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O poder de suportar a

pressão e de
transformar
problemas em
desafios se torna
uma exigência nas
empresas – e
requisito
de sucesso para os
novos executivos.

REVISTA AMANHÃ
www.amanha.com.br

Cena de O Pianista: resiliência salvou a vida de milhares de judeus na II Guerra – incluindo a de


Wladislaw Szpilman, retratado no filme.

Um traço comum das pessoas resilientes é a tolerância a mudanças. Elas entendem que os
imprevistos fazem parte da rotina e, por isso, não perdem o controle diante da primeira dificuldade.

A norte-americana Diane Coutu, autora da pesquisa “Resiliência: para que serve?”, publicada na
Harvard Business Review, tem uma definição ainda mais concisa. Para ela, a resiliência está ligada à
capacidade de assimilar as situações com os pés no chão – sem otimismo exacerbado ou discursos
derrotistas. “Muitos utilizam a negação como mecanismo de defesa. Enfrentar a realidade, ainda que
isso seja doloroso, é tarefa para poucos”, escreve ela. Nas organizações, a falta de habilidade para
lidar com os imprevistos de forma realista pode se tornar um problema de dimensões perigosas.

Richard Pascale, no artigo “Mudando a maneira como mudamos”, também da Harvard Business
Review, garante que assimilar as mudanças é essencial para que os funcionários não tropecem
nelas. Segundo ele, uma das formas de recuperar a vitalidade de uma organização é “instaurar
disciplinas mentais que induzam as pessoas a modificar seu comportamento e as ajudem a cultivar
novas atitudes”.

Uma capacidade ímpar de superar problemas – ou “resiliência”, como preferem os especialistas – foi
o que salvou o explorador inglês Ernest Schackleton e sua tripulação da morte no início do século
passado. Disposto a atravessar a Antártida em trenós puxados por cães, Schackleton partira com 27
homens a bordo de um navio conhecido como Endurance. A menos de 200 quilômetros do destino,
porém, a embarcação foi prensada por um imenso bloco de gelo e, dias depois, rachou ao meio.

Sem nenhuma possibilidade de pedir ajuda, a expedição padeceu sobre o deserto gelado, durante
dois anos, alimentando-se de focas e até dos próprios cães. Sua única chance de salvação consistia
em arrastar três pesados botes de madeira sobre a banquisa congelada à procura de uma saída para
o mar. Dificilmente, o grupo conseguiria escapar com vida. Mesmo assim, Schackleton tratava de
manter a cabeça erguida. Nos momentos de descanso, ele estimulava os companheiros a pensar no
que fariam quando voltassem para casa e, às vezes, promovia partidas de futebol sobre o gelo. Essa
maneira peculiar de Schackleton resistir às privações da Antártida é lembrada até hoje como a
“força milagrosa” que preservou a vida de seus homens até o dia em que, finalmente, eles foram
resgatados.

A resiliência, no entanto, não tem nada de sobrenatural. Trata-se de uma característica comum que
alguns indivíduos eventualmente desenvolvem ante uma situação difícil. Pesquisas recentes, aliás,
comprovam que a habilidade de resistir e contornar crises pode ser treinada e estimulada. A
descoberta tem valor especial para o mundo corporativo, hoje imerso em problemas como acúmulo
de trabalho, metas impraticáveis e os próprios reveses da economia, entre outros fatores de
estresse. Não é à toa que Carolyn Larkin, uma das mais gabaritadas pesquisadoras da área de
recursos humanos, classifica a resiliência como o terceiro atributo mais importante de um líder
corporativo, atrás de “visão” e “energia”. “Mais do que qualquer outra habilidade da inteligência
emocional, é a resiliência que vai determinar a felicidade e a longevidade de um relacionamento, de
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uma carreira e de uma vida”, sentenciam Karen Reivich e Andrew Shatté no livro The Resilience
Factor – 7 Essential Skills for Overcoming Life’s Inevitable Obstacles (“O Fator Resiliência – 7
Habilidades Essenciais para Contornar os Obstáculos Inevitáveis da Vida”), ainda sem tradução para
o português.

Um traço comum das pessoas resilientes é a tolerância a mudanças. Elas entendem que os
imprevistos fazem parte da rotina e, por isso, não perdem o controle diante da primeira dificuldade.
A norte-americana Diane Coutu, autora da pesquisa “Resiliência: para que serve?”, publicada na
Harvard Business Review, tem uma definição ainda mais concisa. Para ela, a resiliência está ligada à
capacidade de assimilar as situações com os pés no chão – sem otimismo exacerbado ou discursos
derrotistas. “Muitos utilizam a negação como mecanismo de defesa. Enfrentar a realidade, ainda que
isso seja doloroso, é tarefa para poucos”, escreve ela. Nas organizações, a falta de habilidade para
lidar com os imprevistos de forma realista pode se tornar um problema de dimensões perigosas.

Richard Pascale, no artigo “Mudando a maneira como mudamos”, também da Harvard Business
Review, garante que assimilar as mudanças é essencial para que os funcionários não tropecem
nelas. Segundo ele, uma das formas de recuperar a vitalidade de uma organização é “instaurar
disciplinas mentais que induzam as pessoas a modificar seu comportamento e as ajudem a cultivar
novas atitudes”.

Um sentido na vida – Outro requisito básico da resiliência profissional é a capacidade de se definir


metas claras e relevantes em plena turbulência. Os estudos no campo da psicologia mostram que é
muito mais fácil sair de uma crise quando se tem algo pelo que valha a pena resistir. Essa é a
principal teoria do psiquiatra austríaco Vitor Frankl, considerado o pai dos estudos sobre resiliência.

Sua tese foi quase toda elaborada durante o tempo em que esteve preso em Auschwitz, o sinistro
campo de concentração construído pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Para se
manter sob controle ante assassinatos em massa, torturas e outras cenas horrendas, Frankl
concentrava seus pensamentos em um único e maior desejo: reencontrar a mulher e seus pais. No
seu livro A Busca do Sentido da Vida, o médico conta que também planejava as aulas que ia
ministrar tão logo a guerra acabasse. “Para ele, a chave interpretativa do ser humano é a busca de
um sentido. Só sobrevive aquele que consegue transcender sua existência e encontrar sentido em
algo que está fora de si próprio, como um amor ou um projeto”, analisa Luciano de Jesus, professor
de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

O poder motivador dessa “busca de sentido” foi retratada recentemente nas telas do cinema, no
filme O Pianista. A produção narra a história verídica de Wladislaw Szpilman, polonês que, motivado
pelo desejo de voltar a tocar piano, encontrou forças para sobreviver aos horrores da ocupação
alemã durante a II Guerra Mundial.

Ter algo pelo que resistir foi o que mudou a vida do camelô carioca David Portes – que hoje é um
requisitado palestrante de marketing. Portes lembra que pulava de um emprego para o outro, sem
prosperar em nenhum deles. Até o dia em que se viu obrigado a morar na rua com a esposa. “Eu
não podia desistir de lutar, porque minha mulher estava grávida”, recorda.

Motivado pela necessidade de sustentar a família, Portes se tornou vendedor ambulante com apenas
R$ 12 emprestados de um amigo. Como não dispunha de tempo hábil para esperar o negócio
engrenar, ele adotou um punhado de idéias mirabolantes para cativar a clientela e vender de uma
vez suas balas e guloseimas. Assim, dividiu sua pequena tenda na Central do Brasil em setores
inusitados – do lado direito ficava o “mezzanino diet” e, do outro, o “mezzanino engordiet”. Havia
ainda o “setor de refrigerados” (um pequeno isopor com refrigerantes) e a “sobreloja”, onde ficavam
expostos os pacotes de biscoito pendurados com prendedores de roupa. “Todo o mundo caía na
gargalhada. E aí comecei a ficar famoso”, explica Portes, que hoje ganha R$ 8 mil por palestra e
está prestes a montar uma rede de franquias da “Banca do David” em shopping centers.

É como explica Leila Navarro, palestrante motivacional: “O fundo do poço não tem ralo, tem
mola”.

Bom humor também ajuda – A história de David Portes evidencia outra característica própria dos
indivíduos que conseguem se manter em pé quando o mundo todo está desabando: a criatividade.
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Banca do David: improvisação transformou camelô carioca em case de marketing

Pessoas e profissionais resilientes exibem uma capacidade única de improvisar, obtendo grandes
benefícios a partir de iniciativas e recursos escassos. Prova disso são as crianças de rua. Há muito
que psicólogos e pedagogos tentam entender por que algumas delas conseguem superar abusos,
maus-tratos e outros traumas de infância, tornando-se adultos saudáveis. Em geral, as pesquisas
apontam para a mesma resposta: até nos piores momentos, as crianças resilientes conseguem
amenizar o sofrimento com doses de bom humor. Além disso, sempre sabem como e onde procurar
ajuda. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a resiliência como um dos mais
eficientes mecanismos de combate ao estresse e a doenças psicossomáticas em jovens e adultos.

“Parte-se do pressuposto de que não é possível evitar uma situação estressante, e, por isso, é mais
fácil ensinar as pessoas a reagir melhor e mais rapidamente”, salienta Ceres de Araújo, professora
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Estudos médicos comprovam que até
mulheres grávidas podem ser beneficiadas. Quando devidamente treinadas, elas liberam mais
endorfina na hora do parto e, por isso, sentem menos dor. “É como um atleta: aquele que treina
todos os dias tem mais chances de vencer do que aquele que não se prepara”, compara Hugo
Sabatino, professor de Ginecologia da Universidade de Campinas (Unicamp).
 
Atitudes resilientes também são valiosas para o desenvolvimento da carreira. O próprio significado
de resiliência está ligado à idéia de flexilibidade, condição essencial para se manter no mercado de
trabalho atual. “Os profissionais resilientes estão muito mais preparados para serem donos de duas
carreiras dentro do atual cenário da empregabilidade”, afirma Antônio Salvador, consultor de capital
humano da IBM Business Consulting Services. Os estudos de resiliência, aliás, oficializam a nova
relação empresa–empregado. “Hoje, cada profissional é uma S/A”, explica o executivo. “Ele tem de
desenvolver ao máximo suas competências na organização para estar preparado para mudar de
cargo ou para procurar um novo posto a qualquer momento”, defende. Nessas horas, o que conta é
a resiliência. “Essa capacidade define aquelas pessoas que vergam, mas não quebram”, brinca Leila
Navarro, palestrante que empolga suas platéias com o lema de que toda desgraça deve ser
capitalizada.

Não existe, porém, nenhum método pronto para aguçar a resiliência das pessoas, muito menos das
empresas. Geralmente, a habilidade de contornar os inevitáveis obstáculos da rotina é conseqüência
de um programa bem-sucedido de motivação e sensibilização internas. A Fundação Getúlio Vargas
de São Paulo, por exemplo, implementou um projeto intitulado “Saúde e Harmonia” que acabou
fomentando a resiliência de seus empregados. De acordo com Janice Ramos de Almeida, gerente de
recursos humanos da instituição, era comum eles solicitarem afastamento por motivos de estresse.

Outra dor de cabeça era a tensão exagerada que precedia a troca de diretoria da escola – que
ocorre a cada quatro anos. Para evitar surpresas desagradáveis, muitos funcionários pediam
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antecipação salarial. “Não entendíamos o porquê de tanto desgaste”, admite Janice. Para combater
esses problemas, o setor de RH organizou um programa que procurava simplesmente apaziguar os
ânimos. Para reduzir o índice de afastamento por problemas médicos, por exemplo, a FGV-SP
passou a oferecer aulas de ginástica laboral. Posteriormente, contratou especialistas em
planejamento doméstico para ensinar os funcionários a organizar melhor seus gastos mensais. Para
arrematar, Janice e sua equipe promoveram um seminário para acabar com a resistência às
mudanças no trabalho. O resultado foi surpreendente. “Logo após as palestras, inspirados pelo clima
positivo, dezenas de funcionários começaram a participar de algum trabalho voluntário”, relata a
gerente. Os pedidos de antecipação salarial também caíram pela metade. Além disso, o clima de
trabalho se tornou mais tranqüilo, condição essencial para um bom desempenho profissional.

“Estudos comprovam que 80% das competências praticamente desaparecem ante situações de
estresse intenso”, atesta o consultor Eduardo Carmelo, que realiza palestras sobre resiliência.

O caso da FGV-SP é emblemático: além das pessoas, as próprias empresas podem ser resilientes.

Não por acaso, é cada vez maior o número de companhias que trata de contratar profissionais
comprovadamente hábeis em superar dificuldades. Já existem até técnicas específicas para
identificar as pessoas que, literalmente, balançam, mas não caem. Antonio Salvador, da IBM, conta
que a personalidade resiliente fica evidente nos jogos de negócios. Trata-se de uma técnica comum
dos processos de recrutamento que apresenta aos candidatos alguns jogos cujas regras mudam a
todo momento. “Nesse meio tempo, observam-se os profissionais que têm mais resistência à
mudança, os mais acomodados e os que prontamente tentam encontrar soluções com as novas
regras”, relata Salvador.

Nos processos de recrutamento de executivos da Hay Group, consultoria especializada no método de


gestão por competências, a resiliência está no topo da lista de características mais valorizadas.
Recentemente, a empresa foi responsável pela revisão do “modelo de competências” do Grupo
Gerdau – espécie de cartilha que define as qualidades necessárias para que os funcionários sejam
promovidos e até mesmo admitidos no conglomerado siderúrgico. Coincidência ou não, a habilidade
de resistir e superar as intempéries do dia-a-dia ganhou importância também dentro da companhia
gaúcha. “Normalmente, os profissionais resilientes apresentam virtudes de inteligência emocional
como o autoconhecimento e a autoconfiança”, justifica Fátima Marques, executiva do Hay Group no
Brasil.

Em todos os casos, o grande desafio das empresas é fazer com que a resiliência de alguns
funcionários contamine toda a organização. “É muito comum um diretor saber como tomar uma
atitude resiliente, mas não conseguir ensinar sua equipe a fazer o mesmo”, observa o consultor
Eduardo Carmelo. Uma alternativa para solucionar esse problema é aproximar os funcionários da
companhia, criando laços fortes entre seus objetivos pessoais e os valores e metas organizacionais.
“O sistema de valores das empresas resilientes muda muito pouco ao longo dos anos e é usado
como andaime em momentos de crise”, percebe Diane Coutu, da Harvard Business School.
 
Um sistema de valores concreto e duradouro foi a tábua de salvação da IBM no início dos anos 90. A
então fabricante de computadores via suas margens de lucro minguarem com a concorrência
japonesa e a ascensão da poderosa Microsoft. No final de 1994, suas dívidas já beiravam a casa dos
US$ 15 bilhões. Se não mudasse radicalmente de estratégia, a multinacional estaria definitivamente
condenada. Para definir os rumos da mudança, os diretores se inspiraram em um velho e importante
valor: o de manter o foco no cliente.

Prevendo o boom da internet, decretaram então que toda a comunicação em papel passaria a ser
feita por e-mail, todos os executivos estariam disponíveis on-line para os clientes e para os
investidores e o novo site seria usado para a gigante vender seus novos produtos. Fabricar
computadores se tornou um negócio secundário. Três anos depois, a IBM comemorava 18 mil
projetos de e-business, seu novo e principal negócio. Nessa época, um quarto de seu faturamento
de US$ 82 bilhões já vinha da rede. Antonio Salvador, executivo do setor de consultoria da
multinacional, acredita que nada disso teria sido possível sem a crença em valores sólidos e
incontestáveis. “Quando chegou a hora de mudar, todos sabiam que se tratava de uma exigência do
mercado e não da ordem de um chefe lunático”, completa.
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É proibido guardar segredo – A mudança radical na IBM, porém, não teria sido bem-sucedida se
a empresa não tivesse dado as condições para que todos os seus profissionais entendessem
exatamente o que estava acontecendo. Eis aí outro trunfo das empresas resilientes: os canais de
comunicação internos funcionam com fluidez e fortalecem os vínculos entre as pessoas e a
organização – condição indispensável em momentos de crise. “Uma empresa que estressa o
funcionário ao máximo tem de dar condições para que ele se fortaleça”, argumenta Cristina Rigotti,
consultora organizacional que implementou uma política de “portas abertas” na comunicação interna
da Ericsson do Brasil, no final de 2001, durante o processo de venda da companhia. Segundo ela,
ter a liberdade de bater na porta do chefe e falar ou reclamar dos problemas é um remédio potente
para apaziguar as tensões em momentos de incerteza. Além disso, a maioria dos funcionários
estabelece uma relação de confiança e ajuda mútua. Na hora da venda da Ericsson, isso reduziu
consideravelmente a ansiedade. “A fórmula é ouvir as pessoas, escutar os seus problemas e dar
feedback”, conclui Cristina.

Faça as pazes com a vida...

Dez maneiras de construir a resiliência:

Estreite os laços afetivos: indivíduos resilientes têm uma ótima relação com a família e
com os amigos. Saber onde buscar ajuda e amparar quem precisa é uma das maneiras de
desenvolver essa competência. Ser religioso ou participar de organizações sociais também
ajudam.

Evite encarar as crises como problemas sem solução: não se pode evitar que situações
traumáticas aconteçam, mas podemos mudar a forma de interpretar esses traumas e
responder a eles.

Aceite que a mudança faz parte da vida: entender que algumas circunstâncias
simplesmente não mudam pode ajudá-lo a focar aquilo que pode ser modificado.

Persiga seus objetivos: faça planos e metas que o ajudem a alcançar seus sonhos.

Tome decisões práticas: não fique parado diante dos problemas e nem ache que eles
desaparecem da noite para o dia.

Aproveite as oportunidades de autoconhecimento: sempre pode se aprender com as


situações dolorosas. Muitas pessoas transformam suas vidas e carreiras depois de
tragédias.

Tenha uma visão positiva de si mesmo: confie na sua capacidade e nos seus instintos para
resolver problemas.

Tenha foco no amanhã: mesmo quando você estiver passando por um momento difícil,
mantenha perspectivas de longo prazo.

Esperança é a última que morre: tente visualizar o que você quer, mais do que se
preocupar com o que você teme.

Cuide de si mesmo: preste atenção nos seus sentimentos e necessidades. Faça atividades
prazerosas e relaxantes para manter a mente e o corpo são para as horas em que você
precisará ser resiliente.

Fonte: The American Psychological Association

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