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Parte II

BALANÇA DE
PAGAMENTOS E
TAXA DE CÂMBIO
Capítulo 7

Transações Correntes :
Abordagem
Macroeconômica
Capítulo 7
Transações Correntes: Abordagem
Macroeconômica

7.1 Variação da Dívida Externa

Um país que mantém relações econômicas com o resto do


mundo tanto pode receber como enviar bens, serviços e fatores
de produção ao exterior.

Se as remessas de bens, serviços e rendas superam os


recebimentos, o país apresenta superávit nas transações
correntes do balanço de pagamentos. Em caso contrário, há
déficit e os residentes do país estão aumentando sua dívida
com o exterior.

Atualmente, as contas do balanço de pagamentos são


divididas em três grandes grupos: transações correntes (TC),
conta capital (CC) e conta financeira (CF).
Capítulo 7
Transações Correntes: Abordagem
Macroeconômica

7.1 Variação da Dívida Externa

Em transações correntes, são enquadradas as movimentações de


mercadorias, serviços, rendas e donativos.

Denominamos movimentos de capital (MK), a soma das contas capital e


financeira.

MK = CC + CF

Da contabilização do BP, verifica-se que o saldo das transações correntes é


igual a soma da balança comercial mais balança de serviços mais renda primária
mais renda secundária. Isso pode ser expresso pela seguinte identidade contábil:

TC = BC + BS + RP + RS

Se TC>0, há aumento dos ativos externos líquidos em poder dos residentes


do país. O aumento dos ativos se dá porque as vendas de bens e serviços
excedem as compras e os ingressos de rendas excedem as saídas.
Capítulo 7
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Macroeconômica

7.1 Variação da Dívida Externa

Se TC < 0, o país mais recebeu que enviou bens, serviços


e/ou enviou rendas. Aumentam, portanto, suas obrigações para
com o resto do mundo.
Se o país optar por dispor de reservas para cobrir esse
excesso, o pagamento corresponde à redução do estoque de
ativos acumulados nos períodos anteriores. Quando o caminho
for o maior endividamento, os recursos podem provir da conta
financeira, isto é, de investimentos diretos, investimentos em
carteira, derivativos e outros investimentos. Na impossibilidade
de dispor de reservas ou de capitais externos obtidos com não
residentes do setor privado, o país é obrigado a buscar
empréstimos de regularização para saldar seus compromissos
externos e o FMI é o credor mais provável.
Capítulo 7
Transações Correntes: Abordagem
Macroeconômica

7.1 Variação da Dívida Externa

Necessidade de financiamento (NF)

É natural que o investidor estrangeiro detenha o direito de revender


seus ativos e repatriar seus capitais, mas, como a transação envolve
custos, existe a expectativa de permanência. Esta expectativa
fundamenta o emprego do conceito de necessidade de financiamento
(NF).
A NF é igual à diferença entre o saldo em transações correntes e os
investimentos diretos (Id) de estrangeiros direcionados à produção:

NF = TC - Id

Quanto maior a parcela do déficit coberta por investimentos diretos,


menor a necessidade de financiamento.
Capítulo 7
Transações Correntes: Abordagem
Macroeconômica

7.1 Variação da Dívida Externa

O país pode captar recursos além de sua necessidade de


financiamento. Se isso acontecer, apresentará superávit no
saldo do balanço de pagamentos total e o excedente não será
efetivamente absorvido pela economia, mas acumulado na
forma de reservas.
Pelas teorias de desenvolvimento econômico, admite-se
que os capitais se transferiram dos países mais ricos para os
mais pobres, contribuindo assim para reduzir os desníveis de
rendas entre eles.
Capítulo 7
Transações Correntes: Abordagem
Macroeconômica

7.2 Abordagem da Absorção

Na abordagem da absorção, as transações correntes do


balanço de pagamentos são analisadas como um fenômeno
macroeconômico no mercado de bens.

Segundo a teoria keynesiana, a demanda agregada


determina a produção. Numa economia fechada, a demanda
agregada engloba consumo (C), investimento (I) e gastos
públicos (G), e o equilíbrio acontece quando a poupança
agregada (S) iguala-se ao investimento (I).

Numa ecn. fechada: D = C + I + G

Equilíbrio: S=I
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7.2 Abordagem da Absorção

Numa economia aberta, há que se incluir as trocas com o


resto do mundo, o que pode tornar S ≠ I. Isso significa que o
país pode ser exportador ou captador de poupanças.

Com a abertura, parte dos gastos dos residentes é


realizada no exterior. São as importações de bens e serviços
(M).

Em contrapartida, o país exporta (X), e os residentes no


exterior demandam bens e serviços do país. O saldo dessas
contas é denominado transferência líquida de recursos (X-M).
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7.2 Abordagem da Absorção

Para determinar os gastos efetivamente realizados no país,


é preciso incluir as exportações de bens e serviços e deduzir
suas importações.

D = C + I + G + (X – M)

Concluímos, portanto, que a demanda pelos bens e serviços


domésticos numa economia aberta cresce com as exportações,
enquanto as importações são consideravas ‘vazamentos’, uma
vez que vão gerar renda e emprego no exterior.

A=C+I+G
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7.2 Abordagem da Absorção

A distinção entre demanda pelos bens e serviços


domésticos (D) e demanda dos residentes domésticos (A) é
fundamental para o entendimento do saldo em transações
correntes no balanço de pagamentos sob a abordagem da
absorção.

Pela ótica da composição da despesa, o produto interno


bruto (PIB) pode ser representado por:

PIB = C + I + G + (X - M)

PIB = A + (X - M)
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7.2 Abordagem da Absorção

O PIB é a expressão monetária da soma dos bens e serviços


finais produzidos dentro das fronteiras nacionais em
determinado período de tempo.

A renda líquida recebida do exterior (RLRE) consiste na


soma dos saldos do balanço de renda primária e de renda
secundária.

O produto nacional bruto (PNB) expressa a produção (ou


renda) que pertence aos residentes do país, enquanto o PIB
expressa o que é produzido no país. Então:

PNB = PIB + RLRE


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7.2 Abordagem da Absorção

Se RLRE > 0, o país mais recebe que envia recursos como


remuneração pelos fatores de produção e, logo, PNB > PIB.

PNB = A + (X – M) + RLRE

TC = (X – M) + RLRE

TC = PNB – A

Se PNB < A, as transações correntes têm saldo deficitário


(TC<0) e o nível de absorção interna excede o produto
pertencente ao país. Se PNB > A, há superávit em TC.
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7.3 Investimentos, Poupança e Transações


Correntes

Há ainda uma outra maneira de interpretar o déficit em


transações correntes. Em vez de concluir que o país tem déficit
porque gasta mais do que pode, é possível argumentar que é
porque investe mais do que poupa.

Numa economia fechada, a produção é empregada em


consumo ou investimento, e a renda das famílias é dividida
entre consumo e poupança. Assim, o investimento deve ser
igual à poupança. Numa economia aberta, essa igualdade pode
não ser verdadeira.

PNB = C + I + G + (X – M) + RLRE
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7.3 Investimentos, Poupança e Transações Correntes

Parte do PNB é apropriada pelo governo na forma de


tributação e o restante é a renda disponível (Yd) em poder do
setor privado (PNB = Yd + T).

A renda disponível, por sua vez, pode ser consumida ou


poupada (Yd = C + S), então:
C = Yd – S

Então,
(X – M) + RLRE = (S – I) + (T – G)

TC = (S – I) + (T – G)
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7.3 Investimentos, Poupança e Transações Correntes

Dessas expressões podemos concluir que, se a poupança


total (privada + pública) é inferior aos investimentos
(S + T – G < I), então TC < 0, e que esse déficit é financiado
com poupança de não-residentes no país.

É isso que justifica a afirmação: o país que tem déficit em


transações correntes investe mais do que poupa.

Podemos concluir também que há uma tendência a


aumentar o déficit em transações correntes, piorando a posição
externa do país.
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7.4 Implicações do Déficit em Transações


Correntes

As transações correntes do balanço de pagamentos foram


descritas anteriormente de três maneiras diferentes, todas
formuladas a partir de identidades contábeis simples.

O déficit em transações correntes pode ser definido como:

1. aumento da dívida externa: TC = MK

2. excesso de absorção: TC = PNB – A

3. escassez de poupança interna: TC = (S – I) + (T – G)


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7.4 Implicações do Déficit em Transações Correntes

As três definições são igualmente verdadeiras e úteis para


compreender as implicações macroeconômicas do problema.

Da primeira definição, podemos concluir que a dívida não


pode crescer indefinidamente. Para evitar esse processo de
dívida crescente de maneira persistente, o país precisa gerar
superávits comerciais que permitam, pelo menos, pagar os juros
da dívida.
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7.4 Implicações do Déficit em Transações Correntes

A segunda definição ajuda a compreender que a existência


de déficit em transações correntes significa que o país gasta
mais do que tem, ou seja, a soma das despesas com consumo,
investimento e gastos públicos excede o PNB. A solução
recomendada, nesse caso, é reduzir a absorção.

Da terceira definição das transações correntes, conclui-se


que o ajustamento deve ser feito por meio das contas do
governo. A principal recomendação do FMI é a redução do déficit
público para equacionamento do déficit externo.
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7.5 Ajuste do Balanço de Pagamentos

A persistência de déficits em transações correntes constitui


um problema para a economia e só pode ocorrer enquanto
houver recursos para financiá-los.

O déficit em transações correntes implica que o país tem


mais dívidas a pagar que créditos a receber durante
determinado período de tempo.

Em momentos de farta liquidez internacional, a taxa de


juros dos empréstimos é baixa e é facilitado o acesso a recursos
privados externos, estimulando, muitas vezes, o próprio
crescimento do déficit.
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Transações Correntes: Abordagem
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7.5 Ajuste do Balanço de Pagamentos

Por algum tempo, é possível continuar honrando os


compromissos externos gastando reservas acumuladas no
passado, mas, quando o país já não pode mais dispor delas,
instala-se a crise no balanço de pagamentos.

Acontece uma crise no balanço de pagamentos quando o


país não dispõe de reservas para pagar pelas dívidas nas datas
de vencimento. A crise pode ser evitada ou amenizada pelos
empréstimos de regularização concedidos pelo FMI, que
significam ingresso de recursos para continuar honrando os
compromissos externos.
Capítulo 7
Transações Correntes: Abordagem
Macroeconômica

7.5 Ajuste do Balanço de Pagamentos

Os acordos com o FMI exigem ajuste do balanço de


pagamentos. O governo deve tomar algumas medidas visando
ajusta o balanço de pagamentos. São elas:

restrições tarifárias ou quantitativas às importações;

subsídios às exportações;

aumento da taxa interna de juros;

redução do nível de atividade econômica; e

desvalorização real da taxa de câmbio.

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