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IN MEDIO VIRTUS
,
RIO DE JANEIRO
1988
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IN MEDIO VIRTUS
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RIO DE JANEIRO
1988
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Coord enação editoria l : Cr i s t ina Mary Paes da Cunha
Nota:
A 66 3 i
50 p.
I n t rodução! 1
o absoluto e o re l a t ivo! 6
o E s tado e o homem! 26
Conclusão! 44
Bibl iografia! 46
In troduçã o
de 30, traz endo como novidade e s s encia lmente dois e l ementos: a pro
ç o e s pessoa i s c o m a s de poder .
da sua doutrina que a orig ina l idade do integra l i smo pode vir a
1
Uma � i s ão geral d a obra d e Rea l e , com ê n f a s e n o período p6s - in
tegra l i s t a , poderá ser encontrada em M iguel Rea l e na UnB (1981 ) ,
des tacando - s e os t e x t o s de Ronaldo P o l e t t i , C e l s o L a f e r , Ant6nio
Paim e Tércio Sampa i o Ferraz J r .
2
vamente s i s temá t ica , um con junto de sug e s tões que perman eciam até
então inéd i t a s na c ena públ ica nac i ona l . Estas sugestõe s , em li-
nha s gera i s , propunham não s ó a cons trução d e uma soc i edade absoly
. ' . 2
são po s i ç õ e s como e s ta s , de cunho n i t idamente totall.tar�o,
e que o fe-
,
qualquer lugar.
2 Sobre o conc eito de tota l i tari smo , pode-se consul tar o traba lho
c l á s s ico de Hannah Arendt , The origins o f tota l i tarian i sm ( 1973 ) .
Creio também que v a l e a pena dar uma o lhada na rec ente col etânea
de Le fort ( 1981 ) , e, para s e ter uma idé i a de uma variante tota
l i tária bra s i l e i ra , no meu e s tudo sobre a obra de P l í n io Sa lga
do ( c f . Benzaquen de Araú j o , 1984 ) .
3
sua doutrina a urna única perspect iva , mesmo que e s ta tenha urna
a preocupação com o con j unto , com o todo , nao imp l ica a abol ição ,
- - 4
a anulaçao das partes que o compoem .
f i rmar um já antigo intere s s e pelo soc i a l i smo e pela ques tão so-
acadêmica.
trina . Este cargo logo o trans forma em uma f i gura púb l ica , que
a r e f l exão do que para o comba te , não imp l ica n e c e s sar iamente que
5
No que s e r e f e r e � formação e � carre i ra de Rea l e , deve - s e exa-
minar o verbete que lhe é dedicado no· Dicionário h i s tórico bio
gráfico hra s i l e ito ( c f. Be loch & A l v e s de Abreu , 1985 ) , a l ém dos
comentários autobiográ f i cos f e i t o s em Dantas Mota (198 1 ) e Mi
gue l Rea l e n a UnB ( 19 8 1 ) .
5
lhe um sentido extremame nte moderado e erud ito , erud ição que se
que Rea l e vai con s truir do integra l i smo , v i são que pa sso agora a
d i scu t i r .
6
Autores que , não por acaso , e s tabeleceram uma relação , me smo que
complexa e d i ferenc iada , com a perspec t i va con s e rvadora ( cf .
N i s be t , 1967 ) .
6
o absoluto e o relativo
tincia que o " i ndi viduo como �nico centro c r i ador d e d i r e i tos" ( EM ?
p . 70) vai receber dentro d e l a . A noçao de ind ividuo e seus corol�
7
Daqui em d i a n te, O E s t ad o mod e rn o , e a "-F -, o ",...
r= m ", i 0,--,d=ac...
c"7-"' p"- .J o "-= l í...t=-=i " c ", a "-..b ...-_
lada . . . pelo poder púb l i c o " (EM , p . 7 2 ) que carac t e r i zava o mercan-
numa e spe-
.
Na França , pe l a pro-
.
mente entregues aos cuidados das " providenc i a i s " leis da natureza.
indiv íduo veicu l ada pelo l ibera l i smo , poi s , baseand o - s e numa con-
i nd i v í duo e
,
presente na mesma propo rcã o e com o mesmo cont eúdo (os d i r e i t o s hu-
vada dos indiv íduo s , impe d i r o l i vre curso d a s l e i s " natura i s " da
9
( EM , p . 77 ) .
E l e não pode intervir d e mane ira po s i t iva na soc iedade , repres entan
a atuar como um " g e ndarme " , um " guarda d e t r â n s i toll (cf . Berli n ,
dos .
8
Para uma d i scussão m a i s apro fundada dos conc e i t o s de l iberdade ne
gativa e po s i t iva , v e j a os e s tudos de Be r l i n ( 1975 ) e de La fer
( 1980 ) .
10
grupo pelo outro , e a própria " negat iv idade " da l i berdade acaba
o monopo-
,
l ibera l .
ao
,
fato de que
11
R ea l e , citando aqui um dos capítu lOS da Dec laração dos Direitos Hu-
manos , e la consiste
qualquer atividade que pud e s s e ampliar a faixa dos que são bene fi-
ciados p e l o s direitos humanos , não tendo nenhum poder para " sociali
fender iso ladamente o s próprios d i r e i to s " , faz endo com que cada
Assim,
nou por se organ i z a r de forma inte i ramen t e d i versa daqu e l a que ha-
fase tem i n í c i o com o " prot e c i on i smo a l fandegário " e x i g ido pe los
empresár ios de a l gumas nações que , sem pode r concorrer com a s mer-
do-se em uma e s péc i e de "mar ione t e " n a s mãos dos f inanc i s t a s inter-
naciona i s , que o man ipu l am a seu " b e l -praz e r " , ora forç ando - o a ir
geu .
e l e itorado
catos e carté i s , com suas von tad e s part iculares e con f l i t i va s , dan-
fantasma .
até mesmo pelos própr ios integrantes do f a s c i smo . Num e s forço para
t egr a l .
pria doutrina libera l , pois faz " tábu l a rasa de muitas conquistas
'. .
tas duas " prov idinc ias " , a a l ternat iva proposta pe lo integra l i smo
igualdade e de uma v i são " nega t i v a " da l iberdade . Ac redi tando que
os homens eram " natura lmen te " igua is, que todos po s s uíam a mesma
19
" quantida de " d e razao , e la pre sumia que bas tava l ibertar os homens
curso da razão , para que a igua ldade s e torna s s e regra . Era um " in
d i v idual i smo quan t i ta t i vo " , para u t i l i z a rmos uma e x pres sa0 de Sim
me l ( 1950 , p. 64 ) .
e nao a sua pass i v idade d i ante das forças " natura i s " e invar i á v e i s
da razao .
" qual idad e s " internas d e cada indiv íduo . o integra l i smo de Rea l e ,
a s s im, vai ut i l i z a r uma v i são " qua l i ta t i v a " d o indiv íduo (cf . S im-
t o pelo int egra l i smo , aprese nta duas carac t e r í s t i cas b á s i ca s . Des-
denado r , que garanta a "supl ementação r e c í proc a " (cf . S imme l , 1950,
" c entro coordenado r " , rea l i zando a " in tegração i nc e s sante das va-
quia .
e spec i a lmente , sua re lação com o traba lho, e s fera onde sao ma iores
pos que representariam um "segundo nív e l " de " re a l i zação " , de ex-
dade de atuação pOl í t ica dos i n d i v íduos , impl icando s imp l e smente a
manutenção de " uma e s fera privada de ação não controlada pelo po-
Abso luti zando a par t i c i pação pOl í t ica , a vida púb l i c a , ela term i -
naria por e x i g i r a
mesmo resul tado: a anul ação da persona l idade do ind iv íduo . Uma
10
A c r í t ica que R e a l e d i r i g e à l iberdade posItiva é , n e s t e pont o ,
fundamenta lmente a mesma que é f e i t a por B e r l i n no s eu " Two COI!
cepts of l i berty" ( em Be r l i n , 1975 ) . A d i f e rença entre os do i s
é que a d i scordâ ncia d e B e r l i n abso l u t i z a a l iberdade nega t iva ,
tran s formando toda mob i l i z ação em v e í culo para o tota l i ta r i smo ,
enquanto Rea l e , o r i entado pelo que , segundo S imme l (1950 ) , e s
tou chamando de "l iberdade qua l i t a t i va " , não condena d e f i n i tivª
mente a idéia de pa r t i c ipaç ão , mas tenta combiná - l a com a d e f e
s a d e valores plura l i stas , a i nda que o s e u s e j a u m plura l i smo
e s s enc i a lmente l im i tado , j á que é corpora t i vo e con s e rvador.
23
p. 99) , corpos int ermediár ios que , representando uma amp l i ação da
faixa de " re a l i z ação" de cada indiv íduo , vão t e r sua formação ba
fato de que todos e sco lheram a área dos têxte i s , por exemp lo, para
E s tado .
das , num modelo que parece rea lmen t e e s tar mais próximo de uma or-
ra nao p�ra a í , poi s o projeto integra l i sta que e s tamos ana l i sando
con s i s tente que o l ibera l i smo e o �ota l i ta r i smo . Ele tem também
11
A d i ferença entre h i e rarquia e tota l i tari smo é d i s cutida , numa
prime i ra abordagem, p e l o art igo d e Dumont (1970 ) , e pelo meu
t e x to sobre P l í n io S a l gado (c f . Benzaquen de Araú j o , 1984 ) .
26
o Estado e o homem
poi s l á e s tão cont idos e ana l i sados os mod e los que s ervem de ba-
sua prime ira seção , o l e i tor t a l v e z pude s s e t e r uma v i são bem ra
zoável do pensamento d e R e a l e .
mente pod e roso . E s t e E s tado teve por tare fa a unif icação das d i fg
rentes soc iedad e s que v i v iam no i n t e r ior do impé r i o , pos sibi l i tan-
do que houv e s se
Não s e imag ine , contudo , que e st e ex traord inário pod er de que usu-
bu ições conc retas d o Estado, faz endo com q u e a " consc iência impe
na s eçao anterior , a democ racia antiga valori zava apenas uma certa
" revolução" operada pelo c r i s t ia n i smo , a int rodução de uma " c u l tu-
ra da persona l idade " , faz endo com que " o homem deixasse de valer
como c idadão para valer como homem" (FPB , p. 21) . A princ ipa l COI!
guia ser rad i c a l mesmo quando comparada com a " d emocrá tica Atena s " ,
cia , po i s era preci samente a con s c i ência ind i v id ua l que e stava serr
autor idade do impe rado r , num proc e s s o que c r i ava fendas e buracos
traduz ido pelos germanos não adm i t i a nenhuma conv i vência com a
tati smo d e povos cansado s " (FPB , p . 36) . Como r e s u l t ado d e s s e chQ
30
uma " e spec i a l capac idade de adaptação " , a s s im i l ando , quando inevi-
r e l igiosa med i e va l .
bárbaros que haviam invadido o imp�r io . o ind ividual i smo dos ger-
31
manos nao cami nhou numa d i reçio moderna , autonomi zando os ind i v í -
sao os únicos suje itos da prime ira fase da Idade Média . De fenden-
ronatos , que a soc i edade med ieval v a i se organ i z a r . Ne sse per ío-
como base o l a t i fúnd io e a mio-de-obra serv i l " , sendo " muito pequ.§.
da" ( F PB , p. 59) .
feud ai s " , mas também para regu l a r i zar a sua própria a t ividade pro
c i rculação d a s mercador i a s .
nas " c omuna s " , que s e tornam o " r e fúgio da ind ú s t r i a nascente e
de Méd ia .
Dessa mane i ra , " cada corporaçao tem sua vida própr ia , au-
tárquica " . são " v erdadei ros E s tados dentro do E s tado" , " l igados ª
penas em acordos trans i t ó r ios " (FPB , p. 54/ 5 ) , para promover o bem
princí pios .
33
derno .
til .
t e r nac iona l , amp l i ando sua inf luênc ia para a l ém dos muros da c i -
de. D e s s a forma ,
que qua lquer med ida de ordem prá t i c a , como as que foram ac ima l i s -
ind iv íduo moderno , que tem sua sub j e t i v idade trans formada em um
de ind i v idual " prec i s amente quando s e a f i rma a sobe rania do Esta-
d e s s a insuperável contrad i ç ão .
era pos s í v e l s e perceber uma tentat iva de conc i l i á- los , rea l i zada
ta , j á ana l i sada .
tegra l i sta , não é d i re ta , mas med i a t i zada por corpos intermed iá-
do " , pois " um Estado sem núc leos assoc i a t ivos capa z e s de por em
cond ições de vinga r , e foi compl etamente de sprezada pela trad ição
Assim,
reduz ido à sua v e rsao mín ima , e os indiv íduos se organizam sem e l e ,
mana , acredi tando que os homens pod iam v i ver em pa z desde o e s tado
seus seme lhan te s , no qua l cada um e todos pod e riam obedecer " l i
los , perdendo todo o seu s ent ido é t i c o , pas sando a atuar somente
E s tado so e
,
ra i s da razao .
sem l i m i te s " .
princ ipa l componen t e , uma coação usada agora como regra , cotid iana
mindo a l iberdade para o própr io bem dos indiv íduos . Hobbe s , as-
Na mesma epo-
,
cont inuam opondo o E s tado ao indiv íduo . I rão surg i r , como eles,
sa . No pensamento dos próprios " ideó logos " da Revolução Franc esa ,
domínio po l í t i c o da doutrina l ib e ra l .
12
Note - s e que R e a l e u t i l i z a expl i c i tame nte o trabalho c l á s s ico de
Burckhard t , A c i v i l i zacão do Renasc imento na I t á l i a , fonte d e s
ta ú l t ima c i tação , para a sua aná l i s e d e s t e tema .
43
sid erado corno urna fórmula burguesa de tota l i z ação , po i s sua propo�
moderno , tem o seu quadro h i s tór ico , o retrato dos s eus antec e s s o
Conc lusão
con junto d e sua obra pub l i cada no período , d e i xando a tarefa para
um e s tudo po s t e r i o r .
em função d a sua a s soc iação com um ponto d e v i sta con s e rvado r , nao
do tota l i t� r i o " .
uma nova ordem que permita aos s e u s integrantes conviver e s s enc ia�
Bibl iogr a f i a
DUMONT , Loui s . " Le rac i sme comme maladie de l a soc i e t é moderne " ,
Noro i t , a v r i l , 1 9 70.
MANNH E I M , Karl . " Cons erva t i v e though t " , em Essays on socio logy
and soc i a l psychology . New York , Ox ford Univer s i ty Pre s s ,
1953 .