Você está na página 1de 9

18

BRIÓFITAS DA REGIÃO SUDESTE DO MUNICÍPIO DE

TERESINA, PIAUÍ, BRASIL

Eliete da Silva Brito (eliete_briofita@hotmail.com) 1


Gonçalo Mendes da Conceição (hyophila@yahoo.com.br) 1,2,3
Lays Marcella Vieira de Almondes (laysmarcella@hotmail.com) 3
Maria de Fátima Véras Araújo (maria-veras@ig.com.br) 3
Maira dos Santos Rodrigues (mairadsr@hotmail.com) 1
Núcleo de Pesquisa dos Cerrados Maranhenses (RBCEM/UEMA) 1
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia (UNESP/JABOTICABAL) 2
Universidade Estadual do Piauí (UESPI) 3

Resumo

O objetivo deste trabalho foi realizar o levantamento das espécies de Briófitas


ocorrentes na região sudeste do Município de Teresina, com a finalidade de se conhecer a
diversidade destes vegetais. Foram realizadas expedições bimestrais, no período de
dezembro de 2007 a agosto de 2008. Foram encontradas 12 espécies de briófitas
distribuídas em nove famílias e nove gêneros. A família de musgo com maior número de
espécies foi Fissidentaceae, quatro espécies. Dentre as hepáticas, Lejeuneaceae foi a única
família representada por Acrolejeunea torulosa. Foram encontrados quatro substratos sendo
colonizados pelas espécies, predominando corticícola seguido por rupícola. São fornecidos
dados sobre a distribuição geográfica das espécies para o Brasil, além das novas
ocorrências para o estado do Piauí.

Palavras-chave: briófitas; epixícola; fissidentaceae; musgos.

INTRODUÇÃO

Briófitas detêm o segundo maior grupo de plantas terrestres depois das angiospermas

(Buck e Goffinet, 2000), embora sejam relativamente pequenas e delicadas e habitem

preferencialmente ambientes úmidos e sombreados. Tipicamente são epífitas ou formam

pequenas touceiras ou camadas finas na superfície do solo e raramente atingem tamanhos

além de alguns centímetros (máximo 40 cm).

Revista Sinapse Ambiental – Dezembro de 2008


19

Possuem ciclo de vida com duas fases distintas, o gametófito e o esporófito, onde, ao

contrário das outras plantas o gametófito haplóide é dominante. Apresentam três divisões:

Anthocerotophyta (HÄSSEL e MENÉNDEZ 1988), Marchantiophyta (CrandALL-

STOTLER e STOTLER, 2000) e Bryophyta (BUCK e GOFFINET, 2000).

São de grande interesse ecológico, sendo valiosos indicadores ecológicos, muito

sensíveis a pequenas mudanças em condições ambientais e especialmente como indicadores

de poluição (SANTOS e LISBOA, 2003).

São conhecidas mundialmente cerca de 18.000 espécies, para o Brasil são citadas

3.125 distribuídas em 450 gêneros e 110 famílias (YANO, 1996). Para Shepherd (2003) o

número de Briólogos no Brasil, capazes de identificar Briófitas é extremamente limitado e

representa o maior impedimento ao amplo conhecimento da diversidade do grupo.

Aproximadamente 15 especialistas atualmente estudam o grupo no Brasil, onde somente

nove ou dez tem emprego em alguma instituição. Praticamente não há pesquisadores

estudando ecologia e biologia destes organismos, embora algumas estejam envolvidas com

levantamento florísticos e fitossociológicos (SHEPHERD, 2003).

Trabalhos sobre briófitas para o estado do Piauí são raros, havendo apenas citações de

espécies em trabalhos, tais como de Luetzelburg (1922/23), Vital (1980), Yano (1981,

1989, 1992), Egunyomi & Vital (1984), Frahm (1991) e Reese (1993). Nestes trabalhos

encontram-se registradas 14 espécies de musgos para o Piauí, sendo que estas espécies

estão depositadas em herbários nacionais e estrangeiros (VITAL 1983; EGUNYOMI &

VITAL 1984; FRAHM 1991; REESE 1993 e IRELAND & BUCK 1994). No entanto

Castro et al (2002) foi o primeiro a realizar coletas sistemáticas de briófitas para o Piauí.

Geograficamente o município de Teresina localiza-se a 05° 05’ 12” de latitude Sul e a

42°48’ 42” de longitude Oeste, em altitudes que variam de 55m a 92 metros (MELLO,

Revista Sinapse Ambiental – Dezembro de 2008


20

2004), apresentando extensas áreas de vegetação nativa, tais como cerrado, babaçuais, mata

de galeria, etc.

O objetivo precípuo deste trabalho foi realizar o levantamento das espécies de

Briófitas ocorrentes na região Sudeste do município de Teresina, com a finalidade de

contribuir para o conhecimento da diversidade destes vegetais para o Estado do Piauí.

METODOLOGIA

As coletas foram realizadas na Região Sudeste do município de Teresina (PI). A

metodologia de coleta, preservação e herborização foi baseada em Yano (1984). Para a

identificação do material utilizou-se os trabalhos de Buck (2000), Gradstein & Costa (2003),

Sharp et al. (1994), Schuster (1980) e Zander (1993). Foram realizadas expedições bimestrais,

(As excursões de coletas foram realizadas no período de dezembro de 2007 a agosto de 2008).

Quanto a colonização dos substratos pelas espécies encontradas, seguiu-se a metodologia de

classificação de substrato utilizada por Richards (1984) e Germano & Porto (1998). O sistema

de classificação adotado foi o proposto por Buck & Goffinet (2000) para Bryophyta e Crandall-

Stotler e Stotler (2000) para Marchantiophyta.

As amostras estão sendo incorporadas no Herbário Prof. Afrânio Fernandes, da

Universidade Estadual do Piauí (UESPI) com algumas duplicatas acervadas no Herbário Prof.

Aluizio Bittencourt (HERBIT), do Centro de Estudos Superiores de Caxias (CESC), da

Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para região Sudeste do município de Teresina foram coletadas e determinadas 12

espécies de Briófitas, distribuídas em nove famílias e nove gêneros (Tabela 1), onde 11

Revista Sinapse Ambiental – Dezembro de 2008


21

espécies são Bryophyta (musgos) e uma para Marchantiophyta (hepática). Do levantamento

realizado, sete famílias e oito gêneros pertencem a Bryophyta, sendo que a família com

maior número de espécies foi Fissidentaceae, com quatro espécies. As demais famílias

apresentaram apenas uma única espécie.

A família mais abundante em espécimes na área foi Pottiaceae (17), seguida por

Stereophyllaceae (16) e Leucobryaceae (nove) representadas pelas espécies Hyophila

involuta (Hook) Jaeg & Sauerb, Entodontopsis leucostega (Brid) Buck & Ireland, seguida

por Octoblepharum albidum Hedw.

Para Marchanthyophyta foi encontrada apenas uma espécie, uma família e um gênero

pertencente à família Lejeuneaceae, colonizando somente o substrato corticícola.

As Bryophytas colonizaram quatro tipos de substratos, tais como Corticícola,

Rupícola, Terrícola e Epixícola (Figura 1), tendo como predominantemente o corticícola

seguido por Rupícola.

A espécie Hyophila involuta (Hook.) A. Jaeger, foi a mais abundante neste estudo,

sendo a mesma bastante comum em florestas tropicais, especialmente em regiões costeiras

e em áreas urbanizadas (FLORSCHUTZ, 1964). Quanto às espécies de Lejeuneaceae, são

comumente citadas como corticícolas e de fato aqui também se apresentam como

corticícola.

Ao comparar o presente trabalho com Castro et al (2002) tem-se um número reduzido

de espécies, entretanto houve uma adição de sete espécies, sendo estas consideradas novas

ocorrências para o estado do Piauí.

Todas as espécies encontradas apresentam distribuição ampla no Brasil, ocorrendo

em pelos menos três estados brasileiros (Tabela 1).

Revista Sinapse Ambiental – Dezembro de 2008


22

25
20
N°de espécimes

15
10
5
0
ola

ola

a
a

col
col
cíc

píc

ixí
rrí
rti

Ru

Ep
Te
Co

Substratos colonizados

Figura 1 - Números de espécimes nos diferentes substratos amostrados


pelas Bryophytas do Piauí.

Tabela 1. Lista de Bryophytas e Marchantiophytas coletadas no município de Teresina –


PI. Famílias, Espécies. Substrato Corticícola (Co); Epixícola (Ex); Rupícola (Ru); Terrícola
(Te). *Nova ocorrência para o Piauí.

Família Espécie Substrato Distribuição geográfica


brasileira
Bartramiaceae *Philonotis elongata (Dism) Crum & Co AM e SP
Steere
Calymperaceae Calymperes palisotii Schwägr. Co AL, AM, AP, BA, CE,
ES, FN, GO, MT, PA,
PB, PE, PI, RJ, RN,
RO, RR, SE, SP e TO
Fabroniaceae *Fabronia ciliaris (Hook.) W.R. Co AL, AM, BA, CE, DF,
Buck ES, GO, MG, MS, MT,
PB, PE, PR, RJ, RS,
SC, SE e SP
Fissidentaceae *Fissidens angustifolius Sull. Co, Te, Ru AM, PA, RO e SP
*Fissidens flaccidus Mitt. Ru, Te AC, BA, MS, MG, PA,
MT, PN, PB, RS, PE,
RJ, RO, DF e SP
*Fissidens palmatus Hedw. Te AC, AM, MT, PE, RJ
e SP
Fissidens zollingeri Mont. Te, Ru AC, AM, AP, BA, CE,
ES, FN, GO, MA, MG,

Revista Sinapse Ambiental – Dezembro de 2008


23

MS, MT, PA, PB, PE,


PI, PR, RJ, RO, RR,
SC, SP e TO
Leucobryaceae Octoblepharum albidum Hedw. Co, Ex AC, AL, AM, AP, BA,
CE, DF, ES, FN, GO,
MA, MG, MS, MT, PA,
PB, PE, PI, PR, RJ, RN,
RO, RR, RS, SC, SE,
SP e TO
Pottiaceae Hyophila involuta (Hook.) A. Jaeger Ru, Te AM, BA, CE, DF, ES,
GO, MS, MT, PA, PB,
PE, PI, PR, RJ, RO, RS
e SP
Splachnobryaceae *Splachnobryum obtusum (Brid) C. Ex, Te AC, AM, PA, AL, FN,
Mull GO, MS, SP e RS
Stereophyllaceae Entodondopsis leucostega (Brid.) Co, Ex AC, AM, BA, CE, DF,
Buck & Ireland. GO, MA, MT, MS,
MG, PA, PB, PE, PI,
RJ, RO, RR, SP e
Arquipélago Fernando
de Noronha
Lejeuneaceae *Acrolejeunea torulosa (Lehm. & Co AC, AL, AM, BA, CE,
Lindenb.) Schiffn. ES, MT, MS, MA, MG,
PA, PR, RJ, RO, RR e
SP

CONCLUSÃO

O estudo contribuiu com sete novas ocorrências de espécies para o Estado do Piauí.

Registra-se aqui que o número de espécies podem ser considerado satisfatório, ao passo que

a pesquisa permitiu ampliar o número de novas ocorrências. Enfoca-se ainda a necessidade

de novas excursões no Estado em decorrência da carência de estudo deste grupo de

vegetais. Ressalta-se que as famílias, Bartramiaceae, Fissidentaceae e Pottiaceae estão

sendo referidas pela segunda vez para o Piauí. A realização desse estudo fornece subsídios

para estudos futuros de florística, taxonomia e ecologia.

Revista Sinapse Ambiental – Dezembro de 2008


24

AGRADECIMENTOS

Ao PIBIC/UESPI pela concessão da Bolsa de Iniciação Científica, á Universidade

Estadual do Piauí/UESPI e a Universidade Estadual do Maranhão, pelo espaço físico

concedido e formação acadêmica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUCK, W.R.; GOFFINET, B. Morphology and classification of mosses. In. SHAW, A.J.;
GOFFINET, B. (eds.). Bryophyte Biology. England: Cambrydge University Press, 2000.
p.71-123.

CAMARA, E.A.S.; VITAL, D.M. Briófitas do Município de Poconé, Pantanal de Mato Grosso,
MT, Brasil. Acta Botânica Brasilica, v.18, n.4, p.881 – 886, 2004.

CASTRO, N.M.C.F., PORTO, K.C., YANO, O. et al. Levantamento florístico de Bryopsida de


Cerrado e mata ripícola do Parque Nacional de Sete Cidades, Piauí, Brasil. Acta Botânica
Brasílica, v.16, n.1, p.61-76, 2002.

CRANDALL-STOTLER, B. & STOTLER, R. Morphology and classification of the


Marchantiophyta. In. SHAW, A.J.; GOFFINET, B. (eds.). Bryophyte Biology. England:
Cambrydge University Press, 2000. p.21-70.

EGUNYOMI, A.; VITAL, D.M. Comparative studies on the Bryofloras of the Nigerian
Savanna and the Brazilian CerradoI. Revista Brasileira Botânica, v.7, n.2, p. 129-136, 1984.

FLORSCHÜTZ, R.A. The mosses of Suriname. Leiden: Brill, 1964. 271p.

FRAHM, J.P. Dricranaceae: Campylopoioidae, Paraleucobryoidae. Flora Neotropica, 1991.


p.238. Monography, Botanical Garden. New York. 1991.

GERMANO, S.R.; PORTO, K.C. Adições a brioflora do estado de Pernambuco, Brasil.


Hoehnea. V.25, n.2, p.121-131, 1998.

GRADSTEIN, S.R.; COSTA, D.P. The Hepaticae and Anthocerotae of Brazil.:Memoirs of


The New York. Botanical Garden, New York 2003. p.318

HÄSSEL DE MENDÉNDEZ, G.G. A proposal for a new classification of the genera within the
Anthocerotophyta. The Journal of the Hattori Botanical Laboratory, Hattori. 1988. 71-86p.

Revista Sinapse Ambiental – Dezembro de 2008


25

IRELAND, R.R.; Buck, W.R. Stereophyllaceae. Flora Neotropica. 1994. 1-49p. Monograph,
Botanical Garden. New York 1994.

LUETZELBURG, P. Von. Estudo botânico do Nordeste. 2ª ed. Rio de Janeiro: 1922/23. 283p.

MELLO, M. do S. T.M. Educação Ambiental: A preservação do verde na zona urbana de


Teresina-PI. Dissertação de Pós-Graduação - Universidade Federal do Piauí, Teresina-PI, 2004.

REESE, W.D. Calymperaceae. Flora Neotropica. 1993, 1-102p. Monograph, Botanical


Garden. New York 1993.

RICHARDS, P. W.The Ecology of Tropical Florest Bryophytes. In. SCHUSTER, R.M. New
Manual of Bryology. Nichinan: The Hattori Botanical Laboratory, 1984. p.233-1269.

ROBBINS, R.G. Bryophyta Ecoloy of a dune are in New Zealand Vegetation. Acta
Geobotanica, v.4, p.1– 31, 1952.

SANTOS, R.C.; LISBOA, R.C.L.. Musgos (Bryophyta) do Nordeste Paraense, Brasil – 1. Zona
Bragantina, Microrregião do Salgado e Município de Vicseu. Acta Botânica, v.33, n.3, p.415 –
422, 2003.

SHARP, A.J.; CRUM, H.; ECKEL, P.M.. The moss flora of Mexico. Memoirs of The New
York Botanical Garden, New York, 1994. p.1-1113.

SHEPHERD, George J. Avaliação do Estado do Conhecimento da Diversidade Biológica do


Brasil: Plantas Terrestres. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2003. 60p.

SCHUSTER, R.M.. The Hepaticae and Anthocerotae of North America. Columbia: New
York, 1980. v. IV. 1331p.

VITAL, D.M.. Erpodiaceae (Musci) do Brasil. 135p Dissertação de Mestrado, Universidade


Estadual de Campinas, 1980.

VITAL, D.M.. Two new species of Jonesiobryum (Musci) from the Brazilian cerrado regionais.
Journal of Bryology. 1983. Caderno12, p.383-391.

YANO, O. A Checklist of Brazilian mosses. The Journal of the Hattori Botanical


Laboratory, 1981. 279-456p.

YANO, O. et al. Briófitas. In: FIDALGO, O.; BONONI, V.L.R. (Ed.). Técnica de Coleta,
Preservação e Herborização de Material Botânico. São Paulo: Instituto de Botânica, 1984.
p.27-30.

YANO, O. An additional checklist of Brazilian bryophytes. The Journal of the Hattori


Botanical Laboratory, 1989. 371-434p.

Revista Sinapse Ambiental – Dezembro de 2008


26

YANO, O. Leucobryaceae (Bryopsida) do Brasil. 1992b. 318 p. Tese de Doutorado, Instituto


de Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1992b.

YANO, O. A Checklist of Brazilian bryophytes. São Paulo: Boletim do Instituto de Botânica,


1996a. 47-232p.

ZANDER, R.H. Genera of the Pottiaceae: mosses of harsh environments. Bulletin of the
Buffalo Society of Natural Sciences, 1993.1-3p.

Revista Sinapse Ambiental – Dezembro de 2008

Você também pode gostar