Geossistema de Sochava

Marcel Hideyuki Fumiya
GEOSSISTEMA DE SOCHAVA:
teoria, perspectivas e meio ambiente
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2022
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Arte de Capa: Freepik (com modificações)
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CATALOGAÇÃO NA FONTE
Bibliotecária responsável: Luzenira Alves dos Santos CRB9/1506
F976
Fumiya, Marcel Hideyuki.

Geossistema de Sochava: teoria, perspectivas e meio ambiente / Marcel Hideyuki Fumiya –
Curitiba: CRV, 2022.
198 p.
Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-3569-4
ISBN Físico 978-65-251-3573-1
DOI 10.24824/978652513573.1
1. Geociências 2. Geossistema 3. Viktor Sochava 4. Geografia física 5. Análise integrada –

Paisagem Bertallanfy I. Título II. Série.
2022-28457 CDD 551.801118

CDU 55
Índice para catálogo sistemático
1. Geociências – 551.801118
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2022
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Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO�� 9
CAPÍTULO 1�� 13
1.1 Introdução�� 13
1.2 Concepção da Teoria Geral dos Sistemas e inserção na Geografia�� 13
1.2.1 B
reve informativo sobre o desenvolvimento
de paradigma cartesiano e sistêmico�� 21
Leituras recomendadas a alunos de graduação�� 23
1.3 Categoria de sistemas�� 24
1.3.1 S
istemas aberto, fechado e isolado�� 25
1.4 Tipos de sistemas em Geografia�� 34
1.4.1 Sistema morfológico�� 35
1.4.2 Sistema em cascata�� 38
1.4.3 Sistema processo-resposta�� 42
1.4.4 Sistema controlado�� 48
1.5 Conceitos e processos em sistemas�� 51
1.5.1 Entrada, informação e saída de matéria e energia�� 51
1.5.2 Retroalimentação e homeostase�� 53
1.5.3 Entropia, neguentropia e equifinalidade�� 58
1.5.4 Estabilidade e mudanças de sistemas espaciais�� 67
1.6 Síntese do capítulo de tipologia e conceito
de sistemas em Geografia�� 74
Ordenação de leitura sugestiva para sistemas�� 77
CAPÍTULO 2�� 79
2.1 Geossistema: conceito e aplicação�� 79
Ordenação de leitura sugestiva para Geossistema russo�� 113
2.2 Geossistema: estudos de ordem topológica�� 113
Ordenação de leitura sugestiva para Geossistema russo�� 137
2.3 O Geossistema e a perspectiva para estudos ambientais�� 137
Ordenação de leitura sugestiva para Geossistema e território�� 152
CONSIDERAÇÕES FINAIS�� 155
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS�� 157
GLOSSÁRIO DE TERMOS EM SISTEMA �� 183
ÍNDICE REMISSIVO�� 195

APRESENTAÇÃO
O paradigma sistêmico na Geografia é abordado por Humboldt desde sua estru-
turação e sistematização contemporânea, e amplamente aplicado, ao longo do século
XIX e XX, no território Russo por diversos pesquisadores, como: Vasily Vasili’evich
Dokuchaev, Lev Semionovich Berg, Leonti Ramensky, Nikolay Adolfovich Solntsev.
Contudo, foi com sistematização da Teoria Geral de Sistemas no século XX, pelo
biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy, que a perspectiva sistêmica se tornou um
corpo científico sólido, para uso nas ciências geográficas, e permitiu a aplicação em
sua plena potencialidade.
Pela Teoria Geral dos Sistemas, foi possível desenvolver meios integrados de
interpretação da paisagem, na forma de métodos e procedimentos, como proposto,
na teoria do Geossistema, pelo geógrafo russo Viktor Borisovich Sochava (1978).
Essa teoria permitiu a unificação e a integração de concepções geográficas sistêmi-
cas, desenvolvidas anteriormente na Geografia Russa, ao longo do século XIX e
meados do XX.
A abordagem geossistêmica dos sistemas espaciais, via hierarquização, identi-
ficações de inter-relações (intensas, fracas), permitiu compreender as dinâmicas e as
limitações das organizações espaciais à conservação/preservação e ao uso humano
(ordenamento territorial), entendendo a paisagem como uma totalidade interdepen-
dente (conexões e hierarquias). Assim, o método geossistêmico foi adequado aos
objetivos das políticas públicas da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas nas
décadas de 1960-1970, focadas na ocupação, no uso e ordenamento do território aten-
dendo, ao mesmo tempo, uma outra perspectiva: o uso racional dos recursos naturais.
Com o aumento por demandas de uso intensivo dos recursos naturais, ao longo
do século XX e que persiste no século XXI (crise ambiental), também ocorre o
aumento do uso estratégico de políticas ambientais internacionais pelo foco sistêmico,
como: mitigações de efeito estufa do planeta Terra (Protocolo de Quioto, Acordo de
Paris); declaração da década de recuperação dos ecossistemas (ONU, 2021), entre
outras problemáticas ambientais/econômicos/sociais.
Devido a esse cenário, poderes governamentais retomam o foco em aborda-
gens holísticas (natureza de forma integrada), na implementação de planos para
gestão do território nas suas diversas escalas dos sistemas espaciais. E, dentro desse
atual contexto, a proposta do Geossistema de Sochava (1978) se apresenta como
umas das opções para atender ao escopo de tais projetos, políticas públicas e acor-
dos internacionais.
Diante do potencial uso da teoria/método geossistêmico russo, na Geografia e
em áreas correlatas, para demandas territoriais do século XXI (natureza ↔ sociedade),
a presente obra tem como finalidade expor uma organização textual que aborde o
início da estruturação da Teoria Geral dos Sistemas no século XX; a implementação
desta na Geografia, com foco na proposta do Geossistema (SOCHAVA, 1978); sua
aplicação em territórios russo e continente europeu (leis do bloco econômico e de
10
países membros); e, por fim a possibilidade de uso da abordagem geossistêmica

russa nas políticas de uso, produção e conservação dos recursos naturais no Brasil.
Em busca de apresentar as temáticas citadas, a estruturação do presente manus-
crito está disposta em dois capítulos, constituídos por dezenove tópicos ao todo.
No capítulo 1 apresentam-se dois tópicos (1-2), abordando, no primeiro (seção
1.1), questões históricas inerente à problemática da aplicação hegemônica do para-
digma cartesiano; as ciências que apresentam essências holísticas, como as sociais,
biológicas e a, geografia entre outras; concluindo com a sistematização da Teoria
Geral dos Sistemas ao longo da carreira científica de Ludwig von Bertalanffy (1925-
1972) como um contraponto ao cartesiano, e a inserção dessa na Geografia. No
segundo tópico (seção 1.2), são apresentados os principais tipos de sistemas de inte-
resse da Geografia; alguns processos que atuam nessas organizações espaciais e que
influenciam no estabelecimento, na manutenção ou na destruição das inter-relações
espaciais, no espaço-tempo.
O capítulo 2 apresenta três tópicos (2.1-2.3). O primeiro (seção 2.1) está focado
na concepção teórica do Geossistema, apresentada por Sochava (1974, 1978), enfa-
tizando a importância que a referida teoria propõe. Resumindo:
- Geossistema é um todo (independentemente da dimensão espacial), consti-
tuída por componentes da natureza inter-relacionados, obedecendo a leis da envol-
tura geográfica;
- Um Geossistema pode ser submetido a uma variedade de influências humanas,
que modificam significativamente elementos individuais da organização espacial e
o sistema como um todo. Essas influências afetam a estrutura do processo natural e
geram novas propriedades qualitativas aos Geossistemas;
- A qualificação dos componentes críticos deve ser realizada de acordo com o
propósito de uso (preservação, conservação, uso agrícola, extração mineral etc.); e
- Os Geossistemas são estudados com o objetivo de compreender as regularida-
des da estrutura, a formação do ambiente natural e a possibilidade da sua otimização
em termos de recursos e ecossistemas (sistemas espaciais ecológicos).
Portanto, confirma-se que a definição clara de Geossistemas como formações
naturais é fundamental e prática para resolver o problema mais importante, identificado
nos séculos XX e XXI, isto é: a relação homem e meio ambiente (SOCHAVA, 1974).
O tópico quatro (2.2) trata da aplicação de estudos de escala “local” em sistemas
espaciais elementares na Rússia, e que Sochava (1974, 1978) denominou de Geoto-
pologia. São apresentadas nesses estudos as vias de abordagem da ordem topológica
dos Geossistemas, conexões entre sistemas espaciais, e, assim, a determinação das
vulnerabilidades e limitações para ocupações dessas organizações espaciais em nível
local e regional do território russo. A apresentação da Geotopologia é de suma impor-
tância, visto a ausência desse tipo de perspectivas e de estudo na Geografia brasileira.
No quinto e último tópico da obra (seção 2.3) são tratados exemplos da imple-
mentação geossistêmica em território europeu, e outras abordagens sistêmicas no
referido continente que utilizam a paisagem sistêmica como diretriz para uso e ocupa-
ção de seus espaços. Finalizando, põe-se em destaque a abordagem da potencialidade
teoria, perspectivas e meio ambiente 11
de aplicação geossistêmica russa nas políticas públicas voltadas ao gerenciamento/

produção de recursos naturais no território brasileiro.
Assim, ao longo da apresentação dos conteúdos, busca-se fornecer uma base
que dê ao leitor condições de desenvolver desde a noção da Teoria Geral do Sistemas,
seguindo por sua aplicação no paradigma sistêmico para Geografia, com viés aos
sistemas espaciais e seu potencial uso nas políticas públicas e nas complexas relações
natureza ↔ sociedade. Pretende-se, desse modo, visando uma maior conscientização
social, oferecer um panorama geral, em debates, de uma das problemáticas com a
qual a Geografia do século XXI se depara, isto é: a crise ambiental.
CAPÍTULO 1
1.1 Introdução
Apresentam-se, neste capítulo 1, conceitos e propriedades da Teoria Geral dos
Sistemas, a qual constitui-se de um compilado literário, via análise de diversas obras
que abordam a temática sobre sistemas, elaborado por Ludwig von Bertalanffy, estru-
turado de modo sintético, focado na compreensão de alunos da graduação.
Ressalta-se que, com este capítulo, visa-se apenas uma apresentação didática
e simples sobre o assunto, que servirá como base para o debate do Geossistema ou
paisagem sistêmica, foco da presente obra. Ou seja, não se tem o intuito de estabelecer
uma discussão epistemológica, tampouco de realizar análises ou estudos aprofundados
sobre a Teoria Geral de Sistemas.
Assim, serão abordados:
1° Breve contextualização histórica da mudança de paradigma, por algumas
ciências (biologia, física, geografia), do cartesiano para o sistêmico;
2° Estruturação e definição da Teoria Geral dos Sistemas por Ludwig von Ber-
talanffy (1968); e
3° Inserção (ou retomada) do paradigma sistêmico na geografia, via Geossistema.
1.2 Concepção da Teoria Geral dos Sistemas e inserção na Geografia

A ciência, principalmente a partir do século XVII, procurava compreender o
mundo a partir da análise das partes, seguindo o paradigma cartesiano-newtoniano
(reducionismo, pensamento analítico, mecanicismo), via experimentos e interpreta-
ções que mostrassem, claramente, a causa de cada fenômeno, gerando especializações
da ciência (fragmentações). Nessa perspectiva, além de fenômenos rigorosamente
descritos e matematizados, também se exigia a demonstração empírica (ESTEVES
DE VASCONCELOS, 2002).
Essa forma de interpretar o mundo (realidade) permaneceu sem questiona-
mento, em relação ao trabalho da ciência, até o início século XX, salve exceções
como o “Tratado de Sistema”, de Condillac, no século XVIII, e “Tektologia”, de
Bogdanov, na década de 1910 (BOGADNOV, 1989; ESTEVES DE VASCONCE-
LOS, 2002; BRANCO, 2014). Em algumas áreas da ciência, como da biologia, das
ciências sociais e outras, sempre foi difícil trabalhar dentro do paradigma cartesia-
no-newtoniano, visto que foram, muitas vezes, marginalizadas, consideradas como
de padrão ilusório ou metafísico, sendo rotuladas como soft sciences, enquanto
as ciências rigorosas (exatas) são denominadas de hard science (ESTEVES DE
VASCONCELOS, 2002).
Contudo, na década de 1920, a teoria quântica fez com que os físicos passassem
a aceitar o fato de que os objetos materiais sólidos, da física clássica, se “dissolvem”,
14
no nível atômico, em padrões semelhantes a ondas. Isto é, as partículas subatômicas1

(neutrino, quarks, bóson de higgs, lepton etc.) não são simples probabilidade de
coisas, mas, resultado de interconexões. Desse modo, a física quântica demonstrava
que não é possível decompor o mundo em unidades elementares, que, embora elas
existam de maneira independente, há uma complexa teia de inter-relações entre as
várias partes do todo (CAPRA, 2006).
Desse modo, ao longo do século XX, ocorreu a inclusão das noções de incerteza
e risco em diversos ramos das ciências e a adoção, por parte da comunidade cientí-
fica, de uma visão integradora, conjuntiva e holística (ROHDE, 1995), retomando
princípios da filosofia aristotélica: o todo é maior que a soma das partes (Figura 1).
Nessa perspectiva de totalidade, a biologia organísmica prosperou e desenvolveu
modos de entendimento, segundo os quais as propriedades das partes são abordadas
pela organização do todo, em termos de conexidade, relações e de contexto. Reco-
nheceu-se que, em cada nível de complexidade, os fenômenos observados exibem
propriedades que não existem no nível inferior, análogo ao sabor do açúcar, que não
está presente, em seus constituintes, os átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio
(CAPRA, 2006).
Figura 1 – Paisagem sistêmica como um exemplo de produto da inter-relação de

elemento, em que o todo (paisagem) não pode ser formado por único elemento
(água, solo, rocha, biota). No referido caso da fotografia, trata-se de um complexo
paisagístico serrano, em altitude de 2600 metros (A), onde baixas temperaturas
propiciam o acúmulo de matéria orgânica, formação de organossolos fólicos (B) e
a ocupação de encostas e vales por vegetação composta de gramíneas e herbáceas,
adaptada às condições frias (campos de altitude), indicado pela presença de
silicofitólito de plantas tipo rondel (C). Localidade: Serra Fina – São Paulo
1 Partículas subatômicas: são abordadas pela teoria quântica, em física, em que partículas subatômicas são
interpretadas e analisadas como ondulação (ora comporta-se como onda e ora como partículas), e são
produtos de conexões. Um exemplo são as partículas quarks, as quais não existem individualmente; sua
existência é sempre em conexões de dois (méson), três (bárions) ou em grupos.
Dentro desse momento histórico de resgate da abordagem holística associada

à ciência do século XX, o biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy desenvolveu e
estruturou, ao longo das décadas de 1920-1960 (figura 2), uma forma de interpretação
sistêmica de intuito universal (baseada no expansionismo, pensamento sintético e
teleologia), que culminou na célebre obra “A Teoria Geral dos Sistemas2” (TGS).
Para Bertalanffy, a TGS é uma ciência geral da “totalidade”, que pode ser,
também, uma disciplina lógico-matemática, em si mesma puramente formal, mas
aplicável às várias ciências empíricas (experimentação biológica, médica, genética,
termodinâmica, estatística de seguro de vida etc.). Justamente, por existirem leis que
abrangem diferentes campos (isomorfia), aplicáveis a qualquer sistema, independente
das propriedades específicas e natureza de seus elementos, é possível formular prin-
cípios para os “sistemas” em geral (BERTALANFFY, 1975).
A generalidade da TGS a diversas ciências é indicada, já no início da pro-
posta, pelo economista Kenneth Boulding na carta de 1953, endereçada para Beta-
lanffy (1975):
Parece que cheguei à mesma conclusão muito semelhante à sua, embora partindo
da economia e das ciências sociais e não da biologia, a saber, que existe um corpo
daquilo que chamei ‘teoria empírica geral’ ou ‘teoria geral dos sistemas’ em sua
excelente terminologia, com larga aplicação em disciplinas diferentes. Tenho a
certeza de haver muita gente, em todo o mundo, que chegou essencialmente à
posição que temos, mas estão amplamente espalhadas e não se conhecem uma
às outras, tão grande é a dificuldade de atravessar as fronteiras das disciplinas.
Dessa maneira antes da década de 1940, termos como “sistema” e “pensa-

mento sistêmico” tinham sido utilizados por vários pesquisadores (Aristóteles, Kant,
Goethe, Condillac, Humboldt, Otto Pötzl etc.), mas foram as concepções de Ber-
talanffy (1940, 1950, 1951, 1968) sobre sistema aberto e uma TGS que estabelece-
ram o pensamento sistêmico como um movimento científico de primeira grandeza
(CAPRA, 2006).
2 Teoria Geral de Sistemas: esse conceito foi deliberadamente introduzido por Bertalanffy (1968) num
sentido universal. Desse modo é utilizado em sentido amplo, semelhante ao significado de senso comum
da “teoria da evolução” que abrange quase tudo, desde a escavação de fósseis, anatomia e a teoria
matemática da evolução. Essa teoria é uma abordagem organicista que localiza aquilo que as diversas
ciências têm em comum sem prejuízo daquilo que têm de específico, onde o movimento sistêmico teve
um cunho pragmático voltado à ciência aplicada (CHIAVENATO, 2014). A TGS pode abranger desde
sistemas ambientais (geossistema), sistemas sociais (econômico, administrativo, político, psiqué humana)
e artificiais (cibernética).
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Figura 2 – Fases históricas do desenvolvimento das principais obras de Ludwig

von Bertalanffy, ao longo da carreira, segundo a interpretação do autor desta obra
Na perspectiva holística da TGS, segundo Durand (1979), constam quatro con-

ceitos fundamentais:
1 – Organização: conceito central do sistema que é, antes de tudo, um arranjo
de relações entre componentes ou indivíduos que produz uma nova unidade, com
qualidades que seus componentes não possuem. Exemplo desse arranjo é a polimorfia
em minerais, que pode apresentar mesma composição química, mas estrutura crista-
lina distinta (organização), como o grafite e o diamante.
Organização pode ser entendida, também, como um processo pelo qual matéria,
energia e informação são reunidas e implementadas ou moldadas. Esse processo, por
sua vez, pode ser conduzido pelo próprio sistema que, neste caso, é transformado
pela auto-organização (não é totalmente dependente de condicionalismos).
2 – Totalidade: um sistema não é a soma de elementos. Implica o aparecimento
de propriedades emergentes (qualitativo), as quais não existiam nas partes (exemplo:
estados independentes alemães organizando-se numa federação única, política e eco-
nômica). A própria noção de propriedades emergentes leva a outro discernimento: o de
uma verdadeira hierarquia de sistemas com características cada vez mais complexas,
à medida que vai subindo nessa hierarquia.
Exemplo de hierarquia em níveis seria o sistema de empresas, onde decisões
da direção geral transpassam todos os setores até atingir o nível de execução. Em
paisagens, o nível hierárquico geral (direção geral) é a incidência de radiação solar
no planeta Terra, que transpassa todos os níveis até que alcancem o sistema espacial
mínimo, e permitam que se organizem, espacialmente, matéria, energia e informação
(em Geossistema, trata-se das ordens dimensionais).
Pela hierarquização, também é possível estabelecer a percepção de que o sistema
pode ser distinguido, com maior ou menor facilidade, em subsistemas especializa-
dos. A empresa, por exemplo, compreende os subsistemas de produção, comercial,
financeiro e de direção (por sua vez comportam certo número de elementos). Na
Geografia, é possível citar subsistemas tipo vegetação, encosta, relevo, água subter-
rânea, drenagem, e que, inter-relacionados, formam sistemas de bacia hidrográfica.
3 – Interação: a inter-relação entre elementos do sistema é a ação recíproca
que modifica o comportamento ou a natureza desses elementos. Ao contrário do
que ensina a ciência clássica, a relação entre dois elementos, geralmente, não é uma
simples ação causal de um elemento sobre outro.
Nesse sentido, a interação pode assumir formas mais ou menos complexas,
desde o simples choque mecânico de duas bolas de bilhar até as relações de grande
variedade e sutileza entre dois indivíduos (exemplo: relações sociais hierárquicas
em empresa).
Além das formas, a interação pode produzir reação de ação dupla e recí-
proca, como:
de Causa-efeito: (A↔B);
Temporal: ocorrência de evento em A e depois em B (deslizamento de solo
em altas encostas (A) que se transformam em corrida de lama em planícies
fluviais (B));
de Retroalimentação (feedback): Sistema de máquinas A→B→A;
de Interação indireta: circuito em que a ação se inicia em A, progride para B-C
e retorna para A (A→B→C→A).
4 – Complexidade: é relativa, pois depende do número mínimo de elementos,

da quantidade de inter-relações e interdependência (forte ou fraca) que formam o sis-
tema. Uma complexidade pode ser exemplificada pela floresta tropical, que apresenta
inúmeras espécies (única árvore pode apresentar mil espécies de insetos). A interação
nesse sistema complexo pode ser síncrona, com espécies de ampla ocorrência (for-
migas), a extremamente especializada, como as orquídeas de Darwin, que só podem
ser polinizadas por uma mariposa em particular (HOLLAND, 2014).
Desse modo, a dinâmica sistêmica (funcionamento) objetiva a compreensão
das causas estruturais que explicam o comportamento de um sistema, a partir da
interpretação via organização, totalidade, inter-relação e complexidade. Isso exige,
além do conhecimento sobre o papel de cada elemento relevante no sistema, obser-
var como diferentes ações afetam distintas partes e onde aumentam ou diminuem as
tendências implícitas deste sistema (GARCÍA, 2018).
Nesse sentido, a perspectiva de totalidade na TGS apresenta, como foco prin-
cipal de análise, a interpretação do sistema que resulta de um conjunto de elementos
(naturais, sociais e artificiais-máquina) inter-relacionados, formando um todo. E esse
18
todo (resultado, relação ou produto), vale ressaltar, não é encontrado em nenhum

dos elementos isolados (CHIAVENATO, 2014), mostrando que a totalidade difere
qualitativamente de um agregado de partes, cujas diferenças estão em suas novas
estruturas ou organizações.
Como exemplo da expressão utilizada pela TGS, de que “o todo é maior que a
soma das partes”, pode-se citar a orquestra como o resultado da relação sistêmica,
numa comparação segundo Garcia (2018, p. 25):
A orquestra não se entende pelos músicos e instrumentos, mas pela coordenação

que existe entre eles que produz a bela sinfonia, não possível por único músico
e/ou instrumento.
Outro exemplo são os sistemas vivos, que são totalidades integradas, cujas pro-
priedades não podem ser reduzidas a partes menores. Suas propriedades essenciais, ou
inter-relações são um todo, que nenhuma das partes possui. Elas surgem das “relações
de organização” das partes, isto é, de uma configuração de relações ordenadas, que é
característica dessa determinada classe de organismos ou de sistemas (CAPRA, 2006).
Destaca-se que a TGS não busca solucionar problemas ou tenta soluções prá-
ticas, contudo, ela se empenha na elaboração de teorias e formulação de conceitos
que permitam aplicações na realidade empírica de caráter geral. Assim, apesar de ser
profundamente diferente da epistemologia do positivismo lógico ou do empirismo,
a TGS compartilha do rigor científico, de que se deve abordar para a interdisciplina-
ridade e a não redução/simplificação (BERTALANFFY, 1975).
Nesse sentido, a TGS de Bertalanffy resulta de anos de reflexões e desenvol-
vimento, inicialmente no modo de interpretação em teoria da biologia organísmica
(Figura 2), percebendo-se, posteriormente, que alguns princípios são comuns a outras
áreas da ciência (isomorfia), que conferem a ela um caráter teórico de âmbito geral.
Nessa questão, o enfoque sistêmico da TGS proporciona uma visão geral dos inúmeros
fatores, físico, biológico, econômico e social, que influenciam o funcionamento de
uma organização espacial3, como é o caso da Geografia. Conforme comenta Berta-
lanffy (1975, p. 13):
Num plano geral, o ‘paralelismo de princípios cognitivos gerais em campos dife-

rentes’ foi consignado neste livro em certo número de casos. Mas não foi previsto
que a Teoria Geral dos Sistemas haveria de desempenhar papel tão importante em
orientações modernas na Geografia.
Ao aplicar a análise de um sistema aberto na Geografia, Strahler (1950, 1980)

descreve um sistema de drenagem ajustado como um sistema aberto em constante
entrada e saída de matéria e energia, distinto do equilíbrio em sistema fechado. Por
outro lado, a TGS estruturada como teoria na Geografia foi utilizada, inicialmente,
3 Organização espacial: nesta obra, a expressão é usada, em sentido genérico, para designar a paisagem
como produto de inter-relações, interdependências (relações sistêmicas), sem apresentar significado genético
de produto exclusivo de dinâmica ambiental ou ação humana sobre os sistemas estabelecidos.
por Chorley (1962), para demonstrar a importância do sistema aberto para o estudo
da totalidade em geomorfologia, e desta para o conjunto da paisagem, sistematizando
a necessidade da abordagem sistêmica aos problemas geomorfológicos.
Sobre a análise sistêmica em Geografia, Stoddart (1974) destaca que essa abor-
dagem é um paradigma unificador na análise geográfica, em que a bacia hidrográfica
é uma unidade espacial exemplar de funcionamento integrado dos elementos que
compõem o sistema (solo, encosta, vegetação, precipitação, hidráulica entre outros).
Ao longo das décadas do século XX, outros autores também abordaram a TGS na
Geografia, com destaque para Hack (1960), Chorley e Kennedy (1971), Monteiro
(2000), Christofoletti (1979, 1999).
No entendimento do autor desta obra, o ápice da TGS em Geografia deu-se com
a abordagem russa de interpretação integrada da paisagem, na década de 1960-1970,
na qual foi proposto o conceito de Geossistema e seu método de ordenação complexa,
pelo geógrafo e geobotânico, Viktor Borisovich Sochava4 (1974, 1975, 1977, 1978).
Nessa perspectiva geossistêmica, os princípios de totalidade e inter-relação
da TGS delineiam uma interpretação holística da paisagem, segundo a qual nada é
entendido em separado. Sochava (1974) define Geossistema como um todo (inde-
pendentemente da ordem dimensional), hierarquicamente organizado em sistema
aberto e constituído por componentes inter-relacionados da natureza, obedecendo
às leis que operam no envoltório geográfico (dinâmica de fluxo/transformação de
energia e matéria no tempo e espaço). Nesse prisma, a ênfase está nas inter-relações
e é assim apontada por Sochava (1975, p. 3):
‘Nas condições modernas, não se deve estudar os componentes da natureza, mas

as relações entre eles, não deve se limitar à morfologia da paisagem e suas
subdivisões, mas sim ao estudo de sua dinâmica, estrutura funcional e ordem de
conexões’ (Tradução e grifo do autor desta obra)
Sob enfoque geossistêmico, a investigação da paisagem em escala local (ordem

topológica) é realizada por estações geográficas de monitoramento permanente ou
semipermanente (método de ordenação complexa), que consiste em análises repeti-
tivas do dinamismo de variáveis ambientais em unidades territoriais (fácies físico-
-geográficas5) durante longos períodos (FROLOVA, 2007).
4 Viktor Borisovich Sochava (1905-1978): geógrafo e biológo, com formação científica extremamente ligada
à Biogeografia e Geobotânica, foi aluno de Vladimir Sukachev e Vladimir Leontyevich Komarov, dois dos
mais eminentes biogeógrafos russos da época. Foi diretor do Instituto Geográfico da Sibéria (1959-1976)
e trabalhou intensamente como cientista da paisagem, e autor da proposta da teoria e do método do
Geossistema. Dedicou os últimos três anos de vida a escrever sua obra prima, “Introdução à teoria dos
Geossistemas”, publicada em 1978, tendo por base os princípios e conceitos da Teoria Geral dos Sistemas,
e como reformulação das teorias da paisagem, de Alexander von Humboldt, Vasily Vasili’evich Dokuchaev
e Lev Semenovich Berg (RODRIGUES E SILVA, 2019; WIKIPÉDIA-BRASIL).
5 Fácie físico-geográfica: conceito referente ao menor sistema espacial do ambiente geográfico (indivisível),
ou seja, é a unidade elementar do Geossistema. A fácie fisico-geográfica é universal não somente ao
exame da inter-relação entre componentes bióticos e abióticos do geossistema (totalidade), mas o estudo
das conexões de complexos da organização espacial (SOCHAVA; FRISH, 1964).
20
Entende-se, assim, que o que mais interessa aos geógrafos russos da paisagem,
nas décadas 1950-1970, são as dinâmicas espaciais e temporais das paisagens forma-
lizadas e o seu funcionamento, voltadas ao planejamento e ocupação do território.
Com essa ocupação, o impacto das paisagens, causado pelas atividades antrópicas
e econômicas, altera a estrutura e as peculiaridades espaciais dos Geossistemas, ou
seja, as relações sistêmicas (SOCHAVA, 1977; FROLOVA, 2007).
Dessa maneira, a concepção unificadora para Geografia, que foi e é o Geossis-
tema, permitiu definições temáticas delimitadas/claras, o aperfeiçoamento metodo-
lógico da ciência da paisagem anterior ao século XX, e a independência de outros
campos do saber (biologia, geologia, engenharia), evitando a sobreposição de áreas,
pelo estudo da paisagem sistêmica com objetivo próprio da Geografia. Além disso,
também representou o esforço do estudo integrado da paisagem, do qual Suertegary
(2002, p. 113) ressalta a importância do Geossistema na abordagem geográfica:
O método sistêmico, proveniente da biologia nos anos 20, foi adotado na geografia
com objetivo de promover uma análise integrada da natureza, em que a articulação
da perspectiva sistêmica ultrapassou a dimensão analítica, ao construir conceitos
como o de Geossistema, e resgata, para análise, a dimensão antrópica, caracte-
rística central da geografia enquanto ciência da relação natureza e sociedade.
Assim sendo, a análise geossistêmica, utilizando a TGS e seus princípios, pos-

sibilitou a integração dos conhecimentos em Geografia na perspectiva de concernir
as dinâmicas ambientais e os desafios das demandas de recursos de que a sociedade
atual necessita (tópico 2.3: Geossistema e a perspectiva para estudos ambientais). Esse
fato é constatado pelo aumento do uso da abordagem sistêmica, voltada a questões
territoriais em Geografia, indicada por Richards (2002), e à temática da paisagem
sistêmica na geografia brasileira constatada por Neves (2019). Desse modo, demons-
tra-se a importância da análise sistêmica na geografia atrelada à necessidade de uso
dos territórios e Geossistemas pela sociedade no século XXI.
Diante da demanda econômico-social-cultural do século XXI, a geografia asso-
ciada ao paradigma sistêmico do século XX ajusta-se a essa finalidade, visto que,
desde a sua sistematização, no século XVIII, a ciência geográfica sempre esteve atre-
lada ao entendimento do todo (holístico), e a complexidade como sistema ambiental
esteve inerente ao estudo das paisagens. Desse modo, são diversas as contribuições
da aplicação dos conceitos sistêmicos à Geografia e, através dela, aos estudos de
ordem ambiental, dentre os quais se destacam (VICENTE; PEREZ FILHO, 2003):
– A constituição de um método unificador para Geografia;

– A apreensão das estruturas da superfície terrestre de forma integrada;
– O aprimoramento de uma proposta de trabalho científico multidisciplinar; e
– O aprimoramento dos conceitos de gestão e planejamento territoriais sob uma
perspectiva ambiental.
Finalizando o raciocínio e a exposição deste desta seção, tratando da siste-

matização histórica da TGS por Bertalanffy (1950, 1968), reforça-se que ela muito
contribuiu para a unificação e interpretação holística de processos e fenômenos em

diversos ramos da ciência (administração, biologia, economia, física, geografia, quí-
mica etc.). Vale observar, nesse caso, que o paradigma cartesiano-newtoniano não
era adequado a determinados enfoques de algumas ciências, que passaram, assim, a
ser abordados como sistemas.
Na Geografia, evidencia-se a importância da interpretação sistêmica da pai-
sagem via TGS, visto que essa base teórico-conceitual proporciona ao geógrafo o
entendimento global da dinâmica de fluxo/transformação de energia e matéria, em
diferentes geossistemas no espaço e tempo. Dessa forma, a compreensão de deter-
minada porção da superfície terrestre possibilita prever a alteração dos geossistemas,
e orienta a ocupação adequada dos sistemas espaciais, como destacado por Sochava
(1977) e interpretado por Oliveira e Neto (2020):
O geógrafo deve entender as manifestações dos fatores antropogênicos nos com-

plexos naturais, buscando o melhor planejamento territorial para que atividades
humanas não desencadeiem crises ecológica e conflitos de uso da terra.
Esse debate sobre o Geossistema como conceito para geografia, princípios de

classificação dos Geossistemas, seleção de área para monitoramento da dinâmica e
funcionamento da paisagem sistêmica (Método do Ordenamento Complexo) e resul-
tados das estações geográficas permanentes para caracterização das inter-relações,
processos metabólicos, conexões dos Geossistemas elementares (fácies físico-geo-
gráficas) em território russo, será retomado no capítulo 2.
1.2.1 Breve informativo sobre o desenvolvimento de paradigma

cartesiano e sistêmico
Na cultura ocidental, os primeiros pensadores foram filósofos gregos, e iniciaram

a compreensão da realidade parcial do mundo (cada indivíduo apresenta particulari-
dade) pelo pensamento sistêmico, sem distinção entre as partes e o todo. Aristóteles,
considerado o maior expoente desse paradigma na Grécia antiga, com a proposição
de silogismos lógicos, pregava que somente pelo universal (totalidade) se chega à
conclusão, ou seja, observar-se o todo para afirmar o particular (LEONEL, 2019).
A partir de Platão, houve um desmembramento entre paradigma sistêmico e aná-
lise por partes, pelo conceito de forma e matéria, abordando, como partes, o estudo da
metafísica do ser (o mundo das ideias e o mundo sensível). Essa abordagem das partes
foi intensamente desenvolvida nos séculos XVI-XVII, a partir da proposta de Copér-
nico sobre heliocentrismo, da observação das partes para conhecer o todo, de Francis
Bacon, e do mecanicismo cartesiano, de Descartes e Newton (a realidade regida como
engrenagens de um relógio), concluindo que homem e animais são como máquinas.
Assim, instaura-se o paradigma cartesiano, predominante até meados do século XX.
Apesar de a predominância do paradigma cartesiano constituir a base da socie-
dade moderna, para algumas áreas da ciência (Fisiologia, Ciências Sociais, Geogra-
fia), esse modo de interpretação da realidade não é adequado à abordagem de suas
22
problemáticas e objeto, assim no final do século XVIII e no século XIX ocorre a

retomada do pensamento sistêmico aristotélico, principalmente para entendimento
da natureza na forma orgânica, pelo movimento do romantismo na arte, literatura e
filosofia.
A compreensão, pela linha de pensamento do romantismo, está no entendi-
mento qualitativo de padrões da natureza como “um grande todo harmonioso”, do
filósofo Jonan Wolfgang von Goethe, levando alguns cientistas a procurar a totali-
dade integrada a todo o planeta. Outro importante filósofo é Immanuel Kant, que
tenta reunificar forma e matéria (totalidade), separadas em Platão, e faz algumas
contribuições para a elaboração do conceito de sistemas, como unidades de múltiplos
conhecimentos, ou como um todo organizado, rotulando a ciência como um sistema,
que se torna comum na filosofia do século XIX (LEONEL, 2019).
A partir da retomada do pensamento sistêmico por filósofos romanticistas
europeus, percebe-se vagarosa retomada dessa abordagem holística nas ciências,
com proposições de obras, como: o “Tratado de Sistemas”, de Condillac, no século
XVII; “Tektologia”, de Bogadnov, no início do século XX; a Biologia organísmica
nas décadas de (1920-1950); até a estruturação e sistematização da Teoria Geral dos
Sistemas, por Bertallanffy (1950, 1968).
No quadro 1, são apresentados os pressupostos dos paradigmas cartesiano e
sistêmico.
Quadro 1 – Pressupostos dos paradigmas cartesiano e sistêmico
Paradigma cartesiano Paradigma sistêmico

Reducionismo: princípio que se baseia na crença de que Expansionismo: princípio que sustenta que todo fenômeno é
todas as coisas podem ser decompostas e reduzidas em parte de um fenômeno maior. O desempenho de um sistema
seus elementos fundamentais simples, que constituem as depende de como ele se relaciona com o todo maior que o en-
suas unidades indivisíveis. O reducionismo desenvolveu-se volve e do qual faz parte. O expansionismo não nega que cada
na Física (estudo dos átomos), na Química (estudo das fenômeno seja constituído de partes, mas a sua ênfase reside
substâncias simples), na Biologia (estudo das células), na na focalização do todo do qual aquele fenômeno faz parte. Essa
Psicologia (estudo dos instintos e das necessidades bási- transferência da visão focada nos elementos fundamentais para
cas), e na Sociologia (indivíduos sociológicos). uma visão no todo denomina-se abordagem sistêmica.
Pensamento analítico: consiste em decompor o todo, tanto Pensamento sintético: fenômeno visto como parte de um
quanto possível, nas suas partes mais simples, que são sistema maior e é explicado em termos do papel que de-
mais facilmente solucionadas ou explicadas, para, posterior- sempenha nesse sistema maior. Os órgãos do organismo
mente, agregar essas soluções ou explicações das partes. humano são explicados pelo papel que desempenham nas
O pensamento analítico provém do método cartesiano (Des- funções vitais, e não pelo comportamento de seus tecidos
cartes, 1560-1650) e é utilizado pelo reducionismo para ex- ou estruturas de organização. A abordagem sistêmica está
plicar ou tentar compreender melhor os objetos em análise. mais interessada em juntar as coisas do que em separá-las.
Teleologia: estudo do comportamento com finalidade de
Mecanicismo: princípio que se baseia na relação sim-
alcançar objetivos. Nessa concepção, o comportamento é
ples de causa-efeito entre dois fenômenos. Um fenômeno
explicado por aquilo que ele produz ou pelo que é seu pro-
constitui a causa de outro fenômeno (seu efeito), quando
pósito ou objetivo de produzir. Com isso, procura entender
ele é necessário e suficiente para provocá-lo. Os efeitos
as inter-relações a partir de um campo dinâmico de forças
são totalmente determinados pelas causas, em uma visão
que atuam entre si. Os sistemas são visualizados como
determinística das coisas.
entidades globais e funcionais em busca de objetivos.
Fonte: Chiavenato, 2014.
Leituras recomendadas a alunos de graduação

A gama de obras literárias a respeito da Teoria Geral dos Sistemas é ampla.
Assim, no intuito de facilitar a compreensão sobre essa temática, principalmente ao
público iniciante, optou-se por recomendar algumas leituras, desde aquelas iniciais para
a compreensão do paradigma sistêmico, passando pelo debate epistemológico sobre o
pensamento sistêmico, envolvendo, também, a literatura voltada à temática geográfica.
Tais indicações bibliográficas não estão em ordem alfabética, mas de lei-
tura sugestiva.
Iniciais
LEONEL, Felipi Salem. O conhecimento na ótica sistêmica. Benecker, 1. ed.

2019. 73p.
ROSNAY, Joël. Le macroscope: vers une version globale. Editions du Seuil, 1975.
DURAND, Daniel. La systémique. Presses Universitaires France (coleção: Que

sais-je), 1979. 130p.
LE MOIGNE, Jean-Louis. A teoria do sistema geral: teoria da modelização. Lisboa:

Instituto Piaget, 1977. 396p.
POUVREAU, David; DRACK, Manfred. On the history of Ludwig von Bertalanffy’s

“General Systemology”, and on its relationship to cybertnetics, part I: elements on
the origins and genesis of Ludwig von Bertalanff’s “General Systemology”. Inter-
national Journal of General Systems, v. 36, p. 281-337, 2007.
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova concepção científica dos sistemas vivos.
Tradução de Newton Roberval Eichemberg, São Paulo: Pensamento, 2006.
CAWS, Peter. General system theory: its past and potential. System Research and
Behavioral Science, v. 32, n. 5, p. 514-521, 2015.
VON BERTALANFFY, Ludwig. Teoria Geral dos Sistemas. Petrópolis: Vozes, 1975.
Cunho técnico de termos e conceitos de sistemas
GARCÍA, Juan Martín. Teoria e exercícios práticos de Dinâmica de Sistemas:

versão em português. Juan Martín García, 2018.
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 9. ed.

Barueri/SP: Manole, 2014.
24
KRIPPENDORFF, Klaus. A dictionary of cybernetics. Norfolk VA: The American

Society for Cybernetics, 1986.
FRANÇOIS, Charles (editor). International Encyclopedia of Systems and Cyber-

netics. Parte I e II, editora: K.G. Saur: München, Germany, 2. ed., 2004.
Cunho geográfico
CHRISTOFOLETTI, Antonio. Análise de sistema em geografia: introdução. Editora

Hucitec da Universidade de São Paulo, 1979.
HUGGET, Richard. System Analysis in Geography. Oxford, 1980. 218p.
VICENTE, Luiz Eduardo; PEREZ FILHO, Archimedez. Abordagem sistêmica e

geografia. Revista Geografia, v. 28, n. 3, p. 323-344, 2003.
DINIZ FILHO, Luis Lopes. Fundamentos epistemológicos de Geografia. Ibpex,

2009. 267p.
Cunho epistemológico
ESTEVES DE VASCONCELOS, Maria José. O pensamento sistêmico o novo

paradigma da ciência. 5. ed. Papirus, 2006.
ESTEVES-VASCONCELOS, Matheus. A Nova Teoria Geral dos Sistemas. Dos

sistemas autopédicos aos sistemas sociais. E-book, Editora Simplíssimo, 2019.
1.3 Categoria de sistemas

Como já exposto, a TGS é uma abordagem holística que busca princípios univer-
sais aos sistemas de natureza física, biológica ou social, em que a totalidade, a inter-re-
lação, a organização e a complexidade (Figura 3) são a base para o desenvolvimento
e a estruturação do paradigma sistêmico. Posto isso, nesta seção, serão abordados os
conceitos e os processos identificados até o presente, que estruturam e dinamizam
os sistemas (Figura 3), além da relação desses com os estudos geográficos, como:
1 – Categorias de sistemas: aberto, fechado e isolado;
2 – Tipos de sistemas espaciais em Geografia, de acordo com Chorley e Ken-
nedy (1971);
3 – Elementos dos sistemas: entropia, equifinalidade, entrada e saída, informa-
ção, neguentropia, homeostase e retroalimentação;
4 – Estabilidade e mudanças dos sistemas espaciais;
5 – Síntese dos conceitos de sistema abordados.
Figura 3 – Estrutura organizacional da Teoria Geral dos Sistemas
1.3.1 Sistemas aberto, fechado e isolado
Na literatura, podem ser encontradas diversas definições para sistema, como,

por exemplo:
– Bertalanffy (1968): “conjunto de unidades em inter-relações mútuas”.
– Rosnay (1975): “conjunto de elementos em interação dinâmica, organizados
para um objetivo”.
– Morin (1977): “unidade global organizada de inter-relações entre elementos,
ações ou indivíduos”;
– Christofoletti (1979): “unidades constituídas por: elementos, atributos, rela-
ções, matéria, energia, entrada e saída. Dessa maneira, o conjunto encontra-se orga-
nizado em virtude das inter-relações entre as unidades, e o seu grau de organização
permite que assuma a função de um todo que é maior que a soma de suas partes”.
A partir do exposto, pode se entender sistema como a materialização concei-
tual do pensamento (sistema filosófico), isto é, como um modo de compreensão da
realidade, contudo simplificada. O Geossistema é um exemplo de modelo físico da
noção de paisagem sistêmica, concebida por naturalistas russos da ciência da paisagem
(DOKOUCHAEV, 1899; BERG, 1915; RAMENSKY, 1938; SUKACHEV, 1949), e
reformulada por Sochava (1978), nos princípios da TGS (BERTALANFFY, 1968).
Uma definição de sistema, adequada à abordagem geossistêmica, é dada por
Branco (2014), observando que um sistema tomado como modelo físico (estrutural
e funcional) apresenta, como unidade dimensional mínima, a organização, capaz de
funcionar por si só. Nesse sentido, é possível citar a fácie físico-geográfica, que é o
26
sistema espacial6 elementar dos geossistemas, onde a transformação, o fluxo de energia

e a matéria são homogêneos (inter-relações).
Fácies físico-geográficas podem apresentar tamanho mínimo de poucos metros a
quilômetro quadrados, com funcionamento autônomo (SOCHAVA, 1978). Um exemplo
da ocorrência de fácies físico-geográficas são as bacias hidrográficas de 1ª ordem, que
podem estabelecer homogeneidade em termos de fluxo de energia e matéria.
Os sistemas apresentam três componentes básicos: elementos, variáveis de estados
e relação entre elementos ou estados. Nos elementos do sistema, é possível fazer distinção
entre concretos (rocha, solo, vegetação, seres humanos, estruturas artificiais) e conceituais
ou abstrato (HUGGET, 1980), que são o modo de compreensão dos processos ocorrentes
na realidade pela cognição humana, como: informação, homeostase, entropia etc.
Cada sistema tem um conjunto de propriedades: número, tamanho, massa, cor e
idade, as quais são determinadas pelo estado das variáveis. Para determinar essas pro-
priedades, os processos ocorrentes nos sistemas e o estado em que podem se encontrar,
é necessário realizar algumas observações a respeito das estruturas e dinâmicas das
organizações espaciais e suas características intrínsecas à questão escalar. Algumas des-
sas questões foram delineadas por Christofoletti (1978), conforme serão apresentadas,
no que se refere a: tamanho, causalidade, correlação, funcionalidade, fechamento do
sistema, ambiente do sistema, estado do sistema e antecipação.
1 – Tamanho: O tamanho de um sistema é determinado pelo número de unidades
que o compõem. Quando o sistema é composto por elementos que estão completa-
mente inter-relacionados (ex: hierarquia de bacias hidrográficas, 1°.... n° ordens), isto
é, quando cada um se relaciona com todos os outros, a sua complexidade e tamanho
é expressa por espaço-fase ou número de elementos. Se houver dois componentes, o
sistema será de espaço-fase bidimensional; se houver três, será de espaço-fase tridi-
mensional; se houver n componentes, o sistema será de n-fases (STRAHLER, 1950;
CHRISTOFOLETTI, 1978).
Desse modo, a interação de um sistema com outros forma sistemas progressi-
vamente mais amplos (multiescalas), e cada hierarquia apresenta leis próprias (ex:
fenômenos geográficos escalares).
Assim, ao analisarmos sistemas ou fenômenos em nível hierárquico superior
(amplas escalas), as organizações espaciais de nível mais baixo (elementares) passam a
ser consideradas como elementos ou unidades de um sistema maior (subsistemas). Um
exemplo é o automóvel, que é um sistema por si só (indivisível e considerado como uma
entidade); porém, no nível de sistema de trânsito de uma cidade, é considerado como a
unidade básica do todo. Nesse sentido, deve se ter em mente que, conforme a escala que
se deseja abordar, os sistemas passam a ser um subsistema (CHRISTOFOLETTI, 1979).
Já, pela percepção humana, um modo de representação sistêmica da realidade é
exemplificado pela interpretação do solo nos Geossistemas, o qual é analisado e com-
preendido por Bushdell (1943), em topossequência, ou seja, como um corpo tridimen-
sional na paisagem onde as homogeneidades e diferenças (tipo de solos) são produtos
da inter-relação complexa de temporalidade e importação-exportação-transformação da
6 Sistema espacial: nesta obra, a expressão é usada em sentido genérico (descritivo), para designar a paisagem
como produto de inter-relações, interdependências, ou seja, relações sistêmicas.
energia e matéria, via reações químicas (inorgânica e orgânica), e transporte químico em

solução e/ou mecânico de matéria (iluviações, lixiviações etc.). E essa complexa inter-
-relação, resulta na totalidade da organização (geometria de horizontes pedológicos),
distribuição e interações coevolucionárias com todos os componentes do Geossistema
(relevo, rocha, clima, vegetação, hidrologia) (BUSHDELL, 1943).
Tais abordagens sistêmicas do solo e sua espacialidade (tamanho) são muito
bem expressas pelos sistemas pedológicos7 (RUELLAN; DOSSO, 1993), via Aná-
lise Estrutural do Solo8 (BOULET et al., 1982 a, b, c), segundo a qual as entradas,
transformações e saídas da matéria podem ser representadas na forma bidimensional
ou tridimensional, em que a unidade mínima de análise desse corpo contínuo (totali-
dade), na paisagem, são bacias hidrográficas de primeira ordem (RUELLAN; DOSSO,
1993). Nessa abordagem, o solo pode ser entendido: na paisagem, pela via da gênese
de solo ou solo no espaço-tempo (BOUQUIER, 1973; BOULET, 1974; CHAUVEL,
1977; CASTRO, 1989; LUCAS, 1984; MIKLÓS, 1992; NASCIMENTO, 1993 entre
outros); na dinâmica atual dos sistemas pedológico e processos na paisagem, como
erosão (KERTZMAN, 1996; CUNHA, 1999; SILVA, 2014), feição de relevo e dinâ-
mica geoquímica (FILIZOLA; BOULET, 1996); e distribuição e mapeamento do
solos, sob a ótica sistêmica (BOULET et al., 1978; FERNANDES BARROS, 1985).
Observa-se, portanto, que até o presente a abordagem sistêmica em solos via
Análise Estrutural do Solo é a melhor proposta conceitual e metodológica para enten-
dimento do solo na paisagem, ao contrário da abordagem individual em perfil “ver-
tical isolado” de solo, que é uma amostragem de parte de um corpo natural, o qual é
imperante no âmbito agronômico, onde a meta é determinar as propriedades do solo
para uso adequado à maioria das necessidades dessa área (produção agrícola).
A análise via perfil, por sua vez, não se apresenta como a mais adequada para a
Geografia e as ciências ambientais (ecologia, engenharia florestal etc.), que se deparam
com problemas de sistemas ambientais/territoriais (totalidade), gerados pelo uso inten-
sivo e, muitas vezes, inadequado do solo, demandado pelo consumo da atual sociedade.
Desse modo, as inter-relações que estruturam a organização do solo na paisagem, ou
corpo continuum (FRILAND, 1976), se refletem em todos os processos atuantes no
espaço-tempo e são adequados à compreensão como resultado de inter-relações, sendo
que, em muitos casos, apresentam alta complexidade, como solos tropicais brasileiros
de longa história de transformações pedológica e readaptações (climática, tectônica,
relevo, biota etc.), fazendo com que a análise via perfil não seja a ideal.
Por outro lado, a Análise Estrutural do Solo vem atender a algumas normas para
abordagem de sistemas como proposto por Campbell (1958), quais sejam: proximidade
física das unidades, delimitação de similaridade dos sistemas/subsistemas, objetivo9
7 Sistema pedológicos: são resultados da organização de horizontes de solos que apresentam relações
genéticas entre si e em forma sistêmica (inter-relações), e que apresentam continuidade nas vertentes no
sentido do topo à base das vertentes (RUELLAN; DOSSO, 1993).
8 Análise Estrutural do Solo: para esta obra, optou-se pela substituição da expressão cobertura pedológica
pelo termo solo, evitando se confundir o conceito cobertura com denominações genéticas da geologia
sedimentar. Assim, designa-se a proposta de Boulet et al., (1982 a, b, c) como Análise Estrutural do Solo.
9 De acordo com Joël de Rosnay (1975), o objetivo de um sistema pode ser designado previamente pelo
homem, como em uma máquina. Mas, e o objetivo do sistema de uma célula? Esta não apresenta qualquer
meta imediata, mas, a posteriori, é constatada: manter a estrutura (organização) e reproduzir. O mesmo pode
28
comum dos sistemas (no caso atingir a estabilidade), e padrão comum de distinção ou
reconhecível das unidades.
2 – Causalidade: A direção da causalidade mostra que a variável independente
é quem controla, e a dependente é controlada, de modo que a última só se modifica se
a primeira se alterar.
Na teoria do Geossistema, a variável independente é designada como invariante,
e se refere a elementos ou propriedades das inter-relações, que se mantêm constantes,
mesmo diante de oscilações no espaço-tempo.
Exemplo de invariante é a taxa de incidência solar no planeta Terra. Ou seja,
quando essa incidência muda devido a variação orbital planetária, como no ciclo de
Milankovitch, são desencadeadas transformações e estabelecem-se novos sistemas e
inter-relações (glaciações). Outro exemplo é a constante iluminação sobre as formas
terrestres, que determinam a organização do sistema espacial, como encostas voltadas
para o norte, que podem apresentar taxas de aquecimento anual maiores que encostas
voltadas para o sul. Isso pode estabelecer formações vegetais, com indivíduos distintos
a essas condições.
3 – Correlação: A correlação entre as variáveis de um sistema expressa o modo
pelo qual elas se relacionam. A análise é feita por intermédio das linhas de regressão, da
correlação simples (quando se relacionam variáveis) e da correlação canônica simples
(quando se relacionam conjuntos de variáveis). Essas abordagens de correlação serão
apresentadas no tópico 1.4: Tipos de sistemas em Geografia), tratando das categorias
de sistemas (morfológico, cascata, processo-resposta, controlado), contidas em Chorley
e Kennedy (1971).
4 – Funcionalidade: A abordagem sistêmica implica funcionalidade. Então, em
Geossistemas e demais tipos de sistemas, a integração funcional (inter-relação) é a
estruturante de uma organização espacial. A funcionalidade é critério para salientar a
transformação que ocorreu, no tocante ao objeto da geografia. Desse modo, o estudo
dos elementos individuais ou abordagens descritivas tornou-se insatisfatória para a
Geografia, e o paradigma sistêmico mais adequado às necessidades do século XX e
XXI, perante o uso dos recursos naturais, e que culminou na proposta do conceito e
método geossistêmico por Sochava (1978).
5 – Fechamento do sistema: A delimitação ou o fechamento do sistema é um
procedimento necessário para que se possa investigar a estrutura e o comportamento do
sistema, propiciando a sua identificação. As fronteiras do sistema devem distinguir os
elementos componentes do sistema dos elementos pertencentes ao ambiente, sistema
de ordem mais elevada (Figura 4). Nesse critério, segundo destaca Morin (1977), os
sistemas são, simultaneamente, “uno e múltiplo”, fruto de conexões e inter-relação
ser constatado em relação ao ecossistema, cuja finalidade é atingir e manter a estabilidade, para permitir
o desenvolvimento da vida (Grifo do autor desta obra).
Em relação à presente obra, observa-se concordância com a proposta apresentada por Rosnay (1975). Assim,
considera-se que o objetivo do Geossistema é alcançar a estabilidade máxima (estado estacionário) das inter-
relações em sua totalidade, lembrando que, embora se possa alcançar o estado estacionário em diferentes
espaço e tempo (escala), como clímax de vegetação, estágio de entropia máxima dos vários componentes
do Geossistema: relevo, solo, hidrografia, o objetivo geral do Geossistema é a estabilidade do todo.
entre outros sistemas e/ou subsistemas que formam sistemas maiores (análogo às
matrioskas, bonecas russas). Um exemplo dessa multiplicidade de sistemas é apresen-
tado por Christofoletti (1979) sobre a bacia hidrográfica do rio Paraná, que é um sistema,
mas, ao mesmo tempo, é resultado da relação entre vários sistemas, no caso, as bacias
hidrográficas de menor ordem hierárquica até as sub-bacias de primeira ordem (bacias
hidrográficas: Paraná → Tietê → Piracicaba → Corumbataí → Rio Claro → Lavapés).
A delimitação de um sistema a se analisar não é tarefa fácil e depende de obje-
tivos e escalas de análise, sem esquecer que, geralmente, faz parte de um todo, como
as hierarquias dos Geossistemas (planetário, regional e local). Com a disponibilidade
de variados produtos do sensoriamento remoto orbital e terrestre (óptico; radar para
modelos digitais de elevação; Remotely Piloted Aircraft System; sensores terrestres
topográficos a laser, tipo Lidar, entre outros), associados a softwares e algoritmos
de processamento de dados, é possível construir regras/critérios para delimitação de
Geossistemas ou determinar comportamentos destes para distinção (sub-bacias e bacias
hidrográficas, províncias geomorfológicas etc.).
Desse modo, a geotecnologia e os dados de campo (caracterização e monitora-
mento) facilitam e possibilitam, no século XXI, a análise multiescalar, tão necessária
para a compreensão da complexidade que os Geossistemas apresentam, como demons-
trado por Oliveira (2016).
Figura 4 – Ilustração de uma das formas de interpretação da

arquitetura de um sistema constante no tempo, representada por
causa-efeito, e evolução complexa não linear dos sistemas
30
6 – Ambiente do sistema: Em geral, os sistemas encontram-se incorporados

em conjuntos maiores, mantendo conexões de matéria e energia, que constituem o
seu ambiente. O ambiente representa um sistema de ordem hierárquica mais ele-
vada, no qual o sistema que está sendo examinado, caso ocorra modificações nos
elementos de nível inferior acarretarão mudanças diretas nos valores dos elementos
contido no sistema sob exame (Figura 4). A definição do ambiente também apre-
senta arbitrariedade como o fechamento do sistema, contudo é possível guiar por
critérios como elemento relevante no comportamento do Geossistema especificado
e, assim, é possível excluir elementos irrelevantes.
7 – Estado do sistema: O estado do sistema é caracterizado por sua organi-
zação, composição e fluxo de energia e matéria, podendo ser medido por variáveis.
Os valores relacionados com as variáveis do sistema descrevem o estado do sistema
em determinado momento. Assim, suas características resultam da sua história
(idade do sistema).
Quando o estado é dependente das condições do passado imediato, diz-se
que o sistema possui memória curta, como a relação entre débito fluvial e preci-
pitações. Memória longa, por sua vez, pode ser exemplificada como modelados
compostos por rochas resistentes à denudação (química e/ou física) que o entorna. E
pode, ainda, apresentar elementos relacionados com o passado remoto na forma de
depósitos e feições de relevo reliquiais, possível de serem utilizados por geógrafos
para compreensão de ambientes pretéritos e evolução histórica, como a geocro-
nologia de intemperismo, cosmogênica e termocronológica (VASCONCELOS,
1999; SALGADO, 2008).
Entretanto, não é possível retroceder até o início da formação do Geossistema,
mas somente até fases balizadas pelas relíquias (depósitos e formas pretéritas), por
vezes muito próximas à delimitação temporal do sistema. Como em situações em
que é possível utilizar a geocronologia associada a dados proxy (pólen, fitólitos,
paleossolo etc.), aplicados a processos de captura fluvial, finalização de deposição
aluvial e início da esculturação de forma de relevo (PATUCCI et al., 2018; MAT-
MON, 2009), e que permitem a estimativa temporal aproximada da formação do
sistema morfológico.
8 – Antecipação: A antecipação representa a possibilidade de os sistemas se
ajustarem tendo em vista a alteração do output a ser produzido, sendo esta a sua
qualidade: prever a ação e tentar evitá-la. Exemplos desses casos são aplicados
na contenção ou prevenção de processos erosivos e feições relacionadas, como a
implantação de reguladores do fluxo de matéria e energia na forma de infraestrutura,
no caso, por exemplo, das barragens na Espanha e Índia (CASTILHO et al., 2007;
SHIT; BHUNIA; MAITI, 2013), e a influência da biogeomorfologia (BUTLER;
MALANSON, 2005; POLLOCK; TIMOTHY; JORDAN, 2007).
Pela conceituação exposta, pode se entender que sistemas espaciais impli-
cam, principalmente, organização, tamanho, fluxo de energia/matéria (funcional)
e tempo, devendo, portanto, serem autorreguláveis, de forma que seja mantido
perfeito balanço entre as partes em constante fluxo (BRANCO, 2014) e que formam
organizações hierárquicas (sistemas unitários a super-sistemas).
Desse modo, sistemas podem ser identificados em todas as escalas de mag-
nitude e complexidade, apresentando-se hierarquicamente organizados, sendo a
interdependência das partes (complexidade) uma propriedade diagnóstica dessas
organizações espaciais, e são relacionados de maneira específica, no qual as estru-
turas são Gestalticas: o todo é maior que as partes (CHORLEY; KENNEDY, 1971).
Nas categorias de sistemas espaciais, são reconhecidos, até o momento, três
tipos (CHORLEY; KENNEDY, 1971): 1 – Isolado, 2 – fechado, e 3 – aberto.
1 – Sistema isolado: assume-se que esse tipo de sistema tem limites fechados
com o meio externo, ou seja, não ocorre entrada e saída de energia e/ou matéria.
Esse tipo é mais comum em laboratório (experimentos, sistemas artificiais); em
sistemas ambientais, é menos comum a ocorrência.
Um exemplo de objeto em sistema fechado são os experimentos laboratoriais,
controlados para simulação de processos de vazões de água. Nesse tipo de aborda-
gem, os sistemas têm de se manter isolados de toda interferência externa para que
não ocorram perturbações no processo e nos resultados das simulações, como os
apresentados por Sá et al. (2017).
Outro exemplo de sistema fechado é o caso da múmia Xin Zuhi, também
denominada de Lady Dai. Trata-se da múmia de melhor conservação encontrada
no presente, até a pele e sangue (tipo A) foram conservados no decorrer dos milê-
nios pós-falecimento (LIU-PERKINS, 2014). O nível de preservação de Lady Dai
foi decorrente, provavelmente, do modo de sepultamento, que serviu como uma
câmara hermética (camadas de seda, seladas com argila e carvão), e, associado a
essa condição, da presença de um líquido levemente ácido (anticéptico) colocado
na pele, possibilitando a preservação longeva do corpo.
2 – Sistema fechado: esse sistema também apresenta limites com o meio
externo para entrada e saída de matéria, mas não de energia. De acordo com a
segunda lei da termodinâmica, todo sistema fechado atinge o equilíbrio com máxima
entropia e mínima energia livre (inércia total). Nesse caso toda energia utilizada na
realização de qualquer trabalho10 se degrada em um processo irreversível, gerando
entropia (tópico 1.5.3: Entropia, neguentropia e equifinalidade), estabelecendo uma
tendência irrevogável à estabilidade completa, ou ao equilíbrio total e absoluto
(BRANCO, 2014).
Um sistema fechado, em situação de equilíbrio, não necessita de energia para
preservar sua estabilidade, de tal forma que, nas transformações que se operam
no seu interior, o número de moléculas e íons formados, por exemplo, é igual ao
número de moléculas e íons que desaparecem (BRANCO, 2014).
Outros exemplos de sistema fechado são:
– Aquecimento e esfriamento de rochas ígneas por radiação solar, em ambien-
tes secos absoluto e ausência de sais (Deserto do Atacama).
10 Trabalho em termodinâmica: T = Fxd, onde T – trabalho é dado em joules; F – força é dada em newtons;
d – deslocamento do corpo é dado em metros.
32
– Aquífero subterrâneo de águas fósseis, que não pertencem ao sistema cli-

mático atual, como no deserto do Saara (STURCHIO, 2004).
– Reator nuclear, em que reações induzidas de fissão nuclear de átomo pesado
(urânio: 238U, 235U) geram calor, que é transferido, por indução, para água pesada, a
qual circunda o sistema fechado (câmara de resfriamento hermética) e, por sua vez,
é transformada em trabalho, pelo deslocamento da água que movimenta turbinas
de geração de eletricidade.
– Ecossistema autossuficiente (mantido pela planta Tradescantia), mantido
isolado em uma garrafa selada por 53 anos, recebendo apenas a radiação solar do
meio externo e ciclando elementos químicos e água (THE SUN, 2016).
3 – Sistema aberto: caracteriza-se esse tipo pela troca de energia e matéria
(fluxo) com o meio externo, constante ou não. Os componentes desses sistemas
e inter-relações tendem a se ajustar, sem atingir o equilíbrio, mas atingindo uma
estabilidade constante em determinado espaço e tempo. Tal ajuste no sistema aberto
foi caracterizado por Bertalanffy (1950) como um estado estacionário (steady state).
A concepção de estado estacionário (no sentido químico-biológico) deu base
para a elaboração por Bertalanffy (1950) da teoria dos sistemas abertos em seres
vivos, em que a entrada de energia e matéria, via alimentação (compostos orgânicos
e inorgânicos), gera processamento contínuo de produtos ao sistema (proteínas,
enzimas). Ou, ainda, transforma em energia via queima por processo respiratório,
gerando calor e trabalho (processo irreversíveis: perda para o meio externo) e
autorregulando o sistema, ou seja, mantendo-o constante no estado estacionário
(BRANCO, 2014).
Assim, a estabilidade constante, alcançada nos sistemas abertos, denominada
de autorregulação, funciona para atingir um balanceamento (estado estacionário).
Um claro exemplo disso é dado por Branco (2014, p. 109):
O estado estacionário pode ser bem ilustrado pelo exemplo de um tanque cheio
de água (nível), com uma entrada e saída igual à vazão; o nível no tanque se
mantém nivelado, como se fosse estático (constante), embora haja um fluxo
contínuo de água.
Na análise geográfica, principalmente em geomorfologia, o estado estacionário

apresenta amplas designações (Figura 5), as quais, nesta obra, são consideradas
como sinônimos, visto que, na essência, as várias denominações dadas nos estudos
geomorfológicos para identificar estabilidade no decorrer do tempo são estados
estacionários. Do mesmo modo, o conceito de equilíbrio não será usado neste
texto, pois, na Teoria Geral dos Sistemas, o mais adequado ao uso é conceito de
estabilidade, no que se refere aos sistemas abertos.
Figura 5 – Representação diagramática de oito condições de estado estacionário
Para Strahler (1950), o estado estacionário em uma bacia hidrográfica (sistema

fluvial) funciona como um sistema aberto, necessitando de entrada e saída de ener-
gia-matéria, em que mudanças nos fatores (distúrbios) necessitam de ajustes para se
estabilizarem a novas condições. Quando os elementos da bacia hidrográfica (precipi-
tação, vegetação, infiltração, encostas e escoamento) alcançam o estado estacionário
(processo-resposta), o sistema se ajusta e se escultura de forma biunívoca, produzindo
“formas de relevo características de situação em estabilidade”. Uma forma de análise
de sistema aberto em relevo, proposto por Strahler (1950), é a relação entre gradiente
de canal e declives das vertentes, para indicar o estágio ou a proximidade ao estado
estacionário em que os sistemas espaciais se encontram.
O estado estacionário do modelado é assim abordado por Hack (1960): quando
ocorre balanço entre forças opostas (soerguimento, isostasia e denudação), de tal
forma que elas atuem em proporções iguais e seus efeitos anulem um ao outro, sob
determinada porção da superfície terrestre (bacias hidrográficas, províncias geomor-
fológicas, estruturas geológicas etc.), produzindo um estado estável do relevo. Um
exemplo desse balanceamento é a deposição e erosão equitativa em leque aluvial,
que mantém constante a forma dessa feição de relevo (estado estacionário).
Nesse sentido, a teoria proposta por Hack (1960) trata de relações entre rochas e
processos, como interagem no espaço, em que as formas da superfície terrestre podem
se modificar, caso a energia no sistema se altere (inter-relações), não constituindo,
34
necessariamente, etapas evolutivas temporais (cíclicas). Nessa mesma proposta, Hack

(1960) aponta a possibilidade de que topos residuais em extensas áreas do Apalaches
são resultados do estado estacionário alcançado pela interação dos fatores no sistema
de denudação e soerguimento, ao contrário do atribuído por Davis (1899) que defendia
serem resíduos de erosão vertical contínua no tempo (monadnocks) para mesma região.
Pela análise temporal e das transformações a longo termo via geocronologia
isotópica para os Apalaches, demonstra-se que, apesar de a atividade tectônica ter
cessado entre 60-100 milhões de anos atrás (termocronologia), a isostasia em resposta
à denudação do relevo apresenta tendência para o estado estacionário. Essa dinâmica
geomórfica é indicada, também, pela taxa de denudação via isótopo cosmogênico 10Be,
que corresponde a 20m por milhão de anos (BIERMAN; MONTGOMERY, 2014),
demonstrando a maior viabilidade da explicação sobre o modelado nos Apalaches
pela abordagem de Hack (1960).
O estado estacionário na geomorfologia amplia seu significado, desde a propo-
sição feita por Bertalanffy (1950) e variando de acordo com o autor adotado. Reco-
menda-se, aqui, em vista de esta obra não ter como meta o debate da complexidade
conceitual sobre estado estacionário inerente à geomorfologia, a leitura de obras
literárias11 para análise do estado da arte dessa temática (1950-2020).
1.4 Tipos de sistemas em Geografia

A perspectiva histórica da geografia moderna (séculos XIX-XXI) foi estruturada
desde o início, baseando-se no pensamento sistêmico, em que a totalidade da natureza
e suas conexões entre elementos foram prioritárias na compreensão da paisagem, em
Humboldt, no século XIX, mesmo antes da sistematização ser adotada como método
por Bertalanffy, em 1950. Assim, a TGS foi e é uma concepção adequada a uma parte
das abordagens na ciência geográfica, assim como à demanda atual que a sociedade
necessita dos geossistemas (desenvolvimento sustentável – tópico 2.3: Geossistema
e a perspectiva para estudos ambientais).
Nesse paradigma, a materialização de uma das formas de representar a realidade
dá-se via sistemas, os quais, na geografia, apresentam tamanho intermediário, ou
seja, situam-se entre átomos e o cosmos (universo). Desse modo, nossa percepção
de realidade pode ser interpretada como um mundo de sistemas, interligados em
várias escalas, magnitude e variações de complexidade espaço-temporal, e que estão
aninhados uns aos outros (princípio do expansionismo), a partir de hierarquia de
sistemas: sistema individual→ subsistema→ conjunto de sistemas→ supersistema
(CHORLEY; KENNEDY, 1971).
Na ciência da classificação de objetos, a compreensão dos fenômenos é o início
do desenvolvimento do conhecimento científico. Nessa perspectiva, a identificação e
11 Leitura recomendada: Gilbert (1877); Leopold e Maddock (1953); Leopold e Langbein (1964); Chorley (1962);
Schumm e Lichty (1965); Howard (1965); Abrams (1968); Chorley e Kennedy (1971); Ahnert, (1987); Montgomery
(1989); Gregory (1992); Thorn e Welford (1994); Renwick (1992); Ahnert (1994); Bracken e Wainwright, (2006);
Phillips (2010, 2011); Bierman e Montgomery (2014); Nanson e Huang (2018); Chen et al. (2019).
distinção de sistemas (classificação) permitem: o grupamento de conjunto de feições

similares (morfologia); a descrição sistemática de funções e propriedade dos sistemas;
e o conhecimento de casos específicos e gerais de sistemas, que podem extrapolar
para áreas similares (sistemas) ou homogêneas (HUGGETT, 1980).
Para a classificação tipológica de sistema em geografia, será adotada, nesta
obra, a proposta de Chorley e Kennedy (1971). Na concepção dos autores existem
quatro principais categorias hierarquizadas de sistemas de interesse para a geografia:
morfológico, em cascata, processo-reposta e de controle (Figura 6).
Figura 6 – Tipos de sistemas em Geografia
1.4.1 Sistema morfológico
O sistema morfológico é resultado de processos entre elementos dos sistemas

em termos de feições morfológicas. As estruturas resultantes são identificadas com
base na existência de correlação entre as propriedades morfológicas do sistema (geo-
metria, composição, energia etc.), que formam a parte operacional da realidade física,
e a energia direcionada de conectividade relacionada entre si e de maneira ordenada.
Um exemplo de sistema morfológico é a bacia hidrográfica, que é uma seção
organizada da superfície terrestre e, como tal, apresenta feições geométricas funcio-
nalmente relacionadas. Chorley e Kennedy (1971) sugerem alguns parâmetros para
caracterização desse tipo de sistema: Perímetro da bacia; Elevação mínima e máxima
da bacia; Amplitude altimétrica da bacia; Amplitude relativa da bacia; Circularidade
da bacia; Comprimento total dos canais por ordem e de todos os canais; Densidade
de drenagem; Quantidade de drenagem por ordem e de todos os canais; Frequência
das drenagens; Rugosidade; Razão de bifurcação; e Hipsometria integral da bacia.
Determinados e caracterizados os parâmetros morfométricos de uma bacia
(sistema morfológico), as relações entre os componentes podem ser expressas por
um conjunto de correlações, como se apresenta no Quadro 2, demonstrando que a
densidade de drenagem (fator D) em relação aos outros fatores é, provavelmente, um
indicador (sensível) da interação de grande parte dos fatores da bacia.
Algumas relações nesse tipo de sistema apresentam tendências, como o ângulo
máximo às encostas dos vales, que é observado como inversamente relacionado à
36
densidade de drenagem e à frequência dos canais (no ponto de vista davisiano →

aumento da eficiência da drenagem e da inclinação das encostas). Essa interação
entre drenagem e encosta produz um ciclo de retroalimentação positiva: F+D→Ɵ→F
(Quadro 2; Figura 7). Já a relação entre ângulo de vertentes, amplitude de bacia e
rugosidade é positiva (Figura 7).
Quadro 2 – Matriz de correlações de pares, significativas

para principais feições da bacia de drenagem
D Ɵ R F F1 D1 H
Densidade de
100
drenagem (D)
Ângulo máximo da
-0,43 100
encosta do vale (Ɵ)
Amplitude do relevo (R) +0,625 100
Frequência de canais (F) +0,94 -0,34 -0,15 1000
Frequência de
+0,97 100
canais (F1)
Densidade de canais
+0,88 100
de primeira ordem (D1)
Rugosidade (H) +0,78 100
Figura 7 – Inter-relações entre elementos do sistema

morfológicos e respostas de retroalimentação
Outro exemplo de sistema morfológico são as encostas, unidades básicas dos

geossistemas, as quais podem ser abordadas na análise sistêmica em escala local,
em que o ângulo de encosta, solo e vegetação podem ser elementos de possíveis
mensurações e relações.
Uma ilustração de ligações significativas entre cinco variáveis morfológicas é

apresentada na Figura 8, caracterizando um sistema de encosta, em interflúvio com
solos derivados de calcário, na França oriental (CHORLEY; KENNEDY, 1971). Nesse
exemplo relacional, demonstra-se que, quanto maior a inclinação da encosta, mais
raso pode ser o solo, podendo ocorrer a relação/seleção entre fração fina (<0,052mm)
e grossa (>0,052mm), em que a mais fina pode ser facilmente removida pela erosão,
enquanto a grossa concentra-se no solo. Também existem relações inversas ao grau de
cobertura vegetal, como a densidade de ocorrência de raízes no subsolo, com aumento
do ângulo de inclinação da encosta (Figura 8), podendo, por sua vez, apresentar solos
rasos, que armazenam pouca água e limitam o crescimento vegetal.
Figura 8 – Sistema morfológico tipo vertente
A identificação ou descrição de sistemas morfológicos é fundamental para a

geografia. Contudo, existem algumas dificuldades inerentes a esse tipo de sistema,
que é a diversidade tipológica, pois, mesmo nas menores seções do sistema (encosta,
bacia hidrográfica de 1° ordem, fácie físico-geográfica), os limiares12 entre sistemas
podem ser difíceis de determinar e delimitar. Além dos limiares (geometria), é neces-
sário compreender a forma como afetam o sistema.
Ressalva-se que, nas duas primeiras décadas do século XXI, as abordagens de
sistemas morfológicos foram potencializadas pelo avanço tecnológico do processamento
12 Limiar: segundo Chorley e Kennedy (1971 p. 358), é um limite ou condição “marca a transição de um estado
ou funcionamento para outro no sistema”, uma vez que um limiar excede em um dado sistema ambiental
(principalmente em invariantes como relevo, rocha, radiação solar, clima), as mudanças posteriores são
acionada e resultam no ajuste morfológico no sistema espacial. Isso ocorre devido ao ajuste de fluxo de
energia e matéria, que modifica as inter-relações de modo que a entrada e saída estabilizem (autorregulação).
Essa estabilidade em sistema aberto é expressa pelo estado estacionário, ou seja, sistemas geográficos
apresentam capacidade de autorregulação.
38
de dados por computadores pessoais, desenvolvimento de Sistemas de Informação

Geográfica (SIG), disponibilidade de dados de sensores remotos (radar e óptica) e
permitiram o acesso à informação para demandas variadas.
Tal panorama possibilitou análises e determinações mais rápidas dos parâmetros
morfométrico, necessários à caracterização dos sistemas morfológicos, principalmente
para extensas áreas, assim como para automatização de determinados índices mor-
fométricos, como: concentração da rugosidade e dissecação do relevo (SAMPAIO;
AUGUSTIN, 2014; GUIMARÃES et al., 2017); morfologia do relevo (WEISS, 2001;
JASIEWICZ; STEPNINSKI, 2013); índice fluvial de comprimento por declividade
ou SL (QUEIROZ et al., 2014); delimitação de bacia hidrográfica, rede de drenagem
via algoritmo TauDEM (TARBOTON, 2015); entre outros índices automatizados, que
facilitaram o estudo de sistemas morfológicos na geografia.
1.4.2 Sistema em cascata
O Sistema em cascata ou em sequência é composto por cadeia de subsistemas. Fre-

quentemente, é caracterizado por limiares e apresenta tanto magnitude espacial quanto
localização geográfica, que são, dinamicamente, encadeadas por cascata (fluxo) de
energia e/ou matéria. Os tipos de sistema em cascatas são: por radiação solar (principal),
por precipitação (evaporação, coalescência e condensação), hidrológico (infiltração,
armazenamento e escoamento), por intemperismo ou alteração (interação química e
bioquímico em solo e rocha), e por vegetação (radiação solar e matéria, como minerais,
que interagem com plantas e animais na transformação de energia e matéria) (CHOR-
LEY; KENNEDY, 1971).
Um exemplo da dinâmica do sistema em cascata é a saída de matéria na forma
de detritos e escoamento superficial de um subsistema de encosta para a drenagem.
Essa saída, por sua vez, torna-se parte da entrada de água e detritos no subsistema
fluvial (canal de fluxo) e, parcialmente, influencia no funcionamento desse subsistema
(CHORLEY; KENNEDY, 1971). Assim sendo, o enfoque desse tipo de sistema está
no fluxo de energia e/ou matéria entre subsistemas e sistemas, buscando compreender
a integração dos processos envolvidos e a dinâmica contínua.
Nos sistemas em cascata, os reguladores13 que controlam os fluxos podem ser
de vários tipos, com destaque para os reguladores de limiares, os quais determinam
a extensão do armazenamento de massa e energia; e os reguladores de decisão, que
podem desviar o fluxo para armazenamento em subsistemas (ex. radiação solar e a fotos-
síntese, infiltração de água e aquíferos) ou criar vazão de saída do subsistema. Nesse
sentido, o sistema em cascata não só exige um conhecimento da quantidade de massa
e energia transferida de um subsistema para outro, como também envolve o problema
mais difícil, isto é, esse fluxo se conecta com a estrutura morfológica, detalhadamente.
13 Reguladores: componentes dos sistemas (atmosfera, hidrosfera, vegetação...) que controlam ou influenciam
o fluxo de energia, informação e matéria no sistema, e que tendem a estabilizar o sistema internamente
(autorregulação). Exemplos de reguladores são: capacidade de infiltração da água (solo, rocha, material
sintético), capacidade de umidade no campo, zona de aeração, armazenamento de água subterrânea entre
outros (CHORLEY; KENNEDY, 1971).
Para as interconexões existentes entre elementos no sistema em cascata ou realizar

a simulação dessas dinâmicas (fluxos), o monitoramento pontual dos componentes dos
Geossistemas é uma das formas de análise de itens, como: radiação solar medida por
piranômetros (mede a radiação global: direta ou difusa do ultravioleta ao infravermelho)
e por pirgeômetro (mede a radiação de ondas longas da superfície terrestre: 5-35µm);
precipitação por pluviômetro (precipitação diária) e pluviógrafos (precipitação horário);
e medidas de vazão do rio por fluviógrafo (registro horário). Pela análise pontual, é
possível mensurar algumas entradas de energia e matéria no sistema, que permitem a
generalização para fins de modelagem de dados e simulações focadas na compreensão
da dinâmica dos sistemas ou em projeções futuras e soluções em determinados proble-
mas para o homem na ocupação desses sistemas ou desencadeado pela ação antrópica.
Devido a complexidade embutida no sistema em cascata, é necessário representá-
-lo em estruturas canônicas (Figura 9), sendo que essa representação também apresenta
vantagem, pois fornece base para a simulação, por computador, quanto à maneira como
o sistema opera. Isso, além de permitir uma investigação detalhada do funcionamento
de cada sistema/subsistema, nos permite prever as prováveis consequências das mudan-
ças nas entradas de energia natural ou da intervenção humana nos fluxos de energia,
informação e/ou matéria.
Figura 9 – a) Símbolos usados para representar as estruturas canônicas do

sistema em cascata. b) Estrutura simples de sistema em cascata, envolvendo
dois subsistemas. Uma entrada (A + B + C) no subsistema I, onde parte de A
é armazenada e outra produz a saída; o segundo caminho produz duas saídas
separadas (B e C). A saída combinada C + A em cascata é a entrada no subsistema
II. Já a saída B forma uma retroalimentação para a fonte de entrada original (A
+ B + C). Esse exemplo demonstra que os reguladores ocupam posições-chave no
funcionamento da cascata, e que o processamento associado ao armazenamento
pode introduzir uma defasagem de tempo, importante no fluxo do sistema
40
A modelagem virtual do sistema em cascata é exemplificada por Chorley e

Kennedy (1971) em bacia de drenagem, a partir do diagrama de fluxo de escoamento
na bacia (Figura 10). Nesse exemplo, a simulação, via computador, procede
substituindo a maioria dos reguladores em cascata por equações matemáticas, cuja
solução permite ao software determinar como o fluxo é distribuído. Conferindo,
na Figura 10, uma das operações básicas do subsistema de superfície é controlar a
proporção de uma dada intensidade de precipitação e a probabilidade de infiltração
sob uma superfície, em um determinado tempo.
Figura 10 – Diagrama simplificado de fluxo em ambiente

computacional, que descreve troca e armazenamento de energia e/
ou matéria envolvidos no ciclo hidrológico da bacia hidrográfica
A capacidade de infiltração de uma bacia hidrográfica pode ser expressa pela

equação 1, a qual é composta de parâmetros dados ao software (valores a base dos
logaritmos naperianos, que são constantes, neste caso: ƒ 0, ƒ c, k, e), para permitir que
ele resolva a equação e a inter-relação entre as variáveis (quantidades físicas que
variam durante as simulações: F* e t, e permitirão ao programa determinar qual parte
da precipitação é excesso e, portanto, o F* torna-se fluxo superficial (ou evapora).
F* = ƒc + (ƒ0 -ƒc) e -k / t

Equação 1
Devido à complexidade inerente ao sistema em cascata, na determinação dos

fluxos de energia e matéria, é possível realizar tal análise via abordagem por caixas:
preta, cinza e branca (Figura 11).
Caixa preta: todo sistema é abordado como uma unidade, sem qualquer con-
sideração de sua estrutura interna (fluxo e transformações de energia e matéria), e
a atenção é direcionada apenas para as saídas (produto), que resultam de entradas
identificadas. Com esta técnica, avalia-se o comportamento externo, sem considerar
o comportamento interno do sistema ou suas inter-relações.
Exemplo de aplicação da caixa preta, seria o caso de avaliar a carga de sedimen-
tos do exutório de uma bacia hidrográfica, onde este valor é passado de uma bacia
para uma sub-bacia afluente, sem pensar nos fatores condicionantes de produção de
sedimentos, isto é, na textura do solo e nas práticas conservacionistas, que podem
aumentar ou diminuir o aporte de sedimentos aos cursos d’água, conforme o uso e
manejo. Dessa forma, a discussão sobre o que pode contribuir para o valor da carga de
sedimentos do exutório não é de interesse desta análise, somente o resultado final da
carga de sedimentos dos cursos d’água de uma bacia para outra. Ou seja, analisa algo
específico, não os fatores ou possibilidades viáveis para aquela situação no ambiente.
Caixa cinza: a análise do sistema é realizada por abordagem parcial, em que
o interesse está centrado em um número limitado de subsistemas (mais relevantes),
cujo funcionamento interno não é considerado. Nesse caso, é possível citar a Equação
Universal de Perdas de Solo – USLE de Wischmeier e Smith (1978), calculada por
seis fatores naturais quantificados (fator erosividade da chuva, fator erodibilidade
do solo, fator comprimento da rampa, fator declividade da rampa, fator cobertura do
solo, fator práticas conservacionistas). Todavia, apesar de parecer indicar uma robus-
tez preditiva, muitas vezes, essa equação é mal utilizada, o que ocasiona predições
incorretas (CHAVES, 2010), utilizando valores médios de alguns fatores, os quais não
são determinados de forma segura ou em situações de deposição de sedimentos ou
formação de voçorocas. Dessa forma, são considerados somente os fatores relevantes,
não sendo aplicável para bacias hidrográficas complexas ou situações específicas.
Caixa branca: nesta abordagem, objetiva-se analisar, o máximo possível, fluxos,
armazenamento etc., a fim de compreender, de forma mais detalhada, como a estrutura
interna do sistema produz determinadas saídas em resposta à determinada entrada.
Sob a mesma perspectiva do exemplo de carga de sedimentos em uma bacia
hidrográfica, na caixa branca. pode se mencionar a Equação da Razão de Produção
de Sedimentos (RPS) de Khanbilvardi e Rogowski (1984), que visa corrigir o resul-
tado final da Equação Universal de Perda de Solos (EUPS). Nesse sentido, considera
vários fatores do sistema e suas inter-relações, uma vez que aborda características
do meio físico (área de bacia, densidade hidrográfica, relação de bifurcação, média
anual de produção de sedimentos por unidade de área) e práticas conservacionistas
(consideradas no resultado de perda de solos anual da EUPS por unidade de área),
conseguindo, assim, representar tanto a quantidade de sedimentos que chegam ao
exutório da bacia hidrográfica como o quanto fica depositado nesta bacia. Desse modo,
é possível diferenciar os sedimentos que são transportados pelos cursos d’água para
a sub-bacia dos que continuam na bacia hidrográfica em análise.
42
Figura 11 – Três formas de análise do sistema de caixa: preta, cinza e branca
1.4.3 Sistema processo-resposta
O sistema processo-resposta representa a intersecção entre o sistema morfoló-

gico e a dinâmica processual do sistema em cascata, de modo que o sistema proces-
so-resposta demonstra a maneira pela qual a geometria do sistema está relacionada ao
processo14. Assim, ligações entre os dois tipos de sistema são fornecidas por estados
morfológicos, que coincidem ou estão correlacionados, com armazenamentos ou regu-
ladores nos sistemas embutidos no tipo em cascata (CHORLEY; KENNEDY, 1971).
Esta integração é, geralmente, expressa por um compartilhamento de certas
variáveis dos sistemas morfológicos e em cascata, exemplo: capacidade de infiltra-
ção é uma propriedade morfológica de sistema de encosta e ao mesmo tempo um
regulador no ciclo hidrológico no sistema em cascata da bacia hidrográfica.
É comum a interação entre sistemas envolver retroalimentação negativa (tópico
1.5.2: Retroalimentação e homeostase), são vitais para a estrutura do sistema pro-
cesso-resposta, sendo que a operação dos loops de retroalimentação negativa tende
a se opor a mudanças contínuas dentro do sistema, causadas por alguma variação
da entrada em cascata, e que opera para atingir uma nova estabilidade diante das
modificações no sistema.
Um exemplo de retroalimentação negativa é quando ocorre o aumento da erosão
do fluxo basal, que tende a aumentar o ângulo de declive do vale fluvial, que, por
sua vez, aumenta a taxa de erosão de material para o canal, inibindo a erosão basal.
Desse modo, a mudança em uma variável morfológica exerce, frequentemente, um
14 No sistema processo-resposta, destacam-se três princípios: 1 – O funcionamento do sistema é fundamen-

talmente controlado pela magnitude e frequência de entrada em cascata (in put). 2 – Os loops de retroali-
mentação criam estabilidade entre variáveis do sistema morfológico e um estado estacionário de vazão da
cascata pode ser alcançado. 3 – Mudança progressiva pode ocorrer se houver modificações na entrada ou
degradação interna do sistema (inter-relações), como resultado da operação contínua no decorrer do tempo.
efeito de regulação sobre parte dos fluxos do sistema em cascata e atinge uma nova
condição de estabilidade (adaptação), em que as encostas dos vales podem ser mais
íngremes, contudo, estáveis (Figura 12 A).
Figura 12 – Exemplos de loops de retroalimentação negativa e

positiva em sistema processo-resposta. A) Erosão basal e aumento
da carga de detritos, que inibe o aprofundamento do canal fluvial
(retroalimentação negativa). B) Diminuição da infiltração, aumento da
erosão e perda de espessura de solos (retroalimentação positiva)
O loop de retroalimentação positiva apresenta, em sua estrutura, elementos

autodestrutivos, limitantes do tempo em que pode funcionar. Um exemplo de retroa-
limentação positiva é a diminuição de capacidade de infiltração (F*), a qual resulta
em aumento no escoamento superficial (q), e erosão das encostas (Figura 12 B). Essa
reação em cadeia leva à remoção dos horizontes de solo mais permeáveis (superfi-
cial). Assim, quando solos são completamente erodidos, a intersecção entre erosão e
F* desaparece, e o ciclo de retroalimentação positiva torna-se destrutivo ao sistema
estabelecido.
Em território brasileiro, Cremon (2009) identificou, via dados do modelo digital
de elevação, Suttle Radar Topography Mission (SRTM), fatores morfométricos e
correlações estatísticas, relacionados à formação de leques aluviais em terraços do
Alto rio Paraná. Desse modo, a correlação entre área da bacia, amplitude altimétrica,
densidade da drenagem e circularidade da bacia (Figura 13) indica que cursos flu-
viais menores, de baixa energia de fluxo fluvial mantiveram desníveis entre terraços
fluviais, propiciando, por sua vez, a formação de leques aluviais, em períodos mais
secos, e de morfogênese intensa, no Holoceno (3500-1500 anos AP). Por outro lado,
bacia potencial de descarga fluvial mais elevada escavou o leito fluvial, eliminou
diferenças altimétricas entre patamares e inibiu a formação de leques.
44
Figura 13 – Relações morfométricas de bacias hidrográficas e ocorrência de

leques aluvais. Bacias sem leques aluviais: Baile, Esperança e Samambaia. A)
Relação entre área de captação da bacia e amplitude altimétricas: demonstra-
se, nesse gráfico, que bacias com altos valores não apresentam leques aluviais.
B) Relação circularidade de bacia e densidade de drenagem: o agrupamento
em dois conjuntos de valores relaciona-se a rochas, sendo que o grupo 1 ocorre
exclusivamente em arenitos do Grupo Caiuá, enquanto o Grupo 2 ocorre
no Grupo Caiuá e nos sedimentos inconsolidados dos terraços fluviais
Os exemplos citados demonstram que o fluxo-dinâmica e a morfologia dos

sistemas interagem uns com outros, em estruturas complexas de processo-resposta,
bem como que ligações de loops de retroalimentação podem ser representadas por
coeficientes de correlações, ou seja, os controles de cada loop são apenas parciais,
pois outras variáveis estão envolvidas. Assim, a velocidade de autorregulação do
sistema processo-resposta depende, em conjunto: da força das ligações individuais
nos ciclos de retroalimentação; da complexidade da organização do sistema; e dos
vários tempos de resposta (retorno) do sistema analisado.
Nas categorias de sistema processo-resposta, segundo Chorley e Kennedy
(1971), existem quatro classes: ponto, linha, superfície regular, e superfície irre-
gular. As três primeiras são escalas de análise local (unidades de encostas, bacias
hidrográficas de baixa ordem) e a última é em escala análise regional (áreas de
geossistemas regionais de fluxo e transformação de matéria e energia homogêneos:
classe ou conjunto de sistemas).
1° Representantes do tipo ponto: os melhores representantes dessa classe são
elementos em cascata, dispostos quase verticalmente. Um exemplo dessa categoria
de sistema são indivíduos plantas que, em análise conjunta de radiação solar, preci-
pitação e absorção de nutrientes, permitem mensurações de formas de crescimento,
e o detalhamento do sistema processo-resposta. Tal perspectiva de crescimento do
sistema planta pode ser mensurado por sensoriamento remoto via Light Detection
And Ranging, o qual permite monitorar o crescimento de plantas individuais e/ou
dosséis pela diferença de altura, no decorrer do tempo.
Outro exemplo de sistema processo-resposta de ponto, em geomorfologia, é o

transporte de partícula (Figura 14 A). Ressalva-se que, nesse exemplo, ocorre artifi-
cialização da realidade, visto que a seleção do processo é pontual (pequena área em
diâmetro), considerada como representante do que ocorre como um todo (encosta,
feições de relevo). Na erosão por respingo de gotas de chuva, os elementos da cascata
envolvidos são: velocidade de impacto das gotas de chuva, intensidade da precipi-
tação e variações morfológicas dos grãos, e coesão das partículas de solo. A saída
de resposta desse processo é a distância para onde partículas são deslocadas (de um
ponto a outro) e a depressão originada pela remoção de material. A caracterização
desse processo (erosão-transporte-deposição) é praticável por análise estatística da
mecânica do processo, em que é possível desenvolver equações que relacionam valor
de entrada (inclinação da superfície; velocidade final da gota; intensidade de preci-
pitação; tamanho de grão; coesão) à saída do sistema (distância de deslocamento;
diâmetro do efeito splash).
Figura 14 – Ilustração de categorias de sistema de processo-resposta. A) Sistema

ponto: impacto de gotas de chuva e transporte de partículas. B) Sistema
linear: fluxo de entrada e saída de matéria e energia não uniforme no sistema,
correspondendo, mais próximo, ao que ocorre na realidade. C) Sistema de
superfície plana: média de umidade em 12 locais diferentes, sob um terreno,
medido em porcentagem (8%-12%). Tal análise é realizado via variância. D)
Sistema de superfície irregular: Superfície de tendência de valores altimétricos
(SRTM) do Terraço baixo do rio Paraná, indicando direção de basculamento
2° Representados como linha: nessa categoria, a cascata tem componente

horizontal e gravitacional (perfil de declive, rios). Um exemplo é o escoamento que
influencia, em um segundo momento, a velocidade de fluxo de canal, e que o processo
(fluxo) se intensifica com o aumento da componente horizontal do fluxo.
A figura 14 B exemplifica um sistema processo-resposta linear, em que entradas
são interpretadas como não uniformes no sistema (realidade), e nem o fluxo de saída
46
por evapotranspiração e escoamento será como um fluxo contínuo. Da mesma forma,

detritos e soluções serão adicionados e removidos em cada seção do canal fluvial.
Um exemplo de não uniformidade no fluxo do sistema são os processos de
eutrofização em corpos d’água, onde ocorre acumulação ou aumento de matéria
contendo compostos químicos como nitrado ou fosfato no sistema fluvial (rio, lagos),
desencadeando o crescimento excessivo de algas e plantas aquáticas. Esse processo
pode desencadear mudanças do ecossistema previamente estabelecido, além de impac-
tos ambientais, como o esgotamento de oxigênio do corpo d’água por consumo da
matéria orgânica, pela decomposição, conforme constatado no complexo lagunar de
Jacarepaguá (SANTOS, 2014).
3° Representados como superfície regular: nesse sistema, predominam os
componentes horizontais em cascata, como o nível do lençol freático após períodos
de diferentes entradas de água por precipitação. Para avaliação dessa categoria de
sistema, é possível utilizar, principalmente, a superfície de tendência, métodos de
correlação e análise por regressão e de variância.
A vantagem do uso dos métodos citados para analisar superfícies regulares é
que tornam possível avaliar a resposta de qualquer característica, quanto a alterações
simultâneas nas variáveis morfológicas de entrada e de fluxo em cascata, permitindo
identificar, com precisão, respostas anormalmente altas ou baixas e relacioná-las a
uma combinação particular de fatores de entrada (Figura 14 C). Como desvantagem
associada a esse modo de análise (tendência e variância), observa-se a necessidade
de envolver numerosas áreas amostrais e os diversos fatores envolvidos, além de que,
muitas vezes, não é possível estabelecer todas as determinações do sistema espacial.
4° Representados como superfície irregular: os componentes vertical e hori-
zontal em cascata assumem importância variável em diferentes pontos (circulação
atmosférica, porção da superfície terrestre). Essa categoria de sistema processo-res-
posta é a de maior escala, quando comparada às demais, já apresentadas, devido a
extensão desse processo, sendo necessária a análise seletiva dos fatores e elementos
componente no sistema.
Para a compreensão do resultado do fluxo (saída) e da interação de energia e
matéria em um sistema de encostas de determinada área de um geossistema homo-
gêneo (mares de morros), é necessário abordar variações geológicas-estruturais,
vegetação-solos-hidrologia, contudo ignoram-se muitos processos localizados (ponto,
linha e superfície regular) pela grande quantidade de dados necessário e a escala de
análise ser mais abrangente. Pela escala de análise da superfície irregular (regional)
a compreensão e as explicações gerais, frequentemente, não são aplicáveis a escalas
locais (ponto, linha e superfície regular), sendo necessário evitar suposições afir-
mativas sobre comportamento de fluxos locais, baseado em tendência de área em
escala regional.
Na análise de superfícies irregulares, é possível utilizar técnica de superfície
de tendência, como demonstrado por Cremon et al. (2008), em que a disposição E/
NE-W/SW e o mergulho de 13cm/km para N-NW da superfície do Terraço Alto do
rio Paraná (próximo a Porto Rico) são resultados de basculamento. A superfície de
tendência, elaborada a partir do modelo digital de elevação – SRTM, gerou disposição
NE-SW com inclinação de 60 cm/km para SE (Figura 14 D) concordante com paleo-

canais (provável idade entre 7.500 e 3.500 anos AP) no Terraço Alto e perpendicular
ao canal atual do alto rio Paraná. Desse modo, foram identificados, via superfície
de tendência, conjuntos de falhas que definem pequenos blocos estruturais, sendo
feições morfoestruturais as planícies e os terraços analisados.
Exemplos de sistemas ambientais que apresentam entrelaçamento entre estru-
turas morfológicas e em cascata são dados por Chorley e Kennedy (1971). Nesses
exemplos, a interação gera alta complexidade (Figura 15), na qual fluxos em cascata
podem criar estabilidade entre as variáveis morfológicas, e as mudanças no sistema
em cascata serão refletidas pelas mudanças na estrutura morfológica, por reajuste
das variáveis em direção a uma nova relação de estabilidade. Portanto, a regra geral
dos sistemas espaciais é estar em pequenas e constantes mudanças, sem ultrapassar
limiares, ou, quando ultrapassam os limiares, toda a estrutura modifica-se para adap-
tar-se às novas condições impostas (evolução do Geossistema).
Figura 15 – Natureza da complexa estrutura que resulta da

interação entre sistema morfológico e em cascata
48
1.4.4 Sistema controlado
O sistema controlado (transdutor) trata-se de um sistema resposta em que com-

ponentes–chave (principalmente reguladores das inter-relações) são modificados e
controlado de modo intencional (Figura 16 A), principalmente em termos de fluxo
e distribuição de matéria e energia. Exemplo disso é a ação humana em estruturas
artificiais de contenção de energia e matéria para amenizar ou inibir processos ero-
sivos (CASTILHO et al., 2007; SHIT; BHUNIA; MAITI, 2013), semelhantes aos
efeitos de obras de animais, como represas de castores, ou de modificação do fluxo
de canal fluvial e efeitos geomórficos (BUTLER; MALANSON, 2005; POLLOCK;
TIMOTHY; JORDAN, 2007).
Figura 16 – Sistemas de controle. A) llustração de um sistema processo-

resposta com intervenção humana em reguladores e armazenadores. B)
Alguns elementos que compõem um sistema controlado, demonstrando
a intervenção humana direta no sistema processo-resposta
Quando o sistema controlado inclui fenômenos físicos associados ao antrópico

ou socioeconômicos (Figura 16 B), pode ocorrer retroalimentação positiva, como
a impermeabilização de bacias hidrográficas, que causa aumento do escoamento
superficial, aumento de fluxo e incisão do nível de base ou inundação, dependendo
do contexto geomorfológico e da infraestrutura adequada ou inadequada para esses
processos fluviais. Com todos esses processos ocorrem ajustes do sistema hidrográ-
fico a essas condições. Desse modo, o sistema controlado ajusta-se mutuamente na
forma e na dinâmica processual em resposta à entrada, saída e às modificações no
fluxo e transformação interna de energia e matéria, com modificações nos seus regu-
ladores por intervenção humana, sendo necessários intervalos de tempo para ajustes
a uma nova estabilidade15, dependente da quantidade, intensidade e mudanças da
15 Estabilidade: Nesta obra, emprega-se o termo estabilidade em sistema aberto ao invés de equilíbrio,
como utilizado por Chorley e Kennedy (1971), por se entender que estabilidade em sistema aberto é mais
apropriado para descrever o estado estacionário afastado do equilíbrio (sistema fechado), de acordo com
tendência em cascata de energia e número de ligações entre variáveis (CHORLEY;

KENNEDY, 1971).
Para o controle humano do sistema (processo-resposta), são necessárias ações
equivalentes ao que a estrutura apresenta, isto é, deve se tomar um número sufi-
ciente de medidas para intervenção, de modo a forçar a redução da maior quantidade
possível de resultados previstos pelo interventor. Essa lógica, proposta por Ashby
(1964), é denominada de lei da variedade, a qual permite a compreensão dos modos
de controle de um sistema, e segundo a qual deve-se aumentar a variedade possível
de ações disponíveis na intervenção, ou operar de forma a restringir respostas que
os sistemas podem produzir.
Em sistemas, três tipos de controle de retroalimentação regulam os processos:
1 – Estabelecimento de retroalimentações negativas ou homeostase negativo,
para manter a estabilidade do sistema.
2 – Entrada de informações externas pelo loop de retroalimentação, que apre-
senta capacidade de alterar o funcionamento do sistema.
3 – Informação interna, gerada no sistema de entrada no loop de retroalimenta-
ção positiva contínua para produzir mudanças na natureza do sistema (inter-relações).
Baseados na lei de variedade (ASHBY, 1964) e no controle humano da retroa-
limentação inerente aos sistemas espaciais, Chorley e Kennedy (1971) propõem uma
hierarquia de sistema de loops de retroalimentação, categorizada em seis ordens
ou camadas:
1 – Estrutura de entrada e saída semelhante, sem retroalimentação (Figura 17 A).
2 – Estrutura de fluxo de entrada (cascata) e saída semelhante, mas com retroa-
limentação determinística. A entrada ou o vetor ambiental (Ut), que opera no sistema
estrutural no tempo (t), produz uma saída (S t + i) no tempo t + 1, que, por sua vez,
resulta em um vetor de estado estrutural, que é realimentado para modificar a estrutura
do sistema (Figura 17 B).
3 – Sistema sequencial de decisão, apresenta o loop do vetor de retroalimen-
tação de decisão, dentro do qual o tomador de decisão pode intervir (manipular), de
acordo com suas próprias informações, no ambiente do sistema (vetor ambiental).
Nesta ordem de complexidade do sistema, influências ambientais estocásticas são
exercidas sobre ele por meio das ações do decisor (Figura 17 C).
4 – Sistema de decisão adaptativo, além das características da terceira ordem
(sequencial de decisão), apresenta um loop de vetor de informação histórica, con-
tendo um registro de observações ambientais, passadas pelo interventor na forma de
dados estocásticos, e fornecendo distribuições de probabilidade como guias para as
decisões funções (Figura 17 D).
5 – Sistema de maior complexidade e armazenamento de memória, pode apren-
der, na medida do desenvolvimento de novas previsões, regras e alterações estruturais
para que o sistema possa operar de forma mais eficiente em direção a um determi-
nado objetivo.
as concepções da Teoria Geral dos Sistemas, proposta por Bertalanffy (1950, 1968) e que, por sua vez,
são os princípios que norteiam o Geossistema.
50
6 – Sistema de complexidade ainda maior, com diversos loops de retroalimen-

tações e monitoramento de subsistemas, com uma memória altamente estrutural, que
pode se direcionar, conscientemente, para a solução de novos objetivos.
Figura 17 – Quatro ordens de hierarquia em sistemas de controle com

retroalimentação. A) Primeira ordem: simples sistema de entrada/saída.
B) Segunda ordem: sistema de entrada/saída com retroalimentação
determinística. C) Terceira ordem: sistema de decisão sequencial,
apresentando intervenção no loop de retroalimentação. D) Quarta
ordem: sistema de decisão adaptativo, que apresenta informação
histórica de loop de retroalimentação para tomada de decisão
Na sexta categoria de complexidade e entendimento dos fluxos e das transfor-

mações de energia-matéria e modos de intervenção (exemplo, humana), encontra-se
a principal abordagem do Geossistema, também designado por Sochava (1975) de
Geossistema de cocriação, no qual o entendimento de estrutura e funcionamento dos
sistemas é realizado, via monitoramento, por estações geográficas fixas ou temporárias
(SOCHAVA, 1974). Desse modo, compreendem-se as potencialidades e vulnerabili-

dades dos sistemas espaciais nas menores unidades espaciais das paisagens, ou seja,
as fácies físico-geográficas (nível topológico), a partir do método de ordenamento
complexo de Sochava (1970, 1974, 1978).
Tais informações, de compreensão sobre funcionamento e caracterização de
Geossistemas, foram desenvolvidas como base teórica para uso racional e otimi-
zação do ambiente no território da ex-União Soviética, onde é muito apropriada a
utilização da lógica das propostas de Chorley e Kennedy (1971) quanto aos tipos e
ao funcionamento de sistemas geográfico.
Em síntese, sobre a análise tipológica de sistemas em geografia, proposta em
Chorley e Kennedy (1971), destaca-se que ela tem início com o sistema morfológico,
no qual se identificam os principais componentes físicos de um dado sistema; após,
determina-se a dinâmica (fluxo) das entradas e saídas de energia e matéria no sistema
em cascata; realiza-se a integração entre morfologia e fluxo de energia e matéria
(associação entre morfológico e em cascata) para análise dinâmica de uma dada
inter-relação e a determinação do sistema processo-resposta; e, por fim, se estabelece
o sistema de controle, em que a atividade antrópica pode ser inserida, na intervenção,
positiva (estabilidade) ou negativa (instabilidade), na organização espacial.
1.5 Conceitos e processos em sistemas

A partir da definição de sistema como unidade dimensional mínima da orga-
nização, capaz de funcionar por si só, e da tipologia dos sistemas geográficos (mor-
fológico, em cascata, de processo-resposta e de controle) propostos por Chorley e
Kennedy (1971), é possível analisar a paisagem (realidade) via abordagem sistêmica,
principalmente pela proposta geossistêmica de Sochava (1978).
A compreensão sobre organizações espaciais (paisagem) é potencializada
quando associada aos conceitos da Teoria Geral dos Sistemas (BERTALANFFY,
1968), principalmente no que se refere ao entendimento da dinâmica atual e das
transformações dos sistemas no decorrer do tempo. Assim, neste tópico serão abor-
dados os conceitos contidos na Teoria Geral dos Sistemas (Figura 3) e que permitem
a compreensão do processo espaço-temporal nos sistemas geográficos, que moldam
os Geossistemas.
Nesse sentido, destacam-se os conceitos de: entrada, saída e informação; retroa-
limentação e homeostase; entropia, neguentropia e equifinalidade.
1.5.1 Entrada, informação e saída de matéria e energia
Os fatores externos (meio externo) são responsáveis pelo estabelecimento dos

parâmetros que regulam o seu funcionamento (CHRISTOFOLETTI, 1978), podendo
se apresentar na forma de energia, matéria e informação.
Segundo Christofoletti (1978), energia é a capacidade utilizada para movimentar
e dinamizar o sistema, em várias formas (calorias, joules, langely etc.), fazendo-o
52
funcionar e gerando a capacidade de realizar trabalho. As principais energias nos

sistemas são: a potencial (Ep = mxgxΔh) e a cinética (Ec = m.v2/2). A energia poten-
cial é a força inicial que leva ao funcionamento do sistema ou do processo, em que
a gravidade e a amplitude altimétrica do relevo desencadeiam os processos hidro-
lógico-fluviais, intempéricos, e de esculturação de formas de relevo (sistema hidro-
gráfico, sistema morfogenético). A energia cinética é gerada partir da movimentação
do material e, dessa maneira, podem ocorrer os fluxos de energia e matéria, onde é
possível aos reguladores armazenarem parte da matéria (depósitos sedimentares),
constituindo reservas para funcionamento, conforme exemplificado nas tipologias
de sistemas (morfológico, em cascata, de processo-resposta e de controle).
As matérias no sistema são recursos a serem utilizados e mobilizados pela
organização espacial, como água, detritos rochosos, solo, cátions e ânions solubi-
lizados, matéria orgânica, sendo que, no sistema, essas matérias podem produzir
as saídas, e também ser entrada para outros sistemas e subsistemas subsequentes
(CHRISTOFOLETTI, 1978).
A Informação, segundo Christofoletti (1999), em sistemas geográficos refere-se
à transferência física ou material, em um determinado período de tempo, entre duas
variáveis de estado, entre uma fonte (entrada), a variável de estado e um escoadouro
(saída). Assim, a informação corresponde ao fluxo de energia, como fontes emissoras
de ondas luminosas que, ao atingirem o olho ou a célula fotoelétrica, produzem certa
reação de um organismo ou de uma máquina (sensor remoto de satélite orbital), e
transportam, assim, informação (BERTALANFY, 1975). Em termos de informa-
ção em cadeia alimentar no ecossistema, ocorre o fluxo de energia calorífera (kcal/
semana), fluindo das plantas para os herbívoros e carnívoros. Desse modo, a biomassa
é transferida da fonte alimentar para o animal e para um escoadouro (calor, energia
cinética-movimento, matéria processada).
Um dos modos de informação nos sistemas geográficos vem da resposta a
energias (mudanças) momentâneas ou temporais. Nesse sentido, caso um nível de
base aprofunde a informação, o sistema a recebe na forma de aumento da energia ou
em maior velocidade de fluxos nos sistemas (encostas, hidrografia), e por sua vez
ocorre processo de denudação e esculturação de novas formas do modelado (disse-
cação). Um exemplo de mudança na informação é a incisão de nível de base do alto
rio Paraná, ocorrida, provavelmente, no Quaternário, afetando o baixo curso do Ivaí
e desencadeando aumento da energia cinética na forma de fluxo da água superficial
e subsuperficial em todo o sistema de processo-resposta. Tal mudança desencadeou:
intensificação da denudação; migração de divisores hidrográficos regionais (Ivaí-Pi-
quiri); transformações laterais de solo (Ferralsol16 em Acrisol); e inversão de relevo em
locais com presença de ferricretes (FUMIYA, 2017; COUTO, 2018). Desse modo, a
mudança na informação, expressa pela energia cinética, nesse caso, desencadeia toda a
mudança e adaptação do sistema de processo-resposta na região dada como exemplo.
16 Como o intuito, nesta obra, é expressar a importância de padrão único de sistemas de classificação, optou-se
pela terminologia internacional de solo da WRB-FAO (2014), ao invés do Sistema Brasileiro de Classifica-
ção de Solos.
Transferências de informações em sistemas geográficos representam, portanto, o

uso da informação sobre o estado das organizações, visando controlar as mudanças desse
mesmo estado (CHRISTOFOLETTI, 1999). Outrossim, pelo conhecimento dos fluxos e
da energia expressa nas informações, é possível planejar e programar o comportamento
ou funcionamento do sistema, como abordado no sistema tipo controlado (CHORLEY;
KENNEDY, 1971), para o melhor uso e resolução de problemáticas territoriais.
A saída (output) é o resultado final da operação de um sistema (produto de
reação química, transformação da matéria, estados físicos – sólido-líquido-gasoso).
Todo sistema produz uma ou várias saídas (energia e matéria), e, por meio da saída,
o sistema exporta o resultado de suas operações para outros sistemas/subsistemas ou
locais de armazenamento (oceano, lagos, bacias sedimentares, barragens artificiais).
1.5.2 Retroalimentação e homeostase
Em sistemas geográficos (processo-resposta, controlado), ocorrem encadea-

mentos de ações de energia e matéria via fluxo (entrada → saída → entrada), os
quais podem estar interligados a outros sistemas. Nesse caso, sistemas anteceden-
tes e subsequentes podem não apresentar encadeamentos lineares, em que sistemas
subsequentes podem exercer influência sobre os antecedentes (transformações pedo-
lógicas laterais, bacias hidrográficas e hierarquia de drenagem). Esse mecanismo é
denominado de retroalimentação.
Como conceito advindo da Cibernética17, a retroalimentação (ou feedback) foi
definida por Nobert Wiener como “a ciência do controle e da comunicação, no animal
e na máquina” (ASHBY, 1956), ou seja, seu foco está na coordenação (comunicação),
regulação (organização) e controle de sistemas (transferência de informação).
A noção de retroalimentação intensifica-se com a necessidade de se estabelecer
previsões sobre trajetórias e mudanças de aeronaves, por artilharias inglesas durante
a Segunda Guerra Mundial, quando, então, Weiner e equipe desenvolveram um ser-
vomecanismo de precisão para trajetórias, denominado de analisador diferencial
de Bush (CHIAVENATO, 2014). Esse mecanismo detectava padrão de movimento
do avião e ajustava-se a ele, autocorrigindo o percurso da aeronave. Desse modo, a
variação do avião funcionava como uma entrada de dados (retroalimentação) que fazia
a parte regulada reorientar-se (autorregulação) no sentido do alvo em movimento,
funcionando num sistema em retroalimentação por informações (posição do caminho
→ mudança de rota da aeronave → ajuste à nova posição).
Os mecanismos de retroalimentação nos sistemas geográficos apresentam, comu-
mente, quatro tipos principais (CHRISTOFOLETTI, 1979): retroalimentação direta;
em circuito; negativa; e positiva (Figura 18).
17 A palavra “cibernética” vem do grego Kybernytiky. Etimologicamente, essa palavra data do século VI A.C., e
está relacionada à travessia marítima de Teseu à ilha de Creta, conduzido (controle, comunicação e direção)
por tripulação do barco pelo mar. Em lógica sistêmica, o capitão estabelece o roteiro da viagem; o piloto é o
processador de informações e revisor de ajustes de rota (regulador); o timoneiro executa as ordens (correção
de rota); e os remadores são os fornecedores de energia de propulsão da embarcação (CHIAVENATO, 2014)
54
– Retroalimentação direta: acontece quando há relacionamento direto de ida e

volta da ação entre dois elementos ou variáveis;
– Realimentação em circuito: ocorre quando envolve mais de duas variáveis e
a retroalimentação volta ao ponto inicial, completando um círculo ou arco.
– Retroalimentação negativa: é o tipo mais comum, ocorre quando uma variação
externamente produzida leva ao estabelecimento de um circuito fechado de altera-
ção, o qual tem a função de arrefecer ou estabilizar o efeito da mudança original.
Essa situação é indicada por um circuito com número ímpar de sinais negativos de
correlação. Sistemas com retroalimentação negativa são relativamente estáveis e só
modificam as suas características após um impulso exterior que altere a posição dos
elementos na organização.
– Retroalimentação positiva: ocorre quando os circuitos entre variáveis reforçam
a ação, externamente produzida, ocasionando uma “bola de neve” das alterações,
sempre no mesmo sentido original. Tais circuitos podem não ter sinais negativos de
correlação, mas, se acaso apresentá-los, eles devem ser em quantidade par.
Figura 18 – Quatro principais tipos de mecanismos para retroalimentação.

1) Retroalimentação direta. 2) Retroalimentação em circuito. 3)
Retroalimentação negativa. 4) Retroalimentação positiva
Em sistemas geográficos que apresentam mecanismos de retroalimentação, a

saída de energia e matéria pode agir como entrada em outro sistema (interligação)
e, em detrimento desse fato, pode ocorrer intensificação dos processos (retroali-
mentação positiva) ou o oposto (retroalimentação negativa), levando à mudança do
sistema, quando ultrapassar o limiar de determinado elemento e/ou funcionamento

do sistema. No mecanismo de retroalimentação pode ocorrer, ainda, outro processo
associado, denominado de homeostase18 (positiva ou negativa), que é a tendência de
autorregularão do sistema, em busca de novas estabilidades diante de novas condições
imposta aos sistemas geográficos (CHORLEY; KENNEDY, 1971).
Um exemplo ilustrativo da homeostase é o caso de um aumento da precipitação
anual além do limiar dos elementos e das inter-relações em uma bacia hidrográfica,
que poderia responder de duas maneiras: positiva ou negativa.
Na homeostase negativa, o aumento da precipitação pode ocasionar o surgimento
de feições erosivas nas vertentes, por ultrapassar o limiar de erodiblidade do solo
nas encostas. Esse incremento de material nas drenagens (assoreamento) acarreta a
adaptação do sistema à mudança do padrão de canal e capacidade de transporte de
material (volume). Desse modo, ocorre a autorregularão e gerando nova estabilidade
do sistema (bacia hidrográfica) diante das novas condições impostas ao sistema.
Um exemplo de homeostase negativa (Figura 19; 20) ocorreu no decorrer do
tempo, na região Noroeste do Paraná, especificamente na bacia do Baitira, localizado
no município de Umuarama (CRISPIM, 2021). Nessa bacia, desde a ocupação, a
partir de 1950, ocorreram desmatamento, erosão, assoreamento e mudança dos canais
fluviais, de padrão único para múltiplos e, novamente, para único (Figura 19 A-B)
até sua estabilidade, entre as décadas de 1970-1980 (Figura 19 C).
Entre os anos de 2015-2016, entretanto, ocorreu uma nova fase de instabilidade
relacionada às anomalias climáticas (El Niño Godzila), em que precipitações diárias,
concentradas de 200 mm no período de dois dias (09-10/05/2016), desencadearam
o surgimento de feições erosivas generalizadas em sub-bacias de primeira ordem
na bacia do Baitira. Tal evento forneceu material aos rios além da capacidade de
transporte, resultando no alargamento do canal e na mudança do canal único para
multicanal tipo entrelaçado (Figura 19 D). Desse modo, essa nova fase de homeostase
negativa não está relacionada com mudanças de uso do solo, mas à intensificação do
fator precipitação nas relações sistêmicas, decorrente, provavelmente, de mudanças
na dinâmica do sistema climático do planeta (CRISPIM, 2021).
Nesse sentido, a homeostase negativa auxilia na manutenção do mesmo sistema
ou no reajuste para atingir um estado diferente do inicial, em face das mudanças
ambientais, contudo, sem ultrapassar o limiar dos elementos e fluxos estabelecidos
e/ou a mudança na morfologia do sistema (CRISTOFOLETTI, 1979).
18 A homeostase (do grego homeos = semelhante; statis = situação) indica a propriedade do organismo de per-
manecer estável, mesmo quando ocorrem mudanças radicais no meio externo. A homeostase é a estabilidade
dinâmica entre as partes do sistema, em que a tendência é se adaptar para alcançar uma estabilidade interna,
em face das mudanças externas do meio, e, caso isso não ocorra ou seja suficiente, a tendência é a desintegra-
ção do sistema (CHIAVENATO, 2014). O termo foi proposto por Walter Canon, em 1929, no trabalho intitulado
Organization for physiological homeostasis, e inspirado na ideia de meio interno fixo de Claude Bernard.
56
Figura 19 – Modelo de homeostase negativa no tempo (1950-2016), na bacia

hidrográfica do Baitira – Umuarama-PR. A) Geossistema em estabilidade
na inter-relação entre elementos (biota, solos, clima, hidrografia e relevo). B)
Retirada das matas e implantação de cultivos, ocorrendo exposição do solo à ação
pluvial, e ocorrência de processos erosivos, assoreamento e mudanças do padrão
de canais fluviais para anastomosado. C) Fase de autorregularão do sistema
em homeostase negativa, e mudança para canal único, tipo meandrante entre
1950-2014. D) Nova instabilidade momentânea pela modificação do elemento
clima (El Niño) nas inter-relações sistêmicas no Geossistema e uma nova fase
de homeostase negativa para estabilizar as novas condições. E) Morfologia
de canais fluviais: E1 – Provável aspecto original de canais, único sob mata
(reserva das Perobas); E2 – Canal alterado e adaptado à dinâmica de ocupação
(desmatado); E3 – Modificação do canal, de único em múltiplos, relacionado
ao assoreamento, decorrente do evento climático extremo entre 2015-2016
No caso da homeostase positiva, o aumento do volume de água no sistema

pode acarretar aprofundamento do nível de base e desencadear uma retroalimenta-
ção positiva. Nesse caso, vertentes podem responder à mudança com o aumento da
inclinação devido ao aumento da energia potencial (nível de base); e ocorrência ou
intensificação de processos erosivos (energia cinética) pode desenvolver sistemas
espaciais (bacia hidrográficas) e, assim, modificar todas as inter-relações.
Um caso de homeostase positiva é demonstrado por Coelho Netto (2003), abor-
dando a esculturação de cabeceiras de drenagem, via avanço de erosões, conectadas a
canais de drenagem, como resposta ao aprofundamento do nível de base no saprólito, e
que favoreceu a incisão linear (voçoroca) na busca do ajuste do declive do canal erosivo
como um todo: sistema (Figura 20 A-B). Desse modo, na perspectiva de homeostase

positiva, o rebaixamento do nível de base causa uma retroalimentação positiva e desen-
cadeia progressão remontante do canal erosivo (Figura 20 C-D). Tal processo propicia
o aumento do ângulo das encostas e o recuo das cabeceiras de drenagem nos divisores
hidrográficas, que resulta, por sua vez, na captura de drenagem (Figura 20 E), buscando
estabelecer uma nova estabilidade (Figura 20 F). As alterações desencadeiam modifica-
ções no sistema morfológico (limites de bacias hidrográficas) e no sistema em cascata
(energia, fluxo e quantidade de matéria), transformando totalmente a organização dos
elementos e as inter-relações, ou seja, um novo sistema é estabelecido.
Figura 20 – (A) Vista panorâmica do canal erosivo (voçoroca) em regressão

no anfiteatro Bela Vista. 1) divisor recuado e rebaixado. B) Visão frontal
do canal erosivo ajustado pela sedimentação vertical. Localidade: Médio
Vale do rio Paraíba do Sul. C) Ilustração da mudança do nível de base
no anfiteatro Bela Vista. D) Ilustração da dissecação da encosta e erosão
regressiva, decorrente da incisão do canal. E) Ilustração da retroalimentação
positiva na transformação do sistema morfológico e em cascata em
homeostase positiva, no anfiteatro Bela Vista. F) Conceito de tempo de
resposta em sistemas ambientais (homeostase positiva e negativa)
58
Outro caso da homeostase positiva é a desertificação da região de Tatacoa-Co-

lômbia (HERMILIN, 2016), ocorrida devido a exposição do solo à ação pluvial direta
por cultivo agrícola, que ocasionou a erosão, resultando um aspecto visual estéril,
no qual a revegetação espontânea, nas condições atuais, não é favorável, e a morfo-
dinâmica é imperante. Desse modo, a mudança em um componente do sistema (uso
da terra) desencadeou a transformação na organização como um todo, ultrapassando
o limiar das relações sistêmicas anteriores e desencadeando a homeostase positiva,
que, por sua vez, estabeleceu uma nova dinâmica e gerou um sistema com energia
maior (Figura 21).
Figura 21 – Área desertificada em Tatacoa
Geralmente, a homeostase positiva não promove a estabilização do sistema, mas

resulta o aceleramento e ampliação do efeito acumulativo em determinada direção,
que muitas vezes resulta na destruição e estabelecimento de outro sistema distinto
do anterior.
1.5.3 Entropia, neguentropia e equifinalidade
Com a constituição da química como ciência do século XVIII, a abordagem ana-

lítica via balança tornou-se fundamental para estudos sobre transformações química
e física, por definir a matéria pela propriedade de possuir peso, como realizado por
Lavoisier (lei da conservação da massa). Outro fato importante desse período foi a
determinação da produção de calor durante transformações químicas, concebida por
Laplace com o uso do calorímetro (BRANCO, 2014 p. 89). A partir dos princípios
de Lavoisier (lei da conservação de massa) e de Laplace (produção de calor), tem
início a estruturação da termodinâmica19.
A termodinâmica (ou energética) surgiu da necessidade de teorização do fun-
cionamento das máquinas a vapor, exigindo o conhecimento da relação entre calor
e trabalho. Esta teoria é constituída por quatro leis: a lei zero da termodinâmica está
associada ao conceito de temperatura; a primeira relaciona-se ao conceito de energia;
a segunda tem associação com o conceito de entropia; e a terceira está relacionada
ao limite constante da entropia, quando a temperatura Kelvin se aproxima de zero.
Dentre estas, a primeira e a segunda (conservação da energia e entropia) são de
interesse para Geossistemas.
A primeira lei da termodinâmica, que trata da conservação da energia e estabe-
lece que, embora a energia não possa ser criada nem destruída, pode ser transformada
de uma forma para outra (ex: calor→trabalho). Assim, estabelece, simplesmente, que
não se gera nem se destrói energia (UHLMANN, 2000).
A segunda lei da termodinâmica, que complementa a primeira, fornece funda-
mentos da impossibilidade de usar a mesma energia repetidas vezes. Esta lei deter-
mina que, no processo de transformação da energia de um estado para outro, ocorre
dissipação de parte dessa energia, havendo, desse modo, menos energia disponível
para transformações futuras. Tal conceito é denominado de entropia20 (UHLMANN,
2000), que é a medida do grau de ordem e desordem de um sistema, sendo uma
medida de indisponibilidade da energia.
A entropia foi concebida por estudos do engenheiro francês Nicolas Léonard
Sadi Carnot (1796-1832), que, procurando compreender os mecanismos de funcio-
namento das máquinas a vapor, desenvolveu a interpretação de que o trabalho gerado
pelo sistema de vapor era a energia calorífera transformada (primeira lei). Desse
modo, descobriu-se a lei da equivalência entre calor e trabalho mecânico, segundo a
qual o mecanismo de funcionamento é produto do deslocamento de um fluxo calórico
de uma região de alta temperatura para uma de temperatura baixa. Esse processo
ocorre em quatro etapas (Figura 22):
1 – Absorção de calor e transformação térmica;
2 – Transformação adiabática e expansão, sem troca de calor com o meio;
3 – Compressão isotérmica e liberação de quantidade de calor para fonte fria;
4 – Retorno à condição inicial por compressão adiabática.
19 Termodinâmica: ramo da física que se preocupa com o armazenamento, a transformação e dissipação da

energia, incluindo o fluxo de calor, do qual o termo é derivado (KRIPPENDORFF, 1986).
20 Entropia: o termo foi proposto por Rudolf Clausis em 1865, e advém do grego entrope, que significa
mudança, troca.
60
Figura 22 – Diagrama do ciclo de Carnot
Em um sistema fechado de retroalimentação, a cada ciclo de realização das

transformações do calor em trabalho, parte do calor não transformado em trabalho é
dissipado do sistema, tendendo a máxima entropia ou desordem (desorganização) até
a paralisação completa dos fluxos de energia, informação e matéria em um processo
irreversível, como constato por Carnot (ciclo de Carnot). Ou seja, a entropia mínima
apresenta a máxima organização (ordem) no sistema; e a entropia máxima, a mínima
organização (desordem).
Com a concepção de entropia e a formulação da segunda lei, a termodinâmica
introduziu a ideia de processos irreversíveis, de uma “seta do tempo”, na ciência
(CAPRA, 2006). Conforme concebe a segunda lei, alguma energia mecânica é sem-
pre dissipada em forma de calor, o qual não pode ser completamente recuperado.
Desse modo, estima-se que toda máquina do mundo está deixando, aos poucos, de
funcionar, até finalmente parar.
Outro exemplo da concepção de ideia de entropia é dado por Christofoletti
(1979), utilizando a situação de dois corpos da água, um quente (energia livre dispo-
nível) e outro frio no mesmo recipiente. Inicialmente separados, a partir do momento
que entram em contato e as soluções se misturam, o calor vai difundir e ser paulati-
namente distribuída da zona mais quente para a mais fria. Assim, o momento inicial
é de máxima energia livre e entropia mínima (ordenação); no final, pela difusão do
calor, a energia livre é mínima e a entropia máxima (desordem), ou seja, não há
direcionamento da energia e sua distribuição é aleatória.
Desse modo, a entropia trata, portanto, não apenas da energia total disponível,
mas também da sua distribuição, sendo expressa em termos de probabilidade de vários
estados possíveis que o sistema pode apresentar diante das alterações de adição ou
retirada de energia (LEOPOLD; LANGBEIN, 1962). A entropia como um processo
atuante em sistemas geográficos é fundamental para o entendimento da evolução, da
estrutura e da dinâmica dos Geossistemas no espaço e no tempo (passado e presente).
Assim, a organização (ordem) e a desorganização (desordem) são elementos primor-
diais para a compreensão das tipologias do Geossistema (geômeros e geócoros) e
dos estados nos termos de dinâmica de fluxo de energia e matéria.
Para Christofoletti (1978), desde que haja fluxos de energia e matéria, iniciando
o funcionamento do Geossistema, é possível empregar o conceito de entropia, ou
seja, ela está vinculada à energia cinética e potencial do sistema, principalmente.
Desse modo, a distribuição da energia disponível (entropia) dentro do Geossistema,
pode ser considerada uma medida de grau de ordem e desordem que prevalece nas
inter-relações sistêmicas, ou do grau de energia disponível para o trabalho, estando
em relação inversa com ela, isto é: quanto maior a entropia, menor a quantidade de
energia disponível.
Um exemplo da dinâmica e mudança de entropia, no decorrer do tempo, em
relevo é dado por Christofoletti (1979), ao citar as cadeias montanhosas que apre-
sentam grandes amplitudes altimétricas entre o topo das montanhas e o nível do
mar. Nessa situação, as energias potencial e cinética apresentam valores altos, e a
energia livre é máxima, ou seja, a entropia é mínima (ordenação). No decorrer do
tempo, a denudação pode tornar o modelado plano, podendo o nível altimétrico ser
semelhante (nivelado). Diante desse tipo de relevo, a energia livre é mínima e a
entropia é máxima (desordem), ou seja, a energia, na forma de escoamento de água,
não apresenta encadeamento, predominando a aleatoriedade (Figura 23).
Quanto ao assunto, ainda, ressalva-se que o exemplo de entropia máxima e
mínima em relevo, conforme representado na Figura 20, não é obrigatório ou uni-
versal em perspectiva linear, como abordado a respeito do estado estacionário por
Hack (1960), e exposto no tópico 1.3.1: Sistemas aberto, fechado e isolado. Assim,
nesse modo de interpretação da esculturação do modelado, a estabilidade pode ser
atingida sem que, necessariamente, as formas atinjam um peneplano (aplainamento),
independe do tempo (não cíclico).
À vista disso, observa-se que as formas de relevo podem apresentar para atin-
gir o estado estacionário, diversos “caminhos”, dependendo dos processos termo-
-tectônicos, atuantes nas regiões geográficas (orogenias, distensões, subsidências,
isostasias etc.).
62
Figura 23 – A) Exemplos e situações de entropia alta

e baixa. B) Mapa de entropia da paisagem
Ainda a respeito da entropia, Christofoletti (1978) aborda uma questão, cha-

mando a atenção para que, em condições de imutabilidade dos fatores atuantes no
sistema, em determinado intervalo de tempo, o estado estacionário de máxima entro-
pia pode ser alcançado. Nessa referida situação, o estado de constante estabilidade
é atingido (tópico 1.3.1: Sistemas aberto, fechado e isolado) e ocorre ajuste das
formas, diante das dinâmicas de entrada-saída e fluxo de energia-matéria-informação
estabelecida no sistema, que se mantém (formas) enquanto não ocorrerem alterações.
Este cenário de estado estacionário, idealizado por Christofoletti (1978), pode
ser materializado no sul do deserto de Negev-Israel (<50mm/ano), local onde Mat-
mon et al. (2009), via geocronologia cosmogênica (10Be), demonstraram que, nas
superfícies aluviais capeadas por pavimentos clásticos de sílex e carbonatos (Figura

24) (102-104 km2), não ocorre erosão entre 1.5-1.8 Ma, ou seja, as formas de relevo
abordadas estão entre as mais imutáveis no tempo, sob a atual superfície terrestre.
Os fatores para essa preservação são: extrema aridez (clima hiperárido), estabilidade
tectônica, ausência de processo pedogenéticos ativo e vegetação (ciclagem nula),
formas horizontalizadas de amplitude altimétrica baixa (mínima), processos eólicos
tênues no Quaternário, e eficácia de proteção à superfície, proporcionada pelo capea-
mento por pavimentos majoritário de sílex.
No exemplo das superfícies aluviais do deserto de Negev, o estado estacionário é
atingido pela atenuação da erosão pluvial e eólica a quase nulo. Desse modo, pode-se
atrelar que o sistema está em estado estacionário quanto às formas de relevo que se
ajustaram ao fluxo de energia e matéria. E enquanto essa dinâmica de quase 2 Ma
perdurar, o modelado vai manter-se imutável, com entropia máxima.
Figura 24 – Típico aspecto morfológico de deserto pavimentado

(85% de cobertura) do sul de Negev. O Deserto apresenta
menos de 1° de inclinação a direção NNW
Fonte: Matmon et al., 2009.
Assim, aumentando ou diminuindo a informação dentro do sistema na forma de

energia e matéria, é possível influenciar o seu funcionamento e, consequentemente,
sua estrutura, como perspectiva do sistema controlado de Chorley e Kennedy (1971).
64
Pelo aumento da energia, pode-se obter a ordem (organização) a partir da desor-

dem, em um processo denominado de neguentropia ou inverso da entropia, o qual é
fundamento da teoria dos sistemas: ordem gerando novas propriedades para o todo
(BRANCO, 2014), análogo ao exemplo da sinfonia em orquestra, citado no tópico 1.2.
A neguentropia pode ser exemplificada pelo aumento de incidência da radiação
solar devido à proximidade da órbita da terra com o sol (ciclo de Milankovic), fato
que pode resultar na umidificação do clima (interglaciais) com aumento das precipita-
ções. Em áreas de regimes climáticos contrastados, a umidificação pode desencadear
aumento ou intensificar a precipitação. Associado a isso, aumenta a erosividade, em
que, com elevação da energia potencial expressa na forma de dissecação, a entropia
diminui, e a energia cinética aumenta na velocidade de escoamento (desconsidera-se,
no caso, a ocorrência no aumento da densidade da cobertura vegetal).
Em zonas orogênicas também pode ocorrer a neguentropia, em que o soer-
guimento de terrenos nivelados ao nível do mar pode transformar estes em cadeias
montanhosas, aumentando a energia potencial e cinética no sistema e, consequen-
temente, diminuindo a entropia (aumento da ordenação). Desse modo, diferente
dos sistemas fechados, em sistemas abertos, como os Geossistemas, a tendência
para entropia máxima (desordem ou aleatoriedade) não é um caminho irreversível,
podendo, então, ter aumento dos níveis de energia e matéria dependendo dos fatores
alterados nos sistemas (níveis de base, vegetação, impermeabilização, controle de
fluxos por infraestrutura etc.) ou incrementado (radiação solar – órbita terrestre,
processos tectônicos – orogêneses, divergências etc.).
Outro processo que pode ocorrer, não exclusivo, mas associativo à entropia, é o
princípio da equifinalidade, que é o alcance do mesmo estado final a partir de condi-
ções iniciais distintas e por várias vias, característico dos sistemas abertos. O contrário
ocorre no sistema fechado, em que o estado final é, inequivocamente, determinado
pelas condições iniciais (BERTALANFFY, 1975), como em equilíbrio químico, onde
as concentrações finais dos reagentes dependem das concentrações iniciais.
Na equifinalidade, os estados finais podem ser alcançados em tempos dife-
rentes (BERTALANFFY, 1975). Assim, quando os estágios dos terrenos atingem a
mesma entropia, semelhantes fluxos de energia e matéria, nos Geossistemas podem
ser gerados, mesmo que as condições iniciais sejam diferentes, como rególitos seme-
lhantes formados por diferentes rochas. Tal situação pode ser observada no conti-
nente africano, onde exposição de diferentes classes de rochas (ígnea, sedimentar
e metamórfica) ao intemperismo tipo laterítico, por prolongado tempo, resultou na
homogeneização química-mineral de rególitos (ROQUIN et al., 1990), gerando,
assim, uma equifinalidade.
Os estudos exemplificados por Roquin et al. (1990) indicam que, inicialmente,
a diversidade é ampla entre as acumulações relativas, litodependente; e a homogenei-
zação química-mineral, no decorrer do tempo, torna menor a variedade dos rególitos.
Tal fato também é constatado em estágios iniciais de desenvolvimento de Geossis-
temas, segundo diversos autores (RAAB et al., 2012; BIBER et al., 2013), onde o
padrão de complexidade das inter-relações entre topografia, vegetação, substrato e
solos aumentam nas primeiras etapas de evolução da paisagem, tendendo a diminuir

e homogeneizar com o decorrer do tempo até, por fim, alcançar o estado estacionário
Maurer e Gerke (2016).
Outra situação de equifinalidade, semelhante à observada no caso africano
(ROQUIN et al., 1990) e encontrada em território brasileiro, são os Geossistemas
Ferruginosos (CARMO; CAMINO, 2015), em que a rocha (Formações Bandada Fer-
rífera) junto ao intemperismo gerou concentração ferruginosa coesa, regionalmente
denominadas de cangas. Sob essas cangas, a flora interagiu com os elementos desse
sistema, estabelecendo a fitofisionomia dos campos rupestres ferruginosos (sentido
morfológico) presentes em seis locais: Quadrilátero Ferrífero (Minas Gerais), Bacia
do Rio Santo Antônio (Minas Gerais), Vale do Rio Peixe Bravo (Minas Gerais), Serra
de Carajás (Pará), Morraria de Urucum (Mato Grosso do Sul), e Caetité (Bahia), locais
onde o teor em ferro varia entre 46,3% a 64,8%. Desse modo, a equifinalidade em
rególitos ocasionou, além do estágio final da concentração ferruginosa atual, uma
flora específica a essas condições restritivas (baixa fertilidade, alta coesão, deficit
hídrico etc.).
Em termos da abordagem da complexidade de solos, Philips (2017) registra
a equifinalidade a partir das pedogêneses convergentes ou divergentes. Nessa pers-
pectiva, a atuação, por longos períodos, de fatores (precipitação, radiação solar,
vegetação) sob a rocha pode gerar resultados semelhantes (ferralsol, concentrações
minerais supérgenas relativa), nos quais o ponto de partida pode ser distinto, mas
homogeneizado por energias de atuação semelhante, em que a entropia pode equi-
parar províncias geomorfológicas. A isso, denomina-se pedogênese convergente,
exemplificada pelos ferralsols, ocorrentes em diversas partes do território brasileiro,
apresentando associações com eventos geomorfológicos (superfície sul-americana)
e idade provavelmente do Terciário (KER, 1997).
Quando ocorrem distúrbios tectônico, climático, geomorfológico (ex: nível
de base), biológico, e antrópico, a neguentropia pode atuar e há aumento da energia
disponível no sistema, podendo, como consequência, gerar diversidade de produ-
tos pedológicos. Essa situação é denominada de pedogênese divergente (PHILIPS,
2017). A divergência em rególito na escala de milhões de anos é evidenciada por
Vasconcelos e Carmo (2018), indicando que províncias geomorfológicas do pla-
nalto Atlântico apresentam diferentes idades, espessura e tipo de desenvolvimento
geoquímico, resultado de perturbações termo-tectônicas e climática do Mesozóico
ao Cenozóico. Essas perturbações, de acordo com províncias de maior ou menor
perturbações, desencadearam erosões ou preservações, originando distintas idades
de perfis de intemperismo.
Minasny et al. (2010), a partir da entropia de Shannon (Figura 25), aplicada a
variáveis ambientais (temperatura, precipitação, radiação solar, evapotranspiração,
litologia, elevações da superfície terrestre), analisaram a pedodiversidade do planeta
Terra, na escala 1:25.000.000. Os resultados da análise demonstraram relações entre
clima (temperatura e precipitação) e grupos de solos, nos quais ocorre aumento da
pedodiversidade crescente de: zonas polares-tundra, desertos, áreas tropicais sazonais
66
e tropicais. Esses resultados demonstram, em temos de pedogêneses convergentes e

divergentes, uma perspectiva planetária (PHILLIPS, 2010), lembrando que a pedo-
diversidade depende da escala de mapeamento de solos (MINASNY et al., 2010).
Figura 25 – Mapa de entropia de Shannon de continentes, raio de janela de 1.5°
Fonte: Minasny et al., 2010.
Assim, a partir dos conceitos de entropia, neguentropia e equifinalidade, foi

possível expor a perspectiva de que o sistema espacial pode apresentar a probabilística
de vias de evolução do Geossistema (entropia), não determinística, o contrário do
que ocorre no sistema fechado. Aponta, ainda, que o processo de entropia também
não é unidirecional no Geossistema, pois pode ser interrompido pela neguentropia
na forma de variados processos (geodinâmica, biota, antrópico, eventos cósmicos),
que podem alterar o fluxo de energia (adicionar, subtrair, estagnar). Associado a esses
processos de distribuição da energia na estrutura interna dos Geossistemas pode
ocorrer a equifinalidade, dependendo do modo como a energia está sendo distribuída,
e todos os processos atuantes no tempo.
Desse modo, a compreensão da entropia, da neguentropia e da equifinalidade nos
Geossistemas (maior ou menor energia disponível) é essencial para a preservação das
estruturas de funcionamento dos sistemas espaciais, e para prognóstico em caso de
eventuais alterações humanas ou naturais, visando melhor uso desses sistemas pelo
homem na perspectiva do desenvolvimento sustentável (Comissão Mundial sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1987), essenciais ao debate dos geógrafos da
relação sociedade↔natureza e recursos naturais. Portanto, a interpretação sistêmica
das inter-relações ocorrentes nos diversos sistemas ambientais/antrópicos do pla-
neta Terra é ideal para lidar com a demanda da sociedade, os limiares dos sistemas
geográficos, principalmente via método de análise da geossistêmica, estabelecido
por Sochava ao longo das décadas de 1950-1970 (SNYTKO, 2020) e culminando
na obra “Introdução à teoria dos Geossistemas”, publicada em 1978, por Sochava.
1.5.4 Estabilidade e mudanças de sistemas espaciais
A estabilidade em alguma categoria dimensional do sistema espacial (fácies

físico-geográficas, classes de fácies, grupos de geomas etc.) pode ser representada
pelo estado em que perturbações ocorrentes não modificam a organização espacial
(dinâmica e estrutura), como se existisse um ponto indelével, que pode ser represen-
tado na forma de depressão (Figura 26). Neste caso:
– Se uma bola for forçada para a parte alta de uma depressão (perturbação) e,
depois, liberada, ela retornará à sua posição original (Figura 26). Tal representação
equivale ao estado estacionário, no qual os distúrbios são absorvidos (amortecidos)
e, após a oscilação, retorna-se ao estado anterior. Essas condições são característi-
cas de diversos Geossistemas da superfície terrestre que tendem a manter a média
de valores (HUGGET, 1985), como apresentado no tópico 1.3.1: Sistemas aberto,
fechado e isolado.
Figura 26 – Tipos de estabilidade em sistema
Em Geossistema, quando se alcança a estabilidade máxima (estado estacionário)

também é possível atingir a entropia máxima, como abordado no tópico 1.3.1. Por-
tanto, quando flutuações de entrada e energia nos Geossistemas mantêm-se constantes
perante oscilações, permite-se que não ocorram modificações do estado, e ocorre o
ajuste de todos os componentes no que se refere à entrada e saída de energia-matéria
(totalidade). Esse estado, porém, não é imutável, mas representa o comportamento
em torno de determinada amplitude de variação (CHRISTOFOLETTI, 1979).
A estabilidade em sistemas é estipulada pelos limiares das organizações (limite
de transformação de uma configuração ou estado à outra, Chorley e Kennedy, 1971),
entre os quais existem os transitivos e intransitvos (CHAPPELL, 1983). O limiar
transitivo pode ser dado pela transformação do estado sólido em líquido, como o
gelo, em que o limiar é a temperatura do meio maior ou igual que zero graus celsius
para sólido, e acima de zero para líquido. No limite intransitivo, dois estados dife-
rentes (sólido e líquido) podem ocorrer, como a situação de uma fonte de luz que,
dependendo do arranjo, propiciará à água ser líquida ou sólida (albedo alto), isto é,
podem existir em qualquer um dos dois estados sob mesmas condições, porém com
interações distintas. Portanto, a mudança de estado necessita de mudança temporária
da fonte de energia (CHAPPELL, 1983).
68
Em Geossistema, a extrapolação de um limiar é, normalmente, irreversível,

ocorrendo pequenas modificações em uma variável elementar da organização que
podem desencadear ajustes no todo (sistemas dinâmicos não lineares). Essa situação
é exemplificada por Coelho Netto (2003), ao expor que a incisão do nível de base
desencadeou avanço de voçorocas e capturas de drenagens, modificando os sistemas
morfológicos e em cascata, estabelecendo um novo sistema processo-resposta distinto
do anterior (Figura 20).
Distúrbios dos limiares podem desencadear a instabilidade do sistema, contudo
não são capazes de modificá-lo por completo. Como, por exemplo, determinado pelo
limite crítico topográfico da expansão das voçorocas, no município de Piratininga
(SP), esses distúrbios podem progredir até determinadas áreas e, após esse limite,
as cabeceiras da erosão estabilizam (STABILE, 2013). Já, em outras situações, o
limiar é extrapolado quando eventos de alta magnitude ocorrem, como constatado
por Crispim (2021) na bacia hidrográfica Ouro Verde (Umuarama-PR), em que o El
Niño Godzilla, entre 2015-2016, desencadeou o surgimento de feições erosivas que
extrapolaram o limite da referida bacia hidrográfica (Figura 27).
Figura 27 – Limiar extrapolado e desencadeamento de feições

erosivas que ultrapassam o limite da bacia hidrográfica Ouro Verde.
A) Imagem de satélite do banco de dados do software Google Earth,
com delimitação da bacia e sub-bacia hidrográfica, presença da feição
erosiva. B) Fotos in loco das feições erosivas na bacia Ouro Verde
Outro exemplo de limiar é dado por Chorley e Kennedy (1971), os quais cons-
tataram que os deslizamentos nas montanhas San Gabriel, no Sul da Califórnia,
estão restritos a ângulos de 28° ou maior, enquanto, em London Clays, ângulos de

10° ou maiores já são suficientes para ocorrência de deslizamentos. Dessa maneira,
demonstra-se que o mesmo processo apresenta diferentes limiares (dependente de tipo
de rocha, estrutura geológica, clima, condições topográficas locais-regionais etc.).
A tendência de ajuste interno frente às perturbações direciona a neutralização dos
efeitos das mudanças externas, num processo Chorley e Kennedy (1971) denominado
de tempo de reajuste ou readaptação (relaxation time), que é o período necessário
para o Geossistema se reorganizar, ajustando-se a uma nova estabilidade, diante
das mudanças da entrada ou da estrutura interna do próprio sistema. Nesse sentido,
Christofoletti (1979) atribui à escala temporal o melhor parâmetro para analisar graus
de estabilidade ou instabilidade a que o sistema espacial está sujeito.
Para Chorley e Kennedy (1971), o tempo de ajustes do Geossistema como um
todo depende de quatro fatores:
1° A resistência dos componentes individuais do Geossistema a mudanças,
envolvendo o tempo de reação às mudanças e de ajustes. Em geomorfologia, esse
fator é melhor exemplificado por erosões diferenciais na paisagem, como os insel-
bergs de Itatim, no nordeste brasileiro (Lima, 2009) e em diversas regiões do planeta
Terra (MIGNÓN, 2006). Tais indícios de resistência à denudação são demonstrados
pela alta acumulação de isótopos cosmogênicos (26Al, 10Be, 36Cl) em diversas zonas
climáticas do mundo (BIERMAN; TURNER, 1995; COCKBURN et al., 1999; BIER-
MAN; CAFFEE, 2001; WAKASA et al., 2006; GUNNELL et al., 2007; MATMON
et al., 2013). Os fatores que podem ocasionar a erosão diferencial de inselbergs, em
relação ao seu entorno, estão relacionados à composição química, mineral/textual e
às estruturas geológicas, como a presença de falhas e fraturas (PYE, 1986; EHLE,
1992; ROMMER, 2005).
Os modelos reológicos citados por Chorley e Kennedy (1971) também são muito
úteis às analogias para reajustes em Geossistemas, como exemplo do comportamento
de diferentes estados da matéria submetida à deformação: ao passar de um estado
de estabilidade → instabilidade (deformação) → estabilidade para novas condições
(tensão aplicada), expressando a ocorrência do processo de reajuste do sistema.
Materiais que apresentam diferentes comportamentos (plástico, elástico, sólido)
também vão apresentar distintos padrões de ajuste à mesma tensão aplicada, como
se fossem os diferentes elementos que compõem o sistema geográfico e as pressões
exercidas sobre esses (antrópico e ambiental).
2° Complexidade do sistema, envolve o número de componentes (frequência e
natureza das ligações), sendo que, quanto maior a complexidade das relações em siste-
mas dinâmicos não lineares, estes podem também apresentar “maior” suscetibilidade
em seus limiares, onde mudanças podem desencadear transformações completas na
organização do todo. Exemplo de alterações no sistema são as mudanças no regime de
retenção de matéria à jusante de usinas hidrelétricas, que, por sua vez, podem mudar
a turbidez da água ao torná-la mais límpida, e desbalancear as relações ecológicas
entre predadores aquáticos e presas. Como ocorrente no alto rio Paraná, o predador
visual não nativo Cichla kelberi Kullander e Ferreira, 2006, apresenta aumento de
população correlacionado com diminuição da turbidez da água no reservatório de
70
Itaipu, resultado de retenção de material à montante na barragem Porto Primavera

(ABUJANRA, 2007).
3° Magnitude e direção de entrada, em que a mudança positiva na entrada pode
reforçar ou transformar um tipo de Geossistema em outro, como no caso de entrada
positiva, apresentada no estudo de Hermelin (2016), em que a exposição do solo à
ação pluvial transformou o sistema pela desertificação (homeostase positiva), ou
quando a entrada é negativa, nula ou elementos são retirados dos sistemas podendo,
com isso, neutralizar a tendência de transformação de um Geossistema, uma refe-
rência, por exemplo, ao deserto de Negev (MATMON, 2009).
4° Flutuações momentâneas de alta intensidade tendem a ser filtradas pelo Geos-
sistema com tempos de reajustes breves, e que produzem tendências internas mais
simples, como exposto por Crispim (2021), ao apontar que eventos de precipitações
intensas esculturaram feições erosivas extensas, mas que, posterior a 2017, não houve
aumento de erosão das cabeceiras, indicando que a alta intensidade foi momentânea e
não modificou o sistema como um todo (homeostase negativa). Atualmente, perante
o incremento de material proveniente das erosões em canais fluviais e a estabilização
das feições erosivas, via revegetação espontânea e ausência de processos morfodinâ-
micos que as expandam, verifica-se que está ocorrendo o reajuste do todo.
O reajuste em Geossistema é interpretado por Chorley e Kennedy (1971) como
o estado da organização ou a “distância” da estabilidade (ideal: estado estacionário),
em que a sensibilidade ao período necessário de resposta vai depender do tempo
de atuação do processo (momentâneo, longa duração). Para que a estabilidade seja
atingida ou mude, antes passa por esse estágio e, assim, novos processos de ajustes
serão necessários, nesse caso variadas respostas são possíveis (probabilidades).
Entende-se, portanto, que fenômenos naturais consistem em um complexo sistema
de inter-relações, com diferentes condições de limiares, tempo de ajustes e trajetórias,
ao longo do tempo. E mais, quando formam supersistemas, apresentam um complexo
hierárquico de sistemas e elementos, ajustado de forma diferente quanto à energia exis-
tente (tamanho). Desse modo, a paisagem pode ser interpretada como um palimpsesto
do sistema, cuja operação é interligada, mas a história, porém, é sobreposta, ou seja,
o tempo de ajuste do Geossistema, em mesma localidade, pode ser breve, como em
barras fluviais, dunas (dinâmica); em outros, demanda temporalidade mais longa, como
esculturação do modelado em terrenos graníticos (CHORLEY; KENNEDY, 1971). Res-
salva-se, ainda, que, mesmo que um Geossistema local (fácies físico-geográficas, classe
de fácies) apresente proximidade à estabilidade, isso pode não ser válido para outros
subsistemas ou para escalas regionais ou continentais (Geoma, Grupo de Geomas).
A partir do entendimento dos conceitos de reajustes em diferentes tempos e formas
de resposta (relaxation time e relaxation path), dependente da escala de análise (ordem
dimensional ou hierarquia), do tamanho e das características delineadoras das estruturas
dos sistemas apresentados (causalidade, fechamento e ambiente do sistema etc.), será
possível abordar as questões de instabilidade e mudanças na organização espacial. Assim,
a compreensão da organização hierárquica da estrutura em sistemas (Figura 4) constitui
uma arquitetura constante no tempo, que pode ser representada pela mudança em espi-
ral, de causa e efeito, demonstrando que o Geossistema e demais sistemas são causas
probabilísticas e não determinísticas (sistemas dinâmicos não lineares). Nesse sentido,

ocorrem evoluções integrativas em organização de nível, com estrutura ou morfologia
característica em níveis superiores, de comportamento estável à integração da organi-
zação dentro da hierarquia dos sistemas (CHORLEY; KENNEDY, 1971).
A mudança na estrutura do Geossistema pode ocorrer quando distúrbios ultrapas-
sam os limiares de um ou mais componentes da estrutura estabelecida (inter-relações),
com capacidade de transformar em definitivo o sistema (reestruturar). As transfor-
mações podem ser reversíveis (limiar intransitivo), quando a nova estabilidade será
semelhante ao estado precedente; ou irreversível (limiar transitivo), quando a estabili-
dade atingida é um estado distinto do anterior (CHRISTOFOLETTI, 1978). Exemplos
de transformações reversíveis são as perturbações climáticas momentâneas (El Niño
e La Niña), nas condições normais dos padrões climáticos (CHAPPELL, 1983).
A irreversibilidade encontra exemplo no desenvolvimento sequencial do relevo
no ciclo geográfico de Davis (1899), em que o soerguimento abrupto do terreno
fornece aumento da energia potencial ao sistema e baixa entropia. Pela síncrona
diminuição da energia, de acordo com o rebaixamento vertical do modelado até a
fase de peneplanação, no qual a energia é mínima livre, a aleatoriedade é predomi-
nante e a entropia é alta. Nesse modelo explicativo de transformações das formas de
relevo, a evolução progressiva é irreversível, cujas condições iniciais determinam o
resultado final em que a entropia é máxima, análogo ao sistema isolado (CHROLEY;
KENNEDY, 1971). Outro exemplo de irreversibilidade são as erosões, que, nas novas
condições, podem modificar a paisagem (fisionomia) e instaurar distintas dinâmicas
à anterior, como em casos da desertificação (HERMELIN, 2016).
No Geossistema, modificações irreversíveis (evolução) podem desencadear
reajustes da ordem temporal de alguns anos até a de milhões de anos, uma faixa
temporal que se dá pelas diferenças escalares dos sistemas e pelo tempo de readap-
tação que demandam. Numa sequência qualitativa, dos elementos de reajuste mais
rápido aos mais lentos, têm-se os zoogeográfico → vegetação → solos → formas de
relevo. Nesse sentido, porém, na medida que componentes de ajustagem mais lenta
atinjam a estabilidade ideal para a situação imposta (estado estacionário) e formando
uma dinâmica balanceada da totalidade, os componentes de rápido reajuste podem
continuar o processo (CHRISTOFOLETTI, 1978).
A partir do exposto até o momento, constata-se que a análise sistêmica em geo-
grafia é muito bem expressa pelo Geossistema, apresentando diversas propriedades
que a dinamizam (tamanho, estado do sistema entre outros), e demonstrando a inten-
sidade dos distúrbios (transitivo e intransitivo) imposta à organização espacial e os
seus modos de respostas (reajustes). Essas dinâmicas resultam em uma estrutura que
não apresenta linearidade, mas estados prováveis, de acordo com a restauração dos
Geossistemas, que podem gerar uma nova estabilidade ou a extinção e formação de
novo Geossistema, de estrutura e dinâmica sem relação com o anterior: colmatação
de lago e posterior formação de pântanos; ou abandono de planícies de inundação
fluvial (incisão) e formação de terraços aluviais ao longo do tempo.
Entre os fatores da formação dinâmica dos Geossistemas e suas transformações
temporais estão:
72
1 – Fatores climáticos: mudança da dinâmica ambiental do Pleistoceno Superior

(>10.000 anos AP), caracterizado por ser mais seco e, provavelmente, frio (STEVAUX,
2000; GUERREIRO, 2011) no Noroeste do Paraná; e mais quente e úmido no Holoceno
(<10.000 anos AP). Tal mudança ambiental desencadeou o avanço da Floresta Estacio-
nal Semidecidual (FES) sob a Ombrófila Mista, em que remanescentes do Pleistoceno
são expressos na presença da Araucária angustifólia, hoje em fase de supressão pela FES
(MAACK, 1950; VIANI et al., 2011; CARMO; ASSIS, 2012). O mesmo fato ocorre
entre o Cerrado e a FES em Campo Mourão (LUZ, 2019), refutando a hipótese de o
cerrado ser uma formação vegetal invasora recente, posterior à FES (FERRI, 1958).
Outra mudança gerada nos Geossistemas da área em estudo foi a estabilização
de processos erosivos, inibidos pela presença da densa mata (FES), que ofereceu
proteção ao solo contra processos erosivos pluviais, ocorridos ao longo do Holoceno
(GOLOVATI, 2015), conforme demonstrado por estudos de pré-colonização e pós-
-colonização a partir de 1950, no Noroeste do Paraná (MURATORI, 1984).
2 – Fatores geológicos e geomorfológicos: a sobrelevação da Serra do Mar,
provavelmente no Paleoceno (ALMEIDA E CARNEIRO, 1998), propiciou, ao longo
do Cenozoico, a formação de Geossistemas de campos de altitude (fisionomia),
que são compostos por milhares de espécies vegetais, principalmente das famílias:
Poaceae, Astaraceae e Cyperaceae (MARTINELLI, 1989). Campos de altitude são
aptos a ambientes mais secos e frios, o que propiciou sua expansão sob os planaltos
do sul do Brasil, no decorrer de glaciações quaternárias (BEHLING, 1997b). Atual-
mente, campos de alitude estão restritos aos topos das serras (acima de 1200 metros),
como relicto de um ambiente contrastante com o atual, qual seja o da serra (Serra da
Mantiqueira e Serra do Mar), permitindo a sua permanência (ambiente mais frio).
3 – Fatores antrópicos: transformações das inter-relações de Geossistemas, deri-
vantes da atividade antrópica em extensas áreas, são registradas desde a implementação
da agricultura, no Neolítico ou período da pedra polida (±X milênio a.C). Entre os pro-
cessos resultantes desse tipo de atividade está a erosão do solo, como: sobrepastoreio e
aumento do escoamento superficial, uso inadequado e degradações ambientais intensas,
como a desertificação (DOWNS; PIÉGAY, 2019; GOUDIE, 2013). Modificações antró-
picas também afetam, diretamente, as formas das encostas por mudanças da dinâmica dos
fluxos de energia e matéria das encostas, “artificialização”, como construção de terraços
para cultivo de arroz (sistema controlado) em 8000 anos AP, e que cobrem milhões de
quilômetros quadrados, principalmente no leste da Ásia (SCHEFFERS, 2015).
Contudo, é possível atrelar a ocorrência intensificada da ação antrópica sob a
superfície terrestre (escala planetária) à revolução industrial do século XVIII até o
presente (século XXI), quando os maquinários e a automatização intensificaram a
velocidade da modificação de grandes áreas de processamento. Tais modificações
trouxeram consequências, como: impacto nas esculturações de feições de relevo
agradacionais (deposição), exemplificado com o caso da formação de uma colina de
65m de altura, composta por escorralho, na Índia. Em atividades minerárias a céu
aberto, criam-se também formas degradacionais (rebaixado), como escavações de
500m de profundidade e de quilômetros de comprimento, como as encontradas na
África do Sul, no Chile, e na Austrália (SCHEFFERS, 2015).
A erosão em extensas áreas associada à agricultura moderna (mecanizada) traz,

como consequência, modificação dos processos fluviais na descarga de fluxo, nas
cargas de sedimentos e na conectividade do sistema fluvial. O aumento na carga
sedimentar relacionado à erosão pode gerar: depósitos sedimentares antropogênicos;
formas antropogênicas de relevo, como deltas e planícies de inundação; e mudanças
no padrão de canal (BROWN, 2016).
Em regiões onde o impacto da erosão antrópica é extensivamente analisado,
como o noroeste da Europa, o Mediterrâneo e a América do Norte, indícios estratigrá-
ficos em planícies fluvais e lagos apresentam-se diácronos, e o volume de deposição
depende da história regional de desmatamento e do tipo de cultivo agrícola (Brown,
2016). Nessa perspectiva, Lewin (2013) e Brown (2013) constataram a ocorrência,
em planícies de inundação no Sudoeste da Grã-Bretanha, do aumento da sedimen-
tação decorrente da atividade antrópica ao longo dos últimos quatro mil anos, com
intensificação nos 400 anos antecententes do presente.
Efeitos da interferência de atividades antrópicas em escalas planetárias nos Geos-
sistemas, como emissões de gases de efeito estufa (CO2, CH4), são responsáveis pelo
aumento das médias térmicas globais, assim como pela mudança de temperatura nos
oceanos e na sazonalidade/intensidade de eventos extremos, com prováveis mudanças
climáticas do planeta, ultrapassando o limiar transitivo para esse componente do sis-
tema terrestre, o que altera a qualidade de vida do homem, da fauna e da flora (MAL
et al., 2018). Consequências de mudanças da temperatura média do planeta são, por
exemplo: a perda de 85% dos recifes de corais, restando 10% da ocorrência original
de corais da região indo-pacífica; a extinção em massa dos mamíferos marinhos; e a
perda de mais de 60% da vida selvagem (GALE, 2012; ZALASIEWICZ et al., 2019).
Com alguns desses exemplos citados, demonstra-se que a influência antrópica
na dinâmica ambiental tem deixado registros nos Geossistemas ao utilizar os recursos
naturais e se aprimorar, tecnicamente, no modo de produção de bens de consumo.
Essas “marcas” antrópicas podem ser utilizadas para estudos da instabilidade causada
pela alteração de parte dos sistemas ambientais terrestres prévios, como:
– remoção da vegetação responsável pelo equilíbrio dos processos geomorfo-
lógicos sobre determinada condição climática;
– alteração das formas de relevo pela mineração;
– emissão de efluentes (CO2, CH4) e aerossóis (clorofluorcarbono) que altera a
incidência solar e a circulação atmosférica, a qual, por sua vez, geram zonas de calor
e mudanças no padrão de precipitação no mundo. Isso se expressa em tendências cres-
centes e decrescentes de precipitação, já identificadas em diferentes partes do mundo,
como no Canadá, na Carolina do Norte, China, Espanha, Itália, Rússia e na Tailândia.
Desse modo, impactos antrópicos são cumulativos nos sistemas ambientais e
ambientais-antropizados (Geossistemas) e têm resultado em alterações nas taxas e na
intensidade dos processos do sistema terrestre (GALE, 2012; BROWN et al., 2013;
BROWN, 2016; GOUDIE, 2018), além de alterações e criação de sistemas espaciais
novos, totalmente antropizados, como os diques e aterros holandeses (Geossistema
de cocriação), que geram dinâmicas de transformação e fluxo de energia totalmente
distintos do anterior (SOCHAVA, 1975; GALE, 2012; ZALASIEWICZ et al., 2019).
74
Portanto, na atualidade, o desafio dos estudos geográficos que utilizam a abor-

dagem geossistêmica de Sochava (1978) consiste em que, além da caracterização da
dinâmica natural dos sistemas geográficos quando possível, também, e principalmente,
devem envolver o estudo das rápidas mudanças temporais das dinâmicas e/ou neo-
gêneses de Geossistemas influenciadas pela atividade antrópica. Ou seja, identificar,
compreender os limiares e a estabilização das novas organizações espaciais e o melhor
manejo (sistema controlado), é esse o desafio do geógrafo no século XXI (alta demanda
por recursos naturais e rápido crescimento populacional → projeção de 9.5 bilhões de
pessoas em 2050), tendo que lidar com a antropização direta e indireta das inter-relações.
Assim, é preciso, a partir do conhecimento sobre as diversas variáveis que com-
põem o Geossistema (temporalidade, escala, natureza do substrato, seja rocha ou solo
orgânico-inorgânico, clima, biota, estrutura geológica etc.), atuar conjuntamente no
espaço-tempo, que formam desde sistemas elementares a supersistemas, todos inter-re-
lacionados funcionando como um todo. O entendimento dessas complexas dinâmicas
geossistêmicas é primordial para identificar os limiares de determinados processos
“naturais” ou induzidos, assim como o tempo de reajuste e, desse modo, determinar
o melhor modo de intervenção visando os objetivos dos territórios, como: determinar
áreas prioritárias à conservação de recursos naturais e da biota (projeto produtor de
água, planos de proteção das reservas naturais etc.); resolver problemas prévios, que
possam ser causados pela ocupação humana sem a compreensão antecipada da estrutura
dos geossistemas, ou já consolidados, como o caso da inundação estrutural em Curi-
tiba (BUFFON, 2020); e, por fim, coordenar planos de ação no intuito de conduzir à
estabilidade da organização espacial, sejam eles antropizados ou não, constituindo este
um dos principais objetivos em sistemas controlados (CHORLEY; KENNEDY, 1971).
1.6 Síntese do capítulo de tipologia e conceito de sistemas

em Geografia
A partir dos exemplos de situações reais e ilustrativas dos conceitos e processos
presentes nos sistemas e Geossistemas (entrada, saída, entropia, estabilidade entre
outros), permite-se elaborar uma situação fictícia de transformações sistêmicas, pos-
sibilitando apresentar probabilidades de vias de evolução do Geossistema (entropia)
não determinísticas, diferente do sistema fechado, onde entropia pode ser interrom-
pida por diversos processos (geodinâmica, biota, antrópico, cósmico), que, por sua
vez, podem alterar o fluxo de energia (adicionar, subtrair, estagnar). Associada a
esse processo de distribuição da energia na estrutura interna dos Geossistemas pode
ocorrer a equifinalidade, dependendo do modo como a energia está sendo distribuída.
Assim sendo, todos os processos associados (entrada, saída, informação, entropia,
equifinalidade) constroem a dinâmica e a fisionomia da paisagem, no espaço-tempo.
Por último, para finalizar esta parte de apresentação dos sistemas em geografia,
essencial à compreensão do Geossistema (objetivo desta obra), expõe-se, a seguir,
uma situação fictícia de evolução da paisagem, envolvendo os conceitos da Teoria
Geral dos Sistemas, no intuito de exemplificar como seria a estruturação de um
Geossistema no espaço-tempo, em três situações distintas.
Na figura 28, apresentam-se, a partir de uma base comum, em três colunas,

distintas mudanças de processos no transcorrer da evolução dos geossistemas.
Figura 28 – Diferentes vias de evolução de Geossistema a partir de uma base

comum. A-C) Blocos nivelados e compostos por arenito, basalto e granito. A1)
Início do intemperismo, colonização por liquens e fungos e esculturação da
bacia hidrográfica (sistema morfológico). A2) Espessamento e homogeneização
do solo com colonização por árvores (clímax). A3) Aplainamento e desordem da
energia e matéria (entropia máxima). B1) Falhamento transcorrente e normal,
que desencadeiam denudações, erosão de solos, vegetação adequada à situação
(líquen e gramíneas) e controle da drenagem. B2-B3) Desenvolvimento do sistema
assimétrico sem atingir o estado estacionário. C1) Início do intemperismo,
colonização vegetal por liquens e fungos. C2) interrupção da entrada de
matéria e manutenção da entrada de energia (radiação). C3) Imutabilidade
dos processos, que podem conduzir ao estado estacionário do Geossistema
76
Analisando o apresentado na Figura 28 – A (situação progressiva), observa-se a

exposição de um conjunto de três tipos de rochas (arenito poroso, basalto e granito)
niveladas entre si. Esse conjunto rochoso expõe a ação intempérica da água das
chuvas e da biota (colonização), sob ambiente tropical úmido, quente, e inicia-se a
estruturação do sistema morfológico. Na situação apresentada na Figura 28 – A1, o
intemperismo diferencial atua em arenitos com maior permeabilidade, e forma solos
em velocidade maior que o granito e basalto, ao mesmo tempo que se formam flu-
xos direcionais da água e esculturação de bacia hidrográfica (sistema morfológico),
ocorrendo, também, a predominância de colonização por liquens e fungos.
Na Figura 28 – A2, observa-se a situação de intenso intemperismo que homo-
geneiza os solos, independente do material de origem (equifinalidade), como consta-
tado por Roquin (1990) na África, e designado como pedogêneses convergentes por
Phillips (2017). Nessa situação (Figura 28 – A2), o solo permite a colonização por
formação de grande tipo arbóreo, atingindo o estágio de clímax, e o aprofundamento
do nível de base também resulta em energias direcionadas e ordenadas, causando,
desse modo, uma entropia mínima no sistema. Nesse estágio, o conjunto de processos
resulta na esculturação da bacia hidrográfica (sistema morfológico) e na instalação de
cadeia de fluxos de energia e matéria para o vale, instaurando o sistema em cascata
e, por fim, o sistema processo-resposta (morfológico+cascata).
Na situação exposta na Figura 28 – A3, o terreno já está nivelado, a diferença
altimétrica é mínima, o padrão de drenagem é meândrico com a formação de áreas
úmidas, ocupadas por gramíneas adaptadas a essas condições, e por locais secos,
vegetados por árvores. Nesse cenário, a energia disponível é mínima e sem ordenação,
isto é, a entropia é máxima (desordem). Esse estágio da formação do Geossistema é
o de maior nível de desenvolvimento, onde a totalidade entra em estado estacioná-
rio, independente de sua escala e resposta temporal às entradas e saídas do sistema.
Sobre a análise da Figura 28 – B (distúrbio), observa-se uma situação inicial
igual à Figura 28 – A, contudo, na Figura 28 – B1, ocorrem deslocamento e cavalga-
mento de corpos rochosos por falhas transcorrentes e normais, alterando a topografia
e toda a dinâmica de evolução (homeostase positiva). Nesse caso, a drenagem é
fortemente controlada pelas estruturas de falhas, como cotovelos de 90 graus, assi-
metria da bacia hidrográfica, diferença de densidade de drenagem entre margens,
canal principal controlado por falha normal e atuação intensa da denudação, com
solos pouco espesso e colonização pode haver liquens, fungos e gramíneas.
Na situação da Figura 28 – B2, a topografia é mais intemperizada e rebaixada
(denudação), os afluentes iniciam a ramificação (dendrito) sem controle direto dos
falhamentos, os solos são mais profundos nessa situação, condiz a diminuição da
denudação, e permitem a ocupação por vegetação de porte maior, como árvores. Con-
tudo, a assimetria entre as margens da bacia hidrográfica ainda continua denotando
o forte controle estrutural nesse caso.
A Figura 28 – B3 apresenta o contínuo rebaixamento da topografia e intem-
perismo que espessa o solo, ocorrendo, também, aumento de canais de drenagem
e ocupação por variada vegetação que não atinge seu clímax. Nesse exemplo, a
situação final de desenvolvimento não alcança o estado estacionário da totalidade,

pois, enquanto houver influência da estrutura geológica assimétrica (soerguimentos
e falhamentos), que acarreta em dinâmicas diferenciais de energia e matéria, não
ocorrerá a homogeneização dos processos, impedindo que a entropia máxima seja
alcançada, para o Geossistema como um todo.
Por fim, observando a Figura 28 – C (estagnação), têm-se que, no caso inicial,
na Figura 28 C-C1 é idêntico à Figura 28 A-A1; contudo, na Figura 28 – C2 cessa-se
a entrada de matéria e só a energia, na forma de radiação solar, continua no sistema.
Nesse caso, a água, o intemperismo, a esculturação das feições de relevo, ciclagem
vegetal são interrompidos (Figura 28 – C3), e, nessa condição de imutabilidade,
em determinado intervalo de tempo é possível que o Geossistema adquira o estado
estacionário de máxima entropia. Desse modo, todos processos estagnam, e a energia
de entrada (solar), além de não apresentar direcionamento, apresenta aleatoriedade
predominante (desordem), possibilitando que as formas se ajustem a essa dinâmica
estabelecida e assim sejam mantido enquanto não ocorrerem alterações, num processo
constatado e apresentado por Matmon (2009).
A partir da exposição e análise dos exemplos ilustrativos da Figura 28, permi-
te-se exemplificar a evolução de Geossistema. Assim, partindo de uma mesma situa-
ção, observa-se que, na sua evolução, desenvolvem-se distintos processos (eventos
progressivos, distúrbios, estagnações (Figura 28 A-C) que conduzem à diferentes
tipos de estruturas geossistêmica, o que cada um pode ou não atingir a estabilidade
máxima (estado estacionário). Assim demonstra-se, de modo muito simplório, que
as transformações nas organizações espaciais não são lineares, mas probabilísticas,
e que, em estruturas sensíveis a pequenas alterações, pode se modificar o todo, veri-
ficando que a auto-organização (ajustes) acompanha esses processos para atingir
estabilidade, de acordo as novas condições.
Em resumo, neste capítulo manteve-se como escopo: a exposição do paradigma
sistêmico, as categorias de sistemas em Geografia e as propriedades inerentes às
organizações espaciais.
Desse modo, observou-se a pretensão de fornecer condições e suporte ao leitor
para o entendimento das inter-relações estabelecidas nos sistemas espaciais, e, assim,
obter melhores condições para a compreensão da proposta da teoria do Geossistema
de Sochava, que utiliza as organizações espaciais para explicar a realidade em que o
ser humano coexiste, e cujas interações Sochava interpreta via paradigma sistêmico
de Bertalanffy.
Ordenação de leitura sugestiva para sistemas

FORRESTER, Jay Wright. Principles of Systems. MA/EUA: Pegasus Communi-
cations, 1968. 387p.
CHORLEY, Richard John; KENNEDY, Barbara Anne. Physical Geography: a sys-

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HAGGET, Petter; CHORLEY, Richard John. Network Analysis in Geography.

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CHRISTOFOLETTI, Antonio. Modelagem de sistemas ambientais. São Paulo:

Blucher, 1999.
CHORLEY, Richard John; HAGGET, Peter. Modelos integrados em geografia.

Livros Técnicos e Científicos. Rio de Janeiro: Universidade de São Paulo, 1974.
CAPÍTULO 2
No capítulo 1 foi apresentada a Teoria Geral dos Sistemas e sua aplicação
na Geografia, como uma abordagem holística adequada à abordagem da relação
sociedade ↔ natureza. Outra questão apresentada foram as tipologias principais de
sistemas na Geografia, destacando os princípios que regem sua estruturação e seu
funcionamento, permitindo ao leitor a compreensão da complexidade espaço-tem-
poral, que envolve as organizações espaciais.
Neste capítulo 2, será apresentada a temática do Geossistema, com base nos
princípios e nas propriedades da Teoria Geral dos Sistemas, destacando-se os seguin-
tes tópicos:
– A importância de um sistema de classificação da organização espacial;
– A definição do conceito e método do Geossistema de Sochava;
– Exemplos ilustrativos de identificação de transformações de energia e matéria,
que permitam a distinção de áreas homogêneas e heterogenas (geômeros e geócoros)
na concepção geossistêmica;
– Estudos russos em estações geográficas de monitoramento via Método do
Ordenamento Complexo, também denominado de Geotopologia;
– A possibilidade de aplicação da abordagem geossistêmica para o estudo de
fenômenos escalares dos ecossistemas, da estrutura e do funcionamento (avaliação
qualitativa funcional) voltada para pagamentos por Serviços Ecossistêmicos, com
exemplos na Rússia, União Europeia e Brasil.
2.1 Geossistema: conceito e aplicação

A paisagem é um conceito que apresenta amplo significado, porém sem uma
definição específica, ou seja, é polissêmico (CAVALCANTI, 2014). Para a ciência
geográfica russa, os estudos da paisagem, a partir da década de 1970, apresentam
cinco linhas de abordagens principais (DYAKONOV, 2007), as quais serão adotadas
nesta obra para introdução deste tema:
1 – Estrutura das paisagens – centra-se na análise detalhada das organizações
multiestruturais da paisagem na superfície terrestre, em que diferenciações dos sis-
temas espaciais são determinadas, fortemente, por três campos geofísicos relativa-
mente independentes: biocircular (orientados pela radiação solar e precipitação),
geocircular (ar, água e fluxos subterrâneos), e geoestacionários (condicionados pelo
substrato – rocha, solo). E é a interação entre esses três conjuntos nas organizações
multiestruturais e suas diferenciações que gera as distinções ou similaridades. Já,
quanto à ordem dimensional da organização espacial (escalaridade) de análise nesse
quesito são: planetária, regional e topológica.
2 – Dinâmica (funcionamento) – estudo das interações da paisagem. São abor-
dadas por pesquisas estacionárias, as quais prezam o monitoramento das variáveis
ambientais (regime hidrotérmico, radiação solar acumulada, precipitação, água no
80
solo, biomassa, retenção de carbono etc.) para caracterizar as dinâmicas/transforma-

ções de energia/matéria e determinar o funcionamento das organizações espaciais
ao longo do tempo.
3 – Evolução temporal das paisagens – análise temporal da formação de inter-
-relações que estruturam o sistema espacial (tipo morfológico e cascata). Nessa pers-
pectiva, há linhas de estudo dos estados sazonais, anuais e interdecadais.
Já, estudos paleopaisagísticos (paisagens pretéritas) consistem em análise de
depósitos sedimentares, solos/paleossolos, métodos geocronológicos, dados proxy
(pólen, sílica biogênica, carvões etc.).
4 – Influência antropogênica – estabelece mudanças ocasionadas nas inter-re-
lações das paisagens, pela ação humana direta e/ou indireta. Analisa a influência das
paisagens no estabelecimento de diferenças de grupos étnicos, antropogeocenoses, e
o modo de uso da terra, vinculado às condições das paisagens, além de abordagens
arqueológicas e históricas nos estudos da evolução humana.
5 – Cultural – estudo de aspectos geoculturais (o Homem e a percepção do
espaço), histórico-culturais (Patrimônio cultural) e estéticos de geossistemas regio-
nais (geodiversidade).
Assim, confere-se que o uso do conceito paisagem21 apresenta amplos signifi-
cados, e nesse caso, em vista do caráter da presente obra, a paisagem será abordada
pela interpretação sistêmica (BERTALANFFY, 1968), adotada especificamente na
proposta de Geossistema, elaborada por Sochava (1978), que permite a categorização
hierarquizada de unidades da organização espacial. Desse modo, evita-se o uso de um
conceito que não apresente definição clara, objetiva e que possa gerar ambiguidades
e confusões na sua aplicação.
Com esses esclarecimentos, no presente tópico, serão tratados aspectos estru-
turais (1), dinâmicos (2) e temporais (3) dos Geossistemas, aparesentados em Dya-
konov (2007).
Para abordagem geossistêmica, é necessário categorizá-los (classificação), sendo
esta uma importante etapa ao estudo dos sistemas espaciais (SOCHAVA, 1978). Nesse
sentido, a partir da ordenação e sistematização dos fatos ocorrentes na superfície ter-
restre, é possível realizar representações sobre estruturas e dinâmicas das organizações
espaciais, com simplificações da realidade (modelos). A essa estruturação abstrata
da realidade desenvolvida pelo homem (modelos) dá-se o nome de Taxonomia, que
consiste na ciência da identificação e categorização, envolvendo a elaboração de
critérios, como: identificação, descrição, nomenclatura e classificação de temas,
objetos e fenômenos (BICUDO, 2004; FRANCISCO et al., 2018).
Tão antiga quanto a habilidade linguística da humanidade, a taxonomia foi fun-
damental no cotidiano pretérito das civilizações para identificar e atribuir designações
21 Para Sochava (1978), na teoria dos geossistemas, o conceito de paisagem está perdendo, gradualmente, o emprego
com significado de uma porção da superfície terrestre, sendo mais apropriado para toponímias (paisagem de
estepes de Onon-Argun, florestas de Surgut, Taigas meridional de Ob-Irtysh; paisagem do semiárido brasileiro;
Coxilhas dos Pampas Gaúcho). Assim o geossistema, trás o foco em manifestações espaciais das inter-relações
na superfície terrestre, abordagem característica da escola russa de geografia (SEMENOV; SYNTKO, 2015).
a plantas comestíveis, tóxicas e comunicação de informações entre grupos humanos

(locais de caça, pesca, migração de animais etc.). Ressalta-se, nesse sentido, a impor-
tância da transmissão de informações também para a taxonomia científica da atualidade,
servindo para a padronização da linguagem entre pesquisadores de vários países, e entre
órgãos governamentais, evitando-se multiplicidade e redundâncias do uso de vários
conceitos para tratar do mesmo assunto (exemplo: Convenção Europeia da Paisagem).
Segundo Lepsh (2010), muitas são as vantagens do uso de nomes científicos,
destacando-se a universalidade e padronização. Por exemplo, a planta tuberculosa
denominada no Brasil de mandioca, aipim ou macaxeira, na França é manioc, e nos
Estados Unidos é cassava; o nome científico botânico para todo o mundo, indepen-
dente do idioma, é Manihot esculenta Crantz, membro da família Euphorbiacea.
Outro caso é o solo massapé, terra preta ou grumossolo, denominações regionais do
Brasil. O mesmo solo é conhecido por Regur na Índia e Black cotton soil nos Estados
Unidos, já pelo sistema internacional de classificação de solos, o World Reference
Base for Soil Resources – FAO (2014), a designação científica é Haplic Vertisol.
Em abordagens sistêmicas, também é necessário estabelecer critérios científicos
de classificação e posterior sistematização, que permitam interpretar séries de fenô-
menos espaciais inter-relacionados do espaço geográfico, cada vez mais complexas,
assim como o inverso, isto é, sistemas individuais ou elementares (unidade mínima do
todo). Desse modo, é possível estabelecer a hierarquia existente no mundo, nesse caso,
dos sistemas espaciais, produtos das inter-relações de seus componentes associados
ao tempo (dezenas, centenas, milhares, milhões de anos), aqui utilizado o Geossis-
tema (SOCHAVA, 1978), o qual permite a investigação e classificação multiescalar
hierarquizada e inter-relacionada do espaço geográfico.
Nesse quesito de interpretações sistêmicas, autores como Chorley e Kennedy
(1971) e Hugget (1980), fornecem argumentos para que sejam realizados estudos
geográficos das organizações espaciais pelos seguintes vieses:
1 – A abordagem sistêmica permite superar muitas das limitações encontradas
nos métodos científicos tradicionais, como o positivismo (tópico 1.2: Concepção da
Teoria Geral dos Sistemas e inserção na Geografia). Segundo Nikolaenko (1976), o
paradigma sistêmico nos estudos geográficos permite:
– Interpretação dos sistemas espaciais terrestres como um todo, diferindo em
determinados níveis de organização, a partir de uma teoria fundamentada e siste-
matizada (Teoria Geral dos Sistemas), ao invés do uso empírico da interpretação/
cognição de sistema (intuitivo);
– Estudo da estrutura interna da organização espacial (níveis hierárquicos, flu-
xos, inter-relações, grau de interdependência entre sistemas espaciais);
– Uso de conceitos advindos da Teoria Geral dos Sistemas (BERTALLANFY,
1968) para compreender os sistemas espaciais, como entropia, equifinalidade, infor-
mação etc.;
– Uso da matemática como uma “linguagem” universal na Ciência;
– Desenvolvimento de conceitos geográficos na perspectiva da teoria dos siste-
mas e que permitam assimilação de termos cabíveis aos sistemas espaciais de outras
ciências (isomorfia);
82
– Compreensão de sistemas complexos (demanda pelo aumento das informações

geográficas qualitativas e quantitativas do sensoriamento remoto, técnicas analíticas
etc.). Atende ao crescente uso de modelagens com foco em prognósticos geográficos
da relação sociedade↔natureza.
Assim, o paradigma sistêmico aplicado à Geografia, associado a novas técni-
cas computacionais (algoritmos, softwares; Sistemas de Informação Geográfica) já
estabelecidas e em vias de desenvolvimento, mostra-se útil aos estudos de espacia-
lização e integração das variáveis ambientais (relações de correlações, regressões,
dispersões etc.). Complementando, mostra-se vantajoso, também, aos monitoramentos
dos Geossistemas via estações geográficas, que permitem análises da diversidade de
inter-relações, complexidades inerentes aos sistemas espaciais (aninhados e não aninha-
dos), permitindo o prognóstico geográfico (principal meta da análise geossistêmica na
concepção de Sochava, 1974). Tudo isso é possível via criação de modelo matemático
das alterações dos componentes em interdependência dos sistemas espaciais, e esta-
belecimento de limites do conjunto de fatores antrópicos/atividades econômicas, em
que a estrutura organizacional do Geossistema pode ser preservada (uso sustentável).
– Estabelecimento de uma teoria geral do espaço geográfico; em outras palavras,
uma teoria geoespacial (ao menos em abordagens de cunho ambiental). Nesse contexto,
a proposta do Geossistema de Sochava (1978) atende ao requisito, podendo ser uma
das teorias norteadoras do estudo da envoltura geográfica, já que permite a ordenação e
sistematização hierárquica da envoltura geográfica do planeta Terra sob única estrutura
classificatória, o qual evita, em parte, conotações subjetivas diversas (pessoal, autoral,
mistura terminológica de escolas epstemológicas) no decorrer da pesquisa geográfica.
2 – A realidade (mundo material) é definida por inter-relações complexas
(variando em graus: interdependência, escala espacial e tempo). A compreensão
humana tenta, em um primeiro momento, investigar como as partes operam em
condições simplificadas. Contudo, embora a simplificação seja necessária intelectual-
mente, as simplificações são subjetivas e artificializam a realidade (modelos), sendo
que o maior desafio é a identificação e distinção em sistemas espaciais, que sejam
significativas do mundo real e permitam identificar leis gerais do desenvolvimento
de parte da realidade.
A essa questão de materializar a organização sistêmica em Geografia, Sochava
(1974) propõe que ela seja possível, no estudo de sistemas espacias, via áreas ele-
mentares dos Geossistemas (Geotopologia), designado de fácie físico-geográfico
(será apresentado ao longo do tópico), que, por um lado, apresenta grau de coerência
interna (complexidade), e por outro, é simples o suficiente para a compreensão e
investigação (inter-relações, interdependência, graus de conexões).
3 – A abordagem sistêmica permite o estabelecimento de hierarquizações e
fornece uma metodologia apropriada para elucidar algumas questões escalares dos
fenômenos ambientais em Geografia. Isso porque a dinâmica do sistema, em um
nível escalar como o local (microclima, microambiente), não se aplica à dinâmica do
sistema, em um nível superior (zonas climáticas), ou a questões de transformações
do espaço-tempo (como os fatos geomorfológicos de Tricart, 1965).
A hierarquização dos sistemas espaciais e das ordens escalares de tamanho

e fenômenos é possível pela proposta de classificação em fileira ou bilateral dos
Geosssitemas (SOCHAVA, 1978), nos quais cada nível hierárquico é resultado do
agrupamento de fácies, as quais surgem como novas propriedades qualitativas em
cada ordem dimensional, e não podem ser consideradas uma simples soma de estru-
turas de fácies físico-geográfica (SOCHAVA, 1980). Desse modo, o Geossistema
(SOCHAVA, 1978) permite a análise dos componentes de cada seção do mundo real
(multiescalas), da estruturação interna (organização, inter-relações) e, ainda, sobre
como cada seção se vincula a outra estrutura (conexões e interdependências).
Assim, a categorização hierárquica de sistemas espaciais permite a distinção
de conjuntos com inter-relações semelhantes e fornece critérios estruturais para a
descrição sistemática das propriedades e funções dos sistemas.
4 – Os sistemas espaciais são abertos, tendo relação dinâmica entre elementos
(energia solar, precipitação e assim por diante) com o ambiente (meio externo) e
outros sistemas espaciais (conjuntos interligados). Nessa relação, matéria e ener-
gia são transformadas, armazenadas e exportadas (entrada-transformação-saída)
no espaço-tempo.
O sistema aberto parece apropriado a muitas abordagens sistêmicas de interesse
dos geógrafos, ecólogos, engenheiros florestais etc. Uma das maneiras de caracterizar
essas dinâmicas/transformações de energia e matéria é abordada por Sochava (1974,
1978), na ordem dimensional topológica, via identificação de fácies físico-geográficas
e posterior monitoramento destas por estações permanentes ou semiestacionárias.
Tal abordagem (monitoramento de fácies físico-geográficas) permite determinar as
variáveis ambientais e o grau de importância dos componentes nas inter-relações,
na estrutura dos sistemas espaciais, e a sua extrapolação (representativa regional)
para áreas com dinâmicas de transformação de energia e matéria similares, como
as realizadas para estepes e taigas russas (SOCHAVA; FRISH, 1964; BACHURIN;
NECHAEVA, 1975; KRAUKLIS, 1975; SYNTKO, 1976).
5 – A abordagem sistêmica traz uma coerência terminológica para o campo
da geografia, exemplificada pela proposta do Geossistema (SOCHAVA, 1978), que
constitui um método unificador e padronizador terminológico para uma parte das
abordagens na Geografia.
Assim, a concepção geossistêmica, utilizando a Teoria Geral dos Sistemas e seus
princípios (BERTALANFFY, 1968), permitiu compreender a superfície terrestre como
um sistema hierárquico, integral em si mesmo e divisível em conjuntos subordinados
(outras integridades menores). Isto é, cada categoria dimensional é caracterizada por
suas próprias leis e conceitos espaciais, inerentes apenas a eles, obedecendo às leis
naturais que operam na envoltura geográfica (SOCHAVA, 1974).
Na Teoria dos Geossistemas, o escopo central é o estudo da dinâmica ambiental
do planeta, o qual, segundo Sochava (1974, 1978), apresenta disposições teóricas
para fundamentar a classificação, o mapeamento e a caracterização da dinâmica, e a
evolução do sistema espacial, assim como permite algumas prerrogativas diante da
geografia setorial, conforme se apresenta no Quadro 3.
84
Quadro 3 – Princípios teóricos e axiomas do Geossistema

Sochava, 1974 Sochava, 1978
– Os padrões inerentes aos Geossistemas não são ambíguos dentro de – A modelagem de Geossistemas deve levar em
certos limites territoriais. Cada ordem dimensional do Geossistema possui consideração a dinâmica espontânea e antropo-
parâmetros espaciais (escala de fenômenos espaço-temporal), dentro dos gênica e o regime natural integral;
quais operam as relações específicas da ordem dos sistemas espaciais
e estabelecem retroalimentações entre sistemas e em níveis categóricos – Busca por métodos racionais de avaliação
(dependente escalar hierárquico). quantitativa dos Geossistemas e processos de
formação da organização espacial, em particu-
– Os Geossistemas são representados por diferentes tipos de estruturas lar, via aparato matemático adequado para sua
bases e variáveis de estados subordinados a um determinado invariante descrição;
(relevo, rocha, solo, clima). E, quando ocorre a mudança no invariante,
desencadeia-se a evolução dos Geossistemas (transformação irreversí- – Análise do sistema de relações espaciais na
vel), junto acompanham os estados variáveis e estruturas bases. Somente envoltura geográfica nos níveis planetário, re-
identificando as invariantes dos sistemas espaciais e suas conexões, é gional e topológico;
possível elaborar uma classificação dos Geossistemas que reflita as leis
operantes em porções da superfície terrestre ou na totalidade, e que – Estudo dos aspectos-temporais dos Geos-
desencadeiam as transformações nos Geossistemas (evolução). Portanto, sistemas e elaboração de modelos gráficos,
constantes mudanças das estruturas e invariantes no espaço-tempo mar- principalmente mapas, relacionados aos pro-
cam a dinâmica do Geossistema (tópico 1.5.2: Homeostase). blemas de proteção e otimização das dinâmicas
ambientais;
– O ambiente natural é distinguido e caracterizado pela combinação de
dois princípios – homogeneidade e heterogeneidade. No processo de de- – Análise de axiomas e outras disposições da
senvolvimento da envoltura geográfica, os processos de homogeneização teoria espacial de Geossistemas como parte da
e heterogeneização operam simultaneamente. Como resultado, surgem teoria geral de sistemas (metateoria);
Geossistemas com estrutura predominante homogênea, denominados
de geômeros, e com estrutura heterogênea, denominados de geócoros. – Problemas de evolução dos Geossistemas e
uso dos princípios de uma abordagem sistêmica
– O espaço tridimensional do Geossistema é expresso em volume, deem paleogeografia.
terminado por área (m2, Km2 etc.) pela altura (m, Km), que é muito im-
portante ao diagnóstico e categorização do ambiente natural. Para isso, – Estudo da influência de fatores socioeconô-
são necessários alguns critérios, apresentados a seguir: micos no ambiental natural e prognóstico dos
Geossistemas futuros;
I. Uso de um sistema de classificação clara dos Geossistemas,
quanto à hierarquia das categorizações dos sistemas espaciais, – Amplo estudo das condições naturais para a
e que reflita com translucidez a hierarquia das subdivisões nas formação de complexos territoriais de produção;
organizações espaciais, dando a ideia de integridade natural ho-
mogêneo (geômeros) e, ao mesmo tempo, das áreas heterogêneas – Fundamentação do uso racional dos recursos
(geócoros) de diferentes hierarquias, subordinadas uma a outra e naturais, atendendo sua recuperação e seu enri-
cada uma das quais também representam uma categoria integral. quecimento (para recursos renováveis);
A classificação também deve refletir a dinâmica dos Geossistemas
(monitoramento), ou seja, abranger não só as invariantes, mas os – Desenvolvimento de bases físico-geográficas
para proteção e otimização do ambiente natu-
estados variáveis (classificação por fileira);
ral, visando qualidade vida e melhor desenvol-
vimento humano;
II. Desenvolvimento de princípios universais para determinar a influên-
cia vertical dos Geossistemas.
– Perícia geográfica de projetos para uso inte-
grado e proteção do ambiente geográfico;
III. Mapeamentos de Geossistemas em escala, que forneça a precisão
necessária ao cálculo de suas áreas em um mapa, de acordo com
– Seleção, processamento e sistematização
o nível de análise (planetária, regional e topológica).
de informações sobre a natureza das regiões
e países, para fins educacionais e informativo.
Organização: Fumiya, 2021.

Pela exposição quanto às vantagens de se adotar o método sistêmico (BER-

TALANFFY, 1968) no estudo sobre dinâmicas do espaço geográfico, demonstra-se
que estas são diversas. Ao mesmo tempo, observando-se, ainda, o exposto é possível
constatar que algumas das demandas requeridas nas ciências geográficas podem ser
atendidas pela proposta do Geossistema de Sochava (1978). Em vista disso, neste
capítulo, serão apresentados os conceitos e as possibilidades de aplicação dessa
abordagem sistêmica da superfície terrestre.
Para começar, é preciso responder: qual a definição de Geossistema? Segundo
Sochava (1978, p. 292), Geossistemas22 (do grego: geo = Terra e sistemas = totalidade)
são unidades geográficas de todas as categorias possíveis, de uma envoltura geográfica
(Geossistema planetário) a uma unidade espacial indivisível na forma da fácie físico-
-geográfica (Geossistema elementar), ou seja, é uma integridade natural na superfície
do planeta, de todas as dimensões da esfera terrestre e dos oceanos (VERNADSKY,
1965 apud SOCHAVA, 1978). No Geossistema, os componentes da natureza (rocha,
relevo, solo, clima, biota e água) estão em conexão sistêmica uns com os outros (com-
plexo natural), desenvolvendo-se no tempo, como parte de um todo, e interagem com
a esfera cósmica e a sociedade humana, em um sistema aberto (Figura 29).
Portanto, Geossistemas são sistemas naturais complexos e abertos (entrada-
-transformação-saída de energia e matéria), dinâmicos (mudam com o tempo) e
hierarquicamente organizados (espacialidade: tamanho), em que as inter-relações
e organizações sistêmicas o estruturam, e os processos reguladores estabelecem a
morfologia e a integridade da totalidade (OLIVEIRA, 2019). Assim sendo, a Teoria
dos Geossistemas objetiva a explicação dos sistemas espaciais planetários como um
todo inter-relacionado e interdependente.
Ressalta-se que, para a Teoria do Geossistema (SOCHAVA, 1978) ser aplicada,
são necessários alguns pressupostos, complementando esse conceito/método. Assim,
de acordo com Isachenko (1981):
– Todos os conceitos básicos da Teoria Geral dos Sistemas são aplicáveis aos
geossistemas: integridade, hierarquia, estrutura, funcionamento, estabilidade, dinâ-
mica e evolução;
– Um geossistema significa um sistema (material) real;
– O geossistema é um complexo natural. Permanece assim, mesmo se for
exposto à intensa influência humana, obedecendo às leis naturais (incidência de
raios solares, gravidade etc.). (Grifo deste autor);
22 Importante chamar a atenção que, nesta obra, para a interpretação do Geossistema de Sochava
(1978), prezam-se as transformações da energia e matéria em diversas ordens dimensionais (prin-
cipalmente nos níveis locais), nas inter-relações dos componentes dos sistemas, temporalidade
da organização espacial (idade do sistema), em detrimento da fisionomia. Isso, porém, não significa
que há exclusão da fisionomia, ao contrário, ela faz parte e é essencial à análise geossistêmica no
entendimento dos processos e estruturas, pois a morfologia da paisagem é resultado das inter-relações
mútuas de elementos e processos macroscópico e microscópico (sentido da físico-química). Contudo,
a fisionomia é um dos fatores do conjunto de estudos desse método de análise, assim não se pode
basear exclusivamente na fisionomia da paisagem para estudo dos Geossistemas em especial os de
ordem topológica (Grifo do autor desta obra).
86
– Os “mecanismos” de funcionamento dos geossistemas são determinados pelas

leis da mecânica, física, química e biologia. Desse ponto de vista, o geossistema é
um complexo sistema físico-químico-biológico (integral), em que fatores socioe-
conômicos têm um impacto cada vez mais significativo sobre o funcionamento dos
geossistemas, embora como fatores externos à organização espacial;
– Um geossistema é uma organização espacial natural “completa”, que engloba
todos os componentes geográficos, abiótico e biótico (solo, relevo, rocha, cobertura
vegetal, atmosfera, hidrosfera, assim como ecossistemas), e suas inter-relações com
a esfera socioeconômica;
– Entre os componentes do Geossistema não existem apenas relacionamentos,
conexões, interações; existem, também, interdependências, circunstância que for-
nece base para classificar os geossistemas como sistemas complexos (Complexos
Territoriais Naturais).
Figura 29 – Inter-relações entre componentes que formam o geossistemas

Estabelecida a definição e exposição de alguns pressupostos que norteiam a

abordagem geossistêmica, outro tópico a se tratar são as diferenciações dos sistemas
espaciais, em geômeros e geócoros de diferentes ordens dimensionais, pela classi-
ficação em fileiras, ou seja, hierarquias23 organizadas de Geossistemas homogêneos
(geômeros) e heterogêneos (geócoros), no que diz respeito à transformação de energia,
matéria, estrutura e dinâmica, não apenas no aspecto fisionômico (Figura 30 A-B).
Desse modo, nesta abordagem, preza-se o ponto de vista da evolução temporal e
da dinâmica das organizações espaciais (espaço-tempo), em que a classificação é
genética e não exclusiva, subjetiva ou empírica da paisagem (SOCHAVA, 1978).
A categorização dos Geossistemas apresenta níveis, nos quais a hierarquia de
cada ordem dimensional superior é formada por conjuntos de sistemas de ordem
inferior interdependentes: Planetário, Regional e Topológico24 (Figura 30). Nessa
hierarquia de sistemas espaciais de menores ordens dimensionais ou topológicos
inter-relacionados (subsistemas → sistemas individuais → componentes e elementos),
forma-se uma estrutura complexa e elementar da envoltura geográfica, denominada
geômero elementar (fácie físico-geográfico) quando estruturas e dinâmicas do sis-
tema espacial são homogêneos; e área elementar diversificada, em geócoro quando
heterogêneo (fácies diversificadas).
23 Hierarquia: estrutura parcialmente ordenada de entidades, na qual, cada uma é sucessora de, pelo menos,
uma outra entidade (sistema), exceto as entidades básicas (elementares). Portanto, denota-se que a hierar-
quia em sistemas espaciais configura uma classificação em que cada nível superior torna-se mais abrangente
do que o nível inferior (em Geossistema, isso equivale às ordens dimensionais).
24 Ordens dimensionais e a correspondência aos estudos geográficos: Planetário é adequado à Geografia Geral
ou Sistemática (KALISNIK, 1955), Regional adequa-se à regionalização físico-geográfica (Isachenko, 1973).
E na Topológica à Ciência da Paisagem ou Geotopologia em que a estrutura e dinâmica de transformação
de energia/matéria nos sistemas espaciais elementares são o escopo, e suas conexões, espacialização em
sistemas maiores dessa ordem: Geomas e Macrogeócoros (ISACHENKO, 1973).
88
Figura 30 – A) Categoria hierárquica e taxonômica dos Geossistemas baseados.

B) Diagrama da interface entre geômeros-geócoros e ordens dimensionais da
estrutura do Geossistema. B1) Interligação entre espaço-tempo, isto é, quanto
maior a dimensão espacial, maior é o tempo para o desenvolvimento do fenômeno
espacial. B2) Ordens de dimensão do Geossistema (planetário ao topológico),
no qual cada hierarquia opera leis que não necessariamente manifestam-se em
outras ordens (ex: microclimas, ambientes endêmicos). Portanto, as diferentes
hierarquias dos Geossistemas não são a soma das propriedades dos elementos
da escala anterior, ou seja, existem propriedades emergentes em cada nível
hierárquico de análise proposto. Escalas sugestivas*: as propostas escalares
foram baseadas nos estudos de Geossistemas russos. No entanto, elas podem
mudar em porções da superfície terrestre. Portanto, não são universais, pois vai
depender da área que as inter-relações ocupam na superfície terrestre, as quais
dependem da idade do sistema espacial, da intensidade dos processos atuantes etc
As unidades elementares dos geômeros e geócoros (fácies físico-geográficas)

não são apenas um conceito morfológico, são aparatos primários de troca de energia
e matéria na geosfera, que, no entanto, atuam apenas como uma parte da totalidade
em geossistemas de ordem dimensional superior, das categorias regional e planetária
(consultar Sochava e Frish, 1964: fácies de estepe Stipa). Sochava (1974) materializa
o conceito de sistemas na Geografia em uma ordem dimensional, e sua essência com
a Teoria Geral dos Sistemas (BERTALANFFY, 1968). Desse modo, têm-se que:
Sistema tomado como modelo físico (estrutural e operacional) apresenta como uni-
dade dimensional mínima a organização, capaz de funcionar por si só (BRANCO,
2014, p. 103).
O geossistema elementar, como um geômero é indivisível, pois, ao dividir ele-

mentos de sistemas unitário, não se tem a perspectiva da organização como um
todo. O geossistema elementar é inesgotável quando dividido em elementos,
mas, como sistema, é limitado por espaço terrestre e padrões funcionais definidos
(SOCHAVA, 1975, p. 15).
Sendo assim, a unidade elementar do geossistema ou fácie fisico-geográfica

(Figura 31) pode ser definida como o menor sistema espacial do ambiente geográfico
(organização espacial mínima, análogo à cela unitária do mineral, ou à célula em um
organismo), resultado de inter-relações espaciais predominantemente homogêneas
entre componentes geradores de feições estrutural-dinâmica do sistema espacial. As
fácies físico-geográficas apresentam tamanhos que variam de alguns metros quadrados
a hectares e, geralmente, os elementos do sistema são uniformes em: litologia, estru-
tura geológica, formas de relevo, gradiente de declividade e orientação de encostas,
microlima, regime hídrico, fitocenose, zoocenose (PROKAYEV, 1961; ISACHENKO,
1973; SOCHAVA, 1978; DYAKONOV, 2007; BASTIAN et al., 2015).
Figura 31 – Exemplos de fácies físico-geográficas. A) Transecto do

polígono experimental na estepe de Onon-Argun e as séries espaciais
de produtividade de fitomassa por fácies físico-geográficas
90
Sochava (1964) ressalta a relevância do estudo dessa organização espacial

(fácie físico-geográfica), a qual denomina de “Molecular Geography”, observando
que essa ordem dimensional topológica (geossistema elementar) apresenta pro-
priedade representativa do todo, ou seja, área mínima com todas as características
principais de uma zonalidade (latitudinal ou altitudinal), em termos de transfor-
mação de energia/matéria e dinâmica (fácies típicas). É nesses sistemas espaciais
elementares que a essência de um determinado grupo pode ser analisada em detalhe,
permitindo entender o ciclo completo de funcionamento das conexões sistêmicas
(BAZHENOVA; PLYUSNIN; SNYTKO, 2014). Ou seja, esses sistemas constituem
a unidade espacial da qual se iniciam os estudos de transformação de energia, infor-
mação e matéria, que organizam os Geossistemas (ISACHENKO, 1973). Portanto,
pelo estudo das fácies físico-geográficas, é possível transpassar o conhecimento
das áreas elementares (representativas dos sistemas espaciais), passando para as
generalizações regionais e destas para o nível planetário (SOCHAVA, 1974).
Associando a identificação e a delimitação de fácies físico-geográficas, é
possível atribuir categorias a respeito da influência do nível freático da água na
estruturação das organizações espaciais elementares, e esta, por sua vez, influencia
diretamente na dinâmica geoquímica25 das fácies. Nessa perspectiva, na década de
1920, o geógrafo-geoquímico Boris Borisovich Polynov (apud ISACHENKO, 1973)
propõe três categorias principais de classificação geoquímica: eluvial, superaquosa
e subaquosa.
A categoria eluvial corresponde a fácies em que o nível freático está em pro-
fundidade (não aflora), a água é fornecida, exclusivamente, por precipitação pluvial,
e o escoamento superficial é de baixa intensidade. Desse modo, a cobertura vegetal
não é influenciada por acúmulo ou estagnação de água.
Nessa dinâmica geoquímica, solos são submetidos a processo de lixiviação e
formação de espessos horizontes eluviais. E, assim, no decorrer do tempo geológico
(milhares a milhões de anos), espessos mantos de alteração são formados, consti-
tuídos por elementos químicos residuais (exemplo: Acric Ferralsol, concentrações
residuais química de ferro/alumínio (minério) em zonas tropicais).
Nas fácies físico-geográficas eluviais ocorre, ainda, a dinâmica de retenção de
elementos químicos e sua ciclagem pela vegetação e, por outro lado, há a tendência
do solo em solubilizar e lixiviar elementos do sistema. Tal cenário é demonstrado
por Mateus et al. (2017), apresentando um caso de recaulinização de materiais alu-
minosos (bauxitas), provocada pela ciclagem de silício pelas plantas.
A categoria superaquosa envolve fácies físico-geográficas situadas em zonas
que a água está próxima à superfície, característica de drepressões com fraca dre-
nagem. O processo que desencadeia a ascensão da solução para a superfície é a
intensa evaporação, junto com elementos de alta solubilidade (cálcio, potássio e
sódio). Relacionado a essa dinâmica, pode originar, ainda, solos enriquecidos pela
25 Para mais detalhes sobre a linha de pesquisa da geoquímica em sistemas espaciais, recomenda-se a leitura:
“O que é geoquímica de paisagem?”. Revista Geosul, v. 21, n. 41, p. 107-126, 2006.
concentração de elementos químicos solúveis, como os Solonchaks, ocorrentes nas

depressões de Onon-Argur e que estruturam as vegetações halófitas desses geossis-
temas (FRISH; SOCHAVA, 1964).
A categoria subaquosa são fáceis físico-geográficas desenvolvidas próximo
às margens de lagos ou áreas alagadas (pântanos). O material, geralmente, é prove-
niente de lugares mais elevados (deposição), não apresentando, portanto, relações
genéticas com a rocha subjacente. Os organismos que colonizam são especializados
desse habitat, e o material de tais fácies é composto por depósitos lacustres, ricos
em plâncton de cor cinza-amarronzado. Exemplo de fácie físico-geográfica subaqual
é detalhadamente apresentado por estudos de restauração ecológica do lago Batata
(Pará) por Bozelli e Roland (2000).
Posterior à proposição de Polynov, Maria Glasovskaia (apud ISACHENKO,
1991) continou os estudos sobre categorias geoquímicas das fácies físico-geográfi-
cas, em que detalhou e apresentou sete categorias: Eluviais, Eluviais-acumulativas,
Trans-eluviais, Superaquosa, Trans-superaquosa, Trans-aquosa e Aquosa.
Eluvial: idem à definição de Polynov.
Eluvial-acumulativa: as formas de relevo apresentam maior capacidade de
acúmulo de água (bacia hidrográfica ou depressões de drenagens fechadas, semia-
berto, área de má drenagem). Contudo, no geral, a água continua a profundidade
considerável e ainda não influenciável nas organizações espaciais.
Trans-eluvial: correnspode a encostas superiores, relativamente íngremes
com intenso escoamento superficial, e a água é, predominantemente atmosfé-
rica (precipitação).
Superaquosa: idem ao definido por Polynov.
Trans-superaquosa: como apresenta melhores condições de drenagem que
a superaqual (menos estagnação), ocorre menor influência do lençol freático nas
transformações de energia e matéria.
Trans-aquosa: são locais em que o regime de água é variável (planícies de
inundação, margens de lago), devido ao fluxo de inundações dos sistemas fluviais
(diário, mensal, anual, decadal). As fácies físico-geográficas nesse ambiente apre-
sentam ampla variedade devido a essas características, e, também, dependendo do
relevo local e da duração da saturação por água.
Aquosa: caracteriza-se pela presença constante da água, como: lagos, cursos
d’água, entre outros.
Em relação à ocorrência espacial das fácies físico-geográficas, estas podem
coincidir, territorialmente, com sistema ecológico elementar, a biogeocenose26. Con-
tudo, na abordagem de fácies físico-geográficas, há atenção especial não apenas à
26 Biogeocenose: proposta de Vladimir Nikolayevich Sukachev em 1945 (apud SOCHAVA, 1961) designando
um complexo biofisiográfico estabelecido pelo limite de uma fitocenose sob uma certa área da superfície da
Terra. A biogeocenose é um ecossistema elementar, entendida por Sukachev, não apenas morfologicamente,
mas também no aspecto bioenergético, como a esfera do ciclo elementar de matéria e energia, no qual os
organismos vegetais desempenham um papel primordial no estabelecimento das inter-relações.
92
bioenergia, mas também aos processos geofísicos locais (totalidade), em particular ao

balanço de calor e umidade (no caso russo), bem como a uma série de características
estruturais do complexo natural elementar, que são menos significativas do ponto
de vista biogeocenológico, em que se preza a seleção específica de fitocenoses, sem
avaliar o estado dinâmico (SOCHAVA, 1961; SOCHAVA; FRISH, 1964).
Nessa abordagem holística, a interpretação e o diagnóstico da tipologia de
fácies físico-geográficas (Quadro 4) devem levar em consideração indicadores
quantitativos detalhados de processos geomorfológicos (erosão, soliflução, for-
mas de relevo, permafrost), clima local, regimes ecológicos, tipos de biogeoce-
nose, localização, sendo esses elementos territorialmente similares. Desse modo,
é recomendada a geração de dados sobre variáveis ambientais (metereológicos,
bióticos, geoquímicos), via estações geográficas de monitoramento, que permitam
a elaboração de índices quantitativos, integrais ao delineamento de Geossistema
elementar, e a determinação do grau de complexidade das inter-relações entre
componentes (SOCHAVA; FRISH, 1964). Exemplos da determinação de ciclos
de longo prazo para áreas elementares são as estepes da região de Onon-Argun
(SOCHAVA; FRISH, 1964; SNYTKO, 1976) e as taigas siberianas (BRAUCHIN;
NECHAEVA, 1975; KRAUKLIS, 1975).
Quadro 4 – Tipos de fácie físico-geográficas

Correspondem a um estágio dinâmico relativamente estável e equifinal de um geossistema
Radicais elementar. Nessa categoria, conjuntos espaciais encontram-se em interação harmônica/
estável entre seus componentes e com suas respectivas zonalidades latitudinal ou altitudinal.
Ocorrem quando se desencadeia o desenvolvimento desproporcional de alguns fatores
(hipertrofia) das fácies físico-geográficas. Exemplos dessa categoria seriam: os halomórficos,
Quase radicais que resultam na ocupação exclusiva por vegetações halófitas; as psamórficas em terrenos
arenosos, como nas terras altas de Tobolsk, ocupadas por taigas; e as estagnomórficas em
locais alagados, como nos pântanos da planície do rio Irtysh.
São fácies físico-geográficas que se modificam (transformação) em escala de anos. Tais
geossistemas localizam-se em ambientes de alta dinâmica, como em áreas fluviais; e de
Seriais
degelo, de escorregamento, como em áreas de serras do sudeste brasileiro (cidades serranas:
Petrópolis, Rio de Janeiro).
Produzidas São estados derivados do geossistema, desencadeados pelos impactos humanos, ou ainda,
(derivadas) de maneira menos comum, por processos daninhos e indesejáveis (incêndios).
Fonte: Sochava, 1978 apud Rodrigues e Vicente, 2019.
Outro fator a se atentar são os estágios de desenvolvimento (grau de equifina-

lidade) em que se encontram os complexos naturais das fácies físico-geográficas,
como: grau de intemperismo e de agrupamentos vegetais (sucessão ecológica). Nesse
caso, a rápida dinâmica dos fenômenos naturais deve ser observada, pois, nesses
ambientes, fácies físico-geográficas são “mutáveis” no espaço-tempo, e arbitrárias
(dinâmicas), sendo apropriado tipificar em fácies seriais (Quadro 4), por exemplo:
fácies que, a uma determinada exposição (dentro do grupo espacial), se desenvolvem
em afloramentos intemperizados de calcários do Paleozoico Inferior; fácies em

declives com diferentes graus de exposição à soliflução; e fácies em relação ao
desenvolvimento da planície de inundação (SOCHAVA, 1961).
Para a diferenciação das fácies físico-geográficas, Krauklis (1969 apud
SOCHAVA, 1974) propõe o princípio das séries fatorial-dinâmico, que se baseia
na ideia da presença de um “padrão” em comum nas organizações espaciais, isto
é, fácies típicas para dada zonalidade, altitude e outras características do sistema
espacial.
Um exemplo de estudo em série fatorial-dinâmica de fácies físico-geográfi-
cas são as taigas meridionais de corníferas escuras da região do baixo rio Angara
(KRAUKLIS, 1969 apud SOCHAVA, 1974). Nesse estudo, foram agrupadas fácies
do macrogeócoro de acordo com o princípio de fornecimento de calor (ciclos hipotér-
micos, mesotérmicos e hipertérmicos), e, distinguindo-se, dentro dos ciclos ambien-
tais, as séries fatorial-dinâmico de fácies físico-geográficas (planalto, planícies
aluviais, zonas hidromórficas etc.). Assim, na taiga do sul de Angara, apresentaram-se
diversos grupamentos de fácies, como:
– Série em leito rochoso, ocupado por juncos e abetos.
– Série em encostas de planícies fluviais com florestas de pinus, com gramíneas
de pequeno porte, ocorrente em solos argilosos com podzolização média a forte.
– Série sub-hidromórfica em terras altas, em depressões fechadas, com abetos
e gramíneas sob solos argilosos com podzolização.
– Série de cereja de pássaro e arbóreas densas ao longo de drenagens temporárias.
– Série sublitomórfica que muda conforme a espessura dos rególitos (em plakor
ou afloramento rochoso).
Desse modo, fica clara a utilidade da construção de séries fatoriais-dinâmicas
para cognição e identificação da regularidade intra-sistema espacial, ressaltando-se,
contudo, que ciclos e séries não são etapas da classificação hierárquica dos geossis-
temas. Eles têm um significado auxiliar ecológico e geográfico (SOCHAVA, 1974).
Assim sendo, a partir da determinação dos fatores abordados para classifi-
cação tipológica de fácies físico-geográficas, esses são combinados em conjuntos
de epigeômero e epigeócoro (Figura 30 B2), e estes, por sua vez, são organizados
em categorias taxonômicas maiores (topológico→regional), caracterizando todo o
complexo de condições físicas e geográficas de um determinado tipo de ambiente
geográfico (SOCHAVA, 1961). Portanto, compreende-se que a composição de ordens
dimensionais superiores dos Geossistemas (regional e planetário) resulta do agru-
pamento das fácies físico-geográficas (mosaico), permitindo a especialização e
diferenciação dos Geossisstemas homogêneos e heterogêneos e, em consequência,
a classificação segundo a proposta de Sochava (1978).
Para delimitações de categorias superiores (regional e planetária) dos Geossis-
temas, deve-se atender à ideia de um contexto físico e geográfico, correspondente
aos fenômenos escalares. Visando melhor compreensão disso, apresentam-se alguns
94
exemplos, observados no território russo, segundo exposto por Sochava (1974,

1975, 1978):
– Séries de meio ambiente natural: nesse nível hierárquico, as comparti-
mentações da superfície terrestre são baseadas, principalmente, pela interação da
radiação solar com a forma do planeta Terra (zonas climáticas), além de apresen-
tar influência significativa de fatores telúricos (gravidade, magnetismo terrestre,
neotectônica etc.). Tal interação planetária resulta nas divisões continentais (até
centenas de milhões de km2), em zonalidade latitudinal do planeta (Figura 32 A):
uma tropical e três extratropicais (árida, polar e temperada). Um exemplo é o
cinturão boreal intertropical.
– Tipos de meio ambiente natural (“megageoma”): composto por unidades
territoriais menores que da Série (continentes), caractetizadas por megaterritórios,
denominados de subcontinentes (incluem ilhas nos oceanos). O alcance mínimo
dessa categoria são escalas de fenômenos zonais (faixas, cinturões), suas regularida-
des e os ciclos continentais e oceânicos, que servem como critério para estabelecer
as delimitações (até dezenas de milhões de Km2).
Exemplos dessa dimensão são as taigas setentrionais, como: taigas das planí-
cies euroasiáticas e taigas norte-americanas (Figura 32 B). Nessas referidas taigas,
é possível fazer a divisão em megassituações geográficas (grupos de regiões), nas
quais a influência do ciclo continental-oceânico continua sendo um fator decisivo
para maior diferenciação das regiões, aumentando, por outro lado, a influência de
manifestação da zonalidade altitudinal e ciclo interno. Assim, as megalocalizações
são o menor geômero da dimensão planetária, sendo este intermediário entre as
dimensões planetária e regional. Como exemplo desse detalhamento, cita-se a
classe de gemas da taiga euroasiática (Figura 32 C), representada, por sua vez,
pelas subclasses de Geomas: 1) Norte da Europa, 2) Leste europeu, 3) Ob-Irtysh
(Figura 32 C), 4) Planalto da Sibéria Central, 5) Yakutsk Central, 6) Amur-Sacalina
(planícies, planaltos e depressões intermontanas).
– Geoma: dentre a categoria regional, esta é a de nível mais baixo, contudo,
ao mesmo tempo, é a mais alta nos topogeossistemas (até dezenas de milhares
de km2). Dessa forma, o geoma constitui um intermédio entre ordens regionais e
topológicas, sendo considerado como principal unidade taxonômica da regionali-
zação, de suma importância para subdivisões mais fracionária dos Geosssitemas,
por possuir as características essenciais, que estruturam o ambiente geográfico
superior de determinadas classes de Geoma, e Séries de Meio Ambiente Natural.
No contexto físico-geográfico, o alcance mínimo dessa categoria é relacionado
às condições macroclimáticas regionais (aproximadamente 1,5-2 km de altura).
Fatores telúricos também apresentam maior expressividade, sendo que o nível supe-
rior da crosta terrestre determina a estruturação desse geócoro (relevo, estruturas
geológicas etc.). Por vezes, a cobertura vegetal junto com características climáticas
regionais forma uma unidade de sistemas espaciais delimitada, e que coincide com
os limites das unidades geomorfológicas, como as elevadas planícies de Dauria,

onde localizam-se as estepes de Onon-Argur (Figura 32 D).
Nesse sentido, o geoma apresenta aumento das influências dos ciclos regionais,
em que o elemento de importância universal é a água. Essa influência é expressa
nas taigas meridionais de Priirtyshie, na bacia do rio Ob-Irtysh (BACHURIN;
NECHAEVA, 1975), onde a baixa drenagem (escoamento) sob clima continental
subártico estrutura os geomas dessa região:
– Terras altas de Tobolsk em divisores planos e extensos de má drenagem,
com presença de taiga escura e pântanos (depressões fechadas);
– Front erosivo das terras altas, apresentando as melhores condições de drena-
gem e taiga escura, típica da zonalidade latudinal associada a condições regionais;
– Vale e terraços fluviais do rio Irtysh, caracteriza-se pela estagnação, hidro-
morfia temporária e permanente, formação de áreas pantanosas e lagos (depressões
fechadas), em que a vegetação varia de abetos e bétulas a vegetação higrófila.
– Classe de fácies: esse nível hierárquico pode ocupar até milhares de km2 e
altura de 0,7 km, onde a influência dos fatores telúricos são atenuados, em parte,
pela ação de processos ambientais locais (água, vento, intemperismo etc.). O esta-
belecimento do mosaico da classe de fácies é baseado, principalmente, na integra-
ção espacial de áreas homogêneas (Figura 32 E), mais precisamente, em estado de
equifinalidade (fácies radicais), constituído por grupos de epifácies. A principal
forma de distinção é identificar diferenças qualitativas e limites para geócoros.
– Fácies e fácie físico-geográfica: são os menores agrupamentos dos Geos-
sistemas (fácies) até alcançar o sistema espacial elementar indivisível (fácie físi-
co-geográfica), onde é possível analisar as propriedades do todo (Figura 32 F),
constituindo uma parte essencial do estudo da geotopologia, como abordado em
parágrafos anteriores.
96
Figuras 32 – A) Zonas climáticas do planeta Terra. B) Distribuição das

taigas setentrionais. C) Taiga euroasiática em território russo e na bacia
hidrográfica do rio Ob. D) Área de ocorrência do Geoma de Onon-Argur,
no norte da Ásia Central. E) Compartimentação da estepe de Onon-Argun.
Classe de fácies físico-geográficas, típicas do norte da Ásia Central: 1 –
Encostas em montanha de baixa elevação (até 1.150m), com Forb-Tanacetum;
2 – Planalto e suavemente inclinado com Tanacetum; 3 – Planalto e encostas
suavemente inclinado, com gramíneas plumas; 4 – Áreas planas de campos
Zmesvkovo em combinação com gramíneas plumas; 5 – Pinheiro e Tanacetum;
6 – Lagos temporários e pântanos, ambos salinos com estepe halófita; 7 –
Estepe serial e complexa, brejo e arbustos lenhosos em vale. Fácies físico-
geográficas Baikal-Dzhugdzhur; 8 – Florestas de bétula com relva em
encostas declivosas. F) Fácies físico-geográficas no Geoma de Onon-Argun
Pelas concepções fornecidas sobre áreas elementares (fácie físico-geográfica),

critérios para delimitação e agrupamento das diversas categorias espaciais (superior e
inferior) e por esse conjunto de análise hierarquica, é possível realizar a taxonomia de
Geossistemas. Assim, são elaborados, simultaneamente, pelo princípio de duas fileiras:
os geômeros, caracterizados pela homogeneidade; e os geócoros, pela heterogeneidade.
Nesse caso, os últimos, apesar de as diferenças predominarem, apresentam alguns
aspectos incomuns entre sistemas espaciais, como: clima, solo, biota, morfologia do
relevo etc. Ambas as séries de classificação são independentes, mas, ao mesmo tempo,
em ligações nodais, são interdependentes (conexões mútuas).
Considerando a organização hierárquica, segundo Sochava (1978), é possível
delimitar o Geossistema em três níveis principais (Figura 30 A): nível planetário
(envoltura geográfica), nível regional (classes de geomas, regiões físico-geográfi-
cas) e nível local ou topológico (fácies físico-geográficas, classes de fácies, geomas:
microgeócoro, mesogeócoro, topogeócoro, macrogeócoro).
Baseado na experiência russa, Sochava (1974) fornece alguns exemplos referen-
tes ao tamanho espacial dos geossistemas, como a área de fácies físico-geográficas,
que se apresenta de vários hectares a metros quadrados. As ordens dimensionais, deno-
minadas de topológicas (local) para áreas homogêneas, estão presentes em: geomas,
classes de fácies, grupos de fáceis, fácies e fácies elementares, e mostram-se adequadas
para o estudo, em detalhes, das inter-relações dos componentes dos Geossistemas e a
elaboração de dados adequados para modelagens de cenários futuros e mais acertada
tomada de decisões, em termos territoriais e de uso dos recursos naturais.
Em estudos geossistêmicos realizados na Sibéria Oriental (território russo),
mesmo encontrando alguns macrogeócoros, em condições bioclimáticas monótonas
(homogêneas), ocupando perímetro até três vezes maior, foi constatada frequente
ocorrência de áreas com 5-10 mil Km2 para ordem topológica superior, como macro-
geócoro (landschaft). Nos níveis regionais, as províncias podem apresentar amplas
variações, como na Transbaikal, onde ocorrem entre 20 até 100 mil Km2 (MIKHEEV
apud SOCHAVA, 1974). Na ordem planetária, as ocorrências são em dezenas de
milhões de Km2, como no nível de subcontinente, na Ásia Setentrional, que apre-
senta até 15.400.000 km2, enquanto regiões físico-geográficas apresentam variações
entre 1.500.000-3.000.000.000 km2 (Figura 33). Desse modo, pela espacialidade da
ordem planetária-regional em termos da fileira do geômero, estariam os tipos de meios
naturais, como o cinturão extratropical norte, adequados ao nível de zonas (climá-
ticas, bióticas, geomorfológicas: cadeias orogênicas etc.). Na dimensão regional, as
classes e subclasses de geomas são frequentemente delimitadas em nível de regiões
geográficas, enquanto alguns grupos e subgrupos de geomas (exemplo: conjuntos
montanhosos) podem estar presentes em zona, subzona, província ou grupo de pro-
víncias (Figura 30 A).
Por outro lado, a espessura vertical das ordens dimensionais dos geossistemas
varia em ordem crescente de 0,02-0,05km para fácies físico-geográficas; para macro-
geócoro, varia de 1,5-2,0km; para província, de 3,0-5,0km; e para zonas físico-geográ-
ficas, de 8-16km (SOCHAVA, 1974). As variações de tamanho horizontal e vertical
dos geossistemas estão expressas, na forma de ilustrações, na Figura 33.
98
Figura 33 – A) Dimensões horizontais e verticais dos Geossistemas: a)

Geossistema planetário (região físico-geográfica), b) Geossistema regional
(província), c) Geossistema topológico (macrogeócoro). B) Exemplos ilustrados
das dimensões topológicas horizontais e verticais em vários níveis
Diante dos quesitos expostos, segundo Sochava (1978), a proposta da clas-

sificação em duas fileiras ou bilateral (Figura 30 A) é adequada para atender aos
princípios da teoria do Geossistema (aspecto temporal, dinâmico e espacial), que
expressa a homogeneidade e heterogeneidade dos ambientes naturais, mantendo a
integralidade da natureza, ou seja, ao estabelecer ordens dimensionais de níveis pla-
netário, regional e topológico27 (Figura 30 A-B), o princípio evolutivo é perceptível.
Geossistemas de várias escalas espaço-temporais, desde os maiores e mais
duradouros, como os continentais (ordem planetária), até os menores e altamente
variáveis (ordem topológica), como barras arenosas fluviais, constituem um sistema
de vários táxons, denominado hierarquia de geossistemas. Desse modo, de acordo
27 Topologia: termo utilizado, inicialmente, por topógrafos militares franceses para denotar o ramo que estuda
os elementos, as informações e a natureza das estruturas internas da topografia, assim como as dinâmicas
superficiais dos acidentes geográficos (formas das superfícies terrestres), para que o documento topográfico
forneça o máximo de indicações relativas ao terreno e do relevo, no nível local, adequado à escala de trabalho
do topógrafo (BERTHAUT, 1912). Essa mesma denominação foi adotada, mais tarde, por Sochava (1974,
1978) para designar a ordem dimensional local dos geossistemas: o nível topológico, também denominado
topogeossistema e/ou Geotopologia.
com a teoria dos Geossistemas, estes devem ser estudados não apenas por si mesmo,
mas, necessariamente, como se decompondo-o em elementos estruturais subordi-
nados e, ao mesmo tempo, como parte de uma unidade superior, ou seja, sistemas
aninhados (totalidade).
Um ponto importante a ressaltar na teoria do Geossistema refere-se a sua hie-
rarquia, que não se trata apenas um modelo da organização espacial da envoltura
geográfica; sua essência é mais profunda.
Interpreta-se os sistemas espaciais como uma unidade dialética do espaço-
-tempo na superfície terrestre, em que cada ordem dimensional superior na hierarquia
engloba não apenas espacialmente, mas também histórica e evolutivamente, como
mais antigo em idade em relação às hierarquias inferiores, isto é, a subordinação
hierárquica se desenvolve em um espaço-tempo, estrutural-evolutivo. Por exem-
plo, uma zona físico-geográfica (geócoro) é, geralmente, mais antiga do que suas
organizações espaciais constituintes (macrogeócoro, topogeócoro, microgeócoro),
e, assim, as ordens dimensionais superiores são mais duráveis no tempo do que suas
unidades morfológicas.
Cada ordem dimensional é qualificada por suas próprias leis (dependente esca-
lar), características e conceitos, inerentes apenas aos respectivos níveis dos Geos-
sistemas. Dessa forma, no processo de integração entre geócoros, como geômeros,
surge uma nova qualidade de ordem geográfica, a qual pode gerar estrutura mais
complexa de ordem superior: Regiões físico-geográficas, Províncias, Macrogeócoros
(Figura 30 A); e outras subdivisões do ambiente natural, cada uma das quais com
características qualitativas fundamentalmente novas (o todo é maior que a soma
das partes). Desse modo, estudos das ordens dimensionais devem atendar a cada
nível hierárquico, e refletir as dinâmicas das variáveis de estados, invariantes das
hierarquias, assim como identificar de qual estrutura são provenientes (SOCHAVA,
1974; SOCHAVA, 1980).
Exemplos de fenômenos ambientais de dependente escalar (Figura 30 B) e da
emergência de novas propriedades qualitativas (tópico 1.2: Concepção da Teoria
Geral dos Sistemas e inserção na Geografia) são as dinâmicas hidromórficas de
planícies de inundação no nível topológico (mesogeócoro), também denominado de
topogeossistema. Nesse caso ilustrativo, a dinâmica de processos biótico, pedoge-
nético, e geomorfológico apresenta relações locais intrínsecas à saturação por água,
devido a hidrodinâmica subsuperficial, superficial e fluvial (inundação, barramento
de fluxo etc.). Não associadas exclusivamente à zona climática, a qual, por sua vez,
não se repete no nível superior (ordem planetária), como a ordem da região físico-
-geográfica, essa escala apresenta características mais associadas a zonas climáticas
e extensas regiões geomorfológicas (rochas, estrutura geológica).
Assim, têm-se outros exemplos de cunho topológico, como microclima,
ambientes de montanhas elevadas, que variam de acordo com a altitude (azonali-
dade), ou formas de relevo residual como o Monte Roraima ou a Tepuy (apresenta
ambiente úmido e frio, restrição nutricional e biota endêmica), que podem não
100
corresponder às condições ambientais do entorno (quente, seco com conjunto vegetal

tipo savânico: Gran Sabana) (Figura 34).
Figura 34 – Distintas inter-relações de componentes ambientais entre elevadas

feições residuais de relevo, como o Monte Roraima (2.810m) e o entorno
rabaixado (1.050m), denominado de Gran Sabana. A) Feições residuais de relevo
(Tepuy) e a Gran Sabana. A1) Gran Sabana: região com temperatura média de
20-22°C, índice pluviométrico médio de 1.500 mm e predomínio de gramíneas.
A2) Monte Roraima: região com temperatura média de 10-2°C, índice
pluviométrico de 2.000-4.000mm e alta ocorrência de endemismo (Heliamphora
nutans, Orectanthe sceptrum, Schefflera rugosum, Bonnetia roraimae)
Nas pesquisas, compreender os conceitos da dimensão e da hierarquia dos

geossistemas de Sochava (1978) é muito importante, pois permite o uso racional da
análise quantitativa e a construção de modelos em seu estudo. Dada a dimensão, o
geógrafo pode analisar, com maior precisão, as características estruturais e dinâmicas
do ambiente natural: tanto suas subdivisões globais como as unidades elementares
(fácie físico-geográfica), como no principal ambiente onde o homem (indivíduo)
atua e desenvolve suas atividades socioeconômicas, e interage com componentes
topológicos do Geossistema, no caso, o Macrogeócoro e o Geoma.
Nesse sentido, ainda, há que se entender: como se distingue a homogeneidade
e a heterogeneidade nos Geossistemas? Em primeiro lugar, é necessário fazer a
análise das causas e dos fatores de diferenciação entre inter-relações espaciais e
construir, baseado nessa análise, a série estrutural, ou estrutural-dinâmica de fácies
físico-geográficas (KRAUKLIS, 1969 apud SOCHAVA, 1974). Norteado por esse

princípio, procura demonstrar alguns exemplos sugestivos (perceptivos do autor da
obra) e de estudos em estações experimentais russas, a fim de clarificar o entendi-
mento sobre tais diferenças e similaridades em sistemas espaciais. O geômero já
citado caracteriza-se por estruturas e dinâmicas semelhantes, que podem refletir em
cobertura vegetal, regime hidrotérmico, relevo e tipos de solo (sistemas pedológicos)
semelhantes; o oposto ocorre no geócoro em que de único a variados elementos ou
inter-relações são distintos.
A homogeneidade no geômero em nível topológico pode ser identificada, por
exemplo, no oeste de São Paulo, em embasamento do Grupo Bauru (município de
Teodoro Sampaio), com a presença de feição residual de relevo classificado como
inselberg (JUSTUS, 1985), esculturado em arenitos de silicificação hidrotermal
(FERNANDES, 1993), denominado de Morro do Diabo (Figura 35 A). Nessa feição
de relevo (cota máxima 559,50m), há ocorrência de encostas íngremes, onde solos/
colúvios são pouco espessos, classificados como Neossolo Litólicos (OLIVEIRA
et al., 1999). Por outro lado, não apresenta heterogeneidade expressa pela ocupação
predominante por Floresta Estacional Semidecidual (Figura 35 A1), com algumas
espécies de cerradão e xerófilas (FARIA, 2006), isto é, processos são similares na
dinâmica e transformação da energia e matéria, que ocorrem por todo inselberg (áreas
homogêneas), e que podem ser classificados, seguindo os princípios de Sochava
(1978), como grupos de fácies, isto é, um geômero (homogeneidade).
Situação oposta ocorre em outro inselberg (JUSTUS, 1985) da proximidade,
localizado no Noroeste do Paraná, com feição residual de relevo também esculturado
em arenito de silicificação hidrotermal, contudo do Grupo Caiuá (FERNANDES,
1993; MARTIN, 2017), denominado Três Morrinhos com cota altimétrica máxima
de 640m (Figura 35 B). Nesse inselberg, as encostas apresentam declives acentua-
dos (até 63%), relacionados à alta coesão da rocha, e de acordo com Santos (1987)
ocasiona variabilidade de espessura dos solos/colúvios – Neossolo Regolítico e
afloramento de rochas e fragmentos na forma de matacões (Figura 35 B1). A essas
mudanças, a vegetação responde na forma de modificações da fisionomia e do tipo
de formação vegetal, de Floresta Estacional Semidecidual do entorno do inselberg
(colinas amplas) transiciona para predomínio de indivíduos de savana e savana-es-
tépica (Figura 35 B2), nas partes íngremes das encostas e de solos rasos dos Três
Morrinhos (BEIER et al., 2019). Tais mudanças fisionômicas podem ser classificadas
como um microgeócoro (geócoro: heterogeneidade), ou seja, fácies heterogêneas
que formam uma organização espacial. Contudo, apesar de a diferenciação predo-
minar nos solos, retenção de água e formas das encostas apresentam um elo comum
entre as fácies, que é o clima. Desse modo, o referido microgeócoro é, portanto,
resultado de diferentes tipos de transformação/dinâmica de energia e matéria, que
mudam as inter-relações entre componentes (Figura 35 C), bem como, associado
com a temporalidade, pode ser herança da ocorrência de ambientes pretéritos secos
do Quaternário, sendo esse microgeócoro um provável reduto fitogeográfico (BEIER
et al., 2019).
102
Figura 35 – Exemplos de Geômero e Geócoro. A) Geômero: Morro do

Diabo, composto por fácies homogêneas. Em que o inselberg é ocupado
predominantemente por espécies da Floresta Estacional Semidecidual (A1):
Cedrela fissilis, Aspidosperma polyneuron, Balfourodendron riedelianum. B)
Geócoro: Três Morrinhos compostos por fácies heterogêneas. Apresenta
encostas íngremes e solos rasos/afloramento de rocha (B1) e composição
florística predominante de savana-estépica (B2): Anadenanthera peregrina,
Anacardium humile, Terminalia sp, Vochysia tucanorum, Praecereus euchlorus.
C) Representação das inter-relações entre os componentes do geossistema
A situação distinta de classificação em grupo de fácies (homogeneidade) para

o Morro do Diabo e de microgeócoro (heterogeneidade) para os Três Morrinhos,
em mesma zonalidade climática e altitudes semelhantes, pode estar relacionada às
diferenças morfológicas entre os inselbergs. No Morro do Diabo, por exemplo, a
área de ocorrência da silicificação é maior (comprimento: 2km; largura: 2,1km),
sua forma é mais arredondada e as encostas apresentam maior extensão que os Três
Morrinhos (comprimento: 2,7km; largura: 0,7km). Assim, esses fatores conjugados
podem ter ocasionado maior retenção de água, o que estabelece um limiar propício
para ocupação predominante de toda a feição de relevo por Floresta Estacional
Semidecidual (sistema homogêneo). Por outro lado, o inselberg Três Morrinhos é
alongado e estreito nos seus topos, fator que pode resultar em stress hídrico ao longo
dos anos e ocasionar as diferenças vegetacionais, formando um mosaico de sistemas
espaciais heterogêneos, que gradam de um para outro (floresta → savana-estépica).
Exemplo também de sistemas espaciais heterogêneos (geócoros) são os geossis-

temas de Inselbergs, da região de Itatim-BA, porção do território brasileiro (aproxi-
madamente 1000km2), em condições climáticas semiárido (600mm anuais e 6 meses
de seca), com cobertura vegetal nativa de caatinga, alterada, atualmente, com pre-
sença de pasto artificial. Embasamentos ígneos de charnockito com intrusões ígneas
(granito, granito-tonalito, sienito) esculturam, constitui-se na maior concentração de
inselbergs do Brasil (Figura 36 A-C), de especial beleza cênica (LIMA et al., 2009;
2015). Esses monumentos geomorfológicos/geológicos apresentam duas principais
distinções de condições ambientais e que as inter-relações se diferenciam. O primeiro
ambiente, que ocorre em terrenos de baixa declividade do entorno dos inselbergs,
apresenta profundidade de solo e acumulação de água suficiente para ser propício à
colonização por espécies arbóreas, esparsas no presente, como: Syagrus coronata
Arecaceae, Spodias tuberosa (Figura 36 B1).
Por sua vez, em inselbergs (caatinga de lajedos), as condições ambientais se
modificam para físico-químicas extremas, como: temperaturas e insolação mais
elevadas, solo pouco espesso, declives de encostas acentuados, desfavorecendo a
retenção de água, e baixa disponibilidade de nutrientes (PHILLPS, 1982; FRANÇA,
1997; POREMBSKI, 2007). Tais aspectos geram condições climáticas e edáficas que
destoam das caatingas do entorno, em morfologia plana. Dessa forma, inselbergs
apresentam inter-relações e transformação de energia e matéria distintas do outro
setor e que resulta em mosaico florístico diverso (FRANÇA, 1997), com presença
de mata semidecídua, de solo arenoso, com acumulação de húmus (Figura 36 B2)
na base da face norte do inselberg, designado Morro da Toca. No mesmo setor, em
encostas mais íngremes (<45°), a vegetação torna-se arbustiva, com árvores espaça-
das; e, nas encostas acima de 45°, transfigura para arbustiva baixa e solo raso/rocha
exposta, com presença de exemplares, como: Encholirium spectabile Bromeliaceae,
Melocactus cactaceae, bromeliaceae aechmea lingulata (Figura 36 B3).
Observa-se, portanto, no referido caso, que diferenças entre transformações/
dinâmicas de energia e matéria entre inselberg e setores planos do relevo, constroem
relações sistêmicas de superfícies espaciais diversificadas, em áreas elementares
heterogêneas (mata semidecídua, arbustivo, arbustivo baixo), que compõem fácies
físico-geográficas diversas, as quais, associadas, formam: o microgeócoro, quando
analisado o inselberg unitário (km2); o mesogeócoro, quando considerado o conjunto
de inselbergs do entorno (alguns km2); e topogeócoro e mesogeócoro a área de
ocorrência dos inselbergs rodeados por morfologias planas da áreas de ocorrência
desses monumentos geomorfológico, que podem apresentar perímetro de 1000km2
(LIMA et al., 2015).
O modelo, apenas sugestivo, de sistemas espaciais heterogêneos da região de
Itatim aparenta similaridade em outras áreas do nordeste brasileiro, onde predominam
ambientes secos/quentes (semiárido), com presença de feições residuais esculturadas
em embasamento cristalino (CAVALCANTI et al., 2016, 2017).
104
Figura 36 – Exemplos de geócoros em áreas de ocorrência de inselberg,

no semiárido baiano. A) Exemplo de topogeócoro (Km2). B) Microgeócoro
representado por um inselberg. B1) Fácies do entorno do inselberg com
presença de indivíduos vegatais: Syagrus coronata, Arecaceae, Spodias
tuberosa. B2) Áreas elementares diversificadas em encostas sob inselberg,
de pouca presença de solo, constante superfície de rocha exposta e mudança
na composição florística, comparado ao entorno: Encholirium spectabile,
Melocactus cactaceae, Bromeliaceae aechmea lingulata. C) Ilustração de
mudanças das inter-relações entre microgeócoros de inselberg e áreas planas
Situação idêntica, mas em território russo, será exemplificada por um estudo

de monitoramento em fácies físico-geográficas, via estação geográfica, conforme
a proposição de Sochava (1978). Assim, o estudo analisa os resultados de 15 anos
(1961-1974) de monitoramento das dinâmicas ambientais ocorrentes nas estepes de
Onon-Argun (SYNTKO, 1976), na estação geográfica de Krasnoyarsky, próximo
à cidade de Kharanor (Figura 32 D-E).
Ao longo do intervalo desse tempo, foram acompanhados itens, como:
microclima, balanço de calor, produção de biomassa, processos geomorfológicos
e hidrológicos, regime de umidade nas encostas, indicadores geoquímicos, micro-
biológicos, além de serem realizadas observações geobotânicas. A partir da análise
e do entendimento a respeito do funcionamento e da organização dos geossistemas
no tempo, na área delimitada, alcançaram-se as seguintes conclusões:
– De ano para ano, os estados de fácies físico-geográficas se modificaram,

permanecendo a propriedade das invariantes. Esse fato tornou possível a noção de
modificações espaciais dos geossistemas elementares nas áreas experimentais da
estepe Onon-Argun, assim como das transformações temporais.
– Em termos da duração do monitoramento, o principal fato não são os regimes
naturais anuais, mas as ritmicidades dos ciclos, como da atividade solar decadal, que
causa variações hidrotérmicas em seu pico e em outras mudanças na dinâmica das
inter-relações (intensidade e quantidade). Assim, não é o resultado das observações
de um, dois, três anos que se deve levar em consideração nos cálculos práticos, em
particular, para fins de prognósticos dos geossistemas.
– A média para precipitação foi de 274mm/ano, exceto para o ano anormal-
mente úmido de 411mm/ano (1962) e o extremamente seco, com 157mm/ano
(1957). Já a média de radiação acumulada anual de calor foi 1.790°C, e o ano de
1967 foi o mais quente, quando foi registrado 2.000°C, e o mais frio foi 1962,
com 1.620°C. Tais flutuações (calor e umidificação) permitiram identificar que,
na área, ocorrem ciclos de 2–3 anos, sendo essa determinação de periodicidade de
suma importância para o uso dos geossistemas e as previsões de armazenamento
para a pecuária, em anos mais frios, pois a produtividade de biomassa nas estepes
de Onon-Argun é dependente, principalmente, quanto aos fatores temperatura (ar
e solo) e umidade do solo (precipitação).
– Ao longo dos 15 anos de observação, a biomassa da região mudou de 1,5
a 3 vezes, dependendo do grau de otimização das condições ambientais em fácies
individuais. Tais diferenças mostraram-se cíclicas e determinadas pelo regime
hidrotérmico do ano e, principalmente, pela composição de espécies da parte sub-
terrânea da fitocenose, que oculta espécies com diferentes tonalidades de vege-
tações xerofítica e mesofílica, as quais realizam brotação aérea apenas em anos
favoráveis para elas.
– Na questão geoquímica, os dados temporais demonstraram variabilidade
dos teores de cálcio e magnésio nas mesmas fácies físico-geográficas (Figura 37).
Tal dinâmica dos elementos químicos relaciona-se à dependência, principalmente
a mudanças nas condições hidroclimáticas.
– O estudo dos regimes naturais das estepes do norte da Ásia Central permitiu
entender a estrutura e a dinâmica da esfera dos geossistemas elementares (não por
completo) e, por sua vez, os regionais (estepes de Onon-Argun), em particular,
para previsões de tendências futuras das organizações espaciais e para explicação
científica dos padrões geográficos nas estepes analisadas. Assim, a solução das
questões de prognósticos possibilitará a mudança da gestão de geossistemas ele-
mentares, e permitirá determinar as medidas de intervenção humana no processo
produtivo das estepes, ou seja, otimizar e utilizar a fitomassa vegetal, sem perturbar
a estrutura do geossistema, e desenvolver medidas de impacto, direcionadas para
obter a quantidade necessária de fitomassa, independentemente das condições
meteorológicas do ano.
106
Figura 37 – Modelo espaço-temporal da mobilidade do cálcio e magnésio

ao longo do polígono do transecto, na estação geográfica de Krasnoyarsky
(Topocronoisopletas de cálcio na camada de solo em 1 metro, kg/ha)
Os exemplos citados até o momento permitem que se tenha uma noção de que
o Geossistema delimita-se, principalmente, pela distinção de fitocenoses, que é uma
questão muito recorrente nos estudos de distintição tipológica de Geossistemas,
principalmente os elementares. Contudo, não se pode “viciar” nessa lógica, assim
como não há que se basear, exclusivamente, na fisionomia para tipologia das orga-
nizações espaciais28. Diante essa atenção, é necessário enfoque na transformação
de energia e matéria (totalidade), que é o princípio para distinção dos geossistemas
de Sochava (1975, 1978).
Posto isso, passa-se a expor um exemplo, cujos sistemas espaciais não apre-
sentam conjuntos vegetais.
No deserto do Atacama (América do Sul), especificamente no entorno da
cidade San Pedro do Atacama (Chile), é possível observar distintas inter-relações
espaciais de transformações entre energia e matéria em Geossistemas. O exemplo
dessas diferenças espaciais terá como base o Salar do Atacama e as cordilheiras
do entorno, compostos por cones vulcânicos, como exemplo de heterogeneidade
(Figura 38 A); e por áreas de campos de dunas, como áreas de homogeneidade em
Geossistemas.
28 Para aprofundamento das questões intrínsecas aos fatores “preponderantes” e “subordinados” nas complexas
estruturações dos geossistemas, recomenda-se a leitura: Solntsev, Nikolay Adolfovich. Sobre a relação entre
a natureza “viva” e a “inanimada” // Vestnik Moscou. un-isso. Série Geografia, n. 6, p. 10-17, 1960.
O Salar do Atacama (3000km2 de área, sendo 100km de largura e 62km

de comprimento) localiza-se a uma altitude de 2.350m acima do nível do mar e
pertence ao deserto do Atacama. A leste do salar está o planalto de Puna, onde se
localiza parte do arco vulcânico do Mioceno Superior, com cume de vulcões (rochas
ígneas ácidas), que apresentam até 5.916m de altitude (Gianessi et al., 2017).
Nas duas unidades morfológicas, as precipitações são próximas a 20mm/ano
– hiperárido (SÁNCHEZ; MORALES, 1990). Contudo, as dinâmicas de transfor-
mação da matéria (água) destoam, sendo que, no salar, as temperaturas são mais
elevadas, atingindo até 22°graus (Houston e Hartley, 2003), o que propicia a eva-
poração da água e a formação de evaporitos. Nas montanhas de altas elevações
(>4500m), as temperaturas podem variar de 5 – -40°C, com predominância, ao
longo do ano, de temperaturas abaixo de zero (RUDOLPH, 1955; GIOVANELLI
et al., 2001; CABROL et al., 2007), o que faz com que a água precipitada se apre-
sente na forma sólida (gelo), não formando concentração de sais minerais, como
no salar. Esses exemplos compõem distintas áreas de transformação de energia
e matéria (evaporação e congelamento da água), constituindo sistemas espaciais
heterogêneos (Figura 38 B), ou seja, geócoros, que podem ser categorizados, hie-
rarquicamente, como macrogeócoro considerando o tamanho desses Geossistemas:
o Salar (3000km2) e o Planalto Puna (588Km2).
Outro exemplo, também próximo a San Pedro do Atacama, são os campos de
dunas no Valle de la Luna (Figura 38 C), onde ocorrem setores com predominância
de agentes eólicos que estruturam toda a dinâmica das transformações de energia
e matéria. Nesse caso, as inter-relações são similares, constituindo, portanto, áreas
homogêneas, ou seja, um gêomero que, utilizando o critério tamanho (1,5-9Km2),
pode ser hierarquizado como fácies físico-geográficas (conjuntos).
Desse modo, o uso de sistemas espaciais sob ambiente árido e com ausência
de vegetação é um exemplo de que a classificação da homogeneidade e hetero-
geneidade dos Geossistemas precisa ser baseada nas diferenças ou similaridades
das transformações da energia e matéria na organização espacial. Nesse caso a
fisionomia dos Geossistemas é um componente importante, contudo prima-se pela
identificação das convergências ou divergências das inter-relações e de seus agru-
pamentos, e não em recorrer exclusivamente a tendências subjetivas-empíricas.
108
Figura 38 – Geossistemas heterogêneos e homogêneos em ambiente árido,

próximos à cidade de San Pedro do Atacama. A) Dois geócoros compostos
por distintas transformações da matéria, uma, referente à intensa
evaporação da água e formação de salar, e outra, à retenção da água na
forma sólida, em picos elevados de montanhas. B) Diferenças entre inter-
relações dos geócoros, sala e cumes montanhosos. C) Área homogênea com
predominância do agente eólico, e estruturação de campos de dunas
A partir da exposição de exemplos de Geossistemas e aplicações, principalmente

do território russo, demonstra-se que a análise detalhada das organizações espaciais
(nível topológico) permite a resolução de muitos problemas regionais, como nos
estudos russos realizados por pesquisas experimentais, via estações geográficas de
monitoramento em fácies físico-geográficas (SOCHAVA, 1974). Desse modo, o
conhecimento da dinâmica e da estrutura dos Geossistemas propicia tanto a indivi-
dualização de áreas elementares como o exame das inter-relações, permitindo que
a abstração do pesquisador faça relação com a realidade material, fornecendo uma
estrutura de amostragem e capacidade para extrapolar os resultados sobre determi-
nadas áreas de inter-relações similares. Tal operacionalização do sistema espacial,
executada pelos pesquisadores russos (SOCHAVA, 1964, BACHURIN; NECHAEVA,
1975, KRAUKLIS, 1975, SNYTKO, 1976, entre outros), para o estudo de organização
espacial da superfície terrestre, atende ao sugerido por Chorley e Kennedy (1971)
como uma das maneiras de analisar a complexidade do “mundo real”.
No território brasileiro, o estudo topológico dos Geossistemas pode ser de
grande valia para a gestão das diversas regiões do país, principalmente no que tange
à conservação de recursos naturais, seja em aspecto econômico, ecológico ou em
locais de belezas cênicas. Exemplo que permite o conhecimento necessário das fácieis
físico-geográficas na gestão territorial é demonstrado por Santos (2020), para o caso
de veredas (biogeocenose), que constituem áreas de exsudação do lençol freático
(nascentes), demonstrando a diferenciação entre veredas (nove tipos), não cons-
tituindo uma categoria única, pois cada qual apresenta estágio, clímax e posições
geomorfológica distintas (classificação fitogeomorfológica).
Dessa forma, para alcançar a estabilidade máxima dos tipos de veredas (sistemas
espaciais), são necessários conhecimentos a respeito das dinâmicas de transforma-
ções de energia e matéria. Para esse caso, a delimitação, a classificação tipológica e
o monitoramento das fácies físico-geográficas, via interpretação geossistêmica, são
adequados para proposições de melhor manejo e proteção dessas áreas úmidas. Tal
constatação apresentada por Santos (2000) já fora indicada por Sochava (1961), res-
saltando que sistemas espaciais regionais não são monoclímax, ao contrário, apresen-
tam variados clímax a depender das inter-relações ou, no caso, da fitogeomorfologia
(padrões diversos – mosaico de sistemas espaciais).
Outro caso de estudo envolve a Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio
Pandeiros, criada pela Lei nº 11.901, de 01/09/1995 (IEF, 2008). Nessa APA, ocorre
a degradação de veredas por influência antrópica (queimadas, cultivo agrícola, dre-
nagens), e que acarreta a diminuição de água até o desaparecimento, afetando o
berçário de reprodução da ictiofauna (70% da piracema do médio São Francisco)
no pântano de Pandeiros, único do estado de Minas Gerais (NUNES et al., 2009).
Assim, diante do “desaparecimento” de algumas veredas na bacia do Peruaçu, Neves
et al. (2015) analisaram a origem do sistema de água subterrânea que mantém essas
áreas úmidas, constatando que os fluxos de exsudação são provenientes de sistemas
de aquíferos suspensos, em níveis subsuperficiais mais argilosos. Portanto, esses
aquíferos necessitam de maior atenção quanto ao uso do solo, para a manutenção
das reservas de água e, consequentemente, a manutenção das veredas.
Atualmente, outra abordagem em vias de execução para a restauração das áreas
úmidas remete aos experimentos de revegetação com espécies nativas dessa região
ecotonal na APA do Pandeiro (FAGUNDES et al., 2018). Desse modo, associando
estudos sobre melhores modos de revegetação de nativas em veredas e o conhecimento
acerca da dinâmica hidrogeomorfológica de exsudação de água por aquíferos suspen-
sos, esta é a melhor forma para atingir o restabelecimento das funções ecológicas desses
sistemas espaciais. Diante dessa necessidade de gerenciamento do todo (vereda), a
abordagem geossistêmica torna-se ideal para esse escopo, visto que, se a recuperação
focar, exclusivamente, na revegetação, sem o restabelecimento da infiltração e da
recarga dos aquíferos suspensos, a manutenção e a estabilidade das veredas não se
sustentarão a longo prazo, pois são fatores interpendentes (água-planta). Isso demons-
tra a importância do estudo da estrutura e da dinâmica de fácies-físico-geográficas, e
mostra que, posteriormente, é possível a extrapolação da política de gestão de água e
de funções ecológicas a para APA das bacias hidrográficas dos rios Pandeiro e Peruaçu.
Outra potencial aplicação para abordagem geossistêmica em território brasi-
leiro é a proposição de melhores modos de preservação e uso de sítios geológicos/
geomorfológicos de belezas cênicas do Brasil, como sistematizado e apresentados
110
por Vieira, Salgado e Santos (2015). Muitos dos Geossistemas de beleza cênica apre-
sentam relações frágeis e suscetíveis a alterações, necessitando de planos de uso e
manejo (principalmente o turístico) por se localizarem em parques nacionais e APAs.
Um exemplo entre conflito e preservação de sítio geológico/geomorfológico são os
inselbergs de Itatim/BA, utilizados por moradores (baixa renda) como fonte de produ-
ção de brita e paralelepípedos, para complemento de renda (LIMA et al., 2009). Essa
questão representa um problema, exigindo resolução por meio de políticas públicas
ambientais e socioeconômicas a cargo do município e do governo do estado da Bahia.
Desse modo, destaca-se a importância de abordagens com foco em restaurações
de funções ecológicas, com vistas a: planos de manejos de reservas biológicas (Áreas
de Preservação Ambiental, Reserva Particular do Patrimônio Natural); recuperação de
áreas degradadas por mineração, erosão, desertificação (Lei nº 6.938, de 31/08/1981);
produção de recursos naturais, como projeto produtor de águas no Brasil (Agência
Nacional de Água); ações de âmbito internacional, como crédito de carbono (Protocolo
de Quioto, 1997, Acordo de Paris, 2015); entre vários outros casos de uso territorial que
demandam a abordagem da relação sociedade↔natureza (foco temático da Geografia).
Com esse entendimento, através do enfoque geossistêmico proposto por Sochava
(1978) busca-se responder questões concernentes a problemas relacionados à escassez
de recursos naturais e à gestão territorial, objetivando o desenvolvimento sustentável
das sociedades (BRUNDTLAND, 1987). Diante, especialmente, da demanda no
século XXI, a abordagem hierárquica e a interpretação sistêmica das organizações
espaciais permitem uma melhor gestão do território como um todo (esferas federal,
estadual e municipal), em diversas escalas ambientais e político-territoriais, deman-
dando compreensão dimensional, desde as inter-relações das unidades básicas do
espaço geográfico (fácies físico-geográficas) até as zonais (regionais, continentais e
planetária), e não apenas como uma simples soma de elementos.
Para finalizar este tópico, serão recapituladas as ideias principais aqui apresenta-
dos: conceito, ordens dimensionais de homogeneidade e heterogeneidade dos Geossis-
temas, e aplicação dos princípios de classificação por fileiras. No primeiro momento,
foi apresentado o conceito de Geossistema, definido como um todo (independen-
temente da ordem dimensional), hierarquicamente organizado em sistema aberto
e constituído por componentes inter-relacionados da natureza (SOCHAVA, 1974).
Na definição do geossistema é importante observar a questão do tamanho das
organizações espaciais, em que a unidadade mínima do ambiente natural é denomi-
nada de fácie físico-geográfica, a qual, por si só, é independente (tem funcionamento
próprio) e indivisível como um sistema (SOCHAVA, 1974). Ao mesmo tempo, porém,
as fácies físico-geográficas são parte de um conjunto hierárquico maior (Figura 39),
os Geossistemas de ordem topológica superior (geoma, macrogeócoro), regional
(províncias) e, por fim, a planetária (zonas e regiões físico-geográficas). Portanto,
deve-se ter em vista que cada sistema espacial se torna um subsistema na interpretação
de fenômenos espaciais, em diferentes níveis de abordagens (dependente escalar),
convergente com os princípios do expansionismo no paradigma sistêmico (tópico 1.2:
Concepção da Teoria Geral dos Sistemas e inserção na Geografia). Essa característica
dimensional é expressa:
No processo de integração das estruturas primárias, surgem novas essências qua-

litativas, em que as estruturas de segunda ordem por diante não podem ser consi-
deradas uma simples soma das estruturas de fácies físico-geográficas (SOCHAVA,
1980, p. 11, tradução e grifo do autor desta obra).
Nesse âmbito, os fenômenos espaço-temporais são de dependência escalar, e

ocorrem em determinadas áreas da superfície terrestre, mas não obrigatoriamente
reproduzirão em áreas maiores, pertencendo a condições locais e vice-versa. Um
exemplo ocorre no rio Nilo, onde o ambiente úmido criado em suas margens de
inundação (regional) não reflete as condições árida do deserto do Saara (continental).
Figura 39 – A) Exemplo de hierarquia de sistemas: nacional, regional e

local. Cada nível é independente e, em conjunto, formam um todo maior
de rede de comunicação (network), interligados e funcionando de forma
síncrona, de acordo com o objetivo estipulado ao sistema: funcionamento.
B) Ilustração da hierarquia de Geossistema, análoga à figura A
Em resumo deste segundo tópico é constituído por exemplos da identificação de

áreas homogêneas (geômeros) e heterogêneas (geócoros), baseados em interpretação
das mudanças nas transformações da energia, matéria e inter-relação, com intuito de
materalizar os conceitos expostos e reforçar o entendimento da aplicação de estudos
russos em nível topológico e de monitoramento (Geossistemas elementares). No
Brasil, a aplicação da proposta de Sochava (1978) apresenta resultados iniciais pro-
missores, nos quais se constatou, na região do Nordeste, o potencial de adequabilidade
112
à abordagem multiescalar dos Geossistemas em relação a outras propostas adotadas

para mapear sistemas espaciais (CAVALCANTI, 2016). Em ordem dimensional
topológica, também apresentou êxito, como o caso dos Geossistemas elementares
presentes no parque do Ibitipoca – MG (OLIVEIRA, 2016), na bacia do ribeirão
Marmelo – MG (Oliveira, 2019), e o primeiro estudo geossistêmico brasileiro de
estrutura e dinâmica temporal em curto prazo (1 ano), na Serra de Santana, semiárido
pernambucano (CAVALCANTI, 2019).
Concluindo, no desenvolvimento deste tópico, demonstra-se a importância do
estabelecimento (padronização) de uma estrutura hierárquica classificatória universal de
organizações espaciais, considerado de suma importância nas ciências geográficas para
evitar o uso do termo paisagem por não apresentar objetividade clara (polissemia), vol-
tada para aplicações a demandas territoriais. Assim, o Geossistema, como um conceito
e método proposto por Sochava (1978), torna-se uma solução aos estudos sistêmico da
totalidade, e permite a padronização de uma “linguagem” comum entre os geógrafos.
A padronização é essencial tanto à ciência como para órgãos de gestão
governamental. Uma linguagem única já ocorre em outros ramos científicos para
sistemas de classificações taxonômicas, como o Código Internacional de Nomeclatura
Botânica, pelo qual qualquer indivíduo do planeta com capacitação técnico-científica
em identificação vegetal pode compreender a categorização dos táxons expostos, não
importando o idioma nativo. O World Reference Base for Soil Resources (WRB) para
solos é outro exemplo de padronização da linguagem, permitindo a classificação de
solos do mundo sob um único sistema, expresso no idioma inglês.
A importância da padronização também é exemplificada na área da doutrina
militar, como o definido pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN),
que apresenta 30 países membros e 28 idiomas oficiais até o ano de 2021. Nessa
organização, desenvolveu-se um sistema único de terminologia militar (North Atlantic
Treaty Organization Standard), que engloba procedimentos burocráticos, padrões
de blindagens, armamentos e munições, no intuito de melhorar a comunicação e a
organização entre os países quanto a manobras militares coordenadas entre dezenas
de nações distintas.
Outra razão que nesta obra se destaca, incentivando a padronização dos estudos
geográficos da classificação hierárquica do Geossistema via Sochava (ao menos as
próximas à ciência da natureza), é a tradução do russo para português do livro “Teo-
ria dos Geossistemas”, de 1978, pela coordenação dos pesquisadores José Manuel
Mateo Rodrigues (in memoriam) e Edison Vicente da Silva junto a Universidade
Federal do Ceará.
Essa iniciativa constitui um marco para Geografia brasileira, que dará acesso
aos conceitos e método do Geossistema em detalhe, e permitirá ao público brasi-
leiro a interpretação, modos de interpretação de Sochava, e da escola de geografia
siberiana para estudos das organizações espaciais e gestão do território. Anterior à
referida transliteração, já havia sido feita uma introdução ao conhecimento, no Brasil,
da obra geossistêmica russa, pela tradução dos artigos de Sochava (1977, 1978) do
Congresso Internacional de Geografia, por Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro
(in memoriam), na época professor de Geografia da Universidade de São Paulo.
Ordenação de leitura sugestiva para Geossistema russo

SNYTKO, Valerian Afanasevich; SOBISEVICH, Alexey Vladimirovich. Scientific
path of Viktor Borisovich Sochava and his contributions for landscape analysis.
Revista do Instituto Geológico, v. 41, n. 3, p. 1-7, 2020.
BRAZ, Adalto Moreira; OLIVEIRA, Ivanilton José; CAVALCANTI, Lucas Costa

de Souza. A paisagem na Escola Russo-Soviética de Geografia e os princípios ao
surgimento do geossistema: uma breve revisão. In: XII Jornada de Geografia, Jataí,
v. 1, p. 14-28, 2019.
ISACHENKO, Anatole Grigorievich. Principles of Landscape Science and Phys-

ical-Geographic Regionalization. Melbourne University Press, 1973. 311p.
SOCHAVA, Viktor Borisovich. O estudo dos Geossistemas. 16 – Métodos em Ques-

tão, 1977.
SOCHAVA, Viktor Borisovich. Por uma teoria de classificação dos Geossistemas

da vida terrestre. 13 – Biogeografia, 1978.
SOCHAVA, Viktor Borisovich. O legado de Sochava: Volume 1 – a teoria dos

geossistemas na visão de Viktor Borisovich Sochava. Versão traduzida e comentada
por José Manuel Mateo Rodriguez e Edison Vicente da Silva. Fortaleza: UFC, 2019.
SOCHAVA, Viktor Borisovich. Introdução à teoria dos geossistemas. Novosibirsk:

Nauka, 1978. 319p.
DYAKONOV, Kirill Nikolaevich; KASIMOV, Nicolay; KHOROSHEV, Alexander;

KUSHLIN, Andrey (ed.). Landscape analysis for sustainable development: theory
and applications of landscape science in Russia. Alex Publishers, 2007. 318p.
KHOROSHEV, Alexander Vladimirovich; DYAKONOV, Kirill Nikolaevich (ed.).

Landscape Patterns in a Range of Spatio-Temporal Scales. Springer, 2020. 439p.
RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; SILVA, Edison Vicente; AGOSTINHO Paula

Brito. Geoecologia das paisagens: uma visão geossistêmica da análise ambiental.
Fortaleza: Editora UFC, 2004. 222p.
2.2 Geossistema: estudos de ordem topológica

Nesta seção o assunto tratado se concentra na apresentação dos meios de análise
dos Geossistemas, especificamente os de ordem topológica, via monitoramento para
caracterização do comportamento do ambiente natural e as conexões existentes entre
114
sistemas espaciais, considerando que, na seção anterior, tratou-se somente do conceito

de Geossistema e dos princípios para distinção de áreas homogêneas (geômero) e
heterogênea (geócoro), sem referência aos meios de análise.
Os estudos dos Geossistemas locais ou elementares (ordem topológica) são
designados por Sochava (1974) como geotopologia. A geotopologia é uma seção da
teoria dos geossistemas, que trata das categorizações hierárquicas do ambiente natural,
formadas dentro dos geossistemas regionais, os quais, por sua vez, representam uma
categoria de dimensão do geossistema planetário (zonas físico-geográficas, séries de
meio do meio ambiente natural).
Nesse sentido, a geotopologia é responsável pelo desenvolvimento de classi-
ficações de geossistemas (tipologia) de ordem dimensional topológica, pelo estudo
dos princípios de integração de geômeros em geócoros (agrupamento e conexões),
via estabelecimento de limites entre sistemas adjacentes, não por componentes indi-
viduais, mas levando em consideração a organização sistêmica (Figura 40 I-III).
Nessa perspectiva a superfície terrestre como um todo e suas regiões foram, são e
serão objeto da ciência geográfica. Contudo, no atual estágio de desenvolvimento
da geografia, muitos dos importantes problemas teóricos regionais só podem ser
resolvidos se existir conhecimento sobre nível topológico (fácies físico-geográficas),
baseado em rigorosa pesquisa experimental.
Para a análise geotopológica, Sochava (1970, 1974) propõe um conjunto de
método próprio para interpretação dos geossistemas, principalmente, os elementares.
Tal conjunto de procedimentos, desenvolvido a partir das estações geográficas do
Instituto de Geografia da Sibéria e do Extremo Oriente foi proposto por Sochava
(1967), e denominado de Método da Ordenação Complexa (MOC). O MOC permite
observações síncrona dos mesmos objetos, por diferentes especialistas em estações de
monitoramento (Figura 40 I-III), onde são mensuradas as transformações da energia
e matéria em diversas formas (balanço de calor, produção de biomassa, processos
geomorfológicos e hidrológicos, ciclos vegetativos etc.).
Assim, o estudo por estações geográficas via MOC permite que o sistema espa-
cial seja investigado em campo, como um todo (organização sistêmica), e propicia
identificar as inter-relações, interdependências dos componentes do ambiente natural
(objetivo principal do MOC) e também o entendimento da estrutura e da dinâmica
(fluxo de energia e matéria) da maioria das subdivisões fracionárias do ambiente
natural, ou seja, fácies físico-geográficas (ISACHENKO, 1991), sendo essa a escala
de ação do homem nas organizações espaciais.
O MOC, portanto, permite sistematizar e quantificar a conexão entre seus com-
ponentes (totalidade), tornando possível criar bases reais para a descrição matemática
das leis naturais e para o uso efetivo dos conceitos da Teoria Geral dos Sistemas.
O êxito nessa abordagem é determinado por estudos precisos em bases de campo e
estações geográficas de monitoramento, onde problemas de geotopologia experimental
podem ser resolvidos (SOCHAVA, 1974).
Para que se implemente o MOC, é necessária a abordagem, em detalhe, das
fácies físico-geográficas (geócoros e geômeros) em transectos poligonais (Figura 40
I), que abrange diversas fácies físico-geográficas em 1-3Km de comprimento, sendo
a largura determinada de acordo com o sistema espacial, contudo, de forma que os

limites naturais das fácies físico-geográficas sejam incluídos.
Figura 40 – Transecto poligonal das Taigas meridional de Priirtyshie.

I – Polígono com curvas de nível e postos de monitoramento (estações
geográficas); II – Perfil físico-geográfico; III – Perfil topológico
da série conjugada de fácies físico-geográficas (conexões)
116
Pela determinação de polígonos e transectos abordados, são realizadas observa-

ções sistemáticas, e mapeamento de fácies em diferentes estados dinâmicos (Figura
40 I-III). Desse modo, são elaborados mapas morfográfico, geobotânico e de fácies
físico-geográficas do polígono, em escalas não menores que 1:5000cm, e em planos
de transectos em 1:1000-2000cm. Nos estudos que necessite maior detalhamento de
determinados processos ou fenômenos, esses estudos são realizados em escalas de
1:300-500cm (SOCHAVA, 1974).
Estudos em detalhes (grande escala) são primordiais para a compreensão das
leis geotopológicas, principalmente, em Geossistemas que não apresentam pesqui-
sas prévias nessa ordem dimensional. Quando caracterizadas ou já conhecidas as
inter-relações, estruturas e variáveis de estado das fácies, essas são mapeadas29 em
escalas de 1:5000-10000cm (SOCHAVA, 1974).
Para a análise geotopológica ser representativa, as fácies físico-geográficas e as
biogeocenoses presentes não podem apresentar menos de 60-70 postos de monitora-
mento30 no transecto, e devem ser mensuradas as variáveis ambientais em simultâneo.
Assim, tendo em conta a laboriosidade do trabalho em cada ponto (grande número),
principalmente porque as observações são realizadas em cada posto com uma certa
frequência, não é necessário um transecto muito longo, intersectando de 20-25 fácies
(SOCHAVA, 1978).
Nos postos de monitoramento (estações), são realizadas mensurações sobre:
absorção de radiação; regime térmico; umidade do ar e do solo; série de indica-
dores do regime do solo; atividade microbiana e a manifestação de sua atividade
vital; fenologia de organismos; características estruturais de fitocenoses; biomassa
de plantas; complexo de observações zooecológicas; metabolismo e geoquímica da
biogeocenose, entre outras. Ressalta-se que essas operações listadas não esgotam
as observações possíveis, visto que podem ser ampliadas ou reduzidas, conforme
necessário (SOCHAVA, 1974).
Desse modo, o MOC fornece um meio para se identificar as características
de combinações naturais como sistemas que mudam no espaço-tempo, em que o
monitoramento síncrono permite abordagem do sistema espacial como um todo, e
as correlações, regressão-variância permitem estabelecer relações entre fenômenos
estudados e fatores que os influenciam. Também é possível, pelo MOC, determinar
as transições, no espaço, de uma fácie físico-geográfica para outra, bem como deli-
mitar limites difusos-abruptos que os separam ou a presença de um continuum, e o
mecanismo de formação de ambos. Tal concepção aproxima-se da compreensão do
ambiente natural como um sistema no sentido cibernético (ASHBY, 1970).
29 No século XXI, com a disponibilidade de ampla gama de sensores orbitais (óticos e de radar) e aéreos (aviões
e veículo remotamente pilotados: drones), a possiblidade de mapeamentos multiescalar foi pontencializada
para esse tipo de análise, em diversas ordens dimensionais (planetário, regional e topológica).
30 O número de estações de monitoramento é determinado, principalmente, pelas variações no transecto (fácie
físico-geográfica). Por outro lado, deve atender a um mínimo determinado, no qual seja possível utilizar os
métodos da estatística, com confiabilidade no processamento dos dados (SOCHAVA, 1974).
A vista da concepção do MOC para estudos da geotopologia (Sochava, 1970,

1974, 1978), adiante serão apresentadas pesquisas estacionárias, desenvolvidas pelo
Instituto de Geografia da Sibéria e do Extremo Oriente (hoje Instituto Viktor Boriso-
vich Sochava de Geografia da Sibéria), nas ecorregiões das estepes de Onon-Argun
e nas taigas da Sibéria Ocidental (bacia hidrográfica do rio Ob). Nesta exposição,
pretende-se demonstrar, em detalhes, os resultados, os modos de análise e a inter-
pretação do MOC para Geossistemas de ordem topológica.
Os primeiros estudos geográficos estacionários remontam a G. N. Vysotsky,
que realizou monitoramento entre 1892-1904, em Veliko-Anadol – Ucrânia (50km
a sudoeste da cidade de Donetsk), resultando em 12 anos de monitoramento. Aplica-
ções semelhantes também foram realizados por outros autores, para caracterização
de fitocenoses, como por Vladimir Sukachev entre 1914-1915; Viktor Sochava, em
1926, na estação Knyazhedvorsky, região de Novgorod sob orientação de Sukachev
(VOROB’EV, 2001); e a estação experimental de Tellerman em floresta (região de
Voronezh), do Instituto Dzhanibekov (SYNTKO, 1976).
Já estações de monitoramento geográficas do Instituto de Geografia da Sibéria
e Extremo Oriente apresentam durações longevoas (1958-1980) em diversas ecor-
regiões da Sibéria, em especial estepes e taigas (SNYTKO, 1978), totalizando seis
estações geográficas (Figura 41):
1° Estação de Krasnoyarsky (organizada em 1958), na estepe de Onon-Argun,
especialmente nas fácies mais características, são estudados geossistemas típicos da
Ásia Central:
2° Estação Chunoyarskiy (organizada em 1963), abordaram os geossistemas
da taiga do sul da Sibéria Central.
3° Estação Nizhneirtyshsky (estabelecida em 1965), o objeto principal da pes-
quisa são os geossistemas da taiga do sul da Sibéria Ocidental.
4° Estação Tugrsky (organizada em 1966), focos dos estudos são os geossis-
temas da taiga central.
5° Estação Novonikolaevsky localizada na Sibéria do Sul (criada em 1970),
operou segundo um amplo programa, com foco em estepes russas.
6° Estações do complexo florestal Lensky (sopé do Sayan Ocidental, Sibé-
ria do Sul).
Desde o final da década de 60, o MOC tem sido utilizado como principal técnica
metodológica nessas referidas estações geográficas de monitoramento, fazendo pres-
supor observações de campo em polígonos e transectos das organizações espaciais
elementares, isto é, fácies físico-geográficas (SNYTKO, 1978).
118
Figura 41 – Rede de estações geográficas para monitoramento

do Instituto de Geografia da Sibéria e Extremo Oriente do
Ramo Siberiano da Academia de Ciências da URSS
O primeiro estudo realizado pelo Instituto de Geografia da Sibéria e Extremo

Oriente foi divulgado na forma de livro, sob o título: Alkuchanskiy Govin31: Experiên-
cia de estudo estacionário da paisagem de estepe (Onon-Argun), editado por Sochava
e Frish (1964). Nesse estudo, múltiplas investigações físico-geográficas foram con-
duzidas na referida estepe (1958-1961), no intuito de caracterizar a ritmicidade das
variadas tipologias de fácies físico-geográficas e a elucidação de suas estruturas e
dinâmicas. Essa caracterização é necessária para que sejam percebidas as regularida-
des que geram os processos e ciclos naturais, e para, a partir delas, prever como e quais
modificações afetarão as relações sistêmicas do ambiente geográfico (SOCHAVA;
FRISH, 1964), pré-requisito do desenvolvimento sustentável (ONU, 1987).
As estepes de Onon-Argun ocorrem em área de 50.000km2 (300km O-E e 150km
N-S), e estão localizadas na região de Chita (Figura 42 A-B), ocorrente na bacia do rio
Amur e são únicas em termos naturais do território da União das Repúblicas Socialista
31 Alkuchanskiy Govin, em mongol, significa “steppe the great passage” (Bazhenova, Plyusnin e Snytko, 2014).
Soviéticas (atual Rússia). Essa é uma região físico-geográfica, denominada de altas

planícies de Dauria (650-1150m), com presença de montanhas de baixa amplitude
altimétrica, separada por depressões (superfície nivelada) e vales profundos do rio
Argun. Rios principais que ocorrem na área analisada são: Argun, Onon e Borzya.
As características ambientais gerais dessas estepes são assim constituídas: o
clima de Onon-Argun é subártico, classificado como Dwc (Köppen), a precipitação
(257mm/ano) é irregular, conforme demonstrado pelas estações de Borzya (1960):
6mm de janeiro-março; 30mm de abril-maio, 194mm para junho-agosto; 29mm para
setembro-dezembro. As temperaturas variam de -30°C em janeiro, a 24°C em agosto.
Devido a quantidade de precipitação junto à média de umidade e evapotranspiração
ambos anual, as etepes de Onon-Argun são classificadas em zonas áridas de baixo
balanço da radiação anual (29. kcal/cm2).
As estepes de Onon-Argun (Figura 42 B) são compostas por juncos (família do
Carex) e gramíneas (poacea), que formam estepes stipas, estepes de ervas e estepes
de sapal, e, em vales e lagos salinos, predominam plantas halófitas (Salicornia euro-
paea, Suaeda corniculata, Limonium aureum, Nitraria sibirica, Artemisia adamsii, A,
halodendron). As florestas são formadas por bétula negra asiática (Bétula Dahurica),
pinheiro silvestre (Pinus Sylvestris), olmo chinês (Ulmus parvifolia) e larício siberiano
(Larix sibirica). Essa estepe está localizada em superfícies niveladas e ocupa áreas
que refletem a influência da zonalidade latitudinal. Ao mesmo tempo, pela variação
vertical (Nerchinsk, Klinchka, Argun), ocorrem mudanças de fácies físico-geográfica
em encostas, contudo sem ampla ocorrência.
Distintas variações da umidade relativa do solo refletem na fisionomia das
estepes e na relação solo-planta, como grupo vegetal xerófilo sob solo castanho em
depressões, e, no Chernozem meridional, apresenta vegetação mesófila sob encostas.
Já em outros casos, como em fácies físico-geográfica em encostas com rochosidade
dominante (FAO, 2006), ocorrem estepes de montanha, embora tal variação não seja
resultado da zonalidade vertical, mas de efeitos litológicos e geomorfológicos locais.
Desse modo, as estepes de Onon-Argun resultam de ambientes montanhosos de baixa
elevação e de planícies, constituindo uma série fatorial-dinâmica.
120
Figura 42 – Área do estudo das estepes em Onon-Argun. A) Ecorregiões da

Rússia. A1) Detalhe das ecorregiões da região de Chita. B) Área de ocorrência
das estepes de Onon-Argun. C) Compartimento e subcompartimentos de
Onon-Argun e localização da área, foco para monitoramento (Alkuchanskiy
Govin). D) Carta topográfica e imagem do banco de dados do software
Google Earth, da área de ocorrência da depressão de Alkuchanskiy Govin
No intuito de fornecer meios para compreensão referente à fisionomia que estrutura

os Geossistemas nas estepes de Onon-Argun (Geomas), entende-se necessário apresen-
tar as características gerais dos compartimentos fisionômicos (Quadro 5), e a descri-
ção da área, em específico, onde foram realizadas as pesquisas estacionárias via MOC
(polígonos).
Quadro 5 – Geômeros das estepes de Onon-Argun

Sochava e Frish (1964)
Fileira de
Geômero
Compartimentos
6 – Soktui: – Klichka
Regiões 1 – Kharanor
– Zona de Argun
2 – Nerchinski
Geoma Onon-Argur Depressão de Urulyungi
– Kharanor 3 – Torei
– Sistema de depressão de Klichka
– Soktui 4 – Argun
– Depressão de Vostochnyl-Urulyungi
5 – Onon (planície fluvial)
1 – Colinas com estepe Tanacetum-Stipa, com
considerável participação de Forbs mesófila
2 – Colinas com Tanacetum
3 – Vales tectônicos com estepes halófitas Colinas locais, intermediário
4 – Planície aluvial lacustre com estepes halófitas entre a planície de
5 – Hollow tectônico-erosional com salgueiro Torei e montanhas de
(wellow stand) e vegetação hidrófila Soktui (700-950m)
6 – Depressões intermontanas com vales e rio
contemporâneos e vegetação higrófila
7 – Estepe em encostas montanhosas (zonalidade altitudinal)
1 – Tanacetum em cimeira (summit)
2 – Aneurolepidium pseudoagropyrum
Ordem topológica
3 – Tanacetum de encosta voltado para o norte

4 – Meadow (vegetação halófitas), bottom de hollow
1 – Encostas voltadas para o sul com Stipas.
2 – Encostas superiores com Stipa-Festuca.
3 – Encostas superiores com Festuca– Tanacetum vulgare. Depressão de Alkuchanskiy Govin
4 – Encostas com Aneurolepidium pseudoagropyrum.
5 – Cimeiras com Chamaerhodos-Festuca.
6 – Zonas apicais com Aneurolepidium pseudoagropyrum.
7 – Ravinas com Aneurolepidium pseudoagropyrum, distinto dos
vales secos da depressão com estepe halófita.
8 – Vales da depressão com complexo de Iris ensata-Aneurolepidium pseudoagropyrum.
9 – Vales da depressão com complexo de Iris ensata.
10 – Sopés de terraços com complexo de Lasiagrostis splendens.
11 – Meadow hollow.
1 – Encostas voltadas para o sul com estepe Stipa, presença de Calcic Chernozem e constante
stress hídrico (umedecimento e dessecação, principalmente nos horizontes superficiais (0-50cm).
Fonte: Sochava e Frish, 1964. Adapatação: Fumiya, 2021.
A similaridade fisionômica das organizações espaciais de Onon-Argun é atraleda à

tênue atividade tectônica recente, na região, com dominância das condições ambientais
para formação de estepes xerófilas (estepes stipa) e a corpos hídricos intermitentes em
depressões. Assim, foram delimitados dois compartimentos principais, denominados de
Khananor e Soktui (Figura 42 C; Quadro 5). O primeiro, o compartimento de Khananor,
é predominado por colinas e localiza-se entre as planícies do rio Torei, as montanhas
de baixa elevação (até 1150m) de Soktui, as planícies de denudação das montanhas
122
Adun-Chelon e as faixas de Nerchinsk e Klichka, que são divididas pelas depressões de

Turga-Kharanor, contíguas com o vale do baixo Borzya (FRISH, 1964).
O segundo, o compartimento de Soktui, inclui a área de Klichka, as faixas de mon-
tanhas Argun e os sistemas de depressões tectônicas de Alkuchanskiy Govin – Hollows
de Umykei – Sukhoi Urulyungui, todos tectonicamente pertencentes ao Platô Priargunsk.
Esses dois compartimentos fisionômicos, presentes em Onon-Argun, são compostos
por diversas fácies físico-geográficas, agrupadas em Geomas, classes, e grupo de fácies.
Em termos gerais, são ordenados em cinco principais agrupamentos: 1 – Cimeira com
Chamaerhodos-Festuca (eluvial); 2 – Encostas a planícies com Tanacetum; 3 – Sopé
em planícies com processo de salinização (Solonetz), ocupado por Aneurolepidium; 4
– Depressões salinas com Galeopsis; 5 – Solonchak em bordas de lagos salinos, com
estepes halófitas (Salicornia europaea, Suaeda corniculata, Limonium aureum, Nitraria
sibirica, Artemisia adamsii, A, halodendron).
Em relação à área da pesquisa estacionária nas estepes de Onon-Argun, destaca-se
que está localizada no compartimento de Soktui, em sistema de depressões da zona de
Klichka e Argun, em específico, a depressão intermontana fechada, denominada de Alku-
chanskiy Govin (Figura 42 C-D), formada entes do Cenozóico. Apresenta 235km2 (25km
de comprimento e 3-9km de largura), com altitude entre 764m e 730m (BUZLUKOVA
et al., 1964).
No interior da depressão ocorre sucessão, da base para o topo do depósito sedi-
mentar, em ordem cronológica crescente, de: arenito do Cretáceo Superior e depósitos
aluvial-lacustres arenoso e areia cascalhenta do Neógeno-Quaternário, que, juntos, variam
de 25-55m de espessura. As formas de relevo sob os depósitos sedimentares mencionados
consistem de planícies, que ocupa 121km2; planícies de piedmont, que apresentam 83km2,
e afloramentos rochosos de 1,5km de diâmetro e 100m de altura, os quais constituem as
colinas coniformes (mole hill) (Figura 43 A).
Pelo levantamento das unidades morfológicas e reconhecimento de solos, foram
delineados quatros principais compartimentos da depressão de Alkuchanskiy Govin:
1 – Vales secos da depressão com estepe halófita; 2 – Estepes em afloramento rochoso
(colinas); 3 – Planícies-Lacustres com lagos salinos, na depressão; e 4 – Planícies-Lacus-
tres com lagos de água doce (nível razoável), abastecidos por fontes e rios temporários,
na depressão.
Na relação solo-planta, foi realizado mapa de associação entre o grau de clímax e
a uniformidade da cobertura entre os dois elementos abordados, na escala de 1:10000
(Figura 43 B). A partir dessa abordagem, foram caracterizados cinco grandes grupos:
1) Stipa, 2) Tanacetum, 3) Festuca, 4) Aneurolepidium pseudopyrum, 5) complexo haló-
filo e mesófilo. Essa relação solo-planta possibilitou algumas constatações: em solonets
castanhos, ocorre dominância do Aneurolepidium pseudoagropyrum e, secundariamente,
Galeopsis, dominantes nos vales da depressão de Alkuchanskiy Govin; sob encostas
rochosas das colinas cônicas ocorre o Aneurolepidium, e em encostas voltada para o sul,
estão presentes as stipas; formações de tanacetum e chamaerhodos-festuca estão pre-
sentes em pequenas áreas de afloramentos rochosos, e sob solos parcialmente salinizado
ocorrem Aneurolepidium stand.
A partir do levantamento morfológico do terreno, solos-geobotânicos e expedições
de campo foram correlacionados, para gerar o mapa de delineamento de fácies físico-
-geográficas, sendo identificados 11 tipos (Figura 43 C).
Figura 43 – Mapa: A) Morfologia do terreno. B) Relação solo-

geobotânica. C) Compilação das classes de fácies físico-geográficas,
no polígono de estudo estacionário na depressão de Alkuchanskiy
Govin. Adaptação: Fumiya, 2021. Meadow* constituem estepes
halófitas, com variantes de Iris ensata e, mais raramente, Lasiagrostis
splendens em bordas de lagos salinos e vales em depressões
A – Morfologia do terreno B – Relação solo-geobotânica C – Fácies físico-geográficas

1 – Afloramentos de rocha por 1 – Forb-Aneurolepidium-Stipa sob Chernozem. 1 – Encostas voltadas para o sul com Stipas.
denudação.
Estepe Stipa
2 – Denudação por piedmonts 2 – Aneurolepidium-Stipa do sul (variantes degradada e alta presença de Artemisia frigida e 2 – Encostas superiores com Stipa-Festuca.
de cimeiras. Cleistogenes squarrosa), sob Chernozem moderadamente profundo.
3 – Denudação das partes das 3 – Aneurolepidium-Stipa do sul (com variada degradação e enriquecido com Festuca), sob 3 – Encostas superiores com Festuca-
encostas superiores. Chernozem raso. Tanacetum vulgare.
4 – Denudação média: parte 4 – Encostas com Aneurolepidium
4 – Tanacetum vulgare (com participação de Festuca), em Chernozem moderadamente profundo.
acumulativa das encostas. pseudoagropyrum.
5 – Parte acumulativa das partes 5 – Festuca (com presença de Aneurolepidium e Stipa), sob Chernozem raso. 5 – Cimeiras com Chamaerhodos-Festuca.
inferiores das encostas.
6 – Erosão das bases da 6 – Zonas apicais com Aneurolepidium
Estepe Festuca
6 – Tanacetum vulgare-Stipa, Festuca em montanha sob Chernozem pouco desenvolvido.

encostas (zona acumulativa). pseudoagropyrum.
7 – Ravinas com Aneurolepidium
7 – Planície aluvial formada pela 7 – Festuca (com presença de Chamaerhodos e Tanacetum vulgare), sob solos pouco incipientes: pseudoagropyrum, distinto dos vales secos
deposição de rios temporários. fragmentário (associação de séries). da depressão com estepe halófita.
8 – Vales da depressão com complexo
8 – Planície aluvial formada pela 8 – Chamaerhodos sob “solos primários” (associação de série). de Iris ensata-Aneurolepidium
erosão de antigos depósitos. pseudoagropyrum.
9 – Antigas planícies aluviais 9 – Aneurolepidium do sul (com presença de Stipa e Trigonella ruthenica), sob Chernozem raso 9 – Vales da depressão com complexo
afetadas por rios temporários. fracamente solonetizado. de Iris ensata.
10 – Leque aluvial de declive 10 – Stipa-Aneurolepidium do sul (com alta presença de Festuca, Cleistogenes squarrosa, e 10 – Sopés de terraços com complexo de
fluvial temporário. Caragana), sob Chernozem solonetizado moderamente profundo. Lasiagrostis splendens.
Estepe Aneurolepidium
11 – Leque aluvial redepositado 11 – Stipa-Aneurolepidium do sul (variada degradação com alta presença de Cleistogenes squarrosa), 11 – Meadow* hollow.
por rios dos vales da depressão. sob Chernozem raso solonetizado.
12 – Leito do rio atual nos vales 12 – Stipa-Aneurolepidium do sul (com presença de Cannabis e Lathyrus), sob Chernozem fortemente
da depressão. solonetizado.
12a – Antigo leito de rio.
13 – Hummocks de acumulação. 13 – Aneurolepidium (com presença de Stipa), sob solos castanhos escuro fracamente solonetizado.
13a – Dolinas em depósitos de 14 – Aneurolepidium sob solos castanhos fracamente solonetizados e aglomerados de Aneurolepidium
vales acumulativos da depressão. (com presença de Lathyrus) em meadow* com Chernozem solonetizado e Solonchak.
14 – Leito dos declives dos rios 15 – Aneurolepidium (com grande presença de forbs), em meadow com Chernozem (associação de
temporários. séries).
15 – Vales isolados (dells). 16 – Aglomerado de Aneurolepidium em montanhas sob Chernozem com cascalhos de carbonato.
17 – Cannabis (com presença de gramíneas halófita e Aneurolepidium) em meadow com Chernozem
16 – Colinas cônicas (mole hills).
Aglomerados meso e
solonetizado e Solonchak.
17 – Blocos eluviais 18 – Aneurolepidium (com presença de Cannabis) em meadow com moderado Solonets e
halófita
desintegrados de afloramentos. aglomerados de Lathyrus em meadow de Solonchak desenvolvido.

19 – Aneurolepidium (com presença de Cannabis e gramíneas halófitas) em Solonchak-Solonets
desenvolvido.
20 – Bromus (com presença de Cannabis e Aneurolepidium) em meadow de Solenets pouco
desenvolvido.
Fonte: Buzlukova e Gorshkova; Chichagov; Frish, 1964. Adaptação: Fumiya, 2021.

124
As fácies 1-10 são consideradas de mesma idade de origem (posterior à última

glaciação), considerando que a estrutura sob depósitos argilosos de loess (60-
100cm) foi depositada provavelmente, no Holoceno. Tais fácies físico-geográficas
estão sob a dominância do processo de formação de Solonchak e Solonetz, indicando
que as condições atuais são mais úmidas que a anterior, no Holoceno Superior.
Em termos de dinâmica, as fáceis mais estáveis são as III e II, enquanto as fácies
físico-geográficas I, IV-X são consideradas intermediária.
A fácie físico–geográfica XI (meadow em hollow) é a de maior dinamicidade
(transformações espaciais) e a mais recente em temporalidade, correspondendo ao
Holoceno Superior (considera-se o grau de evolução dos solos). A origem dessa
fácie físico-geográfica (XI) remete ao retorno da ocorrência de água nos hollow e
consequente reestabelecimento de drenagem temporária. Diante desse cenário estru-
tural dinâmico dos Geossistemas de Onon-Argun, é necessário que se dê atenção
aos paleoambientes mais áridos ao longo do Quaternário que o atual, visto que tais
condições pretéritas muito influenciaram na organização, estrutura e distribuição
das atuais fácies físico-geográficas (KOLYAGO apud BUZLUKOVA et al., 1964).
Pela determinação, pelo delineamento e pelas caracterizações das fácies físi-
co-geográficas, estudos foram realizados, via monitoramento, por estações geográ-
ficas, no intuito de compreender a ritmicidade de certos fenômenos naturais, que
determinam a estrutura e a dinâmica das típicas estepes de Onun-Argun, como:
umidade do solo, fenologia da flora, e dinâmica e capacidade de produção das
estepes, para o delineamento de modos de ocupação futura desse território.
Desse modo, entre 1958-1960, nas fácies físico-geográficas mais típicas de
Alkuchunian Govin, foram realizados os monitoramentos, totalizando três abor-
dagens: uma das encostas voltadas para o sul com estepe stipa (fácie 1), outra das
encostas superiores voltadas para o norte com festuca-tanacetum (fácie 3), e, por
fim, dos vales da depressão, ocupada pelo complexo de Iris ensata-Aneurolipidium
pseudoagropyrum.
Desses estudos, neste livro, serão apresentados os resultados do monitora-
mento da fácie 1. A seleção dessa fácie físico-geográfica deu-se por se constituir,
ela, o enfoque principal para a compreensão dos fenômenos sazonais que estruturam
e dinamizam as estepes stipa, mais ocorrentes em Onon-Argun (Geoma) e que
expressam as características máximas da zonalidade (clímax).
A variação da umidade do solo atrela-se ao período de maior precipitação,
entre maio-setembro (até 153mm), em que a umidade do solo, a evaporação e a
evapotranspiração são dinâmicas devido a altas temperaturas (até 24°C). Nessa
dinâmica, os horizontes superficiais (0-50cm) são os mais afetados pelo processo
umedecimento-dessecação (precipitação-evaporação), o qual, por sua vez, afeta a
zona da rizosfera das estepes stipas e o crescimento das raízes, principalmente nos
primeiros 20cm (Figura 44).
Entre outubro e abril, a temperatura baixa até 30°C, as precipitações diminuem
para menos de 20mm/mês, e o crescimento das stipas cessa, contudo, a umidade
do solo, principalmente em profundidade (acima de 100cm), mantêm-se constante
devido a solidificação da água (Figura 44).
Figura 44 – A) Dinâmica de umidade entre os anos de 1958-1960, sob

Calcic Chernozem moderadamente profundo, com quantidade média
de húmus, argiloso e desenvolvido de loess argiloso. B) Ciclo fenológico
das estepes stipas entre 1958-1960. B1) Variação do número de floração
de espécie na estepe stipa durante a estação de verão. B2) Gráfico de
floração de vários grupos de plantas com brotos de folhas e botões
florais, na estepe stipa: 1) Grupo de plantas com botões florais e órgãos
reprodutores totalmente formados desde o outono; 2) Grupo de plantas
com botões e brotos total ou parcialmente formados durante o verão
Tais ritmicidades climáticas na fácie 1 resultam em diferentes teores de umi-

dade do solo, ao longo do ano, e determinam as características das estepes xerófilas
generalizadas, de Onon-Argun e da referida fácie, como a diferença de umidade
entre estepes festuca-tanacetum das encostas voltadas para o norte, que apresentam
48,8% (fácie 3) em junho, e nas estepes stipas voltadas para o sul, 26,5% (fácie 1).
A dinâmica fenológica das estepes stipas (Figura 44 B; B1-B2) acompanha as
mudanças de temperatura e de precipitação, no início do mês de maio (primavera)
com aumento da temperatura e a umidade do solo, quando inicia o estágio de bro-
tação e floração de botões (Carex duriscula, Potentilla acauslis-verticillaris-leu-
cophylla, Sibbaldianthe adpressa, Amblynotus obovatus, Pulsatilla turczaninovii,
126
e Thlaspi cochlearariforme, Iris tigrida). Nessa etapa, há muita cobertura morta

sobre o solo, inibindo o aquecimento e retardando o início do crescimento vegetal.
Além disso, há fraca sinusia (temperatura de superfície exposta foi de 32°C; do solo
coberto, foi 18°C; em 10cm de profundidade, foi 12°C e 8°C respectivamente). Em
meados de maio, ocorrem a Stipa baicalensis, Cleitogeneses squarrosa, Astragalus
tenuis, Convolvulus ammanii, Aster biennis, Cymbaria dahurica e Trigonella ruthe-
nica. E, concluindo, no final de maio, a estepe stipa adquire a tonalidade verde em
meio a, ainda presente, cobertura morta.
A partir de meados de junho até julho (verão), ocorre o período de floresci-
mento em toda estepe da Transbaikal, inclusive de Onon-Argun, como da Caragana
microphylla, Euphorbia karoi, Thymys serpyllum e Leontopodium leontopidioides.
Nas stipas, a espécie preponderante na estepe analisada, atinge o estado máximo
de crescimento (50cm-100cm) em julho até a primeira quinzena de agosto, e a
floração prolonga-se até setembro. Assim, com a ocorrência da stipa, os campos
adquirem cor verde reluzente.
No início do outono (meados de agosto-setembro), após o estágio reprodutivo,
inicia-se a morte das plantas, coincidente com a diminuição das precipitações e da
temperatura que, no inverno, pode chegar a -30°C, a fisionomia da estepe ainda
é dominada pela stipa verde e plantas amarelas, em fase de morte. Na segunda
quinzena, a estepe adquire tonalidades marrom-amareladas, em que perecem as
espécies: Stipa baicalensis, Carex microphylla, Atermisia frigida, e Bupleurum
scorzonerifolium. Na fácie 1, que é representativo do que ocorre em grande parte
da estepe de Onon-Argun, no inverno, cessa o período de produção de biomassa e
encerra o ciclo fenológico da estepe stipa.
Como exposto até o momento, as investigações físico-geográficas de longo
prazo, via estações geográficas de monitoramento, permitem caracterizar a dinâmica
e a ritmicidade de fenômenos naturais da estepe Onon-Argun, permitindo, assim,
definir que esses ocorrem sob um deficit constante de calor e umidade (principal-
mente no período de 20 de maio até meados de julho), e que a fenologia da estepe
stipa (fácie 1) é estritamente limitada em conformidade. A situação é agravada
pelas irregularidades anuais de início das chuvas de verão (em alguns anos iniciam
em junho, em outros, na segunda quinzena de julho), quando as consequências da
seca são irreversíveis (ponto de murcha).
Pela compreensão da ritmicidade do clima, da interação entre solo (umi-
dade do solo) e stipas (fenologia), estabelecem-se pré-requisitos para uma base
de compreensão preliminar da transformação intencional dos Geossistemas, como
determinar o potencial produtivo do território e o delineamento de métodos para
utilização eficiente (uso econômico), que foi o escopo do estudo das estepes de
Onon-Argun e serão expostos a seguir, de acordo com Sochava e Frish, 1964.
Em vista da intricada relação clima-solo-planta, elaboram-se algumas propo-
sições para essas questões: modificação das organizações espaciais complexas das
condições naturais, no que se refere ao regime hídrico dos rios (tópico 1.4.4: Sistema
controlado), como aproveitamento de água potável por barramento de numerosas
nascentes ao longo de fraturas e falhas tectônicas na bacia do rio do Sharasun, que

representa consideráveis reservas locais de umidade, que fluem de Onon-Argun,
sem beneficiá-la, e deságuam em lagos salinos. Outra forma incomum para reser-
var água são os corpos de gelo na bacia do rio Sharasun e em outros lugares, que
acumulam gelo, consideravelmente, após uma série de verões chuvosos.
Outro fator a abordar no regime hídrico dos rios refere-se à contenção da
inundação dos vales dos rios Argun, Onon, curso inferior do rio Borzya, e locais
como Zapadnyi (oeste), Urulyungui-Vostochnyi (leste) e a depressão de Urulyungui.
Tal problemática pode, aparentemente, ser resolvida pela construção de barragens
no curso superior dos rios, criação de sistemas de hidrovias em partes inferiores de
pântano, e drenos dos fundos de depressões. Desse modo, o excesso de água será
retido nos cursos superiores dos rios e direcionado para sistemas hidroviários e,
em casos de deficit de umidade, os reservatórios dos cursos superiores abastecerão
as áreas de fundo das depressões.
Entretanto, a implementação dessas medidas de controle hídrico são comple-
xas por natureza, e devem ser elaboradas, detalhadamente, pois a alteração artificial
do regime de umidade do solo acarreta perigo de salinização progressiva. Nesse
sentido, operações de melhoria hidrotécnica devem estar associadas a um sistema
racional de recuperação de terras irrigadas ou drenadas, ressaltando-se que tais
medidas de modificação da dinâmica natural mencionadas só serão, economica-
mente, justificadas se houver desenvolvimento intensivo da agricultura no fundo
das depressões.
Assim, como o principal ramo da atividade primária no território de Onon-
-Argun é a pecuária extensiva (os animais ficam soltos para se alimentarem das
pastagens), a redução da produtividade da vegetação em um ano seco diminui,
consideravelmente, os recursos forrageiros, que serviria de alimento para o gado.
Desse modo, torna-se necessário, além de medidas de intervenção nos recursos
hídricos superficiais, também o melhoramento da qualidade das forrageiras para
aumentar ainda mais sua capacidade de produção. Nesse quesito, é essencial a
avaliação detalhada dos sistemas espaciais (tipos de fácies), incluindo aspectos
econômicos, que deve ser realizada em vários locais típicos e distintos, a fim de
determinar qual cultivo é mais adequado para as categorias de fácies físico-geo-
gráficas. Para tanto, Sochava e Frish (1964) recomendam as seguintes fácies como
mais adequadas para cultivo: meadow hollow (fácie 11), Aneurolipidium pseudoa-
gropyrum em depressões (fácie 8), stipas em ravinas sob solos não salinos (fácie
1), festuca-stipa (fácie 2), festuca-tanacetum (fácie 3).
Diante do fato de a abordagem geossistêmica requerer amplos campos de
investigação temática (hidrologia, geomorfologia, geobotânica, ciência do solo,
fenômenos de congelamento, climatologia etc.), Sochava e Frish (1964) propõem
que esse tipo de estudo seja realizado por estações geográficas complexas (que
envolvem vários campos de atuação).
Exposto esse exemplo de estudo estacionário em território russo (Onon-Ar-
gur), outro exemplo são estudos apresentados por Bachurin e Nechaeva (1975) e
128
Sochava (1980), na Sibéria Ocidental, em específico em Taigas Sul de planícies

da Bacia hidrográfica do rio Ob (Figura 45). A Sibéria Ocidental apresenta área
de 3.000.000km2, com limite norte-sul pelo mar de Kara e pelas montanhas do
Altai (2.500km), e oeste-leste pelos montes Urais e Planalto Central da Sibéria
(1.900km), sendo essa planície uma das maiores do planeta (GVOZDETSKY;
MIKHAILOV, 1963).
A morfologia do relevo da Sibéria Ocidental, na bacia hidrográfica do rio Ob
apresenta dois compartimentos principais: planícies (siberiana) e áreas montanho-
sas elevadas, que margeiam a bacia (Urais, Altai, terras altas cazaques, planalto
central siberiano). Nas planícies, a amplitude varia de 20-300m, apresenta baixa
declividade (até 4.87%) e terreno predominantemente plano (Figura 45 A-C), onde
ocorrem áreas interfluviais amplas e presença constante de ambientes úmidos, como
pântanos, lagos, planícies aluviais hidromórficas (Gvozdetsky e Mikhailov, 1963).
Características físicas modificam e completam essa morfologia com áreas elevadas
(montanhas), que variam de 300-4361m de altitude, declividade entre 4,87%-124%,
e ocorre predominância de terrenos côncavos e convexos (Figura 45 A-C).
Na planície siberiana, inclusive a bacia do Ob, ambientes variam de gélidos ao
norte e secos ao sul, estando a precipitação entre 200mm-1500mm, e compartimen-
tada em seis zonas biogeográficas (GVOZDETSKY, 1971): tundra, floresta tundra,
estepe florestal, estepe, florestas hemiboreais e florestas de coníferas (taigas). Nessas
áreas, fenômenos zonais latitudinais são um dos mais expressos e demarcados no
planeta, sendo, nesse contexto diverso, de múltiplos sistemas espaciais, que Sochava
(1978, 1980) e Bachurin e Nechaeva (1975) investigaram, via estações geográficas
(nível topológico), as estruturas e as dinâmicas complexas de geômeros em taigas
escuras, em interflúvios amplos (terras altas) e planícies aluviais das bacias do Ob
e Irtysh (Figura 45 D).
O complexo de padrão espacial da taiga sul na Sibéria Ocidental é caracteri-
zado como uma cobertura vegetal, composta por coníferas, alternada por pântanos
em superfície ligeiramente inclinada (interflúvios planos e extensos), de baixa
drenagem de água, em um clima continental subártico (BEININGOF, 1954 apud
SOCHAVA, 1980). Esses fatores ambientais (relevo, clima, hidrologia) inter-rela-
cionados ocasionam o deficit no balanço energético associado à absorção de parte
da radiação solar para aquecimento e evaporação da água acumulada nos relevos
(BACHURIN; NECHAEVA, 1975). Essa dinâmica é um dos principais fatores para
a configuração espacial dos Geossistemas em Taigas meridionais de Priirtyshie,
entre baixo trecho dos rios Ob-Irtysh, foco dos estudos de Geossistemas topoló-
gicos (Figura 45 D1.1).
Figura 45 – Bacia hidrográfica de Ob, na Sibéria Ocidental
Seção físico-geográfica do vale de Irtysh

Hipsometria (m) Vegetação (geral)
Declividade (%)
0 - 300 Tundra, Taiga, Estepe Curvatura Horizontal
0 - 4,87
300 - 690 Taiga, Estepe florestal
Côncavo
690 - 1.000 em montanha 4,87 - 15,6

1.000 - 2.000 15,6 - 32,1 Plano
Estepe e Padro
2.000 - 4.361 Alpino 32,1 - 124,4 Convexo
teoria, perspectivas e meio ambiente
Fonte: SRTM (USGS), resolução 250m Fonte: SRTM (USGS), resolução 250m Fonte: SRTM (USGS), resolução 250m
Ecorregiões na bacia do rio Ob

Tundra e Floresta Tundra
Taiga da Sibéria Ocidental em planície
Floresta hemiboreal
Estepe florestal, Estepe no Altai e colinas cazaque
Estepe em terras altas cazaques
Árido e semiárido Polar Temperado Tropical Bacia Ob
Taiga e Estepe florestal no Altai
Fonte: Bachurin e Nechaeva (1975); Google Earth
Pradaria e Tundra Alpina no Altai
Área semidesértica I - Geologia
Estações de
monitoramento
II - Arbórea
Cidades
Drenagem
Representação aproximada da
seção físico-geográfica do vale irtysh
III - Arbustos
IV - Horizonte de solos
a e
b f
Não hidromórfico Semi-hidromórfico Hidromórfico c g
Grupo de Geoma Geoma
Subgrupo de Geoma Subgrupo de Geoma 6 5 4 2 1 3 7 8 9 d h
Fonte: Krauklis, 1969 apud Sochava (1980). Adaptação: Fumiya, 2021
129
130
A-C) Hipsometria, declividade, formas de encostas em planta. D) Ecorregiões na bacia Ob, e

localização aproximada das estações geográficas de monitoramento de geossistemas. D1) Imagens
do banco de dados Google Earth do vale de Irtysh e representação ilustrativa da seção topográfica
(1’-2’). Perfil físico-geográfico do vale do Irtysh, representativo da estrutura do Geossistema de taiga
escura, analisado na estação de monitoramento Nizhniye-Irtysh “Нижне-Иртышский” para o estudo
de ordem topológica. Legenda: 1 – siltitos; 2 – camadas de areia média a grossa, estratificada; 3 –
finas camadas intercaladas de argila e areia; 4 – camadas argilosas; 5 – horizonte organo-mineral; 6
– areia grossa siltosas; 7 – depósitos de planície de inundação arenoso-argilosos em camadas; 8 –
paleocanal; 9 – turfa; 10 – pinheiro; 11 – abeto; 12 – Abies sibirica; 13 – Pinus sibirica; 14 – troncos
de árvores queimadas; 15 – bétula; 16 – aspen; 17 – salgueiro; 18 – salgueiros arbustivos; 19 –
matagais de viburnum, Sorbus, espinheiro; 20 – vegetação de brejos de planície; 21 – pastagens
e terras em pousio. I – Padrão espacial composto por pântanos florestais em amplos interflúvios
de Tobolsk; II – superfície fortemente dissecada do terceiro terraço do Irtysh (front erosivo) com
típicas taigas escuras nativas e modificações secundárias (desmatamento); III – o fundo do vale
e o leito do Irtysh; IV – margens do canal e depressões da planície de inundação de Irtysh com
florestas de pequenas folhas de coníferas claras e vegetação arbustiva de prados; V – primeiro
terraço acima da planície de inundação do Irtysh, com florestas mistas e pântanos elevados, em
transição com a planície; D2) Fatores que influenciam na estrutura e dinâmica dos geossistemas,
no maciço da floresta de abetos (taiga escura), analisado na estação Priangarsky “Приангарский”.
I. Bloco diagrama do relevo: a) Rególito; b) Siltito e cascalho lamoso; c) Cascalho; d) Embasamento.
II. Cobertura arbórea: a-b) Abeto siberiano (Abies sibirica); c) Cedro siberiano (Pinus sibirica); d)
Lariço siberiano (Larix sibirica); e) Pinheiro comum (Picea abies). Fonte: wikipédia, wikemdia.org;
odavesgarden.com, volnomuvolya.com, goldenoils.co.uk. III – Cobertura arbustiva em taiga: a)
Grama rasa em taiga (Oxalis Acetxello, Linnaca borealis, Maianthemum bifolium); b) Junco (Carex
macroura); c) Amora (Vaccinium vitis-idaea) e Íris (Iris ruthenica); d) Gramínea apta a terrenos
siltosos (Aconitum excelsum; Pulmonaria mollissima, Cirsium heterophyllum Cacalia hastata).
Fonte: Wikimedia.org. IV – Solos: a) Horizonte superficial de acumulação atual de húmus (A0); b-d A
em subsuperfície (A1, A2, A3); e) Horizonte eluvial (E); f) Horizonte iluvial (Bh); g) Rocha alterada (C,
CR); h) Embasamento de cascalho (R). Dinâmica interna e externa: 1 – Setor plano, 2 – Elevações
litomórficas (montanhas), 3 – pouco hidromórfico. 4 – Ligeiramente litomorfizado, 5 – litomórfico,
6 – Muito litormórfico, 7 – pouco hidromórfico, 8 – hidromórficos, 9 – muito hidromórfico.
Para Sochava (1980), a taiga da Sibéria Ocidental como um todo pode ser consi-
derada uma hierarquia de geossistemas interconectados de várias ordens dimensionais,
constituindo um geômero (Quadro 6). Nesse sentido, Bachurin e Nechaeva (1975),
baseados nos princípios de classificação em fileiras, apresentados por Sochava (1974),
estabeleceram distinção entre geossistemas regionais e topológicos (Quadro 6).
Na ordem regional, foram identificados os grupos de Geomas a classes de
fácies (Figura 46):
A – Setor norte do rio Demy’yanka: delimitado por fatores bioclimático limite
meridional de: abetos escuros, cedro siberiano, musgo verde, oxalis, e presença de
Podzol, Gleysol, com horizonte húmico.
d1 – Demyansky-Turtasskaya: abrange áreas altas de Tobolsk (terras altas:
terceiro terraço fluvial do Irtysh) e planícies lacustre-fluviais do Quaternário médio.
d2 – Kondinsky-Tavdinskaya: abrange relevos planos de Kondynskaya, forma-
dos por terraços aluviais pré-Irtysh do Quaternário Médio-Superior.
d3 – Irtyshskaya: ocupa a atual planície aluvial do rio Irtysh.
Quadro 6 – Exemplos de ordens dimensionais de

Geossistema na Taiga Sul, da Sibéria Ocidental
Sochava (1978)
Fileira dos geômeros Nome do geômero
Série e de tipos de Cinturão extratropical setentrional

meio ambiente natural
Tipo de ambiente Taiga

natural
Classe de geoma Planícies Euroasiáticas
Subclasse de geoma Bacia hidrográfica Ob-Irtysh
Grupo de geomas Taiga escura de Ob-Irtysh
Subgrupo de geomas Geoma meridional das Taiga escuras, em Ob-Irtysh
1
Bachurin e Nechaeva (1975)
Compartimento Critérios
Taiga de abeto (Picea abies) em planícies 1. Norte do rio Demy'yanka Bioclimático

Geomas aluviais do rio Irtysh
2. Demyansky-Turtasskaya Geológico/
3. Kondinsko-Tavdinskaya Geomorfológico
4. Irtyshskaya
1. Terras altas: drenado, moderadamente úmido e solos argilosos.

Áreas hidromórficas 2. Terrenos arenosos: drenado, textura arenosa (areia e franco-arenoso).
(vales) e não 3. Encostas sub-hidromórficas: relacionadas a fluxos laterais de água e floresta úmida menos
hidromórficas estáveis que áreas drenadas.
(interflúvios) entre 4. Áreas hidromórficas por inundação: são as mais diversas em estruturas e dinâmicas,
Demansky e Tobolsk ocupadas por pântanos e presentes em todos os compartimentos.
5. Vales hidromórficos: associado ao regime de vazão aluvial.
1. Terras altas: fácies zonais e fácies com tendência à hidromorfia (pântanos em interflúvios –
Interflúvios, terraços, depressões fechadas).
planícies e vales do 2. Terrenos arenosos: fácies quase radicais.
Irtysh 3. Encostas semi-hidromórficas: fácies de talude e vales erosivos.
4. Vales de inundação: fácies hidromórficas.
5. Fáceis de série hidromórficas e a mais instável das taigas escuras.
Vale do Irtysh
Ordem Topológica
1. Fácie em topo de interflúvio Tobolsk, predominando a taiga escura.

50-70m acima
E*, T*
2. Fácie de pântanos em interflúvio (depressões fechadas), presença de

Terras altas
de Tobolsk
do Irtysh
pinheiro-arbusto-sphagnum, junco.
Seção transversal 3. Fácie em feições erosivas no interflúvio, com densa presença de taiga.
físico-geográfica, 4. Fácie de encosta sudeste, colonizada por pinheiro, álamo, bétula e tília.
em arredores de 5. Fácie em encosta noroeste, colonizada por floresta de pinheiro e
Gornoslinkino, no musgo verde.
T*, GU*
vale do Irtysh, em 6. Fácie alterada pela retirada da taiga e colonizada por álamo,
interflúvios amplos madressilva, rosa selvagem, lírio falso do vale, capim pinheiro negro
e planos, encostas (±40 anos de idade).
erosivas e feições 7. Fácie em depressão com presença de pântano, bétula, abetos e
Planície e terraços
agradacionais musgos verde.

8. Fácie em terraço fluvial, presença de pântano elevado com pinheiro
5-9m acima
(terraços e planícies
do Irtysh
do Irtysh
fluviais) anão, arbustos e sphagnum.

9. Fácie em planície de inundação com hidromorfia, cedro, abeto, bétula
e gramíneas adaptadas a ambientes com estagnação de água.
GU, T
10. Fácie em depressões largas (30-50 metros de diâmetro), com

colonização nas bordas por juncos e agrião japonês.
11. Fácie elevada entre depressões, apresenta abeto, musgos, cavalinha
e herbáceas de pequeno porte.
1
Bachurin e Nechaeva: na época, os autores utilizaram designações não
taxonômicas à classificação dos Geosssistemas da taiga sul de Priirtyshie, devido as
informações estarem em etapas de definição. Legenda: P* = Podzols; G* = Gleysol;
GU* = Gleysol com horizonte húmico; SF* = Solo ferruginizado; T = Turfeira. Fonte:
Sochava, 1978 e Bachurin e Nechaeva, 1975. Adaptação: Fumiya, 2021.
132
Na ordem topológica dos geossistemas, foram realizados estudos no geoma de

Kondinsky-Tavtsinskaya (Figura 46 d.1; 1.2), no qual identificaram-se duas catego-
rias de geossistemas (Bachurin e Nechaeva (1975): as Terras Altas de Tobolsk, com
frontes erosivos (vales dissecados), e os ambientes fluviais, correspondendo a terraços
e planícies de inundação do vale Irtysh (Quadro 6). As áreas predominantemente
hidromórficas e não hidromórficas, apresentam sistemas espaciais representativos da
estrutura e dinâmica da taiga sul de Priirtyshie. Assim, foi realizada a análise entre
essas duas unidades morfológicas do relevo a fim de distinguir o funcionamento de
cada área, como descrito a seguir.
Terras Altas de Tobolsk caracterizam-se por estar 50-70m acima do atual canal
de Irtysh, com presença de feições termokarst residuais e pequenas feições morfoló-
gicas por sufusão. Apresenta melhores condições de drenagem da água superficial,
subsuperficial e tem a presença de taiga escura, típica da zonalidade latitudinal asso-
ciada às condições regionais. Os Geossistemas de terras altas e vales dissecados são
caracterizados por quatro conjuntos principais de fácies (Quadro 6):
1 – Fácies de pequenas feições de relevo convexo, em topo de interflúvios
amplo e plano (Terras Altas de Tobolsk), caracterizado por agrupamento de abeto,
cereja-pássaro, samambaia e junco, sob Podzóis humilúvico pouco pronunciado.
2 – Fácies planas de pouca convexidade e feições de relevo pouco pronuncia-
das correspondem às bacias hidrográficas tipo plakor, sob amplos interflúvios, com
presença de abeto, tília, musgos, Oxalis, Linnaeus borealis, Hylocomium. Tais con-
juntos vegetais ocorrem sob Podzóis e Podzóis hidromórficos, ambos humilúvicos
e moderadamente desenvolvidos.
3 – Facies hidromórficas correspondem a feições negativas, ocasionadas por
processos de sufusão e termokarst, sob interflúvio (depressões fechadas), presença
de pinheiro, arbusto, sphagnum, samambaia e junco. Nessas depressões, ocorrem o
acúmulo de matéria orgânica (turfeira) proveniente da estagnação da água, formando
as zonas pantanosas nos topos planos das Terras Altas de Tobolsk (Figura 46 D1).
4 – Fácie erosional (vales dissecados) é comum a ocorrência de formas residuais
esculturadas por sufusão e termokarst em que pequenas sub-bacias de escoamento
as assimilam. Nesse Geossistema, a cobertura vegetal é a taiga herbácea, composta
por cedro e abeto, e apresenta sucessão vegetal, predominante de abeto e aumento
de cedro no decorrer do tempo, ou seja, a diversidade florística e espacial da taiga
nessas fácies está relacionada à idade.
Nas fácies das Terras Altas de Tobolsk, também ocorre intensificação do pro-
cesso metabólico, em que a produtividade de massa é um indicador das melhores
condições para a ocorrência dos geossistemas de taigas sul Priirtyshie. Nos solos,
ocorre aumento de acúmulo da matéria orgânica no horizonte A, e espessamento do
horizonte B, por eluviação dos horizontes subjacentes, o que auxilia a manutenção
da estrutura e o funcionamento dessas organizações espaciais.
Figura 46 – Zoneamento físico-geográfico da taiga meridional Priirtyshie.

Limites: A – Grupo do setor norte do rio Demy’yanka; B – Subgrupo de Geoma;
C – Grupo de Geoma; D – Subgrupo de Potsokrugov: – d.1 – Demyansky-
Turtasskaya. d.2 – Kondinsky-Tavtsinskaya. d.3 – Irtyshskaya. 1 – Geomas:
Tobolsk com subcompartimentos (1.1 – norte, 1.2 – central, 1,3 – sul), 2 –
Demyansky, 3 – Alymsky; 4 – Uvatsky; 5 – planície de inundação de Irtysh
A unidade de planícies e terraços aluviais, na seção físico-geográfica analisada,

apresenta limites a partir da bacia hidrográfica de Chervyanka, delimitando as Terras
Altas de Tobolsk das áreas de leito e rio abandonado e representando o Geossistema
de vale como um todo (seção tipo). As unidades do vale do Irtysh situam-se entre
5 a 9m acima do canal principal e apresentam maior influência do lençol freático,
estagnação de água e formação de áreas pantanosas, lagos (depressões fechadas).
Na unidade de planícies e terraços aluviais, as propriedades física e química dos
solos e sedimentos aluvias são variadas e, devido a essa diversidade de ambientes
e altas amplitudes dos processos físico-químico-biológico, a estrutura e a dinâmica
dos Geossistemas elementares são heterogêneas e complexas, e resultam no mosaico
vegetacional mais diverso, comparado às Terras Altas de Tobolsk, refletindo maior
influência das condições locais (Figura 40 III). Assim, os geossistemas de planícies
e terraços do rio Irtysh apresentam quatro conjuntos de fácies principais (Quadro 6;
Figura 40 III):
1 – Fácies de cume remanescente: são compostas por abeto, bétula, cedro e
musgo cor verde, sob solos altamente podzólicos.
134
2 – Fácies de superfícies planas (segundo terraço): são colonizadas por pequenos

abetos, musgo verde e com intensos processos de eluviação nos Podzóis. Em alguns
locais dessas fácies, ocorrem depressões fechadas e largas (30-50m de diâmetro),
com colonização, nas bordas, por juncos e agrião japonês, e, entre depressões e áreas
mais elevadas (pequenas colinas), apresenta abeto, musgos, cavalinha e herbáceas
de pequeno porte.
3 – Fácies de encostas íngremes entre terraços: são colonizadas por abeto,
bétula, cedro, e musgo verde sob Podzol bem desenvolvido. Dentro desse mesmo
conjunto, ocorre ligeira diferenciação para encostas íngreme/planície. Nesse encontro
de ambientes geomorfológicos, a influência de hidromorfismo é mais presente, com
ocorrência de Podzóis acinzentados, hidromórfico e Gleysol, colonizados por abetos,
bétulas, cedro, junco e musgo verde.
4 – Fácies de planícies de inundação: caracterizam-se por ampla variedade
espacial de ambientes, intensamente influenciados pela hidromorfia e criogênese.
Apresentam geossistemas de fundo de vale, composto por florestas pantanosas pouco
densas (abetos, arbustos, bétula, salgueiro, samambaia e forb) e presença de Podzol,
solo ferruginoso superficial e solos acinzentados.
A partir dos levantamentos expedicionários e da distinção dos geossistemas
elementares (Terras Altas e vale do Irtysh), feitos por Bachurin e Nechaeva (1975),
foram realizados estudos estacionários em um conjunto de 20 fácies, mensurando
100 indicadores de regimes naturais, ao longo de sete anos. Posteriormente, tendo
como suporte esses indicadores, foram realizadas correlações por coeficiente de pares
entre os dados das variáveis ambientais e o resultado do monitoramento dos conjuntos
de fácies (ver detalhes em Bachurin e Nechaeva, 1975), sendo, então, interpretadas
pela abordagem estocástica e não determinística, isto é, por uma probabilidade das
variáveis de estado (tópico 1.5.3: Entropia, neguentropia e equifinalidade).
As principais conclusões delineadas pelos estudos estacionários, para distintas
estruturas e dinâmicas dos Geossistemas elementares de Terras Altas e vale do Irtysh,
destacaram a temperatura e a umidade. Com essas correlações geradas entre fatores
(temperatura e umidade), determinou-se coeficiente de r≤0,2 para o vale do Irtysh
(bacia Chervyanka); e r≥0,7 para Terras Altas de Tobolsk.
Diferenças identificadas por correlação refletem os processos que estruturam
os Geossistemas elementares (Figura 40 III). Assim, baixos coeficientes entre calor
e umidade do vale do Irtysh são associados às mudanças significativas na hidrodi-
nâmica do relevo (ambiente fluvial), no qual o excesso de umidade é proveniente
de várias fontes (atmosférica, subterrânea – lençol freático, criogênese, escoamento
subsuperficial lateral adjacente ao vale, bem como o próprio canal do Chervyanka-
-Irtysh). Essa influência, por sua vez, resulta no aumento da diversidade de fitocenoses
(+0,91), como abetos fechados em feições convexas elevadas, desde entre depressões
a prados densos em locais sujeito à inundação.
Em termos de relação pedogênese-umidade no vale Irtysh, nota-se muito
expressa entre a espessura do horizonte B do Podzol e a umidade do solo (200-
300mm em 1m de profundidade) sob zonas de influência de congelamento subsu-
perficial duradouro (permafrost), cujos valores são baixos (0,4), e a podzolização
de baixa intensidade, demonstrando a inibição do desenvolvimento de podzóis pelo

excesso de umidade. O metabolismo e a migração de elementos químicos e ferro
móvel também apresentam tendências similares de coeficientes negativos (-0,15 e
-0,40), que reforçam a dinâmica de desenvolvimento de podzóis, contrastante com
áreas adjacentes (vales dissecados das Terras Altas) ao vale do Irtysh, que apresentam
coeficientes r entre +0,33 e +0,51.
No setor de Terras Altas de Tobolsk, com geossistemas em interflúvios e fronts
erosivos de declive suave (vales erosivos), a dinâmica da água apresenta melhores
condições de drenagem, e a temperatura diminui em relação ao vale Irtysh. Desse
modo, a diversidade geral (solos, comunidades ecológicas etc.) é menos diversa,
tendo, nesse compartimento, como indicadores mais relevantes para os geossistemas
elementares: diversidade de fitocenose, espessura da serapilheira, horizontes A (rico
em matéria orgânica) e eluviação, metabolismo, migração e acúmulo de elementos
químicos nos solos. As fitocenoses (o número de espécies por estrato) apresentam
valores abaixo de sua expressão absoluta, e o coeficiente r é de +0,4.
Essas correlações estabelecidas demonstram o “esgotamento” da estrutura das
fitocenoses que se encontram em fases próximas ao de fácies radicais, em que ocor-
rem a estabilidade e a compensação mútua dos fatores ambientais nas organizações
espaciais (equifinalidade). Portanto, a estabilidade da estrutura das próprias fitoceno-
ses é um fator limitante à penetração de espécies não características da taiga escura
(clímax). Em outras palavras, a estabilidade de alguns geossistemas elementares
(fácie físico-geográfica) das terras altas é reflexo da inter-relação, em estágio máximo,
com a dinâmica da zonalidade latitudinal, e das condições regionais, ou seja, é a alta
estabilidade da totalidade das estruturas e dinâmicas nos sistemas espaciais em taigas
escuras meridional Priirtyshie.
Pela caracterização via monitoramento da paisagem em nível de detalhe, foi pos-
sível constatar que os fatores determinantes para diferenciação de estrutura e dinâmica
entre geossistemas topológicos de Terras Altas e do vale Irtysh são definidos, principal-
mente, pela amplitude térmica e pela dinâmica da água, sendo que a menor mudança do
lençol freático ou de escoamento lateral da água afeta a formação dos solos, a estrutura
das fitocenoses, a distribuição espacial da flora e, consequentemente, a estrutura dos
Geossistemas elementares. Nesse sentido, a análise de ordem topológica dos sistemas
espaciais vem corroborar hipóteses e observações quanto ao funcionamento dos Geos-
sistemas, já preconizado por estudos anteriores, no baixo curso do Irtysh. Contudo, para
demonstrar os axiomas32 embutidos nessas temáticas, e que fazem parte dos objetivos
da teoria dos geossistemas e apresentam importância de dados para a gestão territorial,
tais detalhes da dinâmica que estrutura os sistemas espaciais são necessários.
Um terceiro exemplo de estudo de geossistemas topológicos em território russo
é encontrado entre as regiões de Irkutsk e Krasnoyarsk (Sibéria Central), em maciço
32 Axiomas: na Teoria dos Geossistemas, são proposições, hipóteses que não são provadas ou demonstradas,
sendo consideradas como óbvias ou como um consenso inicial, necessário para a construção ou aceitação
de uma teoria. Para maiores detalhes, recomenda-se a leitura do capítulo II do livro “Introdução à Teoria
dos Geossistemas”, de Sochava (1978), traduzida para o português por Rodrigues e Vicente (2019).
136
de abetos, onde foram realizados estudos na estação Priangarsky “Приангарский”

(Figura 45 D2), sob a liderança de Adolph Krauklis, 1969 apud Sochava, 1980. Para
o ambiente siberiano (clima subártico), o acumulado total de radiação (calor) é um
fator importante para o entendimento das organizações espaciais nas fitocenoses e
circulação de umidade, fato também indicado por Huang et al. (2021). Nesse quesito,
foram distinguidos três ciclos térmicos anuais: pouco calor (soma das temperaturas
ativas 1200-1400°C), relativo calor (1400-1600°C), calor suficiente (1600-1800°C).
Pela distinção dos ciclos, foi possível categorizar cinco conjuntos de fáceis
(Figura 45 D2): 1) Fácies de planalto – ligeiramente modificada por fatores locais;
2) Fácies litomórficas – modificadas pela remoção da fração fina do substrato;
3) Fácies hidromórficas – áreas sob influência fluvial; 4) Fácies criomórficas – esta-
belecidas pelo regime do permafrost; e 5) Fácie adjuvante – alterada pelo regime
de inundação e estagnação de água. Dependendo da forma é estabelecida uma série
fatorial de fácies, até certo ponto semelhante à série ecológica, contudo, é estabelecida
de acordo com certos parâmetros dinâmicos por combinação lógica de espacialidade,
em alguns casos (Sochava, 1980).
Desse modo, pela apresentação de estudos do Geossistema elementar (fácies físi-
co-geográficas), via estação geográfica de monitoramento dos fenômenos naturais em
estepes (Onon-Argun) e taigas (Sibéria Ocidental e Central), demonstra-se a importância
do conhecimento a respeito das transformações de energia e matéria em delimitada área
espacial ou sistema espacial unitário. Esse conhecimento, por sua vez, pode representar
processos generalizados, ocorrente em determinadas regiões da superfície terrestre (orga-
nização espacial) e torna permissível a compreensão dos limites e da potencialidade de
ocupação humana ou preservação dos Geossistemas (regionais e locais).
O estudo hierárquico dos Geossistemas (Sochava, 1978) tornou possível, ainda,
determinar os processos e conceitos dentro dos princípios da Teoria Geral dos Siste-
mas, como a equifinalidade que se encontram as estepes de Onon-Argun (Geoma),
no que se refere ao clímax, entre outros parâmetros (entropia, energia, matéria, infor-
mação etc.), e que constitui uma organização sistêmica no espaço-tempo. Do mesmo
modo, possibilitou determinar os compartimentos de ravinas e encostas dissecadas
(fronts erosivos) que apresentam as melhores conjugações (inter-relações) para taigas
sul da Sibéria Ocidental (clímax).
Assim, a abordagem dos estudos geossistêmicos russos, segundo Snytko (1978),
deu aporte para o melhor planejamento e ocupação do território, em diversas ques-
tões, como:
– Implantação e desenvolvimento de complexos industriais para extração e
processamento de petróleo e gás;
– Desvio dos rios da Sibéria para as regiões do sul da Rússia;
– Uso dos dados das redes de estações geográficas de monitoramento, locali-
zadas na Sibéria Ocidental, para resolução de problemas associados às mudanças
nas condições naturais, no curso do desenvolvimento econômico desses territórios;
e, por fim,
– Pesquisas na região de Angara, voltadas ao uso otimizado dos recursos flo-

restais, na bacia de Minusinsk, nas quais se buscou o uso racional do território para
agricultura e instalações industriais.
Desse modo, observa-se que a teoria, conceito/método, apresentados na proposta
geossistêmica de Sochava (1978), fornece meios vantajosos de uso para o território,
como a interpretação sistêmica e hierarquizada da paisagem. Isto é, adotar um padrão
único de linguagem permite a aplicação em todo planeta Terra, considerando os
mesmos significados e terminologia, a respeito da questão abordada e dos meios de
estudo das organizações espaciais. Com isso, obtêm-se resultados de valor prático para
a gestão territorial, tanto em termos econômico-políticos (desenvolvimento sustentá-
vel), ambiental (conservação, ecologia, preservação) e social (uso-cultural-proteção).
Ordenação de leitura sugestiva para Geossistema russo

SOCHAVA, Viktor Borisovich. Aspectos topológicos dos estudos dos Geossistemas.
Novosibirsk: Nauka, 1974.
SOCHAVA, Viktor Borisovich; FRISH, V. A. Alkuchanian Govin: Experiência de

estudo estacionário da paisagem de estepe. Academia de Ciências da URSS, Instituto
de Geografia da Sibéria e do Extremo Oriente, 1964. 186p.
BACHURIN, Gennady Vasilievich; NECHAEVA, Elena Grigorievna. Taiga Sul de

Priirtyshya: Experiência de estudo estacionário dos topogeossistemas da taiga do
sul. Novosibirsk: Nauka, 1975. 251p.
2.3 O Geossistema e a perspectiva para estudos ambientais

O estudo da Geografia, em particular a de cunho físico, procurou, ao longo dos
séculos, descrever e compreender os múltiplos sistemas e subsistemas da envoltura
geográfica (HUMBOLDT, 1845; CHORLEY; KENNEDY, 1971; SOCHAVA, 1978,
entre outros), assim como suas conexões com a atividade humana e a dependência
mútua, isto é, a relação sociedade-natureza (CLIFFORD, 2009).
Como ciência sistematizada no século XIX, a Geografia visava objetivos centrais
atrelados à sociedade da época, principalmente em sua demanda e com métodos de
análise disponíveis, como o de exploração de novos territórios (Novo Mundo), no qual
a necessidade era catalogar recursos naturais utilizando a abordagem descritivista.
Do início até meados do século XX, pela necessidade de compreensão detalhada
dos processos (ambientais, biológicos, industriais, químicos) e por avanços teórico-
-tecnológicos, buscou-se a especialização de vários campos da ciência, inclusive da
Geografia, no qual a principal abordagem foi o positivismo.
A partir de 1950, com a estruturação e a sistematização da Teoria Geral do
Sistemas (BERTALANFFY, 1968), parte das abordagens geográficas retornam à
138
perspectiva holística, iniciada por Alexander von Humboldt no século XIX. Essa
interpretação sistêmica das organizações espaciais (estrutura e dinâmica) converge
com a demanda e as necessidades da sociedade do século XXI, diante das problemáti-
cas do esgotamento e da degradação dos recursos naturais, das mudanças ambientais
globais, da desigualdade social e da qualidade ambiental/vida (CARSON, 1962;
RIBEIRO, 2004; CLIFFORD, 2009; ONU, 2017).
Entre as décadas de 1970 e 1980, um acúmulo, cada vez maior, de evidências
mostrou que os problemas ambientais (proteção da camada de ozônio, combustíveis
fósseis etc.) são de âmbito global. Assim, em 1972, as questões ambientais ganharam
espaço em nível internacional, com a realização do Primeiro Encontro Mundial sobre
o Meio Ambiente, em Estocolmo (OLIVEIRA; MACHADO, 2004), com posterior
proposição, em 1987, pela ONU do significado para o termo desenvolvimento sus-
tentável, como: “aquele que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.
No âmbito do conceito de desenvolvimento sustentável, no ordenamento do ter-
ritório europeu, a paisagem (como uma entidade integrada) tem se tornado foco de
políticas públicas, em vista de suas amplas e dinâmicas transformações de curta tempo-
ralidade. Tais preocupações sobre o uso racional do território europeu foram estabele-
cidas pela Convenção Europeia da Paisagem33 (2000), onde constam conceitos, como:
Art. 1º [...]
a) ‘Paisagem’ designa uma parte do território, tal como é apreendida pelas popula-
ções, cujo caráter resulta da ação e da interação de fatores naturais e/ou humanos;
[...]
d) ‘Proteção da paisagem’ designa as ações de conservação ou manutenção dos
traços significativos ou característicos de uma paisagem, justificada pelo seu valor
patrimonial resultante da sua configuração natural e/ou da intervenção humana;
e) ‘Gestão da paisagem’ designa a ação, visando assegurar a manutenção de
uma paisagem, numa perspectiva de desenvolvimento sustentável, no sentido de
orientar e harmonizar as alterações resultantes dos processos sociais, econômicos
e ambientais;
f) ‘Ordenamento da paisagem’ designa as ações com forte caráter prospectivo,
visando a valorização, a recuperação ou criação de paisagens.
Observa-se, portanto, que a Convenção Europeia da Paisagem aborda os siste-

mas espaciais nas suas estruturas e dinâmicas, integrando o planejamento territorial
(cultural, histórico, econômico, social) à política ambiental, desde a conservação,
gestão, restauração-recuperação ou criação de novas relações sistêmicas ambientais,
de modo que atendam à sustentabilidade. Essas prerrogativas convergem para a con-
cepção e o escopo do Geossistema de Sochava (1978, p. 292), em que componentes
33 O tratado da Convenção Europeia da Paisagem foi assinado por: Andorra, Armênia, Azerbaijão, Bélgica,
Bósnia e Herzegovina, Bulgária, Croácia, Chipre, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Finlândia,
França, Geórgia, Grécia, Holanda, Hungria, Islândia, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta,
Macedônia do Norte, Moldávia, Montenegro, Noruega, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Checa,
Romênia, San Marino, Sérvia, Suécia, Suíça, Turquia, e Ucrânia.
da organização espacial (rocha, relevo, solo, clima, biota, água) estão em conexão
sistêmica uns com os outros (complexo natural), desenvolvendo-se, no tempo, como
parte de um todo e que interagem com a esfera cósmica e a sociedade humana, em
um sistema aberto (grifo deste autor).
Dentro dessa perspectiva da paisagem como uma totalidade, e diante da pos-
sibilidade de analisar as inter-relações via abordagem geossistêmica do território,
a Eslováquia adotou esse conceito e método como parte do instrumento norteador
do “planejamento ecológico da paisagem”, definido pela Lei n. 237/2000 (apud
MIKLÓS et al., 2019):
comprehensive process of mutual harmonization of spatial requirements of

economic and other human activities with the landscape-ecological conditions
that result from the structure of the landscape. The ecologically optimal spatial
arrangement and functional use of landscape, while ensuring satisfactory stability
of the spatial landscape structure, protection and rational use of nature, biodiver-
sity and natural resources, development and protection of the territorial system of
ecological stability and the immediate human environment. The structure of the
landscape and its features appear as limits, restrictions or supporting factors for
desired activities in a given territory (§139a paragraph 4).
Nesse aspecto legislativo, a abordagem do Geossistema em território eslovaco

consiste na descrição e determinação do papel da estrutura da paisagem primária
(elementos abióticos – clima, relevo, rocha e suas estruturas, solo), secundária (ele-
mentos bióticos – flora, fauna, uso do solo; produtos artificiais humanos – infraestru-
tura) e terciária (fenômenos e fatores socioeconômicos), que são inter-relacionadas,
síncronas e formam o Geossistema, não constituindo componentes individualizados
e/ou a simples soma. Para lidar com a complexidade que o Geossistema apresenta
em seus inúmeros elementos, são realizadas análises via modelos (simplificação da
realidade) que abordem os componentes da envoltura geográfica em detrimento das
inter-relações, para que permitam uma análise em meio digital (geotecnologias),
denominada de Geocomplexo (MIKLÓS et al., 2019).
Um exemplo da aplicação desse modelo Geocomplexo consiste na realização da
abordagem geossistêmica, via Sistema de Informação Geográfica (SIG), para a bacia
hidrográfica de Ipel (Ipoly) (MIKLÓS et al., 2019), em que se operou a seguinte carac-
terização dos componentes: relevo (parâmetros morfométricos) em raster, dinâmica
fluvial (estações hidrológicas) – clima (estações meteorológicas) ambos em pontos,
delimitação de rios e estradas em linhas, e indicadores locais (elementos primário,
secundário e terciário). A partir da construção do banco de dados, foi possível hie-
rarquizar os componentes do Geossistema em: ordem de componente (elementos do
Geocomplexo); camada temática (propriedade de elemento); atributos (indicadores
de propriedade); atributo de dimensão de valor; e atributo de valor (indicador de
valor de propriedade).
Pela hierarquização dos elementos em SIG, de parte do território da Eslováquia,
no caso a bacia hidrográfica de Ipel, foi possível desenvolver abordagens integradas
para gestão da paisagem a todos os setores e, dessa maneira, a análise cartográfica
140
(geoprocessamento) possibilitou estabelecer meios de avaliação de impacto ambiental

e avaliação de uso das organizações espaciais (geossistemas) para atender tanto as leis
de planejamento do meio físico da Eslováquia (Lei n. 237/2000) quanto a Convenção
Europeia da Paisagem (2000).
Outro exemplo da viabilidade de aplicação da análise geossistêmica são os servi-
ços ecossistêmicos34, definidos pelo Millennium Assessment Ecosystem (2003), como:
Ecosystem services are the benefits people obtain from ecosystems. These include
provisioning services such as food and water; regulating services such as flood
and disease control; cultural services such as spiritual, recreational, and cultu-
ral benefits; and supporting services, such as nutrient cycling, that maintain the
conditions for life on Earth.
A abordagem do serviço ecossistêmico (SE) tem interessado aos campos da

Geografia, em especial àquela focada no meio físico, considerando que conceitos
teórico-metodológicos dessa área da ciência podem melhorar a avaliação do SE
(BASTIAN et al., 2015). A interpretação dos SE pela concepção do Geossistema
(SOCHAVA, 1978) permite compreendê-los como uma totalidade interligada, hie-
rarquicamente, em sistemas espaciais. Observa-se que tal concepção aproxima-se do
ecossistema territorial, conceito básico dos procedimentos que visam a identificação
e avaliação dos SE (qualidade funcional).
A atribuição hierárquica geossistêmica constitui um fato de grande relevância,
visto permitir que os SE sejam analisados em suas estruturas e dinâmicas ambientais,
atendendo, portanto, ao critério multiescalar do ecossistema, como proposto por
Tansley (1935). O mesmo ocorre com a caracterização do estado de funcionamento
do referido sistema ecológico, que é essencial para os SE, em razão de o pagamento
ser baseado na qualidade do estado em que o ecossistema se apresenta (funcionali-
dade). Essa demanda qualitativa dos SE, por sua vez, não é atendida por abordagens
“2D” de mapeamentos do uso do solo, via sensoriamento remoto (análise de único
componente), como também não permite clara diferenciação entre requisito e oferta
do SE para a sociedade (BASTIAN et al., 2015).
Desse modo, portanto, usar o Geossistema como abordagem torna-se viável,
aplicando-se na avaliação, na proposta e no pagamento por SE, já que atende às
dinâmicas bióticas e abióticas, em uma concepção de totalidade. Em território russo,
constata-se um exemplo da aplicação geossistêmica para SE, realizada em áreas de
silvicultura (abetos e bétulas), focada em três modelos de prognóstico de cortes e
qualidade e regulação do regime hídrico fluvial nas bacias hidrográficas da taiga
sul, da região administrativa de Kostroma, em sua porção norte (BASTIAN et al.,
2015). A bacia modelo foi a Vazenga (3494 ha), que apresenta espécies de ciclo
curto (<20 anos, 30% da bacia); ciclo longo, composto por bétulas de mesma idade
34 Nesta obra, será adotado o significado geral para serviços ecossistêmicos, tanto no sentido de produção
de recursos como no de outros produtos para a sociedade. Como em um significado biológico, quando o
intuito é restaurar, aumentar a biodiversidade em ecossistemas naturais faz com que esta, por sua vez,
preste serviços ao homem (polinização, ciclagem de elementos etc.).
(40-60 anos, 30% da bacia); e raras florestas de abetos de ciclo longo (80 anos). No
primeiro cenário, as bétulas são retiradas, podendo resultar nas maiores variações de
escoamento superficial para os próximos 200 anos, com picos a cada 70 anos. Desse
modo, as bétulas, até a maturidade, fornecem SE, entretanto, a longo termo, o SE de
regulação hídrica diminuirá inevitavelmente.
No segundo cenário, o corte de abeto maturo resultará na menor variação do
escoamento, e o SE de regulação hídrica fluvial aumentará. O terceiro cenário, por
sua vez, envolve a extração seletiva de diversas espécies, que melhor se adaptem
à estrutura dos Geossistema para amenização do escoamento superficial (retirada
parcial de bétulas; sucessão até a maturidade de abetos; preservação dos abetos em
forma de encostas, que propiciem o fluxo subsuperficial).
No terceiro modelo, o SE apresenta os maiores níveis para infiltração da água
e regulação do regime hídrico fluvial.
Para que modelos prognósticos na bacia de Vazenga, como outras de dinâmica
similar na região norte de Kostroma, sejam eficientes, outra etapa escalar, de maior
detalhe de análise, é necessária. Uma das possíveis formas é a abordagem via catena
(MILNE, 1935), a qual se concentra no papel funcional das áreas elementares do
Geossistema sob encostas. Desse modo, o entendimento é de que os mecanismos
atuantes nas fácies físico-geográficas são as unidades da atuação de gestão pelo
homem (unidades florestais). Assim, o reconhecimento das fácies físico-geográficas
dentro de bacias hidrográficas, como apresentado por Bastian et al. (2015), auxilia
na decisão relativa à preservação e restauração de unidades florestais, no intuito de
diminuir ou neutralizar fluxos indesejáveis de matéria sólida para essas bacias, pro-
movendo um serviço ecossistêmico para a regulação hidrológica fluvial (inundação)
e a qualidade da água, que sociedade usufrui (recurso natural).
Outro exemplo da análise dessa totalidade em sistemas espaciais é apresentado
por Maurer e Gerke (2016), que buscaram compreender o estado da arte de estudos
sobre mecanismos de retroalimentação nas inter-relações e sobre a evolução (trans-
formações irreversíveis) das organizações espaciais (Figura 47). Assim, constataram
que, no primeiro momento, após intensa perturbação momentânea (ambiental e/ou
antrópica), os elementos abióticos preponderam no sistema espacial, com processos
que iniciam a reorganização do Geossistema e a restruturação das funções elemen-
tares para o funcionamento do todo (infiltração de água, formação de horizontes de
solo, escoamento da água etc.). E, então, posterior ao restabelecimento primordial
de funções ditas abióticas, pela sucessão ecológica, o ambiente torna possível a res-
tauração das funções ecológicas, estabelecendo um ecossistema.
142
Figura 47 – Ilustração de uma possível via de estruturação de um Geossistema

(bacia hidrográfica) em clima temperado, baseada em observações na bacia
hidrográfica de Hühnerwasser (Chicken Creek) em Brandenburg, Alemanha.
Legenda: 1 – sedimentos/estrutura da rocha; 2 – Distribuição da água
superficial, heterogeneidade de sedimento associado a selamento superficial
do solo pela ação pluvial; 3 – micro dunas e pequenos areais; 4 – espécies
pioneiras; 5 – estabelecimento de rede de drenagem e formação de sulcos; 6 –
nível do lençol freático; 7 – interação entre água superficial e subsuperficial;
8 – novas estruturas sedimentares e formas agradacionais; 9 – selamento
biológico da superfície do solo, provavelmente sucedendo selamento físico
do solo; 10 – plantas vasculares e musgos que suplantam gradualmente o
selamento; 11 – padrões iniciais da vegetação, que refletem as estrutura
subsuperficiais primárias; 12 – abandono de canais menores devido ao aumento
da cobertura vegetal; 13 – redução do nível do lençol freático por aumento da
evapotranspiração; 14 – estruturas emergentes da vegetação vertical (árvores
e arbustos); 15 – sobreposição gradual e fechamento extensivo do sistema de
drenagem superficial, substituição do escoamento superficial por infiltração; 16
– sobreposição gradual de estruturas sedimentares por processos pedogenéticos;
17 – possível estado futuro do geossistema (longo prazo), organização espacial
próxima ao “estado estacionário” (por exemplo, florestas de faia em clímax)
Geosystem
-
ces
rfa
su n retrograde
ted io
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s oli depo erosion
n ts
co an en
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m pa
co
ial
init
Critical Zone
depth
observed hypothetical
aquiclude
point zero time
Fonte: Maurer e Gerke (2016).
A escala temporal para o tempo de resposta a intensas perturbações pode ser de

meses a anos para os elementos abióticos (etapa 1), vários anos para o estabelecimento
dos processos abióticos (etapa 2) e dezenas a centenas de anos para um ecossistema
maduro – clímax (etapa 3), dependendo das condições climáticas e das propriedades
das organizações espaciais.
Para Maurer e Gerke (2016), o estudo da estruturação e o estabelecimento da
dinâmica nos Geossistemas (em seus diversos componentes) podem ser abordados
por meio de múltiplas modelagens (focadas nas retroalimentações), consistindo,
principalmente, na conformação da estrutura inicial da organização espacial. Essa é

uma etapa importante para o desenvolvimento futuro do sistema espacial ainda em
formação (etapa 1); para esse cenário inicial, os modelos são baseados em processos
tridimensionais que tentam simular as estruturas e os padrões de gerações de distri-
buição de sedimentos em bacia hidrográfica, vinculando a essa dinâmica a formação
do solo. Nas etapas 2 e 3, os modelos de evolução da paisagem (interdependência
de processos geomorfológicos e hidrológicos de longo termo) parecem ser viáveis
quando adaptados a temporalidades menores (meses, anos) ao contrário de longas
(milhares, dezenas de milhares de anos). Dessa maneira, a melhor compreensão da
coevolução de estrutura e processos dos Geossistemas pode ser alcançada por modelo
integrativo de diversas abordagens espaço-temporal.
A perspectiva de múltiplas modelagens, sugerida por Maurer e Gerke (2016),
foi amplamente abordada por diversos estudos geossistêmicos em território russo,
principalmente durante as décadas de 1970-1980 (SNYTKO, 1978). As dinâmicas das
variáveis ambientais no espaço-tempo foram intensamente analisadas por monitora-
mento (biogeocenoses, produção de biomassa, fluxos geoquímicos, origem temporal
do sistema espacial e sua configuração no presente: em estabilidade ou instabilidade),
no intuito de se compreender os melhores modos de ocupação e uso (potencialidades
e vulnerabilidade) e de gerar dados que deem condições de estabelecer um prognós-
tico de alterações nas inter-relações, ocasionadas pela ocupação dos territórios em
foco (uso racional dos recursos naturais). Essas abordagens constituem os principais
objetivos da aplicação geossistêmica russa, principalmente nos estudos estacionários,
padronizados via Método de Ordenamento Complexo (SOCHAVA, 1974, 1978).
Dessa forma, em vista da necessidade de análise multiescalar para caracteri-
zação da estrutura, da dinâmica, da evolução temporal e da atual qualidade funcio-
nal dos ecossistemas (caracterização, prestação de SE), a abordagem geossistêmica
(SOCHAVA, 1978), sem dúvida, atende tal demanda escalar e funcional para os SE.
Segundo Bastian et al. (2015), a organização hierárquica do Geossistema oferece
oportunidade de se relacionarem níveis escalares de tomadas de decisões de uso
para as ordens dimensionais do Geossistema (mesogeócoro: morainas suavemente
ondulares e planícies; e fácies físico-geográficas: encostas de vales, planícies aluviais,
terraços de rios em Kostromo). Essas organizações espaciais, por sua vez, apresen-
tam distintos fenômenos de dependente escalar, como o apresentado pelos estudos
hierárquicos inter-relacionados da bacia hidrográfica Vanzega à catena, presente nela,
onde ocorrem relações de vizinhança e interações espaciais por fluxo de energia e
matéria, mas em diferentes escalas, de intensidades e tempo (tópico 1.4: Tipos de
sistemas em Geografia).
A questão de abordagens holísticas sistêmicas torna-se um tópico importante
para a prestação de SE no continente europeu, onde a questão geossistêmica foi
inclusa como um dos fatores para avaliar a compreensão do todo em que o ecossistema
está inserido. Essa inclusão foi denominada de “abiotic ecosystem service”, ou ainda
de “serviços geossistêmicos” (VAN REE; VAN BEUKERING, 2016). A definição
de abiotic ecosystem service é dada pela Common International Classification of
Ecosystem Services (European Environmental Agency, 2018):
144
2.8 – CICES focuses on defining final ecosystem services that depend on living
systems. This is not to say that many of the physical characteristics and behaviors
of physical systems that are part of nature are unimportant to people, but rather
to emphasize the fundamental contribution that biodiversity makes to human wel-
l-being. In this respect, CICES follows the tradition of the Millennium Ecosystem
Assessment (MA, 2005) and initiatives such as The Economics of Ecosystems and
Biodiversity (TEEB) and the Intergovernmental Platform for Biodiversity and
Ecosystem Services (IPBES).
[...]
2.11 – The move to including abiotic ecosystem outputs more formally in the
structure of CICES also reflects recent discussions about what constitute natural
capital, which has also been defined in a number of different ways. The approach
used in developing CICES V5.1 follows the EU MAES process which considers
natural capital to include all natural resources that human society draws upon, i.e.,
both earth’s ecosystems and the underpinning geo-physical systems (see Figure
2). CICES V5.1 therefore potentially provides an appropriate entry-point for
describing and measuring natural capital.
Desse modo, a inclusão do abiotic ecosystem service aos SE em território euro-

peu permite que este seja analisado como uma totalidade espaço-temporal, em que o
Geossistema (Sochava, 1978) corresponde a muitas das necessidades que esse tipo
de avaliação apresenta (multiescala, hierarquia), além de possibilitar a integração do
tempo e da dinâmica das organizações espaciais via monitoramento, modelagem e
mapeamento dos Geossistemas. Além disso, essa inclusão permite o debate dos SE
perante o capital natural (MEA, 2003), envolvendo a relação sociedade e natureza,
que oferece meios para o planejamento do território e a gestão dos recursos naturais
(biótico e abiótico), assim como pode melhorar a avaliação dos serviços ecossistê-
micos, por abranger a complexidade dos sistemas ambientais (biótico e abiótico) e
socioeconômico (VODA et al., 2019).
Em território brasileiro, os SE com possiblidade de abordagem geossistêmica
estão presentes em termos de políticas públicas de diversas esferas (federal, estadual,
municipal). Para lidar juridicamente com questões sobre SE, no Brasil, foi promulgada
a Lei n. 14.119, de 13/01/2021 (Brasil, 2021), estabelecendo conceitos, objetivos,
diretrizes, ações e critérios de implantação da Política Nacional de Pagamento por
Serviços Ambientais (PNPSA):
Capítulo I – Disposições gerais

Art. 2º Para os fins desta Lei, consideram-se:
I – ecossistema: complexo dinâmico de comunidades vegetais, animais e de micror-
ganismos e o seu meio inorgânico, que interagem como uma unidade funcional;
II – serviços ecossistêmicos: benefícios relevantes para a sociedade, gerados pelos
ecossistemas, em termos de manutenção, recuperação ou melhoria das condições
ambientais;
III – serviços ambientais: atividades individuais ou coletivas que favorecem a
manutenção, a recuperação ou a melhoria dos serviços ecossistêmicos;
IV – pagamento por serviços ambientais: transação de natureza voluntária,

mediante a qual um pagador de serviços ambientais transfere a um provedor des-
ses serviços recursos financeiros ou outra forma de remuneração, nas condições
acertadas, respeitadas as disposições legais e regulamentares pertinentes;
V – pagador de serviços ambientais: poder público, organização da sociedade
civil ou agente privado, pessoa física ou jurídica, de âmbito nacional ou inter-
nacional, que provê o pagamento dos serviços ambientais nos termos do inciso
IV deste caput;
VI – provedor de serviços ambientais: pessoa física ou jurídica, de direito público
ou privado, ou grupo familiar ou comunitário que, preenchidos os critérios de elegi-
bilidade, mantém, recupera ou melhora as condições ambientais dos ecossistemas.
Capítulo II – seção I
Art 4º Fica instituída a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais
(PNPSA), cujos objetivos são:
I – orientar a atuação do poder público, das organizações da sociedade civil e dos
agentes privados em relação ao pagamento por serviços ambientais, de forma a
manter, recuperar ou melhorar os serviços ecossistêmicos em todo o território
nacional;
II – estimular a conservação dos ecossistemas, dos recursos hídricos, do solo, da
biodiversidade, do patrimônio genético e do conhecimento tradicional associado;
III – valorizar econômica, social e culturalmente os serviços ecossistêmicos;
IV – evitar a perda de vegetação nativa, a fragmentação de habitats, a desertifi-
cação e outros processos de degradação;
[...]
IX – estimular a pesquisa científica relativa à valoração dos serviços ecossistêmi-
cos e ao desenvolvimento de metodologias de execução, de monitoramento, de
verificação e de certificação de projetos de pagamento por serviços ambientais;
[...]
XII – incentivar o setor privado a incorporar a medição das perdas ou ganhos dos
serviços ecossistêmicos nas cadeias produtivas vinculadas aos seus negócios;
XIII – incentivar a criação de um mercado de serviços ambientais;
XIV – fomentar o desenvolvimento sustentável.
Assim, pela implementação da Lei n. 14.119, de 13/01/2021, consolida-se uma

política federal de SE para análise das inter-relações dos componentes da organização
espacial, sejam elas bacias hidrográficas ou áreas de preservação ambiental e suas
categorias (RPPN, Reservas biológicas etc.). Por essa mesma lei, ainda, potenciali-
za-se o papel do geógrafo, via análise geossistêmica (SOCHAVA, 1978), para melhor
gestão do território brasileiro e suas problemáticas regionais e locais (lembrando que
SE são funções de escala local: fácies físico-geográficas).
No Brasil, antes da aprovação da Lei n. 14.119, já haviam sido implantados
projetos de SE tanto em âmbito nacional e local, inclusive com investimentos inter-
nacionais: produção de recursos naturais (produtores de água) e programas interna-
cionais, como o mercado de crédito de carbono.
146
Um desses projetos, o produtor de águas35, é um programa de âmbito nacional,

implementado pela Agência Nacional de Águas, para pagamento de SE pelo controle
da poluição rural, dirigido prioritariamente às bacias hidrográficas de importância
estratégicas para o Brasil.
Constituem objetivos e metas desse Programa (ANA, 2008):
• Difundir e discutir o mercado de serviços ambientais, explicitando produ-
tos ecossistêmicos, gerados através da ação antrópica (serviços ambientais)
sobre bacias hidrográficas;
• Aumentar a oferta de água nas bacias hidrográficas, por meio da adequada
alimentação do lençol freático, a ser favorecida com o uso de práticas
mecânicas e vegetativas que aumentem a infiltração de água no solo;
• Reduzir os níveis de poluição difusa rural em bacias hidrográficas, estra-
tégicas para o país, principalmente aqueles decorrentes dos processos de
erosão, sedimentação e eutrofização;
• Difundir o conceito de manejo integrado do solo e da água através da
conscientização e do incentivo à implantação de práticas e manejos con-
servacionistas e da preservação e recuperação de florestas nativas;
• Garantir a sustentabilidade socioeconômica e ambiental dos manejos e
das práticas implantadas, por meio de incentivos financeiros aos agen-
tes selecionados;
• Reduzir 50% da erosão e da sedimentação nas bacias selecionadas;
• Recuperar (construir cercas e enriquecimento) áreas de preservação per-
manente das propriedades rurais participantes;
• Recompor (identificar, construir cercas e enriquecimento) áreas de reserva
legal das propriedades rurais participantes;
• Proporcionar treinamento de potenciais agentes executores do Programa
(estados, comitês de bacias, cooperativas etc.) em relação a seus critérios
e procedimentos.
Avaliação positiva da implantação do programa Produtor de Água é exemplifi-

cada nas bacias hidrográficas do município de Extrema-MG, pioneiro nos pagamentos
por SE, no estado de Minas Gerais, e que apresentou resultados positivos, como o
reflorestamento de espécies nativas, cobrindo 6.135ha e aumento de 21 para 186
contratos, entre 2007-2015 (PACHECO et al., 2017). Portanto, o Produtor de Água
cumpre seu objetivo, promovendo medidas preventivas e de adequação ambiental
(regularização), e consta que é do interesse da maioria dos proprietários rurais em
Extrema continuar no Projeto, tendo como maior motivação a conservação do meio
ambiente (VICTOR et al., 2018).
A adoção de instrumentos econômicos, como indutores de prática da conser-
vação ambiental e como resposta do Estado aos questionamentos levantados pela
35 Estados com bacias hidrográficas contemplados pelo programa Produtor de Água: Distrito Federal, Goiás,
Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São
Paulo (ANA, 2021).
sociedade, foi assumida pelo município de Extema, a partir de 1996 (PACHECO

et al., 2017). Essa implementação no município está se tornando modelo para
execução de pagamentos por SE, no Brasil (sustentabilidade por incentivos finan-
ceiros; redução de níveis de poluição e aumento da qualidade de água; concepção
de manejo integrado de vegetação, do solo e da água – “análise integrada”; pro-
porcionar aumento da cobertura florestal).
Nesse sentido, portanto, o programa Nacional Produtor de Água, pelo viés
da manutenção de áreas florestais preservadas ou da restauração ecológica, muitas
vezes encaradas pelo produtor como prejuízo, torna viável a manutenção das reser-
vas legais e Áreas de Preservação Permanente, pelo pagamento por SE em produção
de água. Desse modo, vê-se no Programa também um ponto de convergência entre
ambientalistas, produtores rurais, comunidade científica e órgãos gestores do meio
ambiente (ANA, 2021).
Com relação ao carbono como um SE para combate a mudanças climáticas
globais, essa questão foi consolidada na Conferência do Rio de Janeiro (Rio 92),
onde foi apresentada como escopo de medidas, visando regular a emissão de gases
de efeito-estufa (GEE), dentre eles o CO2, e que culminou na institucionalização, no
ano de 1997, do Protocolo de Quioto (OLIVEIRA; MACHADO, 2004). No referido
protocolo, efetivado no ano de 2005, estipula-se que 38 nações desenvolvidas, que
produzem 55% do total de GEE, devem reduzir em média 5,5% de suas emissões.
Pela ratificação das metas para redução dos GEE, abriu-se uma oportunidade
para o SE, com carbono denominado de mercado de crédito de carbono (internacio-
nal), em que nações podem reduzir suas emissões de GEE, investindo na captura do
carbono em outros países (Andrade e Costa, 2008). Esse é um dos modos de gerar
os créditos e a preservação de áreas retentoras de carbono como reservas naturais
ou criação de novas áreas (recuperação).
Nesse contexto, no Brasil, já se apresentam alguns projetos de retenção flo-
restal de carbono tipo conservacionista (compatível com uso sustentável). Como
exemplo, cita-se o projeto Ação Contra o Aquecimento Global (ACAG), gerido pela
Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), e reali-
zado na Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba-Paraná (YU, 2004).
Esse projeto, financiado pela American Eletric Power, com valor estimado
em US$5,4 milhões, estabeleceu como objetivos:
– Reter 1.000.000 de toneladas de carbono em 40 anos, pela proteção e res-
tauração ecológica de, aproximados, 7.000ha de floresta tropical, parcialmente
degradada, e reflorestamento de áreas de pastagem degradadas (Reserva Itaqui,
criada em 1975);
– Realizar mensurações cientificamente quantificáveis da retenção florestal
do carbono;
– Restaurar e conservar a saúde ecológica e a biodiversidade da área do projeto;
– Melhorar a qualidade ambiental no nível local e promover o desenvolvi-
mento sustentável por meio da criação de alternativas econômicas viáveis para
a população;
148
– Promover a consciência ambiental na região de Guaraqueçaba; e

– Facilitar a pesquisa científica.
Até 2004, com o desenvolvimento desse projeto, alguns resultados já haviam
sido gerados, em termos socioeconômico e ambiental. Na influência social e eco-
nômica, destaca-se a manutenção de pequenas propriedades (10 a 20ha) próximas
à Reserva de Itaqui, pelo auxílio à titulação da propriedade, em alguns casos de
muitas gerações da mesma família. Para restauração, optou-se pela aquisição de
grandes propriedades de bubalinocultura extensiva (YU, 2004).
Quanto a atividades econômicas de pequenos produtores agrícolas, foram
identificados modelos ecologicamente sustentáveis e, ao mesmo tempo, economi-
camente viáveis, tais como: produção de palmito (pupunha), agricultura orgânica
para abastecer Curitiba, maricultura, ecoturismo e artesanato. Dentre as atividades
agrícolas, a que demonstrou maior potencial comercial foi a produção fabril e a
exportação de banana-passa orgânica, em que a SPVS atuou como certificadora
da produção orgânica e assistência técnica, com adesão de 110 proprietários, em
2004. Observou-se que a manutenção da reserva florestal também auxilia a popu-
lação local com a absorção de mão de obra. A inserção da comunidade quanto à
conscientização dos objetivos da conservação e produção de carbono pela Reserva
Itaqui é realizada por uma assistente social da SPVS, para criar um sentimento de
integração entre o projeto e as pessoas da comunidade (YU, 2004).
Na questão ambiental, a ACAG, além de implementar meios de mensuração
do carbono florestal para o mercado de créditos internacionais, propicia outra
consequência, atrelada ao reflorestamento e/ou à restauração, que é a conservação
de ecossistema de Mata Atlântica e a biodiversidade local, sendo uma filosofia e
escopo da SPVS (YU, 2004).
Entre outros projetos para captura de carbono, executados pela SPVS, estão a
recuperação de área degradada no município de Antonina-PR, na Reserva do Morro
da Mina (1000ha) financiado pela General Motors, e no Morro do Azul (12.000ha),
financiado pela Texaco (OLIVEIRA JUNIOR, 2004).
O projeto Peugeot apresentou estimativa inicial de investimento de U$12
milhões, e foi implantado em 1998, na fazenda São Nicolau, localizada no muni-
cípio de Cotiguaraçu (Mato Grosso), onde foram reflorestados 2000ha, compostos
por 80% de espécies nativas e 15% de teca (Tectona grandis), com estimativa de
capturar 500.000 toneladas de carbono entre 2003-2043. Esse projeto, além da cap-
tura de carbono como política da empresa, também trouxe benefícios à sociedade
local, como a conscientização do valor da floresta restaurada (ecossistema), fato
muito importante para uma região de fronteira agrícola no “arco do desmatamento”,
onde a prática da derrubada de floresta predomina (comunicação pessoal Gilney
Viana, em Yu, 2004).
Contribuições sociais do projeto Peugeot também incluem a distribuição de
mudas de espécies nativas a pequenos produtores (29 produtores), para implanta-
ção de sistemas agroflorestais, estimulando uso sustentável. Além disso, inclui a
interação social com o ecossistema (floresta), via conscientização da população a
respeito do escopo do reflorestamento e da captura de carbono, por meio de projetos

de extensão e educação ambiental, principalmente com alunos de escola. Apesar
de o projeto Peugeot não estar vinculado ao mercado internacional de carbono,
ele é um bom exemplo de execução de planos para captura de carbono, pois segue
muitos das diretrizes do Protocolo de Quioto (YU, 2004).
O mercado de crédito de carbono, que é reflexo de acordos internacionais sobre
mudanças ambientais globais, abre possibilidades para o emprego da abordagem
geossistêmica no reconhecimento e monitoramento das fácies físico-geográficas e
na análise da totalidade de suas inter-relação escalares. Assim, a compreensão dos
sistemas espaciais de forma integrada pode atender ao escopo de captura de carbono,
principalmente na forma de monitoramento de húmus estáveis, o qual apresenta
taxa de decomposição mais lenta, principalmente em solos, e no prognóstico de
transformações e “maturações” dos ecossistemas das áreas recuperadas.
Outra via de análise geossistêmica no Brasil consiste nas áreas degradadas,
definidas como o ambiente que perdeu a capacidade de retornar, naturalmente, ao
estado original ou a um equilíbrio dinâmico, isto é, perdeu a resiliência (IBAMA,
1990). Segundo o Manual de recuperação de áreas degradadas pela mineração
(IBAMA, 1990), o processo que desencadeia a degradação pode ser assim explicado:
A degradação de uma área ocorre quando a vegetação nativa e a fauna forem

destruídas, removidas ou expulsas; se a camada fértil do solo for perdida, remo-
vida ou expulsa; e a qualidade e o regime de vazão do sistema hídrico forem
alterados. A degradação ambiental ocorre quando há perda de adaptação às
características físicas, químicas e biológicas e é inviabilizado o desenvolvi-
mento socioeconômico.
Pela Lei brasileira n. 6.938, de 31 de agosto de1981, a recuperação de área

degradada é determinada, conforme consta em seu “art. 2° – A Política Nacional
do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da
qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao
desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à pro-
teção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: [...] VIII
– recuperação de áreas degradadas.
Baseado na Lei n. 6.938/1981, foi editado o Decreto n. 97.632, de 10 de abril
de 1989, regulamentando os critérios para recuperação de áreas degradadas:
Art. 1° Os empreendimentos que se destinam à exploração de recursos mine-

rais deverão, quando da apresentação do Estudo de Impacto Ambiental – EIA
e do Relatório do Impacto Ambiental – RIMA, submeter à aprovação do órgão
ambiental competente, plano de recuperação de área degradada.
Art. 2° Para efeito deste Decreto, são considerados como degradação os pro-
cessos resultantes dos danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem ou se
reduzem algumas de suas propriedades, tais como, a qualidade ou capacidade
produtiva dos recursos ambientais.
150
Art. 3° A recuperação deverá ter por objetivo o retorno do sítio degradado a

uma forma de utilização, de acordo com um plano preestabelecido para o uso
do solo, visando a obtenção de uma estabilidade do meio ambiente.
Assim, quando as atividades humanas, sociais e econômicas desestabilizam

as inter-relações ambientais, estas devem ser reparadas, como instituído no art. 255
da Constituição Federal §2º: “Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado
a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida
pelo órgão público competente, na forma da lei”.
Segundo o IBAMA (1990), essa obrigatoriedade pode ser realizada por meio
da recuperação, visando a implementação de técnicas de silvicultura, agronômicas
e de engenharia, focadas na revegetação. O segundo modo de abordagem pode ser
pela restauração ecológica, que consiste na recuperação de um ecossistema em
relação a sua saúde, integridade, história local e sustentabilidade, com o estabele-
cimento de, no mínimo, 80 espécies arbóreas no final da implementação de projetos
em ecossistemas brasileiros, exceto para aqueles que, naturalmente, apresentam
baixa diversidade (florestas paludosas, de restinga, sob turfeiras, deciduais e campos
úmidos naturais) (MARTINS et al., 2015).
Na perspectiva da restauração ecológica, existe um estudo de longo termo,
desenvolvido por Bozelli et al. (2000), restabelecendo as relações ecológicas em
ecossistema amazônico, tipo lêntico. Nesse estudo, observa-se que as atividades de
mineração ocasionam intensas alterações nas inter-relações dos sistemas espaciais,
seja pela escavação de materiais ou pela produção de dejetos, os quais, por vezes,
afetam diretamente o relevo, solo, biota e dinâmicas fluviais.
Em Trombeta – PA, a mineração de bauxita desencadeou a degradação ambien-
tal de um ambiente lêntico, no caso, o lago do Batata (BOZELLI et al., 2000). O
ecossistema do lago foi afetado pelo despejo de dejetos de argila entre 1979-1989,
período em que 30% do lago foi aterrado. Resultados dessa degradação foram a
supressão da vegetação de igapó, o aumento da turbidez da água e alterações eco-
lógicas no meio aquático.
A partir de 1989, vem sendo implantados projetos para restauração ecológica,
com objetivo de restabelecer funções ecológicas do lago e que, por sua vez, são
necessários à abordagem da totalidade. Para que ocorresse alto desempenho, no
primeiro momento, estabeleceu-se a flora viável ao material argiloso (colonização)
para instaurar a formação de materiais aptos a manter a vegetação de igapó. Com
o estabelecimento inicial da flora ocorreram sucessões vegetais, e, até o início do
século XX, 100ha foram replantados e estão em vias de recuperação (BOZELLI
et al., 2000).
A revegetação de algumas partes das margens do lago proporcionou a dimi-
nuição de turbidez e o aumento de espécies de peixes, de 19 espécies, existentes
em 1989, para 50 em 2000 (BOZELLI et al., 2000). Assim, o monitoramento,
ao longo de 34 anos (projeto monitoramento do lago Batata – UFJF), de vários
componentes do Geossistema permitiu se compreender os meios e as vias que uma
organização espacial necessita para que se reestabeleça ou melhore a qualidade
das funções ecossistêmicas. Ressalta-se, nesse sentido, que não basta replantar e
esperar que o sistema se auto-organize a partir desse ponto e “crie” um ecossistema.
É preciso mais para evitar que se repitam as problemáticas ocorridas no decorrer
do projeto Peugeot.
Resumindo, pelo apresentado neste tópico, aponta-se que o aumento da
demanda, da escassez e da degradação de recursos naturais está fazendo surgir
demandas de proteção desses ambientes, com políticas de conservação na forma
de leis, como a Convenção Europeia da Paisagem, e as implementações em cada
país membro. São necessárias formas de pagamentos por serviços ecossistêmicos
em âmbito internacional, que também refletem no território brasileiro em diversas
escalas territoriais (federal, estadual e municipal), como o mercado internacional
de créditos de carbono, e mesmo políticas nacionais para SE, como o programa
Produtor de Água, gerido pela Agência Nacional de Água, e leis para que se garan-
tam reparos aos danos às relações sistêmicas das organizações espaciais, como a
recuperação de áreas degradadas (Lei n. 6.938/1981).
Essas demandas da sociedade por recursos naturais abrem a possibilidade para
o emprego da abordagem geossistêmica, no reconhecimento e monitoramento das
fácies físico-geográficas (estrutura e funcionamento) e na análise da totalidade, suas
inter-relação escalares, em áreas estratégicas, como: parques nacionais, reservas
naturais, reserva particular do patrimônio natural, recuperação de áreas degradadas
e de bacias hidrográficas, visando a produção de água, entre outros. Assim, a com-
preensão dos sistemas espaciais hierarquizados, de forma integrada, na concepção
do Geossistema (SOCHAVA, 1978), pode atender ao escopo das políticas territoriais
e as diversas demandas da sociedade do século XXI (Figura 48), como os SE, que
necessitam de abordagens para atender aos fenômenos escalares dos ecossistemas,
isto é, que apresentem distintos tamanhos como sistemas ecológicos (desde local
à biosfera), e cujo método geossistêmico pode ser adequado a esse escopo, entre
outros requisitos para os SE (estrutura, funcionamento e temporalidade).
Portanto, não se deve esquecer que o Geossistema permite ao geógrafo expres-
sar o máximo de sua potencialidade na análise holística (principalmente no para-
digma sistêmico), para o ordenamento do território e, ao mesmo tempo, atender
o art. 225 da Constituição Federal: “todos têm direito ao meio ambiente ecologi-
camente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
152
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demandas atreladas à sociedade
Ordenação de leitura sugestiva para Geossistema e território

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A geografia, em particular quando próxima à ciência da natureza, apresenta
como um de seus focos a busca pela compreensão das dinâmicas e estruturas das
paisagens, sendo que um dos possíveis modos de compreensão é apresentado neste
livro, isto é, pelo paradigma sistêmico. Esse paradigma permite a descrição, a análise
de recursos naturais e de processos dinâmicos, na forma de sistemas espaciais ou
organizações sistêmicas, em que o pilar se estrutura na totalidade, nas inter-relações
e nas interpretações holísticas.
O paradigma sistêmico possibilita, ainda, a compreensão da realidade como uma
natureza integrada, a partir da qual pode se avaliar o papel do homem na modificação
e restruturação dos sistemas espaciais, ou seja, fenômenos ambientais e humanos-so-
ciais-econômicos são entendidos como sistemas interligados. É nesse contexto que,
em um esforço científico de unificar os campos setoriais da Geografia e, ao mesmo
tempo, de desenvolver meios para a ordenação de territórios frágeis a ocupação humana
(estepes e taigas), surgiu, na Rússia, a proposta do Geossistema.
A partir de uma proposta com cunho sistêmico da paisagem, foi possível desen-
volver meios sistematizados para a seleção e as modelagens de elementos-chave das
inter-relações espaciais (retroalimentações, limiares, tempo de resposta etc.), relevantes
para determinadas escalas ou hierarquias do sistema classificatório. Sendo assim, per-
mitiu realizar generalizações em determinadas porções da superfície terrestre e apontar
melhores direcionamentos ao planejamento de uso e ocupação, bem como melhores
formas de manejo das organizações espaciais, respeitando os limites das inter-relações.
Nesse sentido, a teoria geossistêmica russa marcou, em sua época (1970), uma
nova forma de abordagem geográfica, agregando em uma teoria/método conceitos já
estabelecidos na literatura geográfica russa (fácies físico-geográficas, inter-relações,
sistemas etc.), e firmando-se como útil ao ordenamento territorial da Rússia, em espe-
cial na Sibéria (Ocidental, Central, Oriental). No entanto, o autor dessa obra acredita
que o Geossistema russo possa ir a frente de seu tempo, constituindo, no século XXI,
um método de análise da superfície terrestre bastante ou mais adequado ao nível de
demanda dos recursos naturais e da intensificação de conflitos deles decorrentes.
Expressa-se tal perspectiva nas palavras de Snytko e Sobisevich (2020, p. 6):
A pesquisa de Viktor Sochava sempre foi delineada não apenas em diagnosticar e

caracterizar o estado atual do ambiente natural, mas também em estabelecer um
prognóstico geográfico (futuro). Isto foi particularmente evidente nas décadas de
1960 e 1970, quando foi requerida da geografia a tarefa de otimizar o ambiente
natural [...] Na atualidade, sua pesquisa [de Sochava], e na posterior continuidade
do desenvolvimento da teoria do Geossistema, tem a utilizado para resolver proble-
mas no desenvolvimento dos territórios siberianos (Tradução do autor desta obra).
Demonstra-se, assim, que a geografia no século XXI continua amparada em

uma abordagem da Teoria Geral dos Sistema. A espacialização de fenômenos, via
156
Sistema de Informação Geográfica junto a dados de informação digital (Big data),

e o desencadeamento de problemas ambientais/sociais em nível planetário (efeito
estufa, degradações ambientais, esgotamento/qualidade de recursos naturais) tornam
o uso da abordagem do Geossistema russo uma necessidade da atualidade. Por conse-
guinte, é possível que, pela abordagem geossistêmica, se alcance o desenvolvimento
sustentável (BRUNDTLAND, 1987), desejado por diversos países e defendido em
tratados ambientais internacionais (Protocolo de Quioto, Acordo de Paris, Convenção
Europeia da Paisagem entre outros).
Desse modo, com esta obra, busca-se fornecer compilados literários, que dê ao
leitor/pesquisador condições de entender a importância da Teoria Geral dos Sistemas
para a Geografia, como um paradigma e um modo de interpretação da realidade
vivenciada, e a compreensão de alguns dos desafios com os quais o Geógrafo se
depara em âmbito de políticas globais e locais (programas de serviços ecossistêmi-
cos, produção de recursos naturais, proteção de biodiversidade, desenvolvimento
sustentável, entre outros).
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Lei/L14119.htm Acesso em: 05 mar. 2021.
GLOSSÁRIO DE TERMOS EM SISTEMA
Para a consulta de conceitos de sistemas recomenda-se o acesso a sites com
dicionários, a seguir:
Principia Cybernetic Web. Web Dictionary of Cybernetics and Systems. Disponí-

vel em: http://cleamc11.vub.ac.be/ASC/IndexASC.html. Acesso em: 01 abr. 2021.
Bertalanffy Center for the Study of Systems Science (2021). In: FRANÇOIS, Charles
(ed.). International Encyclopedia of Systems and Cybernetics. Disponível em:
http://systemspedia.bcsss.org/?letter=A. Acesso em: 01 abr. 2021.
Auto-organização: processo de evolução do sistema no qual o efeito do

ambiente é mínimo, ou seja, onde o desenvolvimento e/ou aumento de novas estru-
turas complexas (área de influência), ocorre, principalmente, no próprio sistema e
por meio dele. Ou seja, sistemas apresentam tendências de direcionar os processos
para vias menor energia até alcançar o estado estacionário, em que vai permanecer
constante enquanto não houver perturbações nas inter-relações ou o limiar ser extra-
polado e o sistema se reorganizar as novas condições (evolução).
A auto-organização ocasiona aumento da informação ou restrição: após o pro-
cesso de auto-organização, há menos ambiguidade sobre o estado em que o sistema
se encontra. Um sistema auto-organizado também aumenta sua entropia termodi-
nâmica ao exportá-la (“dissipar”) para seus arredores, formando, assim, estruturas
dissipativas, conforme teorizou Prigogine (1977).
Geralmente, a auto-organização está associada a fenômenos mais complexos
e não lineares, que podem ser compreendidos pela interação de ciclos de retroali-
mentação positiva e negativa (por exemplo: aprofundamento do nível de base, des-
matamento etc.). A retroalimentação positiva caracteriza-se por aumentar o número
de configurações, até o ponto em que os recursos se tornam insuficientes (relação
entre infiltração/escoamento e erosão completa do solo). A retroalimentação negativa
estabiliza as inter-relações após determinado tempo de resposta do sistema.
Adaptação: capacidade da manutenção de variáveis essenciais a limites fisio-
lógicos. Por exemplo, a quantidade de dióxido de carbono no sangue é importante,
considerando seu efeito sobre a alcalinidade do sangue. Se a quantidade aumentar,
a taxa e a profundidade da respiração aumentam, e o dióxido de carbono é exalado
a uma taxa aumentada. Se a quantidade diminuir, a reação é revertida, desta forma,
a alcalinidade do sangue é mantida dentro de limiares do sistema.
Adaptabilidade (hierarquicamente organizada): em sistemas complexos,
existem vários níveis de adaptabilidade. Por exemplo, em sistemas sociais humanos,
adaptações locais e específicas podem ser feitas sem controle ou regulamentação de
níveis mais abrangentes, desde que permaneçam dentro dos limites de tolerância
estabelecidos. Assim ocorre, por exemplo, nas ordens dimensionais dos geossistemas,
184
em que fatores locais apresentam forte influência na estruturação e dinâmica dos

sistemas espaciais (lençol freático, salinidade, rochosidade etc.), respeitando as leis
da zonalidade latitudinal.
Adaptação recíproca: processo pelo qual dois ou mais sistemas ou populações
se adaptam uns aos outros. Os sistemas devem ser compatíveis e, mais ou menos,
complementares para permitir um processo de adaptação recíproca. Por exemplo,
algumas plantas, quando atacadas por um parasita, produzem terpenos, os quais, por
sua vez, atraem os parasitas do parasita. Como resultado, um balanço global variável
tende a se estabelecer (mesmo que, frequentemente, caótico).
Ajuste: alteração que um sistema realiza a fim de modificar seu funcionamento,
sua estrutura ou suas características para que possa produzir melhores dinâmicas ou
estados do sistema. A capacidade de fazer ajustes é condição geral para a adapta-
bilidade em qualquer sistema; e a velocidade é um fator crucial nesse ajuste, pois,
sempre que qualquer sistema é deslocado de condição de estabilidade, é necessário
um tempo finito para alcançar a estabilidade novamente.
Análise: procedimento de redução da totalidade às suas partes; a separação de
um todo intelectual ou substancial em constituintes para estudo individual da parte.
Quando um sistema é “analisado”, a maioria ou todas as inter-relações não lineares
entre suas partes são excluídas involuntariamente. Em situação ideal, a análise de
sistema deve sempre ser conjugada com a síntese (visão sintética do todo). Assim, o
todo é compreendido e descrito não apenas em termos de suas partes, mas, mais sig-
nificativamente, pelo padrão que os conecta (comunicação, organização). Tal análise
conjugada revela as propriedades holísticas de um sistema sem perda ou destruição.
Anisotropia: caráter de qualquer entidade cujas propriedades variam de acordo
com diferentes direções. A anisotropia está intimamente relacionada à formação e
manutenção da estrutura, e reflete as dissimetrias resultantes da quebra de simetria.
Atraso (lag): demora no tempo de retorno da resposta à ação no sistema.
No desenvolvimento da organização, algumas variáveis podem mudar mais rápido
do que outras e, se forem dependentes umas das outras, essas diferenças temporais,
denominadas de atraso ou lag, podem causar estresse estrutural dentro de um sis-
tema. Em cibernética, o atraso se refere ao tempo decorrido até que as informa-
ções passem por um ciclo completo de retroalimentação.
Biosfera: refere-se à totalidade dos organismos vivos (todos os ecossistemas
da Terra), sendo a maior ordenação ecológica do planeta, e que se inter-relacionam
com os componentes da superfície terrestre e seus processos (rocha, relevo, solo,
água, radiação solar).
Causalidade: processo que liga dois ou mais eventos ou estados para que um
ocorra ou produza o outro. Um evento é a causa de outro se: (a) o evento ocorre
antes do efeito, (b) há uma conjunção invariável dos dois eventos, e (c) há um meca-
nismo subjacente ou uma estrutura física que atesta a necessidade da conjunção. A
importância das explicações teórico-causais consiste na possibilidade de aplicá-las
para explicar o ocorrido e projetar o que acontecerá. Sua importância prática é que
elas levam a produzir ou prevenir eventos causalmente relacionados por intervenção

direta ou indireta.
Crescimento: trata do aumento na magnitude de alguma medida agregada de
um sistema, por exemplo, crescimento no produto nacional bruto ou em complexi-
dade. O crescimento não precisa ser desejável, por exemplo, o crescimento do desem-
prego. Existem dois tipos de fenômeno de crescimento: (1) crescimento numérico,
por exemplo, crescimento populacional; e (2) crescimento estrutural, por exemplo,
crescimento de um mineral. Sem referência às condições externas, o crescimento
estrutural obedece a vários princípios, como: Crescimento (a) por nucleação: em qual-
quer sistema, uma estrutura tem um tamanho mínimo, abaixo do qual não pode existir
(fácie físico-geográfica em Geossistema) e acima do qual pode se expandir (planeta
Terra no Geossistema); (b) por autocatálise; ou (c) de acordo com algum tipo de plano,
por exemplo, pelas regras de reescrita de uma gramática, ou pelo DNA. Em sistemas
complexos, (d) o crescimento estrutural pode afetar as partes de um sistema de forma
diferente, criando atrasos e tensões que exigem (e) atividades compensatórias, por
exemplo, intervenção em crise ou resolução de conflitos por um governo; ou (f) para
dispositivos de mediação, por exemplo, rede de troca ou tecnologia de comunicação.
E, (g) todo crescimento cria formas, mas as formas são limitadas pelo padrão de
crescimento, terminando, assim, em morfostase.
Complexidade: característica sistêmica que representa um grande número de
partes densamente conectadas e vários níveis de incrustação, emaranhamento, ou
seja, miríades de inter-retro-ações.
Esta definição pode acomodar, facilmente, sistemas ou ecossistemas planetá-
rios, como:
1. Sistemas com vários componentes podem ser considerados complexos. Assim,
a cardinalidade de um conjunto pode ser usada como medida de complexidade;
2. Sistemas com muita interdependência entre os componentes são, geralmente,
considerados mais complexos do que outros com menos interdependência;
3. A complexidade dos sistemas pode ser medida por seu conteúdo de informa-
ção, no sentido de Shannon e Weaver (1949);
4. Nesse contexto, a “complexidade informacional” pode ser definida pelo
número de parâmetros ou símbolos necessários para a sua definição.
Comportamento: qualquer sequência de estados de um sistema. Esse conceito
abrange também o espaço de comportamento, que é o conjunto de probabilidades de
comportamentos que um sistema pode apresentar. Pode ser representado em gráficos,
para representar condições iniciais do sistema, circunstâncias, propósitos etc. Assim
o espaço comportamental está para os processos como o espaço de estados está para
os possíveis estados do sistema.
Controle: efeito de restrição em uma variável (manipulação de entradas no
sistema); uma influência direta no comportamento de um sistema ou a configuração
dos parâmetros de um sistema. Qualquer comunicação unilateral, que, por sua defi-
nição, condiciona o comportamento de um receptor em alguns aspectos, envolve o
controle de um receptor por um emissor.
186
Desenvolvimento: processo de desdobramento progressivo da estrutura de

um sistema até atingir seu estado de estabilidade, perante as condições do ambiente.
Do ponto de vista termodinâmico (e que interessa ao Geossistema), o desenvolvimento
ou está relacionado ao crescimento de um determinado sistema, ou à sua eventual
transformação por estruturação dissipativa. No primeiro caso, apenas um crescimento
moderado de um sistema bem definido pelo seu fechamento organizacional é possível
até que o sistema atinja seu nível de estabilidade dinâmica, definido pela produção
de entropia interna mínima, compatível com suas necessidades de manutenção. No
segundo caso, o sistema é forçado a sair de seus limites de estabilidade dinâmica
por entradas crescentes de energia, que devem ser dissipadas, mas podem produ-
zir uma estruturação interna crescente e aumentar o nível de produção de entropia
interna. Eventualmente, a natureza do sistema pode ser radicalmente modificada por
meio da complexificação emergente. No entanto, mesmo em tal caso, o novo sistema,
após a transição de emergência, precisa se estabilizar, ou seja, encontrar seu nível
adequado de estabilidade dinâmica.
Dinâmica: Atributo que enfatiza movimento, mudança e processo em oposição
a “estático”.
Dinâmica caótica: corresponde às dinâmicas não lineares no sistema, em que
o comportamento de tal sistema não pode ser previsto com rigor (sinergia), mesmo
que permaneça amplamente determinista. Provavelmente, relaciona-se à propagação
anisotrópica e à falta de sincronia das múltiplas interações dentro do sistema.
Dinâmica não linear: campo de modelos para processos e sistemas não linea-
res, os quais incluem: Teoria da bifurcação; Dinâmica caótica; Fractais; Redes neu-
rais; Sincronização de sistemas caóticos; Sinergética. A dinâmica não linear é um
desenvolvimento decisivo em todas as disciplinas quando os modelos estritamente
determinísticos são insuficientes. Tem um caráter tipicamente transdisciplinar, com
aplicações em ampla gama de campos, desde as ciências físicas às biológicas e sociais.
Domínio dimensional: região do espaço-tempo ocupada por um sistema. O
domínio dimensional é semelhante a um espaço topológico, estendido ao longo da
dimensão do tempo. E, como suas características são definidas pelo sistema interno,
diferencia-se de seu ambiente.
Ecossistema: sistema que envolve a interação de populações de espécies dentro
de um ambiente particular, desenvolvendo-o como um todo. Considerada parte da
ecosfera, um ecossistema é também um objeto da ecologia.
Energia: capacidade de realizar trabalho mecânico; a diferença entre dois esta-
dos de entropia termodinâmica, antes e depois de o trabalho ter sido executado. A
energia é medida como o produto da força e da distância (por exemplo, ao levantar
um peso a uma certa altura) ou como o produto da força e do tempo (por exemplo,
ao fazer um objeto se mover com uma certa velocidade). A energia pode ser do tipo:
elétrica, que é medida em quilowatt/hora (kw / h); térmica, medida em calorias
(cal.); mecânica, medida em cavalos de força; luz, medida em Joules; explosivos,
medidos em toneladas de TNT etc. Diferentes formas de energia são convertíveis
devido a primeira lei da termodinâmica, que torna a energia um dos temas mais

importante da física.
Entrada: qualquer matéria, energia ou informação que um sistema ou subsis-
tema recebe de seu ambiente. Qualquer entrada é obtida de uma fonte específica,
que deve ser identificada com a maior precisão possível, a fim de estabelecer a
dependência absoluta ou relativa do sistema em relação a ela.
É muito importante saber o grau de probabilidade de a fonte produzir o insumo
necessário, em quantidade e também em qualidade, durante todo o período de tempo
em que o sistema necessitará dele. Isso implica um estudo da taxa de produção do
insumo, das possíveis perturbações que podem afetá-lo e da competição de outros
sistemas para garantir suas próprias necessidades.
Entropia: energia indisponível no sistema ou desordem molecular (medida
de energia utilizável ou disponível no sistema). A entropia atinge o máximo quando
as moléculas de um gás estão no mesmo nível de energia (ausência de trabalho).
Na termodinâmica, a entropia pode ser expressa em S = k log W, que é a função da
dispersão W do calor, com k sendo a constante de Boltzmann.
Estado: conjunto de valores numéricos, cujas variáveis possuem característi-
cas, em um dado momento, e que podem ser reconhecidas se ocorrerem novamente.
Escala: fenômenos que ocorrem em sistemas de grande e pequena escala, e que
estão inter-relacionados estruturalmente (no espaço) e funcionalmente (no tempo).
Como exemplo de relação estrutural, é possível citar as sociedades formadas por
indivíduos, e estes por células, as quais, por sua vez, são compostas por moléculas
e átomos. Na relação funcional, é possível citar os registros fósseis ou dos materiais
geológicos de distinto ambiente pretérito, fenômenos de curto prazo que permanecem
dentro da estrutura de longo prazo (estrutura de bacias sedimentares).
Estabilidade: manutenção da regularidade do sistema perante perturbações,
ou capacidade de retornar ao seu estado original (anterior ao distúrbio). Quanto mais
rápido o retorno, mais estável será a organização.
Estrutura dissipativa: sistema distante do equilíbrio termodinâmico, que,
para manter a estrutura, realiza a eficiente dissipação do calor (energia) gerado para
sustentá-lo e tem a capacidade de mudar para níveis mais elevados de ordem (auto-
-organização). De acordo com Prigogine, os sistemas contêm subsistemas que flutuam
continuamente. Às vezes, uma única flutuação ou uma combinação delas pode ser
ampliada por uma possível retroalimentação, que destrói a organização preexistente.
Em tais momentos revolucionários ou “pontos de bifurcação”, é impossível deter-
minar, de antemão, se o sistema se desintegrará no “caos” ou saltará para um novo
nível de “ordem”, mais diferenciado e superior. Este último caso define as estruturas
dissipativas, assim chamadas porque precisam de mais energia para se sustentarem
que as estruturas mais simples, que substituem e têm crescimento limitado pela
quantidade de energia que são capazes de dispersar.
Equifinalidade: comportamento em que as condições iniciais são distintas, mas
resultam em efeitos e/ou produtos semelhantes (exemplo: laterização).
188
Estrutura: conjunto de inter-relações estáveis entre os elementos de um sis-

tema e o ambiente (em sistema aberto), gerando padrões sistêmicos de conexão entre
componentes via processos, por sua vez, a estrutura, e que pode ser comparada com
padrões de onda estacionária (estabilidade). Exemplos: processo de comunicação,
uma vez iniciado e mantido, conduz a formação de uma estrutura social; a estrutura
de uma unidade militar; a distribuição de obrigações e responsabilidades em uma
organização formal.
Estocástico: variáveis parcialmente aleatórias ou incertas, não contínuas; que
não são completamente determinadas nem completamente aleatórias, isto é, em outras
palavras, apresentam elemento de probabilidade. Um sistema contendo uma ou mais
variáveis estocásticas
é determinado probabilisticamente.
Processo estocástico: processo de mudança delineado por probabilidade. Por
exemplo, jogar uma moeda, expansão epidêmica, mobilidade social. Para esse e
muitos outros fenômenos, os processos estocásticos fornecem modelos adequados.
Evolução: processo de mudança contínua de um estado inferior, mais simples,
para um estado superior, mais complexo, onde surgem novos processos, ou seja, é
a transformação cumulativa de sistemas em mudanças irreversíveis. A evolução é
um processo global: qualquer mudança em alguma parte de um sistema, inevitavel-
mente, evoca mudanças correlacionadas em outras partes até que um novo tipo de
estabilidade dinâmica seja alcançado (mudanças nas invariantes).
Epistemologia: ramo da filosofia que busca compreender a origem, os proces-
sos e as limitações da observação (modos de compreensão da realidade), incluindo
operações, como traçar distinções, estabelecer relações, criar elaborações e todo
conhecimento resultante da comunicação entre um observador e o observado. A
epistemologia de uma teoria considera o observador e o observado como partes do
mesmo sistema e a teoria como uma propriedade emergente do processo de interação.
A epistemologia não questiona “o que é” ou “o que podemos saber”, mas “como
podemos saber”.
Externalidade: efeitos colaterais não previstos de cursos de ação calculados.
Por exemplo, efeitos de acumulação lenta não manifestam seu impacto por décadas
ou séculos e, portanto, são classificados como externalidades, a menos que, repenti-
namente, induzam perturbações inesperadas.
Fenômeno histórico: processo de mudança em que o estado do momento é
proveniente de sucessivos estados de um sistema em mudança, e surge como uma
modificação de um estado anterior em uma transformação causal e não de novo,
como uma ocorrência independente.
Fronteira (limite): descrição mínima necessária para distinguir um sistema
de seu ambiente.
Gestalt: estrutura, configuração ou padrão de fenômenos físicos, biológicos,
sociológicos ou psicológicos integrados (totalidade), de modo a constituir uma uni-
dade funcional, com propriedades não deriváveis de suas partes na soma.
Holismo: conceito derivado do grego: “holos” = todo. Foi introduzido em 1926,
pelo general e estadista sul-africano Jan Smuts. Consiste na estratégia descritiva
e investigativa que busca identificar o menor número de princípios explicativos,

abordando as propriedades emergentes do todo, em oposição ao comportamento das
partes isoladas, escolhido pelo observador em uma estratégia reducionista. Assim,
a abordagem holística enfatiza a integridade dos sistemas em detrimento de seus
componentes, apresentando as seguintes teses: O todo é mais do que a soma de suas
partes; O todo age em suas partes; O todo surge sob a ação de agentes que transcendem
tanto as ações entre os componentes quanto as influências ambientais.
Informação: literalmente aquilo que se forma dentro, mas de forma mais ade-
quada: o equivalente ou a capacidade de algo para realizar trabalho organizacional, a
diferença entre duas formas de organização ou entre dois estados de incerteza antes e
depois de uma mensagem ter sido recebida, mas também o grau para qual variável de
um sistema depende ou é restringida por outra. A informação estar presente de diver-
sas formas: 1) A informação existe dentro de sistema, ou seja, entidades organizadas
capazes de traduzir dados básico em ações coerentes. O DNA é um exemplo, esse
carrega informações genética que organizam ou controlam o crescimento ordenado de
um organismo vivo; 2) A informação apresenta significado humano específico; 3) A
informação apresenta significado semântico, diferente de sua medida quantitativa,
e também descritivo, em resposta a perguntas, como: o quê, qual, quem, quantos,
quando e onde; 4) A informação pode estar relacionada ao aumento ou diminuição do
local de produção de entropia, ou seja, tipificar graus de organização sistêmica. Como
uma síntese ainda provisória, “informação” é um conceito multifacetado, transmi-
tindo, por meios naturais ou artificiais, conjuntos coletivos de várias representações
adquiridas por consenso dentro de grupos específicos de pessoas.
Impacto: qualquer consequência (benéfica ou adversa) que vá além do objetivo
direto de um determinado curso de ação do sistema.
Isomorfismo: conjunto de princípios gerais, que podem ser transferidos de um
campo para outro sem a necessidade de duplicação.
Interação: o todo e as partes de cada sistema existente que interagem, ou seja,
agem e influenciam uns aos outros (casual ou condicionalmente), de maneiras que
o constituem e o mantêm.
Interação de processos (processo interativo): cálculo de um resultado desejado
por meio de ciclo repetido de operações. Um processo interativo deve ser conver-
gente, ou seja, deve se aproximar do resultado desejado à medida que o número de
interações aumenta.
Lei: declaração, a qual, junto com suas qualificações, postula uma restri-
ção sobre as observações concebíveis e que não é contradita por observações ou
contraexemplos.
Lei da Gênese da Estrutura: qualquer processo de comunicação de um sis-
tema que, uma vez iniciado e mantido com alguma regularidade, leva à gênese da
estrutura (social, entre comunicadores) dentro desse “sistema”. A lei pressupõe que os
componentes individuais exibam algumas regularidades (por exemplo, preferências
condicionais, vieses estatísticos em resposta a estímulos, comportamento racional) e
participem do sistema por algum tempo. A velocidade de gênese estrutural aumenta
190
com a complexidade das comunicações, com o número de comunicadores participan-

tes e com a duração do processo. Por outro lado, a velocidade diminui com o nível de
consciência e o número de mensagens controladas por cada comunicador. No entanto,
a lei é sempre válida, independentemente de o resultado ser antecipado ou desejável.
Limite de ciclo: sistemas que tendem a uma estabilidade dinâmica oscilante
como não linear. Por exemplo, um motor em funcionamento, alimentado com uma
fonte constante de combustível ou energia. Nesse caso, é possível obter configura-
ções tais que, se o sistema começou a vibrar, oscilar, continuará funcionando se o
ciclo assim formado operar de forma independente das precisas condições iniciais de
partida, apesar de o sistema apresentar perdas e apesar de perturbações moderadas,
que tentam retardar ou acelerar o processo, então se diz que é um ciclo limite (estado
estacionário). A condição básica para a existência de um ciclo limite é uma entrada
constante de energia suficiente para o sistema, sem exceder os limiares da organização.
Meio: ambiente de todas as coisas que circundam o sistema (fatores externos)
e que pode afetá-lo, e ser afetado pelo sistema.
Morfogênese: processo de criação de novas formas organizacionais, em res-
posta às mudanças nas condições ambientais (mudanças das invariáveis). Como
consequência da retroalimentação positiva entre as variáveis, a morfogênese pode
ser adaptativa.
Modelo: representação simbólica de um conjunto de objetos, suas relações e
seus movimentos. Pela manipulação do modelo, os efeitos de mudanças em um ou
mais aspecto da entidade podem ser determinados.
O modelo pode ser representado como:
- Descritivo: descreve o funcionamento do sistema. São exemplos: a escala de
um sistema ferroviário; a equação do movimento de um planeta.
- Computação: usado para guiar, reproduzir ou calcular a ação no domínio,
como em instruções de um sistema de orientação inercial (guiando); um simulador
de voo (reproduzir); ou computar uma medição (calcular).
- Previsão: às vezes utiliza-se modelos para prever o estado futuro de um sistema
relativo. Exemplos são os modelos que preveem a elevação de uma asa em voo; a
posição de uma estrela; ou o estado futuro do clima ou da economia mundial.
Modelo da realidade: informações que um ser vivo ou robô armazenou sobre o
mundo ao seu redor. Assim, serve para guiar a interação do sistema com seu ambiente.
Morfologia: estudo das propriedades formais de algo em oposição às suas mani-
festações materiais, físicas ou comportamentais concretas.
Mudança: transição de um estado para outro em um sistema, ou do valor de
alguma variável para outra, e no tempo. A mudança pode ser periódica ou aperió-
dica; aleatória ou determinada; rápida ou lenta (de acordo com alguma escala de
tempo); local ou global, ou seja, afetando alguma estrutura e função, ou o sistema
como um todo. As mudanças mais radicais ocorrem quando: “as condições macros-
cópicas de não equilíbrio criam novos processos microscópicos que, por sua vez,
mudam as condições macroscópicas, e assim por diante”.
Negentropia: o oposto da entropia. Representa a disponibilidade de energia

útil (realização de trabalho). Assim, a negentropia é uma medida de complexidade de
um sistema, expressa no número de suas partes ou subsistemas e em sua variedade.
Noosfera: termo desenvolvido após “atmosfera” e “biosfera”, signifi-
cando a esfera das inter-relações entre a sociedade e a natureza, dentro dos limi-
tes da qual as atividades humanas sábias (conscientes) se tornam o principal fator
de desenvolvimento.
Organização: inter-relação e processo de comunicação, incluindo coordenação
e coorientação entre os componentes ou as variáveis de um todo, determinando a dinâ-
mica de interação e transformações possíveis, pelas quais pode ser submetida como
unidade constituinte da organização de um sistema. Esses sistemas ou subsistemas
funcionais interconectados, geralmente formam diversos níveis hierárquicos, como
na categoria de sistema espacial Geossistema (Planetário→Topológico).
Paradigma: padrão subjacente ao processo de construção de teorias e explica-
ções da realidade (cognição) e que prevalece em uma ciência ou um ramo da ciência.
Nesse sentido, afeta a forma do corpo de conhecimento dentro de um domínio social.
Periodicidade: medida que indica o tempo ou o número de operações após as
quais um processo se repete (recorrência).
Predição (prognóstico): extrapolação de dados para o futuro (previsão) ou
para o passado (retrodição), na teoria do Geossistema designa-se como prognótico
geográfico. Geralmente, é justificada por referência a teorias gerais ou modelos, que
servem como base para fazer inferências a partir dos dados disponíveis para fenôme-
nos fora de seu alcance. Assim, previsões são conclusões tiradas da premissa de dados
disponíveis, usando teorias e modelos como uma espécie de dispositivo silogístico.
Probabilidade: um número entre zero, inclusive, e um, que indica a probabi-
lidade de um evento.
Rede: sistema de canais, links de comunicação, direções de fluxos de infor-
mação; semelhante a um tecido ou diagrama de fiação, descritível como um gráfico.
Regulação: qualquer comportamento sistemático, de um sistema, que tende a
restringir as flutuações no comportamento de outra parte desse sistema. Embora ambas
as partes devam estar no mesmo ciclo de retroalimentação, a regulação envolve esta
assimetria básica: o regulador detecta e responde às discrepâncias de alguma expec-
tativa, que é de uma ordinalidade maior do que o comportamento assim avaliado.
O regulador, então, calcula as ações apropriadas para manter o comportamento a
ser regulamentado dentro dos limites desejáveis. A parte regulada apenas responde
à fonte das oscilações e à ação reguladora – sem informações sobre as expectativas
do regulador. O comportamento do regulador costuma ser programado, como em um
termostato; ou como uma regra, como em uma burocracia. Regulação, nesse sentido,
não implica aprendizagem, adaptação ou inteligência.
Regulador: sistema que determina (seleciona) e impõe (mantém) os parâme-
tros operacionais de outro sistema. Um exemplo de regulador é o piloto automático,
que realiza trajetória de voo sem turbulência, independente das rajadas externas
(ajuste). Desse modo, passageiros da aeronave serão, em suma, impedidos de saber
192
se há ou não rajadas de vento do meio externo. Assim, um bom piloto automático

atua como uma barreira contra a transmissão de informações.
Resiliência: medida da capacidade de um sistema de, em resposta às flutua-
ções do sistema por uma perturbação (externa ou interna), permanecer dentro de
um domínio de estabilidade, e a capacidade do sistema de retornar a esse domínio
estável, posterior à perturbação.
Retroalimentação: retorno de um sinal (informação), indicando o resultado
de uma ação, para determinar a ação posterior e produzir a mudança adequada na
entrada do sistema.
Sistema: conjunto de componentes que, junto com as relações que os conectam,
formam uma unidade (totalidade). A partir da definição e identificação de sistema
é possível realizar formulações de diagnóstico e propor solução de problemas que
surgem das complexas formas de interação em sistemas (denominado de análise de
sistema), do hardware às corporações, que existem ou são concebidas para cumprir
um ou mais objetivo específico. A análise de sistemas fornece uma variedade de ferra-
mentas analíticas, métodos de design e técnicas de avaliação para auxiliar na tomada
de decisão em relação a tais sistemas.
Subsistema: parte de um sistema maior e definido dentro de um subconjunto
de variáveis desse conjunto. Os subsistemas podem ser delineados por um observador,
mas também podem manter sua própria identidade e limite. Podem se sobrepor em
alguma variável e dar origem a uma estrutura que representa as interdependências, por
exemplo, entre uma economia, o sistema educacional e o governo, se sobrepõem três
subsistemas da sociedade.
Supersistema: sistema maior, que contém o sistema de interesse em um con-
junto de suas variáveis, que fornece o contexto de um sistema. Sistema e supersistema,
bem como subsistema e sistema estão relacionados pela parte-todo (hierarquia), ou
seja, organizações e estruturas não existentes nas partes emergem.
Teoria: formulação abstrata de relações aparentes ou princípios subjacentes de
certos fenômenos observados. Pode ser verificado até certo ponto, ou seja, é hipotético.
Transformação: conjunto de transições dos possíveis estados de um sis-
tema para seus respectivos sucessores.
Todo: em uma totalidade, os componentes ou as partes ficam imersos, signi-
ficando que algumas de suas propriedades específicas permanecem ocultas ou são
alteradas devido as interações com outros componentes ou partes. Exemplo é a pro-
priedade que emerge da interação entre átomos de hidrogênio e oxigênio, que forma
a água (distinto das partes). Assim, a totalidade difere, qualitativamente, de um mero
agregado de suas partes, portanto a diferença está em sua estrutura ou organização.
Unidade: algo descritível como um todo, sem a necessidade de descrevê-lo em
interação com seu ambiente.
Ultraestabilidade: capacidade de um sistema de mudar sua organização
ou estrutura interna, em resposta às condições ambientais que podem perturbar as
inter-relações estabelecidas e balanceadas. Ultraestabilidade é a estabilidade de um
nível lógico, superior à estabilidade para a qual um sistema converge, sem mudança

em sua organização ou estrutura interna.
Validação: processo de determinar quão bem um sistema replica propriedades
de algum outro sistema ou, mais geralmente, qualquer comparação entre a represen-
tação de um sistema e critérios especificados.
Variável: quantidade mensurável que, a cada instante, tem um valor numé-
rico definido, como: pressão, ângulo, potencial elétrico, volume, velocidade, massa,
viscosidade, população, que pode ser especificado numericamente e registrado em
mostradores.
Variabilidade: atributo que indica a capacidade de variar ou conduzir a distintos
estados. Sistemas, geralmente, são limitados em variabilidade, e esses limites são
expressos em termos de faixa de valores possíveis entre extremos (grau de liber-
dade, incerteza).
Variação: conjunto de mensuração de distribuição da probabilidade de even-
tos observados.
Variedade: propriedade agregada de um conjunto ou variável, que indica
o número de alternativas mutuamente exclusivas, disponíveis no sistema. A
variedade pode ser expressa pelo simples número de elementos distintos ou
pelo seu logaritmo dual.
ÍNDICE REMISSIVO
A
Abordagem geossistêmica 9, 10, 25, 74, 79, 80, 87, 109, 127, 139, 143, 144,
149, 151, 156
Água 14, 17, 31, 32, 37, 38, 41, 46, 52, 56, 60, 61, 67, 69, 74, 76, 77, 79,
80, 85, 90, 91, 95, 99, 101, 102, 103, 107, 108, 109, 110, 122, 124, 125, 127,
128, 132, 133, 135, 136, 139, 141, 142, 145, 146, 147, 150, 151, 160, 179,
181, 184, 192
Ambiente 3, 10, 19, 26, 28, 30, 40, 41, 49, 51, 66, 70, 72, 76, 83, 89, 91,
93, 94, 99, 100, 103, 107, 108, 110, 111, 113, 114, 116, 118, 134, 136, 138,
141, 146, 147, 149, 150, 151, 155, 159, 171, 173, 179, 181, 183, 186, 187,
188, 190, 192
Ambiente natural 10, 94, 99, 100, 110, 113, 114, 116, 155
B
Bacia hidrográfica 17, 19, 29, 33, 35, 37, 38, 40, 41, 42, 55, 56, 68, 75, 76,
91, 96, 117, 128, 129, 133, 139, 142, 143
C
Convenção europeia da paisagem 138, 140, 151, 153, 156, 179, 181
D
Desenvolvimento 16, 18, 21, 24, 28, 34, 38, 49, 64, 65, 66, 71, 75, 76, 77,
81, 82, 88, 92, 93, 110, 112, 114, 118, 127, 135, 136, 137, 138, 143, 145, 147,
148, 149, 155, 156, 158, 179, 180, 183, 184, 186, 191
E
Elementos 10, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 22, 24, 25, 26, 28, 30, 32, 33, 34, 35,
36, 39, 43, 44, 45, 46, 48, 54, 55, 56, 57, 61, 65, 69, 70, 71, 83, 85, 87, 88, 89,
90, 91, 92, 98, 99, 101, 105, 110, 122, 135, 139, 140, 141, 142, 155, 159, 188
Energia e matéria 19, 21, 26, 27, 30, 32, 37, 38, 39, 40, 41, 46, 48, 51, 52,
53, 54, 61, 63, 64, 72, 75, 76, 77, 79, 83, 85, 89, 91, 101, 103, 106, 107, 109,
114, 136, 143
Entropia 24, 26, 28, 31, 51, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 71, 74, 75,
76, 77, 81, 134, 136, 183, 186, 187, 189, 191
Envoltura geográfica 10, 82, 83, 85, 87, 97, 99, 137, 139
196
Equifinalidade 24, 31, 51, 58, 64, 65, 66, 74, 76, 81, 92, 95, 134, 135, 136, 187
Estabilidade 24, 28, 31, 32, 33, 37, 42, 43, 47, 48, 49, 51, 55, 56, 57, 61, 62,
63, 67, 69, 70, 71, 74, 77, 85, 109, 135, 143, 150, 184, 186, 187, 188, 190,
192, 193
Estações geográficas de monitoramento 19, 79, 92, 108, 114, 117, 126,
130, 136
Estrutura 10, 16, 19, 20, 25, 27, 28, 38, 39, 41, 42, 43, 47, 49, 50, 61, 63, 66,
67, 69, 70, 71, 74, 77, 79, 81, 82, 83, 85, 87, 88, 89, 95, 99, 105, 108, 109,
112, 114, 121, 124, 130, 132, 133, 135, 138, 139, 141, 142, 143, 151, 155,
165, 172, 184, 185, 186, 187, 188, 189, 190, 192, 193
Estudo estacionário da paisagem 118, 137, 170, 176, 177, 178
G
Geografia 9, 10, 11, 13, 17, 18, 19, 20, 21, 24, 27, 28, 34, 35, 37, 38, 51, 71,
74, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 87, 89, 99, 106, 110, 112, 113, 114, 117, 118,
137, 140, 143, 152, 153, 155, 156, 157, 158, 159, 162, 163, 164, 165, 167,
168, 170, 171, 172, 173, 175, 176, 177, 178, 180, 181
Geossistemas 10, 19, 20, 21, 26, 28, 29, 34, 36, 39, 44, 51, 59, 61, 64, 65,
66, 67, 69, 71, 72, 73, 74, 75, 80, 82, 83, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 93, 95,
97, 98, 99, 100, 103, 104, 105, 106, 107, 108, 110, 111, 112, 113, 114, 116,
117, 121, 124, 126, 128, 130, 132, 133, 134, 135, 136, 137, 140, 142, 143,
144, 158, 159, 162, 167, 170, 172, 175, 176, 177, 178, 180, 184
I
Instituto de Geografia da Sibéria e do Extremo Oriente 114, 117, 137, 170,
171, 176, 177, 178
M
Matéria 14, 16, 17, 18, 19, 21, 22, 25, 26, 27, 30, 31, 32, 33, 37, 38, 39, 40,
41, 44, 45, 46, 48, 50, 51, 52, 53, 54, 57, 58, 60, 61, 62, 63, 64, 67, 69, 72,
75, 76, 77, 79, 80, 83, 85, 87, 89, 90, 91, 101, 103, 106, 107, 108, 109, 111,
114, 132, 135, 136, 141, 143, 187
Monitoramento 19, 21, 29, 39, 50, 79, 83, 92, 104, 105, 108, 109, 111, 113,
114, 115, 116, 117, 118, 120, 124, 126, 130, 134, 135, 136, 143, 144, 145,
149, 150, 151
N
Neguentropia 24, 31, 51, 58, 64, 65, 66, 134
P
Paradigma sistêmico 9, 11, 13, 20, 21, 22, 23, 24, 28, 77, 81, 82, 110, 151, 155
R
Recuperação de áreas degradadas 110, 149, 151, 179
Recursos naturais 9, 10, 11, 28, 66, 73, 74, 97, 108, 110, 137, 138, 143, 144,
145, 151, 155, 156, 171, 179, 180
Relevo 17, 27, 28, 30, 33, 34, 36, 37, 38, 45, 52, 56, 61, 63, 71, 72, 73, 77,
85, 86, 89, 91, 92, 94, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 122, 128, 130, 132,
134, 139, 150, 169, 184
Retroalimentação 17, 24, 36, 39, 42, 43, 44, 48, 49, 50, 51, 53, 54, 55, 56,
57, 60, 141, 183, 184, 187, 190, 191, 192
S
Sibéria 19, 94, 97, 114, 117, 118, 128, 130, 131, 136, 137, 155, 170, 171,
174, 176, 177, 178
Sistemas 9, 10, 11, 13, 15, 16, 17, 18, 19, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29,
30, 31, 32, 33, 34, 35, 37, 38, 39, 42, 44, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55,
56, 57, 61, 62, 64, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 73, 74, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83,
85, 86, 87, 89, 90, 91, 94, 97, 99, 101, 102, 103, 106, 107, 109, 110, 111, 112,
114, 116, 122, 127, 128, 132, 135, 136, 137, 138, 140, 141, 143, 144, 148,
149, 150, 151, 155, 156, 157, 158, 160, 167, 172, 175, 183, 184, 185, 186,
187, 188, 189, 190, 191, 192, 193
Sistemas espaciais 9, 10, 11, 21, 24, 30, 31, 33, 47, 49, 51, 56, 66, 67, 73, 77,
79, 80, 81, 82, 83, 85, 87, 90, 94, 97, 99, 101, 102, 103, 106, 107, 109, 112,
114, 127, 128, 132, 135, 138, 140, 141, 149, 150, 151, 155, 184
Solo 14, 17, 19, 26, 27, 28, 36, 37, 38, 41, 43, 45, 52, 55, 56, 58, 70, 72, 74,
75, 76, 79, 80, 81, 85, 86, 90, 97, 101, 103, 104, 105, 106, 109, 116, 119, 122,
123, 124, 125, 126, 127, 131, 134, 139, 140, 141, 142, 143, 145, 146, 147,
149, 150, 163, 166, 175, 183, 184
Superfície terrestre 20, 21, 33, 35, 39, 46, 63, 65, 67, 72, 79, 80, 83, 85, 88,
94, 99, 108, 111, 114, 136, 155, 184
T
Teoria dos geossistemas 19, 66, 80, 83, 85, 99, 112, 113, 114, 135, 158, 159,
170, 178, 180
Teoria geral dos sistemas 9, 10, 13, 15, 18, 19, 22, 23, 24, 25, 32, 49, 51, 74,
79, 81, 83, 85, 89, 99, 110, 114, 136, 156, 157, 160
Transformação de energia 19, 21, 38, 83, 87, 90, 103, 106, 107
SOBRE O LIVRO
Tiragem: 1000
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipologia: Times New Roman 10,5/11,5/13/16/18
Arial 8/8,5
Papel: Pólen 80 g (miolo)
Royal Supremo 250 g (capa)

Geossistema de Sochava

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Marcel Hideyuki Fumiya

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

Fumiya, Marcel Hideyuki.

1. Geociências 2. Geossistema 3. Viktor Sochava 4. Geografia física 5. Análise integrada –

2022-28457 CDD 551.801118

ESTA OBRA TAMBÉM SE ENCONTRA DISPONÍVEL EM FORMATO DIGITAL.

CONSIDERAÇÕES FINAIS������������������������������������������������������������������������ 155

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS����������������������������������������������������������� 157

GLOSSÁRIO DE TERMOS EM SISTEMA ������������������������������������������������ 183

ÍNDICE REMISSIVO����������������������������������������������������������������������������������� 195

países membros); e, por fim a possibilidade de uso da abordagem geossistêmica

de aplicação geossistêmica russa nas políticas públicas voltadas ao gerenciamento/

1.2 Concepção da Teoria Geral dos Sistemas e inserção na Geografia

no nível atômico, em padrões semelhantes a ondas. Isto é, as partículas subatômicas1

Figura 1 – Paisagem sistêmica como um exemplo de produto da inter-relação de

Dentro desse momento histórico de resgate da abordagem holística associada

Dessa maneira antes da década de 1940, termos como “sistema” e “pensa-

Figura 2 – Fases históricas do desenvolvimento das principais obras de Ludwig

Na perspectiva holística da TGS, segundo Durand (1979), constam quatro con-

4 – Complexidade: é relativa, pois depende do número mínimo de elementos,

todo (resultado, relação ou produto), vale ressaltar, não é encontrado em nenhum

A orquestra não se entende pelos músicos e instrumentos, mas pela coordenação

Num plano geral, o ‘paralelismo de princípios cognitivos gerais em campos dife-

Ao aplicar a análise de um sistema aberto na Geografia, Strahler (1950, 1980)

‘Nas condições modernas, não se deve estudar os componentes da natureza, mas

Sob enfoque geossistêmico, a investigação da paisagem em escala local (ordem

Assim sendo, a análise geossistêmica, utilizando a TGS e seus princípios, pos-

– A constituição de um método unificador para Geografia;

Finalizando o raciocínio e a exposição deste desta seção, tratando da siste-

contribuiu para a unificação e interpretação holística de processos e fenômenos em

O geógrafo deve entender as manifestações dos fatores antropogênicos nos com-

Esse debate sobre o Geossistema como conceito para geografia, princípios de

1.2.1 Breve informativo sobre o desenvolvimento de paradigma

Na cultura ocidental, os primeiros pensadores foram filósofos gregos, e iniciaram

problemáticas e objeto, assim no final do século XVIII e no século XIX ocorre a

Quadro 1 – Pressupostos dos paradigmas cartesiano e sistêmico

Paradigma cartesiano Paradigma sistêmico

Leituras recomendadas a alunos de graduação

LEONEL, Felipi Salem. O conhecimento na ótica sistêmica. Benecker, 1. ed.

DURAND, Daniel. La systémique. Presses Universitaires France (coleção: Que

LE MOIGNE, Jean-Louis. A teoria do sistema geral: teoria da modelização. Lisboa:

POUVREAU, David; DRACK, Manfred. On the history of Ludwig von Bertalanffy’s

Cunho técnico de termos e conceitos de sistemas

GARCÍA, Juan Martín. Teoria e exercícios práticos de Dinâmica de Sistemas:

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 9. ed.

KRIPPENDORFF, Klaus. A dictionary of cybernetics. Norfolk VA: The American

FRANÇOIS, Charles (editor). International Encyclopedia of Systems and Cyber-

CHRISTOFOLETTI, Antonio. Análise de sistema em geografia: introdução. Editora

HUGGET, Richard. System Analysis in Geography. Oxford, 1980. 218p.

VICENTE, Luiz Eduardo; PEREZ FILHO, Archimedez. Abordagem sistêmica e

DINIZ FILHO, Luis Lopes. Fundamentos epistemológicos de Geografia. Ibpex,

ESTEVES DE VASCONCELOS, Maria José. O pensamento sistêmico o novo

ESTEVES-VASCONCELOS, Matheus. A Nova Teoria Geral dos Sistemas. Dos

1.3 Categoria de sistemas

Figura 3 – Estrutura organizacional da Teoria Geral dos Sistemas

1.3.1 Sistemas aberto, fechado e isolado

Na literatura, podem ser encontradas diversas definições para sistema, como,

sistema espacial6 elementar dos geossistemas, onde a transformação, o fluxo de energia

energia e matéria, via reações químicas (inorgânica e orgânica), e transporte químico em

Figura 4 – Ilustração de uma das formas de interpretação da

6 – Ambiente do sistema: Em geral, os sistemas encontram-se incorporados

– Aquífero subterrâneo de águas fósseis, que não pertencem ao sistema cli-

Na análise geográfica, principalmente em geomorfologia, o estado estacionário

Figura 5 – Representação diagramática de oito condições de estado estacionário

CONSIDERAÇÕES FINAIS�� 155

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS�� 157

GLOSSÁRIO DE TERMOS EM SISTEMA �� 183

ÍNDICE REMISSIVO�� 195