Você está na página 1de 68

Programa para Desenvolvimento em Eficiência

Energética e Energias Renováveis na Rede Federal


2017-2018

FUNDAMENTOS DA
ENERGIA EÓLICA

ALEXANDRO VLADNO DA ROCHA


LUANDA KILVIA DE OLIVEIRA RODRIGUES
ODAILSON CAVALCANTE DE OLIVEIRA
ROGÉRIO VANI JACOMINI
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 2

EXPEDIENTE
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E


TECNOLÓGICA

AUTORES DO CONTEÚDO
Alexandro Vladno da Rocha - IFRN
Luanda Kilvia de Oliveira Rodrigues - IFBA
Odailson Cavalcante de Oliveira - IFRN
Rogério Vani Jacomini – IFSP

Coordenação do Material
Alexandro Vladno da Rocha – IFRN

Projeto Gráfico
Nádja Alves dos Reis

Revisão Textual Metodológica para a Educação a


Distância
Fabrício Silva Ribeiro – IFNMG

Revisores Técnicos
Clênio Renê Kurz Böhmer – IFSul
Manuel Rangel Borges Neto – IFSertãoPE

Colaboração Técnica
Marcos Alves Fontes – IFSP
Rodrigo Andreoli De Marchi – IFSP

Apoio Técnico
Cooperação Brasil-Alemanha para o
Desenvolvimento Sustentável, por meio da
Deutsche Gesellschaft für Internationale
Zusammenarbeit (GIZ) GmbH
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS   4 3.7 PÁS DE UMA TURBINA   46
3.8 AEROFÓLIOS E AERODINÂMICA   47
LISTA DE TABELAS   5
3.9 CONTROLE DE POTÊNCIA DE UMA TURBINA   48
INTRODUÇÃO  4 3.9.1 CONTROLE DE PASSO (PITCH)   48
3.9.2 CONTROLE POR ESTOL (STALL)   49
O VENTO  6
3.10 FATOR DE CAPACIDADE DE UMA TURBINA   49
1.1. A ATMOSFERA TERRESTRE    6
1.2 FONTES DO VENTO    7 EXERCÍCIOS  50
1.3 MOVIMENTO GERAL DA ATMOSFERA    7
1.4 FORÇAS ENVOLVIDAS NO VENTO   8 3.12 REFERÊNCIAS DO CAPÍTULO   50
1.5 VENTO GEOSTRÓFICO   10
1.6 VENTO DE GRADIENTE: CICLONES E ANTICICLONES   11 O AEROGERADOR  53
1.7 VENTOS PRÓXIMOS À SUPERFÍCIO   12
4.1 INTRODUÇÃO  53
1.8 EXERCÍCIOS  14 4.2 COMPONENTES DO AEROGERADOR   54
PARA PENSAR UM POUCO MAIS...    14 4.2.1 SISTEMA MECÂNICO E ESTRUTURAL   54
4.3 SISTEMA ELÉTRICO E DE CONTROLE   55
1.9 REFERÊNCIAS DO CAPÍTULO   14
4.4 GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA   55
RECURSO EÓLICO  16 4.4.1 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO   55
4.4.1.1 GERADOR SÍNCRONO 56
2.1; INTRODUÇÃO: QUAL A QUANTIDADE DE 4.4.1.2 GERADORES SÍNCRONOS COM
ENERGIA CONTIDA NO VENTO?   16 ROTOR DE ÍMÃ PERMANENTES 57
2.2 RECURSO EÓLICO   16 4.4.1.3 GERADORES SÍNCRONOS COM ROTOR
2.3. A POTÊNCIA DO VENTO    19 DE BOBINAS DE EXCITAÇÃO
2.4. CORREÇÃO DA DENSIDADE ALIMENTADO COM TENSÃO CONTÍNUA 57
DO AR COM A TEMPERATURA   22 4.4.1.4 GERADOR ASSÍNCRONO 58
2.5 CORREÇÃO DA PRESSÃO DATMOSFÉRICA COM 4.4.1.5 GERADOR ASSÍNCRONO COM
A ALTITUDE  22 ROTOR GAIOLA DE ESQUILO 58
2.6 NATUREZA ESTATÍSTICA DO VENTO   24 4.4.1.6 GERADOR ASSÍNCRONO COM ROTOR BOBINADO 59
2.7 DIREÇÃO DO VENTO   29 4.4.1.7 CONDICIONAMENTO DE POTÊNCIA 60

2.8 EXERCÍCIOS  34 4.5 CLASSIFICAÇÃO DOS AEROGERADORES   60


PARA PENSAR UM POUCO MAIS...   34 4.5.1 AEROGERADORES DE VELOCIDADE FIXA    61
4.5.1.2 GERADOR SÍNCRONO DE EXCITAÇÃO
2.9 REFERÊNCIAS DO CAPÍTULO   34 BOBINA COM CONVERSOR ELETRÔNICO
DE POTÊNCIA OPERANDO COM
TURBINA EÓLICA  36 A POTÊNCIA TOTAL DO GERADOR 62
4.5.1.3 GERADOR SÍNCRONO DE IMÃ PERMANENTES
3.1 INTRODUÇÃO  36 COM CONVERSOR ELETRÔNICO DE POTÊNCIA
OPERANDO COM A POTÊNCIA TOTAL DO GERADOR 62
3.2 CLASSIFICAÇÃO DAS TURBINAS EÓLICAS   36 4.5.1.4 GERADOR DE INDUÇÃO GAIOLA DE ESQUILO
3.2.1 ORIENTAÇÃO DO EIXO ROTATIVO DAS PÁS   36 COM CONVERSOR ELETRÔNICO DE POTÊNCIA OPERANDO
3.2.2 SENTIDO DO FLUXO DE AR   38 COM A POTÊNCIA TOTAL DO GERADOR 62
3.2.3 POTÊNCIAS DAS TURBINAS EÓLICAS   38 4.5.1.5 GERADOR DE INDUÇÃO DUPLAMENTE
3.2.4 ROTOR DIRETO OU COM CAIXA DE ENGRENAGENS   39 ALIMENTADO COM CONVERSOR ELETRÔNICO DE
3.2.5 TURBINAS TERRESTRES E MARÍTIMAS   39 POTÊNCIA OPERANDO COM A POTÊNCIA PARCIAL
3.2.6 TURBINAS CONECTADAS À REDE E FORA DA REDE   40 DO GERADOR  63

3.3 CONVERSÃO DE ENERGIA   40 EXERCÍCIOS  65


3.4 LIMITE DE BETZ   42
3.5 COEFICIENTE DE POTÊNCIA DE 4.8 REFERÊNCIAS DO CAPÍTULO   66
UMA TURBINA EÓLICA   43
4

LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1.1 - CAMADAS ATMOSFÉRICAS DA TERRA 8 FIGURA 3.1 - EXEMPLOS DE TURBINAS DE
FIGURA 1.2 - FLUTUAÇÕES DA COMPONENTE HORIZONTAL EIXO HORIZONTAL E VERTICAL 38
VERTICAL (W) DA VELOCIDADE DO AR, COMPARADAS FIGURA 3.2- COMPONENTES DO AEROGERADOR 38
COM A VARIAÇÃO DA TEMPERATURA (T) 8 FIGURA 3.3- TURBINAS EÓLICA UPWIND E DOWNWINDM 41
FIGURA 1.3 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA FIGURA 3.4- PROCESSOS DE CONVERSÃO DE
CIRCULAÇÃO GERAL DA ATMOSFERA TERRESTRE ENERGIA EM UM AEROGERADOR 42
(CONSIDERANDO A SUPERFÍCIE TERRESTRE HOMOGÊNEA) 9 FIGURA 3.5- FLUXO DE AR FLUINDO ATRAVÉS
FIGURA 1.4 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO VENTO DE UMA TURBINA EÓLICA DE EIXO HORIZONTAL 42
GEOSTRÓFICO (VG) RESULTADO DO EQUILÍBRIO ENTRE A FIGURA 3.7- CURVA DO COEFICIENTE DE
FORÇA DE CORIOLIS (FCO) E A FORÇA DO GRADIENTE DE POTÊNCIA DE UMA TURBINA EÓLICA 45
PRESSÃO ATMOSFÉRICA (FGP) EM NÍVEIS FIGURA 3.8- CURVA DE POTÊNCIA DE
ATMOSFÉRICOS ELEVADOS 11 UMA TURBINA EÓLICA 46
FIGURA 1.5 – REPRESENTAÇÃO DE UM CICLONE NO FIGURA 3.9- FORÇAS DE ARRASTO E SUSTENTAÇÃO
HEMISFÉRIO SUL: ESQUEMA DE ATUAÇÃO DAS FORÇAS EM UMA PÁ DE TURBINA EÓLICA 47
DURANTE VENTO GRADIENTE (VGR) EM TORNO DE FIGURA 3.10- ÂNGULOS DE PASSO E DE ATAQUE 49
UMA REGIÃODE BAIXA PRESSÃO 12 FIGURA 3.11- CONTROLE DE PASSOS
FIGURA 1.6 – REPRESENTAÇÃO DE UM ANTICICLONE NO DE UMA TURBINA EÓLICA 50
HEMISFÉRIO SUL: ESQUEMA DE ATUAÇÃO DAS FORÇAS FIGURA 4.1- COMPONENTES E SUBSISTEMAS DE UM
DURANTE VENTO GRADIENTE (VGR) EM TORNO DE AEROGERADOR DE EIXO HORIZONTAL EM DETALHES 53
UMA REGIÃO DE ALTA PRESSÃO 13 FIGURA 4.2- ILUSTRAÇÃO DOS PRINCIPAIS
FIGURA 1.7 – ESQUEMAS DO COMPORTAMENTO DA COMPONENTES DE UM AEROGERADOR 54
VELOCIDADE DE UM FLUIDO NEWTONIANO 13 FIGURA 4.3- LIGAÇÃO DAS BOBINAS PARA GERAÇÃO
FIGURA 1.8 – ESQUEMAS DE ATUAÇÃO DAS FORÇAS EM DAS TENSÕES TRIFÁSICAS 56
VENTO DISTANTES DA SUPERFÍCIE (ESQUERDA) FIGURA 4.4- ROTOR DO GERADOR SÍNCRONO.
E EM VENTO PRÓXIMO À SUPERFÍCIE (DIREITA) 14 PÓLOS LISOS 56
FIGURA 1.9 – IMAGEM DA TERRA COM AS DIFERENTES FIGURA 4.5- ROTOR DO GERADOR DE INDUÇÃO 58
CONFIGURAÇÕES DE ESCOAMENTO DO AR 14 FIGURA 4.6- ROTOR DO GERADOR DE INDUÇÃO 59
FIGURA 2.1- PARTES DE UM AEROGERADOR. O GERADOR  FIGURA 4.7- GERADOR ASSÍNCRONO COM
RECEBE A ROTAÇÃO DO MULTIPLICADOR DE ROTOR BOBINADO 60
VELOCIDADES DE BAIXAS ROTAÇÕES DO ROTOR FIGURA 4.8- TAREFAS REALIZADA PELOS CONVERSORES 60
PARA ALTAS ROTAÇÕES DO GERADOR 17 FIGURA 4.9-TURBINA EM VELOCIDADE FIXA 61
FIGURA 2.2- INFLUÊNCIA DA SUPERFÍCIE FIGURA 4.10- GERADOR SÍNCRONO DE EXCITAÇÃO NA
TERRESTRE NA TRAJETÓRIA DO VENTO BOBINA COM CONVERSOR ELETRÔNICO DE POTÊNCIA
E OCORRÊNCIA DE TURBULÊNCIAS 18 OPERANDO COM A POTÊNCIA TOTAL DO GERADOR 62
FIGURA 2.3- CARACTERÍSTICA DO VENTO FIGURA 4.11 – GERADOR SÍNCRONO DE IMÃ PERMANENTES
NA SUPERFÍCIE TERRESTRE 18 COM CONVERSOR ELETRÔNICO DE POTÊNCIA OPERANDO
FIGURA 2.4- GEOMETRIA G ATRAVESSADA PELA COM A POTÊNCIA TOTAL DO GERADOR 62
MASSA DE AR COM VELOCIDADE 21 FIGURA 4.12 – GERADOR INDUÇÃO GAIOLA DE ESQUILO
FIGURA 2.5- VARIAÇÃO DA POTÊNCIA COM COM CONVERSOR ELETRÔNICO DE POTÊNCIA
A VELOCIDADE DO VENTO 27 OPERANDO COM A POTÊNCIA TOTAL DO GERADOR 63
FIGURA 2.6 – DISTRIBUIÇÃO DA DURAÇÃO FIGURA 4.13- GERADOR DE INDUÇÃO DUPLAMENTE
EM HORAS ANUAIS DA VELOCIDADE DO VENTO 27 ALIMENTADO COM CONVERSOR ELETRÔNICO
FIGURA 2.7 – DISTRIBUIÇÃO DE WEIBULL 28 DE POTÊNCIA OPERANDO COM A POTÊNCIA
FIGURA 2.8 – ROSAS DOS VENTOS 34 PARCIAL DO GERADOR 63
FIGURA 2.9 – ROSAS DOS VENTOS/INMMET 34
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA
5

LISTA DE TABELAS
TABELA 1.1 ESCALAS DOS MOVIMENTOS ATMOSFÉRICOS 8
TABELA 2.1 COEFICIENTE DE FRICÇÃO PARA VÁRIOS TIPOS DE TERRENO 19
TABELA 2.2 COMPRIMENTO DE RUGOSIDADE PARA DIFERENTES TERRENOS 20
TABELA 2.3 DENSIDADE DO AR PARA DIFERENTES TEMPERATURAS 23
TABELA 2.4 DENSIDADE DO AR PARA DIFERENTES ALTITUDES 24
TABELA 2.5 DURAÇÃO ANUAL DE VELOCIDADES DE VENTO 27
TABELA 2.6 DISTRIBUIÇÃO DE FREQUÊNCIA DOS VENTOS 32
TABELA 2.7 DISTRIBUIÇÃO DE FREQUÊNCIA DOS VENTOS EM PERCENTUAL 33
TABELA 4.1 VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS PRINCIPAIS
CONCEITOS DE AEROGERADOR EXISTENTE NO MERCADO 64
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 6

INTRODUÇÃO
A energia contida no vento é usada há mais O Proinfra estabeleceu os benefícios do
de três mil anos para aplicações diversas, co- programa sobre 5 esferas: social, tecnológico,
mo impulsionar barcos, moer grãos ou mesmo estratégico, meio ambiente e econômico. O so-
bombear água. Atualmente a aplicação que cial está relacionado a geração de empregos, cu-
mais possui destaque é o uso da energia contida ja meta do Proinfa foi de 150 mil novos empregos
no vento para geração de energia elétrica. A diretos e indiretos desde a implementação até
energia elétrica produzida a partir da energia a geração.
contida no vento é chamada de energia eólica. A geração de empregos pode ser agru-
A energia eólica é uma energia renovável, pada em três categorias: Operação e Manuten-
pois é produzida a partir de uma fonte que não se ção (O&M), Instalação e Descomissionamento e
esgota, além de ser uma energia limpa. A Oferta Desenvolvimento Tecnológico, de acordo com
Interna de Energia (OIE), também denominada volume, localização, natureza temporal e nível
matriz energética, do Brasil sempre foi, em sua de especialização. Verificou-se que o setor que
maioria, renovável já que era produzida a partir mais emprega pessoal local é O&M, mas também
da energia contida nas águas dos rios. Porém é o setor que menos gera emprego. Desta forma,
após a crise energética do país, em 2001, faz-se necessário investir em qualificação da
viu-se a necessidade de diversificar a matriz mão de obra local e que o treinamento de tra-
energética. balhadores era fundamental para o desenvol-
Em 26 de abril de 2002 foi sancionada a vimento do setor.
Lei nº. 10.438 que trata da expansão da oferta Por isso a Secretária de Educação Profis-
de energia elétrica emergencial, recomposição sional e Tecnológica do Ministério da Educação
tarifária extraordinária e criação o Programa de (SETEC/MEC), no âmbito do EnergIF – Progra-
Incentivo às Fontes Alternativas de Energia E- ma para Desenvolvimento em Energias Reno-
létrica (Proinfa). váveis e Eficiência Energética na Rede Federal,
O Proinfa foi instituído com o objetivo em parceria com a Deutsche Gesellschaft für
de diversificar a OIE produzida por empreendi- Internationale Zusammenarbeit (GIZ), incentivou
mentos concebidos com base em fontes: eólica, participantes do Grupo de Trabalho (GT) em E-
biomassa e Pequena Central Hidrelétrica (PCH). nergia Eólica a elaborar este material didático,
Como programa pioneiro ele impulsionou essas visando uma ampliação na multiplicação do co-
fontes, mas em especial a eólica fazendo o pa- nhecimento nas instituições da Rede Federal.
ís passar, em pouco mais de 3 anos, de apenas Docentes dos Institutos Federais da Bahia, Per-
cerca de 22 MW de energia eólica instalada, pa- nambuco, São Paulo, Rio Grande do Norte e
ra 414 MW instalados de acordo com o Ministério Rio Grande do Sul, participantes do referido GT,
de Minas e Energia. De acordo com o Banco de são os autores e colaboradores deste trabalho.
Informações de Geração da Agência Nacional O material intitulado Fundamentos da E-
de Energia Elétrica (ANEEL), atualizado em 23/ nergia Eólica foi elaborado para um curso in-
07/2018 está outorgado para operar 13.158,039 trodutório ofertado na modalidade de Educa-
MW. ção a Distância (EaD) e, portanto, vai abordar
7

conteúdos desde a fonte primária da energia


eólica, o vento, até a transformação da ener-
gia contida nele em energia elétrica. Para isso
o material é dividido em quatro capítulos: O
Vento, Recursos Eólicos, Turbinas Eólicas e
Aerogeradores.
Ao viajar pelo material o leitor irá com-
-preender como surge o vento, as características
do vento e quais as forças estão envolvidas. Além
de como calcular a potência extraída do vento,
compreender as variáveis envolvidas no cálculo
de potência, como elas estão correlacionadas
e a natureza estocástica do vento. O material
apresenta os componentes de um aerogerador
indicando a função de cada um com foco na tur-
bina eólica e no gerador elétrico. Ao longo do
material o leitor também encontrará exemplos
e exercícios para melhor fixação do conteúdo
abordado, além de exercícios desafiadores que
necessitarão de pesquisa de material comple-
mentar para resolução dos mesmos.
1.
O VENTO
"Quando os ventos de mudança sopram, de ar que envolve a Terra e é dividida em cinco
umas pessoas levantam barreiras, outras camadas principais devido as suas característi-
constroem moinhos de vento.” (Érico Veríssimo) cas metrológicas, indicadas na Figura 1.1.
Das cinco camadas apresentadas na Fi-
gura 1.1 a Troposfera (Troposphere) é aquela que
1.1. A ATMOSFERA TERRESTRE está em contato com a superfície e se estende a
alturas que vão de 8 km até 14,5 Km segundo o
Você já sabe que o planeta Terra é dividi- site da NASA. Essa variação é devido à geome-
do em 5 esferas: Criosfera, Hidrosfera, Litosfera, tria da Terra, sendo a menor altura nos polos e
Biosfera e Atmosfera. A atmosfera é a massa a maior altura em relação a Linha do Equador.

Figura 1.1 - Camadas atmosféricas da Terra. Fonte: NASA/Groddard (2017)


FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA
9

A troposfera é também a região mais densa,on- 1.3 MOVIMENTO GERAL DA ATMOSFERA


de está a maior parte do ar, portanto é a mais
importante do ponto de vista meteorológico. De maneira geral o movimento do ar está
Sendo assim, todos os casos de comportamento dentro de faixas de deslocamento atmosférico
do vento apresentados nesse material referem agrupados por escala de acordo com a dimensão
-se a esta camada de ar. e tempo de duração do movimento. A Tabela 1.1
mostra as quatro classificações existentes.

1.2 FONTES DO VENTO


Escala Tempo Comprimento
Ao estudar termodinâmica na disciplina [Km]
de Física, você aprendeu que os fluidos vão se
Circulação Geral Semanas a 1.000 a 40.000
deslocar do ponto de maior pressão para o de
ou Planetária anos
menor pressão em busca do equilíbrio mecânico.
Obedecendo a esse conceito físico, o ar atmos- Sinóptica Dias a semanas 100 a 5.000
férico se desloca devido o diferencial de pres-
são existente entre duas regiões distintas. Por- Mesoescala Minutos a dias 1 a 100
tanto Silva, M (2006) chamou de vento a com-
ponente horizontal do vetor velocidade do ar. A Microescala Segundos a <1
componente vertical é chamada de turbulência. minutos
Como vocês já sabem, esse deslocamen-
Tabela 1.1– Escalas dos movimentos atmosféricos. Fonte: Custódio
to de massa não é contínuo, tem dias que senti- (2009) e Martins et al (2008).
mos na pele, literalmente, estas variações. A
Figura 1.2 mostra a oscilação do vento na com-
ponente horizontal, vertical e da temperatura, Martins et al (2008, p. 7) disse que “os
para um mesmo instante de tempo. ventos planetários são primariamente causados
pelo aquecimento diferencial da superfície ter-
restre.” Vocês já sabem que para diferentes re-
giões existem diferentes temperatura, pois os
raios solares não chegam igualmente em todas
os pontos do Terra.
Em busca do equilíbrio térmico do plane-
ta, a massa de ar quente e úmida da região dos
trópicos se desloca para os polos, enquanto a
massa de ar fria e seca sai dos polos para a re-
gião central do planeta, portanto, a temperatura
é uma propriedade psicrométrica importante,
pois segundo Martins et al (2008) as variações
de temperatura estão intimamente ligadas às
variações de pressão e as trocas de calor na
atmosfera. Para quem não lembra, psicrometria
é o ramo da física térmica que estuda o ar úmido
e suas propriedades.
Figura 1.2 - Flutuações da componente horizontal vertical (w) da
velocidade do ar, comparadas com a variação da temperatura (t).
Fonte: Silva, M (2006)
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 10

Você já sabe que as coordenações geo- como por exemplo caraterísticas diferentes das
gráficas se baseiam em latitude e longitude. Ao superfícies, algumas são sólidas e outras fluí-
projetarmos a Terra em um plano podemos tra- das, tipos distintos de solo, de vegetação e ru-
balhar nos eixos cartesiano X e Y. Sendo as- gosidade que acabam interferindo no fluxo de
sim, os ventos que se dirigem dos polos para o calor absorvido.
equador mudam sua orientação em relação ao Custódio (2009, p.19) disse que "o aque-
eixo X. A componente que surge no eixo X é cimento diferenciado da atmosfera provoca gra-
devido à ação da força de Coriolis. dientes de pressão que são responsáveis por
De acordo com Pinto (2014) e Reboita movimentos da massa de ar" e a afirmação de
et al (2012) no Hemisfério Sul, devido à força de Custódio (2009) leva a conclusão estabelecida
Coriolis, o vento que sai do polo para o equador por Martins et al (2008) que afirmou que a ener-
sofre um deslocamento para o sentido negativo gia contida no vento é na verdade uma conver-
do eixo X. Enquanto que o vento que se move são da energia solar.
do equador para o polo, sofre o desvio para o
sentido positivo do eixo X, como pode ser visto
na Figura 1.3. 1.4 FORÇAS ENVOLVIDAS NO VENTO

Nas aulas de Física aprenderam que a


pressão é determinada a partir da relação de
uma força sobre uma área. Sendo assim, se e-
xiste uma variação de pressão atuando sobre
uma determinada massa de ar é possível calcular
a força resultante.
Custódio (2009) determinou a Força de
Gradiente de Pressão (FGP) por unidade de mas-
sa que atua no eixo X, mesmo eixo de aplicação
da pressão, apresentada na Eq. 1.1.

(1.1)

Fgp= -1ΔP
rΔx
Figura 1.3 – Representação esquemática da circulação geral da
atmosfera terrestre (considerando a superfície terrestre homo-
gênea). Fonte: Autores, Adaptada de Reboita et al (2012) Onde:

FGP= Força de Gradiente de Pressão [m/s²]


A Figura 1.3 mostra as três regiões de ρ = Massa específica do ar [Kg/m³]
circulação do vento, onde a massa de ar que se ΔP = Variação de pressão [N/m²]
desloca para o equador, conhecido como ven- Δx = Comprimento do volume do ar [m]
tos alísios, forma a Zona Intertropical de Con-
vergência (ZITC). Porém na prática essas regiões Exemplo 1.1: Considerando uma variação de
são irregulares, pois existem padrões diferentes pressão de 200 Pa para cada 200 km de com-
11

primento, determine a força de gradiente de ϕ = Latitude [°]


pressão.
A Eq. 1.2 refere-se à componente da For-
Resposta: ça de Coriolis que atua no sentido norte-sul, e
Para aplicar a Eq. (1.1) será considerada a massa trata-se da componente considerada nos es-
específica constante e igual a 1,225 kg/m³. É tudos de energia eólica pois muda o sentido do
preciso lembrar que 1 Pa equivale à 1 N/m². vento. Quando se analisa o comportamento do
-1x200 vento que se move vindo do norte, no hemisfério
FGP = sul, a Força de Coriolis muda a direção para o
1,225x200000
leste. Se o vento vem do sul a direção é alterada
FGP = – 8,163x10-4m/s² para o oeste (PINTO, 2014)

É importante destacar o sinal negativo Exemplo 1.2: Considerando a Cidade de Salva-


da Eq. 1.1, ele tem o objetivo de informar que a dor que possui latitude aproximadamente igual
força atua no mesmo sentido em que a pressão a -13° e velocidade média do vendo, em deter-
diminui, uma vez que a massa de ar vai do ponto minado dia, de 24 km/h. Calcule a Força de Co-
de maior pressão para o de menor pressão, co- riolis para essa situação.
mo já falamos no início do capítulo.
Talvez a Força de Coriolis (FCO), já men- Resposta:
cionada anteriormente, seja algo novo para al- Primeiro devemos transformar a velocidade
guns de vocês, mas não se preocupem, pois se média do vento de 24 km/h para m/s. Isso é im-
trata de um conceito simples. portante para ter no final a força por unidade
A força de Coriolis é uma força inercial, de massa [m/s²]. A conversão pode ser feita só
portanto, só existe porque a terra está em mo- dividindo a velocidade que está em Km/h pe-
vimento angular. Sendo assim o vento surge ba- la constante 3,6. No entanto, para melhor com-
sicamente devido o diferencial de pressão e só preensão dos processos de transformação de
depois de iniciar o movimento é que surge a a- unidade, neste material iremos mostrar o passo
ção da força de Coriolis, atuando sempre per- a passo.
pendicular ao movimento alterando apenas sua

[ ] [ ]
direção.
A Força de Coriolis, por unidade de mas-
V=24 km x
h
1
3600 s []
h x 1000 m =6,66 m/s
1 km
sa, é expressa pela Eq. 1.2

(1.2) Aplicando a Eq. (1.2)

Fco=2ΩVsenϕ Fco=2x 7,29x10-5 x 6,66x sen(-13)= -4,08x10-4


m/s2
Onde:
Essa força possui valor máximo nos po-
Fco = Força de Coriolis [m/s2] los e é nula na linha do equador, uma vez que
Ω = Velocidade Angular da Terra [7, 29.10-5 a latitude no equador é zero. Essa força é res-
rad/s] ponsável por promover os movimentos circula-
V = Velocidade linear da partícula [m/s] res do vento em torno das regiões de pressão
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 12

(PINTO, 2014) de pressão (FGP) e a força de Coriolis (FCO) entram


Segundo Munhoz (2008 apud Costa, G em equilíbrio. Brackmann e Martins (2009) de-
et al 2012) além das forças de gradiente de pre- finiram o Vento Geostrófico (VG) como um vento
ssão e Coriolis atuam sobre o vento a força cen- não acelerado, que sopra ao longo de trajetórias
trífuga e as forças de atrito. Pinto (2014) acres- retilíneas. A trajetória do vento geostrófico é
centou a força a força gravitacional. paralela às linhas de pressão constante, chama-
A Força Centrífuga (Fc) é uma força iner- da de linhas isobáricas, enquanto as forças de
cial e, portanto, não interfere no módulo só na Coriolis e a força resultante do gradiente de
direção como forma de equilíbrio, já a força gra- pressão atuam perpendicular as linhas isobári-
vitacional é a força de atração existente entre a cas. Tudo isso pode ser mais bem compreendido
terra um corpo de massa m, sobre sua superfí- com a representação esquemática apresentada
cie. De acordo com Martins et al (2008, p.4) "a na Figura 1.4..
força centrífuga atua perpendicularmente ao Matematicamente o vento Geostrófico
eixo de rotação da terra e soma-se vetorial- é representado pela Eq.1.3
mente à força gravitacional".
(1.3)
-1ΔP
1.5 VENTO GEOSTRÓFICO 2ωVsenϕ =
ρΔx

Você que está estudando por este mate- Custódio (2009), em seu livro, chamou
rial desde o início já sabe que existe a troposfera, a atenção para os fatores que podem alterar o
mas o que ainda não tinha sido falado aqui é equilíbrio dessas forças, como variação na for-
que existe também a tropopausa, que se trata ça FGP devido o ingresso de nova massa de ar,
de uma região de transição entre a troposfera ou uma alteração na força FCO causada por uma
e a mesosfera, sendo a tropopausa o nível mais mudança na latitude. Talaia e Fernandes (2009)
alto do ar troposférico. disseram que a aproximação do vento geos-
Nos níveis mais distantes da superfície trófico não é aplicável a regiões intertropicais,
as forças de atrito do ar são desprezíveis. Ao isso porque nas regiões próximas ao equador a
desprezar o atrito a força resultante do gradiente FCO tende a zero e, portanto, não há equilíbrio.

Figura 1.4 – Representação esquemática do vento geostrófico (VG) resultado do equilíbrio entre a força de Coriolis (FCO) e a força do
gradiente de pressão atmosférica (FGP) em níveis atmosféricos elevado. Fonte: Autores.
13

1.6 VENTO DE GRADIENTE: CICLONES E


ANTICICLONES

A representação esquemática da Figura


1.4 mostrou do comportamento das forças que
atuam no vento geostrófico considerando uma
seção retilínea. Como a massa de ar não percor-
re uma trajetória retilínea, as maiores distorções
entre a força resultante do gradiente de pressão
e o força de Coriolis ocorre nas seções de maior
curvatura da trajetória. As curvas das linhas de
pressão podem se interceptar e formar círculos,
dando origem as regiões de alta ou baixa pres-
são. Quando isso ocorre passamos a chamar de
vento de gradiente.
A distorção entre as forças de Coriolis
e a força do gradiente de pressão é equilibrada Figura 1.5 – Representação de um ciclone no hemisfério sul:

com o surgimento da Força Centrífuga (FC) que Esquema de atuação das forças durante Vento Gradiente (VGr)
em torno de uma região de baixa pressão. Fonte: Autores, baseado
atua sempre para fora do raio de curvatura. A
nos conceitos de Custódio (2009)
expressão matemática que representa o equi-
líbrio dessas forças é dada pela Eq. 1.4.
A expressão matemática para a confi-
(1.4) guração de movimento apresentada na Fig. 1.5
é dada pela Eq. 1.5.
V2
Fc =
r (1.5)
Onde:
-1ΔP V2
V= Velocidade do vento [m/s] = 2ωVsenϕ+ r
ρΔx
r = Raio de curvatura da rota [m]
A Equação 1.5 é conhecida como Equa-
Para melhor compreensão do assunto ção do Vento de Gradiente e modela o vento que
Custódio (2009), em seu livro, falou sobre um se movimenta no sentido horário, em torno na
centro de baixa pressão localizado no hemisfé- região de baixa pressão e paralelo às linhas iso-
rio sul. Para essa situação o autor disse que báricas, esse comportamento do vento é co-
a componente da força FGP atua no sentido nhecido como ciclone. Se vocês observarem a
do centro da circunferência enquanto a FCO Eq. 1.5 se baseia no princípio de equilíbrio das
e a FC atuam para fora da circunferência, esse forças, onde as forças que atuam no sentido
movimento é chamado de ciclone. A Figura 1.5 negativo do eixo X devem estar em equilíbrio
mostra um esquema da ação destas forças com aquelas que atuam no sentido positivo do
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 14

eixo X. su-perfície terrestre.


Já o movimento do ar em torno de uma
região de alta pressão, paralelo às linhas de pres-
são constante, atuando no sentido anti-horário 1.7 VENTOS PRÓXIMOS À SUPERFÍCIE
na região do hemisfério sul é chamado de an-
ticiclone. A Figura 1.6 mostra o esquema desse Provavelmente vocês viram na disciplina
fenômeno meteorológico de Mecânica dos Fluidos que os fluidos escoam
em camadas e que uma camada influencia na
velocidade de escoamento da outra, pois existe
atrito entre elas.
A Figura 1.7 representa o escoamento
de um fluido newtoniano entre duas superfícies
planas, onde uma está parada e a outra em mo-
vimento. A camada de fluido que fica em contato
com a superfície parada possui velocidade zero,
devido a condição de não-escorregamento de
acordo com Çengel e Cimbala (2011). A velocida-
de de escoamento cresce conforme se distan-
cia da superfície de velocidade zero e se apro-
xima daquela que possui velocidade máxima v,
como mostrado na Figura 1.7.

Figura 1.6 – Representação de um anticiclone no hemisfério sul:


Esquema de atuação das forças durante Vento Gradiente (VGr)
em torno de uma região de alta pressão. Fonte: Autores, baseado
nos conceitos de Custódio (2009).

Devido o rearranjo no sentindo de apli-


cação das forças a Eq. 1.5 deve ser reescrita para
aplicação em anticiclone, com base no mes-
mo princípio de equilíbrio das forças resultando
na Eq 1.6. Figura 1.7 – Esquemas do comportamento da velocidade de um
fluido newtoniano. Fonte: Autores
(1.6)
-1ΔP V2 Então, afinal o que é um fluido newtonia-
2ωVsenϕ = + no?
ρΔx r
Um fluido newtoniano é um fluido onde
a relação entre a velocidade de escoamento e
As Equações 1.5 e 1.6 só são satisfeitas altura da camada do fluido é proporcional à ten-
por desprezar a força de atrito do ar com a são de cisalhamento aplicada. Esta constante
15

de proporcionalidade é o atrito existente entre 1.8 mostra o esquema de atuação das forças
uma camada e outra, que é mais conhecida como próximo à superfície, ou seja, com a influência
viscosidade. do atrito.
Não existe nenhum fluido perfeitamente Como pode ser visto na Figura 1.8 o vento
newtoniano, mas o ar é um dos que mais se a- deixa de escoar paralelo as linhas de pressão
proximam dessa idealização, no entanto esse constante, além de gerar uma componente do
modelo linear não é usado quando se trata aná- vento no mesmo sentido que atua da força de
lise de escoamento de vento devido a três fa- gradiente de pressão. Isso faz com que massa
tores. O primeiro é que no caso do ar que escoa de ar venha a convergir em direção a regiões de
pela superfície da terra a altura da camada de baixa pressão e a divergirem no caso de regiões
fluido não é limitada por um sólido, ou seja, e- de alta pressão. Essa convergência possibilita
xiste uma superfície que é livre. O segundo fa- a formação de nuvens enquanto a divergência
tor é que no caso da Figura 1.7 trata-se de um contribui para a não formação das nuvens.
escoamento laminar e o escoamento do ar é Os fenômenos físicos mencionados nes-
turbulento, isso quer dizer que o vetor velocidade te capítulo podem ser observados no site da Null
possui componente nos eixos x e y como já foi School onde você, caso tenham curiosidade, po-
dito no início deste material. E por último existe dem ver o escoamento do ar em tempo real. Nes-
obstáculos que interferem no perfil, assim como se site é possível ver a formação dos ciclones e
a rugosidade que é diferente para cada tipo de anticiclones, a convergência do vendo na ZITC.
superfície: areia, mar, vegetação. É possível também ter como informação a ve-
locidade e temperatura do vento ao clicar em
qualquer ponto do mapa que você desejar. A
Figura 1.9 mostra a imagem na Terra com as
diferentes configurações de escoamento do ar.

Figura 1.8 – Esquemas de atuação das forças em vento distantes


da superfície (esquerda) e em vento próximo à superfície (direita).
Fonte: Autores

Estes conceitos são fundamentais pa-


ra vocês compreenderem o perfil que será a-
presentado no próximo capítulo, junto com o
conceito de camada limite e condição de não
escorregamento, que em regiões próximas a su-
perfície reduz a velocidade do vento alterando a
Figura 1.9 – Imagem da Terra com as diferentes configurações de
componente da Força de Coriolis (FCO) uma vez
escoamento do ar. Fonte: https://earth.nullschool.net/pt/. Acessa-
que são duas grandezas proporcionais. A Figura
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 16

do em 20 set. 2020.

1.10 Quais das forças que atuam sobre o ven-


Para melhor compreensão e aprendizado to podem ser consideradas ativas e quais podem
dos assuntos aqui trabalhado vamos praticar ser consideradas reativas. Explique sua respos-
com alguns exercícios. ta.

1.11 A superfície interfere no perfil de esco-


1.8 EXERCÍCIOS amento do vento, modificando o sentido de a-
tuação das forças como mostrado na Figura 1.8.
1.1 Sabendo que vento é a massa de ar em Faça uma pesquisa sobre os diferentes tipos de
movimento, o que promove esse movimento? superfície da Terra e como eles influenciam o
vento. Procure o que difere os ventos que es-
1.2 Como a temperatura influencia no mo- coam pelo mar, planície e montanha.
vimento do ar?
1.12 O material trouxe para você o conheci-
1.3 Quais as forças que atuam sobre o ven mento de ciclone e anticiclone, fenômenos me-
-to? Explique como cada uma delas atua sobre teorológicos comumente discutidos em repor-
o vento. tagens sobre a previsão do tempo. Outro fenô-
meno que pode ser discutido nesse tipo de repor
1.4 Determine a força de gradiente de pres- -tagem é o Tornado. Para conhecer melhor o que
são para uma diferença de pressão de 400Pa é o tornado e o que difere do ciclone e anticiclone
para cada 300km. Considere massa específica faça uma pesquisa e apresente em sala ao seu
do ar igual à 1,225kg/m³ professor.

1.5 Quais fatores influenciam na magnitude 1.13 Determine a Força de Coriolis para um
da força de Coriolis? determinado ponto da cidade de Natal capital do
Rio Grande do Norte. Para isso faça uma pesqui-
1.6 O que são ventos geostróficos? E o que sa da latitude do ponto e a velocidade média do
são ventos gradientes? Faça a distinção dos dois vento no dia pesquisado.

1.7 Defina ciclone e anticiclone, diferencian 1.14 No tópico “Ventos próximos à superfície”
-do esses dois fenômenos. foi dito que a convergência da massa de ar pos-
sibilita a formação de nuvens enquanto a diver-
1.8 Fale sobre a interação das forças que mo- gência contribui para a não formação das nu-
delam ciclones e anticiclones. vens. Explique o motivo disso

PARA PENSAR UM POUCO MAIS... 1.9 REFERÊNCIAS DO CAPÍTULO

1.9 Alguns autores dizem que a energia con- BRACKMANN, Rodrigo; MARTINS, Fernando
tida no vento é na verdade uma conversão da Ramos. Avaliação do potencial eólico do sul do
energia térmica proveniente do sol. Você con- brasil. Relatório final de projeto de iniciação cien-
corda com essa afirmação? Justifique sua res- tífica (PIBIC/INPE – CNPQ/MCT) Processo n°
posta. 109639/2008-1, Santa Maria, 2009. Disponível
17

em: < https://cutt.ly/BgsaSDs> acessado em: 21 Disponível em: < https://cutt.ly/0gssd5Q> Aces-
set. 2020. sado em: 20 set. 2020.

ÇENGEL, Yunus A; CIMBALA, John M. Mecânica SILVA, Mário Adelmo Varejão. Meteorologia e
dos fluidos: Fundamentos e aplicações. 7. ed. climatologia. 2. ed. Recife, 2006. Disponível
São Paulo: Mc Graw Hill, 2011. em: <https://cutt.ly/FgssivE> Acessado em: 20
set. 2020.
COSTA, Gabriel Brito; LYRA, Roberto Fernando
da Fonseca. Análise dos padrões do vento no TALAIA, Mário A.R; FERNANDES, Rui. Diagnós-
estado de Alagoas. Revista brasileira de me- tico de vento de uma região usando uma carta
teorologia, v. 27, n. 1, p. 31-38, 2012. Disponível meteorológica de superfície. I Congresso In-
em: < http://www.scielo.br/pdf/rbmet/v27n1/a04 ternacional de Riscos,1, 2009, Coimbra, Anais...
v27n1> Acessado em: 21 set. 2020. Coimbra: Universidade de Coimbra, p.63-68.
.
CUSTÓDIO, Ronaldo dos Santos. O vento. In:
CUSTÓDIO, Ronaldo dos Santos. Energia eólica
para produção de energia elétrica. 1. Ed. Rio de
Ja-neiro: Eletrobrás, 2009.p 17-39.

MARTINS, F.R; GUARNIERI, R. A, PEREIRA,


E.B; O aproveitamento da energia eólica.
Revista brasileira de ensino da física, v. 30,n.
1,2008.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ar
ttext&pid=S1806-11172008000100005>
Acessado em: 21 set. 2020.

National Aeronautics and Space Administration


– NASA, Earth's atmospheric la-yers.2017. Dis-
ponível em: <https://cutt.ly/WgssqAc> Acessado
em: 21 set. 2020.

Null School. Disponível em:<https://earth.null


school.net/pt/> Acessado em 20 set. 2020.

PINTO, Milton de Oliveira. O vento. In: PINTO, Mil-


ton de Oliveira. Fundamentos da energia eólica.
1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2014.p 47-66.

REBOITA, Michelle Simões; KRUSCHE,Nisi ; AM-


BRIZZE, Tércio ;ROCHA, Rosmeri Porfírio da
entendendo o tempo e o clima na América do
Sul. Terra e Didática, v. 8, n. 1, p. 34-50, 2012.
2.
RECURSO EÓLICO

"Aprendi através da experiência amarga estimar alguma característica do vento como a


a suprema lição: controlar minha ira e torná-la duração de uma certa velocidade, ou em qual pe-
como o calor que é convertido em energia. Nos- ríodo ano é mais provável ter uma certa velo-
sa ira controlada pode ser convertida numa força cidade. Ao final do capítulo alguns exercícios
capaz de mover o mundo.” (Mahatma Gandhi) auxiliarão na fixação dos conceitos abordados.

2.1 INTRODUÇÃO: QUAL A QUANTIDADE DE


ENERGIA CONTIDA NO VENTO? 2.2 RECURSO EÓLICO

Essa pergunta é intrigante pelo fato de O processo de conversão de energia eóli-


não termos um corpo visível e com formato ca em energia elétrica ocorre por intermédio
definido. Um corpo físico qualquer é relativa- de um conversor de energia mecânico, espe-
mente mais simples de ser estudado pois pode cificamente, por meio de um aerogerador. De
-se medir sua massa, sua velocidade, sua tem- modo simplificado um aerogerador é apresenta-
peratura, ou quaisquer outros parâmetros ne- do na Figura 2.1. As pás do rotor produzem rota-
cessários para calcular alguma grandeza física. ção com a força do vento e captam a sua energia.
Mas isso é diferente com o vento. Quando es- A rotação produzida pelo vento é transferida
tamos estudando o potencial de energia do ven- para o gerador por meio de um eixo ligado ao
to temos que considerar alguns conceitos da multiplicador, que é sistema de engrenagens que
estatística, pois o vento é de natureza aleatória converte a baixa rotação para uma adequada ao
sem forma ou massa definidas o que torna mui- gerador. O movimento rotacional produz a ener-
to complicado usar análise físicas clássicas. Em- gia elétrica que é fornecida aos consumidores.
bora a velocidade do vento seja aleatória, esta
apresenta padrões de comportamentos ao lon-
go tempo que podem ser aproveitados para en-
tende-lo. Neste capítulo iremos discutir o con-
ceito de potência do vento e algumas ferramen-
tas da estatística para o estudo do potencial eó-
lico, como representar os dados eólicos mate-
maticamente através das distribuições estatísti-
ca de Weilbull e Raylegh, também será mostrado
como fatores como altitude, temperatura po-
dem influenciar na potência do vento. Com os
conceitos apresentados será possível realizar
algumas análises como calcular a potência do
vento, estimar a média de velocidade do vento,
como utilizar uma distribuição estatística para

Figura 2.1- Partes de um aerogerador. O gerador recebe a rotação


do multiplicador de velocidades de baixas rotações do rotor para
altas rotações do gerador. Fonte: (García, 2004)
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 19

Captar energia a partir do vento de forma ou obstáculos, ou sobre o mar. Nestes tipos de
eficiente é um dos principais objetivos das pes- áreas a turbulência é mínima. A Figura 2.3 mos-
quisas em energia eólica. Sabe-se que o vento tra o fluxo do vento ao longo de uma superfície
ocorre devido as diferenças de temperatura e plana sem relevos e em uma com relevos. Na
pressão na atmosfera da Terra, o que ocasiona o primeira situação o vento apresenta uniformi-
movimento de massas de ar ao longo do globo. dade, e na segunda o vento perde a uniformida-
Embora seja possível converter a energia eólica de apresentando perturbações na sua veloci-
em energia elétrica através de um aerogerador, dade.
deve-se pensar em fatores que aumentam a
eficiência no processo. Alguns fatores combi-
nados influenciam diretamente na geração de e-
letricidade, por exemplo, ventos com alta tur-
bulência que ocorrem próximos a superfície ter-
restre. As turbulências são vórtices resultantes
de obstáculos presentes na superfície terrestre
como construções, vegetação, o próprio relevo
do local, etc (Figura 2.2). Elas produzem esforços
que afetam o aerogerador requisitando maiores
custos relacionados ao aumento da capacidade Figura 2.3- Característica do vento na superfície terrestre. A ve-
locidade do vento aumenta com a altura e em situação livre de
da estrutura mecânica e das fundações em re-
relevo; e o comportamento do vento com relevos no terreno.
sistirem às turbulências.
Fonte: Autores

Os locais com ventos de baixa velocida-


de e picos repentinos e breves de velocidade
não são indicados para geração eólica. A ve-
locidade média considerada ao longo de anos e
o tipo de terreno são importantes na viabilidade
de instalação de um aerogerador.
Figura 2.2- Influência da superfície terrestre na trajetória do vento No processo de avaliação de potencial
e ocorrência de turbulências.Um terreno rugoso ou com cons- eólico torna-se necessário realizar estimativas
truções são áreas que afetam significativamente a velocidade do de velocidades de ventos para alturas diferentes
vento e captação de potência eólica pelos aerogeradores. Fonte: da altura onde foi realizada a medição e que
Autores
também leve em consideração o tipo terreno.
Uma equação que pode ser utilizada para tal é
Uma possível situação ideal para capta-
a Eq. (2.1) apresentada a seguir:
ção de energia eólica ocorre quando os ventos
fluem de maneira laminar ou com velocidade
(2.1)
uniforme. Os locais onde há ocorrência de ven- a
tos laminares é onde espera-se instalar o ae-
rogerador, de modo que suas pás recebam o
v
v0 = ( hh )0

máximo desse tipo de vento. Esses ventos são


Onde:
comuns em superfícies terrestres planas pouco
v é a velocidade do vento [m/s] que se deseja
rugosas (com relevos suaves), sem construções
estimar para a altura h;
20

v0 é a velocidade do vento medida na altura h0; -se a Eq. (2.1), tem-se


h0 é altura de referência onde sabe-se ou foi
a
medida a velocidade v0 do vento;
h é a altura onde se deseja estimar a velocidade; v=v0 ( )
h
h0
= 5x (5010 ) 0,14
= 6,26 m/s
a é o coeficiente de fricção.

Como regra um valor prático para a=0,14 para Outra expressão bastante utilizada para estimar
locais abertos, mas pode-se obter valores para velocidades de vento usando o logaritmo natural
o coeficiente de fricção escolhido conforme a (ln) é:
tabela seguinte:
(2.2)
h
Terreno a v =
( )
In z
v0 In h0
Terreno com relevo suave e superfície
de água calmas 0,1 z ( )
Grama baixa 0,14 Onde:
v é a velocidade do vento [m/s] que se deseja
Grama alta 0,15 estimar para a altura h;
v0 é a velocidade do vento medida na altura h0;
Vegetação rasteira (<0,3 m), árvores 0,16 ho é altura de referência onde sabe-se ou foi
isoladas medida a velocidade;
h é a altura onde se deseja estimar a velocidade;
Arbustos, árvores isoladas 0,20
z é o comprimento de rugosidade.

Construções isoladas 0,22-0,24


A Eq. (2.2) é preferível pois surgiu com
base no entendimento da aerodinâmica, em que
Paisagem arborizada, muitas árvores 0,25
a velocidade do vento dentro de uma faixa de
Poucas construções com árvores altitude varia conforme a função logarítmica
0,30
isoladas

Grandes construções com edifícios 0,40 Classe de


a Terreno z [mm]
Rugosidade
Tabela 2.1- Coeficiente de fricção para vários tipos de terreno.
Fonte: (Masters, 2004)

Exemplo 2.1: Suponha que se tenha realizado


0 Superfície da água 0,002
medições as 10 m de altura, em uma área com
grama baixa, a velocidade do vento registrada
foi de 5 m/s. Qual seria a velocidade para 50 m?

Resposta: Área abertas com poucos


1 0,03
obstáculos ao vento
Neste caso, usaríamos o coeficiente de fricção
seria α=0,14, conforme a Tabela 2.1, e aplicando
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 21

medições reais.
Classe de
Terreno z [mm]
Rugosidade 2.3. A POTÊNCIA DO VENTO

O conceito de potência de maneira sim-


Área rurais com poucos
2 obstáculos ao vento a 0,1 ples é o quanto de energia é necessária para seja
mais de 1 km de distância realizada alguma ação como mover, aquecer, ilu-
minar, etc. durante um intervalo de tempo, ou
Área urbanas com baixa a rapidez com que a energia consumida ou u-
densidade de construções tilizada. Geralmente encontramos nos equipa-
3 ou áreas rurais com 0,4 mentos informações com a potência nominal
muitos obstáculos ao que geralmente expressa em watts (W), mas
vento é possível encontrar informações em cavalo-
vapor (cv) ou horse power (hp), como é o caso
Áreas urbanas densas ou dos dados de placa de motores e geradores
4 1,6 elétricos e motores à combustão. A energia no
florestas
sistema internacional é dada em Joules ( J ), mas
nas faturas de energia elétrica dos consumido-
Tabela 2.2- Comprimento de rugosidade para diferentes terrenos.
Fonte: (Masters, 2004)
res ela é informada em kWh (kilo-Watts-hora).
É comum quando se fala em energia pen-
Exemplo 2.2: Suponha que se tenha realizado sar em um conceito bastante abstrato e comple-
medições as 10 m de altura, em uma área a- xo. Muitas vezes é melhor exemplificar o con-
berta com grama baixa, a velocidade do vento ceito de energia do que escrevê-lo, logo, para
registrada foi de 5 m/s. Qual seria a velocidade exemplificar o conceito de energia e potência,
para 50 m? considere uma lâmpada comercial que tem im-
presso na embalagem a potência nominal de
Resposta: 100 W. O que basicamente essa informação nos
Neste caso, usa-se o comprimento de rugosida- diz é que a lâmpada converte energia elétrica em
de z=0,03, conforme a Tabela 2.2, e aplicando-se energia luminosa com uma rapidez de 100 W,
a Eq. (2.2) tem-se ou seja, em 20 horas a lâmpada terá convertido
o total de 100 x 20=2000 Wh de energia ou
(2.3) 2 kWh. Outro exemplo é um motor de 1,5 kW,
h 50
( )
In z (
In 0,03 ) x5 = 6,38 m/s este motor converte energia elétrica em energia
v= v0= mecânica através das rotações de seu eixo. A
In h0
( ) In 10
z (0,03 ) velocidade de conversão de energia é de 1,5
kW, ou seja, em 30 dias de uso, duas horas por
dia, ele consumirá a energia de 1,5 x 2 x 30=30
Nos exemplos 2.1 e 2.2 foram apresenta- kWh. Portanto, a energia é necessária para rea-
dos os cálculos das estimativas de velocidade lizar a ação durante um intervalo de tempo. A
para os mesma situação e com resultados que energia apresenta-se sobre várias formas, sen-
diferem pouco. Embora as equações para esti- do convertida de uma natureza para outra con-
mar a velocidade do vento sejam boas aproxi- forme a necessidade. Uma maneira de se de-
mações, é evidente que elas não substituem as terminar a potência a partir da energia E é pela
22

expressão envolvendo potência e tempo: .

(2.4)
E
P=
Δt

Onde:
P é a potência consumida;
E é a energia em qualquer forma: elétrica, tér-
mica, cinética, etc;
Δt é o intervalo de tempo considerado.

Para fornecimento de energia aos con-


sumidores pode-se utilizar diversas fontes pri-
Figura 2.4- Geometria G atravessada pela massa de ar com veloci-
márias, isto é, recursos energéticos naturais
dade v. O tubo G representa a forma da massa de ar que passa atra-
em que é possível converte-los em energia elé-
vés das pás do aerogerador. Assim, pode-se deduzir a energia
trica. As fontes primárias de energia podem ser dessa massa de ar com base nas dimensões desse tubo,
dos tipos hidrelétrica, solar, nuclear, química e sendo o diâmetro desse tubo equivalente as dimensões do
a eólica. O foco desse texto é a energia eólica, disco formado pela rotação das pás do aeroge-
neste caso, será demostrada a seguir como de- rador. Fonte: Autores
terminar a potência disponível do vento.
O vento é de fato o movimento da massa (2.6)
de ar, logo o caminho é utilizar a energia cinética m
para iniciar essa análise. A energia cinética é p=
V
a energia existem em um corpo de massa m
em movimento com velocidade v, a fórmula da Onde:
energia cinética Ec: p é a relação entre massa e o volume do corpo
[kg/m3];
(2.5) m é a massa do corpo [kg];
mv2
Ec= V é o volume ocupador pela massa [m3].
2

Onde: A densidade padrão p=1,225 kg/m3 me-


m é a massa do corpo; dida a 15 °C e 1 atm de pressão atmosférica.
v é a velocidade do corpo. Para determinar a potência do vento, podemos
imaginar um tubo G de dimensões conhecidas
Quando estamos falando de massas de conforme a Figura 2.4. Imagine que esse tubo
ar em movimento, temos um problema de um está apontado para o vento que pode entrar e
corpo não-rígido, temos na verdade uma parcela sair perpendicularmente pelas aberturas cir-
de ar em movimento. Dessa forma, ao invés de culares, essa idealização pode ser pensada co-
se analisar as grandezas eólica baseando-se na mo o ar que atravessa as pás do aerogerador,
massa m de ar, prefere-se usar a sua massa es- logo, pense também que o raio desse tubo se-
pecífica, ou densidade do ar: ja do tamanho das pás de um aerogerador, ou
seja, a área de varredura que as pás de um ae-
rogerador podem cobrir quando estão girando
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 23

é equivalente a área circular do tubo. No tubo, o Exemplo 2.3: Se a velocidade do vento duplicar
ar se desloca de uma extremidade a outra com v'=2v, o que acontecerá com a potência?
velocidade v dada por
(2.7) Resposta:
v= Δs Tem-se que a nova potência P' será 8 ve-zes a
Δt potência P:
Onde:
v é a velocidade em m⁄s;
pAv'3 pA(2v)3 pAv3
Δs é a variação do deslocamento da massa de P'= = =8 = 8P
2 2 2
ar ao longo do comprimento do tubo G;
Δt é a variação de tempo;
O gráfico a seguir apresenta a curva
Dentro do tubo o ar ocupa o volume de- de potência em função da velocidade, o qual
pendente da área, da velocidade do ar e do tem- foi traçado fixando a área A=1 m² e densidade
po, sendo este volume determinado por: padrão p=1,225 kg/m³:
(2.8)

V=AΔs=AvΔt

Onde:
A é a área da secção do tubo em m2.
Como a velocidade do vento é v, escreve-se a
energia cinética do vento com base nas Eq.(2.5)
e (2.7)
(2.9)
mv2 pAv3Δt
Ec= =
2 2

e chegando-se à potência disponível do vento


usando-se a Eq. (2.4)
(2.10) Figura 2.5- Variação da potência com a velocidade do vento. Po-
Ec pAv3 tência por unidade de área, a 15 °C e 1 atm em função da ve-
P= =
Δt 2 locidade do vento. (Fonte: Autores)

A expressão da potência na Eq. (2.10) mostra que


Um fator importante nas considerações
a potência do vento depende da velocidade, da
sobre recursos eólicos é que o vento não apre-
área de varredura das pás do aerogerador e da
senta as mesmas características sempre, isto
densidade de ar. O interessante é o ganho de
é, as suas propriedades podem mudar bastante
potência que se pode conseguir com um peque-
dependendo da altura, temperatura, pressão at-
no a-créscimo na velocidade, pois cada aumento
mosférica e outros fatores. Considere nos pró-
de velocidade, sendo está elevada ao cubo, au-
ximos tópicos certas correções que devem ser
menta significativamente a potência. No entan-
realizadas a fim de tornarmos mais realistas os
to, uma queda na velocidade também reduzirá
resultados das equações de potência do vento
bas-tante a potência.
apresentadas.
24

2.4. CORREÇÃO DA DENSIDADE DO AR COM A Temperatura Densidade p Razão KT


TEMPERATURA (°C) (kg/m3 )
0 1,263 1,05
A densidade do ar p deve ser corregida
com a temperatura de acordo com a expressão 5 1,269 1,04

10 1,247 1,02
(2.11)
PatmM 15 P15°C=1,225 1,00
p=
1000RT 20 1,204 0,98
Onde: 25 1,184 0,97
Patm é a pressão atmosférica em [atm];
30 1,165 0,95
M é a massa molecular do ar em [g/mol], no caso
do ar, que é uma mistura de diversos elementos 35 1,146 0,94
e moléculas, calcula-se que M=28,97 g/mol;
40 1,127 0,92
R=8,2056.10-5 m3.atm/K.mol é uma constante
definida para um gás ideal, que obedece per- Tabela 2.3 - Densidade do ar para diferentes temperaturas. KT=
p(T)
feitamente a relação entre pressão, volume e p(15 °C)
é a razão entre a densidade para a temperatura T e a
temperatura; densidade padrão p(T=15 °C). Fonte: (Masters, 2004)
T é a temperatura em [K] kelvin, sendo que 1
K=273,15+º C. 2.5 CORREÇÃO DA PRESSÃO ATMOSFÉRICA COM
A ALTITUDE
Exemplo 2.4: Calcule a densidade do ar para uma
temperatura de 30 °C, e 1 atm. A pressão atmosférica é um fator que
modifica a densidade do ar conforme pode ser
Resposta: constado na Eq. (2.11). Sendo a densidade p pro-
Aplicando-se a Eq.(2.11), calcula-se porcional a pressão atmosférica Patm, e como a
pressão depende a altitude é importante utilizar
1 x 28,97 um fator de correção para pressão em altitudes
p= =1,165 kg/m3 acima do nível do mar, onde Patm=1 atm. Segue-se
1000 x 8,2056.10-5 x (273,15+30)
a fórmula:
(2.12)
Segue-se uma tabela com valores de den-
sidade para diferentes temperaturas: Patm = P0e-1,185.10 h = e-1,185.10
-4 -4
h

Temperatura Densidade p Razão KT Onde:


(°C) (kg/m3 ) e = 2,7182 é a constante de Euler;
Patm é a nova pressão com fator de correção;
-15 1,368 1,12
P0 é a pressão que se deseja corrigir, neste caso
-10 1,342 1,10 é a pressão ao nível do mar P0=1 atm;
h é a altitude em metros.
-5 1,317 1,07
Exemplo 2.5: Deseja-se saber a densidade do
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 25

ar a 15 °C, a uma altitude de 2000 m e 5 °C. (2.13)

Resposta: p=1,125KTKA
Aplicando-se a equação (2.12) determina-se a
nova pressão: Onde:
KT e KAsão os fatores de correção de temperatu-
ra e altitude, respectivamente, obtidos na Tabela
Patm = P0e-1,185.10 X 2000 = 0,789 atm 2.3 e na Tabela 2.4.

Exemplo 2.6: Deseja-se saber a densidade do ar


Então aplica-se a fórmula (2.11) para se determi- a 15 °C, a uma altitude de 2000 m e 5 °C.
nar a densidade:
Resposta:
Neste caso, usando-se Tabela 2.3 e a Tabela 2.4,
0,789 x 28,97
p= = 0,967 kg/m3 obtém-se KT=1,04 e KA=0,789, calcula-se usan-
1000 x 8,206.10-5 x (273,15+15)
do a Eq. (2.13):

Segue uma tabela com correções de den- p=1,125 x 1,04 x 0,789=1,00 kg/m3
sidade para diferentes altitudes h:
Vamos comparar a potência por metro
Altitude [m] Pressão [atm] Razão KA quadrado para uma velocidade de 10 m/s usan-
do-se a Eq. (2.10) para a densidade padrão p=
0 1 1
1,225 kg/m3 e a densidade calculada p=1,00 kg/
200 0,977 0,977 m3:
400 0,954 0,954
600 0,931 0,931 Para p=1,00 kg/m3:
800 0,910 0,910 P pv3 1,00x103
= = = 500 W/m²
1000 0,888 0,888 A 2 2
1200 0,868 0,868
1400 0,847 0,847 E para p=1,225 kg/m3
1600 0,827 0,827
P pv3 1,225x103
1800 0,808 0,808 = = = 612,5 W/m2
A 2 2
2000 0,789 0,789

2200 0,771 0,771 Comparando-se os resultados anteriores
Tabela 2.4- Densidade do ar para diferentes altitudes. KA=P/P0 é percebe-se a variação da potência do vento com
a razão entre a pressão P na altitude h e a pressão atmosférica
a densidade do ar, o que representa uma redução
ao nível do mar P0=1 atm e. Fonte: (Masters, 2004)
de 18% na potência do vento. A correção devido
a altitude e temperatura podem indicar um dado
A correção da densidade pode ser rea-
mais verdadeiro acerca da potência de vento
lizada simultaneamente para um nova tempe-
disponível em um dado local.
ratura e pressão através da fórmula:
26

2.6 NATUREZA ESTATÍSTICA DO VENTO lhor aproveitada pela rede. E as medições de


longo prazo (anos e décadas) servem para aná-
Como foi comentado anteriormente, a lise de viabilidade de instalação de aerogerado-
velocidade do vento é bastante sensível a mui- res e parques eólicos.
tas variáveis como clima, terreno, dia do ano, Embora não se possa encontrar uma e-
estação. Esse tipo de comportamento é do ti- quação matemática que perfeitamente descre-
po aleatório ou como é possível encontrar na ve a o vento, os padrões de velocidade de vento
literatura acadêmica, é uma grandeza estocásti- podem ser bem descritos através da estatística.
ca. Dessa forma é impraticável determinar uma Através das medições a análise estatística pode
equação matemática que descreva de modo estimar quais as velocidades mais frequentes
bem definido a dinâmica da velocidade do vento. nos próximos anos e com isso decidir pela ins-
Embora exista tal dificuldade, o entendimento talação de um parque eólico.
do comportamento do vento leva a escolhas Vejamos algumas características esta-
ótimas nos projetos de geração eólica. tísticas importantes. O vento médio é a média
A potência que se pode extrair do vento aritmética de n medições feitas da velocidade
depende fundamentalmente da velocidade do de vento ao longo de um período, e pode ser
mesmo, o que torna este o fator mais crítico computada como
no projeto de geração. A velocidade do vento (2.14)
é uma grandeza aleatória e é melhor descrita
v1+v2+...+vn
através de ferramentas estatísticas. Apesar da vmedio =
aleatoriedade, a velocidade do vento apresenta n
padrões que são perceptíveis através de me- Se ao invés de da quantidade n de me-
dições de longo termo, com duração de anos dições tomarmos como base a duração total
ou décadas. no período para cada velocidade, teremos uma
As medições de vento são realizadas a- média ponderada pela duração de cada velo-
través de equipamentos instalados em torres cidade registrada:
elevadas, medindo grandezas atmosféricas que
podem influenciar no vento, mas em especial a Onde:
velocidade do vento é a mais importante, pois
desta pode-se mensurar a potência disponível v1, v2 ,... ,vn são as velocidades medidas;
em um local. Com as medições pode-se prever
comportamentos e tomar decisões que otimi-
t1,t2, ... ,tn são as durações acumuladas totais de
zem a captação de energias e os custos de ge-
ração. Medições de curto período (segundos e cada velocidade para um período de medição;
minutos) servem para os equipamentos instala-
dos no aerogerador controlarem o funciona- Exemplo 2.7: Suponha que em um período de
mento em tempo real, mudando posicionamento 1 dia (24 horas) de registros de dados eólicos
do aerogerador, por exemplo. Medições de horas obteve-se um total de 288 medições realizadas
e dias, podem auxiliar no gerenciamento de e- a cada 5 minutos, ou seja, a cada hora realiza-se
nergia fornecida a rede elétrica quanto ao fluxo 12 medições. Por simplicidade numérica, consi-
de energia que é geralmente combinado ao fluxo dere que a velocidade do vento varia apenas
de outras fontes de geração, por exemplo, em entre as seguintes medições registradas:
qual período a potência do vento pode ser me-
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 27

96 medições de 3 m/s totalizando 8 horas; a variância será dada em m2/s2. A partir da va-
riância poder-se determinar o desvio padrão,
144 medições de 6 m/s um total de 12 horas; calculado como
(2.19)
36 medições de 8 m/s totalizando 3 horas; s=√(s )
2

12 medições de 10 m/s no total de 1 hora. cuja unidade é a mesma das medições, no caso
da velocidade m/s.
Resposta:
Neste caso o vento médio pode ser calculado Voltemos ao caso apresentado nos pa-
como rágrafos anteriores, o vento médio vmedio=5,41
(2.16) m/s, a variância pode ser determinada como:
3 x 96+6 x 144+8 x 36+10 x 12
vmedio = = 5,41
96+144+36+12 96 x (3-5,41)2+144 x (6-5,41)2+36 x
m/s
s2 = (8-5,41)2+12 x (10-5,41)2
(2.17) 288-1

3 x 8+6 x 12+8 x 3+10 x 1


vmedio= = 5,41 m/s s2=3,84 m2/s2
24

E, portanto, o desvio padrão s=√s2 =1,96


A média serve como um valor para ras- m/s. Isso indica que se espera que o maior núme-
treamento das medições individuais, isto é, as ro de medições registre velocidades que se a-
medições individuais tendem a “perseguir” o fastem da média em até 1,96 m/s, ou seja, a
valor médio, variando em torno deste. Ela indica maior parte das medições estará entre 5,41-
uma estimativa do valor de velocidade esperado 1,96=3,75 m/s e 5,41+1,96=7,67 m/s.
caso realizássemos uma medição em qualquer Vejamos um exemplo, considere as me-
dia ou horário do ano. No entanto, a média nem dições de vento conforme a seguinte tabela:
sempre é boa para avaliar o comportamento
das medições de vento, pois se as medições de
Velocidade (m/s) Horas/ano
velocidade apresentam largas variações entre
0 24
uma medida e outra, a média não leva consigo
as amplitudes dessas variações. Neste caso, a 1 276
variância é a adequada para verificar o quanto 2 527
as medições estão dispersas da média. Pode-se 3 729
calcular a variância como:
4 869
(2.18)
(v1-vmedio )2+(v2-vmedio )2+...+(vn-vmedio )2 5 941
s =
2
6 946
n-1
7 895
Uma observação importante é que a u-
8 805
nidade da variância será a unidade da medida
ao quadrado, no caso da velocidade do vento 9 690
28

Velocidade (m/s) Horas/ano vmedio , isso indica que a distribuição dos dados não
segue uma distribuição normal, em que a média
10 565
é exatamente igual ao valor de maior frequência
11 444 (também chamado de moda). Logo, precisamos
12 335 de outra representação que melhor parametrize
13 243 informações acerca dos dados eólicos da tabela.
14 170 Antes de entrarmos no mérito dessa questão e
vejamos um pouco mais sobre o gráfico.
15 114
16 74
17 46
18 28
19 16
20 9
21 5
22 3
23 1
24 1
25 0 Figura 2.6 – Distribuição da duração em horas anuais da velocidade
Dados perdidos ou 4 do vento. Gráfico mostrando a duração de cada velocidade de
incompletos vento ao longo de um ano. Fonte: Autores

Total de horas 8760


Tabela 2.5- Duração anual de velocidades de vento. Fonte: (Masters,
Para se construir o histograma de dis-
2004) tribuição de frequência (em horas por ano) de
velocidade do vento, usou-se a Tabela 2.5 de
A velocidade média de vento é vmedio=6,99 velocidade e duração acumulada no ano para
≈ 7,00 m/s, a variância e o desvio padrão, res- cada velocidade. No eixo das abscissas são colo-
pectivamente, são s2=13,36 m2/s2, s=3,65 m/s. cados os valores de velocidade em ordem cres-
Até o momento entendemos o que sig- cente com incrementos de 1 m/s entre uma ve-
nifica média, variância e desvio padrão, no en- locidade e a seguinte. Nas ordenadas coloca-se
tanto, na maioria dos casos, quando se trata de a duração anual acumulada em horas para cada
dados eólicos, esses parâmetros não são preci- velocidade. Por exemplo, a velocidade de 1 m/s
sos o suficiente para conclusões satisfatórias, ocorreu no total de 300 h no ano, essa duração
vejamos o porquê. O gráfico apresentado na Fi- não é corrida, mas é o somatório de tempo de
gura 2.6 é uma plotagem entre horas anuais por duração em cada vez que esta velocidade foi
velocidade construído a partir da Tabela 2.5, registrada. Observa-se que a velocidade de 6 m/s
mostrada anteriormente. Esse gráfico é conhe- apresenta maior número de horas anuais, sendo
cido como histograma. Repare que o valor de também chamada de moda dos dados. Nota-se
velocidade mais frequente no ano é 6 m/s e que o gráfico cresce para velocidade menores
embora o valor esperado ou médio seja 7 m/s que 6 m/s e decresce para velocidades maiores.
como determinado pelo cálculo do vento médio Esse tipo de distribuição de dados apresentado
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 29

no gráfico é comumente encontrado no com- Analisando-se a Figura 2.7, para k=1 po-
portamento de dados eólico, logo, podemos es- de conseguir uma função exponencial com de-
tudar esses padrões. caimento, para k=2 o gráfico é se assemelha a
Se alguém desejar medir a velocidade do uma onda assimétrica e k=5 o gráfico é seme-
vento em um dia aleatório do ano, qual seria o lhante a um sino. O valor de máximo nas curvas
valor mais provável da velocidade medida? De é o valor de velocidade de vento com maior pro-
acordo com o gráfico haveria maiores chances babilidade de ocorrência.
de ser 6 m/s, pois é a velocidade mais frequente
nos registros.
Como foi descrito no parágrafo prece-
dente, podemos voltar a discutir como melhorar
as análises dos dados eólicos. Então se o vento
apresenta padrões de comportamento que se
repete num período de tempo, por exemplo, a-
nualmente, como escrever uma função mate-
mática que represente com boa precisão?
A resposta está no uso das funções de
densidade de probabilidade. Uma função de den-
sidade de probabilidade é uma função contí-
nua e que permite calcular analiticamente a pro- Figura 2.7 – Distribuição de Weibull. A distribuição de Weibull para
k=1 ,2,5 e c=4. O eixo horizontal tem-se a velocidade do vento e
babilidade de uma variável aleatória com ba-
no eixo vertical a probabilidade. Fonte: Autores
se em poucos parâmetros. A variável aleató-
ria no caso é a velocidade do vento. Existem
inúmeras fórmulas de distribuições estatísticas, O objetivo é achar os valores de k, c de
mas no caso do vento a função de densidade modo que a curva de Weibull se aproxime do
de probabilidade que é bastante utilizada para histograma construído a partir das medições
representar os da-dos de velocidade de vento é em um período. Com uma boa aproximação pe-
a distribuição de Weibull, conforme apresentada la distribuição de Weibull é possível realizar es-
na Figura 2.7, e cuja fórmula segue-se: timativas de velocidades em um período futuro,
(2.20) calculando a probabilidade de duração de ve-
(v )
k
- c locidades de ventos para faixas estratégicas.

( )
k v k-1 Por exemplo, quanto horas anuais teremos de
f(v)= e ventos superiores à média? Quantos horas a-
c c
nuais a velocidade do vento irá ultrapassar a ve-
Onde: locidade máxima permitida para operação de um
v é a velocidade do vento; aerogerador? Com relação a última pergunta,
e=2,7182 é o número de Euler; quantas horas de aerogerador fora de operação
k é o fator de forma da função, sendo adimensio- teremos devido a velocidades de vento não per-
nal e responsável por alterar o formato da curva; mitida?
c é um fator de escala dado em m/s e é res_ Vejamos algumas fórmulas utilizando a
ponsável por esticar ou encolher o gráfico ho- distribuição de Weibull:
rizontalmente.
Para se determinar a probabilidade de
30

velocidade dos ventos ser inferior a uma velo- (2.25)


cidade de referência a, pode-se calcular:
2
(2.21) c= v =1,128vmedio
k
√π medio
Pv<a=1-e
(a ) - c

em que vmedio é a velocidade média de vento de-


Onde: finida na Eq.(2.16). Vejamos um exemplo da apli-
k é o fator de forma; cação:
c é o fator de escala;
a é a velocidade de referência; Exemplo 2.8: Através da função de densidade
e=2,7183 é a constante de Euler, usado nas fun- de Rayleigh, com base no histograma da Figura
ções exponenciais. 2.6, desenvolva a Eq. (2.24), e estime o número
de horas por ano em que o vento terá velocidade
A probabilidade da velocidade do vento entre 6 e 7 m/s. Estime o número de horas por
ultrapassar um determinado valor de velocidade ano em que a velocidade do vento será maior
a pode ser calculado como: ou igual a 15 m/s.
(2.22)
-(c )
a k

Pv>a=e Resposta:
A velocidade média do vento é vmedio=6,99 m/s,
A probabilidade da velocidade do vento tem-se que c=1,128vmedio=1,128 x 6,99=7,8847
estar entre uma faixa de velocidade a≤v≤b é da- m/s e k=2.
da por:
(2.23) A Eq. (2.24) é dada por

(a )
- c
k
- c (b ) k

-( c )
Pa≤v≤b=e -e v
2

( )
2 v
f(v)= c e =0,0321v.e-0,0161v2
c
Um caso particular da distribuição de
Weibull é para k=2 e neste caso é chamada de Para a velocidade entre 6 e 7 m/s a pro-
distribuição de Rayleigh. Para a situação da Fi- babilidade é determinada conforme:
gura 2.6, a distribuição de Weibull com k=2 tam-
( a ) -e - ( bc )
K k
- c
bém é adequada ao histograma produzido, logo, P(a≤v≤b) =e
pode-se u-sar a Eq. (2.23) para estimar a pro- 2
babilidade do valor de velocidade estar em uma
- ( 6
)
2
- ( 7 )
faixa específica, mesmo para valores não me- =e 7,8847
-e 7,8847

didos. A distribuição de Rayleigh é dada, por-


tanto, por: =0,1057 ou 10,57%

(v )
k
(2.24) que nos leva a estimativa anual que pode ser
( )
k v k-1 - c
f(v)= e determinado pelo total de horas de registro das
c c
medidas, no caso excluindo-se as 4 horas per-
didas constante na tabela, tem-se que 8756 x
Para se determinar o valor do parâmetro 0,1057 =925,92 horas anuais de duração de ven-
c pode-se recorrer a seguinte equação: tos na faixa de 6 e 7 m/s.
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 31

As Tabela 2.5 e Tabela 2.6 apresentam


Para velocidades superiores a 15 m/s a dados eólicos obtido na internet no endereço:
probabilidade é dada por https://cutt.ly/AgpDgYJ, são referentes as me-
dições de uma estação meteorológica instalada
(a )
k
- c
Pv>15 =e no aeroporto internacional Billings Logan Billing
em Montana- EUA, no ano de 1961. O programa
utilizado para criar essas tabelas foi o WRPLOT
( 7,8847 )
15 2
-
=e View, disponível em https://cutt.ly/AgpDjg6 . A
Tabela 2.5 contém a coluna direção em graus
=0,0268 ou 2,68% (°), onde são apresentadas faixas de ângulos
de onde os ventos estão soprando, nas outras
colunas encontra-se as faixas de velocidades
que nos leva a estimativa de 8756 x 0,0268 e por último o total de horas para cada faixa de
=235,66 horas ao ano. ângulo. A Tabela 2.6 apresenta o percentual de
duração de cada velocidade, considerando a
direção, por exemplo, na faixa 15° a 25° graus o
2.7 DIREÇÃO DO VENTO vento soprou num total de 7,14612 %, desse to-
tal, tem-se que: 0,13699 % tinha velocidade en-
Uma maneira importante de representar tre 0,5 - 2,10 m/s, 2,11187 % têm velocidade en-
os dados eólicos é através das Rosas dos Ven- tre 2,10 – 3,60 m/s, 2,51142 % têm velocidade
tos, que consiste em mostrar os dados radial- em ter 3,60 – 5,70 m/s, 1,94064 % têm velo-
mente com base na direção do vento e nas horas cidade entre 5,70 – 8,0 m/s e 0,38813% têm
em que estes duraram no ano. A Figura 2.8 mos- velocidade entre 8,80 – 11,10 m/s, e 0,05708
tra como são plotados os dados de vento na Ro- % têm velocidade maior e igual a 11,10 m/s.
sa dos Ventos. A Rosa dos Ventos é formada por Na Figura 2.8 é mostrada a distribuição
circunferências concêntricas cujos raios indicam dos ventos a partir dos dados de uma estação
as faixas de frequência ou duração do vento. As meteorológica localizada no aeroporto Billings
circunferências são divididas em 16 regiões com Logan, EUA. Os dados são do ano de 1961, e
ângulos iguais, em forma de uma pizza com 16 indicam tanto a direção do vento, velocidade
fatias iguais. Na vertical tem-se Norte e Sul, e na e frequência anual desses. Por exemplo, vento
horizontal Leste e Oeste. As regiões preenchi- predominantes estão soprando na direção da
das indicam as velocidades de vento predomi- segunda fatia do Sudoeste, isto é, em os ventos
nantes e de onde estão soprando (também po- vêm do setor do gráfico entre 200° e 225°. Nes-
de-se indicar para onde estão soprando), a in- sa fatia temos ventos de maior frequência nas
tensidade pode ser indicada por uma corres- velocidades entre 5,7 e 8,8 m/s, seguidos por
pondente a uma legenda, o tamanho da região ventos de 3,6 e 5,7 m/s e acima de 11,1 m/s, as
preenchida indica a duração em horas ou fre- demais velocidades são de mínimas frequências
quência em percentual dos ventos predomi- ou inexistentes.
nantes na direção especificada. Vejamos uma
aplicação.
32

Direção
Total
em graus 0,50 - 2,10 2,10 - 3,60 3,60 - 5,70 5,70 - 8,80 8,80 - 11,10 ≥11,10
(horas)
(°)
355 - 5 13 142 124 106 27 4 416
5-15 0 0 0 0 0 0 0
15 - 25 12 185 220 170 34 5 626
25 - 35 0 0 0 0 0 0 0
35 - 45 0 0 0 0 0 0 0
45 - 55 18 194 327 245 27 1 812
55 - 65 0 0 0 0 0 0 0
65 - 75 10 117 172 114 3 0 416
75 - 85 0 0 0 0 0 0 0
85 - 95 10 110 95 32 3 0 250
95 - 105 0 0 0 0 0 0 0
105 - 115 3 58 63 24 4 0 152
115 - 125 0 0 0 0 0 0 0
125 - 135 0 0 0 0 0 0 0
135 - 145 10 64 53 30 1 0 158
145 - 155 0 0 0 0 0 0 0
155 - 165 7 81 77 9 0 0 174
165 - 175 0 0 0 0 0 0 0
175 - 185 4 114 60 9 0 0 187
185 - 195 0 0 0 0 0 0 0
195 - 205 16 164 136 17 0 1 334
205 - 215 0 0 0 0 0 0 0
215 - 225 0 0 0 0 0 0 0
225 - 235 7 216 563 421 74 12 1293
235 - 245 0 0 0 0 0 0 0
245 - 255 5 128 379 1017 474 84 2087
255 - 265 0 0 0 0 0 0 0
265 - 275 3 59 85 108 37 15 307
275 - 285 0 0 0 0 0 0 0
285 - 295 5 44 87 169 90 40 435
295 - 305 0 0 0 0 0 0 0
305 - 315 0 0 0 0 0 0 0
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 33

Direção
Total
em graus 0,50 - 2,10 2,10 - 3,60 3,60 - 5,70 5,70 - 8,80 8,80 - 11,10 ≥11,10
(horas)
(°)
315 - 325 12 55 94 163 81 48 453
325 - 335 0 0 0 0 0 0 0
335 - 345 8 61 96 150 78 35 428
345 - 355 0 0 0 0 0 0 0
Sub-Total 143 1792 2631 2784 933 245 8528
Sem Ventos 229
Dados
perdidos 3
ou imcompletos
Total 8760
Tabela 2.6- Distribuição de frequência dos ventos. Distribuição de frequência dos ventos nas respectivas direções, velocidades do ano
de 1961, de uma estação meteorológica no Aeroporto Internacional Billings Logan Billing/Montana- EUA, elevação do nível do mar: 1091
m, altura do anemômetro 4,57 m. Fonte: Autores (utilizando o freeware WRPLOT View com dados do site: https://cutt.ly/qgpDaoT )

Classe de ventos [m/s]


Direção em
0,50 - 2,10 2,10 - 3,60 3,60 - 5,70 5,70 - 8,80 8,80 - 11,10 ≥ 11,10 Total (%)
graus (°)
355 - 5 0,1484 1,621 1,41553 1,21005 0,30822 0,04566 4,74886
5-15 0 0 0 0 0 0 0
15 - 25 0,13699 2,11187 2,51142 1,94064 0,38813 0,05708 7,14612
25 - 35 0 0 0 0 0 0 0
35 - 45 0 0 0 0 0 0 0
45 - 55 0,20548 2,21461 3,73288 2,7968 0,30822 0,01142 9,26941
55 - 65 0 0 0 0 0 0 0
65 - 75 0,11416 1,33562 1,96347 1,30137 0,03425 0 4,74886
75 - 85 0 0 0 0 0 0 0
85 - 95 0,11416 1,25571 1,08447 0,3653 0,03425 0 2,85388
95 - 105 0 0 0 0 0 0 0
105 - 115 0,03425 0,6621 0,71918 0,27397 0,04566 0 1,73516
115 - 125 0 0 0 0 0 0 0
125 - 135 0 0 0 0 0 0 0
135 - 145 0,11416 0,73059 0,60502 0,34247 0,01142 0 1,80365
145 - 155 0 0 0 0 0 0 0
155 - 165 0,07991 0,92466 0,879 0,10274 0 0 1,9863
34

Classe de ventos [m/s]


Direção em
0,50 - 2,10 2,10 - 3,60 3,60 - 5,70 5,70 - 8,80 8,80 - 11,10 ≥ 11,10 Total (%)
graus (°)
165 - 175 0 0 0 0 0 0 0
175 - 185 0,04566 1,30137 0,68493 0,10274 0 0 2,1347
185 - 195 0 0 0 0 0 0 0
195 - 205 0,18265 1,87215 1,55251 0,19406 0 0,01142 3,81279
205 - 215 0 0 0 0 0 0 0
215 - 225 0 0 0 0 0 0 0
225 - 235 0,07991 2,46575 6,42694 4,80594 0,84475 0,13699 14,7603
235 - 245 0 0 0 0 0 0 0
245 - 255 0,05708 1,46119 4,32648 11,6096 5,41096 0,9589 23,8242
255 - 265 0 0 0 0 0 0 0
265 - 275 0,03425 0,67352 0,97032 1,23288 0,42237 0,17123 3,50457
275 - 285 0 0 0 0 0 0 0
285 - 295 0,05708 0,50228 0,99315 1,92922 1,0274 0,45662 4,96575
295 - 305 0 0 0 0 0 0 0
305 - 315 0 0 0 0 0 0 0
315 - 325 0,13699 0,62785 1,07306 1,86073 0,92466 0,54795 5,17123
325 - 335 0 0 0 0 0 0 0
335 - 345 0,09132 0,69635 1,09589 1,71233 0,89041 0,39954 4,88584
345 - 355 0 0 0 0 0 0 0
Sub-Total 1,63242 20,4566 30,0342 31,7808 10,6507 2,7968 97,3516
Sem ventos 2,61416
Dados
perdidos ou 0,03425
incompletos
Total 100

Tabela 2.7- Distribuição de frequência dos ventos em percentual. Distribuição de frequência dos ventos em percentual nas respectivas
direções, velocidades do ano de 1961, de uma estação meteorológica no Aeroporto Internacional Billings Logan Billing/Montana- EUA,
elevação do nível do mar: 1091 m, altura do anemômetro 4,57 m. Fonte: Autores (utilizando o freeware WRPLOT View com dados do
site: https://cutt.ly/QgpDrHD )
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 35

Figura 2.8 – Rosas dos Ventos. Distribuição dos dados eólicos na Rosas dos ventos, velocidades do ano de 1961, de uma estação
meteorológica no Aeroporto Internacional Billings Logan Billing/Montana- EUA, elevação do nível do mar: 1091 m, altura do anemômetro
4,57 m. Fonte: Autores (utilizando o freeware WRPLOT View com dados do site: https://cutt.ly/mgpDlRv )

Uma ferramenta online e gratuita para tar, além de outros tipos, os dados eólicos de
consulta de dados climáticos está no site http:// várias cidades brasileiras.
projeteee.mma.gov.br/, onde é possível consul-

Figura 2.9 – Rosas dos Ventos/INMMET. Distribuição dos dados eólicos na Rosas dos ventos do banco de dados do INMET 2016 para
a cidade de Natal-RN. Fonte: produzido utilizando o site: https://cutt.ly/AgpS0xk em 02/10/2020.
36

2.8 EXERCÍCIOS 530 medições de 6 m/s;


450 medições de 7 m/s;
2.1 O que é turbulência e que influências ela 116 medições de 8 m/s;
pode ter sobre aerogeradores?
Determine a velocidade de vento média, a va-
2.2 Que diferenças pode-se observar nos pa- riância e o desvio padrão.
drões de vento devido ao relevo do terreno ou
superfície terrestre? 2.11 Com os dados da questão anterior, escre-
va a expressão da distribuição de Rayleigh. Cal-
2.3 Suponha que se tenha realizado medi- cule a probabilidade do vento ter uma velocidade
ções a 15 m de altura, em uma área com grama su-perior a 6 m/s. Estime o número de horas
baixa, a velocidade do vento registrada foi de 5,5 em que o vento terá velocidade inferior 5 m/s.
m/s. Qual seria a velocidade para 35 m?
PARA PENSAR UM POUCO MAIS...
2.4 O vento medido a 50 m é 6,26 m/s e a 10
m de altura foi de 5 m/s. Qual é o possível tipo 2.12 Explique a imprecisão em se calcular a
de terreno nesse local? potência média contida no vento apenas por
substituir a velocidade média na equação Pmedia=
2.5 Qual potência do vento para uma área pAv3medio/2, sendo uma forma mais exata usar a
de 1 m², com ventos de 6 m/s e densidade do média do cubo das velocidades (v)3medio, ou seja,
ar padrão? Pmedia=pA(v3 )medio⁄2.

2.6 Supondo a densidade do ar p=1,225 kg/


m3, determine a relação P/A (W/m²) para ventos 2.9 REFERÊNCIAS DO CAPÍTULO
de 10 m/s.
CUSTÓDIO, R. D. S. ENERGIA EÓLICA PA-RA
2.7 Determine a relação P/A (W/m²) para ven- PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. 1. ed. Rio
tos de 10 m/s para 30 °C e altitude de 800 m. de Janeiro: Eletrobrás, 2009.

2.9 Qual seria o aumento percentual na po- GARCÍA, F. H. Análise Experimental e Simula-
tência de vento se a velocidade aumentar 20%? ção de Sistemas Híbridos Eólico-Fotovoltai-
cos. Porto Alegre: UFRGS, 2004. Disponivel
2.10 Suponha que em um período de 7 dias em: <https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/
(16 8 horas) de registros de dados eólicos obteve 4569>.
-se um total de 2016 medições realizadas a cada
5 minutos, ou seja, a cada hora realiza-se 12 me- LOPEZ, R. A. Energia Eólica. Artliber Editora, 2.
dições. Por simplicidade numérica, considere ed., 2012.
que a velocidade do vento varia apenas entre
as seguintes medições registradas: MASTERS, G. M. Renewable and Efficient
Electric Power Systems. In: MASTERS, G. M.
200 medições de 3 m/s; WIND POWER SYSTEMS. 1. ed. New Jersey:
306 medições de 4 m/s; Wiley-IEEE Press, 2004. Cap. 6, p. 306-323.
414 medições de 5 m/s; ISBN ISBN 0-471-28060-7.
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 37

PAPOULIS, A. e PILLAI, U. (2002). Probability,


Random Variables, and Stochastic Processes,
MCGraw Hill Education, 4º Edição.

PINTO, M. Fundamentos de Energia Eólica. 1.


ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012.
3.
TURBINA EÓLICA
"Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo crometeorologia podem contribuir para um au-
se transforma” (Antoine Lavoisier) mento anual de 5% do rendimento energéti-
co das turbinas eólicas.
Neste capítulo será apresentada uma vi-
3.1 INTRODUÇÃO são geral dos aspectos relativos à aerodinâmica
das turbinas, introduzindo conceitos importan-
A energia cinética existente no vento é tes que ilustram o comportamento da interação
extraída pelo equipamento denominado de Tur- dos rotores eólicos com os ventos. Em outras
bina Eólica. A turbina eólica é um conversor que palavras, serão estudadas as turbinas eólicas u-
através da interação de seu rotor e pás com o tilizadas para a produção de energia elétrica,
vento, converte a energia cinética de translação em especial, as de eixo horizontal e de grande
das massas de ar em movimento, em energia potência de geração, geralmente instaladas em
cinética de rotação de um eixo acoplado ao ge- parques eólicos compostos de vários outros
rador elétrico. desses equipamentos.
Como visto no capítulo anterior, o vento
pode ser considerado uma combinação da ve-
locidade média e das flutuações turbulentas em 3.2 CLASSIFICAÇÃO DAS TURBINAS EÓLICAS
torno dela. A experiência demonstrou que os
principais aspectos do desempenho das turbi- Existe uma variedade de turbinas eólicas
nas eólicas (potência e carga) são, em grande desenvolvidas para extrair a energia dos ventos
parte, determinados pelas forças aerodinâmicas e transformá-la em energia elétrica e, por con-
geradas pela média das velocidades do vento. seguinte, as turbinas eólicas podem ser clas-
Forças aerodinâmicas periódicas causadas pelo sificadas de diversas formas. Apresentaremos
cisalhamento (tangenciais) do vento, ventos a seguir alguns tipos de turbinas classificadas
fora do eixo de rotação do rotor e forças aleato- de acordo com o(a):
riamente flutuantes induzidas por turbulência e
efeitos dinâmicos são as fontes de fadiga que • orientação do eixo rotativo das pás;
influenciam nos picos de cargas experimentadas • sentido do fluxo de ar com relação ao
por uma turbina eólica. Estes fatores são, ob- rotor;
viamente, importantes, mas só podem ser com- • potência da turbina;
preendidos uma vez que a aerodinâmica da o- • utilização ou não de caixa de
peração em estado estacionário tenha sido en- engrenagens;
tendida. • instalação em terra ou no mar;
Nas últimas três décadas, avanços no- • e conectada ou não à rede elétrica.
táveis no projeto de turbinas eólicas foram al-
cançados juntamente com os desenvolvimentos
tecnológicos modernos. Estima-se que os avan- 3.2.1 ORIENTAÇÃO DO EIXO ROTATIVO DAS PÁS
ços na aerodinâmica, dinâmica estrutural e mi-
Ao considerar a orientação do eixo rotati-
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 39

vo das pás do rotor, turbinas eólicas modernas tema de freios sistema de controle e mecanis-
podem ser classificadas em turbinas de eixo ho- mos de giro da turbina estão contidos em um a-
rizontal e de eixo vertical (Fig. 3.1). A turbina eó- brigo chamado nacele. A energia gerada é então
lica de eixo horizontal domina a maior parte da transmitida torre abaixo até o transformador e
indústria eólica. Eixo horizontal significa que o deste para o ponto de conexão com a rede. A
eixo de rotação da turbina eólica é horizontal todo este conjunto turbina, nacele, torre e trans-
ou paralelo ao solo. Nas aplicações de grandes formador, chamamos de aerogerador que está
potências, são muito raros os casos de utilização ilustrado na Fig. 3.2 com seus principais com-
de turbinas de eixo vertical. No entanto, em pe- ponentes.
quenas aplicações eólicas e residenciais, as tur-
binas de eixo vertical têm seu lugar.

Figura 3.1 - Exemplos de turbinas de eixo horizontal e vertical.


Fonte: https://www.solarlightsmanufacturer.com

Embora tenham sido desenvolvidas di-


ferentes configurações de turbinas na busca de
um design ideal, houve uma grande consolidação
nas turbinas eólicas de eixo horizontal com três
pás igualmente espaçadas. Elas são ligadas a um
rotor cuja potência mecânica é transferida por Figura 3.2- Componentes do aerogerador. Fonte: Centro Brasileiro
de Energia Eólica – CBEEE / UFPE. 2000. Dis-ponível em: www.
uma caixa de engrenagem ao gerador. A caixa
eolica.com.br.
de engrenagens tem a função de aumentar a
velocidade de rotação do eixo para que o ge-
As vantagens na utilização de turbinas
rador consiga operar. Entretanto, algumas con-
eólicas de eixo horizontal em relação as de eixo
figurações de turbinas não utilizam a caixa de
vertical incluem:
engrenagem por utilizarem geradores que ope-
ram em baixas velocidades de rotação de seu
• Controle do ângulo de ataque das pás
eixo. O conjunto: gerador elétrico, caixa mul-
possibilitando controlar a velocidade do rotor, a
tiplicadora de velocidades, eixos, mancais, sis-
saída de potência e a proteção contra o excesso
40

de velocidade; controle ativo para a orientação do rotor em re-


• A flexibilidade no projeto de formatos lação ao vento. A principal vantagem desta con-
das pás do rotor que pode ser otimizado aero- figuração é evitar a distorção do fluxo do ven-
dinamicamente possibilitando maior eficiência; to que passa pela torre e pela nacele. Para uma
• Avanços tecnológicos no desenvolvi- turbina do tipo downwind, o vento passa pri-
mento em projetos de pás; meiro através da nacele e torre e depois chega
• Acesso a ventos de maiores velocidades as pás. Esta configuração exige que as pás do
devido à altura da torre; rotor sejam mais flexíveis, gerando ruídos que
• Maior eficiência, uma vez que as pás dificultam a autorização e a aceitação deste tipo
estão posicionadas perpendicularmente ao ven- de turbina. No entanto, devido à influência da
to; torre e nacele, a potência de saída tende a flutuar
muito devido aos cortes no fluxo normal do ven-
As desvantagens desse tipo de turbina to.
com relação a de eixo vertical são:

• Maiores dificuldades de instalação de-


vido a maioria dos equipamentos estarem ins-
talados no topo da torre;
• Maiores dificuldades de logística dos
equipamentos;
• Necessidade de um sistema de controle
para girar as pás em direção ao vento;
• Construção mais complexa da torre pa-
ra poder apoiar o peso de todo o aerogerador.

As vantagens apresentadas determinam Figura 3.3- Turbinas eólica upwind e downwind. Fonte: adaptado
a razão por que quase todas as turbinas eó- de Hemane, 2012.

licas para gerar eletricidade construídas até o


momento têm rotores horizontal e, por esse
3.2.3 POTÊNCIAS DAS TURBINAS EÓLICAS
motivo, nos concentraremos neste tipo de tur-
bina daqui em diante.
As turbinas eólicas podem ser divididas
em várias categorias amplas, tendo em vista
suas capacidades nominais: micro, pequenas,
3.2.2 SENTIDO DO FLUXO DE AR
médias, grandes e muito grandes. Embora uma
definição restrita de microturbinas eólicas não
Baseado na configuração do rotor em re-
esteja disponível, é aceito que uma turbina com
lação ao fluxo do vento, as turbinas eólicas de
a potência nominal menor que 75 kW pode ser
eixo horizontal podem ser ainda classificadas
categorizada como microturbina eólica, dada
como upwind ou downwind, conforme pode ser
da a regulamentação brasileira para a microge-
observado na Fig. 3.3. A maioria das turbinas
ração de energia elétrica. As microturbinas eó-
eólicas de eixo horizontal utilizadas hoje em dia
licas são especialmente adequadas em locais
são turbinas upwind, nas quais os rotores eólicos
onde a rede elétrica não está disponível, ou
“enfrentam” o vento, e, portanto, é necessário
podem ser usados em iluminação pública, bom-
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 41

beamento de água e residentes em áreas re- os síncronos, trabalham com rotações muito
motas. Microturbinas eólicas precisam relati- mais elevadas, geralmente entre 1.200 a 1.800
vamente de baixas velocidades de vento para rpm, tornando necessária a utilização de um
o arranque e operam em velocidades de vento mecanismo de multiplicação de velocidade entre
moderadas. Turbinas eólicas pequenas geral- dois eixos.
mente se referem às turbinas com potência de As vantagens do sistema de engrenagens
saída menores que 100 kW. As turbinas eóli- incluem menor custo e menor tamanho e peso do
cas mais comuns têm tamanhos médios com gerador. No entanto, a utilização de uma caixa de
potência nominal de 100 kW a 1 MW. Este tipo engrenagens pode diminuir significativamente a
de turbinas eólicas pode ser usado tanto na rede confiabilidade e aumentar o nível de velocidade
ou sistemas fora da rede, sistemas híbridos, ge- da turbina eólica, além de maiores perdas de
ração de energia em fazendas eólicas ou uni- energia mecânica.
dades únicas de minigeração de energia elétrica. Ao eliminar a caixa de engrenagens de
As turbinas eólicas de 1 MW até 10 MW podem ser múltiplos estágios de um sistema gerador, o eixo
classificadas como turbinas eólicas de gran- do gerador é conectado diretamente ao rotor
de porte. Nos últimos anos, as turbinas eó- da lâmina. Portanto, o conceito de acionamento
licas de múltiplos megawatts tornaram-se o direto é superior em termos de eficiência ener-
principal produto no mercado internacional de gética, confiabilidade e simplicidade, entretan-
energia eólica. A maioria dos parques eólicos to requer um gerador de maior custo, peso e
atualmente usa grandes turbinas eólicas, espe- volume.
cialmente em parques eólicos localizados no
mar (offshore). Turbinas eólicas ultragrandes
são referidas as que possuem capacidade aci- 3.2.5 TURBINAS TERRESTRES E MARÍTIMAS
ma de 10 MW.
Turbinas eólicas terrestres têm uma lon-
ga história em seu desenvolvimento . Há um
3.2.4 ROTOR DIRETO OU COM CAIXA DE EN- número de vantagens na implantação de fazen-
GRENAGENS das eólicas terrestres, incluindo menor custo de
fundações, facilidade de integração com a rede
De acordo com a condição da transmis- elétrica, menor custo na construção das torres
são em um sistema de gerador de energia eólica, e acesso mais conveniente para operação e
turbinas eólicas podem ser classificadas como manutenção. Fazendas eólicas marítimas (off-
grupos de acionamento direto ou acionamento shore) têm evoluído muito devido ao excelente
por engrenagem. Com o objetivo de adaptar a recurso eólico no mar, em termos de intensidade
velocidade do rotor à velocidade de rotação de energia eólia e continuidade. Uma turbina
mais elevada dos geradores convencionais que eólica instalada no mar pode produzir uma maior
necessitam de maiores velocidades, uma tur- potência e operar mais horas a cada ano em
bina eólica normalmente usa uma caixa de en- comparação com a mesma turbina instalada em
grenagens de vários estágios. A velocidade terra. Além disso, as restrições ambientais são
angular dos rotores geralmente varia na fai- mais flexíveis em locais offshore do que em sites
xa de 20 a 150 rpm (rotações por minuto), de- onshore. Por exemplo, o ruído da turbina não é
vido às restrições de velocidade na ponta da um problema para a energia eólica offshore.
pá. Todavia, os geradores elétricos, sobretudo
42

3.2.6 TURBINAS CONECTADAS À REDE E FORA geralmente são usadas de forma híbrida com
DA REDE baterias, geradores diesel, sistemas fotovoltai-
cos ou sistemas de bombeamento e geração
As turbinas eólicas podem ser usadas hídrica para melhorar a estabilidade de forne-
para aplicações conectadas à rede ongrid ou cimento de potência ativa.
isolada da rede elétrica offgrid. A maioria das
turbinas eólicas de tamanho médio e quase to-
das de grande porte são usadas em aplicações 3.3 CONVERSÃO DE ENERGIA
vinculadas à rede elétrica. Uma das vantagens
óbvias dos sistemas de turbinas eólicas na re- A produção de energia elétrica em um
de é de não necessitar de baterias para o ar- aerogerador depende de duas etapas de con-
mazenamento da energia elétrica produzida. Co- versão de energia. A primeira etapa é a interação
mo contraste, e antes da vigência da regula- das pás e rotor eólico (turbina) com o vento. Es-
mentação da microgeração de energia elétri- sa interação transforma a energia cinética do
ca no Brasil, a nível mundial, a maioria das pe- vento em energia mecânica no eixo do rotor.
quenas turbinas eólicas estão fora da rede para Na segunda etapa, o gerador recebe a energia
residências, fazendas, telecomunicações e ou- mecânica e a converte em energia elétrica que,
tras aplicações. No entanto, por se tratar de uma por conseguinte, é transmitida para a rede da
fonte intermitente, a energia elétrica produzida concessionária. A Figura 3.4 ilustra as etapas de
a partir de turbinas eólicas fora da rede pode va- transformação de energia, bem como os demais
riar drasticamente em um curto período de tem- sistemas envolvidos em todos o conjunto que
po. Consequentemente, as turbinas fora de rede compõe o aerogerador.

Figura 2.9 – Rosas dos Ventos/INMMET. Distribuição dos dados eólicos na Rosas dos ventos do banco de dados do INMET 2016 para
a cidade de Natal-RN. Fonte: produzido utilizando o site: https://cutt.ly/AgpS0xk em 02/10/2020.
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 43

vel no vento. Mas, quanto de potência mecânica


Conforme já discutido no capítulo sobre pode ser extraída do fluxo livre de uma turbina
Recurso Eólico, a potência disponível no vento eólica? A Fig. 3.5 ilustra o fluxo de ar através de
é dada por: uma turbina eólica de eixo horizontal. A vazão
do ar pode ser representada pelo tubo de vazão
(3.1) mostrado na figura.
A lei de continuidade de fluxo de Bernou-
pAv'3 lli estabelece que a vazão de massa do fluído é
P'=
2 constante ao longo do tubo de vazão. Considere
Onde: que não há fluxo de massa de ar através dos
limites do tubo de vazão e assumindo que a mas-
p= densidade do ar [kg/m³];
sa específica do ar é constante, que é válido
A = área da seção transversal [m²];
para velocidades abaixo de 100 m/s. Assim, te-
v = velocidade do vento [m/s];
mos que:
P = potência do vento [W].

Exemplo 3.1: Qual a potência do vento que


percorre uma turbina que possui 50 m de
tamanho de pá e que está a uma velocidade
de 6,0 m/s? considere uma densidade do ar de
1,225 kg/m3.

Resposta:
Podemos considerar o tamanho da pá como o
raio da circunferência formada pelo movimento
das pás em torno do eixo da turbina eólica.
Portanto, a área desta circunferência é a área da
seção transversal a ser considerada no cálculo
Figura 3.5- Fluxo de ar fluindo através de uma turbina eólica de
da potência e que pode ser calculada por: eixo horizontal. Fonte: Autores.

(3.2)
A = p.r2 = 3,14 x 502 = 7.850 m2
Q=Av=A1 v1=A2 v2
Onde:
Logo, Q = fluxo de massa de ar [m3/s];
v = velocidade do vento na entrada da turbina
(3.1) [m/s];
A = área da seção transversal do tubo de vazão
pAv'3 1,225 x 7.850 x 63 do vento livre antes da turbina [m²];
P'= = = 1.038.555 W
2 2 v1 = velocidade do vento livre antes da turbina
=1,04 MW [m/s]; 1
A1 = área da seção transversal do tubo de vazão
A potência dada pela Eq. (3.1) é a disponí- do ar na entrada do rotor da turbina [m²];
44

v2 = velocidade do vento na saída da turbina [m/s]; Exemplo 3.2: A velocidade do vento medida an-
A2 = área da seção transversal do tubo de vazão tes e após passar por uma turbina eólica é de 8,0
do ar na saída do rotor da turbina [m²]. m/s e 6,0 m/s, respectivamente. Qual a potência
extraída pela turbina neste caso? Considere p e
Ao produzir a energia cinética mecânica A os mesmos do Exemplo 3.1.
por meio do aproveitamento de parte da energia
cinética do vento, a turbina eólica provocará a Resposta: A potência disponível no vento antes
redução da velocidade do vento na saída do ro- da turbina é:
tor, o que resultará no aumento do diâmetro do
tubo de vazões conforme pode ser observado na 1 3 1
Figura 5 e de acordo com a lei de conservação P1= p Av1 = x 1,225 x 7850 x 83= 2.461.760 W
2 2
do fluxo de massa dada pela Eq. (3.2). (3.5)
A potência do vento extraída pela turbina
eólica é a diferença entre a potência do vento A potência disponível no vento após a
na entrada e na saída da turbina eólica, como turbina é:
mostra a Eq. (3.3):
1 3 1
(3.3) P1= p Av2= x 1,225 x 7850 x 63= 1.038.555 W
2 2

P= P1-P2 (3.6)
Onde:
P = potência extraída do vento pela turbina eólica
Logo, a potência extraída pela turbina
[W];
é:
P1 = potência disponível no vento livre antes da
turbina eólica [W];
P2 = potência disponível no vento na saída da
P= P1-P2= 2.461.760-
turbina eólica [W];
1.038.555=1.423.205W=1,42MW
A potência extraída do vento pela turbina
eólica é dada pela Eq. (3.1), por analogia, as po-
tências disponíveis no vento antes e depois da 3.4 LIMITE DE BETZ
turbina, são dadas, respectivamente, pela Eq.
(3.4) e Eq. (3.5): A lei de Betz indica um limite máximo pa-
ra uma potência máxima que pode ser extraída
(3.4) do vento por uma turbina eólica, pois se houver
muita perda na velocidade do vento o ar irá fluir
1
P1= p Av3 em volta da área do rotor da turbina eólica, em
2
vez de atravessá-la. A lei é derivada dos princí-
(3.5) pios de conservação de massa e momento do
fluxo de ar que flui através de um "disco atuador"
1 (a área varrida pelas pás da turbina) idealizado
P 2= p Av32
2 que extrai energia do fluxo de vento, conforme
ilustra a Figura 3.6.
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 45

Assim,
(3.8)

( 32 pAv ) = 27 P =0,593P
16 3
16
Pmáx= 1
27 1 1

Portanto, de acordo com a Eq. (3.8), a lei


de Betz estabelece um limite que nenhuma tur-
bina pode capturar mais de 16/27 (59,3%) da
energia cinética no vento. O fator 16/27 (0,593)
é conhecido como coeficiente de Betz. Turbinas
eólicas práticas em escala útil atingem no máxi-
Figura 3.6- Fluxo de ar fluindo através de disco atuador (a área mo 75% a 80% do limite de Betz.
varrida pelas pás da turbina eólica). Fonte: Autores.

3.5 COEFICIENTE DE POTÊNCIA DE UMA TURBINA


De acordo com a lei de Betz, a velocidade EÓLICA
do vento na saída da turbina eólica não pode ser
inferior a 1/3 da velocidade do vento livre antes Como visto no item anterior, uma turbina
da turbina. Neste caso, o rotor absorve no máxi- eólica ideal pode extrair no máximo 16/27 (59,3
mo a energia equivalente a 2/3 da energia dis- %) da potência disponível no vento. Uma turbina
ponível do vento livre antes da turbina. Ou seja, real somente poderá extrair parte deste valor
para a máxima transferência de potência: máximo, visto que, neste limite teórico não es-
tão consideradas as perdas de potência aero-
(3.7) dinâmicas na conversão da energia eólica.
2 O coeficiente de potência Cp indica a re-
vmáx= v1 llação entre a potência extraída do vento pela
3
turbina eólica e a potência disponível no vento
antes da turbina, dada pela Eq. (3.9):
(3.8)
1
v2máx= v1 (3.9)
3
Pturbina Pturbina
Cp= =
Em termos de potência máxima extraída Pvento 1 pAv3
do vento, temos de acordo com as Eq. (3.1) e (Eq. 2
(3.6):
Onde:
(3.9) v = velocidade do vento [m/s];
Pturbina = potência extraída pela turbina eólica [W];
Pmáx=P1máx-P2máx= ( pA 32 v ) v
1
2 1 1
2
-
1
2 ( pA Pvento = potência disponível no vento [W];
Cp = coeficiente de potência da turbina eólica
v)( v)
2 1 2 [adimensional];
3 1
3 1
46

A = área varrida pelo rotor da turbina [m²]; 0,5 x 1.038.555 = 519.278W= 519 kW
p = massa específica do ar [Kg/m3];
O coeficiente de potência varia de acordo
Exemplo 3.3: Considerando a potência do vento com a velocidade do vento, como mostra o grá-
calculada no exemplo 3.1, qual a potência que fico da Figura 3.7 de uma turbina eólica real. Esta
a turbina está extraindo do vento se para esta variação deve-se ao fato das pás do rotor da
velocidade o coeficiente de potência é de 0,5? turbina alterarem suas eficiências aerodinâmi-
cas em função da variação da velocidade do
Resposta: vento incidente. O ponto de máximo da curva Cp
Considerando, Cp=0,5 e Pvento=1.038.555W, te- x v representa a máxima eficiência da turbina
mos e é obtida em uma determinada velocidade do
vento.
P
Cp= => P=Cp x Pvento=
Pvento

Figura 3.7- Curva do coeficiente de potência de uma turbina eólica. Fonte: Autores, baseado nos dados do aerogerador Enercon E44
– 910kW.

A curva de potência para a mesma turbina permanecerá constante. A conversão de energia


pode ser vista na Fig. 3.8 a seguir, onde podemos se dá a partir de um valor mínimo de velocidade
verificar a variação da potência da turbina com a do vento vp, chamada de velocidade de partida da
velocidade do vento. Observa-se que a potência turbina. A potência da turbina é limitada ao valor
da turbina eólica aumenta praticamente com o nominal Pn à velocidade nominal vn, determinado
cubo da velocidade do vento até que alcance a pela capacidade do gerador elétrico. A partir daí
potência nominal quando, a partir deste ponto, o controle de velocidade da turbina mantém o
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 47

mais constante possível. Na velocidade de cor- 3.6 FORÇAS DE ARRASTO E SUSTENTAÇÃO


te vc, a turbina é retirada de operação com o
objetivo de preservá-la de esforços mecânicos Para compreender como as modernas
muito grandes devidos a velocidades do vento turbinas operam duas forças da aerodinâmica
excessivamente altas. das turbinas serão introduzidas: arrasto e sus-
tentação.

Figura 3.8- Curva de potência de uma turbina eólica. Fonte: Woben, aerogerador E44 – 910kW.

Qualquer objeto imerso em um fluído em de da forma do objeto, sua orientação com re-
movimento, como o vento por exemplo, está su- lação ao fluxo de ar e a velocidade desse fluxo.
jeito a uma força provocada pelo impacto do A força de arrasto em uma turbina eólica é
fluxo de ar sobre ele. Pode-se considerar que a que empurra as pás na mesma direção do fluxo
essa força possui duas componentes agindo em de ar. A força de sustentação experimentada
direção perpendicular uma em relação a outra, pela pá que está perpendicular a direção formada
conhecidas como força de arrasto e força de pelo fluxo de ar.
sustentação. A magnitude dessas forças depen-
48

Figura 3.9- Forças de arrasto e sustentação em uma pá de turbina eólica. Fonte: Autores

(3.10)
A linha tracejada na Figura 3.9, que une
as duas extremidades da pá (borda de fuga e de Fa
Ca=
ataque), comprimento da seção transversal da 1 pAv2
pá, é conhecida como linha de corda. A face ou 2 (3.11)
lado superior é conhecido como zona de pressão
negativa ou sucção e a face inferior como zona Fs
Cs=
de pressão positiva. Na Figura 3.9, a representa 1 pAv2
o ângulo de ataque, formado entre a direção do 2
vento resultante e a linha de referência (linha de
corda).
3.7 PÁS DE UMA TURBINA
As características de sustentação e ar-
rasto das várias formas de aerofólios, para uma
As pás são os componentes que intera-
faixa de ataque, são determinadas por meio de
gem com o vento e são projetados com um
medição realizadas em testes em túnel de vento.
aerofólio para maximizar a eficiência aerodi-
As características de arrasto e sustentação me-
nâmica.
didas e determinadas para cada ângulo de a-
A forma típica de uma lâmina e suas se-
taque do vento podem ser descritas usando os
ções transversais mostram que a lâmina acaba
coeficientes adimensionais de arrasto e sus-
e o ângulo total entre a raiz e a ponta é de cerca
tentação (Ca e Cs) ou a razão entre esses dois
de 25°. A área da seção transversal da lâmina
coeficientes (Cs/Ca). O conhecimento destes é
é bastante grande para obter a alta rigidez ne-
essencial na seleção adequada das seções de
cessária para suportar as cargas mecânicas va-
aerofólio para o projeto das pás de uma turbina
riáveis sob operação normal. De fato, o vento
eólica. Os coeficientes de arrasto e sustentação
exerce uma força instável, tanto pelas flutuações
podem ser calculados de acordo com as Eq.
devido à turbulência, quanto pela maior velo-
(3.10) e (3.11), respectivamente:
cidade em função da altitude. Essas forças são
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 49

o desgaste das pás da turbina eólica. é desejável; assim, seu valor deve ser o menor
Durante a rotação, uma lâmina em posi- possível. Pelo contrário, sustentação é a força
ção alta fica sujeita a uma ação mais forte do que mantém o avião no ar; então, é desejável
vento em comparação com a intensidade do ven- que sua magnitude seja grande.
to em uma posição mais baixa. Finalmente, a É muito importante notar que muitos
força centrífuga devido à rotação exerce tração tamanhos diferentes de aerofólios podem ser
nas diferentes seções da lâmina e o peso da feitos a partir de um perfil de aerofólio. Em
própria lâmina cria um momento de flexão na outras palavras, se os tamanhos relativos de
raiz que se alterna em cada rotação. As lâminas várias partes de um aerofólio forem mantidos os
são feitas de materiais leves, como materiais mesmos, podemos ter muitas escalas diferentes
plásticos reforçados com fibra, que têm boas do mesmo aerofólio. Para todos os tamanhos
propriedades de resistência ao desgaste. diferentes, os coeficientes de sustentação e de
arrasto serão os mesmos, mas as forças de sus-
tentação e de arrasto aumentarão com a área
3.8 AEROFÓLIOS E AERODINÂMICA do aerofólio. Se a área dobra, o mesmo acontece
com a força aerodinâmica; e, assim, as forças de
A importância das forças de sustentação sustentação e de arrasto dobram (sob a mesma
e arrasto é sua contribuição para a ação ativa na temperatura, pressão barométrica e velocidade
operação de uma turbina eólica. Aprendemos na do ar).
seção anterior que a força aerodinâmica depen- A propriedade importante de um aerofó-
de da forma e do tamanho de um objeto e que, se lio é que ele possui valores maiores de força
em qualquer ângulo de ataque, os coeficientes de sustentação e valores menores da força
de sustentação e arrasto são conhecidos, é de arrasto para a maioria dos ângulos de
possível determinar as forças de sustentação ataque que surgem na prática. Essa proprieda-
e arrasto no objeto. de é geralmente representada pelos coeficientes
Em uma turbina eólica, desejamos de ter de sustentação e de arrasto e pela razão de
a potência máxima retirada do vento. Por essa sustentação para arrastar, que é a razão entre
razão, se a turbina funciona com base na força o coeficiente de sustentação e o coeficiente de
de sustentação, pretende-se que a força de arrasto. Com uma placa plana o valor máximo
sustentação seja muito maior do que a força de possível para esta relação pode ser um número
arrasto. Se, por outro lado, uma turbina funciona pequeno, enquanto com aerofólios esta relação
com base na força de arrasto, gostamos que a pode alcançar valores acima de 20.
força de arrasto seja maior que a sustentação. Devido à desejável propriedade aerodi-
Você verá mais tarde que as turbinas que fun- nâmica dos aerofólios, em todas as turbinas para
cionam com base na força de sustentação são as quais a força ativa é “elevar” a estrutura das
mais eficientes e preferidas para aquelas ba- pás tem o perfil de um aerofólio selecionado.
seadas na força de arrasto. Vale a pena mencio- Um bom aerofólio é necessário para ter
nar aqui que os aviões funcionam com base as seguintes propriedades:
na força de sustentação de suas asas. Quan-
do um avião se move, ele se comporta como se • Curvas graduais.
estivesse parado e flui ao redor, como um objeto • Borda de fuga acentuada.
no fluxo de vento. No caso de um avião, a força • Borda de ponta redonda.
de arrasto é oposta ao movimento do avião e não • Baixa espessura para relação de cordas.
50

• Superfícies lisas. 3.9.1 CONTROLE DE PASSO (PITCH)


• Elevada relação de resistência ao ar-
rasto O sistema de controle de inclinação é
uma parte vital da moderna turbina eólica.
Isso ocorre porque o sistema de controle de
3.9 CONTROLE DE POTÊNCIA DE UMA TURBINA inclinação não apenas regula continuamente o
ângulo de inclinação da lâmina da turbina eólica
Os sistemas de controle de turbinas eó- para aumentar a eficiência da conversão de
licas continuam a desempenhar papéis im- energia eólica, mas também serve como sistema
portantes para garantir a operação segura e con- de segurança em caso de altas velocidades do
fiável das turbinas eólicas e para otimizar a cap- vento ou situações de emergência. Exige-se que,
tura de energia eólica. Os principais sistemas mesmo em caso de falha de energia da rede, as
de controle em uma moderna turbina eólica in- pás do rotor ainda possam ser acionadas em
cluem controle de passo, controle por estol suas posições empenadas, usando a energia de
(passivo e ativo), controle de guinada e outros. baterias de reserva ou capacitores ou dispositi-
Todos caraterizados pela variação dos ângulos vos mecânicos de armazenamento de energia.
de ataque (a), ou de passo (b) para manter a As primeiras técnicas de controle ativo de
operação da turbina. Na Figura 3.10, tem-se passo da lâmina aplicaram atuadores hidráulicos
a representação desses ângulos em um perfil para controlar todas as lâminas juntas. No en-
eólico. tanto, essas técnicas de controle de passo co-
letivo não satisfizeram completamente todos
os requisitos de regulação do ângulo de passo
da lâmina, especialmente para turbinas eólicas
MW com o aumento no comprimento da lâmina
e altura do cubo. Isso ocorre porque o vento é
um fluxo altamente turbulento e a velocidade do
vento é proporcional à altura do solo. Portanto,
Figura 3.10- ângulos de passo e de ataque. Fonte: Autores.
cada lâmina experimenta diferentes cargas em
diferentes posições de rotação. Como resultado,
técnicas de controle de passo de lâmina indi-
Sob condições de alta velocidade do ven-
viduais mais avançadas foram desenvolvidas e
to, a saída de energia de uma turbina eólica po-
implementadas, permitindo o controle de car-
de exceder seu valor nominal. Assim, o contro-
gas aerodinâmicas assimétricas nas lâminas, as-
le de potência é necessário para controlar a saída
sim como cargas estruturais na estrutura não
de potência dentro das flutuações permitidas
giratória, como a dobra lateral da torre. Em tal
para evitar danos à turbina e estabilizar a saída
sistema de controle, cada lâmina é equipada com
de energia. Existem duas estratégias principais
seu próprio atuador de passo, sensores e con-
de controle no controle de potência: controle
trolador. Na atual indústria de energia eólica,
de passo (pitch) e controle por estol (stall). O
existem basicamente dois tipos de sistemas de
sistema de controle de energia da turbina eólica
controle de passo de lâmina: sistemas controla-
é usado para controlar a saída de energia dentro
dos por hidráulica e elétricos controlados. O sis-
das flutuações permitidas.
tema de controle de passo hidráulico usa um
atuador hidráulico para impulsionar a lâmina gi-
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 51

rando com direção à sua linha central axial. As


3.9.2 CONTROLE POR ESTOL (STALL)
vantagens mais significativas do sistema de
controle de passo hidráulico incluem seu grande
O controle por estol é um sistema passivo
poder de direção, a falta de uma caixa de câmbio
que reage à velocidade do vento. As pás do rotor
e um robusto poder de reserva. Devido a essas
são fixas em seu ângulo de passo e não podem
vantagens, os sistemas de controle de passo
girar em torno de seu eixo longitudinal. O ângulo
hidráulico historicamente dominaram o controle
de passo é escolhido de forma que, para velo-
de turbinas eólicas na Europa e na América do
cidades de vento superiores a velocidade nomi-
Norte por muitos anos.
nal, o escoamento em torno do perfil da pá do
Os sistemas de controle elétrico de passo
rotor descola da superfície da pá (estol), reduzin-
foram desenvolvidos alternativamente com os
do as forças de sustentação e aumentando as
sistemas hidráulicos. Este tipo de sistema de
forças de arrasto.
controle tem uma eficiência maior do que a dos
Para todas as velocidades do vento supe-
sistemas hidráulicos controlados (que normal-
riores à nominal, o ângulo de ataque é escolhido
mente é inferior a 55%) e evita o risco de poluição
de tal maneira que a turbina produza apenas a
ambiental devido ao fluído hidráulico ser dividido
potência nominal. Sob todas as condições de
ou vazado.
vento, até que a turbina atinja a potência nominal,
Para os aerogeradores que utilizam o con-
o fluxo em torno dos perfis da pá do rotor é bem
trole de velocidade por passo, o cubo, além de
aderente à superfície produzindo sustentação
apresentar os rolamentos para fixação das pás,
aerodinâmica e pequenas forças de arrasto. Para
também acomoda os mecanismos e motores
manter a potência constante, basta alterar o ân-
para o ajuste do ângulo de ataque de todas as
gulo de ataque das pás de forma a produzir o es-
pás, como mostrado na Figura 3.11. O motor se
tol e, dessa forma, a perda de sustentação su-
conecta a uma caixa de engrenagens para dimi-
ficiente para a manutenção da potência trans-
nuir a velocidade do rotor para uma velocidade
ferida pelo rotor.
de controle desejada. Uma engrenagem de
Quando o sistema de controle de potên-
pinhão aciona uma engrenagem de anel interna,
cia e velocidade agrega os controles por estol e
que é fixada rigidamente ao teto da pá do rotor.
de passo, ele é chamado de controle por estol
O uso de motores elétricos pode aumentar a
ativo. Neste caso, o rotor é girado de forma que
taxa de resposta e a sensibilidade do controle de
as pás atinjam uma menor sustentação.
passo da lâmina. Para melhorar a confiabilidade
O controle por estol ativo apresenta as
da operação, foi proposto o uso de sistemas de
seguintes vantagens:
controle de inclinação redundantes para serem
equipados em grandes turbinas eólicas.
a) pequenas mudanças no ângulo de a-
taque para controlar a potência
b) possibilidade de controle de potência
sob condições de potência parcial, nos casos de
ventos de baixa velocidade
c) construção mais simples do que as tur-
binas com controle de passo.

Figura 3.11- Controle de passos de uma turbina eólica. Fonte:


SKF (https://www.kaydonbearings.com/white_papers_16.htm).
52

3.10 FATOR DE CAPACIDADE DE UMA TURBINA da turbina eólica e como funcionam?

Devido à natureza intermitente do vento, 3.7 Na curva de potência da turbina eólica,


as turbinas eólicas não produzem energia o tem- explique o são as velocidades vp, vn, e vc.
po todo. Assim, um fator de capacidade de uma
turbina eólica é usado para fornecer uma me- 3.8 Explique o que significa o fator de ca-
dida da potência real da turbina eólica em um pacidade de uma turbina.
determinado período (por exemplo, um ano) di-
vidido pela sua saída de energia se a turbina PARA PENSAR UM POUCO MAIS...
tiver operado o tempo todo. Um fator de ca-
pacidade razoável seria de 0,25 a 0,30 e um 3.9 Qual o principal motivo para as turbinas
fator de capacidade muito bom estaria em torno de potência elevada em sua maioria serem de
de 0,40. eixo horizontal?
De fato, o fator de capacidade da turbina
eólica é muito sensível à velocidade média do 3.10 Em sua opinião, qual o principal motivo
vento. para a maioria das turbinas de eixo horizontal
serem do tipo upwind?

EXERCÍCIOS 3.11 Existe armazenamento de energia pa-


ra turbinas funcionando no sistema ongrid? Ex-
3.1 Cite três vantagens das turbinas de eixo plique sua resposta.
horizontal e três da vertical.

3.2 Cite as vantagens e desvantagens da 3.12 REFERÊNCIAS DO CAPÍTULO


turbina com caixa de engrenagens com relação
a sem caixa de engrenagens. CUSTÓDIO, Ronaldo dos Santos. O vento. In:
CUSTÓDIO, Ronaldo dos Santos. Energia Eólica
3.3 Qual o limite teórico de extração da po- para Produção de Energia Elétrica. 1. ed. Rio de
tência disponível no vento? Qual o nome dado Janeiro: Eletrobrás, 2009.p 17-39.
a esse limite?
FADIGAS, Eliane A. Faria Amaral. Energia Eólica.
3.4 A velocidade do vento medida antes e a- Barueri, SP: Manole, 2011.
pós passar por uma turbina eólica é de 7,0 m/s
e 5,0 m/s, respectivamente. Qual a potência ex- HEMANE, Ahmad. Wind Turbine Technology.
traída e o coeficiente de potência da turbina nes- Cengage Learning, 2012.
te caso? Considere p = 1,225 kg/m3 e tamanho
da pá de 60 m. PINTO, Milton de Oliveira. O vento. In: PINTO,
Milton de Oliveira. Fundamentos da Energia
3.5 Qual as principais forças que atuam na pá Eólica. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2014.p 47-66.
da turbina e qual é a responsável pelo movimento
circular das pás? Explique sua resposta. PICOLO, Ana Paula; BÜHLER, Alexandre J.;
RAMPINELLI, Giuliano Arns. Uma abordagem
3.6 Quais os tipos de controle de potência sobre a energia eólica como alternativa de
53

ensino de tópicos de física clássica. Caderno


Brasileiro de Ensino de Física, v. 36, n. 4, 2014.

RAMPINELLI, Giuliano Arns. Uma abordagem


sobre a energia eólica como alternativa de en-
sino de tópicos de física clássica. Caderno Bra-
sileiro de Ensino de Física, v. 36, n. 4, 2014.
4.
O AEROGERADOR

“Pense nos seus sonhos e nas suas ideias como a conversão da energia eólica em energia elé-
pequenas máquinas milagrosas dentro de você trica devido aos vastos trabalhos de pesquisa
que ninguém mais pode tocar. Quanto mais fé finalizados e em andamento, associada com o
você deposita nelas, mais altas elas ficam, até aumento anual do uso de energia elétrica em
que um dia elas se erguerão e levarão você complexos industriais e nas expansões das áreas
junto.” (O menino que descobriu o vento) urbanas, direciona este tipo de geração de ener-
gia elétrica para uma das principais alternativas
para a estabilidade do sistema elétrico brasileiro.
4.1 INTRODUÇÃO O equipamento responsável pela trans-
formação da energia do vento em energia me-
Para uma melhor compreensão do fun- cânica rotativa e posterior conversão em energia
cionamento de um aerogerador, primeiramente, elétrica é o aerogerador. Destaca-se o conjunto
precisamos saber que um aerogerador é um e- denominado turbina eólica e o gerador de ener-
quipamento utilizado para converter a energia gia elétrica como sendo os componentes de
cinética do vento em energia elétrica. Essa con- maior destaque. Além destes, há outros com-
versão se dá pela movimentação da turbina, pro- ponentes e subsistemas essenciais para a con-
duzindo energia mecânica que é transmitida ao cepção de um aerogerador, conforme ilustrado
gerador, que por sua vez converte em energia na Figura 4.1.
elétrica. Os aerogeradores têm-se tornado po-
pulares rapidamente por ser uma fonte de ener-
gia renovável e não poluente.
Neste capítulo os estudantes terão co-
nhecimentos: dos principais componentes de
um aerogerador utilizado em fazendas eólicas;
do princípio de funcionamento de geradores e-
létricos e dos principais geradores utilizado em
um aerogerador; de como é adequada a frequê-
ncia da tensão gerada com a frequência da rede
de energia elétrica com o uso de conversores
eletrônicos de frequência; e por fim, o estudante
Figura 4.1- Componentes e subsistemas de um aerogerador de
conhecerá as principais classificações de um
eixo horizontal em detalhes. Fonte: Macedo (2002).
aerogerador segundo a operação de velocidade,
tipos de gerador elétrico e conversor eletrônico
de potência.
Conforme mencionado, há outros com-
O conceito e a necessidade de descen-
ponentes essenciais para a montagem de um
tralização na geração de energia elétrica, deno-
aerogerador, veja ilustração da Figura 4.2. Com
minada geração distribuída, tem motivado as
o intuito de sistematizar o conteúdo descritivo
pesquisas para novas soluções de geração com
desses componentes, na seção seguinte é sub-
ênfase para as energias limpas e renováveis,
dividida em dois temas: o sistema mecânico e
como é o caso da geração de energia elétrica a
estrutural, e o sistema elétrico e de controle.
partir da energia eólica.
A evolução das técnicas utilizadas para
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 55

energia do vento é necessário transmiti-la


mecanicamente para o gerador de energia
elétrica e é exatamente esta a função do sistema
de transmissão. Porém, esta transmissão não é
direta na maioria das aplicações, uma vez que a
maioria dos geradores opera com uma rotação
de 1800 rpm. Deste modo, além da transmissão
este mecanismo também é responsável pela
multiplicação de velocidade no eixo do gerador
de energia elétrica.
• Unidade hidráulica – composta por
bombas e trocadores de calor tem a função de
refrigerar e lubrificar o conjunto de transmissão,
quando acionada pelo sistema de controle.
• Cubo – fabricado com material resistente
e no formato de cubo, é a extremidade frontal
do eixo da turbina. Nele são instaladas as pás.
• Pás – converte a energia cinética do
vento em movimento rotacional através de seu
perfil aerodinâmico apropriado para tal produção
de energia mecânica. Através do controle de
passo a aerodinâmica das pás, em relação ao
vento, pode ser alterada, auxiliando no controle
Figura 4.2- Ilustração dos principais componentes de um
de velocidade.
aerogerador. Fonte: Energia Eólica, Ricardo Aldabó Lopes
• Nacele - estrutura externa para alocação
e proteção dos elementos que constituem o ae-
4.2 COMPONENTES DO AEROGERADOR rogerador, tais como o mecanismo de transmis-
são e seus respectivos eixos de alta e de baixa
4.2.1 SISTEMA MECÂNICO E ESTRUTURAL rotação, o freio, o gerador e o controlador. Em
função da potência do aerogerador, a nacele po-
• Rotor – responsável por captar a energia de ter dimensões que possibilitam acesso de
presente nos ventos e iniciar as transformações pessoas especializadas em seu interior.
de energias (cinética - mecânica - elétrica) com o • Freio – dispositivo de segurança que é
auxílio de outros componentes. Se o rotor for de acionado em condições emergenciais por dis-
eixo horizontal, pode ser também denominado positivos elétricos, mecânicos ou hidráulicos.
de rotor hélice, de pás múltiplas ou holandês. São fabricados com material resistente, como
Caso contrário, o eixo é vertical e, neste caso, o aço, e mantém o aerogerador parado caso não
podem ser denominados como rotor Savonius esteja em operação.
e Darrieus. Atualmente, estima-se que as ve- •Torre – designada para fixação e e-
locidades de operação destes rotores variam levação do aerogerador para uma altitude na
de 15 rpm a 200 rpm. qual a velocidade e força do vento são maiores,
pois estão livres de barreiras.
• Transmissão – após a captação da
56

4.3 SISTEMA ELÉTRICO E DE CONTROLE patibiliza ou ajusta o valor da tensão gerada com
a rede elétrica de conexão do aerogerador e,
• Gerador – atua na conversão da energia neste caso, é aplicado o transformador elevador
mecânica em energia elétrica. Os geradores mais de tensão.
comuns nas aplicações para o aproveitamento
da energia eólica são: a máquina síncrona e a
de rotor bobinado (conhecida como máquina 4.4 GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
duplamente alimentada). No caso de aplicações
isoladas a máquina síncrona (gerador síncrono) é Os geradores são máquinas utilizadas pa-
a mais comum e para aplicações com conexões ra gerar eletricidade a partir da conversão da
na rede elétrica a máquina de indução assíncrona energia mecânica da turbina eólica em energia
(gerador com rotor bobinado) é a mais comum. elétrica. O princípio físico de funcionamento de
• Medidores de vento – constituído de qualquer gerador elétrico (ou máquinas elétricas)
instrumentos que medem a direção e a velocida- é a força eletromotriz produzida pela variação de
de do vento como, por exemplo, o anemômetro um campo magnético, conforme explicado pela
e a biruta. A montagem desses instrumentos é lei de indução de Faraday. Em aerogeradores,
sobre a nacele e além de realimentar o controla- o eixo do gerador elétrico pode ser acoplado
dor tais informações também são utilizadas para diretamente ao rotor do aerogerador ou na saí-
acompanhar o desempenho do aerogerador. da da caixa de engrenagem, caso seja neces-
• Controle – a supervisão de todas as va- sário aumentar a velocidade. Na maioria das tec-
riáveis envolvidas no procedimento de aprovei- nologias é necessário o uso da caixa de trans-
tamento da energia eólica é realizada pelo sis- missão para adequação da velocidade entre o
tema de controle. As leituras das variáveis tais eixo da turbina, que gira em baixa velocidade e
como a carga da bateria, o vento e rotação do o eixo do gerador que necessita de uma rotação
motor são realizadas por sensores específicos. maior. No entanto, as tecnologias baseadas em
Além de simplesmente prevenir o excesso de aerogeradores com geradores síncronos de imãs
velocidade (acima de 29 m/s) e de vibração quan- permanentes podem eliminar a necessidade da
do ocorrem rajadas de ventos muito fortes, os utilização de uma caixa de transmissão, pois per-
controladores atuais têm a capacidade de aper- mite uma construção com maiores números de
feiçoar a operação do aerogerador no que diz polos, e com isso necessita de uma rotação me-
respeito à potência gerada, desgastes, vida útil e nor no seu eixo.
segurança, ao analisar constantemente as con-
dições de operação do aerogerador.
• Orientação (yaw) – atuador responsável 4.4.1 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO
em manter a máxima incidência de vento na fron-
te do cubo. O sistema de controle verifica o senti- O princípio de funcionamento da geração
do do vento e aciona o motor que gira a nacele. de energia elétrica está na interação entre o cam-
Este movimento rotacional, na ausência de con- po magnético variável produzido pelo rotor com
tatos deslizantes, deve ser lento, monitorado as bobinas do estator. Ao girar o rotor do ge-
e limitado para que os cabos de alimentação e rador, a intensidade do campo magnético, que
de sinais não se danifiquem, ou seja, a nacele inicialmente é estacionário, irá variar no tempo
pode ser acionada para girar nos dois sentidos. entre os enrolamentos do estator, que por sua
• Transformador – dispositivo que com- vez induz tensão alternada aos seus terminais.
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 57

O valor dessa tensão depende basicamente o Com rotor bobinado alimentado


do número de espiras das bobinas e do fluxo com tensão alternada;
magnético do campo. A Figura 4.3 apresenta
uma ilustração da ligação das bobinas para ge-
ração das tensões trifásicas que é mais comum 4.4.1.1 GERADOR SÍNCRONO
nos aerogeradores, independentemente do ta-
manho. A construção dos enrolamentos do esta-
tor dos geradores síncrono e de indução são
idênticos, no entanto os seus rotores diferem
entre si tanto na forma geométrica quanto no ti-
po de enrolamento: o rotor do gerador de indução
é cilíndrico com enrolamento polifásico; já o rotor
do gerador síncrono com bobinas de excitação
pode ser de pólos lisos ou de pólos salientes,
conforme ilustrada na Figura 4.4.

Figura 4.3- Ligação das bobinas para geração das tensões


trifásicas. Fonte: Autores

Há duas maneiras de produzir campo


magnético no rotor: aplicando uma tensão de
excitação nas bobinas do rotor, caso o rotor seja
construído por bobinas em conjunto de anéis
coletores e escovas, ou, produzido por conjuntos
de imãs permanentes (o que é mais comum em
geradores de pequeno e médio porte). A produ-
ção de campo magnético com bobinas, é mais Pólos salientes
comum nos geradores de grande potência
Hoje em dia, a conversão da potência mecânica
Figura 4.4- Rotor do gerador síncrono. Pólos lisos. Fonte: Máquinas
da turbina eólica em elétrica é realizada por dois
elétricas e acionamento, Edson Bim
principais tipos de geradores elétricas:

O gerador síncrono produz energia elé-


• Geradores síncrono;
trica nos enrolamentos do estator através de
o Com rotor de imãs permanentes
campo magnético criado pelo rotor através de
o Com rotor de bobinas de exci-
imãs permanentes ou de excitação com corrente
tação alimentado com tensão contínua;
contínua nas bobinas. O nome síncrono é devido
sua velocidade de rotação do eixo ser fixa e
• Geradores assíncronos.
sincronizada com a frequência da tensão de
o Com rotor gaiola de esquilo;
58

alimentação da rede. A frequência em Hz (Hertz) Em um gerador síncrono com ímãs permanentes


da tensão gerada depende do número de pares apresenta uma eficiência maior que as máquinas
de bobinas do estator, normalmente denominado em que o rotor bobinado ou gaiola de esquilo,
por polos “P” e, da velocidade que o rotor do uma vez que a excitação do rotor não é fornecida
gerador “Nr” é submetido. A sua expressão é por nenhuma fonte ou por indução. No entanto,
a seguinte: há algumas desvantagens, como: sua aplicação
(4.1) exigir o uso de um conversor eletrônico de po-
P Nr tência para ajustar a tensão e frequência do ge-
f= rador para a tensão da rede elétrica, pois, isso exi-
2 60
ge gasto adicional; uma máquina a ímã perma-
Onde: nente são mais caras e os matérias magnéticos
P é o número de pólos; são sensíveis à temperatura, o que faz perder
Nr é a velocidade do rotor em RMP. suas qualidades magnéticas a altas temperatu-
ras, assim, a temperatura tem que ser super-
visionada e é necessário um sistema de resfria-
Exemplo 4.1: Abaixo é apresentado uma tabela mento.
exemplificando uma situação em que a rede é Um dos benefícios é que a potência pode
de 60 Hz e a partir de um número de polos qual ser gerada a qualquer velocidade, pelo fato de
a velocidade de operação do gerador. usar o conversor eletrônico de potência, ao ajus-
tar as condições das correntes. Outro benefício
importante é o fato de ser projetado com polos
Resposta: salientes e com elevado números de polos, per-
mitindo assim a operação do gerador em baixa
velocidade, com isso, elimina o uso de caixa de
No
4 8 12 24 48 72 engrenagem.
Polos

Nr
1800 900 600 300 150 100
(rpm) 4.4.1.3 GERADORES SÍNCRONOS COM ROTOR
DE BOBINAS DE EXCITAÇÃO ALIMENTADO COM
TENSÃO CONTÍNUA
Portanto, antes de fazer a conexão à re-
de é necessário gerar uma tensão de mesma O Gerador síncrono possui um estator
amplitude da rede e com mesma frequência. com enrolamento trifásico, denominado enro-
Para isso, como já são conhecidos o número de lamento de armadura. O rotor é construído por
pares de polos e a frequência da rede que o bobinas de excitação e de anéis coletores usados
gerador irá se conectar, é fundamental controlar para permitir a passagem da corrente elétrica
a velocidade do rotor para gerar uma frequência que é fornecida por um excitador polifásico, es-
de sincronismo. se tipo de gerador é muito aplicado em usinas
hidroelétricas.
Pelo fato de controlar a corrente elétrica
4.4.1.2 GERADORES SÍNCRONOS COM ROTOR DE que flui pelo enrolamento do rotor é possível gerar
ÍMÃS PERMANENTES um campo excitador que gira com velocidade
síncrona, permitindo assim um controle do fator
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 59

de potência e com isso não há necessidade de


nenhum sistema de compensação de potência 4.4.1.5 GERADOR ASSÍNCRONO COM ROTOR
reativa, diferentemente do gerador de indução GAIOLA DE ESQUILO
gaiola de esquilo.
O gerador assíncrono ou de indução com
rotor gaiola de esquilo, como também é conheci-
4.4.1.4 GERADOR ASSÍNCRONO do, só produzem energia elétrica quando a ve-
locidade do rotor é mais rápida que a velocidade
Há dois tipos de gerador de indução: síncrona (velocidade do campo girante do es-
tator). Para um gerador típico de quatro polos (dois
• Gaiola de esquilo: o rotor é composto pares de polos no estator) operando em uma re-
de barras de material condutor localizados em de elétrica de 60 Hz, sua velocidade síncrona é
volta do conjunto de chapas do rotor que são de 1800 rotações por minuto. Na operação do
curtos-circuitadas por anéis metálicos nas ex- gerador, uma turbina deve acionar o rotor do
tremidades, Figura 4.5 (a); gerador acima da velocidade síncrona. Nesta
• Rotor bobinado: o rotor é composto de condição, o fluxo do estator induz correntes no
um enrolamento trifásico distribuído em torno rotor, mas como o fluxo de rotor que se opõem
do conjunto de chapas do rotor, Figura 4.5 (b). está cortando as bobinas do estator, uma potên-
cia ativa é produzida nas bobinas do estator, as-
sim se produz energia elétrica enviando à rede
elétrica.
A diferença da velocidade síncrona com
a velocidade do rotor é conhecida como es-
corregamento, que opera numa pequena faixa
negativa entre 0,2 e 0,5% para diferentes po-
tências dos geradores comerciais. A expressão
que estabelecida para o escorregamento é a
seguinte:
(4.2)
Rotor gaiola de esquilo

(ωs-ωN )
f= . 100
ωs
Onde:
ωs: é a velocidade do campo girante em rpm
ωN: é a velocidade de rotação do eixo do rotor
em rpm

A velocidade síncrona do rotor de um ge-


Rotor com enrolamento trifásico bobinado
rador de indução depende da frequência da rede
Figura 4.5- Rotor do gerador de indução. Fonte: Máquinas elétricas
e dos números de polos, dado por:
e acionamento, Edson Bim
60

escorregamento de 1%, qual é sua velocidade


(4.3) síncrona e a velocidade de rotação de operação?
120f
ωN= Resposta
P
Onde: • velocidade síncrona
f : é a frequência da rede em Hz;
P: é o número de par de polos.
f 60
ωN=120 =120x 36 =200rpm
P
A potência gerada pelo gerador é pro-
porcional ao torque de um gerador de indução
que é função da velocidade (escorregamento). • velocidade de rotação de operação
Na Figura 4.6 apresenta esta característica. Ve-
rifica-se que para escorregamento zero o gera- A partir da eq. ( 44 ), obtemos a seguinte
dor não produz torque, só irá produzir em uma equação para determinar a velocidade de rota-
faixa linear de escorregamento que fica entre 0 ção de operação.
e 0,5%. Em grande potência o escorregamento
pode chegar a 1%. Uma característica impor-
tante a eficiência elétrica ser em função do es- s(%)ωS
corregamento. ωN=ωS - =198rpm
100

4.4.1.6 GERADOR ASSÍNCRONO COM ROTOR
BOBINADO

A estrutura desse gerador como ilustrada


na Figura 4.7 consiste em enrolamento trifásicos
tanto no estator como no rotor, e pelo fato de
aplicarmos tensão em ambos os enrolamentos
o gerador é conhecido como gerador de indução
duplamente alimentado. O fato da corrente e
frequência do rotor serem controladas possibilita
a operação como gerador nas velocidades abaixo
da síncrona, acima da síncrona e na velocidade
síncrona, diferentemente do gerador de indu-
ção gaiola de esquilo que a operação é apenas na
velocidade acima da síncrona. Além dessa van-
Figura 4.6- Rotor do gerador de indução. Fonte: Autores
tagem, o uso do gerador de indução duplamente
alimentado vem ganhando espaço em aplicação
em turbinas de velocidade variável, pelo fato da
Exemplo 4.2: Sabendo que a frequência da ten-
alimentação nas bobinas do rotor amplia pos-
são gerada de um gerador elétrico assíncrono
sibilidade do controle das potências ativa e do
gaiola de esquilo é de 60 Hz e o número de pares
fator de potência.
de polos de bobinas do estator é 36 opera com
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 61

conversores:

Figura 4.7- Gerador assíncrono com rotor bobinado. Fonte: Autores

4.4.1.7 CONDICIONAMENTO DE POTÊNCIA Figura 4.8- Tarefas realizada pelos conversores Fonte: Autores

Devido ao aumento das turbinas eólicas Os conversores eletrônicos de potência


de velocidade variável instalada em sistemas de possuem dispositivos semicondutores que fun-
distribuição de energia elétrica, surgiu várias cionam em comutação, ou seja, se estiver al-
tecnologias de conversores eletrônicos de po- ternadamente em cada um dos dois estados:
tências para melhorar a eficiência e o controle do estado de condução (ON, ou estado ligado) ou;
fluxo de energia do gerador para a rede de ener- estado de corte (OFF, ou estado desligado). A
gia elétrica. Como a frequência elétrica da tensão comutação pode ser controlada ou não: são con-
gerada varia com a rotação do gerador elétrico, troladas caso os dispositivos sejam os tiristores,
na qual varia com a rotação da turbina eólica que transistores bipolares IGBTs etc.; não controlada
por sua vez com a velocidade do vento. Assim, é caso do diodo.
preciso adequar a frequência da tensão gerada
com a frequência da rede de energia elétrica.
Tornando, necessário um controle da frequência 4.5 CLASSIFICAÇÃO DOS AEROGERADORES
elétrica. Além disso, como é possível o controle
Os aerogeradores podem ser classifica-
da amplitude da tensão/corrente de saída e do
dos em dois tipos segundo sua operação de
fator de potência, controla-se essas variáveis
velocidade -- turbina de velocidade fixa e ve-
para melhorar a performance e eficiência do ae-
locidade variável -- e subdivididas nos tipos do
rogerador. Para esta finalidade mencionada, vá-
gerador elétrico apresentado, e também, no ta-
rias configurações de conversores de potência
manho associado aos conversores eletrônicos
foram desenvolvidas por fabricantes de turbinas
de potências -- conversores operando com po-
eólicas e suas empresas de suporte de conversão
tência total ou parcial do gerador --, abaixo são
de energia. A classificação de conversores de
apresentados os principais conceitos existentes
potência de última geração é de um assunto
atualmente no mercado:
complexo e não é possível classificar todos
os conversores baseados em um parâmetro/
• Aerogeradores de velocidade fixa, com:
operação. Para diferentes aplicações necessitam
I. Gerador de indução sem con-
de diferentes configurações de conversores,
versor eletrônico de potência;
a Figura 4.8 ilustra as tarefas realizada pelos
• Aerogeradores de velocidade variável,
62

com: da rede e seu número de polos. Portanto, a


II. Gerador síncrono de excitação velocidade do eixo da turbina é mantida fixa,
na bobina com conversor eletrônico de potência podendo variar estreitamente na faixa de es-
operando com a potência total do gerador; corregamento da região linear de torque da
III. Gerador síncrono de imã per- máquina de indução.
manentes com conversor eletrônico de potência Em operação de velocidade fixa ocorre
operando com a potência total do gerador; uma perda de eficiência durante o funcionamento
IV. Gerador de indução gaiola de da turbina nas diferentes velocidades do vento
esquilo com conversor eletrônico de potência além de surgimento de oscilações de conjugados
operando com a potência total do gerador; que causa estresse mecânico em todo o sistema
V. Gerador de indução duplamen- e problemas de qualidade de energia. No entanto,
te alimentado com conversor eletrônico de po esse tipo de aerogerador possui vantagens por
tência operando com a potência parcial do ge- possuir baixo custo e ser relativamente robusto.
rador;

4.5.1.1 AEROGERADORES DE VELOCIDADE VA-


4.5.1 AEROGERADORES DE VELOCIDADE FIXA RIÁVEL

Este tipo de turbina se baseia no conceito As turbinas de velocidade variável hoje em


inicial dinamarquês que operava a turbina em dia são os mais utilizados e representam a grande
velocidade fixa, sendo esta a mais antiga. Sua maioria no mercado. Esse tipo de turbina utiliza,
construção, utiliza-se uma caixa de transmissão predominantemente, geradores síncrono ou as-
acoplada a um gerador de indução em gaiola síncrono, já que permite projetos para operar
de esquilo conectado diretamente a rede de com a máxima eficiência em função de uma fai-
energia elétrica através de um transformador, xa ampla de variação da velocidade do vento.
como ilustrado na Figura 4.9. A conexão direta Assim, é possível um aproveitamento da energia
do gerador à rede elétrica é fixada a velocidade gerada em cerca de 20% a 30% a mais, quando
do gerador que é determinada pela frequência comparada com turbina de velocidade fixa. Por-
tanto, as vantagens das turbinas eólicas pro-
jetadas com o conceito de velocidade variável
são:
• Minimização dos estresses mecânicos
causados pelas variações de velocidades do
vento, pois são absorvidos pela inércia mecânica
da turbina;
• Maior eficiência na extração da potência
do vento, proporcionado pelo ajuste contínuo
da velocidade rotacional da turbina;
• Possibilidade de operar em baixas velo-
cidades, o que reduz o nível de ruídos acústicos.

Figura 4.9-Turbina em velocidade fixa. Fonte: Autores


FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 63

4.5.1.2 GERADOR SÍNCRONO DE EXCITAÇÃO NA 4.5.1.3 GERADOR SÍNCRONO DE IMÃ PERMANEN-


BOBINA COM CONVERSOR ELETRÔNICO DE PO- TES COM CONVERSOR ELETRÔNICO DE POTÊNCIA
TÊNCIA OPERANDO COM A POTÊNCIA TOTAL DO OPERANDO COM A POTÊNCIA TOTAL DO GERADOR
GERADOR
O Gerador Síncrono a imãs Permanentes,
Nessa classificação, o gerador é conec- é conectado à rede elétrica através de um con-
tado à rede elétrica através de um conversor versor eletrônico de potência CA-CC-CA utili-
eletrônico de potência CA-CC-CA e também de zando sistemas de controles avançados, con-
uma excitatriz por conversor CA-CC controlado forme apresentado na Figura 4.11. Este tipo de
que permite o controle do fator de potência, sua gerador, por poder ser projetado com elevados
topologia é ilustrada na Figura 4.10. números de polos, que permite a conexão do
eixo da turbina diretamente ao gerador síncrono,
evitando, assim, o uso da transmissão de caixas
de engrenagens, minimizando assim problemas
e manutenção de origem mecânicas.

Figura 4.10- Gerador síncrono de excitação na bobina com


conversor eletrônico de potência operando com a potência total
do gerador. Fonte: Autores

Figura 4.11 – Gerador síncrono de imã permanentes com conversor


Esse tipo de gerador também permite eletrônico de potência operando com a potência total do gerador
ser projetado com grandes números de polos, . Fonte: Autores
evitando assim o uso de caixas de engrenagens.
No entanto, com o aumento do tamanho da tur-
bina, a dimensão de sua dimensão e estrutura
de montagem aumenta consideravelmente, a- 4.5.1.4 GERADOR DE INDUÇÃO GAIOLA DE ESQUI-
lém disso há necessidade da manutenção dos LO COM CONVERSOR ELETRÔNICO DE POTÊNCIA
anéis e escovas coletoras, o que caracteriza uma OPERANDO COM A POTÊNCIA TOTAL DO GERADOR
desvantagem em relação aos geradores pro-
jetados com menos números de polos e sem Como nos Gerador Síncrono a imãs Per-
excitação no rotor. manentes, o gerador de indução é conectado à
rede elétrica através de um conversor eletrônico
64

de potência CA-CC-CA utilizando sistemas de alimentados por um conversor de potência bidi-


controles avançados. O gerador de indução tem recional (normalmente usa um conversor back-
como vantagem com relação aos anteriores, to-back) que é projetado para suportar aproxi-
de ser mais robusto e de baixo custo pois não madamente ± 30% da potência nominal da má-
necessita de excitação de campo devido a pro- quina. Assim o custo do conversor torna baixo
dução do campo do rotor ser por indução. A Fi- comparado aos sistemas onde o conversor tem
gura 4.12 apresenta sua configuração. que suportar a potência total da máquina. A Fig.
4.13 apresenta sua configuração.

Figura 4.12 – Gerador indução gaiola de esquilo com con- versor


eletrônico de potência operando com a potência total do gerador.
Figura 4.13- Gerador de indução duplamente alimentado com
Fonte: Autores
conversor eletrônico de potência operando com a potência parcial
do gerador. Fonte: Autores

4.5.1.5 GERADOR DE INDUÇÃO DUPLAMENTE A-


LIMENTADO COM CONVERSOR ELETRÔNICO DE
4.6 RESUMO DAS CLASSIFICAÇÕES DE AERO-
POTÊNCIA OPERANDO COM A POTÊNCIA PARCIAL
DO GERADOR GERADORES

As principais vantagens e desvantagens


O Gerador de indução duplamente ali-
dos cincos conceitos apresentado neste tópi-
mentado tem se tornado um dos geradores
co, são resumidas na Tabela a seguir:
mais utilizado no mercado em aplicações de
turbina eólica de grande potência por operar
com velocidade variável e por possibilitar o con-
trole das potências ativa e reativa do estator
a partir de uma pequena potência no circuito
de rotor. Nesta configuração, os enrolamentos
do estator são conectados diretamente à rede
trifásica enquanto os enrolamentos de rotor são
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 65

Conceito Vantagens Desvantagens

- Baixo aproveitamento de
energia;
- Fácil de projetar; - Sem controle das potências ativa
- Operação robusta; e reativa;
I
- Baixo custo. - Alto stresse mecânico;
- Alta perda mecânica nas
engrenagens.

- Elevado custo do material


-Apresenta o melhor rendimento
magnético;
de todas as tecnologias;
- Desmagnetização do ímã
-Controle das potências ativa e
permanente com o tempo;
reativa;
- Processo complexo de
II - Ausência de escovas/
construção;
enrolamento no rotor;
- Maior custo e perdas dos
-Sem caixa de engrenagem;
conversores de potência;
-Baixo estresse mecânico;

- Maior custo do enrolamento do


cobre;
-Alto rendimento de energia; -Maior custo e perdas dos
-Controle das potências ativa e conversores de potência;
reativa; -Manutenção dos anéis e escovas
III
- Sem caixa de engrenagem; dos enrolamentos do rotor;
-Baixo estresse mecânico; - Maior custo e perdas dos
conversores de potência;
-Tamanho grande do gerador.

-Alto rendimento de energia;


-Maior custo e perdas dos
-Controle das potências ativa e
conversores de potência;
reativa;
IV -Alta perda mecânica nas
-Operação robusta;
engrenagens.
- Baixo estresse mecânico;

V -Alto rendimento de energia; - Maior custo do enrolamento do


-Controle das potências ativa e cobre;
reativa; -Manutenção dos anéis e escovas
-Baixo custo dos conversores de dos enrolamentos do rotor;
potência; - Alta perda mecânica nas
-Baixa perda nos conversores de engrenagens.
potência; -Tamanho grande do gerador.
-Menos estresse mecânico;

Tabela 4.1- Vantagens e desvantagens dos principais conceitos de aerogerador existente no mercado.
66

EXERCÍCIOS ração de velocidade.


4.12 Cite os principais conceitos existentes a-
4.1 O aerogerador é um equipamento para tualmente no mercado de aerogeradores, se-
qual finalidade? Quais os seus componentes de gundo a operação de velocidade, geradores elé-
maior destaque? tricos e conversores eletrônicos de potência.
Para pensar um pouco mais...
4.2 Descreva os componentes e subsiste-
mas essenciais para a concepção de um aero- 4.13 Sabendo que a frequência da tensão ge-
gerador? rada de um gerador elétrico de indução gaiola
de esquilo é de 60 Hz e o número de pares de
4.3 Descreva qual a utilidade de um gerador polos de bobinas do estator é 72, operando com
elétrico? No aerogerador, onde é acoplado o escorregamento de 0,5%, determine qual a ve-
gerador elétrico? locidade de operação.

4.4 Qual a funcionalidade da caixa de engre- 4.14 O objetivo do aerogerador é converter a


nagem? energia mecânica do vento em energia elétrica.
Neste exercício, vai estudar-se o gerador assín-
4.5 Quais são os dois principais tipos de ge- crono de um aerogerador instalado no seio de
radores elétricos? um parque eólico de 7,5 MW de potência total.
Os aerogeradores funcionam a velocidade cons-
4.6 Qual a velocidade de operação do gera- tante, o gerador está lidado à rede. Vai deter-
dor elétrico do exercício anterior, caso a quanti- minar-se a potência, a velocidade de rotação
dade de números de pares de polos de uma do gerador e o seu esquema equivalente. Os
bobina mude de 72 para 4. aerogeradores estão equipados com multipli-
cadores. Calcular a potência elétrica à saída do
4.7 Descreve as vantagens e desvantagens gerador e a velocidade de rotação do gerador,
do gerador síncrono com rotor de imãs perma- sabendo que o multiplicador utilizado tem uma
nente em relação ao gerador de indução gaiola relação de 46,48 e um rendimento de 96% e que
de esquilo. as pás da turbina rodam a 32,5 rpm. As perdas
associadas ao gerador são desprezáveis.
4.8 Como é conhecida a diferença da velo-
cidade síncrona com a velocidade do rotor? Admitem-se os seguintes dados:

4.9 Qual é a faixa de escorregamento que V = 15 m/s, velocidade nominal do vento, admitida
um gerador de indução gaiola de esquilo produz constante
torque/potência? N = 32,8 rpm, velocidade nominal da turbina do
aerogerador
4.10 Qual a necessidade da utilização de con- p=1,225 kg/m^3, densidade do ar
versores eletrônicos de potências? Cite quais Cp = 0,27, coeficiente aerodinâmico
as configurações de conversores. R = 21,7 m, raio das pás

4.11 Cite os tipos de turbina eólica para clas-


sificação de aerogeradores, segundo sua ope-
FUNDAMENTOS DE ENERGIA EÓLICA 67

4.8 REFERÊNCIAS DO CAPÍTULO

BIM, Edson. Máquinas elétricas e acionamento.


3. ed. Elsevier – Campus, 2014.

HEMANE, Ahmad. Wind Turbine Technology.


Cengage Learning, 2012.

PINTO, M. O. Fundamentos de Energia Eólica.


1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. p. 47-66.

TOMÁS, Perales Benito. Práticas de Energia


Eólica. Editora Publindústria, 2010.

Você também pode gostar