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sustentabilidade
Paulo Niccoli Ramirez
Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Simone M. P. Vieira - CRB 8a/4771)
Bibliografia.
e-ISBN 978-65-5536-777-5 (Epub/2021)
e-ISBN 978-65-5536-778-2 (PDF/2021)
Capítulo 1 Capítulo 4
Ética no Ocidente, 7 Cidadania: bases históricas
1 Definição de ética, 8 e princípios, 75
2 Percurso histórico da ética no 1 Bases históricas da cidadania, 76
Ocidente, 12 2 Concepções de cidadania, 88
3 Liberdade, igualdade e 3 A cidadania no Brasil, 92
responsabilidade como questões
Considerações finais, 95
da ética, 21
Referências, 96
Considerações finais, 26
Referências, 27 Capítulo 5
Relações étnico-raciais
Capítulo 2
no Brasil, 99
Direitos humanos, 29
1 Formação da cultura brasileira: uma
1 O que são os direitos humanos, 30 visão histórico-crítica, 100
2 Afirmação histórica dos direitos 2 O processo de escravização de
humanos, 42 indígenas e africanos e seus
3 As gerações dos direitos reflexos na formação da cultura
humanos, 44 brasileira, 111
Considerações finais, 49 3 Aspectos políticos e sociais da
Referências, 50 cultura afro-brasileira, 115
Considerações finais, 118
Capítulo 3 Referências, 119
Democracria no Brasil e grupos
minorizados, 51 Capítulo 6
1 Princípios da democracia, 52 Relações de gênero, 121
2 Marcos históricos que contribuíram 1 Fundamentos das questões de
para a construção da democracia gênero, 122
no Brasil, 62 2 Questões de gênero no cenário
3 Afirmação política de grupos internacional, 129
minorizados e movimentos sociais 3 Questões de gênero no Brasil, 136
e formação da democracia no
Considerações finais, 140
Brasil, 68
Referências, 141
Considerações finais, 71
Referências, 72
Capítulo 7 Capítulo 8
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Sustentabilidade: fundamentos Desenvolvimento
e definições, 143 sustentável, 161
1 A formação da sustentabilidade 1 Concepções de desenvolvimento
como questão política e sustentável, 162
socioambiental, 144 2 As possibilidades e os limites do
2 Concepções de sustentabilidade, 151 desenvolvimento sustentável, 170
Considerações finais, 158 Considerações finais, 178
Referências, 158 Referências, 178
Ética no Ocidente
7
1 Definição de ética
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Do grego ethos, a palavra “ética” surgiu na Grécia antiga com a filoso-
fia de Aristóteles (século IV a.C.). Ética significa conduta que envolve a
ação racional, ou a ciência que estuda o comportamento dos indivíduos.
Seu objetivo é promover a felicidade coletiva, a excelência humana ou
o bem comum. Na obra Ética a Nicômaco, Aristóteles define o conceito
com os seguintes termos:
[...] Parece que a felicidade, mais que qualquer outro bem, é tida
como este bem supremo, pois a escolhemos sempre por si mes-
ma, e nunca por causa de algo mais; mas as honrarias, o prazer,
a inteligência e todas as outras formas de excelência, embora as
escolhamos por si mesmas [...], escolhemo-las por causa da feli-
cidade, pensando que através delas seremos felizes. Ao contrário,
ninguém escolhe a felicidade por causa das várias formas de exce-
lência, nem, de um modo geral, por qualquer outra coisa além dela
mesma. (ARISTÓTELES, 1992, p. 23)
Ética no Ocidente 9
disciplina teórica, ao estudo sistemático, a moral corresponde às
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representações imaginárias que dizem aos agentes sociais o que
se espera deles, quais comportamentos são bem-vindos e quais
não. (SROUR, 2000, p. 29)
Ética no Ocidente 11
são as explicações que são dadas para fundamentar o senso moral. A
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consciência moral é, portanto, a justificativa baseada na própria moral
que permite dar sentido a todos os nossos atos e visões de mundo. Ao
impulsivamente ajudar a criança faminta ou o idoso que atravessa a
rua, exerço o meu senso moral. Quando penso e justifico a mim mesmo
e aos demais essa minha ação, exerço a consciência moral.
Ética no Ocidente 13
O primeiro foi pioneiro na compreensão da liberdade humana e da capaci-
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dade do homem de produzir de maneira autônoma escolhas e responsa-
bilidades, isto é, de exercer o livre-arbítrio. Compreendendo racionalmente
que as ações virtuosas e o cultivo da fé conduziriam à salvação da alma
após a morte e que o pecado, com o cultivo dos vícios carnais, conduziria
ao distanciamento de Deus, Agostinho traça a relação entre a ética e a fé.
Aquino, por sua vez, elabora tratados morais em que busca estabelecer
quais virtudes (entre elas a temperança e a fé) devem acompanhar o com-
portamento humano a fim de aperfeiçoá-lo e guiá-lo em direção a Deus.
Ética no Ocidente 15
as circunstâncias; e fortuna (originalmente, a deusa romana que repre-
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senta a sorte ou o acaso), que fundamenta a contingência e imprevi-
sibilidade histórica, escapando à racionalidade humana, a exemplo de
catástrofes naturais ou declarações de guerra de outros reinos.
até o século XVII não existia vínculo algum entre a noção de economia
e comércio, uma vez que se entendia por economia apenas o cuidado
com a vida privada. A grande inovação do homem moderno, ou melhor,
do burguês ou do comerciante, foi a conquista do poder político. Se em
outros períodos da história ocidental os comerciantes estiveram ligeira
ou drasticamente afastados das decisões políticas, as revoluções bur-
guesas (1688 – Revolução Gloriosa, na Inglaterra; e 1789 – Revolução
Francesa) foram responsáveis por alocarem definitivamente os comer-
ciantes no poder dos Estados e de toda a burocracia oficial. Obviamente,
o trabalho, antes visto como função não nobre, foi dignificado. A econo-
mia, antes uma noção privada, passou a ser assunto coletivo e público.
A economia enquanto uma questão pública e o trabalho racional, am-
plamente difundido hoje como mãe de todas as relações sociais, são in-
venções humanas recentes e se constituíram como porta-vozes da ética
burguesa, a qual fundamenta a ética empresarial e enaltece o negócio,
termo cuja etimologia em latim significa negar o ócio (negotium).
Ética no Ocidente 17
Smith cria a percepção de que a economia é uma esfera ética, na
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medida em que o mercado, aparentemente caótico, é, na realidade, or-
ganizado e produz as espécies e quantidades dos bens mais desejados
pela população. Quanto mais egoísta e competitivo for um indivíduo
e quanto mais obtiver riquezas através de seu trabalho, indiretamente
mais contribuirá com o progresso de outros indivíduos competitivos,
por meio da compra de outros serviços ou mercadorias, de modo a ge-
rar o progresso coletivo. Surge uma modalidade de ética que tem, como
fim último, o progresso social a partir do individualismo exacerbado.
Ética no Ocidente 19
princípios morais que regulamentam o comportamento do bom cida-
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dão e as boas práticas de administração pública. As superstições e as
interpretações medievais religiosas de mundo que guiavam a conduta
humana estavam sendo substituídas pela racionalidade da ciência mo-
derna, com métodos experimentais e matemáticos aplicados também
na indústria. Diante da nova ordem política burguesa, fundamentada na
igualdade jurídica e nas liberdades políticas, o poder dos reis absolutis-
tas estava prestes a sucumbir definitivamente, e as relações sociais não
seriam mais guiadas pelos humores dos tiranos e pela rivalidade entre
eles, mas pela racionalidade jurídica.
Ética no Ocidente 21
A ética da convicção compreende um dever moral e racional que
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deve ser realizado a todo custo, sem que se leve em consideração as
consequências desse ato. Weber remete à deontologia criada por Kant
para definir esse conceito. Podemos tomar como exemplo dessa ética
um indivíduo que exerce a profissão de médico e cria o valor moral e ra-
cional de jamais mentir. Caso o seu paciente em estado terminal lhe per-
gunte qual é a sua situação, certamente receberá a resposta mais desa-
gradável possível, pois esse médico tem como dever moral não mentir.
Ética no Ocidente 23
desumanizados por uma ordem racional cega. Portanto, o conceito é
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fruto de uma sociedade inspirada na defesa da racionalidade, seja ela
moral ou jurídica, sem que se façam reflexões ou críticas em relação a
essa mesma racionalidade.
• Toda escolha (projeto) não irá se realizar no futuro tal como pla-
nejada originalmente. Isso porque “meu ser” se encontra numa re-
lação de conflito com a realidade e com as infinitas subjetividades
outros.
Ética no Ocidente 25
Considerações finais
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Percorremos, no primeiro capítulo, conceitos fundamentais em torno
da ética. Iniciamos com a distinção entre os termos “ética” e “moral”. Em
seguida, verificamos os significados das concepções de senso moral
e consciência moral. Nesse ponto, seria importante você refletir sobre
como podemos aplicar esses conceitos em nosso cotidiano, perceben-
do como a concepção filosófica de ética nos permite refletir e analisar as
atitudes em nosso convívio social – no trabalho, na faculdade ou mesmo
quando especulamos sobre nossa participação na vida política e social.
Referências
ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um retrato sobre a banalidade do
mal. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
SMITH, Adam. A riqueza das nações. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
WEBER, Max. A política como vocação. In: WEBER, Max. Ciência e política:
duas vocações. São Paulo: Cultrix, 2004.
Ética no Ocidente 27
Capítulo 2
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Direitos humanos
29
Universal dos Direitos Humanos que permitam tecer essas relações,
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isto é, estabelecer quais vínculos e influências existem entre as con-
cepções jurídicas dos filósofos contratualistas-iluministas e os direitos
humanos. Com base nessas comparações, poderemos compreender
melhor no que consistem e o que são os direitos humanos.
Direitos humanos 31
na moralidade kantiana e que inspirou o primeiro artigo da Declaração
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da ONU tem um valor em si mesmo e, portanto, diz respeito à autono-
mia do sujeito. Considera-se que esse sujeito é dotado de consciência,
liberdade, e deve-se zelar pela igualdade jurídica, de modo que estes
elementos compõem a dignidade humana.
Direitos humanos 33
e políticas decisivas em países do Sul global” (SANTOS; MARTINS, 2019,
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p. 53), os autores propõem pensar os direitos humanos a partir de uma
perspectiva da ecologia de dignidades pós-abissais, por isso referem-se
à superação de abismos entre diferentes culturas e às suas múltiplas
formas de conhecimento do mundo e de interpretação da realidade.
Essa concepção permite que se compreendam e se estabeleçam juri-
dicamente as concepções de dignidade humana dos diversos povos do
Sul a partir de seus contextos políticos, culturais e econômicos especí-
ficos. Esse argumento justifica o nome da obra de Santos e Martins: O
pluriverso dos direitos humanos, ou seja, considera-se a existência de
múltiplos universos que fundamentam, ao seu modo, o que vem a ser
a dignidade humana, antes marginalizados e silenciados pelas concep-
ções hegemônicas de direitos humanos do Norte.
Norberto Bobbio, no final do século XX, publica a obra A era dos di-
reitos (BOBBIO, 1992), em que corrobora as interpretações de Hannah
Arendt. Ambos compartilham as críticas às contradições de se buscar
uma concepção universal de direitos humanos. Concordam com o fato
de que os direitos humanos não envolvem um conceito claramente de-
limitado, devendo ser compreendido por meio dos contextos históricos,
políticos e culturais de cada época.
Direitos humanos 35
como direitos humanos. Geralmente, procura-se estabelecer a relação
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entre os direitos humanos com a corrente da filosofia política conhe-
cida como jusnaturalismo e desenvolvida entre os séculos XVII e XVIII
na França e Inglaterra, principalmente. Tais concepções jusnaturalistas
contribuíram para a construção do conceito de dignidade humana ela-
borado por Kant no final do século XVIII e que influenciou a Declaração
da ONU no século XX. O jusnaturalismo está relacionado àqueles que
designamos direitos naturais e ao contratualismo. Thomas Hobbes
(1588-1679), John Locke (1632-1704), Spinoza (1632-1677) e Rousseau
(1712-1778) são os principais pensadores contratualistas.
Direitos humanos 37
os chamados direitos naturais elaborados pelos filósofos jusnaturalis-
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tas e os direitos humanos presentes na Declaração da ONU.
1 No pensamento de Locke há uma grave contradição. Ao mesmo tempo que ele considera que todos os
indivíduos nascem livres e iguais, nunca se opôs à escravidão nas colônias. Esse aspecto reforça a crítica de
Arendt (1989) e Santos e Martins (2019) a respeito dos problemas que surgem quando se busca estabelecer
os direitos universais e os princípios do que se entende como dignidade humana também de um ponto de
vista universal.
[...]
[...]
Direitos humanos 39
do estado de natureza em direção ao estado civil, visto por Rousseau
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como um processo de decadência, o filósofo dirá que foi a invenção da
propriedade privada, inaugurando as desigualdades entre os indivíduos,
entre ricos e pobres. No entanto, antes, e pensando de forma diferente
de Rousseau, Locke considera a propriedade privada um direito natural,
ao lado da igualdade e da liberdade. Se para Rousseau a propriedade
privada é a origem da desigualdade, em Locke ela será um direito fun-
damental, anterior ao surgimento do Estado, das leis e da sociedade. Na
visão de Locke, a propriedade privada deve ser mantida e protegida pelo
Estado quando ocorre a passagem do estado de natureza para o estado
civil. A Declaração da ONU de 1948, em seu artigo 17, revela a concep-
ção de Locke sobre a propriedade privada: “Toda a pessoa, individual ou
coletiva, tem direito à propriedade [...] Ninguém pode ser arbitrariamente
privado da sua propriedade” (ONU, 1948).
Rousseau, por sua vez, na obra O contrato social, afirma como di-
reitos naturais a liberdade e a igualdade. Eles somente seriam manti-
dos verdadeiramente no estado civil por meio do que designou como
vontade geral. Rousseau dirá que o direito natural apenas se exerce no
estado civil quando o povo está reunido em assembleia, de modo que
este deve constituir o poder soberano. O corpo político soberano deve
realizar as deliberações, assumir a forma de Estado, fazendo com que
o povo cumpra o que ele mesmo estabeleceu. No século XVIII, e pela
primeira vez na história do pensamento político, se estabelece a ideia de
que um governo apenas é legítimo quando o povo exerce sua vontade
geral, por isso, quando se torna ao mesmo tempo soberano e súdito, de
forma que o Estado deve ser reflexo da vontade popular, permitindo que
o povo ao mesmo tempo referende as leis e se submeta a elas.
Direitos humanos 41
Estes aspectos presentes nos pensadores contratualistas funda-
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mentam o que hoje designamos como Estado democrático de direito,
responsável pela preservação dos direitos fundamentais que garantem
a dignidade humana. Além disso, a Declaração da ONU entende como
direitos fundamentais o acesso à educação, saúde, moradia e informa-
ção. Todas as nações signatárias do documento se comprometeram a
proteger os direitos humanos no âmbito nacional e internacional.
IMPORTANTE
IMPORTANTE
Direitos humanos 43
se somam à igualdade jurídica e liberdade política. Portanto, vivemos a
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partir do século XX (e é o que se espera do século XXI) a era da cidada-
nia, das conquistas sociais que podem levar à distribuição de renda e à
redução das desigualdades sociais.
Direitos humanos 45
com as políticas de bem-estar social, que tornam o Estado res-
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ponsável e principal ator no processo de desenvolvimento social,
por meio de políticas que envolvem educação e saúde públicas e
direitos trabalhistas, à moradia, saneamento básico e lazer.
Direitos humanos 47
O quadro a seguir apresenta um resumo das gerações de direitos
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humanos.
Considerações finais
Estudamos, neste capítulo, a noção de direitos humanos. No pri-
meiro tópico destacamos duas abordagens sobre os direitos huma-
nos. A interpretação jurídica sobre o que são os direitos humanos está
embasada no conceito kantiano de dignidade humana. A dificuldade,
conforme vimos, é dada quando buscamos determinar o que significa
exatamente a dignidade humana num sentindo universal. Essa dificul-
dade é examinada por Arendt (1989), Bobbio (1992) e Santos e Martins
(2019), o que leva estes pensadores políticos a preferirem tomar os di-
reitos humanos não como um conceito, um elemento fixo ou estático,
senão como um movimento em permanente transformação que intro-
duz novas pautas e reivindicações políticas de acordo com os proble-
mas, vivências e demandas sociais que surgem ao longo dos processos
históricos que constituem nossa civilização. Ainda no primeiro tópico,
analisamos a relação que é estabelecida entre a Declaração Universal
dos Direitos Humanos e a teoria contratualista dos séculos XVII e XVIII.
Princípios como igualdade, liberdade e propriedade privada passaram a
ser tomados como universalmente válidos e irrevogáveis, isto é, como
direitos naturais.
Direitos humanos 49
No segundo tópico verificamos a afirmação histórica dos direitos hu-
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manos e as transformações históricas dos últimos três séculos que per-
mitiram a consolidação dos direitos civis, políticos e sociais. No terceiro
tópico destacamos a classificação das gerações dos direitos humanos,
demonstrando como a concepção de dignidade humana modifica-se
segundo vivências, problemas e lutas sociais.
Referências
ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. Trad. Roberto Raposo. São
Paulo: Companhia das Letras, 1989.
Democracria no
Brasil e grupos
minorizados
51
O segundo tópico do capítulo tem a intenção de apresentar as eta-
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pas históricas de construção da democracia no Brasil. Estudaremos
que, desde o século XIX, ainda nos reinados dos imperadores D. Pedro I
e D. Pedro II, havia uma série de barreiras para a participação popular na
escolha de alguns cargos eletivos. Após a proclamação da República,
em 1889, permanecia o abismo entre representantes eleitos, represen-
tatividade, direito ao voto e participação popular. A partir da década de
1930, com Getúlio Vargas e a criação da Justiça Eleitoral, houve uma
gradual ampliação do direito ao voto, por exemplo, com o voto das mu-
lheres. Porém, limitada pela ditadura varguista, entre 1930 e 1945, a ex-
pansão da participação política no Brasil apenas ganhará força entre
1945 e 1964, quando foi liquidada pelos militares por meio de um golpe
de Estado, que reduziu e eliminou opositores políticos. Veremos que foi
com o fim da ditadura, no final da década de 1980, e a construção de
uma nova Constituição que se tornou possível a consolidação de insti-
tuições que ampliaram o direito à participação e à representatividade
dos grupos considerados minorizados e excluídos no país.
1 Princípios da democracia
A primeira experiência democrática da história ocorreu na cidade
(pólis) de Atenas, na Grécia antiga, no século VI a. C., quando Clístenes,
tido como o pai da democracia, liderou uma rebelião popular contra o
tirano Hípias, em 510 a. C. Desde o início do século VI a. C., a sociedade
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pequenos, médios e grandes proprietários e comerciantes, excluindo
assim todas as mulheres, todos os escravos (geralmente prisioneiros
de guerras) e estrangeiros até a terceira geração. Compreende-se o re-
gime democrático ateniense como limitado porque a noção de cidadão
não é universal, e sim restrita aos homens livres. Contemporâneo à de-
mocracia ateniense, o filósofo Sócrates (470-399 a.C.), apresentado na
obra A República, de Platão, se opunha à não participação das mulheres,
observava a necessidade de extinção da escravidão na cidade e pro-
punha o fim da própria democracia, devendo esta ser substituída por
uma monarquia governada por filósofos. A crítica de Sócrates e Platão à
democracia se devia à constatação de que os cidadãos aptos a partici-
par eram, na verdade, manipulados pelos chamados sofistas (PLATÃO,
1999), demagogos que dominavam a ágora com discursos eloquentes,
mas não racionais, e comoviam os demais cidadãos.
NA PRÁTICA
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gime político da história capaz de incorporar princípios democráticos,
iluministas e liberais ao mesmo tempo. Os princípios incorporados,
que veremos a seguir, fizeram com que os federalistas consolidassem
o regime democrático republicano representativo presidencialista nos
Estados Unidos – republicano (do latim res publica, coisa pública) por-
que as instituições são públicas e não pertencentes a um único sobe-
rano ou rei.
dos do governo civil (1689), demonstra que todo governo deve se afas-
tar da tirania e necessariamente procurar defender a propriedade priva-
da, a liberdade e a igualdade (LOCKE, 2001). A monarquia constitucional
inglesa havia reduzido o poder do rei e fornecido maior poder à Câmara
dos Comuns, premissa essencial do pensamento liberal político inglês.
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mitado a quatro anos e poderá ser deposto em caso de improbidade ou
incapacidade administrativa por meio de um processo de impedimento
do exercício do cargo conhecido como impeachment. Consolidava-se
dessa forma um regime que foi considerado amplamente democráti-
co e representativo. Na Inglaterra, a representatividade limitava-se à
Câmara dos Comuns. A nova nação dava aos EUA as novidades da elei-
ção do presidente para a ocupação do poder Executivo e dos senadores
e deputados para a ocupação de todos os cargos legislativos.
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proporcionalidade (número de cadeiras no parlamento) aos partidos e
atender a demandas da sociedade, obrigando os próprios partidos a
consolidarem e desfazerem alianças, com a finalidade de zelar pelo in-
teresse da maioria.
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No ano de 2016, o Dicionário Oxford de Filosofia incluiu o termo “pós-ver-
dade” em seus verbetes: “Post-truth (pós-verdade): relativo ou referente
a circunstâncias nas quais os fatos objetivos são menos influentes na
opinião pública do que as emoções e as crenças pessoais”. A noção de
pós-verdade diz respeito ao processo de deslegitimação das ciências,
de certezas racionais em nome de opiniões falsas, passionais e gera-
doras de fake news.
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tos da escravidão apenas em 1888).
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apoiadores dos militares), além de ter aumentado o número de minis-
tros do STF, a fim de manipular decisões judiciais, e permitido que o pre-
sidente determinasse estado de sítio sem a aprovação do Congresso
Nacional. O Ato ainda autorizava os militares a demitirem opositores
funcionários públicos. O AI-3 (1966) limitou as eleições para governa-
dor, sendo estas realizadas de forma indireta por candidatos previa-
mente selecionados pelos militares. O AI-4 (1966) convocava compul-
soriamente o Congresso, selecionado a dedo, a votar a favor da nova
Constituição imposta pelos militares, conhecida como Constituição de
1967. Seu principal objetivo era incorporar os Atos Institucionais ao tex-
to constitucional, formalizando o caráter autoritário do regime ditatorial.
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as eleições passaram a ser universais, com dois turnos a cada quatro
anos, e incluem de maneira facultativa analfabetos, sendo o direito ao
voto secreto e obrigatório dos 18 aos 70 anos.
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e a possibilidade de organização civil dos indígenas. Aliada à proteção
da cultura indígena, a Carta Constitucional estabelece a necessidade de
políticas ambientais por meio do artigo 23 – “proteger o meio ambiente
e combater a poluição em qualquer de suas formas” (BRASIL, 1988) –,
fortalecendo a permanente construção da legislação ambiental brasilei-
ra contra os crimes contra a flora e fauna nativas.
Considerações finais
Vimos neste capítulo o processo de construção dos princípios da
democracia na cultura ocidental, a partir de concepções filosóficas e
aplicações históricas, como o desenvolvimento da democracia repre-
sentativa na Europa e nos Estados Unidos. No segundo tópico, inves-
tigamos o processo de construção do direito ao voto e as instâncias
democráticas no Brasil. Apesar das dificuldades de universalização dos
direitos políticos, desde a independência, em 1822, até hoje, vimos, no
terceiro tópico, como a atual Constituição (1988) permitiu a criação de
instrumentos jurídicos para a inclusão de minorias na sociedade brasi-
leira. Trata-se ainda de um longo processo a ser construído e percorrido,
exigindo também a consolidação de instâncias de democracia partici-
pativa, em que as demandas populares e dos diferentes segmentos so-
ciais possam ser ouvidas e propostas de transformação da sociedade
possam ser debatidas.
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ALBUQUERQUE, Isete Evangelista. Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988 e a situação dos índios enquanto minoria étnica do Estado
brasileiro. Revista Quaestio Iuris, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, p. 11-32, 2013.
Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/quaestioiuris/
article/view/11769/9221. Acesso em: 13 abr. 2021.
DAHL, Robert. A democracia e seus críticos. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.
LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo civil. São Paulo: Martins Fontes,
2001.
ROUSSEAU, Jean Jacques. Do contrato social. In: Rousseau. São Paulo: Abril
Cultural, 1973. (Coleção Os Pensadores).
Cidadania: bases
históricas e
princípios
75
No segundo tópico, destacaremos conceitos relacionados à cidada-
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nia a partir do debate sobre o que se deve entender como a sua plena
obtenção e realização. Veremos que diferentes correntes da ciência e da
filosofia política apontam que, ao longo do desenvolvimento da cultura
no Ocidente, foram sendo criadas distintas formas de aplicação da cida-
dania, havendo, por isso, a necessidade de diferenciá-las e classificá-las.
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portanto, variando de sociedade para sociedade e de acordo com cada
período histórico. Nessa direção,
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enquanto seus escravos destinavam seus esforços unicamente ao tra-
balho braçal e as mulheres cuidavam das atividades domésticas.
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romano, as tábuas tratavam dos direitos públicos e religiosos, das puni-
ções por delitos, de propriedade e herança, dos deveres do poder pátrio
sobre sua família e escravos. As tábuas eliminaram a escravidão por dí-
vidas e permitiam que os tribunos eleitos representassem os interesses
da plebe contra ações que pudessem ser consideradas ruins para essa
classe. No ano de 445 a.C., foi permitido o casamento entre plebeus e
patrícios; em 367 a.C., concedeu-se aos plebeus o direito de partilhar
terras e foi permitido que fossem escolhidos como cônsules, cargos an-
tes ocupados exclusivamente pelos patrícios. Em 287 a.C., as decisões
das assembleias e dos tribunos plebeus passaram a se tornar leis, por
meio da realização de plebiscitos (designação relacionada a “plebeus”).
[...] A grande participação social das mulheres de elite [...] foi im-
portante para que as romanas alcançassem um destaque pouco
comum em sociedades mediterrâneas antigas [...] podiam assistir
aos espetáculos, às representações e aos jogos, e nunca viviam
isoladas no gineceu, como ocorria na Grécia. (FUNARI, 2010, p. 50)
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coletivos, a liberdade ou a igualdade.
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contestações ao modelo monárquico absolutista.
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Filósofos e cientistas políticos procuram classificar e conceituar as
diferentes formas de construção da cidadania estabelecidas ao longo da
história no Ocidente. Nesse âmbito, destaca-se o pensador franco-suíço
Benjamin Constant (1767-1830), que procurou estabelecer as diferenças
entre a cidadania dos antigos e modernos. No ensaio “A liberdade dos
antigos comparada à dos modernos” (1985), Constant define a liberda-
de dos antigos, presente sobretudo em Atenas, com base na noção de
que ser livre, ou seja, exercer a cidadania, estava relacionado ao exercí-
cio ativo da participação política. A liberdade representava a ação políti-
ca, coletiva e pública, por meio da qual o cidadão deveria participar e a
cujas decisões deveria se submeter, sem exceção, inexistindo por isso a
liberdade individual. Assim, não era possível se opor à religião e às deci-
sões políticas da cidade, como a guerra ou a paz, tampouco era possível
promover a liberdade de expressão. Sócrates, por exemplo, foi punido
e morto em 399 a.C. por decisão democrática dos atenienses, pois se
opunha ao regime democrático, às tradições e às crenças ali presentes.
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de política [...]”, dizendo respeito a “[...] responsabilidades que os sujeitos
têm com a comunidade política à qual pertencem” (SOARES, 2002, p.
101). A cidadania passiva expressa a ausência ou um menor grau de
participação política dos cidadãos. Está mais presente em sociedades
liberais, com eleição e instituições que exercem a função de representa-
ção política. O cidadão passivo é tido como omisso porque volta-se aos
seus interesses individuais, o que não o impede de reagir ou contestar
eventualmente algumas situações que considera prejudiciais apenas
aos seus direitos individuais, podendo, por exemplo, exercer a sua par-
ticipação em manifestações públicas ou votar contrariamente a certos
grupos quando da prática de eleições.
PARA PENSAR
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O cientista político José Murilo de Carvalho (1939-) publicou, no ano
de 2001, a obra Cidadania no Brasil: longo caminho. O ponto de parti-
da de sua investigação é o ano da independência (1822), herdeira da
colonização fundamentada na escravidão, no latifúndio, mantendo a
maioria da população analfabeta e sem tradição cívica. Carvalho (2004)
afirma que, na época da independência, não havia a ideia de cidadão
brasileiro e muito menos de pátria brasileira; estas não passavam de
meras abstrações. Segundo o autor, essa situação permaneceria prati-
camente inalterada até 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas à pre-
sidência. Nem mesmo a proclamação da República, em 1889, alterou
esse quadro. Em 1888, foi decretada a abolição dos escravizados, e,
embora estes tenham adquirido o direito à liberdade, foram os brancos
livres que tutelaram o processo de abolição, sem que houvesse lutas
sociais amplas e organizadas num nível nacional. A liberdade, portanto,
não significou a inserção dos negros na sociedade, e essa população
acabou se tornando marginalizada, sem acesso a empregos, à educa-
ção, à propriedade e às instituições públicas.
Carvalho (2004) afirma que, até 1930, não havia povo organizado,
tampouco a consolidação de um sentimento nacional, caracterizando o
que chama de cidadania negativa (ou em negativo), porque o povo não
possuía lugar no sistema político, que ficava restrito às elites latifundiá-
rias. Nesse período, houve muitas rebeliões dispersas no Brasil, a maio-
ria delas promovida por elites locais (e raramente pelo povo) desconten-
tes com políticas e cobranças de impostos do Império, sendo todas elas
derrotadas (Confederação do Equador –1824; Cabanagem – 1833 a
1839; Revolução Farroupilha – 1835 a 1845; Sabinada – 1837; Balaiada
– 1838 a 1841; Revolução Praieira – 1848; destacando-se a revolta de
escravos de origem mulçumana, a Revolta dos Malês, em 1835).
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Pesquise mais sobre os conceitos de patrimonialismo, coronelismo,
mandonismo e clientelismo e investigue se essas concepções (comuns
no Brasil entre os séculos XVIII e XX) permanecem ainda hoje na políti-
ca brasileira. Investigue se há notícias e matérias em jornais, revistas e
sites em que seja possível identificar esses conceitos.
Considerações finais
Neste capítulo, estudamos importantes elementos que permi-
tem a compreensão da cidadania em diferentes contextos históricos.
Iniciamos discutindo a cidadania na Antiguidade entre hebreus, atenien-
ses e romanos. Na sequência, estudamos as construções modernas de
cidadania, com o Renascimento e sua influência sobre as revoluções
burguesas, incentivando o individualismo, a liberdade e os direitos cívi-
cos e políticos.
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debatidas pela filosofia e pela ciência política. Vimos que a cidadania na
Antiguidade é designada como ativa, isto é, os cidadãos exercem a liber-
dade positiva, porque participam diretamente das questões públicas. Já
a modernidade se caracterizaria pela predominância da cidadania pas-
siva, com o exercício de uma liberdade negativa, pois os regimes torna-
ram-se representativos e há o domínio do individualismo em oposição
aos interesses coletivos. No último tópico, estudamos o processo de
construção da cidadania no Brasil, considerando as contradições que
acompanharam a nossa formação histórica.
Referências
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras,
1989.
BERLIN, Isaiah. Quatro ensaios sobre a liberdade. Brasília: Editora UnB, 1981.
(Coleção Pensamento Político).
FUNARI, Pedro Paulo. A cidadania entre os romanos. In: PINSKY, Jaime; PINSKY,
Carla B. (org.). História da cidadania. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2010. p. 49-80.
PINSKY, Jaime. Introdução. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla B. (org.). História
da cidadania. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2010a. p. 9-14.
SOARES, Vera. Projeto Vila-Bairro: impactos nas relações de gênero. In: FGV-
-EASP; HEWLLETT; FUNDAÇÃO FORD; AGENDE. Governo local e desigualda-
des de gênero. São Paulo: 2002.
Relações étnico-
-raciais no Brasil
99
relações de conflito no Brasil, entre elas o racismo. Florestan Fernandes,
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Darcy Ribeiro, Oracy Nogueira, Abdias Nascimento e Clóvis Moura são
autores que contribuíram também, no século XX, para a compreensão
da formação da cultura brasileira e crítica ao mito da democracia racial
no Brasil.
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de Oliveira Viana. É importante atentar para o fato de que, quando procu-
ramos classificar o comportamento humano, as hierarquias sociais e o
papel ou a ocupação de cada indivíduo na sociedade com justificativas
apenas biológicas, há o risco de incorrermos em visões preconceituo-
sas, racistas, reducionistas e tomadas hoje como anticientíficas.
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julgando que a escravidão no Brasil teria sido, nas suas palavras, “ado-
cicada”, capaz de “apaziguar conflitos”, de modo que consolidou a “de-
mocratização social” (FREYRE, 1998, p. 46) por meio das relações afe-
tuosas entre a casa-grande (habitação dos senhores) e a senzala (onde
viviam aprisionados e amontados seus escravos). É a partir da moral
das senzalas que se cunhou a noção de democracia racial, concepção
segundo a qual inexiste o racismo no Brasil.
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elites rurais perpetuando-se no aparelho estatal e longe de produzir o
bem comum. Soma-se a esses aspectos o que o autor denomina ho-
mem cordial, ou cordialidade, fruto das relações afetuosas, personalis-
tas, mas ao mesmo tempo violentas, que têm origem no poder patriarcal
dos fazendeiros. Há um caráter de hipocrisia social na cordialidade.
PARA PENSAR
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ólogo Florestan Fernandes (1920-1995). Florestan, na obra A integração
do negro na sociedade de classes (1965), afirma que Freyre elaborou o
mito da democracia racial brasileira. Trata-se de um mero discurso in-
compatível com a realidade vivida pela população negra (FERNANDES;
BASTIDES, 2008). Freyre é acusado de ter observado a senzala do con-
forto e do alto janela da casa-grande, desconsiderando, portanto, as
reais condições de exploração da população negra escravizada e a vio-
lência que lhe foi imposta. Ignora também os castigos, as condições de
humilhação e insalubridade da vida das senzalas.
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ca recursos oriundos da acumulação de riquezas da produção de café
no estado de São Paulo. A formação do nosso capitalismo seguiu uma
direção diferente do caminho traçado pelas burguesias europeias e nor-
te-americanas, pois estas procuraram o desenvolvimento econômico
ao valorizar a competitividade do setor privado e a negação da interven-
ção do Estado na economia. No Brasil, nossa burguesia foi dependente
do Estado, pouco afeita a promover de modo independente o processo
de industrialização ou o crescimento econômico, e Fernandes (1975)
indica a necessidade de mudança de mentalidade de nossa burguesia
para produzir desenvolvimento econômico e social. Essa mudança cor-
responderia não somente à criação de uma burguesia madura e autô-
noma, mas também ao abandono de traços conservadores e arcaicos
que acabam por atrelar aos trabalhadores assalariados no século XX
condições de subsistência próximas à da escravidão.
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tuações que caracterizavam as chamadas guerras justas, ou seja, na hi-
pótese de ataques deliberados dos indígenas aos colonizadores. Muitos
desses conflitos eram forjados com o objetivo de aumentar o número
de escravos, que eram distribuídos nas lavouras de cana-de-açúcar no
litoral e na mineração no interior do território. Em 1755, foi proibida a
escravidão dos indígenas. Vencia o argumento dos missionários, expul-
sos do Brasil pouco tempo depois, em 1759, pelo Marquês de Pombal,
responsável por confiscar os bens das missões na América portuguesa.
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ao Sudeste.
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nário público no Rio de Janeiro, tem no seu registro de nascimento a cor
branca. Morreu no ostracismo e internado num manicômio, vítima do al-
coolismo. No seu registro de óbito, é declarado como um homem negro.
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e social da população negra no Brasil em direção às conquistas de direi-
tos e à valorização do ser humano, devendo ser reconhecida com suas
tradições e a busca pelo equilíbrio com a natureza, fomentando a produ-
ção econômica sustentável. O quilombismo tem como objetivo principal
extinguir o racismo por meio de uma educação que consolide a cultura
afro-brasileira. Diz respeito a um anseio que permeia a necessidade de
refundação do Brasil, em que brancos e negros possam viver sob con-
dições de igualdade, liberdade, respeito, intercâmbio cultural e científico.
Considerações finais
Este capítulo tratou das obras dos principais intérpretes da forma-
ção da cultura e da sociedade brasileiras. Vimos, no primeiro tópico, os
principais ensaios que procuraram compreender os processos históri-
cos que deram origem à cultura nacional, destacando-se as críticas às
Referências
ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio,
1984.
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2014.
MOURA, Clóvis. O negro: de bom escravo a mau cidadão. São Paulo: Conquista,
1977.
PRADO JR., Caio. Formação do Brasil contemporâneo. 13. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1973.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
Relações de gênero
121
cultural e a inclusão desses diferentes segmentos nos direitos humanos
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e à cidadania. Tais políticas estão abarcadas na denominação multicul-
turalismo. No segundo tópico do capítulo, investigaremos a evolução do
debate das questões de gênero no cenário internacional e, em seguida,
no Brasil, com a análise de fatos históricos e conquistas relevantes.
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humana por meio da célebre expressão “a existência precede a essên-
cia”, o que significa dizer que não há nada de inato (na essência) no
indivíduo – suas ideias e comportamentos são dados primeiro histori-
camente e em contradição com sua subjetividade, constituindo a condi-
ção humana. Esta última é plástica e está em transformação constante,
influenciando as transformações sociais.
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ELEMENTO DA
SIGNIFICADO CARACTERÍSTICAS
SIGLA
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nia e raça), no final do século XIX, nos Estados Unidos (contra o racis-
mo) e na Europa, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e com
a intenção de expandir direitos às mulheres, fortaleceu-se o conceito
de multiculturalismo. É importante diferenciar esse conceito e o termo
“multicultural”. Quando afirmamos que uma sociedade é multicultural,
estamos nos referindo às características culturalmente diversificadas
(gêneros e etnias) presentes nela. Há sociedades com diversidade de
gêneros, nacionalidades, etnias ou religiões. Essas sociedades apresen-
tam problemas em termos de representatividade política e de acesso
aos direitos pelos grupos heterogêneos presentes nelas. De acordo
com Stuart Hall,
internacional
O feminismo não deve ser considerado a antítese do machismo,
mas a superação deste último. Ou seja, o feminismo não é uma espécie
de vingança contra o machismo. É um movimento social que busca a
igualdade entre gêneros e a eliminação das disparidades em termos
de direitos políticos, econômicos e sociais, além de lutar pelo respeito
às mulheres e se opor às subjugações e violências historicamente im-
postas pelo machismo. Portanto, trata-se da conquista de direitos e de
igualdade de condições entre homens e mulheres.
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de submissão das mulheres em relação aos homens nas esferas pública
e privada. Surgiram questionamentos sobre as limitações das funções
das mulheres na sociedade, sua objetificação e sexualização (sobretudo
por meio da indústria da propaganda). As mulheres estavam relegadas
a um papel reprodutivo e sexual, deviam subserviência a seus maridos e
outros homens e viviam à mercê da violência praticada por estes.
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Assim, as mulheres passaram a ser inseridas em novas e diversificadas
militâncias, que atendem a necessidades específicas interseccionadas.
Trata-se de reconhecer a variedade de identidades, de formas de ser e
de experiências feministas.
NA PRÁTICA
• índices de violência;
• índices de escolaridade.
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mas de perseguição aos indivíduos que não correspondiam ao que hoje
designamos como gêneros masculino e feminino. Na Idade Média, de-
vido a preceitos religiosos, era comum a condenação desses indivíduos
à morte, geralmente na fogueira. Mesmo as sociedades capitalistas do
século passado tendiam a reprimir comportamentos então considera-
dos pervertidos. Os segmentos denominados hoje como LGBTQIA+ ti-
nham seus comportamentos considerados como distúrbios, doenças
mentais que deveriam passar por uma cura científica.
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para que a presença e a inserção desses indivíduos na sociedade não
fossem mais consideradas um tabu.
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ção negra, a condição de inferioridade política, econômica e social da
mulher negra e pobre em relação às opressões cometidas por homens
contra mulheres brancas e de classe média; surgem reflexões a res-
peito da solidão da mulher negra, sua sexualização pela mídia e pela
mentalidade machista; é reivindicado o direito à representatividade e à
visibilidade das mulheres negras na sociedade e nas instituições, como
nas universidades.
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nos meios acadêmicos e nos meios de comunicação, são raros os pro-
fissionais que têm liberdade para afirmar seu gênero, e a situação pio-
ra com os transgêneros, sendo boa parte marginalizada e sem acesso
à cidadania. Diante desse cenário, têm ganhado destaque no Brasil os
chamados mandatos coletivos, caracterizados quando um cargo legis-
lativo tem um ocupante eleito, porém é compartilhado com um grupo
de cidadãos que apresenta bandeiras e lutas semelhantes. Dessa for-
ma, as decisões são tomadas e debatidas coletivamente e em nome de
uma causa comum. Devido ao pequeno número de candidatos e políti-
cos que assumem a condição e a luta LGBTQIA+, nas últimas eleições
tem crescido a eleição de candidatos com mandatos coletivos, a fim
promover a representatividade política nas esferas públicas nacionais.
Considerações finais
Estudamos, no primeiro tópico do capítulo, os conceitos de gênero e
sexo e observamos as suas respectivas relações com outros dois con-
ceitos: cultura e natureza. A distinção desses termos nos permitiu verifi-
car que o gênero é resultado da autonomia da cultura sobre a natureza,
Referências
BARROS, José D’Assunção. Igualdade, desigualdade e diferença: contribui-
ções para uma abordagem semiótica das três noções. Revista de Ciências
Humanas, Florianópolis, n. 39, p. 199-218, abr. 2006.
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e mediações culturais. Belo Horizonte: EdUFMG, 2008.
Sustentabilidade:
fundamentos e
definições
143
política e econômica e como elas podem contribuir para reduzir as desi-
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gualdades sociais e promover direitos de cidadania.
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Em 1995, o prêmio Nobel de Química, Paul Crutzen, caracterizou o eco-
cídio, ou seja, a ação predatória do atual sistema de produção, inaugu-
rador de uma nova era geológica, denominada antropoceno. Essa nova
era é marcada por grandes catástrofes e pela dizimação e extinção de
várias espécies, inclusive de populações humanas. Esse período, avalia-
do como sendo de obscuridade, é a expressão da irracionalidade huma-
na ao lado da ganância, que visa a lucros cada vez maiores, obtidos de
maneira irresponsável.
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pode ocorrer na medida em que são realizados grandes esforços polí-
ticos e empresariais para a preservação do meio ambiente e melhorias
no campo social.
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excesso de poluentes. É necessária a criação de uma nova civilização,
mais democrática e solidária, que não seja vista primeiro como consu-
midora, mas como cidadã, e que possa de forma igualitária participar
das decisões econômicas e políticas, contribuindo para resolver tanto
problemas locais como questões globais.
2 Concepções de sustentabilidade
Serrão, Almeida e Carestiato (2012), no livro Sustentabilidade: uma
questão de todos nós, apontam que o termo “sustentabilidade” tem ori-
gem na biologia, sendo empregado às sociedades humanas para se
referir ao desenvolvimento que se preocupa com o equilíbrio do meio
ambiente e com a qualidade de vida dos indivíduos. Na visão dessas
autoras, em nossa sociedade a sustentabilidade deve planejar o futuro
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de vida, protegendo o meio ambiente. Sobre o conceito de sustentabili-
dade, afirmam:
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destruição. Dessa forma, permite que a natureza encontre novos
equilíbrios de recomposição, por meio de uma utilização que obede-
ça ao seu ciclo natural de vida e renovação [...]. Para alcançar essa
dimensão, é essencial a promoção de mudanças no padrão de pro-
dução e consumo da sociedade, com a valorização dos produtos
gerados em processos socialmente justos, pautados no equilíbrio
ambiental. (SERRÃO; ALMEIDA; CARESTIATO, 2012, p. 21)
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necessidade de consolidação dos direitos de cidadania das minorias,
além do respeito à memória, aos símbolos, às crenças, aos valores e à
identidade e da preservação dos modos de ser e existir desses grupos.
Deve-se conciliar o desenvolvimento tecnológico de maneira equilibra-
da com a diversidade cultural. Nessa direção, observa-se novamente a
importância da participação ativa dessas culturas e etnias num projeto
que permita o desenvolvimento local e global com menos impactos so-
bre a natureza e a redução das desigualdades sociais.
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vida humana no planeta Terra.
Considerações finais
Investigamos, neste capítulo, o conceito de sustentabilidade.
Observamos que outras sociedades e civilizações diferentes da nos-
sa, como as comunidades indígenas da América Latina, desenvolvem
formas de produção milenares e em equilíbrio com o meio ambiente.
Nas últimas décadas, na cultura ocidental moderna, caracterizada pelo
seu modo de produção industrial e pelo elevado consumo, despertou-
-se uma maior consciência sobre os desequilíbrios sociais e ambien-
tais causados pelo progresso econômico, conduzindo-nos à revisão de
nosso modelo econômico e à criação do conceito de desenvolvimento
sustentável como alternativa para a organização da sociedade.
Referências
BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que é – o que não é. Rio de Janeiro: Vozes,
2012.
Desenvolvimento
sustentável
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1 Concepções de desenvolvimento
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sustentável
Apenas na segunda metade do século XX começou-se a falar gra-
dualmente na preservação do meio ambiente e o assunto tornou-se de
interesse das nações. A humanidade deu-se conta de que a produção
de energia e de armas nucleares e o uso de produtos químicos para
diversos fins poderiam simplesmente prejudicar a existência dos seres
humanos e de outras espécies no planeta. Isso significa que o período
de internacionalização do debate sobre a preservação do meio ambien-
te está diretamente relacionado com a consciência que a humanidade
começa a adquirir sobre os avanços destruidores de sua tecnologia.
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todos que visam à preservação do meio ambiente, à igualdade social,
ao respeito à diversidade cultural e à busca pela eficiência na produção.
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cidade de Kyoto (Japão), uma das reuniões mais relevantes sobre o de-
senvolvimento sustentável. Pela primeira vez, buscaram-se efetivamente
alternativas para a redução de gases poluentes e nocivos ao planeta.
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Joanesburgo, na África do Sul, num evento chamado Rio+10, em alu-
são aos dez anos decorridos desde a conferência realizada no Rio de
Janeiro, a ECO-92. ONGs, governos e empresários fizeram um balanço
dos últimos dez anos do texto da Agenda 21 e constataram que pouco
havia sido feito para preservar o meio ambiente e, pior que isto, a situa-
ção havia se agravado. Novos compromissos foram assinados, porém
os norte-americanos insistiam em defender a posição de que não há
comprovações científicas suficientes para provar que a responsabilida-
de pelas mudanças climáticas é humana.
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União Europeia e outras nações a buscarem metas mais ousadas.
2 As possibilidades e os limites do
desenvolvimento sustentável
Há intensos debates a respeito das práticas de desenvolvimento
sustentável. Suas possibilidades e limites giram em torno da capacida-
de ou não de Estados, governos e instituições privadas realizarem com
sucesso ações que promovam inclusão social, cuidados com o meio
ambiente e progresso econômico. Diante disso, na década de 1980,
com a ascensão do neoliberalismo, surgiram diversas práticas que leva-
ram a uma maior atuação do mercado e do chamado terceiro setor no
que diz respeito ao desenvolvimento sustentável.
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Nesse contexto, emergiu o neoliberalismo e com ele o chamado tercei-
ro setor, como forma de suprir as demandas não atendidas pelo Estado.
Segundo Froes e Melo Neto,
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levaram à ascensão de conceitos como a responsabilidade social e am-
biental (RSA), ou seja, a uma forma de conduzir os negócios da empresa
de tal modo que ela se torne parceira e corresponsável pelo desenvol-
vimento sustentável. Assim, defende-se o compromisso empreendedor
das organizações privadas com o comportamento ético, que promova o
progresso econômico, político e social dos locais onde estão inseridas.
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amizade, familiares e novas opções de trabalho e recreação; b) aju-
da a moldar as práticas e valores individuais, grupais e coletivos,
aguçando a percepção e a visão social das pessoas; c) conecta in-
divíduos, grupos, regiões e organizações; d) ajuda a construir novas
formas de convivência; e) contribui para a superação de problemas
sociais através da definição coletiva de objetivos, articulação de
pessoas e instituições; f) disponibiliza “saberes distintos” e os colo-
ca a serviço do interesse coletivo; g) constrói vínculos mais fortes
e consistentes entre as pessoas, grupos e instituições; h) promove
acordos de cooperação e alianças; i) cria e amplia alternativas de
ação. (FROES; MELO NETO, 2002, p. 41)
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tal à medida que realizam seus projetos nessas áreas, fortalecendo sua
imagem como entidades que assumem atitudes responsáveis.
Considerações finais
Estudamos, no capítulo, os significados de desenvolvimento susten-
tável e sua evolução, a partir das conferências da ONU, instituição que
passou, a partir da década de 1970, a promover a cooperação global em
torno de ações em prol das sustentabilidades política, econômica, cul-
tural, ambiental e social. No primeiro tópico, conhecemos importantes
conferências e documentos da ONU sobre o desenvolvimento susten-
tável, destacando-se a ECO-92, o Protocolo de Kyoto, a Agenda 21 e o
Acordo de Paris. Por fim, no segundo tópico, investigamos as poten-
cialidades e limites, ou seja, os argumentos favoráveis e contrários à
participação do mercado e do terceiro setor na promoção de práticas
ambientais e sociais.
Referências
CAMARGO, Ana Luiza de Brasil. Desenvolvimento sustentável: dimensões e de-
safios. Campinas: Papirus, 2020. (Coleção Papirus Educação).
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