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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS


DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

A Estrutura básica das


Contas Nacionais
ECO07667 – CONTABILIDADE SOCIAL
Prof. Dr. Daniel P. Sampaio

V i tó r ia/ES, 1 4 , 1 7 e 2 1 d e a go sto d e 2 0 1 8
➢Revisão: Identidades Contábeis;
➢Contas Nacionais e o sistema SNA 68;
▪ Economia fechada sem governo;
▪ Economia aberta e sem governo;
Programação: ▪ Economia aberta com governo;

➢História do SCN Brasil e aspectos


recentes;
Revisão: Identidades contábeis
✓Igualdade (=): relações de determinação entre variáveis.

✓Identidade (≡): valores são contabilmente idênticos, sem relação


de causa e efeito. Uma ação não pode viver sem a outra.
Exemplo:
Venda R$ 10,00 ≡ Compra R$ 10,00
Obs.: a compra só pode existir com a venda.

❖O sistema capitalista tem no sistema de trocas seu mecanismo


básico de funcionamento. Trata-se da forma de organização da
vida material da sociedade moderna.
Revisão: Identidades contábeis
❖A homogeneização das relações de trocas permite a organização
em partidas dobradas e o equilíbrio interno e externo do
desempenho econômico do país.
o Transpõem o princípio da contabilidade empresarial das partidas
dobradas (crédito/débito) para os agregados econômicos.

✓Exemplos de identidades contábeis:


Produto ≡ Renda ≡ Dispêndio (Gasto)
Poupança ≡ Investimento
Contas nacionais e o SNA 68
•SNA (System of National Accounts) de 1968 organizado pela
ONU (Organização das Nações Unidas) constituiu uma
harmonização da forma de proceder com a mensuração das
Contas Nacionais entre distintos países, sendo substituído
pela versão do SNA de 1993;

•Início do nosso estudo a partir de um esquema simplificado


como base para o entendimento do Sistema de Contas
Nacionais, mesmo considerando que a realidade é mais
complexa.
Economia fechada
e sem governo
Economia fechada
e sem Governo
✓Fluxo circular da renda tem na produção o seu setor
fundamental. Se não há o que transacionar, não há fluxos a
serem realizados.
◦ Por esta razão é destacada a Conta Produção.

❖Pressupostos:
• Somente bens finais são considerados no Produto;
• Nem tudo o que é produzido é consumido, por esta
razão há formação de estoques que serão consumidos
em períodos posteriores (t+1).
o Fale-se, na verdade, em variação de estoques, pois há
carregamento de um ano para outro.
Investimento
➢Variação de estoques (ΔE): consumo ou absorção futuros
que são consumidos uma única vez;
o (+) crescimento de estoques;
o (-) redução de estoques.

➢Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF): agregam bens que


não foram consumidos numa única utilização e possibilitam
a produção para o consumo.
o Possibilita também a expansão da produção, e, por esta razão dos valores
monetários do fluxo circular da renda. Por esta razão é variável
fundamental para o crescimento econômico.

Investimento (I) = FBCF + ΔE


Produto Bruto versus
Produto Líquido
❖Convenção:
o Var. Estoques: bens de consumo não duráveis / semiduráveis
(capacidade ociosa não planejada);
o FBCF: bens de consumo duráveis (escolha das empresas);
o Depreciação: desgaste no tempo da FBCF.

Produto Interno Bruto (PIB) – Depreciação (d)


= Produto Líquido (PIL)
Contas
Conta do Produto (1ª e 2ª versão)

Conta Apropriação

Conta Capital
Pressupostos das Contas
❖Partidas dobradas: princípio da contabilidade empresarial:

Débito (Origem) Crédito (Destino)


A. C.
B. D.
Resultado Débito Resultado Crédito

✓Equilíbrio Interno: identidade entre débito/crédito;


✓Equilíbrio Externo: equilíbrio entre todas as contas do
Sistema.
Conta do Produto
➢Significado: revelar o produto como dispêndio, e a
produção como elemento gerador da renda. Famílias
envolvidas na atividade produtiva por meio das empresas

✓Conta do Produto (1ª versão)


Débito (Origem) Crédito (Destino)
A. Produto Líquido C. Consumo Pessoal
B. Depreciação D. Var. de Estoques
E. FBCF
Produto Bruto Despesa Bruta
Conta do Produto
✓Conta do Produto (2ª versão)
Débito (Origem) Crédito (Destino)
a1. Salários C. Consumo Pessoal
a2. Lucros D. Var. de Estoques
a3. Alugueis E. FBCF
a4. Juros
A = a1 + a2 + a3 + a44
A = Renda ou Produto
Nacional Líquido
B. Depreciação
Renda ou Produto Bruto Despesa Bruta
Conta do Produto
➢Considerações (2ª versão):
• Juros e alugueis: somente os que são pagos às famílias, não às
empresas;
o Exceção: setor financeiro (variável proxy do valor adicionado
dos serviços de intermediação financeira)

➢Conta do Produto da 1ª versão e da 2ª versão demonstra a


identidade contábil entre produto, renda e dispêndio.

Produto ≡ Renda ≡ Dispêndio (Gasto)


Conta apropriação
➢Significado: como as famílias alocam a renda que
receberam como remuneração dos fatores de produção.
Famílias como unidade de dispêndio.

✓Conta Apropriação (1ª versão)


Débito (Origem) Crédito (Destino)
C. Consumo Pessoal a1. Salários
F. Poupança Líquida a2. Lucros
a3. Alugueis
a4. Juros
Utilização Renda Líquida Renda Líquida
Conta apropriação
❖Renda dos fatores de produção é lançada como crédito,
enquanto no débito figuram os destinos dessa renda.

❖Principais agentes: como as famílias se apropriam e


utilizam da renda;
◦ Conta de apropriação como demonstrativo de lucros ou
perdas;
◦ Em função do equilíbrio externo, o lançamento da renda
aparece como crédito na conta apropriação e como débito na
conta da produção. As empresas gastam com fatores de
produção, recebendo em função dos bens produzidos.
Balanço entre Conta da
Produção e Conta Apropriação
❖Apresentam pares no crédito/débito em várias variáveis.

•São ausentes:
Conta da Produção: Var. de Estoques + FBCF – Depreciação
Apropriação: Poupança Líquida

➢Ajustes para garantir a totalidade do equilíbrio externo


está na Conta Capital.
Conta Capital
➢Significado: a Conta Capital “fecha” o sistema de contas
garantindo o equilíbrio externo.

✓Conta Capital (1ª versão)


Débito (Origem) Crédito (Destino)
D. Var. Estoques F. Poupança Líquida
E. FBCF B. Depreciação
Investimento Bruto Poupança Bruta

Demonstração da identidade:
Poupança ≡ Investimento
Economia aberta
e sem governo
Contas
Conta do Setor Externo (1ª versão)

Conta do Produto (3ª versão)

Conta Capital (2ª versão)


Balanço de Pagamentos
❖Instrumento contábil que registra as transações entre residentes e não
residentes do Brasil com o resto do mundo.
➢Estrutura básica: Exportação: Envia mercadorias | Recebe moeda
Transações Correntes Importação: Recebe mercadorias | Envia moeda
Balança Comercial Saldo da Balança Comercial = X- M
Serviços fatores
Serviços não fatores Envio de rendas ao exterior: envia moeda
Conta Capital e Financeira Recebe rendas do exterior: recebe moeda

Capitais de Curto Prazo Renda Líquida do Exterior (+ ou -)

Investimento Direto Estrangeiro Produto Interno:


Empréstimos de Regularização Produção no território
Ativos de Reserva Renda Nacional:
Erros e Omissões Nacionalidade dos fatores de produção
Conta do Setor Externo
(1ª versão)
Débito Crédito
G. Exportação de bens e serviços não I. Importação de bens e serviços não
fatores fatores
H. Renda recebida dos exterior J. Renda enviada ao exterior
K. Resultado do Balanço de
Pagamentos em Transações Correntes
Total do débito Total do Crédito

oSaldo entre H e J: Renda Líquida Enviada (+) ou Recebida (-) do


exterior.
oSaldo de K: (+) Superávit em Transações Correntes, (-) Déficit em
Transações Correntes
Conta do Produto
(3ª versão)
Débito Crédito
I. Importação de bens e serviços não G. Exportação de bens e serviços não
fatores fatores
J-H. Renda Líquida Enviada (+) ou C. Consumo Pessoal
Recebida (-) do exterior
a1. Salários D. Variação de Estoques
a2. Lucros E. Formação Bruta de Capital Fixo
a3. Alugueis
a4. Juros
A = a1 + a2 + a3 + a4 (Renda ou
Produto Nacional Líquido
B. Depreciação
Oferta de bens e serviços Demanda por bens e serviços
Conta do Produto
(3ª versão)
▪Oferta de bens e serviços = PIB + RLEE + Importação de bens e
serviços não fatores
Contrapartidas na Conta do Produto
Com Economia Aberta

▪ Conta Débito:
(J – H): Renda Líquida Enviada (+) ou Recebida (-) do
Exterior
▪ Conta Crédito:
K: Resultado do Balanço de Pagamentos em Transações
Correntes
Conta Capital
(2ª versão)
Débito Crédito
D. Variação de Estoques F. Poupança Líquida
E. Formação Bruta de Capital Fixo B. Depreciação
K. Resultado do Balanço de
Pagamentos em Transações Correntes
Investimento Bruto Total Poupança Bruta Total

❖Saldo de K:
(+) Importação líquida de Capital -> Atração líquida de
Poupança Externa
(-) Exportação líquida de Capital -> Envio líquido de Poupança
Externa
Economia aberta
e com governo
Contas
Conta do Governo

Conta de Produção

Conta de Apropriação

Conta de Capital

Conta do Setor Externo


Conta do Governo
Débito Crédito
L. Consumo do Governo P. Impostos Diretos
M. Transferências p1. empresas
N. Subsídios p2. famílias
O. Saldo do Governo em Conta Q. Impostos Indiretos
Corrente
R. Outras receitas correntes líquidas
Utilização da Receita Total da Receita
Conta do Governo
❖Saldo de O:
(+) Superavit nas contas do Governo – Poupança do Governo;
(-) Deficit nas contas do Governo – Déficit Público.

❖Impostos:
• Impostos Diretos – incidem sobre renda e patrimônio (IRPF, IPTU,
etc);
• Impostos Indiretos – incidem sobre bens e serviços (ICMS, IPI, etc.);
• Outras arrecadações – taxas, multas, etc.
Conta do Governo
❖Transferências:
• Sem contrapartida: auxílio-doença, auxílio-maternidade, bolsa-
família;
• Previdência: arrecadação-tributação direta | pagamento-
transferência;
• Juros Dívida Pública: empréstimo ao Governo | transferência.
➢Impostos diretos com sinal invertido.

❖Subsídios:
• Abdicação de receita por parte do Governo;
➢Imposto indiretos com sinal invertido
Conta do Governo
❖Possíveis impactos sobre a formação de preços:
• Impostos indiretos (+)
• Subsídios (-)

PIB a preços de mercado (PIBpm)


Considera impostos indiretos e subsídios
PIB a custo de fatores (PIBcf)
PIB – impostos indiretos + subsídios
Conta de Produção
Débito Crédito
I. Importação de bens e serviços não G. Exportações de bens e serviços não
fatores fatores
J-H. Renda Líquida enviada (+) ou recebida C. Consumo Pessoal
(-) do exterior
a1. Salários L. Consumo do Governo
a2. Lucros D. Variação de Estoques
a3. Alugueis E. Formação Bruta de Capital Fixo
a4. Juros
A. Renda ou Produto Nacional Líquido
(A = a1 + a2 + a3 + a4)
B. Depreciação
Q-N. Impostos indiretos líquidos de
subsídios
Oferta de bens e serviços Demanda por bens e serviços
Conta de Apropriação
Débito Crédito
C. Consumo Pessoal a1. Salário
P-M. Impostos Diretos Líquidos de a2. Lucros
Transferências
R. Outras receitas correntes líquidas a3. Alugueis
F. Poupança Privada Líquida a4. Juros
Utilização da Renda Nacional Líquida Renda Nacional Líquida (Custo de
(Custo de Fatores) Fatores)
Conta do Setor Externo
Débito Crédito
G. Exportações de bens e serviços não I. Importações de bens e serviços não
fatores fatores
H. Renda recebida do exterior J. Renda enviada ao exterior
K. Resultado do BP em Transações
Correntes
Total do Débito Total do Crédito
Conta de Capital
Débito Crédito
D. Variação de Estoques F. Poupança Privada Líquida
E. Formação Bruta de Capital Fixo B. Depreciação
K. Resultado do BP em Transações
Correntes
O. Saldo do Governo em Conta
Corrente
Investimento Bruto Total Poupança Bruta Total
Breve história do Sistema de
Contas Nacionais no Brasil
Breve história do SCN
✓Primeiro esforço do SCN em partidas dobradas: EUA (1947) por Richard
Stone. Nova versão por Richard Stone em 1953 (SNA 53)
✓Primeiro SCN do Brasil: Núcleo de Economia da FGV-RJ com início em
1947
• Evolução dos preços, Balanço de Pagamentos e Contas Nacionais;
✓Passou ao IBGE em 1986: revisões metodológicas e troca do sistema de
cinco para quatro contas (diluição da conta do governo);
✓SNA 1993 resulta em nova revisão metodológica pelo IBGE.
SCN Brasil até 1986
❖Grande semelhança com o apresentado anteriormente no conjunto de
cinco contas:
i. Conta do Produto
ii. Conta de Apropriação
iii. Conta Corrente do Governo
iv. Conta Consolidada de Capital
v. Conta Transações com o Resto do Mundo
SCN Brasil após 1986
❖Passagem da FGV-RJ para o IBGE:
i. Conta Produto Interno Bruto (conta do produto)
ii. Conta Renda Nacional Disponível Bruta (conta apropriação)
iii. Conta de Capital
iv. Conta de Transações Correntes com o Resto do Mundo

❑Sistema exclui a conta corrente das administrações públicas, que


aparece implícito nas demais contas.
Conta Produto Interno Bruto
(PIB)
Débito Crédito
1.1 PIB custo de fatores (2.4) 1.4 Consumo final das famílias (2.1)
1.1.1 Remuneração dos 1.5 Consumo final das administrações
empregados (2.4.1) públicas (2.2)
1.1.2 Excedente Operacional 1.6 Formação Bruta da Capital Fixo
Bruto (2.4.2) (4.1)
1.2 Tributos indiretos (2.8) 1.7 Variação de Estoques (4.2)
1.3 (-) Subsídios (2.9) 1.8 Exportação de bens e serviços não
fatores (3.1)
1.9 (-) Importação de bens e serviços
não fatores
PIB a preços de mercado Dispêndio correspondente ao PIB
Conta Renda Nacional
Disponível Bruta (RDB)
Débito Crédito
2.1 Consumo final das famílias (1.4) 2.4 PIB a custo de fatores (1.1)
2.2 Consumo final das administrações 2.4.1 Remuneração dos empregados
públicas (1.5) (1.1.1)
2.3 Poupança Bruta (4.3) 2.4.2 Excedente Operacional Bruto
(1.1.2)
2.5 Remuneração dos Empregados Líquidas
recebida do resto do mundo (3.2-3.6)
2.6 Outros rendimentos líquidos recebidos
do resto do mundo (3.3-3.7)
2.7 Transferências Unilaterais Líquidas
Recebidas do Resto do Mundo (3.4-3.8)
2.8 Tributos indiretos (1.2)
2.9 (-) Subsídios (1.3)
Utilização da Renda Nacional Disponível Apropriação da Renda Nacional Disponível
Bruta (RDB) Bruta (RDB)
Conta Transações Correntes
com o Resto do Mundo
Débito Crédito
3.1 Exportações de bens e serviços 3.5 Importações de bens e serviços
não fatores (1.8) não fatores (1.9)
3.2 Remuneração dos empregados 3.6 Remuneração de empregados
recebida do resto do mundo (2.5+3.6) paga ao resto do mundo (3.2-2.5)
3.3 Outros rendimentos recebidos do 3.7 Outros rendimentos pagos ao
resto do mundo (2.6+3.7) resto do mundo (3.3-2.6)
3.4 Transferências unilaterais 3.8 Transferências unilaterais pagas ao
recebidas do resto do mundo resto do mundo (3.4-2.7)
(2.7+3.8)
3.9 Saldo das transações correntes
com o resto do mundo (4.4)
Recebimentos correntes Utilização dos recebimentos
correntes
Conta de Capital
Débito Crédito
4.1 Formação Bruta de Capital 4.3 Poupança Bruta (2.3)
4.1.1 Construção (Adm. Públicas 4.4 (-) Saldo das transações correntes
+ Empresas e famílias) com o resto do mundo (3.9)
4.1.2 Máquinas e Equipamentos
(Adm. Públicas + Empresas e
famílias)
4.1.3 Outros
4.2 Variação de estoques (1.7)
Total da Formação Bruta de Capital Financiamento da Formação Bruta de
Capital
Conta Complementar: Conta
Corrente das Adm. Públicas
Débito Crédito
A. Consumo final das Adm. Pública F. Tributos Indiretos
a.1 Salário e Encargos G. Tributos Diretos
a.2 Outras compras de bens e H. Outras receitas correntes líquidas
serviços
B. Subsídios h1. outras receitas correntes
brutas
C. Transferências de assistência e h2. (-) outras despesas de
previdência transferência
(intragovernamentais,
intergovernamentais, setor
privado, exterior)
D. Juros da dívida pública interna
E. Poupança em Conta Corrente
Utilização da receita corrente Total da Receita Corrente
Referências:
PAULANI, L.; BRAGA, M. B. A nova contabilidade social: uma introdução
à macroeconomia. São Paulo: Ed. Saraiva, 2012, Cap. 2.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

Bons estudos!
PROF. DR. DANIEL P. SAMPAIO
daniel.sampaio@ufes.br

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