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SUMÁRIO

1. Introdução........................................................................................ 3
2. Química dos neurotransmissores........................................... 6
3. Receptores autonômicos........................................................... 9
4. Princípios gerais da transmissão............................................ 9
5. Organização funcional............................................................. 12
6. Modificação farmacológica e sua seletividade............... 14
7. Sistema nervoso entérico....................................................... 14
Referências Bibliográficas .......................................................... 15
FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO 3

1. INTRODUÇÃO Simpático X Parassimpático


Bases anatômicas e fisiológicas Então qual é o real critério para
classificar o SNA em simpático ou
O sistema nervoso autônomo
parassimpático?
O sistema nervoso autônomo (SNA) Vamos revisar a anatomia dos nervos.
é o responsável por executar ações O impulso nervoso, ao sair da medula
sem necessidade da consciência do espinhal, pode percorrer dois diferen-
indivíduo, agindo de forma autônoma. tes caminhos:
Dessa forma, regula o que não é vo-
luntário, como a contração de múscu- • Nervo pré-ganglionar curto, gân-
lo liso de vasos e vísceras, todas as glios paravertebrais toracolomba-
secreções exócrinas e algumas en- res, nervos pós-ganglionar longos;
dócrinas, os batimentos cardíacos e o • Nervo pré-ganglionar longo, gân-
metabolismo energético. glio próximo ao órgão efetor, nervo
pós-ganglionar curto.
SE LIGA! Comumente, classifica-se o
SNA em dois estados: 1) estado de luta
e fuga (efeitos excitatórios); 2) estado de Isso que definirá se o SNA é simpá-
digestão e repouso (efeitos inibitórios). tico ou parassimpático. O simpático
Correspondendo ao simpático e ao pa- tem porção pré-ganglionar curta, um
rassimpático, respectivamente. Até aí
nenhuma novidade! Você deve se lem- gânglio próximo à medula (paraver-
brar também que no simpático há a atu- tebral) e um nervo pós-ganglionar
ação da noradrenalina, da mesma ma- longo. Já o parassimpático tem por-
neira que há atuação da acetilcolina no
ção pré-ganglionar longa, um gânglio
parassimpático.
próximo ao órgão efetor e um nervo
Entretanto, essa divisão não correspon-
de exatamente à realidade, nem todo pós-ganglionar curto (Figura 1).
efeito excitatório é proveniente do siste-
ma nervoso simpático, bem como nem
todo efeito inibitório é gerado pelo sis-
tema nervoso parassimpático. Ademais,
a acetilcolina pode atuar no sistema
nervoso simpático, assim como a nora-
drenalina pode atuar no parassimpático.
Outros neurotransmissores, apesar de
pouco mencionados, como a dopamina
e o neuropeptídeo Y podem atuar sobre
o sistema nervoso autônomo.
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N Ach
Parassimpático
Ach Músculos cardíaco e liso,
M
células de glândulas e
Bulbo terminais nervosos.

Ach Ach
N Simpático
M Glândulas sudoríparas

Ach
N
NE
Medula Simpático
Ach α,ß Músculos cardíaco e liso,
espinal N células de glândulas,
D terminais nervosos.
D1
Simpático
Musculatura lisa vascular
renal

Figura 1. Diferenças anatômicas entre os sistemas


nervosos parassimpático, simpático e somático.

Observe também, na figura acima, “Os termos simpático e pa-


que o nervo pré-ganglionar do sis- rassimpático são desig-
tema nervoso simpático estimula o nações anatômicas e não
gânglio paravertebral por meio da dependem do tipo de trans-
acetilcolina. Além disso, no sistema missor químico liberado das
nervoso simpático, as fibras nervo- terminações nervosas, nem
sas pós-ganglionares podem ser tan- do tipo de efeito – excitante
to adrenérgicas, como colinérgicas, ou inibidor – evocado pela
quanto dopaminérgicas. E nada disso atividade nervosa.”
faz com que esse sistema deixe de Rang, H.P.; Dale, M.M., 2011.
ser simpático.
Portanto, é essencial que você apa-
gue essa ideia pré-existente, já que:
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MAPA MENTAL - SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

Regula a contração de músculo liso de vasos e vísceras,


Responsável por executar ações sem necessidade da
todas as secreções exócrinas e algumas endócrinas, os
consciência do indivíduo, agindo de forma autônoma
batimentos cardíacos e o metabolismo energético

Função

SISTEMA
NERVOSO
AUTÔNOMO

Fibras simpáticas e
Neurotransmissores Classificação
parassimpáticas pré-ganglionares

Algumas fibras simpáticas


Acetilcolina Simpático Gânglio paravertebral
pós-ganglionares

Fibras motoras somáticas Gânglio próximo


Parassimpático
de MM. esqueléticos ao órgão efetor

Algumas fibras simpáticas Divisão meramente anatômica,


Noradrenalina
pós-ganglionares não depende do tipo de neurotransmissor
liberado das terminações nervosas, nem do tipo
de efeito – excitante ou inibidor
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2. QUÍMICA DOS Uma vez sintetizada, a acetilcolina é


NEUROTRANSMISSORES armazenada dentro de vesículas. So-
bre estas vesículas, atuam algumas
Se não podemos associar o sistema
proteínas, as VAMPs (proteínas de
nervoso simpático e o parassimpático
membrana associadas a vesículas) e
à noradrenalina e à acetilcolina, então,
as SNAPs (proteínas sinaptossômi-
afinal, onde os neurotransmissores
cas associadas a nervos).
adrenérgicos e colinérgicos atuam?
As duas, juntamente com o cálcio in-
Observando a figura 1 mais uma vez
ternalizado por um potencial de ação,
você também obterá essa resposta. A
vão fazer com que a vesícula conten-
noradrenalina é liberada pelas fibras
do acetilcolina se funda com a mem-
simpáticas pós-ganglionares (mas
brana celular, levando à exocitose do
não todas), enquanto a acetilcolina é
neurotransmissor, que cai na fenda
liberada por: 1) todas as fibras auto-
sináptica.
nômicas (simpáticas e parassimpáti-
cas) pré-ganglionares; 2) fibras pós- Dessa forma, a acetilcolina exerce
-ganglionares simpáticas (algumas, seu efeito ao se ligar nos receptores
como das glândulas sudoríparas); 3) pós-sinápticos e tem sua ação ces-
fibras motoras somáticas dos múscu- sada por conta da acetilcolinesterase,
los esqueléticos. enzima que inativa a acetilcolina de
forma muito rápida, clivando-a.
Observe abaixo (figura 2) todo esse
Transmissão colinérgica
processo e os vários pontos onde os
A síntese da acetilcolina acontece fármacos podem atuar: inibição da
através da reação entre a acetilco- entrada da colina, inibição da entrada
enzima A e a colina, catalisada pela da acetilcolina na vesícula, inibição da
colina acetiltransferase. A colina entra fusão da vesícula com a membrana
no citoplasma por transportador de- celular do nervo, inibição da acetilco-
pendente de sódio, enquanto a acetil- linesterase para que ela não clive a
coenzima A já se encontra dentro da acetilcolina, entre outros.
célula, por ser produto de degradação
do metabolismo celular.
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Figura 2. Processo de síntese e transmissão nervosa da acetilcolina

MAPA MENTAL - TRANSMISSÃO COLINÉRGICA

Acetilcoenzima A + Colina
Colina
Acetilcolina
acetiltrans-
ferase
Armazenada
dentro de vesículas

VAMPs
SNAPs
Internalização de cálcio
Ação nos receptores
colinérgicos pós-
Liberação da acetilcolina Fusão das vesículas à
sinápticos e degradação
na fenda sináptica membrana celular
pela acetilcolinesterase,
inativando-a
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Transmissão adrenérgica Com o potencial de ação, há influxo


de cálcio, atuação das VAMPs e das
A síntese da noradrenalina se dá da
SNAPs e, consequentemente, fusão
seguinte forma: a tirosina entra na
das vesículas à membrana, levando à
célula por transportador de sódio
exocitose da noradrenalina. Sua atua-
e é convertida em dopa pela tirosi-
ção se dá pela ligação aos receptores
na hidroxilase. A dopa, por sua vez,
pós-sinápticos e sua redução na fen-
é transformada em dopamina, pela
da sináptica ocorre pela sua difusão
dopamina-β-hidroxilase. A proteína
para fora da fenda e pela reciclagem
VMAT – transportador de monoami-
pela proteína NET, situada no termi-
nas vesiculares – leva a dopamina
nal pré-sináptico. Observe na figura
para dentro de vesículas, onde ela é
3 esse processo e a ação de alguns
transformada em noradrenalina.
fármacos sobre alguns componentes
desse sistema.

Figura 3. Processo de síntese e transmissão nervosa da noradrenalina


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MAPA MENTAL - TRANSMISSÃO ADRENÉRGICA

Tirosina Dopa Dopamina


Tirosina- Dopamina-β-
hidroxilase hidroxilase

VMAT

Término da ação:
Ação nos receptores
difusão para fora da Transportada para
adrenérgicos pós-
fenda e reciclagem dentro de vesículas
sinápticos
pela proteína NET

Liberação da
Fusão das vesículas à
noradrenalina na Noradrenalina
membrana celular VAMPs
fenda sináptica
SNAPs
Internalização
de cálcio

3. RECEPTORES Lembre-se que a divisão entre sim-


AUTONÔMICOS pático e parassimpático não tem
qualquer relação com receptores e
Colinérgicos
neurotransmissores.
• Muscarínicos (M1 a M5)
• Nicotínicos (neurais e musculares 4. PRINCÍPIOS GERAIS DA
– NN e NM) TRANSMISSÃO
Supersensibilidade por
Adrenérgicos desnervarão – Bloqueio
farmacológico e “efeito rebote”
• Alfa 1 e 2
Quando há um bloqueio farmacoló-
• Beta 1, 2 e 3
gico que impede a chegada de cer-
to neurotransmissor na fenda si-
Dopaminérgicos náptica, a membrana pós-sináptica
começa a expressar maior número
• D1 a D4
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de receptores, na tentativa de cap- estimulando mais liberação de acetil-


tar bem o pouco de neurotransmissor colina pelo nervo.
que estiver disponível, processo co- Além disso, observe também que a
nhecido como up regulation. noradrenalina estimula a musculatu-
Porém, retirando o bloqueio, há o ra lisa, que libera prostaglandina, que,
efeito rebote ao efeito causado pelo por sua vez, faz feedback negativo,
fármaco, ou seja, ocorre uma respos- inibindo a liberação de mais noradre-
ta exacerbada, porque, voltando a ser nalina pelo terminal pré-sináptico.
liberado na fenda sináptica, o neu-
rotransmissor encontra uma grande
quantidade de receptores. Cotransmissão
A maioria dos neurônios liberam mais
de um neurotransmissor, ao contrário
Modulação pré-sináptica
do que se imaginava antes.
As terminações pré-sinápticas res-
pondem aos neurotransmissores libe-
rados por elas próprias, por mecanis- Outros transmissores
mo denominado feedback negativo. Apesar de muito se falar em acetilco-
Desta forma, os neurotransmissores lina e noradrenalina, outros transmis-
se ligam a receptores pré-sinápticos sores têm papel essencial na condu-
e induzem uma redução da liberação ção do estímulo nervoso, entre eles:
do mesmo. ATP; óxido nítrico; dopamina; neuro-
Quando isso é feito pelo mesmo neu- peptídeo Y.
rotransmissor, a modulação é homo-
trópica, já quando é realizada por ou- Término da ação dos
tro, a modulação é heterotrópica. transmissores
O término da ação da acetilcolina se
Modulação pós-sináptica dá pela sua clivagem efetuada pela
O terminal pós-sináptico também acetilcolinesterase, que a inativa. Já
modula a liberação dos neurotrans- o término da ação da noradrenalina
missores. Observe na figura acima ocorre devido à sua difusão para fora
que a acetilcolina atua sobre o en- da fenda sináptica e pela reciclagem
dotélio vascular, que produz óxido da proteína NET.
nítrico, e este faz feedback positivo,
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MAPA MENTAL - PRINCÍPIOS GERAIS DA TRANSMISSÃO

Com a retirada do bloqueio, há uma


resposta exacerbada, porque o
neurotransmissor (NT) encontra uma
grande quantidade de receptores

Supersensibilidade por desnervarão –


Bloqueio farmacológico e “efeito rebote”

PRINCÍPIOS

Feedback positivo no
terminal pré-sináptico Modulação Modulação
pós-sináptica pré-sináptica

Estimula endotélio vascular, Feedback negativo


Acetilcolina Homotrópico
que produz óxido nítrico pelo mesmo NT

Estimula fibras musculares lisas, Feedback negativo


Noradrenalina Heterotrópico
que produzem prostaglandinas por outro NT

Feedback negativo no
terminal pré-sináptico
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5. ORGANIZAÇÃO PA, esta será seguida por uma res-


FUNCIONAL posta homeostática do SNA, como
alteração de frequência cardíaca (FC),
Integração central
na tentativa de trazer a PA de volta à
O sistema endócrino tem papel fun- normalidade.
damental, já que vários hormônios Observe na figura 5 que enquanto o
podem atuar regulando a ação dos sistema nervoso simpático atua em
neurotransmissores. todas as variáveis cardiovasculares
(frequência cardíaca, contratilidade
Integração cardiovascular cardíaca, resistência vascular perifé-
rica e tônus venoso), o parassimpá-
A principal variável controlada pelo tico atua apenas sobre a frequência
SNA é a pressão arterial (PA) média. cardíaca.
De modo que se há uma alteração de
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Centro vasomotor

Sistema Nervoso
Autônomo Sistema Nervoso Autônomo Simpático
Parassimpático

Barorreceptores
+ + + +

Resistência Vascular
Frequência cardíaca Força contrátil Tronco venoso
Periférica

Pressão Arterial Média Débito cardíaco Volume de batimento Retorno venoso

Volemia

Fluxo sanguíneo
Renina Angiotensina Aldosterona
renal/pressão
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Isso tem uma grande importância prá- Ação nos receptores


tica: quando há uma infusão lenta de
São os fármacos ideais, bastante
noradrenalina, vai haver uma respos-
seletivos.
ta contrarregulatória de acetilcolina
endógena, então vai ocorrer todas as
alterações que a noradrenalina causa, Liberação; Recaptação; Inativação
mas vai ter redução da FC, se os re- enzimática
flexos do paciente estiverem intactos.
São fármacos pouco seletivos.
Já se estes estiverem prejudicados, a
FC sobe.
7. SISTEMA NERVOSO
ENTÉRICO
6. MODIFICAÇÃO
FARMACOLÓGICA E SUA Apesar de estar um pouco a parte do
SELETIVIDADE SNA, já que tem certa autonomia, o
sistema nervoso entérico será abor-
Potencial de ação
dado brevemente aqui, por executar
Fármacos que atuam relacionados ao funções involuntárias.
potencial de ação não serão seletivos, O sistema nervoso entérico possui o
já que todos os receptores podem plexo mioentérico (plexo de Auerba-
responder. ch) e o plexo submucoso (plexo de
Meissner), controlando a motilidade
Síntese e armazenamento de e a secreção intestinal. As suas fi-
neurotransmissores bras pré-ganglionares são colinérgi-
cas e os axônios pós-ganglionares
Fármacos que atuam nessa fase são são adrenérgicos, sendo que estes
pouco seletivos, já que não atuam es- têm papel apenas modulador, porque
pecificamente na região desejada. a motilidade continua mesmo com a
desnervação.
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Rang, H.P.; Dale, M.M. Farmacologia. Ed. Guanabara Koogan AS. 7ª edição, 2011.
Katzung, B.G. Farmacologia básica e clínica. 12ª edição. Porto Alegre: AMGH, 2014.
Silva, P. Farmacologia. 8ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
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