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Gregório de Matos
À cidade da Bahia
"A cada canto um grande conselheiro. que nos quer governar cabana, e vinha,
não sabem goverar sua cozinha, e podem goverar o mundo inteiro.
Em cada porta um freqùentado olheiro, que a vida do vizinho, e da vizinha
pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha, para a levar à Praça, e ao Terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados, trazidos pelos pés os homens nobres. posta
nas palmas toda a picardia. Estupendas usuras nos mercados, todos, os que não
furtam, muito pobres, e eis aqui a cidade da Bahia."
"Neste mundo é mais rico, o que mais rapa: Quem mais limpo se faz, tem mais
carepa: Com sua língua ao nobre o vil decepa: O Velhaco maior sempre tem
capa.Mostra o patife da nobreza o mapa: Quem tem mão de agarrar, ligeiro
trepa; Quem menos falar pode, mais increpa: Quem dinheiro tiver, pode ser
Papa. A flor baixa se inculca por Tulipa; Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra, o que mais chupa. Para a tropa do trapo vazio a tripa, E
mais não digo, porque a Musa topa Em apa, epa, ipa, opa, upa."
Bento Teixeira
O Amor Fino
O amor fino não busca causa nem fruto. Se amo, porque me amam, tem o amor
causa; se amo, para que me amem, tem fruto: e amor fino não há-de ter porqué
nem para qué. Se amo, porque me amam, é obrigação, faço o que devo: se amo.
para que me amem, é negociação, busco o que desejo.
Pois como há-de amar o amor para ser fino? Amo, quia amo; amo, ut amem:
amo. porque amo, e amo para amar. Quem ama porque o amam é agradecido.
quem ama, para que o amem, é interesseiro: quem ama, não porque o amam,
nem para que o amem, só esse é fino.