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Nariel Diotto
Editora Ilustração
Cruz Alta – Brasil
2022
Copyright © Editora Ilustração
CATALOGAÇÃO NA FONTE
C837g Costa, Marli Marlene Moraes
Gênero, sociedade e políticas públicas [recurso
eletrônico] : debates contemporâneos / Marli Marlene Moraes
da Costa, Nariel Diotto. - Cruz Alta : Ilustração, 2022.
198 p.
ISBN 978-85-92890-38-4
DOI 10.46550/978-85-92890-38-4
1. Mulheres - Direito. 2. Igualdade de gênero. 3.
Políticas
públicas. I. Título
CDU: 396
2022
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora
Ilustração
Todos os direitos desta edição reservados pela Editora Ilustração
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Conselho Editorial
Apresentação�����������������������������������������������������������������������������13
2 Referida lei inclui conteúdo sobre a prevenção da violência contra a mulher nos
currículos da educação básica, e institui a Semana Escolar de Combate à Violência
contra a Mulher. Amplia as discussões acerca da desigualdade entre os gêneros,
trazendo uma nova perspectiva para a educação básica brasileira.
Capítulo 2
1 Cabe ressaltar que quando se fala em advocacia com perspectiva de gênero, questões
étnico-raciais e de classe também são o centro do discurso jurídico, tendo em vista
que as mulheres negras são as principais vítimas da violência doméstica. Conforme
dados do Ipea, a taxa de homicídios de mulheres negras é maior e cresce mais que a
das mulheres não negras. Entre os anos de 2007 e 2017, a taxa de violência contra
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Marli Marlene Moraes da Costa | Nariel Diotto
mulheres negras cresceu 29,9%, enquanto a taxa das mulheres não negras aumentou
1,6% (LISBOA, 2019). Segundo os dados compilados pelo Atlas da Violência de
2019, foram registrados 4.936 homicídios de mulheres em 2017, o que significa uma
média de 13 homicídios por dia. Dessas vítimas, 66% é negra, mortas, principalmente,
dentro de suas casas (IDOETA, 2019).
2 No ano de 2006 foi publicada a lei n° 11.340 popularmente conhecida como
“Lei Maria da Penha”, estabelecendo mecanismo para impedir e punir a violência
doméstica, como também oferecer assistência às vítimas.
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Gênero, Sociedade e Políticas Públicas: Debates Contemporâneos
2 Mulheres sufragistas.
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Marli Marlene Moraes da Costa | Nariel Diotto
que estruturam as posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras. Além
disso, a interseccionalidade trata da forma como ações e políticas específicas geram
opressões que fluem ao longo de tais eixos, constituindo aspectos dinâmicos ou ativos
do desempoderamento (CRENSHAW, 2002, p. 177).
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Gênero, Sociedade e Políticas Públicas: Debates Contemporâneos
1 Com a Emenda Constitucional n. 45, o art. 5º, §3º da Constituição Federal conferiu
status constitucional aos tratados e Convenções de Direitos Humanos aprovados
pelo Congresso Nacional, em cada casa e dois turnos, por três quintos dos votos
dos respectivos membros. Em relação aos instrumentos de Direitos Humanos
promulgados antes da emenda e sem referido procedimento - como a Convenção
CEDAW e a Convenção de Belém do Pará -, o Supremo Tribunal Federal firmou
entendimento pela hierarquia de norma supralegal, ou seja, abaixo da Constituição
Federal e acima da legislação ordinária (FERNANDES, 2015, p. 19).
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2015).
A Convenção de Belém do Pará também elenca direitos que
devem ser garantidos às mulheres e, conforme Montebello (2000,
p. 166),
Merece destaque o capítulo segundo da Convenção, tendo por
objeto o elenco de direitos protegidos. O artigo 4º menciona
expressamente alguns direitos das mulheres: o direito a que se
respeite sua vida, integridade física, mental e moral; direito
à liberdade e segurança pessoais; direito a não ser submetida
à tortura; direito a que se respeite a dignidade inerente à sua
pessoa e que se proteja sua família; direito à igual proteção
perante a lei e da lei; direito a recurso simples e rápido perante
tribunal competente que a proteja contra atos que violem os
seus direitos; direito de livre associação; direito de professar
a própria religião e as próprias crenças, de acordo com a lei;
e direito a ter igualdade de acesso às funções públicas de seu
país e a participar nos assuntos públicos, inclusive na tomada
de decisões.
O rol de direitos expressos na Convenção de Belém do Pará
reforça os ideais de igualdade e proteção da dignidade das mulheres,
além de tratar exclusivamente da violência contra as mulheres.
Essa convenção também reforça garantias, como o direito à vida
e à integridade física, mental e moral, intimamente ligados com
o próprio princípio da dignidade humana. A Convenção também
sinaliza alguns compromissos estatais, como o estabelecimento de
instrumentos jurídicos capazes de proteger as mulheres, já que à
época, ainda não havia sido promulgada a Lei Maria da Penha, que
data de 2006 (MONTEBELLO, 2000).
Em relação aos mecanismos internos de proteção e garantia
aos direitos das mulheres, elenca-se a Constituição Brasileira,
promulgada em 1988, que também já previu que fossem incluídos
como direitos dos cidadãos e cidadãs brasileiras aqueles expostos na
DUDH. Portanto, os instrumentos fundamentais de promoção de
direitos humanos, originários dos debates internacionais, são parte
integrante da ordem jurídica brasileira.
O momento vivido pelo Brasil entre a Declaração Universal
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3 A globalização pode assim ser definida como a intensificação das relações sociais em
escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos
locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-
versa. Este é um processo dialético porque tais acontecimentos locais podem se
deslocar numa direção inversa às relações muito distanciadas que os modelam. A
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transformação local é tanto uma parte da globalização quanto a extensão lateral das
conexões sociais através do tempo e espaço (IANNI, 1994, p. 151).
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4 Carol Smart é uma socióloga inglesa, que se define como pós-estruturalista e pós-
moderna e cujo trabalho inaugural (Women, Crime and Criminology, 1976, Feminism
and the Power of Law, 1989, e Law, Crime and Sexuality, 1995) teve um enorme
impacto sobre as disciplinas da criminologia e estudos sociojurídicos feministas
(CASALEIRO, 2014, p. 40).
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1 Ressalte-se que neste estudo, adota-se o termo gênero enquanto construção social,
abrangendo tanto mulheres cis quanto trans.
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Gênero, Sociedade e Políticas Públicas: Debates Contemporâneos
participação política.
Dessa forma, percebe-se que a participação das mulheres
na política, embora seja essencial para a democracia, encontra
muitas barreiras em virtude do gênero. Os meios digitais são a mais
nociva forma de propagação da violência, pois não há um controle
no tráfego das informações, o que ocasiona sua disseminação de
forma extremamente rápida. Além disso, as diversas violações
sofridas pelas mulheres, que não acontecem por posições políticas
contrárias, mas sim, por violências psicológicas e morais contra sua
dignidade pessoal, acabam por afastá-las desses espaços de poder. O
que afeta o próprio sentido de cidadania, pois no espaço político,
democrático e representativo, as mulheres tornam-se agentes da
mudança, liderando ações capazes de ressignificar a o status social
de grupos minoritários que, assim como elas, sentem no cotidiano
a desigualdade que lhes foi imposta. Para romper com as barreiras
sociais, que acabam impedindo a emancipação e autonomia das
mulheres, a promoção da participação política feminina é essencial
para a reconstrução da própria cidadania. Dessa forma, será possível
incluir mulheres em um espaço que lhe foi negado, mas que é seu
por direito: o espaço público e político.
1 Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho
(BRASIL, 1988).
2 Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia,
o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e
à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL,
1988).
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1996, n.p.). Logo, não há, para ele, docência sem discência,
portanto, os sujeitos da relação não são objetos um do outro, mas
seres históricos e inacabados. Não existe ensinar sem aprender. O
educador problematizador deve reforçar a capacidade crítica dos
educandos na sua prática docente, bem como sua curiosidade, a
partir do que Freire (1996, n.p.) chama de “rigorosidade metódica”
para produzir condições possíveis para um aprendizado crítico, que
não se esgote no tratamento superficial do objeto estudado. Isso
pressupõe, por parte dos educandos, a sensação de que o educador
permanece na experiência de produção do saber constantemente.
A educação do povo é um dos principais entraves nacionais
e, por isso, o problema do analfabetismo é preocupante. Segundo
dados da UNESCO, o Brasil encontra-se em uma posição bastante
desfavorável, em 8º lugar, entre os dez países com maior número de
analfabetos do mundo (G1, 2014). A caracterização da educação
como um direito fundamental de cunho social e sua relação com
os demais Direitos Fundamentais, permite confirmar o quanto a
educação é atributo necessário na garantia de desenvolvimento e
de uma cidadania mais justa e efetiva. Além disso, os princípios
constitucionais que devem reger o ensino necessitam estar em
harmonia com os princípios da dignidade humana, do respeito e
da liberdade.
O artigo XXVI da Declaração Universal dos Direitos
Humanos3 estabelece o direito à educação fundamental, de forma
gratuita e obrigatória, objetivando o desenvolvimento integral
do homem, o respeito aos Direitos e às liberdades fundamentais.
Educar para a cidadania requer uma consciência de fraternidade,
3 Artigo 26: 1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita,
pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será
obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a
instrução superior, esta baseada no mérito; 2. A instrução será orientada no sentido
do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito
pelos direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá
a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou
religiosos e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da
paz; 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será
ministrada a seus filhos (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1948).
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político-administrativa no Brasil4.
Ao trabalhar de forma preventiva e educativa, é possível
transformar a realidade das mulheres, valorizando-as enquanto
sujeitos de direitos. Entende-se que referida lei é a concretização
de uma demanda necessária para o enfrentamento da temática, se
mostrando promissora, visto que a educação é o caminho para a
conscientização e emancipação do ser humano e para a formação
da cidadania. A violência que vitimiza mulheres e crianças, muito
além de ser uma instigante preocupação teórica é, provavelmente,
uma das questões que mais tem causado pânico e aflição dentro dos
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