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IGREJA METODISTA EM MIRACEMA

ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL


ESTUDO DE 1 CORÍNTIOS

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LIÇÃO 1: À igreja de Deus em Corinto
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: 1 Coríntios 1.1

INTRODUÇÃO ensinamentos firmemente fundamenta-


Merrill C. Tenney lembrou que “em dos sobre a doutrina da ressurreição dos
conteúdo e em estilo, 1 Coríntios é amais crentes (capítulo 15). Por todas essas e
variada de todas as epístolas de Paulo. outras razões, ICoríntios é uma epístola
Em suas páginas ocorrem todos importante e relevante. Com certeza será
osrecursos literários conhecidos na arte muito produtivo examinar o seu
de escrever - a lógica, o sarcasmo, a conteúdo, tanto para o estudioso da
súplica, a censura, a poesia, a narrativa, a Bíblia como para toda a igreja.
exposição; em suma, foi escrita no
mesmo estilo que Paulo empregaria em I. Visão panorâmica da carta
uma conversa com os anciãos de Corinto,
Para facilitar o estudo, apresentamos a
se estivesse com eles.
estrutura geral de 1 Coríntios.
Mais do que um ensaio rígido sobre
assuntos teológicos, é uma epístola 1. A cidade de Corinto
absolutamente informal na maneira
Em 146 a.C. a cidade grega de Corinto foi
como aborda os vários problemas” ( O
arrasada por ter desafiado, juntamente
Novo Testamento-, Sua Origem e Análise,
com outras cidades gregas, a expansão
Shedd Publicações, p .305-306).
romana durante algum tempo. Corinto
David Prior ressaltou que “ICoríntios é o liderava essa oposição. David Prior nos
livro perfeito para o momento atual. Seu informa que “seus cidadãos foram
objetivo é ajudar as igrejas a mortos ou vendidos como escravos. O
reconhecerem os problemas e as tensões lugar estratégico continuou assim por um
que confrontam o povo de Deus num século, até que Júlio César (que tinha
mundo cada vez mais urbano” (A visão para um bom negócio) voltou a
Mensagem de 1 Coríntios, A BU Editora). edificar a cidade coríntia como uma
colônia romana. A partir de 46 a.C.,
Mas não é certo pensar que a epístola só Corinto emergiu para uma nova
trata de problemas. Nela, também, estão prosperidade, adquirindo um caráter
inseridas instruções a respeito da ceia do cada vez mais cosmopolita. Na qualidade
Senhor (lC o 11.17-34), o mais belo texto de colônia romana, recebeu a sua cota de
sobre o amor (capítulo 13) e

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veteranos do exército romano, que mas as acusações foram ignoradas, e ele
ganharam terras para ali se fixarem como pôde permanecer na cidade por dezoito
colonizadores. Essa poderosa minoria meses (At 18.1-17).
garantiu um sabor romano à nova cidade,
mas logo surgiu a miscelânea de raças, “O apóstolo, então, com cerca de
línguas e culturas. Aqueles que tinham cinquenta anos, em trajes de operário,
interesses comerciais, investidores e entrou na movimentada metrópole e
vários outros, entre eles muitos judeus, percorreu suas ruas em busca de uma
começaram a se fixar ali. Farrar descreve oficina em que pudesse ganhar a vida.
Corinto da seguinte maneira: Essa Não havia cartazes anunciando a chegada
população híbrida e heterogênea de de um evangelista mundialmente
gregos aventureiros e romanos famoso.
burgueses, com uma mistura marcante
Esse artesão chegou ali e começou a
de fenícios; essa massa de judeus, ex-
fazer tendas. Naquela época, essa era
soldados, filósofos, mercadores,
uma indústria importante. Paulo
marinheiros, escravos, libertos,
associou-se a Áquila e Priscila, dois
comerciantes, vendedores ambulantes e
prósperos fabricantes de tendas. Ele
promotores de todas as formas de vícios”
sempre pode prover o seu próprio
{A Mensagem de ICoríntios, A BU Editora,
sustento, ganhando o bastante para levar
p .12-13).
avante a sua obra missionária” (Henrieta
William Barclay descreveu Corinto com o C. Mears, Estudo Panorâmico da Bíblia,
uma colônia “sem aristocracia, sem Editora Vida, p.399).
tradição e sem cidadãos bem
Haja vista o fato de que muitos
estabelecidos” (citado por Prior, p.13).
convertidos na igreja de Corinto tinham
saído de ambientes imorais e idólatras, a
2. A igreja em Corinto
igreja sofreu inúmeros problemas (lC o
A igreja em Corinto foi estabelecida por 6 .9 -1 1).
ocasião da segunda viagem missionária
Enquanto Paulo se achava em Éfeso, a
de Paulo, por volta do ano 50 d.C.
igreja de Corinto enviou três homens a
Enquanto lá morava e trabalhava, na
ele com 6uma carta pedindo conselhos
companhia de Priscila e Áquila, o
sobre alguns assuntos, e comunicaram
apóstolo pregava o evangelho na
oralmente alguns outros problemas da
sinagoga. Quando impedido de ali fazê-
igreja (lC o 16.17-18).
lo, mudou-se para a casa de Tício Justo.
Mais tarde, os judeus o acusaram Em bora muitos na igreja de Corinto
perante o governador romano, Gálio, fossem soberbos por causa do

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conhecimento que julgavam ter, o um só corpo com ela? Porque, como se
apóstolo Paulo usou, várias vezes, a diz, serão os dois uma só carne.”
expressão “não sabeis” para lhes mostrar
que, na verdade, ainda não sabiam • ICoríntios 6.19 - “Acaso, não sabeis que
muitas coisas básicas sobre a vida cristã. o vosso corpo é santuário do Espírito
Santo, que está em vós, o qual tendes da
• 1Coríntios 3.16 - Não sabeis que sois parte de Deus, e que não sois de vós
santuário de Deus e que o Espírito de mesmos?"
Deus habita em vós ?”
• 1Coríntios 9.13 - "Não sabeis vós que os
• ICoríntios 5.6 - “Não é boa a vossa que prestam serviços sagrados do próprio
jactância. Não sabeis que um pouco de templo se alimentam? E quem serve ao
fermento leveda a massa toda?" altar do altar tira o seu sustento?"

• ICoríntios 6 .2 - "Ou não sabeis que os 1Coríntios 9.24 - "Não sabeis vós que os
santos hão de julgar o mundo? Ora, se o que correm no estádio, todos, na
mundo deverá ser julgado por vós, sois, verdade, correm, mas um só leva o
acaso, indignos de julgar as coisas prêmio? Correi de tal maneira que o
mínimas ?” alcanceis.”

• ICoríntios 6.3 - "Não sabeis que 3. Data e circunstâncias


havemos de julgar os próprios anjos?
Quanto mais as coisas desta vida!” Depois de ter deixado Corinto, Paulo
escreveu à igreja uma carta cujo
• ICoríntios 6 .9 - “Ou não sabeis que os conteúdo é desconhecido (lC o 5.9).
injustos não herdarão o reino de Deus? ICoríntios foi escrita no ano 55/56 d.C.,
Não vos enganeis: nem impuros, nem quando o apóstolo trabalhava em Efeso,
idólatras, nem adúlteros, nem após tomar conhecim ento de que a
efeminados, nem sodomitas." igreja enfrentava sérias dificuldades e
também várias dúvidas quanto à doutrina
1Coríntios 6.15 - "Não sabeis que os
e à vida cristã.
vossos corpos são membros de Cristo? E
eu, porventura, tomaria os membros de 4. Tema
Cristo e os faria membros de meretriz?
Absolutamente, não.” Pode-se dizer que o tema dessa epístola
é corrigir uma igreja afetada pela
• ICoríntios 6.16 - "Ou não sabeis que o
carnalidade e imaturidade de seus
homem que se une à prostituta form a
membros. A disciplina não era aplicada
na igreja; havia permissividade, tanto

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moral como doutrinária. Prevalecia o conduta se chocaram com os conceitos e
orgulho em vez da humildade. Ninguém as práticas do mundo pagão. Os
se preocupava com os irmãos dotados de problemas discutidos nessa carta não são
fraca consciência. Alguns estavam muito de forma alguma antiquados, pois ainda
entusiasmados com os dons espirituais se verificam onde quer que os cristãos
que lhes davam maior destaque, entrem em contato com uma civilização
enquanto lhes faltava o amor. pagã” (Merrill C. Tenney, O Novo
Testamento Sua Origem e Análise, Shedd
“A verdadeira maturidade espiritual na Publicações, p.305-306).
vida de uma igreja desenvolve
relacionam entos de amor sob o poder II. A apresentação do autor (ICo l.l )
libertador e a graça unificadora de
Cristo”, escreveu o professor Carlos Paulo começou 1 Coríntios da mesma
Osvaldo Cardoso Pinto. Ele continua, “é maneira como o fez ao enviar outras
difícil, se não impossível, determinar um epístolas (Romanos, 2Coríntios, Gálatas,
propósito único para ICoríntios. Sua Efésios e Colossenses). Apresentou-se
preocupação central é o como o autor e, a seguir, dirigiu saudação
desenvolvimento de um com portam aos destinatários. O que disse o autor?
ento maduro dentro da igreja. Paulo
demonstra essa preocupação: (l) ao 1. Chamado para ser apóstolo
identificar os problemas básicos
Era necessário que Paulo defendesse a
relacionados aos relatórios negativos que
própria vocação e autoridade apostólica,
havia recebido, e às perguntas que os
das quais certas pessoas ousavam
coríntios haviam lhe enviado; (2) ao
duvidar, entre elas, provavelmente,
oferecer soluções por m eio da doutrina e
algumas de Corinto (2C o 11.16-33;
exemplo pessoal; (3) ao ensinar doutrinas
12.11-13).É a razão porque, após seu
específicas e sua relação com a vida da
nome, acrescentou: "chamado pela
igreja em Corinto; e (4 ) ao defender seu
vontade de Deus". Ele estava convicto de
apostolado e usar seu próprio exemplo
que a sua condição de apóstolo era
em relação com a questão da liberdade
resultado de vocação divina definida,
cristã” (Foco e Desenvolvimento no Novo
recebida quando no caminho para
Testamento, Editora Hagnos, p.257, 273).
Damasco (At 9.1-19).
Findlay afirmou que 1 Coríntios “tem um
A íntima convicção de ter sido chamado
tema central, a que chamou a doutrina
por Deus era a sua inspiração para o
da cruz em sua aplicação social! Reflete o
vasto trabalho em prol do evangelho de
conflito que teve lugar quando a
Jesus Cristo. Sem ela, teria sido
experiência e os ideais cristãos de

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impossível passar por tantas se repetir em todo o mundo.
perseguições e provações (2C o 6.4-10; Pense em atitudes que você possa tomar
11.23-27). para ajudar sua igreja a alcançar a
maturidade espiritual. Mas não se
2. Acompanhado de um "irmão" esqueça de que tem de começar com
você mesmo!
Ao escrever ICoríntios, Paulo estava em
Éfeso (lC o ló .8 ) e se fazia acompanhar Aplicação para hoje
pelo "irmão Sóstenes". Não são dadas
indicações de quem era esse irmão, mas A visão panorâmica da carta nos ajuda a
provavelmente se trata da mesma pessoa compreender os detalhes do texto
mencionada em Atos 18.17, líder da bíblico. Leia 1Coríntios em uma semana e
sinagoga em Corinto, que foi espancado deixe Deus falar com você. Se você
diante do tribunal de Gálio, o procônsul estiver familiarizado com o conteúdo,
da Acaia. É também possível que, ao poderá participar efetivamente das aulas
escrever a epístola, Paulo o tivesse como e aproveitar melhor as lições nos
amanuense (alguém que escrevia à mão próximos meses.
o texto para o autor). Contudo, muito
Você tem convicção de como Deus quer
além do privilégio de ter o seu nome
usá-lo? Então, envolva-se na obra do
associado ao de Paulo e de tê-lo auxiliado
Senhor. Identifique uma das
no ministério, Sóstenes era “irmão”, filho
necessidades de sua igreja local e
de Deus, contado entre os membros da
coloque-se à disposição para servi-la.
irmandade cristã (E f 2.19).

Conclusão
A igreja em Corinto tinha muitos
problemas. Por outro lado, foi uma
oportunidade usada por Deus para
ensinar a igreja, ao longo dos séculos, a
resolver questões que iriam

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LIÇÃO 2: Gratidão a Deus pela igreja
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: 1 Coríntios 1.2-9

INTRODUÇÃO nações se alegrarão um dia” (Erdman,


p.15).
A igreja coríntia não era perfeita.
Estava cheia de problemas, pecados, 2. Uma igreja em Corinto(1 Co 1.2)
divisões e desvios doutrinários. Não era Corinto era a principal cidade da
muito diferente das igrejas atuais! Apesar Grécia (antiga Acaia). Estava localizada no
de entristecido com a situação da igreja estreito istmo entre os mares Egeu e
em Corinto, Paulo ainda achava ali Adriático. Era uma cidade portuária e um
motivos para agradecer a Deus, pois rico centro comercial. Para evitar a
muito havia sido feito em favor do perigosa viagem de contorno da parte
evangelho entre os coríntios. meridional da península grega, os navios
eram arrastados ao longo do istmo.
I. A igreja que Paulo saúda A população coríntia era composta de
(1Co 1.2-3) gregos, judeus, romanos e orientais.
Ao dirigir-se à igreja de Corinto, Paulo Havia na cidade um teatro ao ar livre,
destacou algumas de suas características, com capacidade para cerca de 20.000
observadas do ponto de vista divino. espectadores. Os jogos atléticos ali
realizados (chamados Jogos ístmicos) só
1. Uma"igreja de Deus"(1 Co 1.2) perdiam em importância para os jogos
Ao designar assim aquela igreja, Paulo olímpicos da época.
preparava os seus leitores para o tema
que adiante desenvolveria í 1 Co 1.10- A cidade exibia orgulhosamente o
31). Nenhuma pessoa pode reivindicar a templo de Afrodite, com suas mil
posse de uma igreja verdadeiramente prostitutas cultuais. A condição imoral de
cristã, porque é propriedade de Deus. Ao Corinto era percebida no fato de a
comentar sobre essa expressão, Charles expressão “mulher coríntia” significar
Erdman escreveu: “Eis aí uma afirmação “prostituta” e de o termo grego
tremenda: a igreja é uma instituição korinthiazein (literalmente, agir como um
divina; foi estabelecida por Deus e lhe coríntio) ter adquirido o sentido de
pertence. É o instrumento de Deus, o “cometer fornicação”.
meio de Ele agir no mundo. O mundo
pode menosprezá-la, escarnecê-la, 3. Uma igreja de "santificados em
difamá-la, mas foi no céu que ela teve a Cristo Jesus" (1 Co 1.2)
sua origem. A igreja é imortal. Seu Os crentes de Corinto, e assim todos
destino é glorioso. Em sua luz todas as os que confessam a Jesus como Senhor e

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Salvador, haviam sido separados do que Deus dispensa aos Seus; a paz é o
mundo (santificados) para posse e uso de resultado produzido na vida de quem
Deus. Tal experiência só foi possível (e recebe a graça divina.
ainda o é, hoje) por causa da posição dos
crentes “em Cristo”. II. A dádiva da Sua graça
(1 Co 1.4-7)
4. Uma igreja de chamados para O apóstolo atribuiu à graça de Deus
ser santos (1 Co 1.2) todas as bênçãos espirituais que a igreja
Enquanto a expressão anterior indica de Corinto havia recebido. A graça
a “posição em Cristo”, esta diz respeito encontra-se “em Cristo”. Somente por
ao “caráter dos santos”. Aqueles que Seu intermédio é concedida aos filhos de
verdadeiramente atendem ao chamado Deus. Por meio da graça, somos salvos,
para serem seguidores de Cristo buscam sustentados na carreira cristã e
uma vida de santidade e se deixam capacitados para o ministério.
transformar, dia a dia, pelo poder do
Espírito Santo, a fim de serem 1. Enriquecidos na Palavra
conformados ao Filho (Ef 4.13). Os crentes de Corinto receberam a
Palavra e, sendo dotados da capacidade
5. A igreja de todos os que em de transmiti-la, haviam se tornado
todo lugar...(1 Co 1.2) eloquentes ao fazê-lo. Talvez Paulo
Paulo dá a entender aos coríntios (e a tivesse em mente alguns crentes em
nós também) que a irmandade dos especial, que se destacavam pela ousadia
santos não está limitada a determinados e coragem de comunicar a mensagem do
lugares. Os coríntios precisavam evangelho de Jesus Cristo.
aprender noções de unidade. Esse ensino
é igualmente útil a nós, pois muitas vezes 2. Enriquecidos no conhecimento
limitamos a extensão da igreja à nossa Os coríntios eram capazes de
comunidade, à nossa denominação. aprender as verdades espirituais que o
A todos os santos é dado o privilégio próprio apóstolo lhes ensinava. “No que
de “invocar” o nome do Senhor Jesus, se refere ao conhecimento, a igreja como
como reconhecimento do Seu senhorio. corpo tem acesso a toda a sabedoria,
percepção, discernimento da verdade de
6. A saudação à igreja (1 Co 1.3) que necessita; não precisa de gurus
Embora a saudação epistolar obedeça especiais para recebê-lo” (Prior, p.27).
à fórmula convencional grega e hebraica, 3. Com o testemunho confirmado
devido à inclusão das palavras com que O testemunho de Cristo foi dado aos
os gregos e os judeus se saudavam - coríntios por Paulo e seus companheiros.
graça ( cháris) e paz (.shalom), o seu À medida que lhes eram proclamadas as
conteúdo é cristão, porque Paulo verdades divinas, eles começaram a
acrescenta a origem de onde elas apreciar e a experimentar as riquezas da
emanam. As duas procedem do Pai e do herança recebida como filhos da luz.
Filho. A graça é a fonte de toda a bênção Paulo reconheceu que o testemunho que

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deu foi confirmado neles, mediante a sentido de que Deus conserva Seu povo
transformação de vidas. livre de qualquer acusação, seja de
homens ou de Satanás, pois já fomos
4. Capacitados por meio dos dons justificados diante de Deus por meio do
Deus enriqueceu a vida dos crentes sacrifício de Cristo (Rm 8.33).
coríntios, de modo que não tinham falta O “Dia de nosso Senhor Jesus Cristo”
de nenhum dom espiritual. Aliás, “a igreja é o dia glorioso da Sua volta. Resumimos,
local tem potencialmente todos os dons a seguir, o que Paulo diz sobre ele.
espirituais em sua vida corporativa e
deve esperar, em oração, que Deus os 1. Marcará a revelação plena
conduza em sua expressão madura” (literalmente, “desvendamento”) de
(Prior, p.25 ). No caso dos crentes de Jesus Cristo como Ele realmente é
Corinto, Paulo agradece a Deus por eles (13.12).
terem recebido dons em proporção
extraordinária. Contudo não aprenderam 2. Tornar-se-á evidente a qualidade exata
a usá-los humildemente no serviço do do nosso serviço prestado aEle (3.10-15).
Senhor. O apóstolo Paulo não podia
elogiá-los pelo uso devido e proveitoso 3. Deus revelará plenamente os
dos dons espirituais, mas somente por propósitos e as motivações íntimas do
aquilo que o Senhor lhes havia nosso coração (4.5).
concedido.
E bom prestar atenção ao fato de que 4. Dia desfrutado antecipadamente em
tudo o que o apóstolo afirma sobre a cada celebração da ceia do Senhor (l
graça divina que lhes “foi dada” diz 1.26).
respeito à igreja de Deus em Corinto, e
não a indivíduos em particular. O 5. Dia em que os mortos em Cristo serão
conhecimento e a plenitude das bênçãos ressuscitados (15.23,52) para uma vida
divinas só são experimentados pelos incorruptível, em um corpo que Paulo
crentes quando estão em comunhão uns chama “corpo espiritual” (15.44).
com os outros.
6. Paulo anseia por esse dia, conforme a
III. 0 sustento pela fidelidade oração final da carta (16.22):
“Maranata!” - Vem, nosso Senhor ( Prior,
de Deus(1 Co 1.8-9) p.27).
Os crentes coríntios aguardavam a
revelação de Jesus Cristo, o que significa Até lá, a fidelidade de Deus
a Sua volta para buscar os Seus santos ou sustentará o Seu povo. Note-se, mais
o arrebatamento da igreja (lCo 1.7; lTs uma vez, que a gratidão de Paulo se
4.13-18). Até que o Senhor volte, Ele refere ao que Deus fará e não àquilo que
confirmará (tornará firmes) os Seus os coríntios tenham feito. A fidelidade de
seguidores, de modo que se tornem Deus era a base do otimismo de Paulo em
irrepreensíveis para aquele dia. relação à igreja de Corinto. Ele, que os
“Irrepreensíveis” significa “sem culpa” no havia chamado “à comunhão de seu

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Filho... ”, os conservaria firmes, até o dia
da volta gloriosa do Senhor Jesus.

Conclusão

Muitas vezes perdemos a noção de


que a igreja é uma comunidade de
pecadores. São cristãos, mas ainda
portadores de natureza carnal. Se,
entretanto, desviarmos o foco das
pessoas que a compõem e o colocarmos
na obra que Deus realizou na vida delas,
por meio de Cristo, o nosso conceito
muda. Então, assim como o apóstolo
Paulo, encontraremos motivos para dar
graças a Deus pela igreja a que
pertencemos.

Para pensar

Como sua igreja seria avaliada se


recebesse uma carta de Paulo? Quais as
qualidades bíblicas que podem
facilmente ser notadas quando sua igreja
é observada? Liste-as.

Faça a lista das características dadas à


igreja de Corinto pela ação do Senhor.
Depois de observá-las, escreva de que
maneira vão ajudá-lo a valorizar menos
os erros dos irmãos e mais aquilo que o
Senhor fez e ainda fará neles.

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LIÇÃO 3: Ninguém é de ninguém!
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: 1Coríntios 1.10-31

INTRODUÇÃO de uma unidade espiritual que precisa ser


Uma arma que o inimigo usa com exteriorizada.
eficiência contra a igreja é a divisão. O fundamento da exortação é a
Talvez tenha sido essa a razão pela qual fraternidade cristã - “irmãos”. Afinal, se
Jesus Cristo, antes um pouco da Sua já foram tornados um, por meio de
morte, incluiu na oração um pedido pela Cristo, então devem expressar a unidade,
unidade dos discípulos (Jo 17.20-21). demonstrando que pertencem à mesma
Nada dificulta mais o testemunho cristão família.
do que uma igreja dividida. Através das Podem começar a expressá-la falando
épocas, as igrejas evangélicas têm todos a mesma coisa, sendo unidos na
fracassado na missão de se apresentar ao mesma disposição mental e no mesmo
mundo como comunidades em que parecer. Isso não é impossível, porque os
reinam a harmonia e o entendimento cristãos têm a mente de Cristo
fraterno. (lCo2.16).Se procurassem a unidade em
torno daquilo que é essencial, evitariam
I. Uma igreja dividida (1 Co 1.10- as divisões e viveriam “inteiramente
unidos”.
17) Se atendêssemos hoje à exortação de
Paulo deve ter sentido enorme Paulo, porventura não livraríamos as
tristeza ao ser informado da existência de igrejas de tantos dissabores internos e de
divisões na igreja (lCo 1.11). Depois de tanta vergonha externa, provocados
fazer uma exortação à unidade e expor o pelas divisões e criação de partidos?
fato da desunião, mostra que não há
razão para a igreja viver assim.
2. Contendas e partidos (ICol.11-
1. Exortação à unidade (ICol.10) 13)
A exortação é iniciada com uma O que motivou a exortação à unidade
expressão solene: "Rogo-vos, irmãos, foi a informação obtida por meio de
pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo". irmãos da casa de Cloe (talvez uma
É como se Paulo dissesse: “Irmãos, peço- senhora reconhecidamente idônea
vos, de joelhos, encarecidamente, pelo naquela comunidade).
nome de Jesus Cristo”. O “nome” indica Havia “contendas”, o que indica a
tudo quanto conhecemos de Cristo como existência de um espírito de facciosidade
Salvador, Senhor e Mestre. Uma vez que entre os irmãos, que resultava em brigas.
todos os crentes Lhe pertencem e estão As emoções eram exaltadas, e a
sob o Seu poder e direção, a menção do rivalidade entre eles era exposta. As
Seu nome sugere, por si só, a existência “contendas” ou “porfias” são condenadas
como obras da carne (G15.20). São
geradas pelo desentendimento que acirra

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os ânimos, geralmente devido a daqueles que se consideravam a elite
preferências individuais (lCo 1.12). intelectual da igreja. Depois percorreu a
Os cristãos coríntios estavam Acaia, onde "com grande poder,
divididos. O problema era a tendência convencia publicamente os judeus,
para a formação de partidos. Cada grupo provando, por meio das Escrituras, que o
se reunia em apoio a determinada Cristo é Jesus” (At 18.28).
personalidade.
E bom levar em conta que sempre c. Partido dos legalistas. Certamente era
haverá diferentes ênfases e ideias formado dos crentes oriundos do
doutrinárias dentro da igreja local. Os judaísmo. Não há registro bíblico de que
cristãos podem, ocasionalmente, o apóstolo Pedro (Cefas) tivesse visitado
apegarem-se a aspectos diferentes da Corinto, mas é provável que tenha
verdade. Mas quando um cristão ou um acontecido. Devia ser o grupo com
grupo de cristãos seleciona um aspecto tendências legalistas, o que transparece
particular da verdade e fica inteiramente na epístola, principalmente na questão
absorvido por ele, negligenciando o cerne relacionada a comer ou não comer carne
da verdade, que é Cristo, então o tal sacrificada a ídolos (1 Co 8). Não que
aspecto preferencial se transforma num Pedro lhes tivesse ensinado a serem
erro. apegados ao legalismo, mas erradamente
a. Partido dos saudosistas. Os coríntios o tinham como inspiração para defender
que formavam esse partido diziam, e viver a espiritualidade baseada em
provavelmente com muito orgulho, que evidências externas.
pertenciam a Paulo. Talvez fosse formado Ainda é assim hoje! Há na igreja
principalmente dos crentes que se irmãos acostumados a enfatizar
colocavam ao lado do apóstolo por ser determinados padrões externos de
ele o fundador da igreja. Mostravam-se comportamento como evidência de
gratos por terem sido levados por ele à espiritualidade. Precisamos “vigiar
fé. Lembravam-se, com saudades, do constantemente contra qualquer redução
tempo em que o apóstolo esteve entre da vida cristã a uma série de regras ou
eles. Tudo o que ele disse (o que é bom) proibições: ‘Faça isto. Não faça aquilo’”
ou o que imaginavam que tivesse dito (Prior, p.34).
(isso é ruim), eles aceitavam.
d. Partido dos supercrentes. Devido à
b. Partido da elite intelectual. Os presença dos três grupos anteriores na
partidários de Apoio preferiam-no por ser igreja de Corinto, cada um formado em
"homem eloquente e poderoso nas torno de um líder humano, surgiu o
Escrituras. Era ele instruído no caminho quarto. Os irmãos que o formavam
do Senhor; e, sendo fervoroso de estavam tão embebidos do espírito
espírito, falava e ensinava com precisão a partidarista quanto os demais. Talvez
respeito de Jesus”(At 18.24-25). Esteve fosse o mais orgulhoso dos grupos. Não
em Corinto, porém, não sabemos quanto davam nenhuma importância à liderança
tempo lá ficou. Certamente foi tempo humana e se diziam seguidores
suficiente para que surgisse o grupo autênticos de Cristo. “Cristo é o nosso

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líder”, proclamavam. “Dependemos aglutinarem em torno do Jesus Cristo
apenas dele e não precisamos nos crucificado. Esse tinha sido o ponto
sujeitar a nenhum líder humano!” principal da primeira mensagem que lhes
Esse partido deve ter contribuído para havia pregado. Se os crentes sempre se
a existência de um grupo de crentes lembrassem de Quem morreu por eles,
“supe- respirituais”. Não é difícil imaginar deduziriam que todos são igualmente de
que sua criação resultara da influência Cristo e abandonariam o espírito de
das religiões de mistério de Corinto. Os desunião na igreja.
que o formavam davam ênfase às
experiências espirituais desvinculadas c. 0 senhorio de Cristo (ICo 1.13-17). Ao
dos ensinamen-tos das Escrituras. perguntar se eles foram batizados por
Não ignoremos que todos esses Paulo, o apóstolo chama a atenção dos
partidos têm seus adeptos na igreja de coríntios para a necessidade de estarem
hoje. Os partidários afirmam-se cristãos, sujeitos unicamente ao Senhor. Eles
ao mesmo tempo em que cada um se selaram, pelo batismo, a fé em Cristo;
opõe aos outros. Não é deplorável que o tinham se tornado propriedade do
espírito de partidarismo, fruto de Senhor e por isso estavam numa relação
rivalidades, ciúmes e orgulho, ainda vital com Ele. Agora, todos pertenciam a
prevaleça em nossas igrejas? Cristo, e não a Paulo, a Apoio, a Cefas...
Talvez os crentes de Corinto
3. A reprovação da existência de estivessem dando importância exagerada
partidos (ICo 1.13-17) ao batismo com (ou em) água. Daí
Depois de indicar a presença dos apalavra do apóstolo com o fim de
partidos na igreja coríntia, Paulo censura diminuir a importância daquele que
o espírito partidarista e demonstra a realiza a cerimônia, declarando que havia
nulidade da existência das divisões. batizado poucos irmãos daquela
comunidade (ICo 1.14-16). Por outro
a. A integralidade de Cristo (ICo 1.13). lado, Paulo ressalta o significado
''Acaso, Cristo está dividido?”, pergunta o fundamental do batismo dos crentes em
apóstolo. E como se lhes perguntasse: Cristo, que é a dedicação total ao
“Vocês acham que existem pedaços de senhorio de Jesus.
Cristo distribuídos entre vocês?” Cristo Ao final, o apóstolo deixa claro que a
não pode ser partido! Ou O temos por essência da sua comissão não era
inteiro, ou não. Se a igreja está dividida ministrar ritos, e sim pregar o evangelho,
em partidos e os crentes defendem estar dando o devido valor à cruz de Cristo,
ligados a Cristo, então Cristo precisa estar sem se importar demasiadamente coma
fragmentado. Não é isso um absurdo? sabedoria humana e a eloquência (lCo
1.17).
b. A cruz de Cristo (ICo 1.13). "Foi Paulo Com base na integralidade de Cristo,
crucificado em favor de vós ?" é a na Sua cruz e no Seu senhorio, somos
segunda pergunta. O apóstolo desafia os também exortados a expressar, de modo
coríntios a abandonarem os partidos e se prático, a unidade espiritual que nos foi
outorgada. Recebemos, igualmente, a

13
ordem para pregar o evangelho, e b. A sabedoria de Deus. Se pela própria
devemos fazê-lo de tal modo que a cruz sabedoria o homem não pôde conhecer a
de Cristo não fique ofuscada pela nossa Deus Ele preferiu salvar os homens “pela
eloquência ou pelas discussões eruditas. loucura da pregação” (l Co 1.21).
II. Causas das divisões (1 Co 1.18- “Asabedori; - e a loucura - de Deus se
31) materializam na palavra da cruz” (Prior,
Duas causas para as divisões são p.45). Ela se fes conhecida no Messias
expostas por Paulo nesse texto. crucificado. Tanto aqueles que acreditam
possuir sabedori; própria como os que
1. Falta de percepção do poder da praticam boas obras não são salvos, mas
palavra da cruz (1 Co 1.18-25) sim os que creeir em Cristo (lCo 1.18,21).
Aqui o apóstolo desenvolve o Somente quando o homem, judeu ou
contraste entre a sabedoria do mundo e gentio, busca ; salvação no Jesus
a sabedoria de Deus. crucificado, experimenta o efeito do
poder e da sabedoria de Deu; (lCo 1.23-
a. A sabedoria dos homens. A mensagem 24). Os homens consideram a sabedoria
da cruz é contrária a tudo o que os de Deus - apalavra da cruz - tola e
homens consideram sabedoria. Para os inconsistente. Entretanto, a loucura de
judeus, a cruz representava uma pedra Deus é “mais sábia” e "a fraqueza de
de tropeço, um completo escândalo, Deus é mais forte" do que a sabedoria e o
porque todo o que fosse pendurado no poder dos homens (lCo 1.25).
madeiro era malditc (Dt 21.23; G13.13-
14). Não podiam conceber que o Messias, 2. Falta de compreensão acerca
o ungido de Deus cheio de autoridade e do método de Deus para salvar os
poder, viesse a acabar os Seus dias homens (1 Co 1.26-31)
pendurado numa cruz Queriam que Deus A sabedoria de Deus pode ser vista no
lhes fornecesse provas irrefutáveis e método que empregou para salvar os
tangíveis - “sinais” - em que pudessem homens. Paulo já o indicou no versículo
basear as próprias convicções (lCo 1.22). 21 - "aprouve a Deus salvar os que creem
Para os gregos, a cruz era uma pela loucura da pregação" - e agora
loucura. Eles preferiam tentar descobrir o reforça o valor desse método,
caminhe para Deus por meio do contrapondo-o à nulidade do orgulho
raciocínio e do debate - sua “sabedoria”. humano.
Não admitiam a existência de um Deus a. A sabedoria humana não salva (lCo
pessoal, dotado de sentimento. Um Deus 1.26-29). O apóstolo lembra os coríntios
sofredor era, para eles uma contradição que eles não foram alcançados para a
de termos. salvação por meio de filosofias
Paulo argumenta que ‘‘tornou Deus pretensiosas, e sim pela simplicidade da
louca a sabedoria do mundo" (lCo 1.20). pregação. Se a salvação dos pecadores
Nãc é propósito de Deus que os homens, ficasse subordinada à escolha dos
pela sabedoria, alcancem o homens, eles escolheriam os mais sábios,
conhecimento Dele. os mais nobres, os mais poderosos para

14
salvar. Mas Deus costuma preterir o que Conclusão
tanto os homens prezam. Por isso não Alguém é de alguém nas igrejas
chamou muitos sábios, nem muitos evangélicas?
poderosos, nem muitos nobres, mas
escolheu muitas pessoas que o mundo 1. Evitemos o culto a personalidades,
considera menos importantes (lCo 1.26- porque só contribui para a criação de
27). O método de Deus tem como partidos e para desviar o espírito do
objetivo principal impedir que o homem cristão do cerne da verdade, Cristo.
“se vanglorie” na Sua presença (lCo 1.29)
Jr 9.23-24). 2. Vigiemos para não ficarmos absorvidos
por um aspecto particular da verdade,
b. A sabedoria está em Cristo (1 Co 1.30- negligenciando o todo, que é Cristo.
31) Tudo o que somos vem de Deus “em
Cristo”. Deus fez com que Ele fosse tudo 3. Pensemos no que é possível fazer para
para nós (v.30): que o espírito divisionista não prevaleça
nas igrejas.
• é a sabedoria de Deus, porque foi
escolhido por Ele para ser o meio da 4. Reconheçamos que não temos outra
nossa salvação; mensagem para anunciar aos homens,
• é a nossa justiça, porque mediante a fé senão “a palavra da cruz", mesmo que
Nele somos declarados justos por Deus eles a considerem tola e inconsistente.
(Rm 5.1); Afinal, o Cristo crucificado é a nossa
• é a nossa santificação, porque por Ele “sabedoria, e justiça, e santificação, e
fomos colocados na posição de redenção” (lCo 1.30).
“santificados” (lCo 1.2);
• é a nossa redenção, porque, quando Ele
voltar, seremos redimidos com alma e Como você coopera para a unidade
corpo e levados para o nosso lar (Ef 4.30; de sua igreja? Compartilhe com alguém
Rm 8.23); duas atitudes que vocês podem cultivar
para alimentar a unidade e minar as
O método divino, portanto, consiste divisões em sua igreja.
em conceder posição e honra especiais
somente ao Filho, e não a homem algum. Agradeça a Deus porque a salvação é
Há uma ligação entre isso que o apóstolo obra Dele e não de qualquer homem.
acaba de dizer e a censura do espírito Deus usa homens para salvar outros.
partidarista na igreja coríntia. Se a Pense em duas maneiras de agradecer as
salvação é resultante da sabedoria de pessoas que lhe falaram de Jesus, sem
Deus - a palavra da cruz, a mensagem do perder o foco que a glória pela sua
Cristo crucificado - onde achar desculpa salvação é somente de Deus.
para a divisão dos crentes? Onde buscar
justificativa para dizer: “Eu sou de Paulo”
eu “de Apoio?” Haveria alguma razão
para se gloriarem nos homens?

15
LIÇÃO 4: A mensagem da cruz
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: ICoríntios 2.1-16
apresentar a pessoa de Cristo e a sua
expiação na cruz do Calvário.
INTRODUÇÃO Isso não quer dizer que Paulo
No primeiro capítulo de ICoríntios, pregasse exclusivamente sobre a
Paulo deixou claro que não se ocupou em crucificação; ele discorria sobre variados
ministrar batismos, a fim de que ninguém temas, ainda que fazendo tudo
supusesse que estaria interessado em subordinar-se a Cristo. Provavelmente,
conquistar para si seguidores. No essa defesa enfática da “mensagem da
segundo capítulo que ora estudamos, o cruz” visasse combater alguns
apóstolo declarou que até no modo de mensageiros em Corinto que excluíam
pregar o evangelho aos coríntios não lhes qualquer menção à cruz em suas
havia dado ocasião para que se prédicas.
orgulhassem de tê-lo como líder. Ele teve Paulo ensina aqui que a mensagem da
o cuidado de pregar de tal modo que o redenção em Cristo inclui a cruz. Aquilo
caráter e a origem divina da sua que os judeus consideravam escândalo e
mensagem não fossem obscurecidos pela os gentios insensatez (1 Co 1.23) era o
sabedoria humana. centro da mensagem paulina.
O apóstolo também mostrou que a Hoje, é preciso que os mensageiros
sabedoria de Deus, demonstrada na estejam convencidos de que, somente
mensagem da cruz, jamais poderia ser por meio da mensagem da cruz, o
compreendida pelo homem se não homem pode ser reconduzido a Deus.
tivesse sido revelada pelo Espírito Santo. Isso implica nunca deixar de anunciar a
Cristo, que é o poder e a sabedoria de
Deus (lCol.24).
I. Conteúdo, método, e propósito
da mensagem (ICo 2.1-5)
2. O método de pregar a
O principal propósito de Paulo nesses
versículos era lembrar aos coríntios como mensagem (1Co 2.1,3-4)
ele agiu quando, pela primeira vez, lhes Paulo sentiu necessidade de recordar aos
pregou o evangelho. coríntios o modo como lhes pregou o
evangelho.
1. O conteúdo da mensagem
a. Com simplicidade (1 Co 2.1). “O
pregada (ICo 2.2) testemunho de Deus”, o mesmo que “a
Quando esteve entre eles, Paulo mensagem da cruz” anunciado pelo
decidiu não apresentar-lhes outra apóstolo, não foi transmitido com uma
verdade a não ser "Jesus Cristo> e este linguagem rebuscada nem com a
crucificado". Foi o único tema da sua capacidade de persuasão dos filósofos da
pregação. Ele propôs no seu íntimo época. Ele pregou de modo simples,

16
tendo a preocupação de expor a Palavra apresentação da mensagem tiveram a
de maneira clara e compreensível. direção do Espírito, de Quem é o poder
de convencer as pessoas do pecado (Jo
b. Com temor (1 Co 2.3). Paulo confessa 16.8).
que esteve entre os coríntios Certa vez, um seminarista perguntou
"emfraqueza, temor e grande tremor . a um dos seus professores: "Qual é o
“Em fraqueza” pode dar a ideia de uma segredo para pregar de modo que os
enfermidade física que o deixasse ouvintes entendam a mensagem e sejam
abatido; o “temor existia em face da por ela tocados?" De maneira objetiva, o
tarefa que tinha a desempenhar; o mestre respondeu: "Use linguagem clara
“tremor” devia-se às difíceis condições e simples; pregue com temor, porque a
para pregar o evangelho em Corinto. Um missão é nobre, e enorme a
comentarista interpreta assim o estado responsabilidade; e considere a si mesmo
emocional de Paulo; “Vira-se desolado, como apenas um instrumento do
sozinho, no meio da grande cidade, Espírito Santo."
ansiando pela chegada de seus
cooperadores Silas e Timóteo. O 3. O propósito a ser alcançado pela
ambiente pesado de um paganismo pregação (ICo 2.5)
grosseiro deprimia-o. O orgulho, aquela O propósito da pregação paulina em
autossuficiência dos coríntios, Corinto não era para que a fé daqueles
desalentava-o. Sentia asco pelas irmãos “se apoiasse em sabedoria
impurezas e corrupção moral ambiente. humana; e sim no poder de Deus”. Paulo
Como sobrecarga de tudo, sabia, quando pregou naquela cidade, do
entristecia-o a oposição maligna e perigo de seus ouvintes se interessarem
blasfema de seus patrícios, os judeus” por ele, e não pelo Senhor. Consciente
(Erdman, p.27-28). Mas Paulo recebeu das limitações humanas, Paulo pregava
conforto do Senhor -Xão temas; pelo com o objetivo de conduzir as pessoas à
contrário, fala e não te cales; porquanto fé em Deus, somente. Desejava que
eu estou contigo, e ninguém ousará experimentassem o poder divino,
fazer-te mal, pois tenho muito povo transformando-as em novas criaturas em
nesta cidade" (At 18.9-10), e pôde Cristo.
continuar a sua tarefa (At 18.11). A propósito do comentário desse
texto (lCo 2.1-5), devemos ser conduzidos
c. Na dependência do Espírito (ICo 2.4). a uma séria reflexão.
Depois de ter sido alentado pelo Senhor,
Paulo se sentiu disposto a apresentar a a. "A nossa pregação é uma proclamação
mensagem da cruz e a proclamá-la sem genuína?
usar linguagem persuasiva de sabedoria
humana. Afirma, então, que “a sua b. Estamos proclamando os poderosos
palavra e a sua pregação" foram atos pelos quais Deus deu testemunho de
"demonstração do Espírito e de poder”. Si mesmo em Jesus?
Queria dar a entender que tanto o
conteúdo quanto o modo de

17
C. Será que estamos obscurecendo nossa experimentados”. Isso significa dizer que
proclamação com ostentação de a sabedoria de Deus estava disponível
linguagem ou qualquer outra coisa? àqueles que são maduros, o oposto da
maioria dos cristãos de Corinto. Aqueles
d. Tomamos a firme decisão de fazer de que são espirituais progridem,
Jesus Cristo crucificado o tema de nossa experimentando, com a ajuda do Espírito,
pregação e o centro da nossa vida? tudo o que Deus oferece por meio de
Jesus, ou todos os tesouros da sabedoria
e. Sentimo-nos vulneráveis como que Nele estão escondidos (Cl 2.2-3).
pregadores do evangelho em um mundo A sabedoria “deste século” tem
pagão e hostil? origem neste mundo e se compõe das
características morais e espirituais do
f. A nossa pregação manifesta o poder do tempo presente. É a sabedoria formulada
Espírito Santo? ou vista “nos poderosos desta época”,
que é passageira, assim como são os qüe
g. Os resultados de nossa pregação por ela vivem.
demonstram o poder do Espírito?
b. É "sabedoria de Deus em mistério"
h. A vida das pessoas está sendo (ICo 2.7-9). É a sabedoria completamente
transformada? oposta à “deste século”. Foi revelada,
encarnada e tornada acessível aos
i. Elas reconhecem o poder do Espírito na homens em Cristo Jesus. E um “mistério”,
própria vida?” (Prior, p.51-52). outrora oculto, mas agora revelado.
Mistério não tem o caráter misterioso
II. A revelação da mensagem da que damos à palavra hoje. “Significa um
cruz (1 Co 2.6-16) segredo que o homem é totalmente
Por meio do texto que ora vamos incapaz de penetrar.
considerar, concluímos que o apóstolo Mas é um segredo que agora Deus
Paulo levava em conta a verdadeira revelou” (Morris, p.44). Muito antes de o
sabedoria ao pregar. O evangelho é tempo e o espaço virem à existência,
sabedoria, porque teve a origem na Deus determinou, em Sua sabedoria, que
mente e no coração de Deus. o caminho da salvação estava
estabelecido em Jesus Cristo, e Este
1. A mensagem da cruz é sabedoria de crucificado. Desde a eternidade, Deus
Deus (ICo 2.6-9) estava interessado no bem-estar do
O que distingue a sabedoria de Deus homem e planejou o evangelho para que
da sabedoria dos homens? experimentássemos a “nossa glória” (lCo
2.7).
a. Não é sabedoria deste século (1 Co Essa sabedoria estava oculta aos
2.6). Ao anunciar a mensagem da cruz, os homens. Nenhum sábio a descobriu. Se
servos de Deus, e Paulo entre eles, os contemporâneos de Jesus a tivessem
expunham “sabedoria entre os descoberto, “jamais teriam crucificado o
Senhor da glória” (lCo 2.8). A

18
incapacidade do homem está sublinhada outras palavras, não nos foi dado o
na citação que o apóstolo faz do profeta espírito da sabedoria ou da índole
Isaías: “Nem olhos viram, nem ouvidos humana. Mas temos recebido o “Espírito
ouviram, nem jamais penetrou em que vem de Deus”, a fim de que
coração humano o que Deus tem possamos conhecer, comunicar e
preparado para aqueles que o amam” interpretar toda a revelação de Deus em
(lCo 2.9 cf. Is 64.4). Cristo (lJo 2.20,27).

2. A mensagem da cruz é revelada pelo 3. O discernimento espiritual da


Espírito (1 Co 2.10-12) mensagem da cruz (ICo 2.13-16)
Devido a ter a sua origem em Deus, o Para que compreendamos a revelação
evangelho sobrepuja à razão humana, do mistério outrora oculto, o evangelho
por isso ninguém o compreende, se o de Cristo, Deus nos ilumina com uma luz
Espírito não esclarecer. que é diferente da inteligência comum
dos homens.
a. É revelação do Espírito (1 Co 2.10-11).
A nós, os crentes, Deus revelou coisas a. Os apóstolos foram iluminados (ICo
grandiosas por intermédio do Espírito. 2.13). Paulo lembra os coríntios que as
“Os crentes sabem o que sabem, não por palavras transmitidas por ele e os demais
causa de alguma habilidade ou sabedoria apóstolos foram “ensinadas pelo
deles próprios, mas porque aprouve a Espírito”, e não pela sabedoria humana.
Deus lho revelar” (Morris, p.46). Isso Eram palavras que verbalizavam os
devia eliminar do nosso espírito qualquer pensamentos de Deus e, portanto,
sentimento de superioridade. tinham a Sua autoridade. Além disso, eles
O Espírito é capaz de revelar porque comparavam as Escrituras, a fim de
“todas as coisas perscruta, até mesmo as estarem seguros acerca da verdade que
profundezas de Deus”. Nenhum ensinavam.
conhecimento está fora do Seu alcance.
Essa capacidade do Espírito é exposta por b. Os crentes São iluminados (1 Co 2.14-
meio de uma analogia com a natureza 16). Aqueles que ouvem a Palavra
humana. Ninguém pode saber o que se também precisam da iluminação do
passa no interior de um homem, a não Espírito. Quem não tem o Espírito - “o
ser esse homem. Os outros podem homem natural” - não é capaz de
apenas fazer conjecturas. Assim, ninguém reconhecer, apreciar ou receber o que o
pode conhecer o que se passa na mente Espírito comunica por meio dos Seus
de Deus, a não ser o Espírito de Deus. O mensageiros. O horizonte do não salvo
Espírito que revela, portanto, é está limitado pelas coisas desta vida, por
verdadeiramente divino, e o que Ele isso "não aceita as coisas do Espírito". A
revela é a verdade acerca de Deus. mensagem lhe foge totalmente à
compreensão, pela ausência do
b. Recebemos o Espírito de Deus (1 Co discernimento espiritual.
2.12). “Nós” - todos os cristãos - "não O homem espiritual, porém, “julga
temos recebido o espírito do mundo”. Em todas as coisas” - é capaz de receber,

19
entender, apreciar e aplicar à vida a concorda com essa afirmação? Por quê?
mensagem, devido à operação do Espírito Será possível ajudá-los? Como?
dentro dele. “Quando o Espírito penetra
na vida de um homem, muda tudo. Uma O que se pode fazer para deixar de
coisa nova que aparece é a capacidade de ser uma “criança em Cristo" e passar a
fazer julgamento certo. Isto não é porque agir como um “adulto espiritual”?
o homem é agora, de algum modo, maior
do que antes, mas porque o Espírito o Para exercitar a mensagem do
equipa” (Morris, p.49). Assim, o homem evangelho, escreva o plano da salvação
espiritual tem dentro de si um ponto de em uma folha de papel, sem consultar
referência e, desse modo, não pode ser nada. Depois, verifique se você preservou
julgado por quem não é dotado do a mensagem central da cruz de Cristo.
Espírito. Liste duas barreiras que o evangelho
A decepção de Paulo com a genuíno encontra nos dias de hoje e
camalidade dos coríntios devia-se como a igreja pode vencê-las e pregar.
também ao fato de que podiam pensar
como Cristo (lCo2.16), por causa do Volte-se para si e pergunte: ainda
Espírito que neles habitava. Contudo penso como o homem natural ou já
viam as coisas na perspectiva do homem exercito uma mentalidade diferente
do mundo, e não na do homem acerca das verdades espirituais?
espiritual. Com isso, estavam sendo
privados do privilégio de, pela obra do
Espírito, julgarem todas as coisas.
O que acontecia aos coríntios pode
também acontecer a nós. Eles não
cultivaram o relacionamento com o
Espírito, por isso continuavam “crianças
em Cristo" (1 Co 3.1). E certo que,
“quando uma pessoa nasce de novo
através do Espírito de Deus, elas e torna
um ‘homem espiritual’, mas não
continuará andando no Espírito de forma
automática” (Prior, p.56). Por isso temos
as ordens para “andar” e “viver” no
Espírito (G15.16,25).

Conclusão

Em nossos dias há mensageiros que


não anunciam a autêntica “mensagem da
cruz” no poder do Espírito Santo. Você

20
LIÇÃO 5: Carnalidade, imaturidade e divisões
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: ICoríntios 2.1-16

Introdução sucumbido às pressões do mundo, mas


Como os crentes de Corinto, também haviam sido seduzidos pela
constantemente nos achamos em luta própria carne.
contra dois inimigos: o mundanismo e a Antes de começar a repreender os
carnalidade. O primeiro é exterior, e o coríntios, Paulo os chama de “irmãos”.
segundo, interior. Os coríntios raramente Isso é a indicação de que eram salvos por
os venciam; frequentemente sucumbiam Cristo, e que o apóstolo assim os
a ambos. Em consequência, cometiam considerava. Entretanto, não podia
sérios pecados, um após outro. Quase diminuir a gravidade do pecado que
toda a primeira epístola visa identificá-los haviam cometido. Não convinha dirigir-se
e corrigi-los. a eles como crentes "espirituais, e sim
O pecado das divisões na igreja como a carnais, como a crianças em
coríntia foi acompanhado de outros Cristo" (lCo 3.1). O crente espiritual é
pecados, pois estão sempre inter- aquele que se deixa controlar pelo
relacionados. Não existe pecado isolado - Espírito, enquanto o crente carnal se
um leva a outro, e o segundo reforça o entrega ao controle da sua natureza
primeiro. Cada pecado é uma carnal (Rm 8.9,14).
combinação de pecados. A primeira
epístola aos coríntios confirma essa Quando ainda eram “crianças” os
realidade e nos exorta a cortar o mal pela coríntios haviam recebido o alimento
raiz. adequado ao nível espiritual em que se
encontravam. Agora, porém, passado
I. A manifestação da carnalidade algum tempo, já deviam estar preparados
(1Co 3.1-9) para receber doutrina mais difícil de
Antes, o apóstolo mostrou que a digerir. Entretanto, não podiam, porque
causa de existirem divisões na igreja de ainda agiam como crianças espirituais
Corinto era o mundanismo - eles (lCo 3.2). O cristão cresce quando
continuavam a prezar a sabedoria caminha dirigido pelo Espírito, mas
humana. Agora, ele aponta a carnalidade estaciona no crescimento espiritual
como a razão de criarem partidos. quando se deixa dirigir pela carne, pois
são duas forças opostas entre si (G1 5.16-
17). A carnalidade do cristão não é um
1. A causa da existência dos estado absoluto, no qual permanece, mas
partidos (1Co 3.1-3) um comportamento ocasional, quando
O motivo do partidarismo não era prevalece o comando da carne (Rm 8.5-
somente externo - a influência do 14).
mundanismo; mas também interno - a
carnalidade. Os coríntios não só haviam

21
plantou, Apoio regou! Era inútil,
portanto, que atribuíssem qualquer glória
2. As manifestações da carne (1 a Paulo ou a Apoio, porque ambos não
Co 3.3-4) significaram nada mais do que isto:
A carnalidade não é inevitável. É uma servos, uma tradução da palavra grega
questão de escolha. Os cristãos de diakonos- aquele que serve (lCo 3.5-6).
Corinto não cresciam porque Eles foram simples instrumentos da fiel
alimentavam os apetites carnais. Era por ação divina, que trouxe os crentes de
essa causa que a congregação de Corinto Corinto à comunhão do Filho de Deus
colocava em evidência os ciúmes e as (lCol.9).
contendas. Paulo usou uma ilustração do que
O ciúme é a atitude ou a condição acontece na agricultura para demonstrar
emocional interna; e a contenda é a ação a dependência de cada servo ao seu
que resulta dela ou a sua expressão Senhor. “Plantar” e “regar” são ações
exterior. O primeiro se revela como humanas, mas “dar o crescimento” é
forma de egoísmo, que é uma obra de Deus. Ambas as funções são
característica comum às crianças, e não inúteis, se Deus não fizer crescer. Por
aos adultos! Crentes maduros são isso, um e outro cooperam com Deus (1
altruístas. Co 3.9), de Quem hão de receber o
Essas duas manifestações são galardão pelo trabalho realizado (lCo
sintomas carnais mais destrutivos do que 3.8).
se possa pensar. Entre outras coisas,
causaram as divisões na igreja de Corinto. b. De quem é a igreja? Encontramos duas
Quando a congregação desenvolveu metáforas no versículo 9: "lavoura de
lealdade em torno de indivíduos, foi Deus e edifício de Deus”. Com a primeira,
manifesto o ciúme entre os grupos, e o apóstolo dá a entender que o trabalho
surgiram as contendas (lCo 3.4). do que planta e do que rega produz um
resultado que não lhes pertence. A
lavoura é propriedade de Deus. Com a
3. É preciso mudar o foco da segunda, Paulo ensina que os obreiros
atenção! (ICo 3.5-9) não passam de construtores, pois o
As divisões são evitadas quando os edifício que levantam está edificado
olhos são fixados em Deus, o único que sobre um alicerce que não foi
deve ser exaltado. Quando focamos a estabelecido por eles (lCo 3.11). O
nossa atenção no Senhor, o que sempre edifício pertence a Deus.
devemos fazer, eliminamos o perigo da Devemos ser lembrados, muitas vezes, de
formação dos partidos na igreja. que a igreja onde e pela qual labutamos
não é propriedade nossa. Somos apenas
a. 0 que são OS obreiros? Apoio e Paulo servos, às ordens de um Senhor, a Quem
eram simplesmente servos do Senhor, pertence todo o resultado do nosso
usados para a instrução dos coríntios, de labor. É Ele que deve ser glorificado em
acordo com os dons e habilidades que tudo o que fazemos.
Deus havia concedido a cada um. Paulo

22
b. O resultado final do teste será
determinar se o obreiro receberá ou não
II. Deus julga os obreiros (1 Co galardão (ICo 3.14-15).
3.10-17) "Sofrerá ele dano” (ICo 3.15) não
Paulo ainda continua a considerar o significa perda da salvação. Isso se
problema das divisões em Corinto. Mas confirma com a expressão que segue:
agora nos remete a uma reflexão sobre "mas esse mesmo será salvo, todavia,
como o Senhor considerará as obras dos como que através do fogo". O crente,
crentes, quando Ele regressar. cuja obra será comparada a material que
o fogo extingue, não receberá galardão,
embora seja “salvo”.
1. 0 fundamento da construção (1 Para que os cristãos entendam a
Co 3.10-11) seriedade com que os obreiros devem
Paulo se comparou a um prudente construir, Paulo introduz uma pergunta
construtor. Trabalhava como um que já inclui em si mesma a resposta (1
experiente e habilidoso mestre de obras, Co 3.16). A igreja é santuário de Deus -
distribuindo as tarefas a cada operário. Ele está pessoalmente presente, pelo Seu
Mas a obra que realizava tinha o Espírito, em todos os membros da igreja,
fundamento certo. Só existe um que juntos constituem o corpo de Cristo.
fundamento sobre o qual se pode erigir o Eis a razão pela qual se deve encarar a
edifício espiritual - Jesus Cristo (lPe 2.4- obra de Deus com muita
8). Cada obreiro, porém, é responsável responsabilidade.
quanto ao modo como realiza a obra. A advertência contida no versículo 17
demonstra a gravidade da existência das
2. A revelação da qualidade da divisões na igreja de Corinto. Por ser
obra (ICo 3.12-17) santuário de Deus, o homem que não age
Paulo tem em mente a chegada corretamente na sua relação com a igreja
daquele dia (1 Co 1.8), quando se tornará é culpado de grave pecado. O ofensor
manifesta a verdadeira natureza das haverá de receber o castigo na proporção
obras dos cristãos. em que o comete, porque o "santuário
de Deus, que sois vós, é sagrado".
a. O rigor do teste. O teste se fará “pelo
fogo”, o que dá a ideia de uma prova III. Como eliminar as divisões (1 Co 3.18-
rigorosa. O valor das obras poderá ser 23)
comparado ao ouro, à prata e às pedras O apóstolo Paulo voltou ao tema da
preciosas - materiais valiosos que, sabedoria do mundo e da futilidade de
quando submetidos ao fogo, têm qualquer tipo de vanglória, baseada em
expurgadas as impurezas; ou à madeira, líderes de grande capacidade, para
feno e palha - materiais que não resistem mostrar que essa tendência pode ser
ao fogo (ICo 3.12-13). corrigida quando a igreja possui um
conceito exato de ministério.

23
1. A visão correta de quem ensina (ICo
3.18-20) a. Todos são da igreja (ICo 3.21-22).
É bastante fácil que tenhamos Não havia nenhuma razão para os
conceito errado acerca de nós mesmos. crentes co- ríntios se gloriarem nos
Por isso Paulo advertiu: “Ninguém se homens. Eles deveriam se alegrar pela
engane” (ICo 3.18). Talvez alguns mestres providência de todos os fiéis líderes que
em Corinto se fizessem passar por Deus lhes enviou: “seja Paulo, seja Apoio,
homens de grande sabedoria. O apóstolo seja Cefas". Se a igreja tivesse sido
se dirigiu a eles e a qualquer pessoa que cuidadosa para entender e seguir tudo o
possui um conceito elevado da sua que aqueles três homens ensinaram,
própria sabedoria. Se alguém deseja ter estaria unida, e não dividida. Eles
verdadeiro discernimento espiritual, tem cooperaram com Deus para suprir as
que se tornar o que o mundo chama de necessidades espirituais dos crentes, um
“louco”. A verdadeira sabedoria, que está de um modo, outro de outro, como Lhe
contida no evangelho, é achada quando aprouve.
se renuncia à sabedoria deste mundo.
A sabedoria do mundo é “loucura b. Tudo é da igreja (1 Co3.22).
diante de Deus” (lCo 3.19). Com a Não somente os bons líderes são da
sabedoria humana, por mais que igreja, mas todas as demais coisas que
insistisse, o homem jamais poderia Deus concede para o bem dos Seus filhos.
elaborar um plano de salvação eficaz Como cristãos, somos "herdeiros de Deus
como o elaborado por Deus. Ele triunfa e coerdeiros com Cristo” (Rm 8.17).
sobre a sabedoria humana, a fim de Somos participantes da glória de Deus em
realizar os Seus propósitos. Nem mesmo Cristo (Jo 17.22). Todas as coisas
toda a erudição dos homens poderia colaboram para o bem dos que amam a
frustrar os planos divinos. Deus (Rm 8.28).
Não há pensamento humano que o O mundo é nosso. Não apenas no
Senhor não conheça, e sabe que são sentido em que Deus o criou para o nosso
pensamentos vãos ou inúteis, como o sustento e deleite (Gn 1.28-30), mas
comprova a incapacidade de o homem também no sentido de que os seguidores
alcançar a salvação (lCo 3.20). de Cristo herdarão a terra (Mt 5.5).
Deve-se considerar aqui que Deus não A vida é nossa. No sentido físico, a
condena a sabedoria relacionada com a vida é dom de Deus e devemos prezá-la.
Ciência, a Filosofia e outros campos do No sentido espiritual, nós a recebemos
saber humano. Ela é necessária e é para participar da natureza divina (2Pe
dádiva de Deus. Mas a sabedoria que 1.3-4) e para desfrutá-la eternamente.
exclui o temor do Senhor (Pv 1.7) e a cruz A morte é nossa. O grande inimigo da
de Cristo (1 Co 1.18-25) é vã e inútil nas humanidade foi vencido. Cristo venceu a
questões relacionadas a Deus, à salvação morte, e por Ele nós avencemos também
e à verdade espiritual. (ICo 15.54-57). Paulo entendia que para
ele "o viver é Cristo, e o morrer é lucro"
2. A visão correta sobre quem possui o (Fp 1.21). Para o povo de Deus, a
que ou quem (ICo 3.21-23) presença no mundo é boa e necessária,

24
mas a morte - que conduz à vida eterna - 1. Entendeu o que é um crente carnal e
é melhor (Fp 1.23-24). um crente espiritual? De que modo a
As coisas do presente são nossas - as carna- lidade provoca divisões na igreja?
boas e as más. Em todas as coisas temos Concorda que, se os crentes corrigirem o
a oportunidade de ser vencedores e de foco de atenção, poderão evitar que a
experimentar o amor de Deus por nós igreja sofra com a existência de partidos?
(Rm 8.37-39).
As coisas futuras são nossas. 2. Qual tem sido a qualidade das suas
Certamente são nossas as bênçãos obras? As motivações com que as faz são
celestiais, das quais agora só desfrutamos corretas? Lembre-se de que Deus não vê
o mínimo (lCo 2.9). apenas o resultado do que é feito. Ele
conhece as razões que impulsionam o
c. A igreja pertence a Cristo, e Cristo crente a agir.
pertence a Deus (lCo 3.23).
Nós somos propriedade de Cristo. Ele 3. Por que ainda há divisões na igreja?
é a origem da igreja, a base para a sua Qual é a sua opinião? Para o apóstolo
unidade espiritual; a cura para as Paulo, tudo começa com a falha em não
divisões. Se os olhos dos cristãos de compreendermos a realidade da unidade
Corinto estivessem voltados para Cristo, espiritual existente no nosso único
as divisões não ocorreriam. O maior Possuidor.
motivo para se manter a unidade do
Espírito e evitar as divisões na igreja é 4. Considere o significado de a igreja ser
saber que pertencemos a Cristo, e que o "santuário de Deus".
Cristo é de Deus.
Todos nós somos propriedade de um Como age uma pessoa que pensa ser
e de outro. Na oração sacerdotal, o dona da igreja nos dias de hoje? Qual a
Senhor valoriza o que ensina sobre a diferença entre ela e um irmão que
unidade, ao dizer: “porque são teusj ora, entende que é apenas instrumento do
todas as minhas coisas são tuas, e as tuas Senhor e que Ele é o dono de todos? Em
coisas são minhas... que todos sejam qual grupo você se encaixa?
um;e como és, ó Pai, em mim e eu em ti, Deus vai pedir conta daquilo que
também sejam eles em nós; para que o fizemos em Sua igreja. De que maneira
mundo creia que tu me enviaste... para essa verdade impacta você? Quão
que sejam um, como nós o somos; eu cuidadoso você tem sido com suas
neles, e tu em mim, afim de que sejam atitudes e serviço em relação à sua igreja
aperfeiçoados na unidade" (jo 17.9- local? Faça uma autoavaliação. Em
10,21-23). Nós deveríamos aprender a seguida, ore pedindo ao Senhor que o
manter a unidade com o Deus Pai e o ajude a ser autêntico no exercício do
Deus Filho. Eles são eternamente um em serviço cristão.
essência, embora sejam duas Pessoas. As divisões têm origem em desejos
bem egoístas. Faça um levantamento de
Conclusão algumas atitudes que refletem esse
egoísmo. Em seguida, reflita:Como olhar

25
para Jesus pode ajudar-me a corrigir o que o egoísmo estragou em minha vida?

LIÇÃO 6: Ministros e despenseiros


LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: 1 Coríntios 3.1-23

Introdução (ICo 2.14) Mas espera-se que os cristãos


Embora tivesse cumprido a missão em não tenham o mesmo conceito errado
Corinto da melhor maneira possível, acerca dos que pregam e ensinam o
Paulo era mal compreendido e evangelho.
injustamente condenado por parte de
alguns crentes. Na realidade, os coríntios 1. São ministros de Cristo
tinham uma opinião distorcida acerca dos Literalmente, a palavra “ministro”
servos de Deus que haviam servido à indica subordinação. Era usada
igreja. Os obreiros estavam sendo vítimas originalmente para descrever um
de um julgamento errado acerca do remador inferior em um navio (galera)
ministério exercido, por causa do espírito com três níveis de remo (no grego é
sectário que dominava os membros da huperetes, diferente de diáconos). O
igreja. propósito de Paulo, ao usar esse termo, é
Nesses versículos somos ensinados a demonstrar que os ministros cristãos são,
considerar os obreiros sob a perspectiva acima de tudo, subordinados a Cristo, a
divina. Paulo deixa claro que não são a quem servem, sem que estejam
popularidade, a personalidade, os graus preocupados composição ou glória (lCo
acadêmicos e o desempenho que os 9.16).
qualificam. Para ajudar-nos a entender o
propósito de Deus para os Seus servos, o 2. São despenseiros dos mistérios
apóstolo nos ensina sobre a identidade de Deus
que devem ter, a exigência que lhes é Os ministros do evangelho são
feita e a avaliação a que são submetidos. também chamados “despenseiros dos
mistérios de Deus”. “Despenseiro” é a
I. A identidade dos obreiros (ICo tradução de oikonomos e literalmente
4.1) significa “mordomo” (o administrador de
Essa identidade era característica de uma casa). Antigamente, o mordomo era
Paulo, Apoio e Pedro, o que está indicado um escravo de confiança que
no uso do pronome “nos” e, por supervisionava a propriedade do patrão,
extensão, de todos os obreiros cristãos os campos, as vinhas, as finanças, a
(ICo 4.9). alimentação, e os outros servos da casa
Os “homens” que consideravam os estavam sob seu comando. “Mistérios”,
ministros podiam ser cristãos e não como já vimos ante- rio rmente (lCo 2.7),
cristãos. é um termo usado no Novo Testamento
Se os últimos desconsideravam os com referência ao plano (outrora oculto,
servos do Senhor, dá-se a eles o desconto mas agora revelado) de Deus para a
de não conhecerem as coisas de Deus salvação dos homens em Cristo.

26
Enquanto “ministro” implica a julgamento dos seus líderes espirituais,
subordinação do servo cristão a Cristo, vindo a preferir um em detrimento de
“despenseiro” implica a responsabilidade outros. Paulo lhes fala, então, dos três
de prover o sustento espiritual da “casa tipos de julgamento que um homem
de Deus”. pode enfrentar.
II. 0 que se requer do obreiro (1
Co 4.2) 1. A avaliação dos outros(1 Co 4.3)
O requisito primordial dos A fidelidade a Deus é difícil de ser
despenseiros é “que cada um deles seja avaliada por homens. Por isso Paulo diz
encontrado fiel". Um mordomo antigo que, como “despenseiro”, não era de
não passava constantemente por uma grande importância ele ser julgado pelos
rigorosa supervisão. Por isso era coríntios nem “por tribunal humano”. O
necessário que preenchesse esse homem é incapaz de chegar a um
requisito primordial. Talvez Paulo julgamento correto acerca da verdadeira
quisesse sugerir aos coríntios que, por fidelidade a Deus.
meio desse critério, deviam avaliar a ele e
aos outros. Com isso não teriam 2. A avaliação de si próprio(1 Co 4.3-
predileção por nenhum, pois concluiriam 4)
que todos foram fiéis no cumprimento da O apóstolo também tinha consciência
missão proposta. de que, devido à sua natureza humana e
E nós, hoje, com que critério à ao seu julgamento tendencioso, a
avaliamos os verdadeiros obreiros do avaliação que viesse a fazer de si mesmo
Senhor? não era confiável. Contudo, em relação
É significativo notar que Paulo enviou ao serviço cristão, em nada a sua
Timóteo para servir em Corinto e o consciência o acusava (cf. 2Co 1.12). Mas
apresentou assim: “Timóteo... fiel no mesmo assim, não se dava “por
Senhor" (lCo 4.17). Na carta aos justificado” porque a avaliação
Colossenses, ele menciona outros incontestável da sua fidelidade ao serviço
colaboradores seus, Epafras e Tíquico, e só poderia ser feita pelo Senhor.
se refere aos dois como fiéis ministros (Cl
1.7; 4.7). A fidelidade é um requisito 3. A avaliação de Deus(1 Co 4.5)
indispensável, tanto ao ministro como ao Deus já planejou um dia quando
mordomo. É uma contradição que o "trará à plena luz as coisas ocultas das
servo seja infiel, e o mordomo não seja trevas” e “manifestará os desígnios dos
confiável (Mt 24.45-46). Quando o corações”. Ele julgará não apenas o que
Senhor voltar, cobrará dos Seus obreiros os olhos veem, mas o que não é visível e
a fidelidade. não se pode conhecer, porque se passa
no recesso da alma. Depois de avaliar,
III. A avaliação dos obreiros {1 Co segundo o Seu critério, Deus
4.3-5) recompensará os ministros e
Os coríntios, em decorrência do seu despenseiros do evangelho. Por isso, é
espírito de partidarismo, haviam feito

27
mais prudente não julgar “antes do
tempo”.
O objetivo de Paulo, no texto que ora Para Pensar
observamos, é mostrar que, por sermos
pecadores, não podemos avaliar Qual a verdadeira identidade de um
devidamente o valor e o mérito da vida e servo de Deus? Por que Paulo queria que
do ministério dos outros. E porque a igreja de Corinto o visse como um
somente Deus pode fazer o julgamento "ministro" e um "despenseiro" de Deus?
correto, no dia já determinado, é não
somente destrutivo, mas também Por que o apóstolo Paulo destacou a
ridículo causar divisões na igreja, "fidelidade" como a principal virtude de
discutindo sobre quem é o servo que um servo de Cristo? Compartilhe com
merece maior honra. seus colegas na classe.

Conclusão Qual a finalidade de avaliar um obreiro


John Maxwell, um dos principais ou líder? Qual a maneira certa de
nomes na formação de líderes, escreveu: mostrar-lhe um erro? Estabeleça e
“Paulo via a si mesmo como um líder- compartilhe qual é a melhor maneira
servo a quem se confiaram coisas para avaliar um líder.
sagradas (lCo 4.1), às quais tinha de
permanecer fiel (lCo 4.2). Nem a opinião
dos outros, nem a sua própria deveriam
fazê-lo vacilar (lCo 4.3). Líderes devem
servir pessoas. No entanto, devem
obedecer a Deus, mostrando-se fiéis às
coisas sagradas que lhes foram
confiadas” (.Bíblica da Liderança Cristã,
SBB, p.997).
Muitas vezes, o servo de Deus sofre
uma avaliação humana minuciosa, crítica
e desdenhosa. Qual deve ser a nossa
reação, se isso acontecer conosco?
Se o irmão tem o privilégio de ser
ministro, avalie-se a si mesmo. É saudável
que o faça, contanto que tenha como
padrão a palavra de Deus. Entretanto,
esteja certo de que, mesmo que seja
extremamente criterioso na avaliação, só
o Senhor pode fazê-la com toda a justeza,
porque Ele leva em conta as motivações e
os desígnios do coração.

28
LIÇÃO 7: Vaidade, humildade e paternidade espiritual
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: 1 Coríntios 4.6-21 # 1 Coríntios 4.14

Introdução
Os cristãos de Corinto não tinham Paulo dissera que haviam recebido
aprendido a humildade. O apóstolo os riquezas espirituais (lCo 1.4-9). Mas isso
confronta com esse problema, não lhes dava o direito de se
contrastando a vaidade deles com o vangloriarem. Entretanto, achavam-se
exemplo de humildade dos apóstolos, e “fartos”. Viviam uma vida de conforto e
lembra-os que os coríntios são seus filhos tranquilidade; tinham-se por “ricos”.
espirituais. Agiam como se já estivessem reinando,
mas o reino ainda não havia chegado! Por
I. A vaidade dos coríntios isso o apóstolo expressa o desejo de que
houvesse chegado o tempo, para
(lCo 4.6-8) também reinar com eles.
Os crentes coríntios eram orgulhosos “É fácil nos afeiçoarmos a um líder
e vaidosos. A causa das divisões na igreja espiritual. Quando alguém nos ajuda é
era basicamente o orgulho (lCo 1.12; natural sentirmos leais a tal pessoa. Mas
3.4,22). Orgulhavam-se da própria Paulo adverte contra a atitude de nos
sabedoria e dos seus líderes humanos, orgulharmos de nossos líderes favoritos.
que, porém, agiram humildemente entre Isso pode levar a causar divisões na
eles. Não havia razão para que fossem igreja. Qualquer líder espiritual
vaidosos. verdadeiro é um representante de Cristo,
Quando o apóstolo lhes disse: "Estas e nada tem a oferecer que Deus não lhe
coisas, irmãos, apliquá-asfiguradamente tenha dado” (Bíblia de Estudo Aplicação
a mim mesmo e a Apoio", referia-se às Pessoal, p.1587).
figuras dos agricultores (lCo 3.6-9), dos
construtores (lCo 3.10-15) e dos servos-
mordomos (lCo 4.1-5), que definem as
II. A humildade dos apóstolos
características dos ministros do Senhor. (ICo 4.9-13)
Desejava que aprendessem, pelas Aqui, Paulo contrasta a presunção dos
ilustrações e pelo exemplo que ele e coríntios com a condição dos apóstolos.
Apoio deram, a não se ensoberbecerem. Ele não está lamentando por um destino
Depois, com uma serie de perguntas iníeliz, mas dando a ideia de quanto os
(lCo 4.7-8), o apóstolo quis mostrar-lhes servos de Deus se empenham por amor
que, se um ministro cristão é mais ao evangelho.
talentoso do que outro, é porque Deus o
fez assim. Tudo o que ele possui - seus 1. "Espetáculo ao mundo" (1 Co 4.9)
talentos e dons - foi concedido pelo Primeiro, os apóstolos são
Senhor. Que motivo tem o ministro para comparados a criminosos condenados,
se envaidecer? como aqueles que eram obrigados a

29
desfilar diante dos olhares de uma O apóstolo Paulo já descreveu de
plateia, para serem objetos de zombaria. várias maneiras o ministro cristão. Aqui
Depois, são comparados àqueles ele o descreveu como um pai espiritual,
prisioneiros que eram jogados na arena tomando a si mesmo como exemplo.
para lutar contra gladiadores e feras,
observados por homens e anjos. 1. Ele admoesta (1 Co 4.14)
“Admoestar” significa “colocar na
2. "Loucos”(1 Co 4.10) mente”, com o propósito de advertir e
Talvez usando um tom sarcástico, reprovar. Isso pressupõe que alguma
Paulo aplica o adjetivo aos ministros de coisa está errada e precisa ser corrigida.
Cristo, em contraposição a “sábios”, que A admoestação é feita para levar a uma
os coríntios julgavam ser. mudança. Os pais espirituais têm a
Semelhantemente, eles se consideravam responsabilidade de admoestar com
fortes e nobres, enquanto os ministros amor aqueles que são seus filhos
eram tidos como fracos e desprezíveis. espirituais, usando como ferramenta a
Palavra, com vistas a viverem do modo
3. Sofredores (1 Co 4.11-12) digno de Deus (cf. lTs 2.10-12; 5.14; 2Tm
Os apóstolos sofreram por amor a 3.16-17).
Cristo. Eles viviam como marginalizados.
Enquanto os crentes coríntios se 2. Ele ama (1 Co 4.14)
comportavam como reis, os seus obreiros É natural que se espere que o pai
viviam como escravos. Aplicavam-se a espiritual ame os seus filhos na fé. Ele
eles as palavras de Jesus em Mateus 8.20. procura entendê-los tão profundamente
Na segunda carta aos Coríntios, Paulo faz quanto possível e deseja a sua saúde.
uma lista dos seus sofrimentos no Procura saber emque aspecto estão
ministério (2Co 11.23-28). fracos para fortalecê-los. Tenta descobrir
as suas necessidades a fim de supri-las.
4. "Lixo" e"escória" (1 Co 4.13) Paulo reclama dos coríntios o fato de não
As duas palavras podem ter o mesmo ser recíproco o amor que lhes dedicava
sentido: aquilo que é retirado numa (2Co 6.11-13; 12.14-15).
limpeza. Os termos eram aplicados
figuradamente a temidos criminosos, que 3. Ele gera(1Co 4.15)
frequentemente eram sacrificados nas Paulo ilustra aqui a unicidade da
cerimônias pagãs. paternidade. Assim como não há mais de
Assim Paulo chega ao clímax da um pai natural, não há também mais de
denúncia do orgulho e do espírito um pai espiritual. Os coríntios poderiam
faccioso dos coríntios. ter mais de um tutor em Cristo, mas não
dois pais. O pai, por definição, é um
III. As marcas de um pai homem que tem filhos. Um cristão não
espiritual (1 Co 4.14-21) pode ser pai espiritual se não gerar filhos.
Infelizmente, há muitos cristãos que

30
nunca foram agentes de Deus para o verdadeiro poder espiritual pertence ao
produzirem filhos na fé. reino de Deus.
O tom da visita do apóstolo
4. Ele é exemplo (1 Co 4.16) dependeria da atitude dos coríntios (lCo
Um pai espiritual deve também ser 4.2l). Se ainda demonstrassem espírito
exemplo para os filhos que gerou. Paulo rebelde, ele os visitaria com vara. Se,
podia dizer: “Sede meus imitadores, contudo, fossem humildes e submissos,
como também eu sou de Cristo" (lCo 1 ele os visitaria com o espírito de
l.l). Ele não apenas podia dizer: "Faça mansidão.
como eu digo", mas também podia dizer:
“Faça como eu faço”. Conclusão
David Prior dá ao comentário do texto de
5. Ele ensina (1 Co 4.17) 1 Coríntios 4.6-13 o título de “Reis e
Paulo ensinara aos coríntios por Mendigos” e, ao concluí-lo, diz o
dezoito meses (At 18.11). Eles tinham seguinte: “Todos os cristãos são, ao
sido profundamente alicerçados na mesmo tempo, reis e mendigos. Em
Palavra. O trabalho de Timóteo, que outras palavras, a experiência cristã é ser
Paulo lhes enviou, seria lembrar e rico em Cristo e, também, desprezado
reforçar o que haviam aprendido. É por pelo mundo (...) Vivemos em dois
meio do ensino da Palavra que os filhos mundos e, portanto, deve haver uma
espirituais são alimentados. tensão. Paulo descreve a verdadeira
condição humana nestes termos: 'Porque
6. Ele disciplina (1 Co 4.18-21) vos foi concedida a graça de padecerdes
Há ocasiões em que um pai espiritual por Cristo e não somente de crerdes nele
tem que disciplinar o filho. Quando um (Fp 1.29)”’ (Prior, p.70).
cristão se desvia da doutrina ou tem um Já parou para pensar que o discipulado é
mau comportamento, precisa de também uma forma de paternidade
correção. Alguns crentes coríntios haviam espiritual?
caído no pecado e “se orgulharam”,
como se pudessem escapar da Para Pensar
confrontação com Paulo (lCo 4.18). Ele
lhes assegura que iria mesmo visitá-los, Reflita em ICoríntios 4.7 na Nova Tradução
se o Senhor quisesse. Quando o fizesse, na Linguagem de Hoje: "Quem é que fez você
verificaria qual era o poder dos superior aos outros? Por acaso não foi Deus
orgulhosos, ou se tudo o que tinham quem lhe deu tudo o que você tem? Então
por que é que você fica todo orgulhoso como
eram discursos eloquentes, com base na
se o que você tem não fosse dado por Deus?”
sabedoria humana (l Co 4.19). Quando
Paulo ensina pelo exemplo. Ao mostrar a
afirmou que o “reino de Deus consiste humildade, evidencia o orgulho dos coríntios.
não em palavras, mas em poder", foi para De que maneira podemos fazer o mesmo nos
mostrar que o poder de Deus opera por dias de hoje frente ao orgulho do evangelho
intermédio de homens espirituais, e que tão antropocêntrico que tem sido pregado?

31
Quais atitudes você deveria desenvolver como pai? Quais atitudes você espera ver nele
em relação aos seus líderes se pensasse neles a partir dessa perspectiva?
como pais? Cite pelo menos três. E o líder
LIÇÃO 8: Disciplina na igreja
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: 1 Coríntios 5.1-13 # 1 Coríntios 5.7

Introdução público. Tal imoralidade sexual era uma


De ICoríntios 1.10 até 4.21, o apóstolo forma extrema de pecado, que não se via
Paulo dá instruções à igreja para evitar e nem mesmo entre os de fora da igreja.
resolver o problema da formação de
grupos divisionistas. Os dois capítulos 1. Imoralidade tal
seguintes, 5 e 6, contêm orientações No original grego é porneia, que
sobre a forma de como a igreja deve indica fornicação ou prostituição. Mas a
tratar alguns casos específicos, tais como palavra adquiriu o sentido de qualquer
os irmãos que praticam imoralidade e os forma de perversidade sexual, que inclui
processos nos tribunal. E provável que a o relacionamento sexual pré-marital ou
ordem empregada pelo apóstolo para dar extraconjugal, o relacionamento contra
solução aos problemas se deva ao fato de as leis da natureza (homossexualidade),
que antes era necessário a igreja de sexo com animais, etc. No caso
Corinto restabelecer a unidade, sem a específico, o ato imoral foi “possuir a
qual seria incapaz de enfrentar os casos mulher de seu pai”, ou a mulher que era
de indisciplina. sua madrasta. A relação sexual com a
Corinto era uma cidade contaminada madrasta era considerada tão vil quanto
pela imoralidade sexual, que logo o incesto, que tanto a lei mosaica (Lv
contagiou a igreja. Um irmão 18.8; Dt 22.30; 27.20) como a romana
comprometeu a posição cristã, mediante condenavam.
o desvio sexual, e a igreja agiu com
tolerância e condescendência. Isso 2. A reação da igreja (1 Co 5.2)
originou severa censura da parte de Os cristãos de Corinto não reagiram
Paulo. como deviam. Tiveram atitude arrogante
e insensível diante da situação. Em vez de
I. A exposição do problema (1 Co lamentarem, mostraram-se envaidecidos.
5.1-2) Podiam ter aplicado disciplina ao
Ao tomar conhecimento da transgressor, mas não o fizeram. Em vez
transgressão moral que tinha sido de andarem gloriando- -se de seus líderes
cometida, o apóstolo não usou de meias prediletos ou da abundância dos seus
palavras para referir-se a ela, e logo dons espirituais, deviam “en- cher-se de
sugeriu à igreja a aplicação de disciplina. vergonha e lançar fora da comunhão o
A expressão "geralmente, se ouve que culpado de tamanha vileza”, porque “a
há entre vós” dá a entender que um glória da igreja cristã consiste... na pureza
membro da igreja havia cometido um moral e na vida exemplar dos seus
grave pecado que era do conhecimento membros” (Erdman, p.5l).

32
3. Disciplinar para a correção do
II. A necessidade da disciplina transgressor (ICo 5.5)
(1Co 5.2-13) A expressão “afim de que o espírito
seja salvo no Dia do Senhor Jesus"
Opondo-se à indiferença dos indicava a necessidade da aplicação da
coríntios, o apóstolo sugeriu uma disciplina, que devia ser feita com amor e
providência. Embora “ausente em visar a correção (Hb 12.4-11). A exclusão
pessoa”, ele tinha feito o julgamento não deve ser um fim, mas um meio para
“como se estivesse presente" (lCo 5.3), alcançar um fim, que é a restauração do
“para que seja tirado do vosso meio disciplinado à comunhão da igreja. E
quem tamanho ultraje praticou” (lCo 5.2- então, "no Dia do Senhor", ele será
3). E então ensinou como a igreja deveria contado entre o povo de Deus.
fazer. Importante. Precisamos lembrar que
Paulo tinha “autoridade apostólica” para
ordenar a disciplina desse membro da
1. Disciplinar é atribuição da igreja (1
igreja em Corinto com estas palavras:
Co 5.4) “entregue a Satanáspara a destruição da
Paulo propôs que os irmãos se carne” (ICo 5.5). Hoje, quando a igreja
reunissem e, com base no que havia precisa excluir um de seus membros, não
ensinado (o seu “espírito”, lCo 5.4) e na significa que ela está entregando-o a
autoridade do Senhor, aplicassem a Satanás para a destruição da carne. Os
disciplina (Mt 18.18-20). É interessante motivos da exclusão podem ser outros, e
notar que Paulo nada disse a respeito da a pessoa pode estar em comunhão plena
mulher, que provavelmente não era com Deus em outra igreja.
cristã, e por isso estava fora do alcance
da disciplina eclesiástica.
III. A razão para a disciplina(ICo
2. Disciplinar com autoridade (1 Co 5.6-8)
Há pecados que exigem uma severa
5.5)
disciplina, porque as conse-quências de
No caso específico, o transgressor
não disciplinar podem ser gravíssimas. O
deveria ser "entregue a Satanás para a
pecado possui uma malignidade
destruição da carne” (ICo 5.5). Essa frase
espiritual e, se não for removido,
sugere que a disciplina implicava
infectará toda a comunidade cristã.
excomunhão ou exclusão completa da
comunhão com a igreja local. Fora da
igreja está a esfera onde o inimigo atua
1. A impureza contamina (1 Co 5.6)
com maior liberdade (ljo 5.19), e o A soberba dos coríntios em não
aplicar a disciplina era perigosa. Assim
transgressor ficaria exposto às investidas
como basta uma pequena quantidade de
de Satanás, para sofrer as consequências
fermento para levedar uma enorme
do pecado no seu corpo físico.

33
quantidade de massa, o pecado é má relação com pessoas imorais. Paulo não
influência que contagia a muitos. quis dizer que não tivessem contato
social com tais pessoas, pois a
2. Deve-se expurgar o mal (1 Co 5.7) convivência com elas era inevitável.
“Os velhos hábitos não são apenas
maus - são corruptores. Exatamente 2. A associação com os impuros na
como o fermento, eles agem até permear igreja (ICo 5.11)
tudo” (Morris, p. 71).A única coisa a fazer "Mas, agora" o apóstolo esclarece
é livrar- -se deles. Os coríntios já que a associação deveria ser evitada com
pertenciam a uma nova massa, sem o transgressores crentes que não se
fermento da impureza, e assim deviam arrependiam dos seus pecados, isto é,
preservar-se, pois Cristo já os havia “alguém que, dizendo-se irmão"
libertado do poder do pecado mediante a praticasse atos de impureza e de avareza,
Sua morte. permanecesse na idolatria, fosse
maledicente, se excedesse na bebida e
3. Deve-se celebrar a pureza (1 Co roubasse. Se continuassem nessas
5.8) práticas, os membros da igreja não
A vida cristã é comparada a uma festa deviam manter relações sociais com eles.
contínua. Convém celebrá-la, não de "Com esse tal, nem ainda comais" não é
acordo com os padrões da velha vida, uma referência à participação da ceia do
que já foram abandonados, mas com os Senhor, conquanto estivesse também
novos modelos estabelecidos por Cristo - proibida, mas às refeições comuns. O
os pães “asmos da sinceridade e da princípio que Paulo quer deixar é que
verdade” - isto é, com motivos sinceros e “não deve existir amizade chegada com
com atos verdadeiros. ninguém que se proclama cristão, mas
cuja vida desmente a sua profissão de fé”
IV. A esfera da disciplina (1 Co (Morris, p.74).
5.9-13)
3. A diferença entre os de dentro e
É tarefa da igreja disciplinar o os de fora (1 Co 5.12-13)
impenitente. Nesses versículos estão Não é função da igreja disciplinar os
indicados alguns tipos de pecados que de fora. O julgamento deles deve-se
requerem a disciplina e o modo como a deixar por conta de Deus. Mas o
disciplina deve ser aplicada. julgamento dos de dentro é um dever
eclesiástico. Ao discipliná-los com a
1. A associação com impuros do exclusão, a igreja tira-lhes o privilégio da
mundo (ICo 5.9-10) comunhão dos santos, confiando-os ao
Numa carta anterior, hoje perdida, julgamento de Deus, como se fossem “os
Paulo já havia advertido a igreja coríntia de fora”.
quanto à associação com a impureza. O objetivo da disciplina eclesiástica é
Entretanto, os coríntios entenderam que restaurar os transgressores, preservar a
tinham sido proibidos de qualquer pureza moral da igreja e também

34
defender a própria reputação perante o mas filhos ilegítimos. No caso dos nossos
mundo. Não é tarefa fácil. pais humanos, eles nos corrigiam, e nós
V. Os passos da disciplina (Mt os respeitávamos. Então devemos
18.15-20) obedecer muito mais ainda ao nosso Pai
celestial e assim viveremos. Os nossos
Jesus Cristo, o Senhor e Mestre da pais humanos nos corrigiam durante
igreja, ensinou os passos da disciplina na pouco tempo, pois achavam que isso era
igreja em Mateus 18.15-20. certo; mas Deus nos corrige para o nosso
Primeiro passo: “Entre ti e ele só” (Mt próprio bem, para que participemos da
18.15). Se o problema puder ser resolvido sua santidade. Quando somos corrigidos,
somente entre as duas pessoas, os dois isso no momento nos parece motivo de
casais ou as duas famílias, está resolvido. tristeza e não de alegria.Porém, mais
Segundo passo: Leve uma ou duas tarde, os que foram corrigidos recebem
testemunhas (Mt 18.16). como recompensa uma vida correta e de
Terceiro passo: Se não resolver, leve- paz".
o à igreja (Mt 18.17).
Quarto passo: Se recusar ouvir a Para Pensar
igreja é porque não quer comunhão; e
quem não quer comunhão está sujeito à É impactante a afirmação de Paulo:
exclusão (Mt 18.17). "imoralidade sexual tão grande, que nem
mesmo os pagãos seriam capazes de
praticar" (1 Co 5.1 NTLH). 0 que isso nos
Conclusão leva a pensar?
As próprias palavras de Deus em
Hebreus 12.5-11 (Nova Tradução na Você concorda que disciplinar é uma
Linguagem de Hoje) vão concluir esta atribuição da igreja? Por quê? Qual a sua
lição. postura quanto à disciplina quando você
“Será que vocês já esqueceram as está envolvido ou quando algum irmão de
palavras de encorajamento que Deus lhes sua igreja está envolvido?
disse, como se vocês fossem filhos dele?
Pois ele disse: Preste atenção, meu filho, Disciplina na igreja não é castigo e nem
quando o Senhor o castiga, e não se vingança. A principal razão é a restauração
desanime quando ele o repreende. Pois o do cristão faltoso à comunhão da igreja. Em
Senhor corrige quem ele ama e castiga sua opinião, quais atitudes práticas podem
quem ele aceita como filho. Suportem o demonstrar essa verdade ao membro que
sofrimento com paciência como se fosse está sendo disciplinado?
um castigo dado por um pai, pois o
sofrimento de vocês mostra que Deus os Qual a diferença entre conviver com o
mundo e se associar com os impuros?
está tratando como seus filhos. Será que
existe algum filho que nunca foi corrigido
Procure um irmão e liste com ele maneiras
pelo pai? Se vocês não são corrigidos
que se podem aplicar a disciplina na igreja
como acontece com todos os filhos de com amor. Aproveite e faça também uma
Deus, então não são filhos de verdade, lista do que deve ser evitado.

35
36
LIÇÃO 9: Processos no tribunal
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: 1 Corfntios 6.1-8 # 1 Corintios 6.5

dentre os crentes coríntios, pensar que


INTRODUÇÃO podia submeter um irmão a juízo diante
Depois de Paulo declarar a de um tribunal civil. Aqueles que
necessidade que a igreja tinha de julgar e conhecem a verdadeira justiça agem com
excluir do seu meio certo membro incoerência quando recorrem a homens
transgressor, passou a considerar outra que não a conhecem, para julgar
falta cometida pelos cristãos coríntios: o demandas contra outros irmãos.
ato de levarem suas questões aos
tribunais civis. Ele forneceu, então,  Mais uma vez a igreja em Corinto
algumas instruções que são de valor para demonstra imaturidade ao não
a igreja ainda hoje, usando de perguntas considerar o fato de que os
retóricas para ajudar a igreja a refletir "injustos" não são salvos, e não
sobre os próprios atos. têm o discernimento espiritual
A segunda desordem é o problema mencionado em ICoríntios 2.14.
dos litígios entre os irmãos levados a
tribunais civis (6.1-8). Paulo disse ser II. Ignorância da posição (1 Co
vergonhoso o fato de os coríntios 6.2-4)
contenderem perante juízes não cristãos,
e lhes mostra que a atitude deles era Os cristãos que levavam as demandas
devida ao orgulho e à falta de percepção contra cristãos aos tribunais se
da condição que deveriam ter para esqueciam da nobreza da posição deles
resolver entre si as questões. em Cristo. Quando Cristo voltar, Ele será
Por que não se deve levar outro o juiz (jo 5.22). Mas por causa da nossa
cristão a um tribunal? A seguir, algumas união com Ele, o apóstolo afirma que
razões. haveremos de julgar o mundo e os
próprios anjos (cf. 2Pe 2.4; Jd 6), no
I. Incoerência (1 Co 6.1) porvir. Portanto, devemos ser capazes de
dar solução aos problemas cotidianos.
"Outra coisa: como vocês ousam levar Não é preciso sair do âmbito da igreja
um irmão ao tribunal? Se acham que para conseguir o parecer de alguém que
foram prejudicados, faz sentido levar o seja imparcial. E melhor proceder assim
caso a um tribunal que nada sabe dos do que escolher como juízes a homens
caminhos de Deus, em vez de levá-lo à que a congregação não reconhece,
família da fé” (lCo 6.1, A Mensagem, quanto ao discernimento espiritual.
Bíblia em Linguagem Contemporânea).
Paulo expressou indignação com a  Martinho Lutero disse que "a
pergunta contida nesse versículo. Ele igreja é o freio moral do mundo".
estava surpreso pelo fato de alguém,

37
Entende que isso é verdadeiro verdadeiramente cristã: sofrer “antes a
hoje? Porquê? injustiça” e sofrer “antes o prejuízo” (cf.
Mt 5.38-42). Em vez disso, os coríntios
III. Desprezo pela sabedoria (1 Co estavam praticando injustiça e
6.5-6) provocando dano aos próprios irmãos.
Na época em que a epístola foi
Os coríntios se orgulhavam da escrita, a justiça pública funcionava de
sabedoria deles. Por isso, o apóstolo lhes modo diferente. Os juízes ficavam à porta
perguntou se não havia entre eles um da cidade, onde eram procurados para
sábio que pudesse julgar as questões. Em dar solução às demandas. E os cristãos
outras palavras, Paulo indagou se não se coríntios não se valiam da sabedoria
encontrava no seio da igreja, pelo menos cristã orientada pelo Espírito, mas
um irmão capaz de ajudar a tomar uma procuravam tais juízes, a fim de
decisão ou a encontrar uma solução encontrar solução para o litígio entre
amigável no conflito entre dois irmãos. irmãos. Hoje, a justiça comum está
Certamente havia. Mas o orgulho e o também ao nosso serviço e não é errado
espírito litigioso impediam que valermos dela. Mas, no caso de litígio
resolvessem os problemas entre eles entre irmãos, é sempre melhor buscar o
mesmos. acordo no contexto da igreja e, apenas
em último caso, levar a questão aos
 Qual a melhor maneira de tribunais civis. Quando isso vier a
resolver conflitos? Pense quais os acontecer, a comunidade cristã já deve
fatores que levam uma pessoa a ter julgado e punido a parte culpada.
procurar ajuda fora da igreja para Infelizmente, crentes “estão fazendo
resolver suas questões. Se alarde dos seus fracassos” quando
possível, faça uma lista de apresentam queixas contra irmãos em
atitudes saudáveis que devemos tribunais. “Estão ‘lavando roupa suja em
ter para solucionar conflitos da público’. Os de fora rapidamente se
maneira bíblica. Se você precisa arremetem sobre a menor incoerência do
resolver um conflito, ou perdoar, cristão ou da igreja; daí os escândalos
ou pedir perdão a alguém, com os clérigos (líderes eclesiásticos)
procure essa pessoa ainda nesta serem uma matéria tão atrativa para os
semana. jornais. Naturalmente isso não é motivo
para varrermos toda a sujeira para
debaixo do tapete, fingindo que os
IV. Derrota (1 Co 6.7-8) cristãos são todos maravilhosamente
santos. Mas há lugar para uma discrição
A atitude de recorrer a tribunal para piedosa e um devido sentimento de
resolver as questões entre irmãos era, vergonha diante dos fracassos dos nossos
em si mesma, uma “completa derrota” irmãos em Cristo” (Prior, p. 115).
para a igreja. Mesmo que um irmão  Que consequências a igreja local
tivesse razão na demanda, não deveria pode sofrer quando um cristão
fazê-lo. A solução era tomar uma atitude leva uma questão contra outro a

38
um tribunal civil? Quais são as
alternativas para que não o faça?

Conclusão

“A sociedade instalou um sistema


legal no qual as discordâncias podem ser
resolvidas nos tribunais. Mas Paulo
declara que os cristãos não devem ir a
um tribunal secular para solucionar suas
diferenças. Como cristãos, nós temos o
Espírito Santo e a mente de Cristo, então
por que deveríamos nos dirigir àqueles
que não possuem a sabedoria de Deus?
Por tudo o que recebemos como crentes
e por causa da autoridade que teremos
no futuro para julgar o mundo e os anjos,
devemos ser capazes de lidar com as
eventuais disputas” (Bíblia de Estudo
Aplicação Pessoal, p.1589).

39
LIÇÃO 10: Antes e agora
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: 1 Corfntios 6.9-11 # 1 Corfntios 6.11

INTRODUÇÃO
A segunda parte do capítulo 6 de 1 1. Práticas sexuais viciosas
Coríntios (versículos 9 a 20) é uma (1 Co 6.9)
extensão do capítulo 5, no qual o A intenção de Paulo aqui não é oferecer
apóstolo Paulo iniciou a exortação sobre uma lista completa de pecados sexuais,
a moralidade sexual. A atitude de mas mostrar que aqueles que em tais
arrogância da igrej a, diante daquele caso práticas perseveram não pertencem a
desagradável, era um sinal de que os Cristo.
cristãos coríntios podiam vir a ter outro a. Impuros ou fornicadores (1 Co 5.1) -
comportamento indevido quanto ao Pessoas não casadas praticantes de
sexo. Era necessário, portanto, que relações sexuais.
fossem ainda instruídos a agir como b. Idólatras - Referência aos que
pessoas que experimentaram o poder praticavam a imoralidade sexual
transformador do Espírito Santo e que permitida pelo culto pagão de Corinto.
aprendessem a usar o corpo para servir C. Adúlteros - Pessoas casadas que
ao reino de Deus. praticavam sexo extraconjugal.
O próprio apóstolo Paulo é um d. Efeminados e sodomitas - Os que se
exemplo da transformação que Deus deixam usar de modo antinatural e os
pode fazer em uma pessoa: "a mim, que, homossexuais ativos. Essas distorções
noutro tempo, era blasfemo, e sexuais predominavam entre os gregos e
perseguidor insolente. Mas obtive os romanos, e o apóstolo Paulo não
misericórdia, pois o fiz na ignorância, na queria que os cristãos se assemelhassem
incredulidade" (lTm 1.13). aos que as praticavam.

I. Antes (ICo 6.9-10)


2. Pecados contra outros
(1 Co 6.10)
Paulo começa a instrução aos Agora Paulo enfatiza, essencialmente, as
coríntios fazendo-os lembrar o que atitudes pecaminosas que prejudicam
alguns tinham sido antes e o que tinham terceiros.
passado a ser.
a. Ladrões - Os que tomam para si
Injustos são pessoas excluídas do
coisas que não lhes pertencem. A palavra
reino de Deus. Estes, devido ao seu
“ladrões”, no original, tem o sentido de
caráter, não o herdarão. Perdem a
cleptomaníacos.
herança pois não nasceram de novo, que
é a condição para que vivam o reino no b. Avarentos - Pessoas egoístas,
presente e o herdem no futuro (jo 3.1-6). mesquinhas, apegadas ao que têm,
Há comportamentos incompatíveis com o incapazes de gestos de generosidade.
reino.

40
c. Bêbados - Alcoólatras. Hoje em dia, o 1. Lavados
alcoolismo é um vício de pessoas de Referência à regeneração. Deus nos
todas as idades. Torna-se mais comum salvou segundo a Sua misericórdia
encontrar adolescentes e até pré- - “mediante o lavar regenerador e
adolescentes alcoólatras. O dano que o renovador do Espírito Santo" (Tt 3.5).
álcool causa ao viciado e à família é Regeneração é a obra de recriação de
incalculável. Deus (2Co 5.17). Quando somos
d. Maldizentes - Pessoas que destroem "lavados” por Cristo, nascemos de novo
com o que falam. Maldizer é um pecado (Jo 3.3-8).
que decorre do coração cheio de ódio, e
2. Santificados
causa miséria, dor e desespero aos que
Refere-se a um novo comportamento.
são suas vítimas.
Ser santificado é ser tornado santo no
e. Roubadores - Pessoas que interior e ser capaz de, sob o poder do
praticam extorsão, desviam recursos, Espírito, ter uma vida justa
fazem tráfico de influência, exteriormente. Antes de ser salvo por
comercializam mercadoria falsa e muitos Cristo, o homem não tem capacidade
outros tipos de roubo que eram comuns para uma vida santa. Mas em Cristo,
nos tempos de Paulo. Será que não os recebe nova natureza e pode
temos também em nossos dias? experimentar vida renovada (Rm 12.1-2).
 Você tem se envolvido com algum
pecado? Reflita sobre o que Paulo diz
3. Justificados
nesse trecho e estabeleça passos para se Diz respeito a um novo estado diante de
livrar. Se você não está envolvido, então, Deus. Em Cristo, fomos justificados. A
reflita e fique preparado para ajudar justiça divina foi creditada a nós (Rm
alguém. 4.22-25). Deste modo, aos olhos de Deus,
somos justos, pelos méritos do Seu Filho
(Rm 8.33).
Uma vida assim - lavada, santificada e
II. Agora justificada - deve produzir um modo
(1Co6.11) transformado de existência. Era,
portanto, inaceitável que alguns crentes
"Tais fostes alguns de vós" - certos coríntios tivessem atitudes e
crentes da igreja de Corinto eram ex- comportamento semelhantes aos
fornicadores; ex-adúlteros, ex-ladrões - daqueles que estão fora do reino de
“mas” haviam experimentado a Deus.
transformação que o evangelho
promove. Não nos esqueçamos de que  Os três fatos mencionados por
cada um de nós (que é crente) é um Paulo da obra de Deus são parte de nossa
pecador que abandonou as práticas salvação. Somente aqueles que estão em
condenáveis porque foi salvo por Cristo. Cristo Jesus conseguem se sentir tão
O apóstolo Paulo usa três verbos para limpos após um passado tão sujo. Jesus
descrever o contraste entre o antes e o disse em João 15.2: "Vós já estais limpos
depois. pela palavra que vos tenho falado".

41
Diante dessa afirmação, responda: o que
tem poder para limpar a nossa vida? Por
quê?
Conclusão

As igrejas evangélicas estão repletas de


pessoas que foram “ex” (essa preposição
significa "movimento pamforcij tirado
de”, para indicar que uma pessoa deixou
de ser algo. Dicionário Eletrônico
Houaiss). Ex-idólatra, ex-viciado, ex-
ladrão, etc. Entretanto, o mais
importante é o que somos agora em
Cristo Jesus: “lavados, santificados e
justificados em nome do Senhor Jesus
Cristo”-, conforme o próprio Paulo
escreveu aos mesmos coríntios, "as
coisas antigas já passaram" (2Co 5.17).

42
LIÇÃO 11: De quem é o meu corpo?
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: ICoríntios 6.12-20 # 1 Coríntios 6.12

Introdução pela lei. Outras religiões prescrevem


regras que os homens têm que guardar
A liberdade em Cristo é uma verdade se querem ser salvos, e fazem da
enfatizada por Paulo (G15.1-13; Rm abstenção de coisas que consideram
6.14). .0 apóstolo havia ensinado isso aos ilícitas uma exigência para se obter a
coríntios, mas eles tinham pervertido a salvação. Mas não é assim com o
verdade para justificar os atos imorais cristianismo. O crente deve evitar as
praticados. coisas más, mas não para ter direito à
Outro argumento que talvez usassem salvação, que é recebida pela graça,
para fundamentar a atitude em relação mediante a fé (E f 2.8). Logo, se o crente
ao sexo era o filosófico. Justificavam-se, não está sujeito a um código de
dizendo que assim como comer era uma restrições, todas as coisas lhe são lícitas.
função biológica, praticar o sexo também
o era. Tal argumento combina com a 2. O conveniente
permissividade dos nossos dias? "Mas nem todas convêm’’- quer dizer
Como muitos fazem hoje, os crentes que nem tudo é útil ou aconselhável. Se é
de Corinto racionalizavam o pecado. verdade que o cristão não é privado de
Eram inteligentes e encontravam boas fazer certas coisas, também é verdade
razões para praticar as coisas erradas. que não pode estar desatento às
Além do mais, viviam numa sociedade questões morais. Há o que não é
imoral, onde a promiscuidade era expressamente proibido, mas deve ser
tolerada. rejeitado pelas consequências que advêm
Por essa razão, o apóstolo exprime- de tal prática.
lhes o princípio da liberdade cristã,
contido no versículo 12, e fala do que é 3. O autocontrole
permitido, conveniente, e da necessidade "Mas eu não me deixarei dominar por
do autocontrole. nenhuma delas’’. Essa frase enriquece o
princípio e lhe dá o sentido prático. O
I. O permitido, o conveniente e o crente é livre para fazer o que lhe agrada,
autocontrole porém, é necessário não se deixar
dominar por nada que seja
inconveniente. Noutra epístola, o
1. O permitido apóstolo Paulo adverte: "Opecado não
"Todas as coisas me são lícitas" pode terá domínio sohre vós; pois não estais
ter sido uma máxima que os coríntios debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6.14).
usavam para justificar a conduta Um dos pecados que provoca a
promíscua. Entretanto, o padrão de escravidão é o sexo ilícito, em todas as
conduta do cristão não é estabelecido suas formas.

43
Com o todos os outros pecados que corpo". Godet fez a seguinte síntese: “O
não são resistidos, os pecados do sexo se corpo é para Cristo, para lhe pertencer e
avultam e eventualmente corrompem para servi-lo; e Cristo é para o corpo,
não só a pessoa diretamente envolvida, para nele habitar e glorificá-lo” (citado
mas também pessoas inocentes do seu por Prior, p.103).
círculo de relacionamento. Infelizmente,
muitos cristãos não exercem o 2. A ressurreição do corpo (1 Co
autocontrole e são dominados pelos 6.14)
desejos carnais. O propósito de Deus para o corpo tem
dimensão eterna. Ele o ressuscitará. Tudo
"Não consegui controlar meu desejo." o que é verdade em relação a Jesus
0 que pensar do crente que assim se quanto ao destino do Seu corpo é
desculpa quanto ao pecado sexual verdade em relação a nós. Se Deus
cometido? Será que a pessoa é incapaz ressuscitou Jesus dentre os mortos, com
de controlar os próprios instintos? Como os cristãos ocorrerá o mesmo Pelo poder
você exerce esse controle em sua vida? 0 divino, nosso corpo será transformado e
que Paulo escreveu em 1 Coríntios 10.13? glorificado (Fp 3 .21).

II. O corpo é para o Senhor (1 Co 3. A união do corpo como Senhor


6.13-20) (1Co 6.15-18)
Paulo inicia com a pergunta retórica:
O pecado sexual não somente "Não sabeis?”, para levar os coríntios a
prejudica e domina, mas também entenderem que é fundamental a união
perverte, principalmente os planos de do crente com Cristo. Para ele, os cristãos
Deus para o Seu povo. O corpo do cristão estão unidos a Cristo de modo
é para o Senhor, é um membro de Cristo inseparável, pois são membros de Cristo,
e é templo do Espírito Santo. e por isso se tornou odiosa a prática
sexual corriqueira em Corinto (lC o 6.15).
1. O propósito do Senhor para o O apóstolo entende que a união
corpo (1 Co 6.13) sexual é tão íntima que faz, de dois
O Senhor tem um propósito para o corpos, um (lCo 6.16; Gn 2.24). Por isso, é
corpo dos Seus filhos. Essa é a razão por profanar o corpo o entregar-se ao sexo
que não podem ser tolerantes com ilícito, em quaisquer das suas formas. Os
qualquer tipo de imoralidade sexual. Os coríntios não haviam percebido as
coríntios estavam errados no modo de implicações da sua frouxidão moral, pelo
pensar em relação ao corpo. Julgavam que Paulo os advertiu com base num
que, se comer é uma função natural, a fundamento teológico que eles já
atividade sexual também o é. Paulo conheciam.
combate essa ideia, mostrando que o Mais do que ter o corpo unido a
estômago e os alimentos são transitórios. Cristo, os cristãos têm o espírito unido a
O corpo, porém, tem um fim diferente é Ele(lCo 6.17). “Nós, porém, temos a
"para o Senhor, e o Senhor, para o

44
mente de Cristo”, já havia dito Paulo aos do corpo. Houve um preço pago pelo seu
coríntios (lCo 2.16). resgate. E se tinha sido comprado por
Assim, a melhor atitude do cristão preço e agora pertencia a um novo
diante da impureza é fugir dela ( I C 06.I Senhor, importava que apenas a Ele
8). Essa fuga deve ser uma prática estivesse sujeito. E o novo Senhor deseja
consciente e constante, pois a cada dia o que todas as faculdades físicas dos Seus
homem e a mulher são tentados a servos expressem a Sua glória.
praticar sexo ilícito. Este último imperativo - “glorificai a
Deus no vosso corpo" - é muito mais
4. A habitação do corpo pelo Senhor desafiador e positivo. Compete a nós que
(1 Co 6.19) “revelemos positivamente, no uso do
O Senhor, pelo Seu Espírito, habita nosso corpo, a glória e, especialmente, a
em nosso corpo. “O nosso corpo não é santidade do Mestre celestial que de nós
simples invólucro orgânico de notável tomou posse” (Prior, p. 107).
composição: é templo do Espírito Santo”
(Prior p.106). Antes, Paulo havia dito que  Vamos pensar na pergunta que é o
toda a igreja de Deus em Corinto era título dessa lição: "De quem é o meu
templo de Deus, com uma advertência à corpo?" Qual é a sua resposta? que dizer
pessoa que o destruísse (lCo 3.16-17). dos cristãos que pensam assim: "o corpo
Com o uso da mesma metáfora, lembra é meu e eu faço dele o que quiser?"
aos cristãos que o corpo dos salvos é
também consagrado templo do Espírito Conclusão
Santo, que de Deus já havia recebido.
Isso implica dizer que onde quer que “Todas as coisas me são lícitas" e "os
estejamos, “somos portadores do Espírito alimentos são para o estômago, e o
Santo, templos em que apraz a Deus estômago, para os alimentos" podem ser
habitar” (Morris, p.82). Em função disso, também frases usadas hoje para
toda a forma de conduta que não seja racionalizar o pecado do sexo e aprovar a
apropriada para o templo de Deus deve permissividade. Paulo combate os dois
ser eliminada, pois “nada que seja argumentos mostrando que fazer sexo de
inconveniente no templo de Deus é forma descontrolada não é a mesma
decente no corpo do filho de Deus” coisa que comer.
(Morris, p.83). A relação sexual é permitida entre
Uma vez que o crente é templo do marido e mulher desde que não
Espírito, nunca pode pensar e agir de atrapalhe a intimidade com Deus. O sexo
forma independente, como se deve ser feito dentro de limites, pois
pertencesse a si próprio - “não sois de embora tudo seja permitido, nem tudo
vós mesmos", diz o apóstolo. convém. E, se o corpo pertence ao
Senhor, por direito de redenção, não se
5. A redenção do corpo(1 Co 6.20) deve permitir que nada ou ninguém o
Esse foi o argumento final de Paulo domine, a não ser o próprio Senhor que
para convencer da necessidade da pureza

45
pelo Seu Espírito, habita no corpo do
cristão.

46
LIÇÃO 12: Celibato e casamento
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: 1 Coríntios 7.1-16# 1 Coríntios 7.2

Introdução verdade. Ele tinha o casamento como


regra para todos os crentes e não via no
1 Coríntios capítulos 7 a 11 contém celibato nenhuma virtude que pudesse
respostas a questões práticas que os sobrepor-se ao casamento. É preciso tei
cristãos de Corinto fizeram a Paulo, numa isso em mente para que se faça uma
carta provavelmente enviada por meio interpretação correta do que é dito sobre
de Estéfanas, Fortunato e Acaico (lCo o assunto.
16.17). A primeira questões era a
respeito do casamento, uma área na qual 1. Vantagem e desvantagem do
eles tinham sérios pro blemas. Como celibato(ICo 7.1-2)
tantos outros, o problema matrimonial
refletia a imoralidade da sociedade O apóstolo não sugeriu que o celibato é
corrupta em que viviam e da qual ainda mais santo do que o casamento. Apenas
não estavam plenamente dissociados. mostrou que Deus conferiu a alguns o
dom especial de permanecerem solteiros.
Mas é preciso ressaltar que o
apóstolo não estava discutindo o a. 0 celibato é bom (ICo 7.1). A frase
casamento do ponte de vista moral, mas "que o homem não toque em mulher”se
sim da sua conveniência. Ele respondeu a refere ao casamento. Isso é “bom”
perguntas definidas, cujc conteúdo porque os solteiros estão livres para
desconhecemos, e fez referência a servir a Deus, sem as preocupações
condições que eram locais e temporais relacionadas ao casamento (lCo 7.32-34).
Contudo, os princípios que dão base ao
b. 0 celibato é perigoso (lCo 7.2). Por
seu ensino são invariáveis, razão pela qua
outro lado, o celibatário corre o risco de
contêm lições de valor permanente para
contaminar-se, porque o celibato
nós.
acarreta grandes tentações à impureza
sexual. Por essa razão, é melhor que o
I. Casar ou permanecer solteiro?
solteiro se case (1 Co 7.9), e que “cada
(1 Co 7.1-9) um tenha a sua própria esposa, e cada
uma, o seu próprio marido” - o que
Paulo é, às vezes, injustamente
implica monogamia.
condenado como um super-religioso que
não dava à mulher o devido valor e
desaconselhava o casamento. Não é

47
2. 0 casamento e a abstinência (ICo pode abster-se do ato conjugal, mas que
7.3-5) essa abstinência é uma permissão, e não
um mandamento.
No casamento, cada cônjuge tem os seus
próprios direitos e obrigações para com o O desejo de Paulo, em relação aos
outro. solteiros, era que se mantivessem assim,
“como também eu sou". Não é possível
a. A mutualidade dos deveres conjugais. determinar se o apóstolo era solteiro,
Cada um deve conceder ao outro “o que como admitem alguns estudiosos; ou
lhe é devido", isto é, cumprir as suas viúvo, na ocasião em que escreveu a
obrigações conjugais, pois o casamento epístola, como afirmam outros. "No
estabelece uma dependência mútua. entanto”, ressalta ele, alguns recebem de
Tanto o marido como a mulher devem Deus a graça para serem celibatários;
reconhecer a sua interdependência, em mas Ele chama outros para se casarem.
relação à utilização mútua do corpo. Trata-se de um dom e não convém
estabelecer nenhuma regra aplicável a
b. A abstinência temporária. Nem o
todos, indistintamente.
homem nem a mulher podem negar ao
seu cônjuge o direito em relação ao Novamente o apóstolo expressou o
corpo. Há apenas uma situação em que a desejo de que os solteiros(as) e
abstinência se justifica: “afim de se viúvos(as) continuassem "no estado em
dedicarem à oração”, e mediante duas que também eu vivo" (ICo 7.8 - solteiro
exigências: primeiro, "por mútuo ou viúvo). Entretanto, isso dependia de
consentimento" e, segundo: “por algum terem recebido o dom do celibato. Se
tempo". Logo devem ajuntar-se não o haviam recebido, não teriam
novamente, para que não fiquem sujeitos condições de dominar os desejos e
à tentação de Satanás. viveriam “abrasados” - com o desejo
ardente e no perigo de cair em pecado.
3. 0 celibato é um dom (ICo 7.6-9)
Então, recomendou “que se casem” (lCo
Se Paulo usou a expressão “e isto vos 7.9).
digo" (ICo 7.6) referindo-se ao conceito
 O apóstolo deixa claro que não é o
geral de casamento, ele quis ensinar que
estado civil que tem santidade, mas sim a
os cristãos tinham a permissão para
pessoa. Escreva numa folha à parte, o
casar, mas não eram obrigados a fazê-lo.
que você deve fazer para desenvolver
Se, entretanto, a expressão se refere ao
uma vida matrimonial santa. Se você for
que disse no versículo 5, afirma que, em
solteiro, liste as atitudes que deve ter um
determinadas circunstâncias, o casal
solteiro santo.

48
II. Casamento e separação (ICo 2. Conselhos aos cristãos casados com
7.10-16) não cristãos(1Co 7.12-16)

Nesse trecho, Paulo deu ordens com a


Provavelmente havia na igreja de Corinto
ressalva: "digo eu, não o Senhor”. Não
pessoas convictas de que, ao aceitarem o
queria dizer que o seu ensino fosse
evangelho, podiam desfazer-se do
contrário ao que o Senhor teria
vínculo do casamento. Por isso, Paulo
ordenado, nem que fosse desautorizado,
traçou-lhes algumas diretrizes.
mas que não podia citar um
1. Conselhos aos cônjuges cristãos mandamento específico que Jesus tivesse
(1Co7.10-11) dado (lCo 7.10).

Quando ambos os cônjuges são cristãos, a. Não se separem (lCo 7.12-13). O


devem atender ao que foi ensinado pelo ensino foi dirigido àqueles que se
Senhor, durante o Seu ministério na terra tornaram crentes após o casamento. Um
(Mt 5.32; 19.9; Mc 10.1-12). Ele dera um dos cônjuges era crente e o outro não.
mandamento explícito acerca do Nesse caso, o consentimento em
divórcio, que é proibido, exceto no caso conviver com o crente ou de separar-se
de infidelidade de um dos cônjuges. O dele teria de ser da iniciativa do que não
conselho geral dado pelo apóstolo é que era crente. Ao crente cabia aceitar a
“a mulher não se separe do marido”. Em decisão tomada pelo seu cônjuge.
circunstâncias extremas, entretanto,
b. 0 cônjuge incrédulo e os filhos são
pode ser necessário que isso venha a
santificados (lCo 7.14). Havia uma grande
acontecer. Nesse caso, a instrução é para
vantagem em o crente permanecer com
que “não se case ou que se reconcilie
o seu cônjuge incrédulo. A sua presença
com o seu marido”. A separação entre
exerceria uma influência santificadora.
cônjuges cristãos “não rompe o vínculo
Não significa que o marido ou a esposa
matrimonial; antes, dá oportunidade
incrédulos seriam salvos por isso, mas
para o Senhor curar as diferenças que
que estariam colocados em posição de
causaram o afastamento e restaurar
privilégio, assim como os filhos. Poderiam
ambas as partes à comunhão com Ele e
viver num lar onde um dos componentes
um com o outro” (MacDonald, p.493).
tinha, dentro de si, o Espírito Santo.
Quanto ao marido, recebe a ordem para
c. Quando o cônjuge incrédulo rompe o
não se apartar de sua mulher, o que
vínculo do casamento (1 Co 7.15-16). Se
significa não se divorciar dela, e não se
o cônjuge incrédulo preferisse a
abre nenhuma exceção.
separação ou o divórcio, o crente deveria

49
aceitar, certamente depois de ter feito o incerto que pudesse vir a salvar-se (1 Co
possível para impedi-lo. Então, o cônjuge 7.16).
crente “não fica sujeito à servidão”. Há
duas interpretações para essas palavras.  0 que sua classe pode fazer para
Uma é que “o cônjuge abandonado está ajudar casais da igreja que estão
livre para casar-se outra vez” (Morris, enfrentando dificuldades? 0 que pode ser
p.88). A outra é que o cônjuge crente, feito antes de o casal chegar a ponto de
mesmo quando abandonado por seu divorciar?
parceiro incrédulo, deve manter o vínculo
Conclusão
do casamento, na expectativa de que o
incrédulo se converta (lCo 7.16) e haja Destacamos algumas verdades do texto
condições para a reconciliação. Os que que estudamos.
defendem essa segunda opinião afirmam
que a única situação em que a Bíblia 1. Deus proíbe a poligamia - "cada um
permite o divórcio e o novo casamento é tenha a sua própria esposa e, cada uma,
quando uma das partes é culpada de o seu próprio marido".
infidelidade, segundo o ensino de Jesus
em Mateus 19.9 (MacDonald, p.494 e 2. A palavra de Deus reafirma a completa
Erdman, p.65). mutualidade dos deveres conjugais.

Parece-nos que, do ponto de vista das 3. Há situações em que os casais cristãos,


Escrituras, o vínculo matrimonial pode em comum acordo e por breve tempo,
ser dissolvido pela morte (Rm 7.2), pelo podem se abster das relações sexuais.
adultério (Mt 19.9), e quando o cônjuge
4. Os casais cristãos devem estar cientes
incrédulo toma a iniciativa de separar-se
da atividade de Satanás na área das suas
(lCo 7.15). Quando o vínculo é desfeito
relações sexuais.
em um desses casos, justifica-se o
divórcio, e o cristão está livre para casar- 5. O celibato não é um pecado e, em
se de novo (MacArthur, p. 167). casos especiais, até desejável, para uma
dedicação exclusiva da sida ao Senhor.
A expressão "Deus vos tem chamado à
paz" (lCo 7.15) se referia a todo o 6. O divórcio de crentes casados com não
tratamento dado aos casamentos entre crentes precisa ser considerado de uma
crentes e incrédulos. Em alguns casos, perspectiva diferente do divórcio quando
isso significava conviver com o cônjuge os cônjuges são crentes.
incrédulo; em outros casos, não se opor à
separação proposta por ele, pois seria

50
LIÇÃO 13: Celibato e casamento
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: 1Coríntios 7.17-40 # 1 Coríntios 7.24

Introdução 1. O princípio estabelecido (1 Co


7.17-19)
David Prior lembrou que Paulo
estabelece três prioridades básicas Os cristãos devem andar conforme o
dentro da igreja, e todas elas permeiam chamado que receberam do Senhor. Se
os ensinamentos contidos no restante do foi chamado para o casamento, que
capítulo 7: “a necessidade de sermos assim viva; se foi chamado para o
firmes em qualquer situação; a celibato, que sirva a Deus nessa condição
necessidade de sermos flexíveis quanto (lCo 7.10-16). O princípio se aplica
às coisas materiais e a necessidade de também a outras situações da vida:
sermos livres de qualquer coisa que nos “Ande cada um segundo o Senhor lhe
afaste do único propósito que é agradar tem distribuído, cada um conforme Deus
ao Senhor” (Prior, p.136). o tem chamado” (lCo 7.17). Tornar-se
cristão não exige o rompimento radical
I. Casamento e liberdade cristã dos vínculos já formados.
(1Co 7.17-24)
Para ilustrar o princípio, o apóstolo
“Leve a vida que Deus lhe atribui”. Essa aborda a questão dos vínculos raciais. A
frase é emprestada do comentário que circuncisão era a marca distintiva do
Leon Morris faz desse texto (Morris, judeu. Os gentios, entretanto, não davam
p.89). Aqui aprendemos um princípio nenhuma importância ao ato. Paulo
básico para a vida cristã: como cristãos, instrui os cristãos a não darem atenção a
devemos aceitar, e com prazer, a essas distinções. Se um judeu se
situação na qual Deus nos tem colocado e convertia ao Senhor, não precisava
ficar alegres por servi-Lo em tal situação. desfazer-se da marca física da
Essa atitude implica reprimir o espírito circuncisão. Se, por outro lado, um
humano de rebeldia. Nós não precisamos incircunciso abraçava o evangelho, não
estar preocupados em mudar as era necessário que adquirisse a marca.
circunstâncias externas - sociais e civis - Essas diferenças externas deixavam de
em que vivemos, para servir a Deus. ser fundamentais. O que importa aos
convertidos, circuncisos ou incircuncisos,
é que exerçam “a fé que atua pelo amor”
(G15.6).

51
2. 0 princípio reafirmado (ICo 7.20- Todos os cristãos foram comprados por
24) Cristo pelo alto preço do Seu sangue.
Pertencem, portanto, ao Senhor, e não
O princípio do versículo 17 é afirmado de devem mais ser escravos espirituais de
outra maneira: “Cada um permaneça na ninguém (ICo 7.23). Provavelmente, o
vocação em que foi chamado” (ICo 7.20). que acontecia em Corinto é que crentes
O que Paulo ensina não é que o cristão novos eram influenciados por irmãos
deva continuar nos estados antigos, que insistiam que seguissem
inerentemente pecaminosos, os quais na certos padrões de conduta e preferências
conversão devem ser abandonados. Aqui culturais. Paulo demonstrou-lhes, então,
o apóstolo se refere àquilo que não é que Jesus Cristo é a única realidade para
errado em si mesmo. os homens, sejam judeus ou gentios,
escravos ou livres.
Agora o princípio é ilustrado com uma
questão social (1 Co 7.21). Se, sendo Por último, encontramos a reafirmação
escravo, o cristão foi chamado, não deve do princípio (lCo 7.24, já exposto nos
aborrecer-se indevidamente pelo fato de versículos 17 e 20). Cada um deve
ser escravo. Se Deus o chamou assim, Ele contentar-se em permanecer no estado
lhe dará graça para viver. Se, contudo, em que Deus o chamou para a salvação.
vier a oportunidade de tornar-se livre, Isso não significa que o homem não deva
que a aproveite. procurar melhores condições para viver,
mas sugere que tenhamos cautela em
Paulo apresenta uma argumentação
procurar mudança simplesmente porque
paradoxal a fim de provar que o estado
somos cristãos. “Paulo não está
externo do homem tem pouca
aconselhando uma resignação passiva,
importância. Quando o escravo é
uma aceitação a qualquer custo da
convertido ao Senhor, entra na gloriosa
ordem estabelecida” (Morris, p.92), mas
liberdade dos filhos de Deus - “é liberto
indica que o salvo pode permanecer
do Senhor”. Essa liberdade divina é muito
“diante de Deus”, sejam quais forem as
mais importante do que as circunstâncias
circunstâncias da vida.
exteriores. Por outro lado, quando uma
pessoa livre é convertida ao Senhor, “é "A porção que Deus tem para mim me
escravo de Cristo”. O que importa, seja deixará satisfeito". Você concorda com
para o escravo ou para o livre, é que essa frase? Compartilhe com outros na
ambos se tomam propriedade de um sala.
único Amo ao serem convertidos (Ef 6.5-
9; Fm 1.8-16).

52
II. Casamento e serviço cristão A crise não estava distante - “o tempo se
(1Co 7.25-40) abrevia” - e os valores humanos são
transformados, em tal situação (lCo 7.29-
Certamente Paulo tinha sido interrogado 31).
acerca das vantagens de permanecer
solteiro e opinou sobre o assunto (lCo 2. As preocupações dos casados
7.25). Continuando a responder as (ICo 7.32-35)
perguntas que lhe foram feitas (1 Co 7.1),
o apóstolo apresentou algumas razões Paulo reiterou a sua intenção de livrar os
para permanecer solteiro. crentes de preocupações em dias difíceis,
expondo algumas diferenças entre estar
1. A situação presente (1Co 7.26-31) cas Quem não é casado ou é sozinho
(viúvo) tem mais tempo e mente
Não podemos deixar de considerar o disponíveis para o serviço cristão. O
contexto político e social do século 1, ao casado, por sua vez, tem os encargos que
fazer a abordagem desse texto. Naquele são inerentes ao casamento. O homem
tempo os cristãos eram perseguidos. As tem deveres para com a esposa e ela,
loucuras do imperador Nero já se faziam para com o marido.
sentir no tratamento que lhes era
dispensado. A "angustiosa situação No versículo 35, o apóstolo fez a ressalva
presente” pode ser referência ao de que não estava coagindo os crentes
sofrimento iminente a que estavam co- ríntios a assumirem uma determinada
sujeitos os crentes corintios. Diante disso, postura. O que desejava era que
Paulo estabeleceu como princípio que estivessem mais desimpedidos para
cada um permanecesse como estava. Se servir ao Senhor, evitando as obrigações
estava casado, não se separasse e que o casamento impõe.
enfrentasse a situação; se estava solteiro,
assim ficasse, pois seria mais fácil encarar 3. A conveniência de casar a filha
o tempo presente.
(1 Co 7.36-38)
Entretanto, se quem é solteiro optar por
Na cultura judaica, cabia aos pais a
casar, que o faça, pois não há nada
decisão sobre o destino das filhas. O
pecaminoso nisso. Devem, porém, estar
mesmo costume prevalecia nas antigas
preparados para sofrer “angústias na
sociedades, incluindo a romana. As
carne”, isto é, o sofrimento físico em
moças não podiam se casar sem a
decorrência da perseguição.
permissão paterna. Dentro daquele
contexto social é que têm sentido as

53
palavras de Paulo nos versículos 36-38. Conclusão
Cabia ao pai decidir se, diante da situação
difícil e na iminência de perseguições, Alguns podem achar que os conselhos de
devia consentir ou não no casamento das Paulo sobre o casamento no capítulo 7
filhas. Qualquer que fosse a decisão, seria serviram apenas para a igreja em Corinto
aceitável. Entretanto, se a filha ou para aquela época. Todavia, sabemos
continuasse solteira, teria maior que o casamento é sempre um alvo do
liberdade para servir ao Senhor. maligno nas igrejas; então, uma vez que
os conselhos de Paulo vêm do Espírito
4. A viúva (1 Co 7.39-40) Santo (lCo 7.40), são aplicados à igreja de
hoje.ado ou sozinho.
Esses dois últimos versículos do capítulo
trazem conselhos para as viúvas. Mais
uma vez é necessário considerar o
contexto de perseguição religiosa em que
viviam os crentes. Se o marido viesse a
falecer, nada impedia um novo
casamento, com uma restrição: “somente
no Senhor”, isto é, somente com outro
crente. Paulo, entretanto, aconselha que
seria mais feliz se permanecesse viúva,
para poder servir ao Senhor sem ter que
preocupar-se com os deveres de casada.

Mesmo sendo um conselho pessoal,


Paulo acreditava que o fazia inspirado
pelo Espírito e que seria de inestimável
valor, para a vida cristã, a sua palavra.

Pode não estar muito longe de nós uma


"angustiosa situação" em que será
preferível a quem não estiver casado
permanecer solteiro! 0 que pensa?
Compartilhe.

54
LIÇÃO 14: Os limites da liberdade cristã
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: ICoríntios 8.1-13 # ICoríntios 8.6

Introdução

John MacArthur nos informa que “os I. Liberdade e sensibilidade (1 Co


gregos e os romanos eram politeístas 8.1-13)
(adoravam a vários deuses) e
polidemonistas (acreditavam em muitos No capítulo 8, o apóstolo expõe três
espíritos Eles acreditavam que os aspectos da controvérsia: “o princípio
espíritos maus tentariam invadir os seres básico do amor, a verdade fundamental
humanos, incorporando-se aos alimentos sobre Deus e a consideração suprema a
antes de ele ser comido, e que os ser estabelecida em qualquer debate de
espíritos maus poderiam ser eliminados cunho ético” (Prior, p.151).
somente se a comida fosse sacrificada a
um deus.
1. 0 princípio básico (1Co 8.1-3)
O sacrifício não tinha como propósito Em Corinto havia os legalistas, que
somente obter o favor do deus, mas recomendavam a obediência à lei
também limpar a carne da contaminação mosaica. Contra eles, os liberais diziam
demoníaca. Essa carne descontaminada que o melhor era agir com liberdade.
era oferecida aos ídolos como sacrifício. Nisso, a resposta de Paulo foi a seguinte:
A porção que não era queimada no altar o que realmente importa é o amor, não o
era servida nas iníquas festas pagãs. O conhecimento do tipo legalista nem o do
que sobrava era vendido no mercado. tipo permissivo. Não que ele condenasse
o conhecimento. O que ele desejava era
Depois da conversão, os cristãos se que o verdadeiro amor controlasse ou
sentiam mal por comer um alimento influenciasse o conhecimento. “O
comprado nos mercados de ídolos, pois conhecimento desprovido do amor e do
isso lembrava os sensíveis cristãos poder para edificar, quando examinado
gentios de sua antiga vida pagã e da mais detalhadamente, nem chega a ser
adoração demoníaca” (Bíblia de Estudo verdadeiro conhecimento” (Godet, citado
MacArthur, p.1539). Isso representava por Prior, p,15l).
um problema real aos novos convertidos. Os crentes de Corinto não eram de
todo ignorantes quanto à questão -
Ao tratar sobre esse assunto no capítulo "todos somos senhores do saber” - mas o
8, o apóstolo estabelece alguns princípios saber em si não era suficiente para
que servem de base para resolvermos resolver a questão. Até podia prejudicar
outras questões “polêmicas” que o relacionamento entre eles, porque “o
enfrentamos hoje. saber ensoberbece". Se o conhecimento
fosse o único meio aplicado para resolver

55
a questão, poderia redundar em orgulho. terra. Nesse sentido é que “há muitos
O princípio para nortear o deuses e muitos senhores" (lCo 8.5).
comportamento é o amor, que edifica. “Senhores” porque, além de adorá-los, as
Os soberbos são os que julgam "saber pessoas tornavam-se escravas deles.
alguma coisa'. Mas o saber humano é
incompleto. Se o homempensa que tudo Vivemos em dias nos quais o
sabe, na realidade ainda não aprendeu exclusivismo da mensagem do
“como convém saber" (1 Co 8.2). Por cristianismo é refei- tado. O apóstolo
outro lado, quem ama a Deus “é Paulo, contra qualquer ideia de
conhecido por Ele”. O importante é que o sincretismo e de universalismo, diz:
Senhor nos conhece (2Tm 2.19; G14.9). “Todavia, para nós há um só Deus, o Pai,
Isso significa dizer que, quando o homem de quem são todas as coisas epara quem
ama de fato a Deus, é introduzido na existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo,
esfera daqueles aos quais Deus, pela Sua pelo qual são todas as coisas, e nós
graça, transmite o verdadeiro também, por ele" (1 Co 8.6). Os cristãos
conhecimento. "Quando os creem em um único Deus, que é Pai -
conhecimentos de um cristão são Aquele que é a origem de todas as coisas
irradiados e propagados em amor, fica e o propósito da nossa existência - e em
claramente demonstrado que ele Jesus Cristo - o Agente e o Mediador,
conhece a Deus e que Deus o conhece, Aquele pelo qual todas as coisas vieram a
ou seja, que há um relacionamento existir. Essa é a verdade fundamental da
pessoal cada vez mais íntimo entre eles” qual não podemos nos afastar.
(Prior, p.153). 3. A consideração para com o irmão
2. A verdade fundamental (1Co8.4-6) (1 Co 8.7-13)
O conhecimento dos cristãos coríntios Havia, na igreja de Corinto, cristãos
devia incluir o fato de que a idolatria que ainda não estavam firmados na
nada significava. Paulo concordava com verdade fundamental que lhes havia
eles e acrescentou outra verdade que exposto o apóstolo, e continuavam a
também eles deviam conhecer: "não há pensar que os ídolos eram reais e com
senão um só Deus" (lCo 8.4). Uma das poder para contaminar a comida. Com
primeiras coisas ensinadas ao menino isso, especialmente os novos convertidos,
judeu era o Shema: “Ouve, Israel, o vindos de contextos idólatras, não
SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR" entendiam a liberdade decorrente da
(Dt 6.4). Todo judeu se apegava a essa nova vida em Cristo. Acreditavam que
verdade. Os cristãos de Corinto não comer carne sacrificada a ídolos era uma
estavam menos convictos dela do que os forma de idolatria. Se, para eles, o ídolo
judeus. era uma realidade, a sua consciência, por
ser “fraca”, podia vir a contaminar-se.
Os adoradores de ídolos referiam-se
aos seus objetos de adoração chamando- A palavra “fraca” descreve aqueles
os de “deuses”, e criam que eram seres que são indevidamente escrupulosos
divinos. Acreditavam que alguns deles quanto a questões morais. É a pessoa
viviam no céu e outros habitavam na
56
que não desfruta plenamente a liberdade
cristã. 3. Não ferir a consciência fraca do
irmão, para não pecar contra
O princípio espiritual que os cristãos Cristo(1 Co 8.12)
devem ter sobre o assunto é que a
comida em si não é de suma importância Não convém ignorar a presença real
para Deus. A abstinência de certos de Cristo no irmão. Se o ofendemos, a
alimentos não nos aproxima mais de ofensa também é contra Cristo. Aquilo
Deus, nem a ingestão de determinados que fere um membro do corpo, também
alimentos torna-nos crentes melhores fere a Cabeça. Assim, se a alimentação se
(lCo 8.8). torna causa de tropeço para o irmão, é
melhor não consumi-la (1 Co 8.13).
Há semelhanças entre os adoradores
dos deuses da mitologia dos tempos Essa questão de comer carne
neotestamentários e os adoradores dos oferecida a ídolos não é problema para a
deuses modernos? Quais? maioria dos cristãos de hoje. Mas os
princípios estabelecidos no ensinamento
II. Que fazer, então, com o irmão de Paulo continuam a ter valor. Há
"fraco"? muitas práticas que não são proibidas na
palavra de Deus, contudo escandalizam,
1. Não ser causa de tropeço (1 Co desnecessariamente, irmãos mais
8.9-10) “fracos”. “Embora tenhamos o direito de
participar de algumas atividades,
também temos o direito ainda maior de
Quando abusamos da nossa liberdade
abrir mão dessa liberdade para o bem
cristã, podemos constituir-nos em pedra
espiritual daqueles que amamos em
de tropeço para o cristão fraco. Isso
Cristo, nossos irmãos e irmãs na família
talvez venha a enfraquecer a sua fé e
de Deus” (MacDonald, p.500).
impedir o seu crescimento, levando-o a
agir de forma contrária àquela que a sua
Em seu contexto, quais seriam "as
consciência permite. Quem age sem estar
carnes oferecidas a ídolos" que os
baseado na fé comete pecado (Rm
cristãos deveriam evitar por amor aos
14.23).
mais fracos?
2. Ter consideração para com ele(1
Co 8.11)

Olhar para cada companheiro cristão


como um irmão "pelo qual Cristo
morreu". Isso nos levará a evitar
qualquer comportamento que venha a
fazer perecer "o irmão fraco”.

57
Conclusão

Há coisas que todos veem que são


boas e por isso recebem a aprovação
geral. Há outras que são evidentemente
erradas, e geralmente condenadas. Mas
há um terceiro grupo de atitudes ou
práticas das quais as pessoas divergem
quanto ao seu valor moral. Para algumas
são repugnantes, mas para outras são
aceitas.

Essa foi a questão que surgiu na igreja


de Corinto, no que diz respeito ao
consumo da carne que previamente era
oferecida em sacrifício aos deuses
pagãos. Os cristãos “fortes” percebiam
que a carne oferecida no culto pagão não
sofria qualquer influência dos ídolos; mas
os “fracos” entendiam que comer
alimentos naquelas condições era estar
em cumplicidade com a idolatria.

O apóstolo Paulo não quis impor


regras aos cristãos coríntios, como as
formuladas no concílio de Jerusalém (At
15.19-29), mas lhes apresentou princípios
com os quais pudessem resolver os seus
problemas. O princípio que consta no
capítulo 8 é: os cristãos que se entregam
a práticas de valor moral discutível
podem constituir-se em pedra de tropeço
para outros. A liberdade, pois, deve ser
regulada pelo amor (lCo 8.1 e 3).

58
LIÇÃO 15: Renunciando a direitos e privilégios
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: ICoríntios 9.1-27 # ICoríntios 9.25

recusou o sustento financeiro da igreja


Introdução de Corinto, não estava negando o direito
que os ministros do evangelho têm de
Antes de continuar tratando do receber salário para manutenção da vida
problema da carne sacrificada aos ídolos . material (1 Co 9.14). Fê-lo porque, na
(1 Co 10.14-11.1), o apóstolo Paulo abre ocasião, entendeu que poderia ser um
um parêntese para citar o seu próprio I| embaraço para as suas atividades. Em
exemplo de abnegação, tendo em vista o várias ocasiões, trabalhou na confecção
bem comum. Demonstra que todo cristão de tendas para se sustentar, enquanto
S deve estar disposto a abrir mão de pregava o evangelho j (lTs 2.9; At 18.3-4).
direitos e de privilégios, por amor ao
evangelho. 2. O direito à família (1 Co 9.5)

I. Tenho direitos!(1 Co 9.1-7) Não consta que Paulo fosse casado,


mas, se o fosse, podia reivindicar o
Alguns coríntios viviam questionando direito a ser acompanhado por sua
a autoridade apostólica de Paulo. Ele família. Outros apóstolos eram seguidos
afirma, I com base em três argumentos, por esposas, entre os quais os irmãos de
que era um verdadeiro apóstolo: (1) sua Jesus (filhos de José e Maria) e Pedro. A
autoridade não estava vinculada à igreja devia prover-lhes os devidos
autoridade humana - o seu ministério cuidados e sustento.
não estava subordinado a ;| homem
algum; (2) viu Jesus (lCol5.8; At 9.3-6); (3) 3. 0 direito à recompensa pelo
os crentes coríntios eram fruto ; do seu serviço prestado (1 Co 9.6-7)
trabalho apostólico - “o selo do meu
apostolado" (lCo 9.2). Ninguém mais do ) Também era justo que os apóstolos
que os coríntios podia provar a não precisassem de um emprego secular
autenticidade da atividade do apóstolo. para sustentar o ministério de pregação e
Mesmo assim, ? Paulo não reivindicou ensino da palavra de Deus. Nesse
direitos. sentido, contudo, Paulo não quis ser
pesado às igrejas em que trabalhou (At
1. O direito ao sustento(1 Co 9.3-4) 20.33-34; lTs 2.9; 2Ts 3.7-9).
Se as pessoas que se dedicam a
O primeiro deles era o “direito de ocupações terrenas - o soldado, o
comer e beber”. Era como se lavrador e o pastor de ovelhas - têm
perguntasse: “Não temos o direito de ser direito ao sustento, quanto mais aqueles
sustentados pela igreja?” Quando que se dedicam ao serviço do Senhor (lCo
9.7).

59
 Quais atitudes sua comunidade pode 3. O costume judaico (1 Co 9.13)
ter para demonstrar aos seus líderes que Outro argumento a favor do direito
reconhece o exercício do ministério de ser sustentado pela igreja era a
deles? E quais qualidades são prescrição da lei a respeito do sustento
indispensáveis para que o líder tenha o devido aos levitas e aos sacerdotes. Um e
respeito das pessoas da sua comunidade? outro recebiam salário pelo serviço
sagrado que realizavam (Nm 18.8-21).
II. Renuncio aos meus direitos
(ICo 9.8-18) 4. A ordem do Senhor (1C0 9.14)
Os direitos daquele que serve ao O último argumento era indiscutível.
Senhor têm outros fundamentos, além O Senhor havia ordenado "aos que
dos exemplos extraídos da guerra, da pregam o evangelho que vivam do
agricultura e do pastoreio. evangelho". Certamente Paulo se referia
ao ensinamento de Cristo (Mt 10.8-10).
1. A lei de Deus (ICo 9.8-10) Quando escreveu a Timóteo, deu
As Escrituras atestam ser direito de instruções mais detalhadas sobre esse
quem trabalha receber a recompensa mandamento do Senhor (lTm 5.17-18).
pelo seu labor. Paulo citou a lei (Dt 25.4)
a fim de afirmar que é preocupação de 5. A responsabilidade de
Deus o sustento daqueles que trabalham despenseiro (1 Co 9.15-18)
servindo ao evangelho. Seja qual for o Paulo tinha motivos extremamente
ministério exercido, devem fazê-lo na fortes para reivindicar os seus direitos.
expectativa de receberem remuneração. Talvez os coríntios tivessem esperado
que o fizesse. Mas ele não estava
2. A justiça intrínseca (ICo 9.11-12) preocupado com isso, porque encarava o
Paulo apelou para o bom senso dos ministério como desafio eterno. Preferia
coríntios. Se haviam lucrado tanto com o morrer a ver anulada a glória de ter
evangelho que lhes havia pregado, seria pregado o evangelho aos coríntios sem
absurdo recolher deles bens materiais? lhes ter sido pesado (lCo 9.15).
Se outros (alguns coríntios que pregavam Por outro lado, não podia gloriar-se
a Palavra) não tinham esse direito de exercer o ministério da Palavra,
questionado, porque a Paulo, que tanto porque o fazia por vocação divina (l Co
por eles havia feito, o direito era negado? 9.16). Tanto de modo voluntário como
Apesar de ter tal direito, Paulo não contra a própria vontade, Paulo não
usou dele com os coríntios, mas suportou conseguia escapar da responsabilidade
todo o tipo de privação, a fim de não de pregar o evangelho. Ele entendia que
levantar obstáculos à pregação do lhe havia sido confiado o dever de
evangelho. despenseiro, e por isso estava imbuído da
necessidade de anunciar a mensagem de

60
salvação, mesmo que por isso nada leal a Cristo Entretanto, quando agia
recebesse (lCo 9.17-18). desse modo, como estando sem lei,
estava sob a lei de Cristo. Estava pronto a
 Qual a atitude de vocês para com seu cumprir seu compromisso de amar,
obreiro? Discuta com alguns colegas e honrar e agradar ac Senhor. Isso não o
veja em quais pontos vocês precisam impedia de se adaptar ao modo de vida
melhorar em relação a ele? Ore pelos dos gentios, quanto aos aspectos
pontos nos quais ele precisa melhorar. culturais, a fim de ganhá-los para Cristo.

III. Prefiro ser servo de todos (1 c. Para com os fracos, fraco (ICo 9.22) -
Co 9.19-23) Os “fracos” eram os excessivamente
escrupulosos ou sensíveis demais em
Nesta parte do capítulo, o apóstolo relação a questões não essenciais. Com o
mostra como era capaz de adaptar-se aos firr. de ganhá-los para Cristo, o apóstolo
costumes e hábitos das pessoas com as preferia sujeitar-se a uma dieta
quais se relacionava, a fim de obter a vegetariana e não comer a carne
atenção de todas para o evangelho. sacrificada aos ídolos.
Em resumo, Paulo tornou-se “tudo para
1. As autorrestrições (ICo 9.19-22) com todos”, a fim de que pudesse, “por
Paulo reafirmou que era livre (1 Co todo os modos, salvar alguns”. Ele não
9.1). Ninguém o tinha sob jugo algum. No comprometeu o evangelho, não
entanto, disse: "fiz-me escravo de todos, sacrificou princípios daí Escrituras. Ele
afim de ganhar o maior número possível" estava sempre disposto a adaptar-se a
(ICo 9.19). Não que sacrificasse princípios costumes e hábitos das pessoas, a fim de
espirituais e morais (G15.13), mas estava conseguir a atenção delas para a
disposto a mudai hábitos, preferências e mensagem da salvação em Cristo.
estilo de vida se, com isso, viesse a
ganhar pessoas para Cristo. 2. O objetivo das autorrestrições (ICo
9.23)
a. Para com OS judeus, como judeu (1 Co A vida de Paulo estava centrada em
9.20) - Essa atitude é ilustrada com a sua viver e pregar o evangelho. Nada mais
maneira de agir em relação à circuncisão era tão importante para ele, por isso
de Timóteo (At 16.3). Ele se conformava estava disposto a colocar de lado
com práticas que o possibilitassem qualquer coisa que pudesse impedir o
alcançar os que estavam debaixo da lei. seu poder e eficácia. Ele desejava ser
“cooperador” do evangelho, de tal modo
b. Para com os sem lei, como se fosse a facilitar que as pessoas viessem a
sem lei (ICo 9.21) - A lei foi dada aos desfrutar dos benefícios e bênçãos que
judeus e não aos gentios. Assim, quando dele advêm. Por essa razão, entendia que
estava entre os gentios, Paulo se valia a pena impor a si mesmo certas
adaptava às suas práticas e costumes até restrições e pôr de lado práticas
onde isso era possível, sem deixar de ser

61
inocentes à vista dos preconceitos e A corrida era a maior atração dos
opiniões dos outros. jogos, e Paulo a toma como ilustração da
“Paulo buscava claramente uma corrida da vida cristã. A grande diferença
adaptabilidade criativa e sensível nas entre essas corridas é que, na olímpica,
relações com os incrédulos... era o mais só um leva o prêmio. Na corrida da vida
versátil dos homens, nunca se limitando a cristã, todos devem correr como
uma só maneira de trabalhar e sempre vencedores. O prêmio não é a salvação,
ouvindo as ideias de Deus em cada nova mas o galardão pelo serviço fiel ou “o
situação” (Prior, p.172). Essa prêmio da soberana vocação de Deus em
versatilidade de Paulo desafia cada Cristo Jesus’’ (Fp 3.14).
cristão a encontrar estratégias e meios
que facilitem aproximar do evangelho 2. Para alcançar uma coroa(1 Co
pessoas que vivem o paganismo 9.25)
contemporâneo. O atleta precisa exercer sobre si uma
rigorosa disciplina - "em tudo se domina".
Quais os perigos de contextualização O cristão, assim como o atleta, exercita o
do evangelho? Quais as desvantagens de domínio próprio (G1 5.23). A diferença
não contextualizar o evangelho? Pense entre ambos é que o primeiro recebia
em pelo menos duas pessoas para as uma coroa corruptível - uma guirlanda de
quais você contextualizaria o evangelho flores ou de folhas que logo murchavam -
de maneira criativa sem perder a enquanto o atleta cristão recebe uma
essência da mensagem. coroa incorruptível, reservada a todos
quantos servem ao Senhor fielmente (lPe
IV. Entrego-me totalmente (1 Co 5.4).
9.24-27)
Aqui Paulo se referiu às competições 3. Para não vir a ser desqualificado
esportivas para ressaltar a necessidade (1 Co 9.26-27)
de domínio próprio e de dedicação. Em virtude do que espera o corredor
Todos os que querem repartir o e atleta cristão, Paulo diz que corre “não
evangelho com os outros precisam sem meta” e luta “não como desferindo
aprender a limitar a própria liberdade e a golpes no ar". O serviço dele não era sem
impor a si mesmos certa disciplina. propósito ou ineficaz. Não perdia tempo
nem desperdiçava energia. Tudo o que
1. Para lavar o prêmio(1 Co 9.24) fazia tinha o alvo de cumprir o objetivo
Paulo referiu-se aos Jogos ístmicos, de Deus para a sua vida.
que se realizavam nas proximidades da A razão para disciplinar e sujeitar o
cidade, de dois em dois anos, com os corpo era para não vir “a ser
quais os coríntios estavam familiarizados. desqualificado” (colocado de lado,
Os participantes dos jogos se submetiam sentado no banco de reservas). Aquilo
a um rigoroso treinamento durante dez que Paulo ensinou aos outros, colocou
meses, o último deles em ginásios e em prática. A vida cristã exige
pistas de atletismo da cidade. autocontrole, moderação e disciplina. A

62
tudo isso o apóstolo se submeteu, a fim
de que tivesse condição de ensinar aos
coríntios a necessidade de serem
igualmente abnegados, consagrados e
úteis ao Senhor.

 Qual a sua motivação para entregar-se


totalmente ao Senhor? Seja honesto e
faça uma lista do que motiva você a
dedicar-se a Deus. Depois avalie o que
você escreveu à luz do tópico estudado.

Conclusão

“Irmãos, esqueçam-se de seus


direitos. Prossigam com esforço, rumo à
recompensa imperecível. Cumpram, no
dia a dia, suas responsabilidades para
consigo mesmos, para com os outros e
para com o próprio Senhor” (adaptação
de Prior, p.175).
Muitos cristãos começam a vida cristã
com entusiasmo e devoção. Mas cedo se
cansam e diminuem o esforço, não estão
dispostos a pagar o preço, e logo se
encontram desqualificados para um
testemunho eficaz. A carne, o mundo, as
ocupações diárias, os interesses pessoais
e, frequentemente, a preguiça impedem
o crescimento espiritual e a qualificação
para o serviço.
“Muitas vezes, coisas boas podem
impedir que se alcancem as melhores.
Aplenitude da liberdade pode impedir a
plenitude do amor. Seguir os nossos
próprios caminhos pode impedir que
outros conheçam o Caminho. As almas
são ganhas por aqueles que estão
preparados para serem usados quando o
Espírito decide usá-los” (MacArthur.
p.216).

63
LIÇÃO 16: Advertências e boa consciência
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: ICoríntios 10.1-11.1 # ICoríntios 10.31

Foram inúmeras as bênçãos dadas a


Introdução “todos” os israelitas após a libertação do
Egito:
A segunda parte do capítulo 8 e todo
o capítulo 9 ensinam que o mau uso da a. uma nuvem os guiou e protegeu de
liberdade cristã pode trazer prejuízo a modo sobrenatural (ICo 10.1; Êx 13.21-
outros cristãos e até impedir que 22; 14.19);
incrédulos se aproximem do evangelho. É
necessário abrir mão de direitos e b. passaram pelo mar, um obstáculo
privilégios por amor a Cristo, sem aparentemente intransponível (lCo 10.1;
comprometer princípios morais e Êx 14.15-22);
espirituais. No texto que hoje é objeto do
nosso estudo, o apóstolo ilustra como o c. foram batizados com respeito a Moisés
uso da liberdade do cristão pode trazer (lCo 10.2) - identificaram-se com ele e
prejuízos à própria alma. reconheceram a sua liderança;

d. comeram um só manjar espiritual (lCo


I. Cuidado com a presunção(ICo
10.3) - o alimento provido de forma
10.1-13) sobrenatural enquanto estavam no
deserto (Êx 16.1-36);
Se não tiver cuidado, qualquer cristão
pode se tomar presunçoso. Basta confiar e. beberam da mesma fonte espiritual (1
na própria maturidade e espiritualidade, Co 10.4) - a água não lhes faltou, também
e recusar-se a aprender mais da palavra como resultado de uma provisão
de Deus. Aliberda- de cristã é um sobrenatural (Êx 17.1-7; Nm 20.1-13).
inigualável privilégio, mas impõe limites
que, quando ultrapassados, trazem A “pedra espiritual” que
consequências. acompanhava os israelitas é uma figura
que Paulo identifica como Cristo. Ele, a
1. As vantagens de ser liberto (1 Co fonte de todas as bênçãos,
10.1-4) acompanhava-os durante a jornada.
Paulo havia acabado de falar do
perigo de o crente ser “desqualificado” 2. Os abusos da liberdade (1 Co 10.5-
para o serviço cristão (ICo 9.27). Em 10)
seguida, ilustra como alguns da nação de Entretanto, a “maioria” dos israelitas
Israel - “nossos pais” - foram reprovados, que desfrutou dos privilégios da
apesar de terem recebido o cuidado liberdade não foi do agrado do Senhor.
especial de Deus. Da geração que partiu do Egito com

64
Moisés, apenas Josué e Calebe chegaram
a Canaã (Nm 14.29-38). Os demais 3. Advertência para nós (1Co 10.11-
“ficaram prostrados no deserto” 13)
(lCo10.5). Foi a demonstração do Esses quatro versículos fornecem a
desagrado de Deus com uma geração aplicação prática dos acontecimentos
presunçosa. descritos anteriormente.
As tragédias que aconteceram com os Aos crentes que estão muito seguros
israelitas devem ser tomadas como de si, que acreditam ser capazes de
exemplo (lCo 10.6). Aos cristãos de satisfazer os desejos da carne sem
Corinto e aos de todas as partes é prejuízo da sua relação com Deus e com a
recomendável que não se vangloriem da igreja, é que se aplica esta advertência:
própria condição espiritual. “Nós todos ''Aquele, pois, que pensa estar em pé,
caímos em uma cilada perigosa, diz o veja que não caia” (lCo 10.12). Nunca
apóstolo, se nos permitimos pensar que o estamos livres de certas tentações. Por
pecado não tem importância” (Prior, essa razão, toda vigilância ainda é pouca.
p.180).
Os pecados cometidos pelo israelita A advertência é seguida de uma
sob a liderança de Moisés tinham palavra de encorajamento para os que
paralelo com os que eram cometidos na são tentados (lCo 10.13):
comunidade cristã de Corinto.
a. a tentação (ou provação) não está fora
a. Cobiça (lCo 10.6) - quando preferiram da capacidade humana de suportá-la;
a comida do Egito ao maná oferecido por
Deus (Nm 11.4). b. Deus promete limitar a intensidade da
tentação;
b. Idolatria (lCo 10.7), construíram o
bezerro de ouro (Êx 32.1-6). c. Ele é fiel e pode dar apoio ao que é
tentado;
c. Imoralidade (lCo 10.8), prostituiram-se
com as filhas dos moabitas (Nm 25.1- 9), d. Ele faz a provisão de livramento para o
tendo morrido num só dia vinte e três que é tentado.
milpessoas, chegando avinte e quatro mil
o número dos que morreram da praga.  O que aconteceu com os israelitas,
acontecia com os coríntios e pode vir a
d.Abuso da paciência de Deus (1 Co acontecer conosco, é consequência de
10.9), reclamaram da comida e não subjugar os desejos carnais, vindo
colocaram em dúvida a bondade do assim a cair em pecado. Pense em quais
Senhor, e muitos pereceram mordidos tentações você tem sido enredado
por serpentes (Nm 21.4-9). atualmente. Em seguida, examine
maneiras de se livrar delas assim que lhe
e)Murmuração(lCo 10.10), reclamaram são sugeridas.
acerca da comida (Nm 16.12-14,41-50).

65
cristãos participarem de qualquer
II. Cuidado com a transigência (1 Co expressão de culto além do que é devido
10.14-22) ao Senhor.
Nesse texto, o apóstolo Paulo adverte
contra a idolatria, em particular quanto a 2. A idolatria é demoníaca (1Co
comer carne sacrificada aos ídolos e 10.19-21)
participar de festas religiosas em que se Ao mesmo tempo em que o apóstolo
adoram ídolos. Começa com o aviso levanta a dúvida quanto à validade do
dirigido aos “amados” para não se sacrifício ao ídolo e quanto ao valor do
comprometerem com a idolatria (lCo próprio ídolo (lCo 10.19), afirma que os
10.14) e o apelo a serem criteriosos sacrifícios a eles oferecidos são, na
quanto ao ensino que lhes transmitia (lCo realidade, uma oferta aos demônios. As
10.15). pessoas dirigem a sua adoração a deuses
que por natureza não o são (G14.8),
1. A idolatria é inconsistente (1Co entrando em associação com os
10.16-18) demônios (lCo 10.20).
É preciso que os crentes evitem ter Se um cristão se envolve com festas
uma atitude descuidada e leviana para idólatras, está expondo a si mesmo e a
com a idolatria. Todos os que participam igreja ao culto aos deuses. “Não podeis" -
do “cálice da bênção” (antes era o nome é impossível ao mesmo tempo ter
dado ao terceiro cálice na festa da comunhão com os demônios e comunhão
Páscoa, hoje é o cálice da ceia do Senhor) com o Senhor (lCo 10.21).
e do “pão que partimos” participam
igualmente do “sangue de Cristo” e do 3. A idolatria ofende a Deus (ICo
Seu corpo, isto é, estão em comunhão 10.22)
com o Salvador e desfrutam dos efeitos O apóstolo Paulo ensina que a
da Sua expiação, estando identificados, idolatria não é uma prática sem
em conse-quência, com o corpo de significado, mas algo totalmente maligno.
Cristo, a igreja (lCo 10.16-17). Do mesmo E maligna porque rouba a glória devida
modo, os sacerdotes israelitas, que ao verdadeiro Deus, e porque leva as
recebiam partes especiais da carne dos pessoas ao contato e à sujeição aos
animais oferecidos em sacrifício, poderes espirituais inferiores. Eis a razão
participavam do altar (lColO.18), isto é, por que o Senhor tem “zelos”. Adorar
estavam em comunhão com o ofertante ídolos é ofender ao Deus verdadeiro,
na adoração ao Senhor. “que não tolera rivais, nem comparações,
Assim, sacrificar a um ídolo é entrar nem alternativas” (Prior, p.187).
em comunhão com ele e com os seus
demais adoradores. Toda cerimônia Quais atitudes do nosso dia a dia
religiosa envolve a comunhão com um podem ser comparadas à prática de
objeto de culto e com outros que oferecer sacrifícios a ídolos? Em qual
igualmente o adorem. Desse modo, é sentido elas comprometem sua relação
completamente inconsistente para os

66
de exclusividade com Deus? Como fazer
para se livrar delas? c. A liberdade acima do legalismo (ICo
III. Cuidado com o legalismo (ICo 10.25-27). Paulo já deu orientações sobre
10.23-11.1) a questão da presença do cristão em
No texto que estamos observando, Paulo festas idólatras (lCo 10.14-22). O
expõe o que o cristão precisa entender a conselho do apóstolo, aqui, é para o
respeito da própria liberdade. cristão deixar de lado os escrúpulos
quando tiver de comprar carne (ou
qualquer comida) no mercado, ou
1. Os princípios para o uso da
quando estiver à mesa com incrédulos.
liberdade cristã (1 Co 10.23-30) Não vale a pena, em tais situações, fazer
Em ICoríntios 6.12 o apóstolo perguntas a respeito da origem do
apresentou o mesmo princípio, alimento. E melhor nada perguntar, a fim
ressaltando a conveniência das nossas de não ter problemas com a própria
ações diante do que é lícito. Nesse texto, consciência, e comer do que é comprado
o princípio é relembrado com um no mercado ou oferecido pelo incrédulo,
acréscimo, e logo a seguir estão outros com a lembrança de que tudo vem do
princípios. Senhor, porque tudo Lhe pertence (v.26).
a. A edificação acima do que é lícito (ICo d. A consideração acima da condenação
10.23). Há algumas coisas que o cristão (lCo 10.28-30; Rm 14.1-8). Se, entretanto,
não deve praticar porque não são antecipadamente alguém avisasse que o
sensatas e não edificam os irmãos, ou alimento desejado "é coisa sacrificada a
não os fazem crescer "na graça e no ídolo”, seria melhor evitar comê-lo, por
conhecimento de nosso Senhor e causa da consciência daquele que fez a
Salvador Jesus Cristo" (2Pe 3.18).' ‘E mais advertência. Paulo esclareceu que não se
importante evitar essas questões do que referia à consciência do que come (v.29).
afirmar os próprios direitos" (Morris, p.l Esse irmão bem sabia que o fato de a
19). Colaborar com a edificação do irmão comida ser oferecida a um ídolo não
implica, portanto, evitar certas atitudes, alterava o caráter do alimento. Mas se a
mesmo que tenham o apoio da lei ou não pessoa que lhe desse o aviso tivesse a
representem erro. consciência fraca (cf. 8.7), por amor a ela,
seria melhor não comprar ou não comer
b. O outro acima de si mesmo (1 Co tal comida. Afinal, por que deixar que
10.24). Esse é um princípio contrário à outro condene a minha consciência?
natureza humana. Não é fácil orientar a Devemos lembrar sempre que “a ação
vida por ele. Não é fácil considerar "os que para o forte é simples exercício de
outros superiores a si mesmo” (Fp 2.3-4). liberdade não deve ser transformada em
Contudo, como cristãos, devemos meio de ofensa a outrem” (Morris,
empenhar-nos em promover os p.120). E se o crente forte toma a
interesses dos outros e não buscar refeição “com ação de graças”, porque
egoisticamente os nossos próprios reconhece que é dádiva divina, que razão
interesses. há para permitir que uma ação praticada

67
nesse espírito se transforme em teve com o assunto da liberdade cristã e
maledicência da parte de outros, que não compartilhe com alguém de sua classe.
têm a mesma compreensão? É melhor
abster-se de comer tal alimento, por Conclusão
consideração ao outro.
Nesta lição foram apontados três
2. O propósito da liberdade cristã perigos da liberdade cristã: presunção,
(ICo 10.31-11.1) transigência e legalismo. Os três têm o
Ao encerrar o debate sobre comida mesmo grau de periculosidade e trazem
sacrificada aos ídolos, iniciada em sérias consequências à vida cristã e à
ICoríntios 8.1, o apóstolo Paulo apresenta igreja.
quatro regras para a convivência dos Quando somos responsáveis no uso
cristãos no uso da liberdade, a serem da liberdade cristã, somos ao mesmo
apreciadas e, sobretudo, obedecidas. tempo imitadores de Cristo, o supremo
exemplo de Alguém que colocou de lado
a. Fazer tudo para a glória de Deus (ICo os Seus direitos em favor dos outros, o
10.31). Deve ser a motivação por único que "a si mesmo se esvaziou,
excelência de todas as nossas ações, assumindo a forma de servo” e “a si
deixando de lado a afirmação da nossa mesmo se humilhou, tornando-se
liberdade. obediente até à morte" (Fp 2.7-8). É por
essa razão que o apóstolo Paulo convoca
b. Procurar ser agradável a todos (ICo os cristãos a serem seus imitadores,
10.32-33). Não sendo causa de tropeço a como ele imitou a Cristo (lCo ll.l).
ninguém e não procurando defender os
próprios direitos.

c. Buscar O interesse de muitos (lCo


10.33). Sacrificando o bem-estar ou a
satisfação pessoal.

d. Ser exemplo (ICo 10.33). Tornando-se,


naturalmente, modelo de
comportamento para os outros,
mediante uma vida dedicada a Cristo.

Para refletir: “Isto é liberdade cristã:


livrar-se de si mesmo para glorificar a
Deus, tornando-se semelhante a Cristo”

Dos princípios mencionados, qual lhe


parece mais difícil de ser praticado e por
quê? Pense numa experiência que você

68
LIÇÃO 17: Uso do véu e ceia do Senhor
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: I ICoríntios 11.2-34 # ICoríntios 11.26

Introdução Trindade), Cristo (como Criador) é a fonte


do homem, e o homem (por ter cedido
Dois assuntos são o alvo deste nosso uma das suas costelas, conforme Gênesis
estudo. Ambos dizem respeito à 2.21-24) é a origem da mulher (1 Co
participação no culto cristão - a conduta 11.8). Por isso, como Cristo Se submeteu
das mulheres e a celebração da ceia do voluntariamente ao Pai, a mulher deve
Senhor. A igreja em Corinto fugia do submeter-se ao marido.
padrão e do bom senso quando se reunia
para a adoração ao Senhor. Informado 2. 0 princípio aplicado (1Co 11.4-6)
sobre o assunto, o apóstolo Paulo lhe Essa hierarquia fundamental deve
dirigiu a palavra para corrigir erros e refletir-se no culto cristão.
abusos que cometiam. Nesse ponto, é necessário fazer
referência aos costumes da Grécia do
I. A sujeição e a igualdade da primeiro século. As mulheres gregas
costumavam usar véu à cabeça. As únicas
mulher (ICo 11.2-16)
que não usavam tal peça eram as
Essa sessão inicia-se com uma palavra
prostitutas. As adúlteras tinham a cabeça
de elogio de Paulo aos coríntios. Eles não
rapada, como castigo.
haviam esquecido nem o apóstolo nem
Se o uso do véu, em sinal de
os ensinamentos orais recebidos. As
submissão ao homem, acontecia na
“tradições” se referem às verdades
comunidade secular, não havia razão
básicas do evangelho, inicialmente
para não se adotar essa convenção
passadas pelos evangelistas e mestres
dentro da igreja. Se a mulher
aos novos crentes (1 Co 11.23, quando
comparecesse para participar das
Paulo lembra a instituição da ceia do
atividades do culto sem ter a cabeça
Senhor (lCo 15.1), ao transmitir as bases
coberta, desonrava "a sua própria
do evangelho (2Ts 2.15; 3.6), quando
cabeça” - o homem, e ainda corria o risco
instrui a respeito do correto
de ser identificada com as mulheres que
comportamento.
traíam o marido (lCo 11.5-6).
Já o homem não costumava cobrir a
1. 0 princípio estabelecido(ICo 11.3) cabeça e não deveria fazê-lo no culto (lCo
Há uma hierarquia fundamental que 11.4), a fim de não desonrar “a sua
deve orientar o relacionamento na própria cabeça” - Cristo (de acordo com a
comunidade cristã: Deus - Cristo - marido ordem hierárquica de ICoríntios 11.3).
- mulher. O termo "cabeça” tem o
sentido original de fonte, derivação ou 3. 0 princípio defendido (1Co 11.7-10)
origem. Assim, Deus é a fonte de Cristo O principal alvo do culto cristão é a
(quanto à relação entre as Pessoas da glória de Deus (lCo 10.31). O culto deve

69
refletir visivelmente não apenas o padrão totalmente ligados entre si, inseparáveis
de relacionamento ordenado pelo e interdependentes. Se essa é uma
Senhor, mas também o fato de que verdade no sentido físico (Mt 19.4-6), é
fomos criados para a Sua glória. O uma verdade ainda maior “no Senhor"
homem é “imagem e glória de Deus”, (G1 3.28). Ambos devem a existência a
porque foi criado por Ele para Lhe Deus, pois “tudo vem dele” (lCo 11.12).
proporcionar glória; a mulher é "glória do Por essa razão, “a adoração cristã é mais
homem”, pois é um ser derivado dele bem expressa quando juntos, os casais
(lCo 11.7-8; Gn 2.18-23; lTm 2.13). “A dão ao Senhor, de modo visível, a glória
mulher tem o seu lugar próprio, mas não de suas próprias vidas interdependentes”
é o lugar do homem. Ela se mantém para (Prior, p.197).
com o homem em tal relação, como
nenhuma outra coisa, e assim ela é 5. 0 princípio refletido (1 Co 11.13-
chamada glória do homem. Esta 16)
expressão ao mesmo tempo lhe assegura Ao fim, Paulo criou oportunidade aos
um alto lugar no esquema das coisas e coríntios para que refletissem sobre a
afiança que não se trata do lugar do diferença entre o homem e a mulher, a
homem” (Morris, p.123). partir da natureza de cada um. “Julgai
No versículo 10, Paulo volta a aplicar entre vós mesmos” é um apelo ao
o princípio ao apresentar “os anjos” raciocínio e ao bom senso. A conclusão a
como razão para que a mulher trouxesse que chegariam é que a mulher devia
véu à cabeça. Esses anjos, além dos participar das atividades do culto usando
homens, também observavam o o véu, em especial para demonstrar a
comportamento da mulher no culto (e de sujeição ao marido (lCo 11.13).
todos os que se reúnem para adorar a E muito difícil aplicar os versículos 14
Deus) e faziam o seu julgamento. e 15 à cultura moderna. Mas o ponto que
O véu indicava que, ao cobrir a realmente Paulo deseja pôr em destaque
cabeça, a mulher assegurava o seu lugar é que Deus fez o homem e a mulher
de dignidade e autoridade e, ao mesmo diferentes.
tempo, reconhecia a devida Naquele tempo, era costume os
subordinação. cristãos destacarem a diferença entre os
sexos pelo comprimento do cabelo. Se
4. 0 princípio harmonizado alguém quisesse agir de outro modo,
(1Co11.11-12) simplesmente promoveria uma discussão
A fim de harmonizar o ensino sobre as sem propósito (lCo 11.16).
diferenças entre o homem e a mulher, No culto cristão, “cada ser humano
quando criados à imagem de Deus (Gn deve dar glória a Deus, sendo o que Deus
1.26-27), o apóstolo lembrou-lhes a planejou que ele fosse. O homem deve
posição de ambos em Cristo. "No ser verdadeiramente masculino, e a
Senhor”, o homem e a mulher (marido e mulher verdadeiramente feminina, sem
esposa) são completamente permitir que estereótipos ditem nossas
dependentes. Nele os dois são um, percepções, mas, antes, baseando nossa

70
compreensão sobre o que significa ser (depois de ser testada a sua condição
plenamente humano em Jesus Cristo, espiritual) e quem não seria (lCo 11.18-
nosso modelo perfeito... só se 19). O certo é que a presença das ideias
experimenta a plenitude do culto cristão diferentes não devia interromper nem
quando cada homem e mulher, criado e atrapalhar a comunhão.
remido por Deus, permite que sua Aquela reunião que os coríntios
humanidade seja expressa de acordo com faziam nem podia ser considerada “ceia
o padrão divino” (Prior, p.197-198). do Senhor’ (lCo 11.20). Ao valorizarem as
diferenças, eles não eram submissos ao
O texto examinado contém norma Senhor, não tinham real consciência da
para o comportamento dos homens e das Sua presença e não usavam a experiência
mulheres no culto cristão em Corinto. da reunião para recordar a morte de
Quais os princípios que extraímos para o Cristo.
comportamento de homens e mulheres A atitude dos coríntios era reprovável.
no culto cristão hoje? Havia uma espécie de esnobismo da
parte de alguns, que tomavam a refeição
II. Celebrando a ceia do Senhor (1 sem reparti-la, embriagando-se com o
bom vinho que levavam, comendo
Co 11.17-34)
apressadamente na frente dos outros e
No trecho a seguir, o assunto tratado é a
deixando os menos favorecidos com
festa do ágape e a celebração da ceia do
fome (lCo 11.21).
Senhor, cujo significado os coríntios
Houve tempo em que a igreja
haviam pervertido.
primitiva celebrava a ceia do Senhor em
associação com a festa do ágape, a festa
1. Reunidos, mas desunidos (1 Co do amor. A comida e o vinho que os
11.17-22) participantes levavam eram repartidos
Se antes Paulo elogiou os crentes de entre todos. Mas os coríntios fugiram ao
Corinto porque guardaram certas padrão da festa, e por isso desvirtuaram
tradições que ele lhes havia transmitido o caráter e o propósito da reunião. Não
(1 Co 11.2), agora não via nenhum havia comunhão. Alguns comiam antes
motivo para louvá-los. Numa igreja (talvez os ricos), sem esperar que outros
dividida, os momentos de culto e chegassem. Alguns tinham fome
confraternização podem contribuir para (provavelmente os escravos) ; outros se
piorar o estado espiritual dos crentes, ao embriagavam. Não havia a intenção de
invés de melhorá-lo. Isso acontecia em fazer uma reunião comum. As
Corinto (lCo 11.17). divisões,nesse caso, (lCo 11.18) estavam
De certo modo, é inevitável haver baseadas na situação financeira e na
preferências nas convicções cristãs. Mas posição social (cf. Morris, p.127).
não se entende que os cristãos venham a
perder a comunhão por causa de
2. Uma ordenança do Senhor (ICo
divergências. Havia um resultado
benéfico para tolerar as divergências, que
11.23-26)
era descobrir quem seria aprovado

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"Porque eu recebi do Senhor" pagou com a própria vida o preço para
(lColl.23).Essa expressão indica que Paulo que nos tornássemos livres.
teve uma revelação direta do Senhor "Fazei isto em memória de mim” é o
acerca da ceia, não tendo recebido mesmo que “continuai fazendo isto”.
instrução dos outros apóstolos (G11.10- Diferentemente da Páscoa, que lembra
12). 1 Coríntios provavelmente foi escrita um evento, a ceia lembra uma Pessoa. “O
antes dos evangelhos, o que implica dizer culto em que se lembra de Jesus significa
que esse texto é a primeira referência mais do que recordar uma morte
bíblica à instituição da ceia do Senhor. lamentável. É a recordação de uma morte
que propicia a vida” (Broadman, v.10,
a. 0 fundamento histórico do ato. Ao p.418).
dizer “na noite em que foi traído” Paulo
apresenta o fundamento histórico do ato c. 0 simbolismo do cálice (ICo 11.25).
da ceia, porque, como já referido, Imediatamente após a refeição - "depois
nenhum evangelho tinha sido escrito até de haver ceado” - Jesus tomou o cálice e,
então, e também lembra aos cristãos que com as Suas palavras, deu significado ao
a morte do Senhor deve, de maneira ato: "Este cálice é a nova aliança no meu
proeminente, dominar o ato. Há no texto sangue”. O cálice simboliza o sangue
uma descrição, passo a passo, das ações derramado no Calvário, mediante o qual
de Jesus ao celebrar, com os discípulos, ficou estabelecida uma nova aliança (Êx
na noite da traição, durante a 24.6-8, o estabelecimento da antiga
comemoração da Páscoa, a primeira ceia. aliança; Jr 31.33, a promessa da nova
As palavras do Senhor dão um significado aliança). Essa nova aliança “propicia o
único ao ato. perdão dos pecados e abre o caminho
para a atividade do Espírito Santo no
b. 0 simbolismo do pão (ICo 11.23-24). coração do crente” (Morris, p,130).
Num determinado momento da refeição
pascal, Jesus "tomou o pão”, como Tão frequentemente quanto possível,
faziam os chefes das famílias judaicas. podemos celebrar a comunhão. Não há
Antes de parti-lo para oferecê-lo aos periodicidade estabelecida. E todas as
discípulos, deu graças. Da expressão vezes que o fazemos damos testemunho
"tendo dado graças” deriva a palavra da obra redentora de Cristo, com a
"Eucaristia”, nome com o qual alguns expectativa da Sua volta (1 Co 11.26).
ramos do cristianismo se referem à ceia
do Senhor. Para os evangélicos é, 3. O modo de cumprir o memorial
sobretudo, uma lembrança de que a (1Co 11.27-32)
cerimônia deve ser precedida de ação de Paulo mostra que esse memorial, por ser
graças. de significação profunda e sagrada, deve
Quando disse "isto é o meu corpo, que é ser celebrado de maneira digna. Não
dado por vós”, Jesus atribuiu ao pão o fazê-lo implica sério juízo da parte do
simbolismo do Seu corpo. A Sua vida, em Senhor.
carne, foi oferecida a todos os que creem
Nele. Por nós sofreu; por nós morreu. Ele

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a. A preparação para participar (lCo 4. Reunidos e unidos é melhor! (1 Co
11.27-29). Quem participa da celebração 11.33-34)
indignamente é“réu do corpo e do Paulo concluiu a exortação dando a
sangue do Senhor", isto é, torna-se entender que a ceia do Senhor, em sua
culpado de derramar o sangue de Cristo, essência, consiste na comunhão que
como se colocasse, a si mesmo, do lado desfrutamos com Cristo e uns com os
dos que foram culpados pela crucificação outros. Isso requer a participação de
de Jesus. Para escapar dessa culpa, é todos os crentes da comunidade local. A
necessário que o homem: medida prática a tomar é “esperai uns
pelos outros”.
• "Examine-se, pois, o homem a si A finalidade dessa celebração não é
mesmo” (lCo 11.28). Antes de participar, satisfazer a necessidade que o corpo terr
realize um autoexame, arrependa-se e de alimentos. Deve-se matar a fome em
confesse os pecados (ljo 1.9), a fim de casa, para evitar os erros que os coríntios
tornar-se digno de participar - “e assim cometiam e o consequente juízo de Deus
comadiscirna o corpo (1 Co 11.29), o que (lCo 11.34). Os valores espirituais desse
pode significar dar a devida importância à encontro superam em muito os
igreja como o corpo de Cristo (lCo 10.17), benefícios materiais!
ou reconhecer a presença real do Senhor
ressurreto no meio do povo de Deus Como você via a ceia antes do estudo
reunido no culto (Mt 18.20). dessa lição? 0 que foi confirmado e o que
mudou com esse estudo? Ainda há
b. As consequências de não participar dúvidas em algum aspecto? Se houver,
como convém (lCo 11.29-32). Não fica procure seu professor para conversar.
impune quem participa indignamente da
ceia. Quem assim age fica exposto a:
Conclusão
• atrair para si a punição do Senhor, na
Como a igreja deveria se comportar no culto e
medida apropriada do seu ato (não indica na ceia do Senhor são os pontos principais
a perda da salvação); estudados nessa lição.
• sofrer as consequências do seu pecado Quanto ao uso do véu no culto, observamos
por fraqueza física, doença e morte. que não é mandamento. Paulo discute o
assunto do ponto de vista de uma convenção
Aquele que julga a si mesmo, antes de da sociedade coríntia. A lição para nós está
participar da comunhão, não sofre o em compreender que há certas convenções
julgamento de Deus (lCo 11.31). Se, sociais que até convêm aceitarmos Mas não
esqueçamos o princípio que está implícito no
entretanto, deixamo-nos ser julgados por
uso de tal peça do vestuário - a submissão da
Ele, somos disciplinados. As desgraças mulher ao marido.
que sofremos em conse-quência de uma Quanto à ceia, devemos cuidar para não
participação indevida da ceia são sinais participarmos dela “rotineiramente” -sem
da correção de Deus (Hb 12.4-11). Ele a refletir sobre o verdadeiro valor e o
aplica a fim de evitar o julgamento mais significado do ato. Assim, não incorreremos
severo, como o que sofrem os incrédulos nos mesmos erros dos coríntios e não
(lCo 11.32). seremos alvos do juízo do Senhor.

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