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R e v i s t a d a ES P M –janeiro/fevereiro de 2006

Editorial
EXPEDIENTE
CONSELHO EDITORIAL
Francisco Gracioso – Presidente INOVAR É PRECISO, MAS
Alex Periscinoto
NA DIMENSÃO HUMANA

R
Alexandre Gracioso
Jacques Marcovitch
J. Roberto Whitaker Penteado
ecentemente, uma publicação americana divulgou resultados de
EDITOR uma pesquisa feita nos principais países da América Latina que
J. Roberto Whitaker Penteado
MTB no 178/01/93 revelou ser a cidade de São Paulo o principal destino do turismo de
e-mail: jrwp@espm.br negócio na região. Como principal razão que justifica essa pre-
COORDENAÇÃO EDITORIAL ferência, os empresários e executivos consultados declararam que
Lúcia Maria de Souza o que mais os atrai em São Paulo é o potencial inovador de nossa
cidade.
PROJETO GRÁFICO
Miriam Duenhas
Mais do que qualquer outra característica, o que traz os visitantes é
CAPA
Edson Konioshi a perspectiva de encontrar aqui novas soluções e novas fontes de
Packing.Design inspiração.
IMAGENS NÃO CREDITADAS
Arttoday As grandes cidades, como São Paulo, são verdadeiros vulcões, em
Keystone
constante ebulição. Buscam-se continuamente novos produtos ou
REVISÃO novas formas de fazer as coisas. Nós, como participantes desta cor-
Anselmo Teixeira de Vasconcelos
rida sem fim, muitas vezes não percebemos a extensão das
Antonio Carlos Moreira
transformações ao nosso redor. E não nos referimos apenas às ma-
PUBLICIDADE ravilhas da eletrônica ou da informática. Inconscientemente, incor-
e-mail: revista.comercial@espm.br poramos novos hábitos e mudamos nossos valores, atitudes e com-
IMPRESSÃO portamento. Pouco a pouco, esquecemos as nossas raízes e perdemos
Editora Referência a nossa identidade.
Rua François Coty, 228 – CEP 01524-030
Tel.: (11) 6165-0766 – Fax: (11) 2272-6921 Pode parecer preciosismo de nossa parte dar tanta ênfase aos as-
e-mail: grafica@editorareferencia.com.br pectos éticos e morais das mudanças causadas pelas inovações. No
REDAÇÃO entanto, pode estar em jogo o próprio futuro do gênero humano
Rua Dr. Álvaro Alvim, 123
sobre a terra. Os homens precisam compreender, antes que seja
São Paulo – SP – CEP 04018-010
tarde que a nossa infinita capacidade de inovar deve ser colocada
Tel.: (11) 5085-4508 – Fax: (11) 5085-4646
a nosso serviço, valorizando o espírito, cultivando a simplicidade e
e-mail: revista@espm.br
reduzindo o ritmo das mudanças. O objetivo maior deveria ser evitar
DISTRIBUIDOR EXCLUSIVO o descompasso entre os avanços tecnológicos e a natureza humana.
Fernando Chinaglia Distribuidora S/A
Pensavam assim muitos idealistas, desde Walden até os Kibutzin.
REVISTA DA ESPM – uma publicação bimestral da Até agora todos falharam, mas um dia chegaremos lá.
Escola Superior de Propaganda e Marketing. Os con-
ceitos emitidos em artigos assinados são de exclusiva
Francisco Gracioso
responsabilidade dos autores.

Professores, pesquisadores, consultores e executi-


vos são convidados a apresentarem matérias sobre
suas especialidades, que venham a contribuir para o
aperfeiçoamento da teoria e da prática nos campos da PARA ASSINAR, LIGUE: (0XX11) 5085-4508
administração em geral, do marketing e das comuni- OU MANDE UM FAX PARA: (0XX11) 5085-4646
cações. Informações sobre as formas e condições,
favor entrar em contato com a coordenadora editorial.
30 REVISTA DA ESPM–JANEIRO/FEVEREIRO SE PREFERIR, ACESSE O SITE: WWW.ESPM.BR
DE 2006
Cartas R. Agradecemos ao prezado leitor,
que também é integrante do Conse-
lho Deliberativo da ESPM.
outros alunos da Escola podem
submeter suas colaborações ao
nosso conselho editorial.

EXAGERO
Já li quase toda a última Revista da PARTICIPAÇÃO ERRO?
ESPM (sobre mídia e o futuro). Apren- DE ALUNOS Somos alunos da ESPM e trabalha-
di QUASE mais com ela do que em Sou aluno da ESPM, da graduação de mos em uma agência regional. Na
4 anos de ESPM propriamente dita. administração, e gosto muito das semana passada, recebemos a
Muito bom trabalho. matérias da Revista da ESPM, prin- Revista da ESPM e fomos mostrá-
cipalmente dos debates. Creio que a la ao nosso diretor. Ele gostou da
Kleber Fonseca única falha é a pouca participação dos qualidade gráfica, do editorial,
DPZ – São Paulo alunos. De todo modo, acho que se mas criticou o uso da foto refletida
trata de ótimo material didático, para na capa.
R. Prezado Kleber, sua observação é – formados e formandos.
certamente – exagerada... Mas, no que
se refere à Revista, agradecemos o seu AlexandreTomasi
elogio. Guilherme Fernandes Miguel Wilson Ferrari Jr
São Paulo São Paulo
COMPLETA
A última edição da Revista da ESPM
R. Obrigado pelas palavras amáveis. R. Fabio Mestriner, responsável pe-
contém a mais completa e atual No que se refere à participação dos las capas da Revista, responde: A
cobertura sobre o importante mercado alunos, o fato de publicarmos ape- imagem publicada na capa foi
do Varejo de que tenho conhecimento. nas 5 edições por ano limitam a intencionalmente refletida para que
Parabéns. Um abraço Revista às seções de entrevistas, as marcas dos produtos não ficas-
mesa-redonda e artigos escritos sem legíveis. É uma imagem ilus-
por professores e outros colabora- trativa, conceitual e não está “er-
José Francisco Queiroz dores, geralmente sobre o assunto- rada”. De qualquer forma, agra-
São Paulo tema da edição. Mas tanto V. como decemos a colaboração.
ERRATA

Na última edição da Revista da ESPM, o case sobre o Meggashop foi publicado com imagens que não retratavam a transformação
pela qual passa a rede. Por este motivo, publicamos, abaixo, fotos de duas lojas da rede que ilustram as recentes mudanças.

➟ Fachada de loja ➟ Interior de loja em


de rua, em João São Paulo, no Shopping SP
Pessoa, antes da Market, antes da reforma
reforma.


Fachada de loja de ddd
rua, em João Pessoa, ➟
Interior de loja em Sãojjjjj
após a reforma Paulo, no Shopping SP
Market, após a reforma

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 5


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Indice
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5678901234567890123456789 ENTREVISTA
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IVAN ZURITA 8
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5678901234567890123456789 E Schopenhauer tinha razão....
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FRANCISCO GRACIOSO 16
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5678901234567890123456789 O autor enfatiza neste artigo que a introdução da inovação é apenas o início de um processo que só se conclui
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5678901234567890123456789 quando as mudanças decorrentes da inovação são bem administradas e produzem os resultados esperados.
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5678901234567890123456789 Um papo sério sobre criatividade
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CONRADO SCHLOCHAUER 26
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5678901234567890123456789 Embora criatividade e inovação sejam palavras de ordem no mundo empresarial, muitos de seus conceitos e definições
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5678901234567890123456789 básicas ainda não são claramente compreendidos. Esse artigo, de uma maneira leve e interessante, fornece um
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5678901234567890123456789 profundo embasamento sobre esses temas.
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5678901234567890123456789 Inovação, crescimento e sustentabilidade
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5678901234567890123456789 SANDRO MARQUES/MARCELO TORRES 36
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5678901234567890123456789 Os modelos de inovação existentes estão voltados para a busca de crescimento e lucratividade acelerados.
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5678901234567890123456789 O artigo explora a emergência de um novo modelo, em que crescimento é substituído por desenvolvimento sustentável.
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5678901234567890123456789 ENTREVISTA
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OZIRES SILVA 44
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5678901234567890123456789 A inovação chega à idade da razão
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JOSÉ PREDEBON 54
5678901234567890123456789 Matéria que focaliza o histórico e a dinâmica da inovação dentro do marketing. Defende que houve valorização exagerada da
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5678901234567890123456789 prática, comenta as suas conseqüências e afirma que há agora um refluxo racional, aqui denominada “idade da razão”.
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5678901234567890123456789 Inovação e fator humano
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LUIZ EDMUNDO PRESTES ROSA 66
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5678901234567890123456789 Promover a inovação é trabalhar com o potencial criativo das pessoas e construir as condições para que
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ela se desenvolva no ambiente de negócios, principalmente nos relacionamentos com os públicos de interesse.
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5678901234567890123456789 Como usar os próprios recursos para gerar idéias inovadoras
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AMNON LEVAV/ORLY SEAGULL 78
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5678901234567890123456789 O SIT – Pensamento Inventivo Sistemático é um método que ajuda as pessoas a gerar idéias práticas inovadoras
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5678901234567890123456789 para novos produtos e serviços, campanhas de marketing de impacto e novas estratégias. O artigo descreve uma
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5678901234567890123456789 das cinco “ferramentas pensantes”, que estão na essência do método.
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5678901234567890123456789 Eles inovaram
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CLAUDIA PENTEADO 84
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5678901234567890123456789 As aventuras e desventuras de um publicitário brasileiro na Romênia
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DARLAN MORAES JUNIOR 92
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5678901234567890123456789 Uma oportunidade única de saber um pouco mais sobre Nicolai Ceaucescu, quem combate evasão fiscal, quem sonega e até
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mesmo quem pode sofrer ameaças por isto… Acompanhe os capítulos sobre a primeira campanha de publicidade que enfocou a
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5678901234567890123456789 evasão fiscal na Romênia.
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5678901234567890123456789 A ética e o marketing da esperança
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HERMANO ROBERTO THIRY-CHERQUES 100
5678901234567890123456789 A dificuldade ética do marketing da esperança reside em saber se quando vendemos esperanças, mesmo esperanças legítimas,
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estamos fazendo o bem ou estamos fazendo o mal. Os gregos, que sabiam tudo, não sabiam isto, o que não nos impede de ter
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esperanças de todo tipo.
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5678901234567890123456789 MESA-REDONDA
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SOBRE CRIATIVIDADE, INOVAÇÃO E MUDANÇA 112
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CASE-STUDY: FOX – pesquisa como instrumento de inovação 126
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LEITURA RECOMENDADA 138
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SUMÁRIO 142
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ABSTRACTS 144
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REVISTA DA E
5678901234567890123456789 PONTO
S PM– DE VISTA
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M A R Ç O 2006
A B R I L D E
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JULIO RIBEIRO 146
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Entrevista

UMA EMPRESA QUE SE


SINTA CONFORTÁVEL
ESTÁ FICANDO PARA TRÁS
ENTREVISTA COM

IVAN
ZURITA
U
m funcionário que trabalhe por três décadas numa grande empresa, considerada por todos
como “conservadora” – ainda que com um histórico de sucesso –, pode ser um agente de
mudança e de inovações?

No caso de Ivan Zurita – o atual presidente da Nestlé brasileira – não só isso ocorreu,
como provocou, em curto prazo, resultados nada menos do que espetaculares.

A Nestlé foi o primeiro emprego para o jovem Ivan, aos 20 anos de idade. Anos mais
tarde, como gerente de produtos da linha Chambourcy chegou a ser despedido, pelo
chefe, mas conseguiu manter-se no emprego à custa de uma proposta ousada e do apoio
dos colegas. Expatriado, teve sucesso profissional no Chile, na Argentina, na Tailândia,
América Central e – sobretudo – como presidente da Nestlé no México.

Chamado de volta ao seu Brasil de origem, Zurita encontrou o seu maior desafio:
provar aos colegas e superiores que o potencial de crescimento, no país, era muito
superior ao que todos imaginavam.

A Revista da ESPM ouviu e registrou essa história de sucesso – e inovações – do seu


protagonista e a apresenta, aqui, aos seus leitores.
JRWP

8 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Ivan Zurita

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 9


Entrevista

GRACIOSO – Quando você che- tudo bem; quando a gente pensa que IVAN – Não diria – exatamente – que
gou ao Brasil para presidir a Nestlé, já ganhou, é porque começou a perdeu o contato com o consumidor.
por que concluiu que era preciso perder. Sempre tivemos uma imagem ex-
introduzir mudanças para alcançar celente no mercado; somos uma
os resultados que você desejava? JR – Em que época foi isso? empresa grande, sólida, histórica, no
Brasil. O que faltava era agres-
IVAN – Este é um bom ponto de par- IVAN – Em 2001. A empresa estava sividade, faltava inovação de pro-
tida. Na minha opinião, toda empresa com uma rentabilidade que poderia dutos, faltava essa Nestlé moderna
que, um dia, se sente confortável, chamar de medíocre. Mas isso não mais próxima do consumidor, ávida
está, gradualmente, ficando para era o que mais me preocupava, na- em responder às suas necessidades.
trás. Eu encontrei uma empresa que quele momento; era muito mais o
dormia – não um sono profundo, mas aspecto interno e o fato de a empresa JR – Na sua gestão, houve alguma
uma “sesta”, e não acompanhava a não ter atuação mais agressiva dian- forma nova de lidar com as informa-
velocidade das mudanças do te do mercado. Tudo tinha de partir ções sobre os consumidores?
mercado. Acho que nós estávamos do mercado. Mudamos a arquitetura
administrando uma situação de líder, da empresa, levando em conta que IVAN – Baseado na radiografia que eu
mas não estávamos, de fato, lutando não se tratava mais do mercado em descrevi, nós mudamos a arquitetura
para defender essa posição no que vínhamos competindo; a realida- da empresa e criamos uma divisão de
mercado. Esse foi o diagnóstico: de era outra. Dentro dessa nova rea- shared service para prestar serviços e
nossa maneira de trabalhar era, prati- lidade, dividimos a Nestlé Brasil em para dar mais competitividade à
camente, a mesma de trinta anos an- business units como se fossem em- companhia e às pessoas. Os diretores
tes: o mesmo sistema, o mesmo or- presas individuais. Hoje temos a busi- têm responsabilidade completa pelo
ganograma, a mesma maneira de o- ness unit de chocolate, a de pet food, business; biscoito é uma unidade, uma
perar. Então, o que fizemos foi – a cada área com total responsabilidade... business unit está toda integrada,
partir do mercado consumidor, para inclusive as fábricas; a parte técnica
trás – procurando constatar em que JR – A Nestlé, no Brasil, foi sempre está centralizada no corporate que
o consumidor estava interessado, uma referência de atualização; por presta serviços a essas unidades. Muda-
quais seriam as inovações, levando exemplo, já fazia boas pesquisas de mos o desenho da companhia – pen-
em consideração que os mercados mercado, quando outras empresas sando sempre no mercado. Na comu-
se abriram... Antigamente, você ti- nem sabiam o que era isso... Como nicação, foi feito um trabalho profundo;
nha mercados “fechados” – você de- é que uma empresa que foi, assim, trabalhamos o corporate, trabalhamos
senvolvia produtos e tinha uma pioneira, pode ter perdido o contato atividades que se relacionassem,
demanda à sua porta. Hoje não é com o consumidor?
mais assim, o consumidor é mais in-
formado, mais instruído; sabe muito
bem o quanto essas marcas pesam,
em termos de custo X benefício e
preço na hora da compra. Fizemos “INVESTIMOS MILHÕES,
uma análise... nós tínhamos uma
PARA CONHECER
fortaleza: imagem corporativa forte
e marketing de produto forte – e uma
MELHOR O CONSUMIDOR
penetração de “noventa e cinco por
BRASILEIRO.”
cento dos domicílios brasileiros”. Esse
era um motivo para sentirmo-nos
confortáveis. Mas acho que foi aí que
começou o nosso desconforto –
exatamente por acharmos que estava

10 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Ivan Zurita

intensificassem a nossa relação com o


consumidor e marcas/produtos, dentro
de um plano de quatro anos. Dos 105
países em que operamos, a nossa Nestlé
é a mais eficiente em fábrica. Isso se
deve a novos sistemas, novos métodos, “COLOCAMOS À
investimento em informática, gestão VENDA BISCOITOS
de negócios. Temos 26 operações COM A MARCA BONO,
industriais, hoje, no Brasil, e posso di- NA PORTA DOS
zer que – na porta da fábrica – somos ESTÁDIOS...”
imbatíveis. Mas esse é um com-
promisso permanente. Para dar idéia,
com isso conseguimos uma redução
de custos, nessa área, de um bilhão de
reais por ano. chamamos pessoal de fora. Na área
de vendas, o nosso diretor mudou 70%
GRACIOSO – Ivan, depois de de- da equipe. Eu dizia que nós estávamos
finir os problemas, as premissas e os consertando um avião durante o vôo. você – como grupo estrangeiro ou
objetivos que queria atingir, como E o grupo entendeu; levamos um pla- nacional – pode definir o próprio
você conseguiu esta reação rápida e no à matriz, fizemos um diagnóstico tamanho. Só depende de você. Se
tão expressiva? de todas as áreas da companhia, que, quiserem duplicar a Nestlé na Suí-
sucintamente, dizia o seguinte: “A ça, é impossível. Mas, no Brasil, sim.
IVAN – Houve mudanças na manei- empresa precisa de uma reorgani- Nós tínhamos um modelo de dis-
ra de operar, mas, quando falo de zação interna que lhe dê velocidade; tribuição muito concentrado em
velocidade e agressividade na com- precisa de uma reorganização externa grandes cadeias; mas hoje o princi-
panhia, é para mostrar que – para que lhe dê visibilidade; precisa de pal cliente representa 7% da nossa
continuar crescendo – era necessário uma boa comunicação para intensi- venda e nós representamos, para
uma mudança radical. Nós mu- ficar a relação com o consumidor.” ele, 7,2%. Só que temos uma visibi-
damos, sim: de 18 diretores muda- Não esqueça de que esse consumidor lidade, uma distribuição, de 250 mil
mos 16. Alguns se aposentaram, ou- está, hoje, muito mais globalizado. clientes por dia, através de brokers,
tros deixaram a companhia. Para tudo isso, era necessário reduzir através de distribuidores que não
os custos da empresa e buscar maior tínhamos antes.
GRACIOSO – Houve uma mudan- eficiência. Nós duplicamos o nosso
ça de pessoal maior do que eu investimento em marketing, nesses GRACIOSO – Então estão prontos
imaginava. últimos quatro anos. Não foi fácil, mas para uma fase de crescimento ainda
já começamos a sentir os resultados mais rápida?
IVAN – Principalmente no nível mais na performance da companhia; hoje
alto. Porque, normalmente, quando se somos a segunda em volume, do gru- IVAN – Eu acho que grande parte
fala em redução de custos, o foco está po mundial, e a quinta em fatura- do que nós fizemos agora é parte
nas fábricas, mão-de-obra, de linha, e mento – logo depois da Inglaterra... do que nós deixamos de fazer no
o nosso caso não foi assim. Nós pre- passado e – daqui para frente – vai
cisávamos de uma mudança radical na GRACIOSO – Quais são as suas ser uma nova conquista.
maneira de pensar e isso foi passado a metas?
outros níveis diretos da companhia. É GRACIOSO – Para efetuar todas
lógico que eu dei a liberdade também IVAN – A principal é duplicar a essas mudanças, você teve que
de reestruturar, do ponto de vista de companhia em cinco anos. O Brasil mexer nos valores, nas crenças bá-
marketing, do ponto de vista interno, é um caso único no mundo, em que sicas da cultura da Nestlé? ¯

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 11


Entrevista

IVAN – Sim – e isso foi difícil no iní-


cio. Vou dar um exemplo: nós finan-
ciávamos, para funcionários, cerca de “A EMPRESA ESTAVA COM
600 veículos por ano. Transferimos UMA RENTABILIDADE QUE
essa tarefa aos bancos – assim como
PODERIA CHAMAR DE
outras – sem traumas. Nós deslocamos
o epicentro em termos de apoio ao
MEDÍOCRE.”
pessoal; e até demos mais apoio, só
que de uma maneira diferente.

GRACIOSO – Também passaram a


exigir mais, talvez.
plo, eu assumi diretamente, um GRACIOSO – Historicamente, pa-
IVAN – Muito mais, e com metas pouco como key account manager... rece ter prevalecido, na Nestlé, o que
abertas; hoje todo mundo sabe a eu chamaria de “cultura do gerente
contribuição marginal da compa- GRACIOSO – Você fez isso como de produtos”. Você acabou com ela
nhia, a rentabilidade, os bilhões de exemplo ou porque era, realmente, e passou a enfatizar mais os resultados
faturamento; antigamente ninguém preciso? de curto prazo, dentro de uma
sabia nada, ninguém sabia onde es- estratégia de longo prazo. Será que
távamos. Mas acredito que foi en- IVAN – Eu acho que era preciso, mas estou certo, nisso?
tusiasmante, porque podemos pagar também serviu como exemplo para
bem àqueles que merecem. Hoje, os diretores das business units, porque IVAN – Sem dúvida. Nós investimos
temos, na estrutura, uma avaliação esse é o trabalho que, no dia-a-dia, milhões para conhecer melhor o
de pessoal em todos os níveis, aberta, eles têm que fazer. Na semana consumidor brasileiro. Isso nos levou
um diálogo mais aberto. Trabalhamos passada, tivemos uma reunião com o a dividir o país em três regiões de
mais “na horizontal” – e todo mundo Pão de Açúcar, na outra com o Car- consumidores, não somente geo-
participa do processo. refour, fomos ao Wal-Mart, para gráfica. A nossa preocupação foi co-
discutir as grandes linhas do negócio, nhecer melhor esse consumidor, não
GRACIOSO – Você acha que está as visões que temos e compartilhamos pensar que, uma vez que o mercado
mais perto do mercado consumidor com eles. Na negociação, a nossa se globalizou, o consumidor também
do que os seus antecessores? tabela de descontos é igual para todas se globalizou.
as cadeias. Isso tudo está relacionado
IVAN – Acho que sim – e não só com o cuidado e os investimentos em GRACIOSO – Nós mantemos as
no mercado consumidor. Por marketing. Hoje, temos 15 dias de nossas próprias características.
exemplo, temos um excelente estoque no mercado e uma semana
relacionamento com o Governo, de estoque sobre os caminhões. São IVAN – Exatamente. E não podemos ir
não importa de que partido. Eu faço 3.500 carretas circulando diaria- contra essa natureza. Hoje, temos
parte de diversos Conselhos, em mente, um leque dinâmico de dis- sistemas de gestão com os distribuidores,
Brasília, vou a reuniões, participo. tribuição, mas fundamental, consi- que não tínhamos, estamos conectados
A Nestlé é uma empresa derando as distâncias que existem no diretamente ao sistema, com as grandes
multinacional com sabor local. Brasil. Temos o centro de distribuição cadeias. Estive na Suíça, na última sexta-
Tínhamos problemas constantes em São Bernardo, com 45 mil metros feira, no Palácio de Montreux, onde
com grandes cadeias e – hoje – quadrados; 65 mil em Cordeirópolis, havia 1.200 pessoas e o Brasil foi
nossos problemas são os normais, e estamos construindo, agora, em Fei- convidado para falar sobre o nosso plano
de relacionamento comercial. ra de Santana, mais 40. É tudo que para o setor de baixa renda e
Com o Pão de Açúcar, por exem- precisamos. regionalização. O impacto foi enorme.

12 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Ivan Zurita

JR – Era um evento da própria je, que crescem 21% ao ano – e será começar outra em Palmeiras das
empresa? que nós estamos crescendo 21% Missões, no Sul, e estamos terminando
também nestes estados? Então vamos uma fábrica em Araçatuba. A cada três
IVAN – Era – e havia um grupo gran- lá para ver. por cento de crescimento, temos que
de de investidores. Vou-lhe dar um construir uma fábrica nova – pelo vo-
exemplo das oportunidades de ven- JR – Quais são os estados? lume que estamos operando! Essa é
das de que estou falando: quando veio uma companhia dinâmica; não pode-
ao Brasil esse conjunto irlandês, o U- IVAN – Mato Grosso do Sul, Tocantins mos deixar que não cresça, essa é a
2, a estrela principal, o cantor chama- e Goiás. As estratégias regionais são nossa missão diária. Temos uma cadeia
se Bono. Então, colocamos à venda diferentes de região para região; não de 44 mil fornecedores que também
biscoitos com a marca Bono, na por- basta dividir em três regiões... Nós participam dessa cadeia de qualidade;
ta dos estádios... dividimos o Brasil baseado no exigimos bastante qualidade, não é
consumidor, baseado no insight do simplesmente vender. Nós checamos
JR – Vocês já tinham a marca ou vo- consumidor. Existem produtos que, no toda a cadeia – do início da matéria-
cês criaram a marca? Nordeste, estão posicionados de uma prima ao produto final.
maneira, no Centro de outra e no Sul,
IVAN – Não, é um produto. ainda outra. Por que essa é a realidade GRACIOSO – Esta ênfase maior de
do mercado, o perfil do consumidor é resultados provocou alguma mudan-
JR – Foi uma coincidência, então? esse. A companhia, hoje, tem uma ça no mix da remuneração?
imagem avaliada como excelente, a
IVAN – Foi. E foi o aproveitamento rotação dos produtos é excelente, IVAN – Nós implantamos um siste-
de uma oportunidade. A Festa da Fei- como o comércio é excelente; é a ma mais claro e transparente de bô-
ra de Santana, o Carnaval de Parin- melhor companhia para se trabalhar, nus. Antes não se ganhava bônus
tins nós não participávamos, hoje es- o ambiente interno é bom, as pessoas porque não se atingiam os objetivos.
tamos participando. Nós aprofun- estão trabalhando alegres, confor- Na Nestlé, são vários targets que
damos as informações, com o insight táveis. Imagine que temos 220 mil envolvem a gestão da companhia em
do consumidor regional; todos sa- famílias trabalhando no campo para a diferentes níveis: temos 100% do
bemos que o Nordeste é diferente do Nestlé – é uma responsabilidade social bônus; temos 80 e temos até 120.
Centro-sul, mas uma coisa é saber, a que temos; se não crescermos, se Também temos stock options e
outra é atuar. Estamos construindo cairmos dez por cento, podemos incorporamos mais gente nesse
uma fábrica multiprodutos em Feira desempregar mais de 20 mil famílias. processo. No sistema de premiação
de Santana, que vai abastecer todo Temos de ter isso sempre presente. Já de vendedores, a parte variável
o Norte e o Nordeste, evitando o disse que estamos construindo uma aumentou, dando chance para que
transporte de matérias- primas – por fábrica em Feira de Santana, vamos continuassem tendo um fixo, no mí-
exemplo, Nescafé será envasado lá. nimo, igual ao que tinham antes – e
Com isso, tenho vantagem fiscal, todos progrediram. Nosso merchan-
tenho redução do custo de transporte, dising, que era terceirizado, trouxe para
fico mais competitivo; como se trata dentro da empresa. Por que já fui ¯
de mercado de menor poder aqui-
sitivo, posso abaixar o preço, sendo
mais competitivo na ponta e aumen- “ANTES NÃO SE
tando a venda. No ano passado, GANHAVA BÔNUS
através da regionalização, nós cres- PORQUE NÃO SE
cemos o equivalente a uma Argen- ATINGIAM OS
tina, em produtos Nestlé. O Norte– OBJETIVOS.”
Nordeste do Brasil tem a população
da França; há estados brasileiros, ho-

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 13


Entrevista

merchandising – e sei o que é isso. GRACIOSO – Qual é o próximo passo? JR – Para todo tipo de prestação de
O merchandising da Nestlé quer ser serviços de comunicação?
vendedor da Nestlé, então começa IVAN – Eu espero que os meus di-
a ter uma relação de paixão com a retores do corporate auxiliem cada vez IVAN – Só os negócios grandes. Veja
companhia. Na parte de vendas, mais a presidência, no dia-a-dia da o exemplo do açúcar: somos o maior
compramos veículos novos para companhia, para cumprir as regras da comprador de açúcar do Brasil – as
toda a organização através de casa. Eu quero ter mais tempo para empresas competem para nos vender.
leasing e com uma condição: se ele atuar como um “trigger”, para Fazemos isso com a construção de
decidir pagar a última prestação, desenvolver novos negócios. Acho fábricas novas, com a compra de
fica com o carro. Então, passaram que essa deve ser a minha função veículos; são três mil veículos – as
a cuidar desse automóvel, porque principal. Uma vez organizado, montadoras entram e concorrem. Isso
é um bem que está cultivando – e, funcionando com rentabilidade, há agilizou os processos. Nós usávamos
a cada quatro anos, ele recebe um sempre coisas novas para fazer; eu já 150 empresas transportadoras – e era
automóvel pagando uma pres- estou pensando no desenvolvimento de difícil controlar. Hoje está tudo on line,
tação; é mais um benefício. oportunidades de novos negócios lá na quem prestar serviços entra e
Reforçamos a parte de assistência frente. Acho que, aqui, a Nestlé concorre. Isso reduziu custos,
médica, seguro de vida. também tem muitas oportunidades de aumentou a flexibilidade e acabou
aquisições, e estamos realizando, ana- com problemas enormes. Nossa
GRACIOSO – Em função de tudo is- lisando tudo que está acontecendo. Por vocação é produzir e desenvolver
so, mudou o perfil dos jovens que são isso eu acredito nesse crescimento. alimentos que respondam à
atraídos para cargos executivos? expectativa do consumidor: não é pro-
GRACIOSO – Algo mudou na duzir leite mas processar leite; não é
IVAN – Levava-se 30 anos para che- comunicação? produzir café mas processar o café;
gar a diretor nessa companhia; depois não é produzir cacau mas processar o
mais ou menos uns 20. Hoje, a média IVAN – Contratamos o Mario Castelar, cacau e assim por diante. E na área
dos novos diretores é de três, quatro ou que sempre trabalhou com a Nestlé – de marketing – que é muito
cinco anos. Mas acho que o importante durante mais de 20 anos na agência. importante – estamos selecionando,
é ficar na organização, pois “os cargos Ele veio com uma missão que não era anualmente, 100 trainees não só para
se conquistam” – isso é mérito, e é fácil, no início, mas ajudou a a área de marketing, mas para
fundamental. desburocratizar a relação com a eventos, requisitando pessoas novas
agência, que era um problema aqui para serem formadas e para trabalhar
dentro. Havia quase um conflito entre conosco. Isso tem dado uma dinâmica
agência e cliente. Hoje isso acabou. nova também. Vai levar algum
Nós mudamos a maneira de produzir tempo, porque isso não se faz de um
a nossa comunicação, a maneira de dia para o outro, mas estamos satis-
atuar com as agências; agora temos feitos com a maioria deles.
agências alinhadas, com quem
fazemos uma concorrência aberta. GRACIOSO – Eu costumava dizer
que o que mexe com o moral de uma
organização é o lucro; agora posso
dizer que é o lucro e o crescimento.
“GRANDE PARTE DO
IVAN – E nós temos mostrado os
QUE NÓS FIZEMOS resultados, temos mostrado onde
AGORA É PARTE DO QUE crescemos, os investimentos que
NÓS DEIXAMOS DE fazemos, a mudança de para-
FAZER NO PASSADO.” digma, nas áreas de distribuição,

14 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Ivan Zurita

sem tocar esse eixo básico da JR – Você acha que mostrar resultado parente e o produto era uma geléia
Nestlé. Hoje todos sabem que a foi uma forma de provar as suas teses? em baixo, com iogurte em cima, o
Nestlé, para ser competitiva, eu nome não era o mais importante.
digo: “não podemos ser mais efi- IVAN – É muito importante, num pri- Então tro- camos para “Chambourcy”,
cientes comparando-nos com nós meiro momento, você poder con- sem identificar o produto. Em vinte e
mesmos, temos de ser mais efi- cretizar e dizer “olha, aquilo que quatro horas, conseguimos o registro,
cientes comparados com o mer- eu prometi, olha o resultado a que trabalhamos no final de semana, todos
cado”. Temos de mudar o enfoque cheguei”. deram o máximo. E – na segunda-
para “a Nestlé Brasil é a mais efi- feira – eu ainda tinha o Chambourcy
caz, comparada com o mercado”. JR – Qual foi a primeira oportunidade no mercado, com uma boa contr-
Isso é o que me interessa. que você teve? ibuição marginal para a companhia.
Então voltei para o senhor Mario e
JR – Quantos anos de Nestlé você tem? IVAN – Eu trabalhava na divisão disse “consertei o aborto”. Ele, então,
Chambourcy e a Danone havia lan- disse: “pessoas assim é que eu gosto
IVAN – Trinta e três. çado um produto chamado Dan Fru- de ver na companhia, quero que você
it. Eu, então, lancei Cham Fruit – mas continue conosco”. Mais tarde, houve
JR – Você começou aqui mesmo, a Danone entrou com uma ação contra outra passagem muito interessante,
no Brasil? nós. A Nestlé daquela época era quando me perguntou o que eu
muito conservadora – e o senhor gostaria de ser na Nestlé, e eu disse
IVAN – Como trainee. Alexandre Mahler, que era meu “gostaria de ocupar o lugar do senhor”.
chefe, me chamou e disse: “O senhor Ele não gostou muito, mas – anos
JR – Quando entrou, você já era está demitido da Nestlé. Quem mais tarde – rimos juntos. São passa-
uma pessoa inovadora ou trans- produziu este aborto?” – foram pala- gens importantes. O grande desafio
formou-se numa pessoa inovadora vras dele, com as duas embalagens que eu tive foi o México, a América
trabalhando na empresa? na mão. “Isso que o senhor está Central, e também a Argentina. O que
chamando de aborto, fui eu que fiz”, eu aprendi faz parte da minha ma-
IVAN – Boa pergunta. É difícil dizer, e ele “pois é, o senhor está demitido”. neira de ser. É importante ter credi-
porque, na época, poderia até ter es- Então eu falei: “Olha, o senhor é a bilidade entre os pares, os colabo-
pírito inovador mas não podia de- autoridade aqui, mas eu gostaria de radores; conseguir a mobilização
monstrar, porque não tinha opor- sair pela porta que entrei; então eu para os objetivos que a gente propõe.
tunidade para isso. Mas acho que a gostaria de consertar o aborto antes Sozinho não dá para fazer nada.
criatividade leva à inovação. Mas, de sair”. Ele: “O senhor tem dois dias
para isso, temos de estar dentro de para fazer isso”. Aí chamei o meu GRACIOSO – Ivan, muito obrigado.
um contexto, para poder propor pessoal e disse “estou demitido”. Sua entrevista valeu quase como um
coisas inovadoras e sermos ouvidos... Naquela época, o pote era trans- curso completo de gestão... ESPM

JR – E como você encontrou acolhida


para esse seu espírito inovador? DADOS COMPARATIVOS
Em 2001, quando Ivan Zurita assumiu a presidência da Nestlé no Brasil, o faturamento bruto
IVAN – Tive algumas oportunidades
consolidado foi de R$ 5,9 bilhões. A partir desse ano, a progressão foi a seguinte:
no caminho. Mas é o que o
Gracioso disse: quando você co- Ano Faturamento em bilhões
meça, suas idéias não se enqua- 2001 R$ 5,9
dram, necessariamente, naquilo que 2002 R$ 7,7
a companhia pensa, mas se você 2003 R$ 9,6
2004 R$ 10,6
consegue produzir resultados, muda 2005 R$ 11,5
totalmente...

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 15


E Schopenhauer tinha razão...

O filósofo alemão já dizia que o homem só tem duas escolhas: ou sofrer ou


entendiar-se, o que é ainda pior. De fato, as inovações e mudanças podem
causar sofrimentos e conflitos, mas ainda assim são preferíveis à paz dos
cemitérios. No mercado de hoje, um mar revolto em constante
transformação, cabe ao bom timoneiro administrar as mudanças e manter
o barco no rumo certo, sem causar muita marola.

E
S E A
C OPNH UER H
TINHA RAZÃO...

16 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Francisco Gracioso

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 17


E Schopenhauer tinha razão...

Do alto de minha torre que as más trário, trata-se de um remédio que


línguas dizem ser de marfim, a pri- tem efeitos colaterais e pode causar
meira constatação que faço é que males inesperados se for utilizado
as pessoas geralmente cometem inadequadamente. Comecemos
um erro de ênfase. Falam muito de tentando definir com cuidado o
inovações mas se esquecem do prin- sentido da trilogia criação–
cipal, que são as mudanças que de- inovação – mudanças. De fa-
vem ser provocadas. Em retros- to, trata-se de um pro-
pecto, podemos verificar que quase cesso que começa
todos os fracassos na introdução de ainda antes do
inovações se deve menos à perti- ato da criação,
nência destas e mais às falhas co- no momento
metidas na administração das mu- em que se
danças restantes. identi-
fica

1. INTRODUÇÃO
Mesmo quando falamos apenas das
inovações, cometemos alguns erros
de conceituação. No mundo em-
presarial há muitas pessoas que
parecem crer que a inovação
seja uma solução para todos
os males. E os gurus que ga-
nham a vida, falando so-
bre o assunto, fazem
muito pouco para des-
fazer essa impressão.
Na verdade, ino-
vação não é pa-
nacéia. Ao con-

18 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Francisco Gracioso

uma oportunidade que pode ser apro-


veitada, ou um problema que deve
) Na verdade, inovação
não é panacéia. Ao
contrário, trata-se
ser resolvido. de um remédio que
tem efeitos colaterais
A partir desta identificação, come- e pode causar males
ça o processo criativo propriamente inesperados se
for utilizado
dito que leva à solução, ou idéia inadequadamente.
criativa. Esta idéia pode referir-se
a qualquer ramo de atividade, des-
de aqueles essencialmente cria-
tivos, como a propaganda ou o de-
sign, até aos essencialmente técni-
cos, ou científicos, como um novo
processo de combustão ou um novo 2. O PROCESSO custos, seja enfim de vantagens
composto curativo. Desfaz-se assim QUE VAI DA competitivas relativas.
o mito de que a criatividade está IDENTIFICAÇÃO
essencialmente ligada às artes. Ela ÀS MUDANÇAS Para nós, o exposto acima pode
está presente, e é necessária tam- resumir-se neste enunciado: o pro-
bém na engenharia, na contabili- De qualquer forma, a busca e ob- cesso de introdução de inovações,
dade ou na física nuclear. Note- tenção da idéia criativa é apenas através da aplicação de idéias ou
se também que o processo cria- o início do processo, principalmen- soluções criativas, só se completa
tivo só se inicia após a identifi- te quando se trata do ambiente em- e tem êxito quando se obtêm as
cação de um problema ou opor- presarial. Da implementação desta mudanças pretendidas. Na prá-
tunidade, como dissemos aci- idéia decorre a inovação. E através tica, este conceito tem muitas
ma. Isto significa que os verda- da introdução desta inovação pre- conseqüências. Por exemplo, de
deiros criadores são também tende-se obter a concretização de nada adianta elogiar o brilho
observadores argutos da rea- mudanças, seja de atitudes ou com- criativo de um novo comercial de
lidade que os cerca. portamento, seja de eficiência ou TV se este não conseguir provocar ¯

) Quando Einstein formulou a série de


teorias que o levariam à teoria geral
da relatividade, ficou difícil dizer o
que foi mais genial: a identificação
do problema tempo/espaço ou a
formulação da equação da matéria.

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 19


E Schopenhauer tinha razão...

as mudanças de atitude e com- solução criativa. Em nossa opinião, reduzir os seus custos de produção,
portamento esperadas entre os trata-se de uma solução nova, ori- ou um gerente de vendas que pro-
consumidores do produto anunciado. ginal e exclusiva que nos ajuda a cura maximizar o resultado de suas
resolver problemas ou aproveitar visitas a clientes. Na vida empre-
oportunidades, dando-nos vanta- sarial, essas idéias são basicamente
3. O QUE É UMA gens competitivas sobre os nossos de dois tipos: as que buscam dar-
IDÉIA CRIATIVA? concorrentes. Isto vale para um cria- nos vantagens competitivas através
dor publicitário, um designer que da diferenciação qualitativa; e as
É preciso também conceituar me- procura um novo formato de emba- que pretendem reforçar a nossa
lhor o que vem a ser uma idéia, ou lagem, um engenheiro que procura competitividade através do aumen-
to da eficiência e da redução de
custos. (vide fig. 1).

FIGURA 1 – VANTAGENS COMPETITIVAS BÁSICAS


4. COMO
GARANTIR UM
FLUXO CONTÍNUO
DE NOVAS IDÉIAS
Não é fácil, para qualquer organi-
zação, obter continuamente de
seus funcionários soluções criativas
para os problemas provocados pela
competição. Na melhor das hipó-
teses, isto ocorre em organizações
abertas à mudança que encorajam
INOVAÇÕES/DIFERENCIAÇÃO

(e premiam) a audácia e a inova-


Conjugação de dois fatores: ção. Mas, mesmo nessas organiza-
Nichos de qualidade/marca qualidade e custo baixo ções, o problema central consiste
em se manter a continuidade de
fluxos de novas idéias. Elas não po-
dem ser esporádicas, ao contrário,
devem surgir continuamente, de
baixo para cima, e respeitando os
prazos ditados pela vida real. De
nada adianta termos um gênio
criador que só funciona um par de
dias por ano, a não ser que seja um
novo Einstein. Para que isso seja pos-
sível, é preciso respeitar algumas
regras, a saber:

Vala comum (todos os Vantagens competitivas


A) Objetivos estratégicos bem
definidos
concorrentes se parecem) baseadas em custo/eficiência
Quando há uma definição clara de
nossos rumos e objetivos é mais
EFICIÊNCIA/CUSTO

20 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Francisco Gracioso

fácil identificar os problemas ou ne-


cessidades que dificultam a nossa
trajetória no mercado. Isto significa
que a inovação e as mudanças ocor-
rem com mais rapidez e facilidade
nas organizações que têm uma de-
finição clara de sua missão e de
seus objetivos de longo prazo.

B) Conhecimento íntimo de
nosso mercado

Já dissemos antes, o processo de cria-


ção de idéias só se inicia após a
correta identificação de um pro-
blema ou oportunidade. Ora, no
mundo empresarial esses problemas
e oportunidades estão no mercado.

)Só o conhecimento íntimo dos


anseios e necessidades de nossos
compradores ou consumidores nos
permitirá identificar as opor-
tunidades de servi-los melhor do
que os nossos concorrentes.

Isto vale tanto para a agência que


cuida da propaganda quanto para a
engenharia de produção ou depar-
tamento de vendas. É por isso que
todos os processos modernos de
reestruturação de empresas procu-
ram reduzir a distância que vai dos
escalões superiores da empresa ao
seu mercado comprador.

Ambiente propício à inova-


C) ção e às mudanças

É escusado dizer que a maioria das


empresas, no Brasil e no mundo in-
teiro, é fechada à inovação e mu-
danças. Elas tendem a repetir-se, su-
bestimam os concorrentes e per-
deram há muito tempo a audácia e
a intuição de seus fundadores. Nas
grandes empresas, principalmente,
esta cultura da mediocridade acaba ¯

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 21


E Schopenhauer tinha razão...

engessando os executivos e resulta Nessas empresas, além do clima de grupos de trabalho matriciais que
em uma enxurrada de pesquisas experimentação e debate, as infor- combinem experiências variadas. A
que servem, acima de tudo, para mações fluem com mais rapidez. médio prazo, no entanto, é preciso
adiar as decisões. Está provado que as empresas mais completar esta prática com um
criativas são também as mais bem sistema de compensação variável
Nas empresas abertas à inovação e informadas. Mas não basta acumu- que nos permita premiar rapidamente
mudanças, pelo contrário, as pessoas lar informações; é preciso também os casos de sucesso. De um modo
são estimuladas a procurar soluções desenvolver métodos práticos de geral, pode-se dizer que a obtenção
novas. Os erros cometidos não são análise e síntese que nos permitam de um fluxo contínuo de boas idéias,
fatais para a carreira de ninguém. interpretar os dados com rapidez. que também poderíamos chamar de
pensamento criativo sistemático,
No Vale do Silício – orgulho da
)cultura inovadora americana – as Quando se deseja ganhar tempo e
estimular o pensamento criativo em
depende fundamentalmente do fator
humano da empresa. Assim, é inútil
empresas chegam a premiar erros e
fracassos, em vez de puni-los. organizações até então fechadas às tentar introduzir essa cultura ino-
mudanças, podem-se obter bons vadora em empresas cuja diretoria
resultados através da formação de não acredita nela.

22 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Francisco Gracioso

MUDANÇAS RADICAIS SÃO SEMPRE DOLOROSAS

Em seu livro O deserto dos tártaros, Dino Buzzati narra a


história de uma fortaleza construída há centenas de anos,
para esperar a invasão dos tártaros. Sucessivas gerações
de militares ocupavam a fortaleza e com ela enve-
lheciam. Quando finalmente os tártaros chegaram, a
primeira medida do Estado-Maior do exército foi mandar
a guarnição da fortaleza para a retaguarda e substituí-la
por soldados mais jovens e aguerridos. Isto é mais ou
menos o que ocorre sempre que é preciso introduzir mu-
danças radicais, em empresas fechadas a elas.

de tecno-economia do produto milhões de dólares, apenas para


5. OS CAMINHOS (como a IBM, por exemplo, o fez lançar um biscoito com um novo
DA INOVAÇÃO E durante muito tempo) preferem formato ou sabor. É por isso que
DAS MUDANÇAS adotar inovações de eficiência/ muitas empresas que trabalham em
custo, especialmente nos processos mercados altamente competitivos
A figura 1 sugere que a escolha en- de produção. inovam através da agregação de
tre os dois tipos básicos de ino- serviços aos produtos que já for-
vações – diferenciação De um modo geral, portanto, pode- necem. Por exemplo, um produtor
qualitativa ou eficiência/ mos inovar através de novos produtos de café em pó pode obter vantagens
custo – depende muito do ou serviços, novas formas de comu- competitivas se oferecer aos seus
tipo de empresa e da nicação/distribuição e novas tecno- clientes institucionais a possibili-
conjuntura de mercado. logias ou sistemas de produção. Essas dade de instalar nos escritórios má-
As empresas que op- inovações, como é natural, são uma quinas automáticas de café. Uma
tam por competir com conseqüência direta do grau de com- empresa de transportes aéreos pode
base em estratégias petitividade do mercado. Quanto oferecer um serviço particular de
de marketing são as mais competitivo é o nosso mercado, táxi até o aeroporto, e assim por
que mais utilizam a mais teremos de inovar e provocar diante. São inúmeros os exemplos
diferenciação qua- mudanças simplesmente para man- de empresas que conseguiram obter
litativa. Elas seg- ter o lugar que já ocupamos. vantagens duradouras, através da
mentam o mercado e desenvolvem adição de serviços relativamente
produtos ou serviços adequados às As inovações naturalmente custam simples. O saudoso Comandante
necessidades desses nichos. Já as caro, principalmente quando se tra- Rolim, fundador da TAM, era um
empresas que preferem competir ta de desenvolver novos produtos mestre nisso. Certa vez, o autor des-
com base em estratégias de auto- ou novos sistemas de produção. Na tas linhas encontrou o Comandante
limitação (oligopólios, cartéis, re- indústria de biscoito, por exemplo, na porta do avião, com a mão esten-
servas de mercado) e aquelas que é necessário às vezes importar dida para cumprimentá-lo e nunca
competem com base em estratégias equipamentos que valem muitos mais se esqueceu disso. ¯

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 23


E Schopenhauer tinha razão...

6. DA INSPIRAÇÃO Tentando resumir os principais cui- Toda mudança envolve ris-


À AÇÃO dados que devemos ter na admi-
nistração de mudanças, propomos 3) cos e a melhor forma de ava-
liá-los é em função de dois
Já dissemos no início do artigo que o seguinte: fatores: os benefícios que poderão
estamos tratando de uma trilogia: advir das mudanças e as chances
criação, inovação e mudanças. De Mudanças na empresa po- que temos a nosso favor. Neste úl-
nada terá valido todo o esforço de
identificação das oportunidades e 1) dem ser radicais ou circuns-
tanciais. Podem também ser
timo caso estamos com Napoleão
Bonaparte, que dizia: “Não entro
desenvolvimento de soluções cria- provocadas por mudanças no em nenhuma batalha em que não
tivas, se não conseguirmos imple- mercado ou por erros ou omissões tenha 80% de chances de vencer”.
mentá-las para fazer as mudanças cometidos no passado. De qualquer
acontecerem. Entramos aqui em forma, uma vez tomada a decisão Toda mudança provoca an-
um novo capítulo que bem podería-
mos chamar de administração das
de promovê-las, é preciso agir com
rapidez e determinação. A pior coisa
4) siedade, insegurança e me-
do. Por isso, só pode ser con-
mudanças. É aqui que a maioria das que pode acontecer é deixar um duzida por uma gerência que inspire
empresas falha. De um modo geral processo de mudanças pela metade. confiança aos seus subordinados.
pode-se afirmar que o sucesso neste
caso depende de um bom plano Por trás de toda mudança es- Por isso mesmo, principal-
estratégico, mas também de uma
estrutura administrativa enxuta e
2) tá uma inovação, seja esta
caracterizada por um novo
5) mente no caso de mudanças
radicais, o mais aconselhá-
tão próxima do mercado o quanto produto, novos métodos de produ- vel é confiar o processo a uma nova
possível. Pressupõe também um es- ção, novas estratégias de comuni- direção. De qualquer forma, é pre-
forço de equipe e um estilo de ge- cação ou novos esquemas de dis- ciso ter em mente que as mudanças
rência dinâmico. tribuição. empresariais não são processos

FIGURA 2 – PROBABILIDADES DE SUCESSO


SEGUNDO A NATUREZA DA EMPRESA E O TIPO DA MUDANÇA
fechada

MUITO BAIXA REGULAR


NATUREZA DA EMPRESA

aberta

REGULAR MUITO ALTA

muito baixa radical circunstancial


TIPO DE MUDANÇA
24 R E V I S TObs.:
A DEscala
A ES deP5Mpontos:
– M A I muito
O / J Ualta,
N H Oalta, 2 0 0baixa
D Eregular, 6 e muito baixa.
Francisco Gracioso

empresas são, por natureza, mais con-


servadoras, justamente porque têm
mais a perder. Quando finalmente se
decidem a introduzir mudanças são
obrigadas a executar processos radi-
cais, com menores chances de êxito.
A Volkswagen, por exemplo, sabia
desde 1996 que estava perdendo
mercado e competitividade, princi-
palmente para os novos produtores que
se instalaram no Brasil. Tentou várias
soluções paliativas e esperou até 2006
para introduzir as mudanças
realmente necessárias. Como
resultado, será obrigada a im-
plementar uma verdadeira heca-
tombe, despedindo cerca de 25% de
seus funcionários.

Outra crença que é preciso combater é


a de que as inovações e mudanças são
mais ou menos necessárias conforme a
natureza e o tipo de mercado. Foi
)Napoleão Bonaparte dizia: “Não entro em nenhuma
batalha em que não tenha 80% de chances de vencer”. acreditando nessas premissas, em
tempos de mercados protegidos, que as
grandes empresas nacionais ter-
indolores e exigem às vezes a revi- CONCLUSÃO minaram todas elas nas mãos de seus
são dos valores organizacionais. concorrentes estrangeiros. Se isto
Nas empresas que estão surgindo, mui- ocorreu antes da globalização dos
Como já dissemos, a intro- tas vezes para explorar as novas idéias negócios, imagine só o que aconteceria

6) dução de mudanças tem


mais chance de êxito quan-
do as empresas são abertas às ino-
do próprio fundador, as inovações e
mudanças ocorrem com naturalidade
e rapidez. Na verdade, elas são uma
hoje. Seja qual for o tamanho ou tipo
de nosso negócio, ele pode tornar-se
obsoleto praticamente de um dia para
vações e mudanças. Além disso, a espécie de segunda natureza da outro, devido às mudanças tecnológicas
administração de mudanças radicais pequena empresa. É por isso, por ou ao ambiente de negócios. E quando
é mais complexa do que a de mu- exemplo, que as pequenas agências menos esperamos, pode surgir, no
danças circunstanciais, seja qual for de propaganda (as chamadas bouti- mercado, um concorrente da China, ou
o tipo de empresa. Regra geral, a in- ques) são, com freqüência, extre- da Bielorussia, oferecendo preços e
trodução de mudanças radicais em mamente criativas. Os problemas condições impossíveis de se igualar.
empresas fechadas às mudanças começam a surgir quando a empresa Hoje, cada vez mais, o preço da nossa
exige a substituição da antiga direção. se torna grande e complexa, quase sobrevivência é a mudança constante.
sempre coincidindo com o declínio da Cabe a nós usar a nossa intuição e ex-
Como uma espécie de guia para estas vitalidade do empreendedor que a fun- periência para decidir de que tipo e
situações, mostramos na figura 2 a dou. Muitas vezes, a direção é então profundidade elas serão. ESPM
gradação das dificuldades que serão confiada a executivos profissionais que
encontradas, conforme a natureza da não se sentem seguros e hesitam em FRANCISCO GRACIOSO
Presidente da ESPM
empresa e o tipo de mudança. correr riscos elevados. As grandes

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 25


Um papo sério sobre Criatividade

CRIATIVIDADE
UM PAPO SÉRIO SOBRE

26 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Conrado Schlochauer

surgido e ter sido reconhecida primeiro


no âmbito das artes. Ray (1996: 29)
pondera: “Esperamos que os Picassos
do mundo experimentem rasgos de
criatividade, mas estamos menos
convencidos de que os homens e
mulheres de negócios tenham
qualquer coisa a ver com criatividade”.

De uma maneira geral, no Brasil,


são poucos os estudos e artigos cien-
tíficos sobre o tema. Muito do que
se escreve sobre o assunto está en-
volto em uma abordagem pragmá-
tica, que tem como objetivo a aná-
lise de ferramentas de criatividade
ou da implementação de estraté-
gias de inovação.

Esta edição da Revista da ESPM traz


uma excelente oportunidade para,
neste artigo, discutirmos alguns
conceitos básicos do assunto.
Baseado em meus estudos no mes-
trado na área, construí este texto
com a expectativa de contribuir para
uma abordagem nova do assunto e
para incentivar a pesquisa e o ensino
da criatividade. E, como conse-
qüência, propiciar que cada vez
mais pessoas possam aumentar a
utilização eficiente e plena de seus
potenciais criativos.

CRIATIVIDADE
OU INOVAÇÃO?
Este artigo abordará o tema cria-
tividade. Mas o que isso tem a ver
com inovação?
Esperamos que os Picassos do A criatividade ainda é pouco com-
mundo experimentem rasgos de
criatividade, mas estamos preendida pela maioria dos profis- Ao longo de quase uma década, atuo
menos convencidos de que os sionais. O termo aplica-se mais como professor/instrutor de mais de
homens e mulheres de negócios facilmente à arte do que aos negó- uma centena de workshops, semi-
tenham qualquer coisa a ver cios, o que provavelmente ocorre nários e aulas sobre criatividade e
com criatividade.
pelo fato de a atividade criativa ter inovação. Em praticamente todos

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 27


Um papo sério sobre Criatividade

esses encontros, pergunto para os É fundamental que se entenda, Em entrevista ao jornal The Business
participantes qual a diferença entre adequadamente, não só cada um Time1, Arnold Wasserman, presi-
criatividade e inovação e conto nas deles, mas, principalmente, a dente da Idea Factory, uma das maio-
mãos as vezes que recebi uma resposta forma como se correlacionam. res empresas de consultoria do
que está de acordo com as definições Amabile (1996b:1) procura mundo na área de criatividade e
corretas, demonstrando as relações de defini-los de maneira clara. Ela inovação, adverte que:
causa e efeito dos dois assuntos... afirma:
“as pessoas normalmente utilizam
os termos inovação e criatividade
como se fossem a mesma pala-
“Criatividade é a produção de
vra (...) é muito clara a ligação
idéias novas e úteis em qualquer
e a distinção entre os termos.
área de atuação (...) Inovação é a
Criatividade é o processo de
implementação de uma idéia
geração das grandes idéias (...)
dentro de uma organização com
Inovação, contudo, é ‘criati-
sucesso. Dessa forma, criatividade
vidade implementada’, é pegar as
individual e do grupo são pontos de
idéias criativas que podem ser
partida para a inovação; são
implementadas e trazê-las para
condições necessárias, mas não
o mercado.”
suficientes.

A inovação de sucesso depende No ambiente empresarial, o pro-


também de outros fatores e pode duto final de que se necessita é
se originar de idéias criativas a inovação , que poderá ser al-
geradas fora da organização cançada com a utilização da ca-
(como tecnologia, por exemplo).” pacidade criativa de seus funcio-
nários e seus colaboradores. De
acordo com White (2002), quando
o objetivo da empresa é inovação,
o recurso mais precioso é mesmo a
criatividade.

De qualquer maneira, a capa-


cidade de ser criativo e inovar
pode ser considerada, no valor da
a ç ã o d a e m p r e s a ( J o na s h &
Sommerlatte, 1999). Mais do que
superexecutivos e a capacidade
de empreender fusões e aqui-
sições, os investidores reconhe-
cem e recompensam a capa-
cidade inovadora da empresa,
pagando ágio pela capacidade
de inovar e ser criativo, o cha-
mado inovation premium . Ana-
listas que atuam no mercado de
ações de Wall Street têm um

28 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Conrado Schlochauer

comportamento bastante obje-


tivo no que diz respeito à avali-
ação da capacidade inovadora
da empresa. Uma pesquisa
realizada pela empresa de
consultoria Arthur D. Little
(Jonash & Sommerlatte, p. xii),
revelou que:

95% DOS ANALISTAS DIZEM QUE


PAGAM MAIS POR AÇÕES DE
EMPRESAS MAIS INOVADORAS E
CRIATIVAS;

MAIS DE 90% DISSERAM QUE A


IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO TEM
CRESCIDO SOBREMANEIRA NOS
ÚLTIMOS 10 ANOS;

MAIS DE 70% CONSIDERARAM A


CAPACIDADE DE INOVAR COMO O
PRINCIPAL INDICADOR PARA O
ESTABELECIMENTO DO VALOR DA
EMPRESA.
Galton desenvolveu, em
1879, o primeiro labora-
tório capaz de estudar as
diferenças individuais no
A PESQUISA DA funcionamento sensorial.
CRIATIVIDADE Em 1883, o cientista
concluiu que produtos
criativos advinham
Antes de 1950, a criatividade foi principalmente de
muito pouco pesquisada acade- habilidades gerais,
micamente. Entre os cientistas fundamentais para a
personalidade do gênio.
sociais que se preocuparam com o
tema, Becker (1999), analisou os
principais estudos realizados ao
longo do século XIX e constatou que
os cientistas discutiam, basicamen- individuais no funcionamento poder de criar que possui o homem.
te, as mesmas questões de hoje. sensorial. Em 1883, o cientista Na segunda metade desse século,
Vale ressaltar o trabalho de Galton concluiu que produtos criativos um grupo de psicólogos e admi-
(1869 apud Albert & Runco, 1999), advinham, principalmente, de nistradores começou a discutir
iniciado, principalmente, após seu habilidades gerais, fundamentais formas de se estudar e compreender
contato com Darwin e seus estudos. para a personalidade do gênio. a criatividade, considerando desde
Pesquisando as diferenças indivi- sua influência no homem até as
duais e a eugenia, Galton desenvol- De forma geral, contudo, até o formas de incentivar e desenvolver
veu, em 1879, o primeiro labora- início do século XX, pouco foi dis- potenciais criativos no indivíduo,
tório capaz de estudar as diferenças cutido, academicamente, sobre o nas organizações e mesmo em

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 29


Um papo sério sobre Criatividade

nações. Guilford (1970), fez um BUSCANDO produto final, no Oriente é vista como
estudo específico acerca da DEFINIÇÕES forma de expressar uma verdade
produção científica sobre interior de maneira a auxiliar o auto-
criatividade na Psicologia. Os Muito antes de se iniciar o estudo conhecimento e o crescimento
resultados revelaram que, a científico da criatividade, os pes- espiritual (Boorstin, 1992).
partir de 1950, o número de quisadores já buscavam sua definição.
trabalhos sobre criatividade Platão considerava a atividade É fundamental, contudo, que, para
cresceu significativamente. criativa como um dom de inspiração a matéria ser tratada com o devido
divina, não sujeita à análise racional. rigor científico, existam definições
Diversos cientistas acreditaram Aristóteles, por sua vez, propunha uma
na correlação entre criatividade definição mais prática, voltada para
e i n t e l i g ê n c i a . Po r i s s o , o s o “fazer”. Durante séculos, as
estudos iniciais sobre aquela definições oscilaram entre esses dois
confundiram-se com muitos dos extremos. A própria definição de Após décadas de estudo da teoria
aspectos do estudo da inteli- de Guilford, diversos psicólogos
criatividade no Ocidente é diferente comprovaram a premissa de que,
gência. Guilford foi um dos au- da que há no Oriente. Enquanto, no efetivamente, criatividade não é o
tores que, ao assumir que ambas primeiro caso, ela é orientada ao mesmo que inteligência (Gardner,
não eram, necessariamente, cor- 1993: 20).
relacionadas, auxiliou o início
de uma abordagem científica,
especificamente, no que diz
respeito aos testes de avaliação
da capacidade criativa. Após
décadas de estudo de sua teoria,
diversos psicólogos compro -
varam a premissa de que, efe-
tivamente, criatividade não é o
mesmo que inteligência (Gar-
dner, 1993: 20).

Desde a metade do século pas-


sado estudiosos passaram a se
dedicar ao assunto, realmente,
com profundidade e determi-
nação. Um marco que denota
isso foi o lançamento, em 1942,
do livro How to think up de Alex
Osborn (1942), que passou a ser
considerado um livro-texto para
as escolas norte-americanas.
Sócio da BBDO, ele percebeu
que parte da forma como sua
equipe criava – por meio de
brainstorm – poderia ser
aplicada em outras áreas e
empresas.

30 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Conrado Schlochauer

apenas em determinada área. A


interação entre o indivíduo, o seu
domínio e sua área de atuação é
considerada a base fundante para
a compreensão e mesmo para a
definição do indivíduo criativo,
como é possível perceber nas
palavras do autor, para quem
criativa é “ a pessoa que regular-
mente resolve problemas, cria
produtos ou define novas questões
em uma área de atuação de uma
forma considerada, inicialmente,
Aristóteles, por sua vez, inédita e, finalmente, aceita em um
Platão considerava a
atividade criativa como um propunha uma definição determinado ambiente cultural ”
dom de inspiração divina, mais prática, voltada (Gardner, 1993: 35).
não sujeita à análise para o “fazer”.
racional. Vale destacar alguns aspectos dessa
definição. Em primeiro lugar, o fato

precisas e específicas. Tendo em indefinidamente, propõe a análise


vista não só o enorme crescimento do indivíduo criativo em seu campo Analistas que atuam no
do interesse pelo assunto nos úl- de atuação. Isso significa dizer que mercado de ações de Wall
timos 50 anos (Amabile, 1996a), mas não se pode considerar, de maneira Street têm um comportamento
bastante objetivo no que diz
também o seu aspecto multi- bouleana, a pessoa como criativa respeito à avaliação da capa-
disciplinar (Sternberg, 1999), hoje já ou não: na verdade, ela é criativa cidade inovadora da empresa.
encontramos definições que en-
focam, cada uma, aspectos especí-
ficos da atividade criativa. Assim,
ainda não se estabeleceu uma
definição que seja aceita por todas
as áreas de pesquisa, até porque se
considera que se trata de uma área
muito recente. Amabile afirma
(1996a:19): “Apesar de não ser ver-
dadeiro falarmos que sabemos pouco
sobre a criatividade (...) ainda é
correto afirmarmos que nós não
sabemos o suficiente para especificar
uma definição precisa e universal-
mente aplicável do termo”.

Gardner (1993), partindo do prin-


cípio de que a criatividade ocorre
em uma dada área de atuação
específica, e não em todas elas

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 31


Um papo sério sobre Criatividade

de o indivíduo, para ser considerado Para o autor, portanto, a pergunta teração com pessoas e grupos, que
criativo, ter de exercer regularmente que deve ser feita não é apenas: o sejam aceitos e indicados pela
essa capacidade. Em segundo lugar, que é a criatividade?, mas sim onde sociedade/cultura em determinado
como a criatividade é exercida em está a criatividade?, buscando-se momento/local como aptos a
uma área de atuação específica e encontrar o comportamento criativo decidir o que é criativo ou não (os
não em todas elas, desmistifica-se não apenas na habilidade do in- “julgadores”), e com a cultura da
que a criatividade seja o mesmo que divíduo, como também na sua in- própria área de atuação.
genialidade e que haja uma
capacidade mental utópica que Pode-se dizer que, no ambiente
dominaria todas as habilidades nas empresarial, os verdadeiros “julga-
mais diversas áreas, seja ela Uma das grandes dores” seriam os clientes, que respon-
pesquisadoras da
artística, de negócios ou de racio- atualidade é a professora derão a determinada atitude criativa
cínio matemático. Finalmente, da Harvard Business School, tomada pelos executivos de uma
destaca-se a necessidade de a idéia Teresa M. Amabile, Ph.D. empresa comprando ou não deter-
criativa ser julgada e aceita dentro Suas pesquisas analisam minado produto. Essa visão, contudo,
diversas variáveis que
de determinado ambiente cultural. impactam o comportamento pode ser considerada míope dentro
criativo eficiente em da atual complexidade das empresas
centenas de profissionais e dos mercados.
em empresas.

UMA
FOTOGRAFIA DAS
DESCOBERTAS
ATUAIS: AS
PREMISSAS DE
AMABILE

Atualmente, diversos pesquisadores


têm procurado identificar as carac-
terísticas dos ambientes e os com-
portamentos que incentivem a
utilização plena do potencial cria-
tivo de cada um.

Uma das grandes pesquisadoras da


atualidade é a professora da Har-
vard Business School, Teresa M.
Amabile, Ph.D. Suas pesquisas
analisam diversas variáveis que im-
pactam o comportamento criativo
eficiente em centenas de profis-
sionais em empresas. A autora,
baseada em observações que de-
nomina de informais, considera
uma série de premissas e crenças
que guiam suas pesquisas.

32 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Conrado Schlochauer

Na verdade, essas informações em todas as áreas de atuação; sos, mesmo sendo a inexistência
apresentam, de uma maneira bas- desses limites um componente que
tante precisa, fatos e conceitos que o fenômeno da “incubação” gere altos níveis de criatividade.
podem ser considerados um resumo
das descobertas mais recentes sobre
o assunto. São eles:
8) – no qual o indivíduo tem
uma idéia em um repente,
durante um momento de descanso EM BUSCA DA
e após um período de intenso CRIATIVIDADE
existe um continuum, que trabalho – é descrito por um grande NA EMPRESA
1) vai desde os níveis mais bai-
xos até os feitos historica-
mente significantes nas ciências,
número de indivíduos excepcio-
nalmente criativos; Com todas essas informações apre-
sentadas, pretendi esclarecer que
literatura ou artes. Isso implica dizer a diversão intelectual e a a criatividade é uma arma funda-
que qualquer ser humano com
habilidades cognitivas normais
pode ser criativo em determinado
9) inexistência de limites ex-
ternos são importantes com-
ponentes para altos níveis de
mental para as empresas e que
deve e pode ser utilizada em todas
as áreas. O seu uso generalizado
nível em um assunto específico; criatividade; permite a descoberta de oportuni-
dades no mercado, aumento de
dentro dos feitos de qualquer há indivíduos que produzem produtividade e, principalmente,

2) pessoa, há níveis de criativi-


dade diversos; 10) trabalhos criativos sob limi-
tes externos claros e inten-
impulsiona a empresa rumo à
inovação efetiva.

para níveis extremamente

3) altos de criatividade, deve


haver um “casamento” entre
indivíduo e assunto ou área de
atuação;
Teresa M. Amabile, baseada em
observações que denomina de informais,
a idade do nível mais alto considera uma série de premissas e

4) de criatividade varia de a-
cordo com as áreas de
atuação;
crenças que guiam suas pesquisas.

apesar de o potencial cria-

5) tivo ser diferente entre os


indivíduos, parece ser pos-
sível aumentar a criatividade;

talento, educação e habili-

6) dades cognitivas parecem


não ser, isoladamente, sufi-
cientes para altos níveis de
criatividade;

por maior que seja o poten-

7) cial de um indivíduo, nin-


guém é criativo o tempo todo

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 33


Um papo sério sobre Criatividade

BIBLIOGRAFIA
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GARDNER, Howard. Creating minds. Nova
GARDNER
do potencial criativo de funcionários das em-
Iorque, ed. BasicBooks, 1993.
presas devem continuar a ser incentivados
por meio da desmistificação do tema, do GUILFORD
GUILFORD, J. P. Creativity in Retrospect.
reconhecimento de que a inovação é o Journal of Creative Behavior. 4 (3),
resultado de uma atitude criativa e, Massachussets, 1970.

principalmente, ao se trazer o assunto de JONASH


JONASH, Ronald S. & SOMMERLA TTE
SOMMERLATTE
TTE,
maneira consistente, séria e intensa nos Tom. The Innovation Premium.
programas de treinamento e desenvolvimento Massachusetts, ed. Perseus Books, 1999.
corporativos. ESPM OSBORN, Alex. How to think up . Nova
OSBORN
Iorque, McGraw Hill, 1942.

PINKER, Steven. Como a mente funciona.


PINKER
CONRADO SCHLOCHAUER São Paulo, ed. Companhia das Letras,
Graduado pela FGV/SP, mestre pela PUC/ 1998.
SP com o tema “Criatividade e seu
RA
RAYY , Michael, MYERS, Rochelle.
impacto em instituições bancárias”,
Pinker (1998: 381), Criatividade nos negócios. Rio de Janeiro,
professor de criatividade e sócio do
psiquiatra e estudioso ed. Record, 1996.
Laboratório de Negócios SSJ.
do funcionamento da STERNBERG
STERNBERG, Robert J. & LUBART, Todd I.
mente, minimiza o
The concept of Creativity: Prospects &
problema de se
encontrar indivíduos Paradigms, in STERNBERG, Robert J.
NOTAS Handbook of Creativity. Nova Iorque, ed.
criativos em número
suficiente, apostando 1
Cambridge University Press, 1999, p. 3-15.
na idéia, de que todos The Business Time Online Edition – Knowledge Economy.
WHITE, Shira P. New Ideas about New
WHITE
somos criativos.
Ideas. Cambridge, Perseus Publishing,
2002.

34 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Inovação, crescimento e sustentabilidade

INOVAÇÃO,
CRESCIMENTO E

SUSTENTABIL
Se houvesse um “Top of Mind” para RADAR DE INOVAÇÃO
produtos inovadores, o Post-It en-
cabeçaria a lista até um tempo atrás.
Uma análise futura sobre esta primeira
década do século talvez aponte para
O quê
um novo ícone de inovação, também
(oferta) PLATAFORMA
colado à cabeça das pessoas: o iPod. MARCA

Não importa o ângulo analisado, o


modelo ou teoria de inovação em-
pregados, todos explicam de alguma REDE SOLUÇÃO
maneira o sucesso do Ipod como
produto inovador. O êxito comercial
do produto fala por si só: são mais de
40 milhões de unidades vendidas e Onde Quem
um aumento de receita de 65% para (processo) (cliente)
a Apple apenas em 2006.

Um modelo de análise abrangente, CADEIA DE EXPERIÊNCIA


como o radar de inovação de Sawh- SUPRIMENTOS DO CLIENTE
ney e Wolcott propõe que as empresas
mais bem-sucedidas em termos de
inovação não são aquelas que se CAPTURA
destacam por criar produtos inéditos, ORGANIZAÇÃO
Como DE VALOR
mas sim por inovar simultaneamente (processo)
em diversas dimensões (figura 1). Figura 1

36 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Sandro Marques e Marcelo Torres

IDADE
A marca Apple, por si só, já possui Apple. Deslum-
um forte elo com inovação; o iPod brado com o iPod,
não é apenas um produto inovador, gastou mais de
mas está apoiado numa plataforma US$ 10.000 em
que permite o lançamento de novos equipamentos
produtos agregados; atende a da Apple. E conti-
necessidade do cliente oferecendo nuou deslumbrado,
uma solução completa que inclui até que seu iPod que-
não só o aparelho, como também a brou, e ele descobriu
loja de música online; já a loja, por que o aparelho de U$
sua vez, é tanto um exemplo de 300 podia ser conser-
aproveitamento das capacidades de tado – pelo custo de
rede, como uma forma diferente de US$ 250, mais impostos.
captura de valor. Nocera descobriu, então,
milhares de mensagens
No entanto, o sucesso que pode ser em fóruns online, postadas
explicado, tanto pelo radar como por consumidores descon-
por outros modelos de inovação, tentes tanto com a fra-
possui um ponto fraco. Tão fraco, gilidade do produto como
de fato, que leva o produto a se com as políticas de manu-
quebrar em dois ou três anos. Num tenção da Apple, que pode-
artigo do New York Times repro- ria induzir à compra de novos
duzido no caderno Link do Estadão iPods. ) Não importa o ângulo analisado, o
modelo ou teoria de inovação em-
em 20 de fevereiro de 2006, o jor- pregados, todos explicam de alguma
nalista Joe Nocera relata a sua ex- Não é a obsolescência do maneira o sucesso do iPod como
periência como consumidor da produto nem o tratamento dis- ¯ produto inovador.

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 37


Inovação, crescimento e sustentabilidade

nufaturado – um total de 630 vezes


da massa do produto final. Além
desta necessidade intensiva de re-
cursos para sua produção, aparelhos
eletrônicos possuem uma vida no-
toriamente curta. Ou seja, cada
grama de material que entra na pro-
dução e consumo de um com-
putador termina rapidamente como
uma emissão ou um lixo sólido.
Além disso, graças a ciclos de ino-
vação, cada vez mais curtos, mui-
tos dispositivos são descartados
após poucos meses ou anos.

)Graças a ciclos de
inovação cada vez
Ciclos mais rápidos de inovação que
levem a um maior crescimento são a
mais curtos, muitos
principal justificativa para estratégias
dispositivos são
descartados após baseadas em inovação, se levarmos
poucos meses ou em conta a literatura existente sobre
anos. o assunto. De Porter a Mintzberg, pas-
sando por Hax e Treacy e Wieserma,
existe um pensamento unânime em
pensado aos consumidores que afirmar que:
interessa aqui. A questão a ser dis-
cutida é: onde são descartados os Y estratégia serve para a empresa
milhares de Ipods quebrados? Se competir por maiores resultados;
20% dos 40 milhões de Ipods ven-
Y na competição as empresas
didos não foram consertados, há
precisam de uma diferenciação;
pelo menos 8 milhões de aparelhos
e suas respectivas baterias, sim- Y estabelecer e manter uma
plesmente, descartados no meio- diferenciação são requisitos para a
ambiente. Aliás, o design do pro- empresa gerar riqueza
duto impede que a bateria seja tro- Y e garantir a perpetuidade dos
cada de forma simples, mesmo se seus negócios.
o aparelho não estiver quebrado.

A Apple e o iPod não são o único Quando Mintzberg elabora um


exemplo desta questão. A tendên- comparativo entre diferentes mo-
cia chamada de computação perva- delos de estratégia, destaca que em
siva – produtos eletrônicos de com- todos eles a estratégia serve para
putadores a geladeiras que possuam
pelo menos um chip – promete o )Um microchip de memória
RAM de 32 MB precisa de
“dar o rumo, concentrar esforços,
definir a organização e ser a fonte
surgimento de trilhões de dispo- 1,7 kg de materiais para de coerência interna”, com o obje-
ser manufaturado – um
sitivos inteligentes. Um microchip total de 630 vezes da tivo de criar uma posição diferen-
de memória RAM de 32 MB precisa massa do produto final. ciada de valor para a empresa em
de 1,7 kg de materiais para ser ma- um ambiente de forte competição,

38 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Sandro Marques e Marcelo Torres

Tucker afirma que, entre duas em-


presas com patamares semelhantes
de receita e crescimento, aquela
que investir sistematicamente em
inovação tenderá a ultrapassar o
crescimento da outra. Segundo ele,
cada crescimento percentual de
10% no portfólio de novos produtos
equivalem a 2,5% no crescimento
da receita de uma empresa. O
modelo prático que Tucker propõe
para inovação engloba cinco passos
– em que o mais importante é defi-
nir as metas de crescimento. De
acordo com ele, para ser conside-
rada uma inovação estratégica,
uma iniciativa que transforme o
negócio de uma empresa deve, em
primeiro lugar, entregar um lucro
consistente.

Gary Hamel, outro especialista em


inovação, também abre seu artigo
numa edição recente da Harvard
Business Review afirmando: “Cres-
cimento – crescimento real – de-
pende de inovação… Estude uma

)Aindicador-chave
proporção de novos serviços e produtos é um
de sucesso corporativo tanto
empresa que entregou crescimento
consistente de receita por uma
em termos de melhora das receitas como em
década ou mais, e provavelmente
termos de retorno para o acionista.
você encontrará evidência de ino-
vação de primeira linha. Simpli-
ficando, inovação é o combustível
atrair mais clientes, gerar mais inovação é igual a crescimento”. para o crescimento.”
vendas, distanciar-se dos concor-
rentes, ser mais atrativo para os in- Em Driving growth through in- Maior receita, maior lucro e cres-
vestidores e manter esta vantagem novation, obra em que o título fala cimento acelerado são, de fato, as
competitiva por longos períodos. por si, Tucker justifica inovação ambições que movem uma orga-
como o meio para a busca de recei- nização. A pergunta é: crescimento
Os modelos de inovação também ta de primeira linha e cita um estu- a que custo? Os modelos de estratégia
se justificam unicamente pelo cres- do da PriceWaterhouse&Coopers: e inovação são omissos neste ponto.
cimento. Um estudo recente da Ac- “a proporção de novos serviços e Provavelmente, porque se enquadram
centure abre com o seguinte pa- produtos é um indicador-chave de numa perspectiva geral vigente do
rágrafo: “Apple Computer, Google, sucesso corporativo tanto em sistema econômico, em que o capital
Samsung, Virgin Group, Nokia, termos de melhora das receitas se define como a riqueza acumulada
Procter&Gamble. Para estes líderes, como em termos de retorno para o na forma de investimentos, fábricas,
a equação vencedora é inatacável: acionista”. equipamentos e conhecimento.¯

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 39


Inovação, crescimento e sustentabilidade

Dentro desta perspectiva, uma em- As últimas décadas, no entanto, vi- A visão convencional de criação de
presa que produz máquinas não po- ram a emergência de uma nova valor foi acompanhada de um corpo
de se preocupar com os veículos ou visão sobre valor, não limitada a de teorias econômicas baseadas na
estradas que transportarão suas má- investimentos, fábricas, equi- falácia de que o capital natural e o
quinas; isso é ou deveria ser pamentos e conhecimento. Haw- capital humano têm pouco valor em
responsabilidade de alguém. Outra ken defende que uma economia relação ao produto final. Estas teorias
que produza calçados não vai se de- requer quatro tipos de capital: baseiam-se na idéia de que a
dicar a encontrar soluções para os economia é neutra para o meio-
Y capital humano
sapatos que as pessoas deixam de ambiente e que os avanços da
usar; isso passa a ser responsabilidade Y capital financeiro tecnologia darão conta de
de outro agente. As externalidades equacionar a escassez de matérias-
são tratadas como questões para Y capital manufaturado primas. Como premissa, a idéia de
outros resolverem, afinal a empresa Y capital natural, constituído de que os sistemas vivos são gratuitos,
precisa estar focada naquilo que é a recursos, sistemas vivos e os infinitos e em perpétua renovação.
sua competência central. serviços do ecossistema.
A degradação dos sistemas naturais e
as condições socioeconomicas da
população mundial, mostram, no
entanto, que a situação não é bem
essa. Dados sobre desmatamento na
Amazônia, desaparecimento de es-
pécies e poluição em níveis alar-
mantes são encontrados, diariamente,
tanto em publicações especializadas
como em jornais e revistas de massa.

Não há um estudo científico sério


sequer que negue a degradação
irreversível que os sistemas naturais
estão sofrendo em função da ati-
vidade econômica.

)Uma lata de Coca-Cola, por exemplo,


desperdiça 88% do alumínio neces-
sário para sua produção, se com-
putadas as perdas de produção e as
latas não recicladas.

A empresa reduziu pela metade o


consumo necessário de água para a
produção de um litro do refrigerante
nos últimos dez anos. Mesmo assim
ainda são necessários 2,34 l de água
para produzir apenas um litro de Co-
ca-Cola. Já mencionamos anterior-
mente que um chip de computador
precisa de 1,7 kg de resíduos sólidos
para a sua produção.

40 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Sandro Marques e Marcelo Torres

Esses números, que são, normal- necessária para sustentar uma este nível de consumo. Esta rea-
mente, invisíveis, no ato despren- determinada atividade ou um pro- lidade é ilustrada pela metáfora de
dido de matar a sede com um refri- duto.” Significa dizer que, se o funil proposta por Robert:
gerante ou apertar o botão SEND mundo inteiro adotar o mesmo
do celular, podem ser traduzidos padrão de vida americano ou Como garantir, a partir destas con-
pelo conceito de pegada eco- canadense, serão necessários 4,1 dições, o crescimento proposto pe-
lógica: “superfície total de terra outros planetas Terra para sustentar los modelos de estratégia e ino-

TNS RESOURCE FUNNEL


DECLIN
ING LIF
E SUST
AINI NG RES
OU RCES
SUSTAINABLE SUPPLY
The margin
for action SUSTAINABILITY
narrows
URCES SUSTAINABLE DEMAND
AND FOR RESO
TAL DEM
EASING SOCIE
INCR

The present The future

vação? De acordo com Robert, nu-


ma sociedade sustentável, a na-
tureza não deve estar sujeita ao
crescimento sistemático de:

1) concentração de substâncias
extraídas da crosta terrestre;

2) concentração de substâncias
produzidas pela sociedade;

3) degradação por meios físicos;

4) pessoas não devem estar


sujeitas a condições que,
sistematicamente, minem sua
capacidade de atender às suas
necessidades.

É importante ressaltar que tanto


Hawken como Robert destacam a ¯

)Se o mundo inteiro adotar o mesmo padrão de


vida americano ou canadense, serão necessários
4,1 outros planetas Terra para sustentar esse nível
de consumo.

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 41


Inovação, crescimento e sustentabilidade

importância de pessoas, para evitar


a interpretação simplista de que
estamos lidando apenas com ques-
tões ambientais. O pano de fundo
maior é uma visão sistêmica do
planeta, em que tudo liga tudo.

E se estamos falando de visão sis-


têmica, voltemos a considerar a
questão de lucro e crescimento. Lu-
cro e crescimento fazem parte da
ambição de uma organização. O
que está em questão é o custo deste
lucro e a busca de um modelo que
considere não só o lucro, mas tam-
bém as pessoas e o planeta.

Essa visão é a base para um novo tipo


de inovação: a inovação baseada em
sustentabilidade, que visa ao lucro,
mas fundamentalmente se preocupa
)No Brasil, dois dos melhores exemplos, em
indústrias diferentes, são a Natura e o Banco Real.
com o desenvolvimento sustentável.
Parece difícil inserir estas variáveis na
estratégia de crescimento? A
criatividade, combustível essencial da
inovação, costuma florescer tanto
mais quanto maiores forem as
restrições em uma dada situação.
Exemplos de empresas, produtos e serviços aderentes a essa nova visão quando danificado. Por ser dividido
surgem em todo mundo. em quadrados, pode ser reposto
apenas em trechos específicos. De
)Asucedida
Apple foi extremamente bem-
na criação de um produto
Um dos exemplos mais emblemáticos
é a Interface, fabricante de carpetes
onde vem o lucro da empresa? Em
vez de concentrar-se em produtos
que, a rigor, elimina a necessidade
de produção intensiva de CDs, já norte-americana. Determinada a dedica-se a serviços de manutenção
que distribui as canções online. reduzir sua pegada ecológica e a e conservação de piso.
tornar-se totalmente sustentável até
2020, a empresa reinventou todo o No Brasil, dois dos melhores exem-
seu modelo de negócio e isso só foi plos, em indústrias diferentes, são
possível com um grande investimento a Natura e o Banco Real. A Natura
em inovação. Seu carpete, hoje, considera as variáveis sociais e
possui peso de face reduzido, menor ambientais em todo o seu modelo de
altura da face felpuda e densidade negócios: as matérias-primas são
mais alta. É bonito, mais durável e obtidas respeitando-se o equilíbrio da
gasta metade da energia necessária biodiversidade e fomentando o
para a fabricação do modelo anterior. desenvolvimento das comunidades
Além disso, esse novo carpete não rurais. Além disso, promove o
precisa ser trocado completamente empreendedorismo no seu modelo de

42 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Sandro Marques e Marcelo Torres

vendas. Em 2005, a empresa cresceu energia, e como trata seus resíduos.


29%, enquanto o crescimento médio
do setor foi de 16%.
O gerente usa, então, estas infor-
mações para desenvolver soluções
 BIBLIOGRAFIA
que melhorem os resultados e a HAMEL
HAMEL, Gary; GETZ
GETZ, Gary. Funding growth
O Banco Real acaba de ser premiado competitividade do seu cliente. in an age of austerity. Harvard Business
pela International Chamber of Com- Review Onpoint. 2006.
merce em parceria com as Nações A Apple foi extremamente bem-su-
HAWKEN
HAWKEN, Paul; LOVINS, Amory; LOVINS, L.
Unidas por apoiar os Objetivos de cedida na criação de um produto
Hunter. Capitalismo natural: criando a
Desenvolvimento do Milênio, ao que, a rigor, elimina a necessidade
próxima revolução industrial. São Paulo,
promover a integração de susten- de produção intensiva de CDs, já que Editora Cultrix, 1999.
tabilidade nos seus negócios. Entre as distribui as canções online , eli-
HAX
HAX, Arnoldo e WILDE II, Dean L. Modelo
novas práticas adotadas pelo banco, minando a necessidade de suporte
Delta. HSM Management, São Paulo, v.4,
estão o uso em larga escala de papel físico. Do ponto de vista de desen-
n.19, p.88-96, mar./abr./2000.
reciclado, o incentivo ao voluntariado volvimento sustentável, seu produto
e toda uma linha de financiamentos seria perfeito, não fosse a fragilidade MINTZBERG
MINTZBERG, Henry, LAMPBEL
LAMPBEL, Joseph e
socioambientais, bem como uma polí- e a impossibilidade de conserto. Ou AHLSTRAND, Bruce. Todas as partes do
AHLSTRAND
seja, ela eliminou uma externalidade elefante: conheça e combine as dez
tica de risco socioambiental, que
principais linhas de pensamento estratégico
incluem critérios socioambientais na do meio ambiente, mas acabou
para ter sucesso. HSM Management, São
concessão de crédito. O Banco Real criando outra.
Paulo, v.2, n.12, p.100-108, jan./fev. 1999.
ainda foi pioneiro no Brasil no
desenvolvimento de um modelo de O problema só pode ser contornado PORTER
PORTER, Michael, Como as Forças
negócios voltado para a base da com uma nova visão, que já integre Competitivas Moldam a Estratégia, in:
princípios de desenvolvimento sus- Estratégia, a Busca da Vantagem
pirâmide, tornando-se o primeiro
Competitiva / Cynthia A. Montgomery,
banco privado a criar um programa tentável no design de um produto.
Michael E. Porter (Rio de Janeiro, Campus,
de microcrédito antes mesmo que É muito mais fácil desmontar um
1998).
esta atividade fosse incentivada pelo produto para a refabricação ou reu-
governo federal. tilizar suas peças se ele já tiver sido PORTER
PORTER, Michael.Como as forças
projetado com esse fim em mente. competitivas moldam a estratégia. In: -
Competição: on Competition: estratégias
O segredo dessas empresas está em
competitivas essenciais. Rio de Janeiro:
não tratar a questão do desen- Esta nova visão depende de mo-
Campus, 1999.
volvimento sustentável como mais delos mais conscientes para estra-
um ponto de uma lista de tarefas tégia e inovação. Modelos que pro- ROBÈR
ROBÈRTT , Karl-Henrik. The natural step: a
para mitigar riscos e evitar sanções. ponham, em vez de maior receita, história deç uma revolução silenciosa. São
Ambas buscaram integrar os prin- melhor receita. E em vez de cres- Paulo, Editora Cultrix, 2002.

cípios de sustentabilidade em seu cimento acelerado, desenvolvi- SAWHNEY


SAWHNEY
WHNEY, Mohanbir.; WOLCOTT, Robert C.;
negócio do dia-a-dia, transfor- mento sustentável. ESPM ARRONIZ, Inigo. The 12 different ways for
mando limitações em oportuni- companies to innovate. MIT Sloan
dades. Um gerente de relacio- Management Review. Vol 47, No. 3, pp. 75-
namento do Banco Real, por exem- 81, 2006.
plo, ao entrevistar um cliente, vai  SANDRO MARQUES
Mestre em Lingüística Aplicada pela USP
THACKARA
THACKARA, J. In the bubble: designing in a
além das perguntas tradicionais so- complex world. Cambridge, The MIT Press,
bre a saúde financeira da empresa. Professor da ESPM. 2006.
Procura entender como a empresa
se relaciona com funcionários,  MARCELO TORRES
Graduado em Administração de Empresas
TUCKER
TUCKER, Robert. Driving growth through
innovation: how leading firms are
fornecedores, clientes e comuni- transforming their future. San Francisco, BK
MBA em Gestão Estratégica pela Fundação
dade. Verifica como é a utilização Dom Cabral. Publishers, 2002.
dos recursos naturais, inclusive

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 43


Entrevista

O BRASIL NÃO
DEU CERTO ENTREVISTA

O S
Z IR E
SILVA
N
osso entrevistado dessa edição está entre 1991 e 1995, quando conduziu
há muitos anos em evidência, pelas o processo de privatização da
grandes contribuições que deu ao empresa. Foi presidente da Pe-
nosso país. Formado como oficial trobras, ministro de Estado da Infra-
aviador e piloto militar, em 1952, Estrutura e – mais recentemente –
serviu na Amazônia, voando no Cor- presidente da Varig. É atualmente
reio da Fronteira e, mais tarde, no diretor-presidente da OSEC-UNISA
Correio Aéreo Nacional. e presidente da Pele Nova Biotec-
nologia e Participação Ltda. Tem
Foi Professor do ITA na cadeira de tido participação destacada em
Ensaios em Vôo e – em especial – todos os movimentos de inovação
liderou o grupo que criou a Embraer da sociedade brasileira e pela in-
– Empresa Brasileira de Aeronáutica clusão do Brasil entre as grandes
SA, que dirigiu desde sua fundação potências do mundo.
em 1970 até 1986 e, posteriormente, JRWP

44 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Ozires Silva

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 45


Entrevista

HIRAN – Dr. Ozires, o Sr. é um ho- cações ainda não foi completa- atravessassem a rua e comprassem
mem que dispensa apresentações, mente absorvido pela sociedade em um produto brasileiro, mas isso,
mas quero lhe dizer que é uma das geral, em especial nos países sub- infelizmente, não acontece.
pessoas mais jovens que conheço desenvolvidos. Como reflexo desse Quantas vezes, vamos comprar um
porque está sempre voltado para processo, o consumidor caminha ra- item qualquer e o vendedor nos
novas idéias, construir e reconstruir pidamente para a posição de con- pergunta: “O Sr. já viu o último
algo novo. É uma oportunidade ím- sumidor mundial. O nosso concor- lançamento?” Isso é da maior im-
par ouvi-lo aqui na ESPM, sobre o rente hoje não está mais ali na es-
tema criatividade e inovação. quina; ele pode estar na esquina de
Beijing, em Washington, Nova Ior-
JR – Aproveitando a dica do que, enfim, em todos os lados. Ho- “NOSSO CONCORRENTE HOJE
Hiran, o Sr. vê alguma relação je, atravesso a rua da minha casa, PODE ESTAR NA ESQUINA DE
entre a idade das pessoas e e compro algum produto desses BEIJING, OU EM WASHINGTON.”
sua capacidade de inovar? países. Gostaria de que
os seus cidadãos
OZIRES – Boa pergunta.
Creio que o progresso
tecnológico das comuni-

46 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Ozires Silva

portância no processo produtivo


mundial, numa competição global,
que ninguém vai deter. O consu-
midor, hoje, é mundial e quer novi-
dades. Quem estiver no mercado
sem capacidade de tentar antecipar
as necessidades do consumidor de
modo a preenchê-las, está fadado
a desaparecer do mercado. Para
isso, nada tem a ver a idade: uma
companhia como a General Eletric,
está completando 127 anos, absolu-
tamente moderna.

JR – E outra “general” – a General Mo-


tors – perdendo o bonde da história.

OZIRES – Porque não acompa-


nhou as tendências do pensamento
futuro. Para mim foi uma surpresa,
pois não sei como uma montadora
japonesa pode projetar – com todas
as dificuldades que enfrentam – “ERA PRECISO IMAGINAR COMO O
carros melhores do que os nossos. PASSAGEIRO IRIA QUERER VOAR 10 ANOS NA FRENTE.”
JR – O Sr. é uma pessoa que pensou
muitas dessas coisas antes de outras
pessoas – é um precursor. O que fez Se nós, aqui, decidíssemos fabricar o milésimo exemplar deve ser
com que o Sr. tivesse esse tipo de um avião, teríamos de pensar no entregue ao mercado este ano. Em
visão precoce, no Brasil? mundo de 2016. Sempre estimulei transporte aéreo comercial, ele só
meu pessoal – usando os parâmetros perde para o 737 da Boeing. É o
OZIRES – Nasci em Bauru, no in- disponíveis no momento – a exce- segundo avião mais vendido do
terior do estado de SP, e me lembro der as possíveis tendências. Isso a- mundo. O avião pequeno é que
de duas ou três pessoas, desde que conteceu muitas vezes, mas, em responde ao desejo do consumidor
comecei a me entender como 1991, quando a Embraer estava de voar para seu destino, na calma
gente, que eram visionários – cria- numa crise profunda, decidi lutar que quiser, pois avião grande não
ram para mim as condições para pela privatização da companhia, voa para qualquer destino. Esse
que essas visões pudessem se trans- mas sabia que não podia entregar pensamento estratégico criou uma
formar em realidade. Mais tarde, a companhia ao setor privado sem cultura na Embraer.
quando me tornei engenheiro da um produto que pudesse cruzar o
Aeronáutica, percebi, claramente, ano 2000 com sucesso. E, em 1991, HIRAN – Hoje muito se fala da
que tinha de pensar pelo menos 10 criamos um avião que elevou a importância do desenvolvimento
anos à frente, porque era o tempo Embraer. No ano 2000, a Embraer sustentável tanto do ponto de vista
requerido para conceber, projetar, teve sucesso exatamente com ambiental quanto do ponto de vista
desenvolver e fabricar aviões. Era aquele avião a jato de 50 lugares, econômico e social. Que rumo
preciso imaginar como o passageiro o RJ 145, conhecido no Brasil como deveria tomar o Brasil, num con-
iria querer voar 10 anos na frente. Jetclass. E digo, com orgulho, que texto como esse? ¯

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 47


Entrevista

e seu posicionamento no contexto


das nações. Precisa, apenas, criar
um projeto de nação – o que não
temos, há muito tempo. Vejo espe-
cialistas falando sobre energia, sem
dúvida o tópico mais importante
para o futuro da humanidade. Eu
não acredito que o petróleo vá aca-
bar; pelo contrário, acho que ainda
há, no mundo inteiro, grandes reser-
vas. Haverá custo para trazer esse
petróleo para o uso. O petróleo é
uma matéria-prima fantástica e os
jovens, no futuro, não vão nos per-
doar por queimá-lo, como fazemos.
Mas os países terão de se juntar; os
esquemas econômicos podem sofrer
grandes variações; imagino até ter
uma moeda comum mundial. Essas
coisas têm possibilidade de aconte-
cer, mas tudo tem de ser planejado,
para que possamos encontrar con-
dições de vida que nos permitam a
não dilapidação do planeta, e que
possamos levar a humanidade para
o ano 3000, 4000.

JR – Ouvi o Sr. dizer, numa palestra


recente, que “o Brasil não deu cer-
to”. O Sr. acha mesmo isso?

OZIRES – Acho. Se olharmos as


condições físicas, demográficas,
etc., do Brasil, estou absolutamente
“DIGO QUE O BRASIL NÃO DEU CERTO, PORQUE NÃO ESTÁ
convencido de que vivemos num
RESPONDENDO ÀS EXPECTATIVAS DOS BRASILEIROS.” país fundamentalmente viável, do
ponto de vista de desenvolvimento,
de oferecer melhor qualidade de
OZIRES – Uma resposta à sua ela tem, como fundamento, a bio- vida para cada habitante. Ele é to-
pergunta daria um simpósio. Do diversidade; se o bicho-homem talmente viável dentro desse en-
ponto de vista macro, o seu diag- começa a proliferar demasia- foque. De forma mais ou menos –
nóstico está correto, ao dizer que o damente, ela irá tomar as pro- digamos – ingênua, sabemos que
mundo tem de encontrar um novo vidências. Mas, para não alongar um país é desenvolvido e outro
caminho. Não é possível continuar- a resposta, vou focar no Brasil. O não. Por exemplo, no transporte aé-
mos a viver, com a humanidade Brasil, hoje, tem grandes vantagens reo, a população dos Estados
crescendo como está; a natureza comparativas e competitivas para Unidos voa três vezes mais do que
vai criar problemas sérios porque mudar as condições de vida do país no Brasil...

48 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Ozires Silva

JR – Alguém disse que não há paí- tem coisas de deixar-nos de cabelo próximos 20 anos, a América Latina
ses desenvolvidos e atrasados; há em pé. Ele relata que, na área de não deve tomar o nosso tempo”.
países que planejam e os que não defesa dos EUA, eles dizem pura e
planejam. simplesmente: “Se tudo continuar JR – E como podemos fazer um pla-
como está, em 2020 o mundo será no nacional em cima desse tipo de
OZIRES – Concordo. Estive com Ja- mais asiático do que americano”. E realidade?
mes Hunter recentemente, quando “a síndrome de que o mundo está
fomos co-palestrantes num evento empobrecendo é mentira; quem está OZIRES – Recentemente, partici-
no Paraná, e ele disse algo que me empobrecendo é a América Latina, pei de um seminário da HSM e,
fez refletir: “a diferença signifi- que está sendo africanizada pelas quando conversava com o Michael
cativa de um país desenvolvido forças das lideranças que temos Porter, ele me perguntou: “Vocês
para um que não é, é que no país aqui. Em conseqüência disso, nos não têm um projeto de nação?” ¯
desenvolvido a legislação é fle-
xível e de cumprimento rígido; no
país em desenvolvimento, a
legislação é rígida, com cum- “O BRASIL APARECE NO MERCADO INTERNACIONAL
primento flexível”. Então, temos COMO UMA NOTORIEDADE E NÃO UMA MARCA.”
diferenças que podem ser modi-
ficadas. No caso da Embraer, cu-
nhei uma cultura de trabalho, den-
tro da companhia, que a está le-
vando ao sucesso – o que mostra
que, se uma cultura dessa natureza
for colocada em termos de país,
poderemos ter uma grande modifi-
cação. Eu digo que o Brasil não deu
certo porque ele não está respon-
dendo, hoje, às expectativas dos
brasileiros. Dando um exemplo dra-
mático, se eu tivesse nascido fora
do Brasil, eu poderia chegar aqui,
olhar no seu olho e dizer: você não
tem vergonha de fazer um povo tão
pobre como tem feito?

JR – Será que o mundo não está di-


zendo isso, de certa maneira?

OZIRES – Pior do que isso: o mun-


do não está nem levando isso em
consideração; acha que o Brasil é
negligenciável. Li, recentemente,
um livro extraordinário – Cuentos
Chinos – do Andrés Oppenheimer,
um argentino radicado nos Estados
Unidos, que trabalha na CNN e mo-
ra nos Estados Unidos. O livro dele

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 49


Entrevista

Respondi que não. E ele: “Não que- se novo milênio, é vital. Acom- güínea, cria possibilidade de rege-
rem fazer um?” Respondi: “não te- panho minha mulher ao supermer- neração textual e celular a um pre-
nho poder político para isso”. E ele cado e, naquela prateleira imensa, ço imbatível. Realmente sensacio-
brincou: “Mas o Sr. tem autoridade ela pega um produto e pergunto: nal. Mas não colocaria, nesse pro-
para propor”. Se tiver, eu ofereço por que esse? Ela responde: “Porque duto, made in Brazil, porque pas-
toda a minha equipe para fazer o é de tal marca”. Insisto: e por que saria a ser considerado um produto
plano de nação para o Brasil, de essa marca? E ela: “Porque faz bons exótico para um segmento da
graça. Acho que não precisamos do produtos”. sociedade americana. E o que eu
Michael Porter para fazer esse pla- quero é um produto generalizado,
no; podemos fazer aqui. Lembro- JR – O Sr. incluiria a “marca Brasil” nos Estados Unidos, que possa ser
me de que, quando comecei a fa- nisso? comprado pelas pessoas que,
zer meu avião, percebi que estava efetivamente, precisam do produto.
cercado de Silvas; e o Silva enlata OZIRES – Não. Na Embraer, decidimos que nossos
sardinha, empacota bacalhau, mas aviões não teriam características
não faz avião. Pensei: precisamos de JR – Quando há uma Copa do Mun- brasileiras. Nossos aviões têm catá-
uma griffe. Arranjamos, então, um do, por exemplo, como agora, o Sr. logos, painéis em inglês, porque é
francês chamado Max Holste que não tem a sensação de que temos uma a língua consagrada na aviação
veio para a Embraer, e era a griffe de marca boa internacionalmente? internacional. Acho que precisamos
que eu precisava. ter esse tipo de percepção. O fute-
OZIRES – De certa forma. O Brasil bol é ótimo, porque as pessoas pre-
JR – O Sr. está sendo modesto, por- aparece no mercado internacional cisam de auto-estima. Mas não
que é um Silva-com-griffe. com características pontuais – com lamentaria que o Brasil perdesse
uma notoriedade e não uma marca. essa auto-estima, em particular,
OZIRES – Eu aceitaria, talvez, mo- Mas da mesma maneira, por exem- para obter uma diversificação maior.
destamente, agora. Mas, no pas- plo, a atuação do PCC foi noticiada
sado, um Silva era um Silva qual- no mundo todo, também, porque o JR – Isso nos leva a uma questão deli-
quer. Mas, enfim, precisávamos da Brasil tem essa tradição, na cabeça cada, que é a mudança de com-
griffe e conseguimos. Trouxemos das pessoas, de um país inseguro portamento, atitude. Como o Sr. vis-
esse projetista da França, e nosso de terceiro mundo. Não colocaria lumbra a mudança de compor-
projeto ficou imbuído de uma certa no produto que fabrico – um pro- tamento, de atitude do nosso povo?
seriedade. Quer dizer que eu acho duto de excelência – a marca Bra-
que podemos fazer um projeto de sil. Por exemplo, numa empresa de OZIRES – Sua pergunta leva-me
nação, mas se ele tiver uma griffe biotecnologia, temos um produto a outra: por que o Brasil “não deu
como a do Michael Porter, pode ter que aumenta a vascularização san- certo?”. Por causa, certamente, das
certeza de que vai ajudar. E, aqui
na ESPM, estou no lugar certo para
falar em marcas...
“O BRASIL É UM PAÍS PARAPLÉGICO
JR – A ESPM é uma griffe, mas tam-
PORQUE NÃO TEM DIREITA; SÓ ESQUERDA.”
bém estamos nisso há tempo sufi-
ciente para saber que ela vem-se
formando aos poucos – e é resul-
tado de muito trabalho.

OZIRES – Nos últimos 15 anos –


talvez até menos – a marca tornou-
se extremamente importante. Nes-

50 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Ozires Silva

suas atitudes, cultura, compor-


tamento; o que fazemos, que solu-
ções aplicamos diante de um pro-
blema. Tratando de inovação,
minha idéia básica é de que temos
de inovar, inicialmente, trocando
“ACHO UMA EXTREMA
essa cultura. Essa cultura que es- MALDADE DEIXAR QUE A VARIG DESAPAREÇA.”
tamos discutindo aqui, na Embraer,
não existe mais. Ela é uma com-
panhia com objetivos, planos. nova cultura. Li, no Estadão , um imaginou uma escola em que o
Acabamos de lançar agora uma no- editorial sobre a extraordinária professor é americano, com pri-
va geração de aviões que o trans- liderança do presidente Lula... O mazia sobre o brasileiro? Pode-se
porte aéreo regional do mundo ain- povo acha que ele não sabia de imaginar uma escola onde só falem
da não tem. De repente, o mundo nada, mas o presidente tem de inglês?” Coisas desse tipo. “Que
acordou e percebeu que precisava saber tudo. Outro dia falei que o raio de escola é essa?” E ele es-
daquele avião. Tive ótimos exem- Brasil é um país paraplégico porque clarecia: “Essa escola foi o ITA”.
plos na minha vida. Quando não tem direita; só esquerda. Disse que o ITA não deu bola para
terminamos a linha do Bandeirante, o MEC, não pediu registro de coisa
ficou claro que precisávamos de um HIRAN – Sei que o Sr. está alguma, não tomou conhecimento
avião mais moderno, menos pesado escrevendo – com um amigo seu – de reconhecimento de curso, que
– na época, não havia motor a jato a biografia do criador do Ita. fez o próprio currículo. E está aí o
para aviões de pequeno porte e Gostaria de ouvir um pouco sobre resultado.
resolvemos fazer o Brasília. Criamos o papel que teve esse homem – e o
um painel, com os compradores de ITA, como semente da Embraer, que JR – A Varig tem salvação?
Bandeirantes e descobrimos que nasceu depois, sob a sua liderança.
eles não contribuíam nada para o OZIRES – Depende da vontade
desenvolvimento do novo produto. OZIRES – Tenho certeza absoluta política. É uma concessão de
Se perguntarmos a uma dona-de- que, sem o ITA, a Embraer não exis- serviço público essencial. Já notou
casa que sabão em pó ela vai querer tiria. Um major da FAB – o cearense que o governo diz que não tem nada
daqui a 10 anos, ela não sabe. Mas Casimiro Montenegro Filho – com isso, porque a solução é com
quem fabrica o sabão tem de saber. afirmava que o Brasil só iria fabricar o setor privado? Agora, todas as
Na minha opinião, um mecanismo avião se antes fabricasse enge- soluções que foram apresentadas,
poderoso que temos é essa lideran- nheiros. E começou a criar o plano o governo não aceitou. Para mim,
ça inata, que o povo brasileiro con- do ITA. O ITA foi revolucionário. tem salvação se o governo quiser.
cede ao presidente da república. Se Durante sete anos, o graduado do Acho uma extrema maldade deixar
tivermos um presidente da repú- ITA não podia usar o título de que a Varig desapareça. As con-
blica, que conduza nessa direção, engenheiro, porque não era re- dições de operação do nosso
a coisa acontece. O Juscelino Kubi- conhecido pelo MEC. Em 55 anos, sistema aéreo são impensáveis,
tschek, por exemplo, disse: “preci- o ITA formou 4.500 engenheiros. quando comparadas com o que
samos desenvolver 50 anos em 5”. Tem um peso específico na socie- acontece no exterior. E o negócio
Ele conseguiu. Foi uma determina- dade brasileira – e foi absolu- aéreo é excelente – cresceu 14%
ção pessoal, uma quebra de para- tamente inovador. Há um artigo no ano passado. 1,8 bilhão de pes-
digma. Gosto muito do Fernando interessante, do Claudio Moura soas voaram – 1/3 da população
Henrique Cardoso, e acho que ele po- Castro, na revista Veja, que ele co- mundial. O avião consegue dar ao
deria ter feito isso, mas cedeu a essa meça, antagonizando o leitor: “Já cidadão a sua variável mais impor-
máquina, que temos. Mas temos de imaginou uma escola brasileira tante, que é o tempo. A Varig foi a
quebrar esse paradigma e criar uma onde o reitor fosse americano? Já única companhia brasileira que ¯

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 51


Entrevista

conseguiu se sustentar no mercado nhuma outra marca brasileira com eles não conseguiram abrir deter-
internacional por tantos anos. Tem tamanha penetração no mercado, minado curso, porque aguardavam
uma força de trabalho primorosa, nem a Petrobras, por exemplo, a aprovação do MEC. E perguntei
que não pode ser construída a curto está muito distante... Isso preci- a mim mesmo: será que o MEC tem
prazo. Mas o governo lhe coloca sava ser preservado, em que pese alguém com competência para
uma bola de ferro no pé: a Varig é a Varig ter um problema corpo- julgar um currículo apresentado
dona de mais de 1.000 imóveis rativo complicado. pela FGV, ou por outras instituições?
extremamente valiosos no país, Absolutamente, não. Pensei na
mas o governo proíbe que use JR – O seu cartão de visita é de distinção entre poder e autoridade.
economicamente um ativo que é diretor presidente de uma insti- O Ministério da Educação, no
seu – e diz que não pode colocar tuição de ensino: a OSEC. Como o Brasil, tem o poder – a compulsão
dinheiro público. Quer dizer, ele Sr. vê essa fase, na sua carreira de de obrigar a fazer – mas não tem
fechou todas as portas e depois profissional pioneiro, inovador e autoridade. Se pudermos fazer
disse: “Saia”. criativo? alguma coisa nessa direção: juntar
as universidades e levar ao poder
HIRAN – O Sr. foi amigo do OZIRES – O ensino sempre me político a necessidade de sairmos
Comandante Rolim, um homem que empolgou – não do ponto de vista dessa camisa de força, que nos se-
conseguiu romper um status quo – de ser professor. A educação gura, que dificulta a qualidade do
em condições iniciais desfavoráveis brasileira necessita, seriamente, de tipo de instrução, seria um sucesso
– a partir da inovação... inovação. Por exemplo, o nosso extraordinário.
governo atua ilegalmente como
OZIRES – Quando o Rolim fa- “federal”, quando deveria ser fede- JR – Mais uma vez o Sr. parece
leceu, a TAM já estava mostrando rativo. Outro dia – em conversa estar no lugar certo e na hora
sinais de cansaço. O que mostra com o pessoal da FGV – soube que certa. ESPM
uma coisa muito clara, que o Peter
Drucker escreveu no último artigo
que publicou, antes de morrer, e
o título era: “As árvores não
“NOSSO GOVERNO ATUA ILEGALMENTE COMO
crescem até o oceano”, querendo
‘FEDERAL’, QUANDO DEVERIA SER FEDERATIVO.”
dizer que as empresas não têm
uma perspectiva de crescimento
permanente, a menos que – como
ele coloca com sabedoria – se
renovem. A morte do Rolim trouxe
uma renovação para a TAM. Mas
o sistema de transporte aéreo mun-
dial não permite o envelhe-
cimento saudável das compa-
nhias. Temos de pensar seriamen-
te nisso, porque transporte aéreo
não é uma commodity que se joga
pela janela. Ao contrário, é um
serviço público da mais alta ne-
cessidade, e hoje está intrin-
secamente ligado ao desenvol-
vimento das nações. A Varig é a
nossa melhor marca; não há ne-

52 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


A idade da razão

A INOVAÇÃO CHEGA

À IDA DE
DA
RZÃO A
O empreendedor é o agente do processo de destruição criativa.
É o impulso fundamental que aciona e mantém em marcha o
motor capitalista, constantemente criando novos produtos,
novos mercados e, implacavelmente, sobrepondo-se aos
antigos métodos menos eficientes e mais caros.

Joseph Alois Schumpeter – (1883 - 1950)

54 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


José Predebon

INTRODUÇÃO preciso, hoje, cultivar uma nova


ótica da inovação, que já prevalece
É útil mostrar aqui, antecipadamen-
entre muitos gestores modernos – a
te, a linha de conteúdo que este
visão de que ela deve subordinar-
texto defende, para que os leitores
se às práticas depuradas de um mar-
o recebam com a consciência de
keting socialmente responsável.
como a matéria se posiciona em
relação à sua opinião pessoal.
Ao falar dos ganhos advindos de
uma inovação racional, filha de um
O texto focaliza a inovação, e por
marketing responsável, sugiro que
isso toca no tema mudança, que es-
o que está acontecendo atualmente
tá no âmago do problema. A pri-
nos permite ter um olhar otimista
meira parte analisa as raízes do as-
para o futuro. Desde que todos nós
sunto e, ao longo da segunda e da
defendamos o que chamo de idade
terceira partes, comenta como a
da razão da inovação.
inovação deve ser procurada e uti-
lizada como insumo da produção, )“Nunca me banho no mesmo
rio”, diz Heráclito, afirmando que
como ferramenta da gestão e como a água era sempre outra.
AS RAÍZES
fonte de diferenciais competitivos.
Contudo, a procura deve obedecer HERÁCLITO E A
ao bom-senso de quem sabe que tu- CONSCIÊNCIA DA me banho no mesmo rio, disse, afir-
do em excesso é prejudicial, e este INOVAÇÃO E MUDANÇA mando que a água era sempre ou-
ponto, para mim, ganha impor- tra. Percebe-se que a cultura antiga
tância ao vermos como a atual Os budistas afirmam que a única já observava a perenidade e a im-
busca da inovação torna-se radical. coisa que não muda no mundo é portância da transformação, idéia
Sugiro que uma corrida em direção que o mundo está sempre em mu- que se vê em poesia de Lucrécio
ao novo, a qualquer preço e sem dança. Heráclito observou, cha- (ver quadro 1). As religiões também
qualquer baliza, tem sido perigosa mando a atenção para essa reno- adotaram a visão da mudança na
e acarretado problemas. Por isso, é vação permanente de tudo: nunca transitoriedade, lembrando-nos que
somos feitos do pó e ao pó sempre
voltamos. Mas os seus cultos, ao
se tornarem adultos, cristalizavam
os valores e tornavam-se extrema-
mente conservadores, repudiando
mudanças, valorizando tradições.¯

)Os budistas afirmam


que a única coisa que
não muda no mundo é
que o mundo está
sempre em mudança.

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 55


A idade da razão

Entretanto, assumindo uma visão


histórica e ampla, nos parece que o
homem nasce com o gene da curio-
sidade e da aventura – e por isso a
experiência com o novo sempre atrai
e fascina. A nossa curiosidade nata
produz a inconformidade, germe da
mudança, e é isso o que nos diz
também a famosa metáfora usada
pelos gregos, na qual um halo de luz
representava o conhecimento, e a
escuridão em volta, o não saber.
Quanto mais expandimos nosso
conhecimento (nosso círculo de luz),
O MUNDO É
mais tomamos contato com o não
ETERNA MUDANÇA
saber (quanto mais sei, mais sei que
me falta saber mais). O impulso do
Nada sozinho se mantém, mas tudo
homem pela sua expansão no campo
quando se junta flui.
do conhecimento tem o motor da
Fragmentos se agrupam, e assim todas curiosidade, nossa maior mola moti-
as coisas vingam, vadora do desenvolvimento.
até as percebermos e lhes darmos
nomes. Aos poucos Analisando essa idéia, escrevi nes-
ta Revista um texto com o título “A
as coisas se dissolvem, e de
criatividade e a aventura do novo”.
novo não as conhecemos.
Aqui está um trecho (o texto com-
Mundos vindos do átomo, surgindo pleto está em www.predebon.com.br),
lenta ou rapidamente, que focaliza, especificamente, a
é assim que vejo sóis. Vejo também motivação pela curiosidade, como
sistemas construindo um impulso do homem:

suas formas. E certamente os sistemas “...Há também, o que talvez seja o


e seus sóis fator principal, um tipo de impulso
deverão, lentamente, retomar seu que carregamos quase como mal-
eterno curso. dição, um sentimento misto de curio-
(Lucrécio) sidade e fome de conquista que é
uma das características da espécie
humana, talvez sua maior mola de
desenvolvimento, e consiste na sua
vontade irreprimível de viver a
“aventura do novo”. O fascínio que
o novo exerce está dentro da mo-
tivação aparentemente econômica
de grandes empreendimentos
humanos, como na época das
QUADRO 1 explorações. O lucro seria o motivo
da iniciativa só na superfície, pois

56 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


José Predebon

)Assumindo uma visão histórica e ampla, nos parece que o homem nasce com o
gene da curiosidade e da aventura – e por isso a experiência com o novo sempre atrai e fascina.

no fundo o homem quer novas ex- Os povos antigos viajaram pelo DEPOIS DA REVOLUÇÃO
periências. Nas expedições maríti- desconhecido, voltaram e o incor- INDUSTRIAL O “NOVO”
mas do século quinze, os finan- poravam. Assim foram os Vikings, PASSA A ACUMULAR PODER
ciadores assumiam seu risco pelo lu- fenícios, portugueses, fora os povos
cro, mas eles eram só alguns, en- que emigraram, da África para o Obedecendo ao princípio da mu-
quanto os navegadores eram mi- mundo, e depois da Ásia para as dança permanente do mundo, den-
lhares, e apostavam sua pele fas- Américas. E depois ainda vieram os tro da evolução recente da socie-
cinados pela vida incerta mas ex- alargadores de fronteiras, como dade, aconteceu a chamada “Re-
citante do mar. conquistadores, bandeirantes e pio- volução Industrial”, quando a eco-
neiros. Contudo, a saga do desbravar nomia abandonou o artesanato e
Os fatos nos levam a afirmar que nas- não era só vocação antiga, mas de passou para a produção de escala.
cemos assim, curiosos e aventureiros, todos nós hoje,que fazemos do turismo Viabilizada pela inovação dentro
mas divididos, já que, por outro lado, um dos negócios mais importantes da da tecnologia, principalmente com
somos também organizadores e fãs do terra. A aventura do novo vem im- os aperfeiçoamentos de Watt na
conforto e da tranqüilidade da rotina. pressa em nossos genes.” máquina a vapor, a Revolução In- ¯

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 57


A idade da razão

A VISÃO DA RENOVAÇÃO idéia de que o consumo, incen-


PELO CONSUMO tivado pela inovação, é um fator
não só positivo como quase mi-
A tese da “destruição cria- lagroso, que, com o tempo, nos pro-
tiva”, exposta pelo famoso eco- porcionaria qualidade máxima e
nomista Schumpeter, na primei- custo mínimo.
ra metade do século passado,
exemplifica como a ciência eco-
nômica, com o pragmatismo que O DESENVOLVIMEN-
lhe dá origem, encampou a idéia TO DO PROCESSO
do incentivo ao consumo como
base do desenvolvimento dos O SISTEMA FAZ A
CABEÇA DA SOCIEDADE,
negócios e, por decorrência, de toda
DO “SER” PARA O “TER”
a economia. Valorizou-se o novo
para se justificar a obsolescência
O consumo foi colocado em um
como necessária, e a indústria
local de honra, e, naturalmente,
passou a produzir coisas menos
buscou-se a justificativa para ele.
duráveis, e até, rapidamente,
Existe um vetor racionalizante nos
descartáveis.
) Valorizou-se o novo para se
justificar a obsolescência como
processos sociais; assim, os valores
que a sociedade adota, por qual-
necessária, e a indústria passou A chamada roda do consumo come-
a produzir coisas menos quer circunstância, tendem a ga-
çava assim a funcionar e o faz
duráveis, e até rapidamente nhar uma defesa ideológica para se
descartáveis. muito bem até hoje, pois a tecno-
institucionalizarem. Dessa forma a
logia, também se renovando rapida-
economia do consumo passou a
mente, justifica não procurarmos,
criar seus heróis e mitos, quase
dustrial trouxe nova velocidade ao por exemplo, uma máquina fotográ-
processo e acabou por criar o capi- fica para durar a vida toda, pois dali
talismo atual. Este funciona como a alguns anos os modelos mais
um sistema que se alimenta da recentes, certamen-
massificação abrindo mercados, e te, virão com ca-
os mercados consumidores, por racterísticas téc-
natureza própria se otimizam nicas mais dese-
estimulando o consumo. jáveis.

O novo aparece como o agente nú- A filosofia quanti-


mero um desse estímulo, e o mer- tativa, em lugar da
cado nele se apóia ideologicamen- qualitativa, tam-
te. Cria-se a idéia do moderno como bém era uma desen-
sempre melhor e desejável: “Mas volvedora do mer-
como você ainda usa essa coisa cado de trabalho –
antiquada (feia, ou perigosa, ou de mais vendas, mais
mau gosto etc.)?” O casamento entre produção, mais em-
esse ideário e o interesse econômico pregos. E com esse
da indústria dá certo, floresce e cria mecanismo simples,
um processo auto-alimentador – que nunca mais a roda do con-
funciona até hoje, e que dá ao novo sumo parou e apoiada por teóricos
a aura de verdade maior. como Schumpeter, consolida-se a

58 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


José Predebon

sempre na figura de milionários, ad- é novo”. Inicialmente, ainda racio- dade viu-se aperfeiçoada, as rea-
mirados e devidamente promo- nal, pois havia um processo cons- ções acabaram minimizadas.
vidos. E a defesa desse modelo, fa- tante de aperfeiçoamento. Contudo,
cilmente se baseia em argumentos a natural vaidade humana, que Nesse estágio, a venda do “novo”
hedonísticos, que propagam o apro- também se expressa em possuir coi- criou um tipo de apelo: “mude para
veitamento máximo, “já que a vida sas originais e melhores, foi pro- este produto”, enfatizando a vanta-
é curta”. O ideal de ser uma pes- vocando a apuração da técnica de gem da mudança, focalizada como
soa importante não mais repousa nas explorar o “status” proporcionado um ato de aperfeiçoamento. Nesse
suas qualidades, mas nas suas pela posse de novidades. estágio Hollywood foi importante
posses. A sociedade, de forma na- para cristalizar o ideário da pessoa
tural, passa a cultivar o “ter”, for- O processo de mobilização do con- moderna, atualizada, e para isso,
ma máxima de “ser alguém”. sumo pelos apelos emocionais foi claro, mutante. Os heróis do público
descoberto pelo marketing e pro- o emulavam e estimulavam. A ro-
A SOCIEDADE NOS paganda, que o utilizou larga- da do consumo passou a funcionar
NECESSITA ARTICULADOS mente, e até com excessos, o que ainda melhor.
despertou algum incômodo na
A economia de mercado, espinha sociedade, que reclamou, como o SURGEM OS
dorsal do capitalismo, tem uma di- fez o livro “Hidden Persuaders”, de TEÓRICOS DA INOVAÇÃO
nâmica natural de procura de oti- Vance Packard. Mas a articulação
mização. Por isso criou técnicas de entre consumo/economia/bem- Os empresários, que na idade mé-
comercialização que melhor viabi- estar prevaleceu, e como a socie- dia eram considerados uma casta ¯
lizassem a produção em massa, e
isso pode-se considerar que tenha
sido a raiz do marketing atual.
) Hollywood foi importante para cristalizar o ideário da
pessoa moderna, atualizada e, para isso, claro, mutante.
Era preciso criar um grande público
consumidor, e os argumentos dos
vendedores foram levados para
veículos que podiam multiplicar
sua disseminação. Jornais e carta-
zes foram os primeiros, depois o rá-
dio, em um processo que se iniciou
no fim do século XIX e se acelerou
no início do século XX, principal-
mente nos Estados Unidos.

Inicialmente, os argumentos eram


racionais. “Compre este produto por
esta razão objetiva”, era o discurso
básico, algo mais ou menos como
“dois e dois são quatro”. Pouco a
pouco o foco foi ampliado para o
campo não racional “Nove entre dez
estrelas preferem este sabonete”.

Nessa etapa descobriu-se o rendi-


mento do argumento “este produto

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 59


A idade da razão

) Peter Drucker
demonstrava a
lucidez para não justificar
um vale-tudo do sistema,
coisa que é exemplificada
quando ele criticou acida-
mente o combate ao
prejuízo da Chrysler à custa
de vinte mil empregos.

secundária – a dos negociantes –, se os teóricos do marketing uma quela fase, dava o tom, quase geral,
assumiram aos poucos uma van- nova disciplina que tratava de oti- da competitividade. Mas alguns, como
guarda na sociedade, e tornaram- mizar as técnicas de produção e co- Peter Drucker, demonstravam a lu-
se bem vistos, tão ou mais impor- mercialização, e que podia expli- cidez para não justificar um vale-tudo
tantes que os intelectuais, nas men- car sucessos e fracassos com obje- do sistema, coisa que é exemplificada
sagens da mídia para a massa con- tividade racional. A técnica do mar- quando ele criticou acidamente o
sumidora. Na década de 50, no keting torna-se verdadeira ciência, combate ao prejuízo da Chrysler à
início da era do culto às celebri- e colabora para o aperfeiçoamento custa de vinte mil empregos. Ele
dades, numa comparação que es- social, principalmente pela reno- previa o problema que nascia com
candalizou a muitos, matéria da vação de produtos e processos por a prioridade exagerada do lucro.
revista Esquire chegou a dizer que outros aperfeiçoados. Dessa forma,
um Rockfeller valia mais que um o marketing é o verdadeiro pai da No cômputo geral, foram aqueles
Steinbeck. Os intelectuais, nesse inovação. teóricos do marketing que acaba-
contexto, foram levados a observar ram criando suas leis e verdades,
melhor a atividade dos empresários Contudo, notava-se no discurso de compondo uma verdadeira bíblia de
e a estudar e explicar o sucesso da muitos daqueles teóricos um condi- boa administração com o objetivo
sociedade de consumo. Tornaram- mento de guerra-é-guerra, que, na- de otimizar produção e vendas, e

60 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


José Predebon

que mais recentemente descobriram rente de psicólogos, autores de li- reagir ao novo? Aquela nossa ten-
a atual força da inovação. Consti- vros de auto-ajuda, desde os con- dência de valorizar a rotina passou
tuíram-se em verdadeiros profetas, sagradamente úteis como o “Auto- a ser vista como suspeita.
mas alguns, diferentemente de ou- estima” de Nathaniel Branden, até
tros, como Peter Drucker, pregavam os mais banais e inúteis, como exis- Revendo um texto que eu mesmo
um culto exagerado do consumo. tem às dezenas, todos pregavam a redigi e passei para meus alunos da
aceitação da mudança. disciplina de Inovação e Criati-
INOVAÇÃO E MUDANÇA
GANHAM DEFENSORES vidade, (ver quadro 2) percebo co-
A mudança, de acordo com essa mo todos nós (“mea culpa”) ficamos
A par de seu papel no consumo, a sua defesa, era o movimento, a vi- enredados no ideário do “novo sem-
inovação também floresceu por sua da, e a “não mudança” seria a es- pre positivo”, e em maior ou menor
positiva carga de realização pela tagnação, que em última análise grau, acabamos defendendo de-
defesa da mudança. Uma larga cor- significa inanição, morte. Por que mais o culto da inovação. ¯

“INOVAÇÃO CONTRA O VENTO FAZ BEM QUADRO 2

“Absurdo!” – Essa é a reação comum às no- tos contidos nessa dinâmica parecem obedecer cias, ao se confirmar, tornam-se padrões. Estes,
vidades que agridem o status quo. Ela explode a lógica das correntes, ou dos ventos. base dos paradigmas, têm sua função útil de
apesar de já existir no íntimo, até da pessoa nos fornecer trilhos facilitadores, que evitam
mais conservadora, a expectativa de que coisas Mas, de repente, surge aquilo que parece um ficarmos constantemente “reinventando a roda”.
novas sempre vão aparecer. Quase todo mundo absurdo incrível, e que vem como uma reviravolta
aprendeu a aceitar a mudança linear, aquela qua- total, pois não obedece à direção do vento nem Mas, aqui vem o X da questão, que justifica até
se previsível, pois é decorrente dos ganhos da a lógica alguma. Penso que esse tipo de este texto e o tempo investido de quem o lê –
ciência e tecnologia, e mais dia, menos dia, elas mudança, mais assustador e desconfortável do perdemos muito com a obediência cega aos
surgem em nosso con- que a média, é a mudança contra o vento, e padrões! Não podemos correr o risco de nos
texto. Diremos vemos defender aqui que faz bem à nossa saúde escravizarmos à lógica do desenvolvimento
que os fa- aceitá-la também, da mesma forma que acei- exclusivamente previsto e aceito. Isso nos
tamos as chamadas “novidades” da inovação amarraria, nos traria, no mínimo, atraso e perda
linear. Cabe primeiro perguntarmos por que sur- de competitividade.
ge essa inovação não linear, classificada como
“disruptiva” por Christensen em seu antológico Freqüentemente a inovação inesperada, no
livro The Innovators Dilemma. Ele não tenta campo empresarial, propicia ganhos enormes,
explicar, mas nos surge também a pergunta ainda que cobre o preço de riscos maiores de
– por que ela não segue a tendência do fracasso. Exatamente por isso vemos que as
desenvolvimento considerado até grandes organizações, impossibilitadas de
natural? Existirá algum fator que, assumir riscos devido ao seu tamanho, ultima-
desconhecido, provoque a reação mente, como confessou a Procter, dedicam-se
contrária? E, finalmente, esse a procurar e adquirir as inovações criadas pelos
nosso pé para trás tem algum pequenos, que normalmente assumem riscos.
sentido positivo?
Daí, uma lição para nosso âmbito pessoal: não
Para explorar essas nos faz bem recusar o novo, simplesmente
questões, e nos sentir- porque nos parece estranhamente diferente. Se
mos, talvez, mais à von- ele tocar simpaticamente nossa intuição, vale a
tade na análise desse tipo pena apostar. Só assim seremos os inovadores
de “inovação violenta”, que se beneficiam mais com a imprevisibilidade
vamos começar lem- do mundo. São os que não seguem apenas a
brando que as tendên- direção do vento mais forte”.

Quadro 2
M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 61
A idade da razão

OS GESTORES transformar o tempo ganho com a Vemos, assim, que a corrida da com-
REVÊEM A produtividade em um ócio compar- petitividade baseada no consumo e
INOVAÇÃO tilhado. Por essa teoria, ao reduzir na inovação começa a ser revista.
progressivamente a semana de Os movimentos de Responsabilidade
Penso estar dentro daquele processo trabalho, desapareceria o desemprego Social são exemplos disso. Ações
de mudança permanente do mun- e a humanidade seria feliz. Dee Hock globais para enfrentar o problema do
do, vendo o limiar de uma nova prega uma consciência de que não aquecimento da terra estão na ordem
etapa, em que a sociedade se vê podemos continuar atacando o meio do dia. O clima do planeta reage à
obrigada, por tudo o que a cerca, a ambiente e desprezando os problemas predação desenfreada, e não por
rever-se inteiramente. Desde o meio humanos atuais, para beneficiar o acaso o conceito de sustentabilidade
ambiente até o contrato social, tudo capital investidor. É uma lógica é cada vez mais discutido. Os diri-
parece nos encurralar, e obriga a irretorquível, que talvez esteja gentes de todo tipo de organização
procura de novas soluções, pois os começando a minar a mentalidade vêem-se hoje instados a seguir
problemas estão se tornando do “tudo por dinheiro”. Percebe-se isso princípios que Edgar Morin defendeu,
inadiáveis. “Sempre é possível pio- ao observar o que está se tornando o a pedido da Unesco, no seu em-
rar um pouco”, dizem os pessimistas discurso politicamente correto. blemático livro “Sete Saberes Ne-
contemporizadores, quando os
pessimistas contemporizadores,
quando os pessimistas catastróficos
afirmam que já chegamos ao fundo
do poço.

Em 2000, Dee Hock, que fora o exe-


cutivo número um do Visa durante de-
zessete anos, abandona sua apo-
sentadoria, e ao assumir a direção de
uma organização não lucrativa,
publica “O Nascimento da Era
Caórdica”. Assim como vi o “Quinta
Disciplina”, de Peter Senge, em 1992
catalisar e enfeixar informações
existentes sobre gestão, vi nesse livro
de Hock o delineamento de uma no-
va solução para harmonizar o mar-
keting, o consumo e a inovação com
uma nova realidade de mundo. Re-
sumindo muito, ali se defende que a
atividade econômica não seja pre-
dadora do homem nem do planeta.
Poluição, desemprego e outros proble-
mas modernos seriam equacionados
e resolvidos ao prevalecer uma nova
mentalidade mais comunitária. ) Opredação
clima do planeta reage à
desenfreada, e não
por acaso o conceito de
A solução de Dee Hock não é utó- sustentabilidade é cada vez
pica como a de Domenico de Masi, mais discutido.
que defende a lógica simplista de

62 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


José Predebon

cessários à Educação do Futuro”.


Entre esses saberes estão os de exer- “INOVAÇÃO TEM LIMITE QUADRO 3
cer a condição humana e a iden-
tidade terrena, coisas que Dee Hock
tentou pôr em prática na sua criação Segurem-se os tímidos, respirem fundo para não avalista desse acordo, e todos podem “ficar na
e gestão do cartão Visa, a maior tremer, que as mudanças de hoje estão abalando sua”. Foi-se o tempo da autoridade absoluta,
organização mundial do gênero. alicerces. Combustível do desenvolvimento em controladora e punitiva. Convivencialidade começa
todos os campos, as conquistas da ciência e os em casa. Sim, é bom ficar aberto a mudanças,
Afirma ele que o controle acabou lhe
ganhos da tecnologia têm hoje ritmo até mas nunca à custa de anular nossa consciência. O
fugindo das mãos, e Visa se tornou
assustador. Por isso andam afirmando que a mote não é inovação, é felicidade.
uma empresa como as outras, o que
inovação é o nome do jogo, é a última moda mas
o fez aposentar-se, e dedicar-se, a- veio para ficar, é um processo obrigatório, e quem E no campo das empresas? Aí inovação e mudança
margamente, a arar terras deser- recusar ou recuar está frito. Mentira, as coisas têm dois aspectos básicos, ambos relevantes:
tificadas, que comprara, para que a sempre têm limite, tudo em excesso é ruim, até questão um, a ética, questão dois, a complexidade.
natureza as retomasse. água. Inovação também. Tanto no âmbito pessoal, Ambas compõem o limite da inovação viável e
como no das organizações, existem claros níveis produtiva em qualquer atividade profissional.
Mas os desígnios da inovação tam- acima dos quais a inovação passa a ser
bém agem depurativamente, pois ele contraproducente. Continuo afirmando, como o A ética precisa estar contida na missão da empresa,
tornou-se peça central de um fiz até o presente, que inovar é preciso, que o que, a par de obter lucros, deve respeitar o homem
movimento extremamente renovador. mundo não pára de mudar, e que precisamos, e o planeta, sociedade e meio ambiente. Com isso
pessoas ou empresas, estar sintonizadas com a na cultura e na política da gestão, o resto é detalhe,
Hock foi atraído e mobilizado por um
realidade atual. Mas vamos agora focalizar o que e toda a questão da inovação ganha parâmetros
grupo de idealistas que o levou a
defendemos ser o limite dessa dinâmica. naturais – o que a organização deve fazer, em cada
fundar e dirigir a Aliança Caórdica, a
situação, ficará sempre claro.
mais rica organização do terceiro setor No âmbito pessoal temos primeiro de levar em
nos Estados Unidos. O sucesso conta o desconforto da mudança, pois nada como Vejamos agora o limite imposto pela complexidade
financeiro da iniciativa é sintomático, aproveitar a experiência, que gera rotinas serenas à inovação organizacional. Partamos de um exemplo,
pois revela como está acontecendo e seguras. A rigor, confortável só é a mudança das a de uma rede de fast food da Califórnia que resolveu
uma mudança de consciência entre fraldas sujas, para deixar o nenê feliz. Porém o simplificar o seu cardápio inovador que se tornara
os gestores do sistema. desconforto da mudança desaparece quando nos extenso demais e acarretava uma operação
acostumamos a ela, como no caso do sapato complicada, pouco produtiva. Eliminaram os itens
Aqui em nosso país vemos muitos ca- novo que logo fica tão bom quanto o velho. Mas a menos procurados pelos clientes, e ficaram com
sos de inovação abrirem perspectivas questão maior vem com as mudanças do mundo apenas meia dúzia de escolhas, mas daí com
que põem em cheque nossos valores. Aí, sim, a qualidade, eficiência e custos tão melhores, que
novas de soluções dos problemas
mudança é problema difícil, com a encruzilhada de todo o resto foi compensado. Caiu o ônus de uma
nascidos da mentalidade guerra-é-
duas alternativas ruins; de um lado a renúncia com operação complexa, dentro da qual a “inovação
guerra. Inovação, por exemplo, levada
desapego, e do outro o desajuste e suas seqüelas. permanente” reinava. Simplicidade foi a solução.
pelo SEBRAE para otimizar a atividade Disso nascem os limites da inovação pessoal. Claro que esse exemplo não pode ser generalizado,
econômica dos pequenos empresários. Precisamos ser menos egocêntricos, mas nunca pois cada setor tem suas peculiaridades, e princípios
Outro exemplo importante é o do podemos nos desapegar de nossas crenças e de competitividade naturalmente se sobrepõem aos
Instituto Endeavor, espécie de in- princípios, que compõem os valores com os quais de operação mais fácil – o que esta valerá, se não
cubadora de iniciativas produtivas. aprendemos a viver. Tentar abandoná-los é produzir vendas?
complicar nossa essência. Mas se o entorno vê
Talvez tenhamos chegado, finalmente, nossa posição como “antiquada”, “fora de Sugiro, como conclusão, que o limite da inovação,
à idade da razão quanto ao nosso própósito”? Aí chega o momento de negociarmos, tanto no campo pessoal como no empresarial,
sistema, após um longo caminho de partindo do princípio de que não existe apenas seja imposto pela inteligência, que se alimentará
uma verdade, e que podemos (e devemos) admitir com informações captadas por olhos não
acertos suplantados por erros. O
a diversidade de pontos de vista. Negociar uma ofuscados pelo brilho da última moda. Inovar, sim,
balanço que surge na atualidade mos-
adaptação é como assinar um tratado de mas nunca a qualquer preço, jamais apenas para
tra que os erros não mais estão sen-
convivência. No âmbito da família, o amor é o parecer moderno.”
do absorvidos, e a inovação, que ¯

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 63


A idade da razão

sempre teve um papel importante nas meio de ajustes ao interesse maior da realidade atual, já fartamente de-
conquistas da humanidade, passou a sociedade, é razão para um olhar nunciados. Não se vê mais sentido
apresentar um seu lado perigoso de se otimista no futuro. Três rápidos exemplos em transformar executivos em
pôr a serviço de um sistema imperfeito desses ajustes: as exigências das workaholics, como também não faz
demais. Surgem alertas, preconizando empresas para que seus fornecedores sentido aperfeiçoar a produção à custa
o uso da inovação para a solução de obedeçam a práticas sadias nas relações da eliminação do emprego de con-
problemas que o seu abuso criou. Sobre de trabalho; o valor maior que os tingentes que, a rigor, desempregados,
isso alegro-me por já ter dado, também veículos ganham ao aumentar seu ficam impossibilitados de consumir.
para meus alunos, um toque cons- percentual de partes recicláveis; a
cientizador, na forma de um texto (ver criação de fundos de investimento Tudo isso que o olhar otimista espera
quadro 3) em que defendo limites para voltados, especificamente, para empre- que aconteça será também produto da
a inovação. sas socialmente responsáveis. inovação, que, com sua ação depu-
rativa, irá redimir o seu uso exagerado.
A idade da razão no campo da inovação Vemos hoje assim que, em ritmo cres- Isso será produto do que pode ser
se caracteriza também pela nova cente, agora as atividades econômicas chamado de macro-mudança. Espe-
posição da mídia, com exemplos em passam a preocupar-se com a ramos poder vê-la em breve. ESPM
reportagens e artigos, trazendo novas sustentabilidade ambiental e com a
orientações, e que, invariavelmente, relação do homem com o seu trabalho.  JOSÉ PREDEBON
Leciona Inovação e Criatividade na ESPM,
aparecem em todas as edições de revistas Esse parece ser o início de um tipo de
na Faculdade Trevisan, na Fundace USP
de gestão e de negócios, como a Harvard macromudança, tornando superados e
e no Instituto Mauá de Tecnologia.
Business Review e a Business Week, além até caricatos alguns aspectos ruins da
de outras.

São estudos como, para citar o exem- ) “Quem, ao


percorrer um caminho
plo de um dos mais importantes, conhecido, descobre um
“Innovation vs Complexity”, publicado novo caminho, pode
na HBR de novembro passado, sobre os considerar-se sábio”.
problemas advindos do emprego da Confúcio
inovação permanente frente à
complexidade da sua administração.
Lendo-o, vemos que a complexidade,
fenômeno que também foi pionei-
ramente estudado por Edgar Morin,
parece ter feito chegar o que poderia
ser considerada “a hora da verdade”,
na qual nenhum conceito mais é sagra-
do, e tudo, até a própria mudança,
precisa ser revisto à luz da realidade
que nos cerca.

APÓS A ERA DAS MUDANÇAS


ENDEUSADAS, A VIDA INTELIGENTE VIRÁ
TAMBÉM ATRAVÉS DE UMA MUDANÇA.

Os novos rumos que o marketing co-


meça a tomar, aperfeiçoando-se por

64 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Inovação e fator humano

INOVAÇÃO E FATOR HUMANO

I
novação não é um produto, não é nhecida por alguém. Portanto, a cria- motivam e impulsionam as suas bus-
um serviço em si mesmo. É, antes ção é um gesto com sentido e sig- cas e outras latentes e até desco-
de tudo, o resultado da capacidade nificado. E quem dá o significado nhecidas que nascem ao acaso.
de imaginação do ser humano. São é o ser humano.
as pessoas que criam e dão sig- O reconhecimento de uma inovação
nificado. Uma invenção, seja qual Por trás das inovações há quase sem- está sempre conectado às pessoas,
for, só se realiza quando for reco- pre necessidades, algumas que seus valores, expectativas e percep-

66 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Luiz Edmundo Prestes Rosa

Inovação não é um produto,


não é um serviço em si
mesmo. É, antes de tudo, o
resultado da capacidade de
imaginação do ser humano.

ções e, portanto, expressa sua época


ou o grupo social que lhe dá sus-
tentação.

A inovação sempre pressupõe uma


comparação e uma avaliação. É
sempre relativa a alguma coisa, a
um contexto, ao inesperado.

Dada sua relatividade, uma inova-


ção pode ser anacrônica, ultrapas-
sada ou visionária. Mas isto só será
percebido quando chegar o dia em
que alguém lhe der o devido valor.
Por esse motivo, idéias realmente
muito boas precisam da passagem
de gerações para chegar ao reco- O reconhecimento de uma
nhecimento. inovação está sempre
conectado às pessoas, seus
valores, expectativas e
Muito foi escrito sobre as sutilezas percepções e, portanto,
que diferenciam os atos de imagi- expressa sua época ou o
nar, criar e inovar. O consenso con- grupo social que lhe dá
verge para considerar o imaginar sustentação.
como a primeira visualização do

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 67


Inovação e fator humano

novo. O criar como a sua evolução


e organização em idéias e propos-
tas. O inovar como colocar em prá-
tica o que foi concebido.

O DESAFIO DOS
MODELOS MENTAIS

A capacidade de inovar resulta,


portanto, da habilidade de imaginar.
Quando o pensamento está livre, po-
de percorrer o universo do conhe-
cimento, explorar suas nuanças, tes-
tar hipóteses até, finalmente, criar.

O processo criativo não é linear,


não segue uma lógica clara e tam-
pouco pode ser programado para
acontecer. Muitas vezes as idéias
surgem aparentemente do acaso,
nas horas e formas mais imprevistas.
Muitas vezes, as idéias
Há quem diga que foi tomando aparentemente surgem do
banho, sonhando, caminhando num acaso, nas horas e formas
lindo jardim ou fechado numa cela mais imprevistas. Há quem
como prisioneiro. diga que foi sonhando,
caminhando num lindo
jardim ou fechado numa cela.
Inovar é muitas vezes transgredir. Po-
dem-se prender pessoas por questões
A inovação está, portanto, muito li- dade pode estar dentro de nós
ideológicas, religiosas ou políticas,
gada ao pensamento livre e à prer- mesmos: a censura internalizada e a
mas jamais se consegue paralisar ou
rogativa da liberdade; não vem de força dos modelos mentais que apri-
aprisionar suas idéias. Nem mesmo,
fora e nem pode ser outorgada. Não sionam. Estes podem ser tão pode-
por extremo, a questão estaria resol-
é uma concessão, mas uma con- rosos a ponto de inibir qualquer
vida se seu autor fosse executado,
quista da consciência. Consciência possibilidade de criar ou de ver o
pois sempre há o risco de ele se trans-
que reconhece o direito do indi- novo.
formar num mito inspirador.
víduo de ter sua identidade e auto-
nomia para pen- Diversos experimentos realizados
sar e agir. testaram a força avassaladora des-
ses modelos sobre indivíduos e gru-
O maior inimi- pos inteiros de pessoas. Mesmo di-
go desta li- ante de evidências contrárias, o
ber- pensamento pré-formatado tende a
resistir. Mudam-se as circuns-
tâncias, mudam-se os objetos, mas
nem sempre se muda o pensamento.

68 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Luiz Edmundo Prestes Rosa

Daí o perigo das ideologias de mas- O conteúdo de um currículo envia- Nesses casos pode acontecer que
sa, dos regimes repressivos e das do para a seleção de uma organi- a emoção solape a lógica, a per-
religiões dogmáticas que criam mo- zação pode passar por formas dis- cepção distorça o manifesto e as
delos mentais rígidos e restritos a crepantes de interpretação, apenas pessoas insistam em reagir da ma-
qualquer outra possibilidade. As se mudarmos alguns detalhes. Apesar neira padrão. O preconceito pode
organizações não estão livres deste do raciocínio lógico e do discurso ser então uma barreira intranspo-
aprisionamento. Há culturas em- expresso dizer que a competência nível para pensar e agir.
presariais que não dão espaço para do candidato é o essencial, há ex-
pensar de forma divergente, que perimentos que comprovam o con-
não aceitam questionamentos e que trário. Aquilo que deveria ser tratado O PODER DA
se vestem de regras para quase tu- como secundário, não é. IMAGINAÇÃO
do. E, por ironia, muitas destas que-
rem ser inovadoras... O estigma e o preconceito sobrevi- A imaginação está na origem da
vem assim. O mesmo currículo po- inovação. Ela pode atuar de forma
de ganhar veredicto de aceito ou despretensiosa, capaz de olhar o
Basta conhecer a cultura de uma rejeitado bastando trocar o sexo, a mundo com uma perspectiva ori-
empresa para imaginarmos as nacionalidade, a cor ou a religião. ginal, talvez nunca antes pensada
facilidades ou dificuldades que
alguém teria para ser aceito num Trocar a foto muda a decisão. ou pelo menos conhecida.
processo de seleção e depois
permanecer por um bom tempo
nessa empresa.

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 69


Inovação e fator humano
Pela imaginação se dá vazão aos novas idéias e propostas. Quando
sonhos, faz-se do impossível o pos- o imaginado se torna tangível e seu
sível e se ensaiam propostas e solu- valor é perceptível, estamos diante
ções. A imaginação se exprime de uma inovação.
muitas vezes na arte, seja por ima-
gens que valem mil palavras ou nas
histórias fantásticas que despertam INOVAÇÃO E
a atenção e a curiosidade de quem MUDANÇAS
lê. Seja como for, a imaginação cria
a possibilidade de se pensar além, Há mitos de que o ser humano
de ser ou de fazer diferente aquilo sempre resiste às inovações. Não
que acreditávamos que era reali- faltam livros, artigos e pesquisas
dade ou o caminho adequado. dedicados a estudar a resistência
às mudanças. Novamente, aqui
Assim, a imaginação, na sua apa- entra o relativo. Nem tudo que é
rente despretensão, pode trazer a novo causa resistência. Certas
semente da dúvida. E é esta que vezes o benefício é tão evidente
provoca a curiosidade e a vontade que até podemos nos perguntar
de explorar o novo que acaba de como poderíamos ter vivido até
ser percebido. Por isso, pode-se di- então sem aquilo.
zer que a imaginação tem o poder
de ser, de um lado, transformadora, Imagine você trocando de carro no-
e de outro, arrebatadora. vo, por um modelo que sempre so-
nhou e que pela primeira vez con-
O caminho da imaginação muitas seguiu tê-lo. Você entra, sente aquele
vezes supera os obstáculos da cul- cheirinho do novo, a maciez do
tura e da censura e envereda pelo volante, a suavidade de dirigir, o
mundo das (im)possibilidades. Des- silêncio interno, a sensação de bem-
ta maneira, surgem soluções antes estar que lhe invade. Dá para falar
mesmo que existam condições de de resistência à mudança?
viabilizá-las, sejam tecnológicas,
econômicas ou até mesmo da exis- De onde vem essa adesão imediata
tência de demanda. à inovação, que rapidamente se in-
corpora à sua vida, que desperta
Um exemplo clássico é o do famoso sentimentos humanos de carinho,
escritor francês Júlio Verne (1828- cuidado, orgulho, ciúmes e até me-
1905). Ele previu com notável pre- do de perda?
cisão muitas das realizações cien-
tíficas que ocorreriam dezenas de Todas estas sensações e sentimentos
anos após a publicação de seus livros. certamente não vieram diretamente
Nestas se incluem ar-condicionado, do carro, por melhor que tenham
Um exemplo clássico é o submarinos, helicópteros, mísseis sido os estudos e pesquisas de seus
do famoso escritor francês guiados e até vôos espaciais. fabricantes. Eles podem ter estima-
Júlio Verne (1828-1905). Ele
previu com notável precisão do as possíveis reações de seus cli-
muitas das realizações A imaginação pode ser capaz de entes e planejado cada detalhe, do
científicas que ocorreriam surpreender, atrair, cativar e, por sua modelo ao motor e interior, com os
dezenas de anos após a vez, despertar o interesse de pes- melhores conceitos de design, me-
publicação de seus livros.
soas dispostas a fazer acontecer as cânica e ergonomia.

70 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Luiz Edmundo Prestes Rosa

Contudo, tais sensações só podem ter duto, passível de ser estudada com é percebido. Esta singular relação
vindo do próprio comprador, de suas indicadores precisos. Mas, esta in- pessoa-produto é psicológica e
referências pessoais e relacionais teração será sempre única, consi- social. Não sou só eu que percebo,
frente ao veículo. Provavelmente, as derando a individualidade do que mas também sou percebido.
impressões deixadas pelo seu velho é sentido, percebido e fantasiado
carro, duro, desbotado e barulhento por cada um.
contribuíram para o prazer e a rápida
Imagine você trocando de
carro novo, por um modelo
assimilação do novo. Um bem ganha vida na percepção que sempre sonhou e que pela
do seu usuário e pode facilmente primeira vez conseguiu tê-lo.
Aparentemente, há uma conexão ser integrado à sua auto-imagem, Você entra, sente aquele
objetiva e realista, comprador-pro- bem como à imagem com que ele cheirinho do novo, o silêncio
interno, a sensação de bem-
estar que lhe invade.

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 71


Inovação e fator humano

DEPARTAMENTALIZANDO
A INOVAÇÃO
Criar na empresa uma área espe-
cializada em inovação tem sido
uma forma de fomentá-la. Parte-se
da premissa de que definir um res-
ponsável e uma equipe é o melhor
meio para se conseguir um ob-
jetivo. Fica mais fácil atribuir prio-
ridades e metas, acompanhar e a-
valiar os resultados. Este modelo de
pensar é o mesmo que deu certo
para tantas outras funções como
processos, tecnologia da infor-
mação, produção e contabilidade.
E é natural que se aplique o mesmo
No mundo globalizado em reflexo para a inovação.
que vivemos, as empresas
competitivas vivem sob
pressão permanente para A questão fundamental é que a ino-
reforçar sua diferenciação vação depende essencialmente do
frente às demais, criando fator humano. Se de fato queremos
novos produtos e serviços, promover a inovação, vamos pre-
ampliando sua fatia de
mercado, aumentando cisar saber trabalhar com o poten-
suas receitas e reduzindo cial criativo das pessoas. E estas não
custos. se resumem à equipe da unidade
administrativa encarregada do
tema. Portanto, seria um desper-
dício enorme adotar o modelo
Aí entra a propaganda propondo vivem sob pressão permanente para clássico em que um departamento
atributos e sensações para os seus reforçar sua diferenciação frente às se apropria com certa exclu-
usuários. Ela tem um papel rele- demais, criando novos produtos e sividade da responsabilidade e dos
vante ao dar significado ao produto serviços, ampliando sua fatia de meios de lidar com a inovação.
ou serviço, definindo o seu valor mercado, aumentando suas receitas
para o cliente. Portanto, a propa- e reduzindo custos. O processo pelo Seria melhor olhar esta unidade não
ganda também tem o dom de criar, qual é possível promover todas es- como um território que tem a pro-
tornar tangível a inovação e de sas melhorias passa, necessaria- priedade, mas que tem a missão de
estabelecer novos padrões na per- mente, pela inovação. criar e desenvolver uma cultura vol-
cepção coletiva de seus clientes. tada à inovação. Este posiciona-
Se por um lado isto parece óbvio, mento abre as portas para influ-
menos evidente é a determinação enciar os valores organizacionais,
A REVOLUÇÃO observada de construir as condi- as políticas e práticas gerenciais
DA INOVAÇÃO ções para que a inovação se desen- para se criar um ambiente cada vez
volva. Muitas vezes, fica mais no mais estimulador às idéias e a sua
No mundo globalizado em que vi- discurso do que na ação, mais na prática. Um contexto que reforça
vemos, as empresas competitivas transação do que na estruturação. a iniciativa e a experimentação,

72 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Luiz Edmundo Prestes Rosa

mas que consegue ser tolerante a modalidades, é o que poderia ser a contratação de perfis empre-
erros, quando estes emergiram de produzido se houvesse condições endedores;
tentativas de praticar a inovação. mais apropriadas que expandissem, o cultivo da diversidade, porque
plenamente, o potencial criativo. ela é uma fonte que enriquece o
PROMOVENDO A ambiente e estimula a criatividade;
CULTURA DE Nas empresas, verdadeiramente
programas educacionais que
INOVAÇÃO comprometidas com a inovação, fortaleçam o diálogo, a participa-
adota-se um posicionamento estra- ção e o trabalho em equipe;
Tornar uma empresa verdadei- tégico consistente que impregna
ramente comprometida com a ino- todo seu ambiente, seu plano de ne- a criação de processos e ferra-
mentas que permitam aos grupos
vação não é algo simples e fácil. gócios, modelo de gestão, políticas
de trabalho atuar com autonomia e
Não basta adotar programas de su- e processos, estimulando a inova- competência para:
gestões, em que seus funcionários ção nos seus relacionamentos com
sejam estimulados a dar idéias. Até seus públicos de interesse. levantar, analisar e testar
idéias;
empresas com culturas pouco par-
ticipativas, que restringem o diá- São aquelas, por exemplo, que che- realizar projetos
logo e são intolerantes às falhas, gam a definir metas de resultado para estruturados, com visão
podem oferecer tais programas. novos produtos e serviços, esta- empresarial.
belecendo um percentual, muitas
o espírito de equipe, entendendo
E estes podem ser bem avaliados, vezes crescente, de sua contribuição que o processo criativo não se
gerar resultados mensuráveis, dando na composição dos seus orçamentos. restringe a talentos privilegiados,
a falsa impressão de que a empresa Esta orientação leva a redirecionar mas prospera na dinâmica dos
está evoluindo. O que não se percebe, seus programas de recursos humanos, grupos de trabalho, envolvidos num
contexto de confiança e
porque não se experimentam outras de forma a valorizar: camaradagem;

a realização de Campanhas
Não basta adotar programas Motivacionais em que as pessoas
de sugestões, em que seus são estimuladas a participar,
funcionários sejam aprender e realizar;
estimulados a dar idéias.
as diversas formas de comu-
nicação interna que promovem o
espírito empreendedor e de equipe,
o compartilhamento das melhores
práticas e a melhoria de resultados;

o reconhecimento de equipes e
indivíduos, de preferência nesta
ordem, pelo mérito da sua
contribuição.

A FORÇA
DOS CLIENTES

O cliente pode ser uma fonte per-


manente de aprendizado organi-
zacional. Ele pode permitir à em-
presa repensar sua missão, visão,

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 73


Inovação e fator humano

estratégia, reformular sua carteira


de negócios e fazer inovações em
produtos e serviços. Contudo, quan-
tas empresas aproveitam bem este
potencial? Quantas sequer dialo-
gam com seus clientes?

Apesar de muitas empresas adotarem


o discurso que o cliente é o seu prin-
cipal patrimônio, suas práticas po-
dem não corresponder.

As dificuldades podem começar a


partir do tratamento dado à sua
equipe. Muitas vezes, o contato di-
reto com os clientes é feito por aque-
les colaboradores ou terceirizados, de
quem a empresa menos cuida. Seja
pelos baixos salários, pouca forma-
ção, sem perspectiva de carreira e
sem um eficiente sistema de reco-
nhecimento.

Adicionalmente, os programas
de treinamentos tendem a
reforçar, sobretudo, o cumprimento
das rotinas, onde falta espaço
para inovar ou mesmo para reagir
diante de demandas não
previstas.

É o caso de centrais de atendimento


a clientes, que entregam às uni-
dades de respostas automatizadas
a função da maior parte do contato
com o cliente. Seu enfoque é aten-
der em massa as ocorrências opera-
cionais desse relacionamento.
Quando surge uma necessidade
não coberta pelo menu automa-
tizado, o cliente pode tentar acessar
um atendente. Em alguns casos, isto
exige uma longa seqüência de
instruções e aperto de teclas, que
consomem tempo e paciência, pas-
sando por mensagens, músicas, in-

74 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Luiz Edmundo Prestes Rosa

disponibilidade do serviço até se


chegar a alguém que deveria atender.

É importante lembrar que o verbo


atender tem dois sentidos muito dis-
tintos. Um que significa estar dis-
ponível, dar atenção e ouvir. Outro
que é dar solução e resolver. E, como
os atendentes geralmente estão pouco
preparados para lidar fora do roteiro,
o mais provável é que prevaleça o
primeiro quando isso ocorrer.

Um exemplo revolucionário na
área industrial é o novo modelo
de inovação da Procter &
Gamble, relatado na Harvard
Business Review, edição em
português, de março de 2006.

Ao inesperado a resposta mais fácil é


um não. Esta atitude encerra no ato o
diálogo, a reflexão e o aprendizado.
O cliente neste caso é um mero cor-
relato ou uma imagem comple-
mentar do processo em curso, ou seja,
ele só interessa quando se comporta
dentro dos parâmetros definidos.
Aquilo que poderia ser uma fonte de
descoberta e aprendizado para a em-
presa pode se perder.

Serei um bom cliente quando, dis-


ciplinadamente, fizer o que o meu
mestre mandar. Em outras palavras,
são empresas que recorrem a pro-
cessos que infantilizam o cliente e
o reduzem a uma condição de es-
colar, em fase de alfabetização.
Agir passivamente, aceitar as regras
do jogo como um bom menino são
comportamentos esperados.

Perguntar por que não pode, ou por


que não poderia ser diferente, será,

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 75


Inovação e fator humano

na prática, uma dupla inutilidade e um Simultaneamente, dois gerentes empresa que não reconheça a im-
desconforto para quem pergunta e para vão trabalhar em funções opera- portância da inovação. Ela é o tema
quem responde. Alguns diálogos são cionais, para observar “in loco” as da nossa era, do mundo competitivo,
verdadeiras conversas de surdos. Você reações dos clientes e dos colegas um imperativo dos clientes e dos
pergunta ou propõe o que quiser e o daquela área de trabalho e avaliar investidores. Estar aberto para
atendente sempre responde o que já as condições do atendimento. aprender é o primeiro passo. Depende
foi predefinido, independentemente da da cultura empresarial e do seu
relevância do tema exposto. No final da semana, o diretor da uni- direcionamento para inovar. Depende
dade reúne sua equipe gerencial para também de processos bem pensados
São modelos como este que carac- debater as propostas trazidas pelos dois que promovam e organizem o esforço
terizam o descaso pela inovação. colaboradores alocados na recepção coletivo para a inovação. Estes
e pelos dois gerentes que trabalharam processos precisam ser amigáveis,
na operação. Suas idéias são apre- simples e objetivos. Por exemplo,
EXEMPLOS sentadas em três blocos. O primeiro, quem der idéias e fizer propostas
INOVADORES para aquilo que pode ser feito de precisa receber resposta, se elas forem
imediato, seja uma melhoria ou uma aceitas ou não. Merece saber o
Acreditar que a inovação é o cami- inovação que crie uma nova forma de porquê e contar com mecanismos de
nho para a diferenciação compe- fazer e servir. O segundo, para aquilo valorização e reconhecimento, que
titiva da empresa implica uma fir- que poderá ser desenvolvido no futuro, até podem abrir ao autor a possibi-
me determinação na busca do desde que mais bem estudado. E, o lidade de participar do seu desen-
novo, em criar processos para ino- terceiro, para aquilo que, embora volvimento e dos resultados gerados.
var mais e melhor. pareça inviável, precisa ser analisado
e refletido pelo grupo, pois pode ser Quem souber aproveitar a força dos
Uma empresa de serviços, reco- motivo de aprendizado. talentos de todos os seus públicos
nhecida pela qualidade de seu aten- de interesse (stakeholders), criar re-
dimento e pela preferência de seus Um exemplo revolucionário na área des abertas para se conectar com
clientes, desenvolveu um método industrial é o novo modelo de ino- as mais diferentes fontes de ino-
muito criativo e eficaz de promover vação da Procter & Gamble, relatado vação, sem dúvida vai levar uma
a inovação. Em cada unidade opera- na Harvard Business Review, edição enorme vantagem competitiva.
cional, os seus colaboradores são em português, de março de 2006. A
estimulados a fazer o máximo pos- empresa desenvolveu uma estratégia A estratégia e a orquestração de
sível para melhor atender aos seus denominada Conectar e Desenvolver, todas essas ações passam, neces-
clientes, até mesmo quando suas baseada na gestão de redes globais, sariamente, pelas pessoas. Portanto,
solicitações se colocarem muito incluindo, por exemplo, empre- saber atrair, motivar, dialogar,
além do esperado. endedores tecnológicos, fornecedores aprender, comunicar e reconhecer
e empresas que fazem ponte com são questões essenciais que inovam
Além disso, numa demonstração universidades, laboratórios e centros e enriquecem as relações da em-
de compromisso e disciplina, de pesquisa, entre outras fontes. Elas presa com a sociedade. ESPM
semanalmente, dois colaboradores permitem expandir sua capacidade
são escolhidos para ficar na de inovar de maneira extraordinária.
recepção por onde passam os Inúmeras novas idéias e soluções
clientes, unicamente para per- podem ser consideradas, avaliadas e LUIZ EDMUNDO PRESTES ROSA
guntar-lhes como sentiram a expe- desenvolvidas, gerando hoje mais de Diretor Corporativo People da Accor na
riência que tiveram, que idéias 35% das inovações do grupo. América Latina; mestre em Psicologia Social
pela PUC-SP; especialização em
teriam para melhorar e como sua
Administração de Empresas pelo IMD, Suíça e
próxima visita poderia ser mais Concluindo, no mundo empresarial,
Insead, França.
agradável. é difícil imaginar a liderança de uma

76 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Como utilizar recursos disponíveis

COMO USAR RECURSOS


DISPONÍVEIS PARA GERAR

IDÉIAS
INO VADORAS
DO JARDIM DE THOMAS EDISON AOS LAPTOPS:
O PENSAMENTO INVENTIVO SISTEMÁTICO™.

78 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Amnon Levav e Orly Seagull

O renomado inventor Thomas A. Edison Poderia-se dizer que Edison estava )OEdison
renomado inventor Thomas A.
viveu numa casa que
viveu numa casa que possuía um explorando seus convidados para possuía um amplo jardim na
amplo jardim na frente com um portão bombear água para a sua banheira; frente com um portão de ferro.
Comenta-se que amigos que
de ferro. Comenta-se que amigos que porém, nós, da “SIT – Systematic In- vinham visitá-lo ficavam
vinham visitá-lo ficavam surpresos e ventive Thinking”, preferimos con- surpresos e aborrecidos ao
aborrecidos ao constatar que tinham siderar o portão de Edison como sendo constatar que tinham de empurrar
de empurrar o portão com força para uma invenção genial e um modelo o portão com força para abri-lo.
abri-lo. Não foram poucas as queixas do qual se pode tirar ensinamentos.
que fizeram a Edison, pedindo que con-
sertasse o velho portão; ele prometia A metodologia do Pensamento In- Edison sob este ângulo, classificamos
fazê-lo mas nunca cumpria. Foi só após ventivo Sistemático (Systematic a sua idéia como sendo uma Tarefa
seu falecimento, em idade avançada, Inventive Thinking), desenvolvida pela Unificadora (Task Unification). A
que veio ao conhecimento geral que empresa SIT Ltd., é um conjunto de Tarefa Unificadora é um dos cinco
o portão estava ligado a uma bomba e ferramentas cognitivas utilizado pelas padrões de raciocínio da SIT – o que
que cada vez que se abria, água estava empresas para gerar novas idéias de significa, em termos da SIT, dar uma
sendo bombeada para dentro da produtos, serviços e estratégias. nova tarefa adicional a um recurso pre-
banheira de Edison. Quando analisamos o exemplo de existente. Edison estava usando um ¯

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 79


Como utilizar recursos disponíveis

recurso disponível – con- solução. Neste caso, o recurso ideal


vidados abrindo o portão – são os alto-falantes do rádio do carro.
dando-lhes a tarefa adi- Em vez de instalar um dispositivo exter-
cional de bombear a á- no para providenciar um som de alta
gua para a sua banheira. qualidade, o telefone é conectado aos
Também se pode dizer alto-falantes, emitindo um som exce-
que ele estava usando um lente, e com baixo custo.
segundo recurso – o portão –
dando-lhe a tarefa de mobilizar A Tarefa Unificadora e os outros qua-
os convidados para a execução do tro padrões inovadores são empre-
bombeamento. gados na SIT como ferramenta de
pensamento para gerar idéias inova-
O universo da produção está cheio doras em vários campos. Exemplos
de exemplos que obedecem a este deste tipo podem ser encontrados,
padrão: o rádio walkman, por exem- também, no ramo publicitário. O se-
plo, não possui antena. Em lugar guinte exemplo mostra como a agên-
dela, o sinal recebido é conduzido cia de publicidade Foote Cone and
através de um recurso existente – o Belding, no Reino Unido, aplicou a
fio elétrico, que conecta o walkman Tarefa Unificadora para criar um único
aos fones de ouvido. painel (outdoor) publicitário.

Um outro produto menos conhe- Neste caso, o recurso ao qual foi dada
cido usa o conceito de Tarefa Uni- uma tarefa adicional foi, simples-
ficadora (Task Unification) para mente, o próprio painel: além de ser
solucionar um problema: telefones um meio de transmissão de men-
celulares, usados de modo a dei- sagem, serviu também como meio de
xar as mãos livres enquanto se solicitação de donativos aos sem-teto.
dirige, freqüentemente apresen- Mas a idéia publicitária é mais so-
tam um som de baixa qualidade. fisticada. O painel está recoberto de
Aplicando o conceito de Tarefa roupas e somente quando elas são
Unificadora, procuraríamos um re- removidas é que aparece a mensa-
curso já disponível no carro como gem (foto abaixo). Este painel se

) “Agora você sabe porque os sem-teto anseiam


desesperadamente em não passar frio”.

80 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Amnon Levav e Orly Seagull

)Arecurso.
dupla imagem utiliza outro tipo de
A ALMAP/BBDO, agência
paulistana, empregou o princípio de
Unificação de Tarefas ao atribuir uma
função suplementar às dobras de
páginas no meio das revistas, em
geral, para transmitir o recado de
maneira única.

refere, naturalmente, ao clima no Diet Pepsi. Esta é uma categoria es- através de outros computadores
Reino Unido, e seria ineficaz, por pecial de Unificação de Tarefas. A conectados à internet.
exemplo, no Brasil. Contrastando com Almap não somente usou os recursos
o exemplo exposto, vejamos a publi- disponíveis como extraiu vantagens Contrariamente ao caso dos visitantes
cidade que foi criada em São Paulo. de algo antes visto como inútil ou até enganados por Edison, o usuário do
mesmo prejudicial. laptop sabe que o computador está
A dupla imagem acima utiliza outro “roubando” a sua energia para
tipo de recurso. A ALMAP/BBDO, agên- Papéis duplos, como mostra este recarregar suas baterias. Mas fora isto,
cia paulistana, empregou o princípio de exemplo, são bastante comuns no o mesmo princípio está sendo
Unificação de Tarefas ao atribuir uma ramo da publicidade e, especial- aplicado em ambos os casos. Se seus
função suplementar às dobras de páginas mente, no lançamento de produtos. dedos estão transmitindo energia nas
no meio das revistas, em geral, para trans- Caracterizam o que se chama (ou teclas, por que não usar parte desta
mitir o recado de maneira única. costumava-se chamar) de “nova energia para recarregar as baterias?
economia”. Vejamos dois exemplos A mesma idéia fundamenta esta
A prega ou dobra à altura da costura em computação e em telecomunica- segunda inovação. Em vez de usar
da revista, que comumente é vista ções: primeiro o de um laptop cujas servidores ad hoc para armazenar
como um incômodo pelos diretores baterias são recarregadas na medida arquivos de downloads, a tecnologia
de arte e de publicidade em geral, em que o usuário digita, ou seja, P2P utiliza o espaço disponível em
ao invés de arruinar o visual do anún- aciona o teclado e, segundo, o Peer discos de outros computadores.
cio, permitiu servir-se do suposto “obs- to Peer (P2P), ou software que
táculo”, de modo a tirar vantagem e permite fazer downloads de vários Além de auxiliar no desenvolvimento
mostrar os resultados de quem toma tipos de dados (música, por exemplo), de produtos e como marketing de ¯

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 81


Como utilizar recursos disponíveis

comunicação, o princípio de Unifi- fundo, que permitia ser preenchido de pre-concebidos da maneira de pen-
cação de Tarefas geralmente aplica- água ou terra quando colocada no local sar, substituindo-os por outra pers-
se a soluções criativas de problemas definitivo, providenciando, desta forma, pectiva, inovadora.
técnicos. Um bom exemplo é a jar- o peso necessário para sua estabilidade.
dineira fabricada pela Rubbermaid. O A Unificação de Tarefas constitui um
problema a solucionar consistia no Ao inovar algo, aplicações adicio- dos cinco principais métodos da SIT.
seguinte: como criar uma jardineira nais nem sempre são fáceis de se A próxima etapa deste método inclui
suficientemente leve que permitisse obter. Quanto de tempo não um conjunto de princípios que
ser transportada de um lugar ao outro perdemos procurando alhures o permite ao usuário utilizá-los para
e, ao mesmo tempo, que fosse está- que, muitas vezes, está na ponta novos fins. A SIT desenvolveu, tam-
vel o suficiente para resisitr a ventos do nariz? Essa é a essência do bém, novas técnicas de adaptação
violentos? A solução foi simples. Usan- princípio de Unificação de Tarefas. que visam fomentar a criatividade. Na
do os recursos preexistentes de que Não é preciso dar um passo além, última década, foram usadas em
dispunha, a Rubbermaid aplicou os sequer, para alcançar os nossos projetos inovadores em mais de 500
princípios desenvlovidos num work- propósitos. O que se tem é exa- empresas estabelecidas em 42 países,
shop da SIT. Projetaram a jardineira tamente o que se busca, contanto dentre elas a Bayer, Ford, Johnson&-
com um compartimento especial no que se consiga romper os padrões Johnson, Kodak, Nestlé, Philips e a
Rubbermaid. Estes projetos focalizam-
se no aperfeiçoamento da criati-

) Além de auxiliar no desenvolvimento de produtos e como


marketing de comunicação, o princípio de Unificação de Tarefas
vadade organizacional, no desen-
volvimento de novos produtos, em
geralmente aplica-se a soluções criativas de problemas técnicos.
soluções tecnológicas e em estra-
tégias para definir novos meios de
comunicação de marketing.

A SIT tomou por base o trabalho dos


doutores Jacob Goldenberg e Roni
Horowitz, que pesquisaram exaus-
tivamente os parâmetros traçados pelo
engenheiro russo Genrich Altschuller.
Altschuller e seus alunos analisaram
milhares de invenções conhecidas e
outras tantas inovadoras, efetuando um
estudo dos princípios subjacentes. Além
disso, o Pensamento Inventvo Siste-
mático ampara-se na lógica básica de
centenas de produtos inovadores e
soluções. Para maiores informações
sobre a metodologia da SIT e a em-
presa propriamente dita, visite a página
http://www.sitsite.com. ESPM

Amnon Levav
Diretor executivo SIT Ltd.
ORLY , SEGULL
Conselheiro e gerente de contas SIT Ltd.

82 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Eles inovaram

ELESINOVAR AM
E CONTINUAM INOVANDO

(1) a sócia-dirzadetoa raemdeinoumvaça ãoem; - (7) a ãoprodefessora responsável pela


cursos de empreende-
presa especiali introduç
no Paraná;
dorismo de nível médio
(2) o presidenventedasdo viaSubm arino –

U
ma das dificuldades de encontrar internet no
inovadores é que nem sempre primeiro site de (8) um prodígjúriio bradosileiro em internet,
s Cyber Lions em
estão em evidência – pois estão Brasil; que presidiu o
trabalha em S.
Cannes, no ano passado e
às voltas com coisas novas, às
vezes pouco conhecidas. Diante
(3) o diretor,acinoonBraalsil,codem um a orga-
o objetivo Francisco (EUA);
nização intern
da dificuldade de seleção, a dorismo em
de promover o empreende
Revista da ESPM recorreu a 30
países em desenvolvim
ento; (9) o diretor deenum a empresa espe-
tretenimento para
pessoas sábias, os membros da sua cializada em
Assembléia Geral de Associados e (4) o inventor de um
ral
sist
me
em
nte
a de
ba
a-
sea-
celular; e
perguntou: você conhece alguém quecimento solar lite
que esteja, no Brasil, neste do em material encontr
ado no lixo; (10) um professor especializad
ão.
o

em criatividade e inovaç
momento, inovando em algum
setor importante?
(5) o profission al de pla nej am ento que
o sistema de
implantou, na JWT Brasil,
Fotos: Arquivo

co-criatividade; da
Entre muitas indicações recebidas, ra as entrevistas, apren
eciais Confi
Claudia Penteado localizou e entre- (6) o diretor de projetos esp
ck – líder em intern et; e inspire-s
e com os case-histories.
vistou dez: da Agência Cli

84 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Claudia Penteado

CLAUDIA GIUNTA al Pessoal


Diretora da empresa Capit ão
– especializada em inovaç
.br
www.capitalpessoal.com

1. O que você está


fazendo de inovador?
eida, começamos a
Eu e minha sócia, Rita Alm
resa de inteligência e
Capital Pessoal – uma emp
s. Não há nenhuma
inovação – há 7 semana
Brasil, pois, além de
empresa como a nossa no
pes qui sa, bra ndi ng e
atu ar em áre as com o sas da Internet,
s estratégias execu- Trabalhamos com endereça a uma das promes
tendências, nós produzimo autênticos o tempo todo. cad a um navegasse por
nossos clientes. especialistas nas que seria permitir que
táveis para as marcas dos talentos complem entares:
seu gos to e perfil.
m-se de acordo páginas que refletissem
diversas disciplinas agrupa , com eça mos a atender
são Com o Meu Submarino
2. Em que seus serviços com a necessidade do pro
jeto para chegar a
alho , con tudo, não
únicos? vo para as marcas a esta promessa. O trab
um estudo único e exclusi çam os a versão beta
termina de imediato. Lan
dos nossos clientes. jane iro, já atu alizada
Entendemos melhor o clie
nte, através de do Meu Submarino em
rsos clie nte s e temos
observação, análise do mer cado, pesquisa, e vocês com sugestões de dive
3. Quais os resultados qu um pro ces so de
idor , a marca e o consciência de que será
insights sobre o consum esperam alcançar? o e ape rfeiçoa ndo
target através de uma met odo logia própria. alguns anos, aprendend
ender nossos
Inteligência e inovaçã o são a nossa insight do consumidor nossa capacidade de ent
Planejamento diferente +
so de trab alho. Inovar é co = res ulta do sur- clientes.
plataforma, o proces + pos icio nam ent o úni
fren te, pen sar em coisas ren cia das que co-
mover as coisas pra pre end ent e! Ma rca s dife
novas, interessantes, pro voc ativ as, per- maiores margens para 2. Como está sendo
mandam premium price e implementada a idéia?
s, inte lige ntes. Nosso
turbadoras, envolvente os nossos clientes.
stan te ebu lição, é um
escritório está em con www.capitalpessoal.com
.br ino, temos uma
que nos per mite ser Por trás do Meu Submar
território sem regras os e ferramentas
estrutura de banco de dad
as ofertas
estatísticas que determinam
idas nas páginas.
personalizadas a serem exib
rad o pelas equipes de
FERREIRA O projeto está sendo lide
FLAVIO BENICIO JANSEN – primeiro do Sub mar ino.
Presidente do Su bm arino marketing e de tecnologia
et no Brasil
site de vendas via intern ados?
www.submarino.co m. br 3. Quais serão os result

1. O que você está erado é um aumento


O principal resultado esp
fazendo de inovador? clientes, ao navegar
da satisfação de nossos
eiros resultados são
pelo Submarino. Os prim
olvendo um projeto diversos e-mails de
O Submarino está desenv animadores; recebe mos
ador, chamado de a iniciativa como
que consideramos bem inov clientes não só elogiando
ina personalizada, horias. Essas
Meu Submarino. É uma pág dando sugestões para mel
com pras anteriores valor especial,
com ofertas baseadas nas sugestões – para nós – têm
é individualizada; pessoas têm gostado
de cada pessoa. A página pois demonstram que as
s no Sub marino tem
cada cliente com compra
iniciativa se desta nova área do site. ¯
suas ofertas especiais. Esta

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 85


Eles inovaram

JOSÉ ALCINO ALANO


Inventor de um sistema
de aquecimento solar
literalmente baseado em
material encontrado no
lixo
http://josealcinoalano.
vilabol.uol.com.br/
manual.htm

1. O que você está


fazendo de inovador?

Acredito em projetos que envolvem a comunidade, onde ela participa


diretamente na busca de soluções. Um dos mais graves problemas
os dos atuais é o lixo. Aquecer a água com o sol, também, não é nenhuma
diretamente nos resultad
dores apo iados – virão, em parte, novidade, há bons sistemas de aquecedor solar no mercado, porém não
empreende
o doação de parte são acessíveis a todos, devido ao fator econômico. Mas um aquecedor
de volta à Endeavor com
pelas empresas. solar com descartáveis tem baixo custo, é simples de construção/
dos dividendos gerados
abrir um escritório instalação, tornando-o disponível a todos, pois os materiais são garrafas
Além disso, a iniciativa de
inovadora do grupo PET, caixas Tetra Pak (lixo) e tubos e conexões em PVC.
regional é uma iniciativa
huma outra das 6
Endeavor. Não existe nen
do (AFS, 2. Como você está implementando a sua idéia?
Endeavors no resto do mun
Unidos, México e
Argentina, Chile, Estados
O primeiro passo foi patenteá-lo, já que o objetivo era de disponibilizá-lo
Uruguai).
para domínio público e não queria correr o risco de ver isso feito por outra
HÉLIO MATA MACHADO
ndo pessoa, pois haveria restrições comerciais ao uso coletivo do projeto.
2. Como está implementa
avo r do Com o apoio e envolvimento da minha mulher, Lizete, filhos e de toda a
Diretor do Instituto Ende a idéia?
o
Brasil – uma organizaçã rativos, família, vimos que só através de parcerias seria possível implantar o
internacional sem fins luc nos da A Endeavor já é uma realidade. Temos projeto – em creches, asilos, escolas, casas populares, etc. Ficamos
alu
criada em 1997 por ex- empreendedores selecion
ados em todo o sensibilizados com o envolvimento de tantos amigos, clubes de serviços
rvard, co mo
Universidade Ha Brasil e, em breve, complet
aremos 6 anos e de empresas – como a parceria com a CELESC – Centrais Elétricas de
objetivo de promover o íses em Santa Catarina S.A. Eles comprometeram-se – através da área de
empreendedorismo em pa de atuação!
responsabilidade social – a envolver no projeto as suas 16 regionais em
desenvolvimen to.
ultados?
3. Quais têm sido os res
todo o estado. Outra parceria foi com a Tractebel Energia. Com o Rotary
www.endeavor.org.br
Club de Cidade Azul, implantamos um grande aquecedor na Comissão
ses 6 anos de Municipal do Bem Estar do Menor de Tubarão, entidade que atende a
1. O que você está Os melhores possíveis. Nes
fazendo de inovador? dores apoiados e cerca de 300 menores carentes, onde recebem apoio, carinho e dignidade.
Brasil, temos 65 empreende
tfólio. São mais Nesses projetos – inclusive nas parcerias – não tive nem terei qualquer
reendedores 39 empresas em nosso por
men te, ajud amo s emp endedores participação financeira.
Primeira de 1.000 empresas/empre
era r obs táculos do
de alto pot enc ial a sup quais 3, em média,
cando-os analisados por ano, dos
dia-a-d ia de seu s neg ócio s colo um de nossos 3. Quais têm sido os resultados?
ntários são aprovados em cada
tato com men tore s volu ção – em março e
em con painéis semestrais de sele
side nte s, diretores, Superaram as expectativas, pois não imaginava conseguir divulgar e
(preside nte s, vice -pre temos o objetivo de
soas que não setembro. Para o futuro,
dos , inve stid ore s), pes ndimentos demonstrar que um projeto tão simples poderia dar uma contribuição –
advoga gerar exemplos de empree
m ser ace ssa das por eles sem a vez mais pessoas mesmo pequena – nas questões ambientais e sociais. É cedo para fazer
poderia capazes de motivar cada
ajud a. Dep ois, tem os um modelo de , sempre uma previsão, mas se depender de força de vontade e entusiasmo –
nossa a abrir seu próprio negócio
tab ilida de, bas ead o na participação se buscar nosso e das parcerias – ainda faremos muito, e não só com o aquecedor
susten rçando a necessidade de
dor es apoiados. Isto refo solar, mas com outros excelentes projetos, de terceiros, que merecem
ativa des ses emp ree nde tod o tempo – e
o
os resultados oportunidades e inovação
ant e que , em bre ve, l. ser divulgados e implantados. Gostaria de agradecer a todas as pessoas
nos gar sendo o mais ético possíve
s pelo nos so trab alho – refletidos que entendem os nossos objetivos, em especial a imprensa, que sempre
gerado
nos tratou com muito carinho. Não buscamos promoção pessoal, mas
estamos cansados de esperar pelas ações dos que têm o poder de
reverter – ou pelo menos amenizar – o quadro de degradação ambiental
e social em que vivemos e que, na nossa opinião, são os principais
86 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006 geradores da violência.
Claudia Penteado

irador, mas
desenvolver um brief insp
eiras idéias,
também estimular as prim
as, trazer a
trazer referências inusitad
a linguagem dos
realidade do cliente para
job mais
criativos, enfim, tornar o
O integrador
tranqüilo para ser realizado.
a estratégia
vai além. Ele garante que
iplinas. E
seja aplicada em várias disc
eita da por
que a estratégia seja resp
as
todas elas, que as disciplin
seja, MARCELO SANT´IAGO
“conversem” entre si. Ou ais da
ambiente Diretor de Projetos Especi do IAB –
idealmente, ele constrói um Agência Click e presidente
KEN FUJIOKA que era, reau – no
Diretor de planejamento de
da J. propício a transformar o Interactive Advertising Bu
Brasil, on de criação num
Walter Th om ps on antigamente, uma dupla Brasil.
br
im plantou o sistem a de co-
grande time de criação –
que pode reunir www.agencia click .com.
ia, internet, iabbrasil.org.b r
criatividade gente de propaganda, míd www.
www.jwt.com.br promoção, mas também
mú sica, design,

arquitetura, tudo o que pos


sa agregar 1. O que você está
1. O que você está sendo valor real para o trabalho
. fazendo de inovador?
feito de inovador?
ncia brasileira 100%
Trabalho na primeira agê
mais inovador 3. Quais os resultados Per for ma nce : a
O que está sendo feito de vol tad a ao Ma rke ting
de
J. Walter alcançados? m.br.
em minha área – aqui na MídiaClick – www.midia
click.co
– não se refe re somente à
Thompson diatos. O
Os resultados foram ime
Co- ndo
minha área: é a prática da
sformar planejament o con seg uiu contribuir para 2. Como está implementa
sign ifica tran
Criatividade . Isso
que as estratégias de com
unicação a sua idéia?
em
todas as áreas da agência vida além da pro paganda
ganhassem
qua lida de do produto de pub lici tár ios ,
responsáve is pela
num prazo curtíssimo, de
forma Mo nta mo s um a equ ipe
criativo, e não só o setor
de criação. ais de ma rke ting ,
integrada. Além diss o, os profissionais eng enh eiro s e pro fiss ion
sa que tra bal ha
de planejamento que exe
rcitarem esse cria ndo um a em pre
Co mo iss o est á sen do has baseadas em
2.
papel integrador e as hab
ilidades exclusivamente em campan
implementado? lide ran ça cer tamente se resultados. Estamos capacit
ando profissionais,
específicas de
cria ndo sol uçõ es
uma agência, tornarão muito mais do que
simples firm and o par cer ias e
O Planejamento, dentro de r clie nte s com
papéis, em planejadore s de com unic açã o: serão exc lus iva s par a ate nde
pode desempenhar vários e mensuráveis, seja
de assessor de líderes estratégicos, cad
a vez mais necessidades objetivas
diferentes momentos: o idos, propostas, etc.
s,
or de negócio valorizados nas agê ncia s e nas de aumentar vendas, ped
comunicação, o de consult tfól io com ple to de
jetos... Dentre empresas. Rea liza r isso em um ano – Des env olv em os um por
o de coordenador de pro e médias empresas,
damentais numa agência de quase
80 anos, como a soluções para pequenas
esses, há dois que são fun anunciantes. Nosso
aconteça, com JWT – é uma revolução.
Porque, hoje, bem como para grandes
para que a co-Criatividade el, preparado para
o de planejador não adianta ficar tentan
do interromper o modelo é altamente escaláv
a ajuda do planejamento: simultaneamente, em
O planejador consumidor com as nossas
marcas: atender diversos clientes
criativo e o de integrador. ta duração.
coloca como importa é fazer com que
as marcas campanhas táticas, de cur
criativo é aquele que se com as quais as
seja: quando passem a ser cois as
parceiro dos criativos. Ou ultados?
la de criação pessoas se interessam em
compartilhar 3. Quais têm sido os res
ele põe esse chapéu, a dup so trabalho.
deve não só o seu tempo. Esse é o nos
se transforma num trio. Ele Esp era mo s um cre scim
ent o ráp ido . Nos sa
mês, mas a equipe
empresa foi lançada há um
meses. Até o final
estará duplicada em dois
do a mais de uma
deste ano, teremos atendi
centena de clientes. ¯ 87
M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM
Eles inovaram

numa empresa, com seus gerentes e diretores da comunidade, que optaram por cursar o
buscando resultados. Formação de empre- ensino médio numa escola de vanguarda. Essa
endedores é coisa muito séria e procu- mistura de origens é interessante e, ao mesmo
rávamos fazer com que o nosso aluno fosse tempo, fundamental para o sucesso da escola
criativo, autônomo, audacioso, ousado e porque coloca na mesma sala o filho do dono,
inovador – qualidades que formam a base do trabalhando com o filho do operário da em-
espírito empreendedor. Buscamos apoio em presa, discutindo e procurando encontrar
entidades como o SEBRAE (Programa de soluções para problemas que afligem a todos
Talentos Empreendedores) e a Associação – porque somos todos cidadãos responsáveis
Junior Achievement (projetos de mini- pela melhoria de nosso país e de nosso
MARCIA RIGON empresa, economia pessoal e Mese). Essas mundo. O Colégio SESI – assim denominado
Professora – introdutora de parcerias foram importantes, porque – tem uma parceria com o SENAI, que qualifica
cursos de empreendedorismo no
despertavam também nos professores uma os alunos no ensino profissionalizante. Com
nível médio
www.sesipr.org.br/educacao/ postura empreendedora. Em 1996, criamos o sucesso das duas primeiras unidades –
colegiosesi as oficinas de aprendizagem – um novo olhar medido pela satisfação dos alunos, pelos
sobre a sala de aula – e patenteamos esta resultados apresentados e pelo desafio
nova abordagem (ou metodologia) junto ao permanente aos professores, ao lidar com
1. O que você está Ministério da Educação – na Biblioteca esta nova abordagem – surgiram mais seis
fazendo de inovador? Nacional, como direito de Propriedade unidades, e hoje são oito os Colégios SESI no
Intelectual. Paraná. Na próxima semana será implantada
Como professores, somos responsáveis por a nona unidade, em Guarapuava.
fazer os alunos descobrir o prazer de aprender 2. E aí?
e descobrir coisas, para que seu mundo se 3. E os resultados?
alargue. Sempre trabalhei em sala de aula No ano 2000, tivemos de fechar a escola –
visando ao sucesso dos meus alunos. Acho sonho dos alunos e professores – por ques- O sucesso desta inovação pode ser medido
que inovei em educação porque olho o meu tões financeiras. Mas, em 2004, fui convi- de muitas formas. A mais importante é em
aluno como alguém com muitos caminhos a dada pelo Dr. Rodrigo da Rocha Loures, relação aos alunos: onde quer que se
escolher. Em 1991, tive a oportunidade de criar presidente da Federação das Indústrias do apresentem, fazem diferença. Os alunos de
uma escola cujo foco de trabalho era o Estado do Paraná – que conhecia o nosso Montenegro, por exemplo, estão em vários
empreendedorismo. Falar em emprende- trabalho – a apresentar um projeto de escola lugares do mundo – tenho contato com muitos
dorismo, naquela época, em Montenegro – uma ao SESI Paraná. Ele foi recebido como uma deles – fazendo diferentes coisas que sempre
cidade do Rio Grande do Sul, com menos de 60 proposta inovadora e arrojada, que atendia foram iguais. Eles são os melhores em
mil habitantes – parecia complicado. As ao projeto de desenvolvimento previsto pela desenvolvimento de estratégias, são os
pessoas nem conheciam o termo – não estava diretoria da federação. Assim partimos para melhores em negociação, são ótimos na
na moda – achavam que emprendedorismo um novo projeto voltado para a formação de criação de empresas. Vários deles, hoje com
era a criação de empresas. Implantamos a jovens empreendedores no Paraná – jovens 25, 26 anos, têm seu próprio negócio ou
filosofia de “formar seres empreendedores, que que possam fazer a diferença nas relações ampliaram os negócios da família. Nas
possam implementar mudanças de sucesso”. de trabalho, que saibam ser parceiros antes universidades, conquistaram láureas e
Introduzimos disciplinas fundamentais para o de ser empregados, e que queiram ser menções em grau maior do que qualquer outra
desenvolvimento do ser integral, como filosofia, criadores, em vez de meros reprodutores das escola. Nas residências médicas, ocupam
sociologia e psicologia, em todas as séries de idéias alheias, gerando a nova mentalidade os primeiros lugares. Em multinacionais,
ensino médio. Os alunos trabalhavam em de um brasileiro mais cidadão e mais temos alunos com menos de 30 anos que já
equipes e as disciplinas eram vistas de forma participativo. Começamos o projeto em duas são gerentes de grandes projetos. Quanto
transdisciplinar. Todos estavam envolvidos com escolas-piloto: uma na Cidade Industrial de aos professores também houve diferenças:
uma questão, que devia ser resolvida durante Curitiba – e outra em São José dos Pinhais. eles posicionam-se como gerentes de
o bimestre; o foco era a busca de soluções Essas escolas recebem alunos de diversos resultados, mudando o enfoque da sala de
para um problema determinado. A sala era setores: indicados por empresas, filhos de aula e resgatando o próprio valor profissional.
organizada de forma que todos pudessem funcionários do Sistema FIEPr, alunos de E a comunidade e os pais agradecem:
desenvolver as suas habilidades: cada um programas sociais de empresas, alunos de resgatamos o prazer de aprender na escola e
exercia o seu papel na equipe, como se fosse projetos do SESI e do SENAI e demais alunos despertamos o empreender.

88 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Claudia Penteado
formação, é um desafio ainda maior.
Não há pesquisas comparativas ou
análises empíricas que possam ser
realizadas – e uma grande dose de
aposta e risco deve ser considerada.

Os estudos devem focar em conhecer


profundamente os mercados envolvidos,
suas tendências de evolução e, prin-
2. Como você cipalmente, os clientes potenciais. O
está implementando processo de inovação na nTime ocorre
a sua idéia? de forma constante e objetiva: a cada
RAFAEL DUTTON ano temos o desafio de criar um grande
convencer
Principalmente tentando Diretor da nTime, empresa de novo produto (inovação radical) – algo
s nov a de que não há
a galera mai entretenimento para celular efetivamente único em nosso mercado
uro so em sim ples mente focada em inovação – criada
nada de glam – e inovações graduais em todos os
tod o mun do tem feito. na Incubadora de Empresas
repetir o que produtos lançados. Acredito que esta-
Que não é bac ana faze r um por tfólio da PUC e estimulada pela
mos atingindo esse objetivo com
ncio s e que o futu ro Endeavor
de meros anú sucesso até agora, e, no momento, es-
idéi as que pos sam www. ntime .com.br
deles será feito de tou estruturando uma equipe de 3 a 4
Por causa
viver em qualquer mídia. 1. O que você está pessoas para trabalhar comigo ex-
pelo men os uma vez
disso, eu vou fazendo de inovador? clusivamente nesta atividade. Realiza-
PJ PEREIRA imp ortante,
QA ola
Diretor de Criação da AK por mês a um a esc mos constantes pesquisas nestes 4
(EU A). Fo i dan tes de pro-
em S. Francisco r
para falar aos estu A atuação da nTime está totalmente ligada segmentos e em reuniões de brainstorm
presiden te do júr i de Cy be paganda, mos tran do que bob agem
à inovação. Somos uma mistura de 4 dos levantamos as possibilidades de cria-
Lio ns no Fes tiv al de estão fazendo qua ndo mos tram suas
no setores mais promissores da economia ções que vislumbramos. Em seguida,
Publicidade de Cannes, pastas só com cois as imp res sas.
mundial: telecomunicações, computação estas são confrontadas com os resul-
ano passado Além disso, com o um a açã o mai or,
(tendo à frente a internet), entretenimento tados de estudos de inteligência de
www.akqa.com – com o pes soa l da AKQ A
eu montei e mídia. A procura por um novo segmento mercado, análise de concorrência e perfil
so inte rna cion al de estu -
– um concur
1. O que você está e nós vam os apr ese nta r,
de mercado – ou, como sugerido no de potenciais usuários para então che-
dantes, ond
fazendo de inovador? dad e, em
recente sucesso literário, por um Oceano garmos a protótipos de novos produtos
no fes tiva l da pub lici Azul – talvez seja a maior comprovação ou novas funcionalidades.
de os fut uro s tale nto s da
Ino vaç ão, na nos sa áre
a, vem Can nes , deste conceito de Inovação. Trata-se da
com cab eça propagand a inte rna cion al.
idéias. Idéias vêm de gente exploração de uma oportunidade genuína, 3. Quais têm sido
O que esto u fazendo é investir de um novo mercado, novos clientes e de os resultados?
fresca.
para descobrir gente nova
e fazer essa 3. Quais serão os um novo desejo para as pessoas. Nos
o dife ren te. resultados?
galera pensar de um jeit últimos 4/5 anos esta foi a principal busca Em cinco anos, a empresa lançou pelo
trante visi tar menos três produtos que podem ser
Digo isso porque é frus mostrando
a que me dediquei, e a criação constante
alho de uma turma Queria ver essa garotada de novos produtos para este mercado considerados (não apenas pos nós, mas
escolas , olhar o trab ente não
pastas que eu sim ple sm
anos e não
de gente entre 18 e 25 . Nem ning uém mais mantém crescente esta atividade. pelo mercado) como únicos e com-
novo, só um pudesse ter feito
achar nada de realmente Por que nós não
pletamente inovadores. Estes produtos
a! Garanto velho do que eu. 2. Como você está
monte de anúncios. Caramb que eles vivem.
permanecem em ritmo de crescimento,
s tempo com vivemos o mundo implementando a sua idéia?
que essa turma passa mai que eles sab em. Se não só de novos clientes, mas de uso –
ista. Mais Não sabemos o
o celular do que lendo rev r um ped ido par a por parte dos já conquistados. O desafio
videogame eu pudesse faze
tempo no computador e no pad a, que ria que Pesquisando novas tendências dentro que nos impusemos exige um com-
s eles conti- um gênio da lâm destes 4 segmentos. Fazendo conexões
que assistindo a TV. Ma abrir uma
promisso de concentração e objetividade
iar o que nunca mais tivesse que
nua m obc eca dos em cop fiss ion al jov em e
distintas entre suas principais novidades, constantes. Por isso estamos estruturando
anteriores pas ta de pro
acham que as gerações ncio s...
para criar novos produtos que gerem uma área de Inovação, com a função não
. É mais ou encontrar só anú
fazem melhor do que eles desejo e sejam atrativos para milhões de só de gerar novas idéias, mas como
tive sse m
menos como se todos eles pessoas. Sob o aspecto prático, criei – catalisadora de toda a empresa. Já são
ds rec hea dos com músicas na nTime – vários produtos para este três pessoas, na área, e estamos
seus iPo
s nada! mercado, popularmente conhecido como
de Frank Sinatra – e mai desenvolvendo três grandes projetos com
“Internet Móvel”, e que atendem hoje a características de inovação radical para o
mais de 5 milhões de usuários. Criar início do próximo ano. Os resultados
produtos, naturalmente, não é uma tarefa esperados são: mais usuários e mais
simples – e, num mercado ainda em
M A I O / J U N H O D E
receitas.¯
2006 – REVISTA DA ESPM 89
Eles inovaram

controle remoto (muito bem aceito para televisão,


mas não tão bem aceito para outras situações –

Caricaturista: Victor Riquelme


demonstrando que cada caso é um caso em se
tratando de aplicação de P & D).

A 3 a fase, identificação do problema real, resu-


midamente: “pior do que estar em um con-
gestionamento é estar no congestionamento errado”.
É interessante notar como empresas investem seu
tempo e dinheiro tentando resolver problemas que
não são os reais problemas a serem resolvidos.
RUI SANTO
Professor de Criatividade e Inovação
Na 4a fase – técnicas de criatividade – desenvolvi
ruisanto@uol.com.br
outras ferramentas, entre as quais, poderia mencionar:
1. O que você está “técnica dos 5 sentidos – uma bússola para a
fazendo de inovador? criatividade”, “técnica de adicionar adjetivos” e a
“técnica de recordação” – que mostra que se um
Com base nos conceitos existentes, acabei desenvolvendo produto não deixar pegadas, o cliente pode não recordar
um novo processo criativo, e com maior amplitude. sua marca e não voltar a comprá-la, isto é, relembrar
o cliente, na hora e no local que ele possa vir a sentir
Compõe-se de 5 fases: desbloqueio da mente, desen- a necessidade de seu produto e serviço. São muitos
volvimento da percepção, identificação do problema real, os produtos e serviços que “parecem” querer que o
técnicas de criatividade e, por fim, escolha/intuição/ação. cliente os esqueça.
Vamos a elas:
Por fim, na última fase, demonstramos a necessidade
a
1 fase: para desbloquear as nossas condições emocionais, do fortalecimento da intuição. Embora haja muita lógica
minha ferramenta é inspirada em Hermes Trimegisto (2.700 em certas decisões, mais cedo ou mais tarde vamos
anos a.C.). Ele incentiva o encontro de palavras que nos topar com uma bifurcação (quando não for trifurcação)
tirem do estado emocional negativo, caminhando em direção em que qualquer caminho é excelente, mas temos
à neutralização (e não imediatamente ao estado positivo). que escolher apenas um!
Essa é uma característica curiosa dos líderes. Por mais
negativa que a situação esteja, encontram alguma palavra 2. E os resultados?
para manter o grupo caminhando.
Os resultados têm sido altamente positivos. Os par-
a
Na 2 fase – percepção, a que considero mais importante, ticipantes conseguem compreender que criatividade
pois sinaliza a tendência para inovações, presente desde o pode ser desenvolvida e praticada de forma inteligível,
Homem de Neanderthal (quando ainda não havia questões com seriedade, mas sem formalidade. Criatividade não
de preço e qualidade), e se perpetua até hoje, como uma pode continuar sendo tratada como diversão. Ao
condição humana. Essa ferramenta explica, por exemplo, contrário, é um tema muito sério e difícil. Diria que é o
por que produtos como telefone celular global, Vaporeto – tema mais difícil que conheço. Ele está presente nas
limpeza através do vapor – e enchimento de pneus com salas de reunião da alta gerência e na diretoria das
nitrogênio, não tiveram o resultado esperado, da mesma empresas, seja lá de que tamanho for. Mas criatividade
maneira que justifica nossa aceitação a Internet (com todos só tem porta de entrada: é difícil livrar-se desse vírus
os seus problemas) a lâmina de barbear descartável e o fantástico. O processo não pára, felizmente. ESPM

90 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Publicitário brasileiro na Romênia

AS AVENTURAS E DESVENTURAS DE UM

PUBLICITÁRIO
BRASILEIRO O ANO DO GALO

2005 foi um ano de novidades. No ano do Galo, no horóscopo chinês, a


Mercury – agência que trabalhei nos últimos dois anos como diretor de
criação em Bucareste – ganhou várias concorrências, muitas delas re-
lacionadas a projetos da Comunidade Européia e do governo romeno.
Outros são uma parceria entre ambos, o que somente duplica a dor de
cabeça, já que estes clientes são extremamente burocráticos e desa-
costumados com os vaivém da publicidade.

De todas as campanhas realizadas – a primeira de proteção à criança, por


exemplo, está na lista, além de campanhas de incentivo a produtores
rurais e outra enfocando os investimentos na Comunidade Européia no
país – a que teve capítulos mais bizarros, hilários e interessantes foi a que
enfocou o combate à evasão fiscal. Os motivos? Vários e alguns deles
estão descritos aqui. Distractie placuta! (divirta-se, em romeno)

92 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Darlan Moraes Junior

NA ROMÊNIA
A PRIMEIRA CAMPANHA
CONTRA A EVASÃO
FISCAL DA ROMÊNIA

Tudo começou com um fax sobre a minha mesa – um convite para uma
concorrência. Depois de afinar o briefing com o atendimento, botei meu
time para correr e apresentar idéias.

O briefing era simples: alertar a população romena – desde os mais ricos e


bem estudados até os cidadãos de baixa renda sem diploma, incluindo os
habitantes da área urbana até a mais remota área rural – de que evasão
fiscal dá cadeia. Em um país dominado por um sistema extremamente
corrupto em quase todas as áreas – mais ou menos a la Terra Brasilis – a
tarefa não era fácil. A mensagem teria de ser suficientemente abrangente,
clara e direta para que não houvesse dúvidas no seu conteúdo. Resumindo
em três palavras, seria como dizer: sonegou? Então dançou. ¯

Agência de publicidade: Mercury, Bucareste, Romênia


COMERCIAL
Cliente: Agência Romena de Assuntos Estratégicos Diretor: Darlan Moraes Junior
MÍDIA IMPRESSA: Diretor de Fotografia: Alexander Surkala
Fotógrafo: Dragan Dragin Produtor: Tomas Karas 93
M A I O / J U N H O D E 2 0 0 6 – R E V I S T A D A E S P M
Diretor
Dir etor de Criação: Darlan Moraes Jr. Editor: Michal Lansky
Redatora: Silvia Gheorghe Produtora: Forward International – Praga, República Tcheca
Diretor de Arte: Dragos Gheorghiu Pós-produção e som: Musitech – Bucareste, Romênia
Publicitário brasileiro na Romênia

Apresentadas as idéias ao cliente protetor em suas costas. A câmera


FAZER OU
(Agência de Assuntos Estratégicos se aproxima e passa do dengo da
NÃO FAZER? EIS
da Romênia) e passadas algumas mão da gata para a mão de um
A QUESTÃO.
semanas, outro fax chega a minha policial que bruscamente está
mesa. Concorrência ganha. Maiores Mas a novela estava só por começar. acordando o elemento. Na verdade
detalhes com fulana de tal no Não se pode simplesmente falar não ele estava literalmente sonhando
número x. à Agência de Assuntos Estratégicos com um mundo que ele viveu há
da Romênia! Muitas perguntas sur- pouco tempo. O sonho se tornou
Fui até a mesa do diretor geral da giriam: “Por que não? A sua agência pesadelo – ele foi preso por evasão
agência com um belo sorriso no tem alguma coisa a esconder? Vocês fiscal e pode ficar em cana por até
rosto. Afinal iríamos desenvolver estão em dia com o fisco? Utilizam- 18 anos. Na prisão – depois de o
a primeira campanha contra a se de artimanhas maquiavélicas policial acordá-lo do sonho que um
evasão fiscal do país, após a der- como paraísos fiscais? Pagam bola?” dia foi realidade – ele caminha
rocada do comunismo (naquela Além destas havia um sério risco de pelos corredores, algemado e se
época não era preciso nenhuma não podermos nunca mais realizar dirigindo para realizar incômodas
comunicação deste tipo porque nenhuma campanha para o governo, tarefas como lavar privadas ou
não havia imposto de renda). influenciando ainda o desfecho de esfregar o chão. O comercial ter-
Incrédulo, ele leu o fax olhando outras que estávamos desenvolvendo mina com a seguinte frase: Plateste
para mim sem saber o que dizer. para o governo e a comunidade cu bani, nu cu ani. Em português ‘Pa-
européia. Mas antes de seguir em gue (os seus impostos) com dinheiro
Como não estava entendendo o seu frente, entenda primeiro a idéia do e não com anos (da sua vida)’.
desapontamento, perguntei o que comercial.
estava acontecendo. Ele me disse Acredito que esta idéia poderia ser
com muita calma que uma cam- O filme começa em alto-mar, on- usada em diversos países, já que u-
panha como esta poderia colocar de se vê um iate de luxo em alta tiliza uma linguagem universal. In-
a agência em uma posição muito velocidade. Ele está sendo dirigido clusive se alguém aí no Brasil estiver
incômoda, pois era fato consumado por um cidadão vestido como o interessado em veicular a campanha,
que uma série de agências no país típico malandrão: pulseiras, cor- é só escrever um e-mail...
– tanto locais como internacionais rente e relógio de ouro, uma ca-
– eram sonegadoras de imposto, misa aberta, de gosto duvidoso,
além de uma série de outros mostrando os caríssimos badu- ITÁLIA, ROMÊNIA E
empresários ligados direta ou laques além de bermuda. Ao seu REPÚBLICA TCHECA
indiretamente à publicidade. Na lado – ele está na parte superior
sua opinião, era melhor não desen- do deque – duas meninas maravi- Aprovar a campanha foi um trabalho à
volvermos esta campanha. O risco lhosas, a idade das duas não parte. Nesta primeira apresentação,
seria grande demais, pois estes somaria a dele, abraçando e bei- expliquei ao cliente que não rodaríamos
fornecedores e outras agências po- jando o figura. Elas também estão o comercial na Romênia. O motivo era
deriam ficar enraivecidos com a portando jóias caríssimas e se simples: não encontramos nenhum dono
Mercury por estar tocando em um divertindo com o bacana que não de barco no país interessado em ceder
assunto tão delicado. Desaponta- hesita em escorregar sua mão pelo (pago em dinheiro) as suas embarcações
do, voltei ao departamento de corpo de uma delas. Ele pensa con- para fazer parte de tal campanha. Nos
criação, avisando que não faría- sigo mesmo: ‘Ah eu sou mesmo es- primeiros contatos, todos estavam se
mos a campanha. Centro-avante e perto... com a grana que soneguei mostrando abertos, simpáticos e
ponta-direita (a dupla que havia estou numa boa. No mar, de bar- solícitos, mas – depois de algumas
ganho a concorrência) voltaram cão, com as gatas e curtindo a ligações, ou mesmo encontros, e a
para as suas mesas sem um sorriso vida...’. Neste momento uma das conseqüente informação de que seria
no rosto. gatas começa a passar creme uma campanha contra a evasão fiscal¯

94 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Darlan Moraes Junior

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 95


Publicitário brasileiro na Romênia

– eles desapareciam ou diziam que o eles

96 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Darlan Moraes Junior

para Praga. De romeno só mesmo o


cliente que, por não estar acostumado
com a dinamicidade bem globalizada
da publicidade, achou tudo muito
estranho.

AS VISITAS AO
PARLAMENTO

O vaivém entre agência e parla-


mento era exercício físico puxado.
A megalomania comunista do di-
tador Nicolai Ceaucescu fez com
que a maioria das sedes governa-
mentais tenha em sua arquitetura
mania de grandeza. Para se ter uma
idéia, o Palácio do Povo – obra esqui-
zofrênica do ditador – é maior que o
Pentágono. Os bulevares são mais
extensos dos que os existentes ao redor
do Palácio de Versalhes. O ex-sapateiro
que comandou a nação na época do
comunismo teve a pachorra de
remover igrejas ortodoxas do século
XIII para satisfazer o seu capricho
(dizem as más línguas que ele foi
excomungado às escondidas pelos
eles desapareciam ou diziam que o que eles haviam conseguido um iate padres romenos). Casas de estilo art
barco iria ser usado justamente naqueles novinho de 52 pés em Gênova por noveau foram postas ao chão –
dias ou que estava no conserto. um preço de aluguel excelente. E já Bucareste tinha entre as duas grandes
que eles haviam conseguido tal feito guerras o apelido de petite Paris – e
E, senhor cliente, tem mais: nenhum dos (o orçamento para a campanha não hoje a cachorrada anda solta pela rua
personagens será de nacionalidade era muito alto), utilizaríamos atores porque as pessoas não podiam levar
romena, nem a equipe de produção e e atrizes tchecas, equipe tcheca da seus cachorros para os minúsculos
nem mesmo o diretor. Silêncio sepulcral. produtora em questão chamada For- apartamentos que o governo oferecia
ward International e o diretor seria na época, em troca de suas casas
Em uma sala onde poderiam sentar 50 brasileiro (o mesmo que vos escreve). agora destruídas. Então soltaram a
pessoas, estavam sentadas apenas Para terminar, parte do comercial bicharada que hoje domina vários
cinco, três da parte do cliente e dois seria gravada na Itália (com o iate) e terrenos que estão em vias de ser
da agência – eu me senti o pequeno parte na República Tcheca em uma devolvidos para antigos proprietários
polegar. Mesmo sem escutar um sim cidade chamada Mlada Bolesav, uma (muitos romenos saíram de fininho
ou não da parte do meu estimado prisão desativada desde 1956. Claro com a chegada do regime vermelho,
cliente em relação às primeiras in- que eles não deram o sinal verde de deixando suas propriedades para trás
formações, continuei a explicação. A imediato. Aliás, tivemos de voltar ao sem nunca mais voltar). A trupe de
produtora seria de Praga (onde parlamento romeno no mínimo umas vira-latas de Bucareste é cheia de
trabalhei e por isto os conhecia) já 10 ou 15 vezes antes do embarque personalidade. ¯

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 97


Publicitário brasileiro na Romênia

Voltando o foco ao majestoso prédio, estes MY WAY da área financeira comentaram po-
dados são para se ter uma idéia do sitivamente o comercial, os anúncios e
tamanho do Parlamento. A chegada até a Finalmente gravamos o material. Entre os internet banners. A coqueluche foi sem
sala do diretor estava mais para ganhar a concorrência e a rodagem dúvida o filme – como acontece na
peregrinação. Primeiro ligávamos de foram 6 meses. Metade de um ano maioria das vezes – que esteve no ar
uma linha interna da recepção para uma inteiro para a sua aprovação, discussão por três semanas de forma massiva.
de suas assistentes. Ela descia depois de e veiculação. Em condições normais
cerca de dez minutos. Depois da referida de temperatura e pressão este processo A audiência sacou o toque e espero
autorização, dela mesma, havia dois levaria um terço deste tempo. Culpa sinceramente que passem a sonegar
controles da polícia, com direito a cópia dos longos corredores. menos. Mas seria ingênuo acreditar que
de documentos, detector de metais e raio para acabar de vez com a sonegação
x de celulares, carteiras e afins. Re- A conexão foi feita entre Bucareste-Praga- só precisa fazer uma solitária campanha
cebíamos então um crachá e pas- MladaBolesav/Praga-Genova-Praga- publicitária. Este é um trabalho árduo,
sávamos por uma catraca. Após esta Bucareste. Por ar, terra e mar foram 3 dias consistente e repleto de percalços. Os
fase, chegávamos a um elevador que alucinados de gravação, além de mais duas resultados só poderão ser vistos através
demorava uma boa parcela do dia para semanas para retoques finais em Praga e de punição severa por parte do governo
chegar. Alcançando o terceiro andar, Bucareste. A aprovação correu até que ou com a chegada de um agente
tínhamos que andar, andar e andar por muito bem. O cliente gostou do material. externo como a Comunidade Européia
cerca de cinco minutos por um corredor A não ser pela música. Explico: o editor (a Romênia deve entrar em 2007 ou
(quase) infinito para finalmente tcheco acertou a mão quando escolheu 2008 para a União Européia) para pôr
chegarmos à sala de sua majestade. O ‘My Way’ com Frank Sinatra. Nada mais ordem na casa. Foto: Corbis/Stockphotos
tempo total da viagem estava entre 20 irônico que ele – que sempre andou com
ou 25 minutos. a gang mafiosa nos Estados Unidos – fosse Para terminar, felizmente não houve
a trilha sonora. (‘I did it myyyyyyyyy ameaças de morte, seqüestros, es-
Entre cafezinhos e boas doses de per- waaaaaaaaay...’ seria simplesmente pancamentos ou qualquer outra for-
suasão conseguimos todas as aprovações perfeito!). Além disto o comercial já sairia ma de violência dirigida àqueles
necessárias. Não sem antes, claro, mos- ganhando em termos de memorabilidade que criaram e produziram a cam-
trar cerca de 20 modelos femininos e 10 pois é uma canção muito conhecida. Os panha. Pelo menos até agora. ESPM
do nosso personagem principal. A prisão direitos autorais estavam sendo cotados
e o barco foram aceitos após algumas quando o cliente achou que esta escolha
discussões do tipo: mas este barco repre- não era correta porque valorizava os sone-  DARLAN MORAES JUNIOR
Optou por fazer carreira em publicidade na Europa
senta a realidade dos sonegadores rome- gadores, colocando sobre eles uma aura
do Leste depois de trabalhar em São Paulo por
nos? Não, senhor cliente, mas é uma hi- de simpatia.
três anos. Começou em Bratislava, Eslováquia
pérbole sobre pessoas que enriqueceram como redator pela Grey, mudando-se poste-
ilicitamente. Será que estas meninas tão Respeitamos o ponto de vista e assim o riormente para Praga, República Tcheca como
jovens não vão reclamar por assédio comercial foi ao ar com gaivotas sol- redator senior para a Leo Burnett. Ainda em Praga
sexual? Senhor cliente, se elas têm mais tando gritinhos e o som do motor potente assumiu a Direção de Criação da J.Walter
de 18 anos, não há problema algum. As do iate em contato com o mar Thompson.Transferiu-se então para Bucareste,
roupas foram a parte mais fácil, já que Mediterrâneo. Sou mais Frank. Romênia onde liderou equipes criativas para a
as moças usavam apenas biquínis e nosso D’Arcy, Mercury e agora Tempo Publicidade. Há
modelão, já descrito acima como cerca de três anos começou a dirigir comerciais.

estava vestido. Jóias, no entanto, foi uma RECALL E Um deles foi prata no ano passado no festival
Epica Awards (www.epica-awards.com) com
beleza. Todas coreanas e chinesas em PONTO FINAL
dois filmes para o festival de curta metragens
um total de 16 reluzentes dólares. Mas
‘Where is the Love?’.
até que, na frente da câmera, ganhou A receptividade da campanha foi boa.
É formado pela PUC em Administração de Empresas
mais alguns significativos zeros (para a Tanto a mídia especializada na área de e Com. Social pela ESPM. (email@darlanmoraesjr.com).
direita) em valor. marketing e publicidade como jornais

98 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


A ética e o Marketing da esperança

A ÉTICA E O MARKETING DA

S
E R NÇ
PE A A
100 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006
Hermano Roberto Thiry-Cherques

GRANDES RELIGIÕES E ESPERANÇAS DIFERENTES

)Auma
esperança cristã é diferente: é
alienação do futuro aos desígnios
divinos. É escatológica (ta éskhata = as
terminações), é a fé na salvação, na
Parusía, na segunda vinda de Cristo,
no final dos tempos, quando Satanás
será, afinal, derrotado.

) Para os hebreus, por exemplo,


a esperança é a esperança de que
Deus cumpra o prometido: o destino
de glória, que Jeová garante quando
manda que Abraão se afaste dos
seus e constitua Israel como nação.

A
esperança, lembrou Voltaire, é o ranças, mesmo esperanças legíti- É preciso não confundir os dois con-
único privilégio negado a Deus. A mas, estamos fazendo o bem ou ceitos. Platão diz que a alma é for-
produção, oferta e consumo de es- estamos fazendo o mal. mada pela sensação, pela memória
peranças é algo que só diz respeito e pela esperança; o presente, o pas-
aos mortais. Compramos e vende- Seria fácil resolver esta questão re- sado e o futuro. A parte futura da
mos esperanças a todo momento correndo à filosofia clássica. Mas alma tem esse esperar – o que espe-
porque não somos oniscientes. Al- nem sempre é possível transpor para ramos que venha a ser – mas não
gumas vezes nos enganamos. Ou- a nossa época o pensamento dos tem a esperança. Porque a esperança
tras, nos deixamos enganar. A pro- antigos. A palavra grega elpís, que é sempre presente. Ela é o futuro de-
pagação da esperança, que sabemos se traduz como esperança, como o sejado. Quando agimos mal, vende-
falsa, é uma transgressão moral. spen do latim, significa, simultanea- mos o futuro improvável.
Sobre isto não há dúvida. A dificul- mente, previsão, conjectura e preo-
dade ética do marketing da espe- cupação. Para os gregos, viver signi- Os clássicos não nos ajudam a saber
rança é de outra ordem: reside em ficava agir, pensar e esperar. Mas se a esperança é boa ou ruim. Além
saber se quando vendemos espe- esperar é diferente de ter esperança. da confusão entre esperar e ter es- ¯

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 101


A ética e o Marketing da esperança

)Na obra “O Mundo como Vontade de


Representação”, Schopenhauer diz
que a vida costuma ser uma busca
)Ao único
esperança, lembrou Voltaire, é
privilégio negado a Deus. sem fim pela realização de esperanças.

) Platão diz que a alma é


formada pela sensação, pela
memória e pela esperança; o
presente, o passado e o futuro.

peranças, parece haver muitos tipos segundo lugar dentre as virtudes

) A palavra grega elpís, que se traduz


como esperança, como o spen do
diferentes de esperanças. Para os he-
breus, por exemplo, a esperança é a
teologais (fides, spes, caritas), ela
vem antes da caridade e depois da
latim, significa, simultaneamente,
esperança de que Deus cumpra o fé, porque depende delas. De forma
previsão, conjectura e preocupação.
Para os gregos, viver significava agir, prometido: o destino de glória, que que se transmitimos ou consumimos
pensar e esperar. Mas esperar é Jeová garante quando manda que a esperança cristã acompanhada da
diferente de ter esperança. Abraão se afaste dos seus e constitua fé no futuro ou do amor incondicional
Israel como nação. É uma espera que ao próximo, fazemos o bem, mas se
já dura milênios. Alimentá-la é au- a transacionamos isoladamente,
mentar a aflição do mundo; mas ne- procedemos mal: alimentamos uma
gá-la é desistir de tudo que foi cons- espera vazia de sentido.
truído pela civilização, é desprezar
os esforços dos nossos antepassados.
Esta é uma esperança dúbia. Não A ESPERANÇA
resolve nosso problema; só o alarga. PROFÉTICA

A esperança cristã é diferente: é uma Nem a dúbia esperança hebraica,


alienação do futuro aos desígnios di- nem a difusa esperança cristã resol-
vinos. É escatológica, (ta éskhata = vem nosso problema: uma é angus-
as terminações), é a fé na salvação, tiante; a outra, subalterna. Muitos filó-
na Parusía, na segunda vinda de Cris- sofos, desde Platão, tentaram resolvê-
to, no final dos tempos, quando Sata- lo. Talvez só Schopenhauer, um pen-
nás será, afinal, derrotado. Foi inven- sador que viveu na Europa esgotada
tada por São Paulo, que, além de pelas guerras napoleônicas, tenha se
cidadão romano, era um judeu de aproximado da solução. Ele diz mui-
cultura grega. Por isto é uma es- tas coisas justas, mas em geral põe a
perança compósita. Colocada em gente para baixo. Contam que era

102 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Hermano Roberto Thiry-Cherques

um sujeito intragável. Foi um solitá- parte é que dentro de nós existe algo
rio. Não tinha amigos e detestava a que conhecemos de fato: a nossa von-
própria mãe, uma bruaca a quem não tade, os nossos desejos, os nossos ape-
dirigia a palavra. Deixou uma obra tites, o nosso amor, o nosso ódio, as
magnífica chamada: “O Mundo nossas esperanças, enfim.
como Vontade e Representação”. Lá
está dito que a vida costuma ser uma Não há razão e depois desejo. O que
busca sem fim pela realização de es- há é desejo e a racionalização do
peranças. Para sustentar essa teoria, desejo, que chamamos razão. E a vi-
Schopenhauer tomou emprestada de da é uma vontade sem fim, porque a
Kant a idéia de que o mundo é uma razão, o intelecto, cansa, se exaure,
criação da nossa mente. Que as coi- mas a vontade nunca se cansa, nunca
sas-em-si mesmas não podem ser paramos de ter vontades, de ter es-

)Para Kant o mundo é uma criação


da nossa mente. Que as coisas-
apreendidas pelo espírito. Ele pode
apenas representar, idear a exterio-
peranças. A vida é um círculo vicio-
so de esperança, sofrimento e tédio:
em-si mesmas não podem ser ridade. Essa é a primeira parte da teo- representamos o mundo e para essa
apreendidas pelo espírito.
ria: aquilo que chamamos mundo, o representação dirigimos nossa von-
que está fora de nós, é uma repre- tade. Podemos ou não satisfazê-la;
sentação da nossa mente. A segunda se não a saciamos, ela continua exis-¯

)speranza,
Dante colocou na porta do Inferno: Lasciate ogni
voi ch’entrate. Na tradução em português
da obra isso significa: “Àquele que por essa porta
entrar, deixe a esperança do lado de fora.”

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 103


A ética e o Marketing da esperança

THE BLESSED
DAMOZEL (TRECHO)
The blessed damozel lean'd out
From the gold bar of Heaven;
Her eyes were deeper than the depth
Of waters still'd at even;
She had three lilies in her hand,
And the stars in her hair were seven.

Her robe, ungirt from clasp to hem,


No wrought flowers did adorn,
But a white rose of Mary's gift,
For service meetly worn;

)Há um poema do outro Dante, de


Dante Gabriel Rossetti, que trata
Her hair that lay along her back
Was yellow like ripe corn.
da esperança feliz. Veja um
pequeno trecho ao lado.
Her seem'd she scarce had been a day
One of God's choristers;
tindo como sofrimento; se alcançar-
The wonder was not yet quite gone
mos o que quer a nossa vontade, nós
From that still look of hers;
a suprimimos. Ficamos sem a espe- Albeit, to them she left, her day
rança da vontade e, daí, sobrevém o Had counted as ten years.
tédio. Para não sucumbir ao tédio, a
nossa mente torna a representar o (To one, it is ten years of years.
mundo, a idealizá-lo. Cria um ciclo. ... Yet now, and in this place,
E como podemos escapar desse ci- Surely she lean'd o'er me--her hair
clo? Matando nossa vontade, anulan- Fell all about my face ....
do a esperança. O texto de Schope- Nothing: the autumn-fall of leaves.
The whole year sets apace.)
nhauer é muito bonito, ganhou um
prêmio literário, mas a supressão da
It was the rampart of God's house
esperança como garantia contra a
That she was standing on;
infelicidade é complicada. Aliás, as
By God built over the sheer depth
suas idéias são invendáveis. Dão ca- The which is Space begun;
lafrios. Deveriam ter o dístico que So high, that looking downward thence
Dante colocou na porta do Inferno: She scarce could see the sun.
Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate.
It lies in Heaven, across the flood
Podemos seguir a Dante e deixar a Of ether, as a bridge.
esperança de lado. Mas não solucio- Beneath, the tides of day and night
naríamos o dilema de saber se a es- With flame and darkness ridge
The void, as low as where this earth
perança é boa ou ruim. A bem da
Spins like a fretful midge.
verdade, acho que só os poetas de-
ram um tratamento útil a esta ques-
Around her, lovers, newly met
tão. Por exemplo, há um poema do
'Mid deathless love's acclaims,
outro Dante, de Dante Gabriel Ros- Spoke evermore among themselves
setti, que trata da esperança feliz. É Their heart-remember'd names;
sobre uma jovem que está no Paraíso And the souls mounting up to God
e espera que o seu amado venha se Went by her like thin flames...

104 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Hermano Roberto Thiry-Cherques

) Esta esperança de saber o


futuro é uma esperança
singular. Exprime o único
desejo que conheço que
aspira não ser satisfeito.
Por isto, é uma dádiva que
as ciganas continuem a
ler o destino nas mãos,
que os escritos de
Nostradamus estejam
disponíveis até hoje.

nejadores estratégicos, aos marque-


teiros em geral, aos economistas, que
estudam muito para conseguirem
agourar partindo dos algebrismos que
trazem na cabeça. Não acertam com
o futuro, mas fazem um bem enorme
à humanidade: dão-nos a esperança
profética. Pouco importa que as suas
juntar a ela. O poema chama-se “The nhecermos o futuro toda esperança antevisões só se realizem por acaso.
Blessed Damozel”. É extraordinário, será descabida, e sem esperança Porque o sistema é circular: as transa-
porque Rossetti, que era inglês apesar seremos infelizes. ções com a esperança são neces-
do nome, foi, além de poeta, um pin- sárias à renovação da esperança. O
tor. No poema, ouvimos sobre essa Esta esperança de saber o futuro, que comércio de esperanças talvez não
virgem, que pode ser vista em um desde sempre acompanha a huma- seja incorreto. Ele é propiciatório da
quadro que está no Fogg Art Museum, nidade, é uma esperança singular. Ex- felicidade, ainda que de uma felici-
de Cambridge. Ela é muito linda, tem prime o único desejo que conheço dade infundada.
a beleza tranqüila de quem espera e que aspira não ser satisfeito. Mas é
confia. É feliz, mas de uma feli- esta esperança que redime a difi-
cidade que, estranhamente, é per- culdade ética de saber se consumir- A ESPERANÇA
feita mas não é completa. Está no mos e vendermos esperanças é bom HERÉTICA
Paraíso, in heaven, e tem a aura da ou é ruim. Mostra que, em geral, é
felicidade, the stars in her hairs were preferível tê-la e cultivá-la. Por isto, Compramos e vendemos esperan-
seven, mas lhe falta o bem amado. é uma dádiva que as ciganas conti- ças. Mas nem só o marketing vive
Sabemos que ele não irá ter com ela, nuem a ler o destino nas mãos, que de esperanças. Vaihinger, um fic-
porque é um pecador, e os pecadores os escritos de Nostradamus estejam cionista kantiano já esquecido,
não podem ir para o Paraíso. Mas ela disponíveis e que algumas senhoras construiu toda uma obra para de-
não sabe disso. Então imagina como climatéricas possam interpretar con- monstrar por que todos precisam da
será quando se encontrarem. Rossetti venientemente nas conjunções do esperança. Explicou que vivemos
nos mostra como a esperança feliz é zodíaco o que vai nos acontecer no mundo do “como se”. Amamos
fruto da ignorância, porque se co- amanhã. Devemos ser gratos aos pla- como se o amor fosse eterno, nos ¯

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 105


A ética e o Marketing da esperança

)Sto. Agostinho tentou resolver


este paradoxo diferenciando a
conduzimos como se as leis fossem
esperança teologal, do final dos justas, levamos a existência como
tempos, da esperança mundana. se não fôssemos morrer. Privada
destas ilusões a razão feneceria,
vítima da dúvida ou do desespero.
Vivemos de fabulações. Sobrevi-
vemos graças às esperanças. A
questão ética do marketing da es-
perança é a de saber se é legítimo
explorar o privilégio da ilusão sobre
o futuro.

St. Agostinho tentou resolver este pa-


radoxo diferenciando a esperança

) Vaihinger, um ficcionista kantiano


já esquecido. Explicou que vivemos
teologal, do final dos tempos, da es-
perança mundana. Para ele, no mun-
no mundo do “como se”. do, na Cidade Terrestre, estamos pre-
destinados. Mas a graça divina, que
é insondável, nos salvará; nos levará
até a Cidade Celeste. E esta é a es-
perança que nos resta. O artifício é
pueril, mas Sto. Agostinho não era
bobo: ele tentava salvar a unidade
da Igreja contra a heresia pelagiana.
Pelágio (360-425) foi um monge que
predicou contra o fatalismo. Vendia
a idéia de que o pecado de Adão foi
só o pecado de Adão; quer dizer, que
não foi transmitido à humanidade;
que o pecado se comete, não se
transmite ou herda. Não estaríamos
predestinados coisíssima nenhuma,
porque a graça não se obtém: nasce
com o ser humano na criação; deve-
mos é não perdê-la. Não estamos
fadados a um destino: merecemos ou
não um destino; somos realizadores
de esperanças. Gosto muito mais
dessa idéia do que da chatura da pre-
destinação. Acho mesmo que os con-
)Pelágio (360-425) foi um monge que
predicou contra o fatalismo. Vendia ceitos heréticos poderiam ter de-
a idéia de que o pecado de Adão foi volvido à Igreja muito da alegria do
só o pecado de Adão; quer dizer, que cristianismo primitivo. Mas Pelágio
não foi transmitido à humanidade;
era ruim de marketing e as suas idéias
que o pecado se comete, não se
transmite ou herda. foram condenadas no Concílio de Car-
tago (418) e no de Éfeso (431). Junto

106 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Hermano Roberto Thiry-Cherques

portugueses, a esperança messiânica


é a esperança do sebastianismo, a
esperança construída sobre um dos
muitos avatares do salvador da pátria.

A ESPERANÇA
SALVADORA

O sebastianismo deriva de um per-


sonagem histórico e de uma lenda.
O personagem é Dom Sebastião, rei
de Portugal, neto e herdeiro de Dom
João III, conquistador do Algarves.
Ele era um sonhador. Tinha a espe-
rança de conquistar Constantinopla
e o Califado do Egito. Com esses
objetivos, exercitava-se e mantinha-
se casto. Tornou-se rei em 1569, épo-
ca em que Portugal vivia um período
de sofrimento e obscurantismo. Gras-
savam as pestes e o beatério infernal

) Osonagem
sebastianismo deriva de um per-
histórico e de uma lenda.
da Inquisição. A combinação de des-
graças do reino e de príncipe ima-
O personagem é Dom Sebastião, rei
de Portugal, neto e herdeiro de Dom culado fez surgir no populacho uma
João III, conquistador do Algarves. série de lendas. A figura de D. Se-
bastião contribuía para isso. Tinha
horror às mulheres, era ruivo, de olhos ¯

com a heresia, despencaram às pro-


fundezas do inferno as esperanças de
ver resolvido o dilema da esperança.

Herética ou pia, a esperança poderá


ser indeterminada, indefinida, deli-
rante, louca, mas não será neutra. Ve-
jamos, por exemplo, outra esperança )Omashiah
nome vem de
, que em
de origem religiosa: a do messianis- hebraico significa
mo. O nome vem de mashiah, que “o ungido de Deus”.
O messianismo é a
em hebraico significa “o ungido de espera de um guia,
Deus”. O messianismo é a espera de de um redentor.
um guia, de um redentor. Está presen-
te no mosaísmo, no profetismo, no
cristianismo, no maometanismo. É
uma esperança que se transfere do
plano espiritual ao plano político.
Para nós, descendentes culturais dos

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 107


A ética e o Marketing da esperança

azuis, nervoso e fora de prumo; o seu que havia sido presenteada pelo Papa o dinheiro do tesouro, armou um
lado esquerdo era muito maior do que ao rei. A carolice dava a atmosfera exército de camponeses recrutados
o direito. Admirava tanto seu avô, do tempo, um tempo meio sem pé à força e foi-se à África para fazer a
que mandou que o retirassem do cai- nem cabeça e que ansiava por um guerra. No areal de Alcácer-quibir,
xão e prestou homenagens ao esque- pouco de razão. Cultivava-se a ilusão no ano de 1578, tomou uma tunda
leto, posto de pé com uma espada que o mundo voltasse a fazer sentido, memorável. Expirou no campo de
em punho. o que é a esperança política mais batalha com quase todo o exército.
destrambelhada que há. Depois dessa maluquice, o reino
O homem era doido varrido. Como ficou tão fraco que foi facilmente
muitos executivos contemporâneos, Este o personagem, esta a época. anexado ao império espanhol. Os
tinha a esperança da onipotência. Agora os acontecimentos e a lenda. anos de submissão que se segui-
Camões, seu contemporâneo, que via Numas das guerras travadas em Mar- ram e o fato de que nenhum dos
no rei a possibilidade de volta às gló- rocos, havia sido trazido como refém sobreviventes viu Dom Sebastião
rias passadas de Portugal, incitava-o a Lisboa o xerife Maula Ahmed bim morrer alimentaram as lendas em
com versos sobre a “seta veneranda”, Abdulah. Parece que ele convenceu torno do rei-fantasma, do “enco-
que supostamente era uma das fle- Dom Sebastião a uma conquista fácil berto”, que voltaria da batalha
chas que mataram São Sebastião e do Marrocos. O rei demente pegou para redimir Portugal.

Sobre essa esperança que


continuamos a depositar em
Camões, seu contemporâneo, que cada líder que se nos o-
) via no rei a possibilidade de volta ferece, dos mais maravilho-
às glórias passadas de Portugal,
incitava-o com versos sobre a sos, como o Antônio Conse-
“seta veneranda”, que lheiro de Canudos, aos
supostamente era uma das flechas mais desprezíveis em-
que mataram São Sebastião. busteiros da opinião
pública, Fernando Pessoa deixou os
seguintes versos:

DOM SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL

Louco, sim, louco,


porque quis grandeza
Qual a sorte não dá.
Não coube em mim a certeza;
Por isso onde o areal está
ficou meu ser que houve,
não o que há.

Minha loucura,
outros que a tomem
Com o que nela ia,
Sem loucura que é o homem
Mais do que besta sadia,
Cadáver adiado que procria?

Esses estão entre os mais felizes ver-


sos de Pessoa; sem loucura, isto é,
sem a insanidade da esperança, cada
um de nós é um animal, que, entre o

108 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Hermano Roberto Thiry-Cherques

dia seguinte ele será submetido ao até sucumbir, teria tempo de meditar
quemadero. O quemadero era uma sobre os seus pecados e preparar-se
espécie de assador, em que a pessoa para o encontro com o Espírito Santo.
ficava suspensa por correntes acima Os padres dão o beijo e o abraço que
das brasas até morrer. O Inquisidor selam a sentença e vão embora. Dei-
diz que ele deve se alegrar, porque xam o rabi na sua agonia. Ele fica
estará liberto da vida terrestre, e que tão desesperado que leva algum tem-
nas três ou quatro horas que arderia po para descobrir que a porta da cela ¯

) Por que a esperança seria uma


insensatez? Presumo que por
medo de um tipo de esperança
que, de fato, é terrível. Quem
melhor a retratou foi Auguste
Villiers de L’Isle-Adam.

nascimento e a morte, gera outros


infelizes; um cadáver adiado que
procria. Temos aqui, ao mesmo tem-
po, a esperança como o vício da in-
sensatez e da sem razão, e a es-
perança como a virtude da vida.

A ESPERANÇA
INSENSATA

Por que a esperança seria uma in-


sensatez? Presumo que por medo de
um tipo de esperança que, de fato, é
terrível. Quem melhor a retratou foi
Auguste Villiers de L’Isle-Adam. Ele
nos deixou uma série de contos, os
Contes Cruels, muito interessantes.
Em um deles, conta a história do rabi
Abarbanel. Nós encontramos o rabi
quando o Grande Inquisidor de Sara-
goça e outro dominicano entram em
sua cela. Abarbanel havia resistido à
série das torturas de praxe para que
abjurasse a sua fé, e jaz em um canto,
exausto. Os padres anunciam que no

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 109


A ética e o Marketing da esperança

não estava corretamente fechada. A ESPERANÇA acontecer, não pelo que já nos acon-
Com cuidado infinito, empurra a por- HESITANTE teceu. É a esperança que cria o futuro.
ta e ela se abre. É já tarde da noite e
Abarbanel, silenciosamente, vai se Essa é uma história muito triste. Me- É verdade que a incerteza quanto ao
esgueirando pelos corredores. Com nos pela sorte do pobre rabi e mais futuro muitas vezes é objeto de ma-
tanto cuidado, tão lentamente, que porque se refere a um sentimento que nipulação. Penso que existe um para-
a fuga dentro da prisão dura horas. muitos de nós compartilhamos. Já nos lelo entre o médico e o gerente nessa
Várias vezes é tentado a voltar para frustramos tantas vezes que escon- manipulação da esperança. O médi-
sua cela. Tem medo de que, se for demos a esperança que temos. E as co deve ser um dispensador de espe-
pego, poderá ter uma morte ainda escondemos não só dos outros, mas ranças. A esperança derivada da fé,
pior. Na madrugada, dois domini- de nós mesmos: tememos o suplício mesmo que da fé na ciência, ajuda a
canos passam bem perto dele. Não da esperança não realizada.. É um curar, dizem que chega até mesmo a
o vêem... Decide seguir adiante. Vai fenômeno que associamos não ao curar. Já nas organizações o uso das
se arrastando até que consegue sair pessimismo, mas ao realismo, à obje- esperanças de conhecer o futuro e de
do convento que era a sua prisão. tividade. E é um equívoco, porque prolongar a vida me parece infame.
No alvorecer está em um horto de não ter esperanças no futuro com As técnicas de RH costumam pro-
laranjeiras e sente profundamente a base no que aconteceu no passado meter o que não podem cumprir; dar
vida, a esperança que é a vida re- nada tem de objetivo. Acho que o esperanças cuja realização não é
novada. Sente, também, que, pelas filósofo Karl Popper tem toda a razão garantida, porque as organizações são
costas, alguém o abraça. Volta-se e quando diz que não é possível prever caudatárias de processos econômicos,
dá com o Grande Inquisidor cercado o que irá acontecer. E não é possível sociais, políticos e tecnológicos que
pelos familiares da Inquisição. Quase porque vivemos aspirados pelo fu- não controlam. Trata-se, o mais das
enlouquecido, o rabi compreende turo, não empurrados pelo passado. vezes, de um processo alienante. Da
que havia sido submetido ao último A nossa conduta de hoje é ditada alienação tomada no sentido de des-
suplício, o suplício da esperança. pela idéia que temos do que vai vio da vida pessoal em benefício da
produtividade no trabalho.

)Victor Frankl, um psiquiatra


que trabalhou com os judeus
É curioso que a defesa individual
contra a manipulação da esperança
egressos dos campos de ex- resida, algumas vezes, no cultivo
termínio, explicou como a
supressão da esperança pode da insensibilidade. Victor Frankl,
ser uma estratégia de vida. Ele um psiquiatra que trabalhou com
demonstrou que, para não os judeus egressos dos campos de
enlouquecer, o cativo rejeita a extermínio, explicou como a su-
esperança e o desespero.
pressão da esperança pode ser uma
estratégia de vida. Ele demonstrou
que, para não enlouquecer, o cati-
vo rejeita a esperança e o deses-
pero. No seu lugar desenvolve um
“vazio espiritual”; renuncia à auto-
apreciação e ao futuro; sente-se
feliz por estar vivo no presente. Nos
)Otoda
filósofo Karl Popper tem
a razão quando diz que labirintos das organizações mo-
não é possível prever o que irá dernas encontramos tanto os espe-
acontecer. E não é possível rançosos como os desesperados,
porque vivemos aspirados
pelo futuro, não empurrados mas acho que os insensíveis, os va-
pelo passado. zios, os que nem desespero sen-

110 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Hermano Roberto Thiry-Cherques

tem, são cada vez em maior número. demais. Os males tinham se espalha- é claro, não nos impede de ter espe-
do pelo mundo. Só a esperança tinha ranças de todo tipo, inclusive de ter
Vimos que a esperança pode ser ou ficado presa no fundo. esperanças de um dia chegarmos a se
não ser um privilégio; pode ser heré- a esperança é boa ou ruim. ESPM
tica ou pia, louca ou sã, viciosa ou Não tenho certeza se esta história legi-
virtuosa, bendita ou maldita. Come- tima ou não o marketing da esperança.
çamos nos perguntando se a esperan-
ça é boa ou ruim. Demos voltas. Não
Talvez tenha sido a forma que os gregos
encontraram para dizer que não sabiam
HERMANO ROBERTO THIRY-CHERQUES
Professor Titular da EBAPE – Fundação
chegamos a determinar se o marketing o sentido da esperança. E se eles, que Getulio Vargas, onde coordena o Núcleo de Ética.
da esperança é ou não legítimo. Em sabiam tudo, não sabiam isto, acho que É autor do livro “Sobreviver ao Trabalho”.
uma última tentativa de responder a talvez nunca venhamos a saber. O que,
nossa questão, sugiro voltar ao nas-
cimento mesmo da esperança.

Aconteceu assim: contra o desejo de


)Júpiter, para se vingar, mandou Vulcano forjar uma mulher para
tentar Prometeu, que foi chamada Pandora, que significa “a que
Júpiter, Prometeu havia criado o pri- tem todos os dons”.
meiro homem, que vagava sozinho
pela terra. Como isso tinha sido feito
contra a vontade de Júpiter, este, para
se vingar, mandou Vulcano forjar uma
mulher para tentar Prometeu. E
Vulcano forjou uma criatura perfeita,
mas sem conteúdo. Mas já naquela
época o corporativismo feminino
funcionava, de forma que as deusas
resolveram dotar a criatura de dons.
Minerva lhe deu a sagacidade, Vênus
o dom da atração sexual; as Graças
lhe concederam a leveza da dança,
a eloqüência da poesia, a música etc.
E a chamaram de Pandora, que
significa “a que tem todos os dons”.
Júpiter ficou uma arara. Então deu a
Pandora uma caixa de ouro, com or-
dens para que entregasse a caixa a
Prometeu. Esse, malandro, não quis
saber da caixa. De forma que Pandora
a entregou ao primeiro homem: Epi-
meteu, o Imprudente. Juntos, resol-
veram ver o que havia na caixa. De-
vagar, abriram só um pouquinho da
tampa. Mas, apesar do cuidado que
tiveram, pela abertura escaparam os
males do mundo. Escaparam a dor, a
doença, o ódio, a velhice, e assim
por diante. Assustada, Pandora fechou
a caixa com toda a força. Era tarde

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 111


Mesa-Redonda

MESA-REDONDA SOBRE

CRIATIVIDADE, INOVAÇÃO E MUDANÇA


PARTICIPANTES
ANDRE EPPINGHAUS
Sócio-diretor ProleInovação

AVELAR VASCONCELOS
Ex-diretor de comunicação
e marketing Nestlé

CEZAR TAURION
Gerente de Novas
Tecnologias Aplicadas IBM

FRANCISCO GRACIOSO
Presidente ESPM

MARCELLO MARCONDES
Gerente de Marketing Skol

J. ROBERTO WHITAKER PENTEADO


Moderador
Fotos: Junior de Oliveira

AVELAR VASCONCELOS
112 FRANCISCO GRACIOSO CEZAR TAURION
REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006
Sobre criatividade, inovação e mudança
egundo pesquisa recente de The Economist – grande

S
número de empresas opera, hoje, com a mesma estrutura
J. ROBERTO
WHITAKER PENTEADO de 50 anos atrás. O que distingue uma empresa voltada
para a inovação e as mudanças? Será possível estimular
o pensamento criativo (como provocador da inovação)
em empresas tradicionalmente fechadas às mudanças.
Para discutir esses e outros aspectos da mudança e da
inovação – e os seus papéis em relação às empresas
contemporâneas e aos profissionais que nelas (ou para
elas) trabalham, a Revista da ESPM reuniu 4
especialistas, que contribuíram com idéias importantes
e originais sobre o tema proposto.

Não se estará falando muito de inovação e fazendo


pouco? Quando mudar é realmente necessário? E – em
especial – o papel da Escola nessa área: estaremos de
fato estimulando – e ensinando – os futuros profissionais
a ser criativos e inovadores? Leia sobre tudo isso nas
páginas seguintes.

ANDRE EPPINGHAUS

MARCELLO MARCONDES
M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 113
Mesa-Redonda

JR – Gracioso, peço-lhe que dê iní- mente na América Latina e Europa todos os objetos. Então, inovação não
cio ao debate. – e ficou claro que fazer mudanças significa apenas inventar; mas é uma
significativas, inovar as organiza- interseção entre invenção e insight.
GRACIOSO – Para nós, na ESPM, ções faz parte de suas agendas. Mais O que posso fazer – eventualmente
inovação é como uma segunda de 2/3 disseram que vão estar usando uma tecnologia já existente –
natureza. Inovação é importante no inovando nos próximos dois ou três para mudar o modelo de negócio,
marketing e na comunicação, mas anos por várias razões: competitivi- transformar um processo operacional
é importante também na adminis- dade mais intensa; novos patamares ou a organização. Na IBM temos mu-
tração de modo geral. E, como a de custos; novos modelos de ne- dado ao longo dos anos procurando
revista Business Week sugere – em gócios; o avanço da tecnologia da estimular a inovação. Nossa pesquisa
edição especial –, é importante até informação – hoje se consegue mostrou que, entre as prioridades e
para a vida das nações. De fato, colocar inteligência em praticamente importâncias para os executivos em
há povos mais ou menos inovado-
res, como reflexo da cultura e das
circunstâncias. Nós, no Brasil –
com a herança portuguesa –, não “NÓS, BRASILEIROS, NÃO SOMOS UM POVO MUITO INOVADOR.”
somos um povo muito inovador, ape-
sar do que se diz da nossa criati-
vidade, do jeitinho – que deveria
ser uma forma de inovação. Mas,
no fundo, somos limitados como
criadores. Aceitamos as coisas
como são e não procuramos as solu-
ções novas, mais rendosas e efi-
cazes, que caracterizam a inova-
ção dos países modernos. Proponho
que tratemos da inovação na vida
das empresas: o que é uma empresa
inovadora, como se inicia e admi-
nistra o processo da inovação nas
empresas, como são levadas à práti-
ca e se transformam em mudanças
que provoquem os resultados espe-
rados no diagnóstico inicial.

JR – Cada um poderia falar da sua


experiência pessoal.

CEZAR – Inovação é extremamen-


te importante para nós da IBM. Não
somos uma empresa de TI, nem
uma empresa de serviços, ou um
fabricante de computadores; procu-
ramos, realmente, ser inovação.
Recentemente fizemos uma pes-
quisa com cerca de 750 CEOs – vá-
rios deles no Brasil, mas principal-

114 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Sobre criatividade, inovação e mudança

relação à inovação, os departamentos inovação é algo que deva ser


de pesquisa e desenvolvimento não praticado, a realidade que a Price
estão em primeiro plano. A inovação encontrou é a de que quase 85%
está na relação com os clientes, do tempo, energia, recursos huma-
sugestões de funcionários, atividades nos e financeiros das empresas
com os parceiros... Então, desen- ainda é mais dedicado à manuten-
volvemos iniciativas para incentivar ção do negócio do que à inovação.
isso, como, por exemplo, uma rede Isso tem a ver com a fundação da
de inovação, onde os parceiros aju- nossa Prole e a maneira como pen-
dam a desenvolver coisas inovadoras. samos a empresa. Sobre o tema –
Estamos repensando todos os pro- criatividade, inovação e mudanças
cedimentos e as práticas de pro- – primeiro quero estabelecer uma
priedade intelectual. Enfim, inovação diferença; eu e meu sócio viemos
hoje faz parte, acredito, não só da do mundo de comunicação e mar-
IBM, mas do DNA da maioria das keting, trabalhamos em agência.
corporações. Quando se fala em criação, no
nosso conceito, está-se falando da
JR – Há quanto tempo a IBM está geração de uma idéia. Quando se
no Brasil? fala de inovação, está-se falando
da implementação da idéia e do
CEZAR – Há quase 90 anos. resultado que ela possa trazer para
quem a implementou. Isso vai acar-
JR – Então, passaremos de uma gran- retar mudança de comportamento,
de empresa, com 9 mil funcionários relacionamento, atitude, resultado.
e quase 100 anos de Brasil, para uma Só que, pelo fato da manutenção do
pequena empresa que acaba de ser negócio ainda tomar muito tempo
formada e que tem o sugestivo nome das pessoas, nas grandes empresas,
de ProleInovação. Fale um pouco do as mudanças são difíceis de ser
projeto de vocês, André. promovidas. É sabido que as pessoas,
de alguma forma, temem o novo;
ANDRÉ – Antes de falar do nosso algo que não conhecem. Foi aí, que
projeto, quero falar sobre a pesquisa encontramos uma brecha de atua-
que a IBM fez, em que todos dizem ção: é importante as empresas
que práticas inovadoras são uma tomarem consciência de que os
necessidade e que elas estão na processos de inovação passam, ne-
agenda. Será isso verdade ou só dis- cessariamente, por agentes externos.
curso? Quando criamos a Prole – Dificilmente, nas grandes orga-
em meados de 2005 – fizemos uma nizações, consegue-se massa crítica
pesquisa sobre o nosso modelo de suficiente para gerar a inovação,
negócio, no mundo inteiro. Uma internamente. Há um estudo da
das coisas que apareceram foi uma Harvard Business School que lançou
pesquisa feita pela Price Water- o conceito chamado open innova-
house – também com grandes exe- tion, que diz basicamente o seguin-
cutivos e com empresas globais – te: “No século XXI, para as organi-
tentando medir o tempo dedicado zações poderem acompanhar todas
à inovação e à manutenção do as exigências do mercado, a ne-
negócio. Embora se fale tanto que cessidade de resultado, remunerar ¯

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 115


Mesa-Redonda

os acionistas, e tudo o mais, só será ximos dois ou três anos, o número instituição e a capacidade de ino-
possível se a inovação for aberta, de remédios que perderão patentes vação não têm uma correlação?
através do processo de open equivale ao somatório do fatura-
innovation” – que, acredito, seja o mento das cinco principais indús- CEZAR – A IBM reuniu pensadores
que a IBM pratica. Nesse sentido, trias farmacêuticas do mundo. Elas do mundo inteiro para debater o
criamos a Prole, para atuar como estão sob pressão. No que se refere futuro das organizações. E levan-
agente externo de inovação para à biotecnologia, pequenos labo- tou-se esta questão: será que o futu-
grandes e médias empresas. ratórios – que talvez não cheguem ro é uma empresa, como a IBM,
a 3% do total dos investimentos com 350 mil pessoas, ou seriam 350
CEZAR – Para comprovar o que o em pesquisa – são responsáveis por mil empresas de uma pessoa?
André diz, a inovação vem, muitas 67% das drogas em testes. Na
vezes, quando se está em risco de indústria automobilística, as gran- GRACIOSO – Aproveitando a
sobrevivência. Diversos modelos des empresas tradicionais represen- presença do Marcello, gostaria de
tradicionais estão sendo questio- tavam 70% da produção, e as mencionar a Skol, que foi, na épo-
nados: transporte aéreo, por exem- japonesas e coreanas, 30%. Agora, ca, um lançamento extremamente
plo, está tendo prejuízos na casa o valor é inverso: as empresas inovador. O mercado era dominado
de bilhões de dólares – não só no coreanas e japonesas representam por marcas conservadoras, como
Brasil; mas no mundo inteiro. Na 70% da indústria automobilística. Brahma e Antarctica, e a Skol apa-
indústria farmacêutica, por exem- receu como a cerveja dos jovens e
plo, depois de um tempo, as paten- GRACIOSO – A partir daí, pode- foi a primeira a introduzir a latinha.
tes perdem a validade. Nos pró- ríamos dizer que o tamanho da A liderança da marca, hoje, foi o
resultado dessa inovação, que
começou há 15 anos?

“QUASE 85% DO TEMPO AINDA É DEDICADO À MARCELLO – Numa empresa


MANUTENÇÃO DO NEGÓCIO E NÃO À INOVAÇÃO.” como a AmBev, a realidade é bas-
tante diferente, principalmente se
compararmos à IBM. Nós traba-
lhamos com bem de consumo mas-
sivo, de pequeno valor, onde o custo
limita a inovação. E o próprio mer-
cado não é muito desenvolvido. O
Brasil, entre os mercados de cerve-
ja, ainda não pode ser considerado
maduro. Mesmo assim, dentro
dessa realidade, a AmBev considera
a inovação. Embora não falemos de
inovação em tecnologia – como na
IBM – a inovação concentra-se em
fazer mudanças que sejam relevan-
tes, num mercado comoditizado,
como o de cervejas. Precisamos
inovar para melhorar a rentabilida-
de da companhia. Outro ponto im-
portante é a inovação para gerar
proximidade e relacionamento mais
consistentes com o consumidor. E

116 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Sobre criatividade, inovação e mudança

aí não entram só produtos, mas a


própria comunicação. Skol é o maior
porta-voz da companhia: é a ter-
ceira cerveja mais vendida do mun-
do, apesar de estar só no mercado
“SKOL É A TERCEIRA
brasileiro. E, sem dúvida nenhuma,
CERVEJA MAIS VENDIDA
isso foi fruto de inovação. DO MUNDO, APESAR DE
ESTAR SÓ NO MERCADO
JR – É um mundo curioso esse, pois há BRASILEIRO.”
50 anos os americanos tomam cerveja
em lata. Se você disser, lá, que existe
qualquer coisa de inovador numa lata
de cerveja, eles não vão entender.
não inventando uma tecnologia, tivas e inovadoras. Tive a oportu-
GRACIOSO – Mas, no Brasil, fez di- mas – eventualmente – usando a nidade de dirigir três negócios na
ferença e promoveu a marca entre mesma tecnologia de uma forma Nestlé, todos perdendo dinheiro.
os jovens. que outras empresas não usaram. Um até ia sair do país. Com a
Chambourcy, por exemplo, o pro-
JR – O Cezar falou da soma da in- ANDRÉ – A inovação é muito mais blema não era dinheiro; mas como
venção com o insight. O que será um ponto de vista e uma filosofia inovar, ser diferente em tudo – in-
essa soma? do que um departamento ou algo clusive da própria Nestlé, que, na
que esteja contido em laboratórios. época, tinha uma estrutura pesada.
CEZAR – Quando falamos de ino- O normal no marketing, sobretudo
vação, muitas vezes pensamos só CEZAR – Muitas vezes, a inovação nos últimos 10, 20 anos, era criar
no produto. Mas pode-se inovar em conflita com o próprio sucesso da gerentes de produto para detalhar
outras áreas: no modelo de negócio, empresa. e aprofundar cada produto, e eu fui
no relacionamento com o cliente. no caminho inverso: nomeei um
O que chamamos da interseção do GRACIOSO – Assisti, certa vez, gerente para a marca e por acaso
insight com a invenção é que se a uma palestra, de um professor era o Ivan Zurita, que hoje é o pre-
pode usar a invenção de alguém americano, que dava um exemplo sidente. Eu não quis gerente de
para revolucionar uma outra área, assim: “Uma old organization de- produto porque achei que iria dis-
embora a invenção não seja sua. cide ser criativa, inovadora e in- persar meus esforços. Eu tinha de
Vou citar alguns exemplos: a veste uma fortuna em novas tec- ser mais criativo e encontrar uma
Amazon.com não inventou a nologias. E o que acontece? Sim- estrutura que me permitisse com-
internet, mas criou um modelo de plesmente ela se transforma numa bater o meu grande problema – que
comercialização. A eBay não COO: Costly Old Organization”. É im- era o Danone, a Nestlé dos iogurtes.
inventou a internet, muito menos o portante que uma nova tecnologia, Os gerentes de produto da Danone
leilão – mas juntou esses dois lados uma nova estratégia, sejam acompa- iriam competir comigo, que estava
e criou até uma nova profissão: nhadas por um insight. Caso contrá- em nível superior. Procurei ver co-
existem mais de 700 mil pessoas, rio, vira Costly Old Organization. mo poderia levar vantagem nesse
nos Estados Unidos, que têm como processo, inovar na maneira de dis-
primeira ou segunda fonte de AVELAR – Vou me reportar a casos tribuir produtos, não aceitar as
receita a venda de produtos pelo bem concretos, que vivi na Nestlé. condições básicas que o mercado
eBay. Este é um grande poder de Acho que a inovação é um proble- utilizava, nem a própria Nestlé.
transformação: usar determinadas ma do indivíduo. Comparo-a àque- Inovar, por exemplo, na própria ma-
coisas, que já existem, de forma la famosa liderança inata. Há neira de considerar o orçamento de
inovadora; quebrar o paradigma, pessoas que são naturalmente cria- marketing – que, para mim, ainda ¯

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 117


Mesa-Redonda

hoje está ultrapassado. Orçamento JR – Até que ponto “more of the todas tiveram o mesmo destino.
de marketing baseado em taxa de same” não será a melhor estratégia, Será que tenho de me comparar
marketing é jogar dinheiro fora. para uma empresa? sempre com as outras, se todas
Um produto novo começa, por de- estão no “efeito manada”, indo
finição, com uma venda baixa. GRACIOSO – Há quatro variáveis para o mesmo buraco? A inovação
Uma taxa – por maior que seja – quando se trata de introduzir significa quebrar esses paradigmas.
sobre essa venda, não gerará di- inovações. Primeiro é a própria em- Não se deve comparar com “as
nheiro para lançar o produto. Então, presa, que pode ser aberta ou fecha- outras”.
é preciso acabar com a noção de da à inovação. A Nestlé – no tempo
lucros e perdas por produto. Não me a que o Avelar se refere – era uma MARCELLO – Acho que a grande
interessa; interessa-me o negócio da empresa fechada à inovação. E há resposta é a invenção e o insight
Chambourcy – são marcas. E foi duas naturezas na inovação em si: andando juntos. Antes de ir para a
quando descobri também que pro- a inovação radical e a circunstan- AmBev, trabalhei por quase 10 anos
duto não é objetivo; é meio. Isso cial. Se inovamos quando as coi- na Unilever e lá se falava muito
termina inovação. E assim todos os sas estão relativamente bem, ela de inovação. Ouvia: precisamos de
processos foram mexidos. A mesma pode ser circunstancial e, portanto, uma inovação por ano; precisamos
coisa foi feita quando peguei a li- mais fácil de introduzir, com maior de três inovações por ano. Mas você
nha Yopa. Inovação é um estado de chance de êxito. Se esperamos que precisa da invenção, porque o
espírito, é um líder que tem idéia as coisas fiquem realmente pretas, modelo de negócio depende disso.
inovadora, transmite e passa para aí tem de ser radical. O Zurita nos No mercado de cerveja não dá.
toda a equipe. É possível inovar em disse, na entrevista, que quando ele Não queremos inovar tanto assim,
grandes empresas. se dispôs a inovar – na Nestlé de 5 especialmente quando falamos de
anos atrás – viu-se obrigado a líquido – porque é o que temos de
introduzir mudanças radicais, que mais precioso. Se mudo o líquido,
“TIVERAM O INSIGHT DE só funcionaram porque ele subs- perco o consumidor. Vide casos
USAR O QUE O POVO tituiu 95% dos diretores e gerentes Coca-Cola, Pepsi. Houve outro
ESTAVA DIZENDO E DAR O de primeira linha. Foi uma carni- insight que foi o do gole robusto,
NOME DE LEITE MOÇA.” ficina, mas foi o custo que teve de para descer gostoso na garganta.
pagar por esperar demais. Então, fizemos uma lata com uma
abertura maior. Vamos entender as
CEZAR – O Avelar disse que foi pessoas, estudar seus hábitos.
contra os concorrentes. Acho esse Agora, em dezembro de 2005, lan-
ponto interessante, porque as em- çamos a lata com isolante térmico
presas fazem o benchmarking umas – a Skolgeladona –, que ficou no
com as outras, no mesmo setor. As mercado durante o verão e man-
empresas de determinados segmen- tinha a cerveja gelada pelo dobro
tos são muito parecidas. Quando se do tempo. Também inovamos em
muda alguma coisa – principal- gestão de marca – a estrutura da
mente o modelo de negócio –, isso Skol não é uma estrutura de mar-
gera uma dinâmica que obriga as keting tradicional, como existe em
outras a se repensarem. Falamos várias empresas. Tenho, por exem-
de companhias aéreas. Quando plo, um gerente de entretenimento,
surgiram modelos como a Ryan Air uma gerente de comunicação, um
– e, aqui no Brasil, a Gol, elas gerente de mercado. Quer dizer, a
mudaram o tipo de negócio. Isso própria estrutura funcional da mar-
abalou o modelo existente. Tanto ca trabalha de maneira diferente
nos Estados Unidos como na Europa para conseguir ter um braço ligado

118 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Sobre criatividade, inovação e mudança

no dia-a-dia das regionais de ven- mais diversos formatos, e aí torna- gerar oxigênio e capacidade para
das, para não perder essa conexão; se difícil conciliar as coisas. Por isso levar a empresa a uma gestão
um outro braço focado nas ações sempre há uma marca superior, que vencedora.
que podemos fazer – bellow the line domina as outras. Os produtos
– para mexer com a vida das pes- passam e a marca fica. Produto é GRACIOSO – A empresa pode
soas. Atuamos com uma marca acólito, é servo. O importante é a confiar a sua inovação a terceiros? ¯
jovem, parceira dos jovens. marca. Assim precisa haver uma
pessoa madura para dirigir a marca
AVELAR – Inovação é como bi- – e os produtos são meios.
cicleta – há que se pedalar cons-
tantemente, senão cai; ou como GRACIOSO – Como introduzir
“INSIGHT, INTUIÇÃO, INSPIRAÇÃO
uma planta, que tem de ser regada, inovações e obter resultados em
– DÊEM O NOME QUE QUISEREM
senão morre. O Marcello falou da empresas tradicionalmente fecha- – A ORIGEM É O MERCADO.”
inovação da sua gerência de mar- das às mudanças?
keting. Hoje, não teria, de maneira
nenhuma, as funções de gerente de ANDRÉ – Parece que todos con-
produto. Já foi uma função impor- cordam que inovação pode passar
tante, vital – mas está esgotada. Ne- por uma decisão unilateral de um
nhum gerente de produto consegue líder – alguém que está diante de
ter uma visão ampla do negócio. um desafio e precisa, de repente,
Então cuida de uma parte do pro- trocar todo o seu time. Ou então é
cesso; não do todo. O que eu faria algo que faz parte da cultura do
hoje seria ter um gerente ou diretor dia-a-dia do negócio – um com-
da marca, maduro, que vai dirigir posto que está no DNA da em-
a marca, e auxiliares que trabalha- presa, ou ainda, estruturas meno-
riam comigo por canais de vendas. res, onde, de alguma forma, se tem
Por exemplo, terei alguém que vai uma capacidade maior de gerar
olhar minha marca, meu produto conhecimento, empreendedo-
pelo canal do supermercado. Ago- rismo. Vou dar um exemplo prá-
ra, se tenho distribuidores pelo país, tico: estava em reunião com uma
que recebem valores grandes de pessoa cujo cartão de visita dizia:
produto e precisam repassar, aquele vice-presidente de marketing e
consumidor é outro, e o marketing inovação. Estávamos falando de
dele tem de ser diferente. Isso são um projeto que não fazia parte da
maneiras diferenciadas para gerar grande agenda daquela com-
mais negócio através da inovação. panhia, não fazia parte do dia-a-
dia. Era um processo inovador e ia
GRACIOSO – Na sua visão, qual gerar um resultado concreto para
a diferença entre gerente de produ- a organização. Mas aquela pessoa,
to e gerente de marca? que deveria ser o líder, tinha pouco
tempo a dedicar àquele assunto.
AVELAR – Tudo começou com os Vi que, antes de mais nada, teria
gerentes de produto. Mas, na rea- de convencer o meu interlocutor
lidade, o que há são marcas. O pro- de que aquilo era necessário. É im-
blema é que, nas grandes empresas, portante que as pessoas percebam
é difícil a gerência da marca, porque que somente uma cultura de
ela começa a se multiplicar, sob os inovação, dentro da empresa, pode

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 119


Mesa-Redonda

AVELAR – Ela pode confiar um vão aproveitar as oportunidades de inventaram o tubo de pasta de
pensamento mais livre, descompro- trazer um pouco de ar fresco para dentes que fica em pé. De cada três
missado. Acho que vamos ter uma esse mundo fechado, obtuso das idéias, produtos, processos, dentro
revolução no mundo das agências. idéias, para provocar a própria da Procter, um, pelo menos, é de-
Elas terão de reformular totalmente empresa que precisa ser provocada. senvolvido a partir de um agente
o seu modelo. Vejo duas crises: a externo. A IDEO é uma empresa
das agências e a do marketing, nas ANDRÉ – A IDEO talvez seja, ho- que trabalha com inovação, mas
empresas, que também não sabem je, um dos principais parceiros de tem foco específico em design e
o que querem. E há pessoas de fora inovação da Procter & Gamble. desenvolvimento de produto e criou
– como é o caso do André – que Entre outras coisas, foram eles que um negócio dentro do seu negócio,
que são os brainstorms. Ela come-
çou a ser chamada pelas empresas,
que diziam: “Gostamos da maneira
“CONTADOR, PILOTO DE AVIÃO NÃO PODEM SER CRIATIVOS.” como vocês pensam, do ponto de
vista de vocês, e do jeito como nos
fazem pensar. Não queremos que
vocês desenvolvam nada; mas sim
que venham até aqui para nos falar
um pouco sobre essa filosofia”.
Então, eles oferecem brainstorm
como seu principal produto. Volto
então ao meu ponto inicial: acho
importante que as empresas –
principalmente os seus líderes –
tenham a humildade de admitir que
os processos de inovação passam
por outras estruturas que não ne-
cessariamente estão dedicadas
àquele negócio.

GRACIOSO – O agente externo po-


de ser uma boa resposta.

AVELAR – Só se houver alguém ino-


vador na empresa.

CEZAR – Mas as empresas não vi-


vem sozinhas; vivem num ecos-
sistema. Imaginemos uma mudança
radical e seus impactos. Por exem-
plo, o que as câmeras digitais trou-
xeram para a indústria de filmes e
câmeras analógicas? Muda a ca-
deia de suprimentos – porque antes
se fazia determinado produto e ago-
ra tem de fazer outro; as compe-
tências internas são diferentes; as

120 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Sobre criatividade, inovação e mudança

alianças e parcerias são diferentes; exageradamente, quando se chega


a redistribuição é outra, completa- e diz: “Ok. Vou diminuir meus custos.
mente diversa. Muitas vezes, até Vamos acabar com esse laboratório
existe a intenção de mudar, mas de pesquisa porque está gastando
essa mudança pode acarretar enor- muito”. Isso é um problema serís-
mes modificações; não é fácil a simo e acho que o modelo econô-
mudança dentro de uma grande mico atual tem de ser repensado.
corporação. Esse é um dos fatores
que fazem com que as grandes cor- AVELAR – Mas não vejo contra-
porações sejam lentas. dição entre o risco do acionista e a
inovação. Se inovação faz parte do
AVELAR – Por que apelar a uma seu DNA, ela é algo que está lhe
empresa de fora para realizar mu- dando resultado permanente. A
danças na sua empresa? Por causa inovação tem duas razões de ser: é
dos trilhos. Na empresa, em qual- essencial para a sobrevivência e
quer área – finanças, contabilidade, para o crescimento mas, antes do
produção – há trilhos. Tudo que se crescimento, é sobrevivência. Dei
pede para fazer: “Ah! Isso não dá.” um exemplo banal da bicicleta,
Nós nos enamoramos daquilo que mas ou você inova, ou morre.
fazemos. Criei isso com tanto cari-
nho e vou jogar fora? Sabemos mui- CEZAR – No setor em que atuamos,
to bem a dificuldade para um ge- de alta tecnologia, talvez 2/3 do
rente de produto em matar um pro- valor das ações sejam relacionadas
duto. Só com alguém de fora – com o que está se inventando. Ou-
muitas vezes – é possível chegar a tros setores já são mais conser- “É UM MUNDO CURIOSO
um ponto desses. vadores e talvez só se consiga ESSE, POIS HÁ 50 ANOS OS
inovar quando se está numa situa-
AMERICANOS TOMAM
CEZAR – A inovação, muitas vezes, ção catastrófica.
CERVEJA EM LALATTA .”
entra num espaço desconhecido de
risco, e o próprio acionista – na gran- AVELAR – Acho que se tornou ca-
de maioria das vezes – é receoso, tastrófica porque era conservadora.
não quer se arriscar. na capa: “Inovar é a capacidade
ANDRÉ – Essa questão do risco é de transformar idéias em lucro”. O
JR – Podemos encontrar soluções relevante e está associada à ma- lucro é a regra básica do capitalis-
aparentemente inovadoras, que geram neira como as empresas estão orga- mo. O que acho interessante, nesta
resultados de curto prazo, mas que, nizadas. Quanto mais hierárquicas, frase, é a palavra “transformar”,
eventualmente, podem comprometer menos dinâmicas, mais se tem porque talvez o lucro já esteja acon-
valores importantes na empresa. cobrança – e não é só do acionista, tecendo, dentro de uma situação ou
Devemos trazer isso para a discussão mas há cobrança de todos os lados. idéias que estão acontecendo.
porque tem a ver com ética. Aparentemente, quanto menos se Então, para que vou investir numa
mexe em determinada situação, idéia, ou transformar alguma coisa
CEZAR – Inovação, inevitavel- mais fácil, teoricamente, fica de- para gerar um lucro lá na frente?
mente, traz uma dose de risco. Al- sempenhar a sua função. A revista Talvez seja esse o raciocínio do
guns penalizam o fracasso; outros Exame, há pouco tempo, publicou “não correr risco”.
vêem o fracasso como uma tentativa uma boa matéria sobre inovação,
de se chegar a algum lugar. Mas a falando de alguns casos internacio- GRACIOSO – Creio que o que per-
prática da cobrança de resultado, até nais, e alguns no Brasil, e estampou meou todas as intervenções foi que ¯

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 121


Mesa-Redonda

mercado. Mas também estamos de


acordo que, para que ela exista, é
preciso que haja um motor nas em-
presas – uma liderança, seja pe-
quena ou grande.

JR – Acho que podemos, agora, falar


da Escola. A Business Week , na
edição especial, apresentou três con-
clusões: a inovação pode ser ensi-
nada; a inovação pode ser geren-
ciada; e, a inovação pode ser esti-
mulada. Acho que no caso da escola
e dos futuros profissionais, os jovens
que estão, de certa forma, sob nossa
responsabilidade, teremos de ensinar,
estimular e mais do que isso, ensinar
“INOVAÇÃO É COMO BICICLETA: SE a gerenciar. O que vocês acham?
NÃO PEDALAR CONSTANTEMENTE, CAI.”
GRACIOSO – Acho que, além dis-
so, a escola deve incutir na cabeça
dos alunos duas coisas: 1) não tenha
medo da inovação, da mudança.
a origem da inovação é o mercado. tória porque foi a diferença entre Controle a sua ansiedade, os seus
Acho que quanto mais perto do mer- um sucesso pequeno e um notável temores, que são naturais, e encare
cado a empresa e o indivíduo es- sucesso, de um dos produtos mais a mudança como algo positivo; 2)
tiverem, mais intuição, inspiração importantes da Nestlé. seja o agente dessas mudanças.
eles terão. Insight, intuição, inspi- Não seja levado a reboque por elas.
ração – dêem o nome que quise- GRACIOSO – E um dia chegou o
rem –, a origem é o mercado. momento – e o Avelar viveu isso – AVELAR – Estou de acordo com
em que o leite condensado, como você, mas acho que o que a escola
JR – Na Nestlé, ouvimos uma his- produto, estava no fim do ciclo. E tem de fazer é orientar o sentido da
tória antiga de inovação sobre o alguém percebeu que o mercado já mudança que todo jovem tem. Eles
Leite Moça, leite condensado, usa- tinha superado essa fase e estava uti- sempre querem mudar tudo. Tenho
do até na guerra, porque era uma lizando o produto para outros fins, muito contato com jovens, nas
forma de conservar o leite. As pri- como base de receitas variáveis. Foi minhas palestras, e o que vejo é que
meiras remessas que vieram para o a dona-de-casa que disse: “Dona eles querem fazer diferente. Não há
Brasil foram importadas, e o pessoal Nestlé, comece a anunciar briga- coisa mais perniciosa – para a pro-
daqui, que não entendia o que esta- deiro porque é isso que nós fazemos”. paganda, por exemplo – do que essa
va escrito no rótulo, dizia: “Eu que- história de fazer diferente.
ro comprar o leite da moça”. Quan- JR – E esse insight é interessante por-
do a empresa passou a fabricá-lo que não depende de tecnologia; de- GRACIOSO – Não se limite à pro-
aqui, tiveram o insight de não cha- pende de percepção. paganda; estamos falando de algo
má-lo de “Milkmaid” ou “A leitei- mais amplo.
ra”, mas de pegar o que o povo esta- AVELAR – O Gracioso acentuou
va dizendo e dar o nome de Leite que, para a inovação existir, é ne- AVELAR – Falei da propaganda por
Moça. Gostamos muito dessa his- cessário que estejamos atentos ao acaso, mas a tendência dos jovens,

122 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Sobre criatividade, inovação e mudança

em qualquer área, é fazer diferente, porque os problemas na nossa vida dando aulas filosóficas sobre a vida,
mudar por mudar. Acho que devemos nunca eram iguais, a rotina nunca a profissão que inspira os jovens e
manter esse espírito de mudança – esse é a mesma. No ambiente acadê- os fazem pensar. E temos os profes-
arrojo que o jovem tem – mas orientá- mico, ainda precisamos da prática, sores que misturam as duas coisas
los para resultados. Estava conversando porque é aí que se consegue trans- e, pouco a pouco, muitos deles aca-
com uma moça que estuda turismo, e formar inovação em resultado, é bam optando pela cátedra. Essa
ela tem idéias grandiosas de mudança, preciso estudar cases, aprender co- mistura é salutar.
como o hotel ideal. Eles foram fazer mo outras pessoas pensaram para
uma visita técnica em um hotel e acha- resolver os problemas e não, ne- AVELAR – Acho que é isso: sempre
ram que os apartamentos do fundo não cessariamente, como elas os resol- ter professores que vêm da prática com
eram legais porque eram escuros, o exe- veram. Acho que esta é a grande professores acadêmicos, e fazer uma
cutivo chega estressado, então todos contribuição de uma escola para promoção ativa dessa simbiose, que
os hotéis precisam ser de frente para o este tipo de área de atuação. será benéfica para os dois lados.
mar. O que falta ao jovem é a visão
do resultado, da aplicação prática. AVELAR – Gostei do verbo que o ANDRÉ – Essa visão do ensinar a
Mudar sim, mas para quê, por que e Gracioso utilizou. Ele tinha três ver- pensar deve ser difundida. É pos- ¯
com que resultado. bos: ensinar, estimular e gerenciar.
Ele driblou os três e falou incutir. É
CEZAR – Inovação é multidisci- essa a idéia: incute e dirige.
plinar. Um ponto interessante é que
existem algumas carreiras que JR – Essa Escola nasceu de um gru-
tendem a ser muito conservadoras po de profissionais, que não eram “O BRASIL É O PAÍS DA
– os próprios professores inibem. professores, e até criaram o famoso CARTEIRA ASSINADA: ISSO
Quando falamos de administração, slogan “Aprenda com quem faz” – ACABA INIBINDO.”
economia, engenharia, vemos que e isso foi a semente de uma revo-
muitos dos seus modelos e teorias lução no ensino brasileiro. Hoje,
são coisas que não fazem mais parte nos vemos diante de exigências do
do mundo globalizado. ensino formal – especialmente o
MEC – que exige dedicação exclu-
JR – Ninguém gosta muito de ter um siva de professores. Vejo uma con-
contador criativo... tradição nisso. Quer dizer, entre um
professor que vive a sua carreira to-
CEZAR – Contador, piloto de avião da entre as quatro paredes de uma
não podem ser criativos. escola e o início da nossa Escola
em que eram todos livres.
MARCELLO – Essa é a diferença
entre aprender métodos, teorias e GRACIOSO – De fato, temos três ti-
diagramas e aprender a pensar. O pos de professores: os do mercado,
que acho fascinante na minha pro- que trabalham em empresas. Temos
fissão; o que me fez escolher essa professores de tempo integral e são
área e discutíamos muito aqui na alguns daqueles que mais fazem os
ESPM – todo ano perguntávamos alunos pensarem. O professor de
uns aos outros o que tínhamos tempo integral, quando é bom, en-
aprendido naquele ano. E, com o sina os alunos a pensar. Temos vá-
tempo, na prática, percebemos que rios exemplos desse tipo. O Mário
a grande contribuição que tínhamos Chamie, por exemplo, ainda faz a
da ESPM era aprender a pensar, cabeça de muita gente aqui dentro,

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 123


Mesa-Redonda

sível imaginar que daqui a vinte CEZAR – Aproveitando o que foi dito eficácia. O Cezar pediu ênfase na
anos as pessoas que estarão sendo de empreender e inovar. Quando se inovação voltada para as funções
formadas debaixo de uma nova vai para áreas, como as que a IBM técnicas. Na minha opinião, no Brasil
visão, ou uma escola que se propõe reúne – engenharia, administração, pelo menos, há mais inovação na enge-
a ensinar a pensar, que esteja economia, ciência da computação nharia, logística, na parte técnica das
olhando para o mercado. Acho que –, há uma carência muito grande por empresas do que no marketing, que se
o grande papel da escola é levar ao empreendedores. Temos conversado encontra ainda bem atrasado.
mercado pessoas que – mais do que muito nos programas de apoio à
um cargo – estejam em busca de universidade e uma das principais JR – Isso poderia ser expandido para
um papel a desempenhar; que, mais carências nos currículos é exatamente o campo das ciências humanas. No
do que cumprir tarefas, estejam pensar, inovar, empreender. Estamos Brasil, há mais inovação na área
expressando seus talentos a serviço vendo que, eventualmente, no futuro, científica e técnica do que no pen-
de um pensamento inovador: pro- vão ser pequenas empresas, empre- samento humanístico.
duzir pessoas capazes de correr endedores, principalmente quando se
riscos. Não faz muito tempo eu fala do nosso caso que é ciência da GRACIOSO – A venda no Brasil é
estava na universidade. Desde o computação, tecnologia da infor- antiquada, a comunicação com o
primeiro dia em que tomei conhe- mação, em que o instrumento de mercado é atrasada. Nisso tudo
cimento do meu papel como in- trabalho é sua cabeça e um com- falta inovação.
divíduo até o momento da for- putador que se carrega no bolso. Não
matura, basicamente o que a univer- é necessária uma linha de produção. JR – Tivemos uma mesa rica, de idéias
sidade ensina é “você tem de ter inovadoras e de experiências pessoais
um emprego”. O Brasil é o país da GRACIOSO – O André – num dado estimulantes. Espero que o exercício
carteira assinada. Isso acaba inibindo momento – conceituou a inovação, a intelectual, que desenvolvemos aqui,
alguns conceitos importantes, como mudança como algo legítimo, quando sirva de estímulo a nossos leitores – e
a capacidade de pensar, empre- provoca resultados esperados, men- aos nossos professores e alunos – para
ender, inovar. suráveis de atitude, comportamento, continuar esse debate. ESPM

“A GRANDE CONTRIBUIÇÃO DA ESPM FOI ENSINAR A PENSAR.”

124 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


CA SE
Case-Study

Pesquisa como
instrumento
de inovação
Case preparado pela professora Ione Almeida, ESPM–SP.
Redatora-assistente: Rosilene M. A. Marcelino

A volkswagen las mãos do GEIA – Grupo Executivo seja, impul­sionou a estru­turação de


e um breve da Indústria Automobilística. toda a cadeia produtiva do setor.
histórico
Criado pelo então presidente Jus­celino
do setor Diante de um cenário em desen­
Kubitschek, o GEIA tinha o objetivo
automotivo volvimento, a VW iniciou suas ati­vi­
de alavancar a economia brasileira,
dades no Brasil de forma gra­dativa.
atraindo capital estran­geiro para a
Corria o ano de 1953 quando a Vol­ Primeiro, com a mon­tagem de apenas
indústria automo­bilística.
kswagen (VW) decidiu fazer seu pri­ dois veículos: o fus­ca sedan 1200 e a
meiro investimento em mon­tagem e Esse movimento teve a capa­cidade Kombi. De­pois, em 1956, começou a
fabricação fora da Ale­manha. Com um de gerar outros negócios para o pa­ís, cons­trução de sua fábrica em São
capital equiva­lente aos dias de hoje a como a indústria de autopeças, ofici­ Paulo, no km 23 ½ da Anchieta,
R$ 25 mi­lhões, chegou ao Brasil pe­ nas, fundições de ferro, reven­das; ou inau­gurada três anos depois.

126
R e v i s t a d a ES P M –maio/junho de 2006
Fox

Em meados de 1957, produziu a da produção nacional e com isso Para manter essa posição de lide­
Kom­bi – o primeiro carro brasileiro atingia 60,7% da frota de veículos rança, a empresa apostou na amplia­
fabricado com mais de 50% de que circulavam pelo país. ção de seu portfólio ao longo dos
com­ponentes nacionais. Em 1959, anos e lançou modelos como o Kar­
lançou o Fusca, considerado uma O sucesso da empresa estava mann-Guia, a Variant, TL 4 por­tas, o
paixão nacional. em seu posicionamento claro Passat, a Brasília, além de di­ver­sas
perante os consumidores: carros variações do Fusca.
Os anos 60 foram de grande as­ com me­câ­nica robusta, de fácil
censão econômica. Em 1962, o manu­tenção, grande economia Em 1970, a VW atingiu a marca de
Fusca tornou-se líder de mercado de com­bustível e com preços com­ 1 milhão de automóveis produ­zidos.
e, em 1965, a VW detinha 59% petitivos. Dez anos mais tarde, a empresa à

m a i o / j u n h o d e 2 0 0 6 – Revista da ESPM
127
Case-Study

lançou o Gol, carro que desde 1986


mantém a posição de mais vendido.
Ainda nos anos 80 vieram o Voyage,
a Parati, a picape Saveiro e um novo
segmento – caminhões.

Os anos 90 trouxeram um novo go­verno


e um ambiente mais com­pe­titivo. A
decisão do ex-presi­dente Fer­nando
Collor de abrir o mer­cado para a
importação pro­vocou mudanças
também no setor automotivo.

A princípio, as montadoras aqui


instaladas viram-se obrigadas a
reagir frente às novas exigências do
mercado para poder competir com
os modelos concorrentes que che­
gavam ao país. Inovação tornou-se
palavra de ordem.

Mas o embate dessa abertura ocor­reu


efetivamente após 1995, quan­do as
importações cederam lugar a in­ves­
timentos concretos, com a ins­talação
de outras montadoras no Brasil.

Os grupos internacionais, que en­


frentavam a estagnação do mer­cado
europeu, vislumbraram na Amé­rica
Latina e, sobretudo, no Brasil, uma
atraente oportunidade de inves­
timento, dada a esta­bilização da
economia e a pos­sibilidade de cres­
cimento no setor.

As empresas que aqui aportaram


acre­ditaram no crescimento econô­

FCriado pelo presidente


Jus­celino Kubitschek, o
GEIA tinha o objetivo de
alavancar a economia
brasileira, atraindo capital
estran­geiro para a indús-
tria automo­bilística.

128
R e v i s t a d a ES P M –maio/junho de 2006
Fox

mico, na elevação do poder aqui­ e com a maior brevidade procu­ A Reação da


sitivo da população, no desejo dos raram corrigir suas estratégias. A Volkswagen
consumidores em adquirir carros fabricação de carros populares
melhores. Conseqüentemente, a emergiu como o cami­nho mais O posicionamento claro que ga­
apos­ta da indústria foi no modelo indicado. rantiu a liderança de outrora não
de carro médio e no de luxo. A era mais suficiente. Carro de fácil
Volks­wagen fez a mesma inter­pre­ O legado dessa fase transformou manutenção, econômico e com
tação de cenário e apostou no Pólo o Brasil no país com o maior preço competitivo tornou-se com­
e no Golf. Chegou, inclusive, a número de montadoras. São de­ modity. O consumidor passou a
cons­truir em São José dos Pinhais zessete mon­tadoras instaladas. escolher de outra forma: a questão
uma fábrica nova destinada à pro­ Nem mesmo o Japão e os Esta­ técnica ficou em segundo plano;
dução do Golf. dos Unidos, que são os maiores a procura por design, beleza, aces­
mercados de carro, têm esse sórios, conforto, entre outros, veio à
Contudo, a demanda por carros número de players; o que por tona; aspectos intangíveis pas­saram
me­­lhores não aconteceu e a si só mostra o nível de compe­ a ter destaque – um carro, por exem­
pro­dução na­cional caiu. As mon­ titividade existente na indústria plo, precisa traduzir o estilo de vida
tadoras per­ceberam o equívoco automobilística brasileira. de seu proprietário. à

F Em meados de 1957, produziu a Kom­bi – o primeiro carro brasileiro


fabricado com mais de 50% de com­ponentes nacionais.

m a i o / j u n h o d e 2 0 0 6 – Revista da ESPM
129
Case-Study

A VW estava atenta para todos esses indí­ Paralelamente à reestruturação, a Este segmento está em que­da e abre
cios. Observou suas forças e fra­quezas, VW contratou a empresa Ipsos1 para espaço para dois ou­tros grupos: o
analisou as opor­tuni­dades e as ame­ realizar um estudo de segmen­tação sensato e o guiado pela imagem.
aças da indústria automobilística. atitudinal. Essa ferramenta auxiliou
a empresa a conhecer o perfil do v Sensato: o consumidor procura
Ficaram evidentes dois pontos consumidor, bem como compreen­ um carro versátil, que o ajude nas
críticos: (a) agilidade na tomada e der as necessidades de cada perfil. A atividades do dia-a-dia (levar filhos
im­plementação de decisões para pesquisa revelou quatro segmentos à escola, ir ao super­mer­cado) e ao
não perder mais participação de distintos de consumidor: mesmo tempo possa ser usado em
mer­cado, (b) conhecer em profun­ viagens nos finais de semana. Este
didade as necessidades, os desejos, v Entusiasta por status: este con­ grupo está cres­cendo e é tipica­mente
as aspirações e o com­portamento sumidor busca prestígio, quer ter feminino (70% são mu­lheres).
de compra do con­sumidor. uma Mercedes, um BMW. Este
segmento tem-se mantido está­ v Guiado pela imagem: trata-se de
A VW canalizou esforços para rever e sin­ vel ao longo dos anos, tanto em um grupo de pessoas com espírito
cronizar estratégias, estruturas, pro­cessos carac­terísticas do perfil, como em jovem, original e diferente. O con­
e gestão de pessoas para garantir mais tamanho. su­midor desse segmento gosta de
velocidade às ações. Para a indústria au­ aventura e atividades radicais e seu
tomotiva em ge­ral é muito difícil imprimir v Essencialista: é o consumidor carro precisa passar essa imagem,
um ritmo ágil; o lançamento de um carro, que compra um carro pensando em mesmo que ele não vivencie todas
por exemplo, leva no mínimo 3 anos. investimento, no valor de re­venda. essas experiências.

F Em 1959, lançou o Fusca, considerado uma paixão nacional.

130
R e v i s t a d a ES P M –maio/junho de 2006
Fox

Perfil do consumidor
FONTE: Volkswagen/base: Resarch Analysis

Emocional
tecnologia
prestígio/luxo

Entusisastas
por status 19%

Inovador Guiados pela Conservador


design imagem 28% formalidade
jovem de tradicional
espírito
Comprado-
res sensa-
tos 21%
Essencialistas 32%

Racional
baixo custo
vale o que custa

A análise de todo contexto mer­


cadológico e as mudanças internas FCriar um carro em até 38 me-
ses e submetê-lo à aprovação
contribuíram fortemente no desen­ da matriz na Alemanha não era
tarefa fácil.
volvimento de um novo carro.

Fox: um carro
totalmente desen­
volvido no Brasil

A VW estava interessada em trans­


formar a fábrica brasileira em um
pólo de exportação mundial. Isso
foi determinante para que o projeto
de um novo carro fosse totalmente
desenvolvido no país.

Criar um carro em até 38 meses e


submetê-lo à aprovação da matriz
na Alemanha não era tarefa fácil. Era
sim um desafio e tanto, uma opor­
tunidade ímpar. Isto motivou e uniu
equipes de diversas áreas, como desen­
volvimento, marketing, enge­nharia,
tecnologia, criação, acabamento. à

m a i o / j u n h o d e 2 0 0 6 – Revista da ESPM
131
Case-Study

FPraticamente um ano de-


pois, em maio de 2006, che-
gou ao mercado mais uma
variação do Fox,
o SpaceFox.

Foram muitas reuniões para trans­ Depois da construção do design outros a linha de co­municação. Também
formar as informações apre­endidas estudos foram desen­volvidos. Sete foi realiza­do um estudo para esco­
em conhecimento e decodificá-las meses antes do lançamento do novo lha do no­me do carro e chegou-se
em decisões de como deveria ser carro foi realizada uma ‘clí­nica de à marca Fox, um nome curto e fácil
este novo modelo. produto’. de ser pro­nun­ciado.

Concluíram que o carro precisava Essa nova bateria de pesquisas teve duas Apesar de todo empenho, o Fox che­
ser desenvolvido com foco nos pas­ fases, uma quanti e outra qua­li, e a a­­mos­tra gou ao mercado em 2003 na versão 2
sageiros (DAP – Designed Around foi com­posta por pessoas que ti­nham portas, mesmo com as pes­quisas sina­
Passangers), valorizando sobretudo a intenção de adquirir um veículo lizando a preferência do consumidor
o espaço interno. nos pró­ximos meses do mesmo seg­­mento pelo modelo de 4 portas (lançado em
(novo Fiesta, Corsa, Clio, Peugeot 206 e as abril de 2004). Essa foi uma decisão
A configuração da família bra­sileira versões não básicas do Pálio). estratégica para não atrasar o lança­
pesou muito nesta decisão. As pes­ mento do no­vo produto.
quisas sinalizaram, por exemplo, A fase quantitativa avaliou, entre outros
que a altura dos jovens havia fatores, cada um dos veículos concor­
au­mentado, o que exigia um teto rentes do Fox, confrontando-os frente O lançamento
mais alto; fa­mílias com crian­ças ao novo produto. Na se­gunda fase, do Fox
pediam um por­ta-malas com mais a qualitativa, testou-se o con­ceito do
espaço; mu­lheres apreciam porta- produto através de grupos de discus­ No período de introdução do novo
objetos. são. E esse con­ceito dire­cionou toda produto, além da natural atenção

132
R e v i s t a d a ES P M –maio/junho de 2006
Fox

dispensada aos concorrentes (Peu­ O Fox chegou ao mercado co­mo namento do produto ao público-
geot 206, novo Fiesta, Corsa, Clio pioneiro no conceito DAP (Desi­gned alvo. E a comunicação trabalhou o
e versões não básicas do Palio), Around Pas­sangers) e com a propos­ principal atributo do carro – o con­
a VW também se movimentou ta de a­tender a um público de carro forto interno – e utilizou o slogan
in­ternamente para evitar uma cani­ pequeno, mas que exige certa sofis­ “Compacto para quem vê. Gigante
balização. ticação. Foi direcionado ao público para quem anda”.
jovem, que alterna o uso urbano
Assim, ao introduzir o novo pro­duto, com o lazer fora da cidade. A campanha de lançamento foi
a VW estrategicamente dimi­nuiu fundamental na introdução do novo
a produção do Gol para facilitar a A campanha de lançamento apre­ carro. Na época, o mercado de 2
entrada do Fox. sentou o conceito e o posicio­ portas era de 2.000 carros/mês e es­ à

Conceito:
F Utilitário esportivo compacto, que transporta confortavelmente cinco passageiros,
uma vez que possibilita a mudança na posição do assento do motorista trazendo con-
forto ao passageiro do banco de trás. Possui
a posição elevada do banco do motorista, ampliando a visibilidade e a sensação de
segurança de quem dirige. Além de apresentar a possibilidade de ampliação do porta-

A campanha de lançamento abrangeu TV, rádio, outdoor, revista, jornal, PDV, cinema.

m a i o / j u n h o d e 2 0 0 6 – Revista da ESPM
133
Case-Study

se número era exatamente o ob­jetivo


inicial de vendas do Fox.

Com o mix produto e comunicação, o


Fox superou as expectativas: o mer­cado
absorveu o novo carro e dobrou de
tamanho. Atualmente, o Fox representa
60% do mercado de carros 2 portas.

Mesmo diante do sucesso, a VW


não deixou de fazer a pesquisa Early
Buyer, realizada sempre três meses
depois do lançamento de um novo
pro­duto, com o objetivo de avaliar
a satisfação dos primeiros compra­
dores em relação ao carro.

Além disso, a satisfação geral do con­


sumidor também é avaliada a par­tir
de indicadores do SIQ (Sis­tema
de Informação de Qualidade), tais
como: avaliação do show room da
conces­sionária, do vendedor, do
preço do veículo usado, da entrega
do veículo e do acompanhamento
após a compra por parte do conces­
Assim, em abril de 2005, foi lan­çado o CrossFox.
sionário. F Um carro de espírito off road, desenvolvido para
atender ao segmento dos guiados pela imagem e
para concorrer com EcoSport (Ford), Doblô e Palio
Adventure (Fiat).

Classificação de carros - percepção do consumidor

exclusivos/
Sedan de luxo Esportivo popular sedan compacto Off road Pick Up
minivans

Exclusivos Espírito Mini

Minivans Suv Grandes

subgrupos

Fonte: Volkswagen

134
R e v i s t a d a ES P M –maio/junho de 2006
Fox

Esse acompanhamento demonstra a anos e que vem se man­tendo líder os segmen­tos em crescimento, o
preocupação da empresa em corrigir no mercado, é um fato que não se sensato e o guiado pela imagem.
elementos do marketing mix. ob­serva mais no setor”.2 Esse dire­cionamento, aliado ao re­
sultado do estudo de percepção do
A extensão de linha do Fox foi a consu­midor, funda­mentou a decisão
Inovação alternativa escolhida pela empresa da companhia em estender a linha
através da para imprimir um ritmo de inova­ do Fox para off road e exclusivo/
extensão de ção. E, antes de partir para desdo­ minivans.
linha bramentos do Fox, a VW procurou
mais uma vez saber e compreender Assim, em abril de 2005, foi lan­çado
A Volkswagen até aqui usou, estra­ a percepção do consumidor. o CrossFox. Um carro de es­pírito off
tegicamente, o ferramental de pes­­­ road, desenvolvido para a­tender o
quisa de marketing no desen­vol­ Novas pesquisas identificaram a ma­ segmento dos guiados pela imagem
vimento, no lançamento e no mo­ni­­ neira como o consumidor seg­mentava e para concorrer com EcoSport
toramento de seu novo produto. o mercado de carros (se­dan de luxo, (Ford), Doblô e Palio Adventure
esportivo, popular, sedan, compacto, (Fiat).
Mas a inovação é palavra de ordem exclusivos/minivans, off road, pick-
ditada pelo mercado e pelo con­ up) e também alguns subgrupos Praticamente um ano depois, em
sumidor. E a pesquisa de mar­keting (vide quadro ao lado). maio de 2006, chegou ao mercado
passou também a dar apoio à VW na mais uma variação do Fox, o Spa­
descoberta de novas opor­tunidades. Como mencionado anteriormente, ceFox. Esse carro uniu carac­terís­ticas
Afinal, “um evento Gol, ou seja, a Volkswagen pretendia desen­ de uma minivan (versa­tili­dade e
um carro desenhado há mais de 20 volver um produto que atendesse espaço interno) e de uma station à

FO êxito da extensão de linha tam­


Fox: evolução do market share bém pode ser observado no rejuve­
Fonte: Volkswagen
nescimento que proporcionou à
7,5 imagem da própria VW.

6,9
5,8 6,5
5,7

44

2,8 4,1
2,6
jan 04 abr 04 jul 04 out 04 jan 05 abr 05 jul 05 out 05 dez 05

m a i o / j u n h o d e 2 0 0 6 – Revista da ESPM
135
Case-Study

fatores: (a) valorização do real frente


ao dólar e ao euro, e também (b) a
atratividade de mercados e­mer­gentes
como China, Leste Euro­peu, Índia.

Para a Volkswagen, que tem o Fox como


carro de entrada no mercado euro­peu, a
valorização da moeda brasileira compro­
meteu a compe­titividade de sua exporta­
ção, que deixou de ser lucrativa.

As primeiras ações da VW diante


do cenário atual foram anun­ciadas
recen­temente, como mostra o tre­cho
a seguir, extraído de uma ma­téria do
jornal O Estado de S. Pau­lo (OESP):
“... pressionada pelo fa­tor cambial,
vai reduzir as expor­tações em 40%. A
medida resultará em corte de produ­
ção de 100 mil veículos ao ano, o que
exigirá ajustes de mão-de-obra.” 3

Além disso, a VW no Brasil, que re­­pre­


senta o maior investimento da empresa
fora da Alemanha, precisa estar alerta
para os países emer­gentes. As multi­
nacionais do setor têm pulverizado
seus investimentos entre China, Leste
Atualmente, toda a indústria auto­mobilística enfrenta Europeu e Índia para baixar custos e
F uma crise impulsionada, principalmente, por dois fa- continuarem com­petitivas global­
tores: (a) valorização do real frente ao dólar e ao euro,
e também (b) a atratividade de mercados e­mer­gentes, mente. A Chi­na, em 2005, exportou
como China, Leste Euro­peu, Índia. mais carros do que importou. O
Leste Europeu planeja ampliar sua
capacidade produtiva para 1,6 mi­
(dirigibilidade e espor­tividade). O ser mensurado no volume de vendas. lhão de veículos.4
resultado foi uma sport van que che­ No lan­çamento, as ven­das do Fox
gou para com­petir com o Idea (Fiat), eram de 2.000 veículos/mês e, hoje, Segundo Rogelio Golfarb5, em en­
Meriva (GM), Perua Peugeot 206. conside­rando as diversas ver­sões, trevista ao OESP de 27/4/2006, as
alcan­çam um volume de 10.000 vantagens competitivas do Brasil
Dessa maneira, a partir da extensão de unidades. estão desa­parecendo e o país corre
linha do Fox a VW passou a aten­der o risco de ficar para trás. Ainda de
seus públicos de interesse: os sen­satos, a­cordo com ele, além do câmbio,
com a versão 1.0, e os guiados Cenário atual há outros pontos críticos como o
pela imagem, com o Cros­sFox e o cres­­­cente custo de mão-de-obra e
Spa­ceFox. Atualmente, toda a indústria auto­mo­ ma­téria-prima, e a elevada carga
bilística enfrenta uma crise impul­ tributária sobre a produção e in­
O sucesso da extensão de linha pode sionada, principalmente, por dois vestimento.6

136
R e v i s t a d a ES P M –maio/junho de 2006
Fox

derno de Negócios. Página B-18. Montadora quer

3)
Conclusão Dentro do ciclo de vida de
engenharia local. 27 de abril de 2006.
pro­duto, o Fox está na fase
de crescimento. Proponha Site: www.volkswagen.com.br. Acessado em
Este caso ilustra o uso estratégico do um arranjo do marketing mix para maio/2006.
ferramental de pesquisa de mar­ke­ting esta etapa do produto e justifique. Site: http://www.autoinforme.com.br/. Acessado
no desenvolvimento e no lançamento em abril/2006.
de um novo produto, além de sua utili­ Site: http://­www.ip­­­sos.
zação no moni­toramento do produto ao 2 Bibliografia com.br/default.asp?resolucao=800X600. Aces-
longo tempo e na descoberta de novas sado em maio/2006.
oportunidades. Aaker, David A. Kumar, V. Day, George S. Pesquisa
Site: http://www.vw.com.br/50anos/default.asp.
de marketing. Marcondes, Reynaldo Cavalheiro
Acessado em abril e maio/2006.
Demonstra também como a pes­ (Tradução). 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

quisa pode auxiliar a conhecer e


compreender melhor os anseios do Hamel, Gary. Prahalad, C. K. Competindo pelo fu- Agradecimentos
consumidor e dessa forma satis­fazê- turo:estratégias inovadoras para obter o controle Joel Leite
do seu setor e criar os mercados de amanhã. Ou- AutoInforme
lo com produtos que expres­sem
tras Palavras Consultoria Lingüística (Tradução). Marcelo Olival
exa­tamente seus desejos e neces­
6.ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998. Gerente de marketing da Volkswagen
sidades. Natalie Martha Giustra
Volkswagen
Kotler, Philip. Marketing para o século XXI:como
A análise estratégica das infor­mações
criar, conquistar e dominar mercados. Bazán
obtidas em estudos é fun­damental
Tecnologia e Lingüística (Tradução). 13. ed. São
no reposicionamento de uma marca Notas
Paulo: Futura, 2003.
consolidada no mer­cado, que estava 1
“Fundada na França em 1975, a Ipsos é uma
envelhecida e não tinha produtos empresa independente, com capital aberto,
Kumar, Nirmalya. Marketing como estratégia:
que correspondessem às exigências uma orientação inovadora e comprovada para o
administrada por profissionais de pesquisa”.
de um público com estilo de vida O grupo fornece globalmente “pesquisas de
crescimento e a inovação. Ricardo Bastos Vieira
mais jovial. ESPM marketing, propaganda, mídia, satisfação do
(Tradução). Rio de Janeiro: Campus, 2004.
consumidor e pesquisa de opinião pública e
social.” Site: http://www.ipsos.com.br/de-
McDaniel Jr., Carl. Gates, Roger. Pesquisa de fault.asp?resolucao=800X600. Acessado em
Questões marketing. James F. Suderland Cook (Tradução). maio/2006.
para discussão São Paulo: Thomson Learning, 2003.
2
Joel Leite, entrevista cedida em abril/2006.
Richers, Raimar. Lima, Cecília Pimenta. Seg-

1)
Observe a trajetória da Vol­- mentação: opções estratégicas para o mercado 3
Cleide Silva e Paulo Beraldi. O Estado de S. Paulo
ks­wagen no Brasil e analise brasileiro. São Paulo: Nobel, 1991. (OESP). Caderno de Negócios. Página B-20. 04 de
o cenário atual. Levante maio de 2006.
as forças e fraquezas da empresa e as
oportunidades e as ameaças do setor. Fontes
4
SILVA, Cleide. O Estado de S. Paulo (OESP).
Caderno de Negócios. Página B-18. 27 de abril
Proponha uma estratégia e justifique. LEITE, Joel. Entrevista cedida em abril/2006.
de 2006.
OLIVAL, Marcelo. Entrevista cedida em
Ao olhar o macro e o micro abril/2006. 5
Presidente da ANFAVEA (Associação Nacional

2)
ambientes, qual posicio­- dos Fabricantes de Veículos Automotores)
SILVA, Cleide Silva e BERALDI, Paulo. O Estado de
na­mento você recomenda­
S. Paulo (OESP). Caderno de Negócios. Página
ria para a Volkswagen? Justifique B-20. Volks ameaça demitir 5,7 mil com plano de
6
SILVA, Cleide. O Estado de S. Paulo (OESP).
e esboce estudos/pesquisas que reestruturação. 04 de maio de 2006. Caderno de Negócios. Página B-18. 27 de abril
poderiam colaborar neste reposi­ de 2006.
SILVA, Cleide. O Estado de S. Paulo (OESP). Ca-
cionamento.

m a i o / j u n h o d e 2 0 0 6 – Revista da ESPM
137
Leit ura
RECOMENDADA

CHRISTOPHER ALEXANDRE LUZZI LAS CASAS


LOVELOCK/JOCHEN WIRTZ Administração de marketing
Editora Atlas
Marketing de serviços São Paulo, 2006
Editora Pearson Education 536 p. – R$ 79,00
São Paulo, 2006
432 p. – R$ 95,00
Administração de Marketing foi desenvolvido
Escrito por um especialista, Christopher com o propósito de analisar conceitos e
Lovelock, em parceria com Jochen Wirtz, aplicações de marketing adaptados à realidade
estudioso do tema, o título aborda questões do Brasil. Os exemplos e casos brasileiros,
como CRM, comportamento do cliente, além de mencionados no texto, aparecem em
branding e serviços B2B. destaque nos quadros “O mundo do marketing
LUCIANO SABÓIA LOPES FILHO – marketing na prática”. Eles foram extraídos
Já na quinta edição, a obra reflete as Marketing de vantagem competitiva tanto de fontes fidedignas como de descrições
Editora Saraiva
mudanças pelas quais passou o setor de São Paulo, 2006 relatadas pelo autor, com base em sua
serviços e abrange os avanços recentes da 200 p. – R$ 49,00 experiência de consultor e professor no
pesquisa acadêmica e empresarial sobre o mercado. Alguns exemplos internacionais
assunto. Neste livro, Luciano Sabóia traça um paralelo também foram considerados para manter o
entre o marketing tradicional e o marketing de caráter de globalização.
Os capítulos incluem quadros com exemplos vantagem competitiva. A obra apresenta um
de aplicações práticas e resumos de modelo de decisões, levando em consideração Destaca-se na obra um capítulo dedicado à
pesquisas, bem como revisão de conceitos os principais recursos do novo marketing, criação do valor para o cliente, enfatizando
básicos, que se aplicam ao gerenciamento de tempo, espaço e não matéria. esta tendência de vínculos abordando
serviços. O livro oferece uma seção “Cenário relacionamento e marketing one-to-one; e
brasileiro”, com textos de autores nacionais. Esses recursos, quase invisíveis à outro sobre marketing on line, que trata da
administração de hoje, provocam mudança ocorrida no mercado com o advento
O livro é indicado pelos editores para alunos dos transformações de estrutura organizacional, de da Internet. Outros capítulos lidam com
cursos de administração e marketing, bem como estratégia e na visão de liderança pessoal. administração de marketing, planejamento e
para estudantes de pós-graduação e MBA. Segundo os autores, irão definir os objetivos e controle, como também de administração do
as posturas dos presidentes de empresas composto de marketing.
Christopher Lovelock é professor adjunto na daqui para frente.
Yale School of Management. Presta consultoria Alexandre Luzzi Las Casas é doutor em
em planejamento de estratégia de marketing de Luciano Sabóia Lopes Filho é engenheiro Administração Mercadológica pela FGV, Mestre
serviços. químico e doutor em Administração de em Administração de Empresas pela PUC-SP,
Empresas pela FGV-EAESP. É mestre pela Bachelor of Science pela University of
Jochen Wirtz é professor associado na National Michigan State University na área de Maryland, Graduado em Administração
University of Singapore. Dedica-se também à Marketing. Professor de Marketing da FGV e Mercadológica pela Prince Georges College
pesquisa e consultoria. UniFMU. (Associate in Arts).

138 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
O Brasil e a Economia internacional
Editora Campus/Elsevier
ANDRÉ B. BARCAUI/DANUBIO Rio de Janeiro, 2006
BORBA/IVALDO M. DA SILVA/ 175 p. – R$ 35,00
RODRIGO B. NEVES
Gerenciamento do Esta obra apresenta uma análise das relações
tempo em projetos econômicas externas do Brasil nos últimos 10 PEDRO LUIZ ROCCATO
Editora FGV Canais de vendas e distribuição
São Paulo, 2006 anos, e tem como propósito principal
Editora M. Books
168 p. – R$ 18,00 “contribuir para que o Brasil supere, São Paulo, 2006
definitivamente, os descaminhos e problemas 180 p. – R$ 49,00
Com experiência no assunto, os autores desse herdados da década de 1990 e retome o seu
livro procuram auxiliar o leitor na difícil tarefa de desenvolvimento como nação independente”. O livro aborda o desenvolvimento de canais
gerenciar projetos, prazos apertados, falta de indiretos de vendas, especificamente para as
recursos, entre outros pormenores que O livro é resultado de pesquisas originais, a áreas de telecomunicações, tecnologia
envolvem os empreendimentos, ensinando a maior parte delas feita no Instituto de Estudos informação e eletroeletrônicos. Cada vez mais,
planejar, elaborar e controlar o cronograma em Avançados da Universidade de São Paulo, grandes fabricantes e operadoras estão
um projeto. Mostra como identificar atividades, onde o autor foi pesquisador visitante. exigindo um nível de profissionalização maior
desenhar um diagrama de rede, estimar para atender suas necessidades. O livro
recursos, definir uma estimativa de tempo para A segunda parte dedica atenção às apresenta metodologia e exemplos práticos de
cada tarefa do projeto e montar um negociações comerciais que o Brasil vem como criar, desenvolver e gerenciar os elos da
cronograma. realizando, simultaneamente, em vários planos, cadeia de vendas e de distribuição. Também
em especial àquela que o autor considera a enfoca a implantação, desenvolvimento e a
O objetivo final é a obtenção de uma linha-base mais perigosa delas – a Alca. operacionalidade de canais indiretos de
de tempo que se possa usar como referência vendas e os processos seletivos dos gerentes
para controle do projeto, além de conceitos e O livro se dirige tanto ao público universitário e profissionais que serão responsáveis pelo
ferramentas úteis, como a EVA (“earned value como ao público interessado em questões sucesso do negócio.
analysis”), e também novas alternativas aos econômicas e políticas nacionais e
métodos tradicionais, como a CCPM (“critical internacionais. Pedro Luiz Roccato é profissional com grande
chain project management”). As técnicas aqui experiência em Informática e Gestão de
apresentadas poderão dar mais segurança às Paulo Nogueira Batista Jr. é economista, Empresas, nas áreas de atendimento
pessoas que têm projetos em seu cotidiano. professor e pesquisador da FGV em São Paulo. corporativo e de varejo, relacionados à
Foi secretário especial de assuntos Tecnologia da Informação e Marketing de
André B. Barcaui, Danubio Borba, Ivaldo M. da econômicos do Ministério do Planejamento em Varejo. Atualmente desenvolve consultoria em
Silva e Rodrigo B. Neves são professores da 1985-86 e assessor para assuntos de dívida projetos de canais indiretos de vendas para os
FGV. externa no Ministério da Fazenda, em 1986-87. mercados de varejo, SMB pela Direct Channel. ¯

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 139


Leit ura
RECOMENDADA

FRANCISCO GRANIZO
LÓPEZ/FÉLIX RUIZ ALONSO/PLÍNIO
DE LAURO CASTRUCCI
JOÃO VICENTE CEGATO BERTOMEU Curso de ética em administração
Editora Atlas
Criação na propaganda impressa São Paulo, 2006
Editora Thomson 248 p. – R$ 35,00
São Paulo, 2006
128 p. – R$ 46,93
A obra busca as raízes do tema na ética
Esse livro tem por objetivo apresentar clássica, mostrando uma linha de pensamento
elementos conceituais para alunos e que perdura há 2.500 anos – desde Sócrates –
pesquisadores da área, ao mesmo tempo que cultivada especialmente no Ocidente.
traz uma análise crítica dos diversos estudos
da prática da comunicação e documentação As duas primeiras partes do livro percorrem os
como estratégia, demonstrando como o estudo fundamentos éticos que são comuns a todos
da evolução de uma teoria e, de modo os povos e culturas, e desenvolve o estudo
especial, da teoria da administração, pode ser MARCO AURÉLIO CIDADE das conhecidas virtudes clássicas: prudência,
uma experiência fascinante. Redação publicitária – justiça, fortaleza e temperança – as chamadas
o que faltava dizer virtudes morais.
Editora Saraiva
Sumário: São Paulo, 2006
1. Breve histórico da atividade da propaganda; 128 p. – R$ 35,00 A parte III expõe recentes, mas consagrados
Propaganda. Conceitos e princípios da Ética Social: dignidade da pessoa,
definições; A propaganda criativa e algumas Com prefácio de Lula Vieira, o livro reúne dicas direito de propriedade, primazia do trabalho,
considerações profissionais. para escrever bons anúncios para TV, rádio, primazia do bem comum, dever de
2. As campanhas selecionadas; Os jornal, revista, outdoor, internet, mídia solidariedade e princípio da subsidiariedade.
documentos do processo de criação na alternativa etc. Os capítulos estão divididos em
propaganda impressa; Evidenciação e Agência de publicidade, Campanha publicitária, Nas últimas partes o texto contempla uma
identificação das etapas apresentadas Técnicas, Construção de textos, Criatividade visão crítica dos sistemas macroeconômicos
pelos documentos 3. Briefing de criação 4. editorial, Como criar textos publicitários, O das empresas, bem como as ferramentas
Diálogos internos da criação. texto para propaganda e Marketing político. formais de que dispõem as organizações para
5. Campanha Natura – roughs, layouts e aplicar, em seus ambientes, os princípios
finalização. A obra desenvolve temas como o éticos (os Códigos de Ética, as auditorias, a
6. Campanha ANER – roughs, layouts e Departamento de criação, Mercado, Público- norma S.A. 8000 e outras).
finalização. alvo, Tipos de campanha, Brainstorming, O
7. Campanha Home Theater Semp Toshiba – texto publicitário, O processo criativo e seu Feliz Ruiz Alonso é advogado empresarial e
Layouts, títulos, textos e finalização. desenvolvimento, Nomes e produtos, Meios doutor em direito pela Universidade de São
8. Campanhas Kibon e Audi – Layouts e eletrônicos e impressos, Marketing de Paulo.
finalização; Picolé Fruttare – Kibon; Automóvel serviços, Varejo, Atacado e internacional, e o Francisco Granizo López é licenciado em
Audi A6. Texto na propaganda política. Filosofia, pós-graduado em Orientação
Educacional e mestre em Administração de
João Vicente Cegato Bertomeu é graduado em Marco Aurélio Cidade é sócio-diretor da Trade Empresas.
Publicidade e Propaganda pela UMESP, Consultoria e Soluções em Marketing e Plínio de Lauro Castrucci é engenheiro, doutor
doutorando e mestre em Comunicação e produtor e apresentador do programa e livre-docente da Escola Politécnica da
Semiótica pela PUC-SP e professor da ESPM. Marketing e Negócios, na TV Oeste (MG). Universidade de São Paulo (USP). ESPM

140 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Prêmio ANATEC

REVISTA DA ESPM

RECEBE PRÊMIO
A
Revista da ESPM foi premiada com a
medalha de ouro como Mídia Seg-
mentada do Ano – uma das principais
categorias do Prêmio ANATEC de
Mídia Segmentada – em cerimônia ESPM

realizada no dia 6 de junho de 2006,


na FECOMÉRCIO, em São Paulo, com
a presença de representantes de Edi-
toras, profissionais de mídia e reno-
mados nomes do meio editorial e
publicitário brasileiro.

A segunda edição do prêmio ANA-


TEC de Mídia Segmentada contou
com 67 inscrições, 30% a mais em
relação ao ano anterior. O Prêmio
ANATEC conta com o apoio institu-
cional do IVC (Instituto Verificador de
Circulação), patrocínio dos Correios,
da Door to Door e do Grupo Abril,
além do apoio da Revista Negócios )Da esquerda para a direita: Miriam Duenhas - Editora de arte; J.Roberto
Whitaker Penteado - Editor e Lúcia M. de Souza - Coordenadora editorial.
da Comunicação e do programa Gran-
des Nomes da Propaganda.

Entre os premiados, estiveram, também,


Guilherme Arruda, da Editora Valete,
como jornalista do ano; Angelo Franzão
Neto, da McCann Erickson, profissional
de mídia do ano; Simone Garbeloto,
da OESP Midia, profissional de vendas
e Thomaz Souto Corrêa, do Grupo Abril,
como personalidade do ano.

A ANATEC reúne cercade 200 asso-


ciados, entre eles, editoras em diversos
setores da economia. Esse público
representa mais de 900 títulos editados
no Brasil, em 69 segmentos, somando
uma tiragem anual de 385 milhões de
exemplares.

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 141


Sumário EXECUTIVO ram uma significativa deterioração.
A partir da análise dos ciclos de
inovação de tecnologia, exemplifi-
cados pelo sucesso recente do iPod,
os autores apontam a necessidade
de uma revisão dos modelos de ino-
vação, de forma que passem a in-
cluir o conceito de desenvolvimento
recimento de conceitos básicos para sustentável.
E Schopenhauer auxiliar o executivo na sua busca
tinha razão... por uma melhor utilização do seu
potencial criativo e de sua equipe. A inovação chega
FRANCISCO GRACIOSO Para isso, é analisada a pesquisa bá- à idade da razão
sica do assunto ao longo do século
pág. 16 XX e são apresentadas as definições JOSÉ PREDEBON
mais amplamente aceitas no meio
O autor enfatiza nesse artigo que a acadêmico. Como conclusão, é in- pág. 54
introdução da inovação é apenas o centivado o desenvolvimento do po-
início de um processo que só se conclui tencial criativo dos funcionários O texto focaliza a inovação sob o
quando as mudanças decorrentes da para que a empresa consiga ampliar ponto de vista histórico, comenta sua
inovação são bem administradas e sua capacidade de inovar. importância crescente, seu papel na
produzem os resultados esperados. A evolução do marketing e no desen-
faísca que inicia a ignição é a idéia volvimento da sociedade.
criativa que leva à inovação. Mas esta Inovação, crescimento Ao correr das informações trata de suas
idéia, para ser legítima, deve ser e sustentabilidade
inspirada pela realidade do mercado relações com a mudança e com a
e pelas necessidades de nossos SANDRO MARQUES/MARCELO TORRES criatividade, e a forma com que os
clientes. Portanto, como diz o autor, conceitos que envolvem a inovação
os processos de inovação e mudanças pág. 36 ganharam notoriedade e influíram na
devem ancorar-se em objetivos montagem da teoria da gestão moderna.
estratégicos bem definidos. O iPod é um sucesso não só comer-
cial, como também do ponto de vista Após comentar o papel dos teóricos
de inovação. Uma análise crítica dos do assunto, o artigo defende que houve
modelos de inovação subjacentes ao primeiro uma valorização exagerada
Um papo sério
produto mostra que eles se justificam no emprego da inovação, causando
sobre criatividade pela afirmação de que uma empresa distorções e práticas viciosas dentro do
CONRADO SCHLOCHAUER inovadora cresce mais rápido e é sistema. Em seguida defende que
mais lucrativa que seus competi- atualmente se iniciou um processo de
pág. 26 dores. Os conceitos de crescimento revisão dos valores e dos processos. No
e lucratividade, entretanto, vêm so- entender do autor, essa revisão está em
O objetivo desse artigo é fornecer frendo modificações nos últimos pleno curso e permite prever-se, no fu-
um referencial teórico para o estudo anos, motivado pela percepção de turo, o aparecimento de uma fase de-
da criatividade no ambiente aca- que as condições socioambientais purada, aqui chamada de idade da
dêmico. Além disso, propõe o escla- do planeta e sua população sofre- razão da inovação.

142 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Orivaldo O. Gallasso

Inovação e dutos, serviços e estratégias. Esse ar- se utiliza da publicidade para abordar
tigo descreve uma dessas cinco fer- temas como a evasão fiscal.
fator humano ramentas, ou padrões – a Unifi-
Luiz Edmundo Prestes Rosa cação de Tarefas – e demonstra o O combate à corrupção está na lista
seu uso em diversas áreas. de top priorities do governo, já que
pág. 66 sem uma política de arrecadação
Além das ferramentas que cons- austera e um combate efetivo ao
No mundo globalizado, as empresas tituem a essência do método SIT, não-pagamento de impostos, as
precisam, decisivamente, da inova- existe uma dimensão adicional, que chances de adesão ao bloco
ção. Promover a inovação é traba- é o conjunto de princípios que per- europeu são mínimas.
lhar com o potencial criativo das mite aos usuários utilizar as ferra-
pessoas e construir as condições pa- mentas e, ao mesmo tempo, escapar Esse artigo aborda capítulos inusitados
ra que ela se desenvolva. É adotar da fixidez cognitiva. O SIT desen- que fazem parte da primeira campanha
uma firme determinação na busca volveu técnicas específicas de de evasão fiscal naquele país.
do novo que impregne todo seu facilitação para apurar a inovação.
ambiente de negócios, estimulando Todas elas já foram utilizadas em
a inovação nos relacionamentos Uma oportunidade única de saber
projetos inovadores em mais de 500
com seus públicos de interesse, por um pouco mais sobre Nicolai Ceau-
empresas em 42 países, nos últimos
meio de processos que organizem o cescu, quem combate evasão fiscal,
10 anos – entre elas Bayer, Ford, John-
esforço coletivo para a inovação. quem sonega e, até mesmo, quem
son&Johnson, Kodak, Nestlé, Philips
pode sofrer ameaças por isto…
e Rubbermaid. Esses projetos fo-
caram na melhoria da criatividade
Como usar os próprios organizacional, desenvolvendo
recursos para gerar novos produtos, resolvendo proble-
A ética e o marketing
idéias inovadoras mas de tecnologia e de estratégia e da esperança
definindo novas mensagens de
Amnon Levav/Orly Seagull Hermano Roberto Thiry-Cherques
marketing.
pág. 78 pág. 100
Quantas vezes você já não investiu As aventuras e A questão ética do marketing da
tempo e esforço buscando idéias, e as desventuras de um esperança reside em saber se quando
respostas estavam diante do seu nariz? publicitário brasileiro ajudamos a vender esperanças, mes-
na Romênia mo esperanças legítimas, estamos
Através do SIT – Pensamento In- fazendo o bem ou estamos fazendo o
ventivo Sistemático – diríamos que DARLAN MORAES JUNIOR mal. Os clássicos não nos ajudam. Têm
o que você precisa é exatamente o um conceito diferente do que venha a
que você já possui, desde que con- pág. 92 ser a esperança. As religiões são
siga sair fora dos seus padrões fixos confusas e ambíguas em geral, e ainda
e substitua-os por novas perspec- Como um país, em profundas mu- mais ao tratar do tema. Restam os poetas
tivas. Para isso, nós desenvolvemos danças, depois da queda do comu- e visionários, que nos falam dos efeitos
um conjunto de ferramentas cogni- nismo e com a necessidade veemente – positivos e negativos – da esperança,
tivas que são usadas em empresas de entrar, o mais rápido possível, para mas não da sua essência. Talvez porque
para gerar novas idéias para pro- a Comunidade Européia, a Romênia ela seja inalcançável. ESPM

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 143


ENGLISH

Abstracts
potential of their own and their out the need for a revision of
And Schopenhauer teams’ potentials. Basic research innovation models in order to
was right.... from the 20th century, on the include the concept of
FRANCISCO GRACIOSO subject, is reviewed, and sustainable development.
definitions that are broadly-
page 16 accepted in academic circles are
presented. The stimulus to the Innovation reaches the
In this article, the author creative potential of emplyees as age of reason
emphasizes that the introduction a condition for enhancing the
of innovation is just the company’s capacity of JOSÉ PREDEBON
beginning of a process – which is innovation is offered as the main
only completed after the changes conclusion. page 54
stemming from it are well-
managed and produce results. This text focus innovation under
a historical point of view, and
Innovation, growth and
comments on its growing
The spark which initiates all is sustentability importance, and its role in the
the creative idea. But this idea,
to be legitimate, must be Sandro Marques/Marcelo Torres evolution of marketing and the
inspired by market realities and development of society. It
by the needs of customers. page 36 presents information about its
Therefore, processes of relations with change and with
innovation and change must be iPod is not only a commercial creativity, and the way by which
firmly based on well-defined success, but it is a success of concepts about innovation have
strategic objectives. innovation. A critical analysis of gained attention and influenced
the innovation patterns implied contemporary managerial
by the product shows that they practices.
are amply justified by the fact
A serious chat about that an innovative company After analysing the role of
creativity grows faster and is more specialists, the article goes on to
CONRADO SCHLOCHAUER profitable than its competition. suggest that the need/use of
Concepts of growth and innovation have been
page 26 profitability, however, have overvalued, with negative
changed during recent years, due consequences. Then, it is also
The objective of this article is to to the fact that suggested that a process of
provide a theoretical reference socioenvironmental conditions of revision of values and processes
for the study of creativity in the the planet and its population have has been initiated. To the author,
academic environment. It also significantly deteriorated. On the this process is now under full
proposes to make clear some basis of the analysis of course, and allows the
basic concepts which may help technological cycles of forecasting of a new stage,
managers in their search for innovation, typified by the recent which he calls the age of reason
better use of the creative success of iPod, the authors point of innovation.

144 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006


Orivaldo O. Gallasso

this, we have developed a set of foremost is the need for a quick entry
Innovation and the into the European Community. In this
cognitive tools that are used by
human factor companies to generate new ideas context, the country uses advertising
LUIZ EDMUNDO PRESTES ROSA for products, services and techniques to help solve societal
strategies. This article describes one problems such as tax evasion.
page 66 of five thinking patterns or tools –
Task Unification, and demonstrates The fight agains corruption is also high
In the globalized world, its use in various fields. on the government’s list of priorities,
companies crave for innovation. since both problems are an obstacle
To promote innovation means to In addition to the thinking tools that for the acceptance of the country’s
work with people’s creative comprise the core of the SIT partnership by its European peers.
potential and build conditions for method, there is an additional layer The article touches on some unusual
its development. It means to adopt of the method which is a set of aspects pertaining to the first
steady determination in the search principles, that allow users to advertising campaign against tax-
for the new, which may employ the tools, while evasion in Romania, deals on Nicolai
impregnate the business overcoming their cognitive Ceaucescu, who is in favor of the
environment and stimulate fixedness. SIT has also developed movement, who is against it – and
innovation in the relationship with specific facilitation techniques to even the dangers related to the
stakeholders, through processes enhance innovation. All of these assuming of either position...
which organize the collective have been used in innovation
effort to reach this stage. projects at over 500 companies in
42 countries in the past ten years,
among them Bayer, Ford,
Ethics and the
How to use your Johnson&Johnson, Kodak, Nestlé, marketing of hope
available resources to Philips, and Rubbermaid. These
projects have been focused on HERMANO ROBERTO
generate ideas for THIRY-CHERQUES
enhancing organizational creativity,
innovations developing new products, solving page 100
Amnon Levav/Orly Seagull technological and strategic
problems and defining new The central ethical question of the
page 78 marketing messages. marketing of hope is to determine
whether we are doing well or
How often do we spend time badly in trying to sell it at all.
searching far and wide for ideas, Adventures and Classic thinkers are of little help,
when it turns out that the answer misadventures of a as they have rather different
was right under our nose?
Brazilian adman in concepts on the meaning of hope.
Romania Religions are quite confusing, and
In SIT – Systematic Inventive often ambiguous, specially on
Thinking, we would say that what DARLAN MORAES JUNIOR such themes. We are left with
you have is exactly what you poets and visionaries – who have
need, provided only that you page 92 spoken of the positive and
manage to overcome your fixed negative effects of hope – but not
patterns of thinking, and replace Romania is undergoing fast changes, of his essence. Maybe, because it
them with a new perspective. For after the fall of Communism, and is just out of human reach. ESPM

M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 145

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