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1 Contas Nacionais

Questão 1
Com base na sexta edição do Manual do Balanço de Pagamentos do Fundo
Monetário Internacional (BPM6), avalie as seguintes afirmativas como ver-
dadeiras ou falsas:
(0) As variações nas reservas internacionais são contabilizadas na Conta Fi-
nanceira como Ativos de Reserva.
(1) Os salários recebidos por trabalhadores residentes, quando trabalham
para uma empresa não residente no país, são contabilizados na Conta de
Serviços.
(2) As remessas de dinheiro de imigrantes no exterior para seus países de ori-
gem são contabilizadas na Conta Capital.
(3) A amortização de um passivo externo é contabilizada na Conta de Rendas
Primárias.
(4) O saldo da Conta Financeira é calculado pela diferença entre a aquisição
líquida de Ativos Financeiros e a incidência líquida de Passivos Financeiros.

Resolução
(0) Verdadeiro.
Trata-se de uma das principais mudanças na contabilidade do Novo BP
a partir da adoção do BPM6, pelo Banco Central do Brasil, desde 2016.
Basicamente, é como se o antigo saldo do BP houvesse sido incorporado
pela rubrica “ativos de reserva”, que é componente da Conta Financeira,
conforme o BPM6.
2 Macroeconomia

(1) Falso.
Eles são incluídos na Conta de Rendas (primária).
(2) Falso.
Elas são incluídas na Conta de Rendas (secundária), e não mais em TUC
(Transferências Unilaterais Correntes), que deixaram de existir.
(3) Falso.
A amortização continua sendo contabilizada na rubrica Outros Investi-
mentos da Conta Financeira.
(4) Verdadeiro.
É exatamente a nova definição do saldo da Conta Financeira.

Questão 3
Avalie as seguintes afirmativas:
(0) Para fins de registro nas Contas Nacionais, o investimento é qualquer gas-
to em bem ou serviço final que aumenta a capacidade da economia de
produzir mais no futuro.
(1) O Produto Nacional Bruto de um país é a soma de todos os pagamentos a
fatores de produção empregados dentro de suas fronteiras.
(2) A diferença entre Produto Interno Bruto e Produto Nacional Bruto de um
país deve-se exclusivamente ao pagamento de fatores de produção empre-
gados nesse país que são propriedade de não residentes.
(3) Nas Contas Nacionais, o investimento das famílias em capital humano é
contabilizado como gasto de consumo.
(4) A melhora da qualidade dos produtos enviesa o PIB para cima.

Resolução
(0) Falso.
Devemos considerar também o investimento em estoques.
(1) Falso.
O PNB é definido como o PIB descontado da renda líquida enviada ao ex-
terior. Portanto, sua definição depende da propriedade de o fator de pro-
dução ser de um residente ou não.
(2) Falso.
Deve-se à existência de renda líquida recebida ou enviada ao exterior. Por
isso, não se pode dizer que ela se deve “exclusivamente” ao pagamento de
Capítulo 1 | Contas Nacionais 3

fatores de produção de não residentes, pois pode se dever também ao rece-


bimento por tais fatores. É uma conta “líquida”, que apura entrada e saída
de divisas externas.
(3) Verdadeiro.
O gasto em capital humano é considerado consumo porque o investimen-
to em contas nacionais é somente aquele atrelado à capital fixo.
(4) Falso.
A introdução de novos e melhores bens e serviços viesa para baixo a men-
suração da real variação do PIB, em função da dificuldade estatística de
se comparar a variação de preço ou de quantidade de produtos similares
(não idênticos). Ver, por exemplo, Martin Feldstein, em “Underestimating
the real growth of GDP, personal income, and productivity”, Journal of
Economic Perspectives, v. 31, n. 2, 2017.

Questão 11
Considere uma economia hipotética fechada que produz e consome apenas
três tipos de bens finais: X, Y e Z. Segundo a tabela a seguir para o ano-base
e o ano corrente, avalie as afirmativas como verdadeiras ou falsas. O preço
de cada bem é expresso em unidades monetárias ($).

Quantidade
Ano Bens Preço ($)
(Unidades)

X 3.000 2

Base Y 6.000 3

Z 8.000 4

X 4.000 3

Corrente Y 14.000 2

Z 32.000 5

(0) O PIB real para o ano corrente foi de $ 178.000.


(1) O PIB real cresceu mais do que 250% entre o ano-base e o ano corrente.
(2) O deflator do PNB entre o ano-base e o ano corrente foi inferior a 10%.
(3) A mudança percentual no nível de preços entre o ano-base e o ano corren-
te medida pelo deflator do PNB foi superior à medida por um índice de
preços ao consumidor do tipo Laspeyres.
(4) Os bens Y e Z são complementares.
4 Macroeconomia

Resolução
(0) Verdadeiro.
O PIB real do ano corrente é calculado como:
(4.000 × $ 2) + (14.000 × $ 3) + (32.000 × $ 4) = $ 178.000
(1) Falso.
O PIB real do ano-base é o próprio PIB nominal. Assim, temos que este é:
(3.000 × $ 2) + (6.000 × $ 3) + (8.000 × $ 4) = $ 56.000
Logo, o crescimento do PIB real foi de (178/56 – 1) × 100% = 217,85%
(aprox.)
(2) Falso.
O deflator do PIB é a razão entre o PIB corrente e o PIB real. O PIB cor-
rente é:
(4.000 × $ 3) + (14.000 × $ 2) + (32.000 × $ 5) = $ 200.000
Logo, o deflator é (200/178 – 1) × 100% = 12,35% > 10%
(3) Verdadeiro.
Para se calcular o índice de Laspeyres, fazemos:
$ 56.000/(3.000 × $ 3 + 6.000 × $ 2 + 8.000 × $ 5) =
(56/61 – 1) × 100% = −8,19% (aprox.)
(4) Falso.
Diz-se que os bens Z e Y são complementares, quando a elasticidade-preço
da demanda cruzada entre tais bens for negativa. Se positiva, então tais
bens serão substitutos. A elasticidade-preço cruzada entre os bens Z e Y é:
Εz,Y = −(∆PZ/Z)/(∆Y/Y) = −PZ/Y × ∆Y/∆PZ =
−($ 5/14.000) × (8.000/$ 1) = −2,85 < 0 (bens substitutos)
Note que, na questão:
∆Y = 14.000 – 6.000 = 8.000
∆PZ = 5 – 4 = $ 1
2 Economia Monetária

Questão 2
Avalie as seguintes afirmativas:
(0) Em uma economia com expectativas racionais, um corte de impostos an-
tecipado pelos agentes não teria nenhum impacto sobre o produto, tanto
no curto como no longo prazo.
(1) Tudo o mais constante, há um aumento da base monetária quando o Ban-
co Central compra dólares dos bancos.
(2) Há criação de meios de pagamento quando um banco comercial adquire
um bem pertencente a uma empresa não financeira, pagando em moeda
corrente.
(3) Uma redução na preferência do público por papel-moeda em relação aos
depósitos à vista reduz o multiplicador bancário.
(4) O Banco Central realiza operações de mercado aberto vendendo títulos
públicos quando deseja aumentar a liquidez do sistema bancário.

Resolução
(0) Verdadeiro.
As expectativas racionais têm o condão de trazer para o curto prazo o efei-
to previsível da elevação futura de impostos (ceteris paribus), de modo que
todo aumento de renda no presente seria poupado, financiando o déficit
do governo causado pela redução de imposto.
(1) Verdadeiro.
A compra de dólares aumenta os ativos em posse do Bacen, expandindo a
base monetária.
6 Macroeconomia

(2) Verdadeiro.
Note que há troca de um ativo monetário por outro não monetário envol-
vendo agentes que integram e não integram o Sistema Bancário. Como a
aquisição do bem aumenta os ativos do sistema monetário, há criação de
moeda.
(3) Falso.
O efeito é exatamente o oposto do indicado na questão. Quanto maior a
preferência do público por depósito à vista, maior a capacidade de os ban-
cos comerciais multiplicarem a quantidade de moeda na economia.
(4) Falso.
Para aumentar a liquidez do sistema, o Bacen compra títulos no mercado
aberto, repassando moeda para os vendedores de títulos.

Questão 4
Para avaliar as assertivas a seguir, considere uma economia com apenas dois
ativos, moeda e títulos, com ou sem reservas fracionárias.
(0) Com reservas fracionárias, a oferta total de meios de pagamento depende:
(i) da base monetária; (ii) da razão entre reservas bancárias e depósitos
bancários; (iii) da parcela dos meios de pagamento mantida pelo público
na forma de moeda manual (papel-moeda e moeda metálica).
(1) Com reservas fracionárias, o Banco Central determina a oferta de meios
de pagamento por intermédio de operações de mercado aberto.
(2) O público não pode afetar o multiplicador bancário.
(3) Sem reservas fracionárias, o público pode afetar a oferta total de meios de
pagamento.
(4) Se há racionamento de crédito, então uma redução dos recolhimentos
compulsórios implica um aumento na demanda por crédito.

Resolução
(0) Verdadeiro.
É o caso padrão, em que MP = αBM, sendo α o multiplicador monetário.
(1) Falso.
A compra/venda de títulos ocorre justamente a partir da movimentação
do saldo da conta de reservas bancárias dos bancos junto ao Bacen, o que
afeta a base monetária diretamente. Contudo, cabe ainda ao Bacen alterar
Capítulo 2 | Economia Monetária 7

o parâmetro R = Rt/DV, por exemplo, a partir da modificação dos encaixes


compulsórios.
(2) Falso.
Pode sim, visto que pode mudar a preferência de uso de moeda sob a for-
ma manual ante a forma escritural.
(3) Falso.
O público pode afetar o multiplicador bancário, em qualquer situação.
(4) Verdadeiro.
A redação da assertiva é ruim. A demanda por crédito depende de outros
fatores que não diretamente a redução dos compulsórios. Na verdade, tal
redução tem o condão de aumentar a oferta de meios de pagamento (e,
por conseguinte, o crédito). É possível argumentar, todavia, que, diante
do cenário de racionamento de crédito, há uma demanda naturalmente
reprimida, o que seria satisfeita quando houvesse maior disponibilidade
de crédito. Nessa situação, tanto a oferta quanto a demanda por crédito
aumentariam.

Questão 6
Com base na equação de Paridade Descoberta da Taxa de Juros, avalie as
seguintes afirmativas como verdadeiras ou falsas:
(0) Seja a taxa de juros brasileira i = 6,5% a.a.; a taxa de juros internacional i* =
1,5% a.a.; a taxa de câmbio brasileira E = 3,80 reais/dólar; e o prêmio de risco-
-Brasil igual a 3% a.a. A taxa de câmbio brasileira esperada para daqui a um
ano deve se elevar (há expectativa de depreciação da moeda doméstica).
(1) Suponha a ausência de prêmio de risco-país e que o mercado espera que ocor-
ra, com probabilidade de 50%, uma desvalorização cambial da ordem de 10%,
em um horizonte de tempo de um mês, em um país de regime de câmbio
fixo com perfeita mobilidade de capitais. Então, a taxa de juros doméstica em
termos anualizados deve ser cinco pontos percentuais mais elevada que a taxa
de juros internacional para que não haja fuga de capitais do país (use capitali-
zação simples).
(2) Em uma economia com taxa de câmbio fixa, mesmo que o governo não tenha
intenção de promover uma desvalorização, esta pode ocorrer pela simples
mudança de expectativas dos agentes.
8 Macroeconomia

(3) As taxas de juros pagas pelos títulos brasileiros são bem superiores às taxas
de juros pagas pelos títulos norte-americanos. Portanto, os investidores deve-
riam ter somente títulos brasileiros em sua carteira.
(4) Sob mobilidade perfeita de capitais, quando há expectativa de depreciação
cambial, podemos afirmar que a taxa de juros doméstica supera a taxa de
juros externa acrescida do risco-país.

Resolução
(0) Verdadeiro.
Pela paridade descoberta da taxa de juros, a expectativa de desvalorização
cambial é dada por:
∆Ee = i – i* + prêmio de risco = 6,5% – 1,5% + 3% = 8%.
Portanto, espera-se uma depreciação de 8% da moeda brasileira.
(1) Falso.
Pela paridade descoberta da taxa de juros, a expectativa de desvalorização
cambial é dada por:
∆Ee = i – i* + prêmio de risco
50% × 10% = i – i* + 0
i – i* = 5%
O problema nesse cálculo são as unidades temporais. Como a expectativa
de desvalorização é no horizonte de um mês, o diferencial de juros
encontrado é aquele observado em títulos similares para o mesmo
horizonte mensal e não anualizado como está na afirmativa.
(2) Verdadeiro.
Havendo mobilidade de capitais, o governo pode ser forçado a promover
alterações na taxa de câmbio, se as expectativas dos agentes não estiverem
de acordo com a taxa de câmbio fixa vigente. Pode ocorrer, por exemplo,
ataque especulativo ao país. A manutenção somente seria possível se o go-
verno tivesse reservas internacionais suficientes (talvez infinita) para sus-
tentar a taxa de câmbio. Porém, consideramos que o governo não é capaz
de se contrapor infinitamente às expectativas dos agentes.
(3) Falso.
Pela paridade descoberta da taxa de juros, temos que considerar ainda a
expectativa de desvalorização cambial (função do diferencial de inflação)
e o prêmio de risco embutido nos títulos brasileiros.
Capítulo 2 | Economia Monetária 9

(4) Verdadeiro.
Decorre diretamente da fórmula apresentada nos itens (0) e (1).

Questão 14
Suponha um país que em determinado ano teve uma taxa de juros real de
3% a.a. e um superávit fiscal primário igual a 4% do PIB. Calcule a taxa de
crescimento real anualizada do PIB (% a.a.), sabendo que, ao longo do ano,
houve uma queda de 50% para 45% na razão dívida/PIB. Use a aproximação
(1 + r)/(1 + g) ≈ 1 + r − g.

Resolução
Vamos partir da equação de estabilidade da razão dívida PIB:

b = d + (i − g)b
Neste caso:
b = 45% − 50% = −5% .
d = −4% . O sinal negativo é em virtude de termos um superávit e não um
déficit.
i = 3% e b = 50% .
Substituindo os valores na equação:

−5% = −4% + (3% − g)50%

Resolvendo a equação, encontramos g = 5%.

Questão 15
Suponha que a Equação Quantitativa da Moeda seja válida. Considere dois
países, X e Y, que transacionam entre si. As taxas de crescimento da moeda e
da renda real do país X são iguais a 10% a.a. e 1% a.a., respectivamente. Já o
país Y expande seu estoque nominal de moeda à taxa de 4% e sua renda real
cresce à taxa de 2%. Nos dois países, a velocidade-renda de circulação da
moeda é constante. Usando uma aproximação logarítmica, calcule a taxa de
depreciação nominal da moeda do país X em relação à moeda do país Y para
que a paridade relativa do poder de compra seja válida (resposta em % a.a.).

Resolução
Da Teoria Quantitativa da Moeda: MV = PY.
10 Macroeconomia

As taxas de crescimento de cada variável se relacionam da seguinte forma:

g M + gv = π + g y

Sabemos que a velocidade renda é constante e, portanto, gv = 0.



Vamos calcular a taxa de inflação para cada país:
País X:
g M + gv = π + g y
gM = π + gy
10% = π + 1%
π = 9%

País Y:
gM = π + gy
4% = π + 2%
π = 2%
Usando a paridade relativa do poder de compra (aproximação logarítmica):
ΔE = π X − π Y
ΔE = 9% − 2% = 7%
4 Macroeconomia Aberta

Questão 10
Com base no modelo IS-LM-BP, avalie as seguintes afirmativas como verda-
deiras ou falsas:
(0) Uma política monetária expansionista, sob câmbio fixo e mobilidade per-
feita de capitais, levará a um deslocamento conjunto da IS e da LM, elevan-
do o nível de produto no novo equilíbrio.
(1) Quando a BP é horizontal e o câmbio flutuante, um aumento nos juros
externos provocará recessão.
(2) Sob câmbio fixo e perfeita mobilidade de capitais, bastaria uma política
fiscal expansionista para tirar a economia da recessão.
(3) O crescimento econômico global não afeta o produto de equilíbrio de uma
economia doméstica sem mobilidade de capitais e com câmbio flutuante.
(4) Uma política fiscal expansionista levará uma economia, sem mobilidade
de capitais e com regime de câmbio flutuante, a ter um déficit temporário
no balanço de pagamentos e um aumento permanente no produto.
12 Macroeconomia

Resolução
(0) Falso.
i LM2
LM1

i* BP

IS1

Neste caso, o deslocamento da LM para a direita gera um déficit no BP,


no curto prazo, com taxa de juros inferior à taxa internacional. Como o
câmbio é fixo, o Banco Central é obrigado a vender moeda estrangeira,
retirando moeda nacional de circulação. Na prática, temos um desloca-
mento da LM para o ponto inicial. O nível de produto não é alterado no
novo equilíbrio.
(1) Falso.
i
LM1

BP2

i* BP1

IS1

Quando a BP se desloca para cima (aumento dos juros internacionais),


o antigo ponto de interseção entre a LM e a IS está abaixo dessa nova BP.
Portanto, temos uma situação de déficit no BP. Com câmbio flutuante, haverá
desvalorização cambial, incentivando as exportações líquidas, o que desloca
a IS para a direita até o novo ponto de equilíbrio. O Banco Central não altera
Capítulo 4 | Macroeconomia Aberta 13

a oferta de moeda estrangeira porque o câmbio é flutuante e, portanto, a LM


não se altera.
No novo ponto de equilíbrio, o produto é maior do que o inicial. Logo, houve
expansão do produto.
(2) Verdadeiro.
i
LM1
LM2

i* BP

IS2
IS1

A política fiscal expansionista desloca a IS para a direita. No curto prazo,


o ponto de interseção entre a IS2 e a LM1 está acima da BP, o que configu-
ra um ponto de superávit no BP. O Banco Central é obrigado a comprar
esse excesso de moeda estrangeira, pois o câmbio é fixo, o que expande a
oferta de moeda nacional, deslocando a LM para a direita. No novo ponto
de equilíbrio, o produto é maior do que o inicial. No caso de câmbio fixo,
devemos lembrar que a política monetária seria ineficaz para retirar a eco-
nomia de uma recessão.
(3) Verdadeiro (discordância do gabarito).
BP1 BP2
i
LM1

IS3
IS1 IS2

Y
14 Macroeconomia

Quando a renda global aumenta (em função do crescimento global), as ex-


portações do país aumentam, deslocando a IS para a direita.
O ponto de interseção entre as curvas IS e LM está à direita da BP, o que
configura um ponto de déficit no BP. Como o câmbio é flutuante, haverá uma
desvalorização cambial, deslocando BP para a direita (ultrapassando a IS). A
desvalorização cambial favorece as exportações líquidas, o que desloca nova-
mente a IS para a direita. O produto, portanto, seria maior do que no ponto
inicial.
(4) Verdadeiro.

BP1 BP2
i
LM1

IS3
IS1 IS2

No curto prazo, a política fiscal expansionista desloca a IS para a direita.


O novo ponto de interseção entre a IS e a LM está à direita da curva BP, o
que, portanto, configura uma situação de déficit no BP.
Como o câmbio é flutuante, o déficit no BP desvaloriza a taxa de câmbio,
deslocando BP para a direita (ultrapassando o movimento inicial da IS).
A desvalorização cambial aumenta as exportações líquidas e desloca IS
novamente para a direita. No novo ponto de equilíbrio, o produto é per-
manentemente maior.
5 Consumo, Investimento e
Dívida Pública

Questão 7
Avalie as seguintes afirmativas:
(0) Com base na Teoria da Renda Permanente, um aumento na taxa de juros
real diminui o consumo presente e aumenta o consumo futuro.
(1) Supondo que as empresas esperem que tanto os lucros futuros quanto as
taxas de juros futuras permaneçam no mesmo nível de hoje, o investimen-
to será uma função da razão entre a taxa de lucro e a soma da taxa real de
juros com a taxa de depreciação.
(2) O “q” de Tobin se reduz em face de uma queda no preço das ações nego-
ciadas na Bolsa de Valores.
(3) Dependendo de seu efeito sobre as expectativas, uma contração fiscal pode
levar a uma expansão econômica.
(4) De acordo com a Teoria do Ciclo de Vida, uma elevação da renda perma-
nente das famílias levará ao aumento da propensão média a poupar.

Resolução
(0) Falso.
O aumento da taxa de juros real aumenta o consumo futuro, porém, o
efeito sobre o consumo presente é incerto e depende da função utilidade
do consumidor.
(1) Verdadeiro.
Em equilíbrio, o custo do investimento (I) é equivalente ao fluxo descon-
tado de lucros futuros:
16 Macroeconomia

L L L
I= + (1− d) + (1− d)2 ...
1+ r (1+ r)2 (1+ r)3
Trata-se de uma soma de PG infinita:

L L
L
I = 1+ r = 1+ r =
1− d r+d r+d
1− 1−
1+ r 1+ r
(2) Verdadeiro.
O “q” de Tobin é razão entre o valor de mercado da empresa e o custo de re-
posição do capital. Quando as ações negociadas em bolsa (o valor de mercado
da empresa) têm seu valor reduzido, o “q” de Tobin também diminui.
(3) Verdadeiro.
Se o governo, por exemplo, realiza um superávit no presente, os agentes po-
dem antecipar que haverá uma dívida pública menor a pagar no futuro. Por-
tanto, o governo poderá cobrar menos impostos no futuro. Havendo anteci-
pação de todos esses efeitos e satisfeita a restrição orçamentária intertemporal
dos agentes, na prática, temos mais renda disponível para que os indivíduos
realizem gastos de consumo e investimento, o que leva a uma expansão da
economia.
(4) Falso.
No modelo do ciclo de vida, a propensão média a consumir e a propensão
média a poupar são constantes no longo prazo.
C = aY + bW, em que C é o consumo, Y a renda e W a riqueza.
C/Y = a + b(W/Y)
Se a riqueza, no longo prazo, for proporcional à renda, a propensão média a
consumir (C/Y) é uma constante, assim como a propensão média a poupar.
Isso significa que, diante de choques permanentes na renda, consumo e
poupança se ajustam de forma a manter constantes as propensões médias.

Questão 13
Considere um consumidor representativo com a seguinte função utilidade:
U = ln(C1) + b ln (C2), em que C1 é o consumo corrente, C2 é o consumo futuro e
b é o fator de desconto. A taxa de juros (r) é igual a 1 e b(1 + r) = 1. Adicional-
mente, suponha que não haja imperfeições de mercado e que a renda do consu-
Capítulo 5 | Consumo, Investimento e Dívida Pública 17

midor nos períodos 1 e 2 seja dada por 120 e 60, respectivamente. Determine o
valor da poupança corrente que maximiza a utilidade do consumidor.

Resolução
Vamos resolver o problema do consumidor
C2 Y
máx ln(C1 ) + bln(C2 )s ⋅ aC1 + = Y1 + 2
1+ r 1+ r
Da condição de primeira ordem:

C2 = C1b(1+ r)
Substituindo na restrição orçamentária intertemporal:

C1b(1+ r) Y
C1 + = Y1 + 2
1+ r 1+ r
Substituindo os valores de b(1 + r) = 1, r = 1 e as rendas de cada período:

C1 60
C1 + = 120 +
1+ 1 1+ 1
1,5C1 = 150
C1 = 100

A poupança corrente (S) é a diferença entre a renda corrente (Y1) e o con-


sumo corrente (C1). Portanto, S = Y1 – C1 = 120 – 100 = 20.

6 Crescimento Econômico

Questão 5
Considere uma economia sem crescimento populacional com uma função
de produção Y = AK, em que Y é o produto, K é o capital e A é um parâmetro
tecnológico. Suponha que o capital se deprecie a taxa de 5% ao ano, que a
taxa de poupança seja de 20%, que o parâmetro A seja uma constante igual
a 0,4 e que o estoque de capital inicial seja positivo. Avalie as seguintes afir-
mativas como verdadeiras ou falsas:
(0) Não há uma relação capital por trabalhador de equilíbrio no estado esta-
cionário.
(1) A taxa de crescimento do produto é de 3% ao ano.
(2) Um aumento no parâmetro A aumentaria apenas temporariamente a taxa
de crescimento do produto.
(3) Nesta economia, o crescimento é endógeno e as políticas públicas podem
influenciar a taxa de crescimento de longo prazo.
(4) Uma redução na taxa de depreciação eleva permanentemente a razão capi-
tal-produto.

Resolução
(0) Verdadeiro.
No modelo AK, não há estado estacionário.
(1) Verdadeiro.
Como A é uma constante, o produto (Y) cresce à mesma taxa que o esto-
que de capital (K).
Capítulo 6 | Crescimento Econômico 19

A taxa de crescimento no modelo AK é dada por sA – d, com s sendo a taxa


de poupança da economia e d a taxa de depreciação.
sA – d = 20%(0,4) – 5% = 3%.
(2) Falso.
Como vimos no item anterior, a taxa de crescimento da economia é sA
– d. Se aumentarmos o parâmetro A, a taxa de crescimento da economia
aumentará permanentemente.
(3) Verdadeiro.
O modelo AK é um modelo de crescimento endógeno. Não precisamos de
um crescimento exógeno do progresso técnico tal como em Solow.
Qualquer política pública que afeta s, A ou d afetará permanentemente a
taxa de crescimento da economia.
(4) Falso.
Capital e produto crescem à mesma taxa sA – d, logo a razão capital-
-produto não é afetada pela mudança na taxa de depreciação. Além disso,
como Y = AK, então Y/K = A. A razão é constante.

Questão 9
Com base no modelo de Solow, avalie as seguintes afirmativas como verda-
deiras ou falsas:
(0) Em um modelo com progresso técnico, o produto per capita cresce no es-
tado estacionário à taxa (g + n), em que g é a taxa de progresso tecnológico
e n é a taxa de crescimento populacional.
(1) Em um modelo sem progresso técnico, um aumento da taxa de crescimen-
to populacional aumenta a taxa de crescimento do produto per capita no
estado estacionário.
(2) Quanto maior a taxa de poupança de uma economia, maior será a renda
per capita em estado estacionário.
(3) Considere dois países que apresentam o mesmo nível de capital por tra-
balhador em equilíbrio estacionário. O país mais pobre, hoje, tenderá a
crescer mais rapidamente do que o país mais rico, hoje.
(4) Em um modelo sem progresso técnico, o consumo per capita será maximi-
zado quando a produtividade marginal do capital for igual à soma da taxa
de crescimento populacional com a taxa de depreciação.
20 Macroeconomia

Resolução
(0) Falso.
No estado estacionário, o produto per capita cresce à taxa g. O produto
total cresce à taxa g + n.
(1) Falso.
Sem progresso técnico, o produto per capita é constante (taxa de cresci-
mento nula) no estado estacionário.
(2) Verdadeiro.
A renda per capita, no estado estacionário, é definida por:
α
⎛ s ⎞ 1−α
y=⎜
⎝ n + g + d ⎟⎠
Observe que o aumento da taxa de poupança aumenta a renda per capita
no estado estacionário, mas não afeta a taxa de crescimento da renda per
capita.
(3) Verdadeiro.
O país mais distante do estado estacionário (o país mais pobre) crescerá a
uma taxa maior.
Temos a seguinte equação de movimento do capital (em termos per capita):

k = sy − (n + d)k
A taxa de crescimento pode ser obtida se dividimos todos por k (e usamos
o fato de que y = kα).
k s
= 1−α − n + d
k k
Note que, do lado direito da equação, se k é muito elevado, a taxa de cres-
cimento calculada é baixa.
(4) Verdadeiro.
Temos que verificar a “regra de ouro”. Ou seja, precisamos buscar o nível
de capital que maximiza o consumo per capita. Vamos usar y = f(k).
Temos que:
k = sy − (n + d)k = 0
Capítulo 6 | Crescimento Econômico 21

k = sy − (n + d)k = 0
Em estado estacionário: sy = (n + d)k
sf (k) = (n + d)k
O consumo é definido como produto menos investimento (economia fe-
chada e sem governo):
c= y−i
c = f (k) − sf (k)
Da equação anterior:
c = f (k) − (n + d)k
Derivando em relação a k e igualando a zero (maximizando c em relação a k):

∂c
= f ' (k) − (n + d) = 0
∂k
f ' (k) = n + d
Esta última equação iguala a produtividade marginal do capital à soma da
taxa de crescimento populacional com a taxa de depreciação.
7 Oferta Agregada e
Ciclos Econômicos

Questão 8
Avalie as seguintes afirmativas:
(0) A indexação contratual da inflação passada reduz os efeitos do desempre-
go sobre a inflação corrente.
(1) Em um ambiente de elevada rigidez nominal de preços e salários, é recomen-
dada uma política de desinflação gradual e anunciada com antecedência.
(2) Na Teoria dos Ciclos Econômicos Reais, as variações no produto são ex-
plicadas segundo os choques de demanda, por conta do passeio aleatório
do PIB.
(3) Nos modelos novos keynesianos, a existência da rigidez de preços se deve
ao fato de que as firmas enfrentam concorrência perfeita e, portanto, não
podem ajustar seu preço de forma individual.
(4) A rigidez de preços é uma característica fundamental nos modelos dos
ciclos econômicos Reais.

Resolução
(0) Falso.
O trade-off entre inflação e desemprego, representado pela curva Phillips,
será mais persistente quanto mais indexada for uma economia.
(1) Verdadeiro.
Como há muita rigidez nominal de preços e salários, alterações mone-
tárias impactam diretamente o produto real (basta usar a TQM, em que
Capítulo 7 | Oferta Agregada e Ciclos Econômicos 23

MV = PY). Portanto, políticas de estabilização muito agressivas teriam alto


custo para a sociedade: políticas monetárias contracionistas teriam im-
pacto elevado sobre o produto real. Daí a recomendação pela desinflação
gradual: a perda de produto seria diluída ao longo do tempo. Além disso,
ao antecipar a política (se anunciada previamente), os agentes poderiam se
ajustar, o que, diante de expectativas racionais, reduziria a taxa de sacrifí-
cio exigida pela desinflação.
(2) Falso.
Na Teoria dos Ciclos Econômicos Reais, os choques tecnológicos explicam
as variações do produto.
(3) Falso.
Nos modelos novos keynesianos, geralmente as firmas enfrentam concor-
rência imperfeita. Parte das firmas tem preço flexível e parte tem preços
rígidos. Isso pode ocorrer, por exemplo, pela existência de custo do menu.
(4) Falso.
Nos modelos dos ciclos econômicos reais, os preços são flexíveis. Nos mo-
delos novos keynesianos, os preços são rígidos.

Questão 12
As duas tabelas que se seguem apresentam o plano de desinflação dos países
A e B e o comportamento projetado da taxa de desemprego e da taxa de cres-
cimento do produto. Partindo da inflação observada no ano 1 (15% no país
A e 16% no país B), as linhas das tabelas mostram, ano a ano, a trajetória-
-alvo desenhada para a taxa de inflação dos países A e B e as respectivas
trajetórias da taxa de desemprego e da taxa de crescimento do produto para
alcançar os níveis de inflação desejados (3% no país A e 4% no país B).

País A

Ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Inflação 15 13 11 9 7 5 3 3 3 3

Taxa de desemprego 5,5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 5,5 5,5 5,5

Taxa de crescimento
3,5 −0,5 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 7,5 3,5 3,5
do produto
24 Macroeconomia

País B

Ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Inflação 16 14 12 10 8 6 4 4 4 4

Taxa de desemprego 5,5 8,5 8,5 8,5 8,5 8,5 8,5 5,5 5,5 5,5

Taxa de crescimento do
3,5 −4 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 11 3,5 3,5
produto

Com base nestas informações, responda:


(0) A taxa de desemprego natural e a taxa de crescimento normal do produto são
iguais em ambos os países.
(1) Os agentes têm expectativas racionais.
(2) A razão de sacrifício (ou taxa de sacrifício) da desinflação em termos de ex-
cesso de desemprego é maior no país A.
(3) No país B, as empresas ajustam o emprego mais que proporcionalmente em
resposta aos desvios do crescimento do produto em relação ao crescimento
normal.
(4) As trajetórias das variáveis macroeconômicas dos planos de desinflação dos
dois países estão sujeitas à Crítica de Lucas.

Resolução
(0) Verdadeiro.
A taxa de desemprego natural é aquela que não acelera a inflação. No país
A, vemos que quando o desemprego atinge 5,5%, a inflação se mantém
constante. O mesmo é observado no país B.
A taxa de crescimento normal do produto é aquela associada à taxa de
desemprego natural. Para os dois casos, quando a taxa de desemprego con-
verge para 5,5%, a taxa de crescimento do produto está em 3,5% nos perío­
dos finais.
Usamos os períodos finais (de convergência) porque a taxa de crescimento
do produto pode flutuar, ao longo do tempo, em torno da taxa de cresci-
mento normal. Por exemplo, é possível interpretar que, no ano 8, os dois
países sofreram algum choque que elevou o crescimento do produto, sem,
contudo, afetar a inflação ou o desemprego.
Capítulo 7 | Oferta Agregada e Ciclos Econômicos 25

(1) Falso.
Se as expectativas são racionais, a inflação convergiria para o valor anun-
ciado sem aumento da taxa de desemprego. Não haveria taxa de sacrifício
para combater a inflação.
(2) Falso.
Nos dois países, o desemprego aumenta entre os anos 2 e 7. No caso do
país A, a variação é de 5,5 para 7,5 (diferencial de 2) para uma redução de
inflação de 15 para 3 (diferencial de 12). A taxa de sacrifício é, portanto,
2/12 = 0,16.
No caso do país B, a variação é de 5,5 para 8,5 (diferencial de 3) para uma
redução de inflação de 16 para 4 (diferencial de 12). A taxa de sacrifício é,
então, 3/12 = 0,25.
Portanto, a taxa de sacrifício é maior no país B.
De outra forma, o país B tem que aceitar um aumento de 0,25 no desem-
prego para cada ponto de redução na taxa de inflação, enquanto o país A
precisa aceitar um aumento de 0,16.
(3) Falso.
Já vimos que a taxa de crescimento normal do produto é 3,5 nos dois casos.
Nos dois casos, o produto desvia da taxa normal no ano 2 e no ano 8.
No país A, no ano 2, temos −0,5 (diferencial de 4 em relação à taxa normal
de 3,5). O desemprego vai a 7,5 (diferencial de 2 em relação a taxa natural
de 5,5). A razão é 2/4 = 0,5.
No país B, no ano 2, temos −4 (diferencial de 7,5 em relação à taxa normal
de 3,5). O desemprego vai a 8,5 (diferencial de 3 em relação a taxa natural
de 5,5). A razão é 3/7,5 = 0,4.
Portanto, o ajuste no emprego é proporcionalmente maior no país A do
que no país B.
No ano 8, o desemprego já está no seu nível natural nos dois países.
(4) Verdadeiro.
Uma vez anunciado o plano, os agentes podem alterar as suas funções de
reação. Ou seja, nada garante que os parâmetros permanecerão constan-
tes. De acordo com a Crítica de Lucas, os parâmetros obtidos em determi-
nado contexto podem não ser os observados quando a política for imple-
mentada, já que os agentes devem reotimizar as suas decisões.

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