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Charles Perrault
O GATO DE BOTAS
Um moleiro não deixou para ostrabalhara
Um lavrador trêsmuito,
filhos
durantenada
a vida toda,além
ganhando de seu
velho ficou com o Este último, nada satisfeito com o que lhe coubera,
resmungou: “Meus irmãos sobreviverão honestamente. Mas,
moinho e o segundo com o burro, restando ao mais novo apenas o
e eu? O que vou fazer? Talvez possa jantar o gato e com o
couro fazer um tamborim. Mas, e depois?”
gato. O gato logo endireitou as orelhas, querendo ouvir
melhor um assunto de tamanho interesse. Então, percebendo
honestamente; mas eu, parecia inteligente e astuto. Deu-lhe então um saco e um par
de botas, desejou-lhe muito boa sorte, e deixou-o partir.
depois que tiver comido o meu gato e fizer com o pelo dele um
O gato dirigiu-se a uma mata na qual sabia que viviam
coelhos de carne deliciosa. Mas eram bichos difíceis de
rolinho para esquentar as apanhar. O esperto bichano enfiou no saco um punhado de
de botas para eu entrar nos matagais, e logo verá que não se saiu
ares de muita importância.
Foi conduzido à presença real. Afinal, não era sempre
tão mal assim na partilha que um gato aparecia pedindo audiência.
como pensa.
Na presença do soberano, o gato se curvou em
respeitoso cumprimento.
— Majestade! Meu patrão, o marquês de Sacobotas, me
Embora não confiasse muito nisso, o dono do gato já o tinha visto
encarregou de oferecer-lhe este coelho, caçado nas matas de
reverência, assim que entrou No dia seguinte, enquanto se banhava nas águas do
lugar exato em que eu indicar. O resto, deixe comigo.
disse ao rei: rio, o rapaz viu se aproximar o rei, acompanhado pela princesa
e por alguns nobres. O gato, que lá estava à espera, saiu de
– Majestade, trago este coelho
trás de uma do mato
moita e começouque o
a gritar, senhor
com todo o fôlego:
— Socorro! Socorro! Ajudem o marquês de Sacobotas,
marquês de Carabás
– (foi o ele está se afogando no rio! Ajudem! 33
igual prazer as
marquês, que aliás era um jovem bem bonito, ficou com ótima
aparência. Logo a princesa se apaixonou pelo jovem, e o rei
duas perdizes e mandou que convidou-o
lhe
passeio.
dessem uma gratificação.
a subir na carruagem, para juntos continuarem o
o rei
O gato, contente com o sucesso inicial de seu projeto,
correu na frente da carruagem, que avançava lentamente.
alguma caça proveniente de seu dono. No dia em que soube que o rei deveria
Um pouco adiante, viu um grupo de lavradores
capinando. O gato fez uma careta bem feia e gritou com um
ir passear de vozeirão ameaçador:
conta.
ceifavam.
— Atenção! Daqui a pouco o rei passará por aqui.
O marquês de Carabás fez o Vocês
que o gato lhe aconselhou, mesmo sem saber
vão dizer a ele que este canavial pertence ao marquês
de Sacobotas. Se não disserem, serão todos presos.
para queserviria aquilo. O rei, então, passou
Assustados, porde lá
os cortadores canaenquanto
prometeram ele se banhava,
e o gato começou a
obedecer.
E assim fizeram também os criadores de porcos, os
uns ladrões e levaram a edaachei que era meu dever homenagear o mais poderoso mago
região. Ouvi falar que o senhor pode se transformar em
roupa dele, apesar de elequalquer
ter— animal.
gritado bem
Mas eu duvido quealto:
isto seja “Pega
verdade.
Quer ver? — respondeu o mago, irritado com a
ladrão!”; e o gato
pilantra a escondera provocação.
debaixo de uma pedrona.rugindo, com sua grande boca aberta. O gato levou tamanho
Em um instante, no lugar do mago estava um leão
buscar um de
Eu só queria ver se conseguia se transformar em um animal
pequeno, como um ratinho, por exemplo. Que tal? Consegue?
gato,
os olhares apaixonados da filha para o jovem marquês, tão
rico e tão belo, disse:
colhendo trigo e
pura diversão.
lhes disse:
– Olá, gente boa, olá, colhedores, se vocês RAPUNZELnão disserem ao rei que todas
essas Era uma vez um casal que há muito tempo desejava
rei ficou que abriram seu apetite. E ela sentiu um enorme desejo de
provar os rabanetes.
ainda mais satisfeito com oquemarquês. O
A cada dia seu desejo gato,
aumentavaque ia
mais. Mas elaadiante
sabia
não havia jeito de conseguir o que queria e por isso foi
da carruagem,
dizia sempre a ficando triste, abatida e com um aspecto doentio, até que um
O Gato de Botas chegou, enfim, a um belo castelo cujo dono era um ogro,
rabanetes, custe o que custar!”
Ao anoitecer, ele encostou uma escada no muro, pulou
o castelo mais para o quintal vizinho, arrancou apressadamente um punhado
de rabanetes e levou para a mulher. Mais que depressa, ela
rico que já se tinha visto, pois todas as terras pelas quais o rei havia
preparou uma salada que comeu imediatamente, deliciada.
passado estavam em
Ela achou o sabor da salada tão bom, mas tão bom,
seus domínios. O gato, que tivera o cuidado de se informar sobre quem era
esse ogro e o que
ele sabia fazer, pediu para falar com ele, pois não podia passar tão perto
de seu castelo sem
ter a honra de cumprimentá-lo.
O ogro, recebendo-o com toda a polidez de que é capaz um ogro,
convidou-o a sentar- O gato de botas
se.
tornar
velhoum leão.
ficou com o Este último, nada satisfeito com o que lhe coubera,
resmungou: “Meus irmãos sobreviverão honestamente. Mas,
moinho
O gato ficouetãoo segundo
apavorado com aoofazer
burro,
ter umpela restando
tamborim. frente um aoleão maisque
e eu? O que vou fazer? Talvez possa jantar o gato e com o
couro Mas, e depois?”
novona apenas
mesma o
horagato.
foi se agarrar O gato logo endireitou as orelhas, querendo ouvir
melhor um assunto de tamanho interesse. Então, percebendo
às calhas, não sem
Este último, dificuldade,
incapaz de se e com
consolar
que precisava perigo,
com
agir, foi dizendo:
a por causaparte
modesta de suas
que botas,
lhe
quecoubera,
não lhe serviam
— Não se desespere, patrãozinho, pois eu tenho um
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dizia: plano. Consiga-me um par de botas e um saco de pano, e
ouvia, disse-lhe então, saco, atraído pelo cheiro do farelo, e começou a comer
esperanças se tornarem realidade: um coelhinho se enfiou no
pequeno, de se
com ar ponderado e sério: tranqüila e gostosamente.
transformar num rato, por exemplo, Rápido como ouumnum camundongo.
relâmpago, o felino passou um Confesso que
– Não fique aflito, mestre, basta vocêdo sacome dar umCom sacoa caça e mandar fazer
considero isso
cordão na abertura e prendeu o coelho.
totalmente impossível. — Quero falar com o rei — disse aos guardas, com
de botas para eu entrar nos matagais, e logo verá que não se saiu
ares de muita importância.
– Impossível? – replicou o ogro. – aparecia
Poispedindo então você vai ver. – E no
Foi conduzido à presença real. Afinal, não era sempre
tão mal assim na partilha que um gato audiência.
mesmo instante ele
como pensa.
Na presença do soberano, o gato se curvou em
propriedades do no
senhor
do soberano. A cada novo presente, afirmava que as carnes
Mal se espichou chão, ovinhamGato dedeBotas
das terras seu patrão, ose marquêsencheu de alegria; um
de Sacobotas.
marquês de
coelhinho Carabás, assim
estouvado como sua filha, que estava louca por ele, e
Um dia, quando estava saindo do palácio, escutou a
conversa de dois criados:
vendo no
entrou os grandes
saco e ele logo odopegou, puxou na mesma hora os cordões e o
— Amanhã o rei passará de carruagem pelas margens
– Só depende do senhor,
Todo orgulhoso de sua presa, caro marquês,
foi atée feliz.
o palácioquererdo serei
— Patrãozinho, se seguir meus conselhos poderá se
tornar rico, nobre tornar
e pediumeuparagenro.
lhe falar.
Ao subir — E o que deverei fazer? — perguntou o jovem patrão,
confiante no gato que herdara.
O marquês,
para fazendode
o apartamento grandes
Sua Majestade,reverências,
— Amanhã você deverá onde iraceitou
lhe
ao rio fezabanho
e tomar honra
uma que o rei lhe
no grande
concedia; casou-
reverência, assim que entrou No dia seguinte, enquanto se banhava nas águas do
lugar exato em que eu indicar. O resto, deixe comigo.
se noao
disse mesmo
rei: dia com a princesa. O gato tornou-se um grão-senhor e nunca
rio, o rapaz viu se aproximar o rei, acompanhado pela princesa
e por alguns nobres. O gato, que lá estava à espera, saiu de
–mais correu atrás de
Majestade, trago esteratos,
coelho adenão
trás umado ser
mato
moita para
e começou que seocom
a gritar, divertir.
senhor marquês de Carabás
todo o fôlego:
— Socorro! Socorro! Ajudem o marquês de Sacobotas,
– (foi o ele está se afogando no rio! Ajudem! 33
Que aos filhos vem dos próprios pais, — Majestade, meu patrão estava tomando banho no
mePra causou.
quem é jovem, geralmente, rio e chegaram uns ladrões, que levaram toda a roupa dele. E
Ser só capaz e diligente agora, como ele poderá se apresentar a Vossa Majestade,
OUTRA MORAL
Se o filho de um moleiro, assim tão depressa,
Ganha um coração de princesa
E da mesma recebe olhares tão ardentes,
É que a roupa, a juventude e a figura,
Para inspirar tanta ternura,
Não serão meios para sempre indiferentes.