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Aplicações(?)
Um exemplo que ilustra a aplicação dessa aborda-
gem é a análise que a própria Scott faz do famoso “Caso
40
SCOTT, 1988e. Sears” (1979-1986),40 que levou aos tribunais norte-america-
nos o debate “igualdade versus diferença”.
A loja Sears, com a assessoria de uma historiadora,
apoiou-se em argumentos que enfatizavam a diferença
sexual – homens e mulheres têm interesses distintos com rela-
ção a postos de trabalho e tipos de emprego – para justificar
a política salarial da empresa contra as acusações de discri-
minação que lhe haviam sido feitas por feministas. As femi-
nistas, por sua vez, insistiam em argumentos que acabaram
sendo entendidos como uma “suposição” a favor da igual-
dade de interesses das mulheres com relação a escolhas
de emprego e, consequentemente, à questão salarial. As
feministas perderam a causa.
À luz do pós-estruturalismo, Scott afirma que “igualda-
de” e “diferença”, na verdade, não designam termos opos-
tos, e sim interdependentes (“igualdade não é a eliminação
da diferença e a diferença não obsta a igualdade”). Portan-
to, uma discussão mais profunda seria a que girasse em tor-
no da relevância de ideias gerais de diferença sexual em
contextos específicos. O termo “diferença” pode ser usado
positivamente – enfatizando a desigualdade escondida em
um termo aparentemente neutro, pois, por exemplo, o termo
“trabalhador” pode não dar conta das especificidades das
experiências femininas – ou negativamente – justificando
um tratamento desigual.
Scott toma o “Caso Sears” como uma lição “sobre a
operação do discurso como um campo político” em que
conceitos são manipulados para implementar e justificar
um poder. A solução seria expor a formulação “igualdade
versus diferença” como uma ilusão, pois o primeiro termo diz
respeito a princípios e valores reivindicados e o segundo, a
uma “ferramenta analítica” (antítese de semelhança ou
identidade) cujo contexto deve ser especificado. Em outras
palavras, a natureza da comparação deve ser explicitada,
e não posta como algo inerente às categorias de “homem”
e “mulher”, cuja oposição generalizada acaba por obscu-
recer as diferenças entre as mulheres, as semelhanças entre
homens e mulheres e as distintas experiências históricas. A
Referências bibliográficas
ALEXANDER, Jeffrey C. “O novo movimento teórico”. Revista
Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo: ANPOCS, v. 2,
n. 4, jun. 1987.