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GAZETA

de
MATEMÁTICA
UM INSTRUMENTO DE T R A B A L H O E UM GUIA PARA
ESTUDANTES DE MATEMÁTICA

Setembro de 1990 N 0
137
GAZETA DE MATEMÁTICA
B O L E T I M D E ENCOMENDA / A S S I N A T U R A
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SOCIEDADE PORTUGUESA DE MATEMÁTICA


Av. da República, 37-4.° —1000 LISBOA - PORTUGAL — Telefone 77 32 51
SPM — pagamento de quotas / mudança de morada / inscrição de novo sócio

N.° Sócio: (excepto para novos sócios)


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Quota para o ano de 1990: 1200$ (membros efectivos)
600$ (membros estudantes)
600$ (acordos de reciprocidade)
Pagamento por cheque n.° -. / vale postal n.°
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JORNAL DE MATHEMATICA ELEMENTAR


Rua António Saúde, n.° 16, 4° E . Publicação mensal
1500 LISBOA Director: Sérgio Macias Marques (em A com 16 páginas)
4

CAMPANHA DE ANGARIAÇÃO DE UM NOVO ASSINANTE/ESCOLA,


PARA CONSEGUIR MAIS 500 NOVOS ASSINANTES
(Preencha e devolva s. f. f.)
B O L E T I M D E ASSINATURA
Desejo ser Assinante do J.M.E., sequência a decorrer,
190 a 99 I (15/09/1989 a 15/06/1990) por 950$ = 800$ + 150$ (pdc)(i)
C)
95 a 99 I (15/02/1990 a 15/06/1990) por 500$ = 400$ + 100$ (pdc)O)
(») Risque a situação NÃO pretendida.
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a mesma do C P . )
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• cheque
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• vale de correio
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(*) Se é ESTUDANTE, NAO paga os 150Î ou os 100» (dc).
G A Z E T A D E M A T E M Á T I C A
E D I T O R — Gazeta de Matemática D I R E C T O R — J. Gaspar Teixeira
S E D E : Av. da República, 37, 4^ , 1000 L I S B O A - P O R T U G A L
R E V I S T A F U N D A D A E M 1940

UM INSTRUMENTO DE TRABALHO E UM GUIA


PARA ESTUDANTES DE MATEMÁTICA

REDACTORES E COLABORADORES D E S T E NÚMERO:

Luís de A L B U Q U E R Q U E , Paulo A L M E I D A , António S t . A U B Y N ,


Jaime C A M P O S F E R R E I R A , Ana Luísa C O R R E I A , Fernando C O S T A ,
José Luís F A C H A D A , José Manuel F E R R E I R A , Manuela Neves F I G U E I R E D O ,
Afonso F L O R E N T I N O , Augusto F R A N C O D E O L I V E I R A , Pedro F R E I T A S ,
Sérgio M A C I A S M A R Q U E S , António M A R Q U E S FERNANDES,
José M A R Q U E S H E N R I Q U E S , Eduardo M A R Q U E S D E S Á , José M O R G A D O ,
Jorge Nuno O L I V E I R A E S I L V A , E r n â n i P I N T O BASTO,
Maria Edite do R O S Á R I O , José S O U S A R A M O S , José Gaspar T E I X E I R A .
ASSINE, D I V U L G U E E C O L A B O R E !

A P U L B L I C A Ç Ã O D E S T E N Ú M E R O D A GAZETA DE MATEMÁTICA
foi subsidiada pela FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN

F I C H A D A G A Z E T A D E MATEMÁTICA:
• Registo na Direcção-Geral da Comunicação Social n." 113443
• Composição e processamento de texto: Carlos Perpétuo, no Centro de Informática do Instituto Superior de Agronomia
• Capa de Jorge Estrela
• Impressão: Soe. Ind. Gráfica Telles da Silva, Lda., Lisboa
• Distribuição: Gradiva - Publicações, Lda., Rua de Almeida e Sousa, 21 r/c Esq. - Tel. 67 4067/8 - 1300 LISBOA
• Tiragem: 1000 exemplares
• Depositário: Sociedade Portuguesa de Matemática, Av. da República, 37-4." - 1000 L I S B O A Portugal
• Depósito Legal n." 36918/90

Toda a colaboração para publicação nesta revista deve ser enviada dactilografada e em duas cópias.
A G.M. fornece separatas dos artigos publicados, mediante acordo prévio entre o Autor e a Redacção.
SUMÁRIO

À guisa de e x p l i c a ç ã o . . .
por José Gaspar Teixeira

P a r a a H i s t ó r i a da Á l g e b r a em Portugal - I
por José Morgado

Sobre a obra l ó g i c a de J o s é S e b a s t i ã o e Silva


por António Marques Fernandes

q
PONTOS DE E X A M E - 12 Ano de Escolaridade, Análise Matemática I,

Algoritmos, Estatística Experimental

PROBLEMAS

MATEMÁTICA EXPERIMENTAL

MATEMÁTICA E JOGOS

CRÍTICA DE LIVROS

BOLETIM BIBLIOGRÁFICO

ANTOLOGIA

MOVIMENTO CIENTÍFICO

DOCUMENTOS

G A Z E T A DE M A T E M Á T I C A
E D I T O R — Gazeta de Matemática D I R E C T O R — J. Gaspar Teixeira
9
S E D E : Av. da República, 37, 4 , 1000 L I S B O A - P O R T U G A L
à guisa de e x p l i c a ç ã o . . .
por José Gaspar Teixeira

A Gazeta, de Matemática volta a toria da Universidade Técnica de Lisboa,


publicar-se! onde encontrámos a boa vontade de todo
o pessoal, pelo que manifestamos publica-
Depois de 14 anos de ausência, a men- mente o nosso profundo reconh«cimento.
sagem que a Gazeta veiculou no passado A Gazeta de Matemática nasceu da ini-
e que então foi por muitos apreciada, é re- ciativa de pessoas esclarecidas da "geração
conhecida como necessária no presente. científica dos anos 40, em Portugal", mais
O sentido social aliado à preocupação ligadas à matemática e à física.
do esclarecimento científico, firmaram-se A plêiade promotora do lançamento da
na identidade da revista; fiel a esses revista pode resumir-se em António Mon-
propósitos, ela procurará continuar a teiro, Bento Caraça, Hugo Ribeiro, Silva
ser "um instrumento de trabalho e um Paulo, Zaluar Nunes, a quem se deve um
guia para os estudantes de matemática", grande esforço para levar às Universidades
tal como se apresentou no seu primeiro portuguesas um Ensino Superior quando
número de Janeiro de 1940. nelas proliferava "um Ensino Secundário
No último fascículo impresso da Gazeta sobre matérias do Ensino Superior", como
9
de Matemática — n 133-136, em 1975- recordava Pedro José da Cunha, primeiro
-76 — são expostas as razões para a Presidente da Sociedade Portuguesa de
sua interrupção, com um texto intitu- Matemática (S.P.M.). Esta, foi fun-
lado "A guisa de explicação..." , seguido da dada na sala de Cálculo da Faculdade de
transcrição de cinco documentos comple- Ciências da Universidade de Lisboa, aos
mentares. Num período difícil que então doze dias do mês de Dezembro de m i l
decorreu tivemos o apoio logístico da Rei- novecentos e quarenta.
2 GAZETA DE MATEMÁTICA

Ao completar meio século de existência vista, ligados à fundação da Sociedade


da Gazeta de Matemática, daqui apelamos Portuguesa de Matemática e que feliz-
ao testemunho de colaboradores da re- mente se encontram entre nós:
9
Augusto Macedo Sá da Costa (Sócio fundador da S.P.M. n 7)
José Ribeiro de Albuquerque . ... ( .. n°47)
Luís Guilherme Mendonça de Albuquerque ( » n°49)
Maria Pilar Baptista Ribeiro , ... ( » n° 5)
Pedro de Varennes Monteiro e Mendonça . ( » n^30)

Presentes na nossa memória estão to- quais, inesquecíveis, nos deixa uma pro-
dos os colaboradores ao mesmo tempo funda saudade:
sócios fundadores da S.P.M., a maioria dos

12)
n2 125)
38)
136)
n? 59)
121)
66)
96)
n° 60)
Hugo Baptista Ribeiro n°- 13)
102)
n e 14)
9
n 62)
José Sebastião e Silva 10)
9
n 115)
n? 104)
nS 133)
8)
n°- 98)
nS 48)

É justo recordar ainda António Dias, A todos é devida a mais profunda e sin-
chefe da Tipografia Matemática, amigo cera gratidão,
dedicado da Gazeta de Matemática e
apoiante de muitas outras publicações. José Gaspar Teixeira
(Sócio fundador da S.P.M. n? 124)
P a r a a H i s t ó r i a da Á l g e b r a
em Portugal: I
por José Morgado

Há razões para crer que o primeiro livro de Aritmética Impresso em Portugal [1],
de Matemática editado em Portugal tenha incluído no trabalho Para a História da
sido o Tratado da Pratica Darysmetica, Ciência em Portugal.
de Gaspar Nicolas, escrito em língua por- A propósito da utilização de alguns
tuguesa e acabado de imprimir em 15 problemas de Frei Lucas, Gomes Teixeira,
de Novembro de 1519, por "Germã Ga- na sua História das Matemáticas em Por-
lharde". tugal ([4], p. 99), lamenta que Nicolas não
Trata-se de um manual de Aritmética tivesse extraído da obra de Frei Lucas a
prática, que começa por alguns capítulos parte relativa à Álgebra, a fim de a tornar
sobre as regras para somar, subtrair, conhecida em Portugal.
multiplicar e dividir números inteiros O livro de Frei Lucas e o de Gas-
e números fraccionários, para extrair par Nicolas influenciaram o aparecimento,
raízes quadradas de inteiros e para somar em 1541, e reedição em 1555, do livro
progressões. Enuncia, em seguida, vários
problemas de que fornece soluções. Utiliza
as regras de três, a regra da falsa posição, José Morgado e a
G a z e t a de M a t e m á t i c a
a regra de liga e outras.
As soluções dos problemas não são de- A Gazeta de Matemática congratula-se par-
duzidas: são indicadas, são verificadas, ticularmente por contar com a valiosa colabo-
mas não se explica o modo como foram ração do Professor José Morgado da Faculdade
encontradas. de Ciências da Universidade do Porto, através
da publicação do texto que constitui a sua in-
Alguns dos problemas foram colhidos tervenção na Escola de Outono em História da
nas obras de Frei Lucas Pacioli, nomeada- Matemática (Novembro de 1988).
mente na Summa de Aritmética, Geome- Durante cerca de vinte anos, José Morgado
tria, Proportioni et Proportionalita, obra foi redactor da Gazeta de Matemática e apesar
de ter sido forçadamente afastado do seu País
editada em Veneza no ano de 1494.
por quase quinze anos, até ao 25 de Abril, foi
Para um conhecimento mais completo vigoroso suporte desta revista no estrangeiro.
do conteúdo do Tratado de Nicolas, é
conveniente 1er o artigo de Luís de A l - A Redacção da
Gazeta de Matemática
buquerque, intitulado O Primeiro Livro
4 GAZETA DE MATEMÁTICA

do aritmético português Bento Fernandes, Foi esta a última obra que Pedro Nunes
Tratado da Arte de Arismetica, para uso publicou, quando j á eram decorridos cinco
dos mercadores. Este livro compreende, anos depois da sua jubilação como cate-
além do essencial do conteúdo do livro de drático da cadeira de Matemática da Uni-
Nicolas necessário aos mercadores, a parte versidade de Coimbra. Dedicou esta obra
do livro de Frei Lucas respeitante à reso- ao Cardeal D. Henrique, que então era re-
9 e
lução das equações do l e do 2 graus. gente do Reino e havia sido seu aluno. Na
O livro de Nicolas, com os seus pro- dedicatória, datada de 1 de Dezembro de
blemas de utilidade imediata e outros 1564, diz que o primeiro livro de Álgebra
que põem em relevo propriedades curiosas que se imprimiu foi o de Frei Lucas, mas,
dos números, despertou grande interesse, em sua opinião, "tão obscuramente e t ã o
como o provam as várias edições que teve sem método" que, sessenta anos depois
durante 200 anos, embora, nesse período, da impressão, ainda muito poucos em Es-
outros manuais de Aritmética tivessem panha "têm notícia de Álgebra". Informa
sido publicados ([2], pp. 149-150). De também que o seu Libro de Algebra havia
facto, além da edição de 1519, teve outras sido escrito há perto de 30 anos, em língua
em 1530, 1541, 1573, 1594, 1613, 1716 ([4], portuguesa; mas, ocupado, como esteve,
p. 99). noutros estudos muito diferentes, retar-
dou a sua publicação. Atendendo a que
a língua castelhana é mais conhecida, re-
solveu publicá-lo em castelhano. A dedi-
catória, porém, foi deixada em língua por-
tuguesa.

O 'Libro de Algebra' de Pedro Nunes

Tanto Gomes Teixeira, na sua História


das Matemáticas em Portugal, como
Garção Stockier no seu Ensaio Histórico
sobre a Origem e Progressos das Mathe-
maticas em Portugal, manifestaram es-
tranheza por a publicação ter sido feita
em língua castelhana.
Assim, Gomes Teixeira perguntou ([4],
p. 168):

Mas a parte de Álgebra da obra de "Que motivo levaria o nosso ma-


Frei Lucas viria a ser incluída, ampliada e temático a oferecer esta jóia científica
melhorada, no tratado de Álgebra de Pe- à Espanha, publicando-a em língua
dro Nunes, intitulado Libro de Algebra en castelhana?
Arithmetica y Geometria [6], imprésso em Não se sabe e não vale a pena apre-
Antuérpia, em 1567. sentar hipóteses".
Para a História da Álgebra em Portugal: I 5

Mas, apesar disso, sempre lançou uma Acredita que Pedro Nunes quis acima
hipótese, nos seguintes termos: de tudo que a sua obra se divulgasse em
"Notemos apenas a este respeito Espanha e acha muito verosímil que o
que o livro foi publicado na Flandres, amor próprio de Pedro Nunes se tenha
que naqueles tempos estava em poder revoltado contra a petulância do alemão
dos castelhanos, e que o editor poderia domiciliado em Espanha, Marco Aurel,
ter imposto a condição de ser impresso manifestada no proémio do seu livro
em língua espanhola para ser ali mais Arithmetica Algebratica publicado em
facilmente acolhido". 1552, pelas seguintes palavras:
Garção Stockier, por seu lado, marcou "Considerando, amado leitor, a
a sua estranheza por estas palavras ([7], grande falta que nestes Reinos de Es-
pp. 37-38): panha há, da ciência Matemática, por
"... ou fosse pelo motivo que ele ser ela t ã o necessária aos sábios ver-
mesmo declara na sua Dedicatória ao dadeiros, atrevi-me a escrever esta
Cardeal Infante Dom Henrique, para obra; [...] Assim, por ser coisa nova o
que pudesse aproveitar o maior número que trato, jamais vista nem declarada
de leitores, ou por efeito daquele [...], atrevi-me a tratá-la e escrevê-la
geral pressentimento das futuras con- em língua que tanto repugna à minha" .
sequências da insidiosa política de Fe- Embora Joaquim de Carvalho declare
lipe I I de Espanha, que determinou não haver qualquer indício extrínseco de
naquele tempo tantos homens de letras que Pedro Nunes tenha conhecido sequer
portugueses a escrever as suas obras na o livro de Marco Aurel, admite que o
linguagem de nossos vizinhos, como se silêncio de Pedro Nunes acerca desse livro
de nós não fizessem caso, ou nos fôsse seja filho do desprezo e a hipótese de que o
mais fácil entender o idioma dos Caste- livro de Aurel lhe causou indignação con-
lhanos do que a eles o nosso". corre, em sua opinião, para explicar não só
E, lembrando declarações feitas por a tradução que fez do seu Libro de Alge-
Pedro Nunes na dedicatória, acrescentou: bra para castelhano, como ainda a emoção
"Custa, porém, a conciliar tanto que transparece de alguns passos da dedi-
zelo pelo progresso deste ramo das catória e do aditamento com que termina
matemáticas na Espanha com o a sua Álgebra ([8], pp. 428-430).
silêncio em que esteve sepultada esta
obra por mais de trinta anos". Para Pedro Nunes, o objectivo da
Joaquim de Carvalho pretende explicar Álgebra é determinar incógnitas por in-
a publicação em castelhano, dizendo que, termédio da resolução de equações, como
com a preferência pelo castelhano, Pedro se conclui das afirmações com que abre o
Nunes obedecia a propósitos de confrater- primeiro capítulo do seu trabalho:
nidade científica peninsular, dado que era "Nesta Arte de Algebra o f i m que
a fala "mais comum" entre as gentes se pretende é manifestar a quantidade
hispânicas, além de que, nesse tempo, o ignota. O meio de que usamos para
bilinguismo estava na moda. alcançar este fim, é igualdade".
6 GAZETA DE MATEMÁTICA

A própria dedicatória ao Cardeal D. Como se vê, Pedro Nunes teve a pre-


Henrique começa assim: ocupação pedagógica de motivar o estudo
"De todos os livros que nas Ciências das demonstrações.
Matemáticas tenho composto [...], ne- A Álgebra não constituía, nesse tempo,
nhum é de tanto proveito como este de uma disciplina autónoma com respeito à
Álgebra, que é conta fácil e breve para Geometria. Pedro Nunes, como outros
conhecer a quantidade ignota, em qual- matemáticos do seu tempo, recorria fre-
quer propósito de Aritmética e Geome- quentemente à Geometria para demons-
tria, e em toda outra arte que usa de trar proposições de Álgebra, de modo
conta e de medida, como são a Cosmo- que o rigor das suas demonstrações era
grafia, Astrologia, Arquitectura e Mer- o rigor que a Geometria de então permi-
cantil" . tia. Mas, mesmo sem constituir uma dis-
ciplina autónoma com respeito à Geome-
Registe-se desde j á , no entanto, que tria, a Álgebra, nas mãos de Pedro Nunes,
o Libro de Algebra não se confunde prestava j á bons serviços à Geometria.
com nenhum dos manuais de Aritmética
Prática que tinham aparecido no nosso
país. O Libro de Algebra não se re-
duz a um conjunto de regras avulsas para
aplicação imediata a "toda outra arte que
usa de conta e de medida". Pedro Nunes
teve sempre a preocupação de "demons-
trar" os resultados expostos, teve sem-
pre a preocupação de ensinar, não apenas
como, mas também porquê.
Antes, porém, de se embrenhar nas
demonstrações das várias regras de cálculo
que enunciou, demonstrações por vezes
longas, avança com algumas aplicações
"... para darmos algum gosto aos
que esta arte de Álgebra por este nosso
livro querem aprender, encontrando
logo de início algum fruto, que é tornar
conhecido por estas Regras o que antes Pedro Nunes (reverso de uma moeda
era desconhecido; e, para que com recentemente posta em circulação, da
maior atenção leiam o que se segue, autoria do escultor José Candido).
como doutrina necessária para o que
a arte pretende, pareceu-nos, por estes Pedro Nunes d á um realce especial
motivos, muito conveniente mostrar- (digamos a t é , d á um realce carinhoso) ao
mos o uso das ditas regras em alguns papel da Álgebra na resolução de proble-
Problemas, que por elas se podem re- mas geométrico"s. Assim, a propósito do
solver facilmente" ([6], p. 3). problema considerado por Regiomontano,
Para a História da Álgebra em Portugal: I 7

"Dada a soma de dois lados de um Álgebra tirada da Geometria, o que é


triângulo e dados os segmentos em que coisa de admiração".
o outro lado é dividido pela altura Pedro Nunes tratou alguns problemas,
correspondente, determine-se cada um no seu Libro de Algebra, que haviam
dos lados, a área e a altura", j á sido considerados por Regiomontano
apresenta dois métodos de resolução: o (como o que acima referimos), por Frei
seu próprio, em que usa Álgebra, e o de Lucas Pacioli, por Cardano, por Tartaglia,
Regiomontano, que não usa Álgebra; e, mas as soluções de Pedro Nunes são mais
em seguida, escreve ([6], pp. 323-324): cuidadas, mais claras e, por vezes, mais
"A razão por que opero por Álgebra rápidas ([5], p. 50).
quase sempre, é que este tratado é
feito para que nele se utilizem as Re- LIBRO
gras da Álgebra nos casos de Geo-
metria. E t a m b é m porque quem
DE ALGEBRA
E N A R I T H M E T I C A
opera por Álgebra, vai entendendo a Y G E O M E T R I A .
Compuefto por el D o í t o r Pedro N u -
razão da obra que faz. [...] Quem nez , Cofmographo Mayordel Rey
opera por Álgebra vai fazendo discur- de Porcdgal, y Carhedracico íubi-
sos demonstrativos. Mas quem opera lado en la Cathedra de Mathe-
matical en la Vniueríidad
por outras regras [como fez Regiomon- de Coymbra.
tano], não entende logo a razão da
obra que vai fazendo e para expor
tal razão, que difere de caso para
caso, será necessário usar muitas e
muitas proposições de Euclides. Ora
isto evita-se com as regras da Álgebra,
porque, por elas, demonstramos todos EN ANVERS.
En czd de h Biuda y hercderos
os casos, sem necessidade de recorrer a de luan Scel/îo.
outras proposições de Euclides. tftr.
COU P f i l V I L E G I O l U t .
[...] Encobrindo o artifício, não
se produz ciência e, por este mo- Um aspecto importante do Libro de
tivo, convém esta arte da Álgebra, Algebra é salientado por Gomes Teixeira
a qual, posto que seja prática, re- ([5], pp. 53-54):
vela as operações que acompanham
"Ao contrário dos geómetras gre-
as demonstrações. De maneira que
gos, que, na exposição dos assuntos,
quem sabe por Álgebra, sabe cientifi-
procuravam somente demonstrar as re-
camente" .
gras e teoremas, sem fazer conhecer os
E Pedro Nunes continua: modos como os tinham obtido, Pedro
"Vemos algumas vezes não poder Nunes, ao mesmo tempo que demons-
um grande matemático resolver uma tra, ensina a investigar. 'Oh! que bom
questão por meios geométricos, e re- fora', diz ele, 'se os autores que es-
solvê-la por Álgebra, sendo a mesma creveram nas ciências matemáticas nos
8 GAZETA DE MATEMÁTICA

deixassem escritas as suas invenções "Não se encontram na Álgebra


pela maneira e com os mesmos dis- do nosso matemático invenções fun-
cursos que fizeram a t é que as encon- damentais, mas é perfeita na forma,
traram. E não como Aristóteles diz, clara e metódica na exposição, rigo-
na Mecânica, dos artífices que nos rosa em raciocínios, original em algu-
mostram, na máquina que fizeram, o mas demonstrações e nos métodos em-
que está de fora e escondem o artifício, pregados para resolução de numerosos
para parecerem admiráveis. E a in- problemas que encerra.
venção muito diferente da tradição em [...] Pode dizer-se que na simplici-
qualquer arte, nem penseis que aque- dade e rigor da exposição das doutri-
las tantas proposições de Euclides e nas da Álgebra não foi igualado por
Arquimedes foram todas achadas pela geómetra algum do século X V I " .
mesma via pela qual as trouxeram a t é Na opinião de Garção Stockier ([7],
nós". p. 58),

Este trecho de Pedro Nunes encontra- "O seu livro é o compêndio mais
metódico e escrito com mais clareza,
-se no Libro de Algebra ([6], p. 138) e tem
que até àquele tempo se publicou".
sido muito apreciado. Foi transcrito por
John Wallis, no seu A Treatise of Algebra, Quase pelas mesmas palavras se ex-
publicado em Londres, em 1685 e aparece prime Pedro José da Cunha, no seu
no livro The History of Mathematics: A Bosquejo Histórico das Matemáticas em
Reader ([11], p. 177), editado por John Portugal ([12], p. 23):
Fauvel e Jeremy Gray, em 1987. "Este Libro de Algebra de Pedro
Nunes é o mais metódico e mais claro
A opinião de Gomes Teixeira sobre que a t é à sua época tinha aparecido".
o trabalho de Pedro Nunes como ma- Rodolfo Guimarães, no seu trabalho
temático está expressa, quer no Elogio Sur la vie et l'oeuvre de Pedro Nunes afir-
Histórico de Pedro Nunes, incluído no vo- mou ([13], vol. 8, p. 27):
lume Panegíricos e Conferências, quer na "Observa-se nesta bela obra uma
História das Matemáticas em Portugal. generalidade nas demonstrações, uma
No Elogio Histórico, escreveu ([5], p. 55): abstracção nos enunciados dos exer-
cícios, muito excepcionais para a época
"Como matemático teórico, não
e que dá à obra de Pedro Nunes um
subiu a t é à criação de métodos gerais
carácter j á inteiramente moderno".
de investigação, mas comentou com
profundeza teorias clássicas no seu O padre jesuíta belga H . Bosmans,
tempo e aplicou com sagacidade e en- no seu artigo L'Algèbre de Pedro Nunez,
referindo-se aos 110 problemas que cons-
genho métodos conhecidos à resolução
tituem o capítulo 5 da 3- parte princi-
de questões postas por ele mesmo ou
pal do Libro de Algebra, às demonstrações
por sábios que o precederam, algumas
literais relativas a radicais e proporções,
de muita dificuldade". considera que tudo isto lhe confere "o seu
Na História das Matemáticas em Por- carácter t ã o particular, j á t ã o moderno" e
tugal, pode ler-se ([4], p. 174): acrescenta:
Para a História da Álgebra em Portugal: I 9

"Considerado no seu conjunto, este Comentando esta declaração Joaquim


capítulo de Nunes não tem análogo de Carvalho escreveu ([8], p. 466):
em nenhum contemporâneo. Nunes, "Não h á qualquer testemunho, di-
sob um certo aspecto, ultrapassa todos recto ou indirecto, que indique haver
os seus émulos, mesmo os mais ilus- Pedro Nunes escrito quaisquer páginas
tres, mesmo os Cardano e os Stifel. definitivas sobre resolução da equação
Do primeiro ao último sem excepção, cúbica e da biquadrática.
os problemas do capítulo 5 são exer- Cremos que a redacção deste passo
cícios abstractos sobre os números" somente autoriza pensar-se que era as-
([14], pp. 245-246). sunto que tinha em mente e que à data
Bosmans considera Pedro Nunes um em que o redigiu (ou reviu definitiva-
dos principais percursores de Viete. mente) não havia atingido uma solução
Regista o facto de Nunes não se ter satisfatória".
apercebido do futuro reservado às soluções
Poucos anos depois da publicação da
negativas das equações, mas, apesar disso,
Álgebra de Pedro Nunes, publicou Rafael
afirma que Nunes foi um dos algebristas
Bombelli a sua Álgebra. Preparada em
mais notáveis do século X V I , e escreve:
1560, só foi publicada em 1572.
"Entre os grandes matemáticos que Um dos exercícios considerados por
separam Stifel e Cardano, de Viete, ele Bombelli ([15], p. 225) foi a resolução da
brilha em primeiro lugar. E uma das equação
glórias de Portugal". 3
x = 15 i + 4 .
A aplicação do método de Tartaglia
No decurso dos quase 30 anos que me- conduz a
diaram entre a primeira redacção do Li-
bro de Álgebra e a sua publicação, Pe- x = \J2+ l l v / Z 2
ï + V^ - ,
dro Nunes fez várias revisões e, segundo as
suas próprias palavras, "confrontos com o expressão que, então, não tinha sentido,
que outros depois escreveram". por causa da intervenção de \f—1.
Entretanto, Tartaglia descobriu e Car- No entanto, é imediato que a equação
dano publicou, na sua Ars Magna sive de considerada admite a raiz 4. Uma situação
regulis algebraicis, um método de reso- como esta não foi compreendida por Pe-
5
lução da equação do 3 grau. dro Nunes, nem por Cardano, nem pelo
Pedro Nunes, preocupado em actua- próprio Tartaglia.
lizar a sua obra, resolveu acrescentar-lhe Bombelli teve então a ideia de que
um aditamento, a que deu o título El Au- as duas raízes cúbicas poderiam talvez
tor desta obra a los Lectores, onde ana- ser representadas por expressões do tipo

lisa o método de Tartaglia. Faz várias P + \/ <7 e p - y/—q, cuja soma, calculada
objecções, nomeadamente ao chamado de acordo com as regras "habituais", seria
caso irredutível, e termina o aditamento igual a 4.
dizendo que, se conseguir um método me- Vejamos o que diz o próprio Bombelli
lhor, o publicará em outro livro. na sua Álgebra (tradução livre):
10 GAZETA DE MATEMÁTICA

"Esta ideia, para muitos, pare- mos a que, só no ano de 1567, o mesmo
cia talvez extravagante; durante muito ano em que se publicou a Álgebra de Pe-
tempo, também f u i da mesma opinião, dro Nunes, foram também publicadas, en-
pois tudo parecia apoiar-se mais na tre outras obras notáveis, as seguintes:
sofisticação do que na verdade. Entre- Crónica do Príncipe D. João, por Damião
tanto, tanto procurei que acabei por de Góis; Crónica de D. Manuel (partes I I I
provar ser esse o caso". e I V ) , por Damião de Góis; Memorial das
Proezas da Segunda Távola Redonda, por
Na verdade, Bombelli mostrou que 2 +
Jorge Ferreira de Vasconcelos; 1- edição
y/— 1 é um valor de y^2+~Víy/—ï e que portuguesa do Palmeirim de Inglaterra,
2 — y/—ï é um valor de ^ 2 — 11 y/— 1, e a por Francisco de Morais; a versão latina,
soma de 2 + y/— 1 e 2 — \/— 1 é precisamente em Antuérpia, dos Colóquios dos Simples
igual a 4. e Drogas da índia, por Garcia da Orta
([8], p. 415 e [9], pp. 480-481), podere-
Graças aos trabalhos publicados por mos, sem dúvida, afirmar que, em mea-
Pedro Nunes, nomeadamente, ao seu dos do século X V I , não estávamos atrasa-
livro de Álgebra, em que mostra pos- dos, com respeito aos outros países eu-
suir um conhecimento crítico das obras ropeus, nos campos da produção literária,
matemáticas mais significativas a t é então da produção histórica e da produção
aparecidas na Europa, e tendo em conta científica.
as referências elogiosas que lhe são feitas
por matemáticos de outros países, acredi-
tamos poder afirmar que, em meados do O p e r í o d o da d e c a d ê n c i a
século X V I , a literatura matemática por-
tuguesa estava razoavelmente actualizada.
Pedro Nunes morreu em 11 de Agosto
E não só a literatura matemática es-
de 1578, precisamente uma semana de-
tava razoavelmente actualizada. De facto,
pois do desastre nacional de Alcácer-
poucos são os países que, no século X V I ,
-Quibir. Dois anos depois da sua morte,
tiveram uma produção cultural de nível
em 25 de Agosto de 1580, é derrotado, em
tão elevado como o alcançado pelo con-
Alcântara, D . António, o Prior do Crato,
junto de escritores e cientistas: Gil V i -
que tentou resistir ao exército invasor es-
cente, Bernardim Ribeiro, Sá de Miranda,
panhol, comandado pelo Duque de Alba.
António Ferreira, Diogo Bernardes, Luís
de Camões, Frei Agostinho da Cruz, Frei Portugal perdeu a sua independência e,
Heitor Pinto, Frei Tomé de Jesus, Frei com a perda da independência, acentuou-
Amador Arrais, Fernão Mendes Pinto, -se a decadência que j á se vinha manifes-
Damião de Góis, Fernão Lopes de Cas- tando em várias actividades nacionais, in-
tanheda, João de Barros, Gaspar Cor- cluindo nos estudos matemáticos.
reia, Diogo do Couto, Fernão de Oliveira, Na verdade, as Matemáticas, salvo
Jerónimo Osório, Jorge Faria de Vas- uma ou outra excepção, não tinham ainda
concelos, Duarte Pacheco Pereira, Pedro sido cultivadas em Portugal, pelos seus
Nunes, Garcia da Orta. E se atender- próprios méritos, mas somente em vista
Para a História da Álgebra em Portugal: I 11

de certas aplicações, especialmente à As- cionar a cadeira de Matemática; foi André


tronomia e à Navegação. Mesmo as de Avelar, o melhor substituto possível
aplicações à Astronomia visavam essen- para o cargo de professor da Universidade
cialmente aplicações à Navegação. de Coimbra, mas de nível muito inferior
Terminado o período dos Desco- ao de Pedro Nunes.
brimentos Marítimos, as Navegações Assim, o estudo das Ciências Matemá-
decaíram, sobretudo a partir do reinado ticas, ou antes, o estudo de algumas das
de D. Sebastião, ficando reduzidas a ac- suas aplicações, até aos começos do século
tividades mais ou menos rotineiras; desa- X V I , foi feito inteiramente à margem
pareceu assim a principal motivação para da Universidade portuguesa e tal estudo
a actividade matemática no nosso país, e não foi suficientemente intenso e profundo
daí a sua decadência. para que as Ciências Matemáticas passas-
Os poderes estabelecidos não t i - sem a ser estudadas pelos seus próprios
nham realmente fomentado o estudo da méritos.
Matemática, mais apenas o de algumas das A triste verdade é que, mesmo depois,
suas aplicações. poucas vezes as Ciências Matemáticas
Quando, em 1290, o rei D. Dinis fun- terão sido estudadas pelos seus próprios
dou a Universidade, as Ciências Mate- méritos; tanto assim é, que, em meados do
máticas não foram incluídas no conjunto século X I X , ainda se não tinha criado uma
das ciências a serem estudadas na Univer- tradição de ensino da Matemática, como
sidade. bem observou Alexandre Herculano, no
Garção Stockier, no seu Ensaio His- seu trabalho intitulado Da Eschola Poly-
tórico, explica isto pelo facto de o conheci- technica e do Collegio dos Nobres, inclu-
mento destas ciências não ter sido conside- ído no volume V I I I dos Opúsculos ([16],
rado necessário para que a mocidade por- p. 57), quando concluía que
tuguesa pudesse dignamente habilitar-se "Não era, pois, entre nós, a
para o estudo eclesiástico, única coisa que matemática mais que uma enxertia,
interessava aos prelados do reino, quando, uma excepção ou antes uma aberração
em 1288, ofereceram o rendimento de das tendências literárias do país"
umas tantas igrejas para servirem de
dotação à Universidade [ver Nota 1]. e mais adiante (p. 60) insistia em que
Da investigação que fez, Stockier julga "... considerando atentamente a
poder concluir que, ainda no ano de 1503, história da instrução pública entre nós,
não existia na Universidade fundada em vemos nela as tendências exclusiva-
fins do século X I I I , uma única cadeira de mente literárias, no sentido restrito da
Matemática e que, só em 1518, D. Manuel palavra".
I procurou remediar tal falta, criando Nesse mesmo trabalho, refere-se à
uma cadeira, ainda não propriamente de criação do Instituto das Ciências Físicas
Matemática, mas de Astronomia. e Matemáticas, em 1835, por Rodrigo da
Outro facto a ter em conta: Pedro Fonseca Magalhães, que se demitiu quatro
Nunes jubilou-se em 1562 e, só 30 anos meses depois; e h á quem pense que a de-
depois, foi nomeado novo lente para lec- missão foi devida à violência dos ataques
12 GAZETA DE MATEMÁTICA

que sofreu, d e s e n c a d e a d o s por aqueles que "Com u m a ou o u t r a e x c e p ç ã o , a


se o p u n h a m à c r i a ç ã o do I n s t i t u t o . Matemática (pura) n ã o era cultivada
Em s e g u i d a , H e r c u l a n o faz o seguinte e m P o r t u g a l e, a s s i m , as escolas su-
c o m e n t á r i o ([16], p p . 6 0 - 6 1 e [17], p. 5 5 5 ) : periores l i m i t a v a m - s e a p r e p a r a r p r o -

"Quanta i g n o r â n c i a , quanto pedan- fessores das escolas secundárias, ou

tismo, quanta preguiça, quanta inca- t é c n i c o s e c i e n t i s t a s que p o r v e n t u r a as

p a c i d a d e h a v i a por n o s s a t e r r a , tudo utilizariam".

gemeu, tudo gritou e grasnou insultos,


Em Portugal, como, e m geral, n a E u -
p o n d e r a ç õ e s , reflexões eruditas, argu-
r o p a , o s é c u l o X V I ficou a s s i n a l a d o pelo
mentadas, soporíferas.
fortalecimento ou i n f l u ê n c i a da nobreza
[...] N ã o houve r e m é d i o : a campa
e do alto clero, f o r t a l e c i m e n t o esse que
caiu sobre a física, a química, a
p r o s s e g u i u no s é c u l o X V I I e em grande
botânica, a matemática, a astrono-
p a r t e do s é c u l o X V I I I .
mia .
O historiador Jaime Cortesão, no
A t é à d é c a d a de 40 deste nosso s é c u l o
seu t r a b a l h o Alexandre de Gusmão e o
XX, a situação da matemática não se
Tratado de Madrid ([19], v o l . I , p. 9 8 ) ,
tinha modificado muito. Por isso, o
e m i t i u a o p i n i ã o de que
saudoso amigo Hugo Ribeiro não es-
"A I n q u i s i ç ã o e o fanatismo inquisi-
tava errado quando, num artigo publi-
t o r i a l e r a m a p e n a s u m dos a s p e c t o s d a
cado na Portugaliae Mathematica, em
p e r v e r s ã o do e s p í r i t o religioso e d a s u -
1980, ao descrever qual a situação da
b o r d i n a ç ã o d a I g r e j a ao a b s o l u t i s m o do
Matemática em Portugal, antes d a ac-
Estado. S o b os efeitos dissolventes do
t u a ç ã o de A n t ó n i o A n i c e t o M o n t e i r o , afir-
o u r o , o E s t a d o , a n o b r e z a e o a l t o clero
m o u ([18], p. V ) :
P a r a a História da Álgebra em Portugal: I 13

h a v i a m - s e d a d o as m ã o s p a r a i m p ô r a cialmente n o b i l i á r q u i c a e eclesiástica,
lei d e s p ó t i c a dos seus interesses. Que- extremamente atrasada em relação à
b r a d a a v e l h a m o l a d a r e s i s t ê n c i a orga- Europa além-Pirinéus. Na mentali-
n i z a d a d a s classes p o p u l a r e s — a b u r - dade das classes dirigentes está sem
g u e s i a e os m e s t e r e s — que outrora d ú v i d a a outra razão da travagem da
e r g u i a m c o m vigor a voz n a s C o r t e s , e v o l u ç ã o social peninsular".
o regime t e n d e u p a r a u m a e s p é c i e de O consumo das especiarias n a E u r o p a
d e s p o t i s m o t e o c r á t i c o , de f o r m a exte- era j á grande durante a Idade Média:
rior a s i á t i c a , que p e s a v a , c o m a p a r a t o u m a s e r a m u s a d a s n a p r e p a r a ç ã o de a l i -
e x p l ê n d i d o , sobre os s ú b d i t o s . M a s en- m e n t o s , o u t r a s n a f a b r i c a ç ã o de p e r f u m e s ,
tre o R e i , o a l t o c l e r o e a n o b r e z a exis- o u t r a s a i n d a e r a m u s a d a s p a r a fins m e d i -
t i a a c o n s c i ê n c i a d a s o l i d a r i e d a d e dos c i n a i s . O seu t r a n s p o r t e do O r i e n t e p a r a a
interesses c o m u n s " . E s p a n h a e r a feito pelo G o l f o P é r s i c o , pelo
M a r V e r m e l h o , a t é à s c i d a d e s i t a l i a n a s de
O historiador Vitorino Magalhães
G é n o v a e V e n e z a , q u e , e m s e g u i d a , as dis-
G o d i n h o , no s e u l i v r o Estrutura da Antiga
t r i b u í a m p e l a E u r o p a e c o m este c o m é r c i o
Sociedade Portuguesa, chamou a atenção
enriqueceram.
p a r a o seguinte ([20], p p . 109-111):
Ora, após a descoberta do caminho
"[...] por várias vezes no nosso m a r í t i m o para a índia, a s i t u a ç ã o mudou
p a í s , c o m o no resto d a P e n í n s u l a , a r a d i c a l m e n t e : p a s s a r a m a ser n a v i o s por-
b u r g u e s i a t e n t o u f o r j a r os q u a d r o s d a tugueses a t r a n s p o r t á - l a s d i r e c t a m e n t e d a
Sociedade, chamando a si a inicia- í n d i a p a r a L i s b o a ; e a r e d u ç ã o de g r a n d e
tiva e c o n ó m i c a e a influência política, n ú m e r o de i n t e r m e d i á r i o s , d a í r e s u l t a n t e ,
mas também por várias vezes esses p e r m i t i u que elas f o s s e m v e n d i d a s aos d i -
esforços se goraram e a nobreza e versos p a í s e s d a E u r o p a p o r p r e ç o s m u i t o
o clero c o n s e g u i r a m r e c u p e r a r o ter- mais baixos. Segundo assinala J . H e r m a n o
reno perdido; a longo prazo a so- S a r a i v a , n a História Concisa de Portugal
ciedade a s s u m e p o r isso u m carácter ([21], p. 1 6 9 ) , o l u c r o r e s u l t a n t e d a eli-
a m b í g u o que lhe i m p r i m e u m a o r d e m m i n a ç ã o de i n t e r m e d i á r i o s e r a t ã o g r a n d e
n o b i l i á r q u i c o - e c l e s i á s t i c a assente n u m a que o pequeno c a r r e g a m e n t o t r a z i d o n a
economia mercantilista a t é à medula. p r i m e i r a v i a g e m de V a s c o d a G a m a v a l e u
[...] S a b e m o s que e m t o d a a E u - s e s s e n t a vezes o c u s t o r e p r e s e n t a d o pela
ropa, especialmente mediterrânea, o expedição.
fim do século X V I representa uma O pagamento das especiarias n a í n d i a
d e c a d ê n c i a d a burguesia e u m a nova e r a feito, p a r t e e m m o e d a e p a r t e em. p r o -
a s c e n s ã o senhorial e nobre, bem como dutos, n ã o o r i g i n á r i o s de P o r t u g a l , m a s
do p o d e r i o e c l e s i á s t i c o . levados d a E u r o p a . T a i s p r o d u t o s t i n h a m
[...] Se a c o m p a n h a r m o s a n o s s a l i - de ser c o m p r a d o s no e x t e r i o r , p o r q u e e m
t e r a t u r a , c o m o t o d o s os testemunhos Portugal n ã o se produziam. Como os
r e l a t i v o s à n o s s a v i d a s o c i a l nos s é c u l o s n e g ó c i o s d a í n d i a enriquecessem muitos
XVII e XVIII, constatamos, n a ver- aproveitadores, importavam-se também
d a d e , que a c u l t u r a p o r t u g u e s a é essen- m u i t o s a r t i g o s p a r a esses e n d i n h e i r a d o s ,
14 GAZETA DE MATEMÁTICA

i n c l u s i v a m e n t e a r t i g o s de l u x o . Aumen- Aumentou o número de ociosos, o


t a v a o c o n s u m o de bens e d i m i n u i a o r e n d i - número de latifúndios, o número de
mento nacional. O c o m é r c i o do O r i e n t e , h e c t a r e s de t e r r a s i n c u l t a s e, c o m o n ã o po-
quando mais aumentava, mais empobre- d i a d e i x a r de ser, a u m e n t o u a m i s é r i a nos
cia a nação. campos.
Além das especiarias, africanas e A u m e n t o u o n ú m e r o de p a r a s i t a s s o c i -
a s i á t i c a s , e do ouro a f r i c a n o , a t e r c e i r a ais. E n q u a n t o , por e x e m p l o , no r e i n a d o
g r a n d e m e r c a d o r i a e r a c o n s t i t u í d a pelos de D . J o ã o I I , o n ú m e r o de c o r t e s ã o s e r a
escravos. Escravos vindos da Guiné e de c e r c a de 200, no r e i n a d o de D . M a n u e l ,
do C o n g o ( i n c l u i n d o o n o r t e de A n g o l a ) t a l n ú m e r o s u b i u p a r a c e r c a de 4 0 0 0 e
s u p r i a m as necessidades de mão-de-obra c a l c u l a - s e que a u m e n t o s d a m e s m a o r d e m
na Europa, nas ilhas d a M a d e i r a , C a b o de g r a n d e z a deve ter h a v i d o n a s g r a n d e s
V e r d e e S. T o m é . Outros e r a m deixa- c a s a s s e n h o r i a i s ([21], p. 1 7 7 ) .
dos no C o n t i n e n t e . A s classes e c o n o m i c a -
m e n t e d o m i n a n t e s s e r v i a m - s e dos escravos É c l a r o que t o d o este c l i m a é pouco
p a r a i m p e d i r ou i n u t i l i z a r as l u t a s r e i n v i n - propício ao incremento das actividades
d i c a t i v a s dos t r a b a l h a d o r e s por m e l h o r e s científicas; mas a situação foi ainda
salários. extraordinariamente agravada, pela in-
D a m i ã o de G ó i s c a l c u l o u que, e m m e a - trodução, em Portugal, da Inquisição e
dos do s é c u l o X V I , e n t r a v a m e m P o r t u - p e l a e n t r e g a q u a s e t o t a l do ensino à C o m -
gal dez a doze m i l e s c r a v o s por ano ([22], p a n h i a de J e s u s .
p. 9 3 ) . A I n q u i s i ç ã o foi e m P o r t u g a l e s p e c i a l -
Como sublinha J . Hermano Saraiva mente poderosa e especialmente violenta.
([21], p. 1 7 0 ) , A respeito d a I n q u i s i ç ã o , G o m e s T e i -
" N ã o h á , nos c e m anos que d u r o u x e i r a a c u s o u ([4], p. 199):
o m o n o p ó l i o o r i e n t a l , n o t í c i a de q u a l - " E s t a i n s t i t u i ç ã o , c o m os seus f a -
quer f a b r i c a ç ã o n o v a i n t r o d u z i d a no n a t i s m o s , c o m as s u a s d e n ú n c i a s , c o m
país. Mesmo as d r o g a s do Oriente os seus r o u b o s , c o m as s u a s prisões,
n ã o o r i g i n a r a m q u a l q u e r a c t i v i d a d e de c o m as s u a s t o r t u r a s , c o m os seus a u t o s
tipo diferente d a s que v i n h a m d a é p o c a de f é , c o m as s u a s f o g u e i r a s , foi u m a
anterior. A o terminar o século X V I , m i s t u r a de t r a g é d i a d o l o r o s a e de b a i x a
a p r o d u ç ã o artesanal portuguesa n ã o c o m é d i a , que d u r a n t e c e r c a de d u z e n -
difere m u i t o d a do s é c u l o X I I I " . tos anos p e r t u r b o u e m P o r t u g a l t o d a s
P e l o que r e s p e i t a ao m u n d o r u r a l , as a c t i v i d a d e s e c o m elas o progresso
geral do p a í s " .
"Pouco a p o u c o , as q u i n t a s e os
casais, que andavam nas mãos dos Na realidade, P o r t u g a l sofreu a I n -
l a v r a d o r e s , p a s s a v a m à posse dos no- q u i s i ç ã o , n ã o d u r a n t e c e r c a de 200 a n o s ,
bres, funcionários e a v e n t u r e i r o s re- m a s d u r a n t e p e r t o de 300 anos — desde
gressados d a í n d i a , p o r q u e a t e r r a foi 1536 a t é 1821. ( A I n q u i s i ç ã o foi f i n a l -
o ú n i c o g é n e r o de i n v e s t i m e n t o dessas m e n t e s u p r i m i d a e m 5 de A b r i l de 1821
economias" ([21], p. 1 7 5 ) . pelas C o r t e s C o n s t i t u i n t e s ) .
Para a História da Álgebra em Portugal: I 15

P e l a v i o l ê n c i a e s p e c i a l que a I n q u i s i ç ã o o matemático José Anastácio da


atingiu em Portugal, Gomes Teixeira Cunha, o poeta Curvo Semedo, o
chegou a escrever que, se o processo p o e t a J o s é A g o s t i n h o de M a c e d o e
de G a l i l e u tivesse o c o r r i d o e m P o r t u g a l , muitos, muitos outros.
então
— Entre os assassinados pela In-
" O c a s t i g o de G a l i l e u s e r i a t a l v e z quisição, citamos, por exemplo,
mais duro. A n t ó n i o H o m e m , professor d a U n i -
Os Pontífices Romanos reprovavam v e r s i d a d e de C o i m b r a e A n t ó n i o J o s é
os excessos d a I n q u i s i ç ã o e, e m I t á l i a , da Silva, o maior c o m e d i ó g r a f o por-
e r a m ouvidos; mas na Ibéria, longe t u g u ê s depois de G i l V i c e n t e ([23],
de Roma, n ã o e r a m escutados e as vol. I e I I ) .
Inquisições continuavam sempre na
Q u a n t o ao ensino p r a t i c a d o p e l a C o m -
s u a c a r r e i r a l ú g u b r e de p e r s e g u i ç õ e s e
p a n h i a de J e s u s , l i m i t a m o - n o s a t r a n s c r e -
c r i m e s " ([4], p. 2 0 1 ) . ver de J . H e r m a n o S a r a i v a ([21], p. 1 9 7 ) ,
Seguem-se os n o m e s de a l g u n s dos i n - o seguinte:
telectuais encarcerados pela I n q u i s i ç ã o : " O o b j e c t i v o [da C o m p a n h i a de J e -
—O sucessor de Pedro Nunes na s u s , no sector do ensino] e r a o de en-
Universidade de Coimbra, André r a i z a r d o g m a s e m que s i n c e r a m e n t e se
de Avelar, condenado a cárcere a c r e d i t a v a , n ã o o de p r o v o c a r c r í t i c a s ,
p e r p é t u o q u a n d o t i n h a j á p e r t o de porque o resultado das c r í t i c a s é sem-
80 anos; os seus dois filhos e as pre o fim dos d o g m a s . O ensino n ã o
suas quatro filhas foram também foi, p o i s , u m t r e i n o p a r a p e n s a r , m a s
perseguidos e presos p e l a I n q u i s i ç ã o . u m alicerce p a r a crer. E deu resultado,
p o r q u e os p o r t u g u e s e s do s é c u l o X V I I
— D o i s netos de P e d r o N u n e s : Matias c r e r a m muito e p e n s a r a m pouco".
Pereira, encarcerado durante oito
anos e P e d r o N u n e s P e r e i r a , e n c a r - Portugal recuperou a s u a i n d e p e n d ê n -
c e r a d o d u r a n t e m a i s de o i t o a n o s . c i a e m 1640, depois de m u i t a s l u t a s p o p u -
— U m filho do c r o n i s t a R u i de Pina, lares c o n t r a a o c u p a ç ã o e s p a n h o l a , sobre-
o gramático F e r n ã o de O l i v e i r a , o t u d o a p a r t i r de 1682 [ver N o t a 2].
p o e t a e e r u d i t o D i o g o de T e i v e , o Como pode ler-se nas Lições de
cronista Damião de Góis, o eru- História de Portugal, de A r m a n d o C a s t r o
dito Vicente Nogueira, o escritor ([24], v o l . I I , p p . 1 1 3 - 1 1 4 ) ,
Gaspar C l e m e n t e , o c ó n e g o e poe- "... logo a partir de 1581, al-
ta Baltazar E s t a ç o , o jurisconsulto tura em que se fixa o governo fili-
T o m é Vaz, o jesuíta Padre António p i n o , as t e n s õ e s e os c o n f l i t o s , m a i s o u
Vieira, o poeta Serrão de Castro, m e n o s l o c a l i z a d o s , se v e r i f i c a m i n d u -
o engenheiro B e n t o de M o u r a P o r - b i t a v e l m e n t e , m o s t r a n d o que e n t r e as
tugal, o C a v a l e i r o de Oliveira, o mais amplas camadas da população
poeta Pereira Caldas, o poeta João o domínio castelhano era objecto de
X a v i e r de M a t o s , o p o e t a Bocage, uma resistência natural, espontânea.
16 GAZETA DE MATEMÁTICA

[...] a p ó s 1628, p o u c o m a i s ou m e n o s , 1- de D e z e m b r o , c o n t r a o povo e c o n t r a a


se v ã o a p r o f u n d a r e a g u d i z a r choques independência da Pátria.
d a s p o p u l a ç õ e s c o n t r a as a u t o r i d a d e s Na conspiração para assassinar D.
estabelecidas, s u r g i n d o por vezes en- J o ã o I V , e m 1641, e s t i v e r a m envolvidos
c a b e ç a d a s por m u l h e r e s e c r i a n ç a s , o o I n q u i s i d o r G e r a l , D . F r a n c i s c o de C a s -
que t r a d u z h i s t o r i c a m e n t e a p r o f u n d i - t r o , o a r c e b i s p o de B r a g a , D . S e b a s t i ã o de
d a d e d a c r i s e que s u s c i t a essas explo- M a t o s de N o r o n h a , o b i s p o de M a r t í r i a ,
sões" . D . F r a n c i s c o de F a r i a , o bispo-eleito de
M a l a c a , D . F r e i L u í s de M e l o , o d u q u e
E mais adiante, observa A r m a n d o C a s -
de C a m i n h a , D . M i g u e l de N o r o n h a , o
t r o (p. 145):
m a r q u ê s de V i l a R e a l , D . L u í s de M e n e -
2
"Se é certo que o golpe do l ses, o conde de A r m a m a r , D . R u i de M a t o s
de D e z e m b r o de 1640 foi totalmente de N o r o n h a , o conde de V a l e de R e i s , D .
o b r a d a a r i s t o c r a c i a ( n e m p o d i a ser N u n o de M e n d o n ç a , alguns mercadores,
de o u t r o m o d o d e v i d o ao receio d a i n - a l g u n s a l t o s e m é d i o s f u n c i o n á r i o s e ou-
t e r v e n ç ã o das massas populares, que tros.
constituía certamente uma das mo-
O Inquisidor G e r a l D. F r a n c i s c o de
tivações mais profundas da d e c i s ã o ) ,
Castro acabou por ser perdoado, a
o certo é que, q u a n d o t u d o e s t a v a a
pretexto de ter denunciado os seus
p o s t o s , a c i n c o d i a s do 1- de D e z e m -
cúmplices!...
bro, e se t i n h a assentado desferir o
Mas o poder e a impunidade d a I n -
golpe, os c o n j u r a d o s j á t i n h a m c o n t a c -
q u i s i ç ã o e r a m t a i s que, m a l r e c u p e r o u a
tado representantes das f o r ç a s popu-
l i b e r d a d e , r e a s s u m i u a u t o m a t i c a m e n t e as
lares a f i m de os a p o i a r e m , a p o i o que
f u n ç õ e s de I n q u i s i d o r G e r a l , c o m o se o
c o m c e r t e z a s a b e r i a m que e s p o n t a n e a -
p e r d ã o , que lhe foi c o n c e d i d o , o tivesse
mente n ã o faltaria, como é ó b v i o " .
l i v r a d o d a o b r i g a ç ã o m o r a l e c í v i c a de res-
E n ã o f a l t o u ! T a n t o a s s i m que, antes p e i t a r a s o b e r a n i a n a c i o n a l ([24], v o l . I I ,
de 20 de D e z e m b r o , a r e s t a u r a ç ã o d a i n - p. 156, [25], v o l . I I , p. 150, [26], p. 2 3 8 ) .
d e p e n d ê n c i a era u m facto e m todo o p a í s
A p o l í t i c a s e g u i d a nos ú l t i m o s r e i n a -
([24], v o l . I I , p. 1 4 8 ) . dos d a d i n a s t i a de A v i z — f o r t a l e c i m e n t o
A E s p a n h a n ã o se c o n f o r m o u c o m a do p o d e r p o l í t i c o e e c o n ó m i c o d a n o b r e z a
v i t ó r i a p o r t u g u e s a e seguiu-se u m p e r í o d o e do alto clero e, por o u t r o lado, es-
de m a i s de 27 anos de g u e r r a , que nos cus- magamento das classes populares — a
t o u m u i t a s v i d a s . S ó e m 13 de F e v e r e i r o p e r d a d a i n d e p e n d ê n c i a n a c i o n a l e as l u -
de 1668 foi a s s i n a d o o t r a t a d o de p a z . tas n e c e s s á r i a s , primeiro p a r a a recuperar
Na l u t a p e l a c o n q u i s t a e defesa da e depois p a r a a n ã o p e r d e r n o v a m e n t e , as
nossa i n d e p e n d ê n c i a , a Inquisição, parte p e r s e g u i ç õ e s inquisitoriais e a o r i e n t a ç ã o
do alto clero e p a r t e d a a r i s t o c r a c i a a l i - i m p o s t a ao ensino p e l a C o m p a n h i a de J e -
n h a r a m c o m os i n i m i g o s d a i n d e p e n d ê n c i a s u s , c o n s e g u i r a m i s o l a r o nosso p a í s do
de P o r t u g a l , c o n t r a o povo português. movimento c i e n t í f i c o europeu e quase con-
E s t a v a m antes do l 9
de D e z e m b r o , es- seguiram destruir o movimento científico
t i v e r a m no l 9
de D e z e m b r o e depois do nacional.
P a r a a História da Algebra em Portugal: I 17

A reforma pombalina da Universidade


de Coimbra constitui um saudável es-
forço para actualização científica e cul-
t u r a l , a t r i b u i n d o ao e n s i n o d a s c i ê n c i a s e,
e s p e c i a l m e n t e ao e n s i n o d a Matemática,
u m a i m p o r t â n c i a , u m a d i g n i d a d e que até
a í n u n c a t i n h a m t i d o , no nosso p a í s .

N o seu a r t i g o O ensino da Matemática


na reforma pombalina, publicado, em
1947, na Gazeta de Matemática ([3],
pp. 3-6), L u í s de A l b u q u e r q u e refere-se
aos q u a s e d u z e n t o s a n o s d e c o r r i d o s desde
os últimos Estatutos pré-pombalinos da
Universidade, em 1612, até à reforma
p o m b a l i n a , e m 1772, e s u b l i n h a o e n o r m e
a t r a s o c i e n t í f i c o r e s u l t a n t e , n ã o s ó do f a c t o
de os d o i s ú l t i m o s s é c u l o s t e r e m sido dos
mais fecundos n a e v o l u ç ã o c i e n t í f i c a eu-
ropeia, mas t a m b é m da circunstância de
Est. X X X I . Sebastião José de Carvalho e
os p r ó p r i o s e s t a t u t o s de 1612 estarem j á
Melo (1699-1782), conde de Oeiras e
desactualizados na altura em que foram marquês de Pombal (Gravura de
publicados. "Carpinetti Lusitanus", de 1759).

E acrescenta:
L u í s de A l b u q u e r q u e , depois de s a l i e n -
"No que, em particular, respeita t a r que a J u n t a de P r o v i d ê n c i a L i t e r á r i a ,
à m a t e m á t i c a , a s i t u a ç ã o agravava-se e n c a r r e g a d a dos trabalhos preparatórios
a i n d a por o u t r a r a z ã o : O e n s i n o d e s t a p a r a a R e f o r m a , m o s t r o u ter p l e n a cons-
c i ê n c i a n u n c a c r i a r a t r a d i ç õ e s entre n ó s c i ê n c i a do nosso a t r a s o , t r a n s c r e v e , nas
( j á H e r c u l a n o o fez n o t a r ) , a d e s p e i t o s u a s l i n h a s gerais, os p r o g r a m a s d a s q u a -
de a l g u m a s b e l a s o b r a s p u b l i c a d a s nos tro cadeiras de Matemática que pas-,
s é c u l o s X V I e X V I I por matemáticos sariam a compor o Curso Matemático,
portugueses, e das grandes viagens criado e organizado pela Reforma. A
m a r í t i m a s terem exigido a p r e p a r a ç ã o primeira cadeira tratava de Elementos
de cosmógrafos e cartógrafos compe- de Aritmética e Geometria Elementar; a
tentes. Contribuiu sem dúvida para s e g u n d a t r a t a v a de Algebra (compreen-
isso, o f a c t o de na Universidade só dendo equações e sua resolução, pro-
ter sido c r i a d a uma cadeira para o priedades e uso das séries), Geometria
ensino desta c i ê n c i a ; para o mal ser (Tratado a n a l í t i c o das cónicas), Cálculo
ainda maior, esta cadeira estava en- Diferencial e Cálculo Integral; a terceira
q u a d r a d a n a F a c u l d a d e de M e d i c i n a — cadeira tratava de Mecânica, Óptica e
que e r a , a l i á s , a F a c u l d a d e onde m e n o s Acústica; e a quarta cadeira tratava de
f o r ç a d a m e n t e p o d i a ser a c o l h i d a " . Astronomia.
18 GAZETA DE MATEMÁTICA

U m a s p e c t o i m p o r t a n t í s s i m o dos novos De entre as r e c o m e n d a ç õ e s contidas


E s t a t u t o s foi p o s t o e m relevo por L u í s de no E s t a t u t o p o m b a l i n o , G o m e s Teixeira
A l b u q u e r q u e , nos seguintes t e r m o s : ([4], p. 226) d e s t a c a de m o d o e s p e c i a l a
seguinte:
"Propositadamente d e i x á m o s para
o f i m u m a o r i e n t a ç ã o r e v e l a d a nos E s - " A c o n s e l h a - s e aos professores e dis-
t a t u t o s que s ó e m nossos d i a s v o l t o u c í p u l o s que a s s o c i e m ao ensino e ao es-
a ser a c t i v a m e n t e d e f e n d i d a : a de que tudo das c i ê n c i a s o d a s u a h i s t ó r i a . Por
o p a p e l d a U n i v e r s i d a d e n ã o deve ser este meio d á - s e v i d a à s t e o r i a s e eleva-
a p e n a s o de d o t a r o p a í s c o m d i p l o m a - -se o e s p í r i t o , o b r i g a n d o - o a o l h a r p a r a
dos p a r a p r o v e r à s e x i g ê n c i a s do f u n - o a l t o , p a r a os g é n i o s " .
c i o n a l i s m o ou d a s p r o f i s s õ e s c h a m a d a s
A n t e s d a r e f o r m a p o m b a l i n a , os e s t u -
liberais: cabe-lhe t a m b é m o encargo
dos m a t e m á t i c o s t i n h a m sido q u a s e c o m -
de p r o m o v e r e o r g a n i z a r a i n v e s t i g a ç ã o
pletamente banidos da Universidade e,
científica".
por isso, n ã o h a v i a professores portugue-
ses p a r a as q u a t r o c a d e i r a s . H o u v e que
P o d e b e m i m a g i n a r - s e o progresso que c h a m a r os i t a l i a n o s M i g u e l C i e r a , p a r a a
t a l o r i e n t a ç ã o r e p r e s e n t o u , se t i v e r m o s e m de A s t r o n o m i a e M i g u e l F r a n z i n i , para
v i s t a que (p. 6 ) : a de Á l g e b r a . Monteiro da Rocha foi
"Até à época pombalina serviam nomeado para a de Mecânica e José
de g u i a n a s l i ç õ e s , t r a t a d o s h á m u i t o A n a s t á c i o d a C u n h a p a r a a de G e o m e t r i a
u l t r a p a s s a d o s , i m p o n d o - s e aos profes- ( e m 5 de O u t u b r o de 1 7 7 3 ) .
sores a o b r i g a ç ã o de os seguir e aos
(continua no próximo número
a l u n o s o de e s t u d a r p o r eles: c h e g a v a - da Gazeta de Matemática.)
-se a escrever e x p r e s s a m e n t e nos E s -
tatutos de 1612, que os estudantes
Notas:
d e v i a m sempre defender as opiniões
( m u i t a s vezes v e l h a s de u m m i l h a r de 1) N o V o l . I d a História de Portugal
a n o s ) que os a u t o r e s desses tratados de O l i v e i r a M a r q u e s , p. 178, pode ler-se:
neles d e f e n d i a m " .
" E m 1288, u m g r u p o de clérigos,
t e n d o à frente os p r i o r e s de A l c o b a ç a ,
Razão tinha Joaquim de Carvalho,
S a n t a C r u z de C o i m b r a e S. V i c e n t e de
q u a n d o e s c r e v e u ([10], p. 3 2 3 ) : F o r a de L i s b o a , s o l i c i t o u do p a p a N i c o -
"Com tais métodos de ensino e l a u I V a c o n f i r m a ç ã o d a c r i a ç ã o de u m a
planos de estudos, a originalidade U n i v e r s i d a d e , que t i n h a m e s t a b e l e c i d o
tornou-se a b e r r a ç ã o e a r e n o v a ç ã o de e m L i s b o a de c o m u m a c o r d o c o m o
i d e i a s , h e r e s i a : e p o r q u e a v i g ê n c i a dos rei. Sugerida pela Igreja e financeira-
E s t a t u t o s f i l i p i n o - j o a n i n o s se p r o l o n - mente m a n t i d a pela Igreja t a m b é m , a
gou i n t e g r a l m e n t e a t é à r e f o r m a p o m - Universidade destinava-se a constituir
b a l i n a , a v i d a u n i v e r s i t á r i a oferece o u m a e s p é c i e de s e m i n á r i o p a r a f u t u r o s
e s p e c t á c u l o d a i n é r c i a * d a c a r ê n c i a de clérigos. S ó p o u c o a p o u c o é que os
ideias c i e n t í f i c a s " . laicos f o r a m e n t r a n d o n e l a .
P a r a a História da Álgebra em Portugal: I 19

C o m p a r a d a c o m as u n i v e r s i d a d e s t i m , d a t a d a de M o n t e m o r - O - N o v o , de
de I t á l i a , F r a n ç a ou I n g l a t e r r a , a U n i - 12 de N o v e m b r o de 1288, d i r i g i d a ao
v e r s i d a d e p o r t u g u e s a n ã o s u r g i u de- p a p a pelo a b a d e de A l c o b a ç a , pelos
m a s i a d o cedo. Mesmo em Castela p r i o r e s de S a n t a C r u z de C o i m b r a , de
h a v i a m sido c r i a d a s u n i v e r s i d a d e s a n - S. V i c e n t e de L i s b o a , de G u i m a r ã e s e
teriormente. C o n t u d o , e m contraste de A l c á ç o v a de S a n t a r é m , e por v i n t e
com outros p a í s e s marginais d a E u r o p a e dois r e i t o r e s de d i v e r s a s i g r e j a s , n a
— como o s d a E s c a n d i n á v i a , a E s c ó c i a q u a l se f o r m u l a o i n t e n t o de c r i a r u m
e os e s t a d o s eslavos — ou c o m a A l e - E s t u d o G e r a l , e a b u l a de N i c o l a u I V ,
m a n h a , P o r t u g a l veio m u i t o à f r e n t e ,
d a t a d a de O r v i e t o a 9 de A g o s t o de
o que i m p l i c a v a a e x i s t ê n c i a de u m a
1290, d i r i g i d a j á à " U n i v e r s i d a d e dos
v i d a c u l t u r a l assaz desenvolvida p a r a
m e s t r e s e escolares de L i s b o a " .
o tempo.
E Verdade que n u n c a f o r a m grande- E s t e s documentos n ã o e r a m concor-
m e n t e f a v o r á v e i s as c o n d i ç õ e s p a r a des. P e l a c a r t a , os p r e l a d o s e r e i t o r e s ,
que a U n i v e r s i d a d e p r o s p e r a s s e , pelo depois de a l e g a r e m que h a v i a m confe-
m e n o s antes do s é c u l o X V . T e v e s e m - r e n c i a d o c o m el-rei D . D i n i s "rogando-
pre p o u c o p r e s t í g i o , t a n t o e m P o r t u - -lhe encarecidamente se dignasse de
gal c o m o no e s t r a n g e i r o . N ã o e v i t o u a fazer o r d e n a r u m E s t u d o G e r a l n a s u a
s a í d a de e s t u d a n t e s p a r a O x f o r d , P a r i s , nobilíssima cidade de Lisboa" e de
S a l a m a n c a ou B o l o n h a , n e m a q u a l i - t e r e m a s s e n t a d o entre s i o p r o v i m e n t o
d a d e dos seus professores j a m a i s a t r a i u do salário dos mestres e doutores,
e s t u d a n t e s e s t r a n g e i r o s . O c o r p o do- taxando logo o que cada igreja e
c e n t e n u n c a e x c e d e u u m a s v i n t e pes- mosteiro h a v i a de contribuir, supli-
soas, l i m i t a n d o - s e a c i n c o lentes nos cavam do Pontífice a aprovação e
c o m e ç o s do s é c u l o X I V . P a r a fins lo- " c o n f i r m a ç ã o de u m a o b r a t ã o p i a e
cais, contudo, a Universidade revelou- louvável".
-se i n d u b i t a v e l m e n t e ú t i l , p r e p a r a n d o
a l g u n s c l é r i g o s de m e l h o r q u a l i d a d e , [...] P e l a b u l a , e x p e d i d a dois anos
advogados, n o t á r i o s e uns quantos depois d e s t a s ú p l i c a , o E s t u d o G e r a l de
médicos". L i s b o a é considerado j á como fundado
pelos c u i d a d o s e l o u v á v e l providência
J o a q u i m de C a r v a l h o , e m Instituições
de D . D i n i s [...], a p o n t o de o P o n t í f i c e
de Cultura - Período Medieval (incluído
se d i r i g i r à " U n i v e r s i d a d e dos m e s t r e s
no v o l . I l l de O b r a Completa, pp. 147-
- 1 4 8 ) , d i z que "foi u m perfeito "estudo e escolares de L i s b o a " .
geral" o que D . D i n i s f u n d o u e m 1 de [...] D a q u i a d i s c o r d â n c i a d o s his-
M a r ç o de 1290, por u m d i p l o m a , reve- t o r i a d o r e s , a f i r m a n d o u n s que a U n i -
l a d o e m 1912 pelo e m i n e n t e P r o f e s s o r D r . v e r s i d a d e f o r a f u n d a d a por i n f l u ê n c i a
A n t ó n i o de V a s c o n c e l o s " .
e a p e d i d o do c l e r o , e j u l g a n d o o u t r o s
"[...] Anteriormente à publicação que a a c ç ã o deste se l i m i t o u a s o l i c i t a r
deste d i p l o m a c o n h e c i a m - s e dois do- a c o n f i r m a ç ã o d a a p l i c a ç ã o das rendas
cumentos relativos à origem d a Uni- e c l e s i á s t i c a s e, d i s s e n t i n d o t o d o s sobre
versidade portuguesa: a carta em la- o a n o do seu estabelecimento.
20 GAZETA DE MATEMÁTICA

A publicação do diploma de D. f o r a , que n ã o c o n s e g u i u d o m i n a r o mo-


Dinis resolveu definitivamente estas tim, pelo que foi c h a m a d a u m a c o m -
dúvidas. Q u a n t o ao t e m p o , i n d i c a i r - p a n h i a de soldados; todavia, Lucena,
r e f r a g a v e l m e n t e a d a t a de 1 de M a r ç o receoso, r e s o l v e u n ã o p r o s s e g u i r c o m a
de 1290; e quanto à iniciativa da s u a m i s s ã o , pelo que, depois de se r e f u -
fundação, reivindica-a o rei, reivin- giar no C o n v e n t o d a S e r r a , retornou
d i c a ç ã o que o p o n t í f i c e i n d i r e c t a m e n t e a M a d r i d , e m b o r a a nobreza e senado
confirma, pois considera o Estudo lhe assegurassem que poderia conti-
Geral de Lisboa fundado e funcio- n u a r c o m as s u a s d i l i g ê n c i a s p o r q u e a
nando" . s i t u a ç ã o estava dominada. Depois o
b i s p o , o presidente do C o n s e l h o de E s -
N o l i v r o de J a i m e C o r t e s ã o , O s F a c -
t a d o e o conde de M i r a n d a p e d i r a m a
tores Democráticos na Formação de Por-
F i l i p e I I I que p e r d o a s s e , v i s t o o m o t i m
tugal ( v o l . I d a s Obras Completas, Livros
5
h a v e r sido p r o v o c a d o por "mulheres de
Horizonte, 3 e d i ç ã o 1978, p. 1 7 7 ) , diz-se
í n f i m a plebe" , e o c a s o encerrou-se s e m
que a U n i v e r s i d a d e foi f u n d a d a e m 1293.
represálias".
T r a t a - s e c e r t a m e n t e de u m a " g r a l h a " .

2) E m [24], v o l . I I , p. 118, pode ler-se: BIBLIOGRAFIA

"[...] em 1628 ou 1629, surgira [1] Luís DE ALBUQUERQUE - O


Primeiro Livro de Aritmética Impresso em
uma revolta popular na cidade do
Portugal, i n c l u í d o em "Para a História da
Porto. C o m efeito, e m A b r i l de um
C i ê n c i a em Portugal", Livros Horizonte, L i s -
desses anos (1628 s e g u n d o Agostinho boa, 1 9 7 3 .
Rebelo d a C o s t a , autor d a Descrição
[2] LUÍS DE ALBUQUERQUE - Sobre a
Topográfica e Histórica da Cidade do
História, da Ciência em Portugal, i n c l u í d o em
Porto, o b r a de 1788, mas 1629 se- "Crónicas de História de Portugal", Lisboa,
g u n d o M a n u e l S e v e r i m de F a r i a , c o n - 1987.
temporâneo desses s u c e s s o s ) , o Real [3] Luís D E ALBUQUERQUE - O En-
C o n s e l h o de E s t a d o e n v i o u de Madrid sino da Matemática na Reforma Pombalina,
o s e c r e t á r i o desse C o n s e l h o , F r a n c i s c o 2
Gazeta de M a t e m á t i c a , n 3 4 ( 1 9 4 7 ) , 3 - 6 .
de L u c e n a , que se h o s p e d o u no Con- [4] FRANCISCO GOMES TEIXEIRA -
vento de S. F r a n c i s c o . P o r é m c o m e ç o u História das Matemáticas em Portugal,
a c o r r e r entre "a gente v u l g a r " (diz Academia das C i ê n c i a s de Lisboa, Biblioteca
S e v e r i m de F a r i a , e s c l a r e c e n d o Rebelo de Altos Estudos, Lisboa, 1 9 3 4 .
d a C o s t a , que f o r a m "regateiras e o u - [5] FRANCISCO GOMES TEIXEIRA -

t r a s m u l h e r e s s e m e l h a n t e s " , a que de- Elogio Histórico de Pedro Nunes, incluído


pois se j u n t o u u m número igual de em "Panegíricos e Conferências", pp. 1 - 8 3 ,
marujos) que esta autoridade vinha Academia das Sciencias de Lisboa, Coimbra,
1925.
l a n ç a r novos t r i b u t o s , i n c l u i n d o a t é so-
[6] PEDRO NUNES - Libro de Alge-
bre as m a ç a r o c a s . E tendo encon-
bra en Arithmetica y Geometria, vol. V I das
trado F r a n c i s c o de Lucena, a mul-
"Obras", nova e d i ç ã o revista e anotada por
t i d ã o d e s c a r r e g o u sobre ele " u m a n u -
u m a c o m i s s ã o de sócios da Academia das
v e m de p e d r a s " . Acorreu o juiz de C i ê n c i a s de Lisboa, M C M L .
Para a História da Álgebra em Portugal: I 21

[7] FRANCISCO DE BORJA GARÇÃO- [16] ALEXANDRE HERCULANO - Da


- S T O C K L E R - Ensaio Histórico sobre a Ori- Eschola Polytechnica e do Collegio dos No-
gem e Progressos das Mat/iematicas em Por- bres, i n c l u í d o em " O p ú s c u l o s " , tomo V I I I , 3-
tugal, Officina de P.N. Rougeron, Paris, 1819. ed., pp. 27-94, L i v r a r i a Bertrand, Lisboa.
[8] JOAQUIM D E CARVALHO - Ano- [17] RÓMULO D E CARVALHO - História
tações Histórico-BibliográBcas ao vol. V I das do Ensino em Portugal desde a fundação
Obras de Pedro Nunes, "Libro de Algebra da Nacionalidade até ao 6m do regime de
en Arithmetica y Geometria", Academia das Salazar-Caetano, F u n d a ç ã o Calouste G u l -
C i ê n c i a s de Lisboa, M C M L ; i n c l u í d o t a m b é m benkian, Lisboa, 1986.
no vol. V d a "Obra Completa" de Joaquim [18] HUGO RIBEIRO - Actuação de
de Carvalho, História e C r í t i c a s Literárias, António Aniceto Monteiro em Lisboa, entre
História d a C i ê n c i a (1925-1975), 589-659, 1939 e 1942, Portugaliae Mathematica, vol. 39
F u n d a ç ã o Calouste Gulbenkian, Braga, 1987. (1980), V - V I I .
[9] JOAQUIM D E CARVALHO - Livros [19] JAIME CORTESÃO - Aiexandre
de D. Manuel II, i n c l u í d o em "Obra C o m - Gusmão e o Tratado de Madrid, 2 vol.,
pleta", vol. I V , H i s t ó r i a d a C u l t u r a (1948- primeiramente publicados no R i o de Janeiro,
-1955), 425-532, F u n d a ç ã o Calouste G u l - em 1952 e 1956; r e e d i ç ã o Livros Horizonte,
benkian, Braga, 1983. Lisboa, 1984.
[10] JOAQUIM DE CARVALHO - Ins- [20] VITORINO MAGALHÃES GODINHO
t i t u i ç õ e s de Cultura - Século XVI, i n c l u í d o — E s t r u t u r a da Antiga Sociedade Portuguesa,
em "Obra Completa", vol. I l l , História 3- ed., C o l e c ç ã o Temas Portugueses, Editora
da C u l t u r a (1922-1948), 308-328, F u n d a ç ã o Arcádia, 1977.
Calouste Gulbenkian, Braga, 1982.
[21] JOSÉ HERMANO SARAIVA - Histó-
[11] JOHN FAUVEL and JEREMY GRAY ria Concisa de Portugal, C o l e c ç ã o Saber, P u -
(editors) - The History of Mathematics: A blicações Europa-América, Mira Sintra-Mem
Reader, MacMillan Education in association Martins, 1978.
with T H E O P E N U N I V E R S I T Y , 1987.
[22] JOSÉ RAMOS TINHORÃO - Os Ne-
[12] PEDRO JOSÉ DA CUNHA - Bos- gros em Portugal, Uma Presença Silenciosa,
quejo Histórico das Matemáticas em Portu- Editorial Caminho, C o l e c ç ã o Universitária,
gal, E x p o s i ç ã o Portuguesa em Sevilha, Lisboa, Lisboa, 1988.
1929. [23] ANTÓNIO BAIÃO - Episódios Dra-
[13] RODOLFO GUIMARÃES - S u r ia vie máticos da Inquisição Portuguesa, vol. I e I I ,
et l'oeuvre de Pedro Nunes, Annaes Scien- 3? ed., C o l e c ç ã o Seara Nova, 1972 e 1973.
tificos da Academia Polytechnica do Porto, [24] ARMANDO CASTRO - Lições de
vol. I X (1914), 54-64, 96-117, 152-167, História de Portugal, vol. I e I I , Biblioteca
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[14] H . BOSMANS, S . J . - L'Algèbre Lisboa, 1982 e 1983.
de Pedro Nunez, Annaes Scientificos d a [25] A.H. OLIVEIRA MARQUES - His-
Academia Polytechnica do Porto, vol. I I I tória de Portugal, vol. I (12? ed., 1985), vol. I I
(1908), 222-271. (10? ed., 1984), vol. I l l (2? ed., 1981), Palas
Editores, Lisboa.
[15] RAFAEL BOMBELLI - L'Algebra,
prima edizione intégrale, Introduzione di U . [26] ANTÓNIO JOSÉ SARAIVA - Inqui-
Forti, Prefazione di E . Bortolotti, Fetrinelli s i ç ã o e Cristãos-Novos, Colecção Civilização
Editore Milano, 1929. Portuguesa, Editorial Inova, Porto, 1969.
Sobre a obra lógica de J o s é
S e b a s t i ã o e Silva
p o r Antonio Marques Fernandes

J o s é S e b a s t i ã o e S i l v a foi u m dos m a i s trutura" em s i . Quanto à preocupação


p r o e m i n e n t e s m a t e m á t i c o s p o r t u g u e s e s de unificadora é importante n ã o a confundir
todos os t e m p o s . N a s c e u a 12 de D e z e m - c o m a l g u m a s t e n t a t i v a s f r u s t r a d a s de re-
bro de 1914 e m M é r t o l a , no Alentejo. duzir a m a t e m á t i c a à l ó g i c a (nas palavras
Licenciou-se e m m a t e m á t i c a no a n o de de J . S . e S i l v a , à Mathematica Univer-
1937 n a F a c u l d a d e de C i ê n c i a s de L i s b o a salis) pois a e x i s t ê n c i a de p a r a d o x o s quer
e foi s e m p r e c o m g r a n d e b r i l h a n t i s m o que s i n t á t i c o s quer s e m â n t i c o s , j á e n t ã o i m -
e v o l u i u n a s u a c a r r e i r a , quer e n q u a n t o es- possibilitavam u m a tal tarefa e S e b a s t i ã o
t u d a n t e quer p o s t e r i o r m e n t e . E funda- e Silva sabia-o b e m . O que ele p r o c u -
m e n t a l m e n t e c o n h e c i d o pelos seus t r a b a - rava era u m conjunto de proposições
lhos no d o m í n i o d a A n á l i s e F u n c i o n a l onde de grande generalidade. Se quisermos
se e n c o n t r a m importantes contribuições a g o r a e s c l a r e c e r a q u i l o que deve ser enten-
suas. No entanto, o primeiro grande tra- dido p o r "geometria" de u m a "estrutura
b a l h o de S e b a s t i ã o e S i l v a situou-se n u m matemática" teremos de fazer algumas
p l a n o d i v e r s o d a q u e l e e pode e n c o n t r a r - considerações p r e l i m i n a r e s que s e r ã o n o
-se n a s u a tese i n é d i t a " P a r a uma teoria entanto h e u r í s t i c a s n a s u a forma. C o m e -
geral dos homomorfísmos", trabalho ela- c e m o s c o m a seguinte:
b o r a d o e m 1944 e m R o m a . E s e m d ú v i d a
uma e x p o s i ç ã o r i c a e m ideias e t a m b é m
C o n s i d e r a ç ã o 1: (Linguagem) Uma
p r o f í c u a e m novas d i r e c ç õ e s de p e s q u i s a .
linguagem é e m larga medida u m conjunto
T r a t a - s e de u m a i n c u r s ã o nos d o m í n i o s
de s í m b o l o s que se a g r u p a m de d e t e r m i -
d a L ó g i c a M a t e m á t i c a que r e s u l t a , n u m a
n a d a f o r m a de m o d o a t r a n s m i t i r i d e i a s
parte, de u m a p r e o c u p a ç ã o unificadora
num processo comunicativo. U m a lin-
t r a d u z i d a n a p r o c u r a de u m a base c o m u m
g u a g e m c o m o o p o r t u g u ê s insere-se n u m a
de r a m o s d a p r ó p r i a m a t e m á t i c a , que a t é
classe de l i n g u a g e n s d i t a s naturais. Tais
e n t ã o e r a m encarados como fundamental-
l i n g u a g e n s n ã o s ã o c o n t u d o l i v r e s de c o n -
m e n t e d i s t i n t o s ; de u m a o u t r a p a r t e no
t r a d i ç ã o , isto é , p o d e m o s f o r m u l a r nelas
reconhecimento de que uma qualquer "es-
j u í z o s c o n t r a d i t ó r i o s . A s s i m n a s c e u a ne-
t r u t u r a " p o s s u i u m a "geometria", procu-
c e s s i d a d e de, pelo m e n o s , i s o l a r a l g u m a s
r a n d o e n t ã o s a b e r se u m a vez d a d a e s s a
linguagens capazes de s e r e m utilizadas
"geometria" poderemos r e c u p e r a r a "es-
e m m a t e m á t i c a , j á que p a r a isso temos
Sobre a o b r a lógica de José Sebastião e Silva 23

que b a n i r q u a l q u e r p o s s i b i l i d a d e de c o n - as v a r i á v e i s ) o u t r o s d e s t i n a m - s e a s e r e m
tradição. E m b o r a n ã o exista u m a n o ç ã o i n t e r p r e t a d o s c o m o r e l a ç õ e s ( e x e m p l o s de
g e r a l de l i n g u a g e m m a t e m á t i c a , existem r e l a ç õ e s s ã o a r e l a ç ã o b i n á r i a "menor que"
c o n t u d o d i v e r s o s e x e m p l o s de t a i s l i n g u a - definida em N ou a r e l a ç ã o u n á r i a definida
gens, m a i s ou m e n o s e s t u d a d o s , sendo que no m e s m o c o n j u n t o "x é p a r " ) e p o d e m
aquele que é s i m u l t a n e a m e n t e o m a i s e s t u - por e x e m p l o ser R, e, < ou >; outros
d a d o e o m a i s u t i l i z a d o é o de l i n g u a g e m destinam-se a serem interpretados como
de p r i m e i r a o r d e m . U m a linguagem será operações: +, ®, 0, / . Deste modo e j á
e n t ã o u m c o n j u n t o de p a l a v r a s que se for- que t o d a s as l i n g u a g e n s p o s s u e m os mes-
mam a p a r t i r de a l g u n s s í m b o l o s básicos mos s í m b o l o s l ó g i c o s , identificamos u m a
utilizando algumas regras s i n t á c t i c a s ; tais determinada linguagem como o conjunto
p a l a v r a s d e s t i n a m - s e a t e r e m u m a deter- dos seus s í m b o l o s n ã o l ó g i c o s . C o n s i d e r e -
minada interpretação, isto do p o n t o de m o s e n t ã o a seguinte l i n g u a g e m Z = { / }
vista s e m â n t i c o . A primeira v i s t a u m a lin- onde / é p a r a ser i n t e r p r e t a d o c o m o u m a
g u a g e m m a t e m á t i c a n ã o s e r i a m u i t o dife- o p e r a ç ã o b i n á r i a . M diz-se u m m o d e l o de
rente de u m a l i n g u a g e m n a t u r a l , m a s e s t a £ se M = (U,g), onde U é u m c e r t o c o n -

primeira vista olha para a génese, para junto e g é u m a o p e r a ç ã o b i n á r i a definida


e m U, isto é , g : U x U —* U é u m a
o processo f o r m a t i v o , e esse é e s s e n c i a l -
aplicação.
m e n t e s e m e l h a n t e , no e n t a n t o q u e r a s i n -
t a x e q u e r a s e m â n t i c a de u m a l i n g u a g e m Esta noção de modelo de uma lin-
m a t e m á t i c a encontram-se suficientemente g u a g e m , pode ser c o n s i d e r a d a c o m o u m a
e n f r a q u e c i d a s e r e m o d e l a d a s de m o d o a e s p e c i f i c a ç ã o de u m c o n c e i t o a i n d a m u i t o
n ã o encerrar as c o n t r a d i ç õ e s típicas de i m p r e c i s o — o de e s t r u t u r a m a t e m á t i c a .
u m a linguagem natural. A s palavras s ã o D e f a c t o t r a t a - s e de u m p r o b l e m a c o m -
f u n d a m e n t a l m e n t e de dois t i p o s — t e r m o s plexo e t a l v e z m e s m o i n s o l ú v e l , aquele de
e f ó r m u l a s — u m t e r m o é p o r e x m p l o a ex- definir o que deve ser e n t e n d i d o p o r es-
p r e s s ã o x + y, j á que q u a n d o s u b s t i t u í m o s trutura matemática. No entanto e no
as v a r i á v e i s p o r elementos (por exemplo que se segue q u a n d o se f a l a r de e s t r u -
de N ) o b t e m o s (feitas as c o n t a s ) u m ele- t u r a m a t e m á t i c a isso deve ser entendido
m e n t o (de N , neste c a s o ) ; u m a f ó r m u l a é, c o m o s i n ó n i m o de m o d e l o de u m a c e r t a
por o u t r o l a d o , u m j u í z o feito a c e r c a de linguagem.
determinados elementos, por exemplo V x
Consideração 3: (AutomorBsmo)
(x > 0 ) , que é v e r d a d e i r a e m N mas é
Consideremos u m a linguagem
falsa em R .

£ = {/l, fn, Rl, Rrn] ,


Consideração 2: (Modelo de uma
Linguagem) U m a vez f i x a d a u m a s i n - onde os / , se d e s t i n a m a ser i n t e r p r e t a d o s
taxe e uma semântica, de um modo c o m o o p e r a ç õ e s de o r d e m pi e os Rj se des-
geral e s p e c i f i c a m o s u m a d e t e r m i n a d a l i n - t i n a m a ser i n t e r p r e t a d o s c o m o relações
guagem d i s c r i m i n a n d o os seus símbolos de o r d e m qj ( p a r a s i m p l i f i c a r d i r e m o s que
básicos. Alguns desses símbolos são u m a relação R definida n u m conjunto X
s í m b o l o s l ó g i c o s (~, V , 3, A, V, =>, =,' é de o r d e m n £ N , n > 1, se R for u m
24 GAZETA DE MATEMÁTICA

n
s u b c o n j u n t o de X ) . Consideremos u m onde " < " é a o r d e m u s u a l de N . Temos
modelo M = (X; gi, ...,g , n T \ , T m ) da que (o, 6) € T se e s ó se 3 t ( a + í — b A t ^ 0 )
l i n g u a g e m a n t e r i o r , onde: e esta ú l t i m a e x p r e s s ã o é uma fórmula
de C S e m p r e que isto a c o n t e c e dize-
(1) : X " ^ X
g i
m o s que a o p e r a ç ã o ou r e l a ç ã o e m c a u s a é

s ã o a p l i c a ç õ e s e: £-definível.

q
(2) Tj ç X ' ;

e n t ã o u m a a p l i c a ç ã o a : X —• X que s e j a
b i j e c t i v a , diz-se u m a u t o m o r f i s m o de M se:

VJ < n V a i , —><h>i € X

^ ( f l . ( a i , " , a , . ) ) = 0,(<T(ai),...,<r(a .))


p p

e:

Vj < m V a i , ...,a 9 y G X

(ai,...,a q j ) e T j sse (<r(cti), . . . , < 7 ( a . ) ) e r , . 5j

U m automorfismo é por assim dizer u m a


r e o r g a n i z a ç ã o dos e l e m e n t o s , de t a l m o d o
que os elementos permutados desempe-
n h a m relativamente à estrutura o mesmo V o l t a n d o ao t r a b a l h o de S e b a s t i ã o e
papel. S i l v a , p o d e m o s a g o r a d e s c r e v e r a q u i l o que
deve ser e n t e n d i d o c o m o "geometria" de
Consideração 4: (DeBnibilidade)
uma determinada estrutura matemática
E s t a n o ç ã o é muito importante em todo
M. Para ele essa "geometria" residia
o processo matemático. Se pensarmos
no c o n j u n t o d a s p r o p r i e d a d e s d e s s a es-
n u m a c e r t a e s t r u t u r a Al = (U;...) mo-
t r u t u r a (isto deve ser e n t e n d i d o c o m o as
delo de u m a c e r t a l i n g u a g e m £, e n u m a
relações d e f i n i d a s sobre essa estrutura)
c e r t a o p e r a ç ã o o u r e l a ç ã o d e f i n i d a sobre
que ficavam i n v a r i a n t e s p a r a os seus a u t o -
U, pode acontecer que uma ou outra
m o r f i s m o s (se T é u m a r e l a ç ã o de o r d e m
p o s s a ser d e s c r i t a p o r m e i o de p a l a v r a s d a
n d e f i n i d a sobre X onde M = (X;...), se
p r ó p r i a l i n g u a g e m £.. P o r e x e m p l o se c o n - n
(oi,...,a ) n G X e se a é u m a u t o m o r -
siderarmos u m a linguagem com u m ú n i c o
fismo de X e n t ã o T diz-se i n v a r i a n t e p a r a
s í m b o l o que se d e s t i n a a ser i n t e r p r e t a d o
a se q u a l q u e r que s e j a aquele (ai,...,a„)
por u m a o p e r a ç ã o b i n á r i a , e n t ã o ( N , + )
se t e m que ( c r ( a i ) , ...,a(a ))
n € T se e s ó se
onde " + " é a o p e r a ç ã o de a d i ç ã o e m N,
(ai,...,a„) € T.
é u m modelo dessa linguagem. Conside-
remos agora a r e l a ç ã o b i n á r i a definida e m A i n v e s t i g a ç ã o de S e b a s t i ã o e S i l v a p a s -
N do seguinte m o d o : s o u e n t ã o a o r i e n t a r - s e no s e n t i d o de c a -
r a c t e r i z a r e s s a g e o m e t r i a . A o longo do s e u
2
T = {(a,6) e N : a < b] , t r a b a l h o o b t é m u m a g e n e r a l i z a ç ã o d a teo-
Sobre a o b r a lógica de José Sebastião e Silva 25

r i a de G a l o i s e i n t r o d u z u m c o n c e i t o de deve ser u m j o g o i m a g i n a t i v o que não


d e f i n i b i l i d a d e m a i s g e r a l do que o a n t e r i - pode p e r d e r de v i s t a a p r ó p r i a r e a l i d a d e ,
ormente mencionado, obtendo por esta v i a p o r o u t r o l a d o ao m é t o d o d a m a t e m á t i c a
as f e r r a m e n t a s n e c e s s á r i a s p a r a alcançar que ele defende dever ser o m a i s c o n s t r u -
aquele que é t a l v e z o m a i o r o b j e c t i v o d a t i v o p o s s í v e l , m a s n ã o a p e n a s isso, i s t o é ,
tese, o t e o r e m a seguinte: d e v e m o s t o m a r c o m o v á l i d o s , m é t o d o s que
transcendem o construtível no caminho
Teorema. Dada uma linguagem C e p a r a a l c a n ç a r a "verdade matemática".
um seu modelo M, a geometria de M é
Uma última palavra para o conteúdo
constituída pelas relações Z-deRníveis.
d a tese i n é d i t a , que c o m o j á foi referido

Impõem-se algumas chamadas de é do p o n t o de v i s t a c i e n t í f i c o m u i t o r i c a ,

atenção: a t é pelos p r o b l e m a s que d e i x a e m a b e r t o .


M a s u m a riqueza igualmente grande pode
1) E m p r i m e i r o l u g a r a l i n g u a g e m que a i n d a ser e n c o n t r a d a do p o n t o de vista
S e b a s t i ã o e Silva utiliza é u m a lin- p e d a g ó g i c o , j á que n ã o é v u l g a r que u m a
g u a g e m p a r t i c u l a r , pelo que ele n ã o obra que aborde assuntos desta ordem
resolveu o problema e m geral, m a s os e x p o n h a de f o r m a t ã o i n t u i t i v a e i n -
apenas n u m caso concreto. teligível.
2) A r e s o l u ç ã o d o p r o b l e m a p a r a ou-
Por todos estes motivos a "Tese
tras linguagens encontra-se por-
inédita" é s e m d ú v i d a u m t r a b a l h o que
tanto em aberto. Existem pelo
deve ser lido e e s t u d a d o .
m e n o s i n d í c i o s de que a s u a reso-
l u ç ã o depende n ã o apenas d a lin-
guagem, mas d a p r ó p r i a estrutura. BIBLIOGRAFIA
[1] JOSÉ SEBASTIÃO E SILVA - Para
Uma outra questão levantada pelo
uma Teoria Geral dos HomomorBsmos, tra-
p r ó p r i o S e b a s t i ã o e S i l v a e que e s t á a i n d a
balho escrito em R o m a em 1944 e mantido
i n t i m a m e n t e r e l a c i o n a d a c o m as conside- i n é d i t o a t é à sua p u b l i c a ç ã o em Portugal pelo
r a ç õ e s a n t e r i o r e s é a seguinte: dado um Instituto Nacional de I n v e s t i g a ç ã o Científica,
g r u p o de t r a n s f o r m a ç õ e s b i j e c t i v a s de u m em 1985, nas "Obras de José S e b a s t i ã o e
conjunto U saber como e quando é p o s s í v e l Silva", V o l . I, pp. 133-363.
c o n s t r u i r u m m o d e l o Al = (U;...) de u m a [2] JOSÉ SEBASTIÃO E SILVA - Su-
determinada linguagem C, de t a l m o d o gli AutomorBsmi di un Sistema. Matemá-
que o c o n j u n t o de t r a n s f o r m a ç õ e s p r e v i a - tico Quulunque, P o n t i f í c i a A c a d é m i a Scientia-
m e n t e d a d o s e j a o g r u p o de a u t o m o r f i s m o s rum, Commentationes, Vol. I X , N - 9, m e m ó -
de M. A q u i e s t á u m problema delicado e ria apresentada em 1945. Este trabalho foi
traduzido para inglês e apresentado por A . J .
de d i f í c i l r e s o l u ç ã o , c o m o a l i á s é r e c o n h e -
Franco de Oliveira sob o t í t u l o "On Automor-
cido pelo p r ó p r i o S e b a s t i ã o e S i l v a .
phisms of Arbitrary Mathematical Systems",
A tese inédita termina com algu- na revista History and Philosophy of Logic, 6,
m a s c o n s i d e r a ç õ e s de o r d e m filosófica que 1985.
dizem essencialmente respeito, por um [3] NATHAN JACOBSON - Lectures
l a d o aos o b j e c t i v o s d a p r ó p r i a m a t e m á t i c a in Abstract Algebra, V o l . I l l , V a n Nostrand
que n a o p i n i ã o do p r ó p r i o S e b a s t i ã o e S i l v a Company Inc., 1964.
PONTOS DE E X A M E

ENSINO SECUNDÁRIO III

12- A n o de E s c o l a r i d a d e — Calcule
- V i a de Ensino
5
( 1 2 , 25 e 55 cursos) lim ( l - - ^ ) -
n-»+oo V n + 3-'
1- fase; 1- chamada - 1989
(Duração da prova: l h 30m) rv
C o n s i d e r e a f u n ç ã o / , r e a l de v a r i á v e l
I real, definida por

1. P r o v e que ( R , 6) é s e m i g r u p o , sendo
/ ( x ) = x + sen x — 1 .
R algebrizado pela o p e r a ç ã o 6 definida
por a 0b = a • \b\ (• m u l t i p l i c a ç ã o u s u a l
1. P r o v e que existe pelo menos um
em R ) .
n ú m e r o real a , do i n t e r v a l o [ 0 , ^ ] , t a l que
2. A v e r i g u e se o s e m i g r u p o referido e m a + sen oc = 1.
1. é c o m u t a t i v o .
2. C a l c u l e , a partir da definição, a
2
3. Sendo A = {x e R : | i - 3| > 3} d e r i v a d a de / ( 2 x ) no p o n t o 0.
e B o c o n j u n t o dos t e r m o s d a s u c e s s ã o de
t e r m o g e r a l u „ = t g ( 4 n + 1) f , d e t e r m i n e V
o c o n j u n t o dos p o n t o s f r o n t e i r o s de A u B .
Resolva a e q u a ç ã o

II
log5 + l o g ( x + l ) = log(9x-3)-log(x-l).
1. D e s i g n a n d o p o r ~z o c o n j u g a d o do
número complexo z, represente g r a f i c a - P a r t e de o p ç ã o
m e n t e ( d i a g r a m a de A r g a n d ) o c o n j u n t o (Responder a uma e só uma
definido p e l a c o n d i ç ã o das questões A ou B )

I . KI 7T 3 JT A
z z < eis — A — < a r g z < —— .
1 4 1 4 4
2. C o n s i d e r e o n ú m e r o c o m p l e x o z = 1. E s t a b e l e ç a uma das fórmulas de
eis a , c o m a € ]0, TT]. M o s t r e que t r a n s f o r m a ç ã o e m produtos d a soma ou
d a d i f e r e n ç a de dois senos ou de dois co-
\z -
1
1| = 2 sen - .
1 -senos.
2
Pontos de Exame 27

2 . C o m o a p l i c a ç ã o d a s f ó r m u l a s referi- e o c o n j u n t o dos seus p o n t o s f r o n t e i r o s é


d a s e m 1., r e s o l v a , e m R , a e q u a ç ã o dado por { — y 6 , 0 , 1 , V ^ } -

c o s ( 2 x) + c o s ( 6 x ) = s e n ( 3 x ) — s e n ( 5 x ) . I I . 1. A c o n d i ç ã o z~z < | c i s ^ | equivale


a z
\ r — L o g o o c o n j u n t o que a c o n d i ç ã o
B d a d a define é c o n s t i t u í d o pelos p o n t o s do
c í r c u l o de r a i o 1 e c e n t r o e m ( 0 , 0 ) , do
1. D e t e r m i n e as a s s i m p t o t a s do g r á f i c o
plano complexo, cujo argumento é maior
d a f u n ç ã o d e f i n i d a por que ^ e m e n o r o u i g u a l que ^ , r e p r e s e n -
y = x + arctg x (aretgx € ] ~ , - [) . tado n a figura:

2 . P r o v e que
"Se o g r á f i c o de u m a f u n ç ã o í m p a r tem
assimptota para x —• + o o , então tem
a s s i m p t o t a p a r a x —• — oo, sendo iguais
os r e s p e c t i v o s declives e s i m é t r i c a s as or-
d e n a d a s n a origem."

II.2. Com z = cisa,


Resolução:
2 2
— 1| = | ( C O S O J — 1) + t s e n a | =
1.1. ( R , 9) c o n s t i t u i u m g r u p ó i d e , pois 2 2
= c o s a — 2 cos a + 1 + s e n a =
se ( a , b ) G R x R , a0b = a • |6| S R . A
= 2 ( 1 - c o s a) (a€]0,ff]).
p r o p r i e d a d e a s s o c i a t i v a é v e r i f i c a d a j á que

(a$b)0c= (a • \b\)$c = (a • \b\) • \c\ = 2 a


Por outro lado, 1 2
= a.(|&|.|c|) = a.(|fc.|c||) = que i m p l iica 2
c a que \z — 1 | = 4 s e n - - L o g o 2

II = 2 I sen 2 sen ^ , pois ^ é u m


= a0{b$c) .
â n g u l o do p r i m e i r o q u a d r a n t e .
L o g o ( R , $) é u m s e m i g r u p o .
I I I . Tem-se
1.2. a$b = bOa O a • \b\ = 6 • \a\,
n+ 2
r e l a ç ã o que n ã o é v á l i d a , por exemplo, 2
lim ( l ±-) * =
para o = 1 e t = -1. n-ooV +
n + 3/

1.3. D i z e r que x £ A, equivale a ter -2 \n+3


limf 1 +
2 2 2
x - 3 > 3 ou x - 3 < - 3 , ou seja, x > 6 n—»oo \
2
ou x < 0. L o g o .2
= (« '.i)i =
e *
A = ] - , oo, U [V6~, +oo] U { 0 } .
I V . l . Como /(0) = -1 e /(f ) = f,
Por outro lado, para c a d a n ú m e r o natural,
t e m o s que / ( 0 ) / ( f ) < 0. L o g o existe pelo
n , u „ = tg(7r + f ) = tg \ = 1. A s s i m ,
m e n o s u m r e a l a G ]0, ? [ , t a l que / ( a ) = 0,
A u B = ] - oo, - \ / 6 ] U [\/6,+oo[u{0,1} conforme o pretendido.
28 GAZETA DE MATEMÁTICA

I V . 2 . Seja g(x) = / ( 2 a;). Temos que procedendo analogamente. O mesmo


se passa para a soma e diferença de
g'(0) = l i m g(g) ~ g(0) =
dois cosenos, a partir das fórmulas cor-
I—*o
respondentes para o coseno da soma e
/(2x)-/(0)
= lim da diferença de dois ângulos, obtendo-se
x->0 então, respectivamente,
2 x + sen 2 x
= lim 3 L S i
x—O x cos a + cos /3 = 2 cos ^ - cos ^ -
2 sen 2 x
= 2 + hm =2 + 2= 4
x->o 2x
cos a — cos /? = -2 sen sen « f *
V . Se x satisfaz a equação dada, então
9 :c 3
necessariamente log 5 ( x + 1) = log( 7 ), g 1
VI.A.2.
2
ou seja, 5 ( x — 1) = 9 x — 3. Resolvendo,
esta equação do segundo grau, obtemos cos 2 x + cos 6 x = sen 3 x — sen 5 x
como raízes 2 e Há que ver agora
2 cos4 x cos( —2 x) = 2 sen( —x) cos 4 x
se estes valores pertencem ao domínio das
funções envolvidas na equação. Como 2 cos 4 x (cos 2 x + sen x) = 0
9 (~JQ) - 3 < 0 e —j^j - 1 < 0, concluímos 2
2 cos 4 x (1 — 2 sen x + sen x) = 0 .
que — A não pode ser solução da equação.
Para o valor 2, tais entraves não se verifi- Ora,
cam, pelo que x = 2 é a única solução que
k 7T 7T
a equação tem. cos 4 x = 0 x = — + - (* z).
V I . A . l . De No que respeita à equação — 2 sen x + 2

sen(a + b) = sen a cos b + cos a sen b sen x + 1 = 0, concluímos, pela resolução


de uma equação do segundo grau, que x
deverá satisfazer sen x = 1 ou sen x = — ^ .
sen(a — 6) = sen a cos 6 — cos a sen b , Logo para além dos indicados acima, x
poderá assumir os valores x = 2 k n + ?
obtemos, adicionando termo a termo, ou x = 2kir - f (k € Z ) .
sen(a + b) + sen(a — 6) = 2 sen a • cos b. V I . B . l . Como

Assim, se a e 6 forem soluções do sistema lim (x + a r c t g x ) = —oo


x-»-jr/2
a+ b= a
{ a - b = 0 , lim (x + are tg x) = +oo ,
concluímos que :-»x/2
a e\ a+ ô Ot — 0 as rectas dadas por x - ^ e x = ^ , cons-
tituem as assimptotas verticais, Aten-
sen a + sen p = 2 sen —i*- cos . dendo a que
Para a diferença obteríamos l i m (x + are tg x) = ± o o ,
x—>±oo
sen a — sen p = 2 sen cos Jl ,
Pontos de Exame 29

concluímos não existirem assimptotas ho- INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO


rizontais. No que respeita as assimptotas Análise M a t e m á t i c a I
oblíquas, se existirem, elas são da forma
Exame finai - 2^ época - 1988
y — m x + b, onde

m = ,. /(*)
hm —
x —»±oo 'X 1. Sendo f(x) = a r c t g ^ ^ para cada
x^O,
b= lim ( / ( x ) — mx) . a) estude a função do ponto de vista
x—»±oo da continuidade e da diferenciabili-
Ora, dade;
x + arc t g x I arc t g x \ b) calcule os limites de / e / ' nos pon-
lim lim (1 + — ) = 1,
x-»+oo X tos +oo e — oo e os limites laterais
lim (x are t g x — x)= l i m arctgx = — , das mesmas funções no ponto 0;
x—>+oo x—•+oo 2
c) estude o sinal dos valores de / , / ' e
x + arc tg x
lim
z—»
r—» —oo V
(
) = >• / " em todos os pontos em que estas
funções estão definidas;
lim (x + arc tg x — x) = — ^ .
x—> — oo 2 d) determine uma equação da tan-
Logo, y = i + | e y = i - | constituem as gente ao gráfico de / no seu ponto
assimptotas oblíquas do gráfico da função. de inflexão;

V I . B . 2 . Sendo / ( - x ) = - / ( x ) temos e) esboce o gráfico da função / .


que
2 . 1 . Determine os pontos em que con-
lim fix) = lim f ( - x ) = — lim / ( x ) , vergem, absoluta e simplesmente, as séries
I—• — oo x—»+oo x—»+oo
de potências:
/(x) /(-») /(x)
hm ——- = hm — = hm ,
x—»—oo x x—»+oo —x x—» + oo x
e com n=l
oo
m = lim ^ ^ ,
x—» + oo x n=l
6= lim ( / ( x ) — m x ) ,
2.2. Desenvolva em série de Mac-
lim ( / ( x ) — m x) = -Laurin a função log(l + j i j ) e indique
X—• — oo o "maior" intervalo aberto em que a série
lim í f ( — x ) + mx) = representa a função.
v v
x—+oo ' '
= — lim ( / ( x ) — m x ) = — b , 2.3. Estude, quanto à convergência
x—>+oo pontual no intervalo [0,+oo[, a sucessão
de funções f {x) = i+ -
n nx Será a con-
donde se conclui facilmente o requerido.
vergência uniforme nesse intervalo? E em
[l,+oo[?
(Resolução de Maria Edite do Rosário)
30 GAZETA DE MATEMÁTICA

3.1. Sendo <p : R —» R uma função Resolução:


contínua limitada, indique, justificando
l . a ) / é diferenciável — e portanto
a) os limites nos pontos + 0 0 e — 00 da contínua — em cada ponto do seu domí-
função / , definida por: nio, R \ { 0 } (no ponto 0 tem uma descon-
tinuidade de 1- espécie).
f { x ) x +
~ TTN ' b) Como

b) o contradomínio da função / . lim X


= lim X
~*~ * = 1
!—» + oo x X—»~oo X
3.2. Sendo / : R —> R uma função
duas vezes diferenciável em R e g(x) —
f ( x sen x)
/ ( + 0 0 ) = /(-oo) = arctgl = —
a) calcule g'(x) e g"(x), expressos em
função de derivadas de / em pontos Por outro lado, de l i m _ + x+l _
+00 e
z 0

convenientes; l i m _ - í ± l = - o o , decorre / ( 0 ) = f ,
s 0
+

b) supondo /'(O) > 0, justifique que / ( 0 - ) = - f . Para / ' ( * ) = - , \ 2 x + t + 1

g tem um extremo no ponto 0; (x yí 0) vem /'(+00) = /'(-oo) = 0 e


máximo ou mínimo? /'(o+) = / ' ( o - ) = - i .
c) O sinal de f(x) é o de a função
3.3. Sendo <p :]0,+oo[—• R uma
é positiva em ] — 0 0 , —1[ U ]0, +oo[, nula
função diferenciável verificando a condição
no ponto —1 e negativa em ]— 1,0[; como
<p(n) = <p(-i+l) para cada inteiro positivo 2
2x + 2x + 1 > 0 para qualquer x G R , é
n,
f'(x) < 0 para qualquer x ^ 0. Quanto a
a) Quantas raízes tem a equação
<p'{x) = 0? 4z + 2
roo = 2
(2x + 2 x + l ) 2
(para x ^ 0) ,
b) Se existir o l i m _ a ; > + 0 0 <p'(x), qual
será o seu valor? o seu sinal é o de 4 x + 2:
4. Sendo / e g funções uniformemente /"(*) > 0 em ] - l , 0 [ u ] 0 , + o o [ ,
contínuas,
a) prove que a soma, f + g, é uma /"(-•) = o,
função uniformemente contínua; f"(x) < 0 em j-oo,-|[.
b) prove que se / e g são limitadas, o
produto f g é uma função uniforme- d) O gráfico de / tem uma inflexão
mente contínua; no ponto — i; como /'(—«) 2 , uma = —

c) mostre, por meio de um exemplo, equação da tangente ao gráfico no ponto


que se / ou g não forem limitadas, a com essa abcissa é:
função / g poderá não ser uniforme-
mente contínua. + í - » ( - + i )
Pontos de Exame 31

e) Gráfico (ver figura). b) O raio de convergência da série é


r = l/(lim _ 2n-i) = 2; a série á a-
n > 0 0
•/(*) bsolutamente convergente se \x + 2| < 2,
divergente se \x + 2| > 2. Para x = 0 ou
x = — 4 o módulo do termo de ordem n é
superior a 1, não podendo portanto con-
vergir para zero: a série diverge em am-
bos os extremos do seu intervalo de con-
vergência.

2.2. A condição 1 + > 0 equivale


a x > — l o u x < —2; segue-se que, se a
função dada for igual à soma da sua série
2.1.a) O raio de convergência da série de Mac-Laurin num intervalo ] — r, r[, se
terá necessariamente r < 1 (vamos ver que
essa igualdade se verifica em ]— 1, l [ , sendo
/n + 1 log » Ï - portanto este o "maior" intervalo aberto
V n log(n
em que a série representa a função). Para
logn
= li x > -1 é
logn + log(l -t - * ) ~
1 ( _L_)
lim / ( x ) = l o g 1+ =

= log(x + 2) - log(x + 1)
há, portanto, convergência absoluta para
|x| < 1, divergência para |x| > 1. Para e, portanto,
x = 1, atendendo a que > £ para
n > 3 e à divergência da série harmónica, r w - i 1 1

2 1+ f 1+ x
pode concluir-se que a série diverge. Para
x = — 1 trata-se de uma série alternada, Como, para |x| < 1, se tem:
cujo termo de ordem n tende para zero;
como a condição

logn log(n + 1) 1 T 1
n=0
n n + 1
e para |x| < 2
+ 1 n
é equivalente a l o g n " > log(n + l ) e
portanto também a n > ( 1 + ^ ) " (de-
sigualdade certamente verificada a par- 1+ % ^} ' 2" '
n=0
tir de alguma ordem, visto que (1 +
converge para e), pode concluir-se, pelo vem, para |x| < 1:
critério de Leibnitz, que a série converge
(convergência simples, dada a divergência n n

d~ V*oo log n \ /'(*) = E(-i) t r i - !) * •


n=0
32 GAZETA DE MATEMÁTICA

Primitivando e atendendo a que /(O) = b) A função é contínua, como logo se


log 2, obtém-se: reconhece atendendo a que <p é contínua,
por hipótese; nestas condições, assumindo
+ 1
/ valores — tanto positivos como nega-
/(*) = i ° 2 g + E ^ ( ^ - i ) * " tivos — de módulo arbitrariamente grande
n=0
(como decorre da alínea anterior) o teo-
(|x| < 1). Pode observar-se que, no ponto
rema do valor intermédio permite concluir
1, a soma da série ainda é igual ao valor
facilmente que fÇR) = R .
da função.
3.2. a)
2.3. A sucessão converge pontualmen-
te em [0, +oo[ para a função: g'(x) = / ' ( x s e n x ) (senx + xcosx) ,
1 se x — 0, <?"(x) = / " ( x s e n x ) (senx + x c o s x ) + 2

/ M - { J
se x > 0 + / ' ( x s e n x ) (2cosx — xsenx) .
como se verifica imediatamente. A con-
vergência não pode ser uniforme nesse b) Como g'{0) = 0, g"{0) = 2 / ' ( 0 ) > 0,
intervalo, visto que as funções / „ são a função g tem um mínimo no ponto 0.
contínuas em [0,+oo[ e / é descontínua
3.3. a) De acordo com o teorema de
no ponto 0.
Rolle, em cada intervalo ] n , n + 1[ deve
Sendo S > 0 arbitrário e x G [ l , + o o [ ,
existir pelo menos um ponto em que <p' se
a condição:
anule; a equação <p'(x) = 0 tem, portanto,
- - L - , infinitas raízes.
l f n { x ) f { x ) l = < s

b) Designando por x um ponto do in-


n

equivalente a nx > | — 1, será certamente tervalo ] n , n + l [ que verifique <p'(x ) = n

verificada desde que seja n > | — 1. Pode 0, deverá ter-se limn-^oo <p'{x ) = 0 n

portanto concluir-se que a convergência é e t a m b é m limn-^oo <p'{ n) x


= a se for
uniforme em [ l , + o o [ . l i m _ , + <p'{x) = a. Assim, se este último
:c 0O

limite existir, terá de ser igual a zero.


3.1.a) Sendo <p limitada e k um
número real tal que | v ( ^ ) | < k para qual- 4.a) Dado 6 > 0 , determinem-se a > 0
quer x G R , ter-se-á e /? > 0 tais que, para quaisquer x, y G R ,
se tenha
<
1 + 1*1 1+ x \x — y\ < a \f(x)-f(y)\< -

e portanto
\x-y\<0 => |flf(x) -g(y)\ < -.
lim ^4~= lim =o
i—t+oo 1 + x x—>-oo
1+ 1*1
Sendo e = min{a,/?} e \x — y\<e, ter-se-á:
Daí resulta imediatamente
K / + » ) ( * ) - ( / + ff)(y)l <
lim f(x) = +oo, l i m fix) - - o o . <\f(x)-f{y)\+ \g(x)-g{y)\<6.
x—»+oo «—»—00
Pontos de Exame 33

b) Suponha-se | / ( x ) | < M e \g{x)\ < N UNIV. DA B E I R A INTERIOR-COVILHÃ


para qualquer x € R . Dado 5 > 0, de- A l g o r i t m o s (*)
terminem-se números positivos a e /? por
Exame Final - 1987/88
forma que, para quaisquer x, y G R :

|x-y|<« =• | / ( x ) - / ( y ) | < ^ 1. O grafo direccionado

\x-y\<0 => | f f ( x ) - $ ( y ) | < — .

Corn e = min{a,/3} e |x — y| < e ter-se-á:

l(/ff)(*)-(/í/)(y)|<
< |/(x) (x)-/(x) (y) +
f f f f

+ /(*)<Ky)-/(y)<7(y)l<
< |/(x)|| (x)-y(y)| +
f f

+ ) / ( * ) - / ( y ) | |y(y)1 <
< S. pode ser representado pela sua matriz de
adjacência A tal que A[I; J] é 1 sse houver
c) Serve de exemplo o produto f g , um "caminho" do nó / para o nó J:
com / ( x ) = x e y(x) = sen2^x. Reco-
nhece-se imediatamente que f e g são uni- A
formemente contínuas em R e que só g 1 1 1 0 0 0
é limitada; para ver que / g não é uni- 1 0 0 1 0 0
formemente contínua basta observar que, 0 0 0 1 0 0
com x„ = n + £ e y„ = n, se tem 0 0 0 0 1 1
lim„-,oo(x„ - y„) = 0 e 0 0 1 0 0 0
0 0 0 0 1 0
Um[(/y)(x„) - (/y)(y„)] =
(*) N o t a : Na disciplina de Algoritmos, do 4-
= l i m (n sen — ) = 2 7r . ano da licenciatura em Matemática/Informática
rc—»oo V n J da Universidade da Beira Interior em 1987/88 foi
usada a linguagem APL, não como metodologia
de programação mas como veículo de expressão
(Resolução de Jaime Campos Ferreira)
algorítmica. Os pontos de exame reflectem esta
escolha. Uma excelente referência bibliográfica é
a lição proferida aquando da atribuição do Prémio
Turing a Kenneth E . Iverson: Notation as a tool
of thought, Communications of the Association
for Computing Machinery, Vol. 23, pp. 444-465,
August 1980.
34 GAZETA DE MATEMÁTICA

a) Calcule A V . A A; Logo,
STE 5
b) Mostre que o produto interno de a)
representa os "caminhos" de / para 1 15 25 10 1
J com 2 percursos, isto é, toma o Escreva uma função que calcule recursiva-
valor 1 sse existir um K tal que mente STE UJ para ui inteiro e positivo.
A[I; K\ <- A[K; J\ <- 1.
4. Uma matriz quadrada A diz-se
equi-somável se:
2. Prove que com ui vector de elemen- i) Com A = {ojy}, Oij > 0
tos numéricos todos distintos se verifica a = 1, ...,n);
identidade ^u> «-» i ^ w . n n
Mostre com um exemplo que a identi- ii) ^2 a ik = ^2 a j para k =
k 1,n;
dade não se verifica no caso de haver ele- t=l j=i

mentos repetidos. n

Ui) °ij = 1

',.7 = 1
Por exemplo,
3. As diferentes maneiras de distribuir
u) objectos distintos por / = 1,2,...,o; 2/7 2/7 0 "
células ordenadas constituem os números A = 1/7 0 1/7
de Stirling do 2- tipo de ordem u>. Por Ll/7 0 0
exemplo, com o ; < - > 4 e / < - > 2 h á 7
maneiras: é equi-somável. Estas matrizes desempe-
nham um papel importante não só na
1 2 3 4 teoria dos grafos como nos processos es-
1 2 3 4
1 3 4 2 tocásticos com um número finito de esta-
1 3 2 4
1 2 4 3 dos.
1 4 2 3
2 3 4 1 Escreva uma função que aplicada a um
Com I *-* 1 só há 1 hipótese (todos os quadro de ordem 2 tenha como resultado
objectos na mesma célula) e analogamente 1 se for uma matriz equi-somável e 0 no
com / h 4 (todos os objectos em células caso contrário.
distintas). 5 . Dum "texto" constituído por um
Por contagem directa obter-se-ía para vector de caracteres onde as "palavras"
/ «-» 3 o valor 6 de modo que os números são separadas por um único carácter, por
de Sterling do 2- tipo e ordem 4 são exemplo o espaço em branco, pretende-
STE 4 <-> 1 7 6 1. -se construir a matriz das palavras, pela
O cálculo de STE 5 a partir de ordem das ocorrências, eventualmente
STE 4 (ou de uma ordem qualquer para preenchidas à direita por espaços.
a seguinte) é feito recursivamente multi- Escreva expressões que permitam essa
plicando 0, STE 4 por 0, i4, e o resultado operação. Se essas expressões constituí-
rotado de uma componente e somado com rem uma função PALAVRAS deverá ser,
o vector originário: 0 1 7 6 1 + 1 14 18 4 0. por exemplo:
Pontos de Exame 35

M <- PALAVRAS 'O ESFORÇO E GRANDE Ou, em notação APL, A / , 1 j A < l i A ou


E O HOMEM E PEQUENO' ainda A < . > l(j>A.
M Analogamente B[l] > B[2] > ... >
O B[pu>) ou, em A P L , A / " l [ B > l ó B ou
ESFORÇO A / , (B O . > B) = (ipB) o . > ipB ou
E ainda B < . < l$B.
GRANDE Mas isso verifica-se sse = B[pu>],
E
A[2] = B[~l + p<jj], A[pu)} = B[l] simul-
O
taneamente, logo A = §B e isso sse
HOMEM
E
w[^u>] *-+ <t>w[yw] <-»• wf^Yo;]
PEQUENO
pM
e, como os elementos de u> são todos dis-
9 7.
tintos é assim porque «-» fflu>.

Resolução: 3. Do enunciado sai imediatamente

STE : { 0 , R ) + U J Î ( L P R ) X R < - S T E U J - 1
1. Quanto a a),
:w = 1 : i 1 .
A V A A
1 1 1 1 0 0 4. Também do enunciado
1 1 1 0 1 1
0 0 0 0 1 1 EQUI: (1 = + / , w ) A A/{+/u>) = +
0 0 1 0 1 0 : (v/,w < 0)V ^ /pu : 0 .
0 0 0 1 0 0
0 0 1 0 0 0
5. Uma hipótese é
Para o cálculo podia ter-se em conside-
ração que, para argumentos booleanos, Z <- MAT W;B;E;I
V.A «-» |".X. W < - ( ~ WoSS ' ')/W
b) Para a demonstração bastaria notar w<-(' ' = ~ I Í W ) I Ç ' = I Í W ) I W
que (A V . A A) [J; J\ = 1 1 = v/A[I;} A B^ 1
' = w ^' ',w: '
A[; J] «-> existir no vector booleano A[I; ] A J£T*— "14-14.7 — " i f f <- B/ipB
A[; J] pelo menos um 1 *-* existir pelo
Z <- ((pE), \/E) p(,Eo. <i\/E)\(' ' *W)/W
menos um K tal que 1 = A[I; K] AA[K; J]
<-» A[I;K] = 1 A A[K; J] = 1.

2. Com os elementos de u> todos dis- (Resolução de J. Marques Henriques)


tintos, fazendo A <— o;[^u;], B *— UJ^OJ]
e usando a notação matemática conven-
cional tem-se:
A\l\ < A[2] < ... < A[pu)\
36 GAZETA DE MATEMÁTICA

INSTITUTO SUPERIOR DE A G R O N O M I A Observação: Cálculos auxiliares


Estatística M a t r i z de c o r r e l a ç õ e s
y xi x
Exame final - 1* chamada - 1990 y 1.000 0.808 0.708
2

zi 0.808 1.000 0.361


x2 0.708 0.361 1.000
S o m a dos q u a d r a d o s
(Nota: Para responder às diferentes questões,
utilize os cálculos auxiliares constantes na Regressão 1675.7
observação final ao enunciado deste grupo) Residual 289.9
Total 1965.6
Os seguintes dados referem-se a clas- E s t i m a t i v a s dos coeficientes de r e g r e s s ã o
sificações obtidas por 10 estudantes num Constante —115.7
9
dado exame, ao seu Q.I. e ao n de horas ii 1.516
dispendidas na preparação do exame: 22 2.214
10 10 10
Classif. (y) 79 97 51 65 82 93 81 68 60 86 yi = 762 ^2 ziir = 1159 ^ i , = 773
2

Q.I. ( n ) 112 126 111 109 112 121 120 113 111 124
Horas ( z )
2 8 13 3 7 11 9 8 4 6 4
?

1. Construa um diagrama de extremos y ^ y , = 60030 xjj - 134673 ^ x\j = 625


e quartis para as classificações obtidas por •=i
10
aquele grupo de estudantes.
y ^ y . z i . =88981 ^ y , a . = 5 8 6 4 y^Zi.Za,-= 8525.
2

2. Estime um modelo de regressão l i - i'=i ;=i i=i


near múltipla das classificações em função
do Q.I. e das horas de estudo. n

3. Considere o exame realizado por es- 1. A média e variância de uma pri-


tudantes que possuem o mesmo Q.I.. Qual meira série de 15 observações são respec-
a variação esperada nas classificações por tivamente:
cada hora a mais de tempo de estudo? xi = 30 , s\ = 25 ,
4. Qual a nota que se prevê para um e a média e variância de uma segunda série
aluno com um Q.I. de 110 e com 6 horas de 20 observações são:
de estudo? Indique a precisão da sua res-
posta. xi = 40, s\ = 36 .
5. Se lhe fosse pedido que escolhesse Qual a média e a variância do conjunto
apenas um dos factores acima considera- das 35 observações?
dos (Q.I. ou horas) para explicar a clas- 2. Seja p(x) uma distribuição de pro-
sificação dos estudantes, qual escolheria e
babilidade para x = 1, 2 , n , 2 n — 1.
porquê? Escreva então a equação do mo-
Se p(n + k) = p(n — k), mostre que:
delo de regressão linear simples baseado
nesse factor, fazendo os comentários que a) E{X) = n;
considerar adequados quanto ao uso desta b) Todos os momentos de ordem
equação de regressão em vez da obtida no ímpar em torno do valor médio
ponto 2. se anulam.
Pontos de Exame 37

III
Um cultivador tem na sua cave duas Numa experiência agronómica preten-
categorias de vinhos engarrafados: gar- de-se avaliar o crescimento total das plan-
rafas de vinho tinto e garrafas de vinho tas (expresso em peso seco) relativamente
branco. a dois regimes de fertilização A e B.
Supõe-se que nesta cave só há vinhos Ao f i m de determinado tempo proce-
de três anos (1968, 1969 e 1970) e que h á deu-se a medições, tendo-se obtido os se-
o mesmo número de garrafas de cada ano. guintes resultados:
A percentagem de garrafas de vinho
tinto entre as engarrafadas em cada um 5.44 5.36 5.60 6.46 6.75 6.03 4.15 4.44
daqueles anos (1968, 1969 e 1970) é de 5.12 3.80 4.96 6.43 5.03 5.08 3.22 4.42
70%, 50% e 90%, respectivamente.
1. Um ladrão leva uma garrafa ao 1. Numa experiência anterior (com um
acaso que verifica ser de vinho branco. elevado número de plantas da mesma cul-
Qual é a probabilidade de ter sido engar- tivar) relativa ao tratamento A , obteve-
rafado em 1969? -se uma variância de 0.42. Verifique se
os dados actuais são consistentes com esse
2. Depois de ter provado o vinho
valor. Diga, justificando, se haveria al-
branco, o referido ladrão achou que ele
guma(s) hipótese (s) necessária (s) à reso-
era muito bom. Decide então fazer nova
lução do problema.
'visita' à cave com o objectivo de levar
consigo pelo menos três garrafas de vinho 2. Verifique se os dois regimes de fer-
branco. Considerando que a escolha é tilização A e B evidenciam diferenças
feita ao acaso, quantas garrafas deverá ele significativas no que respeita ao cresci-
levar de modo a garantir a satisfação do mento das plantas. Explicite e verifique as
seu desejo em pelo menos 60%. hipóteses necessárias à resolução do pro-
IV blema.
Um comerciante pretende adquirir fru-
tos de um pomar A ou B. Como o peso dos
frutos é factor preferencial, o comerciante Resolução:
toma uma amostra casual de 36 frutos em
cada pomar escolhe aquele a que corres-
ponde a amostra com maior peso médio. 1. O que é necessário para a constru-
Se o peso dos frutos for normalmente dis- ção do diagrama de extremos e quartis:
tribuído, sendo
• ordenação dos dados:
Valor Desvio
Pomar Médio Padrão 51 60 65 68 79 81 82 86 93 97;
(grs) (grs) x
• min
=
51, x m a x 97;
A 20 2 a m
. x = m+ m = 80;
B 18 5
com que probabilidade escolhe o comer- • Qi = ço.25 = X(3) = 65;
ciante o pomar B? • Qs = ço.75 = x(8) = 8 6
;
38 GAZETA DE MATEMÁTICA

II

1
51 65 80 86 97
n i = 15, x i = 30, s\ = 25 ;
2. Por consulta dos cálculos auxiliares n = 20,
2 x~ = 40,2 s\ = 36 .
constantes na observação final do enunci-
ado, obtém-se que o modelo de regressão Para o conjunto das n = 35 observa-
linear múltipla é: ções temos:

y = - 1 1 5 . 7 + 1.516Z1 + 2.214x . 2 x = n i X l + n 2 X 2
= 35.71
35
2 2
3. Considerando constante o Q.I., a E*, -nx
2
s =
variação esperada na resposta quando n- 1
?
o n de horas de estudo aumenta de Sendo assim é necessário calcular para
uma unidade é dada pelo coeficiente de e
a 1- série de observações E ^ít para a
regressão associado a essa variável. Logo
2- série E * ! » - Então
há um aumento esperado de 2.214 na clas-
sificação. £ ) x j , - ni x x
2

2
^2x u = 13 850
n — 1
x

y = - 1 1 5 . 7 + 1.516 x 110+2.214 x 6 = .| => £ x ' , = 32684,


= 64.344 . ri2 — 1
1
2 _ Y. *i ~ n x
A resposta é dada com a precisão de S —
n - 1
2

R2 = SQR _ (13 850+ 32 684) - 35 x (35.71)


SQT = 0.8525 . 34 ~
= 55.9370 .
5. Escolheria Q.I. porque é o que a-
presenta um coeficiente de correlação com
a variável resposta, mais elevado: r — XlV
2. a)
0.808
2
o — J r= — = 1.929 . E(X) = f^xp{x)
« E *i, - (E in) 2
i=i
A equação é = l p ( l ) + 2p(2) + . . . + ( n - l ) p ( n - l ) +
+ n p(n) + (n + 1) p(n + 1) + ... +
y = -147.3 + 1.929xi ,
+ (2n-l)p(2n-l) .
2
com R = 0.6529, que é muito baixo.
Portanto ambos os factores (Q.I. e ho-
ras) têm de ser considerados na regressão.
Pontos de Exame 39

Se p(n — k) — p(n + k), podemos escrever donde

E(X) = 2 n p ( l ) + 2 np(2) + ... + P(B) = P(B/68)-P(68) + P(B/69)-P(69) +


+ 2 n p(n — 1) + np(n) = + P(B/70) • P(70) = 0.30

= n [ 2 p ( l ) + 2p(2) + . . . +
V
' ' P(B) 9
+ 2p(n- l)+p(n)] =
2n-l
2. Como vimos P(Branco) = 0.3.
= n P(x) = n. 9
Seja X o n de garrafíis de vinho
x=l branco que ele retira aleatoriamente das
existentes na cave (onde se supõe, como é
b) óbvio, que existem muitas).
Tem-se então
2 k + 1
M
2 F C + 1
= E[{X -n) ] =
2n+l X n B(n;0.3) .
2 + 1
= £(*-n) * p(*) =
Pretende-se determinar n de modo que
2 + 1 2 + 1
= (1 - n ) * p(l) + (2-n) * p(2) +
P\X > 31 > 0.60 P[X < 2] < 0.40
2 Â : + 1
+ ...+ ( n - n ) p(n) + ...+
Consultando as tabelas da binomial,
2 + 1
+ (2 n - 2 - n ) * p(2 n - 2) + temos que terá de ser n > 10.
2 i + 1
+ (2n - 1 - n ) p ( 2 n - 1).
2 + 1
As parcelas equidistantes de (n — n ) * •
IV
•p(n) são iguais em valor absoluto, mas de
sinais contrários, logo p . * = 0. 2 +1
ni = r»2 = 36.
Sejam XA e XQ as variáveis aleatórias
III que designam o peso dos frutos do pomar
1. A probabilidade de extrairmos uma A e B, respectivamente. Temos
garrafa de cada um daqueles anos é igual
X nM{20,2)
A e X B n #(18,5), donde
para todos: P(68) = P(69) = P(70) = 1/3.
X n#(20,|)
A e X B n .A/(18,f) .
P(T/68) = 0.70, P ( T / 6 9 ) = 0.50,
P ( T / 7 0 ) = 0.90 , A probabilidade de o comerciante es-
colher o pomar B é dada por
sendo assim
P[X B > X ] = P[X
A B - X A > 0 } =
P(B/68) = 0.30, P(B/69) = 0.50, 2
= 1- $ 0113
P(B/70) = 0.10 , Vv^9736/
40 GAZETA DE MATEMÁTICA

Para estudar a existência de diferenças


significativas no uso dos dois fertilizantes
1. Podemos realizar um teste de hipó-
temos o teste
teses
Ho : al = 0.42 , H : Mi = M2 ,
0

H i : 0% ï 0.42 . H i : m ^ n% ,
Considerando como hipótese a norma-
lidade dos comprimentos das plantas ao Xi — X2
T = nt (14)
ser usado o fertilizante A, a estatística do
teste é
(n-l)S , 2 ,2 _ ( n i - 1)5? + ( n , - 1 ) Si
ni + n - 2
2

Tomando como nível de significância T , = 1.6486 .


ca

a = 0.05, a região crítica é


Considerando um nível de significância
R.C. = ] - o o , J X 9 7 5 ( 7 ) [u]x 0 0 2 5 ( 7 ) ,+oo[ = de 0.05
= ] - oo; 1.69[U] 16.01; +oo[ .
R.C. = ] - 00; -2.145[u]2.145;+oo[ ,
O valor da estatística é 13.66 ^ R.C., logo
a um nível de significância de 0.05 não há sendo assim T \ ^ R.C.. Logo para um
ca

motivos para rejeitar que os dados actuais nível de significância de 0.05 não rejeita-
sejam consistentes com aquele valor para mos a hipótese de os dois fertilizantes
a variância. serem semelhantes.

2. Dado tratar-se de amostras inde- (Resolução de Manuela Neves Figueiredo)


pendentes e considerando a hipótese da
normalidade de cada uma das populações
de medições, vamos verificar em primeiro
lugar se é de admitir a hipótese da igual-
dade de variâncias.
TT . „2 _ 2
rio- 0\ — o- , 2

H i : a\ ? a\ Convidamos todos os professores a enviarem


enunciados de pontos de exame relativos ao 12-
ano de escolaridade e aos primeiros anos da
Estatística do teste: F = —^ n
^(7,7) >
^2 Universidade, com as respectivas resoluções.
F c a l = 0.8771 . A Gazeta de Matemática ficará reconhecida.

A um nível de significância de 0.05


temos a região de rejeição
]-oo,0.2002[U [4.9949,+oo[ ;
como .F i não pertence à região de rejei-
ca

ção, não se rejeita Ho-


PROBLEMAS
Quer o estudante, quer o professor de matemática deparam aqui e ali com problemas
cujo enunciado nem sempre denuncia a sua natureza — do trivial ao profundo. Nem
por isso esses problemas deixam de ocupar, às vezes com teimosia, o tempo de quem os
formulou ou simplesmente encontrou, constituindo-se em geral como subproduto da faina
matemática. Aqui se apresentam hoje alguns problemas do foro da análise matemática
real. Naturalmente que a Gazeta de Matemática fica à espera de respostas dos leitores
que serão publicadas após selecção, bem como de novos problemas...

1. Sejam / , f [n = 1,2,...), funções


n 5. Será que uma sucessão ( x ) de nú-
n

reais de variável real; suponhamos meros reais não negativos ( x > 0) n

que para todo x G R e qualquer tal que x + i < x +


n n para todo n,
sucessão x n • x se tem f (x ) —» n n é necessariamente convergente?
n—>oo
f(x). Será que / é necessariamente 6. Seja / : [0,1] —• R uma função real
contínua? de variável real tal que:
2. Seja / : [0, l ] —» R contínua. Prove i) Se [a, 6] c [0,1] então f([a, b})
que contém o intervalo de extremos
1
f(a), f(b);
lim (n + 1) f x f i x ) dx = / ( l ) .
n
_ 1
ii) Para todo c € R , / ( c ) é fecha-
°° Jo do.
3. Sendo / : R —+ R contínua tal que Será / necessariamente contínua?
/ ( x ) = / ( x + 1) = f(x + y/2) para
todo x e R , será que / tem de ser (Problemas propostos por
constante? Jorge Nuno Oliveira e Silva)
4. Dada a sucessão ( a ) de números n

reais de termo geral a > 0, tal que n

YÏ, « n converge, será sempre possível


encontrar uma sucessão ( c ) de ter- n

mos positivos ( c > 0), tal que n


c
lim c — +oo e Yl n a-n seja conver-
n

gente?
MATEMÁTICA EXPERIMENTAL
Esta secção é aberta a todo o leitor que deseje contribuir com problemas, algoritmos,
programas, observações, técnicas, etc., para o desenvolvimento da actividade experimen-
tal em matemática. Por experiência em matemática encaramos o acto de recorrer a uma
simulação computacional, mas que pode também ser física ou de outro tipo permitindo
desenvolver uma ideia e encontrar os possíveis resultados. Os leitores são convidados
a contribuir com sugestões, temas, experiências, que traduzam resultados interessantes
de matemática, ou problemas que, embora simples, tenham compJexidade e denotem
igualmente a capacidade de estarem transformando a maneira de trabalhar em ciência,
reintroduzindo o método experimental em matemática.

O Caos
por J. Sousa Ramos

1 - O C o n c e i t o de Caos A ciência do caos estende-se hoje a


toda a actividade científica. O conceito
Neste primeiro número abordaremos de caos de um modo mais ou menos
as teorias do caos e a sua simulação consciente, com mais ou menos rigor,
no computador. Em próximos artigos é vulgarmente utilizado e exprime pro-
trataremos de temas como fractais, atrac- priedades dos fenómenos sobre os quais re-
tores estranhos, autómatos celulares, re- cai cada vez mais a nossa atenção. Em
des neuronais, máquinas que aprendem, ciências físicas, químicas, biológicas, soci-
prova automática de teoremas em geo- ais, políticas, etc., os fenómenos caóticos
metria e aritmética, etc.. Recorrendo são os que mais atraem os novos investi-
ao computador a teoria da iteração das gadores. Um matemático não pode ficar
aplicações do intervalo e do plano apre- indiferente a este entusiasmo crescente
senta conceitos e resultados simples de pelo estudo do caos, sobretudo, porque
compreender e usar experimentalmente. esse estudo surgiu e avança predominan-
O nosso objectivo é dar e explicar os al- temente em resultado do trabalho dos
goritmos e programas necessários para o matemáticos. O principal motor desse
seu uso no computador. trabalho e o que permite avançar é, sem
Matemática Experimental 43

dúvida, o uso crescente dos microcom- E x e r c í c i o 1: Construa um programa


putadores. A facilidade de utilização, ca- de computador que desenhe a parábola e
pacidade gráfica e eficácia na obtenção de que permita variar a sua altura (solução:
resultados e sua compreensão permitem ver procedimento i t e r a i no quadro 1 re-
trazer um número crescente de amadores lativo ao programa da p a r á b o l a ^ .
e profissionais a estes novos tópicos da
matemática.
Os programas estão escritos em Pascal,
Seguidamente estudamos o exemplo versão 4 ou 5 do Turbo-Pascal da Borland
mais importante, que é igualmente o mais International.
simples, de um sistema dinâmico caótico.
Definimos iteração como a repetição
Por sistema dinâmico entendemos um par
da acção de aplicar / . Assim a iterada
( X , f ) , onde X representa o sistema ou
de ordem k de / = / j quando aplicada a
espaço e / a dinâmica ou aplicação, que
k um ponto inicial xo = 1/2 é dada por:
uma vez iterada, f = / o / o ... o / , e
partindo de uma posição inicial XQ, de-
fine órbitas { X Q , X \ z*,...), onde x,- = x = 1/2 -L>
0 X l = 4 6 1 / 2 ( 1 - 1/2) = b
/ ' ( x o ) , t 6 N . O sistema dinâmico mais 2
-U =4b {l-b)
simples que apresenta caos é o par ( / , / ) , X 2

onde I é o intervalo [0, l ] e / : / —» I é a f |

aplicação quadrática /(,:


Xk = /*(xo) -
f„(x) = 4 6 x ( l - x) ,
onde o parâmetro real b pertence igual-
mente a [0,1]. Neste caso, a caracterização E x e r c í c i o 2: Usando o computador
mais simples de uma situação de caos ou uma calculadora fixe o valor de b €
corresponde à propriedade de o sistema, [0,1] e determine várias órbitas partindo
para valores de 6 > 0.8925..., apresen- de diferentes valores iniciais xo S [0,1].
tar um número de órbitas periódicas TV* Repita o exercício para outros valores de
com crescimento exponencial em k (sendo b G [0,1]. Observe os resultados. Tente
k a ordem de iteração). Uma órbita é encontrar órbitas periódicas de períodos
periódica de período p se x = xo, e ap
pequenos (menores que 7) (solução: ver
função iVfc é de crescimento exponencial procedimento i t e r a 2 e i t e r a 3 j .
em k se como função de k crescer mais
depressa que qualquer polinómio em k, As orbiteis periódicas que se obtêm
2 m
P(k) = a + aik + a k + ... + a
0 2 k. m
por iteração no computador são as órbitas
periódicas estáveis ou atractivas, isto é,
2 - E s t u d o E x p e r i m e n t a l do Caos que atraem as órbitas com condições ini-
ciais vizinhas. As repulsivas ou instáveis,
Consideremos a aplicação / j , do inter- embora existam em maior número, só são
valo nele próprio. Para cada valor do possíveis de determinar recorrendo a pro-
parâmetro 6 o gráfico da aplicação fb{ ) x
gramas mais elaborados, que poderemos
é uma parábola de altura b (ver fig. 1). tratar numa outra ocasião.
44 GAZETA DE MATEMÁTICA

procedure i t e r a 2 ;
var j : integer;
- begin

/ v
b := 0 . 9 S ;
l o r I : = l to 400 do
begin
/
/ \
x := i / 4 0 0 ;
l o r j : = l to 2 do x : = 4 * b * x * ( l - x ) ;
p u t p i x e K i d i v 2,round(199-199*x) , 7 ) ;
end;
'I. „
line(0,199,199,0);
end;
procedure i t e r a 3 ;
begin
f o r k : = l to 8 do
begin
b := 0.8+k/40;
F i g . 1: Iteradas da parábola. l o r I : = l to 400 do
begin
x:=i/400;
E x e r c í c i o 3: Construa um programa xl:=4*b*x*(l-x);
p u t p i x e l ( i div 2,round(199-199*xl),7) ;
de computador que visualize a iteração ge- end;
ometricamente, de acordo com a figura 1 line(0,199,199,0);
(solução: ver procedimento itera3j. x:=0.5;
l o r I : = l to 35 do
begin
program parabola;
xl:=4*b*x*(l-x);
uses graph;
line(round(199*x),199-round(199*x),
var gd, gm, k, I : integer;
round(199*x),199-round(199*xl));
b, x, x l : r e a l ;
procedure quadro; line(round(199*x),199-round(199*xl),
begin round(199*xl),199-round(199*xl));
cleardevice; x := x l ;
initgraph(gd,gm, " ) ; end; r e a d l n ;
line(0,0,199,0); quadro ;
line(199,0,199,199); end;
line(199,199,0,199); end;
line(0,199,0,0); begin
line(0,199,199,0); gd:=detect; gm:=l;
end ;
initgraph(gd,gm,*');
procedure i t e r a i ;
quadro; i t e r a i ;
begin
r e a d l n ; quadro; i t e r a 2 ;
l o r k:=l to 4 do
begin r e a d l n ; quadro; i t e r a 3 ;
b:=0.8+k/20; readln;
f o r I : = l to 400 do closegraph;
begin end.
x:=i/400; xl:=4*b*x*(1-x);
p u t p i x e l Q div 2,round(199-199*xl),7);
E x e r c í c i o 4: Construa um programa
end; de computador que coloque em abcissas os
end ; valores de b G [1/2,1) e em ordenadas os
end;
valores de x € [0,1].
Matemática Experimental 45

Varie o parâmetro b de 1/2 a 1, por desaparece em 6 = 6,-, (na verdade torna-


acréscimos de 0.01. itere 100 vezes, para -se repulsiva) e d á origem para b € ]6< 6,- [
1} 3

cada valor de b, partindo de um valor ini- a uma órbita atractiva de período 2. Para
cial xo e]0,1[ arbitrário. Registe apenas 6 = 6,-j, dá-se uma nova bifurcação criando-
as 50 últimas iteradas de acordo com o -se uma órbita atractiva de período 4, e
gráfico da figura 2, o qual deve obter no assim sucessivamente. São os fenómenos
seu computador (solução: ver programa de duplicação de período — um número
bif urcaçãoj. infinito de bifurcações.
E x e r c í c i o 5: Usando o programa re-
alizado no exercício 4 identifique experi-
mentalmente outros pontos de bifurcação.
Descubra as órbitas periódicas de períodos
3 e 5.
E x e r c í c i o 6: Construa um programa
que coloque em abcissas o número de
iteradas e em ordenadas o valor de x.
Observe a variação x(k) com o número
k de iterações, para diversos valores do
parâmetro b.
E x e r c í c i o 7: Faça "correr" o pro-
grama construído em 4, mas colocando em
F i g . 2: Diagrama de bifurcação. abcissas outros valores de b pertencentes a
um subintervalo [bi, 62] de modo a ampliar
Estes gráficos chamam-se diagramas pormenores do diagrama de bifurcação.
de bifurcação e a palavra bifurcação es- Procure obter por ampliações deste tipo
conde um conceito matemático muito in- (mudanças de escala) figuras semelhantes
teressante. Para valores de 6 menores que à inicial; poderá observar fenómenos de
um dado valor 6 (dito de bifurcação) o
tl auto-semelhança — a parte é idêntica ao
gráfico mostra que por iteração, os va- todo.
lores de Xi = f*{xo) caem num ponto
fixo, caracterizado por x^+i — f(^k) — Finalmente o que é o caos? Exis-
xic, VA; € N . Para valores de 6 G tem várias definições de caos. Neste con-
] 6- j , 6 [ o gráfico mostra que por iteração
t l2
texto elementar e experimental entende-
os valores de a:,- caem numa órbita de mos como caóticas todas as aplicações
período 2, isto é, (xk,Xk+i) pois tem-se definidas para b > b^, onde o valor de
?

Xk+2 = /(x/fe+l) = 2
f (Xk) = Xk, = b = 6 = 0.8925 . . . é obtido da 1 acu-
œ

f{x +2) = f {xk+i)


k
2
= *k+i e x ^ x i,
k k+
mulação de um número infinito de du-
VA: e N . Dizemos então que os valores plicações de período.
de 6,-, e 6,- são valores de bifurcação pois
2
Um outro conceito interessante é o de
a órbita periódica atractiva de período 1 órbita ergódica; uma tal órbita tem a pro-
(ou ponto fixo), que existia para b < £>,,, priedade de ser aperiódica.
46 GAZETA DE MATEMÁTICA

E x e r c í c i o 8: Com o programa cons- longo dos pontos da órbita (xo, x \ , x ^ )


truído no exercício 2, procure um valor de ou mais precisamente a partir do limite
b, para o qual partindo de qualquer XQ G
k
(0, 1), a órbita f (xo) é aperiódica. lim Ao . . . A ;
k

k—»oo
E x e r c í c i o 9: Repetir os exercícios ao logaritmo deste número chama-se ex-
anteriores para outras famílias a um poente de Liapunov, tendo-se portanto:
parâmetro de aplicações com apenas um
máximo ou um mínimo, por exemplo, 1 df
2
f {x) = x + a, fa{x) = asen(x) e f {x) =
a a
«=o
aexp(x).
(ver fig. 3).

program b i f u r c a ç ã o ;
uses c r t , graph;
var gd, gm, k, i : integer; program liapunov;
uses graph;
b, x : r e a l ;
var
begin
gd, gm, k , I : i n t e g e r ;
gd := d e t e c t ; gm:=l;
b, x, y, z : r e a l ;
initgraph(gd,gm,'*) ;
procedure l i a p ;
line(0,0,639,0);
begin
line(639,0,639,199);
f o r k : = l to 600 do
line(639,199,0,199);
begin
line(0,199,0,0);
b:=0.8+k/3000;
f o r k : = l to 639 do
x:=0.9; z:=0;
begin
f o r I:=1 to 75 do
b := 0.7+0.3*k/639;
begin
x := 0 . 5 ;
x:=4*b*x*(l-x);
f o r I : = l to 100 do
y:=4*b-8*b*x;
begin
z:=z+ln(abs(y));
x := 4 * 6 * x * (1 — x);
end ;
i f i > 50 then
z:=z/75;
putpixel(k,round(200-199*x),15);
putpixel(k,round(100-100*z),7);
end;
end;
end;
end;
repeat u n t i l keypressed;
begin
closegraph;
gd:=detect; gm:=0;
end.
initgraph(gd,gm,'');
line(0,0,600,0);
3 - Expoentes de L i a p u n o v line(600,0,600,199);
line(600,199,0,199);
line(0,199,0,0);
O expoente de Liapunov A mede a taxa l i a p ; readln;
de divergência de órbitas que em dado closegraph;
momento são vizinhas. Podemos no caso end.
unidimensional defini-lo a partir da média
geométrica das derivadas A, = ao
Matemática Experimental 47

Como se vê através deste exemplo ser modificados e usados pelo leitor mesmo
o computador encarado como um labo- inexperiente em computação. A expe-
ratório de experiências onde se aprende rimentação, a procura de compreensão,
a descobrir "coisas" e a simular todo o a descoberta de regularidades dentro da
tipo de fenómenos. O leitor não precisa complexidade, deve ser encarada como um
de conhecer mais do que o modelo que lhe jogo do qual se tira prazer e inteligibili-
é apresentado; os programas para o com- dade.
putador são simples como se vê e podem

F i g . 3: Expoente de Liapunov.
M A T E M Á T I C A E JOGOS
Não pretendemos nesta secção fazer qualquer introdução à teoria dos jogos
matemáticos. A secção não terá aliás um modelo fixo. Umas vezes constará de pe-
quenas questões ou problemas matemáticos apresentados na forma de um jogo, outras da
análise matemática de pequenos jogos, outras ainda, simplesmente, de pequenas notícias
ou biografias que caibam neste tema. E m resumo, pretendemos sublinhar o aspecto
lúdico da matemática. Muitos jogos têm por sua vez duas componentes essenciais — o
acaso e a estratégia — que permitem analisá-los matematicamente. E neste contexto que
situaremos a matemática e os jogos.

A lei do mais fraco


por José L. Fachada

A matemática surge, frequentemente, para decidir da ordem por que vão dis-
como um auxiliar da nossa intuição e parar, um de cada vez terá a liberdade de
senso comum, entrando, por vezes, em alvejar o adversário que quiser ou atirar
contradição com uma e outro. E o caso para o ar ou mesmo para si próprio. A
do jogo-problema que dirijo aos leitores luta prossegue em disparos sucessivos até
e que irá acompanhar-nos, futuramente, que reste somente um pistoleiro vivo.
durante algum tempo, dada a riqueza de
questões e de variantes que permite. Questões:
O problema é clássico e poderíamos
chamar-lhe: 1) Quais as estratégias óptimas que
deverão seguir cada um dos pis-
toleiros de modo a aumentar as suas
probabilidades de sobrevivência?
A l e i do mais f r a c o
Em particular, realce qual a es-
tratégia óptima para o pistoleiro
Imagine-se uma luta entre 3 pistoleiros mais fraco, C?
A, B e C com distintas capacidades de
tiro. Por exemplo: A é 100% certeiro, B 2) Quais as probabilidades de so-
80% e C somente 50%. brevivência de cada um dos pis-
A luta irá desenrolar-se do seguinte toleiros se todos seguirem as suas
modo: após o sorteio totalmente aleatório estratégias óptimas?
Matemática e Jogos 49

Variantes: Pode pensar-se em al-


terar as regras do jogo, permitindo, por NOTICIA
exemplo, que os pistoleiros disparem em
s
simultâneo, e continuem do mesmo modo Realizaram-se os 4 ° Campeonatos
a luta a t é que não mais do que um deles so- Internacionais de França de Jogos
breviva (neste caso, pode obviamente não Matemáticos e Lógicos: Meias-Finais a
sobreviver nenhum!). 28 de Abril e Final a 7 de Julho na "Cité
des Sciences et de l'Industrie" em Paris.
Ficamos à espera das soluções, mesmo Contamos poder apresentar no próximo
que incompletas, que os leitores nos quei- número problemas e outras notícias so-
ram enviar e procuraremos, em números bre esta realização.
próximos, publicá-las e comentá-las.
CRÍTICA DE LIVROS

LUÍS T . MAGALHÃES - Álgebra Linear Registemos ainda as preocupações


como Introdução à Matemática Apli- computacionais tidas pelo autor, se bem
cada. Texto Editora; Lisboa, 1989; 401 que pouco sistematizadas, sob o ponto de
págs.. vista algorítmico. Mas esse é talvez o f u -
turo. Ou j á o presente?
"[...] penso que se ganha bastante
em não exagerar no grau de abstracção (Afonso Florentino)
e em manter sempre que possível uma
ligação com aplicações concretas". Se
J. SANTOS GUERREIRO - Curso de
esta frase, extraída do prefácio deste
Análise Matemática. Escolar Editora;
livro, define uma postura do seu au-
Lisboa, 1989; 431 págs..
tor perante a matemática, sintetiza ela
igualmente a filosofia desta obra, dedi-
É uma reedição em bloco dos três
cada a uma Álgebra Linear, t ã o comum-
primeiros volumes do "Curso de Mate-
mente encerrada no exoterismo dos for-
máticas Gerais" do mesmo autor, fale-
malismos algébricos, bastas vezes meio-
cido em 1987. Excluiu-se, não sabemos
-caminho para um isolamento científico
porquê, o volume dedicado à Álgebra L i -
que, não sendo condenável, se demonstra
near, alterando o título original, mais con-
aqui ser facilmente evitável.
forme aliás com a época em que o livro
Sendo os aspectos teóricos da Álgebra foi redigido, há cerca de vinte anos. O
(Linear) ineludivelmente sedutores, como estilo de sistematização bourbakista tem
aliar-lhes o fascínio da sua utilização, vindo a ser relegado para obras de con-
enquanto metodologia para tratar, de sulta esporádica e pontual e nesse as-
forma tão eficaz, tantos problemas da pecto a obra continua de actualidade.
matemática e da física? Eis-nos perante Mas sabemos que sendo o próprio au-
um exemplo importante dessa perspec- tor o seu maior crítico, actualizado e
tiva, a constituir algo de novo na litera- exigente consigo próprio como era, não
tura matemática portuguesa. Um livro deixaria de observar que do ponto de vista
que de Álgebra Linear tratando, extravasa didáctico a obra é dotada, tendo tido
os muros que a confinam, falando de muita aliás uma influência marcante no nosso
outra matemática — da Análise Numérica meio, pelo grande rigor que nela é incul-
à Geometria, das Equações Diferenciais às cado. Pretendeu-se provavelmente fazer
Equações Integrais, da Interpolação Poli- uma homenagem póstuma à memória do
nomial à Análise de Fourier — e das suas autor, que merecendo-a, merecia mais.
aplicações à física, introduzidos por meio
de exemplos e exercícios. (A.F.)
Crítica de Livros 51

DIRK J . S T R U I K - História Concisa Assinale-se que Dirk J. Struik, nascido


das Matemáticas. Tradução de João na Holanda em 1894 e portanto j á perto
Cosme Santos Guerreiro; Colecção de ser centenário, colaborou na Gazeta de
?
Ciêmcia Aberta, n 3 3 ; Gradiva; Lis- Q
Matemática em 1943, no n 14, com um
boa, 1989; 360 págs.. interessante artigo intitulado "A Sociolo-
gia da Matemática" (num número ante-
Há muito que se esperava a publicação rior um texto seu j á tinha sido traduzido:
em língua portuguesa desta pequena mas "Os logaritmos", vol. 11, 1942). Como
equilibrada obra de Dirk J. Struik. Trata- sabemos que Dirk J. Struik se m a n t é m em
-se de um clássico popular sobre o as- plena actividade, albergamos a esperança
sunto em que o desenvolvimento histórico de novas colaborações.
da matemática é inserido no devir da so-
ciedade. Este ponto de vista era rela- (A.F.)
tivamente novo na época em que se pu-
blicou a primeira edição norte-americana,
em 1948, estando mesmo na origem de al- J. TIAGO DE OLIVEIRA - O essencial
guns dissabores que o autor teve. Pode- sobre A História das Matemáticas em
ria pensar-se que se trataria hoje, pelo Portugal. e
Colecção Essencial, n 4 1 ;
contrário, de um ponto de vista desactu- Imprensa Nacional - Casa da Moeda;
alizado, em razão daquela data. Isto, ape-
Lisboa, 1989; 59 págs..
sar das correcções e acrescentos das su-
cessivas quatro edições norte-americanas, E próprio da Colecção Essencial a re-
de que foi traduzida para português, a
duzida extensão dos textos o que torna
última, datada de 1986, em que se in-
difícil a abordagem de qualquer tema. Das
clui um capítulo inteiramente novo dedi-
seis dezenas de páginas (de pequeno for-
cado à primeira metade do século X X .
mato), metade dizem respeito a anexos
Certo é porém, que a tradução da obra
em pelo menos dezasseis línguas, atesta e notas pelo que o essencial se reduz ao
um extraordinário acolhimento em todo o essencialíssimo. Tal como o autor refere
mundo e isso deve-se sem dúvida à justeza logo no prefácio, outas obras sobre o as-
e carácter universal do ponto de vista de- sunto j á vieram a lume no passado mas
fendido. mesmo assim "não parece muito estudado
o evoluir das Matemáticas em Portugal"
A morte prematura do saudoso Pro-
— O Ensaio Histórico sobre a Origem
fessor João Santos Guerreiro impediu-
e os Progressos das Mathematical em
-o de incluir nesta edição uma nota so-
bre a história da matemática em Por- Portugal, de Francisco da Borja Garção-
tugal, como era seu desejo, em sintonia -Stockler (1819), Les Mathématiques en
com o que j á sucedera com traduções Portugal, de Rodolfo Guimarães (1909),
noutras línguas como foi o caso do alemão, o Bosquejo histórico das matemáticas em
chinês, italiano, holandês, russo, ucrani- Portugal, de Pedro José da Cunha (1929)
ano e sendo ainda o caso da edição me- e enfim a História das Matemáticas em
xicana em língua espanhola, para a qual Portugal, de Francisco Gomes Teixeira
o autor também utilizou o título Historia (1934), constituem marcos de referência
Concisa de las Matemáticas, no plural. sobre o assunto.
52 GAZETA DE MATEMÁTICA

É com agrado que registamos o apare- (1968) e republicado na colectânea de tex-


cimento deste novo livrinho, mas seria de- tos de Luís de Albuquerque, Estudos de
sejável obra actual de outra dimensão. História, vol. I , Univ. de Coimbra, 1974).
Naturalmente que para tal haverá que Acrescentemos que os manuscritos aludi-
reflectir no conselho que o compositor dos tornam-se cada vez mais ilegíveis com
Fernando Lopes Graça dava numa carta o tempo; casos há, porém, em que os tex-
dirigida a alguém que pretendia escre- tos simplesmente se perderam, ficando nós
ver sobre a música em Portugal: "[...] apenas com o título, como sucedeu com
haverá que começar pelo princípio: ras- um de 1627 do filósofo Francisco Sanches
gar [as] trevas, apurando diligentemente, comentando criticamente os princípios
pacientemente, beneditinamente as peças da geometria euclideana (e como era
do processo histórico necessárias para crítico este grande céptico!). Mais re-
tal. Trabalho de escavação, primeiro, centemente, como recorda J. Tiago de
de talhe e afeiçoamento de materiais, em Oliveira, t a m b é m se perderam os "Escrip-
seguida, só depois do que verdadeiramente tos Posthumos" de Anastácio da Cunha
se poderá proceder ao trabalho de cons- (1744-1787). Este ilustre matemático e
trução. Deu-se V. Ex.- a essa tarefa de poeta português, saiu da espécie de limbo
escavação e de apuro de materiais? Se não em que se encontrava, sobretudo graças
deu, a sua História nunca poderá ser uma à reedição da sua obra fundamental —
História, mas uma simples colecção de fac- Princípios Mathematicos — bem como
tos mais ou menos irrelacionados uns com de uma controversa tradução por um seu
os outros, uma lista de efemérides sem discípulo, pela iniciativa do Departamento
significação ou um repositório de anedo- de Matemática da Universidade de Coim-
tas [...]" (in Fernando Lopes Graça, Obras bra, em 1987. Nesse ano do bicentenário
Literárias, "A Música Portuguesa e os seus da morte de Anastácio da Cunha tiveram
?
Problemas I I " , Caminho, 1989, 2 ed., lugar aliás, muitas acções destinadas a di-
pág. 67; o texto é de 1955). vulgar e promover a sua obra.
Que o tal trabalho de escavação está No nosso século X X t a m b é m há que
por fazer prova-o o facto de se conser- escavar, para usar a analogia de Fer-
varem inéditas obreis que mereceriam es- nando Lopes Graça. Felizmente as obras
tudo, como recorda o autor; a propósito científicas de José Sebastião e Silva foram
de uma delas, datada de 1559, dizia Luís publicadas e as obras didácticas vão sê-
de Albuquerque: "[•••] sabemos existir en- -lo brevemente mas será suficientemente
tre os manuscritos da Biblioteca Nacional conhecido o papel e a obra científica de
de Lisboa um volume de comentários de D. António Aniceto Monteiro?
Francisco de Melo a uma obra de Euclides Na opinião do autor d ' " 0 essencial so-
e a um texto atribuído então a Arquimedes bre a História das Matemáticas em Portu-
[...]; mas de que serve sabê-lo, se continu- gal": "A partir dos anos 50 pode dizer-se
amos a não fazer a mínima ideia do valor que, como efeito do impulso dos anos 30,
de tais comentários?" (Fragmentos de Eu- ainda que com variadas orientações, se as-
clides numa versão portuguesa do século siste a uma explosão que vai crescendo,
X V I , in Revista de Ciências do Homem, da com altos e baixos, embora com uma curta
Univ. de Lourenço Marques, série A , vol. I estagnação a seguir ao 25 de Abril de 1974.
Crítica de Livros 53

Mas as massas críticas tinham sido à estatística e à demografia. Assinalemos


atingidas!" Só o futuro poderá testar o op- por outro lado uma gralha ingrata que en-
timismo do autor. volve o nome de Alvaro Tomás — mais es-
Para terminar, anotemos por um lado a cavação a fazer! — onde devia figurar o de
existência de dois anexos sobre temas para António Luís (pág. 16, linha 2 8 ) .
os quais não tíá em geral muita referência:
um relativo aos seguros e outro relativo (A.F.)

BOLETIM BIBLIOGRÁFICO

F.R. DIAS AGUDO - Análise Real, dúvida a uma menor premência nas al-
Volume I - Números reais e espaços terações curriculares nesta matéria.
R " . Escolar Editora; Lisboa, 1989; 316
págs..
MARIA RAQUEL VALENÇA - Métodos
Apoiando-se nas suas Lições de Análise Numéricos. Instituto Nacional de In-
Infinitesimal (em 2 vols.) anteriormente vestigação Científica - Imprensa Na-
publicadas, o autor refundiu o texto, in- cional - Casa da Moeda; Braga, 2-
troduzindo alterações significativas que re- edição, 1990; 263 págs..
sultaram numa actualização conseguida.
Esta actualização era necessária devido à Um livro que pode servir de apoio
evolução dos programas de matemática no a um curso introdutório de análise
ensino secundário. numérica que inclua como tópicos gerais
os seguintes: equações não lineares, sis-
temas de equações lineares, interpolação,
F.R. DIAS AGUDO - Introdução à
aproximação de funções, integração e
Álgebra Linear e Geometria Analítica,
equações diferenciais ordinárias. Útil
4- edição. Escolar Editora; Lisboa,
também para quem pretenda abordar
1989; 367 págs..
estes temas, a partir de conhecimentos
O sopro de actualização não se faz sen- básicos de álgebra linear, do cálculo dife-
tir como na obra acabada de referir neste rencial e integral, e do domínio de uma lin-
Boletim Bibliográfico. Trata-se de uma guagem de programação e correspondente
mera reedição retocada. Deve-se isso sem experiência de utilização computacional.
54 GAZETA DE MATEMÁTICA

JAMES G L E I C K - Caos - A construção R O B E R T L E N O B L E - História da Ideia de


de uma nova ciência. Prefácio de Natureza. Tradução de Teresa Louro
Jorge Buescu; Tradução de José Car- Pérez. Edições 70; Lisboa, 1990; 367
los Fernandes e Luís Carvalho Ro- págs..
drigues. Colecção Ciência Aberta,
9
n 38; Gradiva; Lisboa, 1989; 420 págs.. Trata-se de uma tradução de um texto
publicado em 1969 e deixado inacabado
Um bom exemplo para mostrar que o devido à morte do autor. Reveste-se de
jornalismo e a ciência podem compatibi- grande interesse; não é propriamente uma
lizar-se na boa divulgação científica. A história — a ciência medieval está ausente
palavra caos — como j á sucedera com a — mas uma colecção de textos de carácter
palavra catástrofe — não deve sugerir-nos histórico sobre a ideia de Natureza. Note-
um tema relapso ao tratamento científico, -se que j á tinha sido publicada em Por-
a descambar para o esotérico. Um dos tugal, nos anos 60, uma obra sobre o
méritos do autor, repórter científico do
mesmo tema (A Ideia da Natureza de R.G.
New York Times é o de nunca ter ce-
Collingwood, Col. Divulgação e Ensaio,
dido às tentações da extrapolação fácil, 9
n 22, Editorial Presença [sem data]).
informando sim com rigor mas amena-
mente, sobre uma área da matemática que
teve a sua origem em trabalhos de Henri Autor e Diligência de Inquisição — Con-
Poincaré sobre mecânica celeste e que in- tribuição para a História da Univer-
tervém hoje nos mais diversos domínios, sidade de Coimbra no Século XVII.
como um capítulo da teoria dos sistemas Prefácio, Introdução e Transcrição
dinâmicos, que prolonga o estudo clássico
por JOAQUIM FERREIRA GOMES.
das equações diferenciais. Boa divulgação
Fundação Calouste Gulbenkian; Lis-
pois, numa nova era de interdisciplinari-
boa, 1989; 533 págs..
dade, na esteira do programa inserto nes-
tas palavras de Louis de Broglie: instruir O texto agora publicado refere-se à
sem deformar, elevar o nível intelectual
Devassa à Universidade de Coimbra, ou
dos leitores sem baixar o nível da ex-
seja à sindicância mandada fazer pelo Rei
posição.
durante o período da ocupação espanhola.
Nas palavras do prefaciador, "[...] é indis-
HEINZ R . P A G E L S - Simetria Perfeita. cutivelmente um documento de valor ines-
Tradução de Henrique Leitão e Paulo timável para o estudo dos costumes, das
Ivo Teixeira. Colecção Ciência Aberta, mentalidades e das ideias no Portugal do
e
n 39; Gradiva; Lisboa, 1990; 455 págs.. primeiro quartel do século X V I I " .

Livro de divulgação sobre o papel das


simetrias nas modernas teorias sobre a JOAQUIM F E R R E I R A G O M E S - A Uni-
matéria, quer no que respeita as galáxias versidade de Coimbra durante a Pri-
quer no que respeita os quarks. Um meira República (1910-1926). Alguns
livro interessante na j á longa série desta Apontamentos. Instituto de Inovação
colecção. Educacional; Lisboa, 1990; 491 págs..
Boletim Bibliográfico 55

O Sétimo Centenário da Universidade de mistérios, de desordens, de visões


Portuguesa, a decorrer este ano, j á mere- agnósticas e de outros pessimismos cogni-
ceu deste autor quatro livros, sendo este o tivos. Nele se pretendeu demonstrar que
mais recente, além de vários artigos. Esta as conclusivas da ciência contemporânea
obra constituirá consulta obrigatória para não constituem um convite ao misticismo
quem queira conhecer aquele período da e ao irracionalismo. Há que, na base
nossa história académica. dessas mesmas conclusivas, travar nova
batalha contra os demolidores da Razão,
e para isso se propõe uma reinterpretação
Filosofia. História. Conhecimento. — da moderna "crise da Razão".
Homenagem a Vasco de Magalhães Vi-
Este percurso implica novo esforço de
lhena. Coordenação de Eduardo Chi-
reconciliação da ciência com a filosofia.
tas e Hernâni A. Resende. Colecção
Reconciliação essa que não deve ser con-
Universitária; Caminho; Lisboa, 1990;
cebida como relação hierarquizada, mas
340 págs..
sim como reconhecimento de uma fértil de-
pendência m ú t u a erigida a partir de uma
Com textos de mais de 20 autores,
dupla recusa:
esta obra além de homenagear justamente
Vasco de Magalhães Vilhena, homem de a) do imperialismo filosófico (subjuga-
rigor e de crítica, contém artigos de al- ção da ciência à filosofia, filosofias
guma forma relacionados com a obra do da ciência);
homenageado, bem assim como a sua bi-
b) do cientismo (necessária concordân-
bliografia activa.
cia do sistema filosófico com os
resultados do saber experimental,
JOÃO MARIA DE FREITAS BRANCO - redução do conhecimento válido ao
Dialéctica, Ciência e Natureza — Um conhecimento científico).
estudo sobre a noção de "Dialéctica da Neste nosso tempo sem Verdade e sem
Natureza" no quadro do pensamento Deuses a concepção dialéctica do real o-
científico moderno. Colecção Univer- bjectivo oferece-nos uma via de superação
sitária; Caminho; Lisboa, 1990; 319 do estado de desnorte característico do
págs.. homem hodierno. A crise revelou-se
endógena e não acidental. E ser moder-
Do Prefácio do autor respigamos o no consiste precisamente em saber estar
seguinte passo, significativo do teor da em crise criativa. Para viver e sobre-
obra: viver neste universo quente, complexo e
"A concepção dialéctica da natureza incerto, velejando sobre as alteradas va-
aqui apresentada pretende assumir-se gas do oceano cósmico, é necessário alterar
como factor de racionalidade contra cer- o estilo arquitectónico do pensar, edificar
tas tendências modernamente manifes- uma nova Razão. Impõe-se saber pensar
tadas no seio do trabalho científico. Nessa dialecticamente, para assim ser capaz de
medida, este livro é t a m b é m uma espécie assumir a própria crise como estado nor-
de manifesto contra os eternos cultores mal de uma nova existência."
ANTOLOGIA
O texto que reproduzimos, da autoria de L R . áafarevic (lê-se Chafarevitch) é uma
tradução da secção introdutória do tomo I, dedicado à Álgebra da colecção Problemas
da Matemática Contemporânea e Rumos Fundamentais — Resultados da Ciência e da
Técnica, vol. 11 (ed. de A . I . Kostrikin e L R . áafarevic, publicado por Viniti, Moscovo,
1986).

O que é a á l g e b r a ?
por LR. Safarevic

O que é a álgebra? É um ramo da taram as mesmas impressões; além disso,


matemática, um método, ou um referen- é possível operar sobre esses números ob-
cial do pensamento? Estas questões não tendo novas informações sobre os objectos
têm respostas claras e curtas. Pode- que se medem, o que é ainda mais impor-
mos tentar descrever o lugar ocupado tante.
pela álgebra na matemática dirigindo a O mais velho exemplo é a ideia de
nossa atenção para aquilo que Hermann contar (coordenatização) e de calcular
Weyl referia com uma palavra um tanto (operação), o que nos permite tirar con-
ou quanto impronunciável: "coordena- clusões sobre um certo número de objec-
tização" (veja-se H. Weyl, The classical tos sem os abarcar todos de uma vez. As
groups, 1939). Um indivíduo poderia tentativas de medir ou de "exprimir em
fazer-se uma ideia do mundo baseando-se números" uma variedade de objectos de-
exclusivamente nos seus órgãos dos senti- ram lugar às fracções e aos números nega-
dos, na vista, no tacto, na sua experiência tivos, estendendo os números naturais. A
na manipulação de objectos do mundo tentativa de exprimir como um número a
exterior e na intuição que dela resulta. diagonal de um quadrado de lado 1 levou
No entanto, outro ponto de vista seria à famosa crise da matemática da anti-
possível: as impressões subjectivas podem guidade e à construção dos números irra-
transformar-se em marcos objectivos, em cionais.
números, através de medidas, que podem As medidas determinam os pontos de
preservar-se indefinidamente e comunicar- uma recta através de números reais e mais
-se a outros indivíduos que não experimen- geralmente, exprimem muitas quantidades
Antologia 57

físicas como números. Deve-se a Galileu cada vez mais subtis, como sejam a in-
a definição mais radical, no seu tempo, trodução das coordenadas cartesianas ou
da ideia de coordenatização: "medir tudo de novos instrumentos físicos. E certo
o que é mensurável e tornar mensurável que de vez em quando os números consi-
tudo o que ainda o não é". A partir da derados conhecidos (simplesmente chama-
época de Galileu, esta ideia teve um bri- dos números) se revelavam inadequados:
lhante sucesso. A criação da geometria isto conduziu a uma "crise" que só se-
analítica permitiu representar os pontos ria resolvida com a extensão da noção de
do plano como pares de números, os pon- número, criando novas formas de números
tos do espaço como ternos de números e que viriam a tornar-se em breve, por sua
através de operações sobre números, con- vez, como a única possibilidade. Seja
duziu à descoberta de mais e mais fac- como for, em geral, em dada altura a
tos geométricos. O êxito da geometria noção de número era considerada perfeita-
analítica deve-se porém sobretudo ao facto mente clara e o desenvolvimento fazia-se
de reduzir a números não apenas os pon- no sentido da sua extensão:
tos, mas t a m b é m as curvas, as superfícies,
etc.. Por exemplo, uma curva plana é "1, 2, muitos" —• números naturais —•
dada por uma equação F(x,y) = 0; no —* inteiros —» racionais —»
caso de uma recta, F é um polinómio
—» reais •—* números complexos.
linear, determinado pelos seus 3 coefi-
cientes: os coeficientes de x, de y e o Mas as matrizes, por exemplo, formam
termo constante. No caso de uma secção um mundo completamente independente
cónica temos uma curva de grau 2, deter- de "objectos do tipo dos números" que não
minada pelos seus 6 coeficientes. Se F é podem ser englobados nesta sequência.
um polinómio de grau n é fácil ver que tem Ao mesmo tempo descobriram-se os
^ ( n + 1 ) ( n + 2 ) coeficientes; acurva corres- quaterniões e outros "sistemas hipercom-
pondente é determinada por estes coefi- plexos" (hoje chamados álgebras). As
cientes, na mesma forma em que um ponto transformações infinitesimais levaram aos
é dado pelas suas coordenadas. operadores diferenciais para os quais a
Para exprimir as raízes de uma equação operação natural resulta ser algo de in-
através de números, introduziram-se os teiramente novo: o colchete de Poisson.
números complexos o que constituiu um Os corpos finitos surgem na álgebra e os
passo num ramo completamente novo números p-ádicos em teoria dos números.
da matemática, que inclui a teoria das A pouco e pouco tornava-se claro que
funções elípticas e das superfícies de Rie- qualquer tentativa de tudo abarcar .com
mann. um conceito de número, estava votada
Durante muito tempo deve-se ter j u l - ao fracasso. Deste modo o princípio
gado que o caminho indicado por Galileu declarado por Galileu revelava-se pouco
consistia em medir "tudo" em termos de tolerante; a ideia de "tornar mensurável
uma colecção de números conhecida e fora tudo o que ainda o não é" discrimi-
de discussão, consistindo o único proble- na claramente tudo aquilo que teimosa-
ma na obtenção de métodos de medida mente se recusa a ser medido, ficando as-
58 GAZETA DE MATEMÁTICA

sim excluído da esfera de interesses da Tese. Tudo o que é objecto de es-


ciência a até mesmo da razão (tornando- tudo matemático (curvas e superfícies,
-se uma qualidade segunda ou secunda funções, simetrias, cristais, quantidades
causa na terminologia de Galileu. Mesmo da mecânica quântica, etc.) pode ser "co-
se, mais modestamente, restringíssemos o ordenatizado" ou "medido". No entanto,
polémico termo "tudo" aos objectos da para lograr uma tal "coordenatização" os
física e da matemática, sempre aparece- números "ordinários" não são de modo al-
riam muitos deles que não poderiam ser gum adequados.
"medidos" em termos de "números habi- Reciprocamente, quando encontramos
tuais" . um novo tipo de objecto, somos forçados
O princípio da coordenatização pode a construir (ou a descobrir) novos tipos
porém ser preservado se admitirmos que de "quantidades" para o "coordenatizar".
o conjunto de "objectos tipo-número" a A construção e o estudo das quantidades
utilizar com esse fim seja tão diverso que surgem desta forma é o que caracteri-
quanto o é o mundo dos objectos físicos za o lugar da álgebra na matemática (de
e matemáticos a coordenatizar. Os ob- uma maneira muito aproximada, eviden-
jectos a servir como "coordenadas" deve- temente).
riam satisfazer apenas certas condições de
carácter bastante geral.
Deste ponto de vista, o desenvolvi-
Devem ser individualmente discerní- mento de qualquer ramo da álgebra con-
veis. Por exemplo, apesar dos pontos de siste em duas etapas. A primeira é o nasci-
uma recta terem propriedades idênticas mento do novo tipo de objectos algébricos
(uma recta é homogénea) e um ponto a partir de algum problema de coordena-
poder assinalar-se apenas com um dedo, tização. A segunda etapa é a sua carreira
os números são individuais: 3, \ , \ / 2 , T> subsequente, ou seja, o desenvolvimento
etc.. (O mesmo princípio se usa para dis- sistemático da teoria dessa classe de ob-
tinguir dois bichinhos de estimação recém- jectos; nesta fase, a relação com os objec-
-nascidos que o dono destrinça atando-lhes tos de partida, ora se mantém íntima ora
ao pescoço fitas de cores diferentes.) desaparece quase completamente. No que
Devem ser suficientemente abstractos se segue(*) tentaremos não perder de vista
para reflectir propriedades comuns a uma estas duas etapas. Mas como os cursos de
vasta gama de fenómenos. álgebra só se ocupam em geral da segunda
Alguns dos aspectos fundamentais das etapa, manteremos o equilíbrio prestando
situações em estudo deverão reflectir-se um pouco de atenção à primeira.
em operações a efectuar entre os objectos Concluiremos esta secção com dois
usados como coordenadas: adição, multi- exemplos de coordenatização que são
plicação, comparação de grandezas, dife- menos referidos do que os considerados a t é
renciação, formação de colchetes de Pois- agora.
son e por aí fora.
Podemos precisar o nosso ponto de (*) Recordamos que o texto desta Antologia
vista da maneira seguinte: é o texto introdutório de um livro (N. do T . ) .
Antologia 59

E x e m p l o 1. O Dicionário da Mecânica a) Dois quaisquer pontos distintos de-


Quântica. Em mecânica quântica as terminam uma e uma só recta.
noções físicas básicas são "coordenati- b) Dada uma recta e um ponto que não
zadas" através de objectos matemáticos, lhe pertence existe uma e uma só
da forma que se representa no quadro 1. recta que passa pelo ponto e que não
intersecta aquela recta (ou seja que
E x e m p l o 2. Modelos Finitos para os lhe é paralela).
Sistemas de Incidência e os Axiomas de
Paralelismo. Comecemos com uma pe- c) Existem pelo menos três pontos não
quena digressão. Na construção axio- colineares.
mática da geometria é frequente conside-
rar apenas uma parte dos axiomas em vez Sucede que este conjunto de axiomas
de os tornar na totalidade; para ser claro admite muitas realizações, algumas delas
limitamo-nos à geometria plana. Põe-se em franco conflito com a nossa intuição,
então a questão de saber que realizações compreendendo apenas um número finito
são possíveis do sistema de axiomas es- de pontos e de rectas. Duas realizações
colhido: existirão outros sistemas de ob- desse tipo estão representadas nas figuras
jectos, além da geometria plana "usual", 1 e 2. O modelo da figura 1 tem 4 pontos
para os quais o conjunto de axiomas é sa- A, B, C, D e 6 rectas AB, CD; AD, BC;
tisfeito? Consideramos agora um conjunto AC, BD. O da figura 2 tem 9 pontos A,
de axiomas muito natural relativos a "in- B, C, D, E, F, G, H, I e 12 rectas ABC,
cidência e paralelismo". DEF, GHI; A DG, BEH, CFI; A EI, BFG,

Quadro 1

Noção física Noção m a t e m á t i c a

Estado de um sistema físico Recta <p num espaço de Hilbert


complexo de dimensão infinita

Grandeza física escalar Operador auto-adjunto


Grandezas simultaneamente Operadores que comutam
mensuráveis
Grandeza no estado <p Operador admitindo o vector
com o valor preciso A próprio ip de valor próprio A

Conjunto dos valores possíveis Espectro de um operador


como medidas de uma grandeza

Probabilidade de transição de
um estado <p para um estado ip |(V?,V)|, onde \<p\ = | ^ | = 1
60 GAZETA DE MATEMÁTICA

CDU; CEG, BDI, AFH. É fácil verificar Por exemplo, como a soma de um número
que os axiomas a), b) e c) são satisfeitos; par com um número ímpar é um número
na nossa lista de rectas, as famílias de rec- ímpar escreveremos 0 + 1 = 1, e assim por
tas paralelas estão separadas com ponto e diante. O resultado pode exprimir-se nas
vírgula. "tabelas da adição e da multiplicação" das
figuras 3 e 4.

\ /
+ 0 1 X 0 1
\ B D /
0 0 1 0 0 0
\ <
\ / 1 1 0 1 0 1
\ y
/ \
/ \
/ A C s\ Fig. S Fig. 4
y \

O par de entidades 0 e 1 com


as operações assim definidas servir-nos-
Fig. 1 -á para coordenatizar a "geometria" da
figura 1. Com este propósito atribuiremos
aos pontos, coordenadas (x, y) de acordo
com:
A 6 c
^ J A = (0,0), S = (0,1) ,
C= (1,0), D = (1,1) .
' V ~S F
E fácil verificar que as rectas da geome-
5
K
£^ I tria são então definidas pelas equações l i -
neares seguintes:

AB: l x = 0; CD: l x = 1;

Fig. 2
AD: lx+ l y = 0;

Voltemos ao nosso tema principal e BC: l x + l y = 1;


tentemos coordenatizar os modelos para AC: l y = 0; BD: 1 y = 1.
os axiomas a), b), c) acabados de con-
struir. Para o primeiro caso usaremos a Na verdade estas são as 6 únicas equações
seguinte construção: escreveremos 0 ou não triviais que podem formar-se usando
1 para a propriedade de um inteiro ser as quantidades 0 e 1.
par ou ímpar respectivamente; definire- A construção é análoga para a geo-
mos então operações sobre os símbolos 0 e metria da figura 2, embora seja ligeira-
1 por analogia com as propriedades desses mente mais complicada: suponhamos que
inteiros relativos à adição e multiplicação. repartíamos o conjunto dos inteiros em
Antologia 61

três conjuntos U, V e W, da maneira Estes poucos exemplos j á d ã o uma


seguinte: primeira ideia de que espécie de objectos
pode ser usada numa ou noutra versão
U = inteiros divisíveis por 3, de "coordenatização". Para começar, a
V = inteiros com resto 1 na divisão por 3, colecção de objectos a usar deve ser rigo-
W= inteiros com resto 2 na divisão por 3. rosamente delineada; por outras palavras
devemos indicar um conjunto (ou mesmo
As operações com os símbolos U, V, W vários conjuntos) de que esses objectos
definem-se como no primeiro exemplo; as- possam ser elementos. Em segundo lu-
sim, um número em V mais um número gar devemos poder operar sobre esses ob-
em W d á sempre um número em U, de jectos, isto é, devemos definir operações
modo que fazemos V + W = U; analoga- que nos permitam obter novos elementos,
mente, o produto de dois números em W a partir de um ou mais elementos do con-
é sempre um número em V de modo que junto (ou conjuntos).
pomos W • W = V. E fácil elaborar as Para j á mais nenhuma restrição terá de
correspondentes tabelas de adição e mul- ser imposta, na natureza dos conjuntos a
tiplicação. usar; do mesmo modo uma operação pode
Não custa então verificar que a geome- ser uma regra completamente arbitrária
tria da figura 2 é coordenatizada com U, que a k elementos associa um novo ele-
V, W através de: mento. E certo que essas operações preser-
varão usualmente algumas semelhanças
A=(U,U), B = (U,V), C=(U,W) , com as operações entre números. Em par-
D=(V,U), E=(V,V), F= (V,W), ticular em todas as situações que encon-
G = (W,U), H = {W,V), I=(W,W); traremos, k = 1 ou 2. Os exemplos básicos
de operações com as quais todas as cons-
mais uma vez, é possível exprimir as rectas truções subsequentes devem comparar-se
através de todas as equações lineares que serão: a operação a >—• —a que a um
podem escrever-se usando os símbolos U, número associa o seu oposto; a operação
_ 1
V, W; por exemplo, AFH é dada por Vx + 6 i—» 6 que a cada número diferente de
Vy=U e DCH por Vx + Wy = V. zero associa o seu inverso (nestes casos
Construímos assim sistemas finitos de k = 1); e as operações (a, 6) i - * a + b e
números para coordenatizar geometrias a 6 de adição e multiplicação (aqui k = 2).
finitas. Voltaremos mais tarde à discussão
destas construções.
MOVIMENTO CIENTÍFICO

H i s t ó r i a e desenvolvimento da pelo reduzido tempo de que dispuseram,


ciência em Portugal no s é c u l o X X facto que os obrigaria a referir, apenas
de modo resumido, alguns dos aspectos
Levou a efeito a Academia das Ciências que tinham em mente. Para além deste
de Lisboa, de 13 a 17 de Novembro de senão, seria, sem dúvida de grande inte-
1989, um colóquio dedicado à História e resse, a realização de uma sessão exclusi-
Desenvolvimento da Ciência em Portugal vamente dedicada à "geração científica dos
no século X X . Tendo Vasconcellos Mar- anos 40, em Portugal", cuja acção concer-
ques, como secretário-geral, e Armando tada não foi assim consagrada, dando-se
Pombeiro como vice-secretário, inseriu-se somente uma visão dispersa, em cada área
esta iniciativa na sequência do colóquio de da Ciência, da sua actividade científica e
1985, sobre o mesmo tema, mas sem in- cívica, que reputamos como o fenómeno
cluir o século X X , cujas actas se acham mais importante da Ciência em Portugal,
publicadas pela própria Academia, sob na primeira metade do século X X .
o uítulo "História e Desenvolvimento da O colóquio iniciou-se, na sala May-
Ciência em Portugal". nense, com a sessão dedicada à Matemá-
O colóquio pretendeu cobrir a quase tica, coordenada por J. Tiago de Oliveira,
totalidade das áreas do conhecimento que incorporou a mesa juntamente com
científico e tecnológico, nomeadamente Pinto Barbosa, que presidiu, e Vascon-
a Matemática, a Física, a Química, cellos Marques. Começou este último
as Ciências Naturais (Geologia, Biolo- por referir alguns aspectos da organização,
gia e Botânica), as Engenharias (Civil, tendo salientado o elevado número de co-
Mecânica, Electrotécnica, de Minas e municações apresentadas, todas a incluir
de Materiais), as Ciências Médicas, a nos três volumes, previstos, das actas do
Agronomia e, ainda, os Estudos Literários colóquio.
e Linguísticos, a História, a Geografia, a Jaime Campos Ferreira foi o primeiro
Filosofia e Pedagogia, a Sociologia, o Di- orador, com uma comunicação intitulada
reito e a Economia Política. "Algumas figuras dominantes da Análise
Dada a sobrecarga do programa, pela Matemática em Portugal (de Gomes Tei-
amplitude temática que a organização, xeira a Sebastião e Silva)", constando de
louvavelmente, procurou, e perante a uma parte sobre as obras de Gomes Tei-
opção da não realização de sessões para- xeira, Vicente Gonçalves e Mira Fernan-
lelas, foram os conferencistas coarctados des, uma outra sobre a geração de 40
Movimento Científico 63

(relativamente à qual salientou a acção indicados, cuja acção se viu prosseguida,


de António Aniceto Monteiro, Bento de quer nos trabalhos de Ruy Luís Gomes,
Jesus Caraça e Ruy Luís Gomes), para quer, principalmente, nos de Mira Fernan-
numa última parte se ater exclusivamente des, em relação aos quais mais demorada-
à obra dé Sebastião e Silva (que um pouco mente se debruçou. No que respeita à As-
mais circunstanciadamente pormenorizou, tronomia realçou a actividade de Manuel
mormente no que respeita aos trabalhos Pereira de Barros, em consequência da
sobre Cálculo Simbólico e Teoria das Dis- construção do Observatório Astronómico
tribuições). do Porto; a terminar, salientou, no âmbito
das Probabilidades e da Estatística, a
Seguiu-se-lhe Margarita Ramalho, para
acção de Pacheco de Amorim.
se debruçar sobre "Alguns aspectos da
Álgebra em Portugal no século X X " . Nos intervalos das três comunicações,
Começou por salientar o grande interesse foram feitas algumas intervenções por
que, nos anos 30, o aparecimento do parte da assistência, das quais nos mere-
livro de Van Der Waerden suscitou. In- cem uma referência especial, pelo excep-
dicou Mira Fernandes como o primeiro cional interesse que tiveram, as de Abreu
matemático português a interessar-se pela Faro, sobretudo pelo modo como realçou
resolubilidade algébrica e a Teoria dos alguns aspectos das personalidades de
Grupos, em cujo estudo seria posterior- Mira Fernandes, Vicente Gonçalves e Se-
mente seguido por Madureira e Sousa, e bastião e Silva, e da importância que cada
Almeida e Costa. Relativamente à Teo- um deles teve no ensino universitário.
ria dos Reticulados, destacou principal-
Apesar dos pequenos reparos que
mente os trabalhos de António Aniceto
efectuámos, não queremos deixar de
Monteiro, e ainda os de Hugo Ribeiro,
destacar a excepcional envergadura desta
José Morgado, Pereira Gomes e Almeida
realização, que, confirmada pelos discur-
e Costa. Finalmente na Teoria dos Anéis,
sos de F. Dias Agudo e J. Tiago de
procedeu a uma análise breve da obra de
Oliveira, na sessão de encerramento, presi-
Almeida e Costa, e da influência que ele
dida pelo Presidente da República, parece
teve no desenvolvimento de outros aspec-
inserida num esforço notável de voltar a
tos importantes da teoria, através de ou-
dar à Academia o papel importante que
tros matemáticos, como Tiago de Oliveira
desenvolveu no passado. A julgar pelo
e Maria Luísa Galvão.
discurso final do seu presidente, J. Pinto
A finalizar a sessão, tomou a palavra Peixoto, — intitulado "Quo vadimus,
António Ribeiro Gomes, que procedeu a Academia das Ciências" — parece, esta
uma síntese da sua comunicação, intitu- realização, não ser uma acção isolada,
lada: "A Matemática Aplicada em Portu- mas antes integrar-se num projecto de
gal no século X X " . Nesta área englobou maior participação cultural e científica.
os domínios da Física-Matemática, da Dessa alocução, uma boa notícia para os
Mecânica Racional e Celeste, da Astrono- matemáticos: a publicação, para breve,
mia, das Probabilidades e da Estatística. dos volumes que faltam (IV e V) das
Assim, começou por referir o papel incre- Obras de Pedro Nunes.
mentador que Pedro José da Cunha teve,
relativamente aos três primeiros domínios (José M. Ferreira)
64 GAZETA DE MATEMÁTICA

C o n f e r ê n c i a europeia de mulheres e do Seminário de Lógica Matemática,


em m a t e m á t i c a em curso no Centro de Matemática e
Aplicações Fundamentais, de Lisboa. Eis
O grupo European Women in Mathe- os títulos das conferências:
matics realizou de 16 a 18 de Fevereiro
último, na Reitoria da Universidade • Current work in History of Mathe-
9
Técnica de Lisboa, o seu 4 Encontro. matics
Esta organização, fundada há mais de 40
anos, desde sempre apoiou o ingresso das • Three lectures on founders of Modern
mulheres matemáticas na carreira univer- Logic:
sitária.
1. Boole: Logic as Applied Mathe-
A inserção plena e o reconhecimento matics
da mulher em todas as áreas científicas,
tornarão obsoletos este tipo de encontros. 2. Peirce: between Logic and Math-
A sua existência revela, porém, que são re- ematics
conhecidos como necessários por sectores 3. Russell: Mathematics as Applied
significativos da comunidade matemática. Logic
Em relação a este encontro parece-nos
de lamentar a escassa divulgação dada • Three traditions in Classical Mechan-
pelas suas organizadoras. ics

{J.M.F.) • History of Mathematics in Mathe-


matics Education

Série de c o n f e r ê n c i a s por I . • Three lectures on the founders of the


C r a t t a n - C u i n e s s sobre História Calculus:
da M a t e m á t i c a 1. Before and with Newton and
Leibniz
Durante o mês de Abril foram pro-
feridas conferências deste historiador da 2. Euler versus Lagrange
matemática, em Lisboa, Braga, Coim-
3. Cauchy's reforms
bra e Évora. A realização deis con-
ferências deveu-se a um acordo entre a • The life and work of Joseph Fourier
Royal Society of London e a Academia
das Ciências de Lisboa, inserindo-se em
actividades do Seminário Nacional de Congresso sobre H i s t ó r i a da
História da Matemática, com o patrocínio Universidade
da Sociedade Portuguesa de Matemática
5-9 de Março de 1990
e a colaboração dos Departamentos de
Matemática das Universidades de Lis- O Congresso realizou-se com o objec-
boa, Minho, Coimbra e Évora e ainda do tivo de celebrar o 1- Centenário da
Departamento de Educação e de Física Fundação da Universidade de Coimbra e
da Faculdade de Ciências de Lisboa o de desenvolver estudos científicos re-
Movimento Científico 65

lativos à História da Universidade. Es- F í s i c a 90


tavam inscritas 113 comunicações sobre os 7- C o n f e r ê n c i a Nacional de F í s i c a
seguintes temas, entre outros:
Lisboa, 24-27 de Setembro de 1990
— Fontes para a História da Universi-
dade; Organizada pela Sociedade Portuguesa
de Física a Conferência decorrerá nas ins-
— Universidade e Igreja; talações do Museu de Ciência da Univer-
— Universidade e Poder Político; sidade de Lisboa e do Museu Nacional
de História Natural, ambos situados no
— Universidade como Instituição;
edifício da antiga Escola Politécnica, Rua
— Universidade, Ciência e Cultura; da Escola Politécnica, 56, 1200 LISBOA.
— Universidade e Sociedade; Durante a realização da Conferência
terão lugar as Olimpíadas Nacionais de
— Conflitos académicos;
Física, da responsabilidade da Delegação
— Coimbra, cidade universitária; Regional de Lisboa da Sociedade Por-
tuguesa de Física.
— História Económica da Universidade;
Estão previstas as seguintes "Oficinas
— A Universidade Portuguesa e as Uni- e Seminários" :
versidades Americanas e Europeias.
1 - O Retroprojector nas aulas de
Física.
F r a c t a l 90 2 - O Computador no Ensino da
s
I - I F I P Conference on Fractals Mecânica.
"Os f r a c t a l s n a c i ê n c i a f u n d a m e n t a l e
aplicada" 3 - Estudo Experimental da Cinemá-
tica e Dinâmica.
6-8 de Junho de 1990
4 — Aquisição de Dados em Computa-
Conferência organizada pela Asso- dor no Ensino Secundário.
ciação Portuguesa de Informática, repre-
5 - Osciloscópio. Utilização no En-
sentando a International Federation for
sino Secundário.
Information Processing (IFIP); teve lu-
gar em Lisboa no Laboratório Nacional de 6 - Exploração do Telescópio nas
Engenharia Civil e na Fundação Calouste aulas de Física.
Gulbenkian. 7 - Estratégias Metacognitivas e Re-
solução de Problemas.
6- Congresso P o r t u g u ê s de 8 - Relatividade Restrita no Ensino
Informática Secundário.

A Associação Portuguesa de Informá- 9 - Mecânica Quântica no Ensino Se-


tica, promoveu este Congresso em Lisboa, cundário.
de 25 a 29 de Junho de 1990, na Fundação 10 - História da Física na Emergência
Calouste Gulbenkian. de alguns Conceitos.
66 GAZETA DE MATEMÁTICA

11 - Física e Medicina. Centro de A s t r o f í s i c a do Porto


12 - Física e Ambiente. cria N ú c l e o de D i v u l g a ç ã o

13 - A Física e a Bola de Bilhar. Criado em 1989, o Centro de As-


14 - Física e Arquitectura. trofísica da Universidade do Porto propõe-
se desenvolver um Núcleo de Divulgação
15 - Como montar Clubes de Ciência. com o objectivo de promover a di-
16 - Laser. Utilizações no Ensino. vulgação científica na área de Astrono-
17 - O Ensino da Termodinâmica. mia/Astrofísica.
O arranque deste Núcleo, será, em
18 - A Astronomia no Ensino Secun-
princípio, feito através do envolvimento
dário. em tempo parcial dos alunos dos anos
19 - Holografia. terminais da Licenciatura Interdisciplinar
Física/Matemática Aplicada - ramo de
20 - Física — Baixas Temperaturas.
Astronomia da Faculdade de Ciências da
21 - Física — Baixas Pressões. Universidade do Porto.
CONTACTO:
§
1 C o n f e r ê n c i a em E s t a t í s t i c a e Centro de Astrofísica da Universidade
Optimização do Porto, Rua das Taipas, 135,
4000 PORTO.
3-5 de Dezembro de 1990
Tel: (02)38 0313/38 07 69.
Com lugar em Tróia, terá como língua Telex: 28 109 FCUP P.
oficial o Português e o Inglês, sendo cons- Telefax: (02)69 87 36.
tituída por Sessões Plenárias e dividida
por Sessões Paralelas, uma de Estatística Encontro sobre Computadores no
e outra de Optimização. E n s i n o da F í s i c a e da Q u í m i c a
DATAS IMPORTANTES: 22-24 de Fevereiro de 1990
15 de Maio de 1990 - Pedido de sumá-
rios, inscrição final; Em organização conjunta da Sociedade
1 de Julho de 1990 - Limite de envio Portuguesa de Física e Projecto Minerva,
foram objectivos deste encontro:
de sumários;
30 de Setembro de 1990 - Limite de — Reunir docentes do Ensino Básico,
envio das comunicações. Secundário e Superior, interessados
na utilização de computadores em
CONTACTO:
Física e Química;
Comissão Organizadora da 1- Confe-
rência Estatística e Optimização, — Divulgar "software" desenvolvido ou
CT Estatística e Aplicações, existente em Portugal para o Ensino
Av. 24 de Julho, 134 - 5? , da Física e da Química;
1300 LISBOA, — Discutir as várias modalidades de ex-
Tel: (01)67 83 05/6/7. ploração do computador no ensino e
Telefax: 67 83 08. sua integração curricular.
Movimento Científico 67

No âmbito das actividades deste encon- Homenagem da Revista de


tro, teve lugar um concurso de "software" H i s t ó r i a das Ideias ao Professor
dirigido a estudantes e procurou criar- Joaquim de Carvalho
-se um Centro de Desenvolvimento e D i - 9
Em 1992 ocorre o l centenário do
vulgação de "software" Educacional para
nascimento do Prof. Joaquim de Carvalho.
Física e Química.
O Instituto de História e Teoria das
No encontro houve conferências Plená-
Ideias, fundado pelo Prof. J.S. da Silva
rias, Comunicações orais, Demonstrações,
Dias na sequência do Seminário de Cul-
Painéis e Exposições.
tura Portuguesa, não poderia ficar indife-
CONTACTO: rente a este acontecimento. Na verdade,
Comissão Organizadora do Encontro, o Prof. Joaquim de Carvalho, que foi do-
Dep. de Física da Universidade de cente desta Faculdade e director da Im-
Coimbra, Rua Larga, prensa da Universidade, extinta pelo go-
3000 COIMBRA. verno de Salazar e que agora com os novos
Tel: (039)236 71/75. Estatutos irá ser restaurada, foi, acima de
Telex: 52 601 DEFIUC P. tudo, um dos mais significativos histori-
Telefax: (039)29158. adores da cultura. Este Instituto sente-se,
assim, de alguma forma, como herdeiro de
uma tradição científica e pedagógica em
R e c P a d 90 que o Prof. Joaquim de Carvalho pontifi-
29 e 30 de Março de 1990 cou.
9
(Nota extraída da Revista de
O 2 Encontro da Associação Por- História das Ideias, vol. 11, publi-
tuguesa de Reconhecimento de Padrões, cada pelo Instituto de História e
teve lugar na Faculdade de Ciências e Te- Teoria das Ideias, da Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra,
cnologia da Universidade Nova de Lisboa
Coimbra, 1989.)
e contou com a participação de convidados
nacionais e estrangeiros.
CONTACTO:
Associação Portuguesa de Reconhe-
cimento de Padrões, Faculdade de
Ciências e Tecnologia da UNL, Dep. de
Informática, 2825 Monte da Caparica.
Tel: (01)295 44 64.
DOCUMENTOS
A Encyclopédie Méthodique, publicada a partir de 1751 sob o impulso de D'Alembert,
o abade Bossut, Diderot, o marquês de Condorcet e outros, é um símbolo da Revolução
Francesa. O Infante D. Henrique é ele próprio um símbolo das iniciativas portuguesas
na descoberta de novos mundos.
E m plenas comemorações da Revolução Francesa e dos Descobrimentos Portugueses,
a Gazeta de .Matemática pediu ao Professor Luís de Albuquerque — velho colaborador
da Gazeta — um comentário ao passo que se reproduz da Encyclopédie. A resposta não
se fez esperar e veio acrescida de um outro texto sobre a vida da Gazeta que é por si só
um documento.
Passemos ao comentário do Professor Luís de Albuquerque:

U m c o m e n t á r i o acerca de um texto da
E n c y c l o p é d i e M é t h o d i q u e , de 1784
por Luís de Albuquerque

1. É com grande alegria que vejo parada por gente "mal vista" ; se assim foi
renascer este sonho que foi e vai ser a de facto, seria bom indagar-se porque tal
"Gazeta de Matemática" ; e espero que aconteceu, para se não repetirem agora os
o novo fôlego da revista venha a ter em erros que levaram ao desaire.
conta os erros e as frustrações da primeira A "Gazeta" tinha há cinquenta anos
e por vezes penosa série. construído uma bela obra se tivesse po-
A "Gazeta" apareceu há meio século dido ou tivesse sabido cumprir o seu plano
com claros propósitos de intervenção; fundamental. Todavia, a sua acção inter-
uma das suas intenções era questionar ventora não é agora menos necessária do
a estrutura e o conteúdo do ensino da que era então; sabemos todos as dificul-
Matemática, sobretudo a nível secundário, dades com que se debate o ensino não su-
e por isso queria sobretudo chegar aos perior de Matemática (o superior t a m b é m
liceus e aos que neles ensinavam. Penso terá as suas, mas aí a história será um
que falhou nesse propósito, e julgo que tanto diferente!); talvez isso resulte sobre-
não terá sido apenas por ser dirigida e am- tudo do facto de se ter criado subitamente
DOCUMENTOS

Depuis la découverte de la bouflble, la navigation, toujours a.dee


de l'Aftronomie, fc perfedionnoit de jour en j o u r , & souvrott un
champ plus étendu. Les anciens, qui n'avoient aucun moyen de.
connoître à chaque inftant la pofition du vaiffeau fur le globe,
ofoienc rarement perdre de vue les cotes de la mer. La bouilolo
leva cet obftacle-, & on put entreprendre, avec furete, de marcher
à travers les mers comme à travers les terres. En 1410, le 1 nnca
H e n r i , fils de Jean I , Roi de Portugal, alla chercher fur loccan de
nouvelles régions ; i l découvrit lTile de Madère ; puis, tournant vers
l'orient & le m i d i , i l parcourut une partie de la côte occidentale de
l'Afrique. I l eut une foule d'imitateurs : on connok les expéditions
de F afio de Gama, de Chnftophe Colomb, ÙAmerïc Kefpuce,
& de plufieurs autres : ce n'eft pas ici le lieu d'en parler. Pour repré-
fenter la route que le vaiiTeau devoit fuivre, & pour le diriger en
effet fuivant cette route, le Prince Henri imagina les cartes marines,
connues fous le nom de cartes plates. L'ufage des globes terreftres
étoit très-ancien : celui des cartes, plus r é c e n t , avoit la p r é f é r e n c e ,
depuis que Ptolomée &c les Arabes avoient d o n n é des m é t h o d e s
géométriques pour projetter les cercles de la terre fur une fimple
furface plane ; mais le prince H e n r i , qui vouloit marquer par des
lignes droites, les différeus rhumbs de vent d'un vaiiTeau, ne pou-
voit y employer ces cartes , & i l fut obligé d'imaginer une autre
conftrucYion. 11 fuppofe que les méridiens font exprimés par des
lignes droites parallèles , & les cercles parallèles à l'équateur , par
d'autres lignes droites parallèles, perpendiculaires aux premières; i l
trace fur la carte la rofe des vents ; cnfuite, pour marquer la route
d'un vaiiTeau qu'il fuppofe fuivre un m ê m e rhumb de vent, i l m è n e
du lieu de départ au lieu d'arrivée une ligne droite, & i l croit qua
la ligne des vents, parallèle à c e l l e - l à , remplit l'objet propofé.
Mais ces cartes ne peuvent réellement fervir que pour de petites
étendues du globe. Lorfquc les efpaces font confidérables, les degrés
des cercles parallèles à l'équateur ne peuvent pas être repréfentés,
d'un cercle à l'autre, par des lignes égales, comme l'auteur le fup-
pofe; car on fait que les circonférences de ces cercles diminuent
continuellement de l'équateur aux poles. De plus, la route, par un
m ê m e rhumb de vent, n'eft pas, dans cette conftru&ion m ê m e , u n e
fimple ligne droite, fi ce n'eft dans les deux hypothèfes très bornées o ù
le vaiiTeau fuivroit toujours le même méridien ou le m ê m e parallèle.
O n fentit bientôt ces inconveniens, & on y apporta du r e m è d ç
•dans les deux iîècles fuiyans.

Fragmento de uma pagina do Discours Préliminaire


da Encyclopédie (Mathématiques, Tome I, pág. xliv) a que se refere o comentário
especialmente feito para a Gazeta de Matemática pelo Professor Luís de Albuquerque.
70 GAZETA DE MATEMÁTICA

um número incontável de escolas e, por oceano (sic) novas regiões, e descobriu a


falta de suportes financeiros, se ter adiado ilha da Madeira; depois, dirigindo-se para
para um mais tarde que ainda não chegou o oriente e para o sul, percorreu uma parte
a implantação das correspondentes estru- ocidental da África".
turas mínimas. Ora bem: sabe-se sem qualquer dúvida
Pode ser uma explicação da "crise" que a Madeira, Porto Santo, Desertas
que estamos vivendo, mas não passa de e Selvagens eram conhecidas no século
uma hipótese, evidentemente. Creio que a XIV; também se sabe que, a respeito de
"Gazeta de Matemática" podia e devia ser navegações, o infante se limitou a ir três
a patrocinadora de um grande inquérito vezes a Ceuta (uma para tomar a forta-
sobre este assunto. leza, outra para a descercar e a última
Peço me relevem uma opinião que ul- para daí partir a caminho de Tânger, onde
trapassa o que me foi pedido. Mas estas o esperava um desaire militar que custou
coisas "mexem" connosco. a vida ao irmão D. Fernando); quer dizer:
nunca navegou pelo largo oceano e nunca
2. Vejamos agora o que posso dizer percorreu a costa ocidental africana. Mas
acerca do "Discours Préliminaire" que o esta última parte da afirmação do abade
abade Bossut escreveu para o Tomo I da ainda se pode aceitar, se a entendermos
parte dedicada à Matemática (os franceses num sentido metafórico: D. Henrique não
usavam, e usam ainda, a forma plural) da esteve pessoalmente empenhado em tais
Encyclopédie Méthodique, de 1784. Para navegações, mas patrocinou ou autorizou
que se veja que os enciclopédicos afinal outros para que o fizessem; por isso no
não sabiam tudo... século X I X o cognominaram de "navega-
Não falarei da divisão que Bossut faz dor" .
da Matemática em dois ramos; podia ser
válida ou aceitável no seu tempo, mas está ENCYCLOPÉDIE
de há muito ultrapassada; o enciclopédico
abade não foi profeta... M É T H O D I Q U E .
Muito pior do que isso, contudo, é
falar do passado com muito deficiente in- MATHÉMATIQUES,
formação. Diz ele que depois "da des- Par MM. D'ALEMBERT , VAbbé BOSSUT, DE LA LANDE,

coberta da bússola a navegação, sempre le Marquis de CON DO RC ET , Sic.

apoiada pela Astronomia, se aperfeiçoou TOME PREMIER.


dia a dia" ; não data a descoberta (e bem!),
mas exagera claramente a intervenção da
Astronomia na náutica; isso só teve uma
importância decisiva por meados do século
X V , mas revestiu-se de aspectos bastante A P A R I S ,

elementares. Chez PÎKCIOUCIE, Libraire, hôtel de Thou , rue des Poitevins;

A L I È G E ,
Em seguida Bossut afirma que, em Chez PLOMIEUI, Imprimeur des Etacs.
1420, o "príncipe Henrique, filho de D. M. D C C. L X X X I V.

João I , rei de Portugal, foi procurar no A y te A r m o i A T i a y , i r PM.IV i t EG E DU ROI.


DOCUMENTOS 71

A seguir o autor, que possivelmente construção de globos (os povos a que de-
leu um tratado de geografia de George vemos as mais antigas cartas hoje conheci-
Fournier (o mais antigo livro que sei ter das talvez nem tivessem a noção de esferi-
divulgado o disparate), afirma categorica- cidade da terra); e se Ptolomeu propôs, na
mente que "o infante D. Henrique imagi- verdade, vários sistemas convencionais de
nou as cartas marítimas, conhecidas sob representação cartográfica, os Árabes não
o nome de cartas planas", e explica que, tiveram nisso qualquer interferência.
se o uso dos globos era muito antigo, "o No entanto, Bossut vai mais longe e
das cartas, mais recente, se tornou prefe- escreve: "o príncipe Henrique, que dese-
rencial, desde que Ptolomeu e os Árabes java representar por linhas rectas os dife-
indicaram métodos geométricos para pro- rentes rumos de ventos (seguidos) por um
jectar os círculos da Terra sobre uma sim- navio, não podia empregar essas cartas (as
ples superfície plana". de Ptolomeu e as dos Árabes, entenda-
-se), e foi obrigado a imaginar uma outra
construção. Supôs que os meridianos fos-
sem representados por linhas rectas para-
lelas, e os círculos paralelos ao equador
(isto é: os paralelos terrestres) por outras
linhas rectas paralelas, perpendiculares às
primeiras; traçou uma rosa de ventos na
carta; depois, para marcar a derrota de
um navio que supostamente seguia um
DISCOURS PRÉLIMINAIRE,
rumo constante, traçou do lugar de par-
PAU M. L'ABBÉ BO S S UT. tida ao lugar de chegada uma linha recta,
e acreditou que a linha de rumo paralela a
essa recta satisfazia o objectivo desejado" .
L E NOM SEUL des Mathématiques, qui, dans fon étymologic,
veut dire Injîruclion, Science, peint d'une manière jufte & pré-
eife l'idée noble qu'on doit s'en former. En cfFec, elles ne font
Pode-se dizer que tudo isto é um
qu'un enchaînement de principes, de raifonnemens 6i de condu-
irons , que la certirude Se l'évidence accompagnent toujours : caractère
grande equívoco.
propre des connoiiTanccs feientifiques.
On fait que les Mathématiques ont pour objet de mcfurcr, ou
Em primeiro lugar, e como ficou dito,
plutôt de comparer les grandeurs \ par exemple, les dill,mecs, les o infante D. Henrique não teve a mínima
furfaces, les vîtefles, (je. Elles fe divifent en Mathématiques pures
& Mathématiques mixtes, autrement appellées Sciences Phyftco- interferência no tipo da cartografia do seu
Matkématiques.
tempo; ela continuava então a ser pra-
Fragmento de uma pagina do ticada como o faziam desde há mais de
Discours Préliminaire da Encyclopédie um século cartógrafos do Mediterrâneo.
(Mathématiques, Tome I, pág. i). Se bem entendo o que Bossut quer dizer,
ele admitiu que a "carta henriquina" po-
E claro que o infante D. Henrique não dia ser coberta de uma quadrícula, a par-
inventou qualquer tipo de carta, e também tir de uma escala de latitudes (aliás abu-
é seguro (sabemo-lo hoje, desde que se des- sivamente introduzida nas cartas tradi-
cobriu uma carta babilónica, por exemplo) cionais) e de uma escala igual aposta à
que o desenho cartográfico sobre um plano linha equatorial; a quadrícula resultaria de
(de tijolo ou de papiro) é muito anterior à traçar, a partir dessas escalas, de pseudo-
72 GAZETA DE MATEMÁTICA

-meridianos rectilíneos é de paralelos ou seu arrasoado; coube ao matemático fla-


pseudo-paralelos t a m b é m rectilíneos; isto mengo resolvê-lo praticamente através da
é um "fantasma histórico"; nunca existiu, chamada carta de "latitudes crescidas", a
mas espalhou-se por escritos de historia- que chegou por via para nós desconhecida;
dores modernos com o pomposo mas bem mas a novidade levou muitos anos a ser
falso nome de "carta plana quadrada". aceite pelos marinheiros, mesmo os com-
Além disso, D. Henrique e os seus nave- patriotas de Mercator.
gadores nunca terão encarado o problema Feitas estas observações, posso dizer
do traçado na carta de uma linha de rumo que me parece notável que as grandes
constante, como pretendeu Bossut. Isso navegações dos séculos X V e X V I ainda es-
foi preocupação de Pedro Nunes em 1537. tivessem de tal modo presentes nos sábios
Ele e, depois, Gerard Krammer (Merca- do "século das luzes" que Bossut, embo-
tor) tiveram perfeita consciência do pro- ra com incorrecções, lhes concedesse t ã o
blema a que o abade alude no final do longo espaço na sua "Introduction" .

E v o l u ç ã o dos temas m a t e m á t i c o s nos


ú l t i m o s 100 anos
Segundo o Jahrbuch fiber die Fort- Na actualidade, de acordo com as
schritte der Mathematik (Anuário dos publicações congéneres, Mathematical Re-
Progressos da Matemática), primeira pu- views e Zentralblatt fur Mathematik os
blicação anual de recensão bibliográfica temas matemáticos são os seguintes, sub-
dedicada à matemática, surgida em 1871, divididos em cerca de 3400 subcategorias:
os temas matemáticos eram então os Generalidades
seguintes, subdivididos em 38 subcatego-
História e biografia
rias:
Lógica matemática e fundamentos
História e Filosofia
Teoria dos conjuntos
Álgebra
Combinatória
Teoria dos Números
Ordem, reticulados, estruturas algébri-
Probabilidades cas ordenadas
Séries Sistemas matemáticos gerais
Cálculo Diferencial e Integral Teoria dos números
Geometria Analítica Teoria dos corpos e polinómios
Geometria Sintética Anéis comutativos e álgebras
Mecânica Geometria algébrica
Física Matemática Álgebra linear e multilinear: teoria das
Geodesia e Astronomia matrizes
DOCUMENTOS 73

Anéis associativos e álgebras Estatística


Teoria das categorias, álgebra homoló- Análise numérica
gica Ciência da computação
if-teoria Mecânica das partículas e sistemas
Teoria dos grupos e generalizações Mecânica dos sólidos
Grupos topológicos, grupos de Lie Mecânica dos fluidos
Funções reais Óptica, teoria electromagnética
Medida e integração Termodinâmica clássica, transmissão
Funções de uma variável complexa de calor
Teoria do potencial Mecânica quântica
Várias variáveis complexas e espaços Estatística física, estrutra da matéria
analíticos Relatividade
Funções especiais Astronomia e astrofísica
Equações diferenciais ordinárias Geofísica
Equações às derivadas parciais Economia, investigação operacional,
Diferenças finitas e equações funcionais programação, jogos
Sucessões, séries, somabilidade Biologia e ciências do comportamento
Aproximação e desenvolvimentos Teoria dos sistemas: controlo
Análise de Fourier Informação e comunicação, circuitos
Análise harmónica abstracta (Estas divisões temáticas foram re-
Transformações integrais, cálculo ope- tiradas do número 1 de 1868 do
Jahrbuch ûber die Forschritte der
racional
Mathematik e da 1980 Mathemat-
Equações integrais ics Subject Classification (1985 Re-
Análise funcional vision), compilação dos gabinetes e-
ditoriais de Mathematical Reviews
Teoria dos operadores e Zentralblatt fíir Mathematik.)
Cálculo das variações e controlo ópti-
mo; optimização
Geometria
Conjuntos convexos e tópicos geométri- 1 MATHEMATICS
cos relacionados
Geometria diferencial
Topologia geral CLASSIFICATION
Topologia algébrica (1 985 Revision)
Variedades e complexos celulares
Análise global, análise em variedades
Teoria das probabilidades e processos
estocásticos
Sob a direcção do Prof. Sérgio Macias tência dos periódicos de matemática mais
Marques entrou no oitavo ano de publi- importantes tem sido, é certo, assinala-
cação o "Jornal de Mathematica Elemen- da nos estudos que se têm feito sobre
tar" que, presentemente e na sua actual a história das matemáticas em Portugal;
fase vai j á no número 100. mas ainda não se fez um estudo de con-
O jornal foi iniciado há pouco mais junto sobre a vida dos jornais científicos
de cem anos com uma série de nove que interessam às ciências matemáticas.
números quinzenais, além de um número Era necessário fazer um inventário desses
programa. Caído no esquecimento, foi jornais, historiar a sua vida, estudar os ar-
descoberto num alfarrabista em 1943 tigos que neles se publicaram e avaliar o
pelo matemático António Aniceto Mon- papel que desempenhavam nas épocas em
teiro, um dos fundadores da Gazeta de que existiram.
Matemática, que adquiriu os dez exem-
plares, só sendo três porém do conheci- st.-99
mento do público nos dias de hoje. éJfonaí île Jlafljímata Jilímimte
Foi na Gazeta de Matemática (n- 17, PUBLICAÇÃO MENSAL

1943) que António Monteiro revelou a e-


xistência do jornal num artigo intitulado: outra v«»z , ainda <*om 20 p á g i n a s
"Um jornal Português Esquecido".
Depois de um breve historial do "JME" SUMARIO C2 ALEMA DERAa
faziam-se perguntas ou desafios como: LAURENT
3J
E
E5T0ES DE MATEMÁTICA
saldas em exames

"Não terá o nosso país necessidade dum .110


. 6o

-
LAURENT
-

"
-
6
I t
jornal de matemática elementar?" ,
"Não existirá um grupo de professores do P
Maria Ed 1 t e R o s a r 1 o 3,15,16
OLIMPÍADAS DA MATEMÁTICA
ensino secundário capaz de realizar uma VY 0 1.H.-1963 4.1,1!

missão desta natureza?", . VENCEDORES DAS V I I I 0NH-9O 5

"Não serão os estudantes do ensino se-


C
das" vív O.I.M.-1964
F i n a l das V I I I
T D
ONH/IO
17
20
ÉÉ
ENSIT:ODAMATÉKATICÍ E DAS OUTRAS
cundário capazes de apoiar uma tal ini- C 1 I
p o r M a r i a Helena NovalB 9,12
kespostas a 'A 'Equação Apocalí-
ciativa?" . P
por*A.àoòra,J.Carlos Fria» « A.
coara • da dumbuiçio doi oumeroi
de F i t i u 10,11,16
Produtos Estranhos IBOluçôeaI..19
A certa altura referia-se nesse artigo: FICHA do J.H.E.
^ D*>t te «li* apt>|cu etwrjci
•• . • . . na DGCS
cos o n a l l O 029Irirccil de MaHaiáttca. d c
tmtt
-Impresso nas Of.Gráficas da AAFDL
lalaria K dciiacam ti figurai d>
Loun Caiichr- Jatqyci HmdiD
A história do jornalismo matemático 16-40-E - 1400LISBOA
WclirairiM, Beinrurd Ritminn

r o n t i n u a na pâsj.
português está ainda por fazer. A exis-
75

O estado da cultura científica por- Quantos jornais científicos não desa-


tuguesa refiecte-se necessariamente na pareceram como resultado da maldade ou
vida dos jornais científicos da época. da indiferença dos homens? Quantos sa-
A dolorosa e educativa experiência que crifícios, quantas horas de trabalho e can-
temos vivido com a publicação de dois seiras inutilizadas pela incompreensão do
jornais de matemática levam-nos mesmo meio? Mas também que alegria e con-
a pensar que o estudo da vida adminis- tentamento não provoca o esforço dis-
trativa, directiva e diplomática dos jor- pendido numa tarefa que transcende o in-
nais científicos é susceptível de iluminar teresse imediato de cada um?
com novas cores o ambiente científico das Por detrás da serenidade das comu-
épocas em que se publicaram. nicações científicas encontra-se uma vida
A indiferença e o derrotismo na hora real feita de lutas e paixões à imagem e
em que nascem os jornais. O silêncio semelhança dos homens.
e a expectativa perante aqueles que não
morrem à nascença. O ataque à intriga
quando o jornal firma a sua posição.
PREÇO AVULSO: 450 escudos

P R E Ç O DA A S S I N A T U R A (2 números): 900 escudos


600 escudos para os sócios da S.P.M.

A Gazeta de Matemática precisa de si:


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Gazeta de Matemática se encontrarem há muito tempo
esgotados, estão ainda disponíveis muitos exemplares de
números antigos. Encontram-se à venda ao preço unitário
de 200 escudos (para os sócios da Sociedade Portuguesa de
Matemática: 100 escudos).

A Gazeta de Matemática, pretende constituir-se num pólo de interacção entre as pessoas


interessadas em m a t e m á t i c a . N ã o se tratando de uma revista de investigação, os artigos
para publicação deverão ser atraentes e acessíveis a estudantes de f o r m a ç ã o intermédia, do
liceu à universidade, de modo a estimular um melhor ensino e uma melhor investigação. Os
originais para publicação devem ser dactilografados.

The aim of the Gazeta, de Matemática is to provide an interactive flow concerning mathe-
matical interested people. As this is not a research journal, papers for publication should
be attractive and accessible to undergraduated students in order to stimulate good teaching
and good research. Originals for publication must be dactilographed.

Gazeta de Matemática veut être un pôle d'interaction pour tous ceux qui s'intéressent aux
m a t h é m a t i q u e s . É t a n t donné q u ' i l ne s'agît pas d'une revue de recherche, les articles à publier
devront être attrayants et accessibles aux é t u d i a n t s de formation intermédiaire, du lycée à
l'université, de manière à stimuler un meilleur enseignement et une meilleure recherche. Les
originaux à publier devront être dactilographiés.
SUMÁRIO

À guisa de e x p l i c a ç ã o . . .
por José Gaspar Teixeira

P a r a a H i s t ó r i a da Á l g e b r a em P o r t u g a l — I
por José Morgado

Sobre a obra l ó g i c a de J o s é S e b a s t i ã o e S i l v a
por António Marques Fernandes

P O N T O S D E E X A M E - 12- Ano de Escolaridade, Análise Matemática I,

Algoritmos, Estatística Experimental

PROBLEMAS

MATEMÁTICA EXPERIMENTAL

MATEMÁTICA E JOGOS

CRÍTICA DE LIVROS

BOLETIM BIBLIOGRÁFICO

ANTOLOGIA

MOVIMENTO CIENTÍFICO

DOCUMENTOS

G A Z E T A D E M A T E M Á T I C A
E D I T O R — Gazeta de Matemática D I R E C T O R — J. Gaspar Teixeira
9 g
SEDE: A v . da República, n 37, 4 , 1000 L I S B O A - P O R T U G A L

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