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Preparação Exame de 11 e 12 Anos - II
Preparação Exame de 11 e 12 Anos - II
º ANOS
Grupo I
A
Lê o texto que se segue e responde às questões apresentadas.
(…) Quando Afonso da Maia, Vilaça e o abade recolheram do seu passeio pela
freguesia, escurecera, havia luzes pelas salas, e tinham chegado já as Silveiras, senhoras ricas
da Quinta da Lagoaça.
D. Ana Silveira, a solteira e mais velha, passava pela talentosa da família, e era em
pontos de doutrina e etiqueta uma grande autoridade em Resende. A viúva, D. Eugénia,
limitava-se a ser uma excelente e pachorrenta senhora, de agradável nutrição, trigueirota e
pestanuda; tinha dois filhos, a Teresinha, a noiva de Carlos, uma rapariguinha magra e viva
com cabelos negros como tinta, e o morgadinho, o Eusebiozinho, uma maravilha muito falada
naqueles sítios.
Quase desde o berço este notável menino revelara um edificante amor por alfarrábios
e por todas as coisas do saber. Ainda gatinhava e já a sua alegria era estar a um canto, sobre
uma esteira, embrulhado num cobertor, folheando in-fólios com o craniozinho calvo de sábio
curvado sobre as letras garrafais da boa doutrina; e depois de crescidinho tinha tal propósito
que permanecia horas imóvel numa cadeira, de perninhas bambas, esfuracando o nariz: nunca
apetecera um tambor ou uma arma: mas cosiam-lhe cadernos de papel, onde o precoce
letrado, entre o pasmo da mamã e da titi, passava dias a traçar algarismos, com a linguazinha
de fora.
(…) O administrador, sentado agora à borda de uma cadeira, esboçou uma risadinha
muda; depois ficou calado, olhando Afonso, com as mãos nos joelhos, como esquecido e vago.
Ia abrir os lábios, hesitou ainda, tossiu de leve; e continuou a seguir pensativamente as faíscas
que erravam sobre as achas.
Afonso da Maia, no entanto, com as pernas estiradas para o lume, recomeçara a falar
do Silveirinha. Tinha três ou quatro meses mais que Carlos, mas estava enfezado, estiolado,
por uma educação à portuguesa: daquela idade ainda dormia no choco com as criadas, nunca
o lavavam para o não constiparem, andava couraçado de rolos de flanelas! Passava os dias nas
saias da titi a decorar versos, páginas inteiras do Catecismo de Perseverança. Ele por
curiosidade um dia abrira este livreco e vira lá, «que o sol é que anda em volta da terra (como
antes de Galileu), e que Nosso Senhor todas as manhãs dá as ordens ao sol, para onde há de ir
e onde há de parar etc., etc.» E assim lhe estavam arranjando uma almazinha de bacharel...
Vilaça teve outra risadinha silenciosa. Depois, como subitamente decidido, ergueu-se,
fez estalar os dedos, disse estas palavras:
– V. Ex.ª sabe que apareceu a Monforte?
Afonso, sem mover a cabeça, reclinado para as costas da poltrona, perguntou
tranquilamente, envolvido no fumo do cachimbo:
– Em Lisboa?
– Não senhor, em Paris. Viu-a lá o Alencar, esse rapaz que escreve, e que era muito de
Arroios... Esteve até em casa dela.
E ficaram calados.
Os Maias, Eça de Queiroz (cap. III)
1. Situa o excerto que acabaste de ler, considerando as duas grandes linhas narrativas que
estruturam o romance e a sua organização temporal.
3. Verifica como o narrador faz uma caricatura de Eusebiozinho e refere, exemplificando, o/s
processo/s de estilo a que recorre.
B
Num texto expositivo de cerca de 150 palavras, refere e exemplifica algumas das
características da tragédia clássica presentes na obra Frei Luís de Sousa.
C
A Minha Alma Partiu-se
A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.
Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.
Grupo II
É na memória coletiva que se alicerça a identidade de um povo. E a memória coletiva é
constituída por muitas memórias individuais. Deixar fugir essa(s) memória(s) é roubar história
ao futuro, é impossibilitaras gerações que nos sucedem de entenderem a matéria de que são
feitas. A Revolução de Abril é um desses momentos da História de Portugal que construíram
uma memória coletiva a partir de muitas memórias, de muitas histórias, de muitas emoções.
Trinta e seis anos depois da madrugada que permitiu acabar com um regime que durante 48
anos oprimiu os portugueses, são muitos os que recordam o construir da esperança e a
derrocada das ilusões. Trinta e seis anos é pouco tempo para fazer a História. Mas é
demasiado tempo para a deixar esquecer. A geração que hoje está a chegar ao poder já nasceu
depois da revolução que se iniciou com uma canção e que escolheu os cravos em vez das balas
- para as novas gerações é difícil entender o entusiasmo e a ingenuidade com que o
movimento dos militares de Abril foi acolhido. Do "antes" sabem vagamente que só havia dois
canais de televisão (a preto e branco), que não havia Coca-Cola nem McDonald's nem Erasmus
nem Bolonha. Não sabem o que era viver isolado do mundo, sem acesso a livros, filmes ou
jornais. Não sabem o que era haver portugueses a morrer de fome e a emigrar" a salto" sem
que disso houvesse notícias. Não sabem o que era ver a família ir parar à prisão suspeita do
"crime" de ter opinião. E não sabem a angústia em que se vivia de ver pais, maridos, filhos,
irmãos, amigos, embarcar para morrerem de corpo e alma numa África que tínhamos de
defender como nossa.
BARROCAS, Sofia, "Nota de abertura" in
Notícias Magazine,
n." 935, 25 de abril de 2010
Para responderes a cada um dos itens 1.1. a 1.7., seleciona a única opção que permite
obter uma afirmação correta.
1.1. A expressão sublinhada na frase “E a memória coletiva é constituída por muitas memórias
individuais.” desempenha a função sintática de:
(A) complemento do adjetivo.
(B) complemento do agente da passiva.
(C) modificador frásico.
(D) predicativo do complemento direto.
1.4. Em “são muitos os que recordam o construir da esperança e a derrocada das ilusões”, o
constituinte sublinhado pertence à classe dos:
(A) verbos
(B) nomes
(C) advérbios.
(D) pronomes.
1.5. Em “não havia Coca-Cola nem McDonald's nem Erasmus nem Bolonha” o conetor “nem” estabelece
uma ligação de:
(A) adição
(B) oposição
(C) comparação
(D) conclusão
1.6. O recurso às aspas em “crime”:
(A) destaca a origem estrangeira do nome.
(B) acentua o significado literal do nome.
(C) indica o carácter polissémico do nome.
(D) assinala o uso irónico da palavra.
Grupo III
“A sabedoria é a única riqueza que os tiranos não podem expropriar”
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas
palavras, apresenta uma reflexão sobre a perspetiva veiculada pela afirmação acima transcrita.
Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo no mínimo a dois argumentos e ilustra cada um
deles com, pelo menos um, exemplo significativo.
Correção
Grupo I
A
1. Pertence à linha narrativa que se relaciona com o título “Os Maias” que narra a história da
família e encontra-se dentro da analepse em que se dá conta da infância de Carlos…
4.1 O Vilaça está nervoso e hesita em iniciar a conversa com Afonso (ver os 4ºe6º). Ao
referirem o nome de Maria Monforte, o silêncio abate-se sobre as personagens devido ao
facto de esta ter sido, no fundo, a responsável moral pela morte de Pedro e ter levado a filha,
que Afonso vai tentar recuperar e acabar por acreditar que morreu…
B
A obra Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett é caracterizada como um drama
romântico, apesar do autor ter recorrido a vários elementos da tragédia clássica.
Os elementos caracterizadores da obra são: a presença constante de componentes da
tragédia clássica e o fatalismo, onde o destino acompanha todos os momentos das vidas das
personagens; pela tentativa de racionalmente negar a crença no destino, mas
psicologicamente deixar-se afetar por pressentimentos e acreditar no Sebastianismo; pelo uso
de prosa em vez do verso e pela utilização de uma linguagem mais próxima da realidade vivida
pelas personagens; não ter preocupações excessivas com algumas regras, como a presença de
coro ou a obediência perfeita à lei das três unidades (ação, espaço, tempo).
Os acontecimentos na obra que espelham cada um dos elementos da tragédia clássica
são:
- Desafio: D. Madalena apaixona-se por D. Manuel ainda em vida do marido (segundo
casamento desta);
- Conflito: Dilema de Telmo que se sente dividido entre o amor de Maria e a fidelidade a D.
João de Portugal;
- Destino: A ausência, durante 21 anos, de D. João e o seu regresso;
- Sofrimento: Os sentimentos de culpa e incerteza da Madalena;
- Reconhecimento: Identificação do Romeiro;
- Peripécia: Regresso inesperado de D. João de Portugal, que provoca uma súbita mudança no
seio familiar. Anulação do 2º casamento de D. Madalena e consequente ilegitimidade da filha;
- Catástrofe: Morte de D. Maria de Noronha.
C
1. Partes do poema:
Estrofes 1 e 2
Estrofes 3 a 6
Estrofes 7 e 8
2. “A minha alma partiu-se como um vaso vazio” é a imagem que serve de ponto de
partida para a temática que Álvaro de Campos partilha com Pessoa- a fragmentação do
eu. A comparação com o vaso sugere a múltipla fragmentação, porque um vaso que
cai, ainda mais por uma escada, parte-se em inúmeros cacos. O poeta é então um vaso
que uma criada descuidada, a mando dos deuses (O destino? O poeta?) deixa cair
pelas escadas. Os deuses assistem complacentes, sem nada fazer.
3. O poeta não passava de “um vaso vazio”, porque ainda não se tinha confrontado com
a busca de si mesmo, não se conhecia. Para se conhecer, ou pelo menos para se
procurar, foi preciso fragmentar-se, partir-se em muitos pedaços, tantos quantos os
seus eus. Agora, fragmentado, pode sentir mais, porque é mais completo, ainda que
tenha perdido a unidade, ainda que a fragmentação tenha sido uma guerra interior
(“Fiz barulho na queda como um vaso que se partiu”). É interessante atentar na
dimensão simbólica de escada, metáfora muitas vezes utilizada para sugerir a
caminhada da vida que é, naturalmente, progressiva, ascendente. Mas em Campos,
como em Pessoa, essa caminhada, que se quer também ascendente, pois corresponde
à procura de si mesmo e ao desejo do impossível, acaba, no entanto, por ser
descendente pelo custo de perda de unidade que comporta – uma perda desejada,
mas ainda assim perda. No entanto, paradoxalmente, conduz ao infinito sugerido pelas
estrelas que a atapetam e pelos astros entre os quais o fragmento brilha.
4. O poeta sugere, interrogando-se, que o seu mais brilhante fragmento é a sua obra,
equivalente ao seu eu mais profundo, à sua vida verdadeira.
Grupo II
1.1 B
1.2 B
1.3 D
1.4 B
1.5 A
1.6 D
1.7 B