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LITERATURA EM CAMPO EXPANDIDO

EIXO: EIXO 6 - RELAÇÕES INTERARTES, REDES VIRTUAIS, METAVERSOS

SIMPÓSIO: LITERATURA EM CAMPO EXPANDIDO

COORDENADORES:
- Maria Elisa Rodrigues Moreira (Universidade Presbiteriana Mackenzie)
- Bruna Fontes Ferraz (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais)

RESUMO: As reflexões contemporâneas sobre a literatura têm aberto espaço para uma
série de discussões pautadas em uma ideia que a ela associa a noção de “expansão”,
estabelecendo assim um diálogo transversal com outros campos do conhecimento e, em
especial, com outros campos artísticos. Pode-se dizer que essa noção começa a se
desenvolver com a publicação, em 1970, do livro Expanded cinema, no qual o
pesquisador de mídias audiovisuais Gene Youngblood apontava que estava ocorrendo,
naquele momento, uma espécie de “alargamento” na concepção mais tradicional de
cinema (YOUNGBLOOD, 1970), que havia deixado de ter como espaço específico de
exibição as tradicionais salas escuras e passava tanto a ocupar outros ambientes
quanto a incorporar distintas manifestações artísticas, como “[a]mbientes virtuais,
vídeo-arte, sites specifcs, instalações, generative art” (SATT, 2009, p. 10). Em
1979, é publicado o hoje bastante conhecido artigo de Rosalind Krauss, “A escultura
no campo ampliado”, no qual, ainda que recorrendo a distinta terminologia, a
pesquisadora discute questões similares, afirmando que diante da diversidade de
obras que, desde os anos 1960, passaram a ser identificadas como escultura, para
que essa categoria continuasse a ser identificada como tal seria necessário que a
própria categoria se transformasse em algo “infinitamente maleável” (KRAUSS, 1984,
p. 129). O desenvolvimento tecnológico e as novas possibilidades de criação
artística que desde então tem crescido vertiginosamente mobilizaram, assim, a
expansão do próprio termo, sob cujo escopo passaram a se abrigar discussões que se
orientam tanto pela expressão de Youngblood (“expansão”) quanto pela de Krauss
(“ampliação”), mas também por outros termos de aproximação semântica, como
“inespecificidade” e “impertinência” (GARRAMUÑO, 2014), “pós-autonomia” (LUDMER,
2010), “fora de si” (KIFFER, 2014) e “mutação” (MIRANDA, 2014). Em comum, todas
essas expressões têm o fato de assentarem-se sobre a dificuldade de inserção de
certas criações artísticas contemporâneas dentro dos limites de um determinado
campo artístico: como afirmam Florencia Garramuño e Ana Kiffer na apresentação do
livro Expansões contemporâneas: literatura e outras formas, por elas organizado, “A
estética contemporânea está habitada por uma série de práticas e intervenções
artísticas que evidenciam um estendido sentido de transbordamento de limites e
expansões de campos e regiões” (KIFFER, GARRAMUÑO, 2014, p. 7), práticas essas que
provocam não apenas “uma implosão do meio específico”, mas sobretudo “um profundo
questionamento do ‘próprio’ enquanto definição estável e circunscrita de uma
especificidade” (KIFFER, GARRAMUÑO, 2014, p.12), seja esta referente ao meio ou ao
próprio conceito de arte. Ainda que a “expansão” não constitua um conceito unívoco,
acreditamos que a ideia de se pensar a literatura como um “campo expandido” seja um
caminho para que consigamos refletir sobre toda a diversidade de formas pelas quais
o literário é hoje criado, posto em circulação e recepcionado pelos leitores, num
processo em que se mostra cada vez mais relevante atentar à sua materialidade, o
livro — mesmo que em suas formas menos convencionais. Afinal, se o texto impresso
em formato de códex continua a ser o modelo predominante de circulação da
literatura escrita desde o século III (BARBIER, 2008), num formato que já é
resultado de um longo percurso de transformações, a partir de meados do século XX
as discussões em torno do livro passam a ser atravessadas por uma “nova revolução”,
a do livro eletrônico, como pontua Michel Melot em Livro: “Parece evidente que se
deve atribuir à irrupção da eletrônica e, de modo particular, das telas, este novo
interesse pela forma do livro e por sua história material. Enquanto o reino do
papel não tinha concorrentes, era difícil ver o objeto sob o conceito.” (MELOT,
2012, p. 24, grifos do autor). Assim, a ascensão do livro eletrônico resgata,
paradoxalmente, a atenção para a sua própria materialidade, cujo suporte expande a
escrita: o livro como um território aberto a outros signos para além do alfabeto.
Se a dobra é a forma elementar do livro, tal como advoga Melot, ele “será, dessa
maneira, semelhante a um cofre, a uma casa, a uma tumba, ou ao próprio corpo
humano” (MELOT, 2012, p. 50). Isso significa que o livro torna-se um espaço de
arte, no qual podem ser arquivados, para além da coleção de textos e imagens,
pequenos objetos, algumas memórias, como um museu. O espaço compacto da forma
abriga, pois, uma potencialidade infinita de desdobramentos, levada às últimas
consequências pela superfície eletrônica. Seja como dobra, seja como território, o
cruzamento de diversas mídias aponta para a pluralidade e inespecificidade do
objeto de arte, que ultrapassa fronteiras ao combinar uma série de elementos
diversos. Este simpósio acolherá, nesse quadro, comunicações que reflitam sobre a
expansão das linguagens artísticas e dos seus meios de produção, cujas abordagens
contemplem, dentre outras possibilidades: 1) relação entre literatura e outras
artes e mídias; 2) materialidades do livro: livros de artista, livros-objeto; 3)
literatura digital, reconfiguração da leitura e do leitor e suas novas formas de
recepção; 4) texto, hipertexto, hipermídia.

PALAVRAS-CHAVE: Expansão; Intermidialidade; Livro; Literatura digital

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