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Introdução à aplicação de métodos

numéricos na Engenharia Química


4480F04 – MÉTODOS NUMÉRICOS PARA ENGENHARIA QUÍMICA
Prof. Allan Morcelli
O desenvolvimento e aplicação de métodos
numéricos na Engenharia
• Os métodos numéricos são técnicas pelas quais os problemas matemáticos
são formulados de modo que possam ser resolvidos com operações
aritméticas.

• Característica em comum: envolvem grande número de cálculos


aritméticos tediosos.

• Com o desenvolvimento de computadores rápidos e eficientes, o papel


dos métodos numéricos na resolução de problemas de engenharia tem
aumentado grandemente nos últimos anos.
Métodos não-computacionais
Na era antes do computador, em geral havia três formas diferentes pelas quais os
engenheiros abordavam a solução de problemas:

1. Soluções eram deduzidas para alguns problemas usando-se métodos analíticos ou


exatos.

• Soluções eram freqüentemente úteis e forneciam uma visão excelente do


comportamento de alguns sistemas.

• Podem ser deduzidas apenas para uma classe limitada de problemas, que incluem os
que podem ser aproximados por modelos lineares e aqueles que têm uma geometria
simples e dimensão baixa.

 Soluções analíticas têm valor prático limitado porque, em sua maioria, os problemas
reais são não-lineares e envolvem formas e processos complexos.
Métodos não-computacionais
Na era antes do computador, em geral havia três formas diferentes pelas quais os
engenheiros abordavam a solução de problemas:

2. As soluções gráficas eram usadas para caracterizar o comportamento dos sistemas.

• Em geral, elas tinham a forma de gráficos ou nomógrafos.

• Resultados não são muito precisos.

• Soluções gráficas (sem a ajuda de computadores) são extremamente tediosas e


inconvenientes para implementar.

• Limitadas a problemas que podem ser descritos usando-se três dimensões ou menos.
Métodos não-computacionais
Na era antes do computador, em geral havia três formas diferentes pelas quais os
engenheiros abordavam a solução de problemas:

3. Calculadoras e regras de cálculos eram usadas para implementar os métodos


numéricos manualmente.

• Embora, em teoria, tais abordagens fossem perfeitamente adequadas para


resolver problemas complexos, na realidade, eram encontradas muitas
dificuldades.

• Os cálculos manuais são lentos e tediosos.

• Resultados consistentes são esquivos por causa de enganos simples que


acontecem quando tarefas manuais numerosas são realizadas.
Métodos não-computacionais
Era pré-computador  Energia era gasta na técnica de resolução
propriamente dita, em vez de na definição e interpretação do
problema.

Hoje  Computadores e os métodos numéricos fornecem uma


alternativa para tais cálculos complicados. Abordar cálculos sem o
recurso de hipóteses simplificadoras ou técnicas para economizar
tempo.
 Mais tempo, ênfase pode ser posta na formulação do
problema, na interpretação da solução e na incorporação do sistema
total, ou percepção “holística”.
Métodos Numéricos e a Prática da
Engenharia
Década de 1940: vasta disponibilidade dos computadores digitais levou a
explosão no uso e desenvolvimento dos métodos numéricos.

Inicialmente, crescimento foi limitado pelo custo do acesso a computadores


de grande porte — conseqüentemente, muitos engenheiros continuaram a
usar a abordagem analítica simples em uma parte significativa do seu
trabalho.

Existem diversas razões adicionais pelas quais se deve estudar métodos


numéricos.
Métodos Numéricos e a Prática da
Engenharia

1. Os métodos numéricos são ferramentas extremamente poderosas na


resolução de problemas.

São capazes de lidar com um grande número de equações, não-linearidades


e geometrias complicadas que não são incomuns na prática da engenharia
e, em geral, são impossíveis de resolver analiticamente.

Dessa forma, eles aumentam enormemente a capacidade de resolver


problemas.
Métodos Numéricos e a Prática da
Engenharia

2. Durante a carreira, o profissional da engenharia freqüentemente terá


ocasião de usar pacotes comercialmente disponíveis, ou programas de
computador “enlatados” que envolvem métodos numéricos.

O uso inteligente desses programas depende, com freqüência, do


conhecimento da teoria básica fundamental dos métodos.
Métodos Numéricos e a Prática da
Engenharia

3. Muitos problemas não podem ser abordados utilizando programas


“enlatados”.

Se o engenheiro estiver familiarizado com métodos numéricos e souber


programar o computador, poderá projetar seu próprio programa para
resolver problemas sem ter de comprar ou contratar softwares caros.
Métodos Numéricos e a Prática da
Engenharia
4. Os métodos numéricos são um veículo eficiente para o aprendizado do
uso de computadores.

Uma forma eficiente de aprender a programar é realmente escrever um


programa de computador.

Métodos numéricos são, na maior parte, projetados para implementação


em computadores, se mostram ideais para esse propósito.

São especialmente adequados para ilustrar o poder e as limitações dos


computadores.
Métodos Numéricos e a Prática da
Engenharia
5. Os métodos numéricos fornecem um veículo para o profissional
reforçar seu entendimento da matemática.

Métodos numéricos reduzem a matemática mais avançada a operações


aritméticas básicas  chegam aos detalhes práticos de alguns tópicos
que, de outra forma, seriam obscuros.

Aprimoramento do entendimento e da percepção pode resultar dessa


perspectiva alternativa.
Fundamentos Matemáticos
Raízes de Equações: Esses problemas
dizem respeito ao valor de uma variável
ou a um parâmetro que satisfaz uma
única equação não-linear.

• São especialmente importantes no


contexto de projetos de engenharia,
em que freqüentemente é impossível
resolver explicitamente as equações
para os parâmetros do projeto.
Fundamentos Matemáticos
Sistemas de Equações Algébricas Lineares:
problemas similares aos das raízes de
equações; dizem respeito aos valores que
satisfazem tais equações  conjunto de
valores que satisfaça simultaneamente um
conjunto de equações algébricas lineares.

• Grande variedade de contextos de


problemas e em todas as disciplinas da
engenharia. Em particular, elas se originam
na modelagem matemática de grandes
sistemas de elementos interconectados,
como redes de fluidos.
Fundamentos Matemáticos
Otimização: determinação de um
valor ou valores de uma variável
independente que corresponde ao
“melhor” valor ou ao valor ótimo de
uma função.

• Portanto, a otimização envolve a


identificação de máximos e
mínimos. Tais problemas ocorrem
rotineiramente no contexto de
projetos de engenharia.
Fundamentos Matemáticos
Ajuste de Curvas: Freqüentemente é necessário
ajustar curvas a conjuntos de dados. As técnicas
desenvolvidas para esse propósito podem ser
divididas em duas categorias gerais: regressão e
interpolação.

• Regressão: empregada quando existe um grau


significativo de erro associado aos dados, ex:
resultados experimentais.

• Interpolação: determinar valores


intermediários entre dados relativamente
livres de erros, ex.: informações tabuladas.
Fundamentos Matemáticos
Integração: interpretação física de
integração numérica é a determinação da
área sob a curva.
Fundamentos Matemáticos
Equações Diferenciais Ordinárias: têm um
grande significado na prática da
engenharia, e isso ocorre porque muitas
leis físicas são descritas em termos da taxa
de variação de uma quantidade em vez do
valor da quantidade propriamente dita.

Os exemplos variam de modelos de


previsão populacional (taxa de variação da
população) à aceleração de um corpo em
queda livre (taxa de variação da
velocidade).

Dois tipos de problemas são tratados:


problemas de valor inicial e valor de
contorno.
Modelagem Matemática e Resolução de
Problemas de Engenharia
• O conhecimento e o entendimento são pré-requisitos para a
implementação efetiva de qualquer ferramenta: melhores ferramentas
computacionais serão praticamente inúteis sem um entendimento
fundamental de como os sistemas da engenharia funcionam.

• Conhecimento é adquirido inicialmente de forma empírica — isto é, por


observação e experiência  percepção da repetição trouxe do empirismo
construção de leis fundamentais.

• Resolução da maioria dos problemas de engenharia usa uma abordagem


com as duas vertentes, a do empirismo e a da análise teórica.
Modelagem Matemática e Resolução de
Problemas de Engenharia

• As generalizações podem servir como princípios organizatórios


empregados para resumir resultados de observações e experiências
em uma estrutura coerente e abrangente, a partir das quais são
tiradas conclusões.

• Da perspectiva de resolução de problemas de engenharia, tal


estrutura é mais útil quando expressa na forma de um modelo
matemático.
Um Modelo Matemático Simples
Modelo matemático: formulação ou equação que expressa as características
essenciais de um sistema ou processo físico em termos matemáticos.

𝑉𝑎𝑟𝑖á𝑣𝑒𝑙 𝑉𝑎𝑟𝑖á𝑣𝑒𝑖𝑠
= 𝑓 , 𝑝𝑎𝑟â𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜𝑠, 𝑡𝑒𝑟𝑚𝑜𝑠 𝑓𝑜𝑟ç𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠
𝑑𝑒𝑝𝑒𝑛𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑖𝑛𝑑𝑒𝑝𝑒𝑛𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠

• Variável dependente: usualmente reflete o comportamento ou estado do


sistema;
• Variáveis independentes: usualmente são dimensões, como tempo e espaço, ao
longo das quais o comportamento do sistema está sendo determinado;
• Parâmetros: refletem propriedades ou composição do sistema;
• Termos forçantes: influências externas agindo sobre o sistema.
Um Modelo Matemático Simples
• A expressão matemática real pode variar de uma simples relação algébrica
a um conjunto grande e complicado de equações diferenciais.

• Exemplo: com base em suas observações, Newton formulou sua segunda


lei do movimento  “taxa de variação no tempo do momento de um
corpo é igual à força resultante agindo nele”.

Modelo: F = m·a

onde F é a força resultante agindo no corpo (N, ou kg·m/s²), m é massa do


objeto (kg) e a é a sua aceleração (m/s²).
Um Modelo Matemático Simples
Esse “modelo” pode ser reescrito como

a = F/m

onde a é a a variável dependente refletindo o comportamento do sistema, F


é o termo forçante e m é um parâmetro representando uma propriedade do
sistema.

Não há nenhuma variável independente, porque não estamos prevendo


como a aceleração varia no tempo ou no espaço.

Essa equação tem diversas características que são típicas de modelos


matemáticos do mundo físico.
Um Modelo Matemático Simples
1. Ela descreve um processo ou sistema natural em termos
matemáticos.
2. Ela representa uma idealização e simplificação da realidade. 
modelo ignora detalhes desprezíveis do processo natural e se
concentra nas suas manifestações essenciais (ex.: efeitos da
relatividade)
3. Ela produz resultados que podem ser reproduzidos e,
conseqüentemente, ser usados para propósitos de previsão.
Um Modelo Matemático Simples
Por causa de sua forma algébrica simples, a solução dessa equação é
facilmente obtida.

Entretanto, outros modelos matemáticos de fenômenos físicos podem


ser muito mais complexos e:
- não podem ser resolvidos exatamente
- exigem técnicas matemáticas mais sofisticadas que a álgebra simples
para sua solução.
Um Modelo Matemático Simples
Para ilustrar um modelo mais complexo: a segunda lei de Newton
pode ser usada para determinar a velocidade terminal de um corpo
em queda livre, perto da superfície da Terra.

Um modelo para esse caso pode ser deduzido expressando a


aceleração como taxa de variação no tempo da velocidade (dv/dt):
𝑑𝑣 𝐹
=
𝑑𝑡 𝑚

onde v é a velocidade (m/s) e t é o tempo (s).

Força resultante positiva: o objeto irá acelerar.


Força resultante negativa: o objeto vai desacelerar.
Força resultante nula: a velocidade do objeto permanecerá constante.
Um Modelo Matemático Simples
Vamos expressar a força resultante em termos
das variáveis e parâmetros mensuráveis.

Para um corpo em queda livre na vizinhança da


Terra, a força resultante é composta de duas
forças opostas: a força gravitacional, para
baixo, FD e a força da resistência do ar, para
cima, FU:

F = F D + FU
Um Modelo Matemático Simples
Se associarmos um sinal positivo à força
para baixo, a segunda lei pode ser usada
para escrever a força devida à gravidade
como
FD = mg

onde g é a constante gravitacional, ou a


aceleração devida à gravidade, que é
aproximadamente igual a 9,8 m/s².
Um Modelo Matemático Simples
A resistência do ar pode ser formulada de diversas maneiras. Uma
abordagem simples é assumir que ela é linearmente proporcional à
velocidade e age no sentido para cima, como em

FU = −cv
onde c é uma constante de proporcionalidade chamada de coeficiente de
arrasto (kg/s).

 Quanto maior a velocidade de queda, maior a força para cima devida à


resistência do ar.

 O parâmetro c representa as propriedades de objetos em queda livre,


como a forma ou a aspereza da superfície, que afetam a resistência do ar.
No caso presente, c poderia ser uma função do tipo de macacão ou da
orientação usada pelo pára-quedista durante a queda livre.
Um Modelo Matemático Simples
A força resultante é a diferença entre a força para baixo e a força para cima. Portanto,

𝑑𝑣 𝑚𝑔 − 𝑐𝑣
=
𝑑𝑡 𝑚

ou, simplificando o lado direito,

𝑑𝑣 𝑐
=𝑔− 𝑣
𝑑𝑡 𝑚

Tem-se um modelo que relaciona a aceleração do objeto em queda às forças agindo nele.

Ela é uma equação diferencial porque é escrita em termos da taxa de variação diferencial (dv/dt) da
variável que estamos interessados em prever.

A solução exata não pode ser obtida usando manipulação algébrica simples. Em vez disso, técnicas
mais avançadas como aquelas do cálculo devem ser aplicadas para se obter uma solução exata ou
analítica.
Um Modelo Matemático Simples
Por exemplo, se o pára-quedista estiver inicialmente em repouso (v = 0 em t = 0), o
cálculo pode ser usado, fornecendo
𝑔𝑚
𝑣(𝑡) = (1 − 𝑒 −(𝑐/𝑚)𝑡 )
𝑐
Essa solução está escrita de tal forma que v(t) é a variável dependente, t é a
variável dependente, c e m são parâmetros, e g é o termo forçante.

É chamada solução analítica ou exata porque ela satisfaz exatamente a equação


diferencial original.

Infelizmente, existem muitos modelos matemáticos que não podem ser resolvidos
exatamente. Em muitos desses casos, a única alternativa é desenvolver uma
solução numérica que aproxime a solução exata.
Exemplo 1.1: Solução Analítica para o
Problema do Pára-quedista em Queda Livre
Um pára-quedista de massa 68,1 kg pula de um balão de ar quente
parado. Use a solução analítica dada para calcular a velocidade anterior
à abertura do pára-quedas. O coeficiente de arrasto é igual a 12,5 kg/s.

𝑔𝑚
𝑣(𝑡) = (1 − 𝑒 −(𝑐/𝑚)𝑡 )
𝑐
Exemplo 1.1: Solução Analítica para o
Problema do Pára-quedista em Queda Livre
Abordagem Numérica
Métodos numéricos são aqueles nos quais os problemas matemáticos são
reformulados de forma que possam ser resolvidos por operações
aritméticas.

𝑑𝑣 ∆𝑣 𝑣(𝑡𝑖+1 ) − 𝑣(𝑡𝑖 )
≅ =
𝑑𝑡 ∆𝑡 𝑡𝑖+1 − 𝑡𝑖

onde Δv e Δt são diferenças na velocidade e no tempo, respectivamente,


calculados sobre intervalos finitos, v(ti) é velocidade em um instante inicial ti,
e v(ti+1) é velocidade em um instante posterior ti+1.

Observe que dv/dt ≅ Δv/Δt é aproximado porque t é finito.


Abordagem Numérica
Lembre-se, do cálculo, que
𝑑𝑣 ∆𝑣
= lim
𝑑𝑡 ∆𝑡→0 ∆𝑡

A Equação proposta representa o processo reverso e é chamada de aproximação por diferença dividida finita
da derivada no instante ti. Ela pode ser substituída na equação diferencialpara fornecer

𝑑𝑣 𝑐 𝑣(𝑡𝑖+1 ) − 𝑣(𝑡𝑖 ) 𝑐
=𝑔− 𝑣 = 𝑔 − 𝑣(𝑡𝑖 )
𝑑𝑡 𝑚 𝑡𝑖+1 − 𝑡𝑖 𝑚

Esta equação pode ser rearranjada para fornecer

𝑐
𝑣(𝑡𝑖+1 ) = 𝑣(𝑡𝑖 ) + 𝑔 − 𝑣(𝑡𝑖 ) 𝑡𝑖+1 − 𝑡𝑖
𝑚
Abordagem Numérica
𝑐
𝑣(𝑡𝑖+1 ) = 𝑣(𝑡𝑖 ) + 𝑔 − 𝑣(𝑡𝑖 ) 𝑡𝑖+1 − 𝑡𝑖
𝑚

• O termo entre colchetes é o lado direito da equação diferencial propriamente


dita  fornece um meio de calcular a taxa de variação ou a inclinação de v.
• Equação diferencial  equação que pode ser usada para determinar
algebricamente a velocidade em ti+1 usando a inclinação + valores anteriores de
v e t.
• Esse novo valor da velocidade em ti+1 pode, por sua vez, ser usado para estender
o cálculo da velocidade a ti+2, e assim por diante.

Valor novo = valor velho + inclinação x tamanho do passo


Abordagem Numérica

𝑐
𝑣(𝑡𝑖+1 ) = 𝑣(𝑡𝑖 ) + 𝑔 − 𝑣(𝑡𝑖 ) 𝑡𝑖+1 − 𝑡𝑖
𝑚

Valor novo = valor velho +


inclinação x tamanho do passo
Exemplo 1.2: Solução Numérica para o
Problema do Pára-quedista em Queda Livre
Faça os mesmos cálculos que no Exemplo 1.1, mas use a Equação (1.12)
para calcular a velocidade. Use um passo de tamanho 2 s para os
cálculos.

“Um pára-quedista de massa 68,1 kg pula de um balão de ar quente


parado. Calcular a velocidade anterior à abertura do pára-quedas. O
coeficiente de arrasto é igual a 12,5 kg/s.”
Exemplo 1.2: Solução Numérica para o
Problema do Pára-quedista em Queda Livre

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