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Lunetas

Não raro, vejo as pessoas perdidas no meio das especificações técnicas das miras
telescópicas, dispositivos ópticos, popularmente, chamados de lunetas. Esse artigo não
tem a intenção de aprofundar nesse universo, tampouco esgotar o assunto. E sim,
facilitar, ao leigo, a compreensão das características gerais desses equipamentos.

Tal compreensão pode ser útil, por exemplo, na definição das especificações necessárias
de acordo com a aplicação almejada, seja ela caça, esporte, lazer ou outro qualquer.
Portanto, o texto abordará, superficialmente, a composição das lunetas e a interação
entre suas partes. Tentando abranger os principais aspectos técnicos e conceitos ópticos.

Ao final da leitura, espero que todos adquiriram o mínimo de conhecimento necessário


para “decifrar” as aparentes complexas fichas técnicas desses instrumentos destinados a
ampliar alvos. Para ilustrar e balizar o roteiro dessa conversa, tomarei como referência
minha última aquisição de luneta, Vortex Crossfire II 2-7×32 BDC. Na imagem abaixo, ao
lado da foto, colacionei um resumo técnico da luneta, publicado pela fabricante em seu
próprio site. Aqueles que estão tendo dificuldades em entender o que o quadro diz, leiam
o restante do texto.

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A anatomia das lunetas

Antes de qualquer coisa, precisamos entender a estrutura básica desses equipamentos.


Para tanto, faremos um resumo da anatomia das lunetas.

Tubo: é o corpo da luneta. Os diâmetros mais comuns são: 1”, 30mm ou 34mm. O
diâmetro do tubo tem uma relação direta com a rigidez do mesmo. Em regra, quanto
maior, mais robusto. Tubos maiores costumam ter uma faixa maior de ajuste de elevação,
por um motivo óbvio, mais espaço para movimentação do mecanismo. Essa maior
amplitude pode ser interessante para os tiros de longa distância.
Lente ocular: é a lente mais próxima do seu olho. Serve para ampliar a imagem,
determinando assim o poder de ampliação. A pupila de saída é emitida a partir desta
lente.
Lente objetiva: é a lente frontal, normalmente com diâmetro medido em milímetros. O
tamanho da objetiva está diretamente relacionado com a quantidade de luz que permeia o
sistema óptico. Em regra, quanto maior, mais detalhes e clareza da imagem ampliada.
Torres: ficam no centro da luneta, são dispositivos de ajuste do sistema óptico em relação
ao vento e à elevação. É através das torres que se ajusta o zero. Cada clique representa
um incremento em MOA ou MRAD.
Anel de zoom: serve para alterar a magnificação das lunetas com zoom.

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Especificações básicas

Cientes das partes principais que compõem as lunetas, vamos, aos poucos,
compreendendo a interação entre elas. Duas informações essenciais: o tamanho da
objetiva e a magnificação do conjunto. Do grupo de lentes que compõem esses
equipamentos, a lente objetiva se destaca, pois, é responsável por fornecer luz para todo
o sistema óptico. Em regra, quanto maior a objetiva, mais clara e nítida será sua imagem.

A magnitude, magnificação ou ampliação representa o aumento da imagem


proporcionado pela luneta. Existem lunetas com magnificação fixa, outras com
magnificação variável. Essas últimas são chamas de lunetas com zoom.

As características explicadas até aqui compreendem informações imprescindíveis no


momento da escolha, elas compõem as especificações básicas de qualquer mira
telescópica. A convenção é simples, o “x” separa duas variáveis: à sua esquerda fica a
magnificação, à direita o tamanho da objetiva (em mm). Enquanto o sinal “-“ separa a
menor magnificação da maior (caso seja variável).

Voltemos à luneta que estamos utilizando como referência, sua especificação é a


seguinte: 2-7×32. Então, podemos concluir se tratar de uma luneta com zoom, tendo a
menor ampliação de 2 vezes, a maior de 7 vezes e uma objetiva de 32mm. Essa relação
entre a magnificação e o tamanho da objetiva é chamada de “exit pupil” e pode ser útil na
avaliação do equipamento em relação à sua aplicação. Trataremos desse conceito, com
mais detalhes, mais adiante.

Como já compreendemos suas designações quanto à magnitude e tamanho da objetiva,


podemos avançar um pouco mais. Existem muitas curiosidades ao redor desse fascinante
instrumento óptico. Detalhes técnicos permeiam esse universo, desde a escolha do
equipamento, passando pela sua instalação e regulagem, até sua aplicação final.

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Montagem

Por falar em instalação, a montagem de uma mira telescópica, em uma arma de fogo,
exige cuidados. O primeiro cuidado deve ser com os anéis de fixação, eles precisam ser
compatíveis com o diâmetro do tubo da luneta e com o trilho de fixação da arma. Além
disso, os anéis precisam posicionar a mira de forma que a objetiva não toque o cano,
tampouco que outra parte móvel da arma esbarre no conjunto óptico.

Para instalar a luneta da foto num rifle CBC 8117, optei por anéis da marca Vortex, para
tubos de 1”, perfil baixo, com encaixe para trilhos do tipo “picatinny” (MIL-STD-1913).

Hoje, grande parte das armas longas dispõem de trilhos “picatinny”, porém, ainda são
fabricados rifles com trilhos do tipo “dovetail”, com 11mm. Portanto, antes da compra dos
anéis, será conveniente saber sobre a arma que receberá o conjunto óptico. Em regra, os
trilhos não acompanham as lunetas. Tais anéis costumam ser oferecidos em 3 padrões de
altura (baixo, médio e alto), a escolha dependerá das características específicas do
conjunto arma-luneta.

Não economize nos anéis! Eles são tão importantes quanto a própria mira telescópica.
Anéis de baixa qualidade poderão trazer aborrecimentos, desde problemas na retenção,
afrouxando-se com as vibrações dos disparos, até causar dano estrutural à luneta, por
rebarbas ou assimetria.

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Uso do torquímetro

Selecionados os anéis, ainda existe um cuidado a ser tomado, dosar a força de aperto
dos parafusos. Exatamente isso! Os parafusos, tanto os utilizados na fixação da luneta
aos anéis, quanto os usados na fixação dos anéis à arma, devem ser apertados com a
força especificada pelo fabricante

Falta de torque pode comprometer a fixação do conjunto e excesso pode danificar a


estrutura interna da mira telescópica. Portanto, o torquímetro é uma ferramenta
imprescindível a essa tarefa.

Alívio ocular e campo de visão


A luneta que estamos utilizando como referência, traz, em suas especificações técnicas,
as seguintes informações: alívio ocular (“eye relief”) de 3,9” (aproximadamente 10cm) e
campo de visão (“field of view”) de 42 a 12,6 pés a 100 jardas. Essas informações são de
fácil compreensão e são úteis na escolha de um equipamento.

O alívio ocular é a distância da lente ocular de um sistema óptico a um ponto onde o olho
do operador pode ver o campo de visão completo. Já tínhamos falado sobre a lente
objetiva (localizada na frente da luneta) e agora tratamos da ocular, lente localiza na parte
traseira da mira telescópica.

O conhecimento dessa variável é importante na escolha do equipamento. Por exemplo:


rifles de alta energia costumam oferecer recuo considerável. Para que a ocular não atinja
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o rosto do operador, é importante utilizar luneta com “eye relief” longo o suficiente para
garantir uma distância de segurança, o que na prática significa algo em torno de 3 a 4
polegadas.

Mas essa faixa não atende a todas as necessidades. Existem armas cuja estrutura
posiciona a luneta mais à frente, seja em razão de uma coronha maior ou da própria
localização do trilho de fixação. Essas demandam lunetas com distância focal mais
generosa, sob pena de comprometer o conforto do atirador e, consequentemente, o
desempenho do conjunto.

Para exemplificar, cito as carabinas de ação por alavanca (“lever action”), popularmente
conhecidas no Brasil como “carabinas Puma” ou, para os mais antigos, “papo amarelo”.
Em regra, a estrutura dessas carabinas obriga a instalação da luneta mais distante do
atirador, o que torna as lunetas com maior distância focal (entre 4” e 6”) mais
convenientes.

Já o campo de visão é o tamanho da área que pode ser vista através do dispositivo
óptico. Está inversamente relacionado à magnificação, quanto maior a ampliação, menor
será o campo de visão.

Então, se a luneta em questão tem campo de visão de 42 a 12,6 pés a 100 jardas, isso
significa que, se estiver na ampliação mínima (2x), você terá a visão de 42 pés
(aproximadamente 13 metros) a 100 jardas (aproximadamente 92 metros). Se na
ampliação maior (7x), a visão será de 12,6 pés (aproximada 4 metros).

Por que essa informação é importante? Porque o campo de visão precisa se ajustar à
aplicação pretendida. Não adianta uma grande magnificação que restrinja seu campo de
visão, se a aplicação pretendida for mais dinâmica, como, por exemplo, quando o alvo
pode estar em movimento. Já para uma prova de tiro de precisão, o campo de visão
passa a ser secundário em comparação com a ampliação.

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Revestimento das lentes
No manual da luneta de referência consta, também, que a mesma possui as lentes
totalmente multi-revestidas (“fully multi-coated”) e, ainda, que a luneta é estanque e seu
interior é preenchido com nitrogênio. E para que serve tudo isso?

Vamos por partes. Já tratamos das principais lentes de uma luneta: a objetiva e a ocular.
Além do tamanho da objetiva, outros fatores influenciam na claridade e nitidez da
imagem, em razão de um vínculo direto com a quantidade de luz que permeia o sistema
óptico.

Dentre esses fatores, estão a qualidade do vidro e seus revestimentos. Sim, lentes são
revestidas. Mas para que servem esses revestimentos? A principal função dos
revestimentos é reduzir o brilho e a perda de luz em razão da reflexão. Os revestimentos
são potencialmente capazes de melhorar a transmissão de luz e permitir maior nitidez da
imagem, fidelidade das cores e melhor contraste.

Quanto ao revestimento, as lentes podem ser do tipo:

. “Coated”: um revestimento em uma das faces

. “Fully coated”: um revestimento em ambas faces

. “Multi coated”: mais de um revestimento em uma das faces

. “Fully multi coated”: mais de um revestimento em cada uma das faces da lente.
Teoricamente, é a solução mais eficaz, por oferecer a melhor transmissão de luz e as
imagens mais brilhantes

Por que digo teoricamente? Porque a eficácia dependerá da qualidade dos materiais. Na
prática, não raro, encontramos lentes “coated” melhores que algumas “fully multi coated”,
pois, o sucesso da receita depende, também, da qualidade de seus ingredientes.

 E por que preencher a mira telescópica com nitrogênio?


Apesar de estanque, uma luneta poderá embaçar em razão de mudanças bruscas de
temperatura. Isso em razão da umidade contida no ar, que fica sujeita à condensação.
Assim, se o ar for substituído por um gás isento de umidade, como o nitrogênio ou o
argônio, previne-se o embaçamento das lentes, independente do clima.

Transissão de luz
Vimos a importância do tamanho da objetiva, na relação desta com a magnificação e a
função dos revestimentos. Tudo isso porque quanto mais “clara” for a luneta, maior sua
eficácia.

Mas o que é uma luneta “clara”? Apesar do senso comum utilizar o termo captação de luz
quando o assunto é mira telescópica, essas não captam luz. Esses dispositivos ópticos
apenas transmitem a luz disponível no ambiente.

Por melhor que seja o conjunto óptico, sempre há alguma perda no caminho da luz.
Lunetas “claras” são aquelas que conservam a maior quantidade de luz no processo de
transmissão. Os métodos de aferição dessa perda são polêmicos e não há um padrão na
indústria do ramo.
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Já vimos que algumas características técnicas influenciam, diretamente, a passagem de
luz pelas lentes. Sabemos que quanto maior a ampliação, menor será a passagem de luz
e, também, que quanto maior a objetiva, maior será a passagem de luz. Agora vamos
aprofundar um pouco mais nesses conceitos.

Pupila de saída
Se dividirmos o tamanho da objetiva pela magnificação, teremos o diâmetro, em
milímetros, do feixe de luz que sai pela ocular. Essa medida é chamada, na literatura
estrangeira, de “exit pupil” (cuja tradução para o português é pupila de saída). Quanto
maior o diâmetro desse feixe, mais brilhante será a imagem.

Tomemos como referência, mais uma vez, a luneta Vortex Crossfire II 2-7×32. Se
estivermos operando com magnificação de 2 vezes, a pupila de saída será de 16mm, se
estivermos utilizando a ampliação máxima da luneta, o feixe passará a 4,57mm.
E o que dizem esses números?A resposta é interessante. Devemos comparar os
resultados da pupila de saída com a dilatação da pupila do olho humano. Num ambiente
de claridade normal, nossa pupila varia de 3mm a 5mm de diâmetro. Porém, em situações
de pouca luminosidade, pode atingir 8mm. Quanto mais próxima a pupila de saída estiver
da dilatação dos olhos, mais claras e nítidas serão as imagens.

Portanto, mais uma informação importante na adequação das características técnicas da


sua luneta à aplicação pretendida. A necessidade daquele que pretende caçar ao
entardecer pode ser bastante diferente daquele que pretende utilizar a luneta em
competições desportivas, em condições ideais de luminosidade.

É fácil visualizar o fenômeno “exit pupil”. Se tiver uma luneta com magnificação variável,
ajuste na menor ampliação e segure-a no comprimento dos seus braços. Olhe através da
ocular e observe o círculo claro que surge no interior no dispositivo. Na sequência, ajuste
para a maior ampliação e repita o procedimento. Perceberá que o círculo luminoso
diminuirá. Esse círculo luminoso é a própria pupila de saída.

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Retículo

Nas miras telescópicas os retículos são a referência para a visada. Os primeiros retículos,
do tipo “crosshair”, eram formados apenas por dois finos fios metálicos que se cruzavam,
perpendicularmente. O encontro dessas linhas, no centro do elemento óptico, representa
o ponto de impacto do projétil.

Mas os retículos evoluíram. Os arames deram lugar a sofisticadas gravações com


inúmeras aplicações. Hoje, existem diversos padrões de retículo, destinados às mais
variadas atividades, como a caça, o esporte ou uso militar. Arrisco dizer que os padrões
de retículo mais populares na atualidade são: o BDC, o Duplex e o Mildot.

Além de servir como mira, os retículos podem oferecer diversas funções acessórias,
dentre elas: estimar distância de objetos de tamanho sabido, projetar o tamanho de um
objeto à distância conhecida, compensar a queda do projétil, compensar deriva de projétil
causada pelos ventos.

A Vortex Crossfire II 2-7×32 tem retículo do tipo BDC. O que isso significa? BDC significa
“bullet drop compensator” (compensador de queda do projétil), os retículos dessa
categoria se destinam a auxiliar o atirador a compensar a queda do projétil.

Todos sabemos que os projéteis são puxados ao solo durante seu voo, em razão da força
da gravidade. Atualmente, todo fabricante de luneta apresenta, em seu portfólio, miras
telescópicas com esse tipo de retículo. São populares por conferirem agilidade na
adequação às distâncias distintas.

Quando zero minha luneta a uma distância X, em regra, o projétil, a partir dessa distância,
tende a cair em relação ao ponto de impacto sabido. Se meu alvo estiver após a distância
para a qual meu conjunto foi configurado, o ponto de impacto será abaixo do ponto de
visada, em razão da queda proporcionada pela gravidade.

O que fazer nesse caso? Simples, o retículo BDC tem gravações que te ajudam a
encontrar nova referência para visada, de forma a compensar a queda do projétil. Vamos
a um exemplo prático. Para tanto, observem a imagem abaixo: nela vemos uma tabela de
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utilização do retículo e, também, a representação gráfica do retículo “Dead-Hold”, marca
registrada do retículo BDC da empresa Vortex.

Imaginemos a seguinte situação hipotética. Minha luneta está instalada num rifle 22LR e
zerada a 50 jardas. Porém, meu alvo está a 90 jardas. E agora, o que eu faço? A primeira
coisa a fazer é consultar a tabela. Para 90 jardas a queda prevista será de 4”. Portanto, tal
compensação será concluída utilizando a segunda marcação abaixo do centro do retículo.
Simples assim!

Retículo x Plano Focal


Já que dominamos o conceito de retículo, falta-nos compreender sua relação com o plano
focal. No manual da Vortex Crossfire II 2-7×32, consta que a mesma tem seu retículo no
segundo plano focal. Sabemos que o retículo fornece a referência da visada, mas por que
importa saber em qual plano focal ele está localizado?

Vamos lá! Primeiro precisamos ter uma ideia de onde estão esses tais planos focais. A
grosso modo, podemos simplificar dizendo que o primeiro plano focal fica próximo da
objetiva, enquanto o segundo fica próximo da ocular.

Em se tratando de miras telescópicas com aumento variável, quando o retículo fica


próximo da objetiva, este aumenta junto com a magnificação. Ou seja, as linhas que
compõem o retículo crescem à medida que se amplia a imagem.

Isso permite que os retículos balísticos sejam usados em qualquer ampliação, porque os
incrementos da medição, MOA ou Mrad (subtensões), manterão a proporção e
continuarão precisos. Mas essa opção tem um inconveniente, em regra, os retículos
dessa categoria deixam a desejar em alguma faixa de ampliação.

Se é visível e nítido na menor ampliação, costuma ficar exageradamente grande na maior,


podendo cobrindo o alvo. Em regra, quando adequado na magnificação maior, fica pouco
visível quando na menor ampliação.

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Já nos projetos onde o retículo está no segundo plano focal, as linhas do retículo não
variam com a alteração da magnificação. Porém, as funções de estimar distâncias,
compensar quebra de projétil, dentre outras, só funcionam numa ampliação específica. A
utilização dos mesmos, noutras ampliações, carecerá de ajustes.

Paralaxe
De acordo com a Vortex, a luneta Crossfire II 2-7×32 tem paralaxe ajustado para 100
jardas. E o que isso significa? Primeiro precisamos compreender o fenômeno paralaxe.

Já conhecemos, ainda que superficialmente, a anatomia das miras telescópicas. A lente


objetiva é responsável por formar a imagem real no plano focal da luneta. Quando a
imagem se sobrepõe ao retículo, eles pertencem ao mesmo plano focal, são coplanares.

Quando esses elementos não se encontram no mesmo plano focal, passamos então a
estar suscetíveis a um fenômeno óptico conhecido como erro de paralaxe. Uma possível
distorção causada pela falta de alinhamento entre o retículo e a imagem.

Algumas lunetas têm o paralaxe definido de fábrica, para determinada distância. Como é
o caso da Vortex que citamos no início desse texto. Portanto, já podemos decifrar mais
um item de sua especificação técnica. Com o paralaxe ajustado para 100 jardas,
podemos concluir que o equipamento está livre de erro de paralaxe quando o alvo estiver
a 100 jardas.

Outras lunetas apresentam soluções para tornar coplanares retículo e imagem real,
evitando a incidência do erro de paralaxe. Esse ajuste pode ser feito através de uma
objetiva ajustável ou uma terceira torre dedicada a esse fim.

O quanto devo me preocupar com isso na escolha de uma luneta? A importância desse
quesito irá depender, basicamente, de dois fatores: a ampliação necessária e a aplicação
pretendida. Em regra, o erro de paralaxe é significativo em grandes magnificações, a
partir de 10x. A maioria das lunetas não possui ajuste de paralaxe, o motivo é o custo-
benefício. Para grande parte das utilizações o ajuste de paralaxe é um preciosismo
dispensável.

Na caça, por exemplo, possíveis dispersões em razão de um erro de paralaxe costumam


não comprometer o disparo. Pois, a área que contém os órgãos vitais (“kill zone”) costuma
ser generosa.

Para o uso recreativo (“plinking”), o erro de paralaxe, normalmente, também não é


perceptível. Pois, em regra, utiliza-se munição ordinária para esse fim, cujas próprias
imperfeições geram dispersões maiores que o próprio erro de paralaxe. Já para provas de
precisão, o ajuste de paralaxe pode se justificar.

MOA x MRAD
Existe muita confusão e desinformação ao redor dessas siglas, MOA (“Minute of Angle”) e
MRAD (Miliradianos). Ambas são apenas unidades de medida angulares, assim como
centímetros e polegadas são unidades de medida lineares. No universo das miras
telescópicas, unidades de medida angular são muito úteis, inclusive são necessárias para
o domínio das funcionalidades das lunetas.

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Vimos que lunetas têm torres de ajuste do sistema óptico, tanto quanto à lateralidade,
quanto à elevação. Ajusta-se girando a torre, o giro é segmentado através de cliques.

Valor do clique
O valor do clique é a quantidade de ajuste para um único movimento nas torres, pode ser
medido em MOA ou MRAD. O manual da luneta Vortex Crossfire II 2-7×32 traz a
informação de que seu ajuste é graduado em 1/4 MOA. Normalmente essa informação
está gravada na própria torre. E o que essa informação significa? A grosso modo, significa
que um clique irá alterar o ponto de impacto do projétil em 1/4 MOA. Um MOA equivale a,
aproximadamente, 1” à distância de 100 jardas.

Para exemplificar, imaginemos a seguinte situação hipotética: estou querendo zerar meu
conjunto a 100 jardas, porém, o ponto de impacto está uma polegada acima do ponto de
visada. Para alcançar o zero, bastará 4 cliques em direção à letra que represente “para
baixo”, normalmente, utiliza-se U (“up”) para elevar o ponto de impacto e D (“down”) para
baixá-lo.

Se a luneta utilizar MRAD, muda-se apenas a medida. Na situação hipotética acima, se


minha luneta usasse MRAD e a graduação de ajuste fosse 1/10 MRAD, precisaria de 3
cliques para baixo. Pois, cada MRAD representa 3,6” a 100 jardas. Se quero mover o
ponto de impacto 1 polegada, 3/10 MRAD será suficiente.

Considerações Finais
Espero que esse texto tenha cumprido seu objetivo. E que aqueles que chegaram até
aqui tenham aprendido um pouco mais sobre as miras telescópicas. Conforme adiantado
na introdução, essa conversa passeou, ainda que superficialmente, pelo universo técnico
das lunetas, com a intenção de facilitar a compreensão desses úteis instrumentos ópticos.

Reforço que o artigo não teve a intenção de esgotar, tampouco de aprofundar no tema.
Para tanto, teríamos que escrever um livro. Mas acredito que foram abordados os pontos
mais importantes, a partir dos quais vocês poderão guiar o estudo pessoal.

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