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Editorial
EXPEDIENTE
CONSELHO EDITORIAL
Francisco Gracioso – Presidente INOVAR É PRECISO, MAS
Alex Periscinoto
NA DIMENSÃO HUMANA
R
Alexandre Gracioso
Jacques Marcovitch
J. Roberto Whitaker Penteado
ecentemente, uma publicação americana divulgou resultados de
EDITOR uma pesquisa feita nos principais países da América Latina que
J. Roberto Whitaker Penteado
MTB no 178/01/93 revelou ser a cidade de São Paulo o principal destino do turismo de
e-mail: jrwp@espm.br negócio na região. Como principal razão que justifica essa pre-
COORDENAÇÃO EDITORIAL ferência, os empresários e executivos consultados declararam que
Lúcia Maria de Souza o que mais os atrai em São Paulo é o potencial inovador de nossa
cidade.
PROJETO GRÁFICO
Miriam Duenhas
Mais do que qualquer outra característica, o que traz os visitantes é
CAPA
Edson Konioshi a perspectiva de encontrar aqui novas soluções e novas fontes de
Packing.Design inspiração.
IMAGENS NÃO CREDITADAS
Arttoday As grandes cidades, como São Paulo, são verdadeiros vulcões, em
Keystone
constante ebulição. Buscam-se continuamente novos produtos ou
REVISÃO novas formas de fazer as coisas. Nós, como participantes desta cor-
Anselmo Teixeira de Vasconcelos
rida sem fim, muitas vezes não percebemos a extensão das
Antonio Carlos Moreira
transformações ao nosso redor. E não nos referimos apenas às ma-
PUBLICIDADE ravilhas da eletrônica ou da informática. Inconscientemente, incor-
e-mail: revista.comercial@espm.br poramos novos hábitos e mudamos nossos valores, atitudes e com-
IMPRESSÃO portamento. Pouco a pouco, esquecemos as nossas raízes e perdemos
Editora Referência a nossa identidade.
Rua François Coty, 228 – CEP 01524-030
Tel.: (11) 6165-0766 – Fax: (11) 2272-6921 Pode parecer preciosismo de nossa parte dar tanta ênfase aos as-
e-mail: grafica@editorareferencia.com.br pectos éticos e morais das mudanças causadas pelas inovações. No
REDAÇÃO entanto, pode estar em jogo o próprio futuro do gênero humano
Rua Dr. Álvaro Alvim, 123
sobre a terra. Os homens precisam compreender, antes que seja
São Paulo – SP – CEP 04018-010
tarde que a nossa infinita capacidade de inovar deve ser colocada
Tel.: (11) 5085-4508 – Fax: (11) 5085-4646
a nosso serviço, valorizando o espírito, cultivando a simplicidade e
e-mail: revista@espm.br
reduzindo o ritmo das mudanças. O objetivo maior deveria ser evitar
DISTRIBUIDOR EXCLUSIVO o descompasso entre os avanços tecnológicos e a natureza humana.
Fernando Chinaglia Distribuidora S/A
Pensavam assim muitos idealistas, desde Walden até os Kibutzin.
REVISTA DA ESPM – uma publicação bimestral da Até agora todos falharam, mas um dia chegaremos lá.
Escola Superior de Propaganda e Marketing. Os con-
ceitos emitidos em artigos assinados são de exclusiva
Francisco Gracioso
responsabilidade dos autores.
EXAGERO
Já li quase toda a última Revista da PARTICIPAÇÃO ERRO?
ESPM (sobre mídia e o futuro). Apren- DE ALUNOS Somos alunos da ESPM e trabalha-
di QUASE mais com ela do que em Sou aluno da ESPM, da graduação de mos em uma agência regional. Na
4 anos de ESPM propriamente dita. administração, e gosto muito das semana passada, recebemos a
Muito bom trabalho. matérias da Revista da ESPM, prin- Revista da ESPM e fomos mostrá-
cipalmente dos debates. Creio que a la ao nosso diretor. Ele gostou da
Kleber Fonseca única falha é a pouca participação dos qualidade gráfica, do editorial,
DPZ – São Paulo alunos. De todo modo, acho que se mas criticou o uso da foto refletida
trata de ótimo material didático, para na capa.
R. Prezado Kleber, sua observação é – formados e formandos.
certamente – exagerada... Mas, no que
se refere à Revista, agradecemos o seu AlexandreTomasi
elogio. Guilherme Fernandes Miguel Wilson Ferrari Jr
São Paulo São Paulo
COMPLETA
A última edição da Revista da ESPM
R. Obrigado pelas palavras amáveis. R. Fabio Mestriner, responsável pe-
contém a mais completa e atual No que se refere à participação dos las capas da Revista, responde: A
cobertura sobre o importante mercado alunos, o fato de publicarmos ape- imagem publicada na capa foi
do Varejo de que tenho conhecimento. nas 5 edições por ano limitam a intencionalmente refletida para que
Parabéns. Um abraço Revista às seções de entrevistas, as marcas dos produtos não ficas-
mesa-redonda e artigos escritos sem legíveis. É uma imagem ilus-
por professores e outros colabora- trativa, conceitual e não está “er-
José Francisco Queiroz dores, geralmente sobre o assunto- rada”. De qualquer forma, agra-
São Paulo tema da edição. Mas tanto V. como decemos a colaboração.
ERRATA
Na última edição da Revista da ESPM, o case sobre o Meggashop foi publicado com imagens que não retratavam a transformação
pela qual passa a rede. Por este motivo, publicamos, abaixo, fotos de duas lojas da rede que ilustram as recentes mudanças.
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Fachada de loja de ddd
rua, em João Pessoa, ➟
Interior de loja em Sãojjjjj
após a reforma Paulo, no Shopping SP
Market, após a reforma
Indice
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5678901234567890123456789 ENTREVISTA
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IVAN ZURITA 8
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5678901234567890123456789 E Schopenhauer tinha razão....
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FRANCISCO GRACIOSO 16
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5678901234567890123456789 O autor enfatiza neste artigo que a introdução da inovação é apenas o início de um processo que só se conclui
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5678901234567890123456789 quando as mudanças decorrentes da inovação são bem administradas e produzem os resultados esperados.
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5678901234567890123456789 Um papo sério sobre criatividade
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CONRADO SCHLOCHAUER 26
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5678901234567890123456789 Embora criatividade e inovação sejam palavras de ordem no mundo empresarial, muitos de seus conceitos e definições
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5678901234567890123456789 básicas ainda não são claramente compreendidos. Esse artigo, de uma maneira leve e interessante, fornece um
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5678901234567890123456789 profundo embasamento sobre esses temas.
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5678901234567890123456789 Inovação, crescimento e sustentabilidade
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5678901234567890123456789 SANDRO MARQUES/MARCELO TORRES 36
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5678901234567890123456789 Os modelos de inovação existentes estão voltados para a busca de crescimento e lucratividade acelerados.
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5678901234567890123456789 O artigo explora a emergência de um novo modelo, em que crescimento é substituído por desenvolvimento sustentável.
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5678901234567890123456789 ENTREVISTA
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OZIRES SILVA 44
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5678901234567890123456789 A inovação chega à idade da razão
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JOSÉ PREDEBON 54
5678901234567890123456789 Matéria que focaliza o histórico e a dinâmica da inovação dentro do marketing. Defende que houve valorização exagerada da
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5678901234567890123456789 prática, comenta as suas conseqüências e afirma que há agora um refluxo racional, aqui denominada “idade da razão”.
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5678901234567890123456789 Inovação e fator humano
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LUIZ EDMUNDO PRESTES ROSA 66
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5678901234567890123456789 Promover a inovação é trabalhar com o potencial criativo das pessoas e construir as condições para que
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ela se desenvolva no ambiente de negócios, principalmente nos relacionamentos com os públicos de interesse.
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5678901234567890123456789 Como usar os próprios recursos para gerar idéias inovadoras
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AMNON LEVAV/ORLY SEAGULL 78
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5678901234567890123456789 O SIT – Pensamento Inventivo Sistemático é um método que ajuda as pessoas a gerar idéias práticas inovadoras
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5678901234567890123456789 para novos produtos e serviços, campanhas de marketing de impacto e novas estratégias. O artigo descreve uma
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5678901234567890123456789 das cinco “ferramentas pensantes”, que estão na essência do método.
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5678901234567890123456789 Eles inovaram
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CLAUDIA PENTEADO 84
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5678901234567890123456789 As aventuras e desventuras de um publicitário brasileiro na Romênia
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DARLAN MORAES JUNIOR 92
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5678901234567890123456789 Uma oportunidade única de saber um pouco mais sobre Nicolai Ceaucescu, quem combate evasão fiscal, quem sonega e até
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mesmo quem pode sofrer ameaças por isto… Acompanhe os capítulos sobre a primeira campanha de publicidade que enfocou a
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5678901234567890123456789 evasão fiscal na Romênia.
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5678901234567890123456789 A ética e o marketing da esperança
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HERMANO ROBERTO THIRY-CHERQUES 100
5678901234567890123456789 A dificuldade ética do marketing da esperança reside em saber se quando vendemos esperanças, mesmo esperanças legítimas,
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estamos fazendo o bem ou estamos fazendo o mal. Os gregos, que sabiam tudo, não sabiam isto, o que não nos impede de ter
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esperanças de todo tipo.
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5678901234567890123456789 MESA-REDONDA
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SOBRE CRIATIVIDADE, INOVAÇÃO E MUDANÇA 112
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CASE-STUDY: FOX – pesquisa como instrumento de inovação 126
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LEITURA RECOMENDADA 138
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SUMÁRIO 142
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ABSTRACTS 144
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REVISTA DA E
5678901234567890123456789 PONTO
S PM– DE VISTA
/
M A R Ç O 2006
A B R I L D E
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JULIO RIBEIRO 146
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Entrevista
IVAN
ZURITA
U
m funcionário que trabalhe por três décadas numa grande empresa, considerada por todos
como “conservadora” – ainda que com um histórico de sucesso –, pode ser um agente de
mudança e de inovações?
No caso de Ivan Zurita – o atual presidente da Nestlé brasileira – não só isso ocorreu,
como provocou, em curto prazo, resultados nada menos do que espetaculares.
A Nestlé foi o primeiro emprego para o jovem Ivan, aos 20 anos de idade. Anos mais
tarde, como gerente de produtos da linha Chambourcy chegou a ser despedido, pelo
chefe, mas conseguiu manter-se no emprego à custa de uma proposta ousada e do apoio
dos colegas. Expatriado, teve sucesso profissional no Chile, na Argentina, na Tailândia,
América Central e – sobretudo – como presidente da Nestlé no México.
Chamado de volta ao seu Brasil de origem, Zurita encontrou o seu maior desafio:
provar aos colegas e superiores que o potencial de crescimento, no país, era muito
superior ao que todos imaginavam.
GRACIOSO – Quando você che- tudo bem; quando a gente pensa que IVAN – Não diria – exatamente – que
gou ao Brasil para presidir a Nestlé, já ganhou, é porque começou a perdeu o contato com o consumidor.
por que concluiu que era preciso perder. Sempre tivemos uma imagem ex-
introduzir mudanças para alcançar celente no mercado; somos uma
os resultados que você desejava? JR – Em que época foi isso? empresa grande, sólida, histórica, no
Brasil. O que faltava era agres-
IVAN – Este é um bom ponto de par- IVAN – Em 2001. A empresa estava sividade, faltava inovação de pro-
tida. Na minha opinião, toda empresa com uma rentabilidade que poderia dutos, faltava essa Nestlé moderna
que, um dia, se sente confortável, chamar de medíocre. Mas isso não mais próxima do consumidor, ávida
está, gradualmente, ficando para era o que mais me preocupava, na- em responder às suas necessidades.
trás. Eu encontrei uma empresa que quele momento; era muito mais o
dormia – não um sono profundo, mas aspecto interno e o fato de a empresa JR – Na sua gestão, houve alguma
uma “sesta”, e não acompanhava a não ter atuação mais agressiva dian- forma nova de lidar com as informa-
velocidade das mudanças do te do mercado. Tudo tinha de partir ções sobre os consumidores?
mercado. Acho que nós estávamos do mercado. Mudamos a arquitetura
administrando uma situação de líder, da empresa, levando em conta que IVAN – Baseado na radiografia que eu
mas não estávamos, de fato, lutando não se tratava mais do mercado em descrevi, nós mudamos a arquitetura
para defender essa posição no que vínhamos competindo; a realida- da empresa e criamos uma divisão de
mercado. Esse foi o diagnóstico: de era outra. Dentro dessa nova rea- shared service para prestar serviços e
nossa maneira de trabalhar era, prati- lidade, dividimos a Nestlé Brasil em para dar mais competitividade à
camente, a mesma de trinta anos an- business units como se fossem em- companhia e às pessoas. Os diretores
tes: o mesmo sistema, o mesmo or- presas individuais. Hoje temos a busi- têm responsabilidade completa pelo
ganograma, a mesma maneira de o- ness unit de chocolate, a de pet food, business; biscoito é uma unidade, uma
perar. Então, o que fizemos foi – a cada área com total responsabilidade... business unit está toda integrada,
partir do mercado consumidor, para inclusive as fábricas; a parte técnica
trás – procurando constatar em que JR – A Nestlé, no Brasil, foi sempre está centralizada no corporate que
o consumidor estava interessado, uma referência de atualização; por presta serviços a essas unidades. Muda-
quais seriam as inovações, levando exemplo, já fazia boas pesquisas de mos o desenho da companhia – pen-
em consideração que os mercados mercado, quando outras empresas sando sempre no mercado. Na comu-
se abriram... Antigamente, você ti- nem sabiam o que era isso... Como nicação, foi feito um trabalho profundo;
nha mercados “fechados” – você de- é que uma empresa que foi, assim, trabalhamos o corporate, trabalhamos
senvolvia produtos e tinha uma pioneira, pode ter perdido o contato atividades que se relacionassem,
demanda à sua porta. Hoje não é com o consumidor?
mais assim, o consumidor é mais in-
formado, mais instruído; sabe muito
bem o quanto essas marcas pesam,
em termos de custo X benefício e
preço na hora da compra. Fizemos “INVESTIMOS MILHÕES,
uma análise... nós tínhamos uma
PARA CONHECER
fortaleza: imagem corporativa forte
e marketing de produto forte – e uma
MELHOR O CONSUMIDOR
penetração de “noventa e cinco por
BRASILEIRO.”
cento dos domicílios brasileiros”. Esse
era um motivo para sentirmo-nos
confortáveis. Mas acho que foi aí que
começou o nosso desconforto –
exatamente por acharmos que estava
JR – Era um evento da própria je, que crescem 21% ao ano – e será começar outra em Palmeiras das
empresa? que nós estamos crescendo 21% Missões, no Sul, e estamos terminando
também nestes estados? Então vamos uma fábrica em Araçatuba. A cada três
IVAN – Era – e havia um grupo gran- lá para ver. por cento de crescimento, temos que
de de investidores. Vou-lhe dar um construir uma fábrica nova – pelo vo-
exemplo das oportunidades de ven- JR – Quais são os estados? lume que estamos operando! Essa é
das de que estou falando: quando veio uma companhia dinâmica; não pode-
ao Brasil esse conjunto irlandês, o U- IVAN – Mato Grosso do Sul, Tocantins mos deixar que não cresça, essa é a
2, a estrela principal, o cantor chama- e Goiás. As estratégias regionais são nossa missão diária. Temos uma cadeia
se Bono. Então, colocamos à venda diferentes de região para região; não de 44 mil fornecedores que também
biscoitos com a marca Bono, na por- basta dividir em três regiões... Nós participam dessa cadeia de qualidade;
ta dos estádios... dividimos o Brasil baseado no exigimos bastante qualidade, não é
consumidor, baseado no insight do simplesmente vender. Nós checamos
JR – Vocês já tinham a marca ou vo- consumidor. Existem produtos que, no toda a cadeia – do início da matéria-
cês criaram a marca? Nordeste, estão posicionados de uma prima ao produto final.
maneira, no Centro de outra e no Sul,
IVAN – Não, é um produto. ainda outra. Por que essa é a realidade GRACIOSO – Esta ênfase maior de
do mercado, o perfil do consumidor é resultados provocou alguma mudan-
JR – Foi uma coincidência, então? esse. A companhia, hoje, tem uma ça no mix da remuneração?
imagem avaliada como excelente, a
IVAN – Foi. E foi o aproveitamento rotação dos produtos é excelente, IVAN – Nós implantamos um siste-
de uma oportunidade. A Festa da Fei- como o comércio é excelente; é a ma mais claro e transparente de bô-
ra de Santana, o Carnaval de Parin- melhor companhia para se trabalhar, nus. Antes não se ganhava bônus
tins nós não participávamos, hoje es- o ambiente interno é bom, as pessoas porque não se atingiam os objetivos.
tamos participando. Nós aprofun- estão trabalhando alegres, confor- Na Nestlé, são vários targets que
damos as informações, com o insight táveis. Imagine que temos 220 mil envolvem a gestão da companhia em
do consumidor regional; todos sa- famílias trabalhando no campo para a diferentes níveis: temos 100% do
bemos que o Nordeste é diferente do Nestlé – é uma responsabilidade social bônus; temos 80 e temos até 120.
Centro-sul, mas uma coisa é saber, a que temos; se não crescermos, se Também temos stock options e
outra é atuar. Estamos construindo cairmos dez por cento, podemos incorporamos mais gente nesse
uma fábrica multiprodutos em Feira desempregar mais de 20 mil famílias. processo. No sistema de premiação
de Santana, que vai abastecer todo Temos de ter isso sempre presente. Já de vendedores, a parte variável
o Norte e o Nordeste, evitando o disse que estamos construindo uma aumentou, dando chance para que
transporte de matérias- primas – por fábrica em Feira de Santana, vamos continuassem tendo um fixo, no mí-
exemplo, Nescafé será envasado lá. nimo, igual ao que tinham antes – e
Com isso, tenho vantagem fiscal, todos progrediram. Nosso merchan-
tenho redução do custo de transporte, dising, que era terceirizado, trouxe para
fico mais competitivo; como se trata dentro da empresa. Por que já fui ¯
de mercado de menor poder aqui-
sitivo, posso abaixar o preço, sendo
mais competitivo na ponta e aumen- “ANTES NÃO SE
tando a venda. No ano passado, GANHAVA BÔNUS
através da regionalização, nós cres- PORQUE NÃO SE
cemos o equivalente a uma Argen- ATINGIAM OS
tina, em produtos Nestlé. O Norte– OBJETIVOS.”
Nordeste do Brasil tem a população
da França; há estados brasileiros, ho-
merchandising – e sei o que é isso. GRACIOSO – Qual é o próximo passo? JR – Para todo tipo de prestação de
O merchandising da Nestlé quer ser serviços de comunicação?
vendedor da Nestlé, então começa IVAN – Eu espero que os meus di-
a ter uma relação de paixão com a retores do corporate auxiliem cada vez IVAN – Só os negócios grandes. Veja
companhia. Na parte de vendas, mais a presidência, no dia-a-dia da o exemplo do açúcar: somos o maior
compramos veículos novos para companhia, para cumprir as regras da comprador de açúcar do Brasil – as
toda a organização através de casa. Eu quero ter mais tempo para empresas competem para nos vender.
leasing e com uma condição: se ele atuar como um “trigger”, para Fazemos isso com a construção de
decidir pagar a última prestação, desenvolver novos negócios. Acho fábricas novas, com a compra de
fica com o carro. Então, passaram que essa deve ser a minha função veículos; são três mil veículos – as
a cuidar desse automóvel, porque principal. Uma vez organizado, montadoras entram e concorrem. Isso
é um bem que está cultivando – e, funcionando com rentabilidade, há agilizou os processos. Nós usávamos
a cada quatro anos, ele recebe um sempre coisas novas para fazer; eu já 150 empresas transportadoras – e era
automóvel pagando uma pres- estou pensando no desenvolvimento de difícil controlar. Hoje está tudo on line,
tação; é mais um benefício. oportunidades de novos negócios lá na quem prestar serviços entra e
Reforçamos a parte de assistência frente. Acho que, aqui, a Nestlé concorre. Isso reduziu custos,
médica, seguro de vida. também tem muitas oportunidades de aumentou a flexibilidade e acabou
aquisições, e estamos realizando, ana- com problemas enormes. Nossa
GRACIOSO – Em função de tudo is- lisando tudo que está acontecendo. Por vocação é produzir e desenvolver
so, mudou o perfil dos jovens que são isso eu acredito nesse crescimento. alimentos que respondam à
atraídos para cargos executivos? expectativa do consumidor: não é pro-
GRACIOSO – Algo mudou na duzir leite mas processar leite; não é
IVAN – Levava-se 30 anos para che- comunicação? produzir café mas processar o café;
gar a diretor nessa companhia; depois não é produzir cacau mas processar o
mais ou menos uns 20. Hoje, a média IVAN – Contratamos o Mario Castelar, cacau e assim por diante. E na área
dos novos diretores é de três, quatro ou que sempre trabalhou com a Nestlé – de marketing – que é muito
cinco anos. Mas acho que o importante durante mais de 20 anos na agência. importante – estamos selecionando,
é ficar na organização, pois “os cargos Ele veio com uma missão que não era anualmente, 100 trainees não só para
se conquistam” – isso é mérito, e é fácil, no início, mas ajudou a a área de marketing, mas para
fundamental. desburocratizar a relação com a eventos, requisitando pessoas novas
agência, que era um problema aqui para serem formadas e para trabalhar
dentro. Havia quase um conflito entre conosco. Isso tem dado uma dinâmica
agência e cliente. Hoje isso acabou. nova também. Vai levar algum
Nós mudamos a maneira de produzir tempo, porque isso não se faz de um
a nossa comunicação, a maneira de dia para o outro, mas estamos satis-
atuar com as agências; agora temos feitos com a maioria deles.
agências alinhadas, com quem
fazemos uma concorrência aberta. GRACIOSO – Eu costumava dizer
que o que mexe com o moral de uma
organização é o lucro; agora posso
dizer que é o lucro e o crescimento.
“GRANDE PARTE DO
IVAN – E nós temos mostrado os
QUE NÓS FIZEMOS resultados, temos mostrado onde
AGORA É PARTE DO QUE crescemos, os investimentos que
NÓS DEIXAMOS DE fazemos, a mudança de para-
FAZER NO PASSADO.” digma, nas áreas de distribuição,
sem tocar esse eixo básico da JR – Você acha que mostrar resultado parente e o produto era uma geléia
Nestlé. Hoje todos sabem que a foi uma forma de provar as suas teses? em baixo, com iogurte em cima, o
Nestlé, para ser competitiva, eu nome não era o mais importante.
digo: “não podemos ser mais efi- IVAN – É muito importante, num pri- Então tro- camos para “Chambourcy”,
cientes comparando-nos com nós meiro momento, você poder con- sem identificar o produto. Em vinte e
mesmos, temos de ser mais efi- cretizar e dizer “olha, aquilo que quatro horas, conseguimos o registro,
cientes comparados com o mer- eu prometi, olha o resultado a que trabalhamos no final de semana, todos
cado”. Temos de mudar o enfoque cheguei”. deram o máximo. E – na segunda-
para “a Nestlé Brasil é a mais efi- feira – eu ainda tinha o Chambourcy
caz, comparada com o mercado”. JR – Qual foi a primeira oportunidade no mercado, com uma boa contr-
Isso é o que me interessa. que você teve? ibuição marginal para a companhia.
Então voltei para o senhor Mario e
JR – Quantos anos de Nestlé você tem? IVAN – Eu trabalhava na divisão disse “consertei o aborto”. Ele, então,
Chambourcy e a Danone havia lan- disse: “pessoas assim é que eu gosto
IVAN – Trinta e três. çado um produto chamado Dan Fru- de ver na companhia, quero que você
it. Eu, então, lancei Cham Fruit – mas continue conosco”. Mais tarde, houve
JR – Você começou aqui mesmo, a Danone entrou com uma ação contra outra passagem muito interessante,
no Brasil? nós. A Nestlé daquela época era quando me perguntou o que eu
muito conservadora – e o senhor gostaria de ser na Nestlé, e eu disse
IVAN – Como trainee. Alexandre Mahler, que era meu “gostaria de ocupar o lugar do senhor”.
chefe, me chamou e disse: “O senhor Ele não gostou muito, mas – anos
JR – Quando entrou, você já era está demitido da Nestlé. Quem mais tarde – rimos juntos. São passa-
uma pessoa inovadora ou trans- produziu este aborto?” – foram pala- gens importantes. O grande desafio
formou-se numa pessoa inovadora vras dele, com as duas embalagens que eu tive foi o México, a América
trabalhando na empresa? na mão. “Isso que o senhor está Central, e também a Argentina. O que
chamando de aborto, fui eu que fiz”, eu aprendi faz parte da minha ma-
IVAN – Boa pergunta. É difícil dizer, e ele “pois é, o senhor está demitido”. neira de ser. É importante ter credi-
porque, na época, poderia até ter es- Então eu falei: “Olha, o senhor é a bilidade entre os pares, os colabo-
pírito inovador mas não podia de- autoridade aqui, mas eu gostaria de radores; conseguir a mobilização
monstrar, porque não tinha opor- sair pela porta que entrei; então eu para os objetivos que a gente propõe.
tunidade para isso. Mas acho que a gostaria de consertar o aborto antes Sozinho não dá para fazer nada.
criatividade leva à inovação. Mas, de sair”. Ele: “O senhor tem dois dias
para isso, temos de estar dentro de para fazer isso”. Aí chamei o meu GRACIOSO – Ivan, muito obrigado.
um contexto, para poder propor pessoal e disse “estou demitido”. Sua entrevista valeu quase como um
coisas inovadoras e sermos ouvidos... Naquela época, o pote era trans- curso completo de gestão... ESPM
E
S E A
C OPNH UER H
TINHA RAZÃO...
1. INTRODUÇÃO
Mesmo quando falamos apenas das
inovações, cometemos alguns erros
de conceituação. No mundo em-
presarial há muitas pessoas que
parecem crer que a inovação
seja uma solução para todos
os males. E os gurus que ga-
nham a vida, falando so-
bre o assunto, fazem
muito pouco para des-
fazer essa impressão.
Na verdade, ino-
vação não é pa-
nacéia. Ao con-
as mudanças de atitude e com- solução criativa. Em nossa opinião, reduzir os seus custos de produção,
portamento esperadas entre os trata-se de uma solução nova, ori- ou um gerente de vendas que pro-
consumidores do produto anunciado. ginal e exclusiva que nos ajuda a cura maximizar o resultado de suas
resolver problemas ou aproveitar visitas a clientes. Na vida empre-
oportunidades, dando-nos vanta- sarial, essas idéias são basicamente
3. O QUE É UMA gens competitivas sobre os nossos de dois tipos: as que buscam dar-
IDÉIA CRIATIVA? concorrentes. Isto vale para um cria- nos vantagens competitivas através
dor publicitário, um designer que da diferenciação qualitativa; e as
É preciso também conceituar me- procura um novo formato de emba- que pretendem reforçar a nossa
lhor o que vem a ser uma idéia, ou lagem, um engenheiro que procura competitividade através do aumen-
to da eficiência e da redução de
custos. (vide fig. 1).
B) Conhecimento íntimo de
nosso mercado
engessando os executivos e resulta Nessas empresas, além do clima de grupos de trabalho matriciais que
em uma enxurrada de pesquisas experimentação e debate, as infor- combinem experiências variadas. A
que servem, acima de tudo, para mações fluem com mais rapidez. médio prazo, no entanto, é preciso
adiar as decisões. Está provado que as empresas mais completar esta prática com um
criativas são também as mais bem sistema de compensação variável
Nas empresas abertas à inovação e informadas. Mas não basta acumu- que nos permita premiar rapidamente
mudanças, pelo contrário, as pessoas lar informações; é preciso também os casos de sucesso. De um modo
são estimuladas a procurar soluções desenvolver métodos práticos de geral, pode-se dizer que a obtenção
novas. Os erros cometidos não são análise e síntese que nos permitam de um fluxo contínuo de boas idéias,
fatais para a carreira de ninguém. interpretar os dados com rapidez. que também poderíamos chamar de
pensamento criativo sistemático,
No Vale do Silício – orgulho da
)cultura inovadora americana – as Quando se deseja ganhar tempo e
estimular o pensamento criativo em
depende fundamentalmente do fator
humano da empresa. Assim, é inútil
empresas chegam a premiar erros e
fracassos, em vez de puni-los. organizações até então fechadas às tentar introduzir essa cultura ino-
mudanças, podem-se obter bons vadora em empresas cuja diretoria
resultados através da formação de não acredita nela.
aberta
CRIATIVIDADE
UM PAPO SÉRIO SOBRE
CRIATIVIDADE
OU INOVAÇÃO?
Este artigo abordará o tema cria-
tividade. Mas o que isso tem a ver
com inovação?
Esperamos que os Picassos do A criatividade ainda é pouco com-
mundo experimentem rasgos de
criatividade, mas estamos preendida pela maioria dos profis- Ao longo de quase uma década, atuo
menos convencidos de que os sionais. O termo aplica-se mais como professor/instrutor de mais de
homens e mulheres de negócios facilmente à arte do que aos negó- uma centena de workshops, semi-
tenham qualquer coisa a ver cios, o que provavelmente ocorre nários e aulas sobre criatividade e
com criatividade.
pelo fato de a atividade criativa ter inovação. Em praticamente todos
esses encontros, pergunto para os É fundamental que se entenda, Em entrevista ao jornal The Business
participantes qual a diferença entre adequadamente, não só cada um Time1, Arnold Wasserman, presi-
criatividade e inovação e conto nas deles, mas, principalmente, a dente da Idea Factory, uma das maio-
mãos as vezes que recebi uma resposta forma como se correlacionam. res empresas de consultoria do
que está de acordo com as definições Amabile (1996b:1) procura mundo na área de criatividade e
corretas, demonstrando as relações de defini-los de maneira clara. Ela inovação, adverte que:
causa e efeito dos dois assuntos... afirma:
“as pessoas normalmente utilizam
os termos inovação e criatividade
como se fossem a mesma pala-
“Criatividade é a produção de
vra (...) é muito clara a ligação
idéias novas e úteis em qualquer
e a distinção entre os termos.
área de atuação (...) Inovação é a
Criatividade é o processo de
implementação de uma idéia
geração das grandes idéias (...)
dentro de uma organização com
Inovação, contudo, é ‘criati-
sucesso. Dessa forma, criatividade
vidade implementada’, é pegar as
individual e do grupo são pontos de
idéias criativas que podem ser
partida para a inovação; são
implementadas e trazê-las para
condições necessárias, mas não
o mercado.”
suficientes.
nações. Guilford (1970), fez um BUSCANDO produto final, no Oriente é vista como
estudo específico acerca da DEFINIÇÕES forma de expressar uma verdade
produção científica sobre interior de maneira a auxiliar o auto-
criatividade na Psicologia. Os Muito antes de se iniciar o estudo conhecimento e o crescimento
resultados revelaram que, a científico da criatividade, os pes- espiritual (Boorstin, 1992).
partir de 1950, o número de quisadores já buscavam sua definição.
trabalhos sobre criatividade Platão considerava a atividade É fundamental, contudo, que, para
cresceu significativamente. criativa como um dom de inspiração a matéria ser tratada com o devido
divina, não sujeita à análise racional. rigor científico, existam definições
Diversos cientistas acreditaram Aristóteles, por sua vez, propunha uma
na correlação entre criatividade definição mais prática, voltada para
e i n t e l i g ê n c i a . Po r i s s o , o s o “fazer”. Durante séculos, as
estudos iniciais sobre aquela definições oscilaram entre esses dois
confundiram-se com muitos dos extremos. A própria definição de Após décadas de estudo da teoria
aspectos do estudo da inteli- de Guilford, diversos psicólogos
criatividade no Ocidente é diferente comprovaram a premissa de que,
gência. Guilford foi um dos au- da que há no Oriente. Enquanto, no efetivamente, criatividade não é o
tores que, ao assumir que ambas primeiro caso, ela é orientada ao mesmo que inteligência (Gardner,
não eram, necessariamente, cor- 1993: 20).
relacionadas, auxiliou o início
de uma abordagem científica,
especificamente, no que diz
respeito aos testes de avaliação
da capacidade criativa. Após
décadas de estudo de sua teoria,
diversos psicólogos compro -
varam a premissa de que, efe-
tivamente, criatividade não é o
mesmo que inteligência (Gar-
dner, 1993: 20).
de o indivíduo, para ser considerado Para o autor, portanto, a pergunta teração com pessoas e grupos, que
criativo, ter de exercer regularmente que deve ser feita não é apenas: o sejam aceitos e indicados pela
essa capacidade. Em segundo lugar, que é a criatividade?, mas sim onde sociedade/cultura em determinado
como a criatividade é exercida em está a criatividade?, buscando-se momento/local como aptos a
uma área de atuação específica e encontrar o comportamento criativo decidir o que é criativo ou não (os
não em todas elas, desmistifica-se não apenas na habilidade do in- “julgadores”), e com a cultura da
que a criatividade seja o mesmo que divíduo, como também na sua in- própria área de atuação.
genialidade e que haja uma
capacidade mental utópica que Pode-se dizer que, no ambiente
dominaria todas as habilidades nas empresarial, os verdadeiros “julga-
mais diversas áreas, seja ela Uma das grandes dores” seriam os clientes, que respon-
pesquisadoras da
artística, de negócios ou de racio- atualidade é a professora derão a determinada atitude criativa
cínio matemático. Finalmente, da Harvard Business School, tomada pelos executivos de uma
destaca-se a necessidade de a idéia Teresa M. Amabile, Ph.D. empresa comprando ou não deter-
criativa ser julgada e aceita dentro Suas pesquisas analisam minado produto. Essa visão, contudo,
diversas variáveis que
de determinado ambiente cultural. impactam o comportamento pode ser considerada míope dentro
criativo eficiente em da atual complexidade das empresas
centenas de profissionais e dos mercados.
em empresas.
UMA
FOTOGRAFIA DAS
DESCOBERTAS
ATUAIS: AS
PREMISSAS DE
AMABILE
Na verdade, essas informações em todas as áreas de atuação; sos, mesmo sendo a inexistência
apresentam, de uma maneira bas- desses limites um componente que
tante precisa, fatos e conceitos que o fenômeno da “incubação” gere altos níveis de criatividade.
podem ser considerados um resumo
das descobertas mais recentes sobre
o assunto. São eles:
8) – no qual o indivíduo tem
uma idéia em um repente,
durante um momento de descanso EM BUSCA DA
e após um período de intenso CRIATIVIDADE
existe um continuum, que trabalho – é descrito por um grande NA EMPRESA
1) vai desde os níveis mais bai-
xos até os feitos historica-
mente significantes nas ciências,
número de indivíduos excepcio-
nalmente criativos; Com todas essas informações apre-
sentadas, pretendi esclarecer que
literatura ou artes. Isso implica dizer a diversão intelectual e a a criatividade é uma arma funda-
que qualquer ser humano com
habilidades cognitivas normais
pode ser criativo em determinado
9) inexistência de limites ex-
ternos são importantes com-
ponentes para altos níveis de
mental para as empresas e que
deve e pode ser utilizada em todas
as áreas. O seu uso generalizado
nível em um assunto específico; criatividade; permite a descoberta de oportuni-
dades no mercado, aumento de
dentro dos feitos de qualquer há indivíduos que produzem produtividade e, principalmente,
4) de criatividade varia de a-
cordo com as áreas de
atuação;
crenças que guiam suas pesquisas.
BIBLIOGRAFIA
E se ainda há dúvidas sobre a capa-
cidade de se encontrarem indiví- ALBER
ALBERTT , Robert S. & RUNCO
RUNCO, Mark A. A
duos criativos em número sufi- History of research on Creativity in
STERNBERG, Robert J. Handbook of
ciente para ocuparem todos os
Creativity. Nova Iorque, ed. Cambridge
postos dentro da empresa, Pinker
University Press, 1999, p. 16-34.
(1998: 381), psiquiatra e estudioso
do funcionamento da mente, AMABILE, Teresa M. Creativity and
AMABILE
minimiza esse problema: Innovation in Organizations. Boston, Harvard
Business School Publishing, 1996b.
INOVAÇÃO,
CRESCIMENTO E
SUSTENTABIL
Se houvesse um “Top of Mind” para RADAR DE INOVAÇÃO
produtos inovadores, o Post-It en-
cabeçaria a lista até um tempo atrás.
Uma análise futura sobre esta primeira
década do século talvez aponte para
O quê
um novo ícone de inovação, também
(oferta) PLATAFORMA
colado à cabeça das pessoas: o iPod. MARCA
IDADE
A marca Apple, por si só, já possui Apple. Deslum-
um forte elo com inovação; o iPod brado com o iPod,
não é apenas um produto inovador, gastou mais de
mas está apoiado numa plataforma US$ 10.000 em
que permite o lançamento de novos equipamentos
produtos agregados; atende a da Apple. E conti-
necessidade do cliente oferecendo nuou deslumbrado,
uma solução completa que inclui até que seu iPod que-
não só o aparelho, como também a brou, e ele descobriu
loja de música online; já a loja, por que o aparelho de U$
sua vez, é tanto um exemplo de 300 podia ser conser-
aproveitamento das capacidades de tado – pelo custo de
rede, como uma forma diferente de US$ 250, mais impostos.
captura de valor. Nocera descobriu, então,
milhares de mensagens
No entanto, o sucesso que pode ser em fóruns online, postadas
explicado, tanto pelo radar como por consumidores descon-
por outros modelos de inovação, tentes tanto com a fra-
possui um ponto fraco. Tão fraco, gilidade do produto como
de fato, que leva o produto a se com as políticas de manu-
quebrar em dois ou três anos. Num tenção da Apple, que pode-
artigo do New York Times repro- ria induzir à compra de novos
duzido no caderno Link do Estadão iPods. ) Não importa o ângulo analisado, o
modelo ou teoria de inovação em-
em 20 de fevereiro de 2006, o jor- pregados, todos explicam de alguma
nalista Joe Nocera relata a sua ex- Não é a obsolescência do maneira o sucesso do iPod como
periência como consumidor da produto nem o tratamento dis- ¯ produto inovador.
)Graças a ciclos de
inovação cada vez
Ciclos mais rápidos de inovação que
levem a um maior crescimento são a
mais curtos, muitos
principal justificativa para estratégias
dispositivos são
descartados após baseadas em inovação, se levarmos
poucos meses ou em conta a literatura existente sobre
anos. o assunto. De Porter a Mintzberg, pas-
sando por Hax e Treacy e Wieserma,
existe um pensamento unânime em
pensado aos consumidores que afirmar que:
interessa aqui. A questão a ser dis-
cutida é: onde são descartados os Y estratégia serve para a empresa
milhares de Ipods quebrados? Se competir por maiores resultados;
20% dos 40 milhões de Ipods ven-
Y na competição as empresas
didos não foram consertados, há
precisam de uma diferenciação;
pelo menos 8 milhões de aparelhos
e suas respectivas baterias, sim- Y estabelecer e manter uma
plesmente, descartados no meio- diferenciação são requisitos para a
ambiente. Aliás, o design do pro- empresa gerar riqueza
duto impede que a bateria seja tro- Y e garantir a perpetuidade dos
cada de forma simples, mesmo se seus negócios.
o aparelho não estiver quebrado.
)Aindicador-chave
proporção de novos serviços e produtos é um
de sucesso corporativo tanto
empresa que entregou crescimento
consistente de receita por uma
em termos de melhora das receitas como em
década ou mais, e provavelmente
termos de retorno para o acionista.
você encontrará evidência de ino-
vação de primeira linha. Simpli-
ficando, inovação é o combustível
atrair mais clientes, gerar mais inovação é igual a crescimento”. para o crescimento.”
vendas, distanciar-se dos concor-
rentes, ser mais atrativo para os in- Em Driving growth through in- Maior receita, maior lucro e cres-
vestidores e manter esta vantagem novation, obra em que o título fala cimento acelerado são, de fato, as
competitiva por longos períodos. por si, Tucker justifica inovação ambições que movem uma orga-
como o meio para a busca de recei- nização. A pergunta é: crescimento
Os modelos de inovação também ta de primeira linha e cita um estu- a que custo? Os modelos de estratégia
se justificam unicamente pelo cres- do da PriceWaterhouse&Coopers: e inovação são omissos neste ponto.
cimento. Um estudo recente da Ac- “a proporção de novos serviços e Provavelmente, porque se enquadram
centure abre com o seguinte pa- produtos é um indicador-chave de numa perspectiva geral vigente do
rágrafo: “Apple Computer, Google, sucesso corporativo tanto em sistema econômico, em que o capital
Samsung, Virgin Group, Nokia, termos de melhora das receitas se define como a riqueza acumulada
Procter&Gamble. Para estes líderes, como em termos de retorno para o na forma de investimentos, fábricas,
a equação vencedora é inatacável: acionista”. equipamentos e conhecimento.¯
Dentro desta perspectiva, uma em- As últimas décadas, no entanto, vi- A visão convencional de criação de
presa que produz máquinas não po- ram a emergência de uma nova valor foi acompanhada de um corpo
de se preocupar com os veículos ou visão sobre valor, não limitada a de teorias econômicas baseadas na
estradas que transportarão suas má- investimentos, fábricas, equi- falácia de que o capital natural e o
quinas; isso é ou deveria ser pamentos e conhecimento. Haw- capital humano têm pouco valor em
responsabilidade de alguém. Outra ken defende que uma economia relação ao produto final. Estas teorias
que produza calçados não vai se de- requer quatro tipos de capital: baseiam-se na idéia de que a
dicar a encontrar soluções para os economia é neutra para o meio-
Y capital humano
sapatos que as pessoas deixam de ambiente e que os avanços da
usar; isso passa a ser responsabilidade Y capital financeiro tecnologia darão conta de
de outro agente. As externalidades equacionar a escassez de matérias-
são tratadas como questões para Y capital manufaturado primas. Como premissa, a idéia de
outros resolverem, afinal a empresa Y capital natural, constituído de que os sistemas vivos são gratuitos,
precisa estar focada naquilo que é a recursos, sistemas vivos e os infinitos e em perpétua renovação.
sua competência central. serviços do ecossistema.
A degradação dos sistemas naturais e
as condições socioeconomicas da
população mundial, mostram, no
entanto, que a situação não é bem
essa. Dados sobre desmatamento na
Amazônia, desaparecimento de es-
pécies e poluição em níveis alar-
mantes são encontrados, diariamente,
tanto em publicações especializadas
como em jornais e revistas de massa.
Esses números, que são, normal- necessária para sustentar uma este nível de consumo. Esta rea-
mente, invisíveis, no ato despren- determinada atividade ou um pro- lidade é ilustrada pela metáfora de
dido de matar a sede com um refri- duto.” Significa dizer que, se o funil proposta por Robert:
gerante ou apertar o botão SEND mundo inteiro adotar o mesmo
do celular, podem ser traduzidos padrão de vida americano ou Como garantir, a partir destas con-
pelo conceito de pegada eco- canadense, serão necessários 4,1 dições, o crescimento proposto pe-
lógica: “superfície total de terra outros planetas Terra para sustentar los modelos de estratégia e ino-
1) concentração de substâncias
extraídas da crosta terrestre;
2) concentração de substâncias
produzidas pela sociedade;
O BRASIL NÃO
DEU CERTO ENTREVISTA
O S
Z IR E
SILVA
N
osso entrevistado dessa edição está entre 1991 e 1995, quando conduziu
há muitos anos em evidência, pelas o processo de privatização da
grandes contribuições que deu ao empresa. Foi presidente da Pe-
nosso país. Formado como oficial trobras, ministro de Estado da Infra-
aviador e piloto militar, em 1952, Estrutura e – mais recentemente –
serviu na Amazônia, voando no Cor- presidente da Varig. É atualmente
reio da Fronteira e, mais tarde, no diretor-presidente da OSEC-UNISA
Correio Aéreo Nacional. e presidente da Pele Nova Biotec-
nologia e Participação Ltda. Tem
Foi Professor do ITA na cadeira de tido participação destacada em
Ensaios em Vôo e – em especial – todos os movimentos de inovação
liderou o grupo que criou a Embraer da sociedade brasileira e pela in-
– Empresa Brasileira de Aeronáutica clusão do Brasil entre as grandes
SA, que dirigiu desde sua fundação potências do mundo.
em 1970 até 1986 e, posteriormente, JRWP
HIRAN – Dr. Ozires, o Sr. é um ho- cações ainda não foi completa- atravessassem a rua e comprassem
mem que dispensa apresentações, mente absorvido pela sociedade em um produto brasileiro, mas isso,
mas quero lhe dizer que é uma das geral, em especial nos países sub- infelizmente, não acontece.
pessoas mais jovens que conheço desenvolvidos. Como reflexo desse Quantas vezes, vamos comprar um
porque está sempre voltado para processo, o consumidor caminha ra- item qualquer e o vendedor nos
novas idéias, construir e reconstruir pidamente para a posição de con- pergunta: “O Sr. já viu o último
algo novo. É uma oportunidade ím- sumidor mundial. O nosso concor- lançamento?” Isso é da maior im-
par ouvi-lo aqui na ESPM, sobre o rente hoje não está mais ali na es-
tema criatividade e inovação. quina; ele pode estar na esquina de
Beijing, em Washington, Nova Ior-
JR – Aproveitando a dica do que, enfim, em todos os lados. Ho- “NOSSO CONCORRENTE HOJE
Hiran, o Sr. vê alguma relação je, atravesso a rua da minha casa, PODE ESTAR NA ESQUINA DE
entre a idade das pessoas e e compro algum produto desses BEIJING, OU EM WASHINGTON.”
sua capacidade de inovar? países. Gostaria de que
os seus cidadãos
OZIRES – Boa pergunta.
Creio que o progresso
tecnológico das comuni-
JR – Alguém disse que não há paí- tem coisas de deixar-nos de cabelo próximos 20 anos, a América Latina
ses desenvolvidos e atrasados; há em pé. Ele relata que, na área de não deve tomar o nosso tempo”.
países que planejam e os que não defesa dos EUA, eles dizem pura e
planejam. simplesmente: “Se tudo continuar JR – E como podemos fazer um pla-
como está, em 2020 o mundo será no nacional em cima desse tipo de
OZIRES – Concordo. Estive com Ja- mais asiático do que americano”. E realidade?
mes Hunter recentemente, quando “a síndrome de que o mundo está
fomos co-palestrantes num evento empobrecendo é mentira; quem está OZIRES – Recentemente, partici-
no Paraná, e ele disse algo que me empobrecendo é a América Latina, pei de um seminário da HSM e,
fez refletir: “a diferença signifi- que está sendo africanizada pelas quando conversava com o Michael
cativa de um país desenvolvido forças das lideranças que temos Porter, ele me perguntou: “Vocês
para um que não é, é que no país aqui. Em conseqüência disso, nos não têm um projeto de nação?” ¯
desenvolvido a legislação é fle-
xível e de cumprimento rígido; no
país em desenvolvimento, a
legislação é rígida, com cum- “O BRASIL APARECE NO MERCADO INTERNACIONAL
primento flexível”. Então, temos COMO UMA NOTORIEDADE E NÃO UMA MARCA.”
diferenças que podem ser modi-
ficadas. No caso da Embraer, cu-
nhei uma cultura de trabalho, den-
tro da companhia, que a está le-
vando ao sucesso – o que mostra
que, se uma cultura dessa natureza
for colocada em termos de país,
poderemos ter uma grande modifi-
cação. Eu digo que o Brasil não deu
certo porque ele não está respon-
dendo, hoje, às expectativas dos
brasileiros. Dando um exemplo dra-
mático, se eu tivesse nascido fora
do Brasil, eu poderia chegar aqui,
olhar no seu olho e dizer: você não
tem vergonha de fazer um povo tão
pobre como tem feito?
Respondi que não. E ele: “Não que- se novo milênio, é vital. Acom- güínea, cria possibilidade de rege-
rem fazer um?” Respondi: “não te- panho minha mulher ao supermer- neração textual e celular a um pre-
nho poder político para isso”. E ele cado e, naquela prateleira imensa, ço imbatível. Realmente sensacio-
brincou: “Mas o Sr. tem autoridade ela pega um produto e pergunto: nal. Mas não colocaria, nesse pro-
para propor”. Se tiver, eu ofereço por que esse? Ela responde: “Porque duto, made in Brazil, porque pas-
toda a minha equipe para fazer o é de tal marca”. Insisto: e por que saria a ser considerado um produto
plano de nação para o Brasil, de essa marca? E ela: “Porque faz bons exótico para um segmento da
graça. Acho que não precisamos do produtos”. sociedade americana. E o que eu
Michael Porter para fazer esse pla- quero é um produto generalizado,
no; podemos fazer aqui. Lembro- JR – O Sr. incluiria a “marca Brasil” nos Estados Unidos, que possa ser
me de que, quando comecei a fa- nisso? comprado pelas pessoas que,
zer meu avião, percebi que estava efetivamente, precisam do produto.
cercado de Silvas; e o Silva enlata OZIRES – Não. Na Embraer, decidimos que nossos
sardinha, empacota bacalhau, mas aviões não teriam características
não faz avião. Pensei: precisamos de JR – Quando há uma Copa do Mun- brasileiras. Nossos aviões têm catá-
uma griffe. Arranjamos, então, um do, por exemplo, como agora, o Sr. logos, painéis em inglês, porque é
francês chamado Max Holste que não tem a sensação de que temos uma a língua consagrada na aviação
veio para a Embraer, e era a griffe de marca boa internacionalmente? internacional. Acho que precisamos
que eu precisava. ter esse tipo de percepção. O fute-
OZIRES – De certa forma. O Brasil bol é ótimo, porque as pessoas pre-
JR – O Sr. está sendo modesto, por- aparece no mercado internacional cisam de auto-estima. Mas não
que é um Silva-com-griffe. com características pontuais – com lamentaria que o Brasil perdesse
uma notoriedade e não uma marca. essa auto-estima, em particular,
OZIRES – Eu aceitaria, talvez, mo- Mas da mesma maneira, por exem- para obter uma diversificação maior.
destamente, agora. Mas, no pas- plo, a atuação do PCC foi noticiada
sado, um Silva era um Silva qual- no mundo todo, também, porque o JR – Isso nos leva a uma questão deli-
quer. Mas, enfim, precisávamos da Brasil tem essa tradição, na cabeça cada, que é a mudança de com-
griffe e conseguimos. Trouxemos das pessoas, de um país inseguro portamento, atitude. Como o Sr. vis-
esse projetista da França, e nosso de terceiro mundo. Não colocaria lumbra a mudança de compor-
projeto ficou imbuído de uma certa no produto que fabrico – um pro- tamento, de atitude do nosso povo?
seriedade. Quer dizer que eu acho duto de excelência – a marca Bra-
que podemos fazer um projeto de sil. Por exemplo, numa empresa de OZIRES – Sua pergunta leva-me
nação, mas se ele tiver uma griffe biotecnologia, temos um produto a outra: por que o Brasil “não deu
como a do Michael Porter, pode ter que aumenta a vascularização san- certo?”. Por causa, certamente, das
certeza de que vai ajudar. E, aqui
na ESPM, estou no lugar certo para
falar em marcas...
“O BRASIL É UM PAÍS PARAPLÉGICO
JR – A ESPM é uma griffe, mas tam-
PORQUE NÃO TEM DIREITA; SÓ ESQUERDA.”
bém estamos nisso há tempo sufi-
ciente para saber que ela vem-se
formando aos poucos – e é resul-
tado de muito trabalho.
conseguiu se sustentar no mercado nhuma outra marca brasileira com eles não conseguiram abrir deter-
internacional por tantos anos. Tem tamanha penetração no mercado, minado curso, porque aguardavam
uma força de trabalho primorosa, nem a Petrobras, por exemplo, a aprovação do MEC. E perguntei
que não pode ser construída a curto está muito distante... Isso preci- a mim mesmo: será que o MEC tem
prazo. Mas o governo lhe coloca sava ser preservado, em que pese alguém com competência para
uma bola de ferro no pé: a Varig é a Varig ter um problema corpo- julgar um currículo apresentado
dona de mais de 1.000 imóveis rativo complicado. pela FGV, ou por outras instituições?
extremamente valiosos no país, Absolutamente, não. Pensei na
mas o governo proíbe que use JR – O seu cartão de visita é de distinção entre poder e autoridade.
economicamente um ativo que é diretor presidente de uma insti- O Ministério da Educação, no
seu – e diz que não pode colocar tuição de ensino: a OSEC. Como o Brasil, tem o poder – a compulsão
dinheiro público. Quer dizer, ele Sr. vê essa fase, na sua carreira de de obrigar a fazer – mas não tem
fechou todas as portas e depois profissional pioneiro, inovador e autoridade. Se pudermos fazer
disse: “Saia”. criativo? alguma coisa nessa direção: juntar
as universidades e levar ao poder
HIRAN – O Sr. foi amigo do OZIRES – O ensino sempre me político a necessidade de sairmos
Comandante Rolim, um homem que empolgou – não do ponto de vista dessa camisa de força, que nos se-
conseguiu romper um status quo – de ser professor. A educação gura, que dificulta a qualidade do
em condições iniciais desfavoráveis brasileira necessita, seriamente, de tipo de instrução, seria um sucesso
– a partir da inovação... inovação. Por exemplo, o nosso extraordinário.
governo atua ilegalmente como
OZIRES – Quando o Rolim fa- “federal”, quando deveria ser fede- JR – Mais uma vez o Sr. parece
leceu, a TAM já estava mostrando rativo. Outro dia – em conversa estar no lugar certo e na hora
sinais de cansaço. O que mostra com o pessoal da FGV – soube que certa. ESPM
uma coisa muito clara, que o Peter
Drucker escreveu no último artigo
que publicou, antes de morrer, e
o título era: “As árvores não
“NOSSO GOVERNO ATUA ILEGALMENTE COMO
crescem até o oceano”, querendo
‘FEDERAL’, QUANDO DEVERIA SER FEDERATIVO.”
dizer que as empresas não têm
uma perspectiva de crescimento
permanente, a menos que – como
ele coloca com sabedoria – se
renovem. A morte do Rolim trouxe
uma renovação para a TAM. Mas
o sistema de transporte aéreo mun-
dial não permite o envelhe-
cimento saudável das compa-
nhias. Temos de pensar seriamen-
te nisso, porque transporte aéreo
não é uma commodity que se joga
pela janela. Ao contrário, é um
serviço público da mais alta ne-
cessidade, e hoje está intrin-
secamente ligado ao desenvol-
vimento das nações. A Varig é a
nossa melhor marca; não há ne-
A INOVAÇÃO CHEGA
À IDA DE
DA
RZÃO A
O empreendedor é o agente do processo de destruição criativa.
É o impulso fundamental que aciona e mantém em marcha o
motor capitalista, constantemente criando novos produtos,
novos mercados e, implacavelmente, sobrepondo-se aos
antigos métodos menos eficientes e mais caros.
)Assumindo uma visão histórica e ampla, nos parece que o homem nasce com o
gene da curiosidade e da aventura – e por isso a experiência com o novo sempre atrai e fascina.
no fundo o homem quer novas ex- Os povos antigos viajaram pelo DEPOIS DA REVOLUÇÃO
periências. Nas expedições maríti- desconhecido, voltaram e o incor- INDUSTRIAL O “NOVO”
mas do século quinze, os finan- poravam. Assim foram os Vikings, PASSA A ACUMULAR PODER
ciadores assumiam seu risco pelo lu- fenícios, portugueses, fora os povos
cro, mas eles eram só alguns, en- que emigraram, da África para o Obedecendo ao princípio da mu-
quanto os navegadores eram mi- mundo, e depois da Ásia para as dança permanente do mundo, den-
lhares, e apostavam sua pele fas- Américas. E depois ainda vieram os tro da evolução recente da socie-
cinados pela vida incerta mas ex- alargadores de fronteiras, como dade, aconteceu a chamada “Re-
citante do mar. conquistadores, bandeirantes e pio- volução Industrial”, quando a eco-
neiros. Contudo, a saga do desbravar nomia abandonou o artesanato e
Os fatos nos levam a afirmar que nas- não era só vocação antiga, mas de passou para a produção de escala.
cemos assim, curiosos e aventureiros, todos nós hoje,que fazemos do turismo Viabilizada pela inovação dentro
mas divididos, já que, por outro lado, um dos negócios mais importantes da da tecnologia, principalmente com
somos também organizadores e fãs do terra. A aventura do novo vem im- os aperfeiçoamentos de Watt na
conforto e da tranqüilidade da rotina. pressa em nossos genes.” máquina a vapor, a Revolução In- ¯
sempre na figura de milionários, ad- é novo”. Inicialmente, ainda racio- dade viu-se aperfeiçoada, as rea-
mirados e devidamente promo- nal, pois havia um processo cons- ções acabaram minimizadas.
vidos. E a defesa desse modelo, fa- tante de aperfeiçoamento. Contudo,
cilmente se baseia em argumentos a natural vaidade humana, que Nesse estágio, a venda do “novo”
hedonísticos, que propagam o apro- também se expressa em possuir coi- criou um tipo de apelo: “mude para
veitamento máximo, “já que a vida sas originais e melhores, foi pro- este produto”, enfatizando a vanta-
é curta”. O ideal de ser uma pes- vocando a apuração da técnica de gem da mudança, focalizada como
soa importante não mais repousa nas explorar o “status” proporcionado um ato de aperfeiçoamento. Nesse
suas qualidades, mas nas suas pela posse de novidades. estágio Hollywood foi importante
posses. A sociedade, de forma na- para cristalizar o ideário da pessoa
tural, passa a cultivar o “ter”, for- O processo de mobilização do con- moderna, atualizada, e para isso,
ma máxima de “ser alguém”. sumo pelos apelos emocionais foi claro, mutante. Os heróis do público
descoberto pelo marketing e pro- o emulavam e estimulavam. A ro-
A SOCIEDADE NOS paganda, que o utilizou larga- da do consumo passou a funcionar
NECESSITA ARTICULADOS mente, e até com excessos, o que ainda melhor.
despertou algum incômodo na
A economia de mercado, espinha sociedade, que reclamou, como o SURGEM OS
dorsal do capitalismo, tem uma di- fez o livro “Hidden Persuaders”, de TEÓRICOS DA INOVAÇÃO
nâmica natural de procura de oti- Vance Packard. Mas a articulação
mização. Por isso criou técnicas de entre consumo/economia/bem- Os empresários, que na idade mé-
comercialização que melhor viabi- estar prevaleceu, e como a socie- dia eram considerados uma casta ¯
lizassem a produção em massa, e
isso pode-se considerar que tenha
sido a raiz do marketing atual.
) Hollywood foi importante para cristalizar o ideário da
pessoa moderna, atualizada e, para isso, claro, mutante.
Era preciso criar um grande público
consumidor, e os argumentos dos
vendedores foram levados para
veículos que podiam multiplicar
sua disseminação. Jornais e carta-
zes foram os primeiros, depois o rá-
dio, em um processo que se iniciou
no fim do século XIX e se acelerou
no início do século XX, principal-
mente nos Estados Unidos.
) Peter Drucker
demonstrava a
lucidez para não justificar
um vale-tudo do sistema,
coisa que é exemplificada
quando ele criticou acida-
mente o combate ao
prejuízo da Chrysler à custa
de vinte mil empregos.
secundária – a dos negociantes –, se os teóricos do marketing uma quela fase, dava o tom, quase geral,
assumiram aos poucos uma van- nova disciplina que tratava de oti- da competitividade. Mas alguns, como
guarda na sociedade, e tornaram- mizar as técnicas de produção e co- Peter Drucker, demonstravam a lu-
se bem vistos, tão ou mais impor- mercialização, e que podia expli- cidez para não justificar um vale-tudo
tantes que os intelectuais, nas men- car sucessos e fracassos com obje- do sistema, coisa que é exemplificada
sagens da mídia para a massa con- tividade racional. A técnica do mar- quando ele criticou acidamente o
sumidora. Na década de 50, no keting torna-se verdadeira ciência, combate ao prejuízo da Chrysler à
início da era do culto às celebri- e colabora para o aperfeiçoamento custa de vinte mil empregos. Ele
dades, numa comparação que es- social, principalmente pela reno- previa o problema que nascia com
candalizou a muitos, matéria da vação de produtos e processos por a prioridade exagerada do lucro.
revista Esquire chegou a dizer que outros aperfeiçoados. Dessa forma,
um Rockfeller valia mais que um o marketing é o verdadeiro pai da No cômputo geral, foram aqueles
Steinbeck. Os intelectuais, nesse inovação. teóricos do marketing que acaba-
contexto, foram levados a observar ram criando suas leis e verdades,
melhor a atividade dos empresários Contudo, notava-se no discurso de compondo uma verdadeira bíblia de
e a estudar e explicar o sucesso da muitos daqueles teóricos um condi- boa administração com o objetivo
sociedade de consumo. Tornaram- mento de guerra-é-guerra, que, na- de otimizar produção e vendas, e
que mais recentemente descobriram rente de psicólogos, autores de li- reagir ao novo? Aquela nossa ten-
a atual força da inovação. Consti- vros de auto-ajuda, desde os con- dência de valorizar a rotina passou
tuíram-se em verdadeiros profetas, sagradamente úteis como o “Auto- a ser vista como suspeita.
mas alguns, diferentemente de ou- estima” de Nathaniel Branden, até
tros, como Peter Drucker, pregavam os mais banais e inúteis, como exis- Revendo um texto que eu mesmo
um culto exagerado do consumo. tem às dezenas, todos pregavam a redigi e passei para meus alunos da
aceitação da mudança. disciplina de Inovação e Criati-
INOVAÇÃO E MUDANÇA
GANHAM DEFENSORES vidade, (ver quadro 2) percebo co-
A mudança, de acordo com essa mo todos nós (“mea culpa”) ficamos
A par de seu papel no consumo, a sua defesa, era o movimento, a vi- enredados no ideário do “novo sem-
inovação também floresceu por sua da, e a “não mudança” seria a es- pre positivo”, e em maior ou menor
positiva carga de realização pela tagnação, que em última análise grau, acabamos defendendo de-
defesa da mudança. Uma larga cor- significa inanição, morte. Por que mais o culto da inovação. ¯
“Absurdo!” – Essa é a reação comum às no- tos contidos nessa dinâmica parecem obedecer cias, ao se confirmar, tornam-se padrões. Estes,
vidades que agridem o status quo. Ela explode a lógica das correntes, ou dos ventos. base dos paradigmas, têm sua função útil de
apesar de já existir no íntimo, até da pessoa nos fornecer trilhos facilitadores, que evitam
mais conservadora, a expectativa de que coisas Mas, de repente, surge aquilo que parece um ficarmos constantemente “reinventando a roda”.
novas sempre vão aparecer. Quase todo mundo absurdo incrível, e que vem como uma reviravolta
aprendeu a aceitar a mudança linear, aquela qua- total, pois não obedece à direção do vento nem Mas, aqui vem o X da questão, que justifica até
se previsível, pois é decorrente dos ganhos da a lógica alguma. Penso que esse tipo de este texto e o tempo investido de quem o lê –
ciência e tecnologia, e mais dia, menos dia, elas mudança, mais assustador e desconfortável do perdemos muito com a obediência cega aos
surgem em nosso con- que a média, é a mudança contra o vento, e padrões! Não podemos correr o risco de nos
texto. Diremos vemos defender aqui que faz bem à nossa saúde escravizarmos à lógica do desenvolvimento
que os fa- aceitá-la também, da mesma forma que acei- exclusivamente previsto e aceito. Isso nos
tamos as chamadas “novidades” da inovação amarraria, nos traria, no mínimo, atraso e perda
linear. Cabe primeiro perguntarmos por que sur- de competitividade.
ge essa inovação não linear, classificada como
“disruptiva” por Christensen em seu antológico Freqüentemente a inovação inesperada, no
livro The Innovators Dilemma. Ele não tenta campo empresarial, propicia ganhos enormes,
explicar, mas nos surge também a pergunta ainda que cobre o preço de riscos maiores de
– por que ela não segue a tendência do fracasso. Exatamente por isso vemos que as
desenvolvimento considerado até grandes organizações, impossibilitadas de
natural? Existirá algum fator que, assumir riscos devido ao seu tamanho, ultima-
desconhecido, provoque a reação mente, como confessou a Procter, dedicam-se
contrária? E, finalmente, esse a procurar e adquirir as inovações criadas pelos
nosso pé para trás tem algum pequenos, que normalmente assumem riscos.
sentido positivo?
Daí, uma lição para nosso âmbito pessoal: não
Para explorar essas nos faz bem recusar o novo, simplesmente
questões, e nos sentir- porque nos parece estranhamente diferente. Se
mos, talvez, mais à von- ele tocar simpaticamente nossa intuição, vale a
tade na análise desse tipo pena apostar. Só assim seremos os inovadores
de “inovação violenta”, que se beneficiam mais com a imprevisibilidade
vamos começar lem- do mundo. São os que não seguem apenas a
brando que as tendên- direção do vento mais forte”.
Quadro 2
M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 61
A idade da razão
OS GESTORES transformar o tempo ganho com a Vemos, assim, que a corrida da com-
REVÊEM A produtividade em um ócio compar- petitividade baseada no consumo e
INOVAÇÃO tilhado. Por essa teoria, ao reduzir na inovação começa a ser revista.
progressivamente a semana de Os movimentos de Responsabilidade
Penso estar dentro daquele processo trabalho, desapareceria o desemprego Social são exemplos disso. Ações
de mudança permanente do mun- e a humanidade seria feliz. Dee Hock globais para enfrentar o problema do
do, vendo o limiar de uma nova prega uma consciência de que não aquecimento da terra estão na ordem
etapa, em que a sociedade se vê podemos continuar atacando o meio do dia. O clima do planeta reage à
obrigada, por tudo o que a cerca, a ambiente e desprezando os problemas predação desenfreada, e não por
rever-se inteiramente. Desde o meio humanos atuais, para beneficiar o acaso o conceito de sustentabilidade
ambiente até o contrato social, tudo capital investidor. É uma lógica é cada vez mais discutido. Os diri-
parece nos encurralar, e obriga a irretorquível, que talvez esteja gentes de todo tipo de organização
procura de novas soluções, pois os começando a minar a mentalidade vêem-se hoje instados a seguir
problemas estão se tornando do “tudo por dinheiro”. Percebe-se isso princípios que Edgar Morin defendeu,
inadiáveis. “Sempre é possível pio- ao observar o que está se tornando o a pedido da Unesco, no seu em-
rar um pouco”, dizem os pessimistas discurso politicamente correto. blemático livro “Sete Saberes Ne-
contemporizadores, quando os
pessimistas contemporizadores,
quando os pessimistas catastróficos
afirmam que já chegamos ao fundo
do poço.
sempre teve um papel importante nas meio de ajustes ao interesse maior da realidade atual, já fartamente de-
conquistas da humanidade, passou a sociedade, é razão para um olhar nunciados. Não se vê mais sentido
apresentar um seu lado perigoso de se otimista no futuro. Três rápidos exemplos em transformar executivos em
pôr a serviço de um sistema imperfeito desses ajustes: as exigências das workaholics, como também não faz
demais. Surgem alertas, preconizando empresas para que seus fornecedores sentido aperfeiçoar a produção à custa
o uso da inovação para a solução de obedeçam a práticas sadias nas relações da eliminação do emprego de con-
problemas que o seu abuso criou. Sobre de trabalho; o valor maior que os tingentes que, a rigor, desempregados,
isso alegro-me por já ter dado, também veículos ganham ao aumentar seu ficam impossibilitados de consumir.
para meus alunos, um toque cons- percentual de partes recicláveis; a
cientizador, na forma de um texto (ver criação de fundos de investimento Tudo isso que o olhar otimista espera
quadro 3) em que defendo limites para voltados, especificamente, para empre- que aconteça será também produto da
a inovação. sas socialmente responsáveis. inovação, que, com sua ação depu-
rativa, irá redimir o seu uso exagerado.
A idade da razão no campo da inovação Vemos hoje assim que, em ritmo cres- Isso será produto do que pode ser
se caracteriza também pela nova cente, agora as atividades econômicas chamado de macro-mudança. Espe-
posição da mídia, com exemplos em passam a preocupar-se com a ramos poder vê-la em breve. ESPM
reportagens e artigos, trazendo novas sustentabilidade ambiental e com a
orientações, e que, invariavelmente, relação do homem com o seu trabalho. JOSÉ PREDEBON
Leciona Inovação e Criatividade na ESPM,
aparecem em todas as edições de revistas Esse parece ser o início de um tipo de
na Faculdade Trevisan, na Fundace USP
de gestão e de negócios, como a Harvard macromudança, tornando superados e
e no Instituto Mauá de Tecnologia.
Business Review e a Business Week, além até caricatos alguns aspectos ruins da
de outras.
I
novação não é um produto, não é nhecida por alguém. Portanto, a cria- motivam e impulsionam as suas bus-
um serviço em si mesmo. É, antes ção é um gesto com sentido e sig- cas e outras latentes e até desco-
de tudo, o resultado da capacidade nificado. E quem dá o significado nhecidas que nascem ao acaso.
de imaginação do ser humano. São é o ser humano.
as pessoas que criam e dão sig- O reconhecimento de uma inovação
nificado. Uma invenção, seja qual Por trás das inovações há quase sem- está sempre conectado às pessoas,
for, só se realiza quando for reco- pre necessidades, algumas que seus valores, expectativas e percep-
O DESAFIO DOS
MODELOS MENTAIS
Daí o perigo das ideologias de mas- O conteúdo de um currículo envia- Nesses casos pode acontecer que
sa, dos regimes repressivos e das do para a seleção de uma organi- a emoção solape a lógica, a per-
religiões dogmáticas que criam mo- zação pode passar por formas dis- cepção distorça o manifesto e as
delos mentais rígidos e restritos a crepantes de interpretação, apenas pessoas insistam em reagir da ma-
qualquer outra possibilidade. As se mudarmos alguns detalhes. Apesar neira padrão. O preconceito pode
organizações não estão livres deste do raciocínio lógico e do discurso ser então uma barreira intranspo-
aprisionamento. Há culturas em- expresso dizer que a competência nível para pensar e agir.
presariais que não dão espaço para do candidato é o essencial, há ex-
pensar de forma divergente, que perimentos que comprovam o con-
não aceitam questionamentos e que trário. Aquilo que deveria ser tratado O PODER DA
se vestem de regras para quase tu- como secundário, não é. IMAGINAÇÃO
do. E, por ironia, muitas destas que-
rem ser inovadoras... O estigma e o preconceito sobrevi- A imaginação está na origem da
vem assim. O mesmo currículo po- inovação. Ela pode atuar de forma
de ganhar veredicto de aceito ou despretensiosa, capaz de olhar o
Basta conhecer a cultura de uma rejeitado bastando trocar o sexo, a mundo com uma perspectiva ori-
empresa para imaginarmos as nacionalidade, a cor ou a religião. ginal, talvez nunca antes pensada
facilidades ou dificuldades que
alguém teria para ser aceito num Trocar a foto muda a decisão. ou pelo menos conhecida.
processo de seleção e depois
permanecer por um bom tempo
nessa empresa.
Contudo, tais sensações só podem ter duto, passível de ser estudada com é percebido. Esta singular relação
vindo do próprio comprador, de suas indicadores precisos. Mas, esta in- pessoa-produto é psicológica e
referências pessoais e relacionais teração será sempre única, consi- social. Não sou só eu que percebo,
frente ao veículo. Provavelmente, as derando a individualidade do que mas também sou percebido.
impressões deixadas pelo seu velho é sentido, percebido e fantasiado
carro, duro, desbotado e barulhento por cada um.
contribuíram para o prazer e a rápida
Imagine você trocando de
carro novo, por um modelo
assimilação do novo. Um bem ganha vida na percepção que sempre sonhou e que pela
do seu usuário e pode facilmente primeira vez conseguiu tê-lo.
Aparentemente, há uma conexão ser integrado à sua auto-imagem, Você entra, sente aquele
objetiva e realista, comprador-pro- bem como à imagem com que ele cheirinho do novo, o silêncio
interno, a sensação de bem-
estar que lhe invade.
DEPARTAMENTALIZANDO
A INOVAÇÃO
Criar na empresa uma área espe-
cializada em inovação tem sido
uma forma de fomentá-la. Parte-se
da premissa de que definir um res-
ponsável e uma equipe é o melhor
meio para se conseguir um ob-
jetivo. Fica mais fácil atribuir prio-
ridades e metas, acompanhar e a-
valiar os resultados. Este modelo de
pensar é o mesmo que deu certo
para tantas outras funções como
processos, tecnologia da infor-
mação, produção e contabilidade.
E é natural que se aplique o mesmo
No mundo globalizado em reflexo para a inovação.
que vivemos, as empresas
competitivas vivem sob
pressão permanente para A questão fundamental é que a ino-
reforçar sua diferenciação vação depende essencialmente do
frente às demais, criando fator humano. Se de fato queremos
novos produtos e serviços, promover a inovação, vamos pre-
ampliando sua fatia de
mercado, aumentando cisar saber trabalhar com o poten-
suas receitas e reduzindo cial criativo das pessoas. E estas não
custos. se resumem à equipe da unidade
administrativa encarregada do
tema. Portanto, seria um desper-
dício enorme adotar o modelo
Aí entra a propaganda propondo vivem sob pressão permanente para clássico em que um departamento
atributos e sensações para os seus reforçar sua diferenciação frente às se apropria com certa exclu-
usuários. Ela tem um papel rele- demais, criando novos produtos e sividade da responsabilidade e dos
vante ao dar significado ao produto serviços, ampliando sua fatia de meios de lidar com a inovação.
ou serviço, definindo o seu valor mercado, aumentando suas receitas
para o cliente. Portanto, a propa- e reduzindo custos. O processo pelo Seria melhor olhar esta unidade não
ganda também tem o dom de criar, qual é possível promover todas es- como um território que tem a pro-
tornar tangível a inovação e de sas melhorias passa, necessaria- priedade, mas que tem a missão de
estabelecer novos padrões na per- mente, pela inovação. criar e desenvolver uma cultura vol-
cepção coletiva de seus clientes. tada à inovação. Este posiciona-
Se por um lado isto parece óbvio, mento abre as portas para influ-
menos evidente é a determinação enciar os valores organizacionais,
A REVOLUÇÃO observada de construir as condi- as políticas e práticas gerenciais
DA INOVAÇÃO ções para que a inovação se desen- para se criar um ambiente cada vez
volva. Muitas vezes, fica mais no mais estimulador às idéias e a sua
No mundo globalizado em que vi- discurso do que na ação, mais na prática. Um contexto que reforça
vemos, as empresas competitivas transação do que na estruturação. a iniciativa e a experimentação,
mas que consegue ser tolerante a modalidades, é o que poderia ser a contratação de perfis empre-
erros, quando estes emergiram de produzido se houvesse condições endedores;
tentativas de praticar a inovação. mais apropriadas que expandissem, o cultivo da diversidade, porque
plenamente, o potencial criativo. ela é uma fonte que enriquece o
PROMOVENDO A ambiente e estimula a criatividade;
CULTURA DE Nas empresas, verdadeiramente
programas educacionais que
INOVAÇÃO comprometidas com a inovação, fortaleçam o diálogo, a participa-
adota-se um posicionamento estra- ção e o trabalho em equipe;
Tornar uma empresa verdadei- tégico consistente que impregna
ramente comprometida com a ino- todo seu ambiente, seu plano de ne- a criação de processos e ferra-
mentas que permitam aos grupos
vação não é algo simples e fácil. gócios, modelo de gestão, políticas
de trabalho atuar com autonomia e
Não basta adotar programas de su- e processos, estimulando a inova- competência para:
gestões, em que seus funcionários ção nos seus relacionamentos com
sejam estimulados a dar idéias. Até seus públicos de interesse. levantar, analisar e testar
idéias;
empresas com culturas pouco par-
ticipativas, que restringem o diá- São aquelas, por exemplo, que che- realizar projetos
logo e são intolerantes às falhas, gam a definir metas de resultado para estruturados, com visão
podem oferecer tais programas. novos produtos e serviços, esta- empresarial.
belecendo um percentual, muitas
o espírito de equipe, entendendo
E estes podem ser bem avaliados, vezes crescente, de sua contribuição que o processo criativo não se
gerar resultados mensuráveis, dando na composição dos seus orçamentos. restringe a talentos privilegiados,
a falsa impressão de que a empresa Esta orientação leva a redirecionar mas prospera na dinâmica dos
está evoluindo. O que não se percebe, seus programas de recursos humanos, grupos de trabalho, envolvidos num
contexto de confiança e
porque não se experimentam outras de forma a valorizar: camaradagem;
a realização de Campanhas
Não basta adotar programas Motivacionais em que as pessoas
de sugestões, em que seus são estimuladas a participar,
funcionários sejam aprender e realizar;
estimulados a dar idéias.
as diversas formas de comu-
nicação interna que promovem o
espírito empreendedor e de equipe,
o compartilhamento das melhores
práticas e a melhoria de resultados;
o reconhecimento de equipes e
indivíduos, de preferência nesta
ordem, pelo mérito da sua
contribuição.
A FORÇA
DOS CLIENTES
Adicionalmente, os programas
de treinamentos tendem a
reforçar, sobretudo, o cumprimento
das rotinas, onde falta espaço
para inovar ou mesmo para reagir
diante de demandas não
previstas.
Um exemplo revolucionário na
área industrial é o novo modelo
de inovação da Procter &
Gamble, relatado na Harvard
Business Review, edição em
português, de março de 2006.
na prática, uma dupla inutilidade e um Simultaneamente, dois gerentes empresa que não reconheça a im-
desconforto para quem pergunta e para vão trabalhar em funções opera- portância da inovação. Ela é o tema
quem responde. Alguns diálogos são cionais, para observar “in loco” as da nossa era, do mundo competitivo,
verdadeiras conversas de surdos. Você reações dos clientes e dos colegas um imperativo dos clientes e dos
pergunta ou propõe o que quiser e o daquela área de trabalho e avaliar investidores. Estar aberto para
atendente sempre responde o que já as condições do atendimento. aprender é o primeiro passo. Depende
foi predefinido, independentemente da da cultura empresarial e do seu
relevância do tema exposto. No final da semana, o diretor da uni- direcionamento para inovar. Depende
dade reúne sua equipe gerencial para também de processos bem pensados
São modelos como este que carac- debater as propostas trazidas pelos dois que promovam e organizem o esforço
terizam o descaso pela inovação. colaboradores alocados na recepção coletivo para a inovação. Estes
e pelos dois gerentes que trabalharam processos precisam ser amigáveis,
na operação. Suas idéias são apre- simples e objetivos. Por exemplo,
EXEMPLOS sentadas em três blocos. O primeiro, quem der idéias e fizer propostas
INOVADORES para aquilo que pode ser feito de precisa receber resposta, se elas forem
imediato, seja uma melhoria ou uma aceitas ou não. Merece saber o
Acreditar que a inovação é o cami- inovação que crie uma nova forma de porquê e contar com mecanismos de
nho para a diferenciação compe- fazer e servir. O segundo, para aquilo valorização e reconhecimento, que
titiva da empresa implica uma fir- que poderá ser desenvolvido no futuro, até podem abrir ao autor a possibi-
me determinação na busca do desde que mais bem estudado. E, o lidade de participar do seu desen-
novo, em criar processos para ino- terceiro, para aquilo que, embora volvimento e dos resultados gerados.
var mais e melhor. pareça inviável, precisa ser analisado
e refletido pelo grupo, pois pode ser Quem souber aproveitar a força dos
Uma empresa de serviços, reco- motivo de aprendizado. talentos de todos os seus públicos
nhecida pela qualidade de seu aten- de interesse (stakeholders), criar re-
dimento e pela preferência de seus Um exemplo revolucionário na área des abertas para se conectar com
clientes, desenvolveu um método industrial é o novo modelo de ino- as mais diferentes fontes de ino-
muito criativo e eficaz de promover vação da Procter & Gamble, relatado vação, sem dúvida vai levar uma
a inovação. Em cada unidade opera- na Harvard Business Review, edição enorme vantagem competitiva.
cional, os seus colaboradores são em português, de março de 2006. A
estimulados a fazer o máximo pos- empresa desenvolveu uma estratégia A estratégia e a orquestração de
sível para melhor atender aos seus denominada Conectar e Desenvolver, todas essas ações passam, neces-
clientes, até mesmo quando suas baseada na gestão de redes globais, sariamente, pelas pessoas. Portanto,
solicitações se colocarem muito incluindo, por exemplo, empre- saber atrair, motivar, dialogar,
além do esperado. endedores tecnológicos, fornecedores aprender, comunicar e reconhecer
e empresas que fazem ponte com são questões essenciais que inovam
Além disso, numa demonstração universidades, laboratórios e centros e enriquecem as relações da em-
de compromisso e disciplina, de pesquisa, entre outras fontes. Elas presa com a sociedade. ESPM
semanalmente, dois colaboradores permitem expandir sua capacidade
são escolhidos para ficar na de inovar de maneira extraordinária.
recepção por onde passam os Inúmeras novas idéias e soluções
clientes, unicamente para per- podem ser consideradas, avaliadas e LUIZ EDMUNDO PRESTES ROSA
guntar-lhes como sentiram a expe- desenvolvidas, gerando hoje mais de Diretor Corporativo People da Accor na
riência que tiveram, que idéias 35% das inovações do grupo. América Latina; mestre em Psicologia Social
pela PUC-SP; especialização em
teriam para melhorar e como sua
Administração de Empresas pelo IMD, Suíça e
próxima visita poderia ser mais Concluindo, no mundo empresarial,
Insead, França.
agradável. é difícil imaginar a liderança de uma
IDÉIAS
INO VADORAS
DO JARDIM DE THOMAS EDISON AOS LAPTOPS:
O PENSAMENTO INVENTIVO SISTEMÁTICO™.
O renomado inventor Thomas A. Edison Poderia-se dizer que Edison estava )OEdison
renomado inventor Thomas A.
viveu numa casa que
viveu numa casa que possuía um explorando seus convidados para possuía um amplo jardim na
amplo jardim na frente com um portão bombear água para a sua banheira; frente com um portão de ferro.
Comenta-se que amigos que
de ferro. Comenta-se que amigos que porém, nós, da “SIT – Systematic In- vinham visitá-lo ficavam
vinham visitá-lo ficavam surpresos e ventive Thinking”, preferimos con- surpresos e aborrecidos ao
aborrecidos ao constatar que tinham siderar o portão de Edison como sendo constatar que tinham de empurrar
de empurrar o portão com força para uma invenção genial e um modelo o portão com força para abri-lo.
abri-lo. Não foram poucas as queixas do qual se pode tirar ensinamentos.
que fizeram a Edison, pedindo que con-
sertasse o velho portão; ele prometia A metodologia do Pensamento In- Edison sob este ângulo, classificamos
fazê-lo mas nunca cumpria. Foi só após ventivo Sistemático (Systematic a sua idéia como sendo uma Tarefa
seu falecimento, em idade avançada, Inventive Thinking), desenvolvida pela Unificadora (Task Unification). A
que veio ao conhecimento geral que empresa SIT Ltd., é um conjunto de Tarefa Unificadora é um dos cinco
o portão estava ligado a uma bomba e ferramentas cognitivas utilizado pelas padrões de raciocínio da SIT – o que
que cada vez que se abria, água estava empresas para gerar novas idéias de significa, em termos da SIT, dar uma
sendo bombeada para dentro da produtos, serviços e estratégias. nova tarefa adicional a um recurso pre-
banheira de Edison. Quando analisamos o exemplo de existente. Edison estava usando um ¯
Um outro produto menos conhe- Neste caso, o recurso ao qual foi dada
cido usa o conceito de Tarefa Uni- uma tarefa adicional foi, simples-
ficadora (Task Unification) para mente, o próprio painel: além de ser
solucionar um problema: telefones um meio de transmissão de men-
celulares, usados de modo a dei- sagem, serviu também como meio de
xar as mãos livres enquanto se solicitação de donativos aos sem-teto.
dirige, freqüentemente apresen- Mas a idéia publicitária é mais so-
tam um som de baixa qualidade. fisticada. O painel está recoberto de
Aplicando o conceito de Tarefa roupas e somente quando elas são
Unificadora, procuraríamos um re- removidas é que aparece a mensa-
curso já disponível no carro como gem (foto abaixo). Este painel se
)Arecurso.
dupla imagem utiliza outro tipo de
A ALMAP/BBDO, agência
paulistana, empregou o princípio de
Unificação de Tarefas ao atribuir uma
função suplementar às dobras de
páginas no meio das revistas, em
geral, para transmitir o recado de
maneira única.
refere, naturalmente, ao clima no Diet Pepsi. Esta é uma categoria es- através de outros computadores
Reino Unido, e seria ineficaz, por pecial de Unificação de Tarefas. A conectados à internet.
exemplo, no Brasil. Contrastando com Almap não somente usou os recursos
o exemplo exposto, vejamos a publi- disponíveis como extraiu vantagens Contrariamente ao caso dos visitantes
cidade que foi criada em São Paulo. de algo antes visto como inútil ou até enganados por Edison, o usuário do
mesmo prejudicial. laptop sabe que o computador está
A dupla imagem acima utiliza outro “roubando” a sua energia para
tipo de recurso. A ALMAP/BBDO, agên- Papéis duplos, como mostra este recarregar suas baterias. Mas fora isto,
cia paulistana, empregou o princípio de exemplo, são bastante comuns no o mesmo princípio está sendo
Unificação de Tarefas ao atribuir uma ramo da publicidade e, especial- aplicado em ambos os casos. Se seus
função suplementar às dobras de páginas mente, no lançamento de produtos. dedos estão transmitindo energia nas
no meio das revistas, em geral, para trans- Caracterizam o que se chama (ou teclas, por que não usar parte desta
mitir o recado de maneira única. costumava-se chamar) de “nova energia para recarregar as baterias?
economia”. Vejamos dois exemplos A mesma idéia fundamenta esta
A prega ou dobra à altura da costura em computação e em telecomunica- segunda inovação. Em vez de usar
da revista, que comumente é vista ções: primeiro o de um laptop cujas servidores ad hoc para armazenar
como um incômodo pelos diretores baterias são recarregadas na medida arquivos de downloads, a tecnologia
de arte e de publicidade em geral, em que o usuário digita, ou seja, P2P utiliza o espaço disponível em
ao invés de arruinar o visual do anún- aciona o teclado e, segundo, o Peer discos de outros computadores.
cio, permitiu servir-se do suposto “obs- to Peer (P2P), ou software que
táculo”, de modo a tirar vantagem e permite fazer downloads de vários Além de auxiliar no desenvolvimento
mostrar os resultados de quem toma tipos de dados (música, por exemplo), de produtos e como marketing de ¯
comunicação, o princípio de Unifi- fundo, que permitia ser preenchido de pre-concebidos da maneira de pen-
cação de Tarefas geralmente aplica- água ou terra quando colocada no local sar, substituindo-os por outra pers-
se a soluções criativas de problemas definitivo, providenciando, desta forma, pectiva, inovadora.
técnicos. Um bom exemplo é a jar- o peso necessário para sua estabilidade.
dineira fabricada pela Rubbermaid. O A Unificação de Tarefas constitui um
problema a solucionar consistia no Ao inovar algo, aplicações adicio- dos cinco principais métodos da SIT.
seguinte: como criar uma jardineira nais nem sempre são fáceis de se A próxima etapa deste método inclui
suficientemente leve que permitisse obter. Quanto de tempo não um conjunto de princípios que
ser transportada de um lugar ao outro perdemos procurando alhures o permite ao usuário utilizá-los para
e, ao mesmo tempo, que fosse está- que, muitas vezes, está na ponta novos fins. A SIT desenvolveu, tam-
vel o suficiente para resisitr a ventos do nariz? Essa é a essência do bém, novas técnicas de adaptação
violentos? A solução foi simples. Usan- princípio de Unificação de Tarefas. que visam fomentar a criatividade. Na
do os recursos preexistentes de que Não é preciso dar um passo além, última década, foram usadas em
dispunha, a Rubbermaid aplicou os sequer, para alcançar os nossos projetos inovadores em mais de 500
princípios desenvlovidos num work- propósitos. O que se tem é exa- empresas estabelecidas em 42 países,
shop da SIT. Projetaram a jardineira tamente o que se busca, contanto dentre elas a Bayer, Ford, Johnson&-
com um compartimento especial no que se consiga romper os padrões Johnson, Kodak, Nestlé, Philips e a
Rubbermaid. Estes projetos focalizam-
se no aperfeiçoamento da criati-
Amnon Levav
Diretor executivo SIT Ltd.
ORLY , SEGULL
Conselheiro e gerente de contas SIT Ltd.
ELESINOVAR AM
E CONTINUAM INOVANDO
U
ma das dificuldades de encontrar internet no
inovadores é que nem sempre primeiro site de (8) um prodígjúriio bradosileiro em internet,
s Cyber Lions em
estão em evidência – pois estão Brasil; que presidiu o
trabalha em S.
Cannes, no ano passado e
às voltas com coisas novas, às
vezes pouco conhecidas. Diante
(3) o diretor,acinoonBraalsil,codem um a orga-
o objetivo Francisco (EUA);
nização intern
da dificuldade de seleção, a dorismo em
de promover o empreende
Revista da ESPM recorreu a 30
países em desenvolvim
ento; (9) o diretor deenum a empresa espe-
tretenimento para
pessoas sábias, os membros da sua cializada em
Assembléia Geral de Associados e (4) o inventor de um
ral
sist
me
em
nte
a de
ba
a-
sea-
celular; e
perguntou: você conhece alguém quecimento solar lite
que esteja, no Brasil, neste do em material encontr
ado no lixo; (10) um professor especializad
ão.
o
em criatividade e inovaç
momento, inovando em algum
setor importante?
(5) o profission al de pla nej am ento que
o sistema de
implantou, na JWT Brasil,
Fotos: Arquivo
co-criatividade; da
Entre muitas indicações recebidas, ra as entrevistas, apren
eciais Confi
Claudia Penteado localizou e entre- (6) o diretor de projetos esp
ck – líder em intern et; e inspire-s
e com os case-histories.
vistou dez: da Agência Cli
irador, mas
desenvolver um brief insp
eiras idéias,
também estimular as prim
as, trazer a
trazer referências inusitad
a linguagem dos
realidade do cliente para
job mais
criativos, enfim, tornar o
O integrador
tranqüilo para ser realizado.
a estratégia
vai além. Ele garante que
iplinas. E
seja aplicada em várias disc
eita da por
que a estratégia seja resp
as
todas elas, que as disciplin
seja, MARCELO SANT´IAGO
“conversem” entre si. Ou ais da
ambiente Diretor de Projetos Especi do IAB –
idealmente, ele constrói um Agência Click e presidente
KEN FUJIOKA que era, reau – no
Diretor de planejamento de
da J. propício a transformar o Interactive Advertising Bu
Brasil, on de criação num
Walter Th om ps on antigamente, uma dupla Brasil.
br
im plantou o sistem a de co-
grande time de criação –
que pode reunir www.agencia click .com.
ia, internet, iabbrasil.org.b r
criatividade gente de propaganda, míd www.
www.jwt.com.br promoção, mas também
mú sica, design,
numa empresa, com seus gerentes e diretores da comunidade, que optaram por cursar o
buscando resultados. Formação de empre- ensino médio numa escola de vanguarda. Essa
endedores é coisa muito séria e procu- mistura de origens é interessante e, ao mesmo
rávamos fazer com que o nosso aluno fosse tempo, fundamental para o sucesso da escola
criativo, autônomo, audacioso, ousado e porque coloca na mesma sala o filho do dono,
inovador – qualidades que formam a base do trabalhando com o filho do operário da em-
espírito empreendedor. Buscamos apoio em presa, discutindo e procurando encontrar
entidades como o SEBRAE (Programa de soluções para problemas que afligem a todos
Talentos Empreendedores) e a Associação – porque somos todos cidadãos responsáveis
Junior Achievement (projetos de mini- pela melhoria de nosso país e de nosso
MARCIA RIGON empresa, economia pessoal e Mese). Essas mundo. O Colégio SESI – assim denominado
Professora – introdutora de parcerias foram importantes, porque – tem uma parceria com o SENAI, que qualifica
cursos de empreendedorismo no
despertavam também nos professores uma os alunos no ensino profissionalizante. Com
nível médio
www.sesipr.org.br/educacao/ postura empreendedora. Em 1996, criamos o sucesso das duas primeiras unidades –
colegiosesi as oficinas de aprendizagem – um novo olhar medido pela satisfação dos alunos, pelos
sobre a sala de aula – e patenteamos esta resultados apresentados e pelo desafio
nova abordagem (ou metodologia) junto ao permanente aos professores, ao lidar com
1. O que você está Ministério da Educação – na Biblioteca esta nova abordagem – surgiram mais seis
fazendo de inovador? Nacional, como direito de Propriedade unidades, e hoje são oito os Colégios SESI no
Intelectual. Paraná. Na próxima semana será implantada
Como professores, somos responsáveis por a nona unidade, em Guarapuava.
fazer os alunos descobrir o prazer de aprender 2. E aí?
e descobrir coisas, para que seu mundo se 3. E os resultados?
alargue. Sempre trabalhei em sala de aula No ano 2000, tivemos de fechar a escola –
visando ao sucesso dos meus alunos. Acho sonho dos alunos e professores – por ques- O sucesso desta inovação pode ser medido
que inovei em educação porque olho o meu tões financeiras. Mas, em 2004, fui convi- de muitas formas. A mais importante é em
aluno como alguém com muitos caminhos a dada pelo Dr. Rodrigo da Rocha Loures, relação aos alunos: onde quer que se
escolher. Em 1991, tive a oportunidade de criar presidente da Federação das Indústrias do apresentem, fazem diferença. Os alunos de
uma escola cujo foco de trabalho era o Estado do Paraná – que conhecia o nosso Montenegro, por exemplo, estão em vários
empreendedorismo. Falar em emprende- trabalho – a apresentar um projeto de escola lugares do mundo – tenho contato com muitos
dorismo, naquela época, em Montenegro – uma ao SESI Paraná. Ele foi recebido como uma deles – fazendo diferentes coisas que sempre
cidade do Rio Grande do Sul, com menos de 60 proposta inovadora e arrojada, que atendia foram iguais. Eles são os melhores em
mil habitantes – parecia complicado. As ao projeto de desenvolvimento previsto pela desenvolvimento de estratégias, são os
pessoas nem conheciam o termo – não estava diretoria da federação. Assim partimos para melhores em negociação, são ótimos na
na moda – achavam que emprendedorismo um novo projeto voltado para a formação de criação de empresas. Vários deles, hoje com
era a criação de empresas. Implantamos a jovens empreendedores no Paraná – jovens 25, 26 anos, têm seu próprio negócio ou
filosofia de “formar seres empreendedores, que que possam fazer a diferença nas relações ampliaram os negócios da família. Nas
possam implementar mudanças de sucesso”. de trabalho, que saibam ser parceiros antes universidades, conquistaram láureas e
Introduzimos disciplinas fundamentais para o de ser empregados, e que queiram ser menções em grau maior do que qualquer outra
desenvolvimento do ser integral, como filosofia, criadores, em vez de meros reprodutores das escola. Nas residências médicas, ocupam
sociologia e psicologia, em todas as séries de idéias alheias, gerando a nova mentalidade os primeiros lugares. Em multinacionais,
ensino médio. Os alunos trabalhavam em de um brasileiro mais cidadão e mais temos alunos com menos de 30 anos que já
equipes e as disciplinas eram vistas de forma participativo. Começamos o projeto em duas são gerentes de grandes projetos. Quanto
transdisciplinar. Todos estavam envolvidos com escolas-piloto: uma na Cidade Industrial de aos professores também houve diferenças:
uma questão, que devia ser resolvida durante Curitiba – e outra em São José dos Pinhais. eles posicionam-se como gerentes de
o bimestre; o foco era a busca de soluções Essas escolas recebem alunos de diversos resultados, mudando o enfoque da sala de
para um problema determinado. A sala era setores: indicados por empresas, filhos de aula e resgatando o próprio valor profissional.
organizada de forma que todos pudessem funcionários do Sistema FIEPr, alunos de E a comunidade e os pais agradecem:
desenvolver as suas habilidades: cada um programas sociais de empresas, alunos de resgatamos o prazer de aprender na escola e
exercia o seu papel na equipe, como se fosse projetos do SESI e do SENAI e demais alunos despertamos o empreender.
AS AVENTURAS E DESVENTURAS DE UM
PUBLICITÁRIO
BRASILEIRO O ANO DO GALO
NA ROMÊNIA
A PRIMEIRA CAMPANHA
CONTRA A EVASÃO
FISCAL DA ROMÊNIA
Tudo começou com um fax sobre a minha mesa – um convite para uma
concorrência. Depois de afinar o briefing com o atendimento, botei meu
time para correr e apresentar idéias.
AS VISITAS AO
PARLAMENTO
Voltando o foco ao majestoso prédio, estes MY WAY da área financeira comentaram po-
dados são para se ter uma idéia do sitivamente o comercial, os anúncios e
tamanho do Parlamento. A chegada até a Finalmente gravamos o material. Entre os internet banners. A coqueluche foi sem
sala do diretor estava mais para ganhar a concorrência e a rodagem dúvida o filme – como acontece na
peregrinação. Primeiro ligávamos de foram 6 meses. Metade de um ano maioria das vezes – que esteve no ar
uma linha interna da recepção para uma inteiro para a sua aprovação, discussão por três semanas de forma massiva.
de suas assistentes. Ela descia depois de e veiculação. Em condições normais
cerca de dez minutos. Depois da referida de temperatura e pressão este processo A audiência sacou o toque e espero
autorização, dela mesma, havia dois levaria um terço deste tempo. Culpa sinceramente que passem a sonegar
controles da polícia, com direito a cópia dos longos corredores. menos. Mas seria ingênuo acreditar que
de documentos, detector de metais e raio para acabar de vez com a sonegação
x de celulares, carteiras e afins. Re- A conexão foi feita entre Bucareste-Praga- só precisa fazer uma solitária campanha
cebíamos então um crachá e pas- MladaBolesav/Praga-Genova-Praga- publicitária. Este é um trabalho árduo,
sávamos por uma catraca. Após esta Bucareste. Por ar, terra e mar foram 3 dias consistente e repleto de percalços. Os
fase, chegávamos a um elevador que alucinados de gravação, além de mais duas resultados só poderão ser vistos através
demorava uma boa parcela do dia para semanas para retoques finais em Praga e de punição severa por parte do governo
chegar. Alcançando o terceiro andar, Bucareste. A aprovação correu até que ou com a chegada de um agente
tínhamos que andar, andar e andar por muito bem. O cliente gostou do material. externo como a Comunidade Européia
cerca de cinco minutos por um corredor A não ser pela música. Explico: o editor (a Romênia deve entrar em 2007 ou
(quase) infinito para finalmente tcheco acertou a mão quando escolheu 2008 para a União Européia) para pôr
chegarmos à sala de sua majestade. O ‘My Way’ com Frank Sinatra. Nada mais ordem na casa. Foto: Corbis/Stockphotos
tempo total da viagem estava entre 20 irônico que ele – que sempre andou com
ou 25 minutos. a gang mafiosa nos Estados Unidos – fosse Para terminar, felizmente não houve
a trilha sonora. (‘I did it myyyyyyyyy ameaças de morte, seqüestros, es-
Entre cafezinhos e boas doses de per- waaaaaaaaay...’ seria simplesmente pancamentos ou qualquer outra for-
suasão conseguimos todas as aprovações perfeito!). Além disto o comercial já sairia ma de violência dirigida àqueles
necessárias. Não sem antes, claro, mos- ganhando em termos de memorabilidade que criaram e produziram a cam-
trar cerca de 20 modelos femininos e 10 pois é uma canção muito conhecida. Os panha. Pelo menos até agora. ESPM
do nosso personagem principal. A prisão direitos autorais estavam sendo cotados
e o barco foram aceitos após algumas quando o cliente achou que esta escolha
discussões do tipo: mas este barco repre- não era correta porque valorizava os sone- DARLAN MORAES JUNIOR
Optou por fazer carreira em publicidade na Europa
senta a realidade dos sonegadores rome- gadores, colocando sobre eles uma aura
do Leste depois de trabalhar em São Paulo por
nos? Não, senhor cliente, mas é uma hi- de simpatia.
três anos. Começou em Bratislava, Eslováquia
pérbole sobre pessoas que enriqueceram como redator pela Grey, mudando-se poste-
ilicitamente. Será que estas meninas tão Respeitamos o ponto de vista e assim o riormente para Praga, República Tcheca como
jovens não vão reclamar por assédio comercial foi ao ar com gaivotas sol- redator senior para a Leo Burnett. Ainda em Praga
sexual? Senhor cliente, se elas têm mais tando gritinhos e o som do motor potente assumiu a Direção de Criação da J.Walter
de 18 anos, não há problema algum. As do iate em contato com o mar Thompson.Transferiu-se então para Bucareste,
roupas foram a parte mais fácil, já que Mediterrâneo. Sou mais Frank. Romênia onde liderou equipes criativas para a
as moças usavam apenas biquínis e nosso D’Arcy, Mercury e agora Tempo Publicidade. Há
modelão, já descrito acima como cerca de três anos começou a dirigir comerciais.
estava vestido. Jóias, no entanto, foi uma RECALL E Um deles foi prata no ano passado no festival
Epica Awards (www.epica-awards.com) com
beleza. Todas coreanas e chinesas em PONTO FINAL
dois filmes para o festival de curta metragens
um total de 16 reluzentes dólares. Mas
‘Where is the Love?’.
até que, na frente da câmera, ganhou A receptividade da campanha foi boa.
É formado pela PUC em Administração de Empresas
mais alguns significativos zeros (para a Tanto a mídia especializada na área de e Com. Social pela ESPM. (email@darlanmoraesjr.com).
direita) em valor. marketing e publicidade como jornais
A ÉTICA E O MARKETING DA
S
E R NÇ
PE A A
100 REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006
Hermano Roberto Thiry-Cherques
)Auma
esperança cristã é diferente: é
alienação do futuro aos desígnios
divinos. É escatológica (ta éskhata = as
terminações), é a fé na salvação, na
Parusía, na segunda vinda de Cristo,
no final dos tempos, quando Satanás
será, afinal, derrotado.
A
esperança, lembrou Voltaire, é o ranças, mesmo esperanças legíti- É preciso não confundir os dois con-
único privilégio negado a Deus. A mas, estamos fazendo o bem ou ceitos. Platão diz que a alma é for-
produção, oferta e consumo de es- estamos fazendo o mal. mada pela sensação, pela memória
peranças é algo que só diz respeito e pela esperança; o presente, o pas-
aos mortais. Compramos e vende- Seria fácil resolver esta questão re- sado e o futuro. A parte futura da
mos esperanças a todo momento correndo à filosofia clássica. Mas alma tem esse esperar – o que espe-
porque não somos oniscientes. Al- nem sempre é possível transpor para ramos que venha a ser – mas não
gumas vezes nos enganamos. Ou- a nossa época o pensamento dos tem a esperança. Porque a esperança
tras, nos deixamos enganar. A pro- antigos. A palavra grega elpís, que é sempre presente. Ela é o futuro de-
pagação da esperança, que sabemos se traduz como esperança, como o sejado. Quando agimos mal, vende-
falsa, é uma transgressão moral. spen do latim, significa, simultanea- mos o futuro improvável.
Sobre isto não há dúvida. A dificul- mente, previsão, conjectura e preo-
dade ética do marketing da espe- cupação. Para os gregos, viver signi- Os clássicos não nos ajudam a saber
rança é de outra ordem: reside em ficava agir, pensar e esperar. Mas se a esperança é boa ou ruim. Além
saber se quando vendemos espe- esperar é diferente de ter esperança. da confusão entre esperar e ter es- ¯
um sujeito intragável. Foi um solitá- parte é que dentro de nós existe algo
rio. Não tinha amigos e detestava a que conhecemos de fato: a nossa von-
própria mãe, uma bruaca a quem não tade, os nossos desejos, os nossos ape-
dirigia a palavra. Deixou uma obra tites, o nosso amor, o nosso ódio, as
magnífica chamada: “O Mundo nossas esperanças, enfim.
como Vontade e Representação”. Lá
está dito que a vida costuma ser uma Não há razão e depois desejo. O que
busca sem fim pela realização de es- há é desejo e a racionalização do
peranças. Para sustentar essa teoria, desejo, que chamamos razão. E a vi-
Schopenhauer tomou emprestada de da é uma vontade sem fim, porque a
Kant a idéia de que o mundo é uma razão, o intelecto, cansa, se exaure,
criação da nossa mente. Que as coi- mas a vontade nunca se cansa, nunca
sas-em-si mesmas não podem ser paramos de ter vontades, de ter es-
)speranza,
Dante colocou na porta do Inferno: Lasciate ogni
voi ch’entrate. Na tradução em português
da obra isso significa: “Àquele que por essa porta
entrar, deixe a esperança do lado de fora.”
THE BLESSED
DAMOZEL (TRECHO)
The blessed damozel lean'd out
From the gold bar of Heaven;
Her eyes were deeper than the depth
Of waters still'd at even;
She had three lilies in her hand,
And the stars in her hair were seven.
A ESPERANÇA
SALVADORA
) Osonagem
sebastianismo deriva de um per-
histórico e de uma lenda.
da Inquisição. A combinação de des-
graças do reino e de príncipe ima-
O personagem é Dom Sebastião, rei
de Portugal, neto e herdeiro de Dom culado fez surgir no populacho uma
João III, conquistador do Algarves. série de lendas. A figura de D. Se-
bastião contribuía para isso. Tinha
horror às mulheres, era ruivo, de olhos ¯
azuis, nervoso e fora de prumo; o seu que havia sido presenteada pelo Papa o dinheiro do tesouro, armou um
lado esquerdo era muito maior do que ao rei. A carolice dava a atmosfera exército de camponeses recrutados
o direito. Admirava tanto seu avô, do tempo, um tempo meio sem pé à força e foi-se à África para fazer a
que mandou que o retirassem do cai- nem cabeça e que ansiava por um guerra. No areal de Alcácer-quibir,
xão e prestou homenagens ao esque- pouco de razão. Cultivava-se a ilusão no ano de 1578, tomou uma tunda
leto, posto de pé com uma espada que o mundo voltasse a fazer sentido, memorável. Expirou no campo de
em punho. o que é a esperança política mais batalha com quase todo o exército.
destrambelhada que há. Depois dessa maluquice, o reino
O homem era doido varrido. Como ficou tão fraco que foi facilmente
muitos executivos contemporâneos, Este o personagem, esta a época. anexado ao império espanhol. Os
tinha a esperança da onipotência. Agora os acontecimentos e a lenda. anos de submissão que se segui-
Camões, seu contemporâneo, que via Numas das guerras travadas em Mar- ram e o fato de que nenhum dos
no rei a possibilidade de volta às gló- rocos, havia sido trazido como refém sobreviventes viu Dom Sebastião
rias passadas de Portugal, incitava-o a Lisboa o xerife Maula Ahmed bim morrer alimentaram as lendas em
com versos sobre a “seta veneranda”, Abdulah. Parece que ele convenceu torno do rei-fantasma, do “enco-
que supostamente era uma das fle- Dom Sebastião a uma conquista fácil berto”, que voltaria da batalha
chas que mataram São Sebastião e do Marrocos. O rei demente pegou para redimir Portugal.
Minha loucura,
outros que a tomem
Com o que nela ia,
Sem loucura que é o homem
Mais do que besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
dia seguinte ele será submetido ao até sucumbir, teria tempo de meditar
quemadero. O quemadero era uma sobre os seus pecados e preparar-se
espécie de assador, em que a pessoa para o encontro com o Espírito Santo.
ficava suspensa por correntes acima Os padres dão o beijo e o abraço que
das brasas até morrer. O Inquisidor selam a sentença e vão embora. Dei-
diz que ele deve se alegrar, porque xam o rabi na sua agonia. Ele fica
estará liberto da vida terrestre, e que tão desesperado que leva algum tem-
nas três ou quatro horas que arderia po para descobrir que a porta da cela ¯
A ESPERANÇA
INSENSATA
não estava corretamente fechada. A ESPERANÇA acontecer, não pelo que já nos acon-
Com cuidado infinito, empurra a por- HESITANTE teceu. É a esperança que cria o futuro.
ta e ela se abre. É já tarde da noite e
Abarbanel, silenciosamente, vai se Essa é uma história muito triste. Me- É verdade que a incerteza quanto ao
esgueirando pelos corredores. Com nos pela sorte do pobre rabi e mais futuro muitas vezes é objeto de ma-
tanto cuidado, tão lentamente, que porque se refere a um sentimento que nipulação. Penso que existe um para-
a fuga dentro da prisão dura horas. muitos de nós compartilhamos. Já nos lelo entre o médico e o gerente nessa
Várias vezes é tentado a voltar para frustramos tantas vezes que escon- manipulação da esperança. O médi-
sua cela. Tem medo de que, se for demos a esperança que temos. E as co deve ser um dispensador de espe-
pego, poderá ter uma morte ainda escondemos não só dos outros, mas ranças. A esperança derivada da fé,
pior. Na madrugada, dois domini- de nós mesmos: tememos o suplício mesmo que da fé na ciência, ajuda a
canos passam bem perto dele. Não da esperança não realizada.. É um curar, dizem que chega até mesmo a
o vêem... Decide seguir adiante. Vai fenômeno que associamos não ao curar. Já nas organizações o uso das
se arrastando até que consegue sair pessimismo, mas ao realismo, à obje- esperanças de conhecer o futuro e de
do convento que era a sua prisão. tividade. E é um equívoco, porque prolongar a vida me parece infame.
No alvorecer está em um horto de não ter esperanças no futuro com As técnicas de RH costumam pro-
laranjeiras e sente profundamente a base no que aconteceu no passado meter o que não podem cumprir; dar
vida, a esperança que é a vida re- nada tem de objetivo. Acho que o esperanças cuja realização não é
novada. Sente, também, que, pelas filósofo Karl Popper tem toda a razão garantida, porque as organizações são
costas, alguém o abraça. Volta-se e quando diz que não é possível prever caudatárias de processos econômicos,
dá com o Grande Inquisidor cercado o que irá acontecer. E não é possível sociais, políticos e tecnológicos que
pelos familiares da Inquisição. Quase porque vivemos aspirados pelo fu- não controlam. Trata-se, o mais das
enlouquecido, o rabi compreende turo, não empurrados pelo passado. vezes, de um processo alienante. Da
que havia sido submetido ao último A nossa conduta de hoje é ditada alienação tomada no sentido de des-
suplício, o suplício da esperança. pela idéia que temos do que vai vio da vida pessoal em benefício da
produtividade no trabalho.
tem, são cada vez em maior número. demais. Os males tinham se espalha- é claro, não nos impede de ter espe-
do pelo mundo. Só a esperança tinha ranças de todo tipo, inclusive de ter
Vimos que a esperança pode ser ou ficado presa no fundo. esperanças de um dia chegarmos a se
não ser um privilégio; pode ser heré- a esperança é boa ou ruim. ESPM
tica ou pia, louca ou sã, viciosa ou Não tenho certeza se esta história legi-
virtuosa, bendita ou maldita. Come- tima ou não o marketing da esperança.
çamos nos perguntando se a esperan-
ça é boa ou ruim. Demos voltas. Não
Talvez tenha sido a forma que os gregos
encontraram para dizer que não sabiam
HERMANO ROBERTO THIRY-CHERQUES
Professor Titular da EBAPE – Fundação
chegamos a determinar se o marketing o sentido da esperança. E se eles, que Getulio Vargas, onde coordena o Núcleo de Ética.
da esperança é ou não legítimo. Em sabiam tudo, não sabiam isto, acho que É autor do livro “Sobreviver ao Trabalho”.
uma última tentativa de responder a talvez nunca venhamos a saber. O que,
nossa questão, sugiro voltar ao nas-
cimento mesmo da esperança.
MESA-REDONDA SOBRE
AVELAR VASCONCELOS
Ex-diretor de comunicação
e marketing Nestlé
CEZAR TAURION
Gerente de Novas
Tecnologias Aplicadas IBM
FRANCISCO GRACIOSO
Presidente ESPM
MARCELLO MARCONDES
Gerente de Marketing Skol
AVELAR VASCONCELOS
112 FRANCISCO GRACIOSO CEZAR TAURION
REVISTA DA ESPM– M A I O / J U N H O D E 2006
Sobre criatividade, inovação e mudança
egundo pesquisa recente de The Economist – grande
S
número de empresas opera, hoje, com a mesma estrutura
J. ROBERTO
WHITAKER PENTEADO de 50 anos atrás. O que distingue uma empresa voltada
para a inovação e as mudanças? Será possível estimular
o pensamento criativo (como provocador da inovação)
em empresas tradicionalmente fechadas às mudanças.
Para discutir esses e outros aspectos da mudança e da
inovação – e os seus papéis em relação às empresas
contemporâneas e aos profissionais que nelas (ou para
elas) trabalham, a Revista da ESPM reuniu 4
especialistas, que contribuíram com idéias importantes
e originais sobre o tema proposto.
ANDRE EPPINGHAUS
MARCELLO MARCONDES
M A I O / J U N H O D E 2006 – REVISTA DA ESPM 113
Mesa-Redonda
JR – Gracioso, peço-lhe que dê iní- mente na América Latina e Europa todos os objetos. Então, inovação não
cio ao debate. – e ficou claro que fazer mudanças significa apenas inventar; mas é uma
significativas, inovar as organiza- interseção entre invenção e insight.
GRACIOSO – Para nós, na ESPM, ções faz parte de suas agendas. Mais O que posso fazer – eventualmente
inovação é como uma segunda de 2/3 disseram que vão estar usando uma tecnologia já existente –
natureza. Inovação é importante no inovando nos próximos dois ou três para mudar o modelo de negócio,
marketing e na comunicação, mas anos por várias razões: competitivi- transformar um processo operacional
é importante também na adminis- dade mais intensa; novos patamares ou a organização. Na IBM temos mu-
tração de modo geral. E, como a de custos; novos modelos de ne- dado ao longo dos anos procurando
revista Business Week sugere – em gócios; o avanço da tecnologia da estimular a inovação. Nossa pesquisa
edição especial –, é importante até informação – hoje se consegue mostrou que, entre as prioridades e
para a vida das nações. De fato, colocar inteligência em praticamente importâncias para os executivos em
há povos mais ou menos inovado-
res, como reflexo da cultura e das
circunstâncias. Nós, no Brasil –
com a herança portuguesa –, não “NÓS, BRASILEIROS, NÃO SOMOS UM POVO MUITO INOVADOR.”
somos um povo muito inovador, ape-
sar do que se diz da nossa criati-
vidade, do jeitinho – que deveria
ser uma forma de inovação. Mas,
no fundo, somos limitados como
criadores. Aceitamos as coisas
como são e não procuramos as solu-
ções novas, mais rendosas e efi-
cazes, que caracterizam a inova-
ção dos países modernos. Proponho
que tratemos da inovação na vida
das empresas: o que é uma empresa
inovadora, como se inicia e admi-
nistra o processo da inovação nas
empresas, como são levadas à práti-
ca e se transformam em mudanças
que provoquem os resultados espe-
rados no diagnóstico inicial.
os acionistas, e tudo o mais, só será ximos dois ou três anos, o número instituição e a capacidade de ino-
possível se a inovação for aberta, de remédios que perderão patentes vação não têm uma correlação?
através do processo de open equivale ao somatório do fatura-
innovation” – que, acredito, seja o mento das cinco principais indús- CEZAR – A IBM reuniu pensadores
que a IBM pratica. Nesse sentido, trias farmacêuticas do mundo. Elas do mundo inteiro para debater o
criamos a Prole, para atuar como estão sob pressão. No que se refere futuro das organizações. E levan-
agente externo de inovação para à biotecnologia, pequenos labo- tou-se esta questão: será que o futu-
grandes e médias empresas. ratórios – que talvez não cheguem ro é uma empresa, como a IBM,
a 3% do total dos investimentos com 350 mil pessoas, ou seriam 350
CEZAR – Para comprovar o que o em pesquisa – são responsáveis por mil empresas de uma pessoa?
André diz, a inovação vem, muitas 67% das drogas em testes. Na
vezes, quando se está em risco de indústria automobilística, as gran- GRACIOSO – Aproveitando a
sobrevivência. Diversos modelos des empresas tradicionais represen- presença do Marcello, gostaria de
tradicionais estão sendo questio- tavam 70% da produção, e as mencionar a Skol, que foi, na épo-
nados: transporte aéreo, por exem- japonesas e coreanas, 30%. Agora, ca, um lançamento extremamente
plo, está tendo prejuízos na casa o valor é inverso: as empresas inovador. O mercado era dominado
de bilhões de dólares – não só no coreanas e japonesas representam por marcas conservadoras, como
Brasil; mas no mundo inteiro. Na 70% da indústria automobilística. Brahma e Antarctica, e a Skol apa-
indústria farmacêutica, por exem- receu como a cerveja dos jovens e
plo, depois de um tempo, as paten- GRACIOSO – A partir daí, pode- foi a primeira a introduzir a latinha.
tes perdem a validade. Nos pró- ríamos dizer que o tamanho da A liderança da marca, hoje, foi o
resultado dessa inovação, que
começou há 15 anos?
hoje está ultrapassado. Orçamento JR – Até que ponto “more of the todas tiveram o mesmo destino.
de marketing baseado em taxa de same” não será a melhor estratégia, Será que tenho de me comparar
marketing é jogar dinheiro fora. para uma empresa? sempre com as outras, se todas
Um produto novo começa, por de- estão no “efeito manada”, indo
finição, com uma venda baixa. GRACIOSO – Há quatro variáveis para o mesmo buraco? A inovação
Uma taxa – por maior que seja – quando se trata de introduzir significa quebrar esses paradigmas.
sobre essa venda, não gerará di- inovações. Primeiro é a própria em- Não se deve comparar com “as
nheiro para lançar o produto. Então, presa, que pode ser aberta ou fecha- outras”.
é preciso acabar com a noção de da à inovação. A Nestlé – no tempo
lucros e perdas por produto. Não me a que o Avelar se refere – era uma MARCELLO – Acho que a grande
interessa; interessa-me o negócio da empresa fechada à inovação. E há resposta é a invenção e o insight
Chambourcy – são marcas. E foi duas naturezas na inovação em si: andando juntos. Antes de ir para a
quando descobri também que pro- a inovação radical e a circunstan- AmBev, trabalhei por quase 10 anos
duto não é objetivo; é meio. Isso cial. Se inovamos quando as coi- na Unilever e lá se falava muito
termina inovação. E assim todos os sas estão relativamente bem, ela de inovação. Ouvia: precisamos de
processos foram mexidos. A mesma pode ser circunstancial e, portanto, uma inovação por ano; precisamos
coisa foi feita quando peguei a li- mais fácil de introduzir, com maior de três inovações por ano. Mas você
nha Yopa. Inovação é um estado de chance de êxito. Se esperamos que precisa da invenção, porque o
espírito, é um líder que tem idéia as coisas fiquem realmente pretas, modelo de negócio depende disso.
inovadora, transmite e passa para aí tem de ser radical. O Zurita nos No mercado de cerveja não dá.
toda a equipe. É possível inovar em disse, na entrevista, que quando ele Não queremos inovar tanto assim,
grandes empresas. se dispôs a inovar – na Nestlé de 5 especialmente quando falamos de
anos atrás – viu-se obrigado a líquido – porque é o que temos de
introduzir mudanças radicais, que mais precioso. Se mudo o líquido,
“TIVERAM O INSIGHT DE só funcionaram porque ele subs- perco o consumidor. Vide casos
USAR O QUE O POVO tituiu 95% dos diretores e gerentes Coca-Cola, Pepsi. Houve outro
ESTAVA DIZENDO E DAR O de primeira linha. Foi uma carni- insight que foi o do gole robusto,
NOME DE LEITE MOÇA.” ficina, mas foi o custo que teve de para descer gostoso na garganta.
pagar por esperar demais. Então, fizemos uma lata com uma
abertura maior. Vamos entender as
CEZAR – O Avelar disse que foi pessoas, estudar seus hábitos.
contra os concorrentes. Acho esse Agora, em dezembro de 2005, lan-
ponto interessante, porque as em- çamos a lata com isolante térmico
presas fazem o benchmarking umas – a Skolgeladona –, que ficou no
com as outras, no mesmo setor. As mercado durante o verão e man-
empresas de determinados segmen- tinha a cerveja gelada pelo dobro
tos são muito parecidas. Quando se do tempo. Também inovamos em
muda alguma coisa – principal- gestão de marca – a estrutura da
mente o modelo de negócio –, isso Skol não é uma estrutura de mar-
gera uma dinâmica que obriga as keting tradicional, como existe em
outras a se repensarem. Falamos várias empresas. Tenho, por exem-
de companhias aéreas. Quando plo, um gerente de entretenimento,
surgiram modelos como a Ryan Air uma gerente de comunicação, um
– e, aqui no Brasil, a Gol, elas gerente de mercado. Quer dizer, a
mudaram o tipo de negócio. Isso própria estrutura funcional da mar-
abalou o modelo existente. Tanto ca trabalha de maneira diferente
nos Estados Unidos como na Europa para conseguir ter um braço ligado
no dia-a-dia das regionais de ven- mais diversos formatos, e aí torna- gerar oxigênio e capacidade para
das, para não perder essa conexão; se difícil conciliar as coisas. Por isso levar a empresa a uma gestão
um outro braço focado nas ações sempre há uma marca superior, que vencedora.
que podemos fazer – bellow the line domina as outras. Os produtos
– para mexer com a vida das pes- passam e a marca fica. Produto é GRACIOSO – A empresa pode
soas. Atuamos com uma marca acólito, é servo. O importante é a confiar a sua inovação a terceiros? ¯
jovem, parceira dos jovens. marca. Assim precisa haver uma
pessoa madura para dirigir a marca
AVELAR – Inovação é como bi- – e os produtos são meios.
cicleta – há que se pedalar cons-
tantemente, senão cai; ou como GRACIOSO – Como introduzir
“INSIGHT, INTUIÇÃO, INSPIRAÇÃO
uma planta, que tem de ser regada, inovações e obter resultados em
– DÊEM O NOME QUE QUISEREM
senão morre. O Marcello falou da empresas tradicionalmente fecha- – A ORIGEM É O MERCADO.”
inovação da sua gerência de mar- das às mudanças?
keting. Hoje, não teria, de maneira
nenhuma, as funções de gerente de ANDRÉ – Parece que todos con-
produto. Já foi uma função impor- cordam que inovação pode passar
tante, vital – mas está esgotada. Ne- por uma decisão unilateral de um
nhum gerente de produto consegue líder – alguém que está diante de
ter uma visão ampla do negócio. um desafio e precisa, de repente,
Então cuida de uma parte do pro- trocar todo o seu time. Ou então é
cesso; não do todo. O que eu faria algo que faz parte da cultura do
hoje seria ter um gerente ou diretor dia-a-dia do negócio – um com-
da marca, maduro, que vai dirigir posto que está no DNA da em-
a marca, e auxiliares que trabalha- presa, ou ainda, estruturas meno-
riam comigo por canais de vendas. res, onde, de alguma forma, se tem
Por exemplo, terei alguém que vai uma capacidade maior de gerar
olhar minha marca, meu produto conhecimento, empreendedo-
pelo canal do supermercado. Ago- rismo. Vou dar um exemplo prá-
ra, se tenho distribuidores pelo país, tico: estava em reunião com uma
que recebem valores grandes de pessoa cujo cartão de visita dizia:
produto e precisam repassar, aquele vice-presidente de marketing e
consumidor é outro, e o marketing inovação. Estávamos falando de
dele tem de ser diferente. Isso são um projeto que não fazia parte da
maneiras diferenciadas para gerar grande agenda daquela com-
mais negócio através da inovação. panhia, não fazia parte do dia-a-
dia. Era um processo inovador e ia
GRACIOSO – Na sua visão, qual gerar um resultado concreto para
a diferença entre gerente de produ- a organização. Mas aquela pessoa,
to e gerente de marca? que deveria ser o líder, tinha pouco
tempo a dedicar àquele assunto.
AVELAR – Tudo começou com os Vi que, antes de mais nada, teria
gerentes de produto. Mas, na rea- de convencer o meu interlocutor
lidade, o que há são marcas. O pro- de que aquilo era necessário. É im-
blema é que, nas grandes empresas, portante que as pessoas percebam
é difícil a gerência da marca, porque que somente uma cultura de
ela começa a se multiplicar, sob os inovação, dentro da empresa, pode
AVELAR – Ela pode confiar um vão aproveitar as oportunidades de inventaram o tubo de pasta de
pensamento mais livre, descompro- trazer um pouco de ar fresco para dentes que fica em pé. De cada três
missado. Acho que vamos ter uma esse mundo fechado, obtuso das idéias, produtos, processos, dentro
revolução no mundo das agências. idéias, para provocar a própria da Procter, um, pelo menos, é de-
Elas terão de reformular totalmente empresa que precisa ser provocada. senvolvido a partir de um agente
o seu modelo. Vejo duas crises: a externo. A IDEO é uma empresa
das agências e a do marketing, nas ANDRÉ – A IDEO talvez seja, ho- que trabalha com inovação, mas
empresas, que também não sabem je, um dos principais parceiros de tem foco específico em design e
o que querem. E há pessoas de fora inovação da Procter & Gamble. desenvolvimento de produto e criou
– como é o caso do André – que Entre outras coisas, foram eles que um negócio dentro do seu negócio,
que são os brainstorms. Ela come-
çou a ser chamada pelas empresas,
que diziam: “Gostamos da maneira
“CONTADOR, PILOTO DE AVIÃO NÃO PODEM SER CRIATIVOS.” como vocês pensam, do ponto de
vista de vocês, e do jeito como nos
fazem pensar. Não queremos que
vocês desenvolvam nada; mas sim
que venham até aqui para nos falar
um pouco sobre essa filosofia”.
Então, eles oferecem brainstorm
como seu principal produto. Volto
então ao meu ponto inicial: acho
importante que as empresas –
principalmente os seus líderes –
tenham a humildade de admitir que
os processos de inovação passam
por outras estruturas que não ne-
cessariamente estão dedicadas
àquele negócio.
em qualquer área, é fazer diferente, porque os problemas na nossa vida dando aulas filosóficas sobre a vida,
mudar por mudar. Acho que devemos nunca eram iguais, a rotina nunca a profissão que inspira os jovens e
manter esse espírito de mudança – esse é a mesma. No ambiente acadê- os fazem pensar. E temos os profes-
arrojo que o jovem tem – mas orientá- mico, ainda precisamos da prática, sores que misturam as duas coisas
los para resultados. Estava conversando porque é aí que se consegue trans- e, pouco a pouco, muitos deles aca-
com uma moça que estuda turismo, e formar inovação em resultado, é bam optando pela cátedra. Essa
ela tem idéias grandiosas de mudança, preciso estudar cases, aprender co- mistura é salutar.
como o hotel ideal. Eles foram fazer mo outras pessoas pensaram para
uma visita técnica em um hotel e acha- resolver os problemas e não, ne- AVELAR – Acho que é isso: sempre
ram que os apartamentos do fundo não cessariamente, como elas os resol- ter professores que vêm da prática com
eram legais porque eram escuros, o exe- veram. Acho que esta é a grande professores acadêmicos, e fazer uma
cutivo chega estressado, então todos contribuição de uma escola para promoção ativa dessa simbiose, que
os hotéis precisam ser de frente para o este tipo de área de atuação. será benéfica para os dois lados.
mar. O que falta ao jovem é a visão
do resultado, da aplicação prática. AVELAR – Gostei do verbo que o ANDRÉ – Essa visão do ensinar a
Mudar sim, mas para quê, por que e Gracioso utilizou. Ele tinha três ver- pensar deve ser difundida. É pos- ¯
com que resultado. bos: ensinar, estimular e gerenciar.
Ele driblou os três e falou incutir. É
CEZAR – Inovação é multidisci- essa a idéia: incute e dirige.
plinar. Um ponto interessante é que
existem algumas carreiras que JR – Essa Escola nasceu de um gru-
tendem a ser muito conservadoras po de profissionais, que não eram “O BRASIL É O PAÍS DA
– os próprios professores inibem. professores, e até criaram o famoso CARTEIRA ASSINADA: ISSO
Quando falamos de administração, slogan “Aprenda com quem faz” – ACABA INIBINDO.”
economia, engenharia, vemos que e isso foi a semente de uma revo-
muitos dos seus modelos e teorias lução no ensino brasileiro. Hoje,
são coisas que não fazem mais parte nos vemos diante de exigências do
do mundo globalizado. ensino formal – especialmente o
MEC – que exige dedicação exclu-
JR – Ninguém gosta muito de ter um siva de professores. Vejo uma con-
contador criativo... tradição nisso. Quer dizer, entre um
professor que vive a sua carreira to-
CEZAR – Contador, piloto de avião da entre as quatro paredes de uma
não podem ser criativos. escola e o início da nossa Escola
em que eram todos livres.
MARCELLO – Essa é a diferença
entre aprender métodos, teorias e GRACIOSO – De fato, temos três ti-
diagramas e aprender a pensar. O pos de professores: os do mercado,
que acho fascinante na minha pro- que trabalham em empresas. Temos
fissão; o que me fez escolher essa professores de tempo integral e são
área e discutíamos muito aqui na alguns daqueles que mais fazem os
ESPM – todo ano perguntávamos alunos pensarem. O professor de
uns aos outros o que tínhamos tempo integral, quando é bom, en-
aprendido naquele ano. E, com o sina os alunos a pensar. Temos vá-
tempo, na prática, percebemos que rios exemplos desse tipo. O Mário
a grande contribuição que tínhamos Chamie, por exemplo, ainda faz a
da ESPM era aprender a pensar, cabeça de muita gente aqui dentro,
sível imaginar que daqui a vinte CEZAR – Aproveitando o que foi dito eficácia. O Cezar pediu ênfase na
anos as pessoas que estarão sendo de empreender e inovar. Quando se inovação voltada para as funções
formadas debaixo de uma nova vai para áreas, como as que a IBM técnicas. Na minha opinião, no Brasil
visão, ou uma escola que se propõe reúne – engenharia, administração, pelo menos, há mais inovação na enge-
a ensinar a pensar, que esteja economia, ciência da computação nharia, logística, na parte técnica das
olhando para o mercado. Acho que –, há uma carência muito grande por empresas do que no marketing, que se
o grande papel da escola é levar ao empreendedores. Temos conversado encontra ainda bem atrasado.
mercado pessoas que – mais do que muito nos programas de apoio à
um cargo – estejam em busca de universidade e uma das principais JR – Isso poderia ser expandido para
um papel a desempenhar; que, mais carências nos currículos é exatamente o campo das ciências humanas. No
do que cumprir tarefas, estejam pensar, inovar, empreender. Estamos Brasil, há mais inovação na área
expressando seus talentos a serviço vendo que, eventualmente, no futuro, científica e técnica do que no pen-
de um pensamento inovador: pro- vão ser pequenas empresas, empre- samento humanístico.
duzir pessoas capazes de correr endedores, principalmente quando se
riscos. Não faz muito tempo eu fala do nosso caso que é ciência da GRACIOSO – A venda no Brasil é
estava na universidade. Desde o computação, tecnologia da infor- antiquada, a comunicação com o
primeiro dia em que tomei conhe- mação, em que o instrumento de mercado é atrasada. Nisso tudo
cimento do meu papel como in- trabalho é sua cabeça e um com- falta inovação.
divíduo até o momento da for- putador que se carrega no bolso. Não
matura, basicamente o que a univer- é necessária uma linha de produção. JR – Tivemos uma mesa rica, de idéias
sidade ensina é “você tem de ter inovadoras e de experiências pessoais
um emprego”. O Brasil é o país da GRACIOSO – O André – num dado estimulantes. Espero que o exercício
carteira assinada. Isso acaba inibindo momento – conceituou a inovação, a intelectual, que desenvolvemos aqui,
alguns conceitos importantes, como mudança como algo legítimo, quando sirva de estímulo a nossos leitores – e
a capacidade de pensar, empre- provoca resultados esperados, men- aos nossos professores e alunos – para
ender, inovar. suráveis de atitude, comportamento, continuar esse debate. ESPM
Pesquisa como
instrumento
de inovação
Case preparado pela professora Ione Almeida, ESPM–SP.
Redatora-assistente: Rosilene M. A. Marcelino
126
R e v i s t a d a ES P M –maio/junho de 2006
Fox
Em meados de 1957, produziu a da produção nacional e com isso Para manter essa posição de lide
Kombi – o primeiro carro brasileiro atingia 60,7% da frota de veículos rança, a empresa apostou na amplia
fabricado com mais de 50% de que circulavam pelo país. ção de seu portfólio ao longo dos
componentes nacionais. Em 1959, anos e lançou modelos como o Kar
lançou o Fusca, considerado uma O sucesso da empresa estava mann-Guia, a Variant, TL 4 portas, o
paixão nacional. em seu posicionamento claro Passat, a Brasília, além de diversas
perante os consumidores: carros variações do Fusca.
Os anos 60 foram de grande as com mecânica robusta, de fácil
censão econômica. Em 1962, o manutenção, grande economia Em 1970, a VW atingiu a marca de
Fusca tornou-se líder de mercado de combustível e com preços com 1 milhão de automóveis produzidos.
e, em 1965, a VW detinha 59% petitivos. Dez anos mais tarde, a empresa à
m a i o / j u n h o d e 2 0 0 6 – Revista da ESPM
127
Case-Study
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R e v i s t a d a ES P M –maio/junho de 2006
Fox
m a i o / j u n h o d e 2 0 0 6 – Revista da ESPM
129
Case-Study
A VW estava atenta para todos esses indí Paralelamente à reestruturação, a Este segmento está em queda e abre
cios. Observou suas forças e fraquezas, VW contratou a empresa Ipsos1 para espaço para dois outros grupos: o
analisou as oportunidades e as ame realizar um estudo de segmentação sensato e o guiado pela imagem.
aças da indústria automobilística. atitudinal. Essa ferramenta auxiliou
a empresa a conhecer o perfil do v Sensato: o consumidor procura
Ficaram evidentes dois pontos consumidor, bem como compreen um carro versátil, que o ajude nas
críticos: (a) agilidade na tomada e der as necessidades de cada perfil. A atividades do dia-a-dia (levar filhos
implementação de decisões para pesquisa revelou quatro segmentos à escola, ir ao supermercado) e ao
não perder mais participação de distintos de consumidor: mesmo tempo possa ser usado em
mercado, (b) conhecer em profun viagens nos finais de semana. Este
didade as necessidades, os desejos, v Entusiasta por status: este con grupo está crescendo e é tipicamente
as aspirações e o comportamento sumidor busca prestígio, quer ter feminino (70% são mulheres).
de compra do consumidor. uma Mercedes, um BMW. Este
segmento tem-se mantido está v Guiado pela imagem: trata-se de
A VW canalizou esforços para rever e sin vel ao longo dos anos, tanto em um grupo de pessoas com espírito
cronizar estratégias, estruturas, processos características do perfil, como em jovem, original e diferente. O con
e gestão de pessoas para garantir mais tamanho. sumidor desse segmento gosta de
velocidade às ações. Para a indústria au aventura e atividades radicais e seu
tomotiva em geral é muito difícil imprimir v Essencialista: é o consumidor carro precisa passar essa imagem,
um ritmo ágil; o lançamento de um carro, que compra um carro pensando em mesmo que ele não vivencie todas
por exemplo, leva no mínimo 3 anos. investimento, no valor de revenda. essas experiências.
130
R e v i s t a d a ES P M –maio/junho de 2006
Fox
Perfil do consumidor
FONTE: Volkswagen/base: Resarch Analysis
Emocional
tecnologia
prestígio/luxo
Entusisastas
por status 19%
Racional
baixo custo
vale o que custa
Fox: um carro
totalmente desen
volvido no Brasil
m a i o / j u n h o d e 2 0 0 6 – Revista da ESPM
131
Case-Study
Foram muitas reuniões para trans Depois da construção do design outros a linha de comunicação. Também
formar as informações apreendidas estudos foram desenvolvidos. Sete foi realizado um estudo para esco
em conhecimento e decodificá-las meses antes do lançamento do novo lha do nome do carro e chegou-se
em decisões de como deveria ser carro foi realizada uma ‘clínica de à marca Fox, um nome curto e fácil
este novo modelo. produto’. de ser pronunciado.
Concluíram que o carro precisava Essa nova bateria de pesquisas teve duas Apesar de todo empenho, o Fox che
ser desenvolvido com foco nos pas fases, uma quanti e outra quali, e a amostra gou ao mercado em 2003 na versão 2
sageiros (DAP – Designed Around foi composta por pessoas que tinham portas, mesmo com as pesquisas sina
Passangers), valorizando sobretudo a intenção de adquirir um veículo lizando a preferência do consumidor
o espaço interno. nos próximos meses do mesmo segmento pelo modelo de 4 portas (lançado em
(novo Fiesta, Corsa, Clio, Peugeot 206 e as abril de 2004). Essa foi uma decisão
A configuração da família brasileira versões não básicas do Pálio). estratégica para não atrasar o lança
pesou muito nesta decisão. As pes mento do novo produto.
quisas sinalizaram, por exemplo, A fase quantitativa avaliou, entre outros
que a altura dos jovens havia fatores, cada um dos veículos concor
aumentado, o que exigia um teto rentes do Fox, confrontando-os frente O lançamento
mais alto; famílias com crianças ao novo produto. Na segunda fase, do Fox
pediam um porta-malas com mais a qualitativa, testou-se o conceito do
espaço; mulheres apreciam porta- produto através de grupos de discus No período de introdução do novo
objetos. são. E esse conceito direcionou toda produto, além da natural atenção
132
R e v i s t a d a ES P M –maio/junho de 2006
Fox
dispensada aos concorrentes (Peu O Fox chegou ao mercado como namento do produto ao público-
geot 206, novo Fiesta, Corsa, Clio pioneiro no conceito DAP (Designed alvo. E a comunicação trabalhou o
e versões não básicas do Palio), Around Passangers) e com a propos principal atributo do carro – o con
a VW também se movimentou ta de atender a um público de carro forto interno – e utilizou o slogan
internamente para evitar uma cani pequeno, mas que exige certa sofis “Compacto para quem vê. Gigante
balização. ticação. Foi direcionado ao público para quem anda”.
jovem, que alterna o uso urbano
Assim, ao introduzir o novo produto, com o lazer fora da cidade. A campanha de lançamento foi
a VW estrategicamente diminuiu fundamental na introdução do novo
a produção do Gol para facilitar a A campanha de lançamento apre carro. Na época, o mercado de 2
entrada do Fox. sentou o conceito e o posicio portas era de 2.000 carros/mês e es à
Conceito:
F Utilitário esportivo compacto, que transporta confortavelmente cinco passageiros,
uma vez que possibilita a mudança na posição do assento do motorista trazendo con-
forto ao passageiro do banco de trás. Possui
a posição elevada do banco do motorista, ampliando a visibilidade e a sensação de
segurança de quem dirige. Além de apresentar a possibilidade de ampliação do porta-
A campanha de lançamento abrangeu TV, rádio, outdoor, revista, jornal, PDV, cinema.
m a i o / j u n h o d e 2 0 0 6 – Revista da ESPM
133
Case-Study
exclusivos/
Sedan de luxo Esportivo popular sedan compacto Off road Pick Up
minivans
subgrupos
Fonte: Volkswagen
134
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Fox
Esse acompanhamento demonstra a anos e que vem se mantendo líder os segmentos em crescimento, o
preocupação da empresa em corrigir no mercado, é um fato que não se sensato e o guiado pela imagem.
elementos do marketing mix. observa mais no setor”.2 Esse direcionamento, aliado ao re
sultado do estudo de percepção do
A extensão de linha do Fox foi a consumidor, fundamentou a decisão
Inovação alternativa escolhida pela empresa da companhia em estender a linha
através da para imprimir um ritmo de inova do Fox para off road e exclusivo/
extensão de ção. E, antes de partir para desdo minivans.
linha bramentos do Fox, a VW procurou
mais uma vez saber e compreender Assim, em abril de 2005, foi lançado
A Volkswagen até aqui usou, estra a percepção do consumidor. o CrossFox. Um carro de espírito off
tegicamente, o ferramental de pes road, desenvolvido para atender o
quisa de marketing no desenvol Novas pesquisas identificaram a ma segmento dos guiados pela imagem
vimento, no lançamento e no moni neira como o consumidor segmentava e para concorrer com EcoSport
toramento de seu novo produto. o mercado de carros (sedan de luxo, (Ford), Doblô e Palio Adventure
esportivo, popular, sedan, compacto, (Fiat).
Mas a inovação é palavra de ordem exclusivos/minivans, off road, pick-
ditada pelo mercado e pelo con up) e também alguns subgrupos Praticamente um ano depois, em
sumidor. E a pesquisa de marketing (vide quadro ao lado). maio de 2006, chegou ao mercado
passou também a dar apoio à VW na mais uma variação do Fox, o Spa
descoberta de novas oportunidades. Como mencionado anteriormente, ceFox. Esse carro uniu características
Afinal, “um evento Gol, ou seja, a Volkswagen pretendia desen de uma minivan (versatilidade e
um carro desenhado há mais de 20 volver um produto que atendesse espaço interno) e de uma station à
6,9
5,8 6,5
5,7
44
2,8 4,1
2,6
jan 04 abr 04 jul 04 out 04 jan 05 abr 05 jul 05 out 05 dez 05
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135
Case-Study
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Fox
3)
Conclusão Dentro do ciclo de vida de
engenharia local. 27 de abril de 2006.
produto, o Fox está na fase
de crescimento. Proponha Site: www.volkswagen.com.br. Acessado em
Este caso ilustra o uso estratégico do um arranjo do marketing mix para maio/2006.
ferramental de pesquisa de marketing esta etapa do produto e justifique. Site: http://www.autoinforme.com.br/. Acessado
no desenvolvimento e no lançamento em abril/2006.
de um novo produto, além de sua utili Site: http://www.ipsos.
zação no monitoramento do produto ao 2 Bibliografia com.br/default.asp?resolucao=800X600. Aces-
longo tempo e na descoberta de novas sado em maio/2006.
oportunidades. Aaker, David A. Kumar, V. Day, George S. Pesquisa
Site: http://www.vw.com.br/50anos/default.asp.
de marketing. Marcondes, Reynaldo Cavalheiro
Acessado em abril e maio/2006.
Demonstra também como a pes (Tradução). 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
1)
Observe a trajetória da Vol- mentação: opções estratégicas para o mercado 3
Cleide Silva e Paulo Beraldi. O Estado de S. Paulo
kswagen no Brasil e analise brasileiro. São Paulo: Nobel, 1991. (OESP). Caderno de Negócios. Página B-20. 04 de
o cenário atual. Levante maio de 2006.
as forças e fraquezas da empresa e as
oportunidades e as ameaças do setor. Fontes
4
SILVA, Cleide. O Estado de S. Paulo (OESP).
Caderno de Negócios. Página B-18. 27 de abril
Proponha uma estratégia e justifique. LEITE, Joel. Entrevista cedida em abril/2006.
de 2006.
OLIVAL, Marcelo. Entrevista cedida em
Ao olhar o macro e o micro abril/2006. 5
Presidente da ANFAVEA (Associação Nacional
2)
ambientes, qual posicio- dos Fabricantes de Veículos Automotores)
SILVA, Cleide Silva e BERALDI, Paulo. O Estado de
namento você recomenda
S. Paulo (OESP). Caderno de Negócios. Página
ria para a Volkswagen? Justifique B-20. Volks ameaça demitir 5,7 mil com plano de
6
SILVA, Cleide. O Estado de S. Paulo (OESP).
e esboce estudos/pesquisas que reestruturação. 04 de maio de 2006. Caderno de Negócios. Página B-18. 27 de abril
poderiam colaborar neste reposi de 2006.
SILVA, Cleide. O Estado de S. Paulo (OESP). Ca-
cionamento.
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137
Leit ura
RECOMENDADA
FRANCISCO GRANIZO
LÓPEZ/FÉLIX RUIZ ALONSO/PLÍNIO
DE LAURO CASTRUCCI
JOÃO VICENTE CEGATO BERTOMEU Curso de ética em administração
Editora Atlas
Criação na propaganda impressa São Paulo, 2006
Editora Thomson 248 p. – R$ 35,00
São Paulo, 2006
128 p. – R$ 46,93
A obra busca as raízes do tema na ética
Esse livro tem por objetivo apresentar clássica, mostrando uma linha de pensamento
elementos conceituais para alunos e que perdura há 2.500 anos – desde Sócrates –
pesquisadores da área, ao mesmo tempo que cultivada especialmente no Ocidente.
traz uma análise crítica dos diversos estudos
da prática da comunicação e documentação As duas primeiras partes do livro percorrem os
como estratégia, demonstrando como o estudo fundamentos éticos que são comuns a todos
da evolução de uma teoria e, de modo os povos e culturas, e desenvolve o estudo
especial, da teoria da administração, pode ser MARCO AURÉLIO CIDADE das conhecidas virtudes clássicas: prudência,
uma experiência fascinante. Redação publicitária – justiça, fortaleza e temperança – as chamadas
o que faltava dizer virtudes morais.
Editora Saraiva
Sumário: São Paulo, 2006
1. Breve histórico da atividade da propaganda; 128 p. – R$ 35,00 A parte III expõe recentes, mas consagrados
Propaganda. Conceitos e princípios da Ética Social: dignidade da pessoa,
definições; A propaganda criativa e algumas Com prefácio de Lula Vieira, o livro reúne dicas direito de propriedade, primazia do trabalho,
considerações profissionais. para escrever bons anúncios para TV, rádio, primazia do bem comum, dever de
2. As campanhas selecionadas; Os jornal, revista, outdoor, internet, mídia solidariedade e princípio da subsidiariedade.
documentos do processo de criação na alternativa etc. Os capítulos estão divididos em
propaganda impressa; Evidenciação e Agência de publicidade, Campanha publicitária, Nas últimas partes o texto contempla uma
identificação das etapas apresentadas Técnicas, Construção de textos, Criatividade visão crítica dos sistemas macroeconômicos
pelos documentos 3. Briefing de criação 4. editorial, Como criar textos publicitários, O das empresas, bem como as ferramentas
Diálogos internos da criação. texto para propaganda e Marketing político. formais de que dispõem as organizações para
5. Campanha Natura – roughs, layouts e aplicar, em seus ambientes, os princípios
finalização. A obra desenvolve temas como o éticos (os Códigos de Ética, as auditorias, a
6. Campanha ANER – roughs, layouts e Departamento de criação, Mercado, Público- norma S.A. 8000 e outras).
finalização. alvo, Tipos de campanha, Brainstorming, O
7. Campanha Home Theater Semp Toshiba – texto publicitário, O processo criativo e seu Feliz Ruiz Alonso é advogado empresarial e
Layouts, títulos, textos e finalização. desenvolvimento, Nomes e produtos, Meios doutor em direito pela Universidade de São
8. Campanhas Kibon e Audi – Layouts e eletrônicos e impressos, Marketing de Paulo.
finalização; Picolé Fruttare – Kibon; Automóvel serviços, Varejo, Atacado e internacional, e o Francisco Granizo López é licenciado em
Audi A6. Texto na propaganda política. Filosofia, pós-graduado em Orientação
Educacional e mestre em Administração de
João Vicente Cegato Bertomeu é graduado em Marco Aurélio Cidade é sócio-diretor da Trade Empresas.
Publicidade e Propaganda pela UMESP, Consultoria e Soluções em Marketing e Plínio de Lauro Castrucci é engenheiro, doutor
doutorando e mestre em Comunicação e produtor e apresentador do programa e livre-docente da Escola Politécnica da
Semiótica pela PUC-SP e professor da ESPM. Marketing e Negócios, na TV Oeste (MG). Universidade de São Paulo (USP). ESPM
REVISTA DA ESPM
RECEBE PRÊMIO
A
Revista da ESPM foi premiada com a
medalha de ouro como Mídia Seg-
mentada do Ano – uma das principais
categorias do Prêmio ANATEC de
Mídia Segmentada – em cerimônia ESPM
Inovação e dutos, serviços e estratégias. Esse ar- se utiliza da publicidade para abordar
tigo descreve uma dessas cinco fer- temas como a evasão fiscal.
fator humano ramentas, ou padrões – a Unifi-
Luiz Edmundo Prestes Rosa cação de Tarefas – e demonstra o O combate à corrupção está na lista
seu uso em diversas áreas. de top priorities do governo, já que
pág. 66 sem uma política de arrecadação
Além das ferramentas que cons- austera e um combate efetivo ao
No mundo globalizado, as empresas tituem a essência do método SIT, não-pagamento de impostos, as
precisam, decisivamente, da inova- existe uma dimensão adicional, que chances de adesão ao bloco
ção. Promover a inovação é traba- é o conjunto de princípios que per- europeu são mínimas.
lhar com o potencial criativo das mite aos usuários utilizar as ferra-
pessoas e construir as condições pa- mentas e, ao mesmo tempo, escapar Esse artigo aborda capítulos inusitados
ra que ela se desenvolva. É adotar da fixidez cognitiva. O SIT desen- que fazem parte da primeira campanha
uma firme determinação na busca volveu técnicas específicas de de evasão fiscal naquele país.
do novo que impregne todo seu facilitação para apurar a inovação.
ambiente de negócios, estimulando Todas elas já foram utilizadas em
a inovação nos relacionamentos Uma oportunidade única de saber
projetos inovadores em mais de 500
com seus públicos de interesse, por um pouco mais sobre Nicolai Ceau-
empresas em 42 países, nos últimos
meio de processos que organizem o cescu, quem combate evasão fiscal,
10 anos – entre elas Bayer, Ford, John-
esforço coletivo para a inovação. quem sonega e, até mesmo, quem
son&Johnson, Kodak, Nestlé, Philips
pode sofrer ameaças por isto…
e Rubbermaid. Esses projetos fo-
caram na melhoria da criatividade
Como usar os próprios organizacional, desenvolvendo
recursos para gerar novos produtos, resolvendo proble-
A ética e o marketing
idéias inovadoras mas de tecnologia e de estratégia e da esperança
definindo novas mensagens de
Amnon Levav/Orly Seagull Hermano Roberto Thiry-Cherques
marketing.
pág. 78 pág. 100
Quantas vezes você já não investiu As aventuras e A questão ética do marketing da
tempo e esforço buscando idéias, e as desventuras de um esperança reside em saber se quando
respostas estavam diante do seu nariz? publicitário brasileiro ajudamos a vender esperanças, mes-
na Romênia mo esperanças legítimas, estamos
Através do SIT – Pensamento In- fazendo o bem ou estamos fazendo o
ventivo Sistemático – diríamos que DARLAN MORAES JUNIOR mal. Os clássicos não nos ajudam. Têm
o que você precisa é exatamente o um conceito diferente do que venha a
que você já possui, desde que con- pág. 92 ser a esperança. As religiões são
siga sair fora dos seus padrões fixos confusas e ambíguas em geral, e ainda
e substitua-os por novas perspec- Como um país, em profundas mu- mais ao tratar do tema. Restam os poetas
tivas. Para isso, nós desenvolvemos danças, depois da queda do comu- e visionários, que nos falam dos efeitos
um conjunto de ferramentas cogni- nismo e com a necessidade veemente – positivos e negativos – da esperança,
tivas que são usadas em empresas de entrar, o mais rápido possível, para mas não da sua essência. Talvez porque
para gerar novas idéias para pro- a Comunidade Européia, a Romênia ela seja inalcançável. ESPM
Abstracts
potential of their own and their out the need for a revision of
And Schopenhauer teams’ potentials. Basic research innovation models in order to
was right.... from the 20th century, on the include the concept of
FRANCISCO GRACIOSO subject, is reviewed, and sustainable development.
definitions that are broadly-
page 16 accepted in academic circles are
presented. The stimulus to the Innovation reaches the
In this article, the author creative potential of emplyees as age of reason
emphasizes that the introduction a condition for enhancing the
of innovation is just the company’s capacity of JOSÉ PREDEBON
beginning of a process – which is innovation is offered as the main
only completed after the changes conclusion. page 54
stemming from it are well-
managed and produce results. This text focus innovation under
a historical point of view, and
Innovation, growth and
comments on its growing
The spark which initiates all is sustentability importance, and its role in the
the creative idea. But this idea,
to be legitimate, must be Sandro Marques/Marcelo Torres evolution of marketing and the
inspired by market realities and development of society. It
by the needs of customers. page 36 presents information about its
Therefore, processes of relations with change and with
innovation and change must be iPod is not only a commercial creativity, and the way by which
firmly based on well-defined success, but it is a success of concepts about innovation have
strategic objectives. innovation. A critical analysis of gained attention and influenced
the innovation patterns implied contemporary managerial
by the product shows that they practices.
are amply justified by the fact
A serious chat about that an innovative company After analysing the role of
creativity grows faster and is more specialists, the article goes on to
CONRADO SCHLOCHAUER profitable than its competition. suggest that the need/use of
Concepts of growth and innovation have been
page 26 profitability, however, have overvalued, with negative
changed during recent years, due consequences. Then, it is also
The objective of this article is to to the fact that suggested that a process of
provide a theoretical reference socioenvironmental conditions of revision of values and processes
for the study of creativity in the the planet and its population have has been initiated. To the author,
academic environment. It also significantly deteriorated. On the this process is now under full
proposes to make clear some basis of the analysis of course, and allows the
basic concepts which may help technological cycles of forecasting of a new stage,
managers in their search for innovation, typified by the recent which he calls the age of reason
better use of the creative success of iPod, the authors point of innovation.
this, we have developed a set of foremost is the need for a quick entry
Innovation and the into the European Community. In this
cognitive tools that are used by
human factor companies to generate new ideas context, the country uses advertising
LUIZ EDMUNDO PRESTES ROSA for products, services and techniques to help solve societal
strategies. This article describes one problems such as tax evasion.
page 66 of five thinking patterns or tools –
Task Unification, and demonstrates The fight agains corruption is also high
In the globalized world, its use in various fields. on the government’s list of priorities,
companies crave for innovation. since both problems are an obstacle
To promote innovation means to In addition to the thinking tools that for the acceptance of the country’s
work with people’s creative comprise the core of the SIT partnership by its European peers.
potential and build conditions for method, there is an additional layer The article touches on some unusual
its development. It means to adopt of the method which is a set of aspects pertaining to the first
steady determination in the search principles, that allow users to advertising campaign against tax-
for the new, which may employ the tools, while evasion in Romania, deals on Nicolai
impregnate the business overcoming their cognitive Ceaucescu, who is in favor of the
environment and stimulate fixedness. SIT has also developed movement, who is against it – and
innovation in the relationship with specific facilitation techniques to even the dangers related to the
stakeholders, through processes enhance innovation. All of these assuming of either position...
which organize the collective have been used in innovation
effort to reach this stage. projects at over 500 companies in
42 countries in the past ten years,
among them Bayer, Ford,
Ethics and the
How to use your Johnson&Johnson, Kodak, Nestlé, marketing of hope
available resources to Philips, and Rubbermaid. These
projects have been focused on HERMANO ROBERTO
generate ideas for THIRY-CHERQUES
enhancing organizational creativity,
innovations developing new products, solving page 100
Amnon Levav/Orly Seagull technological and strategic
problems and defining new The central ethical question of the
page 78 marketing messages. marketing of hope is to determine
whether we are doing well or
How often do we spend time badly in trying to sell it at all.
searching far and wide for ideas, Adventures and Classic thinkers are of little help,
when it turns out that the answer misadventures of a as they have rather different
was right under our nose?
Brazilian adman in concepts on the meaning of hope.
Romania Religions are quite confusing, and
In SIT – Systematic Inventive often ambiguous, specially on
Thinking, we would say that what DARLAN MORAES JUNIOR such themes. We are left with
you have is exactly what you poets and visionaries – who have
need, provided only that you page 92 spoken of the positive and
manage to overcome your fixed negative effects of hope – but not
patterns of thinking, and replace Romania is undergoing fast changes, of his essence. Maybe, because it
them with a new perspective. For after the fall of Communism, and is just out of human reach. ESPM