 20/98, exigem a contribuição para que o
segurado faça jus aos benefícios previdenciários.
A exigência da contribuição também é ressaltada pela Professora Maria
Garcia: “de acordo com a Constituição Federal, art. 194, a Previdência Social insere-se no
sistema de medidas ou ações objetivando a proteção dos trabalhadores e circunstâncias especiais,
previstas na própria Constituição, arts. 201 e 202. Trata-se do sistema da seguridade social
que inclui outros subsistemas: a assistência social (art. 203) e a saúde (art. 196) devidas a
todos que necessitarem. Desses três subsistemas, apenas a Previdência Social é mantida
mediante contribuição dos próprios trabalhadores, conforme art. 201, citado.”240
O Brasil, historicamente, quanto à previdência, adotou o modelo alemão
que prevê, entre outras, a contribuição do beneficiário, conforme dispõe o art.
201, acima comentado.
Como as disposições aplicáveis à saúde e à assistência são diversas
daquelas aplicáveis à previdência, os regimes jurídicos também são diversos.
A afirmação de que os regimes são diversos decorre do texto
constitucional, portanto, do direito posto241. Partimos dele, já que o objeto da
Ciência do Direito é o direito positivo.
O texto constitucional determina a contributividade do beneficiário no
que se refere aos direitos previdenciários, ou seja, a contribuição do sujeito
protegido é requisito para que faça jus aos benefícios previdenciários.242
Nas palavras de Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Junior
“no que tange a previdência, ela é um seguro social compulsório,
eminentemente contributivo - este é o seu principal traço distintivo - mantido
com recursos dos trabalhadores e de toda a sociedade - que busca propiciar
240
Maria GARCIA. “A emenda previdenciária e os direitos adquiridos”, in: Cadernos
de
Direito Constitucional e Ciência Política, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1999, nº
26,
p. 113.
241
Quanto ao direito posto, Paulo de Barros CARVALHO, Direito tributário :
fundamentos
jurídicos da incidência, São Paulo, Saraiva, 1998, p. 04, assim se refere: “o direito
posto,
enquanto conjunto de prescrições jurídicas, num determinado espaço territorial e
num
preciso intervalo de tempo...”.
242
Sobre a contributividade, Daniel PULINO, A aposentadoria por invalidez no direito
positivo brasileiro, São Paulo, LTr, 2001, p. 45, assevera: “trata-se de pressuposto
igualmente fundamental para a compreensão do modelo brasileiro de previdência
social, pois a participação do sujeito protegido no custeio do sistema possui
relevância, no mais das vezes, na própria determinação da existência da relação
jurídica de concessão de prestação previdenciária”.
meios indispensáveis à subsistência dos segurados e seus dependentes quando
não podem obtê-los ou não é socialmente desejável que eles sejam auferidos
através do trabalho por motivo de maternidade, velhice, invalidez, morte,
etc.”.243
Os trabalhadores obrigatoriamente estarão vinculados à previdência, no
regime geral ou nos regimes próprios. Com isso, temos que a previdência social
é um direito constitucional assegurado a todos os trabalhadores. No entanto, é
um direito que exige uma contrapartida por parte dos segurados.
Os regimes próprios destinam-se aos servidores públicos, sendo que
cada pessoa jurídica de direito público interno poderá instituí-los para seus
servidores e, se não o fizer, os servidores ficarão vinculados ao regime geral,
uma vez que a Constituição assegura a todos os trabalhadores o direito à
previdência.
O regime geral, administrado pelo INSS - Instituto Nacional de Seguro
Social, destina-se aos trabalhadores em geral, excetuando-se apenas os
servidores públicos vinculados a regime próprio. As regras aplicáveis ao regime
geral encontram-se no art. 201 da Constituição Federal, o qual é regulamentado
pela Lei nº 8.213/91.
Os regimes próprios (de cada esfera de governo para seus servidores)
estão disciplinados no art. 40 da Constituição Federal.
Os regimes previdenciários, segundo Daniel Machado da Rocha e José
Paulo Baltazar Junior, “são instituídos com a finalidade de garantir aos seus
beneficiários a cobertura de determinadas contingências sociais. Em sua
essência, as normas buscam amparar os trabalhadores e seus dependentes
quando vitimados por eventos (reais ou presumidos) que venham a produzir
uma perda integral ou parcial dos rendimentos familiares ou despertem outra
necessidade considerada socialmente relevante”.244
No presente trabalho abordaremos a proteção previdenciária das
pessoas com deficiência e idosos do Regime Geral de Previdência, os quais estão
disciplinados no art. 201 da Constituição Federal e na Lei 8.213/91, uma vez
que, qualquer comentário dos mencionados benefícios, nos regimes próprios,
exigiria a análise da legislação de cada esfera de governo.
O art. 201 da CF assim preceitua:
243
Daniel Machado da ROCHA e José Paulo BALTAZAR JUNIOR, Comentários à Lei
de Benefícios da Previdência Social, Porto Alegre, Livraria do advogado, 2002, p. 35.
244
Daniel Machado da ROCHA e José Paulo BALTAZAR JUNIOR, Comentários à Lei
de Benefícios da Previdência Social, Porto Alegre, Livraria do advogado, 2002, p. 36.
Art. 201 - A previdência social será organizada sob a forma de regime
geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;
(...)
Entre as prestações devidas pela Previdência, o constituinte de 1988
incluiu as dirigidas aos efeitos dos riscos invalidez e velhice.
Os mencionados riscos geram também proteção nas demais áreas da
seguridade social: saúde e assistência.
A saúde, conforme vimos acima, é direito de todos e dever do estado. A
universalidade no que tange ao direito à saúde é uma inovação da Constituição
de 1988. Comentando sobre a referida inovação, Feijó Coimbra afirma que
“possivelmente, foi na área da saúde que se fizeram sentir mais relevantes as
alterações decorrentes das novas disposições constitucionais. Assegurando a
todos o direito à saúde, o artigo 196 não faz escolhas nem abriga privilégios: dá
o direito aos serviços médicos a quantos, no território nacional, deles tenham
necessidade contra a doença. Esses serviços são devidos em dose igual seja qual
for o destinatário, bastando que se revele carecedor deles. (...) O texto
constitucional se esforça por colocar os serviços médicos ao alcance do cidadão
necessitado, como direito seu e não mais como caridade ou beneficência”.245
Assim, os idosos e as pessoas com deficiência devem ter acesso à saúde.
Não teceremos mais comentários em vista do objeto do presente trabalho que é
a proteção previdenciária a eles dirigida.
Especificamente no campo da assistência social para os idosos (risco
velhice) e pessoas com deficiência (risco invalidez) há um benefício de prestação
continuada, previsto constitucionalmente no inciso V do art. 203, o qual é
regulamentado pela Lei 8.742/93.
Art. 203 - A assistência social será prestada a quem dela
necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por
objetivos:
(...)
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa
portadora de deficiência e ao idoso que comprovarem não possuir meios de
prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme
dispuser a lei.
245
Feijó COIMBRA, Direito Previdenciário Brasileiro, 9 ed., Rio de Janeiro, Edições
Trabalhistas, 1998, pp. 57 e 58.
Discorrendo sobre a assistência social, Feijó Coimbra sustenta que
“condição da prestação é a inexistência, para o postulante, de outra fonte de
recursos, com o qual possa atender suas necessidades. A Seguridade Social,
assim se completa, atendendo, pela Assistência, aos que não o são pela
Previdência”246.
O autor acima, assim se refere quanto ao benefício de prestação
continuada: “no artigo 203, V, a Carta Magna cria, em favor do idoso, uma
prestação de salário-mínimo mensal, desde que não disponha de nenhuma fonte
de renda, capaz de prover-lhe a manutenção. (...)
Igual prestação se concede ao deficiente físico247. Certamente o
destinatário da prestação é o deficiente não amparado pela Previdência Social e
desprovido de outros meios de subsistência. (...) É evidente que a prestação
agora instituída pela Constituição é abrangente de qualquer forma de deficiência
física que gere incapacidade para o trabalho e não amparada pelas leis
previdenciárias”.248
É importante esclarecermos que os benefícios acima, embora muitas
vezes sejam denominados indevidamente de aposentadoria, no caso do
benefício do idoso, e de pensão, no caso das pessoas com deficiência, são
benefícios assistenciais e, portanto, não exigem contraprestação por parte dos
beneficiários. Não discorreremos sobre os requisitos legais, bem como sobre as
discussões jurisprudenciais, uma vez que, conforme já afirmamos o presente
trabalho visa abordar a proteção previdenciária devida aos idosos e as pessoas
com deficiência.
Diferenciando as áreas componentes da seguridade social, Daniel Pulino
assevera que “enquanto a Constituição Federal estabelece, no art. 196, que a
saúde ‘é direito de todos’, enfatizando ainda que as ações nessa área da
seguridade social são de ‘acesso universal’ e, no art. 203, que a assistência social
dirige-se ‘a quem dela necessitar’, para a previdência social, diferentemente,
determina, no art. 201, caput, que a mesma há de ser organizada em ‘caráter
contributivo e de filiação obrigatória”.249
246
Feijó COIMBRA, Direito Previdenciário Brasileiro, 9 ed., Rio de Janeiro, Edições
Trabalhistas, 1998. p. 58.
247
A CF no art. 203, V refere-se à pessoa portadora de deficiência e não apenas ao
deficiente
físico.
248
Feijó COIMBRA, Direito Previdenciário Brasileiro, 9 ed., Rio de Janeiro, Edições
Trabalhistas, 1998, p. 59.
249
Daniel PULINO, A aposentadoria por invalidez no direito positivo brasileiro, São
Paulo,
2001, LTr, p. 34.
Na previdência, como nas demais áreas da seguridade social, amparam-
se necessidades sociais. No entanto, não são todas as necessidades sociais, mas
as selecionadas diretamente pelo constituinte ou pelo legislador
infraconstitucional, dados os princípios da universalidade (art. 194, parágrafo
único, I) e da seletividade (art. 194, parágrafo único, III).
Nesse sentido, Daniel Pulino afirma: “na previdência social, não é toda e
qualquer necessidade que receberá proteção do sistema, e sim aquelas que
decorram de determinadas contingências (‘eventos’, na dicção constitucional)
previamente elencadas pela lei”. 250
O constituinte usou o termo evento para designar os riscos sociais, os
quais provocam necessidades que serão atendidas pelas prestações
previdenciárias.
Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Junior, referindo-se a
risco social, e baseados nos ensinamentos de Moacyr Velloso Cardoso de
Oliveira, afirmam que o termo “é empregado para designar os eventos, isto é, os
fatos ou acontecimentos que ocorrem na vida de todos os homens, com certeza
ou probabilidade significativa, provocando um desajuste nas condições normais
de vida, em especial a obtenção dos rendimentos decorrentes do trabalho,
gerando necessidades a serem atendidas, pois nesses momentos críticos,
normalmente não podem ser satisfeitas pelo indivíduo. Na terminologia do
seguro, chamam-se tais eventos ‘riscos’ e por dizerem respeito ao próprio
funcionamento da sociedade, denominam-se ‘riscos sociais”.251
Sustenta Daniel Pulino que “por força do que dispõe o art. 201 da
Constituição, a previdência social deve atender à cobertura dos eventos doença,
invalidez, morte, idade avançada, além de outros especificados nos demais
incisos e parágrafos desse dispositivo. Dessa forma, a proteção dos indivíduos,
na previdência social brasileira, é feita em atenção à enumeração legal de
contingências sociais específicas que produzem determinadas situações de
necessidade social. Contingências que hão de estar, assim, tipificadas na lei
previdenciária”.252
Segundo o autor acima nominado, “a lei prevê, primeiramente, uma
determinada contingência social (p. ex., a velhice, o desemprego, a manutenção
250
Daniel PULINO, A aposentadoria por invalidez no direto positivo brasileiro, São
Paulo,
2001, LTr, pp. 38 e 39.
251
Daniel Machado da ROCHA e José Paulo BALTAZAR JUNIOR, Comentários à Lei
de
Benefícios da Previdência Social, Porto Alegre, Livraria do advogado, 2002, p. 36.
252
Daniel PULINO, A aposentadoria por invalidez no direto positivo brasileiro, São
Paulo,
2001, LTr, p. 39.
de um filho, a detenção ou a reclusão do segurado etc.). Essa contingência
qualifica-se como tal justamente porque seu acontecimento efetivo gera uma
situação de necessidade social, que atingirá as condições de subsistência do
segurado e/ou de seus dependentes (específicos beneficiários das prestações
previdenciárias), necessidade esta que importa numa situação de desequilíbrio
econômico, comprometedora da manutenção dos meios normais de sustento
daqueles sujeitos. (...)
Para fazer frente a essas necessidades geradas por aquelas contingências,
cria-se a prestação previdenciária (...), que amparará, portanto, o segurado e seus
dependentes, reintegrando-os ao respectivo nível de subsistência”.253
Delimitando o objeto deste trabalho, discorreremos sobre os riscos
invalidez e idade avançada, uma vez que abordaremos as prestações
previdenciárias destinadas aos idosos e as pessoas com deficiência.
Inicialmente é preciso pontuar que os beneficiários das prestações
previdenciárias são os segurados e os dependentes, sendo que os idosos e as
pessoas com deficiência podem ser tanto segurados como dependentes: o idoso
pode ser aposentado (segurado) ou pensionista (dependente). O mesmo
ocorrendo com a pessoa com deficiência que pode ser pensionista (dependente)
e aposentada por invalidez (segurado), quando a invalidez teve origem após ter o
trabalhador iniciado sua vida laboral.
Por esse motivo, num primeiro momento, descreveremos quem são os
segurados e os dependentes.
Nos termos do art. 11 da Lei 8.213/91, em sua redação atual, são
segurados obrigatórios: os empregados, os empregados domésticos, os
contribuintes individuais (autônomo, equiparado a autônomo e empresário,
antes da edição da Lei 9.876/99), os trabalhadores avulsos e os segurados
especiais (pequeno agricultor e pequeno pescador que desenvolvem suas
atividades em regime de economia familiar). O art. 13 da Lei 8.213/91
estabelece a possibilidade daquele que não se encontra em nenhuma das
hipóteses do art. 11 (segurados obrigatórios), filiar-se ao sistema previdenciário,
como segurado facultativo.
O art. 16 do mesmo diploma legal elenca aqueles que são admitidos
como dependentes de segurados:
Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na
condição de dependentes do segurados:
253
Daniel PULINO, A aposentadoria por invalidez no direto positivo brasileiro, São
Paulo,
2001, LTr, p. 111.
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado,
de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido;
II - os pais;
III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos
ou inválido;
(...)
§ 2º - O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho mediante
declaração do segurado e desde que comprovada a dependência econômica na
forma estabelecida no Regulamento.
A Lei 9.032/95 revogou o inciso IV, o qual permitia a designação de
dependente desde que menor de 21 anos, maior de 60 anos ou inválido.
Baseado no princípio da universalidade, o qual impõe a ampliação do sistema
protetivo e veda o seu recuo, Ricardo Duarte de Melo sustentou, em sua
dissertação de mestrado em Direito Previdenciário, apresentada na PUC/SP254,
que a revogação é inconstitucional.
A Lei 9.528/97 alterou a redação do § 2º, excluindo o menor que por
determinação judicial estivesse sob a guarda do segurado. A doutrina tem
sustentado que a referida exclusão é indevida, em vista do § 3º do art. 33 do
Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual confere a condição de dependente
para todos os efeitos, inclusive previdenciário.
Entendemos que a exclusão é indevida, não em razão do disposto no
Estatuto da Criança e do Adolescente, uma vez que lei civil não pode criar
obrigações previdenciárias, haja vista a regra da contrapartida prevista no art.
195, § 5º da Constituição Federal, mas em razão das disposições do art. 227 da
Constituição Federal e dos princípios da máxima proteção social e da
universalidade da cobertura do atendimento. É preciso lembrar que não basta a
guarda judicial. Deve ser comprovada a dependência econômica, nos termos do
§ 2º do art. 16, acima transcrito.
O § 4º da Lei 8.213/91 dispensa a prova de dependência econômica dos
dependentes da primeira classe, já que a presume. As demais classes deverão
comprovar a dependência econômica. Nos termos da Súmula 229 do TFR, a
dependência, no que tange aos pais do segurado, não precisa ser exclusiva.
Em razão da Ação Civil Pública nº 2000.71.07.00.009347-0, promovida
pelo Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul, o companheiro ou
companheira homossexual são considerados dependentes para fins de benefícios
previdenciários. Em razão da sentença proferida na referida ação, a qual tem
254
Ricardo Duarte de MELO, O benefício pensão por morte no regime geral de
previdência social, Dissertação de Mestrado, PUC/SP, 2002.
validade para todo o território nacional, o INSS expediu a Instrução Normativa
nº 25/2000.
Nos termos do § 1º do art. 16 da Lei 8.213/91, a existência de
dependente de qualquer das classes deste artigo exclui do direito às prestações
os das classes seguintes. Entendemos que o Judiciário poderá, analisando o caso
concreto, admitir a existência de duas classes, uma vez que a lei trabalha com
presunções, as quais podem ser amenizadas diante do caso concreto.
Os dependentes das classes seguintes têm direito caso inexista, à época
do falecimento do segurado, dependentes de classe anterior, haja vista ser o
óbito do segurado o fato gerador do benefício da pensão por morte. Isso
significa que se o segurado tinha um filho com 20 anos de idade, o qual passou a
receber pensão, não poderão os pais (dependentes de 2ª classe) pleitear a pensão
após a maioridade do filho do segurado (dependente de 1ª classe).
A invalidez do dependente deve preexistir à data do óbito do segurado,
ou seja, o dependente terá direito ao benefício se o era antes da morte do
segurado.
O art. 101 da Lei 8.213/91 estabelece a obrigatoriedade de exames
médicos a cargo da Previdência, processo de reabilitação profissional por ela
prescrito e custeado e tratamento dispensado gratuitamente aos pensionistas
inválidos, bem como aos segurados aposentados por invalidez ou em gozo de
auxílio-doença, sob pena de suspensão do benefício.
Visto os segurados e dependentes, passaremos as prestações
previdenciárias, as quais estão elencadas no art. 18 da Lei 8.213/91, abaixo
transcrito:
Art. 18 - O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes
prestações, devidas inclusive em razão de eventos decorrentes de acidente do
trabalho, expressas em benefícios e serviços:
I - quanto ao segurado:
aposentadoria por invalidez;
aposentadoria por idade;
aposentadoria por tempo de serviço (tempo de contribuição);
aposentadoria especial;
auxílio-doença;
salário-família;
salário-maternidade
auxílio-acidente.
II - quanto aos dependentes:
pensão por morte
auxílio-reclusão
III - quanto ao segurado e dependente:
serviço social;
reabilitação profissional.
Vamos agora destacar as prestações dirigidas aos idosos e as pessoas
com deficiência.
As prestações relativas ao idoso são a aposentadoria por idade, a pensão
por morte (cônjuge, companheiro ou companheira e pais) e o serviço social. No
entanto, o idoso pode ter obtido a aposentadoria por tempo de serviço
(atualmente tempo de contribuição) ou mesmo aposentadoria especial.
Já em relação à pessoa com deficiência, a qual tem como pressuposto
para o recebimento de prestações previdenciárias o risco social invalidez, as
prestações são: pensão por morte e auxílio reclusão (aos dependentes);
aposentadoria por invalidez (aos segurados); abono anual e, serviço social e
reabilitação profissional (aos dependentes e segurados).
Em razão dos limites do presente trabalho vamos apenas tecer breves
comentários sobre as prestações relativas aos riscos sociais invalidez e idade
avançada, acima nominados.
Iniciaremos pelo risco invalidez. O art. 42 da Lei 8.213/91 traz o
conceito de invalidez, assim se referindo: “ ... for considerado incapaz e
insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a
subsistência, ...”
Assim, considera-se inválido quem for inapto para qualquer atividade
laboral, não conseguindo, com isso, a subsistência com o fruto de seu trabalho.
Caso a invalidez surja após ter sido iniciada a vida laboral e o trabalhador
mantinha a qualidade de segurado, fará jus ao benefício na condição de
segurado. No caso, aposentadoria por invalidez, a qual está disciplinada nos
artigos 42 a 47 da Lei 8.213/91.
Nos termos dos parágrafos do art. 42 a concessão da aposentadoria
dependerá da verificação da condição de incapacidade mediante exame médico-
pericial a cargo da Previdência. Se o segurado já era portador da doença ou lesão
quando da filiação, não terá direito à aposentadoria, salvo se a incapacidade
sobrevier em razão de progressão ou agravamento.
O valor da aposentadoria atualmente é de 100% do salário-de-benefício
(média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes
a oitenta por cento de todo o período contributivo - art. 29, II da Lei 8.213/91.
Para quem já estava filiado ao sistema em 29-11-99, a média a que se refere o
dispositivo legal não é de todo o período contributivo, mas a partir de julho de
1994). O percentual acima referido é aplicado a todos os casos de
aposentadoria por invalidez, quer seja em razão de acidente do trabalho ou não.
Até a Lei 9.032/95 o percentual acima era aplicado apenas aos casos de acidente
do trabalho, nos demais o percentual era menor.
Nos termos do art. 25, I, da Lei 8.213/91 a carência aplicada ao
benefício aposentadoria por invalidez é de 12 meses, independendo de carência,
conforme art. 26, II do mesmo diploma legal, os casos de acidente de qualquer
natureza ou causa, e de doenças profissionais e do trabalho, bem como os casos
de segurado acometido por alguma das doenças e afecções especificadas em lista
elaborada pelos Ministérios da Saúde, do Trabalho e da Previdência (a referida
lista foi elaborada pela Portaria Interministerial nº 2.998/01).
Caso o aposentado por invalidez necessite de assistência permanente de
um terceiro, o valor da aposentadoria será acrescido de 25%, ainda que o valor
atinja o limite teto dos benefícios do Regime Geral de Previdência, nos termos
do art. 45 da lei em comento. O referido acréscimo é devido apenas ao segurado
aposentado por invalidez, não sendo devido ao pensionista inválido, mesmo
quando necessite de auxílio de terceiro, nem é estendido à pensão, quando o
segurado vier a falecer. Além disso, não é aplicado o acréscimo no benefício
assistencial devido ao idoso e à pessoa com deficiência, acima comentado.
Conforme dispõe os arts. 70 e 71 da Lei 8.212/91 o aposentado por
invalidez é obrigado a submeter-se a exames médicos-periciais, sendo que o
INSS deve rever os benefícios para avaliar a persistência, atenuação ou
agravamento da incapacidade para o trabalho. Verificada a recuperação, o
benefício cessará, de imediato ou gradativamente, nos termos do art. 47 da Lei
8.213/91.
A aposentadoria por invalidez é automaticamente cancelada caso o
aposentado retornar voluntariamente à atividade, mesmo que em outro regime
previdenciário. O cancelamento se dá em razão da inexistência da causa
geradora que é a incapacidade para o trabalho.
O risco incapacidade é a causa de outra prestação previdenciária, esta
não pecuniária: habilitação e reabilitação profissional, a qual está disciplinada
nos artigos 89 a 93 da Lei 8.213/91, conforme se observa abaixo:
Art. 89 - A habilitação e a reabilitação profissional e social deverão
proporcionar ao beneficiário incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho,
e as pessoas portadoras de deficiência, os meios para a (re)educação e de
(re)adaptação profissional e social indicados para participar do mercado de
trabalho e do contexto onde vive.
Parágrafo único. A reabilitação profissional compreende:
a) o fornecimento de aparelho de prótese, órtese e instrumentos de
auxílio para locomoção quando a perda ou redução da capacidade funcional
puder ser atenuada por seu uso e dos equipamentos necessários à habilitação e
reabilitação social e profissional;
b) a reparação ou a substituição dos aparelhos mencionados no inciso
anterior, desgastados pelo uso normal ou por ocorrência estranha à vontade do
beneficiário;
c) transporte do acidentado do trabalho, quando necessário.
Nos termos do art. 90, aos segurados, as prestações acima são
obrigatórias, inclusive aposentados, e, aos dependentes na medida das
possibilidades do Órgão Previdenciário. Nos casos em que o tratamento ocorrer
fora do domicilio do beneficiário, haverá auxílio do INSS (art. 91).
Nas palavras de Luiz Cláudio Portinho Dias “a reabilitação , sim, não se
resume à concessão de aparelhos e transporte para a PPD; além disso, ela
precisa e deve englobar um conjunto de providências aptas à reintrodução da
pessoa no mercado de trabalho e no contexto em que vive. E isso passa, sem
dúvida, por um programa de educação, conscientização e preparação da PPD
quanto a nova realidade a ser enfrentada”.255
Nesse sentido, o art. 93 da Lei 8.213/91256 prevê a reserva de vagas aos
segurados reabilitados e às pessoas com deficiência, a qual tem como objetivo
sua integração ao mercado de trabalho. Sobre a referida norma Daniel Machado
da Rocha e José Paulo Baltazar Junior assim se referem: “cuida-se de louvável
norma de ordem trabalhista que tem por objetivo a integração do segurado
acidentado e do deficiente ao mercado de trabalho, e, por conseqüência, à vida
em sociedade”.257
A incapacidade que é o risco social gerador de prestações às pessoas
com deficiência, permite duas espécies de benefícios aos dependentes: pensão
por morte e auxílio-reclusão.
Os filhos e os irmãos podem receber pensão e auxílio-reclusão até o
limite de 21 anos de idade, ultrapassando o referido limite quando há invalidez.
255
Luiz Cláudio Portinho DIAS, “Considerações sobre a seguridade social da pessoa
portadora de deficiência física”, in Revista de Previdência Social, nº 250, São Paulo,
LTr, 2001, p. 637.
256 Art. 93 – A empresa com 100 ou mais empregados está obrigada a preencher de 2%
a 5% dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de
deficiência, habilitadas, na seguinte proporção: (...)
257
Daniel Machado da ROCHA e José Paulo BALTAZAR JUNIOR, Comentários à Lei
de Benefícios da Previdência Social, Porto Alegre, Livraria do advogado, 2002, p. 266.
Já ressaltamos acima que a invalidez deve ser comprovada através de exames
médicos, e, conforme já mencionamos, deve ser anterior à época do óbito.
O benefício de pensão por morte está disciplinado nos artigos 74 a 79 da
Lei nº 8.213/91. É um benefício previdenciário devido ao conjunto dos
dependentes do segurado. Segundo Daniel Machado da Rocha e José Paulo
Baltazar Junior258 a pensão é uma prestação previdenciária continuada, de caráter
substitutivo, destinada a suprir, ou ao menos amenizar, a falta daqueles que
proviam as necessidades econômicas dos dependentes.
O valor da pensão corresponde a 100% do valor da aposentadoria que o
segurado recebia ou daquela que teria direito se estivesse aposentado por
invalidez. O valor da pensão será rateado em partes iguais pelo número de
dependentes, revertendo em favor dos demais à parte daquele cujo direito à
pensão cessar.
O percentual de 100% é criticado, uma vez que as despesas da família
diminuem com a inexistência de gastos do segurado falecido.
Dada a urgência do benefício pensão por morte, uma vez que é o
benefício que substitui os rendimentos do provedor da família, que em virtude
de seu falecimento gera necessidades de imediato, a concessão do benefício não
será protelada pela falta de habilitação ou inscrição de outro possível
dependente, sendo que a habilitação posterior somente produzirá efeitos a
contar da data da habilitação ou inscrição.
Nos termos do art. 26 da Lei 8.213/91 o benefício de pensão por morte
independe de carência. Mas, por ser um benefício previdenciário, exige-se a
qualidade de segurado. Nos termos do § 2º do art. 102 da Lei 8.213/91 não será
concedida pensão aos dependentes do segurado que falecer após a perda da
qualidade de segurado (o art. 15 do mesmo diploma legal estabelece períodos de
graça, nos quais o segurado mantém a qualidade mesmo não contribuindo),
salvo se preenchido os requisitos para a obtenção da aposentadoria.
A pensão também é devida no caso de morte presumida, declarada pela
autoridade judicial competente, depois de seis meses de ausência. Não
necessitando o referido prazo nos casos de desaparecimento em conseqüência
de acidente, desastre ou catástrofe. Inclusive nos casos de reaparecimento os
dependentes não precisam repor os valores, salvo se recebidos de má-fé.
O art. 103 da Lei 8.213/91 estabelece os prazos de prescrição e
decadência, os quais não são aplicados no caso de pensionista menor, incapaz
ou ausente. (art. 79)
258
Daniel Machado da ROCHA e José Paulo BALTAZAR JUNIOR, Comentários à Lei
de Benefícios da Previdência Social, Porto Alegre, Livraria do advogado, 2002, p. 236.
Considerando que o valor da pensão é o mesmo, independente se a
morte do segurado for em razão de acidente do trabalho ou não, entendemos
prejudicial ao dependente a discussão no que tange à pensão acidentária na
justiça especial (Vara de acidente do trabalho), uma vez que nela deverá ser
demonstrado o nexo de causalidade.
A pensão por morte também é benefício devido ao idoso, quando este
for dependente de segurado, que tanto poderá estar na primeira classe (cônjuge,
companheira, companheiro) como na segunda classe (pais).
As regras acima comentadas são aplicadas tanto ao pensionista com
deficiência como ao idoso.
No caso de separação (judicial, de fato, divórcio) o fator determinante
para a manutenção da qualidade de dependente será o recebimento ou não de
alimentos.
Conforme a Súmula 64 do TFR, a dispensa de alimentos no acordo de
separação, não afasta o direito do recebimento da pensão se comprovada a
necessidade do beneficiário.
Nos termos do art. 80 da Lei de Benefício, aplicam-se ao auxílio-
reclusão as mesmas condições da pensão por morte aos dependentes do
segurado recolhido à prisão que não receber remuneração da empresa nem
estiver em gozo de auxílio-doença ou aposentadoria.
O auxílio-reclusão é, segundo Daniel Machado da Rocha259, uma
prestação previdenciária substitutiva, destinada a amparar os dependentes do
segurado detido por motivos criminais, enquanto perdurar a prisão do
responsável pela sua manutenção econômica. A prisão do segurado é um risco
social que afeta os dependentes pela impossibilidade de o segurado auferir os
recursos necessários à manutenção da família. Da mesma forma que a pensão
por morte, os dependentes também poderão ser idosos ou pessoas com
deficiência.
Outra prestação previdenciária que não é de natureza pecuniária é o
Serviço Social. Através dela a Previdência Social deve esclarecer aos
beneficiários os seus direitos sociais, bem como os meios de exercê-los,
estabelecendo conjuntamente com os beneficiários o processo de solução dos
problemas que emergirem na sua relação com a Previdência. Nos termos da lei
será dada atenção especial aos aposentados e pensionistas. (art. 88 da Lei
8.213/91)
259
Daniel Machado da ROCHA, “Regime geral de previdência e prestações
previdenciárias”
Direito Previdenciário: aspectos materiais, processuais e penais, Coord. Vladimir
Passos
de Freitas, Porto Alegre : Livraria do Advogado, 1988, .p. 107.
O § 2º do art. 88 da Lei 8.213/91 estabelece que para assegurar o efetivo
atendimento aos usuários serão utilizadas intervenções técnicas, assistência de
natureza jurídica, ajuda material, recursos sociais, intercâmbio com empresas e
pesquisa social, inclusive mediante celebração de convênios, acordos ou
contratos.
Pensamos que a autarquia previdenciária está muito aquém, tanto no que
tange ao Serviço Social, como à habilitação e à reabilitação profissional, o que
deve gerar alguma medida por parte do Ministério Público a quem incumbe a
defesa da ordem jurídica e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
O abono anual se constitui na gratificação devida aos beneficiários da
Previdência Social, equivalente à gratificação de Natal dos trabalhadores. Nos
termos do art. 40 da Lei 8.213/91, é devido aos segurados e dependentes que,
durante o ano, receberam auxílio-doença, auxílio-acidente ou aposentadoria,
pensão por morte ou auxílio reclusão. O referido benefício tem por base o valor
da renda mensal do benefício do mês de dezembro de cada ano.
Os benefícios previdenciários relacionados aos idosos são: pensão (aos
dependentes), já comentada acima, a aposentadoria por idade (aos segurados), e
o abono anual (aos segurados e dependentes), também já comentado, não
podendo ser afastadas as aposentadorias por tempo de serviço (tempo de
contribuição depois da EC nº 20/98) e a aposentadoria especial.
A prestação previdenciária serviço social, já comentada acima, dirige-se,
também, ao idoso, inclusive, conforme já mencionamos, aos aposentados e
pensionistas, nos termos do § 1º do art. 88, deverá ser dirigida atenção especial.
Passaremos a comentar a aposentadoria por idade. Segundo definição de
Paulo José Leite Farias, a aposentadoria por idade é um “benefício continuado
devido ao segurado que preencher os requisitos legais, tendo como contingência
fundante a velhice”.260
Da mesma forma que as aposentadorias por tempo de serviço e,
especial, a carência exigida é de 180 contribuições mensais, sendo que o art. 142
da Lei 8.213/91 estabelece a regra de transição para quem já estava inscrito na
Previdência Social em 24-07-91.
Nos termos do parágrafo único do art. 24 da lei de Benefícios, havendo
a perda da qualidade de segurado, as contribuições anteriores só serão
computadas para efeito de carência depois que o segurado contar, a partir da
nova filiação, com no mínimo 1/3 das contribuições exigidas para o
cumprimento da carência. Para o implemento da referida condição o INSS
260
Paulo José Leite FARIAS, Manual didático de direito previdenciário, Brasília: Exata,
1998, p. 209.
entende que deva ser aplicada a carência de 180 contribuições mensais. A
jurisprudência tem decidido pela regra de transição.
Para que o segurado possa se aposentar por idade deverá atender a
carência exigida (180 contribuições mensais ou a regra de transição do art. 142) e
completar 65 anos de idade, se homem, e 60, se mulher, limites esses que são
reduzidos em cinco anos para os trabalhadores rurais (abrangendo o empregado
rural, o eventual rural, o avulso rural e o segurado especial, nos termos do § 1º
do art. 48 da Lei de Benefícios).
Segundo Wagner Balera “a Lei Maior, ao cogitar da velhice, reconhece
situações distintas entre o homem e a mulher. Também, indica critérios
diferenciados para a obtenção da prestação, quando se trate de trabalhador
urbano ou rural. Na concepção jurídica, o homem é considerado velho aos
sessenta e cinco anos, ao passo que a mulher é velha aos sessenta anos. O
rurícula, por seu turno, poderá se aposentar com idade inferior.
É perceptível, ao senso comum, que o rurícula se desgasta rapidamente e
precocemente envelhece, em razão das condições adversas de seu trabalho.
Sendo diversas as condições de trabalho, na cidade e no campo, diversamente
hão de ser tratados, trabalhadores rurais e urbanos, para efeito de aposentadoria.
O tratamento distinto pretende compensar as suas diferenças e é proposta que
obriga o Estado a dar início ao resgate da pesada dívida social que mantém para
com o homem do campo.”261
Discute-se se os requisitos acima devem ser concomitantes ou não. O
STJ já decidiu que não há necessidade da concomitância, tendo concedido a
aposentadoria por idade a uma pessoa que já não detinha a qualidade de
segurado, quando atendeu o requisito idade. 262
Nesse sentido é o artigo de Fábio Luiz de Oliveira Bezerra. Para ele “As
restrições impostas pelo parágrafo único do art. 24 e o art. 102 da Lei nº
8.213/91, a saber: necessidade de cumprir 1/3 da carência exigida para o
benefício após a perda da qualidade de segurado; e a caducidade de direitos do
segurado decorrente da perda dessa qualidade, para a concessão do direito à
aposentadoria por idade, devem ser interpretadas à luz do fundamento
261
Wagner BALERA, A Seguridade Social na constituição de 1988, São Paulo, Revista
dos
Tribunais, 1989, p. 98.
262
“PROCESSUAL E PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE.
PERDA
DA QUALIDADE. ART. 102 DA LEI 8.213/91. A perda da qualidade de segurada
urbana não importa no perecimento do direito à aposentadoria, se vertidas as 60
(sessenta) contribuições, vier a implementar a idade limite de 60 (sessenta) anos.
Precedentes do TRF e do STJ. Recurso conhecido e provido” (Resp 174.925/SP,
Relator Min. Gilson Dipp, DJ 15.03.99)
constitucional do valor social do trabalho e da preservação da saúde financeira
do fundo previdenciário. Entendemos, em síntese, que não se aplica à
aposentadoria por idade o parágrafo único do art. 24 e que a perda da qualidade
de segurado não prejudica o direito à aposentadoria por idade ao benefício, se já
vertidas as contribuições necessárias, independentemente de interrupção, e o
segurado vier a atingir a idade prevista constitucionalmente”.263
O art. 102, § 1º da Lei de Benefício estabelece que a perda da qualidade
de segurado não prejudica o direito à aposentadoria para cuja concessão tenham
sido preenchidos todos os requisitos. O autor acima referido sustenta que
“mesmo assim, nossos tribunais continuam, a nosso ver, com acerto, a entender
que, uma vez cumprido o requisito da carência, o preenchimento do requisito
idade pode-se dar após o cumprimento do primeiro e inclusive após a perda da
qualidade de segurado, quando se trata de aposentadoria por idade”.264
O valor da aposentadoria por idade corresponde a uma renda mensal de
70% do salário-de-benefício, mais 1% por cada grupo de 12 contribuições, não
ultrapassando a 100%.
O salário-de-benefício da aposentadoria por idade, nos termos do art.
29, I, corresponde à média aritmética simples dos maiores salários-de-
contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período
contributivo, multiplicada pelo fator previdenciário. Para quem já estava filiado
ao sistema em 29-11-99, será a média dos salários-de-contribuição desde julho
de 1994.
Nos termos do art. 7º da lei 9.876/99, no caso de aposentadoria por
idade, é assegurado o direito à opção pela não aplicação do fator previdenciário.
Apesar de a aposentadoria por idade ser a mais característica quanto ao
risco social velhice, o idoso poderá pleitear as aposentadorias por tempo de
serviço (tempo de contribuição) e especial. Esta não deixa de ser uma espécie de
aposentadoria por tempo de serviço, com a característica de ter um tempo
reduzido em função da atividade exercida pelo trabalhador.
A EC nº 20/98 manteve todas as aposentadorias que existiam antes.
Inclusive no Regime Geral não foi aprovada a concomitância dos requisitos
263
Fabio Luiz de Oliveira BEZERRA, “A aposentadoria por idade em situação de
perda da
qualidade de segurado”, in Revista de Direito Social, nº 05, Porto Alegre, Notadez,
2002,
p. 116.
264
Fabio Luiz de Oliveira BEZERRA, “A aposentadoria por idade em situação de
perda da
qualidade de segurado”, in Revista de Direito Social, nº 05, Porto Alegre, Notadez,
2002,
p. 113.
idade e tempo de contribuição, como ocorreu no regime dos servidores
públicos. E, em virtude de não constar nas regras definitivas do art. 201, § 7º, I
da Constituição Federal o limite de idade para a aposentadoria por tempo de
serviço (tempo de contribuição), o limite de idade fixado no art. 9º da EC nº
20/98 para a regra de transição deve ser afastado, conforme já defendemos.265
O que a emenda acima referida fez foi retirar da Constituição o período
base de cálculo que, antes era os 36 últimos salários de contribuição. Por ter
retirado, deixou ao legislador infraconstitucional a fixação do período base,
sendo que a Lei 9.876/99 deu nova redação ao art. 29 da Lei 8.213/91, fixando
como período base, oitenta por cento de todo período contributivo. Para quem
já era filiado ao sistema, na data da publicação da mencionada lei (29-11-99), há
uma regra de transição fixando como base de cálculo oitenta por cento das
contribuições a partir de julho/94.
Além de ampliar o período base de cálculo, a referida lei criou o fator
previdenciário, o qual é aplicado apenas às aposentadorias por tempo de serviço
e por idade. No entanto, conforme já mencionamos, por força do art. 7º da Lei
9.876/99, quanto a esta aposentadoria há o direito de opção pela não aplicação
do fator. Com isso, a obrigatoriedade de aplicação do fator previdenciário está
restrita a aposentadoria por tempo de serviço.
É importante esclarecer que o fator previdenciário não impede a
aposentadoria precoce, apenas desestimula, uma vez que o valor da
aposentadoria será menor se o segurado tiver pouca idade e um tempo de
contribuição menor. Contrariamente, quanto mais idade e mais contribuição,
maior será o valor da aposentadoria.
A aposentadoria por tempo de serviço está disciplinada nos arts. 52 a 56
da Lei 8.213/91.
Segundo Pedro Vidal Neto “a legitimidade da aposentadoria por tempo
de serviço é fortemente contestada. Há uma corrente doutrinária, na qual se
alinham especialistas de grande suposição, negando que o tempo de serviço seja
um risco ou contingência social e, portanto, que mereça proteção previdenciária.
Não se trata de uma contingência social porque não acarreta supressão ou
diminuição do ganho normal. Os adeptos dessa corrente, sublinham, outrossim,
que a aposentadoria por tempo de serviço onera grave e indevidamente a
Previdência Social, bem como, que o benefício propicia a aposentadoria precoce
de pessoas, que possuem plena capacidade de trabalho. A corrente oposta põem
em relevo que esse benefício existe desde a Lei Eloy Chaves, pioneira da nossa
Previdência Social e corresponde a uma esperança acalentada pela maior parte
265
Zélia Luiza PIERDONÁ, “A EC nº 20/98 e a aposentadoria proporcional” in Síntese
Trabalhista, Administrativa e Previdenciária, Porto Alegre, Síntese, v. 12, nº 136,
out/2000, p. 45-48.
da população; por outro lado, procura mostrar que em nosso País o tempo
médio de sobrevida é baixo e que as condições de vida são penosas, de modo
que, decorridos vinte e cinco ou trinta anos de trabalho, o trabalhador já tem sua
capacidade física e mental muito diminuída. Lembra-se, ainda, que após os
quarenta anos de idade, torna-se difícil encontrar novos empregos”.266
Daniel Machado da Rocha assim se manifestou, sobre aposentadoria por
tempo de serviço: “em que pese à opinião de alguns autorizados juristas de que
a aposentadoria baseada inicialmente no tempo de serviço não se justifica,
entendemos que o benefício deve ser mantido. A razão reside no desgaste a que
o segurado é submetido, após um significativo tempo de serviço e também na
dificuldade de ser absorvido pelo preconceituoso mercado de trabalho. Todavia,
a fim de não se inviabilizar o sistema previdenciário, é essencial o
estabelecimento de um limite mínimo de idade para o gozo do benefício. Com o
aumento da expectativa de vida, não nos parece razoável que o segurado (...)
passe a perceber benefício de aposentadoria antes dos 50 anos de idade.”267
Para que o segurado faça jus ao mencionado benefício deverá cumprir a
carência exigida (180 contribuições mensais, e, para quem já estava no sistema
em julho de 1991, a regra de transição do art. 142) e possuir 30 anos de serviço,
se mulher, e 35, se homem.
Antes da EC nº 20/98 havia a possibilidade de aposentar-se
proporcionalmente (25 anos de serviço, se mulher, e 30, se homem). A
mencionada emenda extinguiu a aposentadoria proporcional, admitindo apenas
aos que já eram segurados quando da publicação da emenda (16-12-98), nos
termos do art. 9º da EC nº 20/98, que, além do tempo exige um pedágio e idade
mínima. Já referimos acima que esta última deve ser afastada.
Em vista da possibilidade da aposentadoria proporcional o valor da
aposentadoria corresponde a 70% do salário-de-benefício, mais 6% para cada
novo ano, até o máximo de 100% (art. 53 da Lei 8.213/91). Devemos lembrar
que no cálculo do salário-de-benefício aplica-se o fator previdenciário.
Nos termos do art. 201, § 8º da Constituição Federal o professor que
comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério
na educação infantil e no ensino fundamental e médio terá o tempo de serviço
266
Pedro VIDAL NETO, Natureza Jurídica da Seguridade Social, Tese apresentada na
Faculdade de Direito da USP – Concurso para professor titular de Direito do
Trabalho, São Paulo, 1993, p.123.
267
Daniel Machado da ROCHA, “Regime geral de previdência e prestações
previdenciárias”
Direito Previdenciário: aspectos materiais, processuais e penais, Coord. Vladimir
Passos
de Freitas, Porto Alegre : Livraria do Advogado, 1988, .p 91.
reduzido em 5 anos. Antes da EC nº 20/98 o ensino universitário também
estava incluído na redução.
A aposentadoria especial é uma espécie de aposentadoria por tempo de
serviço, com o diferencial da redução de tempo, que poderá ser 15, 20 ou 25,
conforme dispuser a lei. A redução dá-se em razão das condições especiais que
prejudiquem a saúde ou a integridade física a que o segurado estiver sujeito.
Nesse sentido Anníbal Fernandes sustenta268, que o tempo de trabalho
em atividade comum é o suporte da aposentadoria por tempo de serviço, mas
determinadas atividades (insalubre, penosa ou perigosa) determinam a redução
do tempo de trabalho, dando origem às aposentadorias especiais.
A partir da Lei 9.032/95 há a necessidade de comprovação efetiva da
exposição aos agentes nocivos. Nesse sentido o Ministério Público Federal no
Rio Grande do Sul propôs uma ação civil pública (2000.71.00.030435-2), tendo
sido concedida liminar para todo o território nacional, para, entre outras coisas,
dispensar da efetiva comprovação até 28-04-98 e permitir a conversão de
especial para comum. Em vista da decisão judicial o INSS emitiu a Instrução
Normativa nº 42/2001.
Nos termos do § 8º do art. 57 a aposentadoria será cancelada caso o
segurado continuar no exercício de atividade especiais que lhe prejudique a
saúde ou a integridade física.
No cálculo da aposentadoria especial não é aplicado o fator
previdenciário.
Segundo Raul Portanova269 a aposentadoria especial não é novidade na
CF/ 88, ela aparece na legislação previdenciária em 1960, com a Consolidação
das Leis da previdência social, que exigia carência de quinze anos e o limite de
cinqüenta anos de idade, além do tempo de serviço em atividade prejudicial à
saúde. Em 1964, através do Decreto nº 53.831/64, as atividades penosas,
insalubres e perigosas foram divulgadas em um quadro específico. Em 1988,
através da Lei nº 5.527 suprimiu-se a idade mínima, tendo sido reduzidas as
atividades sujeitas à aposentadoria especial, com a edição de um novo quadro,
sendo que às atividades não indicadas no novo quadro, se atendessem o limite
de idade, seria garantida a aposentadoria especial.
Os Tribunais fixaram jurisprudência no sentido de que os quadros eram
apenas exemplificativos, pois se a prova pericial demonstrar que a atividade é
perigosa, insalubre ou penosa, mesmo que não descrita nos quadros, será devida
aposentadoria especial, uma vez que o bem tutelado é a saúde do trabalhador.
268
Anníbal FERNANDES, “Aposentadoria especial”, in Revista de Previdência Social,
nº 173, São Paulo, LTr, p. 250.
269
Raul PORTANOVA. “A aposentadoria especial” in Revista de Previdência Social, nº
149, São Paulo, LTr, p 269.
Enfim, dado os limites do presente trabalho, apenas tecemos breves
considerações sobre as prestações previdenciárias devidas aos idosos e pessoas
com deficiência.
Pensamos que a proteção previdenciária deve fazer parte de um
conjunto de políticas públicas que permitam ao idoso e a pessoa com deficiência
uma vida digna.
7 Benefícios
Assistenciais das
Pessoas Portadoras
de Deficiência e
Idosos
INTRODUÇÃO
Muitas são as ações judiciais, individuais ou coletivas, e as discussões
extrajudiciais travadas, questionando a forma como a Lei Orgânica da
Assistência Social - LOAS - regulou o benefício assistencial de prestação
continuada, garantido por nossa Constituição Federal, artigo 203, V, para idosos
e pessoas com deficiência que não tenham condições de prover à própria
subsistência, nem de tê-la provida pela sua família.
A maioria das ações tem como pedido o aumento da renda “per capita”,
pois a LOAS definiu como família sem condições de prover à subsistência do
idoso ou portador de deficiência sem renda própria, aquela cuja renda "per
capita" seja inferior a ¼ do salário mínimo.
Ocorre que tais tentativas de aumento da renda “per capita”, tanto na
via legislativa, como na via judicial, têm encontrado grandes dificuldades e
resistências, alegando-se grave prejuízo à ordem econômica, ou que a questão já
foi decidida pelo Supremo Tribunal Federal em sede de Ação Direta de
Inconstitucionalidade. Assim, o critério de absoluta miserabilidade tem sido
mantido e está levando a absurdas injustiças, conforme visto no trecho de
depoimento colacionado no início dessas considerações. Porém, mesmo assim,
entendemos que muito ainda pode ser feito, nas vias administrativa, legislativa e
judicial.
Este estudo destina-se, entre outros objetivos, a demonstrar que, mesmo
sem a almejada alteração da renda “per capita”, sem ferir o disposto na decisão
proferida pelo Supremo Tribunal Federal, é possível adotar-se critério de cálculo
mais justo e consentâneo com o disposto em nossa Constituição.
Por outro lado, temos observado que o que mais dificulta o recebimento
desse benefício, não é apenas o critério de miserabilidade, mas a definição, por
parte da LOAS, da deficiência como incapacidade. No seu artigo 20, § 2º, consta
que portador de deficiência é o incapacitado para o trabalho E271 para a vida
270
Fragmentos de depoimento prestado perante membro do Ministério Público Federal
no interior do Estado de São Paulo, relatando corte de benefício assistencial durante o
atual processo de revisão, em razão de que, tendo a mãe arrumado emprego, o
benefício foi cortado pois a família não se encaixa mais no critério de carência exigido
pela LOAS.
271
Em letra maiúscula mesmo, para destacar a necessidade de cumulação desses dois
requisitos para cumprimento da LOAS. Exemplo: uma pessoa cega, analfabeta,
independente. Isso tem gerado muitos problemas, conforme será explicitado
adiante.
Inúmeras famílias carentes estão sendo prejudicadas, tanto as que ainda
não recebem esse benefício quanto as que já o recebem. Ele deveria servir como
uma ponte para o ingresso no mercado de trabalho, fazendo com que a pessoa
com deficiência deixe de ser um beneficiário da assistência social para passar a
ser um segurado do INSS. Não é o que está ocorrendo na prática. Mas o pior
ainda não é isso.
Em cumprimento ao artigo 21 da LOAS, o INSS, em conjunto com
órgãos da assistência social, está procedendo a uma revisão de todos os
benefícios já concedidos e muitos cortes tem sido feitos. Alguns porque a
pessoa com deficiência teria melhorado suas condições pessoais, não sendo mais
considerada incapaz, mesmo não tendo ainda arrumado emprego ou fonte de
renda alguma. Outros porque algum membro da família conseguiu emprego,
mesmo que seja de salário muito baixo, conforme o caso concreto já citado, e
agora a renda “per capita” daquela família está sendo superior a ¼ do salário
mínimo.
Tudo isso, faz com que o Ministério Público Federal precise ir bater às
portas do Judiciário, aguardando que este possa afastar essa grave lesão a esse
direito social de milhares de brasileiros extremamente necessitados. Nesse
sentido, foi proposta a Ação Civil Pública nº 2002.61.00.024335-6, que contém
pedido de âmbito nacional e tramita perante a 23ª Vara Cível da Justiça Federal,
Seção Judiciária de São Paulo/Capital.
O presente estudo reflete ainda as considerações tecidas em tal Ação
Civil Pública e contém sugestões sobre outras medidas que podem ser adotadas
em outras vias.
273
A ERA DOS DIREITOS, 14ª Tiragem, tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de
Janeiro: Campus, 1992. Pg. 16.
274
Para Paulo Bonavides, (in CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL, 11ª edição.
São Paulo: Malheiros Editores Ltda., 2001) existem quatro gerações de direitos
fundamentais ou humanos:
Primeira geração - direitos individuais
“Os direitos da primeira geração são os direitos da liberdade, os primeiros a
constarem do instrumento normativo constitucional, a saber, os direitos civis e
políticos, que em grande parte correspondem, por um prisma histórico, àquela fase
inaugural do constitucionalismo do Ocidente.”p.517
“Os direitos da primeira geração ou direitos da liberdade têm por titular o indivíduo,
são oponíveis ao Estado, traduzem-se como faculdades ou atributos da pessoa e
ostentam uma subjetividade que é seu traço mais característico; enfim, são direitos de
resistência ou de oposição perante o Estado.” p.517
“São por igual direitos que valorizam primeiro o homem singular, o homem das
liberdades abstratas, o homem da sociedade mecanicista que compõe a chamada
sociedade civil, da linguagem jurídica mais usual.” p.518
Segunda geração - direitos econômicos e sociais
“São os direitos sociais, culturais e econômicos bem como os direitos coletivos ou de
coletividades. Nasceram abraçados ao princípio da igualdade, do qual não se podem
separar, pois fazê-lo eqüivaleria a desmembrá-los da razão de ser que os ampara e
estimula.”p.518
Terceira geração - direitos coletivos
“...os direitos da terceira geração tendem a cristalizar-se neste fim de século enquanto
direitos que não se destinam especificamente à proteção dos interesses de um
indivíduo, de um grupo ou de um determinado Estado. Têm primeiro por destino o
gênero humano mesmo, num momento expressivo de sua afirmação como um valor
supremo em termos de existencialidade concreta.” p.523
Quarta geração
“São direitos da quarta geração o direito à democracia, o direito à informação e o
direito ao pluralismo. Deles depende a concretização da sociedade aberta do futuro,
em sua dimensão de máxima universalidade, para a qual parece o mundo inclinar-se
no plano de todas as relações de convivência.” p.525.
eliminavam tais pessoas. A Lei das XII Tábuas, na Roma antiga, autorizava os
patriarcas a matarem seus filhos defeituosos, o mesmo ocorrendo em Esparta,
onde os recém-nascidos frágeis ou deficientes eram lançados do alto do Taigeto
(abismo com mais de 2.400 metros de profundidade)275. São exemplos de
“civilizações” antigas, mas ainda hoje, há países desenvolvidos que
permitem/incentivam o aborto de crianças em razão da deficiência do feto
detectada durante a gravidez.
Fica demonstrado que, mesmo como titulares de direitos humanos, se o
exercício do mais elementar deles (a vida) foi e ainda é tão ferido, o exercício
dos demais direitos ainda é objeto de muita luta. O direito ao recebimento do
benefício assistencial não é diferente.
No Brasil, tem se trabalhado pelo reconhecimento da pessoa com
deficiência como titular de direitos sociais. Entre estes, o direito à assistência
social.
Nossa Constituição, seguindo a doutrina majoritária mencionada, trata
da assistência social como direito fundamental, na categoria dos direitos sociais,
pois no Título II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais, referiu-se à
assistência social, no artigo 6º, do Capítulo II, dos Direitos Sociais, da seguinte
forma:
“São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”
Mais adiante, em Seção específica, no título concernente à Ordem Social, dispõe que:
“A assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à
velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa
portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de
275
Cfe. Relatório de Atividades do Ministério Público do Trabalho para a Inserção
da Pessoa Portadora de Deficiência no Mercado de Trabalho - 2000 -, p. 37/39.
prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme
dispuser a lei.”
Assim, não estamos aqui falando de um favor ou caridade276, como
tradicionalmente a assistência social foi tratada em nossa história277, mas de um
direito fundamental, garantido constitucionalmente a quem dela necessitar.
7.2 DO BENEFÍCIO ASSISTENCIAL COMO INSTRUMENTO DE
CIDADANIA
Quando se fala em assistência social, uma célebre pergunta, que inclusive
já foi tema de redação de um dos maiores vestibulares do Brasil, é sempre
lembrada: “dar o peixe ou ensinar a pescar?” 278
A conclusão a que freqüentemente se chega, é sobre a impossibilidade
de se optar por apenas uma das duas condutas. Apenas “dar o peixe”, leva a
uma conduta caritativa que em nada contribui para a inclusão social da pessoa
humana. Por outro lado, ninguém aprende nada de “estômago vazio”.
O benefício assistencial de prestação continuada, previsto para idosos e
portadores de deficiência na nossa Constituição Federal, vem estabelecido e, em
alguns pontos, foi regulado exatamente com esta dupla finalidade: “dar o peixe
enquanto se ensina e se oferece condições para a pesca”. Prova disso é o
disposto no artigo 24, § 2º da Lei Orgânica da Assistência Social, segundo o
qual, os programas voltados ao idoso e à integração da pessoa portadora
276
Cfe. ALDAÍZA SPOSATTI, Professora Titular de Pós-Graduação em Serviço Social
da PUC em São Paulo, Argentina e Portugal, no Prefácio da obra “As Primeiras-
Damas e a Assistência Social - relações de gênero e poder.”, de IRAILDES CALDAS
TORRES. São Paulo: Cortez, 2002:
“A benemerência, com respaldo governamental, foi abolida pela Constituição de 1988 ao
criar a assistência social como direito de seguridade, isto é como proteção social. Há que
se distinguir fortemente, a assistência social de uma prática pessoal e até mesmo grupal.
Como seu estatuto de política social, a LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social - torna
este trânsito muito claro ao defini-la como dever ser para o Estado, o direito do cidadão à
seguridade. A ação governamental deve ser submetida à orçamentação, ao controle
social e à universalização de direitos, o que na prática, não se estabelece nas ações de
benemerência.”
277
Idem:
“Do ponto de vista do direito à cidadania, a ação social paralela ao governo realizada pela
primeira-dama é a anti-presença do direito e a configuração plena da benemerência
como prática do favor. Este caráter é inerente ao fato de ser ‘esposa do governante’
mesmo que a personalidade dessa mulher e sua ética pessoal nas relações sociais seja de
outra ordem. Não se trata sequer de uma ação filantrópica pois esta é do âmbito privado
exercida com dinheiro particular e não público, ainda que o cidadão possa descontar
suas doações ao imposto de renda.”
278
Cfe. EUGÊNIA A G FÁVERO, no parecer prolatado nos autos da ação de rito
ordinário nº 2001.61.07.000276-3, da 1ª Vara Federal em Araçatuba/SP, publicado na
Revista de Direito Social, vol. II. Porto Alegre: Editora Notadez.
de deficiência serão devidamente articulados com o benefício de
prestação continuada estabelecido no artigo 20 desta lei.
No entanto, a prática vem demonstrando que para obter esse benefício,
a pessoa tem que demonstrar justamente o contrário: as suas incapacidades e sua
total falta de condições de integrar-se. Será que foi essa a finalidade de nossa
Constituição Federal? Acreditamos que não, e é esta análise que passaremos a
fazer.
279
A esta mudança da sociedade para envolver grupos que estariam excluídos por falta
de condições adequadas é que se chama de INCLUSÃO. Tal processo fica muito
claro no texto da Resolução nº 45/91, aprovada em 14/12/90, da Organização das
Nações Unidas - ONU - , segundo o qual “a Assembléia Geral solicita ao Secretário-
Geral uma mudança no foco do programa das Nações Unidas sobre deficiência
potenciais e as capacidades dos portadores de deficiência, por esta lei, ela deve
demonstrar exatamente o contrário.
Nem se alegue que esta definição é válida apenas para concessão do
benefício assistencial. Nossa Constituição estabeleceu este benefício para a
pessoa com deficiência e não para a pessoa incapaz, termos que não são
sinônimos e não deveriam ser associados para qualquer fim, sob pena de
se estimular a não preparação dessas pessoas para a vida em sociedade como
está acontecendo na prática, no Brasil, em razão dessa disciplina da LOAS.
A exigência de nossa Constituição para conceder o benefício apenas para
certas pessoas com deficiência era, e ainda é, apenas a ausência de meios de
subsistência.
Ora, o termo “meios de subsistência”, neste caso, não pode ter outra
interpretação que “fonte de renda”. Conforme consta simplesmente dos
dicionários de Língua Portuguesa, a palavra “MEIOS”, indica bens
pecuniários, recursos, haveres.280
Assim, nossa Constituição queria beneficiar aquelas pessoas com
deficiência que não têm ACESSO a qualquer fonte de renda, seja por suas
limitações pessoais (analfabetismo, gravidade da limitação, etc.) ou pelas
limitações do ambiente externo (pessoa com deficiência física que mora em local
sem qualquer acessibilidade para sair de casa, dificuldade em conseguir emprego
apesar de qualificado e de procura incessante, entre outros).
A execução prática disto é até mais fácil do que a atual. O INSS, para
saber se a pessoa é incapaz para a vida independente e para o trabalho, submete
a mesma a uma série de perguntas, algumas até vexatórias, tais como: se é capaz
de cuidar de sua própria higiene, controle dos esfíncteres.
Não fosse o requisito de INCAPACIDADE previsto apenas na LOAS,
bastaria verificar se a deficiência encaixa-se nas definições legais já existentes
(Lei 7.853/89, Decreto 3.298/99, atualmente também na Convenção
Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra
as Pessoas Portadoras de Deficiência, recém promulgada no Brasil pelo Decreto
Presidencial nº 3.956/2001). Se positivo, passaria-se à verificação das condições
pessoais e das condições do ambiente externo que estariam levando ao não
acesso a qualquer outra fonte de renda.
Mas não, atualmente, uma pessoa dita “apenas cega”, acaba não fazendo
jus ao benefício de prestação continuada porque esta deficiência, apesar de
281
“Seja no âmbito de princípios e regras genéricas, seja através de normas específicas,
a Constituição está plena de preceitos relativos à inclusão da pessoa portadora de
deficiência. Por exemplo, dentre os princípios fundamentais (estruturantes)
concebeu-se o Brasil como uma república fundada na dignidade da pessoa humana e
constituída para a redução das desigualdades sociais e a promoção do bem de todos,
sem quaisquer formas de discriminação (art. 1º, III e 3º, III e IV).
Por outro lado, como direito fundamental, consagrou-se o princípio da isonomia
material (art. 5º, caput e inciso I), e como direito social a proibição de qualquer
discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador
de deficiência (art. 7º, XXXI).
No campo da repartição de competências materiais, consagrou-se ser atribuição
comum à União, Estados, Distrito Federal e Municípios a proteção e garantia das
pessoas portadoras de deficiência (art. 23, II), bem como competência legislativa
concorrente aos Estados e à União a edição de normas sobre proteção e integração
social das pessoas portadoras de deficiência (art. 24, XIV).
Como manifesta ação afirmativa, o artigo 37, inciso VIII estipulou que haverá
reserva de cargos e empregos públicos às pessoas portadoras de deficiência.
Dessa forma, a exigência de incapacidade para o trabalho e para a vida
independente é totalmente INCONSTITUCIONAL, partindo-se até mesmo de
uma interpretação sistemática da Constituição (princípio da unidade da
Constituição), pois o próprio texto constitucional parte da premissa de que a
pessoa com deficiência pode e deve trabalhar, tanto que prevê para ela a reserva
de vagas nos concursos públicos. Assim, o conceito adotado pela LOAS se
afasta não apenas da legislação ordinária e dos tratados internacionais de
proteção ao deficiente, mas da própria Constituição.
Também não custa lembrar que a exigência de demonstração da
incapacidade para o trabalho e para a vida independente atenta contra o
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA. Vale aqui trazer a lume as
brilhantes considerações do colega Procurador da República, DANIEL
SARMENTO, feitas por ocasião de ação civil pública buscando impedir a
prática de reforma de militar portador assintomático do HIV.
A Constituição brasileira de 1988, à semelhança do que ocorre em diversas cartas
contemporâneas, reconheceu a dignidade da pessoa humana como fundamento da República
Federativa do Brasil. (art. 1º, III, C.F.). A proclamação solene do princípio da dignidade da
pessoa humana no primeiro artigo do texto constitucional é rica em simbolismo. A Carta de
1988 - Constituição cidadã, nas palavras do saudoso Ulisses Guimarães - representa um
marco essencial na superação do autoritarismo e na restauração do Estado Democrático de
Direito, timbrado pela preocupação com a promoção dos direitos humanos e da justiça social no
282
Teria sido indeferido pedido de benefício assistencial pelo INSS, por não ter sido
atendido o requisito de “perspectivas” de incapacidade profissional e pessoal por um
bebê na faixa de 08 (oito) meses, com membros superiores atrofiados, portanto que tem
deficiência física, mas que se locomove muito bem para a idade, com o uso bastante
competente dos membros inferiores, e tem desenvolvimento intelectual comum.
sem idade para o trabalho, portanto, até 16 (dezesseis) anos de idade, não se
pode fazer essa verificação, basta apenas que se verifique se a deficiência
encaixa-se nas definições legais.
É justamente nesse sentido a Recomendação do Ministério Público
Federal nº 30, publicada no Diário da Justiça - Seção 1, nº 180, em 04 de
outubro de 2001, JÁ ACOLHIDA PELO INSS.
Em tal recomendação consta que:
as distorções entre a Lei Orgânica da Assistência Social e o artigo 203, inciso V da
Constituição Federal, no sentido de se qualificar a pessoa portadora de deficiência como
incapaz para o trabalho e para a vida independente, enquanto a Constituição exige apenas
ausência de meios de manutenção, têm militado contra a atual política de inclusão da pessoa
portadora de deficiência, a qual deve ser vista como alguém com potencial para o trabalho, sem
prejuízo de, às vezes, ainda necessitar do benefício assistencial, que não deve ser entendido como
favor, mas como direito garantido por nossa Constituição;
há inúmeras reclamações no sentido de que o Benefício de Prestação Continuada,
previsto na LOAS, vem sendo negado para crianças com deficiência sob o argumento médico de
que aquela deficiência não geraria incapacidade para a vida independente e para o trabalho;
em reunião no dia 17 de setembro de 2001, nesta Procuradoria da República, na
presença da Coordenadora Nacional de Benefícios por Incapacidade, foi relatado que tem
sido verificado nas perícias se a criança com deficiência teria
“perspectivas” de vida independente e capacidade para o trabalho e, em
caso positivo, os pedidos de benefícios são negados;
tal conduta, além de fugir totalmente ao que determinou a Constituição Federal, no
seu artigo 203, inciso V (garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa
portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família), também está contrariando a própria Lei
Orgânica da Assistência Social que define, no artigo 20, § 2º, pessoa portadora de deficiência
como incapaz para o trabalho e para a vida independente. Se toda criança é incapaz
para o trabalho e para a vida independente, na perícia, basta que se
verifique se a criança é portadora de deficiência, nos termos definidos no
Decreto 3.298/99 e na Lei 10.098/00;
a exigência de ausência de “perspectivas” de vida independente e de capacidade para o
trabalho para a concessão do benefício, além de acrescentar um requisito não
previsto na Lei Orgânica da Assistência Social, representa grave constrangimento
à família da criança com deficiência pois o benefício foi garantido em nossa Constituição para a
pessoa com deficiência de família carente e o que se espera é que toda criança com deficiência
tenha perspectivas de vida independente e de capacidade para o trabalho, não podendo essa
condição representar empecilho para obter aquilo que lhe é de direito.
Com base nestes “considerandos” foi então recomendado, com
fundamento no artigo 6º, inciso XX, da Lei Complementar nº 75/93, à
DIRETORIA DE BENEFÍCIOS DO INSS, que expedisse Ordem de Serviço
no sentido de que, em se tratando de pedidos de benefício assistencial para
criança (0 a 12 anos) ou adolescente sem idade para o trabalho (até 16 anos), não
se proceda à análise da incapacidade para a vida independente e para o trabalho,
já que esta é presumida em razão da tenra idade, bastando que se verifique se a
deficiência se encaixa nas definições já existentes. Ressaltou-se que tal
procedimento não geraria qualquer interferência em critérios médicos, mas
refletiria apenas uma necessidade de adequação ao disposto na legislação
infraconstitucional, que vem sendo descumprido.
Esta recomendação está sendo cumprida pelo INSS, tanto que na
Orientação Interna INSS/DIRBEN nº 61, de 16 de janeiro de 2002, no seu
artigo 9º, já consta que, em caso de benefício requerido para criança ou
adolescente de até 16 (dezesseis) anos, de família que não tenha renda suficiente
para prover à sua subsistência, a equipe médica deverá apenas verificar se a deficiência
se encaixa nas definições legais já existentes, pois a incapacidade para o trabalho e para vida
independente, em face da tenra idade, já é presumida.
283
V. Lei 8.842/94, que define a Política Nacional do Idoso e cria o Conselho Nacional
do
Idoso, ao prever, em seu artigo 2º, que pessoa idosa é aquela maior de 60 anos.
menos 65 (sessenta e cinco) anos, a LOAS, mais uma vez na contramão de
direção, vem estabelecer como idade mínima 67 (sessenta e sete) anos.
Isso seria apenas lamentável, mas não seria inconstitucional se não fosse
a existência do princípio constitucional de vedação ao retrocesso social284.
Como visto, a concessão do benefício de prestação continuada reveste a
natureza de concretização de direitos fundamentais e sociais consagrados na
Constituição Federal.
Nesse contexto, trata-se de norma que não pode ser revogada ou
substituída por outra que acarrete retrocesso na implementação do direito social.
Com efeito, embora as normas de eficácia limitada - como muitas vezes
ocorre com aquelas de prescrição de direitos sociais, tidas como programáticas -
não possibilitem a plena implementação do direito previsto, elas no mínimo
produzem o efeito de vedar que sejam revogados, ou piorados do ponto vista
social, comandos legais que regulamentavam o dispositivo constitucional.
É o que registra José Afonso da Silva na sua clássica obra
“Aplicabilidade das Normas Constitucionais” 285:
“... a discricionariedade do legislador diante das normas constitucionais de eficácia
incompleta só se verifica quanto à iniciativa de lei integrativa; emitida esta (a preexistência a
isso equivale), a questão passa a ser jurídico-constitucional, visto ter a lei aderido ao ditame da
lei maior, com o quê sua revogação pura e simples abre um vazio que não mais é permitido
constitucionalmente; sendo, no entanto, facultado ao legislador modificar a lei, desde que
mantenha seus termos na conformidade do princípio ou esquema que lhe ditou o constituinte.”
“A idéia aqui expressa também tem sido designada como proibição de ‘contra-
revolução social’ ou da ‘evolução reaccionária’. Com isto quer dizer-se que os direitos sociais e
econômicos (ex: direito dos trabalhadores, direito à assistência, direito à educação), uma vez
obtido um determinado grau de realização, passam a constituir, simultaneamente, uma
garantia institucional e um direito subjectivo. A ‘proibição de retrocesso social’ nada pode fazer
contra as recessões e crises econômicas (reversibilidade fáctica), mas o princípio em análise
limita a reversibilidade dos direitos adquiridos (ex: segurança social, subsídio de desemprego,
284
As considerações que seguem são baseadas nos termos da Ação Civil Pública,
nº 2000.61.00.018178-0, que tramita na Justiça Federal Seção Judiciária de São
Paulo/Capital, cuja petição inicial é da lavra do Procurador da República MARLON
ALBERTO WEICHERT.
285
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais. 3ª edição, 3ª
tiragem. São Paulo: Malheiros, 1999, pp. 129/130.
prestações de saúde), em clara violação do princípio da protecção da confiança e da segurança
dos cidadãos no âmbito econômico, social e cultural, e do núcleo essencial da existência mínima
inerente ao respeito pela dignidade da pessoa humana.” 286 (p. 320)
Nesse contexto, a norma que suprima ou reduza direitos implementados
será inconstitucional:
“O reconhecimento desta protecção de ‘direitos prestacionais de propriedade’,
subjetivamente adquiridos, constitui um limite jurídico do legislador e, ao mesmo tempo, uma
obrigação de prossecução de uma política congruente com os direitos concretos e as expectativas
subjectivamente alicerçadas. A violação do núcleo essencial efetivado justificará a sanção de
inconstitucionalidade relativamente a normas manifestamente aniquiladoras da chamada
‘justiça social’. Assim, por ex., será inconstitucional uma lei que extinga o direito a subsídio
desemprego ou pretenda alargar desproporcionalmente o tempo de serviço necessário para a
aquisição do direito à reforma (cfr. AC TC 39/84- Caso do Serviço Nacional de
Saúde - e Ac 148/94, DR, I, 13/5/94 - Caso das Propinas). De qualquer modo,
mesmo que se afirme sem reservas a liberdade de conformação do legislador nas
leis sociais, as eventuais modificações destas leis devem observar os princípios
do Estado de Direito vinculativos da actividade legislativa e o núcleo essencial
dos direitos sociais. O princípio da proibição de retrocesso social pode
formular-se assim: o núcleo essencial dos direitos sociais já realizado e efetivado
através de medidas legislativas (“lei da segurança nacional”, “lei do subsídio de
desemprego”, “lei do serviço de saúde”) deve considerar-se constitucionalmente
garantido sendo inconstitucionais quaisquer medidas estaduais que, sem a
criação de outros esquemas alternativos ou compensatórios, se traduzam na
prática numa “anulação”, “revogação”, ou “aniquilação” pura a simples desse
núcleo essencial. A liberdade de conformação do legislador e inerente auto-
reversibilidade têm como limite o núcleo essencial já realizado.” (p. 320/321)
No caso dos benefícios assistenciais aos idosos, o retrocesso reside no
seguinte:
enquanto a redação original do artigo 38 da LOAS determinava que a
idade prevista no art. 20 desta Lei reduzir-se-á, respectivamente, para 67 (sessenta e sete) e
65 (sessenta e cinco) anos após 24 (vinte e quatro) e 48 (quarenta e oito) meses do início da
concessão;
a redação trazida pela Lei 9.720, de 30 de novembro de 1998 aniquila
com essa “expectativa” de que, ao menos a partir de um certo tempo a partir da
edição da lei, a idade mínima seria de 65 (sessenta e cinco) anos.
A caracterização do retrocesso social, ao nosso ver, é nítida, ainda que
seja bastante controvertida para ser defendida em juízo, mas vejamos.
286
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição.
2. ed. Coimbra : Almedina, 1998.
O legislador alterou a norma original com a clara intenção de que o
benefício venha a atingir menos pessoas do que poderia. As razões, mesmo se
explicadas do ponto de vista econômico287, não são justificáveis, pois a redução
paulatina da idade mínima (primeiro 69, depois 67 e, finalmente, 65 anos) tinha
o objetivo de possibilitar ao Administrador a previsão orçamentária necessária.
Ainda que se alegue que isto seria desejável mas há que se entender os
limites orçamentários, não podem ser aceitas desculpas nessa área já que nossa
República tem como um dos fundamentos a dignidade da pessoa humana (art.
1º), e como objetivos fundamentais a erradicação da pobreza e a redução das
desigualdades sociais (art. 3º, inciso III).
O benefício da LOAS é uma ferramenta essencial na consecução de tais
objetivos, já que tem como público alvo pessoas extremamente necessitadas,
sem qualquer outra fonte de renda. Em se tratando de idosos são, na sua
maioria, pessoas já incapacitadas para o trabalho, em razão das mais diversas
doenças, e por não terem ou por terem perdido a sua qualidade de segurado,
não fazem jus a nenhum outro benefício pecuniário.
Ressalte-se que, durante esse período, não houve uma melhora nas
condições sociais de tais pessoas (melhora considerável de sua expectativa de
vida, por exemplo), que justificasse a não necessidade de benefícios para elas. É
um problema social grave que, em parte poderia ter sido evitado se a redação
original da LOAS tivesse sido mantida. Assim, hoje, os idosos entre 65 e 67
anos, sem outras fontes de renda, poderiam estar recebendo o benefício
assistencial. Não estão, daí o retrocesso aqui mencionado.
287
Explicações estas que devem ser vistas com muita reserva, pois o Fundo Nacional de
Assistência Social, que deve ter verbas suficientes para esse benefício, tende a ser
esvaziado com a criação do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza. Fundo
este que não sofre o mesmo controle social que o primeiro e que não precisaria ter
sido criado como via apartada, já que todos os seus objetivos poderiam ser
trabalhados através do constitucional e original Fundo Nacional de Assistência
Social.
mais atividades essenciais da vida diária288, não se pode falar em deficiência para fins
do benefício assistencial de prestação continuada. Não há que se confundir
problemas relativos ao funcionamento de órgãos internos (rins, coração,
pulmão, etc.) com deficiência se isso não gera quaisquer das limitações (físicas,
normalmente relativas a membros, sensoriais ou mentais) acima mencionadas.289
288
Definição de deficiência constante da Convenção Interamericana para a Eliminação
de todas as Formas de Discriminação contra a Pessoa Portadora de Deficiência,
promulgada no Brasil pelo Decreto 3.956/01.
289
Vale citar aqui, ainda, as definições constantes do Decreto 3.298/99, que regulamenta
a Lei
nº 7.853/89:
“Art. 4º. É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes
categorias:
I - deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do
corpo
humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a
forma
de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, etraparesia,
triparesia,
hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral,
membros
com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não
produzem dificuldades para desempenho das funções.
II - deficiência auditiva - perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras,
variando de graus e níveis na forma seguinte:
a) de 25 a 40 decibéis (db) - surdez leve;
b) de 41 a 55 db - surdez moderada;
c) de 56 a 70 db - surdez acentuada;
d) de 71 a 90 db - surdez severa;
e) acima de 91 db - surdes profunda e
f) anacusia.
III - deficiência visual - acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, após
a melhor correção, ou campo visual inferior a 20º (tabela de Snellen), ou ocorrência
simultânea de ambas as situações.
IV - deficiência mental - funcionamento intelectual significativamente inferior à média,
com manifestação dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de
habilidades adaptativas, tais como:
a) comunicação;
b) cuidado pessoal;
c) habilidades sociais;
d) utilização da comunidade;
e) saúde e segurança;
f) habilidades acadêmicas;
g) lazer, e
h) trabalho.
V - deficiência múltipla - associação de duas ou mais deficiências.”
Freqüentemente também se faz confusão entre deficiência mental e
doença mental. A doença mental é uma das situações que caracterizam os
chamados “transtornos mentais” aos quais se refere a Lei 10.216/00. De acordo
com publicação do INEF (Inst. de Estudos e Orientação da Família),
"transtornos mentais são alterações no funcionamento da mente que prejudicam o desempenho
da pessoa na vida familiar, social, pessoal, no trabalho, nos estudos, na compreensão de si e dos
outros, na tolerância aos problemas e na possibilidade de ter prazer na vida". Ainda, os
transtornos mentais abrangem outras situações além da doença mental (caso em
que o transtorno chega a um nível de patologia - psicóticos e esquizofrênicos).
As outras situações, que são abrangidas no termo "transtornos", são as mais
diversas: dependência química, estados de depressão, de mania ou de ansiedade
exagerada; que têm os mais variados motivos, desde fatores genéticos, da
própria personalidade, até estresses, perdas, frustrações, etc.
Estima-se que uma em cada cinco pessoas tenha um diagnóstico de
transtorno. Exemplo de doença mental: em certos estágios a pessoa pode até
pensar que uma simples cadeira pode transformar-se num monstro e atacá-la, o
que não acontece na deficiência mental. Esta é o desenvolvimento mental
incompleto, ou seja, a pessoa tem uma capacidade intelectual diminuída (por
problemas genéticos ou por ausência de estimulação), e fica evidente desde o
nascimento ou mais tarde, mas sempre até o final da adolescência (Dec.
3298/99, art. 4º). Na deficiência mental a pessoa não dispõe de "instrumentos
intelectuais" que a façam ter total compreensão das coisas, mas esta falta de
"instrumentos" pode ser compensada, pelo menos em parte, com a estimulação
adequada e convivência social. No transtorno mental, a pessoa tem todos os
"instrumentos intelectuais" (às vezes são mais inteligentes que a média), mas o
funcionamento desses instrumentos é que é comprometido. Por outro lado,
pode ocorrer que o deficiente mental venha a ter transtorno mental, como
qualquer outra pessoa, mas isso não tem, necessariamente, ligação com a
deficiência.
Não queremos dizer aqui que somos contra a concessão de qualquer
benefício para pessoas com doenças que, não obstante incapacitem para o
trabalho, não geram deficiências, nos termos aqui expostos. É que a
Constituição Federal outorgou o benefício assistencial do 203, inciso V para
pessoas com deficiência e não para incapazes. Quem, inconstitucionalmente
conforme já visto, outorgou o benefício para incapazes foi a Lei Orgânica da
Assistência Social.
Entendemos, no entanto, que nada impede a criação pela via legislativa
de outros benefícios assistenciais para pessoas incapacitadas para o trabalho,
comprovadamente carentes, mas que perderam ou nunca tiveram a qualidade de
segurado do INSS. Aliás, é exatamente isso o que dispõe o artigo 22, § 2º, da
LOAS:
“Poderão ser estabelecidos outros benefícios eventuais para atender necessidades
advindas de situações de vulnerabilidade temporária, com prioridade para a criança, a família,
o idoso, a pessoa portadora de deficiência, a gestante, a nutriz e nos casos de calamidade
pública.”
Por outro lado, pessoas que não se encaixam nos conceitos de
deficiência, mesmo na ausência de criação de outros benefícios pecuniários que
possam assegurar-lhe a subsistência, podem e devem ser contempladas pelos
demais serviços diretos da assistência social: cestas básicas, assistência de
profissionais, acesso a cursos profissionalizantes, entre outros.
Entretanto, na prática, muitas vezes são concedidos judicialmente
benefícios assistenciais a pessoas sem deficiência e que não atingiram a idade
mínima de 67 anos, nos termos do 203, V, pois os Juízes constatam a
incapacidade em razão de doenças e a carência, sem fazer qualquer
encaminhamento aos serviços da assistência social, num claro desvirtuamento
do benefício concedido pela Constituição a idosos e pessoas com deficiência.
7.9 CONCLUSÂO
Cláudio Vereza
8 AS POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS E O PORTADOR DE
DEFICIÊNCIA: DISCURSO OU AÇÃO DE FATO?
Cláudio Vereza
8.1 CONCEITUAÇÃO
9 Atuação do
Ministério Público
nas Áreas do Idoso e
Portador de
Deficiência
INTRODUÇÃO
290
CAPELETTI, Mauro. Os métodos alternativos de solução de conflitos no quadro do
movimento universal de acesso à justiça. Parte do Relatório de abertura do Simpósito
Jurídico W.G. Hart sobre a Justiça Civil e suas alternativas, realizado em Londres,
no Institute Of Legal Advanced Studies, em 7-9.7.1992. Traduzido por J.C. Barbosa
Moreira. Extraído de Revista Forense, vol. 326, pgs. 121/130.
Mesmo que incontestável a dualidade existente entre uma Constituição
real e outra escrita, a última, se não cumprida, uma mera folha de papel, para
não fugir da expressão utilizada por LASSALE291 no século XIX, o perfil atual
do Ministério Público reflete confiança e esperança de que a República
Federativa do Brasil pode até continuar a opor, na prática, uma histórica
resistência, mas, no fundo, ela caminha para o ideário humanístico que suas leis
já reconhecem em essência.
Quanto ao Ministério Público, sua responsabilidade é extrema, se
considerarmos que conquistou e lhe foi confiada parcela importante dessa
transformação social.
Incumbe-lhe dispensar sua força em busca do equilíbrio, diante da
vulnerabilidade característica de um cenário ainda marcado por profundas
desigualdades e preconceitos, onde benefícios gerais que não tenham sua
essência fundada em padrões monetários expressos e palpáveis, não raramente
acabam relegados à retórica demagógica, facilmente aferível pela facilidade com
que se amontoam políticas e leis, sem que se encontre a mesma disposição em
lhes dar efetivo cumprimento.
Tendo isso como realidade, não pode descurar de atuação fincada em
bases cuidadosamente planejadas, em busca dos melhores caminhos e meios
para promover a sua finalidade.
E, ao discorrer sobre os meios, não podemos nos contentar com aqueles
tradicionalmente moldados e perpetuados como base jurídica de um “status quo”
individualista, consagrado na tradicional fórmula “Ticio x Caio”, mas
avançarmos em busca de outros que satisfaçam as exigências proporcionadas
pelas aflitivas demandas sociais que desafiam o mundo moderno,
proporcionando respostas adequadas para os entrechoques de interesses,
característica marcante dos interesses metaindividuais292.
Nesse contexto, é importante reconhecer valorosos instrumentos que
foram igualmente confiados ao Ministério Público, como o inquérito civil e a
ação civil pública, revestidos de meios que possibilitem melhor perseguir a
eficácia, valendo ressaltar, dentre outros, a importância dos poderes
291O autor, em seu livro, faz alusão à célebre frase de Frederico Guilherme IV, que
disse: “Julgo-me obrigado a fazer agora, solenemente, a declaração de que nem no
presente nem para o futuro permitirei que entre Deus do céu e o meu país se
interponha uma folha de papel escrita como se fosse uma segunda Providência”.
LASSALE, Ferdinand. A Essência da Constituição, Rio de Janeiro: Liber Juris Ltda.,
1985. p. 25.
292
A respeito da intensa litigiosidade interna, ou “conflittualità massima” da doutrina
italiana, uma das características básicas dos interesses difusos, vale a pena conferir
a obra de Rodolfo de Camargo Mancuso, “Interesses Difusos, Conceito e
legitimação para agir”, 3ª edição, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994. p. 78/79
notificatórios e requisitórios conferidos, assim como a salutar possibilidade de
compromissar ajustamentos de conduta, instrumentos que conjuntamente se
constituem em forte base de atuação para a realização da missão institucional,
no que tange ao assunto em foco, e que, em seus particulares, serão mais
detalhadamente abordados em texto paralelo a este, sob o título “Os interesses
metaindividuais do idoso e do deficiente”.
De qualquer forma, é sempre importante salientar que os meios não se
bastam por si só!
Lembra MAZZILI293, ao abordar a presença social do Ministério
Público, que “antes de mais nada, é preciso dizer que as garantias, em si mesmas, não
fazem uma instituição, se os homens que a compõem não as merecerem”.
Ainda que somando-se à atuação de outros órgãos e entidades
governamentais e não governamentais igualmente voltados para a consecução
do mesmo fim, a dimensão preconizada para a atuação do Ministério Público
assume maior importância à medida que este não se limite a uma atuação
meramente reativa, mesmo porque, diante das atribuições conferidas e confiadas
e a realidade existente no que tange aos interesses que lhe incumbe promover,
conformar-se ou não indignar-se, de ofício, é impossível ao Ministério Público!
Por tal razão, a atuação e os meios postos à disposição devem ser
analisados sob uma ótica ativa e inclusiva, ressaltando, aliás, que o constituinte
foi extremamente feliz ao não procurar limitar ou imaginar o que mais seja
necessário para que essa mudança de paradigmas sociais efetivamente venha a
ocorrer.
Aqui, faz-se menção à parte final do inciso II do artigo 129 da
Constituição Federal, que ao referir-se às funções institucionais do Ministério
Público, dentre as quais “zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos
serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição”,
deixou em aberto quanto ao que mais o órgão faria para alcançar sua finalidade,
o que se infere mediante as expressões “PROMOVENDO AS MEDIDAS
NECESSÁRIAS A SUA GARANTIA”.
A margem de liberdade confiada ao Promotor de Justiça, assim como as
demais prerrogativas conferidas enquanto destacado agente político, tem como
razão exclusiva de ser justamente a atuação equilibrada, mas decidida, visando a
realização dos interesses que lhe incumbe promover.
Logo, estará promovendo os interesses das pessoas idosas e portadoras
de deficiência, como os interesses sociais de modo geral, o Ministério Público,
quando dedicar grande dose de sua energia para a defesa do patrimônio público
293
MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público. Saraiva, 2001. p.
98
e responsabilização dos usurpadores, eis que a dilapidação do erário fere
mortalmente a crença na finalidade da administração pública, além de
possibilitar que mingüem ainda mais os recursos que deveriam se destinar à
consecução de políticas sociais.
Promove igualmente esses interesses, o Ministério Público, quando
mesmo diante da falta de efetivas políticas de estado, que cedem lugar às
instáveis políticas de governo294, preocupa-se em acompanhar e fazer com que a
discussão e elaboração dos planos, leis de diretrizes orçamentárias e orçamentos
envolvam a necessária participação popular295, além de velar para que sejam
adequadamente destinados recursos para execução das políticas sociais, seja
mediante aqueles recursos legalmente vinculados, seja intervindo, se necessário,
para observância de critérios de razoabilidade e proporcionalidade, quando na
alocação de recursos seja patente o desatendimento a finalidades precípuas da
administração em prol de interesses menos significativos.
Também promove esses interesses quando se preocupa em fazer
cumprir as diretrizes constitucionais voltadas para um conceito mais completo
de cidadania, efetivando o conceito de democracia participativa, onde a
população se torna responsável mais direta pela formulação, execução, usufruto
e fiscalização das políticas públicas, o que muito apropriadamente se dá com os
relevantes papéis atribuídos aos Conselhos responsáveis pelo controle social,
cujo dinamismo muito incumbe ao Ministério Público promover, vez que, na
prática, não em raras situações, o poder público ainda muito tem funcionado
como grande algoz, criando inúmeras dificuldades, seja não criando os
conselhos, seja implementando mecanismos de controle meramente fictícios,
diminuindo-lhe a representatividade, manipulando-lhe a paridade, impedindo-
lhe o funcionamento, ocultando-lhe as contas, dentre tantos empecilhos que cria
para indevidamente sentir-se infenso ao controle social.
No caso do Ministério Público, enfim, quanto maior for a capacidade de
reconhecer a parcela de responsabilidade que lhe é atribuída e,
conseqüentemente, de envolver-se com a dinâmica que o assunto importa, mais
se verá próximo de outros atores sociais, assim como dos próprios destinatários
294
As políticas de estado são mais duradouras e preferênciais porque, embora também
fiquem sujeitas a adequações ao logo do tempo, não pressupõem a dependência que
hoje ocorre com relação às políticas de governo, extremamente vulneráveis às
forças políticas ou aos fatores reais de poder que transitoriamente governam ou
interferem diretamente na priorização dos interesses a serem efetivamente
realizados, que não raramente desobedecem a um mínimo senso de decência com a
imensa massa de excluídos. Uma breve pesquisa sobre o número de leis,
programas e projetos relacionados às pessoas idosas e portadores de deficiência,
afora os inúmeros que estão “na forma”, permite formar idéia sobre o grande
interesse que desperta sua discussão e uma grande debandada quando se trata
verdadeiramente de sua execução.
295
Vide artigo 48, parágrafo único da Lei Complementar nº 101, de 04.05.2000.
diretos das políticas sociais em foco, cada vez mais ativos e combativos,
possibilitando, assim, maior conhecimento e conjugação de esforços.
Da mesma forma que todo ser humano, não custa lembrar, os idosos e
portadores de deficiência, são pessoas dotadas de capacidades e necessidades,
incumbindo aos povos entendê-las e respeitá-las como direitos e não como
dádivas, promovendo, para tanto, sua autonomia, integração e efetiva
participação na sociedade, cujos resultados, bem sabemos, desmistificam os
arautos da empulhação, que costumam sobreviver postergando a dignidade
alheia.
10 Marcos Legais:
Âmbitos Federal,
Estadual e Municipal
10 MARCOS LEGAIS
25
Art. 17, § 1º, da Lei 8.429/92
resguardar eventual direito de regresso com relação a terceiros, a primeira
cláusula deve limitar-se a descrever os danos, sem imputá-los ao compromitente.
2) Sendo o caso, neste momento, poderá o reclamado fazer a ressalva de
que não renuncia ao eventual direito de regresso em relação a terceiros.
3) A questão de eficácia do compromisso, ocorrerá somente a partir da
homologação do arquivamento do Inquérito Civil.
TERMO DE COMPROMISSO
Promotor(a) de Justiça
11.2.1.2 Recomendação
RECOMENDAÇÃO nº
Promotor(a) de Justiça
Compromissário:____________________________________
Psicóloga: _________________________________________
O FATO
O "Parquet" tem como uma das funções institucionais, promover a ação civil
pública, para a proteção dos interesses difusos e coletivos. São interesses
difusos, aqueles dados a todos os indivíduos, independentemente de grupo ou
associação. Neste sentido explica o Professor Celso Ribeiro Bastos “in verbis”:
"As características sociológicas, econômicas e tecnológicas da nossa época
vieram impor a adoção de outras modalidades de direitos para abarcar os
fenômenos que transcendem a individualidade, que apanham o indivíduo no
contexto de um grupo precisamente definido ou, então, no seio de uma
multidão de limitações juridicamente imprecisas, São ambos direitos
metaindividuais, Os primeiros chamados 'coletivos' e os últimos 'difusos'."
Para o caso em tela, o Ministério Público defende os interesses da sociedade
como um todo, já que a conduta infratora dos comerciantes, atinge todos os
indivíduos da comunidade. Na verdade, a coletividade deveria ser protegida pela
entidade jurídica de direito público de nível municipal, no entanto, esta não
toma qualquer atitude contra os comerciantes, produzindo o perigoso hábito de
despejar suas mercadorias nas vias e passeios da cidade de ..............
Neste contexto entra o Ministério Público, que tem como uma de suas
obrigações defender os interesses da coletividade, que desamparada, sofre as
conseqüências dos atos irregulares dos proprietários e/ou responsáveis pelos
estabelecimentos comerciais. Ainda citando o Professor Celso Ribeiro Bastos ,
transcrevemos trecho pertinente ao assunto:
"O Ministério Público tem a sua razão de ser na necessidade de ativar o Poder
Judiciário em pontos em que este renasceria inerte, porque o interesse agredido
não diz respeito a pessoas determinadas, mas a toda coletividade. Mesmo com
relação aos indivíduos, é notório o fato de que a ordem jurídica por vezes lhes
confere direitos sobre os quais não podem dispor. (...) Trata-se portanto de
instituição voltada ao patrocínio desinteressado de interesses públicos, assim
como privados, quando merecerem um especial tratamento do ordenamento
jurídico."
O DIREITO
A atitude dos comerciantes está proibida no Código de Posturas Municipais, Lei
Municipal nº .... de ....de ...... de ......., mais precisamente no artigo .... “in verbis”:
Artigo .... - É proibido embarcar ou impedir, por qualquer meio, o livre trânsito
de pedestres ou veículos nas ruas, praças, passeios, estradas e caminhos
públicos, exceto para efeito de obras públicas ou quando exigências policiais o
determinarem.
Pelo que se pode notar, a lei expressamente proíbe a prática de colocar objetos,
ou similares, nas vias e em passeios públicos, de forma direta ou indireta
atrapalhando o trânsito de veículos e pedestres.
A mesma lei, dispõe que é infração qualquer descumprimento ao que está
disposto no seu texto. “in verbis”:
Artigo .... - Constitui infração toda ação ou omissão contrária as disposições
deste Código ou de outras Leis, decretos, Resoluções ou Atos baixados pelo
Governo Municipal no uso do seu Poder de Polícia.
(...)
O PEDIDO LIMINAR
O PEDIDO DEFINITIVO
O Ministério Público, REQUER, por fim, que V. Ex.a., determine a citação dos
comerciantes citados nesta inicial, e por edital os demais que são incertos ou
desconhecidos, para se quiserem responder no prazo legal a presente ação.
REQUER, provar o alegado por todas as formas em direito permitidas,
notadamente testemunho pessoal dos réus, prova pericial, testemunhal e juntada
posterior de documentos. Por último, REQUER a condenação dos réus na
obrigação de fazer, ordenando que os mesmos retirem de forma definitiva, os
objetos de suas propriedades das vias ou passeios públicos, sob pena de
apreensão e recolhimento ao depósito judiciário, para serem alienados em hasta
pública, bem como o pagamento de multa diária de R$ 1.000,00 (mil reais) e
encargos decorrentes deste depósito.
_____________________
Promotor de Justiça
O Réu está situado na Rua das ..........., .............., nesta cidade, sendo dirigido
pelo senhor ...................
Conforme se vê no Inquérito Civil nº .................., em anexo, o referido asilo,
que deveria oferecer serviços adequados aos idosos abandonados e/ou em
situação de risco que para lá são encaminhados, apresenta deficiente estrutura
física, condições ruins de higiene, número de funcionários insuficiente,
inexistência de atividades ocupacionais e de lazer aos idosos, eletrodomésticos
em péssimo estado de conservação, mobília velha, assistência médica e
odontológica precária, além da falta de medicamentos, inexistência de piso
antiderrapante e banheiros adaptados.
Comprovam a situação anteriormente descrita os Relatórios da Assistente
Social da Promotoria de Justiça (fls. .........) e da Vigilância Sanitária (fls. ..........), e
as fotos (fls. ..........) insertos no Inquérito Civil nº ..................
Dessa forma, não atendendo às necessidades básicas dos idosos que abriga,
o Asilo .................. vem desrespeitado o art. 230 da Constituição Federal, os arts.
10, I, a e b, e VII, a e d, da Lei 8.842/94 e o Decreto ......., a NBR 9050 e as
demais leis infringidas, conforme se afere nas fls. 43 do Inquérito Civil nº ........
V - DOS PEDIDOS
Termos em que
Pede deferimento.
____________________
Promotor de Justiça
______________________________
PROMOTOR DE JUSTIÇA
DOS FATOS
DO DIREITO:
A par da ausência de inscrição da Associação junto ao Conselho
Municipal de Assistência Social que constitui por si só, uma afronta às normas
que regem a matéria, tal entidade deverá ser dissolvida, nos termos do
Decreto-lei nº 41, de 18 de novembro de 1966, que disciplina as normas a
respeito da manutenção e dissolução das sociedades civis de fins assistenciais.
Conforme dispõe o artigo 1º do referido documento legal, "toda
sociedade civil de fins assistenciais que receba auxílio ou subvenção do
Poder Público ou que mantenha, no todo ou em parte, com contribuições
periódicas de populares fica sujeita a dissolução nos casos e formas
previstos neste decreto-lei."
Já, o artigo 2º, inciso I, trata da hipótese de dissolução, tendo em vista a
falta de atividades assistenciais, a qual se amolda sem restrição ao caso e tela: "A
sociedade será dissolvida se: deixar de desempenhar efetivamente as
atividades assistenciais a que se destina.
Ainda com relação ao mesmo documento legal mais precisamente em
seu artigo 3º, fixa-se a competência do Ministério Público para requerer a
dissolução judicial da sociedade: “Verificada a ocorrência de alguma das
hipóteses do artigo anterior, o Ministério Público, de ofício ou por
provocação de qualquer interessado, requererá ao Juiz competente a
dissolução da sociedade."
Por analogia, aplica-se também ao caso disposto no art. 1.204 do Código
de Processo Civil, que disciplina a atuação do Ministério Público na fiscalização
de Fundações, que são entes sociais do terceiro setor que muito se assemelham
com as associações assistenciais sem fins lucrativos, diferenciando-se uma da
outra basicamente pela questão patrimonial, já que a associação pode ser
instituída e alicerçada sem patrimônio, enquanto que as fundações necessitam,
desde seu nascedouro, de um lastro patrimonial para embasar e assegurar suas
pretensões.
No que concerne à fiscalização realizada pelo Conselho Municipal de
Assistência Social, de acordo com a Lei Orgânica da Assistência Social (Lei nº
8.742/93), tal medida constitui uma das atribuições inerentes ao referido
Conselho. Senão vejamos:
DO PEDIDO:
Nestes termos,
Pede deferimento.
11.2.2.1.1 Portaria
PORTARIA
(Cidade),
Promotor(a) de Justiça
(Cidade),
Senhor(a) ,
REQUISITA
Promotor(a) de Justiça
RECOMENDAÇÃO nº .../.....
RECOMENDA:
__________________________
Promotor(a) de Justiça
RECOMENDAÇÃO nº.../......
1 ) que seja observada a reserva 10% (dez por cento) do total de vagas nos
concursos públicos para pessoas portadoras de deficiência, até que se cumpra o
percentual de 5% (cinco por cento), no âmbito de todo o quadro de pessoal da
administração direta e indireta;
__________________________
Promotor (a) de Justiça
COMPROMISSÁRIA:________________________________________
ADVOGADO DA COMPROMISSÁRIA: ________________________
3. ENTRADA DO EDIFÍCIO
4. CIRCULAÇÃO HORIZONTAL
5. CIRCULAÇÃO VERTICAL
Inclinação Desníveis
Número Comprimento
admissível de máximos de
máximo de máximo de cada
cada segmento cada segmento
segmentos de segmento de
de rampa de rampa (d
rampa (n) rampa (m)
(i = %) = m)
5,00 (1:20) 1,500 --- 30,00
1,000 14 16,00
6,25 (1:16)
1,200 12 19,20
8,33 (1:12) 0,900 10 10,80
0,274 08 2,74
0,500 06 5,00
10,00 (1:10)
0,750 04 7,50
• em caso de reforma, quando houver alguma impossibilidade técnica,
admite-se rampa com inclinação ou declividade de acordo os limites
máximos estabelecidos na tabela abaixo:
7 . SANITÁRIOS
• a porta de acesso deverá ter vão livre mínimo de 80cm, deverá abrir para
fora da cabina e deverá tender aos demais critérios definidos pela NBR
9050 da ABNT;
• a disposição das peças sanitárias e do mobiliário interno deverá permitir
a completa abertura da porta e circulação de uma cadeira de rodas, de
acordo com a NBR 9050 da ABNT;
• a largura mínima do sanitário deverá ser 150cm e o comprimento
mínimo170cm, de acordo com a NBR 9050 da ABNT;
• deverá ser garantido espaço livre lateral ao vaso de, no mínimo, 80cm de
largura por 110cm de comprimento, de acordo com a NBR 9050 da
ABNT;
• deverão ser instaladas barras de apoio junto ao vaso sanitário de acordo
com a NBR 59050 da ABNT;
• deverá ser garantido espaço livre frontal ao lavatório de 80cm de largura
por 120cm de comprimento, de acordo com a NBR 9050 da ABNT;
• o sanitário deverá ser sinalizado com o símbolo internacional de acesso
conforme critérios definidos pela NBR 9050 da ABNT.
8 . SALAS DE AULA
1. as portas das salas de aula deverão ter vão livre mínimo de 80cm
de largura, soleira com desnível máximo de 1,5cm e deverá
atender aos demais critérios definidos pela Lei Estadual ..............
e pela NBR 9050 da ABNT;
2. as salas de aula deverão ter espaço para acomodação de aluno
em cadeira de rodas e espaço de 150cm de diâmetro para
manobra, conforme a NBR 9050 da ABNT;
9 . AUDITÓRIOS
1 - .......................
2 - .......................
3 - .......................
4 - .......................
5 - .......................
I - DOS FATOS
Dentre as......... vagas oferecidas, ....... são para o cargo de delegado de polícia,
....... para o cargo de médico-legista, ....... para o cargo de perito criminal, ......
para o cargo de escrivão de polícia, ......... para o cargo de detetive, ...... para o
cargo de vistoriador de veículos, ...... para o cargo de identificador, ....... para o
cargo de auxiliar de necropsia.
Entretanto, tal proposta de Aditamento não pôde ser aceita pelo Ministério
Público, pois previa a republicação dos editais, mas não determinava abertura de
novas inscrições, continuando portanto, a não atender aos ditames legais.
Esses são os fatos sobre os quais se embasa a presente ação civil e cujos
fundamentos jurídicos passaremos a delinear.
II - DO DIREITO
Por sua vez, a Constituição do Estado de.............., no seu art. ......, assim
dispõe:
"Art. ...... A lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para
provimento com portador de deficiência e definirá os critérios de sua admissão".
"Art. 2º. Ao Poder Público e aos seus órgãos cabe assegurar às pessoas
portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive
dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social ao
amparo à infância e à maternidade, e de outros que decorrentes da Constituição
e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico.
Parágrafo Único. Para o fim estabelecido no “caput” deste artigo, os órgãos e
entidades da administração direta e indireta devem dispensar, no âmbito de sua
competência e finalidade, aos assuntos objetivos desta lei, tratamento prioritário
e adequado, tendente a viabilizar, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas:
(...)
III - na área da formação profissional e do trabalho:
(...)
d) a adoção de legislação específica que discipline a reserva de mercado de
trabalho, em favor das pessoas portadoras de deficiência, nas entidades da
Administração Pública e do setor privado, e que regulamente a organização de
oficinas e congêneres integradas ao mercado de trabalho, e a situação, nelas, das
pessoas portadoras de deficiência".
Portanto, vislumbramos, seja pelas normas constitucionais, seja pelo
mandamento na Lei 7.853/89, que competem aos Estados, Municípios e a
própria União criarem leis reservando percentual dos cargos e empregos
públicos para as pessoas portadoras de deficiência, na esfera da sua
Administração.
Nem se alegue que tais editais não contemplaram a reserva de vagas, visto
que a função de policial civil não poderia ser desenvolvida por pessoa portadora
de deficiência, pois a compatibilidade da deficiência com o exercício da
atividade, deverá ser auferida por "junta médica oficial", conforme determina o
art. 1º § 3º da Lei..............
Não compete ao Administrador Público, que tem o dever de dar "tratamento
prioritário e adequado a pessoa portadora de deficiência", previamente escolher,
quando da elaboração do edital, qual função pode ou não ser desenvolvida por
pessoa portadora de deficiência, pois há diversos tipos e formas sob as quais ela
se apresenta.
O edital deve sempre conter a reserva de vagas as pessoas portadoras de
deficiência, conforme determina a Constituição Federal e a nossa respectiva lei
estadual.
Isto significa que a pessoa portadora de deficiência é apta para desenvolver
qualquer atividade pública? Obviamente que não. Porém não é o edital que vai
excluí-la. Quem irá determinar se aquela deficiência (e há diversos tipos e graus)
é compatível com o exercício daquela atividade é a junta médica oficial e não
quem elabora o edital.
"A comprovação da deficiência será feita sem ônus, por meio de laudo,
emitido após perícia realizada por junta médica oficial"
Portanto, a exigência da compatibilidade da deficiência com as atribuições do
cargo é necessária e exigida legalmente como condição para a "investidura em
cargo ou emprego público". Isso é inquestionável.
O que não se admite é a exclusão antecipada, em sede de edital, de todas as
pessoas portadoras de deficiência se candidatarem à reserva legal de 10% dos
cargos contidos nos Editais em tela.
A norma constitucional, combinada com a lei ordinária que a regulamentou
são cogentes e, portanto, de aplicação obrigatória pelo administrador. Se a lei
exige a reserva, o administrador não possui discricionariedade suficiente para
dispensá-la.
Nem se argumente que muitas pessoas portadoras de deficiência se
inscreveram para os concursos e conseqüentemente não haveria nulidade no
edital. As pessoas portadoras de deficiência têm esse direito como qualquer
cidadão, logicamente.
Mas o fundamento da reserva legal de vagas para as pessoas portadoras de
deficiência é diverso. O que se pretende através desta Ação afirmativa é,
realmente, garantir o cumprimento do princípio da igualdade, através da
proteção jurídica da reserva de cargos.
A ação afirmativa, ou affirmative action, como definiu Suprema Corte Norte
Americana, surge como exigência de favorecimento das pessoas portadoras de
deficiência, face ao preconceito existente na sociedade em relação a este
segmento, visando uma igualação jurídica, assegurando assim o princípio
constitucional de igualdade.
Como brilhantemente assevera a Dra. Carmem Lúcia Antunes Rocha, atual
Procuradora Geral do Estado, em artigo publicado sobre o tema:
Daí conclui-se, que os Editais ora impugnados contém sim, uma grande dose
de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência.
Logicamente essa discriminação é velada.
Não é politicamente correto discriminar o deficiente.
Muitas vezes, são criadas teses jurídicas mirabolantes para não respeitar o
direito da pessoa portadora de deficiência, com o único intuito de justificar algo
que não se quer dizer: não queremos a pessoa portadora de deficiência conosco.
Ela não é um problema nosso.
Editais como esses da Secretaria Estadual de Segurança Pública do Estado de
.............. só revigoram a necessidade de se ter essas Ações Afirmativas para
proteger a pessoa portadora de deficiência contra o seu maior inimigo: a
discriminação.
Felizmente, este não é o entendimento da Polícia Civil dos outros Estados da
Federação, tanto que fazemos juntar aos autos, cópias dos Editais de concursos
públicos para delegado de polícia, médico legista, odontolegista, escrivão de
polícia, perito criminal, auxiliar de necropsia, datiloscopista, agente de polícia e
outros, do Estado de Alagoas e Santa Catarina, onde a respectiva lei estadual
que garante a reserva de vagas para pessoas portadoras de deficiência foi
observada.
Se todos os editais para cargos ou empregos públicos tem que reservar 10%
das vagas para as pessoas portadoras de deficiência, conforme determina a lei.
Se os editais da Polícia Civil de tantos outros Estados, também cumprem a
reserva de vagas para as pessoas portadoras de deficiência,
Por que os Editais da Polícia Civil do Estado de.............. não deverão
cumprir?
Será que a atividade que o policial civil deste Estado desenvolve é diferente
da exercida pelo policial civil do Estado de Santa Catarina ou Alagoas?
Será que um portador de deficiência só poderá ter direito a reserva legal da
Polícia Civil, nos concursos de outros Estados?
Será que uma pessoa que tenha uma das pernas amputada, não pode ser um
escrivão de polícia, que tem função meramente administrativa, segundo o
próprio edital e a Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado de.............., Lei nº..... ?
Tudo se resume em uma questão de discriminação.
E tal discriminação é vedada nos arts. 1º, II e III e art. 7º XXXI, da
Constituição Federal.
"Regem-se pelas disposições desta lei, sem prejuízo da ação popular, as ações
de responsabilidade por danos causados:
(...)
IV - qualquer outro interesse difuso ou coletivo".
"A lei 7.347/85 é unicamente adjetiva, de caráter processual, pelo que a ação
e a condenação devem basear-se em disposição de alguma norma substantiva, de
direito material, da União, do Estado ou do Município a infração a ser
reconhecida e punida pelo Judiciário, independente de qualquer outra sanção
administrativa ou penal, em que incida o infrator. Nem mesmo a ação popular
exclui a ação civil pública, visto que a própria Lei admite expressamente a
concomitância de ambas (art. 1º), bem como enseja medidas cautelares e
concessão de liminar suspensiva do fato ou ato impugnado (art. 4º e 12)."
Por outro lado, com o advento da Lei 8.952, de 13.12.94, o artigo 273 do
Código de Processo Civil recebeu nova redação de modo a permitir com mais
elasticidade e amplitude o deferimento de medidas liminares, inclusive de
natureza satisfativa em ações declaratórias.
V - DO PEDIDO
Termos em que,
Pede Deferimento.
___________________________
Promotor (a) de Justiça
Parágrafo .... O percentual das vagas referido no "caput" deste artigo será
consignado no edital de concurso público para preenchimento dos respectivos
cargos e empregos.
_______________________
Promotor de Justiça
______________________
Promotor de Justiça
I. DOS FATOS
No dia .... de ..... de ...... foi sancionada a Lei nº ....., que em seu artigo ...
concedeu passe-livre aos deficientes físicos e visuais no transporte coletivo
intermunicipal do Estado.
Em ... de janeiro de ..... foi sancionado novo diploma legal, sob o nº ........,
alterando o artigo ... da Lei nº .........., sentido de estender o passe-livre aos
deficientes físicos, mentais e visuais e às pessoas com idade superior a 65 anos
no transporte coletivo intermunicipal. Esse texto legal, dispunha ainda que o
Poder Executivo regulamentaria a Lei no prazo de 1209 dias (artigo ...).
Nesse sentido, no dia ... de .......... de ...... foi editado o Decreto nº ........,
regulamentador da Lei ......., com a nova redação dada pela Lei ..........
Essa postura omissiva do Poder Público fez com que, em ... de ......... de .....,
o Deputado à Assembléia Legislativa deste Estado, Sr. ............., protocolizasse
uma representação solicitando ao Ministério Público providências, no sentido de
que as aludidas normas fossem efetivamente executadas (fls. 02/11).
a) DIMENSIONAMENTO DA CLIENTELA
b) ESTIMATIVA DE CUSTO
III. DO DIREITO
Art. 2º. Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras
de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à
educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo á
infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das
Leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico.
Foi escopo da lei procurar compensar a situação da pessoa que sofre algum
do tipo de limitação física ou psíquica, conferindo-lhe maior proteção jurídica.
Assim, como mero exemplo, o verdadeiro princípio de isonomia consistiria em
conceder mais tempo, nem concurso, a um candidato que tivesse problema
motor, justamente para igualá-lo aos demais candidatos no que diz respeito a
oportunidade de acesso ao cargo cujo preenchimento e cujo desempenho
dependessem dos conhecimentos e não da velocidade de execução das tarefas
escritas.
Art. ..... Fica concedido passe-livre aos deficientes físicos, mentais e visuais e
às pessoas com idade superior a 65 anos no transporte coletivo intermunicipal.
Em observância ao artigo .... desse último texto legal, foi editado em .... de
..... de ....., sob o nº ......, Decreto regulamentador que possibilitasse a
implementação do benefício legal conferido aos deficientes e idosos. Esse texto,
além de procurar definir aqueles considerados deficientes físicos, visuais e
mentais, regula em linha gerais a operacionalização do benefício.
(...)
Ademais, caso esse custo seja compartilhado pelo sistema, uma das
alternativas sugeridas pelo Grupo de Estudo, não se deve descurar que as
empresas que operam esse sistema o fazem por concessão do Poder Público,
sendo justo que arquem com esse ônus.
Nessa seara, foi editada a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, que prevê
expressamente a ação civil pública destinada "à proteção de interesses coletivos
ou difusos das pessoas portadoras de deficiência (artigo 3º, caput)". Ainda, o
mesmo diploma legal estatui que aplicam-se à ação civil pública ali prevista, no
que couber, os dispositivos da Lei nº 7.347/85 (artigo 7º).
HUGO NIGRO MAZZILLI, em sua obra já mencionada, aduz sobre o
tema da legitimidade ministerial:
"Regem-se pelas disposições desta lei, sem prejuízo da ação popular, as ações
de responsabilidade por danos causados:
(...)
IV- a qualquer outro interesse difuso ou coletivo".
"A Lei 7.347/85 é unicamente adjetiva, de caráter processual, pelo que a ação
e a condenação devem basear-se em disposição de alguma norma substantiva, de
direito material, da União, do Estado ou do Município a infração a ser
reconhecida e punida pelo Judiciário, independente de qualquer outra sanção
administrativa ou penal, em que incida o infrator. Nem mesmo a ação popular
exclui a ação civil pública, visto que a própria Lei admite expressamente a
concomitância de ambas (art. 1º), bem como enseja medidas cautelares e
concessão de liminar suspensiva do fato ou ato impugnado (art. 4º e 12)".
Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei
Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público".
(...)
Por outro lado, com o advento da Lei 8.952, de 13.12.94, o artigo 273 do
Código de Processo Civil recebeu nova redação de modo a permitir com mais
elasticidade e amplitude o deferimento de medidas liminares, inclusive de
natureza satisfativa em ações declaratórias.
E prossegue: "A tutela antecipada não é medida cautelar, com liminar, e sim
medida liminar em processo principal, com satisfação imediata do direito
pretendido - solução semelhante às liminares no mandado de segurança e nas
ações possessórias" (Hugo Nigro Mazzilli - Defesa dos Direitos Difusos em
Juízo, Editora Saraiva, 7º edição, 1995, pg. 442).
VI. DO PEDIDO
Termos em que,
Pede Deferimento.
_______________________
Promotor de Justiça
11.3 JURISPRUDÊNCIA RELATIVA AO IDOSO
ACÓRDÃO: 23/10/1997
RELATOR: DES. JALLES FERREIRA DA COSTA
DECISÃO: CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO, A UNANIMIDADE.
RECURSO: APELACAO CÍVEL EM PROCEDIMENTO SUMÁRIO - 43604-7/190
COMARCA: GOIANIRA
PARTES: APELANTE: RAPIDO ARAGUAIA LTDA.
APELADA: MARIA MENDES SILVA
Órgão: SEGUNDA CÂMARA CÍVEL
Relator Des.: ÉDSON ALFREDO SMANIOTTO
EMENTA
AÇÃO INDENIZATÓRIA - DANOS MORAIS E MATERIAIS - PASSAGEIRO
IDOSO QUE, AO ADENTRAR NO ÔNIBUS É JOGADO AO CHÃO -
CONDUTOR QUE PÕE O VEÍCULO EM MOVIMENTO SEM ATENTAR
PARA O INGRESSO DE IDOSOS PELA PORTA TRASEIRA.
Age com negligência o condutor de ônibus que, evidenciando descaso com os idosos
que se utilizam gratuitamente do transporte público, põe em movimento o veículo sem
observar o retrovisor externo e faz com que o passageiro, que ainda procura subir as
escadas, venha a cair no solo, sofrendo lesões corporais e experimentando os
infortúnios ensejadores do dano moral.
EXPOSIÇÃO
VENÂNCIO DA SILVA LIMA propôs Ação de Indenização por Danos Morais e
Materiais contra a VIPLAN - VIAÇÃO PLANALTO LTDA, tendo como fundamento
o fato de ter caído do ônibus da requerida, quando neste tentava adentrar, momento em
que o motorista teria fechado a porta e posto o veículo em movimento. Este acidente,
sustentou, causou-lhe os prejuízos morais e materiais descritos na inicial.
O pedido foi julgado procedente, tendo a ré interposto recurso de apelação que foi
julgado pela Egrégia 1a. Turma Cível, restando assim ementado o acórdão:
"CIVIL - RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DE PERMISSIONÁRIA DE
SERVIÇO PÚBLICO DE TRANSPORTE COLETIVO - ACIDENTE DE
TRÂNSITO - CULPA DA VÍTIMA INDEMONSTRADA - CONDENAÇÃO DA
RÉ À INDENIZAÇÃO DOS DANOS MORAIS E MATERIAIS - SENTENÇA
MANTIDA".
O voto do Relator foi no sentido de prover o recurso por entender que houve culpa
exclusiva da vítima. Os vogais, ao contrário, negaram provimento porque não
consideraram demonstrada essa culpa, prevalecendo a responsabilidade objetiva da
empresa.
Essa divergência propiciou a interposição dos presentes embargos, onde se busca a
prevalência do voto minoritário. Para tanto, argumenta a embargante que o conjunto
probatório, sobretudo as provas testemunhais, lhe é favorável, o que só não foi
detectado pelos vogais da apelação porque não tiveram acesso aos autos, ao contrário
do Relator que, por isso mesmo, teria analisado melhor os contornos do evento
danoso, concluindo pela culpa exclusiva da vítima.
O embargado ofereceu a impugnação de fls. 193/197, pleiteando a improcedência total
do recurso, sob o fundamento de que trata-se de responsabilidade objetiva, e que não
houve qualquer contribuição da vítima para a ocorrência do evento.
É o que consta.
VOTOS
O Senhor Desembargador Edson Alfredo Smaniotto - Relator
Senhor Presidente, conheço do recurso.
Trata-se de Embargos Infringentes opostos por VIPLAN - VIAÇÃO PLANALTO
LTDA pretendendo fazer triunfar o voto minoritário, proferido pelo Eminente
Desembargador Valter Xavier, o qual deu provimento ao apelo da embargante,
considerando que no acidente que envolveu as partes houve culpa exclusiva da vítima.
O MM. Juiz a quo havia julgado procedente o pedido inicial e condenado a VIPLAN,
ora embargante, a pagar ao autor/embargado indenização por danos morais e materiais,
resultantes de uma queda por este sofrida, quando adentrava num ônibus da empresa
embargante, ocasião em que o motorista do coletivo teria fechado a porta e posto em
movimento o veículo, de forma abrupta e desrespeitosa para com os idosos que não
pagam a passagem.
Interposto recurso de apelação, foi este provido pelo Relator, sob o fundamento já
referido, e improvido pelos vogais, os quais entenderam que trata-se de
responsabilidade objetiva e que não restou comprovada a culpa exclusiva da vítima, mas
sim a falta de atenção e o descaso dos prepostos das empresas de ônibus para com os
idosos que se utilizam dos seus serviços gratuitamente, como no caso dos autos.
Sustenta a embargante que deve prevalecer o voto minoritário, o qual, por ter sido
proferido pelo relator da apelação, analisou melhor e mais cuidadosamente o conjunto
probatório, eis que, conforme asseverou, os vogais decidiram diversamente porque não
tiveram oportunidade de analisar os autos, já que a causa obedeceu o rito sumário.
Releva transcrever parte do voto divergente, para que melhor se possa apreciar a sua
fundamentação.
"(...) Verifica-se, portanto, que o autor realizava uma conduta que destoava do normal:
o seu acesso ao veículo ocorreria pela porta traseira, enquanto os demais passageiros
utilizavam referida porta para descer. Conseqüentemente, de seu ônus demonstrar,
pelo menos, que se comportara como descrito na exordial, ou seja, deixando claro ao
motorista e ao cobrador que pretendia ingressar no ônibus. O conjunto probatório
escora a convicção de que o autor comportou-se de modo imprevisível tanto ao
motorista quanto ao cobrador, excluindo a possibilidade de materializar-se qualquer
culpa por parte dos empregados da ré".
Após transcrever trecho da prova pericial, prosseguiu o Eminente Desembargador, nos
seguintes termos:
"Como se verifica, não tinha o autor, à época dos fatos, firmeza suficiente nos seus
membros, de sorte que haveria de conduzir-se com mais cuidado ao tentar subir em um
coletivo por trás e sem avisar, antecipadamente, que pretenderia agir desta forma.
Não procede, a meu aviso, a conclusão de que o autor fora efetivamente jogado para
fora pela porta do ônibus. O que se deflui dos fatos demonstrados é que o autor não
conseguiu firmar suficientemente no ônibus e, por isso, caiu. Não vislumbro qualquer
conduta contrária ao direito no comportamento dos responsáveis pela requerida,
restando duvidoso o fato de que o autor teria caído do ônibus em virtude de fato
imputável à concessionária do serviço público".
A controvérsia, como se vê, é eminentemente quanto à matéria de fato e quanto à
valoração das provas coligidas. Nesse sentido, tenho que a razão está mesmo com o
magistrado a quo e com os prolatores dos votos majoritários, com a devida vênia do
autor da divergência.
Entendo que a cautela que se espera do usuário de um ônibus é aquela que se espera do
cidadão comum, ou seja, uma cautela ordinária apenas, no sentido de não agir de forma
anormal e inesperada. Ora, a meu sentir, o fato de o embargado entrar pela porta
traseira não caracteriza nenhum comportamento anormal, uma vez que na época dos
fatos, não apenas os idosos, mas todos aqueles que desfrutavam de isenção de tarifas
entravam pela porta traseira. Era um comportamento, portanto, corriqueiro e não
extraordinário.
Também não entendo razoável exigir dessas pessoas - idosas, na maioria - que se
desdobrem em diligências no sentido de deixar claro ao motorista e ao cobrador que
desejam entrar no ônibus. Basta que se coloquem próximos à porta traseira, esperando
que desçam os passageiros que porventura ficarem naquele ponto.
Não se pode olvidar que o motorista tem para lhe auxiliar a evitar fatos lamentáveis
como os descritos neste processo, além do cobrador, um retrovisor externo do lado
direito do ônibus que lhe dá toda a visão do que acontece do lado de fora da porta
traseira. Sendo assim, parece claro que o evento lesivo só ocorreu porque nem o
motorista e nem o cobrador observaram procedimentos básicos da respectiva função.
O cobrador porque não viu o potencial passageiro ou, se o viu, não avisou ao
motorista; este último porque imprimiu manobra no veículo sem observar o retrovisor
externo. Tal providência, que não se pode exigir de um motorista particular, é básica
para o motorista de transporte coletivo, tendo em vista o constante entra e sai de
passageiros pela porta traseira.
Acrescente-se que o próprio motorista do ônibus disse que "sempre vai arrancando o
ônibus e fechando a porta, como faz todos os motoristas" (depoimento de fl. 88).
Parece curial que tal comportamento, ainda que feito por todos os motoristas, não está
correto. Penso que o mais certo, para evitar fatos como o que se discute, seria arrancar
o veículo apenas com as portas fechadas, após a confirmação de que não há mais
passageiros para entrar ou sair. Alega o motorista que chegou a observar o retrovisor e
que não viu ninguém. O certo, entretanto, é que havia alguém lá e se este alguém não
foi visto não se pode concluir que isso se deu por sua culpa exclusiva. Ninguém,
estando em lugar público como uma rua ou uma parada de ônibus, é culpado de não ter
sido visto.
Resta bastante duvidosa, para dizer pouco, a ocorrência de culpa exclusiva da vítima, de
sorte que, a meu sentir, merece prevalecer a responsabilidade objetiva - decorrente do
risco administrativo - que pesa sobre as permissionárias e concessionárias do serviço
público (art. 37, par. 6º da CF).
Somando o que acima se expôs às razões já expendidas na sentença e nos doutos votos
majoritários, peço vênia ao ilustre prolator do voto divergente para também rejeitar a
tese defendida pela embargante e, em conseqüência, negar provimento aos embargos.
É como voto.
O Senhor Desembargador Lecir Manoel da Luz - Vogal
Acompanho o eminente Relator em todos os seus termos.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS
EMENTA
"HABEAS CORPUS. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. PRISÃO
PREVENTIVA. DESNECESSIDADE.
Decorridos mais de três anos do fato, sem que o agente, ancião de quase 70 anos de
idade, tenha cometido novo delito, desnecessário se torna a constrição cautelar como
resguardo da ordem pública."
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, JOAZIL M. GARDÉS -
Relator.
Brasília (DF), 27 de maio de 1999.
VOTO
"... ora, se alguém acusado de cometer um crime há mais de doze anos, não teve a ação
penal ainda concluída para se dizer se realmente é culpado, e nesse período não há
nenhum indício de que tenha voltado a cometer crimes, não se pode afirmar que esta
pessoa ofereça perigo à ordem pública. Ainda mais se levarmos em conta a idade do
indiciado, pois hoje já conta com 69 anos de idade. Basileu Garcia, sobre a garantia da
ordem pública, assim fala: 'Para a garantia da ordem pública, visará o magistrado, ao
decretar a prisão preventiva, evitar que o delinqüente volte a cometer delitos, ou porque
é acentuadamente propenso à práticas delituosas, ou porque, em liberdade, encontraria
os mesmos estímulos relacionados com a infração cometida. Trata-se, por vezes, de
criminosos habituais, indivíduos cuja vida é uma sucessão interminável de ofensas á lei
penal: contumazes assaltantes da propriedade, por exemplo. Quando outros motivos
não ocorressem, o intuito de impedir novas violações determinaria a providência' (in
Roberto Delmanto Júnior, As modalidades de prisão provisória e seu prazo de duração,
ed. Renovar, pág. 151). Pela lição acima, verificamos quando se deve manter alguém
preso para a garantia da ordem pública, o que nos parece o paciente não oferece
nenhum risco à sociedade a ponto de ser mantido preso sem uma condenação final.
Ainda mais se falando de uma pessoa com quase setenta anos de idade. ... Ao que
parece nos autos, o decreto de prisão contra o paciente, prolatado pelo MM. Juiz, não
teve a fundamentação exigida para o caso de prisão preventiva. A lição de Eduardo
Espínola Filho é contundente quanto a fundamentação. 'A exigência de fundamentação
de decisões, principalmente no caso de ordenar a prisão preventiva, foi um dos
postulados do nosso direito processual penal, em todos os tempos, não tolerando, tanto
a doutrina e a jurisprudência, quanto a própria legislação, qualquer descuido no
cumprimento de tão importante dever imposto ao juiz; a libertação do preso era a
conseqüência inevitável da verificação, facultada por Habeas Corpus, de que a prisão
preventiva não estava justificada pelos fundamentos do despacho. Inúmeros acórdãos
nesse sentido, sem qualquer discrepância...' (in, Roberto Delmanto Júnior, As
modalidades de prisão provisória e seu prazo de duração, ed. Renovar, pág. 147). ...
Não vislumbramos, no caso, nenhum perigo que possa oferecer a sociedade o paciente.
Sua idade avançada tem contribuição para isso além do lapso temporal existente entre a
data do possível cometimento do crime e a data de sua prisão preventiva, sem que se
registre nenhum indício de cometimento de novo crime. ...".
ISTO POSTO, concedo a Ordem, mantendo a liminar inicialmente deferida.
É como voto. Concedida a ordem. Unânime.
EMENTA
"HABEAS CORPUS. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. PRISÃO
PREVENTIVA. DESNECESSIDADE.
Decorridos mais de três anos do fato, sem que o agente, ancião de quase 70 anos de
idade, tenha cometido novo delito, desnecessário se torna a constrição cautelar como
resguardo da ordem pública."
Acórdão
Acordam os Desembargadores da Segunda Turma Criminal do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e dos Territórios, JOAZIL M. GARDÉS - Relator, FERNANDO
HABIBE e APARECIDA FERNANDES - Vogais, sob a presidência da
Desembargadora APARECIDA FERNANDES, em CONCEDER A ORDEM.
UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasília (DF), 27 de maio de 1999.
RELATÓRIO
VOTO
"... ora, se alguém acusado de cometer um crime há mais de doze anos, não teve a ação
penal ainda concluída para se dizer se realmente é culpado, e nesse período não há
nenhum indício de que tenha voltado a cometer crimes, não se pode afirmar que esta
pessoa ofereça perigo à ordem pública. Ainda mais se levarmos em conta a idade do
indiciado, pois hoje já conta com 69 anos de idade. Basileu Garcia, sobre a garantia da
ordem pública, assim fala: 'Para a garantia da ordem pública, visará o magistrado, ao
decretar a prisão preventiva, evitar que o delinqüente volte a cometer delitos, ou porque
é acentuadamente propenso à práticas delituosas, ou porque, em liberdade, encontraria
os mesmos estímulos relacionados com a infração cometida. Trata-se, por vezes, de
criminosos habituais, indivíduos cuja vida é uma sucessão interminável de ofensas á lei
penal: contumazes assaltantes da propriedade, por exemplo. Quando outros motivos
não ocorressem, o intuito de impedir novas violações determinaria a providência' (in
Roberto Delmanto Júnior, As modalidades de prisão provisória e seu prazo de duração,
ed. Renovar, pág. 151). Pela lição acima, verificamos quando se deve manter alguém
preso para a garantia da ordem pública, o que nos parece o paciente não oferece
nenhum risco à sociedade a ponto de ser mantido preso sem uma condenação final.
Ainda mais se falando de uma pessoa com quase setenta anos de idade. ... Ao que
parece nos autos, o decreto de prisão contra o paciente, prolatado pelo MM. Juiz, não
teve a fundamentação exigida para o caso de prisão preventiva. A lição de Eduardo
Espínola Filho é contundente quanto a fundamentação. 'A exigência de fundamentação
de decisões, principalmente no caso de ordenar a prisão preventiva, foi um dos
postulados do nosso direito processual penal, em todos os tempos, não tolerando, tanto
a doutrina e a jurisprudência, quanto a própria legislação, qualquer descuido no
cumprimento de tão importante dever imposto ao juiz; a libertação do preso era a
conseqüência inevitável da verificação, facultada por Habeas Corpus, de que a prisão
preventiva não estava justificada pelos fundamentos do despacho. Inúmeros acórdãos
nesse sentido, sem qualquer discrepância...' (in, Roberto Delmanto Júnior, As
modalidades de prisão provisória e seu prazo de duração, ed. Renovar, pág. 147). ...
Não vislumbramos, no caso, nenhum perigo que possa oferecer a sociedade o paciente.
Sua idade avançada tem contribuição para isso além do lapso temporal existente entre a
data do possível cometimento do crime e a data de sua prisão preventiva, sem que se
registre nenhum indício de cometimento de novo crime. ...".
O parecer da I. Procuradora lido pelo eminente Relator diz, com suficiência, o porquê
da não-permanência do paciente no cárcere.
Concedo a ordem.
DECISÃO Concedida a ordem. Unânime.
Nº DO ACÓRDÃO: 41751
RAMO: CÍVEL
RECURSO / AÇÃO: AGRAVO DE INSTRUMENTO
JUIZO DE ORIGEM: CAPITAL
RELATOR: DESA. MARIA HELENA COUCEIRO SIMÕES
ORGÃO JULGADOR: 1ª CÂMARA CÍVEL ISOLADA
DATA DO JULGAMENTO: 12/03/2001
Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. INTERDIÇÃO. TUTELA
ANTECIPADA. CONCESSÃO SEM PROVA INEQUÍVOCA DA SENILIDADE
E PRODIGALIDADE DE PESSOA IDOSA. INADMISSIBILIDADE. A IDADE
AVANÇADA DE ALGUÉM POR SI SÓ NÃO LEVA À PRESUNÇÃO DE QUE
NÃO POSSA ADMINISTRAR OS SEUS BENS E REGER A SUA PESSOA E
CONSEQUENTEMENTE QUE SEJA INTERDITADA ANTES DE SER
INTERROGADA PELO JUIZ E EXAMINADA POR MÉDICOS
ESPECIALIZADOS. MUITO MENOS QUE SEJA CONCEDIDA TUTELA
ANTECIPADA DA INTERDIÇÃO. AGRAVO DE INSTRUMENTO, PROVIDO
À UNANIMIDADE
Decisão: Votação unânime. Recurso provido.
ADI-1232 / DF
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO
Acórdão
Min. NELSON JOBIM
Publicação: DJ DATA-01-06-01 PP-00075 EMENT VOL-02033-01 PP-00095
Julgamento: 27/08/1998 - Tribunal Pleno
Ementa
EMENTA: CONSTITUCIONAL. IMPUGNA DISPOSITIVO DE LEI FEDERAL
QUE ESTABELECE O CRITÉRIO PARA RECEBER O BENEFÍCIO DO
INCISO V DO ART. 203, DA CF. INEXISTE A RESTRIÇÃO ALEGADA EM
FACE AO PRÓPRIO DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL QUE REPORTA À
LEI PARA FIXAR OS CRITÉRIOS DE GARANTIA DO BENEFÍCIO DE
SALÁRIO MÍNIMO À PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA FÍSICA E AO
IDOSO. ESTA LEI TRAZ HIPÓTESE OBJETIVA DE PRESTAÇÃO
ASSISTENCIAL DO ESTADO. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE.
Votação: Por maioria, vencido em parte os Ministros Ilmar Galvão e Néri da Silveira.
Resultado: Improcedente.
Partes
REQTE.: PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
REQDO.: PRESIDENTE DA REPÚBLICA
REQDO.: CONGRESSO NACIONAL
ACÓRDÃO..............: 26/10/1993
RELATOR................: DR REMO PALAZZO
DECISÃO.................: CONHECIDO E IMPROVIDO, A UNANIMIDADE.
RECURSO................: APELAÇÃO CRIMINAL - 13298-3/213
COMARCA..............: GOIANIA
PARTES....................: APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO
..................................... APELANTE: SÉRGIO ROSA DE MEDEIROS
MI-448 / RS
MANDADO DE INJUNÇÃO
RELATOR(A): MIN. MARCO AURELIO
REL. ACÓRDÃO
MIN. MOREIRA ALVES
PUBLICAÇÃO: DJ DATA-06-06-97 PP-24871 EMENT VOL-01872-01 PP-00001
JULGAMENTO: 05/09/1994 - TRIBUNAL PLENO
EMENTA: Mandado de injunção. Exclusão do INSS da relação processual. Falta de
regulamentação do inciso V do artigo 203 da Constituição. Mora do Congresso
Nacional. Deferimento, em parte, do mandado de injunção, para reconhecer a mora do
Congresso Nacional, dando-se a este ciência para que seja regulamentado o inciso V do
artigo 203 da Constituição Federal.
Observação
Votação e Resultado: Preliminarmente, por unanimidade, excluir da relação processual
o INSS e no mérito, por maioria, de deferir, em parte para reconhecer a mora do
Congresso Nacional.
N.PP.:(27). Análise:(JDJ). Revisão:(AAF).
Inclusão: 19/06/97, (NT).
Partes
IMPTE.: ANTONIO JORGELI RIBEIRO E OUTROS
IMPDO.: CONGRESSO NACIONAL
I - DO RELATÓRIO
III - DA PRELIMINAR
296
Inciso acrescentado pelo artigo 110, da Lei nº 8.078, de 11.09.1990.
“A idéia do tratamento coletivo cresce, nas mais diversas áreas, por
absoluta necessidade. Exemplo: a medicina vai bem quando atua
preventivamente e massificadamente, através de vacinas, etc., mas
deixa muito a desejar no tratamento individual.
Algo semelhante acontece com a Justiça, que trata de algo inerente
à condição existencial: o conflito. Assim como a medicina, depara-
se com o excesso de demanda. Diante disso, parece natural busque
se adaptar face ao problema.
Então, por que não facilitar a concentração e alcançar a todos que
têm pleito idêntico, idêntica solução, ao invés de ficarmos
sentenciando individualmente, no varejo?
Isso, além de não afetar a qualidade da prestação jurisdicional e
nem prejudicar a parte, tem a vantagem de resguardar
pronunciamento uniforme da Justiça a todos os que se encontram
em idêntica situação, bem como reserva, em relação ao julgador, a
dimensão do necessário e da máxima eficácia que todo ato humano
deve ter para se constituir em fonte de realização pessoal. A
repetição produz sensação de labirinto, de fracasso, de condução ao
trágico. A repetição é monótona. E a monotonia provoca sono. A
tendência geral e irreversível é ampliar a legitimidade extraordinária,
franqueando as demandas judiciais de amplo alcance, bem assim o
próprio rol de direitos ou interesses passíveis de serem tutelados
por essas demandas.
No Brasil, inaugurou-se nova fase com a Lei nº 7.347/85, que
instituiu a ação civil pública, sendo que, com o veto ao inciso IV,
do art. 1º, onde constava outros interesses difusos, ficou restrita aos
danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos
de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Com a Constituição de 1988, passou a constar, no art. 129, III, ser
função institucional do Ministério Público promover ação civil
pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos ou coletivos. Restabeleceu-
se, pois, com vantagem, o teor daquele veto, onde só constava
interesses difusos. Mais que isso, abriu-se a titularidade da ação
civil, tornando-a não-privativa do Ministério Público (art. 129, § 1º),
daí se chamar ação coletiva e ação ideológica.
Nesse rumo, ainda em sede constitucional, valem os exemplos do
art. 5º, XXI (associação na defesa de interesses dos respectivos
associados) e do art. 8º, III (sindicatos na defesa de interesses
coletivos ou individuais da respectiva categoria). Além, criou-se o
mandado de segurança coletivo, com legitimidade deferida a partido
político com representação no Congresso Nacional, a entidade de
classe, associação e organização sindical (CF, art. 5º, LXX), sendo
em sentido amplo ao partido político, posto não constar restrição,
como em relação às demais legitimadas. Também a ação popular
teve ampliado o seu raio de alcance chegando mesmo às questões
ambientais (art. 5º, LXXIII).
No âmbito infraconstitucional, vem a legislação, em marcha
progressiva, ampliando a legitimidade do Ministério Público,
evidenciando ser amplo o conceito de interesses difusos e
particularmente interesses coletivos.
Exemplos: a Lei nº 7.853, de 24/10/89, habilita proteger interesses
coletivos ou difusos das pessoas portadoras de deficiência; a Lei
7.913, de 7/12/89, habilita-o, sem excluir a demanda do próprio
prejudicado, a propor ação para evitar prejuízos ou obter
ressarcimento de danos causados aos titulares de valores
mobiliários e aos investidores de mercado, revertendo as
importâncias na proporção do prejuízo; a Lei nº 8069, de 13/7/90
(Estatuto da Infância e da Adolescência), habilita-o a propor ação
para defender os interesses individuais, difusos ou coletivos
relativos à infância e à adolescência (art. 201, V); a Lei nº 8.078, de
11/9/90 (Código de Defesa do Consumidor habilita-o
concorrentemente com a União, Estados, DF, entidades diversas e
associações, a propor ação civil pública relativa a interesses difusos,
coletivos e individuais homogêneos (arts. 81 e 82). A tão excelentes
considerações junta-se a observação de que, no pertinente aos
interesses coletivos ou difusos dos portadores de deficiência, o art.
7º da Lei 7.853/89 manda aplicar a ação civil pública nela prevista
os dispositivos da Lei nº 7.347/85, pelo que suas regras se integram
na pertinência da discutida legitimidade ativa do Ministério Público
para preservação dos ditos interesses.” (grifamos)
IV - DO PEDIDO
14. Isso posto, requer o Ministério Público o não provimento do agravo.
-(O trabalho foi laureado pela Associação do Ministério Público como um dos
melhores trabalhos forenses do ano de 1998).
Processo nº 566/97.
Ação Ordinária de Indenização.
Cartório: 22º. Ofício Cível.
Autor: ELVES DE FREITAS.
Ré: SUL AMÉRICA COMPANHIA DE SEGUROS.
2 - DO MÉRITO:
É bom frisar que antes disso, Jesus Cristo já pregava a igualdade entre
os homens e plantava as primeiras sementes daquele que hoje se chama Direitos
Humanos:
"Não há judeu, nem grego, não há escravo nem livre, não há homem, nem mulher,
pois todos vós sois um só em Cristo Jesus ( São Paulo, Epístola aos Gálatas, 3,
28)".
“As pessoas que tem uma falha sensorial, motora ou mental seriam portadoras de
deficiência (...) Dentre os superdotados, também, podem estar pessoas portadoras de
deficiência.
Importante frisar que a falha, a falta, não se situa no indivíduo, mas em seu
relacionamento com a sociedade.
O que define a pessoa portadora de deficiência não é a falta de um membro nem a
visão ou audição reduzidas. O que caracteriza a pessoa portadora de deficiência é a
dificuldade de se relacionar, de se integrar na sociedade. O grau de dificuldade para
a integração social é que definirá quem é ou não portador de deficiência.
Analisemos, agora, a mesma situação sob dois ângulos distintos. Imaginemos um
operário que tenha um dedo amputado. Conforme o ofício por ele desenvolvido,
encontrará sérias dificuldades para conseguir outro emprego na mesma atividade, até
então desenvolvida. Na mesma hipótese, um trabalhador intelectual poderá sofrer
muito menos diante da mesma perda. Ambos têm uma deficiência, ou seja, uma
perda ou uma falta. No entanto, os resultados práticos são completamente distintos.
No primeiro caso, estaríamos diante da pessoa portadora de deficiência, enquanto,
no segundo, por não haver qualquer dificuldade de integração social, já que o
trabalho intelectual desenvolvido é o mesmo, permanecendo o indivíduo no mesmo
patamar profissional e integrativo social, não estaríamos diante de pessoa que
necessitasse qualquer cuidado especial. No primeiro caso constata-se uma
inferioridade (além de uma deficiência); no segundo, apenas deficiência”.
“10. São condições essenciais para aceitação no Seguro Ouro Vida que os
proponentes:
...b) estejam gozando de boa saúde, conforme declaração preenchida de próprio
punho e assinada no verso da proposta de inclusão no seguro”.
“art. 5º, X: são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação”. * ( grifos nosso).
“Dano moral é aquele que atinge bens incorpóreos como a auto-estima, a honra, a
privacidade, a imagem, o nome, a dor, o espanto, a emoção, a vergonha, a injúria
física ou moral, a sensação de dor, de angústia, de perda. O dano moral firma
residência em sede psíquica e sensorial”.
I. Ivo Chaboski da Silva foi denunciado pelo Ministério Público do Estado do Paraná,
como incurso nas sanções do artigo 121, caput, combinado com artigo 61, inciso II,
alínea e, do Código Penal Brasileiro, por ter ele, segundo a oração exordial acusatória,
verbis:
Às fls. 159/162, foi o réu absolvido, com determinação de sua internação em hospital
de custódia, pelo prazo mínimo de um ano, tendo a Doutora Juíza de Direito recorrido
de ofício dessa decisão, por força do mandamento contido no artigo 411, do Código de
Processo Penal, subindo os autos.
II. Trata o feito de recurso necessário manejado pela Doutora Juíza de Direito da Vara
Única da Comarca de Fazendo Rio Grande, frente à absolvição imprópria, com medida
de internamento, imposta ao réu Ivo Chaboski da Silva, em face do reconhecimento de
sua inimputabilidade penal.
Diz a letra acusatória que, em 18.mar.94, por volta de 23:00, numa estrada viscinal da
localidade de Buraco do Bugre, o acusado, agindo com evidente animus necandi,
fazendo uso de uma faca, desferiu golpes contra seu irmão e vítima João Chaboski,
matando-a.
E outro não poderia ser o caminho trilhado pela julgadora de primeiro grau, diante da
enfática prova pericial elaborada, consistente no Laudo Psiquiátrico nº 197/2000, dos
autos em apenso, cujo teor diz, verbis:
Em razão de seu final evolutivo e, ainda pelo fato de acometer pessoas em plena
adolescência ou na idade juvenil, a esquizofrenia é também conhecida como demência
precoce, denominação cuja validade é, no entanto, contestada por grande número de
autores, sob a justificativa de que nem sempre a demência integra o quadro
sintomatológico ou domina o estádio final da doença, e nem, tampouco, é esta privativa
das pessoas jovens.
A psicoses esquizofrênica é afecção das mais graves e de maior expressão clínica nos
domínio da patologia mental, tanto pela riqueza e diversificação do quadro clínico,
como, também por seu prognóstico sombrio e, mais, pela larga incidência, atingindo a
proporção de mais de 50% dos casos compreendidos no âmbito da Psiquiatria. Seu
aparecimento costuma ocorrer entre os 15 e os 35 anos de idade, às vezes um pouco
mais tarde, indistintamente entre homens e mulheres.
Não cabia, portanto, ao julgador a quo escolher, no caso sob análise, entre a internação
e o tratamento ambulatorial, porque a primeira solução é obrigatória, determinada pela
letra da lei.
Processo: 027934500
Origem: CURITIBA - VARA CIVEL
Número do Acórdão: 2360
Decisão: Unânime
Órgão Julgador: II GRUPO DE CAMARAS CIVEIS
Relator: WILSON REBACK
Data de Julgamento: Julg: 14/04/1994
PROCESSO: 050457400
050457400 LARANJEIRAS DO SUL - VARA CRIME INFANCIA JUVENTUDE
FAMILIA E ANEXOS
NÚMERO DO ACÓRDÃO: 9599
DECISÃO: POR MAIORIA
RELATOR: TROTTA TELLES
DATA DE JULGAMENTO: JULG: 06/02/1997
DECISAO: ACORDAM OS INTEGRANTES DA SEGUNDA CAMARA
CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTICA DO PARANA, POR MAIORIA DE
VOTOS, DAR PROVIMENTO, EM PARTE, A APELACAO,
EXCLUSIVAMENTE PARA REDUZIR A PENA, NA FORMA SUPRA.
EMENTA: ESTUPRO. VITIMA DEFICIENTE MENTAL. CONJUNTO
PROBATORIO SUFICIENTE PARA AUTORIZAR A CONDENACAO.
CONQUANTO DEFICIENTE MENTAL, NAO E POR ISSO QUE AS
DECLARACOES DA OFENDIDA DEIXAM DE MERECER CREDIBILIDADE,
QUANDO AQUELA DEFICIENCIA NAO E DE TAL ORDEM QUE A IMPECA
DE RECONHECER O ACUSADO COMO SEU ESTUPRADOR, E, NAO
HAVENDO DUVIDA SOBRE O ESTUPRO, ESTAO AS PALAVRAS DELA
CORROBORADAS POR OUTROS ELEMENTOS PROBATORIOS EXIGENTES
NOS AUTOS.
**ORIGEM: TJDF
CLASSE DO PROCESSO : APELAÇÃO CÍVEL 20000710001295APC DF
REGISTRO DO ACÓRDÃO NÚMERO : 137236
DATA DE JULGAMENTO : 19/02/2001
ÓRGÃO JULGADOR : 3ª TURMA CÍVEL
RELATOR : ANA MARIA DUARTE AMARANTE
PUBLICAÇÃO NO DJU: 02/05/2001 PÁG.: 53 (ATÉ 31/12/1993 NA SEÇÃO 2, A
PARTIR DE 01/01/1994 NA SEÇÃO 3)
EMENTA
CIVIL. PROCESSO CIVIL. ALIMENTOS. FIXAÇÃO. BINÔMIO
NECESSIDADE-CAPACIDADE. SITUAÇÃO PECULIAR. 1. A SITUAÇÃO
PECULIAR DO ALIMENTANDO, PORTADOR DE DEFICIÊNCIA EM SEU
DESENVOLVIMENTO MENTAL, ESTANDO INAPTO, PORTANTO, PARA
EXERCER QUALQUER ATIVIDADE ECONÔMICA, JUSTIFICA A
ELEVAÇÃO DO PERCENTUAL DA VERBA ALIMENTÍCIA PARA 15%
(QUINZE POR CENTO) DOS RENDIMENTOS BRUTOS DO ALIENANTE, À
LUZ DOS PARÂMETROS DA NECESSIDADE E DA POSSIBILIDADE, A QUE
SE REFERE O ARTIGO 400, DO CÓDIGO CIVIL.
Decisão: CONHECER. DAR PARCIAL PROVIMENTO. UNÂNIME.
**ORIGEM TJDF
CLASSE DO PROCESSO: EMB. INFRINGENTES NA APC 19980110082379EIC
DF
REGISTRO DO ACÓRDÃO NÚMERO: 132240
DATA DE JULGAMENTO: 11/10/2000
ÓRGÃO JULGADOR: 1ª CÂMARA CÍVEL
RELATOR: WELLINGTON MEDEIROS
PUBLICAÇÃO NO DJU: 22/11/2000 PÁG: 18 (ATÉ 31/12/1993 NA SEÇÃO 2, A
PARTIR DE 01/01/1994 NA SEÇÃO 3)
EMENTA
DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. PROFESSOR DA
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DO DISTRITO FEDERAL. GRATIFICAÇÃO DE
ALFABETIZAÇÃO - GAL E GRATIFICAÇÃO DE ENSINO ESPECIAL - GATE:
CUMULAÇÃO: POSSIBILIDADE. DECRETO REGULAMENTADOR: LIMITES.
LEI NO 654/94. I - SE A LEI DE REGÊNCIA (LEI NO 654/94) NÃO EXCLUIU
DE SUA INCIDÊNCIA QUALQUER MODALIDADE DE ENSINO DO CICLO
BÁSICO DE ALFABETIZAÇÃO, AO DISPOR SOBRE A GRATIFICAÇÃO DE
ALFABETIZAÇÃO - GAL, NÃO PODE O PODER EXECUTIVO, MEDIANTE
DECRETO REGULAMENTADOR, FAZÊ-LO, SEM VIOLAR O PRINCÍPIO DA
HIERARQUIA DAS NORMAS CONSAGRADO PELA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. II - NÃO HÁ DE SE RECONHECER IMPEDIMENTO OU
IMPOSSIBILIDADE NO TOCANTE AO RECEBIMENTO CUMULATIVO, POR
PARTE DO PROFESSOR INTEGRANTE DO QUADRO DE PESSOAL DA
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DO DISTRITO FEDERAL, DA
GRATIFICAÇÃO DE ALFABETIZAÇÃO - GAL COM A GRATIFICAÇÃO DE
ENSINO ESPECIAL - GATE, CUJAS FINALIDADES SÃO DISTINTAS, SE
PRESENTES AS DUAS CONDIÇÕES IMPOSTAS PELO LEGISLADOR PARA
O PERCEBIMENTO DE CADA UMA DAS GRATIFICAÇÕES CRIADAS. III -
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
Decisão: CONHECER E NEGAR PROVIMENTO. UNÂNIME.
**ORIGEM TJDF
CLASSE DO PROCESSO: REMESSA DE OFÍCIO RMO110099 DF
REGISTRO DO ACÓRDÃO NÚMERO: 121255
DATA DE JULGAMENTO: 29/11/1999
ÓRGÃO JULGADOR: 1ª TURMA CÍVEL
RELATOR: JOÃO MARIOSA
PUBLICAÇÃO NO DJU: 02/02/2000 PÁG: 07 (ATÉ 31/12/1993 NA SEÇÃO 2, A
PARTIR DE 01/01/1994 NA SEÇÃO 3)
EMENTA
ADMINISTRATIVO - CONCURSO PÚBLICO - DEFICIENTES FÍSICOS -
DEFICIÊNCIA VISUAL COMPROVADA - EXCLUSÃO DE CANDIDATO:
IMPOSSIBILIDADE - NÃO-PROVIMENTO DA REMESSA OFICIAL. SE, NO
EXAME CLÍNICO MÉDICO PERICIAL REALIZADO E NAS AVALIAÇÕES
MÉDICO OFTALMOLÓGICAS SOLICITADAS PELO JUÍZO, COMPROVA-SE
COMPROMETIMENTO DO SISTEMA NERVOSO, ESPECIFICAMENTE NA
VISÃO, DO PERICIANDO, TEM ESTE O DIREITO DE PARTICIPAR DE
CONCURSOS PÚBLICOS, NO BRASIL, NAS VAGAS RESERVADAS AOS
DEFICIENTES FÍSICOS.
Decisão: CONHECER E IMPROVER. UNÂNIME.
ACÓRDÃO: ROMS 5121 / BA ; RECURSO ORDINARIO EM MANDADO DE
SEGURANÇA 1994/0038172-7
ORGÃO JULGADOR: T6 - SEXTA TURMA
FONTE: DJ DATA:15/04/1996 PG:11554
RELATOR: Min. WILLIAM PATTERSON (0183)
DATA DA DECISÃO: 06/02/1996
EMENTA - MANDADO DE SEGURANÇA. ATO JUDICIAL. CONCURSO.
PROVA DE DATILOGRAFIA. PEQUENA DISFUNÇÃO MOTORA.
- NÃO OFENDE A QUALQUER PRINCIPIO JURIDICO OU OSTULADO DE
IGUALDADE O ATO JUDICIAL QUE AUTORIZA O CANDIDATO, COM
PEQUENA DISFUNÇÃO MOTORA, A EXECUTAR A PROVA DE
DATILOGRAFIA EM MAQUINA ELETRICA. RECURSO DESPROVIDO.
DECISÃO: POR UNANIMIDADE, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.
**ORIGEM TJDF
CLASSE DO PROCESSO: APELAÇÃO CÍVEL APC4350397 DF
REGISTRO DO ACÓRDÃO NÚMERO: 102488
DATA DE JULGAMENTO: 11/12/1997
ÓRGÃO JULGADOR: 1ª TURMA CÍVEL
RELATOR : EDMUNDO MINERVINO
RELATOR DESIGNADO: VALTER XAVIER
PUBLICAÇÃO NO DJU: 11/03/1998 PÁG.: 38 (ATÉ 31/12/1993 NA SEÇÃO 2, A
PARTIR DE 01/01/1994 NA SEÇÃO 3)
EMENTA
ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. EDITAL. MANUAL DO
CANDIDATO. PORTARIA. DISCRIMINAÇÃO. 1. Ausente qualquer lesão no globo
ocular, item expressamente indicado no Manual do Candidato como motivo suficiente
para a eliminação de concorrentes, não se há buscar qualquer complemento em
"portarias" ou qualquer outro disciplinamento interno para afastar-se o pretendente a
cargo público. O edital a todos vincula, inclusive, à própria Administração. 2. Afigura-se
patente à discriminação ao deficiente físico quando essa deficiência, além de não ser de
caráter definitivo, não impede, objetivamente, o exercício do cargo objeto do certame.
O uso de óculos não representa qualquer obstáculo ao desempenho da função de
"paramédico". 3. Apelo provido. Maioria.
Decisão: CONHECER E PROVER. MAIORIA.
**ORIGEM TJDF
CLASSE DO PROCESSO: APELAÇÃO CÍVEL E REMESSA DE OFÍCIO
APC3962096 DF
REGISTRO DO ACÓRDÃO NÚMERO: 90937
DATA DE JULGAMENTO: 19/08/1996
ÓRGÃO JULGADOR: 3ª TURMA CÍVEL
RELATOR: NÍVIO GONÇALVES
RELATOR DESIGNADO: SÉRGIO BITTENCOURT
PUBLICAÇÃO NO DJU: 18/12/1996 PÁG: 23.703 (ATÉ 31/12/1993 NA SEÇÃO
2, A PARTIR DE 01/01/1994 NA SEÇÃO 3)
EMENTA
ADMINISTRATIVO - SERVIDOR PÚBLICO - REDUÇÃO DE CARGA
HORÁRIA PARA ATENDIMENTO A FILHO DEFICIENTE. Nos termos do
artigo terceiro da Lei Distrital 323/92, o servidor público tem direito à redução na
jornada de trabalho de duas horas para atendimento ao filho portador de deficiência
física.
Decisão: Conhecer. Negar provimento aos recursos. Maioria. Redigirá o acórdão o
revisor.
**ORIGEM TJDF
CLASSE DO PROCESSO: APELAÇÃO CRIMINAL APR1500695 DF
REGISTRO DO ACÓRDÃO NÚMERO: 81066
DATA DE JULGAMENTO: 17/11/1995
ÓRGÃO JULGADOR: 1ª TURMA CRIMINAL
RELATOR: P. A. ROSA DE FARIAS
PUBLICAÇÃO NO DJU: 07/02/1996 PÁG: 1.108 (ATÉ 31/12/1993 NA SEÇÃO 2,
A PARTIR DE 01/01/1994 NA SEÇÃO 3)
EMENTA
PENAL: CRIME DE AUTOMÓVEL - LESÕES CORPORAIS CULPOSAS -
MOTORISTA QUE VISLUMBRA A VÍTIMA, UM DEFICIENTE FÍSICO,
INICIAR A TRAVESSIA DA PISTA, MAS MESMO ASSIM PROSSEGUE A SUA
MARCHA, LOGRANDO ATINGI-LA - IRRELEVANTE SABER SE O
SEMÁFORO ESTAVA ABERTO OU NÃO PARA OS VEÍCULOS, POIS AO
MOTORISTA CABE, NO MÍNIMO, O RESPEITO PELO PEDESTRE, AINDA
MAIS QUANDO DEFICIENTE FÍSICO - Recurso conhecido e improvido.
Decisão: Conhecer e improver o recurso, à unanimidade, consoante notas taquigráficas.
**ORIGEM TJMG
NÚMERO DO PROCESSO 237483-3/00 (1)
RELATOR: BRANDÃO TEIXEIRA
DATA DO ACÓRDÃO: 04/06/2002
DATA DA PUBLICAÇÃO 14/06/2002
EMENTA:
ISENÇÃO DO PAGAMENTO DO ICMS NA AQUISIÇÃO DE VEÍCULO
ADAPTADO. PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA FÍSICA.
INTERPRETAÇÃO LITERAL. CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL, ART. 111,
II. As normas que outorgam qualquer dos benefícios insertos no art. 111, do CTN
(dentre as quais as que outorgam isenções), não comportam interpretação ampliativa,
nem tampouco integração por eqüidade. Ao contrário: exatamente porque define um
privilégio, a isenção deve ser interpretada em sentido estrito. A isenção do pagamento
do ICMS na aquisição de automóveis adaptados por parte de deficientes físicos
somente incide quando o adquirente não pode dirigir veículos comuns. Se o próprio
impetrante afirma que é incapacitado para conduzir qualquer veículo, adaptado ou não,
e ainda que o veículo será manuseado por terceiro, não há que se falar em isenção.
Embora não se possa ser indiferente à afirmação de que o tratamento concedido àquela
pessoa com maior deficiência física acaba sendo mais gravoso do que o aquele
concedido a pessoa cuja deficiência alcança menor escala, também não se deve
desconsiderar que isto é questão de ordem política, refletindo a orientação do
legislador, que não pode ser substituído pelo julgador, em respeito aos demais preceitos
do ordenamento jurídico pátrio. Segurança denegada.
Súmula: NEGARAM PROVIMENTO
**ORIGEM: TJGO
TERCEIRA CÂMARA CÍVEL
FONTE: DJ N 13040 DE 28/04/1999 P 10
EMENTA: "PENSÃO ALIMENTÍCIA. EXONERAÇÃO. DEFICIENTE FÍSICO.
NECESSIDADE DE PROVA DA INCAPACIDADE PARA O TRABALHO. O
fato de ser deficiente físico não exonera o apelante do encargo alimentar, sendo
necessário prova de que tenha havido alteração em sua situação financeira ou mesmo
relativa à sua saúde que o impeça de exercer qualquer atividade laboral. NEGADO
PROVIMENTO POR UNANIMIDADE".
Acórdão: 30/03/1999
Relator: Des Jamil Pereira de Macedo
Decisão: Conhecido e improvido, à unanimidade.
Recurso: Apelação Cível n 47472-1/188
**ORIGEM: TJGO
SEGUNDA CÂMARA CÍVEL
FONTE: DJ N 12499 DE 20/02/1997 P 18
EMENTA: "Tributário. ICMS. Isenção. Aquisição de equipamentos e acessórios por
entidades sem fins lucrativos, para o atendimento a deficientes. Para obtenção da
isenção tributária concedida nos termos do Convênio ICMS 38/91, mister a
comprovação, pelo contribuinte, de tratar-se de entidade filantrópica, vinculada a
programa de recuperação do portador de deficiência e que os equipamentos e
acessórios adquiridos sejam indispensáveis à sua (dele) locomoção ou tratamento.
Duplo grau de jurisdição e apelo conhecidos e providos".
Acórdão: 17/12/1996
Relator: Des Jalles Ferreira da Costa
Decisão: Conhecidos e providos, à unanimidade.
Recurso: Duplo Grau de Jurisdição n 4284-8/195
**ORIGEM: TJGO
SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL
FONTE: DJ N 11914 DE 30/09/1994 P 8
EMENTA: "Agravo de Instrumento. Tóxico. Prisão domiciliar. Elabora em equívoco o
Juiz ao determinar que a pena de sete anos de reclusão pela prática de crime de
entorpecente seja cumprida, inicialmente, em regime aberto, contrariamente ao que
dispõe a Lei nº 8.072/90. Sentença com trânsito em julgado para a acusação,
insusceptível de reforma. Permite a Lei de Execução Penal que o beneficiário de
regime aberto cumpra sua pena em residência particular quando o condenado tem, em
sua companhia, filho menor ou deficiente físico ou mental, artigo 117, III. Recurso
provido."
ORIGEM: CASCAVEL
PROCESSO: 0000000300 - APELACAO CRIME
NÚMERO DO ACÓRDÃO: 3706
DECISÃO: UNÂNIME - DADO PROVIMENTO.
ÓRGÃO JULGADOR: 2ª CAMARA CRIMINAL
RELATOR LENZ CESAR
DATA DE JULGAMENTO: JULG: 22/12/1988
HOMICIDIO QUALIFICADO - JURI - CONDENACAO - REU QUE POR
MOTIVO FUTIL, MATA A GOLPES DE FACA SEU CUNHADO DEFICIENTE
FISICO. QUALIFICADORA E AGRAVANTE RECONHECIDA PELO JURI.
PENA IMPOSTA PROXIMA AO MINIMO LEGAL. CONCESSAO DO REGIME
PRISIONAL SEMI-ABERTO. IMPOSSIBILIDADE - RECURSO PROVIDO
PARA MAJORAR A PENA E DE TERMINAR O REGIME INICIAL FECHADO,
DESIGNANDO A PENITENCIARIA CENTRAL DO ESTADO PARA O SEU
CUMPRIMENTO.
ORIGEM: TJRJ
PROCESSO : 2000.001.09937
TIPO DA AÇÃO: APELAÇÃO CÍVEL
NÚMERO DO PROCESSO: 2000.001.09937
DATA DE REGISTRO : 23/11/2001
ÓRGÃO JULGADOR: DÉCIMA OITAVA CÂMARA CÍVEL
DES. BINATO DE CASTRO
JULGADO EM 25/09/2001
RESPONSABILIDADE CIVIL DE ESTABELECIMENTO HOSPITALAR
PACIENTE PORTADOR DE DOENCA MENTAL INDENIZACAO POR
MORTE IMPROCEDENCIA DO PEDIDO REFORMA DA SENTENCA
RESPONSABILIDADE CIVIL. Paciente deficiente físico internado, que falece em
razão de queimaduras ser a vítima portadora de distúrbio comportamental denominado
hospitalismo, com intenção deliberada de permanência no hospital e características de
autoflagelo, julgou improcedente o pedido. Representante legal do hospital que, em
depoimento em Juízo, afirma que tinha ciência do comportamento da vítima e que Já
temia que fizesse ela algo prejudicial à sua saúde, aludindo a episódios pretéritos. Perícia
designada em segundo grau, que atesta altura elevada da torneira de água quente para
ser alcançada, sozinha, pela vítima, que não tinha locomoção, em razão da deficiência
física. Dever de estar no banho assistida por profissional de enfermagem reconhecido.
Circunstâncias que, mesmo que comprovado estivesse - e não está - que as queimaduras
foram provocadas pela vítima, torna o hospital responsável, pela negligência na adoção
das cautelas necessárias com paciente com histórico reiterado de internações
deliberadamente provocadas e de autoflagelo. Obrigação de ressarcir reconhecida.
Dano Material. Pensionamento mensal, a partir do evento, considerando os ganhos da
vítima, deduzidos de 1/3 (um terço) e do que a autora perceba do INSS em razão do
falecimento, até a data em que o de cujus completaria 65 anos de idade, tudo como se
apure em liquidação de sentença. Dano MoraL Circunstâncias concretas e caráter
compensatório e punitivo da verba que recomendam fixação severa, arbitramento no
equivalente a 300 salários mínimos. Despesas de luto, funeral e sepultura não
comprovadas. Juros legais e correção monetária a partir do evento, não incidindo esta
última sobre a verba arbitrada em salários mínimos, Honorários advocatícios.
Arbitramento em 15% do valor da condenação, inclusive sobre um ano das prestações
vincendas. Recurso parcialmente provido.
*ORIGEM: TJRJ
PROCESSO: 2000.001.22144
TIPO DA AÇÃO: APELAÇÃO CÍVEL
NÚMERO DO PROCESSO: 2000.001.22144
DATA DE REGISTRO: 25/05/2001
ÓRGÃO JULGADOR: SÉTIMA CÂMARA CÍVEL
DES. LUIZ ROLDÃO F. GOMES
JULGADO EM 10/04/2001
RESPONSABILIDADE CIVIL DEFICIENCIA VISUAL
NEXO DE CAUSALIDADE AUSENCIA Civil. Administrativo. Responsabilidade
civil. Deficiente física, cega, que pretendeu assistir à partida final de campeonato de
futebol de areia, em arena montada na praia, e se viu impedida, sob alegação de que
não havia acesso e que deficiente físico atrapalha. Ação de indenização por danos
morais ajuizada contra a empresa promotora do evento e do Município, sob o
argumento, quanto a este, de não ter dado cumprimento as normas constitucionais e
de sua Lei Orgânica no sentido de facilitar-lhes o acesso ao local. Ausência de nexo de
causalidade, entretanto, o qual não é normativo, mas fático, entre a falta de entrada
especial e o sofrimento padecido pela autora com a resposta dada pelo funcionário da
empresa promotora do evento. Realização deste marcada por tumulto, com cenas de
vandalismo e ameaça de arrastão, havendo comparecido a Polícia Militar. Situação que,
se não justifica a forma pela qual foi tratada a autora, a atenua, todavia. Recurso dela
desprovido e da ré parcialmente acolhido para reduzir-se a indenização.
PROCESSO: 054595500
ORIGEM: CURITIBA - 2A. VARA DA FAZENDA PUBLICA FALENCIAS E
CONCORDATAS
NÚMERO DO ACÓRDÃO: 13180
ÓRGÃO JULGADOR: 4A. CAMARA CIVEL
RELATOR: WANDERLEI RESENDE
DATA DE JULGAMENTO: JULG: 08/04/1998
PROCESSO: 037658300
ORIGEM: CONGONHINHAS - VARA UNICA
NÚMERO DO ACÓRDÃO: 12075
DECISÃO: UNÂNIME
ÓRGÃO JULGADOR: 2A. CAMARA CIVEL
RELATOR: DARCY NASSER DE MELO
DATA DE JULGAMENTO: JULG: 29/11/1995
) SITES / E-MAIL
http://www.mj.gov.br/sedh/dpdh/noticias/not5.htm
http:/www.ibge.gov.br
http://www.assistência.org.br./terceiro/default.asp
http://www.mppr.com.br/teses/gts/4.htm
http://idac.rits.org.br/oque3/idac oquee3 1.htm1.
http://www.mj.gov.br
http://www.saude.gov.br
http://www.sbggnacional.org.br
http://www.jornalexpress.com.br/3aidade
http://groups.yahoo.com/group/terceiraidade
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) SITES / E-MAIL
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htpp://www.idoso.saúde.es.gov.br
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http://www.mj.gov.br/sedh/dpdh/corde/sicorde.htm
O que é SICORDE?
É um sistema de informações na área da deficiência, desenvolvida pela
Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência -
CORDE, da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos - SEDH, Ministério da
Justiça, com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento -
PNUD/ONU e da Agência Brasileira de Cooperação - ABC, Ministério das
Relações Exteriores.
A que se Propõe?
Como Funciona?
- Ajudas Técnicas
- Eventos
- Publicações
Como Acessar?
Parceiros do SICORDE
Alagoas
Secretaria de Estado da Educação e do Desporto
Rua Barão de Alagoas, 141 - Centro
57.020-210 - Maceió/AL
Tel. 82-xx-221-4040
Fax. 82-xx-221-5236
Amazonas
Ministério Público do Estado do Amazonas
Promotoria de Justiça Especializada na Proteção e Defesa dos Direitos
Constitucionais do Cidadão
Núcleo Regional do Sicorde
Endereço: Rua 02, Casa 07, Conjunto Celetramazon, Adrianópolis
Tel. Fax. (092) 642-7829
Cep: 69057-300
Bahia
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Salvador - APE
Rua Rio Grande do Sul, 545 - Pituba
41.830-141 - Salvador/BA
Tel. 71-xx-3536407
Fax. 71-xx-359-2683
Distrito Federal
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios
Promotoria de Justiça de Defesa do Idoso e do Portador de Deficiência
Endereço: Eixo Monumental, Praça do Buriti, lote 02, Ed. Sede d
MPDFT, 1º Andar , Cep 70944-900
Brasília
Tel. (61) 343 9721
Goiás
Procuradoria-Geral de Justiça do Estado de Goiás
Rua 82, s/n, 7º andar - Centro Administrativo
74.088-900 - Goiânia/GO
Tel. 0-xx-62-216-2557
Fax. 0-xx-62-223-3752
Mato Grosso do Sul
Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania
Parque dos Poderes, Bloco IV
79.031-920 - Campo Grande/MS
Tel.: 0-xx-67 -726-4044
Minas Gerais
Secretaria de Estado do Trab. Da Assit. Social da Criança e do Adolescente
Coordenadoria de Apoio e Assistência à Pessoa Deficiente -
CAADE/MF
Rua da Bahia, 2200 - Térreo
30.160-012 - Belo Horizonte/MG
Tel. 31-xx-275-4145
Fax. 31-xx-275-3301
Pará
Ministério Público do Estado do Pará
Rua Ângela Custódio, 36 - Cidade Velha
66.023-090 - Belém/PA
Tel. 91-xx-242-5639 - Ramal 409/416/411
Fax. 91-xx-210-3550
Paraíba
Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência - FUNAD
Rua Orestes Lisboa, S/N - Conjunto Pedro Gondim
58.031-090 - João Pessoa/PB
Tel. 83-xx-244-0707
Fax. 83-xx-224-1525
Paraná
Federação das APAEs do Estado do Paraná
Rua Brigadeiro Franco, 2560 - Rebouças
Tel. 41-xx-332-4321
Fax. 41-xx-332-4463
Pernambuco
Ministério Público do Estado de Pernambuco
Avenida Visconde de Suassuna, nº99 - Santo Amaro
50.050-540 - Recife/PE
Tel. 81-xx-3303-5356
Fax. 81-xx-3303-5025
Rio de Janeiro
Centro de Vida Independente do Rio de Janeiro - CVI/RJ
Rua Marquês de São Vicente, 225 - Estacionamento da PUC- Gávea/Rio
22.451-041 - Rio de Janeiro /RJ
Tel./Fax. 21-xx-512-1088 / 239-6547
Rondônia
Ministério Público do Estado de Rondônia
Rua Almirante Barroso, 1403 - Centro
Porto Velho/RO
Tel. 69-xx-224-3949 / 224-2087
Santa Catarina
Fundação Catarinense de Educação especial - FCEE
Rua Paulino Pedro Hermes, 2785 - Nossa Senhora do Rosário
88.020-070 - São José/SC
Tel. 48-xx-246-1622 Ramal 125 / 171
Fax. 48-xx-221-3190
São Paulo
Ministério Público do Estado de São Paulo
Rua Líbero Badaró, 600 - 10º andar
01.008-908 - São Paulo/SP
Tel. 3104-2002 / 233-4669
Fax. 3107-5278
SORRI-BRASIL - Integração Social de Pessoas com Deficiência
Rua Benito Juarez, 70
04.001-806 - São Paulo/SP
Tel. 11-xx-570-6591
Fax. 11-xx-570-8447
Tocantins
Procuradoria-Geral de Justiça do Estado do Tocantins
Praça dos Girassóis s/n
77.000-000 - Palmas/TO
Tel. 0xx63-218-3576
Fax. 0xx63-218-3547
• Apae de Alegre
Tel: 3552-2430
Rua Emília Pinheiro de Souza, s/n, Centro - Alegre/ES - CEP 29500-000
• Apae de Aracruz
Tel: 3256-1080
Rua Epifanio Pontin, 200, Polivalente - Vitória/ES - CEP 29190-000
• Apae de Cariacica
Tel: 3336-0395
Rua Carlos Rogério de Jesus Gomes, s/n, Campo Grande - Cariacica/ES
CEP 29144-190
• Apae de Castelo
Tel: 3542-2271
Rod. Pedro Cola, Km 02, Zona Rural - Castelo/ES - CEP 29360-000
• Apae de Colatina
Tel: 3722-2563
Rua Benjamim Costa, 96, Adélia Giubert - Colatina/ES - CEP 29707-130
• Apae de Guaçui
Tel: 3553-1104
Horto Florestal, s/n - Guaçui/ES - CEP 29560-000
• Apae de Guarapari
Tel: 3361-3300
Av. Leblon, 333, Praia do Morro - Guarapari/ES - CEP 29216-390
• Apae de Ibitirama
Tel: 3560-2204
Rua Edgar Santana Alves, 67, Centro - Ibitirama/ES - CEP 29540-000
• Apae de Irupi
Tel: 3545-2225
Rua Jaima Gomes de Freitas, 249, Irupi/ES - CEP 29398-000
• Apae de Iúna
Tel: 3545-1609
Rua Ipiranga, s/n, Quilombo - Iúna/ES - CEP 29390-000
• Apae de Montanha
Tel: 3754-1899
Rua Anchieta, s/n - Montanha/ES - CEP 29890-000
• Apae de Muniz Freire
Tel: 3544-1394
Rua José Cabriano Aguiar, s/n - Muniz Freire/ES - CEP 29380-000
• Apae de Muqui
Tel: 3554-1850
Rua Miná Lobato Fraga, s/n, Entre Morros - Muqui/ES - CEP 29480-000
• Apae de Pinheiro
Tel: 3765-1357
Rua Geraldo Licinio Vacari, s/n, Niterói - Pinheiros/ES - CEP 29980-000
• Apae de Piúma
Tel: 3520-3279
Av. Rio Mar, 700, Tamarindo - Piúma/ES - CEP 29285-000
• Apae da Serra
Tel: 3328-3755
Rua Afonso Arinos de Melo e Franco, 133, Laranjeiras - Serra/ES-
CEP 29165-470
• Apae de Vitória
Tel: 3225-6522
Rua Aluysio Simões, 185, Bento Ferreira - Vitória/ES - CEP 29050-010
• Pestalozzi de Anchieta
Tel: (28) 3536-1747
Rua Vila Esperança, s/n - Anchieta/ES - CEP 29230-000
• Pestalozzi de Atílio Vivácqua
Tel: (28) 3538-1510/3538-1400/3538-1214
Rua Florcinda leal, 40, Centro - Atílio Vivácqua/ES - CEP 29490-000
• Pestalozzi de Ecoporanga
Tel: (28) 3755-1255/3755-1650/3755-1559
Rua Cândido Miguel de Souza, 54, Centro - Ecoporanga/ES - CEP 29850-000
• Pestalozzi de Fundão
Tel: (28) 3267-1879/3267-1168
Rua Vicente Fernandes de Oliveira, s/n - Fundão/ES - CEP 29185-000
• Pestalozzi de Guarapari
Tel: 33616510/3361-3328
Rua São Judas Tadeu, s/n, Jardim Boa Vista - Guarapari/ES - CEP 29200-000
• Pestalozzi de Ibatiba
Tel: (28) 3543-1662/3543-1444
Rua Manoel Luís Trindade, s/n, Bairro Boa Esperança - Ibatiba/ES
CEP 29395-000
• Pestalozzi de Ibiraçu
Tel: 3257-1634/3257-1438
Rua Mário Antônio Modenesi, s/n, Bairro São Cristóvão - Ibiraçu/ES
CEP 29670-000
• Pestalozzi de Iconha
Tel: (28) 3537-2136
Rua Jorge Aarão, 52, Centro - Iconha/ES -CEP 29280-000
• Pestalozzi de Itaguaçu
Tel: 3725-1103/3725-0053
Rua Projetada, s/n, Bairro Canto Feliz, Loteamento São José - Itaguaçu/ES
CEP 29690-000
• Pestalozzi de Itapemirim
Tel: (28) 3529-5012/3529-2578
Rua Cel. Marcondes, 123 - Itapemirim/ES - CEP 29330-000
• Pestalozzi de Itarana
Tel: 3720-1212
Pça. Carlos Pereira de Aguiar, s/n - Itarana/ES - CEP 29620-000
• Pestalozzi de Jaguaré
Tel: 3769-1563/3769-1584
Rua Antenor Gabriel, quadra 56, s/n, Laquini - Jaguaré/ES - CEP 29950-000
• Pestalozzi de Linhares
Tel: 3264-2343/3264-0412/9984-2084
Av. Presidente Rodrigues Alves, 275, Colina - Linhares/ES - CEP 29900-400
• Pestalozzi de Mantenópolis
Tel: 3758-1910/3758-1346/3758-1489
Rua 15 de Novembro, 219, Colina - Mantenópolis/ES - CEP 29770-000
• Pestalozzi de Pancas
Tel: 3726-1422
Av. José Nunes de Miranda, 68, Sebastião Furtado, Centro
Mimoso do Sul/ES - CEP 29750-000
• Pestalozzi de Pedro Canário
Tel: 37640101/3764-2077
Rua Dr. Edward de Abreu do Nascimento, 115, Bairro Novo Horizonte
Pedro Canário/ES - CEP 29970-000
• Pestalozzi de Serra
Tel: 3252-0461/3252-5192
Av. Minas Gerais, 223, Jacaraípe - Serra/ES
CEP 29173-490
• Pestalozzi de Viana
Tel: 3336-7696/3225-1511
Rua Diadema, quadra 50, casa 1, Marcílio de Noronha - Viana/ES
CEP 29135-000
• Alegre
ENTIDADE: Associação Luiza de Marilac
ENDEREÇO: Rua Monsenhor Pavesi, 234, Centro, Alegre-ES
CEP: 29.500-000
TELEFONE: (28) 3552-2321
• Aracruz
ENTIDADE: Recanto do Ancião
ENDEREÇO: Rua Sete de Setembro, s/n, Itaputera, Aracruz-ES
CEP: 29.190-000
TELEFONE: (27) 3296-2010
• Baixo Guandu
ENTIDADE: Lar da Velhice Ângelo dos Passos
ENDEREÇO: Rua Airton Pacca, s/n, Vila Kenedy, Baixo Guandu-ES
CEP: 29.730-000
TELEFONE: (27) 3732-1389
• Cariacica
ENTIDADE: Abrigo à Velhice Desamparada Auta Loureiro Machado -
AVEDALMA
ENDEREÇO: Rua João Rodrigues Filho, nº 425, Chácara Nova Aurora,
Sede, Cariacica-ES
CEP: 29.156-270
TELEFONE: (27) 3254-1449
• Castelo
ENTIDADE: Vila Santa Luiza de Marilac
ENDEREÇO: Rua William Nemer, nº 256, Esplanada, Castelo-ES
CEP: 29.360-000
TELEFONE: (28) 3542-2777
• Colatina
ENTIDADE: Casa Vovô Simeão
ENDEREÇO: Rodovia do Café, Km 07, s/n, Carlos Germano Naumann,
Colatina-ES
CEP: 29.705-200
TELEFONE: (27) 3721-2870/3721-7366/3721-4381
• Cachoeiro de Itapemirim
ENTIDADE: Lar dos Velhos Nina Arueira
ENDEREÇO: Rua Irineu Hemógenes dos Santos, nº 20, Sta. Helena,
Cachoeiro de Itapemirim-ES
TELEFONE: (28) 3522-1421
CEP: 29.307-050
• Ecoporanga
ENTIDADE: Casa do Idoso São Joaquim e Sant’ana
ENDEREÇO: Rua Idalino Monteiro, 205, N. S. Aparecida, Ecoporanga-ES
CEP: 29.850-000
TELEFONE: (27) 3755-1580
• Guaçui
ENTIDADE: Lar do Idoso Frederico Ozanan
ENDEREÇO: Rua São Vicente de Paula, nº 283, Centro
TELEFONE: (28) 3553-1246
CEP: 29.560-000
• Guarapari
ENTIDADE: Instituto das Irmãs Missionárias de N. S. de Fátima
ENDEREÇO: Rua Felício Bittar, nº 22, Lagoa Funda, Guarapari-ES
CEP: 29.200-000
TELEFONE: (27) 3261-1928
• Iconha
ENTIDADE: Lar dos Idosos José de Paula Beiriz
ENDEREÇO: Rua do Contorno, 001, Jardim Jandira, Iconha-ES
CEP: 29.280-000
TELEFONE: (28) 3537-1835
• Iúna
ENTIDADE: Centro Assistencial Espírita Maria Joana Galoti
ENDEREÇO: Rodovia Micheil Chequer, Km 08, Córrego Vargem Alegre,
Iúna-ES
CEP: 29.390-000
TELEFONE: 3545-1733
• Linhares
ENTIDADE: Asilo dos Velhos e Casa dos Cegos de Linhares
ENDEREÇO: Rua Felipe dos Santos, nº 1236, Interlagos, Linhares-ES
CEP: 29.903-120
TELEFONE: (27) 3264-2617
• Marechal Floriano
ENTIDADE: Organização de Amparo ao Idoso “Sou Feliz”
ENDEREÇO: Rua Thieres Veloso, nº 335 - Marechal Floriano/ES - CEP
29266-000
TELEFONE: Tel: 3228-1185
• Montanha
ENTIDADE: Associação de Assistência ao Idoso - Hospital N. S. Aparecida
ENDEREÇO: Av. Antonio Paulino, nº 1.060, Centro, Montanha-ES
CEP: 29.890-000
TELEFONE: (27) 3754-1215
• Mimoso do Sul
ENTIDADE: Abrigo Carlos Marcelo Pessanha
ENDEREÇO: Rua Domingos Martins, 65, Rua da Serra, Mimoso do Sul-ES
CEP: 29.400-000
TELEFONE: (28) 3555-1276
• Muqui
ENTIDADE: Abrigo da Velhice Desamparada e Albergue Noturno de Muqui
ENDEREÇO: Rua Joaquim Afonso, 519, Esperança, Muqui-ES
CEP: 29.480-000
TELEFONE: (28) 3554-1333
• Nova Venécia
ENTIDADE: Casa do Vovô Agostinho Batista Veloso
ENDEREÇO: Rua Alexandrina Nunes, s/n, Municipal, Nova Venécia-ES
CEP: 29.830-000
TELEFONE: (27) 3752-2409
• Piúma
ENTIDADE: Sociedade Assistencial de Amparo à Velhice
ENDEREÇO: Av. Beira Rio, s/n, Acaiaca, Piúma-ES
CEP: 29.285-000
TELEFONE: (28) 3520-1931
• Serra
ENTIDADE: Lar Espírita da Terceira Idade Prof. Coelho Sampaio
ENDEREÇO: Rua dos Ipês, nº 373, José de Anchieta, Serra-ES
CEP: 29.162-590
TELEFONE: (27) 3338-2200
• São Mateus
ENTIDADE: Sociedade Santa Rita de Cássia - Lar dos Velhinhos
ENDEREÇO: Rua Brauna, s/n, Boa Vista, São Mateus-ES
CEP: 29.930-000
TELEFONE: (27) 3763-1895
• Vila Velha
ENTIDADE: Centro de Convivência “Recanto da Feliz Idade”
ENDEREÇO: Rua Gastão Rouback, 688 - Praia da Costa - Vila Velha/ES -
CEP 29101-020
TEFEFONE: Tel: 3389-0119
• Vitória
ENTIDADE: Sociedade de Assistência à Velhice Desamparada
ENDEREÇO: Rua Anselmo Serrat, s/n, Monte Belo, Vitória-ES
CEP: 29.040-010
TELEFONE: (27) 3223-3678
14 Referências
Bibliográficas
14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES FILHO, Francisco. O poder dos grisalhos: os idosos serão cada vez
mais numerosos e vão substituir os jovens, ditando regras de comportamento e
consumo.
ESTATUTO do idoso pode ser votado ainda este mês. Gazeta On Line,
Vitória, 13 maio 2002. Disponível em:
<http://www.redegazeta.com.br/homepage>. Acesso em: 13 de maio de 2002.
GOMES, Maria das Graças Cunha. Políticas Sociais para o Idoso. In:
SEMINÁRIO INSTRUMENTOS LEGAIS DE DEFESA DOS
PORTADORES DE DEFICIÊNCIA E DA PESSOA IDOSA, 2002. Anais...
Vitória, 2002.
SOUZA, Andréa Leite Lisboa de; PIMENTEL, Bárbara dos Santos. O idoso
no Brasil. Texto extraído de trabalho de Monografia - Curso de Bacharel em
Serviço Social, Escola de Serviço Social, Universidade Católica de Salvador,
Salvador, 1997. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em:
junho de 2002.
THE WORLD Ageing Situation: exploring a society for all ages. Economic
and Social Affairs. Nova York: United Nations Publication, 2001.
______ . Trabalho para todos: leis que regulamentam o trabalho para pessoas
portadoras de deficiência. Vitória: [s.n.], 2002.
JOSÉ SARNEY
João Batista de Abreu
ANEXO B
DECRETA:
CAPÍTULO I
Das Disposições Gerais
Art. 1º A Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência
compreende o conjunto de orientações normativas que objetivam assegurar o
pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de
deficiência.
Art. 2º Cabe aos órgãos e às entidades do Poder Público assegurar à pessoa
portadora de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos
direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à
previdência social, à assistência social, ao transporte, à edificação pública, à
habitação, à cultura, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que,
decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e
econômico.
Art. 3º Para os efeitos deste Decreto, considera-se:
I - deficiência - toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função
psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho
de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano;
II - deficiência permanente - aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um
período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade
de que se altere, apesar de novos tratamentos; e
III - incapacidade - uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração
social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos
especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir
informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função
ou atividade a ser exercida.
Art. 4º É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas
seguintes categorias:
I - deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do
corpo humano, acarretando o comprometimento da função física,
apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia,
monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia,
hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros
com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as
que não produzam dificuldades para o desempenho de funções;
II - deficiência auditiva - perda parcial ou total das possibilidades auditivas
sonoras, variando de graus e níveis na forma seguinte:
a) de 25 a 40 decibéis (db) - surdez leve;
b) de 41 a 55 db - surdem moderada;
c) de 56 a 70 db - surdez acentuada;
d) de 71 a 90 db - surdez severa;
e) acima de 91 db - surdez profunda; e
f) anacusia;
III - deficiência visual - acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor
olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20º (tabela de Snellen),
ou ocorrência simultânea de ambas as situações;
IV - deficiência mental - funcionamento intelectual significativamente inferior à
média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas
ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como:
a) comunicação;
b) cuidado pessoal;
c) habilidades sociais;
d) utilização da comunidade;
e) saúde e segurança;
f) habilidades acadêmicas;
g) lazer; e
h) trabalho;
V - deficiência múltipla - associação de duas ou mais deficiências.
CAPÍTULO II
Dos Princípios
Art. 5º A Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência, em consonância com o Programa Nacional de Direitos Humanos,
obedecerá aos seguintes princípios;
I - desenvolvimento de ação conjunta do Estado e da sociedade civil, de modo a
assegurar a plena integração da pessoa portadora de deficiência no contexto
sócio-econômico e cultural;
II - estabelecimento de mecanismos e instrumentos legais e operacionais que
assegurem às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus
direitos básicos que, decorrentes da Constituição e das lei, propiciam o seu bem-
estar pessoal, social e econômico; e
III - respeito às pessoas portadoras de deficiência, que devem receber igualdade
de oportunidades na sociedade por reconhecimento dos direitos que lhes são
assegurados, sem privilégios ou paternalismos.
CAPÍTULO III
Das Diretrizes
Art. 6º São diretrizes da Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora
de Deficiência:
I - estabelecer mecanismos que acelerem e favoreçam a inclusão social da pessoa
portadora de deficiência;
II - adotar estratégias de articulação com órgãos e entidades públicos e privados,
bem assim com organismos internacionais e estrangeiros para a implantação
desta Política;
III - incluir a pessoa portadora de deficiência, respeitadas as suas peculiaridades,
em todas as iniciativas governamentais relacionadas à educação, à saúde, ao
trabalho, à edificação pública, a previdência social, à assistência social, ao
transporte, à habitação, à cultura, ao esporte e ao lazer;
IV - viabilizar a participação da pessoa portadora de deficiência em todas as
fases de implementação dessa Política, por intermédio de suas entidades
representativas;
V - ampliar as alternativas de inserção econômica de pessoas portadora de
deficiência, proporcionando a ela qualificação profissional e incorporação no
mercado de trabalho; e
VI - garantir o efetivo atendimento das necessidades da pessoa portadora de
deficiência sem o cunho assistencialista.
CAPÍTULO IV
Dos Objetivos
Art. 7º São objetivos da Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora
de Deficiência:
I - o acesso, o ingresso e a permanência da pessoa portadora de deficiência em
todos os serviços oferecidos à comunidade;
II - integração das ações dos órgãos e das entidades públicas e privadas nas áreas
de saúde, educação, trabalho, transporte, assistência social, edificação pública,
previdência social, habitação, cultura, desporto e lazer, visando à prevenção das
deficiências, à eliminação de suas múltiplas causas e à inclusão social;
III - desenvolvimento de programas setoriais destinados ao atendimento das
necessisdades especiais da pessoa portadora de deficiência;
IV - formação de recursos humanos para atendimento da pessoa portadora de
deficiência; e
V - garantia de efetividade dos programas de prevenção de atendimento
especializado e de inclusão social.
CAPÍTULO V
Dos Instrumentos
Art. 8º São instrumentos da Política Nacional para a Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência:
I - a articulação entre entidades governamentais e não-governamentais que
tenham responsabilidades quanto ao atendimento da pessoa portadora de
deficiência, em nível federal, estadual, do Distrito Federal e municipal;
II - o fomento à formação de recursos humanos para adequado e eficiente
atendimento da pessoa portadora de deficiência;
III - a aplicação da legislação específica que disciplina a reserva de mercado de
trabalho, em favor da pessoa portadora de deficiência, nos órgãos e nas
entidades públicas e privadas;
IV - o fomento da tecnologia de bioengenharia voltada para a pessoa portadora
de deficiência, bem como a facilitação da importação de equipamentos; e
V - a fiscalização do cumprimento da legislação pertinente à pessoa portadora
de deficiência.
CAPÍTULO VI
Dos Aspectos Institucionais
Art. 9º Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e
indireta deverão conferir, no âmbito das respectivas competências e finalidades,
tratamento prioritário e adequado aos assuntos relativos à pessoa portadora de
deficiência, visando a assegurar-lhe o pleno exercício de seus direitos básicos e a
efetiva inclusão social.
Art. 10 Na execução deste Decreto, a Administração Pública Federal direta e
indireta atuará de modo integrado e coordenado, seguindo planos e programas,
com prazos e objetivos determinados, aprovados pelo Conselho Nacional dos
Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência - CONADE.
Art. 11 Ao CONADE, criado no âmbito do Ministério da Justiça como órgão
superior de deliberação colegiada, compete:
I - zelar pela efetiva implantação da Política Nacional para Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência;
II - acompanhar o planejamento e avaliar a execução das políticas setoriais de
educação, saúde, trabalho, assistência social, transporte, cultura, turismo,
desporto, lazer, política urbana e outras relativas à pessoa portadora de
deficiência;
III - acompanhar a elaboração e a execução da proposta orçamentária do
Ministério da Justiça, sugerindo as modificações necessárias à consecução da
Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência;
IV - zelar pela efetivação do sistema descentralizado e participativo de defesa
dos direitos da pessoa portadora de deficiência;
V - acompanhar e apoiar as políticas e as ações do Conselho dos Direitos da
Pessoa Portadora de Deficiência no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios;
VI - propor a elaboração de estudos e pesquisas que objetivem a melhoria da
qualidade de vida da pessoa portadora de deficiência;
VII - propor e incentivar a realização de campanhas visando à prevenção de
deficiências e à promoção dos direitos da pessoa portadora de deficiência;
VIII - aprovar o plano de ação anual da Coordenadoria Nacional para
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - CORDE;
IX - acompanhar, mediante relatórios de gestão, o desempenho dos programas e
projetos da Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência; e
X - elaborar o seu regimento interno.
Art. 12 O CONADE será constituído, paritariamente, por representantes de
instituições governamentais e da sociedade civil, sendo a sua composição e o seu
funcionamento disciplinados em ato do Ministro de Estado da Justiça.
Parágrafo único. Na composição do CONADE, o Ministro de Estado da
Justiça disporá sobre os critérios de escolha dos representantes a que se refere
este artigo, observando, entre outros, a representatividade e a efetiva atuação,
em nível nacional, relativamente à defesa dos direitos da pessoa portadora de
deficiência.
Art. 13 Poderão ser instituídas outras instâncias deliberativas pelos Estados, pelo
Distrito Federal e pelos Municípios, que integrarão sistema descentralizado de
defesa dos direitos da pessoa portadora de deficiência.
Art. 14 Incumbe ao Ministério da Justiça, por intermédio da Secretaria de
Estado dos Direitos Humanos, a coordenação superior, na Administração
Pública Federal, dos assuntos, das atividades e das medidas que se refiram às
pessoas portadoras de deficiência.
§ 1º No âmbito da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, compete à
CORDE:
I - exercer a coordenação superior dos assuntos, das ações governamentais e das
medidas referentes à pessoa portadora de deficiência;
II - elaborar os planos, programas e projetos da Política Nacional para
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, bem como propor as
providências necessárias à sua completa implantação e ao seu adequado
desenvolvimento, inclusive as pertinentes a recursos financeiros e as de caráter
legislativo;
III - acompanhar e orientar a execução pela Administração Pública Federal dos
programas e projetos mencionados no inciso anterior;
IV - manifestar-se sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência dos projetos a ela conexos, antes da liberação dos
recursos respectivos;
V - manter com os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e o Ministério
Público, estreito relacionamento, objetivando a concorrência de ações
destinadas à integração das pessoas portadoras de deficiência;
VI - provocar a iniciativa do Ministério Público, ministrando-lhe informações
sobre fatos que constituam objeto da ação civil de que trata a Lei nº 7.853, de 24
de outubro de 1989, e indicando-lhe os elementos de convicção;
VII - emitir opinião sobre os acordos, contratos ou convênios firmados pelos
demais órgãos da Administração Pública Federal, no âmbito da Política
Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência; e
VIII - promover e incentivar a divulgação e o debate das questões concernentes
à pessoa portadora de deficiência, visando à conscientização da sociedade.
§ 2º Na elaboração dos planos e programas a seu cargo, a CORDE deverá:
I - recolher, sempre que possível, a opinião das pessoas e entidades interessadas;
e
II - considerar a necessidade de ser oferecido efetivo apoio às entidades privadas
voltadas a integração social da pessoa portadora de deficiência.
CAPÍTULO VII
Da Equiparação de Oportunidades
Art. 15 Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal prestarão
direta ou indiretamente à pessoa portadora de deficiência os seguintes serviços:
I - reabilitação integral, entendida como o desenvolvimento das potencialidades
da pessoa portadora de deficiência, destinada a facilitar sua atividade laboral,
educativa e social;
II - formação profissional e qualificação para o trabalho;
III - escolarização em estabelecimentos de ensino regular com a provisão dos
apoios necessários, ou em estabelecimentos de ensino especial; e
IV - orientação e promoção individual, familiar e social.
SEÇÃO I
Da Saúde
Art. 16 Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e
indireta responsáveis pela saúde devem dispensar aos assuntos objeto deste
Decreto tratamento prioritário e adequado, viabilizando, sem prejuízo de outras,
as seguintes medidas:
I - a promoção de ações preventivas, como as referentes ao planejamento
familiar, ao aconselhamento genético, ao acompanhamento da gravidez, do
parto e do puerpério, à nutrição da mulher e da criança, à identificação e ao
controle da gestante e do feto de alto risco, à imunização, às doenças do
metabolismo e seu diagnóstico, ao encaminhamento precoce de outras doenças
causadoras de deficiência, e à detecção precoce das doenças crônico-
degenerativas e a outras potencialmente incapacitantes;
II - o desenvolvimento de programas especiais de prevenção de acidentes
domésticos, de trabalho, de trânsito e outros, bem como o desenvolvimento de
programa para tratamento adequado a suas vítimas;
III - a criação de rede de serviços regionalizados, descentralizados e
hierarquizados em crescentes níveis de complexidade, voltada ao atendimento à
saúde e reabilitação da pessoa portadora de deficiência, articulada com os
serviços sociais, educacionais e com o trabalho;
IV - a garantia de acesso da pessoa portadora de deficiência aos
estabelecimentos de saúde públicos e privados e de seu adequado tratamento
sob normas técnicas e padrões de conduta apropriados;
V - a garantia de atendimento domiciliar de saúde ao portador de deficiência
grave não internado;
VI - o desenvolvimento de programas de saúde voltados para a pessoa
portadora de deficiência, desenvolvidos com a participação da sociedade e que
lhes ensejem a inclusão social; e
VII - o papel estratégico da atuação dos agentes comunitários de saúde e das
equipes de saúde da família na disseminação das práticas e estratégias de
reabilitação baseada na comunidade.
§ 1º Para os efeitos deste Decreto, prevenção compreende as ações e medidas
orientadas a evitar as causas das deficiências que possam ocasionar incapacidade
e as destinadas a evitar sua progressão ou derivação em outras incapacidades.
§ 2º A deficiência ou incapacidade deve ser diagnosticada e caracterizada por
equipe multidisciplinar de saúde, para fins de concessão de benefícios e serviços.
§ 3º As ações de promoção da qualidade de vida da pessoa portadora de
deficiência deverão também assegurar a igualdade de oportunidades no campo
da saúde.
Art. 17 É beneficiária do processo de reabilitação a pessoa que apresenta
deficiência, qualquer que seja sua natureza, agente causal ou grau de severidade.
§ 1º Considera-se reabilitação o processo de duração limitada e com objetivo
definido, destinado a permitir que a pessoa com deficiência alcance o nível
físico, mental ou social funcional ótimo, proporcionando-lhe os meios de
modificar sua própria vida, podendo compreender medidas visando a
compensar a perda de uma função ou uma limitação funcional e facilitar ajustes
ou reajustes sociais.
§ 2º Para efeito do disposto neste artigo, toda pessoa que apresente redução
funcional devidamente diagnosticada por equipe multiprofissional terá direito a
beneficiar-se dos processos de reabilitação necessários para corrigir ou modificar
seu estado físico, mental ou sensorial, quando este obstáculo para sua integração
educativa, laboral e social.
Art. 18 Incluem-se na assistência integral à saúde e reabilitação da pessoa
portadora de deficiência a concessão de órteses, próteses, bolsas coletoras e
materiais auxiliares, dado que tais equipamentos complementam o atendimento,
aumentando as possibilidades de independência e inclusão da pessoa portadora
de deficiência.
Art. 19 Consideram-se ajudas técnicas, para os efeitos deste Decreto, os
elementos que permitem compensar uma ou mais limitações funcionais
motoras, sensoriais ou mentais da pessoa portadora de deficiência, com o
objetivo de permitir-lhe superar as barreiras da comunicação e da mobilidade e
de possibilitar sua plena inclusão social.
Parágrafo único. São ajudas técnicas:
I - próteses auditivas, visuais e fisícas;
II - órteses que favoreçam a adequação funcional;
III - equipamentos e elementos necessários à terapia e reabilitação da pessoa
portadora de deficiência;
IV - equipamentos, maquinarias e utensílios de trabalho especialmente
desenhados ou adptados para uso por pessoa portadora de deficiência;
V - elementos de mobilidade, cuidado e higiene pessoal necessários para facilitar
a autonomia e a segurança da pessoa portadora de deficiência;
VI - elementos especiais para facilitar a comunicação, a informação e a
sinalização para pessoa portadora de deficiência;
VII - equipamentos e material pedagógico especial para educação, capacitação e
recreação da pessoa portadora de deficiência;
VIII - adaptações ambientais e outras que garantam o acesso, a melhoria
funcional e a autonomia pessoal; e
IX - bolsas coletoras para os portadores de ostomia.
Art. 20 É considerado parte integrante do processo de reabilitação o
provimento de medicamentos que favoreçam a estabilidade clínica e funcional e
auxiliem na limitação da incapacidade, na reeducação funcional e no controle
das lesões que geram incapacidades.
Art. 21 O tratamento e a orientação psicológica serão prestados durante as
distintas fases do processo reabilitador, destinados a contribuir para que a
pessoa portadora de deficiência atinja o mais pleno desenvolvimento de sua
personalidade.
Parágrafo único. O tratamento e os apoios psicológicos serão simultâneos aos
tratamentos funcionais e, em todos os casos, serão concedidos desde a
comprovação da deficiência ou do início de um processo patológico que possa
originá-la.
Art. 22 Durante a reabilitação, será propiciada, se necessária, assistência em
saúde mental com a finalidade de permitir que a pessoa submetida a esta
prestação desenvolva ao máximo suas capacidades.
Art. 23 Será fomentada a realização de estudos epidemiológicos e clínicos, com
periodicidade e abrangência adequadas, de modo a produzir informações sobre
a ocorrência de deficiências e incapacidades.
SEÇÃO II
Do Acesso à Educação
Art. 24 Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e
indireta responsáveis pela educação dispensarão tratamento prioritário e
adequado aos assuntos objeto deste Decreto, viabilizando, sem prejuízo de
outras, as seguintes medidas:
I - a matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos públicos
particulares de pessoa portadora de deficiência capazes de se integrar na rede
regular de ensino;
II - a inclusão, no sistema educacional, da educação especial como modalidade
de educação escolar que permeia transversalmente todos os níveis e as
modalidades de ensino;
III - a inserção, no sistema educacional, das escolas ou instituições
especializadas públicas e privadas;
IV - a oferta, obrigatória e gratuita, da educação especial em estabelecimentos
públicos de ensino;
V - o oferecimento obrigatório dos serviços de educação especial ao educando
portador de deficiência em unidades hospitalares e congêneres nas quais esteja
internado por prazo igual ou superior a um ano; e
VI - o acesso de aluno portador de deficiência aos benefícios conferidos aos
demais educandos, inclusive material escolar, transporte, merenda escolar e
bolsas de estudo.
§ 1º Entende-se por educação especial, para os efeitos deste Decreto, a
modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de
ensino para educando com necessidades educacionais especiais, entre eles o
portador de deficiência.
§ 2º A educação especial caracteriza-se por constituir processo flexível, dinâmico
e individualizado, oferecido principalmente nos níveis de ensino considerados
obrigatórios.
§ 3º A educação do aluno com deficiência deverá iniciar-se na educação infantil,
a partir de zero ano.
§ 4º A educação especial contará com equipe multiprofissional, com a adequada
especialização, e adotará orientações pedagógicas individualizadas.
§ 5º Quando da construção e reforma de estabelecimentos de ensino deverá ser
observado o atendimento as normas técnicas da Associação Brasileira de
Normas Técnicas - ABNT relativas à acessibilidade.
Art. 25 Os serviços de educação especial serão ofertados nas instituições de
ensino público ou privado do sistema de educação geral, de forma transitória ou
permanente, mediante programas de apoio para o aluno que está integrado no
sistema regular de ensino, ou em escolas especializadas exclusivamente quando a
educação das escolas comuns não puder satisfazer as necessidades educativas ou
sociais do aluno ou quando necessário ao bem-estar do educando.
Art. 26 As instituições hospitalares e congêneres deverão assegurar atendimento
pedagógico ao educando portador de deficiência internado nessas unidades por
prazo igual ou superior a um ano, com o propósito de sua inclusão ou
manutenção no processo educacional.
Art. 27 As instituições de ensino superior deverão oferecer adaptações de
provas e os apoios necessários, previamente solicitados pelo aluno portador de
deficiência, inclusive tempo adicional para realização das provas, conforme as
características da deficiência.
§ 1º As disposições deste artigo aplicam-se, também, ao sistema geral do
processo seletivo para ingresso em cursos universitários de instituições de
ensino superior.
§ 2º O Ministério da Educação, no âmbito da sua competência, expedirá
instruções para que os programas de educação superior incluam nos seus
currículos conteúdos, itens ou disciplinas relacionados à pessoa portadora de
deficiência.
Art. 28 O aluno portador de deficiência matriculado ou egresso do ensino
fundamental ou médio, de instituições públicas ou privadas, terá acesso à
educação profissional, a fim de obter habilitação profissional que lhe
proporcione oportunidades de acesso ao mercado de trabalho.
§ 1º A educação profissional para a pessoa portadora de deficiência será
oferecida nos níveis básico, técnico e tecnológico, em escola regular, em
instituições especializadas e nos ambientes de trabalho.
§ 2º As instituições públicas e privadas que ministram educação profissional
deverão, obrigatoriamente, oferecer cursos profissionais de nível básico à pessoa
portadora de deficiência, condicionando a matrícula à sua capacidade de
aproveitamento e não a seu nível de escolaridade.
§ 3º Entende-se por habilitação profissional o processo destinado a propiciar à
pessoa portadora de deficiência, em nível formal e sistematizado, aquisição de
conhecimentos e habilidades especificamente associados a determinada
profissão ou ocupação.
§ 4º Os diplomas e certificados de cursos de educação profissional expedidos
por instituição credenciada pelo Ministério da Educação ou órgão equivalente
terão validade em todo o território nacional.
Art. 29 As escolas e instituições de educação profissional oferecerão, se
necessário, serviços de apoio especializado para atender as peculiaridades da
pessoa portadora de deficiência tais como:
I - adaptação dos recursos instrucionais: material pedagógico, equipamento e
currículo;
II - capacitação dos recuros humanos: professores, instrutores e profissionais
especializados; e
III - adequação dos recursos físicos: eliminação de barreiras arquitetônicas,
ambientais e de comunicação.
SEÇÃO III
Da Habilitação e da Reabilitação Profissional
Art. 30 A pessoa portadora de deficiência, beneficiária ou não do Regime Geral
de Previdência Social, tem direito às prestações de habilitação e reabilitação
profissional para capacitar-se a obter trabalho, conservá-lo e progredir
profissionalmente.
Art. 31 Entende-se por habilitação e reabilitação profissional o processo
orientado a possibilitar que a pessoa portadora de deficiência, a partir da
identificação de suas potencialidades laborativas, adquira o nível suficiente de
desenvolvimento profissional para ingresso e reingresso no mercado de trabalho
e participar da vida comunitária.
Art. 32 Os serviços de habilitação e reabilitação profissional deverão estar
dotados dos recursos necessários para atender toda pessoa portadora de
deficiência, independentemente da origem de sua deficiência, desde que possa
ser preparada para trabalho que lhe seja adequado e tenha perspectivas de obter,
conservar e nele progredir.
Art. 33 A orientação profissional será prestada pelos correspondentes serviços
de habilitação e reabilitação profissional, tendo em conta as potencialidades da
pessoa portadora de deficiência, identificadas com base em relatório de equipe
multiprofissional, que deverá considerar:
I - educação escolar efetivamente recebida e por receber;
II - expectativa de promoção social;
III - possibilidades de emprego existentes em cada caso;
IV - motivações, atitudes e preferências profissionais; e
V - necessidades do mercado de trabalho.
SEÇÃO IV
Do Acesso ao Trabalho
Art. 34 É finalidade primordial da política de emprego a inserção da pessoa
portadora de deficiência no mercado de trabalho ou sua incorporação ao sistema
produtivo mediante regime especial de trabalho protegido.
Parágrafo único. Nos casos de deficiência grave ou severa, o cumprimento do
disposto no caput deste artigo poderá ser efetivado mediante a contratação das
cooperativas sociais de que trata a Lei nº 9.867, de 10 de novembro de 1999.
Art. 35 São modalidades de inserção laboral da pessoa portadora de deficiência:
I - colocação competitiva: processo de contratação regular, nos termos da
legislação trabalhista e previdenciária, que independe da adoção de
procedimentos especiais para sua concretização, não sendo excluída a
possibilidade de utilização de apoios especiais;
II - colocação seletiva: processo de contratação regular, nos termos da legislação
trabalhista e previdenciária, que depende da adoção de procedimentos e apoios
especiais para sua concretização; e
III - promoção do trabalho por conta própria: processo de fomento da ação de
uma ou mais pessoas, mediante trabalho autônomo, cooperativado ou em
regime de economia familiar, com vista à emancipação econômica e pessoal.
§ 1º As entidades beneficentes de assistência social, na forma da lei, poderão
intermediar a modalidade de inserção laboral de que tratam os incisos II e III,
nos seguintes casos:
I - na contratação para prestação de serviços, por entidade pública ou privada,
da pessoa portadora de deficiência física, mental ou sensorial; e
II - na comercialização de bens e serviços decorrentes de programas de
habilitação profissional de adolescente e adulto portador de deficiência em
oficina protegida de produção ou terapêutica.
§ 2º Consideram-se procedimentos especiais os meios utilizados para a
contratação de pessoa que, devido ao seu grau de deficiência, transitória ou
permanente, exija condições especiais, tais como jornada variável, horário
flexível, proporcionalidade de salário, ambiente de trabalho adequado às suas
especialidades, entre outros.
§ 3º Consideram-se apoios especiais a orientação, a supervisão e as ajudas
técnicas entre outros elementos que auxiliem ou permitam compensar uma ou
mais limitações funcionais motoras, sensoriais ou mentais da pessoa portadora
de deficiência, de modo a superar as barreiras da mobilidade e da comunicação,
possibilitando a plena utilização de suas capacidades em condições de
normalidade.
§ 4º Considera-se oficina protegida de produção a unidade que funciona em
relação de dependência com entidade pública ou beneficente de assistência
social, que tem por objetivo desenvolver programa de habilitação profissional
para adolescente e adulto portador de deficiência, provendo-o com trabalho
remunerado, com vista à emancipação econômica e pessoal relativa.
§ 5º Considera-se oficina protegida terapêutica a unidade que funciona em
relação de dependência com entidade pública ou beneficente de assistência
social, que tem por objetivo a integração social por meio de atividades de
adaptação e capacitação para o trabalho de adolescente e adulto que devido ao
seu grau de deficiência, transitória ou permanente, não possa desempenhar
atividade laboral no mercado competitivo de trabalho ou em oficina protegida
de produção.
§ 6º O período de adaptação e capacitação para o trabalho de adolescente e
adulto portador de deficiência em oficina protegida terapêutica não caracteriza
vínculo empregatício e está condicionado a processo de avaliação individual que
considere o desenvolvimento biopsicosocial da pessoa.
§ 7º A prestação de serviços será feita mediante celebração de convênio ou
contrato formal, entre a entidade beneficente de assistência social e o tomador
de serviços, no qual constará a relação nominal dos trabalhadores portadores de
deficiência colocados à disposição do tomador.
§ 8º A entidade que se utilizar do processo de colocação seletiva deverá
promover, em parceria com o tomador de serviços, programas de prevenção de
doenças profissionais e de redução da capacidade laboral, bem assim programas
de reabilitação caso ocorram patologias ou se manifestem outras capacidades.
Art. 36 A empresa com cem ou mais empregados está obrigada a preencher de
dois a cinco por cento de seus cargos com beneficiários da Previdência Social
reabilitados ou com pessoa portadora de deficiência habilitada, na seguinte
proporção:
I - até duzentos empregados, dois por cento;
II - de duzentos e um a quinhentos empregados, três por cento;
III - de quinhentos e um a mil empregados, quatro por cento; ou
IV - mais de mil empregados, cinco por cento.
§ 1º A dispensa de empregado na condição estabelecida neste artigo, quando se
tratar de contrato por prazo determinado, superior a noventa dias, e a dispensa
imotivada, no contrato por prazo indeterminado, somente poderá ocorrer após
a contratação de substituto em condições semelhantes.
§ 2º Considera-se pessoa portadora de deficiência habilitada aquela que concluiu
curso de educação profissional de nível básico, técnico ou tecnológico, ou curso
superior, com certificação ou diplomação expedida por instituição pública ou
privada, legalmente credenciada pelo Ministério da Educação ou órgão
equivalente, ou aquela com certificado de conclusão de processo de habilitação
ou reabilitação profissional fornecido pelo Instituto Nacional do Seguro Social -
INSS.
§ 3º Considera-se também, pessoa portadora de deficiência habilitada aquela
que, não tendo se submetido a processo de habilitação ou reabilitação, esteja
capacitada para o exercício da função.
§ 4º A pessoa portadora de deficiência habilitada nos termos dos §§ 2º e 3º deste
artigo poderá recorrer à intermediação de órgão integrante do sistema público
de emprego, para fins de inclusão laboral na forma deste artigo.
§ 5º Compete ao Ministério do Trabalho e Emprego estabelecer sistemática de
fiscalização, avaliação e controle das empresas, bem como instituir
procedimentos e formulários que propiciem estatísticas sobre o número de
empregados portadores de deficiência e de vagas preenchidas para fins de
acompanhamento do disposto no caput deste artigo.
Art. 37 Fica assegurado à pessoa portadora de deficiência o direito de se
inscrever em concurso público, em igualdade de condições com os demais
candidatos, para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a
deficiência de que é portador.
§ 1º O candidato portador de deficiência, em razão da necessária igualdade de
condições, concorrerá a todas as vagas, sendo reservado no mínimo o
percentual de cinco por cento em face da classificação obtida.
§ 2º Caso a aplicação do percentual de que trata o parágrafo anterior resulte em
número fracionado, este deverá ser elevado até o primeiro número inteiro
subseqüente.
Art. 38 Não se aplica o disposto no artigo anterior nos casos de provimento de:
I - cargo em comissão ou função de confiança, de livre nomeação e exoneração;
e
II - cargo ou emprego público integrante de carreira que exija aptidão plena do
candidato.
Art. 39 Os editais de concursos públicos deverão conter:
I - o número de vagas existentes, bem como o total correspondente à reserva
destinada à pessoa portadora de deficiência;
II - as atribuições e tarefas essenciais dos cargos;
III - previsão de adaptação das provas, do curso de formação e do estágio
probatório, conforme a deficiência do candidato; e
IV - exigência de apresentação, pelo candidato portador de deficiência, no ato
da inscrição, de laudo médico atestando a espécie e o grau ou nível da
deficiência, com expressa referência ao código correspondente da Classificação
Internacional de Doença - CID, bem como a provável causa da deficiência.
Art. 40 É vedado à autoridade competente obstar a inscrição de pessoa
portadora de deficiência em concurso público para ingresso em carreira da
Administração Pública Federal direta e indireta.
§ 1º No ato da inscrição, o candidato portador de deficiência que necessite de
tratamento diferenciado nos dias do concurso deverá requerê-lo, no prazo
determinado em edital, indicando as condições diferenciadas de que necessita
para a realização das provas.
§ 2º O candidato portador de deficiência que necessitar de tempo adicional para
realização das provas deverá requerê-lo, com justificativa acompanhada de
parecer emitido por especialista da área de sua deficiência, no prazo estabelecido
no edital do concurso.
Art. 41 A pessoa portadora de deficiência, resguardadas as condições especiais
previstas neste Decreto, participará de concurso em igualdade de condições com
os demais candidatos no que concerne:
I - ao conteúdo das provas;
II - à avaliação e aos critérios de aprovação;
III - ao horário e ao local de aplicação das provas; e
IV - à nota mínima exigida para todos os demais candidatos.
Art. 42 A publicação do resultado final do concurso será feita em duas listas,
contendo primeiro, a pontuação de todos os candidatos, inclusive a dos
portadores de deficiência, e a seguir somente a pontuação destes últimos.
Art. 43 O órgão responsável pela realização do concurso terá a assistência de
equipe multiprofissional composta de três profissionais capacitados e atuantes
nas áreas das deficiências em questão, sendo um deles médico, e três
profissionais integrantes da carreira almejada pelo candidato.
§ 1º A equipe multiprofissional emitirá parecer observando:
I - as informações prestadas pelo candidato no ato da inscrição;
II - a natureza das atribuições e tarefas essenciais do cargo ou da função a
desempenhar;
III - a viabilidade das condições de acessibilidade e as adequações do ambiente
de trabalho na execução das tarefas;
IV - a possibilidade de uso, pelo candidato, de equipamentos ou outros meios
que habitualmente utilize; e
V - a CID e outros padrões reconhecidos nacional e internacionalmente.
§ 2º A equipe multiprofissional avaliará a compatibilidade entre as atribuições do
cargo e a deficiência do candidato durante o estágio probatório.
Art. 44 A análise dos aspectos relativos ao potencial de trabalho do candidato
portador de deficiência obedecerá ao disposto no Art.20 da Lei nº 8.112, de 11
de dezembro de 1990.
Art. 45 Serão implementados programas de formação e qualificação profissional
voltados para a pessoa portadora de deficiência no âmbito do Plano Nacional de
Formação Profissional - PLANFOR.
Parágrafo único. Os programas de formação e qualificação profissional para
pessoa portadora de deficiência terão como objetivos:
I - criar condições que garantam a toda pessoa portadora de deficência o direito
a receber uma formação profissional adequada;
II - organizar os meios de formação necessários para qualificar a pessoa
portadora de deficiência para a inserção competitiva no mercado laboral; e
III - ampliar a formação e qualificação profissional sob a base de educação geral
para fomentar o desenvolvimento harmônico da pessoa portadora de
deficiência, assim como para satisfazer as exigências derivadas do progresso
técnico, dos novos métodos de produção e da evolução social e econômica.
SEÇÃO V
Da Cultura, do Desporto, do Turismo e do Lazer.
Art. 46 Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e
indireta responsáveis pela cultura, pelo desporto, pelo turismo e pelo lazer
dispensarão tratamento prioritário e adequado aos assuntos objeto deste
Decreto, com vista a viabilizar, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas:
I - promover o acesso da pessoa portadora de deficiência aos meios de
comunicação social;
II - criar incentivos para o exercício de atividades criativas, mediante: a)
participação da pessoa portadora de deficiência em concursos de prêmios no
campo das artes e das letras; e
b) exposições, publicações e representações artísticas de pessoa portadora de
deficiência;
III - incentivar a prática desportiva formal e não-formal como direito de cada
um e o lazer como forma de promoção social;
IV - estimular meios que facilitem o exercício de atividades desportivas entre a
pessoa portadora de deficiência e suas entidades representativas;
V - assegurar a acessibilidade às instalações desportivas dos estabelecimentos de
ensino, desde o nível pré-escolar até a universidade;
VI - promover a inclusão de atividades desportivas para pessoa portadora de
deficiência na prática da educação física ministrada nas instituições de ensino
públicas e privadas;
VII - apoiar e promover a publicação e o uso de guias de turismo com
informação adequada à pessoa portadora de deficiência; e
VIII - estimular a ampliação do turismo à pessoa portadora de deficiência ou
com mobilidade reduzida, mediante a oferta de instalações hoteleiras acessíveis e
de serviços adaptados de transporte.
Art. 47 Os recursos do Programa Nacional de Apoio à Cultura financiarão,
entre outras ações, a produção e a difusão artístico-cultural de pessoa portadora
de deficiência.
Parágrafo único. Os projetos culturais financiados com recursos federais,
inclusive oriundos de programas especiais de incentivo à cultura, deverão
facilitar o livre acesso da pessoa portadora de deficiência, de modo a possibilitar-
lhe o pleno exercício dos seus direitos culturais.
Art. 48 Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e
indireta, promotores ou financiadores de atividades desportivas e de lazer,
devem concorrer técnica e financeiramente para obtenção dos objetivos deste
Decreto.
Parágrafo único. Serão prioritariamente apoiadas a manifestação desportiva de
rendimento e a educacional, compreendendo as atividades de:
I - desenvolvimento de recursos humanos especializados;
II - promoção de competições desportivas internacionais, nacionais, estaduais e
locais;
III - pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, documentação e
informação; e
IV - construção, ampliação, recuperação e adaptação de instalações desportivas
e de lazer.
CAPÍTULO VIII
Da política de capacitação de profissionais especializados
Art. 49 Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e
indireta, responsáveis pela formação de recursos humanos, devem dispensar aos
assuntos objeto deste Decreto tratamento prioritário e adequado, viabilizando,
sem prejuízo de outras, as seguintes medidas:
I - formação e qualificação de professores de nível médio e superior para a
educação especial, de técnicos de nível médio e superior especializados na
habilitação e reabilitação, e de instrutores e professores para a formação
profissional;
II - formação e qualificação profissional, nas diversas áreas de conhecimento e
de recursos humanos que atendam às demandas da pessoa portadora de
deficiência; e
III - incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico em todas as áreas
do conhecimento relacionadas com a pessoa portadora de deficiência.
CAPÍTULO IX
Da acessibilidade na Administração Pública Federal
Art. 50 Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e
indireta adotarão providências para garantir a acessibilidade e a utilização dos
bens e serviços, no âmbito de suas competências, à pessoa portadora de
deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a eliminação de barreiras
arquitetônicas e obstáculos, bem como evitando a construção de novas
barreiras.
Art. 51 Para os efeitos deste Capítulo, consideram-se:
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com
segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das
instalações e equipamentos esportivos, das edificações, dos transportes e dos
sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com
mobilidade reduzida;
II - barreiras: qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a
liberdade de movimento e a circulação com segurança das pessoas, classificadas
em:
a) barreiras arquitetônicas urbanísticas: as existentes nas vias públicas e nos
espaços de uso público;
b) barreiras arquitetônicas na edificação: as existentes no interior dos edifícios
públicos e privados;
c) barreiras nas comunicações: qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou
impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos
meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa.
III - pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida: a que
temporária ou permanentemente tenha limitada sua capacidade de relacionar-se
com o meio ambiente e de utilizá-lo;
IV - elemento da urbanização: qualquer componente das obras de urbanização,
tais como os referentes a pavimentação, saneamento, encanamentos para
esgotos, distribuição de energia elétrica, iluminação pública, abastecimento e
distribuição de água, paisagismo e os que materializam as indicações do
planejamento urbanístico; e
V - mobiliário urbano: o conjunto de objetos existentes nas vias e espaços
públicos, superposto ou adicionados aos elementos da urbanização ou da
edificação, de forma que sua modificação ou translado não provoque alterações
substanciais nestes elementos, tais como semáforo, postes de sinalização,
cabines telefônicas, fontes públicas, lixeiras, toldos, marquises, quiosques e
quaisquer outros de natureza análoga.
Art. 52 A construção, ampliação e reforma de edifícios, praças equipamentos
esportivos e de lazer, públicos e privados, destinados ao uso coletivo deverão
ser executadas de modo que sejam ou se tornem acessíveis à pessoa portadora
de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Parágrafo único. Para os fins do disposto neste artigo, na construção,
ampliação ou reforma de edifícios, praças e equipamentos esportivos e de lazer,
públicos e privados, destinados ao uso coletivo por órgãos da Administração
Pública Federal, deverão ser observados, pelo menos, os seguintes requisitos de
acessibilidade:
I - nas áreas externas ou internas da edificação, destinadas a garagem e a
estacionamento de uso público, serão reservados dois por cento do total das
vagas à pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, garantidas
no mínimo três, próximas dos acessos de circulação de pedestres, devidamente
sinalizadas e com as especificações técnicas de desenho e traçado segundo as
normas da ABNT;
II - pelo menos um dos acessos ao interior da edificação deverá estar livre de
barreiras arquitetônicas e de obstáculos que impeçam ou dificultem a
acessibilidade da pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida;
III - pelo menos um dos intinérarios que comuniquem horizontal e
verticalmente todas as dependências e serviços do edificio, entre si e com o
exterior, cumprirá os requisitos de acessibilidade;
IV - pelo menos um dos elevadores deverá ter a cabine, assim como sua porta
de entrada, acessíveis para pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade
reduzida, em conformidade com norma técnica especificada da ABNT; e
V - os edifícios disporão, pelo menos, de um banheiro acessível para cada
gênero, distribuindo-se seus equipamentos e acessórios de modo que possam ser
ultilizados por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Art. 53 As bibliotecas, os museus, os locais de reuniões, conferências, aulas e
outros ambientes de natureza similar disporão de espaço reservado para pessoas
que utilize cadeira de rodas e de lugares específicos para pessoas portadoras de
deficiência auditiva e visual, inclusive acompanhantes, de acordo com as normas
técnicas da ABNT, de modo a facilitar-lhes as condições de acesso, circulação e
comunicação.
Art. 54 Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal, no prazo de
três anos a partir da publicação deste Decreto, deverão promover as adaptações,
eliminações e supressões de barreiras arquitetônicas existentes nos edifícios e
espaços de uso público e naqueles que estejam sob sua administração ou uso.
CAPÍTULO X
Do Sistema Integrado de Informações
Art. 55 Fica instituído, no âmbito da Secretaria de Estado dos Direitos
Humanos do Ministério da Justiça, o Sistema Nacional de Informações sobre
Deficiência, sob a responsabilidade da CORDE, com finalidade de criar e
manter bases de dados, reunir e difundir informação sobre a situação das
pessoas portadoras de deficiência e fomentar a pesquisa e o estudo de todos os
aspectos que afetem a vida dessas pessoas.
Parágrafo único. Serão produzidas, periodicamente, estatísticas e informações,
podendo esta atividade realizar-se conjuntamente com os censos nacionais,
pesquisas nacionais, regionais e locais, em estreita colaboração com
universidades, institutos de pesquisa e organização para pessoas portadoras de
deficiência.
CAPÍTULO XI
Das Disposições Finais e Transitórias
Art. 56 A Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, com base nas diretrizes e
metas do Plano Plurianual de Investimentos, por intermédio da CORDE,
elaborará, em articulação com outros órgãos e entidades da Administração
Pública Federal, o Plano Nacional de Ações Integradas na Área das
Deficiências.
Art. 57 Fica criada, no âmbito da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos,
comissão especial, com a finalidade de apresentar, no prazo de cento e oitenta
dias, a contar de sua constituição, propostas destinadas a:
I - implementar programa de formação profissional mediante a concessão de
bolsas de qualificação para a pessoa portadora de deficiência, com vistas a
estimular a aplicação do disposto no Art.36; e
II - propor medidas adicionais de estímulo à adoção de trabalho em tempo
parcial ou em regime especial para a pessoa portadora de deficiência.
Páragrafo único. A comissão especial de que trata o caput deste artigo será
composta por um representante de cada órgão e entidade a seguir indicados:
I - CORDE;
II - CONADE;
III - Ministério do Trabalho e Emprego;
IV - Secretaria de Estado de Assistência Social do Ministério da Previdência e
Assistência Social;
V - Ministério da Educação;
VI - Ministério dos Transportes;
VII - Instituto de Pequisas Econômicas Aplicada; e
VIII - INSS.
Art. 58 A CORDE desenvolverá, em articulação com órgãos e entidades da
Administração Pública Federal, programas de facilitação da acessibilidade em
sítios de interesse histórico, turismo, cultural e desportivo, mediante a remoção
de barreiras físicas ou arquitetônicas que impeçam ou dificultem a locomoção de
pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Art. 59 Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação.
Art. 60 Ficam revogados os Decretos nºs 93.481, de 29 de outubro de 1986,
914, de 6 de setembro de 1993, 1.680, de 18 de outubro de 1995, 3.030, de 20 de
abril de 1999, o § 2º do Art.141 do Regulamento da Previdência Social,
aprovado pelo Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999, e o Decreto nº 3.076, de
1º de junho de 1999.
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Assistência à Saúde
1. INTRODUÇÃO
2. PROPÓSITO
3. DIRETRIZES
4. RESPONSABILIDADES INSTITUCIONAIS
5. ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO
6. TERMINOLOGIA
ANEXO D
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
Art. 1º Esta Lei estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da
acessibilidade das pessoas portadoras de deficiências ou com mobilidade
reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços
públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos
meios de transporte e de comunicação.
Art. 2º Para os fins desta Lei são estabelecidas as seguintes definições:
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com
segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das
edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoas
portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida;
II - barreiras: qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a
liberdade de movimento e a circulação com segurança das pessoas, classificadas
em:
a) barreiras arquitetônicas urbanísticas: as existentes nas vias públicas e nos
espaços de uso público;
b) barreiras arquitetônicas na edificação: as existentes no interior dos edifícios
públicos e privados;
c) barreiras arquitetônicas nos transportes: as existentes nos meios de
transportes;
d) barreiras nas comunicações: qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou
impossibilite a expressão ou recebimento de mensagens por intermédio dos
meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa;
III - pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida: a que
temporária ou permanentemente tem limitada sua capacidade de relacionar-se
com meio e de utilizá-lo;
IV - elemento da urbanização: qualquer componente das obras de urbanização,
tais como os referentes a pavimentação, saneamento, encanamentos para
esgotos, distribuição de energia elétrica, iluminação pública, abastecimento e
distribuição de água, paisagismo e os que materializam as indicações do
planejamento urbanístico;
V - mobiliário urbano: o conjunto de objetos existentes nas vias e espaços
públicos, superpostos ou adicionados aos elementos da urbanização da
edificação, de forma que sua modificação ou traslado não provoque alterações
substanciais nestes elementos, tais como semáforos, postes de sinalização e
similares, cabines telefônicas, fontes públicas, lixeiras, toldos, marquises,
quiosques e quaisquer outros de natureza análoga;
VI - ajuda técnica: qualquer elemento que facilite a autonomia pessoal ou
possibilite o acesso e o uso de meio físico.
CAPÍTULO II
Dos Elementos da Urbanização
Art. 3º O planejamento e a urbanização das vias públicas, dos parques e dos
espaços de uso público deverão ser concebidos e executados de forma a torná-lo
acessíveis para as pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade
reduzida.
Art. 4º As vias públicas, os parques existentes, assim como as respectivas
instalações de serviços e mobiliários urbanos deverão ser adaptados,
obedecendo-se ordem de prioridade que vise à maior eficiência das
modificações, no sentido de promover mais ampla acessibilidade às pessoas
portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Art. 5º O projeto e o traçado dos elementos de urbanização públicos e privados
de uso comunitário, nestes compreendidos os itinerários e as passagens de
pedestres, os percursos de entrada e de saída de veículos, as escadas e rampas,
deverão observar os parâmetros estabelecidos pelas normas técnicas de
acessibilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.
Art. 6º Os banheiros de uso público existentes ou a construir em parques,
praças, jardins e espaços livres públicos deverão ser acessíveis e dispor, pelo
menos, de um sanitário que atenda às especificações das normas técnicas da
ABNT.
Art. 7º Em todas as áreas de estabelecimento de veículos, localizadas em vias ou
em espaços públicos, deverão ser reservadas vagas próximas dos acessos de
circulação de pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que transportem
pessoas portadoras deficiência com dificuldade de locomoção.
Parágrafo único. As vagas a que se refere o caput deste artigo deverão ser em
número equivalente a dois por cento do total, garantida, no mínimo, uma vaga,
devidamente sinalizada e com as especificações técnicas de desenho e traçado de
acordo com as normas técnicas vigentes.
CAPÍTULO III
Do Desenho e da Localização do Mobiliário Urbano
Art. 8º Os sinais de tráfego, semáforos, postes de iluminação ou quaisquer
outros elementos verticais de sinalização que devam ser instalados em itinerário
ou espaço de acesso para pedestre deverão ser disposto de forma a não dificultar
ou impedir a circulação, e de modo que possam ser utilizados com a máxima
comodidade.
Art. 9º Os semáforos para pedestre instalados nas vias públicas deverão estar
equipados com mecanismo que emita sinal sonoro suave, intermitente e sem
estridência, ou com mecanismo alternativo, que sirva de guia ou orientação para
a travessia de pessoas portadoras de deficiência visual, se a intensidade do fluxo
de veículos e a periculosidade da via assim determinarem.
Art. 10 Os elementos do mobiliário urbano deverão ser projetados e instalados
em locais que permitam sejam eles utilizados pelas pessoas portadoras de
deficiência ou com mobilidade reduzida.
CAPÍTULO IV
Da acessibilidade nos edifícios públicos ou de uso coletivo
Art. 11 A construção, ampliação ou reforma de edifícios públicos ou privados
destinados ao uso coletivo deverão ser executadas de modo que sejam ou se
tornem acessíveis ás pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade
reduzida.
Parágrafo único. Para os fins do disposto neste artigo, na construção,
ampliação ou reforma de edifícios públicos ou privados destinados ao uso
coletivo deverão ser observados, pelo menos, os seguintes requisitos de
acessibilidade:
I - nas áreas externas ou internas da edificação, destinadas a garagem e a
estacionamento de uso público, deverão ser reservadas vagas próximas dos
acessos de circulação de pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que
transportem pessoas portadoras de deficiência com dificuldade de locomoção
permanente;
II - pelo menos um dos acessos ao interior da edificação deverá estar livre de
barreiras arquitetônicas e de obstáculos que impeçam ou dificultem a
acessibilidade de pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida;
III - pelo menos um dos itinérários que comuniquem horizontal e verticalmente
todas as dependências e serviços do edifício, entre si com o exterior, deverá
cumprir os requisitos de acessibilidade de que trata esta Lei; e
IV - os edifícios deverão dispor, pelo menos, de um banheiro acessível,
distribuindo-se seus equipamentos acessórios de maneira que possam ser
utilizados por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Art. 12 Os locais de espetáculos, conferências, aulas e outros de natureza similar
deverão dispor de espaços reservados para pessoas que utilizam cadeira de
rodas, e de lugares específicos para pessoas com deficiência auditiva e visual,
inclusive acompanhante, de acordo com a ABNT, de modo a facilitar-lhes as
condições de acesso, circulação e comunicação.
CAPÍTULO V
Da acessibilidade nos edifícios de uso privado
Art. 13 Os edifícios de uso privado em que seja obrigatória a instalação de
elevadores deverão ser constituídos atendendo aos seguintes requisitos mínimos
de acessibilidade:
I - percurso acessível que una as unidades habitacionais com o exterior e com as
dependências de uso comum;
II - percurso acessível que una a edificação à via pública, às edificações e aos
serviços anexos de uso comum e aos edifícios vizinhos;
III - cabine do elevador e respectiva porta de entrada acessível para pessoas
portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Art. 14 Os edifícios a serem construídos com mais de um pavimento além do
pavimento de acesso, à exceção das habitações unifamiliares, e que não estejam
obrigados à instalação de elevador, deverão dispor de especificações técnicas e
de projeto que facilitem a instalação de um elevador adaptado, devendo os
demais elementos de uso comum destes edifícios atender aos requisitos de
acessibilidade.
Art. 15 Caberá ao órgão federal responsável pela coordenação da política
habitacional regulamentar a reserva de um percentual mínimo do total das
habitações, conforme a característica da população local, para o atendimento da
demanda de pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.
CAPÍTULO VI
Da acessibilidade nos veículos de transporte coletivo
Art. 16 Os veículos de transporte coletivo deverão cumprir os requisitos de
acessibilidade estabelecidos nas normas técnicas específicas
CAPÍTULO VII
Da acessibilidade nos sistemas de comunicação e sinalização
Art. 17 O Poder Público promoverá a eliminação de barreiras na comunicação e
estabelecerá mecanismo e alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas
de comunicação e sinalização às pessoas portadoras de deficiência sensorial e
com dificuldade de comunicação, para garantir-lhes o direito de acesso à
informação, à comunicação, ao trabalho, à educação, ao transporte, à cultura, ao
esporte e ao lazer.
Art. 18 implementará a formação de profissionais intérpretes de escrita em
braile, linguagem de sinais e de guias-intérpretes, para facilitar qualquer tipo de
comunicação direta à pessoa portadora de deficiência sensorial e com
dificuldade de comunicação.
Art. 19 Os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens adotarão plano
de medidas técnicas com o objetivo de permitir o uso da linguagem de sinais ou
outra subtitulação, para garantir o direito de acesso à informação às pessoas
portadoras de deficiência auditiva, na forma e no prazo previstos em
regulamento.
CAPÍTULO VIII
Disposições sobre ajudas técnicas
CAPÍTULO IX
Das medidas de fomento à eliminação de barreiras
CAPÍTULO X
Disposições Finais
ANEXO E
ANEXO F
VITOR BUAIZ
Governador do Estado
PERLY CIPRIANO
Secretário de Estado da Justiça e da Cidadania
ANEXO G
TÍTULO I
Disposições Preliminares
Art 1º É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos
assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Art 2º O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-
lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para
preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral,
intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
Art 3º É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder
Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao
trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
I - atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos
públicos e privados prestadores de serviços à população;
II - preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas
específicas;
III - destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas
com a proteção ao idoso;
IV - viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e
convívio do idoso com as demais gerações;
V - priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em
detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de
condições de manutenção da própria sobrevivência;
VI - capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e
gerontologia e na prestação de serviços aos idosos;
VII - estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de
informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de
envelhecimento;
VIII - garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social
locais.
Art 4º Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência,
discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus
direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei.
§ 1º É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso.
§ 2º As obrigações previstas nesta Lei não excluem da prevenção outras
decorrentes dos princípios por ela adotados.
Art 5º A inobservância das normas de prevenção importará em
responsabilidade à pessoa física ou jurídica nos termos da lei.
Art 6º Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade competente
qualquer forma de violação a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha
conhecimento.
Art 7º Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais
do Idoso, previstos na Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994, zelarão pelo
cumprimento dos direitos do idoso, definidos nesta Lei.
TÍTULO II
Dos Direitos Fundamentais
CAPÍTULO I
Do Direito à Vida
Art 8º O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um
direito social, nos termos desta Lei e da legislação vigente.
Art 9º É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à
saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um
envelhecimento saudável e em condições de dignidade.
CAPÍTULO II
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
CAPÍTULO IV
Do Direito à Saúde
Art 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio
do Sistema Único de Saúde - SUS, garantindo-lhe o acesso universal e
igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a
prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção
especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos.
§ 1º A prevenção e a manutenção da saúde do idoso serão efetivadas por
meio de:
I - cadastramento da população idosa em base territorial;
II - atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios;
III - unidades geriátricas de referência, com pessoal especializado nas áreas
de geriatria e gerontologia social;
IV - atendimento domiciliar, incluindo a internação, para a população que
dele necessitar e esteja impossibilitada de se locomover, inclusive para idosos
abrigados e acolhidos por instituições públicas, filantrópicas ou sem fins
lucrativos e eventualmente conveniadas com o Poder Público, nos meios urbano
e rural;
V - reabilitação orientada pela geriatria e gerontologia, para redução das
seqüelas decorrentes do agravo da saúde.
§ 2º Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gratuitamente,
medicamentos, especialmente os de uso continuado, assim como próteses,
órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação.
§ 3º É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança
de valores diferenciados em razão da idade.
§ 4º Os idosos portadores de deficiência ou com limitação incapacitante
terão atendimento especializado, nos termos da lei.
Art 16. Ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a
acompanhante, devendo o órgão de saúde proporcionar as condições adequadas
para a sua permanência em tempo integral, segundo o critério médico.
Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde responsável pelo
tratamento conceder autorização para o acompanhamento do idoso ou, no caso
de impossibilidade, justificá-la por escrito.
Art 17. Ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais é
assegurado o direito de optar pelo tratamento de saúde que lhe for reputado
mais favorável.
Parágrafo único. Não estando o idoso em condições de proceder à opção,
esta será feita:
I - pelo curador, quando o idoso for interditado;
II - pelos familiares, quando o idoso não tiver curador ou este não puder
ser contactado em tempo hábil;
III - pelo médico, quando ocorrer iminente risco de vida e não houver
tempo hábil para consulta a curador ou familiar;
IV - pelo próprio médico, quando não houver curador ou familiar
conhecido, caso em que deverá comunicar o fato ao Ministério Público.
Art 18. As instituições de saúde devem atender aos critérios mínimos para
o atendimento às necessidades do idoso, promovendo o treinamento e a
capacitação dos profissionais, assim como orientação a cuidadores familiares e
grupos de auto-ajuda.
Art 19. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra idoso
serão obrigatoriamente comunicados pelos profissionais de saúde a quaisquer
dos seguintes órgãos:
I - autoridade policial;
II - Ministério Público;
III - Conselho Municipal do Idoso;
IV - Conselho Estadual do Idoso;
V - Conselho Nacional do Idoso.
CAPÍTULO V
Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer
Art 20. O idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões,
espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade.
Art 21. O Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à
educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos programas
educacionais a ele destinados.
§ 1º Os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo relativo às técnicas
de comunicação, computação e demais avanços tecnológicos, para sua
integração à vida moderna.
§ 2º Os idosos participarão das comemorações de caráter cívico ou
cultural, para transmissão de conhecimentos e vivências às demais gerações, no
sentido da preservação da memória e da identidade culturais.
Art 22. Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão
inseridos conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à
valorização do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir
conhecimentos sobre a matéria.
Art 23. A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será
proporcionada mediante descontos de pelo menos 50% (cinqüenta por cento)
nos ingressos para eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como
o acesso preferencial aos respectivos locais.
Art 24. Os meios de comunicação manterão espaços ou horários especiais
voltados aos idosos, com finalidade informativa, educativa, artística e cultural, e
ao público sobre o processo de envelhecimento.
Art 25. O Poder Público apoiará a criação de universidade aberta para as
pessoas idosas e incentivará a publicação de livros e periódicos, de conteúdo e
padrão editorial adequados ao idoso, que facilitem a leitura, considerada a
natural redução da capacidade visual.
CAPÍTULO VI
Da Profissionalização e do Trabalho
Art 26. O idoso tem direito ao exercício de atividade profissional,
respeitadas suas condições físicas, intelectuais e psíquicas.
Art 27. Na admissão do idoso em qualquer trabalho ou emprego, é vedada
a discriminação e a fixação de limite máximo de idade, inclusive para concursos,
ressalvados os casos em que a natureza do cargo o exigir.
Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em concurso público
será a idade, dando-se preferência ao de idade mais elevada.
Art 28. O Poder Público criará e estimulará programas de:
CAPÍTULO VII
Da Previdência Social
Art 29. Os benefícios de aposentadoria e pensão do Regime Geral da
Previdência Social observarão, na sua concessão, critérios de cálculo que
preservem o valor real dos salários sobre os quais incidiram contribuição nos
termos da legislação vigente.
Parágrafo único. Os valores dos benefícios em manutenção serão
reajustados na mesma data de reajuste do salário-mínimo, pro rata, de acordo
com suas respectivas datas de início ou do seu último reajustamento, com base
em percentual definido em regulamento, observados os critérios estabelecidos
pela Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991.
Art 30. A perda da condição de segurado não será considerada para a
concessão da aposentadoria por idade, desde que a pessoa conte com, no
mínimo, o tempo de contribuição correspondente ao exigido para efeito de
carência na data de requerimento do benefício.
Parágrafo único. O cálculo do valor do benefício previsto no caput
observará o disposto no caput e § 2º do art. 3º da Lei nº 9.876, de 26 de
novembro de 1999, ou, não havendo salários-de-contribuição recolhidos a partir
da competência de julho de 1994, o disposto no art. 35 da Lei nº 8.213, de 1991.
Art 31. O pagamento de parcelas relativas a benefícios, efetuado com
atraso por responsabilidade da Previdência Social, será atualizado pelo mesmo
índice utilizado para os reajustamentos dos benefícios do Regime Geral de
Previdência Social, verificado no período compreendido entre o mês que deveria
ter sido pago e o mês do efetivo pagamento.
Art 32. O Dia Mundial do Trabalho, 1º de Maio, é a data-base dos
aposentados e pensionistas.
CAPÍTULO VIII
Da Assistência Social
Art 33. A assistência social aos idosos será prestada, de forma articulada,
conforme os princípios e diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência
Social, na Política Nacional do Idoso, no Sistema Único de Saúde e demais
normas pertinentes.
Art 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam
meios para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é
assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei
Orgânica da Assistência Social - Loas.
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família
nos termos do caput não será computado para os fins do cálculo da renda
familiar per capita a que se refere a Loas.
Art 35. Todas as entidades de longa permanência, ou casa-lar, são
obrigadas a firmar contrato de prestação de serviços com a pessoa idosa
abrigada.
§ 1º No caso de entidades filantrópicas, ou casa-lar, é facultada a cobrança
de participação do idoso no custeio da entidade.
§ 2º O Conselho Municipal do Idoso ou o Conselho Municipal da
Assistência Social estabelecerá a forma de participação prevista no § 1º, que não
poderá exceder a 70% (setenta por cento) de qualquer benefício previdenciário
ou de assistência social percebido pelo idoso.
§ 3º Se a pessoa idosa for incapaz, caberá a seu representante legal firmar o
contrato a que se refere o caput deste artigo.
Art 36. O acolhimento de idosos em situação de risco social, por adulto ou
núcleo familiar, caracteriza a dependência econômica, para os efeitos legais.
CAPÍTULO IX
Da Habitação
Art 37. O idoso tem direito a moradia digna, no seio da família natural ou
substituta, ou desacompanhado de seus familiares, quando assim o desejar, ou,
ainda, em instituição pública ou privada.
CAPÍTULO I
Das Disposições Gerais
Art 43. As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis sempre que os
direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
Art 46. A política de atendimento ao idoso far-se-á por meio do conjunto
articulado de ações governamentais e não-governamentais da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Art 47. São linhas de ação da política de atendimento:
I - políticas sociais básicas, previstas na Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de
1994;
II - políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para
aqueles que necessitarem;
III - serviços especiais de prevenção e atendimento às vítimas de
negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
IV - serviço de identificação e localização de parentes ou responsáveis por
idosos abandonados em hospitais e instituições de longa permanência;
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos dos
idosos;
VI - mobilização da opinião pública no sentido da participação dos
diversos segmentos da sociedade no atendimento do idoso.
CAPÍTULO II
Das Entidades de Atendimento ao Idoso
Art 48. As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das
próprias unidades, observadas as normas de planejamento e execução emanadas
do órgão competente da Política Nacional do Idoso, conforme a Lei nº 8.842,
de 1994.
Parágrafo único. As entidades governamentais e não-governamentais de
assistência ao idoso ficam sujeitas à inscrição de seus programas, junto ao órgão
competente da Vigilância Sanitária e Conselho Municipal da Pessoa Idosa, e em
sua falta, junto ao Conselho Estadual ou Nacional da Pessoa Idosa,
especificando os regimes de atendimento, observados os seguintes requisitos:
I - oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade,
higiene, salubridade e segurança;
II - apresentar objetivos estatutários e plano de trabalho compatíveis com
os princípios desta Lei;
III - estar regularmente constituída;
IV - demonstrar a idoneidade de seus dirigentes.
Art 49. As entidades que desenvolvam programas de institucionalização de
longa permanência adotarão os seguintes princípios:
CAPÍTULO III
Da Fiscalização das Entidades de Atendimento
Art 52. As entidades governamentais e não-governamentais de
atendimento ao idoso serão fiscalizadas pelos Conselhos do Idoso, Ministério
Público, Vigilância Sanitária e outros previstos em lei.
Art 53. O art. 7º da Lei nº 8.842, de 1994, passa a vigorar com a seguinte
redação:
"Art. 7º Compete aos Conselhos de que trata o art. 6º desta Lei a supervisão, o
acompanhamento, a fiscalização e a avaliação da política nacional do idoso, no
âmbito das respectivas instâncias político-administrativas." (NR)
Art 54. Será dada publicidade das prestações de contas dos recursos
públicos e privados recebidos pelas entidades de atendimento.
Art 55. As entidades de atendimento que descumprirem as determinações
desta Lei ficarão sujeitas, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de
seus dirigentes ou prepostos, às seguintes penalidades, observado o devido
processo legal:
I - as entidades governamentais:
a) advertência;
b) afastamento provisório de seus dirigentes;
c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
d) fechamento de unidade ou interdição de programa;
II - as entidades não-governamentais:
a) advertência;
b) multa;
c) suspensão parcial ou total do repasse de verbas públicas;
d) interdição de unidade ou suspensão de programa;
e) proibição de atendimento a idosos a bem do interesse público.
§ 1º Havendo danos aos idosos abrigados ou qualquer tipo de fraude em
relação ao programa, caberá o afastamento provisório dos dirigentes ou a
interdição da unidade e a suspensão do programa.
§ 2º A suspensão parcial ou total do repasse de verbas públicas ocorrerá
quando verificada a má aplicação ou desvio de finalidade dos recursos.
§ 3º Na ocorrência de infração por entidade de atendimento, que coloque
em risco os direitos assegurados nesta Lei, será o fato comunicado ao Ministério
Público, para as providências cabíveis, inclusive para promover a suspensão das
atividades ou dissolução da entidade, com a proibição de atendimento a idosos a
bem do interesse público, sem prejuízo das providências a serem tomadas pela
Vigilância Sanitária.
§ 4º Na aplicação das penalidades, serão consideradas a natureza e a
gravidade da infração cometida, os danos que dela provierem para o idoso, as
circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes da entidade.
CAPÍTULO IV
Das Infrações Administrativas
Art 56. Deixar a entidade de atendimento de cumprir as determinações do
art. 50 desta Lei:
Pena - multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais),
se o fato não for caracterizado como crime, podendo haver a interdição do
estabelecimento até que sejam cumpridas as exigências legais.
Parágrafo único. No caso de interdição do estabelecimento de longa
permanência, os idosos abrigados serão transferidos para outra instituição, a
expensas do estabelecimento interditado, enquanto durar a interdição.
Art. 57. Deixar o profissional de saúde ou o responsável por
estabelecimento de saúde ou instituição de longa permanência de comunicar à
autoridade competente os casos de crimes contra idoso de que tiver
conhecimento:
Pena - multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 3.000,00 (três mil reais),
aplicada em dobro no caso de reincidência.
Art. 58. Deixar de cumprir as determinações desta Lei sobre a prioridade
no atendimento ao idoso:
Pena - multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 1.000,00 (um mil reais)
e multa civil a ser estipulada pelo juiz, conforme o dano sofrido pelo idoso.
CAPÍTULO V
Da Apuração Administrativa de Infração às Normas de Proteção ao Idoso
Art 59. Os valores monetários expressos no Capítulo IV serão atualizados
anualmente, na forma da lei.
Art 60. O procedimento para a imposição de penalidade administrativa por
infração às normas de proteção ao idoso terá início com requisição do
Ministério Público ou auto de infração elaborado por servidor efetivo e
assinado, se possível, por duas testemunhas.
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração poderão ser usadas
fórmulas impressas, especificando-se a natureza e as circunstâncias da infração.
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração seguir-se-á a lavratura
do auto, ou este será lavrado dentro de 24 (vinte e quatro) horas, por motivo
justificado.
Art 61. O autuado terá prazo de 10 (dez) dias para a apresentação da
defesa, contado da data da intimação, que será feita:
I - pelo autuante, no instrumento de autuação, quando for lavrado na
presença do infrator;
II - por via postal, com aviso de recebimento.
Art 62. Havendo risco para a vida ou à saúde do idoso, a autoridade
competente aplicará à entidade de atendimento as sanções regulamentares, sem
prejuízo da iniciativa e das providências que vierem a ser adotadas pelo
Ministério Público ou pelas demais instituições legitimadas para a fiscalização.
Art 63. Nos casos em que não houver risco para a vida ou a saúde da
pessoa idosa abrigada, a autoridade competente aplicará à entidade de
atendimento as sanções regulamentares, sem prejuízo da iniciativa e das
providências que vierem a ser adotadas pelo Ministério Público ou pelas demais
instituições legitimadas para a fiscalização.
CAPÍTULO VI
Da Apuração Judicial de Irregularidades em Entidade de Atendimento
Art. 64. Aplicam-se, subsidiariamente, ao procedimento administrativo de
que trata este Capítulo as disposições das Leis nos 6.437, de 20 de agosto de
1977, e 9.784, de 29 de janeiro de 1999.
Art. 65. O procedimento de apuração de irregularidade em entidade
governamental e não-governamental de atendimento ao idoso terá início
mediante petição fundamentada de pessoa interessada ou iniciativa do
Ministério Público.
Art. 66. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o
Ministério Público, decretar liminarmente o afastamento provisório do dirigente
da entidade ou outras medidas que julgar adequadas, para evitar lesão aos
direitos do idoso, mediante decisão fundamentada.
Art. 67. O dirigente da entidade será citado para, no prazo de 10 (dez) dias,
oferecer resposta escrita, podendo juntar documentos e indicar as provas a
produzir.
Art. 68. Apresentada a defesa, o juiz procederá na conformidade do art. 69
ou, se necessário, designará audiência de instrução e julgamento, deliberando
sobre a necessidade de produção de outras provas.
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o Ministério Público
terão 5 (cinco) dias para oferecer alegações finais, decidindo a autoridade
judiciária em igual prazo.
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo de dirigente
de entidade governamental, a autoridade judiciária oficiará a autoridade
administrativa imediatamente superior ao afastado, fixando-lhe prazo de 24
(vinte e quatro) horas para proceder à substituição.
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade judiciária poderá
fixar prazo para a remoção das irregularidades verificadas. Satisfeitas as
exigências, o processo será extinto, sem julgamento do mérito.
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da entidade ou ao
responsável pelo programa de atendimento.
TÍTULO V
Do Acesso à Justiça
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
Art 69. Aplica-se, subsidiariamente, às disposições deste Capítulo, o
procedimento sumário previsto no Código de Processo Civil, naquilo que não
contrarie os prazos previstos nesta Lei.
Art 70. O Poder Público poderá criar varas especializadas e exclusivas do
idoso.
Art 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e
procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em que figure como
parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos,
em qualquer instância.
§ 1º O interessado na obtenção da prioridade a que alude este artigo,
fazendo prova de sua idade, requererá o benefício à autoridade judiciária
competente para decidir o feito, que determinará as providências a serem
cumpridas, anotando-se essa circunstância em local visível nos autos do
processo.
§ 2º A prioridade não cessará com a morte do beneficiado, estendendo-se
em favor do cônjuge supérstite, companheiro ou companheira, com união
estável, maior de 60 (sessenta) anos.
§ 3º A prioridade se estende aos processos e procedimentos na
Administração Pública, empresas prestadoras de serviços públicos e instituições
financeiras, ao atendimento preferencial junto à Defensoria Publica da União,
dos Estados e do Distrito Federal em relação aos Serviços de Assistência
Judiciária.
§ 4º Para o atendimento prioritário será garantido ao idoso o fácil acesso
aos assentos e caixas, identificados com a destinação a idosos em local visível e
caracteres legíveis.
CAPÍTULO II
Do Ministério Público
∗
Razões do veto ao final.
a) expedir notificações, colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso
de não comparecimento injustificado da pessoa notificada, requisitar condução
coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar;
b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades
municipais, estaduais e federais, da administração direta e indireta, bem como
promover inspeções e diligências investigatórias;
c) requisitar informações e documentos particulares de instituições
privadas;
VI - instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e a
instauração de inquérito policial, para a apuração de ilícitos ou infrações às
normas de proteção ao idoso;
VII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados
ao idoso, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
VIII - inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os
programas de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas administrativas
ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades porventura verificadas;
IX - requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços de
saúde, educacionais e de assistência social, públicos, para o desempenho de suas
atribuições;
X - referendar transações envolvendo interesses e direitos dos idosos
previstos nesta Lei.
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações cíveis previstas
neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo dispuser
a lei.
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não excluem outras, desde que
compatíveis com a finalidade e atribuições do Ministério Público.
§ 3º O representante do Ministério Público, no exercício de suas funções,
terá livre acesso a toda entidade de atendimento ao idoso.
Art 75. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará
obrigatoriamente o Ministério Público na defesa dos direitos e interesses de que
cuida esta Lei, hipóteses em que terá vista dos autos depois das partes, podendo
juntar documentos, requerer diligências e produção de outras provas, usando os
recursos cabíveis.
Art 76. A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, será feita
pessoalmente.
Art 77. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do
feito, que será declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer
interessado.
CAPÍTULO III
Da Proteção Judicial dos Interesses Difusos, Coletivos e Individuais Indisponíveis ou
Homogêneos
Art 78. As manifestações processuais do representante do Ministério
Público deverão ser fundamentadas.
Art 79. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade
por ofensa aos direitos assegurados ao idoso, referentes à omissão ou ao
oferecimento insatisfatório de:
I - acesso às ações e serviços de saúde;
II - atendimento especializado ao idoso portador de deficiência ou com
limitação incapacitante;
III - atendimento especializado ao idoso portador de doença infecto-
contagiosa;
IV - serviço de assistência social visando ao amparo do idoso.
Parágrafo único. As hipóteses previstas neste artigo não excluem da
proteção judicial outros interesses difusos, coletivos, individuais indisponíveis
ou homogêneos, próprios do idoso, protegidos em lei.
Art 80. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do
domicílio do idoso, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa,
ressalvadas as competências da Justiça Federal e a competência originária dos
Tribunais Superiores.
Art 81. Para as ações cíveis fundadas em interesses difusos, coletivos,
individuais indisponíveis ou homogêneos, consideram-se legitimados,
concorrentemente:
I - o Ministério Público;
II - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
III - a Ordem dos Advogados do Brasil;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano e
que incluam entre os fins institucionais a defesa dos interesses e direitos da
pessoa idosa, dispensada a autorização da assembléia, se houver prévia
autorização estatutária.
§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da
União e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.
§ 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por associação
legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado deverá assumir a
titularidade ativa.
Art 82. Para defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, são
admissíveis todas as espécies de ação pertinentes.
Parágrafo único. Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública ou
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições de Poder Público, que
lesem direito líquido e certo previsto nesta Lei, caberá ação mandamental, que se
regerá pelas normas da lei do mandado de segurança.
Art 83. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de
fazer ou não-fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou
determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao
adimplemento.
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado
receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela
liminarmente ou após justificação prévia, na forma do art. 273 do Código de
Processo Civil.
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do § 1º ou na sentença, impor multa diária
ao réu, independentemente do pedido do autor, se for suficiente ou compatível
com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado da sentença
favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado.
Art 84. Os valores das multas previstas nesta Lei reverterão ao Fundo do
Idoso, onde houver, ou na falta deste, ao Fundo Municipal de Assistência Social,
ficando vinculados ao atendimento ao idoso.
Parágrafo único. As multas não recolhidas até 30 (trinta) dias após o
trânsito em julgado da decisão serão exigidas por meio de execução promovida
pelo Ministério Público, nos mesmos autos, facultada igual iniciativa aos demais
legitimados em caso de inércia daquele.
Art 85. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar
dano irreparável à parte.
Art 86. Transitada em julgado a sentença que impuser condenação ao
Poder Público, o juiz determinará a remessa de peças à autoridade competente,
para apuração da responsabilidade civil e administrativa do agente a que se
atribua a ação ou omissão.
Art 87. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença
condenatória favorável ao idoso sem que o autor lhe promova a execução,
deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada, igual iniciativa aos demais
legitimados, como assistentes ou assumindo o pólo ativo, em caso de inércia
desse órgão.
Art 88. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá adiantamento de
custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas.
Parágrafo único. Não se imporá sucumbência ao Ministério Público.
Art 89. Qualquer pessoa poderá, e o servidor deverá, provocar a iniciativa
do Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os fatos que constituam
objeto de ação civil e indicando-lhe os elementos de convicção.
Art 90. Os agentes públicos em geral, os juízes e tribunais, no exercício de
suas funções, quando tiverem conhecimento de fatos que possam configurar
crime de ação pública contra idoso ou ensejar a propositura de ação para sua
defesa, devem encaminhar as peças pertinentes ao Ministério Público, para as
providências cabíveis.
Art 91. Para instruir a petição inicial, o interessado poderá requerer às
autoridades competentes as certidões e informações que julgar necessárias, que
serão fornecidas no prazo de 10 (dez) dias.
Art 92. O Ministério Público poderá instaurar sob sua presidência,
inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pessoa, organismo público ou
particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o
qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias.
§ 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se
convencer da inexistência de fundamento para a propositura da ação civil ou de
peças informativas, determinará o seu arquivamento, fazendo-o
fundamentadamente.
§ 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informação arquivados
serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três)
dias, ao Conselho Superior do Ministério Público ou à Câmara de Coordenação
e Revisão do Ministério Público.
§ 3º Até que seja homologado ou rejeitado o arquivamento, pelo Conselho
Superior do Ministério Público ou por Câmara de Coordenação e Revisão do
Ministério Público, as associações legitimadas poderão apresentar razões escritas
ou documentos, que serão juntados ou anexados às peças de informação.
§ 4º Deixando o Conselho Superior ou a Câmara de Coordenação e
Revisão do Ministério Público de homologar a promoção de arquivamento, será
designado outro membro do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
TÍTULO VI
Dos Crimes
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
Art 93. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as disposições da Lei
nº 7.347, de 24 de julho de 1985.
Art 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de
liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na
Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as
disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.
CAPÍTULO II
Dos Crimes em Espécie
Art 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública
incondicionada, não se lhes aplicando os arts. 181 e 182 do Código Penal.
Art 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a
operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por
qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania, por
motivo de idade:
Pena - reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou
discriminar pessoa idosa, por qualquer motivo.
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se encontrar sob
os cuidados ou responsabilidade do agente.
Art 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem
risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar
sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de
autoridade pública:
Pena - detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta
lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Art 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de
longa permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas,
quando obrigado por lei ou mandado:
Pena - detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa.
Art 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso,
submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de
alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o
a trabalho excessivo ou inadequado:
Pena - detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 2º Se resulta a morte:
Pena - reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.
Art 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um)
ano e multa:
I - obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo de
idade;
II - negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho;
III - recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de prestar
assistência à saúde, sem justa causa, a pessoa idosa;
IV - deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução
de ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei;
V - recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura
da ação civil objeto desta Lei, quando requisitados pelo Ministério Público.
Art 101. Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a
execução de ordem judicial expedida nas ações em que for parte ou
interveniente o idoso:
Pena - detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Art 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer
outro rendimento do idoso, dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade:
Pena - reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.
Art 103. Negar o acolhimento ou a permanência do idoso, como abrigado,
por recusa deste em outorgar procuração à entidade de atendimento:
Pena - detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Art 104. Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios,
proventos ou pensão do idoso, bem como qualquer outro documento com
objetivo de assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida:
Pena - detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.
Art 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunicação,
informações ou imagens depreciativas ou injuriosas à pessoa do idoso:
Pena - detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
Art 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar
procuração para fins de administração de bens ou deles dispor livremente:
Pena - reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
Art 107. Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou
outorgar procuração:
Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
Art 108. Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem discernimento
de seus atos, sem a devida representação legal:
Pena - reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
TÍTULO VII
Disposições Finais e Transitórias
Art 109. Impedir ou embaraçar ato do representante do Ministério Público
ou de qualquer outro agente fiscalizador:
Pena - reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
Art 110. O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal,
passa a vigorar com as seguintes alterações:
"Art. 61. ...........................................................................
...........................................................................
II - ...........................................................................
...........................................................................
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;
............................................................................
"Art. 121. ...........................................................................
...........................................................................
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime
resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o
agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso
o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado
contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
............................................................................
"Art. 133. ......................................................................................................................
§ 3º ................................................................................................................................
III - se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos."
"Art. 140. ...........................................................................
...........................................................................
§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia,
religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:
...........................................................................
"Art. 141. ...........................................................................
...........................................................................
IV - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência,
exceto no caso de injúria.
............................................................................
"Art. 148. ...........................................................................
...........................................................................
§ 1º.......................................................................... .
I - se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge do agente ou maior de 60
(sessenta) anos.
..........................................................................." ;
"Art.159.............................................................................................................................
§ 1º Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é
menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido
por bando ou quadrilha.
..........................................................................."
"Art. 183...........................................................................................................................
III - se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos."
"Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de
filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente
inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos
necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente
acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente
ou ascendente, gravemente enfermo:
..........................................................................." ;
Art 111. O art. 21 do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941, Lei
das Contravenções Penais, passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo
único:
"Art. 21............................................................................
...........................................................................
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima
é maior de 60 (sessenta) anos."
Art 112. O inciso II do § 4º do art. 1º da Lei nº 9.455, de 7 de abril de
1997, passa a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 1º ...........................................................................
...........................................................................
§ 4º ...........................................................................
II - se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência,
adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos;
..........................................................................." ;
Art 113. O inciso III do art. 18 da Lei nº 6.368, de 21 de outubro de 1976,
passa a vigorar com a seguinte redação:
"Art. 18............................................................................
...........................................................................
III - se qualquer deles decorrer de associação ou visar a menores de 21 (vinte e
um) anos ou a pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou a
quem tenha, por qualquer causa, diminuída ou suprimida a capacidade de
discernimento ou de autodeterminação:
..........................................................................." ;
Art 114. O art. 1º da Lei nº 10.048, de 8 de novembro de 2000, passa a
vigorar com a seguinte redação:
"Art. 1º As pessoas portadoras de deficiência, os idosos com idade igual ou
superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as lactantes e as pessoas
acompanhadas por crianças de colo terão atendimento prioritário, nos termos
desta Lei”.
Art 115. O Orçamento da Seguridade Social destinará ao Fundo Nacional
de Assistência Social, até que o Fundo Nacional do Idoso seja criado, os
recursos necessários, em cada exercício financeiro, para aplicação em programas
e ações relativos ao idoso.
Art 116. Serão incluídos nos censos demográficos dados relativos à
população idosa do País.
Art 117. O Poder Executivo encaminhará ao Congresso Nacional projeto
de lei revendo os critérios de concessão do Benefício de Prestação Continuada
previsto na Lei Orgânica da Assistência Social, de forma a garantir que o acesso
ao direito seja condizente com o estágio de desenvolvimento sócio-econômico
alcançado pelo País.
Art 118. Esta Lei entra em vigor decorridos 90 (noventa) dias da sua
publicação, ressalvado o disposto no caput do art. 36, que vigorará a partir de 1º
de janeiro de 2004.
Brasília, 1º de outubro de 2003;
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Márcio Thomaz Bastos
Antonio Palocci Filho
Rubem Fonseca Filho
Humberto Sérgio Costa LIma
Guido Mantega
Ricardo José Ribeiro Berzoini
Benedita Souza da Silva Sampaio
Álvaro Augusto Ribeiro Costa
Presidência da
República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
MENSAGEM Nº 503, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003.
II - .......................................................................................................................
..............................................................
Razões do veto
"É certo que a propositura visa, com a inclusão da letra "h" ao art. 275 do
Código de Processo Civil, a dar maior rapidez na entrega da prestação
jurisdicional. Sem embargo, sua adoção pode não surtir os efeitos desejados pelo
legislador, na medida em que o acolhimento de tal medida acarretará
conseqüências negativas ao desiderato da prestação jurisdicional.
A primeira delas refere-se à delimitação do âmbito de incidência do
procedimento sumário, estabelecido em dois critérios: o do valor e o da matéria.
A inclusão do elemento idade às hipóteses do procedimento sumário não se
concilia com a singeleza do procedimento em questão, que reclama
contraditório de menor complexidade. É um equívoco pensar que o
procedimento sumário, por concentrar os atos processuais, somente beneficiará
a parte ou interveniente com idade igual ou superior a 60 anos. A esse suposto
benefício contrapõem-se as ações que demandam contraditório de maior
amplitude, e que, por determinação legal, estaria fadada a seguir rito mais célere,
o que provocaria, em última análise, o comprometimento do direito de defesa,
principalmente, se levarmos em consideração a incompatibilidade de
determinados instrumentos processuais com o rito sumário, a exemplo da
reconvenção, da declaratória incidental e da intervenção de terceiros.
A segunda conseqüência refere-se à atribuição dos Juizados Especiais
Cíveis em julgar as causas que figuram no inciso II do art. 275 do Código de
Processo Civil (art. 3o, inciso II, da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995),
que por mero consectário legal também passaria a ter competência para julgar a
hipótese trazida na letra "h". Ocorre que, a Constituição quando dispõe sobre a
criação dos Juizados Especiais é categórica ao estabelecer sua competência para
julgamento e execução de causas cíveis de menor complexidade (art. 98, inciso
I). É certo que o dispositivo em questão, a rigor, não se enquadra nas "causas de
menor complexidade", e que sua adoção, por via reflexa, conflita com o referido
preceito constitucional. Ora, pessoas idosas possuidoras de grandes fortunas, ou
representantes de interesses econômicos relevantes, estariam abrangidos pela
norma, mesmo quando os litígios em que estivessem envolvidas fossem de
enorme complexidade e/ou de grande vulto.
A par do elevado propósito que norteou a elaboração do novo texto,
entendemos que a busca da celeridade da justiça poderá ser alcançada não pela
inclusão das causas em que for parte pessoa com idade igual ou superior a 60
anos no procedimento sumário, mas pela própria prioridade na tramitação do
feito em que figure aquelas pessoas, o que não causaria prejuízo ao direito de
defesa da parte ou ao bom andamento da justiça.
Ademais, a invocação da idade para o reconhecimento de benefício
processual, qual seja, a possibilidade de opção pelo procedimento sumário ou
pelo juizado especial, sem considerar o grau de complexidade da lide ou a
condição econômica da parte, implica discriminação não razoável. O critério
etário não justifica benefício processual incompatível com causas de maior
complexidade, às quais é inapropriada a cognição simplificada típica do
procedimento sumário ou do juizado especial. Proporcionar tais vias processuais
aos mais idosos - sem nenhuma correlação lógica entre processo e idade da
parte - em detrimento das partes não idosas, é ofensa ao princípio da isonomia
que requer veto presidencial por inconstitucionalidade flagrante. Vale lembrar
que já há, na ordem jurídica brasileira, determinação de prioridade processual -
seja qual for o rito ou o juízo - para os processos em que figure como parte ou
interveniente pessoa com idade igual ou superior a sessenta e cinco anos (cf. art.
1.211-A do Código de Processo Civil, acrescentado pela Lei no 10.173, de 9 de
janeiro de 2001)."
A Advocacia-Geral da União acrescentou a seguinte manifestação:
"A índole do processo é que determina o rito a ser por este seguido,
objetivando que atinja seu escopo com a maior brevidade e segurança possíveis.
O legislador, portanto, tem a tarefa de mensurar o grau de formalismo
necessário para a resolução imparcial da lide.
Com base nisso, o rito sumário é estabelecido levando em conta o valor da
causa (inciso I) ou a matéria objeto da ação (inciso II), o que discrepa da
disposição projetada, adstrita à idade das partes ou do interveniente.
Por óbvio, a idade não é elemento que permita fixar rito procedimental,
ante a impossibilidade de o legislador verificar se a forma por ele escolhida é
capaz de conduzir a uma prestação jurisdicional eficaz. A celeridade só pode ser
buscada se na solução dos conflitos as partes tiverem a seu dispor os meios de
defesa indispensáveis à obtenção do direito, o que não ocorrerá em todos os
casos, porque a norma proposta não se pauta na complexidade da demanda, que
conduziria a um rito formal ou até mesmo diferenciado.
Não bastasse isso, cumpre lembrar que o art. 98, I, da Constituição Federal
estatui que a União e os Estados criarão juizados especiais, providos por juízes
togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a
execução de causas cíveis de menos complexidade e infrações de menor
potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos,
nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por
turmas de juízes de primeiro grau.
Assim, a Lei no 9.099, de 1995, estatuiu, no art. 3o, II, que o Juizado
Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das
causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas, dentre outras, as
enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil.
A inclusão da alínea "h" no inciso II do art. 275 do CPC acaba por atribuir
competência aos juizados especiais para todas as causas em que uma das partes
ou interveniente seja idoso, ainda que a matéria nelas versada tenha elevado grau
de complexidade, posto que não se leva em conta o objeto da lide, mas a
qualificação da parte, o que se compadece com o art. 98, I, da CF, razão porque
não pode ser aceita.
Enfim, o já exposto configura uma inconstitucionalidade. A introdução do
elemento idade, proporcionando a qualquer tipo de demanda o procedimento
sumário e os juizados especiais, independentemente da complexidade da causa
ou da condição sócio-econômica da parte, gera severo desarranjo processual,
bem assim desiguala partes com base em fator de discriminação - a idade - sem
nenhuma razoabilidade no contexto enfocado. Trata-se, portanto, de uma
inconstitucionalidade, por ofensa ao princípio da igualdade, a ser eliminada pelo
veto presidencial."
Estas, Senhor Presidente, as razões que me levaram a vetar o dispositivo
acima mencionado do projeto em causa, as quais ora submeto à elevada
apreciação dos Senhores Membros do Congresso Nacional.
Brasília, 1o de outubro de 2003.
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 3 de outubro de 2003
ANEXO I
CAPÍTULO I
Da Finalidade
Art. 1º A política nacional do idoso tem por objetivo assegurar os direitos
sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e
participação efetiva na sociedade.
Art. 2º Considera-se idoso, para os efeitos desta lei, a pessoa maior de sessenta
anos de idade.
CAPÍTULO II
Dos Princípios e das Diretrizes
SEÇÃO I
Dos Princípios
Art. 3° A política nacional do idoso reger-se-á pelos seguintes princípios:
I - a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os
direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo
sua dignidade, bem-estar e o direito à vida;
II - o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo
ser objeto de conhecimento e informação para todos;
III - o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza;
IV - o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a
serem efetivadas através desta política;
V - as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as
contradições entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas
pelos poderes públicos e pela sociedade em geral, na aplicação desta lei.
SEÇÃO II
Das Diretrizes
Art. 4º Constituem diretrizes da política nacional do idoso:
I - viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do
idoso, que proporcionem sua integração às demais gerações;
II - participação do idoso, através de suas organizações representativas, na
formulação, implementação e avaliação das políticas, planos, programas e
projetos a serem desenvolvidos;
III - priorização do atendimento ao idoso através de suas próprias famílias, em
detrimento do atendimento asilar, à exceção dos idosos que não possuam
condições que garantam sua própria sobrevivência;
IV - descentralização político-administrativa;
V - capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e
gerontologia e na prestação de serviços;
VI - implementação de sistema de informações que permita a divulgação da
política, dos serviços oferecidos, dos planos, programas e projetos em cada nível
de governo;
VII - estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de
informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais do
envelhecimento;
VIII - priorização do atendimento ao idoso em órgãos públicos e privados
prestadores de serviços, quando desabrigados e sem família;
IX - apoio a estudos e pesquisas sobre as questões relativas ao envelhecimento.
Parágrafo único. É vedada a permanência de portadores de doenças que
necessitem de assistência médica ou de enfermagem permanente em instituições
asilares de caráter social.
CAPÍTULO III
Da Organização e Gestão
Art. 5º Competirá ao órgão ministerial responsável pela assistência e promoção
social a coordenação geral da política nacional do idoso, com a participação dos
conselhos nacionais, estaduais, do Distrito Federal e municipais do idoso.
Art. 6º Os conselhos nacional, estaduais, do Distrito Federal e municipais do
idoso serão órgãos permanentes, paritários e deliberativos, compostos por igual
número de representantes dos órgãos e entidades públicas e de organizações
representativas da sociedade civil ligadas à área.
Art. 7º Compete aos conselhos de que trata o artigo anterior a formulação,
coordenação, supervisão e avaliação da política nacional do idoso, no âmbito
das respectivas instâncias político-administrativas.
Art. 8º À União, por intermédio do ministério responsável pela assistência e
promoção social, compete:
I - coordenar as ações relativas à política nacional do idoso;
II - participar na formulação, acompanhamento e avaliação da política nacional
do idoso;
III - promover as articulações intraministeriais e interministeriais necessárias à
implementação da política nacional do idoso;
IV - (vetado;)
V - elaborar a proposta orçamentária no âmbito da promoção e assistência
social e submetê-la ao Conselho Nacional do Idoso.
Parágrafo único. Os ministérios das áreas de saúde, educação, trabalho,
previdência social, cultura, esporte e lazer devem elaborar proposta
orçamentária, no âmbito de suas competências, visando ao financiamento de
programas nacionais compatíveis com a política nacional do idoso.
Art. 9º (Vetado.)
Parágrafo único. (Vetado.)
CAPÍTULO IV
Das Ações Governamentais
Art. 10. Na implementação da política nacional do idoso, são competências dos
órgãos e entidades públicos:
I - na área de promoção e assistência social:
a) prestar serviços e desenvolver ações voltadas para o atendimento das
necessidades básicas do idoso, mediante a participação das famílias, da sociedade
e de entidades governamentais e não-governamentais;
b) estimular a criação de incentivos e de alternativas de atendimento ao idoso,
como centros de convivência, centros de cuidados diurnos, casas-lares, oficinas
abrigadas de trabalho, atendimentos domiciliares e outros;
c) promover simpósios, seminários e encontros específicos;
d) planejar, coordenar, supervisionar e financiar estudos, levantamentos,
pesquisas e publicações sobre a situação social do idoso;
e) promover a capacitação de recursos para atendimento ao idoso;
II - na área de saúde:
a) garantir ao idoso a assistência à saúde, nos diversos níveis de atendimento do
Sistema Único de Saúde;
b) prevenir, promover, proteger e recuperar a saúde do idoso, mediante
programas e medidas profiláticas;
c) adotar e aplicar normas de funcionamento às instituições geriátricas e
similares, com fiscalização pelos gestores do Sistema Único de Saúde;
d) elaborar normas de serviços geriátricos hospitalares;
e) desenvolver formas de cooperação entre as Secretarias de Saúde dos Estados,
do Distrito Federal, e dos Municípios e entre os Centros de Referência em
Geriatria e Gerontologia para treinamento de equipes interprofissionais;
f) incluir a Geriatria como especialidade clínica, para efeito de concursos
públicos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais;
g) realizar estudos para detectar o caráter epidemiológico de determinadas
doenças do idoso, com vistas a prevenção, tratamento e reabilitação; e
h) criar serviços alternativos de saúde para o idoso;
III - na área de educação:
a) adequar currículos, metodologias e material didático aos programas
educacionais destinados ao idoso;
b) inserir nos currículos mínimos, nos diversos níveis do ensino formal,
conteúdos voltados para o processo de envelhecimento, de forma a eliminar
preconceitos e a produzir conhecimentos sobre o assunto;
c) incluir a Gerontologia e a Geriatria como disciplinas curriculares nos cursos
superiores;
d) desenvolver programas educativos, especialmente nos meios de comunicação,
a fim de informar a população sobre o processo de envelhecimento;
e) desenvolver programas que adotem modalidades de ensino à distância,
adequados às condições do idoso;
f) apoiar a criação de universidade aberta para a terceira idade, como meio de
universalizar o acesso às diferentes formas do saber;
IV - na área de trabalho e previdência social:
a) garantir mecanismos que impeçam a discriminação do idoso quanto a sua
participação no mercado de trabalho, no setor público e privado;
b) priorizar o atendimento do idoso nos benefícios previdenciários;
c) criar e estimular a manutenção de programas de preparação para
aposentadoria nos setores público e privado com antecedência mínima de dois
anos antes do afastamento;
V - na área de habitação e urbanismo:
a) destinar, nos programas habitacionais, unidades em regime de comodato ao
idoso, na modalidade de casas-lares;
b) incluir nos programas de assistência ao idoso formas de melhoria de
condições de habitabilidade e adaptação de moradia, considerando seu estado
físico e sua independência de locomoção;
c) elaborar critérios que garantam o acesso da pessoa idosa à habitação popular;
d) diminuir barreiras arquitetônicas e urbanas;
VI - na área de justiça:
a) promover e defender os direitos da pessoa idosa;
b) zelar pela aplicação das normas sobre o idoso determinando ações para evitar
abusos e lesões a seus direitos;
VII - na área de cultura, esporte e lazer:
a) garantir ao idoso a participação no processo de produção, reelaboração e
fruição dos bens culturais;
b) propiciar ao idoso o acesso aos locais e eventos culturais, mediante preços
reduzidos, em âmbito nacional;
c) incentivar os movimentos de idosos a desenvolver atividades culturais;
d) valorizar o registro da memória e a transmissão de informações e habilidades
do idoso aos mais jovens, como meio de garantir a continuidade e a identidade
cultural;
e) incentivar e criar programas de lazer, esporte e atividades físicas que
proporcionem a melhoria da qualidade de vida do idoso e estimulem sua
participação na comunidade.
§ 1º É assegurado ao idoso o direito de dispor de seus bens, proventos, pensões
e benefícios, salvo nos casos de incapacidade judicialmente comprovada.
§ 2º Nos casos de comprovada incapacidade do idoso para gerir seus bens, ser-
lhe-á nomeado Curador especial em juízo.
§ 3º Todo cidadão tem o dever de denunciar à autoridade competente qualquer
forma de negligência ou desrespeito ao idoso.
CAPÍTULO V
Do Conselho Nacional
Art. 11 (Vetado).
Art. 12 (Vetado).
Art. 13 (Vetado).
Art. 14 (Vetado).
Art. 15 (Vetado).
Art. 16 (Vetado).
Art. 17 (Vetado).
Art. 18 (Vetado).
CAPÍTULO VI
Das Disposições Gerais
Art. 19 Os recursos financeiros necessários à implantação das ações afetas às
áreas de competência dos governos federal, estaduais, do Distrito Federal e
municipais serão consignados em seus respectivos orçamentos.
Art. 20 O Poder Executivo regulamentará esta lei no prazo de sessenta dias, a
partir da data de sua publicação.
Art. 21 Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 22 Revogam-se as disposições em contrário.
ITAMAR FRANCO
ANEXO J
Nelson A. Jobim
Paulo Renato Souza
Francisco Weffort
Paulo Paiva
Reinhold Stephanes
Adib Jatene
Antonio Kandir
ANEXO L
CAPÍTULO I
Da Finalidade
CAPÍTULO II
Dos Princípios
CAPÍTULO III
Das Diretrizes
CAPÍTULO IV
Da Organização e Gestão
CAPÍTULO V
Das Ações Governamentais
CAPÍTULO VI
Do Conselho Estadual
CAPÍTULO VII
Do Fundo Estadual para Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa
Art. 19 Fica criado o Fundo Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa,
destinado a gerir recursos e financiar as atividades do Conselho Estadual dos
Direitos da Pessoa Idosa, que terá como receita:
I - Dotações orçamentárias que lhe forem consignadas;
II - Contribuições, subvenções e auxílios de entidades públicas e privadas;
III - Recursos provenientes de acordos, convênios ou contratos realizados com
entidades particulares e públicas, nacionais, estrangeiras ou internacionais, de
acordo com a lei;
IV - Rendimentos oriundos de participação de fundos especiais e de aplicação
de recursos;
V - Emolumentos;
VI - Doações e legados;
VII - Quaisquer outros recursos lícitos que lhe forem destinados.
CAPÍTULO VIII
Das Disposições Gerais
Art. 20 O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de noventa dias, a
contar da data de sua publicação.
Art. 21 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 22 Revogam-se as disposições em contrário.
Ordeno, portanto, a todas as autoridades que a cumpram e a façam cumprir
como nela se contém.
A Secretária de Estado da Justiça e da Cidadania faça publica-la, imprimir e
correr.
ANEXO M
ANEXO N
Para dar mais vida aos anos que são acrescentados à vida
INDEPENDÊNCIA
PARTICIPAÇÃO
CUIDADOS
AUTO-REALIZAÇÃO
DIGNIDADE
ANEXO O
Capítulo I
DA FINALIDADE
Capítulo II
PRINCÍPIOS VISADOS
Capítulo III
ORGANIZAÇÃO DO CONSELHO
Art. 5º - O Conselho Municipal do Idoso será composto por re-
presentantes de órgãos públicos e da sociedade civil, que se vinculam à área de
atenções à velhice, cabendo-Ihes as seguintes funções:
I - implantar a Política Municipal do Idoso no Município, observando as
proposições e eventuais alterações da Política Nacional e Estadual específicas,
que atendam às transformações que ocasionem mudanças na sua aplicação;
II - avaliar e elaborar propostas que possibilitem aperfeiçoar a legislação
pertinente à Política Municipal do Idoso nos tópicos da Lei Orgânica do
Município, através de emendas que a atualizem;
III - assessorar e apoiar instituições públicas ou privadas que promovem
eventos educativos, informativos e de lazer voltados para o público idoso, na
conformidade desta lei;
IV - colaborar para a melhor integração dos órgãos e instituições públicas ou
privadas no âmbito local, em todas as ações voltadas para a terceira idade;
V - assessorar o governo municipal ou entidades patrocinadoras, quando
solicitado, na obtenção e destinação de recursos técnicos e/ou financeiros, a
programas relacionados à conscientização sobre o envelhecimento e qualidade
de vida do indivíduo idoso.
Capítulo IV
• Na área da saúde:
• Na área de educação:
Capítulo V
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
_______________________
Prefeito Municipal
ANEXO P
ANEXO Q
OF.CGMP/CG/201/03 - CIRCULAR
Senhor(a) Promotor(a) de Justiça,
Atenciosamente,
AO (A)
EXMO(A) SR(A) PROMOTOR(A) DE JUSTIÇA COM ATRIBUIÇÃO EM
MATÉRIA DA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA E/OU DOS
IDOSOS
ANEXO R
ANEXO S
ESTADO:
Como fazer?
a) Contato pessoal com os Conselhos e Associações e com as autoridades;
b) Inquérito Civil com ajustamento de conduta;
c) Ação Civil pública e outras ações judiciais necessárias.
ANEXO T
Aos vinte e sete dias do mês de setembro do ano dois mil e dois, no Município
de Vitória, Estado do Espírito Santo, no auditório da Procuradoria - Geral de
Justiça, por ocasião da realização do “SEMINÁRIO INSTRUMENTOS
LEGAIS DE DEFESA DOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA E DA
PESSOA IDOSA”, promovido através de uma idealização do Ministério
Público Federal, Ministério Público Estadual e Ministério Público do Trabalho,
reunidos em plenária, após exposições doutrinárias, estudos e atividades em
oficinas e debates, cientes do papel dos Ministérios Públicos para efetivação dos
direitos elencados na Carta Magna, deliberam e comprometem-se com o que
segue:
a) Promover reuniões trimestrais dos Ministérios Públicos com atribuições na defesa dos
direitos das pessoas idosas e dos portadores de deficiência;
b) Realizar atuação integrada, visando revogar as concessões de transporte coletivo que não
proporcionem acesso adequado aos idosos e portadores de deficiência;
c) Acompanhar os conselhos responsáveis pelo controle social das políticas públicas relacionadas
aos idosos e portadores de deficiência;
d Executar ações integradas no âmbito dos Ministérios Públicos, visando a adequação do meio
físico às pessoas idosas e aos portadores de deficiência;
e) Fiscalizar a destinação dos recursos previstos por Lei para os fundos federais, estaduais e
municipais e a correta aplicação dos mesmos;
a) Contatar com os Ministérios ligados ao tema (saúde, etc...), a partir de 02.01.03, para
inserir no Plano Plurianual da União (2004/2007) as ações e os serviços públicos
relacionados à pessoa portadora de deficiência e idosa;
b) Pôr-se em contato com Conselhos Nacionais (saúde, idoso, pessoa portadora de deficiência,
etc.) para aprovarem ou incluírem ações e serviços públicos para a pessoa portadora de
deficiência e idosa;
e) Pôr-se em contato com o Governador para sancionar o autógrafo de Lei PPA 2004/2007
que contemple ações e serviços públicos para a pessoa portadora de deficiência e idosa;
Como fazer? a) Contato pessoal com as autoridades; b) Inquérito civil com ajustamento de
conduta; c) Ação civil pública.
3. Os Ministérios Públicos Estadual, Federal e do Trabalho devem expedir
recomendações conjuntas a todos os Municípios, ao próprio Estado do Espírito
Santo e aos órgãos federais neste Estado, da administração direta ou indireta,
para que observem, nos respectivos concursos públicos ou nas chamadas
contratações temporárias, a reserva de vagas para as pessoas portadoras de
deficiência.