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Regulação de Fintechs brasileiras: conheça as regras para o setor 1

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 3

O QUE É UMA FINTECH? ..................................................................................... 4

VOCÊ CONHECE AS FINTECHS MAIS FAMOSAS DO BRASIL?...... 6

OS RAMOS DE ATUAÇÃO DE UMA FINTECH ........................................ 7

FINTECHS X BANCOS DIGITAIS ....................................................................... 14

O PAPEL DO ADVOGADO NAS FINTECHS ................................................ 18

A IMPORTÂNCIA DA REGULAMENTAÇÃO DAS FINTECHS NO


BRASIL .............................................................................................................................. 19

A REGULAMENTAÇÃO DAS FINTECHS ....................................................... 20

REGRAS EM COMUM PARA SEP E SCD ...................................................... 24

O PROFISSIONAL DO DIREITO E AS FINTECHS .................................... 29

COMO SER UM PROFISSIONAL DE EXCELÊNCIA NO DIREITO


DIGITAL? ......................................................................................................................... 31

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 37

CONHEÇA O IDP LEARNING .............................................................................. 38

CONHEÇA AS REDES SOCIAIS DO IDP ONLINE .................................... 39

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INTRODUÇÃO

O mundo se transformou e a nossa forma de trabalhar com dinheiro tam-


bém. A revolução tecnológica nos permitiu o contato com as fintechs. Dessa
forma, a compreensão do ambiente em que esta modalidade de empresa está
inserida é fundamental para entendermos as oportunidades, perspectivas e os
desafios que nos esperam.

Trata-se de um novo modelo de negócio, que preza pela eficiência e alta


competitividade no mercado de crédito. As fintechs prezam pela celeridade e
rapidez nas transações, otimizando seus processos para obter a diminuição da
burocracia de acesso ao crédito.

Conhecer o segmento das fintechs é indispensável para atuar no mer-


cado jurídico focado em tecnologia.Todos os dias há inúmeras oportunidades
para advogados de Direito Digital, tanto para oferecer serviços jurídicos, quanto
para buscar a otimização dos resultados de fintechs.

Neste livro digital, preparamos para você um sobrevoo sobre as legisla-


ções que tratam dos aspectos jurídicos das fintechs, explorando o que há de
mais relevante nesses modelos de negócios.

Esperamos que ele seja útil para sua atuação profissional!


Boa leitura!

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O QUE É UMA FINTECH?

As fintechs são empresas que atuam no mercado financeiro e


costumam se destacar porque trazem inovações por meio da utili-
zação da tecnologia, criando novos modelos de negócios.

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Em regra, as fintechs atuam por meio de plataformas digitais
e oferecem serviços disruptivos no setor financeiro, sendo, em sua
maioria, serviços voltados para o fornecimento de crédito.

Uma curiosidade em relação à nomenclatura fintech é que ela


nasce da união de dois termos em inglês: financial + technology.
Sendo assim, trata-se de uma empresa de “tecnologia financeira”,
que oferece soluções financeiras inovadoras.

A finalidade de uma fintech é a desburocratização do acesso


ao crédito. Com um modelo inovador, essas empresas trabalham
com a finalidade de reduzir custos para a própria empresa e para
seus clientes, ampliando, cada vez mais, a concorrência no mercado
de crédito.

Se você refletir, há uma certa semelhança entre uma fintech


e uma startup. Isso ocorre porque as fintechs são uma espécie de
startup que atuam, especialmente, no setor financeiro.

Quando você pensa em startups, por exemplo, poderá lembrar-


-se que essa nomenclatura está mais associada a empresas inovado-
ras em estágio inicial, enquanto as fintechs já são mais consolidadas
no mercado.

Sendo assim, o estudo das normas regulamentadoras é indis-


pensável para que você tenha a possibilidade de se aprofundar ain-
da mais no tema.

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VOCÊ CONHECE AS FINTECHS
MAIS FAMOSAS DO BRASIL?

Talvez você não saiba, mas as fintechs já fazem parte do nos-


so cotidiano. São diversas empresas que atuam no setor financeiro,
tem forte nome no mercado e estão se consolidando cada vez mais.

Uma das pioneiras e principais fintechs no Brasil é a NuBank! Sim,


aquela empresa do cartão roxinho.

Mas a NuBank não é a única! Podemos citar também a PicPay,


PagSeguro, Neon, Toro Investimentos, entre outras famosas em-
presas que atuam no mercado financeiro.

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OS RAMOS DE ATUAÇÃO
DE UMA FINTECH

Quando você alinha tecnologia e dinheiro o céu é o limite! Isso


porque, há inúmeras áreas de atuação para fintechs! Para facilitar
seu estudo, buscaremos descrever cada uma delas.

Ademais, vale lembrar que se você conhece os ramos de atu-


ação de uma fintech, saberá quais as regras que se aplicam a cada
modalidade.

Quer um exemplo? Vamos lá!

Imagine que você trabalha como advogado, atuando direta-


mente com pequenas e médias empresas. Uma das reclamações
que você possivelmente escutará é a taxa de juros e manutenção
das máquinas de cartão de crédito.

Quando você conhece, por exemplo, as modalidades de finte-


chs, poderá ver que há negócios inovadores que podem ajudar o seu
cliente na redução de custos. É o caso, por exemplo, das fintechs de
pagamento.

Dessa forma, o profissional do direito torna-se um aliado de seu


cliente, propondo soluções inovadoras a fim de otimizar, cada vez
mais, a tomada de decisão eficaz.

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FINTECHS DE PAGAMENTO

As fintechs de pagamentos simplesmente transformaram o


processo de compra e venda de mercadorias no Brasil. Isso porque
oferecem, por exemplo, máquinas de cartão sem cobrar a taxa de
aluguel.

Essa lógica de negócio permite o fomento de pequenas e mé-


dias empresas, além de incentivar a produção, o consumo e a circu-
lação de produtos e serviços.

Há também fintechs que se destacam por oferecer cartões de


crédito e débito. Esse modelo de negócio, em especial, foi o respon-
sável pela democratização do crédito, com a redução dos custos de
transações financeiras.

No Brasil, podemos citar algumas empresas que se destacam


no setor de pagamentos: Asaas, Mercado Pago, Nubank, PagSegu-
ro, PicPay, entre outras.

FINTECHS DE GESTÃO FINANCEIRA

Quando tratamos de fintechs que cuidam da gestão financei-


ra, estamos falando de plataformas que oferecem serviços para sim-
plificar as contas de pessoas físicas e jurídicas.

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Dentre os serviços oferecidos por essas empresas, podemos ci-
tar o controle das despesas e a gestão do orçamento pessoal. Ade-
mais, essas empresas ajudam seus clientes a terem uma melhor
percepção de como utilizam seus cartões de crédito.

Todavia, ao falar de fintechs de gestão financeira para outras


pessoas jurídicas, as vantagens só aumentam. Isso porque, tais em-
presas oferecem ferramentas para controle fiscal, folha de paga-
mento dos colaboradores e até mesmo ajudam na análise contábil
da empresa.

No Brasil há algumas empresas que se destacam nessa área.


Podemos citar, por exemplo, a ContaAzul, Contabilizei, Contas On-
line, Minhas Economias, Planejei e Vai Sobrar!

FINTECHS DE EMPRÉSTIMOS E
NEGOCIAÇÃO DE DÍVIDA

Essas empresas, como o próprio nome já diz, colocam à dis-


posição de seus clientes o crédito (por meio de empréstimos), bem
como, atuam no setor de negociações de dívidas.

Trata-se, na realidade, de aplicativos e sites de aproximação: de


um lado, quem tem dinheiro, do outro lado, quem precisa de dinheiro.

Para esses serviços, podemos citar como exemplos de fintechs,


as empresas Bom pra Crédito, Crédito Samba, Easy Crédito, Ne-
xoos, Quero Quitar, e Trigg.

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FINTECHS DE FINANCIAMENTO COLETIVO

As fintechs de financiamento coletivo demonstram como a


tecnologia pode aproximar pessoas que têm objetivo comum.

Você já deve ter se deparado com esse modelo de negócio! É a


famosa vaquinha.

A ideia principal de um financiamento coletivo é arrecadar di-


nheiro. Pode ser para artistas, pequenos negócios, empresas emer-
gentes, ações de filantropia, e até mesmo ajudar regiões que even-
tualmente são atingidas por desastres.

Dessa forma, as empresas oferecem o seguinte serviço: captar


apoiadores para as ações/campanhas. Em contrapartida, cobram ta-
xas e percentuais por essa intermediação.

Trabalhando com esse modelo de negócio no país, podemos


citar a Benfeitoria, Catarse, Vakinha, ComeçaAKI, Stratando.

FINTECHS DE INVESTIMENTOS

Outro setor que vem se desenvolvendo no mercado financeiro


são as fintechs de investimentos. Isso porque, utilizando-se dos al-
goritmos e alta tecnologia, as empresas captam dados e analisam as
melhores oportunidades de investimentos.

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As fintechs na área de investimentos têm um diferencial! Ora,
se você quisesse investir, poderia optar por uma modalidade tradi-
cional. Todavia, por tratarem dados com algoritmos, essas empre-
sas têm a possibilidade de apresentar oportunidades disruptivas aos
clientes.

No Brasil podemos citar alguns exemplos de empresas que tra-


balham nesse segmento.

A mais famosa é a XP Investimentos. Em 2017, em matéria


publicada pela InfoMoney, a XP foi considerada a fintech mais bem
sucedida do país pelo BTG Pactual. Além dela, podemos citar a In-
veste App, Monetar, Orama, e Yubb.

FINTECHS DE EFICIÊNCIA FINANCEIRA

Considerado a larga expansão do mercado financeiro, as fin-


techs de eficiência financeira nasceram com o objetivo de prevenir
fraudes.

Utilizando-se de inteligência artificial, algoritmos e verificação


da identidade de usuários, essas empresas protegem as transações
realizadas e previnem a ocorrência de fraudes, conferindo maior se-
gurança e eficiência nas operações financeiras.

Podemos citar, como exemplo de empresas que atuam nesse


setor, a BidDataCorp, Pismo e Wiseminer.

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FINTECHS DE BLOCKCHAIN E BITCOIN

Uma das linhas que mais avança no mercado financeiro é as


fintechs que atuam com a tecnologia blockchain e bitcoin.

Quando pensamos em blockchain, estamos nos referindo ao


ambiente de negócios onde acontecem transações de forma des-
centralizada.

A partir da tecnologia blockchain podemos realizar transações


(contratos, operações financeiras, registros contábeis) de forma di-
reta (ou seja, entre as partes) e descentralizada.

Para a realização dessas transações são utilizadas moedas vir-


tuais, também conhecidas como criptomoedas, tema de altíssima
relevância para uma compreensão da nova economia de mercado.

Como destaque no mercado financeiro, podemos citar as em-


presas Mercado Bitcoin e a Pague com Bitcon.

FINTECHS DE SEGUROS

Por fim, trataremos das fintechs de seguros. São empresas que


atuam na intermediação entre a seguradora e o cliente.

Ora, se você precisa escolher um seguro de vida, automóvel,


residencial ou de viagem, ao invés de fazer pesquisas em diversas

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seguradoras, a própria fintech lhe ajuda a comparar os valores e ser-
viços prestados pelas corretoras.

Nada mais é que a tecnologia nos ajudando nas tomadas de


decisões que apresentam o melhor custo benefício.

Podemos citar como exemplo de fintechs no ramo de seguros


a Bidu, Sossego Seguros e a Genebra.

Vários modelos disruptivos, né?!

Sem dúvidas, as fintechs vieram


para ficar e vem conquistando o
mercado com a agilidade e eficiên-
cia que se propõem. Mas um cuida-
do deve ser tomado! Isso porque,
muitas vezes as fintechs são con-
fundidas com bancos digitais.

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FINTECHS X BANCOS DIGITAIS

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É importante que você tenha essa informação de forma super
clara! As fintechs não se confundem com os bancos digitais.

Fintech é um gênero! Há inúmeras espécies (de seguros, in-


vestimento, financiamento coletivo, gestão financeira, entre outras
que já estudamos). Não é toda fintech que precisa de autorização do
Banco Central para funcionar.

Porém, toda instituição financeira precisa de uma autorização!

Conheça algumas das instituições financeiras autorizadas, re-


guladas ou supervisionadas pelo Banco Central:

Bancos múltiplos, comerciais, de investimento e cooperativos;

Sociedades de crédito, financiamento e investimento


(financeiras);

Agências de fomento;

Sociedades de arrendamento mercantil (leasing);

Fintechs de crédito: sociedades de crédito direto (SCDs)


e sociedades de empréstimo entre pessoas (SEPs);

Administradoras de consórcios;

Vale ressaltar que para atuar no mercado financeiro há regras


segmentadas, conforme a dimensão de sua exposição a riscos e à
relevância de sua atuação. Neste infográfico apresentado pelo Ban-
co Central, podemos observar essas informações com clareza!

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A REGULAÇÃO TEM
REGRAS PROPORCIONAIS À
COMPLEXIDADE E AO
TAMANHO DA INSTITUIÇÃO

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Para facilitar seu estudo, elaborei uma tabela para que possa-
mos compreender melhor essas diferenças entre cada uma das no-
menclaturas.

FINTECHS

Como visto, as fintechs são empresas


de tecnologia financeira. Elas têm o
poder de inovar no setor financeiro
usando alta tecnologia.

BANCOS DIGITAISI

São instituições financeiras, autori-


zadas pelo Banco Central, que ofe-
recem todos os produtos e serviços
digitalmente, uma vez que não pos-
suem agências físicas.

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O PAPEL DO ADVOGADO
NAS FINTECHS

Um dos desafios colocados aos advogados do século XXI é a


multidisciplinaridade. Se você almeja uma carreira de sucesso no
Direito Digital, além de ser especializado na área, é necessário dia-
logar com outros profissionais (contadores, desenvolvedores, gesto-
res, entre outros).

Quando realizamos uma especialização temos a chance de co-


nhecer a fundo a área que estamos estudando. No caso do Direito
Digital, além dos temas quentes que envolvem a área, há também
um estudo do ambiente de negócios.

Esse conhecimento especializado ajuda o profissional do Direi-


to em consultorias jurídicas e atuação como parecerista em áreas
que poucos profissionais atuam, além de ter a possibilidade de tor-
nar-se uma referência sobre o assunto no país.

Ademais, quando pensamos em um profissional do direito vol-


tado para a área das fintechs é essencial que este busque sempre es-
tar ligado no mercado, observando as inovações tecnológicas, uma
vez que será o principal aliado do sucesso dos negócios do cliente.

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A IMPORTÂNCIA DA REGULAMENTAÇÃO
DAS FINTECHS NO BRASIL

Para discorrer sobre a regulamentação das fintechs no Brasil


é importante mencionar a relevância de normas editadas pelos ór-
gãos reguladores. Isso porque, com regras claras sobre o funciona-
mento de uma fintech, haverá mais segurança para os usuários.

Há um certo receio da população brasileira com relação às em-


presas que atuam no sistema financeiro nacional.

O motivo da desconfiança é que, há pouco mais de 30 anos, o


país passou por um “confisco”, ou seja, os brasileiros dormiram com
dinheiro no banco e, ao acordar, tiveram suas contas poupança ze-
radas por determinação do ex-presidente Collor.

Naquela época o país enfrentava uma grave crise econômica e


os brasileiros sofreram com essa medida de urgência, uma vez que
tiveram suas contas bancárias zeradas.

Assim, a fim de proteger o mercado financeiro de eventuais


crises, incertezas e turbulências, é dever do Banco Central (BC) e do
Conselho Monetário Nacional (CMN) atuarem de forma ativa na re-
gulação dessas empresas.

No Brasil, as fintechs foram regulamentadas pelo Conselho Mo-


netário Nacional (CMN), em abril de 2019, por meio das Resoluções
4.656 e 4.657.

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A REGULAMENTAÇÃO DAS FINTECHS

Há no Brasil, conforme as resoluções expedidas pelo Conselho


Monetário Nacional (CMN), duas espécies/modalidades de fintechs.
O CMN é o órgão responsável pela política da moeda e do crédito,
objetivando a estabilidade da moeda e o desenvolvimento econô-
mico e social do País.

Segundo o CMN, as fintechs podem ser consideradas Socieda-


de de Empréstimo entre Pessoas (SEP) ou Sociedade de Crédito Di-
reto (SCD), a depender dos serviços oferecidos.

Vamos estudar cada uma delas?

SOCIEDADE DE EMPRÉSTIMO
ENTRE PESSOAS (SEP)

A Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP) está regulada


no art. 7 da Resolução 4.656 expedida pelo CMN.

Quando pesquisamos um conceito para essa modalidade de


empresa, podemos observar que, conforme disposto na resolução,
trata-se de instituição financeira que tem por objeto a realização de
operações de empréstimo e financiamento entre pessoas, exclusi-
vamente por meio de plataforma eletrônica.

Dessa forma, a principal característica da SEP é a possibilidade


de realizar operações de crédito entre pessoas. Essa característica

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é conhecida no mercado como peer-to-peer lending, em tradução
livre, empréstimo de ponta a ponta.

Essa lógica de mercado não é recente, uma vez que os bancos


tradicionais já trabalhavam com linhas de crédito para empréstimo.
Ocorre que, muitas vezes, a burocracia e as taxas de juros eram altís-
simas, o que desestimulava a realização de negócios.

Dessa forma, a resolução expedida pelo CMN veio em boa hora,


uma vez que, por não serem bancos, as fintechs não estavam sujei-
tas ao Banco Central do Brasil, e não tinham autorização expressa
para inúmeras modalidades de operações bancárias.

Com a regulamentação, as fintechs podem realizar a interme-


diação da relação entre o credor e o devedor, quanto está atuando
em operações de intermediação financeira.

Uma ressalva deve ser feita. Quando tratamos de SEP, é neces-


sário informar que a empresa fintech não está emprestando dinhei-
ro oriundo de recursos próprios, mas apenas realizando a interme-
diação financeira entre credores e tomadores de empréstimos.

Outras atividades desenvolvidas pelas SEP

Outro tema relevante é que as SEP não estão limitadas ao ser-


viço de intermediação financeira. Dessa forma, há também a possi-
bilidade de prestarem outros serviços, tais como:

A cobrança para clientes e terceiros (no caso, outras empresas);

Análise de crédito para clientes e terceiros;

Atuar como representante de seguros, quando relacionados às suas


operações principais (isto é, empréstimo e financiamento);
Emissão de moeda eletrônica (desde que respeitada as normas re-
gulamentares).

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Informações importantes sobre a atuação das SEP

Por atuarem na intermediação financeira entre pessoas, algu-


mas regras relevantes devem ser levadas em consideração.

Uma vez que atuam no mercado financeiro com dinheiro de


terceiros, para essa modalidade de operação, a exposição de um cre-
dor a possíveis tomadores de empréstimo deve ser de no máximo
quinze mil reais.

A fim de garantir a segurança das transações, os potenciais


destinatários dos empréstimos devem ser selecionados com base
em critérios como situação econômico-financeira. Essa lógica pode-
-se extrair da regulação expedida pelo CMN, bem como na própria
Lei de Superendividamento.

Dessa forma, deve ser considerado, no curso da intermediação


financeira, o grau de endividamento do destinatário do emprésti-
mo, o setor de atividade econômica que ele atua, a pontualidade e
os atrasos nos pagamentos, entre outros critérios.

Ademais, no nome empresarial da fintech deverá constar a termi-


nologia SEP (Sociedade de Empréstimo entre Pessoas), para dar publi-
cidade aos clientes e terceiros que se relacionam com a empresa.

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Por fim, a partir das regras previstas na Resolução, a fintech de-
verá ser constituída sob a forma de sociedade anônima (S/A), e não
poderá participar do capital social de outras instituições financeiras.

Para facilitar a compreensão de como funciona a Sociedade de


Empréstimo entre Pessoas, o Banco Central realizou a confecção de
um infográfico a fim de esclarecer as dúvidas sobre a intermediação
financeira.

Fonte: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/fintechs

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SOCIEDADE DE CRÉDITO DIRETO (SCD)

Tratando-se da Sociedade de Crédito Direto, esta tem uma di-


ferença estrutural daquela já estudada. Isso porque, na SCD, ela não
pode captar recursos do público (terceiros).

Sendo assim, para atuar no mercado financeiro, a fintech uti-


liza sua plataforma eletrônica para realizar operações de emprésti-
mos com recursos da própria empresa.

Essa lógica de negócio está regulamentada no artigo tercei-


ro da Resolução de número 4.656 do Conselho Monetário Nacional,
que dispõe sobre a SDC.

Observe que, segundo a resolução, a SCD é instituição financei-


ra que tem por objeto “a realização de operações de empréstimo, de
financiamento e de aquisição de direitos creditórios exclusivamente
por meio de plataforma eletrônica, com utilização de recursos finan-
ceiros que tenham como única origem capital próprio’’.

Outras possibilidades de negócios

Deve-se registrar que as Sociedades de Crédito Direto também


têm a possibilidade de atuar com outras atividades no mercado fi-
nanceiro. Esse é um ponto em comum nessa modalidade de fintech
(SCD) e a Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP).

Por consequência, ela poderá efetuar atividade de cobranças


para clientes e terceiros. Além dos serviços de análise de crédito,
representante de seguros (quando relacionados às suas operações
principais), bem como a emissão de moeda eletrônica.

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Funcionamento e organização da Sociedade de
Crédito Direto (SCD)

As Sociedades de Crédito Direto (SCD), assim como as fintechs


da modalidade já estudada (SEP), devem se constituir sob a forma
de Sociedade Anônima, incluindo o termo SCD em sua denomina-
ção empresarial.

A finalidade da SCD, conforme exposto na Resolução do CMN,


é de selecionar potenciais clientes com base em critérios consisten-
tes, verificáveis e transparentes, contemplando aspectos relevantes
para avaliação do risco de crédito.

Dessa forma, a partir da Lei do Superendividamento e uma po-


lítica que vem sendo construída a partir da filosofia do “crédito res-
ponsável”, deve ser levado em conta a situação econômico-financei-
ra, o grau de endividamento, a capacidade de geração de resultados
ou de fluxos de caixa do tomador do crédito.

REGRAS EM COMUM PARA SEP E SCD

No tocante a regulamentação em comum para essas modali-


dades de fintechs, há alguns temas que merecem destaque.

1) Capital social mínimo

Essa é uma característica importante constante no art. 26 da


Resolução 4.656 expedida pelo CMN.

Tanto a SCD, quanto a SEP devem observar permanentemente


o limite mínimo de R$1.000.000,00 (um milhão de reais) em relação
ao capital social integralizado e ao patrimônio líquido.

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2) Autorização do Bacen

Ademais, para que possam atuar no mercado financeiro, de-


vem, necessariamente, obter prévia autorização do Banco Central
do Brasil.

Para tanto, a Resolução do CMN apresenta alguns requisitos no


artigo 29. Vejamos:

Realização do ato societário de constituição, na forma da

legislação em vigor;

Integralização e recolhimento ao Banco Central do Brasil do

capital social;

Eleição ou nomeação dos membros dos órgãos estatutários.

3) Observancia das atividades vedadas

Além de realizar o devido pedido de autorização ao Bacen e


seguir as regras previstas na resolução, tanto as SEP quanto as SCD
devem, obrigatoriamente, se abster da prática das atividades que a
elas são vedadas.

VEDAÇÕES PARA SEP

As atividades que são vedadas às Sociedades de Empréstimo


entre Pessoas têm previsão na Resolução do CMN em seu art. 14. O
rol abarca 8 atividades que são expressamente vedadas.

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Para que você possa compreender melhor, apresento alguns
exemplos de atividades vedadas às Sociedades de Empréstimo en-
tre Pessoas.

Realizar operações de empréstimo e de financiamento com

recursos próprios;

Transferir recursos aos devedores antes de sua

disponibilização pelos credores;

Transferir recursos aos credores antes do pagamento

pelos devedores;

Manter recursos dos credores e dos devedores em conta de

sua titularidade não vinculados às operações de empréstimo e

de financiamento.

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VEDAÇÕES PARA SCD

No caso das Sociedades de Crédito Direto, as vedações podem


ser encontradas no art. 5 da Resolução do CMN. Porém, por não re-
alizarem intermediação financeira entre pessoas, o rol de vedações
abarcam apenas duas hipóteses.

A primeira delas é a captação de recursos do público, uma vez


que essa atividade é exercida pelas SEP.

Anote-se que a resolução admite a emissão de ações, conside-


rando que não é intermediação financeira entre pessoas, mas sim,
uma modalidade de sociedade empresarial (lembre-se que a SCD
está sob as regras da sociedade anônima).

A segunda e última vedação a SCD é a participação do capital


de instituições financeiras. A lógica por trás dessa regra é a proteção
do mercado.

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O PROFISSIONAL DO DIREITO
E AS FINTECHS

O papel do profissional do direito na regulação das fintechs


brasileiras é muito importante! Isso porque, se uma empresa estiver
trabalhando alinhada com profissionais de excelência, o sucesso é
garantido.

Regulação de Fintechs brasileiras: conheça as regras para o setor 29


A atuação do profissional do direito estará pautada em dois
momentos, um deles preventivo, no outro, solucionando eventuais
litígios.

Ao atuar preventivamente, o advogado analisará contratos,


escolherá minuciosamente o regime tributário da empresa, acom-
panhará os registros empresariais, além de poder atuar com um
programa de compliance e realizar um manual de boas práticas em-
presariais.

Do outro lado, quando da solução de eventuais litígios, o advo-


gado poderá atuar estrategicamente a fim de mitigar as perdas do
seu cliente, otimizando os resultados.

Desde já aviso que: não basta conhecer as normas jurídicas. É


importante que o profissional do direito tenha a sensibilidade de
estudar e conhecer o mercado na qual ele está inserido, a fim de
oferecer soluções eficazes aos seus clientes.

O profissional do direito voltado às fintechs é, no fim do dia,


um agente que atua na interlocução entre a empresa, o cliente e os
órgãos fiscalizadores. Ademais, trata-se de uma área com muita ino-
vação, onde não há inúmeras legislações, e o dever do profissional
do Direito é garantir ao cliente escolhas seguras para o sucesso do
negócio.

Regulação de Fintechs brasileiras: conheça as regras para o setor 30


COMO SER UM PROFISSIONAL DE
EXCELÊNCIA NO DIREITO DIGITAL?

Para lhe ajudar na sua jornada profissional pretendo lhe ofe-


recer 5 bons conselhos para você que se interessa por atuação em
fintechs! Espero que com eles você consiga se desenvolver cada vez
mais no ramo do Direito Digital e conquiste uma oportunidade na
área.

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Conselho #1: Participe de eventos!

Estar em eventos da área digital é indispensável para o sucesso


de qualquer profissional que queira se inserir no segmento de fin-
techs. É nos eventos que você faz networking com profissionais que
já trabalham no segmento, aprende novos temas e descobre mais
informações sobre a sua área de interesse.

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Conselho #2: Leia sobre!

Se você deseja obter expertise na regulamentação das finte-


chs, torna-se mais que necessário um aprofundamento nas ques-
tões que envolvem aquela área. Em que pese o tema ser inovador,
há inúmeros textos, relatórios e artigos que podem lhe ajudar nessa
jornada de estudos.

Como sugestão, indico os sites oficiais do Banco Central, do


Conselho Monetário Nacional, e até mesmo sites oficiais de finte-
chs. Por serem novas no mercado, tais empresas costumam produ-
zir muito conteúdo informativo!

Dessa forma, recomendo que você busque textos em jornais,


blogs, livros e artigos jurídicos. Com muita leitura você conseguirá
obter o máximo de informações necessárias para passar aos seus
clientes.

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Conselho #3: Especialize-se!

Para ser autoridade em uma determinada área é necessário


uma boa especialização!

Em regra, nas especializações, além de você conhecer novos


amigos e ter contato com professores de excelência, você poderá
trocar experiências da sua vivência prática.

No mercado jurídico, por trabalharmos com capital intelectual,


é necessário estarmos ligados no que há de novo no mercado, e de
preferência, estudando com quem entende e vive aquela realidade
todos os dias.

No IDP Online mesmo, por exemplo, existe a pós-graduação


online em Direito Digital e Proteção de Dados, que explora esse e
muitos outros temas. Uma especialização vai abrir novas portas do
mercado de trabalho para você, além de lhe desenvolver para alcan-
çar seus objetivos com excelência.

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Conselho #4: Escute os problemas
dos seus clientes!

Como profissional do Direito, você é contratado para propor


soluções eficientes, e não rara às vezes, o problema do seu cliente
também é o problema de outras pessoas.

É importante mencionar que ter um ambiente regulatório para


as fintechs gera segurança na tomada de decisões. Isso porque, os
clientes de uma fintech, ao contratá-la, querem a segurança de es-
tarem negociando seu dinheiro com uma empresa séria.

Logo, conhecer o sistema jurídico aplicado a essas empresas


geram mais valor na atuação de um advogado. Seja para conhecer
o regime tributário que a empresa está inserida, como se aplica o di-
reito no trabalho na relação empresa x colaborador, ou até mesmo,
conhecer as regras contratuais aplicáveis para essas modalidades
de empresa.

Ademais, em muitos casos, não haverá uma resposta pronta!


Por se tratar de uma modalidade de empresa que atua com tec-
nologia e inovação, as soluções são pensadas em conjunto, com in-
terdisciplinaridade, buscando ajustar as respostas jurídicas com as
melhores práticas do mercado.

Sendo assim, escute o seu cliente; veja quais problemas ele


tem e ajude-o a pensar em soluções. Assim, você poderá conquistar
mais conhecimento na sua área, desenvolvendo habilidades e crian-
do respostas eficientes ao problema de outros possíveis clientes.

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Conselho #5: Estude muito!

Os profissionais de excelência do mercado são referência por-


que levam a vida jurídica no mercado de trabalho muito a sério.

A leitura, a participação em eventos, a realização de cursos e


especializações, entre outras formas de estudo, podem lhe ajudar a
ganhar os conhecimentos necessários para uma atuação de exce-
lência.

Gosto sempre de lembrar um conselho que tive no início da


minha carreira! Sabemos o quanto é difícil começar na carreira para
profissionais da área jurídica, mas, naquela época, recebi um con-
selho de um amigo que me fez aproveitar melhor as oportunidades
que tive.

O conselho era simples: “meu amigo, o tempo irá passar de


qualquer maneira, então, aproveite o tempo para estudar e conquis-
tar o sucesso na área que você deseja”.

Então, dedico esse conselho que recebi para você que deseja
alcançar excelentes resultados no direito digital. Invista em você!

Chegamos ao final do nosso e-book, muito obrigado por me


acompanhar até aqui!

Espero que você escute os conselhos e busque sempre estar


se aperfeiçoando para obter uma carreira de sucesso. Não deixe de
acompanhar as redes sociais do IDP e ler nossos textos do blog!

Forte abraço e muito sucesso!

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REFERÊNCIAS

Texto “Quais são os tipos de fintech?” na Coluna Focas no Estadão.


https://infograficos.estadao.com.br/focas-ubereconomia/servicos-financei-
ros-2.php

Texto “XP é a fintech mais bem-sucedida do Brasil”, publicado no InfoMoney.


https://www.infomoney.com.br/mercados/xp-e-a-fintech-mais-bem-sucedi-
da-do-brasil-diz-btg-apos-uniao-com-itau/

Texto “Fintechs” na página oficial do Banco Central do Brasil.


https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/fintechs

Resolução 4.656, expedida pelo Conselho Monetário Nacional sobre as Fintechs.


https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?ar-
quivo=/Lists/Normativos/Attachments/50579/Res_4656_v1_O.pdf

POR:
MANASSÉS LOPES

Advogado, parecerista e professor universitá-


rio. Faz parte do programa de pós-graduação
lato sensu do IDP Online e tem pesquisas com
ênfase em Direito Privado e Processual Civil.

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