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Theodor Herzl - O Estado Judeu
Theodor Herzl - O Estado Judeu
O Estado Judeu
Edição comemorativa ao 49º Aniversário do Estado de Israel -
Maio de 1997. Tradução: Dagoberto Mensch. Digitado por:
Iba Mendes
Theodor Herzl
(1860—1904)
Livro 707
PROJETO LIVRO LIVRE
É isso!
Iba Mendes
iba@ibamendes.com
www.poeteiro.com
ÍNDICE
PARTE I
Prólogo......................................................................................................... 5
Introdução....................................................................................................
PARTE II
O Problema Judaico...................................................................................... 17
Como se tentou resolver o problema até agora........................................... 18
As causas do anti-semitismo......................................................................... 20
Efeitos do anti-semitismo............................................................................. 21
O Plano.......................................................................................................... 22
Palestina ou Argentina?................................................................................ 24
Necessidade, órgão e comunicações........................................................... 25
PARTE III
A Jewish Company
Características.............................................................................................. 27
A Liquidação dos bens imóveis.................................................................... 27
A Compra de terras...................................................................................... 28
Edificação...................................................................................................... 39
Moradias operárias...................................................................................... 30
Os trabalhadores sem qualificação.............................................................. 30
A Jornada de sete horas............................................................................... 31
A assistência pelo trabalho.......................................................................... 33
Movimento de mercados............................................................................. 34
Outros tipos de moradias............................................................................. 35
Algumas formas de liquidação..................................................................... 35
Garantias da Company.............................................................................. 37
Algumas atividades da Company................................................................. 39
Fomento à indústria..................................................................................... 40
Estabelecimento de trabalhadores qualificados.......................................... 41
Meios de reunir fundos................................................................................ 42
Os grupos locais
O transplante................................................................................................ 44
A emigração coletiva.................................................................................... 45
Nossos rabinos............................................................................................. 46
Pessoas de confiança dos grupos locais....................................................... 47
Planos de cidades......................................................................................... 48
A emigração das classes médias................................................................... 48
O fenômeno da massa.................................................................................. 49
Nosso material humano............................................................................... 52
Pequenos hábitos.......................................................................................... 53
PARTE IV
Epílogo.......................................................................................................... 66
O ESTADO JUDEU
Não posso negar que frequentei a escola. A princípio, mandaram-me para uma
escola primária hebraica, onde me tratavam com certa consideração, pois meu
pai era um comerciante abastado. Entre as lembranças que guardo daquela
época estão algumas surras que levei porque não sabia os detalhes do êxodo
dos Judeus do Egito. Hoje, muitos professores gostariam de me bater porque
me lembro com excessiva frequência daquele êxodo.
Aos dez anos, fui enviado para uma escola real, onde dava-se preferência às
ciências modernas. Na época, o homem em evidência era Lesseps, e eu concebi
o plano de abrir um canal através do outro istmo, o do Panamá. Mas a minha
aflição pelos logaritmos e trigonometria passou bem depressa por causa de uma
tendência anti-semita que havia na escola real.
Nessa escola, os Judeus eram maioria e, portanto, não havia razões para queixas
sobre anti-semitismo. Escrevi o meu primeiro artigo jornalístico na sétima série,
porém não o assinei, pois, se o fizesse, teria sido condenado à reclusão escolar.
Durante a última série, minha única irmã faleceu, aos dezoito anos. A tristeza
tomou conta de meu pai de maneira tão profunda que, em 1878, mudamos
para Viena.
Durante a semana de luto, o rabino Kohn veio nos visitar e me perguntou sobre
os meus projetos para o futuro. Respondi-lhe que desejava ser escritor, ao que
o rabino balançou a cabeça em sinal de desaprovação, e demonstrou sua
1
discordância concluindo que a carreira de escritor não era uma profissão
propriamente dita. Da mesma maneira, anos mais tarde, condenou o Sionismo.
Passei alguns dos momentos mais felizes de minha vida em Salzburg. Desejava
poder fixar residência nesta linda cidade mas, sendo Judeu, nunca teria
ascendido ao cargo de juiz. Por isto, parti e abandonei, ao mesmo tempo, a
jurisprudência, causando outro grande desgosto ao rabino de Budapeste. Ao
invés de optar por uma carreira séria ou procurar um emprego, comecei a viajar
e a escrever para jornais. Muitas peças de minha autoria estrearam em diversos
teatros. Algumas obtiveram êxitos estrondosos; outras não agradaram.
Casei-me em 1889. Tenho três filhos, um menino e duas meninas. Creio que
meus filhos não são feios nem bobos. Mas pode ser que esteja enganado.
Durante minha viagem pela Espanha, em 1891, o jornal Neue Freie Presse, de
Viena, ofereceu-me o cargo de correspondente em Paris. Aceitei apesar de,
naquela época, menosprezar e detestar a política. Em Paris, descobri o que
geralmente se entende por política e expressei minhas idéias em um pequeno
livro intitulado Le Palais Bourbon. Em 1895, retornei a Viena.
Ele estava tão assustado, que prometi tudo que fosse necessário para acalmá-lo.
Em seguida, aconselhou-me a procurar Max Nordau, para confirmar que um
livro, com as idéias apresentadas em O Estado Judeu, poderia ter sido elaborado
por um homem mentalmente são. "Não consultarei ninguém", respondi,
acrescentado que, "em função da reação que minhas idéias provocaram em um
amigo inteligente e fiel, desistirei de meu propósito".
Enfrentei uma crise muito grave, só comparável ao que ocorre ao jogar-se água
fria em um corpo aquecido em altas temperaturas. Mas se o corpo for de ferro,
converte-se em aço.
O amigo de quem acabo de falar era responsável pela soma de meus gastos com
telegramas. Quando me apresentou a conta, que constava de extensas colunas,
percebi que a soma não estava certa. Avisei-o e ele refez a adição. Porém, só
depois de repetir a operação três ou quatro vezes obteve os mesmos resultados
do que eu. Este fato, pouco importante por si só, devolveu-me minha
autoconfiança, pois já que eu sabia calcular melhor do que ele, não poderia ter
perdido a razão.
3
Naquele mesmo, dia comecei a preocupar-me com o Estado Judeu. No decorrer
dos dois anos seguintes e também depois, passei inúmeros dias de grande
tristeza. Ainda temo que haja mais dias tristes. Em 1895, comecei a escrever o
meu diário, que já conta com quatro tomos volumosos. Quando publicá-los, se
vier a fazê-lo, o mundo se surpreenderá ao saber as mágoas que senti, quem se
opôs ao meu plano e quem me ajudou.
4
PARTE I
PRÓLOGO
Antes de mais nada, é necessário enfatizar que não estou inventando nenhum
aspecto presente na minha proposta. Não estou inventando a situação dos
judeus, que é o resultado do desenvolvimento histórico, nem os recursos para
remediá-la. Os elementos materiais para a obra que deixo aqui esboçada estão
presentes na realidade, são tangíveis e qualquer um pode percebê-los. Caso se
deseje designar com uma só palavra esta tentativa de solução do problema
judaico, este termo não haverá de ser "fantasia" e sim, no máximo,
"combinação".
Mas não se trata de uma ficção feita para dar prazer, ao estilo daquelas que
foram tão abundantemente produzidas antes e depois de Thomas Morus.
Acredito, além disto, que a situação dos judeus em diversos países é
suficientemente crítica para que se tornem supérfluos todos os tipos de
considerações mais ou menos jocosas colocadas a título de introdução.
5
O fator decisivo é a força motriz. Definido este ponto, de onde surge esta força?
Da miséria na qual vivem os judeus.
Quem se atreveria a negar a existência desta força? Ela será tema do capítulo
referente às causas do anti-semitismo.
Digo, pois, que tal força, bem empregada, é suficientemente poderosa para
impulsionar uma grande máquina e provocar o movimento de homens e
fortunas. Seu aspecto não tem a menor importância.
Estou profundamente convencido de que tenho razão. Não sei se terei razão
durante toda minha vida. Os que estão iniciando este movimento dificilmente
verão seu glorioso fim. Mas o simples fato de tê-lo iniciado enche-os de orgulho
e da bem-aventurança da liberdade interior.
Para preservar este manuscrito da suspeita de ser utopia, serei objetivo na sua
apresentação. De qualquer modo, suponho que os zombadores precipitados
tratarão de diminuir a importância de tudo o que está aqui indicado, a fim de
caricaturizá-lo. Quando expus este assunto a um judeu que era uma pessoa
razoável no tocante aos demais temas, ele deu a seguinte opinião: "Os detalhes
futuros expostos como se fossem reais são os que caracterizam a utopia". Tal
afirmação é falsa.
No entanto, pretendo dos leitores algo ainda mais difícil. Exijo das pessoas
cultas, às quais me dirijo, que voltem a examinar e estudar muitas das antigas
ideias. Pretendo que justamente os melhores judeus, os que se esforçaram para
chegar a uma solução do problema judaico, considerem suas tentativas até o
presente como errôneas e ineficazes.
6
sejam realizáveis. Se, pelo contrário, anunciar sua realização sem quaisquer
reservas, tudo pode parecer, talvez, uma quimera.
Não está certo, no presente momento, o que digo? Estou me adiantando a meu
tempo? Os sofrimentos dos judeus não são bastante grandes? Isto é o que
veremos.
Depende, pois, dos próprios judeus para que este projeto de Estado não seja
por enquanto mais do que uma novela política. Se a geração atual ainda é
indiferente, logo virá outra, superior e melhor. Os judeus, que o quiserem, terão
o seu Estado e o merecerão.
7
INTRODUÇÃO
Isto posto, nós não precisamos despertar de um longo sonho, como Rip van
Winkle, para reconhecer que o mundo está se transformando por meio de uma
incessante produção de novos bens. Em nossa época, espantosa pêlos
progressos de ordem técnica, até o mais pobre de espírito vê, mesmo com os
olhos fechados, que surgem novos bens ao seu redor. O espírito empreendedor
os criou.
No entanto, não vou fazer a apologia dos judeus nesta obra. Seria inútil. Tudo
de racional e de sentimental já foi dito sobre o assunto. Não basta, contudo,
encontrar as razões pertinentes para o entendimento e a alma. A condição
preliminar é que os que ouvem sejam capazes de compreender, pois, de outro
modo, seria pregar no deserto. Uma vez que os ouvintes tenham chegado a tal
altura, a pregação passa a ser supérflua.
8
Creio na ascensão dos homens a patamares cada vez mais altos de civilização,
mas a considero de uma lentidão desesperadora. Se quiséssemos esperar até
que o homem médio chegasse também a ter sentimentos humanitários, como
aqueles que agiam sobre Lessing quando estava escrevendo seu Natan, o Sábio,
transcorreria nossa vida e a de nossos filhos, netos e bisnetos. Aqui o espírito
universal vem em nossa ajuda por outra via.
Creio que a luz elétrica não foi inventada de modo algum para que certos
esnobes iluminem suas luxuosas casas, mas sim para que nos ilumine em nossas
reuniões consagradas à solução dos problemas da humanidade. Um deles, e não
o menos importante, é o problema judaico. Resolvendo-o não estaremos
trabalhando somente para nós mesmos, mas também em favor de muitos
miseráveis e oprimidos.
9
nacional e, para resolvê-la, precisamos fazer dela um problema de política
internacional que deverá ser resolvido no conselho das nações civilizadas.
10
A assimilação, sob a qual compreendo não somente os elementos exteriores de
vestuário, costumes, hábitos e idioma, como também a igualação paulatina dos
sentimentos e do modo de ser. A assimilação dos judeus não poderia ser
conseguida em todos os lugares senão por meio do casamento misto. Mas este
teria de ser sentido como uma necessidade pela maioria. Não basta de modo
algum declarar que o casamento misto é permitido pela lei. Os liberais húngaros
que assim o fizeram, recentemente, estão cometendo um grave erro. Este
casamento misto, instituído doutrinariamente, foi bem ilustrado por um dos
primeiros casos: um judeu convertido casou-se com uma judia. Mas as
discussões acerca da forma atual de contrair matrimônio agravaram muito as
diferenças entre cristãos e judeus na Hungria e, portanto, prejudicaram mais do
que favoreceram a mistura de raças. Aquele que deseja a extinção dos judeus
por meio da mistura, não pode ver para isto mais do que uma possibilidade: os
judeus teriam que atingir tal poderio econômico que fosse possível eliminar o
velho preconceito social.
Creio que é impossível chegar sequer ao primeiro grau de tal reabsorção, pois
isto implicaria submeter a maioria a uma minoria que, além de ser desprezada
até há pouco, não dispõe do aparato bélico nem administrativo para tal. Por isto
considero inverossímil que a absorção dos judeus se realize por meio do bem-
estar econômico. Nos países em que atualmente há anti-semitismo dirão que
tenho razão. Nos outros, naqueles em que os judeus se encontram
momentaneamente bem, meus irmãos de raça provavelmente combaterão
minhas asserções com veemência. Só acreditarão em mim quando forem
acossados novamente pêlos anti-semitas. E quanto mais se faça esperar o anti-
semitismo, tanto maior será o furor com que haverá de estourar. A vinda dos
judeus imigrantes, atraídos por uma aparente segurança, assim como a
ascensão de nível nas classes dos judeus autóctones, são dois fatores que
entram perigosamente em jogo para precipitar o desenlace fatal. Não há nada
mais simples do que esta conclusão.
Mas o fato de ter chegado a ela serenamente, atendo-me à mais nua verdade,
vai me valer, como é previsível, a oposição e o ódio dos judeus cuja situação é
11
favorável. Se se tratassem somente de interesses particulares, cujos
representantes, por estupidez ou covardia, sentissem-se ameaçados,
poderíamos passar por cima do assunto com um sorriso de menosprezo, já que
os interesses dos pobres e oprimidos são mais importantes. Não quero,
contudo, que me interpretem mal, especialmente no sentido de que, se algum
dia este plano se realizar, os judeus acomodados perderão o que é deles. Por
isto vou fazer uma exposição pormenorizada do que concerne ao direito
patrimonial. Por outro lado, se a ideia não sair do terreno da literatura, tudo
ficará na mesma situação que antes.
Mais grave seria a objeção de que apoio aos anti-semitas chamando a nós
mesmos de um povo, um povo unido, e que impeço a assimilação dos judeus
onde está se realizando, e que comprometo a mesma onde ela já se realizou, se
é que eu, em minha condição de modesto escritor posso impedir ou
comprometer alguma coisa. Esta objeção será feita a mim sobretudo na França.
Eu a espero em outros lugares; mas só vou responder de antemão aos judeus
franceses, porque eles oferecem o exemplo mais instrutivo.
Pois bem: se todos ou alguns judeus franceses protestarem contra este esboço,
porque já se "assimilaram", minha resposta será simplesmente esta: O assunto
não os afeta. Eles são franceses israelitas: perfeito! Mas este é um problema
interno dos judeus.
12
Os judeus assimilados se beneficiariam ainda mais do que os cidadãos cristãos
com o distanciamento dos judeus fiéis à sua raça. Pois que os assimilados
ficariam liberados de sua competição incômoda, incalculável e inevitável, do
proletariado judeu, que é atirado de país em país, de lugar em lugar, pela
pressão política e pela necessidade econômica. Este proletariado flutuante
chegaria a ter moradia fixa e definitiva. Atualmente, alguns cidadãos cristãos,
aos quais se dá o nome de anti-semitas, bem que podem se opor à imigração
dos judeus estrangeiros. Os cidadãos judeus não podem fazê-lo, ainda que, para
eles, a situação seja muito mais grave, pois têm que fazer frente à competição
de indivíduos nas mesmas condições econômicas que eles e que, além disso,
introduzem o anti-semitismo ou agravam o já existente. É uma pena secreta dos
assimilados, que se atenua por meio de instituições de "beneficência".
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Ninguém é forte ou rico o bastante para transportar um povo de uma residência
para outra. Só uma ideia pode fazê-lo. Parece que a ideia de um Estado possui
esta virtude. Os judeus não pararam de sonhar, através de toda a noite da sua
história, este sonho divino: "O ano que vem em Jerusalém!"; são nossas
palavras tradicionais. Agora trata-se de mostrar que o sonho pode transformar-
se numa ideia clara como o dia.
Com tal finalidade é preciso fazer, antes de mais nada, tabula rasa com relação
aos muitos conceitos velhos, antiquados, confusos e bitolados. Assim, por
exemplo, os cérebros pouco esclarecidos acreditarão que a migração tem de
sair da civilização para internar-se no deserto. Não em absoluto! A migração se
realiza em meio à cultura. Não se baixa até um grau inferior e, sim, se sobe a
outro superior. Não nos instalaremos em cabanas de barro e, sim, em casas
mais bonitas, que nós mesmos construiremos e possuiremos se não ocorrer
nenhum perigo. Os bens adquiridos não se perdem, são utilizados. Não se
renuncia a um direito senão em troca de outro mais amplo.
Depois do êxodo dos judeus, não haverá dificuldades econômicas nem crises,
nem perseguições, mas começará um período de prosperidade para os países
abandonados. Terá início um movimento interno dos cidadãos cristãos em
direção aos postos deixados pêlos judeus. A emigração se realizará
gradualmente, sem perturbações e o seu início já será o fim do anti-semitismo.
Os judeus se despedirão como amigos respeitados e, quando alguns voltarem
mais tarde, serão recebidos nos países civilizados com tanta benevolência como
é dada a quaisquer outros estrangeiros. Tal imigração não será uma fuga, mas
uma marcha ordenada e sob a supervisão da opinião pública. O movimento não
só haverá de se iniciar por meios estritamente legais, mas o único modo de
realizá-lo é mediante uma amistosa colaboração com os governos interessados,
que sairão grandemente beneficiados.
Com tal finalidade é preciso fazer, antes de mais nada, tabula rasa com relação
aos muitos conceitos velhos, antiquados, confusos e bitolados. Assim, por
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exemplo, os cérebros pouco esclarecidos acreditarão que a migração tem de
sair da civilização para internar-se no deserto. Não em absoluto! A migração se
realiza em meio à cultura. Não se baixa até um grau inferior e, sim, se sobe a
outro superior. Não nos instalaremos em cabanas de barro e, sim, em casas
mais bonitas, que nós mesmos construiremos e possuiremos se não ocorrer
nenhum perigo. Os bens adquiridos não se perdem, são utilizados. Não se
renuncia a um direito senão em troca de outro mais amplo.
Depois do êxodo dos judeus, não haverá dificuldades econômicas nem crises,
nem perseguições, mas começará um período de prosperidade para os países
abandonados. Terá início um movimento interno dos cidadãos cristãos em
direção aos postos deixados pêlos judeus. A emigração se realizará
gradualmente, sem perturbações e o seu início já será o fim do anti-semitismo.
Os judeus se despedirão como amigos respeitados e, quando alguns voltarem
mais tarde, serão recebidos nos países civilizados com tanta benevolência como
é dada a quaisquer outros estrangeiros. Tal imigração não será uma fuga, mas
uma marcha ordenada e sob a supervisão da opinião pública. O movimento não
só haverá de se iniciar por meios estritamente legais, mas o único modo de
realizá-lo é mediante uma amistosa colaboração com os governos interessados,
que sairão grandemente beneficiados.
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expondo mais detalhadamente muitas coisas que apenas insinuamos; embora,
na medida do possível, evitaremos torná-la maçante, em benefício da própria
obra que haverá de circular pelo mundo. Para atingir tal meta, o melhor são,
certamente, breves capítulos aforísticos.
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PARTE II
O PROBLEMA JUDAICO
Não é meu propósito fazer ninguém compadecer-se de nós. Tudo isto é vão,
inútil e indigno. Limito-me a dirigir aos judeus as seguintes perguntas: Não é
verdade que a situação dos advogados, médicos, técnicos, professores e
empregados judeus de qualquer categoria está se tomando cada vez mais
insuportável? Não é verdade que toda a classe média judaica encontra-se
terrivelmente ameaçada? Não é verdade que todas as paixões das camadas
mais baixas da população são incitadas contra aqueles dentre nós que são ricos?
Não é verdade que nossos pobres estão sofrendo muito mais do que todos os
demais proletários?
Eu creio que a pressão existe em toda parte. Isto causa um certo mal-estar aos
judeus abastados. Na classe média, é sentido como uma grave e surda angústia.
Nas camadas inferiores, produz um profundo desespero.
O fato é que esta pressão tem, em todos os lugares, a mesma finalidade, que
pode ser resumida no clássico grito dos berlinenses: "Fora com os judeus!"
17
Vamos responder primeiro à pergunta se ainda podemos ficar. Podemos, com
esperança de tempos melhores, nos armar de paciência e, resignados à vontade
de Deus, esperar que os governantes e povos da terra se tornem mais
benevolentes conosco? Afirmo que não podemos esperar nenhuma mudança
de opiniões. Por quê? Os governantes, mesmo que estivéssemos tão próximos
do seu coração quanto os demais cidadãos, não poderiam proteger-nos. Se
mostrassem "demasiada" benevolência com relação aos judeus, só
contribuiriam para que se intensificasse o anti-semitismo. E esta "demasiada",
neste caso, ainda seria menor do que aquela que qualquer outro cidadão ou
qualquer grupo integrante de uma nação poderia reivindicar, natural e
justamente.
Todos os povos em meio aos quais os judeus vivem são, sem exceção, anti-
semitas, avergonhada ou desavergonhadamente.
Os meios artificiais que foram empregados até agora para tirar os judeus de sua
situação aflitiva ou foram mesquinhos - como no caso das diferentes
colonizações -, ou concebidos erroneamente, como nas tentativas de fazer dos
judeus agricultores em suas pátrias atuais.
O que se consegue levando alguns milhares de judeus para outro lugar? Ou eles
prosperam, ou o anti-semitismo aumenta proporcionalmente à sua fortuna, ou
então sucumbem imediatamente. Já nos ocupamos, mais acima, dos
procedimentos experimentados até agora para afastar os judeus na direção de
outros países. O desvio é, em todos os casos, insuficiente e inútil, quando não
18
contraproducente. Assim, a solução é retardada, postergada e talvez seja até
dificultada.
Há, por outro lado, regiões para onde os judeus desesperados querem ir e vão,
para viver no campo. E eis que precisamente estas regiões - como o enclave de
Hesse, na Alemanha e algumas províncias da Rússia - encontram-se entre os
principais viveiros de anti-semitismo.
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dar-lhes cada vez mais consideração, já que sua influência política está
aumentando progressivamente.
Não será assim que o anti-semitismo será eliminado. Ele não pode ser eliminado
enquanto suas causas não o forem. Mas, será que se pode, na verdade, eliminá-
las?
AS CAUSAS DO ANTI-SEMITISMO
Contudo, já não se pode anular a igualdade dos judeus perante a lei lá onde esta
existe. Não somente porque seria contrário à consciência moderna mas,
também, porque empurraria todos os judeus, ricos e pobres, para os partidos
subversivos. Na realidade, todos os meios empregados contra os judeus são
ineficazes.
EFEITOS DO ANTI-SEMITISMO
A pressão exercida sobre nós nos torna melhores. Não somos diferentes das
demais pessoas. E verdade que não amamos nossos inimigos. Mas somente
quem é capaz de exercer o domínio sobre si mesmo tem o direito de censurar-
nos. A pressão provoca em nós, naturalmente, sentimentos de hostilidade
contra nossos opressores e nossa hostilidade aumenta, por sua vez, a pressão. E
impossível sair deste círculo vicioso.
"E não obstante, é possível!" Isto pode ser obtido infundindo nos seres
humanos sentimentos de bondade.
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demasiado ignorantes e mesquinhos para ver que a prosperidade nos debilita
como judeus e apaga nossos traços característicos. Somente a opressão faz com
que voltemos a aderir ao velho tronco, só o ódio à nossa volta nos converte em
estrangeiros mais uma vez.
Somos um povo: os inimigos fazem com que o sejamos, mesmo contra nossa
vontade, como tem sucedido sempre em nossa história. Acossados, juntos nos
erguemos e, de imediato, descobrimos nossa força. Sim, temos 3 força para
criar um Estado e um Estado modelo. Temos todos os meios humanos e
materiais necessários para isto.
Seria este o lugar para falar do "material humano", que é o termo um tanto
grosseiro que se utiliza. Mas, antes, as linhas gerais do plano, ao qual tudo há de
referir-se, têm que ser conhecidas.
O PLANO
O plano é, em sua forma original, extremamente simples e é assim que deve ser,
caso:se seja compreendido por todos.
Deve ser concedida a nós soberana sobre uma porção da superfície da terra
adequada para essas necessidades e as nossas justas ambições de povo: todo o
restante, nós mesmos o proveremos.
Para esta tarefa, simples a princípio, mas complicada em sua realização, serão
criados dois grandes órgãos: a Society of Jews e a Jewish Company.
Como já se disse, â emigração dos judeus não deve ser concebida como
repentina, mas será um processo gradual, que durará décadas. Primeiro, irão os
mais pobres e lavrarão pela primeira vez a terra. Seguindo um plano
22
preestabelecido, construirão estradas, pontes, ferrovias e uma rede telegráfica,
regularão os cursos dos rios e estabelecerão eles mesmos seus lares. Seu
trabalho criará, inevitavelmente, possibilidades de comércio; o comércio fará
surgirem mercados, e os mercados atrairão novos imigrantes para o país. Todos
chegarão por vontade própria, por sua própria conta e risco. O trabalho que
investirem na terra fará o valor da mesma subir. Os judeus não tardarão em dar-
se conta de que se abriu diante deles um campo novo e duradouro, onde
poderão exercitar seu espírito empreendedor, que até então havia sido odiado
e desprezado.
Pois bem: se desejarmos fundar uma nação, atualmente, não se deve fazê-lo do
mesmo modo que, há dois mil anos atrás, teria sido o único possível. Seria uma
insensatez regressar a estados de cultura já superados, coisa que queriam
alguns sionistas. Por exemplo, se fôssemos examinar os animais de um país, não
o faríamos como os europeus do século V. Não atacaríamos isoladamente os
ursos, armados de dardos e lanças, mas organizaríamos uma grande e alegre
caçada, dando batidas às feras até tê-las reunidas e então jogaríamos uma
bomba de melinita sobre elas.
Aqueles que quiser marcar conosco, que jure lealdade à nossa bandeira e lute
por ela por meio da palavra, falada ou escrita e mediante a ação.
23
Então, se os governos se mostrarem dispostos a conceder ao povo judeu a
soberania de algum território neutro, a Society entabulará discussões sobre o
território que haverá de ser tomado como possessão. Dois países devem ser
levados em consideração: Palestina e Argentina. Em ambos os países foram
feitos notáveis tentativas de colonização, baseadas no princípio equivocado da
infiltração paulatina dos judeus. A infiltração tem que acabar mal, pois chega
inevitavelmente o instante em que o governo, sob a pressão exercida pela
população que se sente ameaçada, proíbe a imigração de judeus. Por
conseguinte, a emigração só tem sentido quando sua base for nossa soberania
garantida.
PALESTINA OU ARGENTINA?
A qual das duas deve-se dar preferência? A Society aceitará o que lhe derem e
aquela em direção à qual se incline a opinião geral do povo judeu. A Society
averiguará as duas.
24
símbolo da solução do problema judaico, depois de dezoito séculos de
sofrimento para nós.
25
Se a necessidade dos judeus de melhorar sua condição for verdadeira e
profundamente sentida e o órgão que houver de ser criado para satisfazer esta
necessidade, isto é, a Jewish Company, for suficientemente poderoso, haverá
forçosamente no novo país uma vida econômica ativa e grande animação nas
comunicações e relações de toda espécie. Naturalmente, tudo isto será no
futuro, assim como aconteceu com o desenvolvimento do tráfego ferroviário, o
qual se realizaria no futuro para os homens do ano de 1830. Contudo, as
ferrovias foram construídas. Afortunadamente, não se deram ouvidos às
pessoas práticas que defendiam a diligência.
26
PARTE III
A JEWISH COMPANY
CARACTERÍSTICAS
A Jewish Company será fundada como uma companhia por ações, com caráter
de entidade jurídica, de acordo com as leis inglesas e sob a proteção da
Inglaterra. Terá sua sede central em Londres. Não posso agora precisar o
montante do capital em ações. Nossos numerosos e hábeis financistas farão os
cálculos correspondentes. Mas, para não falar em termos vagos, direi que
precisamos de l bilhão de marcos. A quantidade que se haverá de desembolsar,
ao iniciarem-se as atividades, dependerá da maneira como se procurará o
dinheiro, o que examinaremos mais adiante.
A Jewish Company tem por objetivo, em primeiro lugar, liquidar os bens imóveis
dos judeus emigrantes. O modo como isto se realizará evitará a crise,
assegurará a cada um a sua parte e possibilitará aquela migração interna a que
já nos referimos.
27
A Jewish Company se constituirá na administradora dos bens imóveis
abandonados e esperará o momento propício para a venda. Perceberá os
aluguéis, arrendará os prédios rústicos e criará sub-administrações, também,
caso seja possível na forma de arrendamento, porque isto garantirá, de certo
modo, sua preservação.
possível, deverá ser transplantado tudo tal como está nos diversos países, e
aqui surge para a Company uma fonte de grandes e lícitos lucros. Ela dará no
novo país casas mais bonitas, mais modernas, com todos os progressos; dará
propriedades urbanas e rurais melhores, que custarão, porém, muito menos,
posto que terá adquirido as terras por um preço baixo.
A COMPRA DE TERRAS
28
A Company irá proporcionar â seus empregados terrenos em condições
equitativas; proporcionará créditos amortizáveis para eles, no sentido de que
construam seus belos lares e descontará de seus salários ou os considerará, com
o passar do tempo, como aumentos dos mesmos. Isto será, além das
prerrogativas que os aguardam, uma forma de recompensá-los pêlos serviços
prestados.
EDIFICAÇÃO
A Company trocará, portanto, casas e outros bens imóveis. Ela deverá ter lucro
e o terá nos terrenos. Isto fica claro para todos aqueles que tenham observado
uma vez, em algum lugar, a subida dos preços dos terrenos em virtude do
destino dado aos mesmos, para fins de urbanização. Onde podemos observar
isto melhor é nos prédios rústicos e urbanos. Os terrenos baldios sobem de
preço por sua proximidade com uma região cultural. Uma especulação
imobiliária, genial em sua simplicidade, foi a daqueles que alargaram a cidade
de Paris; não construindo novos edifícios junto às últimas casas da cidade,
porém comprando os terrenos situados no limite da mesma e começando a
edificar no limite exterior. Como resultado deste método contrário ao usual, o
valor dos terrenos destinados à edificação subiu com rapidez espantosa e,
quando a zona marginal estava urbanizada, em vez de construir sempre
novamente nas últimas casas da cidade, edificou-se somente no meio da
mesma, ou seja, em terrenos de maior valor.
29
MORADIAS OPERÁRIAS
O templo será visível desde muito longe, porque tem sido, sem dúvida, somente
a velha fé que nos manteve unidos. E escolas para as crianças, de aspecto
agradável, instaladas de acordo com os objetivos modernos do ensino.
E, além destas, escolas para adultos que, com vistas a fins elevados, haverão de
preparar os trabalhadores manuais para que possam adquirir os conhecimentos
tecnológicos e os das artes industriais. E também casas de diversão para o povo,
nas quais a Society of Jews exercerá vigilância no que se refere à moralidade.
Falamos até agora apenas dos edifícios e não do que será feito no interior dos
mesmos.
Digo, pois, que, para a Company não será muito dispendiosa a construção das
moradias operárias. Não somente porque haverá enormes quantidades de
materiais de construção; não somente porque os terrenos pertencerão à
Company mas, também, porque esta não terá de pagar os trabalhadores.
Nossos operários sem qualificação, que virão, inicialmente, dos grandes centros
russos e romenos, também terão que construir mutuamente suas casas. No
princípio, não teremos, é claro, nosso próprio ferro e construiremos também
30
com madeira. Com o passar do tempo, as construções provisórias e insuficientes
serão substituídas por outras melhores.
Disse mais acima que a Company não teria de pagar a estes unskilled. De que
viverão então?
Isto não quer dizer que se podará árvores, cavará a terra, carregará pedras, em
suma, se realizará os diferentes trabalhos durante apenas sete horas. Não. O
trabalho será feito durante catorze horas, mas as equipes serão substituídas a
cada três horas e meia. A organização será completamente militar, com cargos,
promoções e pensões. Explicaremos mais adiante de onde se tirarão as
pensões.
31
A jornada de sete horas! É ela que fará com que seja possível a jornada de
catorze horas; mais do que isto não cabe no dia.
A jornada de sete horas servirá para atrairmos nossos homens do mundo todo,
que haverão de acudir por livre decisão.
Isto posto, quem trabalhar mais de sete horas receberá pelas horas extras um
pagamento em dinheiro. Posto que todas as suas necessidades serão satisfeitas
e os membros de sua família, que forem incapazes de trabalhar, serão atendidos
pelas instituições centralizadas beneficentes transplantadas ao novo país, o
trabalhador poderá economizar alguma coisa. Queremos estimular o instinto de
poupança já existente na nossa gente, porque facilita a ascensão do indivíduo a
posições superiores e porque deste modo criaremos um enorme fundo de
reserva para empréstimo futuros.
O excesso sobre a jornada de sete horas não deverá ser maior do que três horas
e só será permitido com prévio exame médico. Porque nossa gente estará
desejosa de obter trabalho nas novas condições de vida, e então o mundo verá
quão produtivo e trabalhador é o nosso povo.
32
O que acabo de dizer, partindo das moradias operárias, sobre os unskilled e seu
modo de vida não é uma utopia, como tampouco o é todo o restante. Tudo isto
já existe, na realidade, mas em escala tão pequena que quase ninguém percebe
ou Compreende. A assistance par le travail, que cheguei a conhecer e
compreender em Paris, me foi de grande valia para a solução do problema
judaico.
A assistência pelo trabalho proporciona trabalho para todos. Mas ela poderá
vender os produtos? Não. Ou somente em quantidades insuficientes. Aqui esta
a falha da organização existente. Essa assistance sempre faz mal negócio. Mas
está concebida para ter prejuízo em seus negócios porque é uma instituição de
beneficência O benefício consiste na diferença entre os gastos da produção e o
preço obtido na venda. Em vez de dar dois sous ao mendigo, lhe dá um trabalho
no qual ela perde dois sous. Porém, o mendigo em farrapos, que se converteu
em trabalhador honrado, ganha um franco e cinquenta centavos. Por dez
centavos, cento e cinquenta! Isto equivale a fazer de um bilhão, quinze bilhões.
33
A falha da pequena organização existente é de que não se deve., fazer
concorrência a lenhadores etc. Os lenhadores são eleitores; protestariam e com
razão. Tampouco se deve fazer concorrência às penitenciárias do Estado: este
deve ocupar e sustentar os delinquentes.
Em geral, será difícil instituir a assistance par le travail numa sociedade antiga.
MOVIMENTO DE MERCADOS
34
OUTROS TIPOS DE MORADIAS
Dado que a Company não deseja ganhar nada na construção e sim nos terrenos,
será bastante conveniente que muitos arquitetos construam por encomenda de
particulares. Aumenta deste modo o valor da terra, e com isto se introduz o luxo
no país, e necessitamos o luxo para diversos fins. Acima de tudo, para as artes,
para a indústria e, num futuro mais distante, para a desagregação de grandes
fortunas.
Os judeus ricos, que agora têm que ocultar amedrontados os seus tesouros e
que dão suas desagradáveis festas a cortinas fechadas, poderão gozar
livremente o novo país. Se esta imigração realizar-se-á com a ajuda deles, o
capital será restituído entre nós no novo país; terá mostrado sua utilidade em
uma obra sem precedentes. Quando os judeus mais ricos começarem a edificar
seus palácios, que na Europa já são vistos com olhos tão invejosos, logo será
moda estabelecer-se casas suntuosas no novo país.
Neste caso, será preciso levar em consideração diversas formas, que não podem
ser reduzidas de antemão a um esquema. Contudo, não há nisto qualquer
dificuldade. Porque em cada caso particular, se o dono do negócio se dispuser a
emigrar por livre decisão, fará um acordo com a sucursal da Company na sua
jurisdição, quanto à forma de liquidação mais favorável para ele.
35
Quanto aos comerciantes varejistas, em cujo comércio o principal é a atividade
pessoal do proprietário, figurando em segundo lugar os escassos estoques ou o
inventário, o transplante de bens pode ser efetuado de maneira mais fácil. A
Para os comércios de médio porte, nos quais os estoques são mais importantes
do que a atividade pessoal do proprietário e cujo crédito entra em consideração
como fator imponderável e decisivo, pode-se imaginar diversas formas de
liquidação. Este também é um dos pontos principais que facilitará a migração
interna dos cristãos. O judeu imigrante não perde o seu crédito pessoal mas o
leva consigo e se servirá do mesmo estabelecimento no novo país. A Company
abrirá uma conta corrente para ele. Também poderá vender livremente o
negócio que tinha até agora, ou transferi-lo para procuradores sob a vigilância
da Company. O procurador pode tomar o negócio em arrendamento ou vendê-
lo a prazo.
Se o dono do negócio que emigra quiser ter o mesmo negócio no novo país,
poderá se preparar para isto de antemão. Demonstremos com um exemplo. O
dono da loja X, um grande negócio de artigos de moda, tem a intenção de
emigrar. Estabelece de imediato uma sucursal no futuro lugar de residência, à
qual ele enviará seus artigos recusados. Os primeiros imigrantes pobres serão a
clientela no novo país. Pouco a pouco, chegarão pessoas mais exigentes. Então
X enviará artigos de melhor qualidade e, finalmente, as últimas novidades. A
sucursal se tornará por si só lucrativa, enquanto que a loja central ainda
subsiste. X tem agora dois negócios: o velho, que ele poderá vender ou entregar
36
a um representante cristão para que o administre: ele próprio irá assumir a
direção do novo.
Um exemplo mais amplo: Z e Filho têm um grande negócio de carvão com minas
e fábricas.
A mina de carvão, com todas as suas dependências, poderá ser adquirida pelo
Estado em que se encontra situada. Ou a Jewish Company pode comprá-la e
pagá-la, em parte com terras no novo país e outra parte em dinheiro. Ou será
fundada uma sociedade por ações, a sociedade Z e Filho. Uma quarta
possibilidade seria a de continuar a exploração como até agora só que, quando
os proprietários emigrados retornassem, de vez em quando, para inspecionar
seus bens. seriam considerados estrangeiros, em cuja qualidade gozam
plenamente da proteção das leis nos países civilizados. Insinuo tão somente
uma quinta possibilidade, especialmente frutífera e grandiosa, porque ainda há
alguns e não muito convenientes exemplos dela na vida, por mais próxima que
esteja da nossa consciência moderna: Z e Filho poderiam transferir sua
empresa, mediante reembolso, a todos os seus atuais empregados. Os
empregados formariam uma sociedade com responsabilidade limitada e
poderiam talvez pagar a Z e Filho a quantia de amortização, com ajuda da Caixa
Nacional, que não cobra juros usurários. Os empregados amortizariam depois o
empréstimo que a Caixa Nacional ou a Jewish Company ou os próprios Z e Filho
lhes concederam.
GARANTIAS DA COMPANY
Mas o Estado também tem interesses fiscais que podem ser prejudicados. Perde
uma classe de contribuintes mal conceituada sob o ponto de vista político, mas
muito apreciada sob o financeiro. Será preciso oferecer-lhe uma indenização.
37
A ofereceremos indiretamente, deixando no país os negócios organizados com
nossa sagacidade e nosso zelo judaicos, permitindo que os concidadãos cristãos
ocupem nossos postos abandonados, possibilitando assim uma ascensão das
massas ao bem-estar; evolução sem precedentes pelo seu caráter inofensivo. A
revolução francesa mostrou, em pequena escala, algo parecido; mas para isto
teve de fazer jorrar torrentes de sangue sob a guilhotina, era todas as províncias
da nação e nos campos de batalha da Europa. E, para isto, tiveram de ser
invalidados direitos herdados e adquiridos. E só os astutos compradores dos
bens nacionais enriqueceram-se com isto.
A sede central será em Londres porque a Company deverá estar, no que diz
respeito ao direito privado, sob a proteção de uma grande potência que não
seja atualmente anti-semita. Mas a Company, quando for apoiada oficial e
oficiosamente, irá converter-se em todos os lugares num rico filão de impostos.
Ela fundará estabelecimentos, filiais e sucursais em todos os lugares, que
poderão ser onerados com impostos. Além disto, oferecerá a vantagem de
transferir os bens imóveis duas vezes consecutivas; isto significará que serão
feitas duas escrituras e, portanto, os direitos serão cobrados duas vezes. A
Company aparecerá transitoriamente como compradora até nos casos em que
ela não intervém, mas como agente de bens imóveis. Figurará por um momento
no cadastro como proprietária, ainda que não queira possuir nada.
Estas são coisas de puro cálculo. Será preciso averiguar e estabelecer cada lugar
onde a Company pode ir sem colocar em perigo a sua existência. Discutirá
francamente com os ministros da fazenda. Estes verão claramente a boa fé e
darão em todos os lugares as facilidades que demonstrem ser necessárias para
levar a cabo o grande empreendimento.
38
Para a classe média, pode-se adotar o sistema de Cook, para as pessoas pobres
o de "porte" de pessoas. A Company poderia ganhar muito com a redução das
tarifas de transportes de pessoas e cargas, mas também a este respeito o
princípio deverá ser o de cobrar somente : quantia indispensável para sua
própria conservação.
Simplesmente se troca sua roupa velha por outra nova. Se a Company perder
algo com isto, o registrará nos seus livros como perda. Os que não possuem
nada em absoluto terão uma dívida com a Company: pagarão no novo país com
horas extras de trabalho, das quais serão eximidos se tiverem bom
comportamento.
39
solene por nossas autoridades supremas. Sem júbilo insensato, porque a Terra
Prometida tem de ser conquistada pela força do trabalho. Mas aqueles pobres
homens já deverão sentir que estão em casa.
Através da Society of Jews, que terá recebido as informações dos grupos locais,
a Jewish Company deverá conhecer, em tempo hábil, o número, o dia de
chegada e as necessidades dos imigrantes. Deste modo poder-se-á provê-los
adequadamente.
FOMENTO À INDÚSTRIA
Mas não deve de modo algum aproveitar-se de seu predomínio para afogar as
empresas de livre iniciativa. Somos coletivistas somente quando as enormes
dificuldades que a tarefa apresenta assim o exigirem. Defenderemos e
protegeremos o indivíduo e seus direitos com exceção unicamente destes casos.
A propriedade particular se desenvolverá entre nós, livre e respeitada, como
base econômica da independência. Faremos com que nossos primeiros unskilled
labourers possam gozar o quanto antes da propriedade particular.
40
Além disto, será oferecida mão-de-obra centralizada aos empresários. O
fabricante se dirigirá à bolsa de trabalho, que só cobrara dele uma contribuição
destinada à sua própria manutenção. O empresário enviará o seguinte
telegrama: "Necessito para amanhã e durante três dias, três semanas ou três
meses, quinhentos unskilled!" No dia seguinte, chegarão à sua empresa agrícola
ou industrial os quinhentos homens pedidos, que o escritório central reuniu
aqui e ali, exatamente lá onde estavam disponíveis.
É evidente que, tudo que foi dito a respeito unskilled é ainda mais facilmente
aplicado caso se trate trabalhadores qualificados. Os operários podem ser
incluídos na mesma categoria. O escritório central cuidará deles e arranjará
trabalho.
No que toca aos artesãos que trabalham por conta pio e aos pequenos mestres,
aos quais queremos alentar e proteger, de um modo especial, em vista dos
futuros progressos, proporcionando-lhes conhecimentos técnicos - mesmo
quando não forem mais jovens - administrando-lhes os cavalos-vapor, gerados
nos cursos de água, assim como a luz por meio fios elétricos; estes
trabalhadores independentes também se procurados e encontrados por meio
da Society.
41
MEIOS DE REUNIR FUNDOS
Para isto há três maneiras, que serão examinadas pela Society. Esta, a grande
pessoa moral, o gestor dos judeus, irá se compor de nossos melhores homens e
daqueles com maior probidade, que não poderão nem deverão obter ganho
algum no assunto.
Embora a Society, no começo, não possa ter mais do que uma autoridade moral,
esta será, no entanto, suficiente para creditar a Jewish Company diante do povo
judeu. A Jewish Company só terá perspectivas de êxito comercial quando levar o
carimbo, por assim dizer, da Society. Isto quer dizer que não poderá se reunir
um grupo qualquer de financistas para constituir a Jewish Company.
As três maneiras de reunir o capital em ações são: 1) por meio dos grandes
capitalistas; 2) por meio dos bancos das classes médias; 3) por subscrição
popular.
A fundação por parte dos grandes capitalistas seria a mais fácil, rápida e segura.
Neste caso o dinheiro necessário poderia ser reunido no mínimo de tempo, por
simples deliberação no seio dos grandes grupos financeiros existentes. Isto
ofereceria a vantagem de que um bilhão - para nos atermos à quantia que
admitimos - não teriam que ser desembolsados imediatamente e a outra
vantagem de que também o crédito daqueles poderosos grupos financeiros
redundaria em proveito da empresa.
42
Os judeus pobres sentem somente o ódio que esta potência financeira provoca;
o proveito, o alívio de seus sofrimentos, que seria possível conseguir, isto não
atinge os judeus pobres.
A política de créditos dos grandes financistas judeus teria de ser posta a serviço
da ideia nacional, mas se aqueles senhores, tão contentes com sua situação,
não se sentirem impelidos a fazer algo por seus irmãos de raça, aos que
injustamente se responsabilizam pelas grandes fortunas que somente algum
entre eles têm, a realização do presente plano brindará uma ocasião para
estabelecer com todo rigor uma linha divisória entre eles e os demais setores do
judaísmo.
Não será exigido dos grandes capitalistas que facilitem uma quantia tão grande
por pura caridade. Seria uma pretensão insensata. Os fundadores e acionistas
da Jewish Company haverão de fazer um bom negócio e poderão dar-se conta,
de antemão, de todas as perspectivas que se oferecem a eles.
Talvez o assunto não obtenha, contudo, a aprovação tão preciosa dos magnatas
financeiros judeus. É possível que estes até cheguem a iniciar a campanha
contra nosso movimento judaico por meio de seus servidores e agentes
secretos. Tal luta, como qualquer outra que nos seja imposta, nós a
sustentaremos sem usar luvas de pelica.
É sabido que esta maneira de reunir fundos não é nada fantástica. Em diversas
ocasiões tratou-se de reunir o dinheiro católico para fazer frente aos grandes
capitalistas. Ainda não se deram conta de que também se pode combatê-los
com o dinheiro judeu.
Mas, que crise não seria motivada por tudo isto! Como seriam prejudicados os
países onde se sustentassem tais lutas financeiras, e como haveria de
acrescentar-se o anti-semitismo como consequência delas! A mim, esta solução
não agrada; cito-a somente porque constitui uma etapa do desenvolvimento
lógico do raciocínio.
Em todo caso, a causa tampouco estará perdida com a recusa por parte
daqueles que possuem fortunas médias. Ao contrário. É então que será dada a
partida.
Mas, se a quantia total necessária fosse coberta por meio da subscrição popular
no mundo inteiro, cada uma das pequenas quantias estaria garantida pela
infinidade das demais pequenas quantias. Naturalmente, para tudo isto seria
necessária a ajuda oficial e decidida dos governos interessados.
OS GRUPOS LOCAIS
O TRANSPLANTE
44
Até aqui, só assinalamos como a emigração devera ser organizada sem que se
produzam transtornos econômicos. Entretanto, uma imigração desta natureza
também será acompanhada por uma série de agitações de ânimo fortes e
profundas. Existem costumes antigos, lembranças através das quais nós, seres
humanos, estamos intimamente ligados aos lugares.
Temos berços, temos túmulos e já sabemos que os túmulos são para o coração
judeu. Quanto aos berços, nós os levaremos conosco: neles dormita, rosado e
sorridente nosso futuro. Teremos que abandonar nossos queridos túmulos;
creio que o separar-se deles será o que causará mais pena a nós, que somos um
povo ávido por bens. Mas isto terá que acontecer.
Mas nós queremos dar aos judeus uma pátria. Não arrancando-os
violentamente do terreno a que estão apegados, mas desenraizando-os
cuidadosamente para transplantá-los em um solo melhor.
Por mais decididos que estejamos a provocar uma mudança na situação política
e econômica, pensamos, porém, quanto a estes sentimentos, em conservar
tudo o que é antigo como coisa sagrada. Limitar-me-ei a algumas indicações a
este respeito. Neste ponto reside o maior perigo de que o plano seja tomado
por uma fantasia.
A EMIGRAÇÃO COLETIVA
45
Ninguém fará a viagem na miséria. Será feito todo o possível para que os
viajantes estejam rodeados por todos os tipos de comodidades. Muito antes da
partida, as pessoas combinarão sua emigração comum (no melhor dos casos,
transcorrerão anos até que o movimento tome impulso em certas classes do
nosso povo); as pessoas acomodadas se reunirão em grupos de viagem. Cada
um levará consigo suas relações pessoais. Sabemos que, com exceção dos mais
ricos, os judeus quase não têm relações com os cristãos. Em alguns países
ocorre que os judeus que não mantêm alguns parasitas, pessoas que sabem
pedir dinheiro com astúcia e puxa-sacos, não conhecem nenhum cristão. O
gueto persiste em seu interior.
Não teremos que assinalar a tarefa a nossos intelectuais. Todo aquele que
aderir à ideia nacional saberá como trabalhar em seu ambiente para propagá-la
e incitar a colaboração ativa. Apelaremos, em primeiro lugar, à colaboração de
nossos rabinos.
NOSSOS RABINOS
Cada grupo terá seu rabino, que acompanhará sua congregação. Todos se
agruparão livremente. O grupo local se reunirá em torno do rabino. Haverá
tantos grupos locais quantos forem os rabinos. Os rabinos serão os primeiros a
nos compreender, os primeiros a se entusiasmar com a causa, entusiasmando
os demais a partir do púlpito. Não é preciso convocar assembleias, onde se
46
perde tempo com palavras vãs e ociosas. Isto será intercalado no serviço
religioso.
E é assim que deve ser. Reconhecemos nossa unidade histórica somente por
meio da fé de nossos pais, uma vez que desde há muito tempo nos
identificamos, irremediavelmente, com os idiomas das diversas nações. Os
rabinos receberão sempre as informações da Company e as darão a conhecer e
as explicarão à sua comunidade. Israel rogará por nós, por si próprio.
PLANOS DE CIDADES
Os planos das cidades serão exibidos nos grupos locais. Nossa gente saberá de
antemão para onde irá, a quais cidades e em que viverá. Já falamos dos planos
de urbanização e das correspondentes representações gráficas, acessíveis a
todas as inteligências, que haverão de ser entregues aos grupos locais.
O FENÔMENO DA MASSA
Creio que não teremos que nos esforçar muito para dar impulso ao movimento.
Os anti-semitas o farão por nós. Basta que continuem com suas atividades,
como têm feito até agora, para que o desejo de emigrar nasça nos judeus que
ainda não o têm e se intensifique naqueles em que já existe. Se os judeus
permanecem atualmente nos países de tendência anti-semita, isto se deve a
que, como sabem até os que carecem de conhecimentos da história, as
inúmeras mudanças de lugar no decorrer dos séculos nunca foram de ajuda
duradoura para nós. Se houvesse atualmente um país onde os judeus fossem
acolhidos com simpatia e se lhes brindasse muito menos vantagens do que as
que lhes serão garantidas no Estado judeu - quando este nascer -, não
demoraria para produzir-se um movimento emigratório na direção daquele
país. Os mais pobres, que não têm nada a perder, se arrastariam para lá. Mas eu
digo, e cada um saberá por si mesmo se isto está certo, que o desejo de emigrar
devido à pressão que pesa sobre nós existe até nas nossas classes acomodadas.
Pois bem: os pobres serão capazes de fundar o Estado por si mesmos; eles são,
sem dúvida, o material humano mais apto para a tomada de posse de um país,
porque para os grandes empreendimentos é preciso estar um pouco
desesperado. Mas nossos "desesperados", fazendo subir o valor da terra por
sua pura e simples aparição e pelo seu trabalho, irão despertando nos que
levam uma vida abastada o desejo de emigrar atrás deles.
A emigração será interessante para camadas cada vez mais elevadas. A Society e
a Company dirigirão a emigração dos primeiros a partirem, dos mais pobres, e
para isto obterão, com certeza, a ajuda das agências de emigração e das
sociedades sionistas já existentes.
Como se pode conduzir uma massa para um ponto determinado sem exercer
pressão sobre ela?
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Existem alguns grandes benfeitores judeus que estão procurando aliviar os
sofrimentos dos outros por meio de experiências sionistas. Estes benfeitores
tiveram de encarar o problema e acreditam solucioná-lo dando aos emigrantes
dinheiro ou meios de trabalho. Tal benfeitor dizia: "Pago às pessoas para que
emigrem". Isto é algo absolutamente equivocado e não pode ser conseguido,
nem com todo o dinheiro do mundo.
Eu, pelo contrário, destino aquela quantia para premiar o cavalo de corridas
mais veloz e em seguida impeço a entrada de pessoas em Longchamps por meio
de barreiras. Quem quiser entrar precisa pagar: um, cinco ou vinte francos.
Nós procedemos de outro modo. Nos pontos onde há mais tráfego, e podemos
achar estes pontos mais facilmente quando nós mesmos dirigimos o tráfego
para onde queremos, levantaremos galpões espaçosos e os chamaremos de
mercados. Nossos galpões poderão ser piores e menos higiênicos que os
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mencionados acima e, mesmo assim, as pessoas afluiriam. Mas os
construiremos mais bonitos e melhores, com toda nossa boa vontade.
Querem saber como faremos para que haja demanda suficiente? Será que terei
de explicar tudo de novo?
Mas será que tudo isto será tão exalo em grande escala como o é em pequena
escala? Quando forem investidas grandes quantias, não aumentará em
progressão decrescente a renda do capital? Sim, a renda do capital adormecido
e covardemente oculto, mas não a do capital ativo. O capital ativo produz uma
renda que aumenta de modo lentamente progressivo, mesmo em se tratando
de quantias enormes. É precisamente nisto que repousa a questão social.
Será que o que estou dizendo está certo? Tomo os judeus mais ricos por
testemunhas. Por que eles se dedicam a tantas indústrias diferentes? Por que
fazem as pessoas descerem até as galerias subterrâneas para que, por um
pagamento escasso e expostos a perigos terríveis, extraiam o carvão? Parece-
me que isto não deve ser agradável nem para os próprios donos de minas. Não
creio que os capitalistas sejam homens sem coração, nem finjo acreditar nisto.
Não quero acirrar os ânimos, mas incliná-los à conciliação.
Queremos que no novo país cada um seja feliz à sua maneira. Também, e antes
de mais nada, haverão de sê-lo nossos livres pensadores, nosso exército imortal,
que abre sempre novos horizontes para a humanidade.
Não há nenhum povo acerca do qual haja tantas opiniões tão equivocadas como
os judeus; chegamos a nos sentir tão oprimidos e desalentados, como
consequência dos sofrimentos históricos que até as tornamos nossas e as
repetimos como tais. Segundo uma das falsas afirmações, nós judeus somos
desmedidamente afeiçoados pelo comércio. Pois bem: é sabido que, quando
podemos participar do movimento ascendente de classes, nos afastamos bem
depressa do comércio.
A maioria dos comerciantes judeus faz seus filhos estudarem; daí vem o
predomínio do elemento judeu nas profissões que requerem estudos
universitários.
Essas lojas, que têm sortimento completo, já estão agora afogando os pequenos
comércios nas grandes cidades. Em uma civilização nova, aquelas impediriam
que estes surgissem. O estabelecimento de grandes lojas ofereceria, além desta,
a vantagem de que, também, as pessoas que sentissem necessidades refinadas
poderiam radicar-se imediatamente no país.
PEQUENOS HÁBITOS
- Será compatível com a seriedade desta obra falar, ainda que rapidamente, dos
pequenos hábitos e comodidades do homem médio?
Creio que sim. E até que é muito importante. Pois esses pequenos hábitos são
como mil fios, cada um dos quais é muito tênue e pouco resistente, porém,
juntos formam uma corda que não se rompe.
Existem hotéis no Egito e nos picos das montanhas da Suíça, cafés vienenses no
sul da África, teatros franceses, teatros de ópera alemães na América e a melhor
cerveja de Munique em Paris.
Se emigrarmos outra vez de Mitsrayim (Antigo Egito) não nos esqueceremos das
panelas.
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Em cada grupo local, cada qual pode voltar a encontrar e encontrará as
pequenas coisas a que estava habituado, mas as achará melhores, mais bonitas
e mais agradáveis.
"NEGOTIORUM GESTIO"
Esta obra não é dirigida aos juristas; por isto posso me limitar a esboçar, em
linhas gerais, minha Teoria da Razão de Estado.
Devo, contudo, insistir um pouco na minha nova teoria, que poderá ser
sustentada, certamente, mesmo em uma discussão em que intervenham peritos
em assuntos de direito e jurisprudência.
A refutação lógica e histórica da teoria de Rousseau não foi e não é difícil, por
mais terríveis e frutíferos que tenham sido os efeitos desta teoria. Para OS
modernos Estados constitucionais, a questão de determinar se antes da
Constituição já existia um contrato social com "cláusulas não fixadas
expressamente mas inalteráveis", não tem nenhum interesse prático. De
qualquer modo, hoje as posições jurídicas do governo e dos cidadãos estão
fixadas.
O Estado nasce como resultado da luta de um povo por sua existência. Nesta
luta, não é possível fazer extensas tramitações para receber determinada
ordem. E, mais ainda: qualquer empreendimento em benefício da coletividade
55
estaria de antemão fadado ao fracasso se fôssemos, primeiramente, obter uma
decisão formal da maioria. As cisões internas privariam o povo da defesa contra
os perigos externos. Não é possível por todo o mundo de acordo. Por isto, o
gestor assume o comando e se põe à frente de tudo.
Claro está que este gestor não deve ser um indivíduo. Tal indivíduo seria ridículo
ou desprezível, já que daria a impressão de que estaria procurando tirar
vantagem da situação em proveito próprio.
O gestor dos judeus tem de ser uma pessoa moral, em todos os sentidos da
palavra. E assim é a Society of Jews.
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A Society persegue fins científicos e políticos. A fundação do Estado judeu, tal
como eu o concebo, pressupõe uma organização moderna, Científica. Se
emigrássemos hoje de Mitsrayim, não seria possível fazê-lo da maneira ingénua
dos tempos antigos. Antes, iríamos calcular de outro modo nosso número e
nossas forças. A Society of Jews é o novo Moisés dos judeus. O empreendimento
do antigo e grande gestor dos judeus naqueles tempos de vida simples é,
comparada com a nossa, o que um admirável melodrama antigo representa em
comparação com uma ópera moderna. Nós executamos a mesma melodia com
um número muito, muitíssimo maior de violinos, flautas, harpas, violoncelos,
contrabaixos, empregando a energia elétrica, decorações, coros, um suntuoso
aparato cênico e cantores de primeira ordem.
A presente obra tem por objetivo provocar a discussão geral sobre o problema
judaico. Espero que amigos e inimigos intervenham nela, mas não da forma que
se costumava fazer até agora, dos discursos sentimentais e dos insultos
grosseiros. No debate haverão de impor-se a imparcialidade, a grandeza, a
seriedade e a compreensão política.
57
O primeiro objetivo, como já dissemos, é conseguir a soberania, reconhecida
pelo direito internacional, de um território que seja suficiente para satisfazer
nossas necessidades justificadas.
Há uns quarenta anos atrás, a busca do ouro era efetuada de uma maneira
particularmente simples. Que aventuras ocorriam na Califórnia! Começava a
correr o rumor, e acudiam os "desesperados" do mundo inteiro: roubavam a
terra, roubavam o ouro entre si e, em seguida, perdiam-no de uma maneira
igualmente própria de ladrões.
Devemos explorar o novo país dos judeus de maneira idêntica e tomar posse do
mesmo com todos os recursos modernos.
Tão logo esteja assegurado o país, o primeiro navio se dirigirá para lá, destinado
a tomar posse do mesmo.
Estes homens, que tomarão posse do país, terão que cumprir três tarefas: 1) a
investigação exata, científica da natureza do país; 2) a organização de uma
administração rigorosamente centralizada; 3) a repartição do país. Estas tarefas
se encadeiam entre si e haverão de ser levadas a cabo sem demora e com
eficiência.
59
A CONSTITUIÇÃO
Uma das grandes comissões que a Society terá de nomear será o conselho de
juristas do Estado. Estes terão que redigir a melhor e mais moderna
Constituição possível. Creio que uma boa Constituição deverá possuir uma
elasticidade moderada. Em outra obra, expus as formas de governo que me
parecem as melhores.
E onde se encontra esta virtude? Refiro-me à virtude política. Não creio nessa
virtude política porque nós não somos diferentes dos demais homens modernos
e porque, recuperada a liberdade, o primeiro que faremos será levantar a crista.
Considero o referendo insuficiente, posto que, na prática, não há questões
simples às quais se possa responder meramente com um sim ou não. Além
disso, as massas têm a propensão, em grau maior do que o dos parlamentos, a
apoiar qualquer opinião equivocada, a simpatizar com qualquer demagogo.
Ante o povo reunido, não se pode fazer política externa nem interna.
A política deve ser feita de cima para baixo. Nem por isto alguém será
escravizado no novo Estado judeu, pois assim todo judeu poderá ascender e
cada um deles irá querer ascender. Assim, pois, se originará no nosso povo um
formidável movimento de elevação. Cada indivíduo acreditará que está
elevando apenas a si mesmo, e deste modo a coletividade será elevada. A
ascensão haverá de ser feita segundo princípios morais, úteis ao Estado e que
sirvam à ideia nacional.
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Por isto imagino uma república aristocrática. Isto corresponde também às
ambições do nosso povo, que degeneraram agora em néscia vaidade. Tenho
presentes certas instituições de Veneza; mas se haverá de evitar tudo aquilo
pelo qual Veneza sucumbiu. Aprenderemos com os erros históricos dos demais
e dos nossos próprios. Pois nós somos um povo moderno e queremos chegar a
ser o mais moderno.
IDIOMA
TEOCRACIA
Teremos, pois, uma teocracia? Não! A fé nos mantém unidos, a ciência nos
torna livres.
LEIS
O EXÉRCITO
A BANDEIRA
Imagino uma bandeira branca com sete estrelas douradas. O campo branco
significa a vida nova, pura; as estrelas simbolizam as sete horas douradas de
nossa jornada de trabalho. Posto que os judeus se dirigem ao novo país sob o
signo do trabalho.
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RECIPROCIDADE DE TRATADOS DE EXTRADIÇÃO
O novo Estado judeu deve ser fundado sobre os princípios da honra, pois
pensamos em nossa futura honra perante o mundo.
No Estado judeu, será mais fácil que em qualquer outro lugar pleitear todas as
reclamações concernentes ao direito privado e que provenham ainda dos países
abandonados. Não esperamos nenhuma reciprocidade. Não o faremos senão
por nossa honra. Desta maneira, também nossas reclamações encontrarão
tribunais mais benévolos do que atualmente achamos aqui e ali.
De tudo que está sendo dito, depreende-se que faremos a extradição de judeus
com maior prontidão do que qualquer outro Estado, até o momento em que
administremos a justiça criminal segundo os mesmos princípios que os demais
países civilizados. Haverá, pois, um período de transição, durante o qual
receberemos nossos delinquentes somente depois de cumprir a condenação.
Mas, se tiverem cumprido a condenação, serão recebidos sem nenhuma
restrição; os delinquentes, entre nós, também haverão de começar uma vida
nova.
Assim, pois, a emigração pode chegar a ser para muitos judeus uma crise
benéfica. Serão suprimidas as más condições externas, devido às quais muitos
perderam sua firmeza de caráter, e os extraviados poderão ser salvos.
Que lição esta história encerra! Uma vida nova funciona como corretivo até
para os delinquentes. E nós temos relativamente poucos delinquentes. Remeto
os leitores a uma estatística interessante. A criminalidade dos judeus na
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Alemanha, que foi compilada pelo doutor P. Nathan, de Berlim, por encomenda
do Comité de Defesa contra os ataques anti-semitas, e tomando por base os
dados oficiais. Só que esta obra estatística parte do pressuposto errôneo, como
muitas outras "defesas" contra o anti-semitismo, de que este pode ser refutado
com argumentos lógicos. E de se supor que somos odiados tanto por nossas
idades como por nossos defeitos.
Também é uma estupidez, que deve ser assinalada como tal, crer que a
consequência da imigração em massa dos judeus haveria de ser a produção de
um empobrecimento destes países. Uma coisa é a emigração consequente a
perseguições, nas quais bens e propriedades são destruídos, o mesmo que
ocorre no caos de uma guerra; e outra coisa é a emigração pacífica e voluntária
de colonos, na qual tudo pode ser levado a cabo respeitando-se os direitos
adquiridos, com toda a legalidade, livre e abertamente, à luz do dia, à vista das
autoridades, sob a supervisão da opinião pública. O movimento judaico faria
cessar a emigração dos proletários cristãos para outros países.
Além do mais, seria oferecida aos países a vantagem de que o seu comércio de
exportação aumentaria, posto que os judeus emigrados, tendo que recorrer
durante muito tempo aos produtos europeus, teriam forçosamente que
importá-los. Chegar-se-ia a um arranjo equitativo por meio dos grupos locais,
que teriam que cobrir suas necessidades habituais durante muito tempo com
artigos procedentes dos lugares de costume.
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duraria, talvez, vinte anos ou mais, em qualquer caso, duraria todo o tempo
pelo qual durasse a emigração dos judeus.
Depois da emigração dos judeus, as empresas por eles criadas ficarão onde
estavam. E nem sequer será sentida a falta do espírito empreendedor dos
judeus nos negócios, em que se olhe com bons olhos. Também, no futuro, se
tratará de colocar o capital líquido dos judeus onde seus proprietários
conheçam bem a situação. E enquanto atualmente o capital judeu busca fora do
país as empresas mais distantes, por causa das perseguições de que é objeto,
apresente solução pacífica fará com que aquele volte e contribua para o
desenvolvimento ulterior dos países em que os judeus têm vivido até agora.
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EPÍLOGO
Creio que os judeus sempre terão muitos inimigos, como qualquer uma nação.
Mas, quando estiverem radicados em sua própria terra, jamais poderão ser
dispersos pelo mundo inteiro.
Para o leitor de boa fé, que também saiba ler nas entrelinhas, as falhas não
provocarão desalento mas, antes, um sentimento de ânimo em participar, com
sua sagacidade e força, de uma obra que não é de um só indivíduo e aperfeiçoá-
la.
Expus coisas que se subentendem, sem dar-me conta das grandes dificuldades?
Tratei de refutar algumas objeções: sei que existem outras, mais ou menos
importantes.
Além disto, pode-se dizer que não devemos introduzir novas diferenças entre os
homens nem erigir novas barreiras mas que, em vez disto, deveríamos fazer
desaparecer as antigas. Estou convencido de que aqueles que pensam assim são
amáveis sonhadores: mas o pó de seus ossos terá sido dispersado pêlos quatro
ventos enquanto a ideia da pátria ainda florescerá. A fraternidade universal não
é sequer um belo sonho. O inimigo é necessário para os mais altos esforços da
personalidade.
Como? Dado que os judeus já não terão nenhum inimigo em seu próprio Estado
e como, vivendo folgadamente, se debilitariam e deteriorariam, justamente
então o povo judeu iria desaparecer por completo? Creio que os judeus sempre
terão muitos inimigos, como qualquer outra nação. Mas, quando estiverem
radicados em sua própria terra, jamais poderão ser dispersos pelo mundo
inteiro. Não se pode repetir a diáspora enquanto não se destruir toda a cultura
deste mundo. A cultura atual dispõe de recursos suficientes para se defender.
As objeções de menor peso são inumeráveis uma vez que há, sem dúvida, mais
homens inferiores do que superiores. Tratei de acabar com alguns conceitos de
pouca estatura. Aquele que quiser se colocar atrás da bandeira de sete estrelas,
tem de tomar parte nesta campanha cultural. O combate talvez tenha de ser
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livrado primeiramente contra muitos judeus, maus e egoístas e de visão
estreita.
Dirão que proporciono armas aos anti-semitas? Por quê? Por admitir a verdade?
Por não afirmar que entre nós só existem homens perfeitos? Dirão que estou
indicando um caminho que há de nos prejudicar? Protesto contra esta objeção
da maneira mais enérgica. O que proponho só pode ser realizado com o livre
consentimento da maioria dos judeus. Isto pode ser executado contra a vontade
de alguns grupos, até contra a dos grupos de judeus mais poderosos na
atualidade; mas nunca, absolutamente nunca, o Estado poderia ser realizado
contra a vontade dos judeus.
A igualdade dos judeus perante a lei, onde ela existe, já não pode ser anulada;
pois a sua simples tentativa levaria a que todos os judeus, ricos e pobres,
aderissem a partidos subversivos. O mero principiar a cometer oficialmente
injustiças contra os judeus origina, em todos os lugares, crises econômicas. Não
podem, pois, fazer nada eficaz contra nós se não quiserem fazer mal a si
mesmos. Isto contribui para fomentar o ódio. Os ricos não o sentem tanto. Mas
os nossos pobres! Que seja perguntado aos nossos pobres, que desde o
recrudescimento do anti-semitismo se pauperizaram mais terrivelmente do que
nunca.
Algumas pessoas acomodadas opinarão que a pressão ainda não é tão intensa
para que justifique a emigração e, mesmo nas expulsões violentas, pode-se
notar a pouca vontade com que nossa gente sai do país. Porque não sabem para
onde ir! E nós lhes indicamos o caminho que conduz à Terra Prometida! E,
contra a força do hábito, é preciso que prevaleça a força do entusiasmo,
levando tudo de roldão.
Alguém dirá que, se isto fosse possível, já teria sido feito? Antes não era
possível. Agora é. Há cem anos, cinquenta anos atrás, teria sido ainda uma
utopia. Hoje, é uma realidade. Os ricos, que gozam da visão de conjunto de
todas as conquistas de ordem técnica, sabem muito bem o que se pode
conseguir com dinheiro. E assim sucederá: precisamente os pobres e humildes,
que nem suspeitam do poder que o homem já possui sobre as forças da
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natureza, são os que acreditarão mais fervorosamente na novidade. Eles não
perdem a esperança de alcançar a Terra Prometida.
E isto aqui, judeus! Nada de contos, nem enganos! Todos podem se convencer
disto, posto que cada um leva consigo ao novo país algo da Terra Prometida: um
em sua cabeça, outro em seus braços e, outro, em sua propriedade adquirida.
Poderia parecer que é uma coisa que exige muito tempo. No melhor dos casos,
seria preciso esperar ainda muitos anos até o começo da fundação do Estado.
Entretanto, em milhares de lugares, os judeus são enganados, mortificados,
injuriados, espancados, despojados e assassinados. Não: apenas comecemos a
por o plano em execução, o anti-semitismo cessará em todos os lugares e de
imediato, posto que isto significa a conclusão da paz. Quando a Jewish Company
estiver constituída, esta notícia será levada em um dia aos pontos mais
longínquos da Terra, pelo relâmpago de nossos fios telegráficos.
E que glória aguarda os que lutam pela causa sem interesse pessoal!
Por isto estou convencido de que surgirá, da terra, uma estirpe de judeus
admirável. Ressurgirão os Macabeus.
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