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Dedico este texto para todas as Marias da Penha, da Vila Matilde e todas as aquelas que um

dia precisaram ser ouvidas mesmo quando muitas vezes a sociedade quer silenciá-las, mas
não deixem isso acontecer. Nunca se calem, a sua voz pode fazer muita diferença neste
mundo.

UM OITO ZERO

DE MÁRIO GABRIEL

Os vizinhos estavam cansados.

Todos os dias, a mesma ladainha.

Mas eles não fazem nada.

Os mesmos puxões, os mesmos tapas.

Elza estava cansada.

Rosangela foi chamada.

Ninguém acreditava nela.

Você nunca vai conseguir.

Era o que ela ouvia todos os dias no departamento de polícia.

Mas ela sabia que ia tentar.

O marido saiu para trabalhar.

Era o momento.

Rosangela chegou.

Conversou e observou.

Ele vai se arrepender de levantar a mão para você.

Eu estou cansada de tudo e de você.

Ele foi para cima.


Você nunca faz nada!

A água fervendo voou no rosto e queimou.

Ele desceu a mão.

Socorro!

Rosangela iria visitá-la, mas acabou tendo a surpresa.

Ele iria se arrepender de levantar a mão.

A porta bateu.

A arma na mão.

Eles foram para a cozinha, lutaram, Elza estava caída.

Ele bate, Rosangela cai, ele se volta para Elza.

Mãos no pescoço.

Uma faca na mão de Rosangela. A faca logo para nas costas dele.

Metal tintila no chão.

Como se fosse um leão, ele derruba sua presa no chão.

Três batidas, ela sente o sangue sair.

A faca sai do chão, está na mão de Elza.

Ela agora é o leão.

Você vai se arrepender de levantar a mão pra mim.

Sangue.

Chuá, chuá, chuá.

O pescoço cortado, Rosangela ensanguentada e Elza sorrindo.

O inferno para ela acabou.

Para Elza o inferno acabou, mas se o seu estiver longe de acabar, lembre-se de três números.
Um. Oito. Zero.

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