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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA FEDERAL ESPECIALIZADA JUNTO AO DEPARTAMENTO NACIONAL DE
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES
COORDENAÇÃO DE ASSUNTOS ESTRATÉGICOS - CAE
SAN QD. 03 - BL. A - ED. NÚCLEO DOS TRANSPORTES - 3º ANDAR - BRASÍLIA/DF - CEP: 70.040-902 -
PFEDNIT.GESTAO@AGU.GOV.BR - TEL.: (61) 3315-4351/3315-4355

 
PARECER n. 00002/2023/CAE/PFE-DNIT/PGF/AGU
 
NUP: 50600.000063/2023-70
INTERESSADOS: DIRETORIA DE INFRAESTRUTURA RODOVIÁRIA (DIR) - DNIT
ASSUNTOS: ASSESSORAMENTO ESPECIALIZADO À ATIVIDADE JURÍDICA
 
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. Ilegalidade do item 7.1 do Manual Brasileiro de
Fiscalização de Trânsito – MBFT, aprovado pela Resolução CONTRAN nº 985, de 15 de
dezembro de 2022. Legislação aplicável: arts. 29, inciso VII, alíneas “c”, “e” e “f” e §§ 3º e 4º,
116, 222, e 230, inciso XII da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito
Brasileiro – CTB) c/c art. 5º da Resolução CONTRAN nº 970, de 20 de junho de 2022. Sugestão
de encaminhamento do tema à Consultoria Jurídica do Ministério dos Transportes.
 
I - RELATÓRIO
 
1. Trata-se de solicitação da Diretoria de Infraestrutura Rodoviária do Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes – DNIT, via Ofício nº 6343/2023/DIR/DNIT SEDE, de 12/01/2023 (SEI nº 13458959), de
manifestação sobre o seguinte questionamento da Coordenação-Geral de Operações Rodoviárias, constante no Ofício nº
5727/2023/CGPERT/DIR/DNIT SEDE, de 11/01/2023 (SEI nº 13449694):
“Diante disso, é correto o entendimento de que deverá ser adotado o disposto no Manual
Brasileiro de Fiscalização de Trânsito - MBFT, em que "não deverão ser processadas as imagens
registradas por equipamentos medidores de velocidade do tipo fixo ou por sistemas automáticos
não metrológicos, nas condutas de circulação, estacionamento e parada para os veículos
elencados no inciso VII do artigo 29 do CTB, desde que estejam devidamente caracterizados
externamente por pintura ou plotagem, que identifique o veículo de relance, na forma definida
pelo próprio órgão", ou seja, é possível invalidar os registros de imagens de infrações de
trânsito desses veículos mencionados, de modo que não sejam elevados à constituição de Autos
de Infração de Trânsito e à consequente expedição das Notificações?”
 
2. Além dos documentos retro citados, os autos foram instruídos com a Nota Técnica nº
1/2023/CMET/CGPERT/DIR/DNIT SEDE, de 02/01/2023 (SEI nº 13374371), que informa que a matéria foi apreciada
por esta Procuradoria Federal Especializada junto ao DNIT – PFE/DNIT por meio do Parecer nº
00267/2013/CM/PFE/DNIT, de 04/04/2013 (SEI nº 1138451, págs. 30 a 39), aprovado pelo Despacho nº
00340/2013/JA/PFE/DNIT (SEI nº 1138451, pág. 40), que concluiu o seguinte:
“37. Em face do exposto, manifesta-se esta Procuradoria no sentido de que, diante dos
entendimentos doutrinários e jurisprudenciais colacionados, bem 'assim em vista da
interpretação teleológica e sistemática dos dispositivos legais e princípios trazidos a lume, não
pode o DNIT promover o pretendido cadastramento das placas dos veículos integrantes da frota
da Polícia Militar do Estado de Goiás, não sendo dado a autarquia dispensar automaticamente
tais veículos de eventuais autuações por infração de trânsito ou de imposição de multa; lado
outro, as autuações promovidas poderão ser desconstituídas pelo DNIT, desde que comprovado
pela instituição autuada que se encontravam as viaturas nas condições excepcionais previstas no
art. 29, inciso VIl, e/ou 116, da Lei nº 9.503/97, na forma explanada ao longo desta manifestação.
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38. Igualmente, entende esta Procuradoria, por força do princípio da legalidade, ao qual está
adstrito o DNiT que não pode a autarquia receber defesa ou recurso apresentadora pela Polícia
Militar do Estado de Goiás fora do prazo legalmente estabelecido para tanto, sob pena de
violação ao art. 282, 4º, e ao art. 288, caput, ambos da Lei nº9.503/97, bem como ao art. 3º,
caput, e ao art. 4º, inciso I, da Resolução CONTRAN nº 299, de 04/12/2008, os quais não
comportam exceções.”
 
(grifos nossos)
 
3. Os presentes autos foram distribuídos à advogada signatária via Sistema Sapiens da Advocacia-Geral
da União – AGU, no dia 19/01/2023.
 
4. É o relato.
 
II - ANÁLISE
 
5. Depois da lavratura do Parecer nº 00267/2013/CM/PFE/DNIT, de 04/04/2013, aprovado pelo
Despacho nº 00340/2013/JA/PFE/DNIT, de 04/04/2013, os dispositivos da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997
(Código de Trânsito Brasileiro – CTB) que fundamentaram essa manifestação foram alterados pela Lei nº 14.071, de 13
de outubro de 2020, pela Lei nº 14.440, de 2 de setembro de 2022, e pela Medida Provisória nº 1.153, de 29 de dezembro
de 2022. Reiteramos as conclusões expostas nos itens 37 e 38 da citada manifestação, mas com as ponderações a seguir.
 
6. Atualmente a matéria é regida pelos arts. 29, 116, 222 e 230 do CTB, cabendo os seguintes destaques:
 
Art. 29. O trânsito de veículos nas vias terrestres abertas à circulação obedecerá às seguintes
normas:
I - a circulação far-se-á pelo lado direito da via, admitindo-se as exceções devidamente
sinalizadas;
II - o condutor deverá guardar distância de segurança lateral e frontal entre o seu e os demais
veículos, bem como em relação ao bordo da pista, considerando-se, no momento, a velocidade e
as condições do local, da circulação, do veículo e as condições climáticas;
III - quando veículos, transitando por fluxos que se cruzem, se aproximarem de local não
sinalizado, terá preferência de passagem:
a) no caso de apenas um fluxo ser proveniente de rodovia, aquele que estiver circulando por ela;
b) no caso de rotatória, aquele que estiver circulando por ela;
c) nos demais casos, o que vier pela direita do condutor;
IV - quando uma pista de rolamento comportar várias faixas de circulação no mesmo sentido, são
as da direita destinadas ao deslocamento dos veículos mais lentos e de maior porte, quando não
houver faixa especial a eles destinada, e as da esquerda, destinadas à ultrapassagem e ao
deslocamento dos veículos de maior velocidade;
V - o trânsito de veículos sobre passeios, calçadas e nos acostamentos, só poderá ocorrer para que
se adentre ou se saia dos imóveis ou áreas especiais de estacionamento;
VI - os veículos precedidos de batedores terão prioridade de passagem, respeitadas as demais
normas de circulação;
VII - os veículos destinados a socorro de incêndio e salvamento, os de polícia, os de fiscalização e
operação de trânsito e as ambulâncias, além de prioridade no trânsito, gozam de livre
circulação, estacionamento e parada, quando em serviço de urgência, de policiamento
ostensivo ou de preservação da ordem pública, observadas as seguintes disposições:
a) quando os dispositivos regulamentares de alarme sonoro e iluminação intermitente estiverem
acionados, indicando a proximidade dos veículos, todos os condutores deverão deixar livre a
passagem pela faixa da esquerda, indo para a direita da via e parando, se necessário;
b) os pedestres, ao ouvirem o alarme sonoro ou avistarem a luz intermitente, deverão aguardar no
passeio e somente atravessar a via quando o veículo já tiver passado pelo local;
c) o uso de dispositivos de alarme sonoro e de iluminação intermitente somente poderá ocorrer
por ocasião da efetiva prestação de serviço de urgência;
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d) a prioridade de passagem na via e no cruzamento deverá se dar com velocidade reduzida e com
os devidos cuidados de segurança, obedecidas as demais normas deste Código;
e) as prerrogativas de livre circulação e de parada serão aplicadas somente quando os veículos
estiverem identificados por dispositivos regulamentares de alarme sonoro e iluminação
intermitente;
f) a prerrogativa de livre estacionamento será aplicada somente quando os veículos estiverem
identificados por dispositivos regulamentares de iluminação intermitente;
VIII - os veículos prestadores de serviços de utilidade pública, quando em atendimento na via,
gozam de livre parada e estacionamento no local da prestação de serviço, desde que devidamente
sinalizados, devendo estar identificados na forma estabelecida pelo CONTRAN;
IX - a ultrapassagem de outro veículo em movimento deverá ser feita pela esquerda, obedecida a
sinalização regulamentar e as demais normas estabelecidas neste Código, exceto quando o veículo
a ser ultrapassado estiver sinalizando o propósito de entrar à esquerda;
X - todo condutor deverá, antes de efetuar uma ultrapassagem, certificar-se de que:
.....................
XIII - (VETADO).
.....................
§ 3º   Compete ao Contran regulamentar os dispositivos de alarme sonoro e iluminação
intermitente previstos no inciso VII do caput deste artigo.
§ 4º   Em situações especiais, ato da autoridade máxima federal de segurança pública poderá
dispor sobre a aplicação das exceções tratadas no inciso VII do  caput  deste artigo aos veículos
oficiais descaracterizados.
 
Art. 116.  Os veículos de propriedade da União, dos Estados e do Distrito Federal, devidamente
registrados e licenciados, ou aqueles sob posse dos órgãos de segurança pública, somente quando
estritamente usados em serviço reservado de caráter policial, poderão usar placas particulares,
obedecidos os critérios e os limites estabelecidos pela legislação que regula o uso de veículo
oficial.
Parágrafo único.  As placas de que trata o caput serão concedidas mediante solicitação aos órgãos
executivos de trânsito dos Estados e do Distrito Federal e serão vinculadas ao órgão de segurança
pública solicitante.
 
Art. 222. Deixar de manter ligado, nas situações de atendimento de emergência, o sistema de
iluminação intermitente dos veículos de polícia, de socorro de incêndio e salvamento, de
fiscalização de trânsito e das ambulâncias, ainda que parados:
Infração - média;
Penalidade - multa.
 
Art. 230. Conduzir o veículo:
.....................
XII - com equipamento ou acessório proibido;
.....................
Infração - grave;
Penalidade - multa;
Medida administrativa - retenção do veículo para regularização;
.....................
 
(grifos nossos)
 
7. São seis os veículos de emergência: polícia; bombeiro; ambulância; fiscalização e operação de trânsito;
salvamento difuso destinado a serviços de emergência (veículo da Defesa Civil), por força do art. 5º da Resolução do
Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN nº 970, de 20 de junho de 2022; e transporte de presos, por força do art. 1º,
§ 1º da Resolução do CONTRAN nº 626, de 19 de outubro de 2016.
 

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8. Tais veículos de emergência, quando em serviço de urgência, de policiamento ostensivo ou de


preservação da ordem pública, além da prioridade de passagem, gozam de livre circulação, estacionamento e parada, o
que significa que podem transitar livremente em qualquer condição ou local em que a regra seja a proibição. Todavia,
para gozarem das prerrogativas de prioridade de passagem, livre circulação e parada, esses veículos devem acionar os
“dispositivos regulamentares de alarme sonoro e iluminação intermitente”; e para o livre estacionamento, devem acionar
os “dispositivos regulamentares de iluminação rotativa ou intermitente”, conforme art. 29, inciso VII, alíneas “e” e “f”
retro transcritas. Dessa forma, necessariamente devem ser identificados pelo dispositivo luminoso (chamado “giroflex”),
na cor azul, vermelha ou combinação de ambas, de frequência rotativa ou intermitente, no caso de estacionamento; e mais
o alarme sonoro (sirene), no caso de prioridade de passagem, livre circulação e parada.
 
9. Forçoso admitir que o art. 29, inciso VII, do CTB não previu, em favor dos veículos nele especificados,
qualquer espécie de isenção legal às penalidades de multa. Na verdade, a lei conferiu a esses veículos de emergência,
apenas quando em serviço de urgência, e desde que identificados pelos dispositivos de alarme sonoro e iluminação,
determinadas prerrogativas aptas a garantir a efetividade do serviço emergencial por eles prestado em cada situação
concreta. Por tal razão, nesses casos, os veículos poderão trafegar sem a obediência estrita a todas as regras comuns
previstas na legislação de trânsito, como, por exemplo, a velocidade máxima permitida, a ultrapassagem em trechos
proibidos, a invasão ao semáforo vermelho, o estacionamento ou parada em locais proibidos.
 
10. Em suma, tem-se que os veículos de emergência listados no item 7 deste Parecer, a despeito de
possuírem as prerrogativas legais de prioridade de trânsito e de livre circulação, estacionamento, parada, na forma do art.
29, inciso VII, da Lei n.º 9.503/1997, não estão livres de eventuais autuações, muito menos isentos automaticamente do
pagamento de multas impostas, mormente em se considerando que tais prerrogativas não são absolutas e devem ser
exercidas com as devidas cautelas, sem excessos que comprometam a segurança viária.
 
11. Por oportuno, não havendo a lei previsto expressamente a dispensa automática de autuação e a
isenção do pagamento de multa para esses veículos de emergência, não podem os órgãos executivos de trânsito ou
executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios assim proceder, vez que adstritos,
enquanto entidades da Administração Pública, ao princípio da legalidade, na forma do art. 37, caput, da Constituição
Federal e do art. 2º, caput e parágrafo único, inciso I, da Lei nº 9.784, de 29 de janeiro 1999.
 
12. Nos termos do art. 29, § 3º, do CTB, compete ao CONTRAN “regulamentar os dispositivos de
alarme sonoro e iluminação intermitente previstos no inciso VII do caput deste artigo”. Atualmente esses dispositivos
estão regulamentados pela Resolução CONTRAN nº 970, de 20 de junho de 2022, que estabelece o seguinte:
Art. 5o As lanternas especiais de emergência que emitem luz de cor azul, conforme Anexo XVI,
cor vermelha ou combinação de ambas, poderão ser utilizadas exclusivamente em veículos
destinados a socorro de incêndio e salvamento, de salvamento difuso, de polícia, de fiscalização e
operação de trânsito e em ambulâncias.
§ 1o O acionamento das lanternas especiais deverá ocorrer somente em circunstâncias que
permitam o uso das prerrogativas de prioridade de trânsito e de livre circulação, estacionamento e
parada, quando efetivamente esteja sendo prestado serviço de urgência, de policiamento
ostensivo ou de preservação da ordem pública, observadas as disposições previstas no inciso
VII do art. 29 do CTB.
§ 2o Quando do uso da prerrogativa de livre circulação e de parada, os dispositivos sonoros
devem ser acionados de forma conjunta com as lanternas especiais.
§ 3o A prerrogativa de livre estacionamento será aplicada somente quando os veículos estiverem
identificados por dispositivos regulamentares de iluminação rotativa ou intermitente.
§ 4o Entende-se por prestação de serviço de urgência os deslocamentos realizados pelos
veículos de emergência, em circunstâncias que necessitem de brevidade para o atendimento,
sem a qual haverá risco concreto à vida de terceiros ou grande prejuízo à incolumidade
pública.
§ 5o A lanterna especial de emergência deve ser instalada de forma que seja possível visualizá- la
por qualquer ângulo de aproximação do veículo, em qualquer condição, sem obstrução de
qualquer natureza, podendo ser complementada com outras lanternas, luzes estroboscópicas ou
combinação delas nas cores azul, vermelha ou branca, de modo a garantir sua visibilidade.
 
(grifos nossos)

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13. Tendo em vista os requisitos descritos no art. 29, inciso VII, do CTB c/c art. 5º da Resolução
CONTRAN nº 970/2022, verificamos que não basta que os veículos sejam de propriedade da União, dos Estados e do
Distrito Federal, devidamente registrados e licenciados, ou sob posse dos órgãos de segurança pública, para estarem
isentos de autuações por infrações de trânsito, faz-se necessário que estejam efetivamente em serviço de urgência, de
policiamento ostensivo ou de preservação da ordem pública; e que observem a regra de manter ligado o sistema de
iluminação intermitente. Tanto é assim que o art. 222 do CTB estabeleceu a penalidade de multa para a conduta de deixar
de manter ligado, nas situações de atendimento de emergência, o sistema de iluminação intermitente dos veículos de
polícia, de socorro de incêndio e salvamento, de fiscalização de trânsito e das ambulâncias, ainda que parados. Ora, caso
fosse possível a dispensa automática de multa para os veículos de emergência, tal dispositivo seria letra morta.
 
14. Nesse sentido, a multa não poderá ser invalidada pelo DNIT caso o veículo de emergência, em
situações de atendimento de urgência, estiver parado ou estacionado com o sistema de iluminação intermitente apagado;
ou estiver em circulação, buscando prioridade de passagem, com os dispositivos sonoro e de iluminação desligados.
Nessas hipóteses, o próprio CTB determinou a aplicação da penalidade de multa no art. 222. Exemplos: ambulância
estacionada sobre a calçada, durante prestação de serviço de emergência, com sistema de iluminação intermitente
apagado; e veículo de fiscalização de trânsito em circulação, durante serviço de emergência, com os dispositivos sonoros
e de iluminação desligados.
 
15. Outra hipótese em que a multa não poderá deixar de ser processada ocorre quando o veículo
descaracterizado, ou seja, sem a pintura ou plotagem que lhe identifique como de propriedade ou posse de órgão de
segurança pública, com placa particular, estiver com o giroflex ligado. Caberá ao DNIT lavrar o auto de infração, a fim de
aferir a incidência dos arts. 29, inciso VII c/c 116, ou do art. 230, inciso XII, todos do CTB. Isso porque o art. 116 permite
o uso de veículo oficial descaracterizado e com placa particular, nas hipóteses de serviço reservado de caráter policial, o
que legitimaria o uso do giroflex e a prerrogativa de livre circulação, estacionamento e parada. Caso seja constatado que o
veículo estava equipado com giroflex, mas não era de segurança pública, aplica-se o art. 230, inciso XII, que tipifica
como infração gravíssima conduzir veículo com equipamento ou acessório proibido.
 
16. Diante do exposto, resgatemos o item 7.1 do Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito – MBFT,
aprovado pela Resolução CONTRAN nº 985, de 15 de dezembro de 2022, prevê o seguinte:
7.1. Fiscalização de Veículos de Emergência por Equipamentos Eletrônicos
Não deverão ser processadas as imagens registradas por equipamentos medidores de velocidade
do tipo fixo ou por sistemas automáticos não metrológicos, nas condutas de circulação,
estacionamento e parada para os veículos elencados no inciso VII do artigo 29 do CTB, desde que
estejam devidamente caracterizados externamente por pintura ou plotagem, que identifique o
veículo de relance, na forma definida pelo próprio órgão.
 
17. Verificamos impropriedade no texto, uma vez que o art. 29, inciso VII, do CTB não dá “salvo
conduto” ou “carta branca” para os veículos de emergência arrolados no item 7 deste Parecer. Apenas o próprio legislador
ordinário poderia fazê-lo por meio da aprovação de projeto de lei ou de medida provisória, não tendo o CONTRAN tal
competência. Nos termos do § 3º do mesmo dispositivo, cabe ao CONTRAN regulamentar apenas os dispositivos de
alarme sonoro e de iluminação intermitente, ou seja, matéria eminentemente técnica, mas não liberar todos esses veículos
das penalidades em caso de infração.
 
18. Conforme já exposto são necessários três requisitos cumulativos para usar da prerrogativa de livre
circulação e de parada: (i) estar efetivamente em serviço de urgência, de policiamento ostensivo ou de preservação da
ordem pública; (ii) usar alarme sonoro; e (iii) usar a iluminação intermitente, conforme especificações do CONTRAN.
Pela imagem, por si só, não há como aferir o cumprimento dos requisitos descritos nas alíneas “i” e “ii”.
 
19. Caso algum veículo de emergência, devidamente identificado ou não (como autoriza o art. 116 do
CTB), venha a sofrer autuações por infrações de trânsito, competirá à instituição correlata, uma vez recebida a autuação,
apresentar defesa perante o órgão competente, comprovando que se encontrava em situação de urgência que de fato que
lhe autorizou a livre circulação, estacionamento, parada e prioridade de trânsito, na forma da lei, e requerer a
desconstituição do auto de infração, com a não imposição de multa.
 

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20. Verifica-se, portanto, que item 7.1 do Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito – MBFT,
aprovado pela Resolução CONTRAN nº 985, de 15 de dezembro de 2022, além de ilegal, por violar os arts. 29, inciso
VII, alíneas “c”, “e” e “f” e §§ 3º e 4º, 116, 222, e 230, inciso XII do CTB, também contraria o art. 5º, § 1º, da Resolução
CONTRAN nº 970, de 20 de junho de 2022, vez que impossível aferir pela mera apreciação das imagens registradas por
equipamentos medidores de velocidade do tipo fixo ou por sistemas automáticos não metrológicos se o veículo estava
efetivamente serviço de urgência, de policiamento ostensivo ou de preservação da ordem pública, e com os dispositivos
sonoros acionados de forma conjunta com as lanternas especiais.
 
21. Ainda que o veículo esteja devidamente caracterizado externamente por pintura ou plotagem, que o
identifique de relance, apenas avaliando a imagem, por si só não, não é possível aferir se estava em estava em efetivo
serviço e com os dispositivos sonoro e de iluminação ligados. Lembrando que caso descumprido quaisquer desses
requisitos, aplica-se o disposto no art. 222 do CTB (quando o veículo de emergência não manter acionada a lanterna
especial de emergência durante o respectivo atendimento) ou o art. 230, inciso XII retro transcritos.
 
III - CONCLUSÃO
 
22. Diante do exposto, conclui-se pela ilegalidade do item 7.1 do Manual Brasileiro de Fiscalização de
Trânsito – MBFT, aprovado pela Resolução CONTRAN nº 985, de 15 de dezembro de 2022, tendo em vista o disposto
nos arts. 29, inciso VII, alínea “c” e §§ 3º e 4º, 116, 222, e 230, inciso XII da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997
(Código de Trânsito Brasileiro – CTB) c/c art. 5º da Resolução CONTRAN nº 970, de 20 de junho de 2022. Somente o
legislador ordinário poderia dar o referido “salvo conduto” ou “carta branca” para os veículos de emergência por meio da
aprovação de projeto de lei ou de medida provisória, não tendo o CONTRAN competência para fazê-lo.
 
23. À consideração superior, nos termos do art. 44, caput, inciso VIII, da Instrução Normativa
DG/PFE/DNIT nº 2/2021, recomendando:
23.1 a devolução dos autos à Diretoria de Infraestrutura Rodoviária do DNIT; e
23.2 a evolução do tema à Consultoria Jurídica do Ministério dos Transportes, para análise e manifestação
a respeito do item 7.1 do Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito – MBFT, e eventuais providências junto ao
CONTRAN para revogação do texto.
 
Brasília, 24 de janeiro de 2023.
 
 
TATIANA MALTA VIEIRA
PROCURADORA FEDERAL
CAE/PFE/DNIT/SEDE-DF
 

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