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Revista P&D em Engenharia de Produção V. 08 N. 02 (2010) p. 40-56

Recebido em 19/09/2007. Aceito em 22/03/2010


ISSN 1679-5830

CONSIDERAÇÕES SOBRE TENDÊNCIAS E OPORTUNIDADES DOS


ALIMENTOS FUNCIONAIS

Ana Akemi Ikeda


Professora Doutora
Universidade de São Paulo
Departamento de Administração de Empresas
anaikeda@usp.br

Alexandre Moraes
Especialista
Fundação Instituto de Administração
mba_mkt@fia.com.br

Gustavo Mesquita
Especialista
Fundação Instituto de Administração
mba_mkt@fia.com.br

RESUMO

O objetivo deste trabalho é analisar as tendências e oportunidades de produtos no mercado


de saúde especificamente os alimentos funcionais e realizar algumas considerações que
suscitem uma discussão inicial. Foram investigados e analisados artigos acadêmicos e
especializados em alimentos e estudos realizados por organizações de pesquisa; valendo-se
também de experiência profissional dos autores deste trabalho. Descobriu-se que existem três
tendências principais que influenciariam o mercado de alimentos nos próximos anos:
conveniência, saudabilidade e indulgência. A indústria de alimentos já há algum tempo tem
explorado e investido nesse negócio. Do ponto de vista de desenvolvimento de novos
produtos, uma grande oportunidade é combinar ao menos duas tendências num só produto.
Dos produtos lançados até agora os relacionados a melhoria do funcionamento intestinal foi
a mais explorada; em oposição os alimentos voltados para beleza ainda são pouco
explorados. Apresentam-se, assim, como uma boa oportunidade em termos de inovação em
alimentos para o futuro.

Palavras-chave: alimentos funcionais; mercado; produto; tendências.


IKEDA, MORAES & MESQUISTA/ Revista P&D Engenharia de Produção V. 08 N. 02 (2010) p.40-56 41

REFLETIONS ON TRENDS AND OPPORTUNITIES OF


FUNCTIONAL FOODS

ABSTRACT

The objective of this work is to analyze the main trends and opportunities in the functional
foods market and initiate a discussion. Journals and periodicals articles as well as researches
developed by food organizations were explored and analyzed. The experience of the authors
were also considered. The findings include the three tendencies that influence the food market
now and in the next years: convenience, healthiness, and indulgence. The food industry is
already been investing in this business. In regard of new product development it seems that a
favorable opportunity is to put together two tendencies into one product. Among the products
already launched until now the ones related to intestinal functioning were more explored. On
the other hand the ones concerning to beauty are still unexplored. Thus, this seems a good
opportunity in term of food innovation for the future.

Keys words: Functional foods; market; product; trends.

1. INTRODUÇÃO
Alimentos funcionais representam uma das tendências mais recentes para o mercado
de alimentos. Uma definição simples e prática de alimentos funcionais é “alimento ou
ingredientes alimentares que podem fornecer um benefício de saúde além dos tradicionais
nutrientes já contidos” (GOLDBERG; KNOOP; STROOCK, 2000). Tanto no Brasil quanto
no exterior multiplicam-se os fóruns de discussão a respeito de novas descobertas e usos dos
alimentos funcionais. Ao mesmo tempo, os trabalhos acadêmicos que abordam esse assunto
são escassas e poucas empresas, de fato, conseguiram desenvolver e lançar produtos com
conceitos relevantes e benefícios funcionais reais. O fato dos alimentos funcionais
incorporarem – em alguns casos específicos – benefícios ou posicionamentos antes exclusivos
de produtos cosméticos e de saúde faz com que o desenvolvimento de alimentos funcionais
também herde características do mercado farmacêutico, uma vez que é necessário testar e
provar clinicamente os benefícios prometidos (WILSON, 2001). Assim, é interessante e útil
para o pesquisador desse assunto entender suas peculiaridades. Assim, este trabalho procura
analisar as principais tendências e oportunidades de produtos no mercado de alimentos
funcionais e realizar algumas considerações que suscitem uma discussão inicial. Para isso é
feita uma revisão bibliográfica e de dados secundários oriundos de publicações e resultados de
pesquisas específicas sobre o assunto.

2. A RELAÇÃO DO HOMEM COM A COMIDA


Muito da literatura de marketing relacionada à saúde e conteúdo de nutrientes focam
os rótulos e embalagem (FORD et al., 1996; ROE; LEVY; DERBY, 1999). Pouco se aborda
sobre novas tendências de consumo. Entretanto, 18% da renda de consumidores de países
desenvolvidos são gastos em alimentos, e para os países em desenvolvimento a porcentagem
chega a 30% (SELVANATHAN; SELVANATHAN, 2006) e como afirma Mintz (2001, p.
31):
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Dificilmente outro comportamento atrai tão rapidamente a atenção de um estranho


como a maneira que se come: o quê, onde, como e com que freqüência.....não é de
surpreender, portanto, que o comportamento relativo à comida tenha sempre nos
interessado e documentado a grande diversidade social. Também não se espanta que
os antropólogos, desde o começo, tenham se fascinado pela ampla gama de
comportamentos centrados na comida. (MINTZ; 2001, p.31)

Casotti (2004), citando Bell e Valentine (1997, p.545), afirma que é possível conhecer
e entender as pessoas e sociedades por meio do que elas comem e bebem. Argumenta que há
direções concorrentes: de um lado o discurso de nutricionistas e de órgãos oficiais do governo
sobre o que consiste a dieta nutricional. Outra direção é a encontrada em sociedades modernas
que relaciona o gosto com a última novidade. No entanto, dietas ligadas à saúde e abordagens
com apelo de novidade coexistem com práticas nutricionais e crenças derivadas tanto da
cultura culinária tradicional e de apelos da mídia de massa para as pessoas serem magras.
Nas vidas das pessoas a comida faz parte das complexidades da vida cotidiana. Holm
(2003) aponta as razões práticas e econômicas, simbólicas e relacionais que estão em jogo.
Segundo ele, as razões práticas e econômicas se relacionam ao fato de que alimentos
representam o trabalho e despesas do dia-a-dia. A alimentação, a comida é dependente dos
recursos disponíveis e está incorporada nas inúmeras rotinas diárias do ser humano. A razão
simbólica se relaciona ao fato de que o alimento serve como um marco da estação, de
festividades ou da hora do dia. Tanto as refeições como alimentos específicos carregam
significados simbólicos. O alimento é, assim, um marco da identidade – nacional, cultural,
individual. A razão relacional se refere ao fato de que na vida diária as refeições são uma
forma de encontro com as pessoas. O alimento é central nas relações sociais e na família.
Preocupações do consumidor ligadas a alimentos e saúde são características de uma
sociedade industrial moderna. A produção de alimentos na sociedade ocidental
contemporânea é caracterizada pela crescente complexidade e aumento da cadeia de
alimentos, com grande participação da indústria e ciências no fornecimento de alimentos
comparado com o passado (HOUGHTON et al., 2006). Assim, o mundo está assistindo a
grandes mudanças nos hábitos de consumo alimentar, afetado por mudanças sociais, gosto
culinário e tecnologia disponível (GRIFFITHS, 1994).
O quadro 1 apresenta alguns fatores que podem afetar a mudança de dieta.
Quadro 1 - Fatores relevantes para mudança de dieta
Fatores Relevância para mudança de dieta
Estrutural Renda, disponibilidade, facilidades de compra e
transporte.
Poder Autonomia de indivíduos: quem ganha ou perde
pelas mudanças; quem decide o que é comprado e
consumido; quais são as barreiras percebidas de
mudança.
Motivacional Experiências de saúde: conhecimento e
oportunidades.
Sustentabilidade Apoio social; apoio familiar; atitudes para e de
profissionais ligados à saúde.
Fonte: Curtice et al. (1995; p. 40)
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3. AS GRANDES EPIDEMIAS MUNDIAIS


O crescente interesse da indústria pelos alimentos funcionais tem uma razão ligada
diretamente às atuais necessidades em combater os problemas de saúde vividos pela
população mundial.
O declínio das taxas de nascimento e aumento da expectativa de vida em várias partes
do mundo tem levado a um envelhecimento na população global (STANNER, 2009). Esse
aumento de vida da população, no entanto, não está sendo acompanhada por um aumento
similar na expectativa de saúde da vida. O mundo tem convivido com diferentes doenças que
atualmente são causadas principalmente por: excesso de trabalho, falta de tempo para
atividades extras, vícios com cigarro e alcoolismo, má alimentação, falta da prática de
atividades físicas, entre outras. Isso tem levado a consequências como enormes gastos com
saúde pública. Até o século passado, a maioria das causas de morte em todo mundo eram
doenças como pneumonia, tuberculose e diarréia.
Com as mudanças de hábito de vida, melhoria do saneamento básico e maior acesso da
população aos medicamentos, essas doenças deixaram de ser as grandes causas de morte neste
último século sendo substituídas por doenças cardíacas, câncer, AVC, AIDS e até suicídio
(OMS, 2007).
Neste novo cenário, onde boa parte das mortes é causada por maus hábitos, tornou-se
fundamental a necessidade de investimento na qualidade da alimentação funcional para
proporcionar uma melhor qualidade de vida e conseqüentemente um melhor envelhecimento à
população, minimizando os problemas de saúde. A seguir, serão abordadas algumas destas
grandes epidemias mundiais e seus impactos (OMS, 2007).
• Obesidade: Hoje há mais de 300 milhões de obesos no mundo segundo a OMS. Os
EUA são o país com maior número de obesos em todo o mundo tem cerca de 40
milhões de pessoas obesas e 3 milhões de obesos mórbidos. Os tratamentos desse tipo
de doença chegam a custar ao governo americano 8% dos gastos com saúde pública.
Já no Brasil, o crescimento da população que desenvolve essa doença cresce a cada
ano. Atualmente, entre 40% a 50% da população brasileira está acima do peso, e 11%
está obesa. Para agravar este quadro, uma pessoa obesa desenvolve uma série de
outras doenças em conseqüência do excesso de peso, por exemplo: diabetes tipo 2,
doenças cardiovasculares, câncer de mama e cólon, pressão sanguínea alta, etc.
• Diabetes: Atualmente há mais de 150 milhões de diabéticos em todo o mundo.
Segundo dados da OMS este número tende a ser duplicado até 2025. A diabetes tipo 2
é a mais comum delas. As estimativas é que em 2025 a maioria das pessoas com
diabetes terá mais de 65 anos. A diabetes traz diversas complicações para o indivíduo,
agravando o quadro clínico como: doenças cardíacas, falência renal, impotência e
deficiência visual.
• Doenças intestinais: Nos EUA, o custo de tratamento de doenças relacionadas ao
sistema digestivo chega a mais de US$ 90 bilhões por ano, provocando mais de 125
mil óbitos todo ano incluindo mortes por câncer neste sistema. As doenças mais
comuns são: diverticulite, doenças crônicas do fígado, constipação, hemorróidas,
inflamação intestinal, intolerância à lactose e hepatite.
• Saúde bucal: A questão da saúde dental e oral é considerada uma epidemia silenciosa.
Os gastos em serviços dentários nos EUA chegam a US$ 60 bilhões por ano. Na
Europa, por exemplo, a maioria das crianças até 12 anos já tem mais de uma
obturação. As doenças mais comuns envolvendo a saúde bucal são: cáries, doenças
periodontais, redução do fluxo salivar, infecções e câncer oral.
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• Doenças cardiovasculares: As doenças cardiovasculares são responsáveis por um terço


das mortes em todo o mundo e a causa número um no mundo ocidental. Só nos EUA,
1,4 milhões de pessoas morrem todo o ano vítimas dessas doenças. As principais
doenças são: arteriosclerose, angina, pressão alta, colesterol alto, ataque acardíaco,
derrame e arritmia.
• Doenças do sistema nervoso: Considerado o mal do século, o stress atinge hoje
milhares de pessoas em todo o mundo principalmente nos grandes centros urbanos. No
mundo dos executivos, cerca de 60% deles estão com algum nível de stress
preocupante. Outra doença que tem crescido rapidamente é a depressão e vem
atingindo principalmente as mulheres de idade madura.
O Instituto Health Focus Group (2007) realizou um grande estudo para entender o
consumidor de alimentos saudáveis, suas motivações e hábitos de consumo. Nessa pesquisa
identificou as maiores preocupações relativas à saúde e suas implicações. No Brasil, a maior
preocupação da população é com a questão relativa a doenças cardiovasculares (73% dos
entrevistados). Nesse cenário de grandes epidemias mundiais surgem as grandes tendências
do mercado de alimentos que serão apresentadas a seguir.

4. TENDÊNCIAS DO MERCADO DE ALIMENTOS


Para levantar as principais tendências do mercado de alimentos foram levantadas
informações a partir de uma empresa global de pesquisa de mercado especializada em
monitoramento de lançamentos de novos produtos (Mintel) e artigos publicados em
periódicos especializados no mercado de Alimentos (Retail Merchandiser, Just-Food e Food
Management).
4.1 Tendências Segundo a Mintel
Em maio de 2007, a empresa Mintel realizou em São Paulo um seminário cujo
objetivo era mostrar as principais tendências do mercado de alimentos e bebidas para os
próximos anos. Para isso a empresa pesquisou em banco de dados global que monitora o
lançamento de novos produtos. A primeira constatação foi que o lançamento de novos
produtos vem se intensificando ano após ano em quase todas as regiões do mundo. De 2004 a
2006, a Europa respondeu por cerca de 40% de todos os lançamentos do mundo, apresentando
um crescimento no número de lançamentos de 26% de 2004 para 2006. Ásia e América
Latina também apresentam crescimentos significativos no mesmo período enquanto a
América do Norte apresenta um pequeno recuo no número de novos produtos lançados
anualmente.
As seguintes 10 grandes tendências globais, segundo a Mintel são:
• Omega-3 para saúde mental e do coração;
• Produtos anti-oxidantes;
• Produtos que “não contém...” algum ingrediente nocivo;
• O fim das dietas da moda;
• Produtos amigos do meio ambiente;
• Amazônia – produtos e “super-alimentos” do Brasil e Floresta;
• Funcionalidade do ponto de vista de produtos e embalagem para idosos;
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• Produtos para adolescentes;


• Embalagens que deixam a vida do consumidor mais fácil;
• Tecnologias que aumentam a funcionalidade dos produtos.

4.2 Tendências segundo a Retail Merchandiser


Conforme a Retail Merchandiser (2007), os consumidores estão mudando suas
prioridades do simples controle de peso para uma visão mais ampla de cuidados com a saúde.
Isso fez com que o os produtos light dessem lugar aos produtos orgânicos e funcionais que
apresentam taxas aceleradas de crescimento nos últimos anos. Esse aumento tem sido causado
principalmente pelos chás “prontos-para-beber”, águas engarrafadas e bebidas para atletas.
Além disso, ao analisar as 10 categorias de alimentos que mais cresceram em 2006, os
produtos posicionados com apelos de saudabilidade, bem estar e conveniência foram os mais
freqüentes.
Conveniência foi a grande força motriz que impulsionou a inovação nesse mercado.
Do ponto de vista prático, essa conveniência foi traduzida em produtos prontos para serem
consumidos em trânsito (“on the go”) tais com iogurtes e águas engarrafadas, bem como
produtos que simplificam tarefas rotineiras geralmente relacionadas ao preparo de uma
refeição. Apesar da preocupação generalizada com a obesidade, os produtos light diminuíram
sua taxa de crescimento. Contudo, ainda existe potencial de crescimento significativo para
produtos com baixa caloria e pouca gordura dentro das categorias naturalmente mais
indulgentes como salgadinhos e sobremesas, onde os produtos light são relativamente pouco
explorados.
Dentro do conceito “bom-para-você”, os segmentos que prometem crescimentos mais
acelerados no futuro são os produtos orgânicos, os com benefícios funcionais específicos, os
que oferecem nutrição conveniente e os saudáveis para crianças. As vendas de produtos
naturais e orgânicos têm crescido significativamente nos últimos anos e espera-se
crescimentos anuais de dois dígitos até o final da década. De fato, o mercado de orgânicos nos
Estados Unidos dobrou de tamanho de 2001 a 2006. Segundo a Retail Merchandiser, em
2006, o consumo de leite orgânico cresceu 25% enquanto que o de leite comum cresceu 10%.
Para a Retail Merchandiser (2007) pode-se esperar as seguintes tendências para os próximos
anos:
• Alimentos e bebidas funcionais: mercado estimado em US$36 bilhões nos EUA em
2006 e projetado em US$60 bilhões em 2009;
• A conscientização social e ambiental direciona o foco dos fabricantes para produtos
socialmente responsáveis, embalagens “amigas do meio ambiente”;
• O envelhecimento da população impulsiona a demanda por produtos com
funcionalidades específicas que ajudam a prevenir ou diminuir problemas relacionados
à idade.
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4.3 Tendências segundo a Just Food


Numa série de artigos publicados no periódico inglês Just Food, a autora Helen Lewis
(2007) afirma que existem 7 grandes tendências que vão direcionar o mercado de alimentos
no mundo nos próximos 5 anos. São elas:
• Conveniência;
• Premium / Indulgência;
• Saudabilidade;
• Influência étnica;
• Alimentos que “não contém...”;
• Gorduras boas versus gorduras más;
• Alimentos customizados.

4.4 Tendências em Alimentos Segundo a Food Management


Num artigo publicado no periódico inglês Food Management, o jornalista Mike
Buzalka (2006) utilizou informações de uma apresentação realizada por Tom Veirhile, Diretor
Executivo do Produscan Online, um serviço fornecido pela empresa de pesquisa Datamonitor.
O cerne dessa apresentação foi uma lista do que Vierhile considerou as 5 megatendências em
alimentos para os próximos anos. São Elas:
• Saudabilidade;
• Conveniência;
• Bem Estar;
• Indulgência;
• Autenticidade
Conforme observado, as quatro diferentes fontes vislumbram as tendências para
alimentos de formas diferentes, no entanto, é possível identificar como as principais e mais
abrangentes: (i) Conveniência; (ii) Saudabilidade e, (iii) Indulgência. Outras tendências
citadas podem ser consideradas subtendências ou especializações. Dessa forma, é possível
construir o seguinte agrupamento (Quadro2) que mostra cada tendência e as respectivas
derivações ou subtendências.
Quadro 2 – Tendências e subtendências em alimentos
Saudabilidade Conveniência Indulgência
Reforçadas com... Para microondas Personalizados
100% naturais “on the go” Extra sabor
Orgânicos Prontos para comer Extra textura
Não contém.... Prontos para aquecer Extra refrescante
Com baixo teor de.... Só adicione água Autenticidade
Sem aditivos/conservantes
Fortificados com vitaminas
Integrais
Funcionais
Fonte: Adaptado de Lewis (2007a,2007b), Mintel Publications (2007) e Retail Merchandiser (2006)
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Os alimentos funcionais aparecem com uma subtendência localizada dentro da


tendência saudabilidade.
Assim, a partir da análise de dados de institutos de pesquisa internacionais, artigos
publicados em periódicos especializados em alimentos, identificam-se vários pontos de vista a
respeito das tendências que influenciarão o mercado de alimentos nos próximos anos. As
principais conclusões são:
• Existem 3 tendências principais que influenciam e provavelmente ainda continuarão
influenciando o mercado nos próximos anos: conveniência, saudabilidade e
indulgência.
• Outras tendências citadas são derivações específicas.
• Do ponto de vista de desenvolvimento de novos produtos, há espaço para combinar
pelo menos duas das grandes tendências num só produto. Por exemplo, combinar
saudabilidade com conveniência e/ou saudabilidade com indulgência.
• Os alimentos funcionais representam uma forte tendência, sendo que até agora a sub-
categoria de funcionais para melhoria do funcionamento intestinal foi a mais
explorada.
• A sub-categoria de “produtos para beleza” é relativamente pouco explorada em
alimentos funcionais e se apresenta como uma das maiores oportunidades em termos
de inovação em alimentos para o futuro.

5. OS ALIMENTOS FUNCIONAIS
Nesta seção são mostrados aspectos relevantes e específicos a respeito de alimentos
funcionais tais como: origem, evolução, tendências, o mercado e outras considerações.
5.1 Origens e evolução
O termo alimento funcional surgiu no Japão por volta de 1980, quando o governo
japonês iniciou um programa de redução de custos de seguro saúde e medicamentos, em
especial voltada à população que estava se tornando mais velha e procurou incentivar
qualquer metodologia que pudesse melhorar a perspectiva da saúde a longo prazo (BERRY,
2002). Assim, foi implantado um programa chamado Foshu (Foods for Specified Health Use -
comida para uso específico de saúde), onde eram avaliados alimentos que trariam benefícios
comprovados à saúde da população, cumprindo funções específicas no organismo. Heasman e
Melletin (2001) apud Holm (2003, p. 533) afirmam que não há uma definição firme e
concordante de alimentos funcionais. Entretanto, para Maynard e Franklin (2003), os
alimentos funcionais prometem benefícios acima e além do valor nutricional básico. Para
Molly (1995) alimentos funcionais é um termo amplo usado para descrever qualquer
substância consumida como alimento para auxiliar a prevenção de doenças ou melhorar a
saúde. Tais substâncias têm um efeito definido no bem estar físico, mental ou psicológico da
pessoa.
Dentre os principais benefícios gerados por esse tipo de produto, destacam-se: reforço
dos mecanismos de defesa imunológicos, prevenção ou tratamento de alguma doença ou
disfunção, melhoria das condições físicas e mentais, do estado geral de saúde e retardamento
do processo de envelhecimento orgânico (BUTTRISS, 2000). No Brasil, pelas Resoluções 18
e 19, de 30 de Abril de 1999, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2010)
considera como alimento funcional “O alimento ou ingrediente que alegar propriedades
funcionais ou de saúde pode, além de funções nutricionais básicas, quando se tratar de
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nutriente, produzir efeitos metabólicos e ou fisiológicos e ou benéficos à saúde devendo ser


seguro para consumo sem supervisão médica” Esses produtos alimentícios com efeitos
positivos na saúde, entretanto, não são exatamente novidade. Desde os anos 30, a japonesa
Yakult comercializa a bebida láctea que se tornou sinônimo da empresa e que contém
bactérias vivas para estimular e regular o funcionamento do intestino.
O que ocorre atualmente é que esses novos produtos estão deixando os nichos e se
transformando em novas oportunidades no mercado de alimentos, tomando espaço dos
produtos tradicionais e com perspectivas de crescimento muito altas. Isso é observado nos
investimentos crescentes das empresas nesses produtos. As grandes multinacionais do setor
parecem perceber o grande potencial de consumidores dispostos a consumir e pagar mais por
esse tipo de alimento. A pesquisa e desenvolvimento, porém requer a colaboração de muitas
disciplinas incluindo os campos de alta tecnologia o que ainda os colocam fora de alcance das
pequenas empresas (RODGERS, 2004). A seguir, pode-se observar pela Figura 1 a evolução
do mercado de alimentos nas últimas décadas.
Figura 1 – Evolução do mercado de alimentos

Suplementação Fortificação Funcionalidade

1950 - 1980 1980 - 1995 1995

Redução ou
Saúde
Deficiência minimização
melhorada
de risco de
doenças

Fonte: Os Autores
Como mostra a Figura 1, a partir dos anos 50 começaram a surgir com maior força a
alimentação através de suplementos alimentares com o objetivo de complementar a
necessidade diária de ingredientes que o organismo humano necessita. Esses ingredientes
vinham através de cápsulas a serem ingeridas durante o dia, de acordo com a necessidade
recomendada. À medida que a tecnologia das indústrias de ingredientes e suplementos
alimentares e indústrias de alimentos evoluíram, tanto no sentido técnico quanto em
processos, houve nos anos 80 houve um boom na produção de alimentos com alguma
fortificação, por exemplo, vitaminas, minerais ou outras substâncias adicionadas. Atualmente,
está acontecendo uma mudança na maneira de consumir alimentos no dia a dia, fortificados
com ingredientes chamados de funcionais que ajudam a reduzir ou minimizar o risco de
doenças. Este movimento acontece de maneira simultânea em duas frentes: tanto por parte das
indústrias que querem adicionar valor e diferenciar os seus produtos, quanto por parte dos
consumidores que querem melhorar seus hábitos alimentares.
Rodgers (2004, p. 150), mostra os produtos relacionados à saúde (Figura 2).
Argumenta que à parte da medicina tradicional, há uma variação de produtos relacionados à
saúde incluindo os nutracêuticos (produzidos a partir de alimentos, mas vendidos em pó,
pílulas e outras formas que não são tradicionalmente relacionados a alimentos) a produtos
funcionais.
Para Blades (2000) os alimentos funcionais devem permanecer alimento ou bebida e
não pílulas ou cápsulas.
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Figura 2 – Tipos de produtos relacionados à saúde

Alimentos Refeições Alimentos Suplementos Nutracêuticos Medicina


Funcionais Funcionais de dieta

Complexidade/preço
Fonte: Rodgers (2004, p. 150).

5.2 O mercado de alimentos funcionais


A Euromonitor (2007) estima que em 2005, o mercado mundial de alimentos
funcionais movimentou cerca de US$ 60 bilhões na Europa, Estados Unidos e Ásia. No
Brasil, estes novos produtos responderam por pelo menos US$ 600 milhões nesse mesmo ano
e o conjunto deles já chega a representar 15% do total do mercado de alimentos. O conjunto
de alimentos diet & light e funcionais representa cerca de 6% da produção nacional da
indústria de alimentação. Atualmente, existem cinco segmentos de mercado onde pode-se
encontrar alimentos funcionais: bebidas, produtos lácteos, produtos de confeitaria, produtos
de panificação e cereais matinais. Hoje já é possível encontrar uma diversidade de alimentos
funcionais: margarinas e leites que diminuem o colesterol e protegem contra problemas
cardíacos, iogurtes e bebidas que auxilia o funcionamento do intestino, produtos a base de
soja que ajudam a prevenir osteoporose, pães que reduzem triglicérides e combatem a
osteoporose, chocolates para a redução do colesterol, água com substâncias que induzem o
auto bronzeamento. No Brasil, já estão registrados cerca de 130 alimentos dessa categoria.
Esse aumento na quantidade de lançamentos se dá porque indústrias desse segmento
têm se movimentado rapidamente nesse sentido, como também grandes multinacionais do
mercado de alimentos e cosméticos. Isso mostra que já há atualmente uma grande base de
consumidores dispostos a consumir com maior freqüência esses produtos, fazendo parte da
alimentação diária. O Quadro 3 mostra a quantidade de lançamentos de alimentos funcionais
por funcionalidade.
Quadro 3 – Número de lançamentos de alimentos funcionais por funcionalidade
Funcionalidade 2002 2003 2004 2005 2006
Benefício de beleza 7 6 9 14 28
Saúde dos ossos 7 7 15 16 48
Sistema nervoso 22 14 20 62 66
Cardiovascular 56 74 103 154 247
Digestivo 66 70 134 269 674
Sistema imunológico 38 39 70 89 116
Outros 346 364 605 518 540
TOTAL 542 574 956 1122 1719
Fonte: Mintel International Group (2007)
O crescimento e o desenvolvimento do mercado de alimentos funcionais, apresentam
as seguintes características (MORAES; MESQUITA; ZABINDEN, 2007):
• Um mercado relativamente jovem, com alto potencial de crescimento e diversificação,
composto por consumidores mais exigentes e informados;
• A constante manutenção da imagem de segurança e alta qualidade dos produtos;
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• A necessidade de uma comunicação eficiente e honesta com o consumidor;


• A constante manutenção da imagem de segurança e alta qualidade dos produtos;
• A necessidade de apoio científico, que prove os benefícios alegados, justificando o
preço diferenciado destes produtos.
A constante preocupação com os fatores mencionados deve ser motivação para uma
crescente confiança do governo, do órgão de legislação e do consumidor, em um mercado,
também crescente, de alimentos funcionais produzidos em sistemas agro ecológicos.
Regulamentação, controle e comunicação baseados em um alto padrão de pesquisa científica,
ajudarão a construir a confiança de consumidores e produtores em uma cadeia de alimentos
mais saudável, segura e eticamente correta. Já com relação aos consumidores de hoje, estes
estão buscando cada vez mais o autoconhecimento, informação de produtos para direcionar a
uma alimentação adequada e ações preventivas para uma melhor qualidade de vida.
Milner (2000) aponta que o aumento de interesse em alimentos funcionais está
relacionado aos custos de tratamento de saúde, legislação e descobertas científicas. Sarkar
(2007, p. 62) complementa afirmando que se nota uma inclinação em direção aos alimentos
funcionais e os fatores responsáveis pela consciência do consumidor são principalmente: (i)
adultos conscientes da saúde e movimentos com cuidado próprio; (ii) custos de tratamento de
saúde oscilantes associados com doenças crônicas advindas do envelhecimento; (iii) avanços
da tecnologia particularmente genômicos nutricionais; (iv) mudanças nos regulamentos
realcionados aos alimentos; (v) oportunidade de marketing; (vi) desenvolvimento de novas
descobertas científicas em alimentos e/ou componentes alimentares para otimizar a saúde;
(vii) novas tecnologias em processamento de alimentos, varejo e distribuição; (viii) mudanças
nas demandas do consumidor e nas atitudes sociais; (ix) evidências científicas nos benefícios
de saúde de certos ingredientes; e (x) procura por novas oportunidades para adicionar valor a
produtos existentes e para aumentar os lucros.
Tudo isso acaba implicando em mudanças nos hábitos de vida e consumo desse
público. Apesar de dirigirem suas forças para uma alimentação saudável e funcional, sabor
ainda é o grande motivador de compra. Ou seja, um alimento antes de tudo tem que ser
gostoso e prazeroso. Eles ainda sentem falta de um alimento saudável que seja gostoso.
Querem alimentos para suas necessidades específicas, com porções individuais. Cada um tem
uma necessidade e ingredientes que precisam ser consumido. Buscam nesses alimentos um
auxílio para o controle de um problema existente, assegurar melhor saúde no futuro, melhorar
a saúde diariamente, sentir-se bem e parecer- se bem, energia para o dia a dia. Trata-se de um
perfil de consumidor bem informado, com idade madura, que foi ou está sendo afetado por
algum problema de saúde, tem total conhecimento sobre estes problemas. Pode-se classificar
os consumidores segundo suas motivações de consumo como mostra a Figura 3 a seguir:
São sete grandes motivações que levam a consumir alimentos funcionais, cada uma
com razões específicas. Por isso, estes produtos devem vir sempre com uma comunicação e
proposta clara para que os consumidores saibam corretamente o que estão comprando. Para
garantir esta comunicação eficaz é preciso ser direto e objetivo com relação ao benefício,
mostrando através de maneira clara a eficácia do produto através de pesquisas realizadas com
o mesmo. Por exemplo, os alimentos funcionais são formulados para melhorar o raciocínio ou
desempenho atlético, prevenção contra o câncer, alteração de humor, ou mesmo melhorar o
desejo sexual (WOLF, p. 16, 1994). Sarkar (2007, p. 163) complementa lembrando que o
consumo de alimentos funcionais pode (i) reduzir o risco cardiovascular; (ii) melhorar a saúde
em geral; (iii) melhorar a memória; (iv) melhorar o gerenciamento de perda de peso; (v)
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reduzir o risco de doenças em geral;(vi) reduzir a osteoporose; (vii) melhorar a saúde mental;
(viii) reduzir o tempo de reação; (ix); melhorar a saúde do feto.
Figura 3 – Principais motivações de compra de alimentos funcionais

Nutrição funcional

Prevenção Desempenho Bem estar Crescimento Cosmético Prazer Natural

Gerenciamento Melhora Equilíbrio da Crescimento e Aparência e Sentir-se bem Simplicidade


da saúde da saúde mente, corpo e desenvolvimento controle
espírito contínuo do peso

Redução de Comprometimento Saúde geral Qualidade de vida Auto Curtição Pureza


riscos da melhora estima

Fonte: MORAES; MESQUITA; ZEBINDEN, 2007

5.3 As tendências em alimentos funcionais


Pode-se dividir o mercado de alimentos funcionais em 6 segmentos de acordo com sua
funcionalidade específica apresentada, como mostra a Figura 4, a seguir:
Figura 4 – Segmentos do mercado de alimentos funcionais por funcionalidade

Alimentos
Funcionais

Saúde do
Saúde do Saúde do Saúde do Saúde da sistema Controle do
coração sistema sistema pele muscular peso
digestivo nervoso esquelético

Fonte: Adaptado de Health Focus Group (2006)

• Saúde do coração: Neste segmento estão todos os alimentos que contêm ingredientes
que de alguma maneira colaboram para a melhoria do sistema cardiovascular como
redução do colesterol, redução da pressão arterial, diminuição do risco de infarto do
miocárdio entre outras.
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• Saúde do sistema digestivo: Atualmente, têm sido desenvolvidos alimentos com a


finalidade principal de melhorar e regular o funcionamento digestivo. Para isso são
usados ingredientes chamados de pré-bióticos e pro-bióticos. Os pré-bióticos
geralmente são fibras e carboidratos que não são digeridos pelo nosso organismo.
Quando estes chegam ao intestino acabam funcionando como alimentos para as
bactérias boa que habitam no órgão, aumentando a quantidade desses seres-vivos e
promovendo o bom funcionamento do intestino. Já os pro-bióticos, são as bactérias
vivas que durante o processo de digestão não são mortas, chegando até o intestino e
promovendo o mesmo benefício.
• Saúde do sistema nervoso: Quando se trata de sistema nervoso, os maiores benefícios
apresentados no mercado alimentício têm sido para reduzir o stress, bem estar e
estimular a atividade cerebral através de ingredientes como Lactium, Cyracos,
Sunteanine e Cafeína.
• Saúde da pele: Este é um segmento que apresenta o maior número de divisões. Foram
descobertas diferentes substâncias que ingeridas podem gerar os seguintes benefícios:
(i) ajudar a prevenir os sinais da idade retardando o aparecimento de rugas;
(ii)proteção contra a radiação UV; (iii) regulação imune; (iv) melhoria da estrutura,
elasticidade e hidratação; (v) barreira contra doenças.
• Saúde do sistema muscular e esquelético: Os alimentos deste segmento apresentam
funcionalidades de regeneração e desenvolvimento muscular e manutenção de ossos e
juntas (tendões).
• Controle do peso: Os alimentos para controle do peso apresentam características de
reduzir a absorção de certas substâncias principalmente gordura e promover a
aceleração do metabolismo aumentando a queima de calorias.
Gray, Armstrong e Farley (2003) apontam as principais tendências que estimulam a
demanda de alimentos funcionais e suas implicações (Quadro 4).
Quadro 4 - Tendências que estimulam a demanda de alimentos funcionais
Tendências do consumidor Implicações
Envelhecimento da população Aumento da expectativa de vida
Demanda por serviços de saúde Aumento do peso econômico
Conscientização da relação dieta/saúde Aumento da demanda por alimentos mais saudáveis.
Aumento de interesse em produtos que podem reduzir
os sintomas de envelhecimento
Pró-atividade em relação a saúde Aumento da demanda por produtos que previnem
doenças
Fonte: GRAY; ARMSTRONG e FARLEY (2003, p. 216)
Faith Popcorn (2002), a analista de tendências afirma que as pessoas ficam nervosas
com muitos fármacos e que os alimentos inspiram mais confiança. Em sua opinião, sempre
encanta às pessoas saberem que um alimento que sempre lhes agradou consumir também é
bom para sua saúde e os alimentos funcionais cumprem bem esse papel.

5.4 Principais considerações sobre os alimentos funcionais


Pesquisas realizadas pelas indústrias alimentícias para lançar um alimento funcional
guardam semelhanças com as dos laboratórios farmacêuticos na busca por novos
medicamentos - ambas consomem muito tempo e grandes investimentos. Entretanto, apesar
das semelhanças, é um equívoco pensar que os produtos funcionais possuem as mesmas
IKEDA, MORAES & MESQUISTA/ Revista P&D Engenharia de Produção V. 08 N. 02 (2010) p.40-56 53

capacidades curativas de um remédio ou que podem substituir um tratamento médico. Eles


são eficientes na prevenção de determinados males ou quando usados por pessoas com leves
disfunções - mas não fazem milagres. O desenvolvimento de um novo produto envolve
profissionais e cientistas de diversas áreas aplicando metodologias e testes para que sejam
comprovados clinicamente os efeitos das substâncias testadas aplicadas nos alimentos.
Grandes indústrias de alimentos têm feito parcerias com laboratórios farmacêuticos, indústrias
de ingredientes e também indústrias de cosméticos para unir os conhecimentos para o
desenvolvimento destes novos produtos tornando o processo mais rápido e economizando nos
custos envolvidos em pessoas, testes e pesquisas que devem ser realizadas.
Holm (2003) ressalta que tanto os produtores e varejistas de alimentos terão um
importante papel a desempenhar na tentativa de equilibrar a comercialização dos alimentos
funcionais com os esforços para promover dietas de saúde. Para ele, as autoridades necessitam
regulamentar as alegações dos produtos específicos e que devem ser satisfeitas1 e talvez
combinar com informações reativas à dieta.
Considerando esse contexto, os departamentos de marketing em conjunto com o
departamento de pesquisa e desenvolvimento têm os seguintes desafios para desenvolver e
lançar um novo produto funcional:
• Diferenciar via formulação (Funcionalidade técnica e nutricional de ingredientes/custo
adequado).
• Associar funcionalidade com prazer.
• Identificar o melhor balanço dos recursos a serem investidos: interno e externo
(terceirizar para parceiros).
Além disso, devem ajudar a promover:
• Mudanças das atitudes do consumidor determinarão sua longevidade ou permanência
como bem de consumo.
• Regulamentação mais clara por parte do governo, principalmente em relação aos
reclames de saúde atribuídos ao produto nos anúncios.
• Diminuição ou eliminação da confusão sobre o que realmente constitui um alimento
funcional. Frewer; Scholderer; Lambert (2003) lembram que qualquer alimento
funcional será apenas um componente do que constitui uma dieta saudável, e isso deve
ser levado em consideração como parte das atividades de disseminação da informação.
Benkouider (2003) aponta as principais forças necessárias para o sucesso dos
alimentos funcionais: (i) o benefício tem que atingir o mercado de massa e endereçar questões
gerais de bem estar; (ii) o benefício de saúde tem de ser bem comunicado, seja através de
apelos de saúde facilmente compreensíveis ou pelo uso de um ingrediente ativo que seja
prontamente entendido como o cálcio; (iii) o produto deve ser competitivo em todas as
plataformas e não somente realçar os benefícios de saúde. Deve também propiciar sabor,
conveniência e preço apropriado. A funcionalidade pode permitir altas margens, mas por si só
não é garantia de sucesso.

6. CONCLUSÃO
A experiência de países desenvolvidos sugere que vale a pena passar por etapas para
desenvolver produtos o mercado de saúde. A saúde é um fator fundamental que determina a
qualidade de recursos humanos de um país. Sem tais recursos um país não tem chances de
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desfrutar dos benefícios de um rápido crescimento (RUDAWSKA, 2001). O Brasil pode se


servir do exemplo do Japão com relação aos alimentos funcionais, pois a pirâmide etária está
paulatinamente se invertendo com uma massa de pessoas mais idosas e menos jovens. Os
alimentos funcionais podem ajudar a prevenção de doenças ou mesmo retardá-las com uma
vida mais saudável.
Torna-se relevante lembrar a famosa frase de Lévi-Strauss (1991) “somos o que
comemos”. À medida que as pessoas ficam mais preocupadas com o que ingerem, elas se
também se interessam por empresas que vendem e preparam os alimentos consumidos. E se
os consumidores não conseguem perceber os benefícios as empresas e organizações precisam
mostrar a eles. Somente o desenvolvimento de alimentos funcionais por si só não são
suficientes para sua adoção, que tem que vir acompanhado de preços acessíveis, informações
educativas por meio de comunicação eficaz e que sejam facilmente acessíveis nas prateleiras.
Assim, existe uma grande oportunidade para os fabricantes de produtos voltados para
alimentos funcionais para grupos de consumo específicos cujas necessidades sejam
identificadas.

7. LIMITAÇÕES DO TRABALHO
Este trabalho tem um caráter exploratório e foi baseada na literatura e observações de
especialistas do mercado de alimentos funcionais. Como a maioria das fontes é estrangeira,
pode haver algum viés ao aplicar essas conclusões diretamente no Brasil. Foram utilizadas
pesquisas de dados secundários para avaliar os aspectos citados nesse trabalho, portanto,
apesar de se encontrar indícios muito fortes, as conclusões aqui apresentadas não podem ser
generalizadas.

8. RECOMENDAÇÕES DE PESQUISAS FUTURAS


Em função das limitações deste trabalho intrínsecas ao seu objetivo e metodologia,
recomenda-se sua continuação através das seguintes sugestões para pesquisas futuras: (i)
quantificação do potencial de mercado no Brasil para alimentos funcionais e suas
subcategorias; (ii) comportamento do consumidor e sua influência no desenvolvimento do
mercado de alimentos funcionais no Brasil.

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